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http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/resenhasonline/07.080/3066 Page 1 of 3 Apr 09, 2018 05:11:26PM MDT vitruvius | resenhasonline 080.01 2007 vitruvius.com.br como citar ROZESTRATEN, Artur Simões. Modelos de solidão. , São Paulo, ano 07, n. 080.01,Resenhas Online Vitruvius, ago. 2008 <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/resenhasonline/07.080/3066>. Em um pequeno livro, com cuidadoso projeto gráfico de Flávia Castanheira, Paulo Mendes da Rocha nos apresenta seu entendimento sobre seu próprio processo de projeto. Por meio de suas “maquetes de ” o arquiteto nos oferece uma perspectiva privilegiada sobre a consciência do arquiteto criador, empapel meio aos meandros e ambigüidades das idéias vigentes entre nós quanto à criação arquitetônica. A aula de Paulo Mendes da Rocha começa, justamente, com uma reflexão sobre a concepção da arquitetura: “A questão fundamental que navega entre nós arquitetos é imaginar as coisas que ainda não existem. Como esta casa, por exemplo, aqui em Curitiba, que antes saiu inteira na mente de um de nós, o arquiteto Vilanova Artigas”. (p. 19) Haveria aqui apenas uma força de expressão ou uma afirmação conceitual? Será que o projeto de arquitetura chega a existir inteiro em nossa mente? E essa suposta existência precederia sua expressão material em desenhos e modelos? Ou não? Mais à frente, Paulo sonda novamente esse terreno movediço referindo-se à modelagem: “É a maquete como croquis... A maquete que você faz como um ensaio daquilo que está imaginando...Como o poeta quando rabisca, quando toma nota...A maquete aqui é um instrumento que faz parte do processo de trabalho; são pequenos modelos simples.” (p. 22) Com essa afirmação, o arquiteto se alinha com a tradição de modelagem inaugurada por Brunelleschi, registrada por Alberti no seu (2), e revista no curso básico da Bauhaus.De Re Aedificatoria Se a maquete é ensaio do que se está imaginando então, pode-se supor, que há um diálogo entre modelos e idéia que conduz – aproveitando a analogia com o poeta – ao poema completo, ou projeto acabado. Paulo deixa claro que está se referindo a um processo de trabalho, que avança gradativamente, valendo-se de representações materiais: os croquis e modelos do arquiteto, como as anotações do poeta. “A graça disso...é que existe, nessa extensão do raciocínio, o objeto já um tanto quanto configurado na nossa mente.” (p. 22) “ ” é bem diferente de inteiro na mente. Entre a idéia, como coisa doUm tanto quanto configurado pensamento, e as representações materiais, como coisa visível e tangível há uma interação – nas palavras do arquiteto uma “ ” –, que caracteriza o processo de projeto como algo integral, uno, no qualextensão pensamento e matéria dialogam. As maquetes físicas são modelos que proporcionam um “momento de ” por meio do qual “experimentação é possível ver melhor aquilo que se está querendo fazer, e isso é ” e mais: “ ”. (p.26)insubstituível indispensável Nesse ponto o pensamento do arquiteto aproxima-se da teoria da Formatividade de Luigi Pareyson (1918-1991): http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/resenhasonline/07.080/3066 http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/resenhasonline/07.080/3066 Page 2 of 3 Apr 09, 2018 05:11:26PM MDT (1918-1991): “o formar...no próprio curso da operação inventa o modus operandi, e define a regra da obra enquanto a realiza, e concebe executando, e projeta no próprio ato que realiza. Formar, portanto significa “fazer”, mas um fazer tal que, ao fazer, ao mesmo tempo inventa o modo de fazer.” (2) E há algo encantador em torno dessa ação criativa e da concretização de idéias, nas palavras do arquiteto: “Nós estamos falando de algo muito particular, que é a materialidade da idéia...Portanto, para nós, arquitetos, ver e tocar já é materializar essas idéias no pequeno modelo.” (p. 27) Valendo-se de outra analogia com o universo poético, Paulo designa o processo de projeto como construção. O que conforma uma imagem riquíssima, mas expressa de modo ambíguo: “a idéia de construir aquilo que você tem na mente é uma coisa sublime e particular do gênero humano.” (p. 28) Construir aquilo que se tem na mente depois de construí-lo como projeto em representações materiais, ou construir aquilo que se tem na mente pois a idéia é o projeto acabado? E as ambigüidades continuam