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Crises e Desenvolvimento Adulto

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Crises previstas na vida adulta
Segundo Sheehy (1984), “envelhecer é um processo normal do ciclo da vida”, e a cada passagem de um estágio do crescimento humano para outro, temos que mudar uma estrutura de proteção. Ficamos expostos e vulneráveis, mas também entusiasmados, parecendo que sempre vamos iniciar algo novo, com a capacidade de nos expandir de modo antes ignorado.
Observamos que essas mudanças podem durar vários anos. Entretanto, ao sairmos de cada uma das passagens, entramos em um período mais prolongado e mais estável, no qual podemos esperar relativa tranquilidade e uma sensação de reconquista de equilíbrio. Para a compreensão do desenvolvimento humano, tanto a mudança quanto a estabilidade são centrais e devem ser consideradas em uma relação dialética e de equilíbrio dinâmico.
Todos os eventos que vivenciamos, sejam formaturas, casamento, filhos, divórcio, morte de uma pessoa querida, um emprego, ou um desemprego, aposentadoria, têm impacto sobre nós. Esses acontecimentos que nos marcam são os fatos concretos de nossas vidas. Eles podem ser entendidos como crises e, para alguns autores, demarcam o desenvolvimento no ciclo de vida de uma pessoa.
Delimitar o desenvolvimento em estágios ou por idade cronológica responde ao objetivo do estudo do desenvolvimento humano que busca entender a mudança das pessoas ao longo do tempo. Porém, é importante sempre considerarmos diversas perspectivas e fatores, entendendo o desenvolvimento como processo, observando o significado das mudanças e continuidades no tempo e o papel do próprio sujeito, assim como o da cultura e dos contextos ecológicos em que se circunscreve o desenvolvimento, ao longo do curso de vida.
Um estágio do desenvolvimento não é definido em termos de acontecimentos que nos marcam, e sim pelas mudanças que se iniciam interiormente.
Para Rodrigues, Diogo e Barros (1996), o envelhecer do homem está sujeito a transformações, a alguns ganhos e perdas. A maneira de lidar com essas situações vai depender da forma como o homem viveu, de valores, crenças e atitudes assumidas ao longo da vida.
Davidoff (2001) aponta que as teorias da vida adulta enfatizam os desafios, os problemas, os conflitos e as mudanças intelectuais e de personalidade que surgem em momentos diferentes. Existem autores que defendem que o desenvolvimento humano pode ser estudado a partir de estágios.
Considera-se que os estágios adultos têm uma sequência fixa e são similares para todos os membros de determinada cultura que vivem em uma mesma época específica.
A Teoria de Erik Erikson é uma das mais influentes de toda a Psicologia. Esse teórico acredita que todas as pessoas passam por oito estágios e cada um deles recebe influências da sociedade humana.
Para ele, em qualquer período, um conflito ou uma crise principal surgem. O enfrentamento de cada uma das crises de maneira produtiva aumenta a saúde mental. Deixar de lidar com elas contribui para desajustes posteriores. São fases críticas e períodos decisivos (DAVIDOFF, 2001).
Quem disse que é fácil viver a vida adulta? Se alguém falou isso, ainda não chegou a essa fase.
Para Sheehy (1984), como na infância, cada passo implica novas tarefas que funcionaram anteriormente. A cada passagem, é preciso renunciar a alguma magia, lançar fora alguma ilusão de segurança e algum sentido confortavelmente familiar de identidade e levar em conta a expansão de nossa própria individualidade.
Ser adulto é um período de muitas responsabilidades, desafios e que, às vezes, as situações não saem muito bem como desejamos. Entretanto, podemos construir caminhos que nos ofereçam muitas alegrias, realizações e interações significativas. Vai depender muito de nós!
Conflitos emergentes no jovem adulto
Papalia e Feldman (2013) afirmam que, na Teoria de Erikson, o jovem adulto luta com o desafio de construir intimidade, um laço duradouro caracterizado por cuidado, compartilhamento e confiança. Esse é um grande conflito, uma crise que tem que enfrentar.
