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O MODELO ARRIGHIANO E O “NOVO” CAOS: 
LIMITES E POSSIBILIDADES 
 
Rafael Pons Reis1 
 
Bruno Hendler2 
Resumo 
Caos e Governabilidade são, para Giovanni Arrighi, tendências intrínsecas ao sistema-mundo moderno que 
oscilam conforme complexos hegemônicos se sucedem. A partir da exposição e breve análise dos elementos 
que distinguem uma “rodada” de caos sistêmico, busca-se verificar em que medida a teoria do sistema-mundo, 
sob a ótica arrighiana, é capaz de explicar as transformações estruturais do sistema internacional a partir da 
década de 1970. O artigo está dividido em três partes. A primeira, introdutória, traz um debate teórico acerca 
do conceito de hegemonia, caos e governabilidade. A segunda estabelece a relação teoria-história de modo a 
apresentar as variáveis que contribuem para a ocorrência do caos sistêmico. E a terceira busca estabelecer 
paralelos entre os períodos de caos já encerrados ao longo da história e as transformações do sistema-mundo 
nos últimos quarenta anos, de modo a identificar padrões e variações entre o quê a teoria indica e o que a 
realidade nos apresenta. 
Palavras-Chave: Economia Política Internacional, Sistema Mundo-Moderno, Transições Hegemônicas, 
Caos Sistêmico. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1 Mestre em Relações Internacionais (UFRGS) e professor da UniCuritiba. E-mail: rafaelponsreis@gmail.com. 
2 Graduado em Relações Internacionais (UniCuritiba) e Graduando em História (UFPR). 
E-mail: bruno_hendler@hotmail.com. 
2 
 
INTRODUÇÃO 
 
Não há dúvidas de que os vinte anos que se seguiram à queda do Muro de Berlim trouxeram 
mais mudanças no cenário internacional do que muitos especialistas ousaram prever. No ano em que 
se completam duas décadas do fim da Guerra-Fria, a perda de poder relativo do grande vencedor do 
conflito, os Estados Unidos, e a ascensão de novas geometrias de poder e riqueza, refletem uma 
instabilidade sistêmica que encontra raros paralelos na história do sistema mundial moderno, e talvez 
marque o fim de um padrão que já dura mais de quinhentos anos. 
“A morte de impérios aparece como uma das grandes regularidades da história”, já dizia 
Jean-Baptiste Duroselle, referindo-se desde a poderes distantes como a Grécia Antiga a complexos 
modernos como a União Soviética (Duroselle, 2000, p. 415). Mas poucos são os estudiosos que 
conseguiram compreender tão a fundo as forças profundas que causam as sucessões hegemônicas do 
sistema internacional moderno como os autores da Economia Política do Sistema-Mundo (EPSM), 
quais sejam: Immanuel Wallerstein e Giovanni Arrighi. 
Pode-se afirmar que Wallerstein é o fundador da Economia Política do Sistema-Mundo3. A 
partir da obra The Modern World System, difundiu-se uma nova forma – com novos conceitos e 
métodos – de encarar a história moderna, em especial as transformações globais que se deram a 
partir do advento do capitalismo e do sistema interestatal na Europa, em fins da Idade Média. 
Ao definir o sistema-mundo4 como a unidade de estudo adequada, Wallerstein tem como 
objeto de análise a “formação histórica do sistema capitalista a partir da expansão do capitalismo 
europeu no século XVI, com integração de novos territórios como partes de seu sistema” (Arienti & 
Filomeno, 2007, p 103). Influenciado pela Escola dos Annales, em especial por Fernand Braudel, 
Wallerstein consolida os pilares de uma nova interpretação da história moderna, que ao contrário do 
pensamento histórico vigente, consegue captar os elementos do capitalismo – pouco aparentes à 
primeira vista, mas extremamente determinantes – que permeiam as relações de poder entre os 
Estados nacionais. 
 