a aflorar: “Você tem a idéia sobre certa questão, consegue imaginá-la em sua integridade e totalidade, entende que é preciso construí-la, então submete essa idéia ao modelo, à maquete, como extensão da própria mente”. (p.30) Mais uma vez, no discurso do arquiteto, delineia-se o debate entre a idéia de que a imaginação resolveria o projeto de maneira integral e completa, e outra idéia de que o projeto é processo contínuo e integrado de imaginar e representar, pensar e experimentar, mentalizar e visualizar, sonhar e tocar. No texto, esses aspectos são clareados conforme o arquiteto apresenta seu processo de trabalho a partir de exemplos reais. No início do projeto “não existe maquete, não há nada ainda, é pura mente, como se eu fosse escritor, poeta! Não tem nada que ficar rabiscando, porque eu ainda não sei o que fazer.” (p.34) É só após “saber o que fazer” que se inicia o processo de representações materiais: croquis e modelos tridimensionais. Esse saber inicial tem algo definido e algo intuído, a ser elaborado. É preciso organizar as “ ” para transformá-las em problemas e, então, resolvê-los. E essa elaboração mentaljustas questões antecede a materialização como uma imagem em pensamento: “Tudo isso você tem que ver, senão não sabe que papelzinho cortar. Depois vai fazer o primeiro ensaio volumétrico, mas, antes de chegar à nossa maquetinha, tem que prever tudo isso.” (p.36) A maquete é um momento posterior ao pré-dimensionamento, ou seja, há uma idéia de forma, com medidas básicas, proporções, espaçamentos que precede a materialização no modelo. E os modelos são ensaios, aproximações, essencialmente estruturais, portando simples, “maquetes de papel”. Como no projeto para a praça do Patriarca: uma maquete de papel, feita em cinco minutos, para o diálogo consigo mesmo, “ ”. (p.45) Ou no projeto do reservatório deaquela pra ninguém ver, feita em solidão Urânia-SP: uma maquete de cartolina e papel sulfite com durex. Dessas maquetes, mostram-se apenas as fotos porque a imagem fotográfica, no entender do arquiteto, parece qualificá-las como algo mais do que apenas o “delírio de alguém que se pôs a cortar papel” (p. 46). “A maquete, muito simples, está realizando uma coisa que você quer ver. O diâmetro certo, a altura certa, a escala humana. Você consegue ser esse personagem, ajoelha no chão para ver dentro da maquete, é muito bonito! Fecha a janela, espera de noite, tira o abajurzinho da mesa de luz e traz perto da maquete, http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/resenhasonline/07.080/3066 http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/resenhasonline/07.080/3066 Page 3 of 3 Apr 09, 2018 05:11:26PM MDT muito bonito! Fecha a janela, espera de noite, tira o abajurzinho da mesa de luz e traz perto da maquete, vê os efeitos da luz... você vê o tamanho das coisas, a sua proporção, vê as transparências.” (p. 58-59) Quem dera as reflexões dessa aula pudessem ecoar em todas as faculdades de arquitetura para que não olhássemos apenas os edifícios de Paulo Mendes da Rocha, mas também, e principalmente, seus procedimentos, seu fazer projetual. Pois ele não define um método restritivo, ao contrário, professa uma liberdade compositiva fundada na consciência ética da história, e na noção de modelagem investigativa como meio de diálogo entre pensamento e matéria. Paradoxalmente, o arquiteto nos apresenta, com mão generosa, seus modelos mais íntimos, seus “ ”, seus interlocutores secretos que nuncamodelos de solidão teve a pretensão de mostrar a ninguém. notas1 ALBERTI, L. B. De Re Aedificatoria; prólogo de Javier Rivera; tradução de Javier Fresnillo Núñez. Torrejón de Ardoz (Madrid) : Akal, 1991. 2 PAREYSON, L. Estética: Teoria da formatividade; tradução de EphraimFerreira Alves. Petrópolis: Vozes, 1993, p. 59. leia também " ", de André Teruya Eichemberg sobre o livro deCinco minutos em um processo em solidão Paulo Mendes da Rocha sobre o autor Artur Rozestraten é arquiteto e urbanista (FAUUSP, 1995); Doutor pelo Depto de História da Arquitetura e Estética do Projeto (FAUUSP, 2007); professor nos cursos de Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário Moura Lacerda e das Faculdades COC, em Ribeirão Preto, SP. http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/resenhasonline/07.080/3066 http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/resenhasonline/07.080/resenhas/textos/resenha212.asp