Caso os adultos jovens não consigam assumir relacionamentos sérios com os outros, afirma Erikson, eles podem tornar-se muito isolados e absorvidos em si mesmos. Entretanto, eles precisam de algum isolamento para refletirem sobre suas vidas.
Ao tentarem resolver as situações conflitantes de intimidade, competitividade e distância, eles acabam tendo um sentido ético, que Erikson considera o ponto principal para se tornarem adultos. Os relacionamentos íntimos nos pedem sacrifício e compromisso.
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Reflexão
O resultado desse estágio é a virtude do amor. É praticamente uma devoção mútua entre as pessoas que escolheram ficar juntas, ter filhos e ajudá-los a alcançar seu próprio desenvolvimento saudável.
De acordo com Sheehy (1984), perto dos 30 anos, nos defrontamos com a questão de como nos firmamos no mundo adulto. Cheios de energia, talvez já tendo deixado de morar com a família e superado o tumulto dos anos de transição, sentimo-nos mais livres na nossa maneira própria de viver no mundo. Ou enquanto procuramos essa maneira, desejamos experimentar alguma outra, provisória.
Nessa fase, não só estamos tentando provar nossa competência na sociedade, como também estamos intensamente conscientes de estar sendo testados. Por mais diferentes que sejam as formas que o jovem adulto escolha, concentram-se sempre em dominar aquilo que entendem que devem fazer.
A diferença é entre a transição anterior, os anos da adolescência, quando sabíamos o que não queríamos fazer, e a transição seguinte, a dos 30 anos, que nos estimulará no sentido de fazer o que queremos.
Ser universitário é uma forma segura e comum para aqueles que podem responsabilizar-se com as despesas, seja com a ajuda da família seja com o próprio trabalho. Procurar ganhar um diploma é uma coisa que os jovens já sabem como fazer. A situação adia o momento em que eles terão de provar a que vêm, em um cenário maior, mais turbulento.
Na atualidade, espera-se que aos 25 anos, ou até mais, o indivíduo determine o rumo da vida. Dada a permissividade de experimentação, a escolarização mais longa à disposição, não é nada incomum que uma pessoa esteja perto dos 30 anos antes de firmar definitivamente em um caminho.
Um dos aspectos amedrontadores no início da vida adulta é a convicção de que nossas escolhas são definitivas. Se escolhemos uma faculdade ou trabalhar, casar ou não se casar, mudar para um lugar melhor ou abrir mão de uma viagem para o exterior, decidir por ter filhos ou fazer carreira, temos medo de que tenhamos que viver com essa opção o resto da vida. Em grande parte, esse medo não tem fundamento.
A mudança não só é possível, como certa alteração de nossas primeiras escolhas parece inevitável. Entretanto, como aos 20 e poucos anos não temos experiência na tomada de importantes decisões, não conseguimos imaginar que oportunidades de melhor integração venham a ocorrer depois de um pouco de crescimento interior.
Na visão de Sheehy (1984), a perda da juventude, a incerteza de forças físicas que sempre sentíamos como naturais, o embaraço do propósito de papéis caracterizados com que até então havíamos nos identificado, a dúvida espiritual de não termos sequer respostas absolutas, todas essas turbulências podem dar a essa passagem o caráter de crise, que vai dos 35 a 40 anos.
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Atenção!
Essa é uma época de perigo e, ao mesmo tempo, oportunidade. Todos temos a chance de moldar novamente a estreita identidade com a qual nos definimos no início da vida adulta. E quem entre nós que não aproveitar ao máximo a oportunidade passará por uma grave crise de autenticidade.
Para conseguirmos superar essa crise, precisamos reexaminar nossos propósitos e reavaliar como usar nossos recursos de agora em diante.
Conflitos emergentes na meia-idade
Na meia-idade, Davidoff (2001) ressalta que os adultos precisam transpor a ponte entre gerações e assumir compromisso significativo com o futuro e com a próxima geração. Se as pessoas permanecem absorvidas em si mesmas, elas param.