3 Corrente histórico-sociológica inaugurada em meados da década de 1970 com a publicação do primeiro volume da obra 
The Modern World System. 
4 Wallerstein define sistema-mundo como um sistema social que abrange regiões espacialmente integradas por uma 
divisão do trabalho, movido por forças internas que estão em constante luta para modelar o sistema em seu proveito, e 
que está em constante expansão de forma a absorver áreas antes “intocadas” por seu modelo produtivo e por sua 
organização de poder. (Arienti & Filomeno, 2007, p 103). 
3 
 
Em sua trilogia5, Giovanni Arrighi analisa, sob diferentes aspectos, os ciclos de acumulação 
que se sucederam no transcorrer da expansão do sistema-mundo europeu de fins da Idade-Média – a 
economia-mundo6 capitalista. Arrighi pauta-se no conceito de hegemonia de Antonio Gramsci, que 
por sua vez, o deriva de Maquiavel. Para o escritor de “O Príncipe”, o detentor do poder soberano 
deve gerar os sentimentos de amor e temor sobre seus súditos, sendo metaforicamente um centauro – 
metade homem, metade animal. Gramsci, por sua vez, afirma que o poder hegemônico (visto por ele 
como uma classe dominante no plano intraestatal) assenta-se sobre o poder bicéfalo de Maquiavel, 
rebatizado como poder: de consenso e de coerção7. 
Gramsci utiliza em seus escritos a terminologia de hegemonia não apenas no sentido de 
dominação, mas, primordialmente, no sentido de guiar, conduzir. Assim, para uma classe dominante 
exercer a hegemonia não basta apenas dispor dos meios coercitivos do Estado, é necessário que seja 
construído “um sistema de alianças entre vários grupos, em que o grupo dominante exerce o poder 
graças à sua capacidade de transformar os interesses particulares em gerais ou universais” (Fontana, 
2003, p. 120). 
O terceiro elemento fundamental para o exercício da hegemonia é, segundo Gramsci, a 
centralidade econômica, de forma a possibilitar materialmente a existência do poder bicéfalo. Em 
outras palavras, nas sociedades industriais, para satisfazer as demandas materiais dos liderados sem 
causar grandes tensões sociais, é condição sine qua non que a elite hegemônica exerça um papel 
central no modo de produção. 
 
O papel central que o grupo hegemônico desempenha na produção lhe dá grande influência 
sobre a economia como um todo, mas esse potencial deve se transformar em realidade por 
meio da ação política consciente (Augelli; Murphy, 2007, p. 205-7). 
 
 
5 São as obras: O Longo Século XX (1996); Caos e Governabilidade no Moderno Sistema Mundial (2000) e Adam Smith 
em Pequim (2008). 
6 Existem dois tipos de sistema-mundo: a economia-mundo e o império mundo. Este tem como característica principal a 
centralização política sobre territórios economicamente integrados. Cada região especializa-se na parte da cadeia de 
produção que mais convém aos interesses do centro político, perfazendo assim um único sistema econômico de centro-
periferia mantido pela força da burocracia e do exército. A economia-mundo também apresenta uma economia complexa 
e integrada, mas composta por unidades políticas autônomas, ou seja, sociedades culturalmente diferentes e politicamente 
autônomas tornam-se interdependentes graças às relações econômicas que as une. 
7 Em uma visão bastante parecida com a de Gramsci, os renomados internacionalistas norte-americanos Robert Keohane 
e Joseph Nye Jr. (Keohane & Nye, 2001, p.220) apresentam dois conceitos que buscam mostrar os diferentes aspectos 
que envolvem o exercício do poder. O chamado poder duro (hard power) pode ser definido da seguinte forma: “ (...) is 
the ability to get others to do what they otherwise would not do through threats or rewards” (tradução livre: é a 
habilidade de fazer com que outros façam aquilo que não o fariam por meio de ameaças ou recompensas). Já o segundo 
aspecto de poder, o poder brando (soft power), “ (…) is the ability to get desired outcomes because others want what you 
want; it is the ability to achieve desired outcomes through attraction rather than coercion” (tradução livre:“é a 
habilidade de obter os resultados desejados porque os outros querem o que você quer; é a capacidade de alcançar os 
resultadosdesejados através da atração ao invés da coerção”). 
4 
 
A partir desta definição, autores como Robert Cox e Giovanni Arrighi utilizam-se da 
expressão hegemonia mundial para se referir aos complexos de poder e riqueza que, em 
determinados momentos da história, apoiaram-se no tripé hegemônico de Gramsci e garantiram uma 
época de governabilidade. Nas palavras do próprio Arrighi (1996, p. 29-30): 
 
