Prévia do material em texto
De agradar-te sou contente: Sacro Loiro não me inflama: Da mangueira a nova rama Orne a frente do Pastor. De teu canto a graça pura, E a ternura não consigo; Pois comigo a doce lira Mal respira os sons de amor O poeta volta a dirigir-se a Anacreonte, que abandonou os heróis épicos para cultivar a poesia lírico-amorosa. O grego, entretanto, ainda ostenta a coroa de flores dos grandes poetas. O árcade se compraz em agradar ao clássico homenageado, mas não pretende honrar a coroa de louros dos antigos; num gesto de brasilidade, ele pretende instituir uma nova coroa poética, feita de ramos de mangueira, árvores nacional. O subjuntivo do último verbo (orne a frente do pastor) soa como uma frase optativa, um desejo, uma profissão de fé. O primeiro rondó apresenta, assim, algumas premissas defendidas pelo poeta no volume Glaura: afastamento da poesia épica, negação do herói guerreiro; exaltação do herói simples e sensível; substituição da coroa de louros, símbolo da vitória belaz, pelas líricas folhas da mangueira. O poema pode, portanto, ser considerado uma síntese da crença poética de Manuel Inácio da Silva Alvarenga. Fonte [3] MANIFESTAÇÕES Outras manifestações árcades: Além da poesia lírica, os escritores árcades cultivaram também a poesia épica e a satírica. A primeira aparece como veículo do indianismo, do nativismo e do antijesuitismo, e consequente pró-pombalismo, em cuja linha se coloca também a sátira neoclássica, que mostra reflexos do espírito crítico e reformador do Iluminismo. 34