Na visão de Morris Maisto (2004), na meia-idade, de acordo com a Teoriade Erikson, o principal desafio e enfrentamento é a produtividade (generatividade) versus a estagnação. Produtividade relaciona-se à capacidade de continuar sendo produtivo e criativo, especialmente de maneiras que orientem e encorajem as gerações futuras.
Se o indivíduo não consegue atingir esse estágio, a vida se torna uma rotina monótona e sem sentido, e a pessoa se sente estagnada e entediada.
Para Carvalho-Barreto (2013), o foco primordial desse momento é como a pessoa enxerga a vida, o que pode realizar no percurso dela, quais metas foram alcançadas e as suas contribuições para melhorar o mundo. Sendo assim, a generatividade vai se direcionar para além do contexto familiar, dando importância à sociedade e às gerações futuras.
Nesse estágio, para resolver parte da crise dessa fase, a parentalidade aparece como um eficiente plano para cuidar, por exemplo, de um filho ou outra pessoa, com vistas a contribuir para o futuro.
Na visão de Sheehy (1984), apesar de todas as crises impostas na meia-idade, em meio aos 40 anos e poucos, o equilíbrio poderá ser recuperado. Atinge-se uma nova estabilidade, que poderá ser mais ou menos satisfatória.
Se a pessoa se recusou a enfrentar os seus dilemas, por ocasião da transição da meia-idade, a sensação de inutilidade se fortalecerá e poderá se transformar em resignação. Um a um, a segurança e os apoios serão retirados da pessoa que estiver parada. Os pais se tornarão crianças, as crianças crescerão e sairão de casa, um companheiro poderá se afastar, e cada um desses acontecimentos será visto como um abandono.
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Comentário
É provável que a crise volte a surgir por volta dos 50 anos, e embora a desestabilização possa ser maior, o golpe poderá ser necessário para levar a pessoa considerada madura a buscar uma revitalização.
Por outro lado, se nos confrontarmos conosco na passagem intermediária e encontrarmos uma renovação de propósito em torno da qual estaremos ansiosos por construir uma estrutura de vida mais autêntica, esses poderão ser os melhores anos.
A felicidade pessoal aumenta significativamente para aqueles que forem capazes de aceitar o fato de que ninguém nessa fase vai compreendê-lo perfeitamente. Os pais podem ser perdoados por acontecimentos ruins, dificuldades de nossa infância. Os filhos podem ir embora sem que os pais se fechem em um silêncio dolorido.
Aos 50 anos e pouco mais, há um novo calor e novos sentimentos. Os amigos podem se tornar mais importantes, mas a privacidade também se torna fundamental.
Conflitos emergentes no idoso
Rodrigues, Diogo e Barros (1996) consideram que são vários os conflitos que impactam no envelhecimento. Vamos conhecer os mais relevantes:
Perda da posição social
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Pobreza
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Solidão
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Aflição ou angústia
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Dependência
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Medos diversos
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De acordo com Davidoff (2001), a última crise na Teoria de Erikson que vamos enfrentar e que ocorre na velhice aponta que, quando a vida se aproxima do fim, os idosos precisam fazer as pazes consigo mesmos. Se não conseguirem aceitar o passado como tendo sido digno de valor, eles confrontam a probabilidade de depressão e desespero.
O estágio final de Erik Erikson, integridade do ego versus desespero, culmina na virtude da sabedoria, ou na aceitação da vida e da morte iminente. Erikson considerava que os indivíduos precisam ter um envolvimento de qualidade com a sociedade.
Chegamos ao final dos nossos estudos, e compreendemos que viver crises e conflitos não deve ser encarado como algo ruim ou negativo, pelo contrário, são enfrentamentos, momentos diferenciados de crescimento. Exige aprendizagem, sentimentos, reflexões e atitudes. É rever nosso mundo interior e buscar o melhor em cada um de nós.
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