As hegemonias mundiais, como aqui entendidas, só podem emergir quando a busca do poder 
pelos Estados inter-relacionados não é o único objetivo da ação estatal. Na verdade, a busca 
do poder no sistema interestatal é apenas um lado da moeda que define, conjuntamente, a 
estratégia e a estrutura dos Estados enquanto organizações. O outro lado é a maximização do 
poder perante os cidadãos. Portanto, um Estado pode tornar-se mundialmente hegemônico 
por estar apto a alegar, com credibilidade, que é a força motriz de uma expansão geral do 
poder coletivo dos governantes perante os indivíduos. Ou, inversamente, pode tornar-se 
mundialmente hegemônico por ser capaz de afirmar, com credibilidade, que a expansão de 
seu poder em relação a um ou até a todos os outros Estados é do interesse geral dos cidadãos 
de todos eles. (grifos no original) 
 
De acordo com o modelo arrighiano, o Sistema Mundo Moderno8 oscila entre duas 
tendências: caos e governabilidade. A governabilidade decorre da capacidade de um poder 
hegemônico em garantir ordem e estabilidade no sistema-mundo. Quando este poder entra em crise, 
abre-se um leque de oportunidades para novos players, que se lançam na concorrência empresarial e 
competição estatal para “abocanhar” o vácuo deixado pela hegemonia. Arrighi define o caos 
sistêmico como: 
 
(...) uma situação de desorganização sistêmica aguda e aparentemente irremediável. Quando 
há uma escalada da competição e dos conflitos que ultrapassa a capacidade reguladora das 
estruturas existentes, surgem nos interstícios novas estruturas que desestabilizam ainda mais 
a configuração dominante de poder. A perturbação tende a reforçar a si mesma, ameaçando 
provocar, ou de fato provocando, um colapso completo na organização do sistema (Arrighi; 
Silver, 2001, p. 42). 
 
Portanto, a crise e o colapso de uma ordem mundial decorrem do enfraquecimento das 
“estruturas existentes” – alicerçadas no poder hegemônico – e da ascensão de “novas estruturas” que 
buscam, através da competição econômica e/ou da contestação política e militar, um rearranjo 
sistêmico, com uma nova divisão do trabalho, da riqueza e do poder. 
A partir da análise do gráfico abaixo, pretende-se expor os elementos comuns aos períodos de 
caos sistêmico já encerrados. Apesar de ser uma abstração teórica, portanto rígida e pouco apegada a 
variáveis endógenas, a relevância da imagem está em apresentar ao leitor a idéia de oscilação entre 
caos e governabilidade, permitindo uma verificação da capacidade explicativa da teoria em questão. 
 
8 Giovanni Arrighi afirma que o Sistema Mundo Moderno tem sua origem nas cidades-Estado principescas da Itália 
renascentista. Com forte influência de Fernand Braudel, o autor percebe a ocorrência de duas estruturas de longa duração 
que se originaram neste recorte espaço-temporal e perduram até os dias de hoje: o sistema interestatal e a lógica de 
acumulação capitalista. 
5 
 
 
Gráfico 1: CICLO DE TRANSIÇÕES HEGEMÔNICAS9 
 
A principal informação a ser extraída da imagem é o longo século, que deriva de um conceito 
de Fernand Braudel (longue durée) para se referir a fenômenos de longa duração, não 
correspondendo a exatos cem anos. O longo século de cada hegemonia possui três fases, que são 
representadas pela ondulação das linhas: i) ascensão; ii) plena expansão; e iii) declínio. Tanto a 
ascensão quanto o declínio ocorrem em momentos de caos sistêmico, representado pela área escura 
do gráfico, enquanto que a plena expansão coincide com a governabilidade, a área clara do gráfico. 
Disto afere-se que o caos sistêmico é marcado por uma transição hegemônica, em que há uma 
sobreposição de longos séculos: o declínio de um e a ascensão de outro. 
Arrighi aponta uma série de variáveis que caracterizam esta tendência ao caos sistêmico, que 
é historicamente evidenciado pela “troca de guarda” na liderança do sistema-mundo. O moderno 
sistema internacional tem apresentado características evolutivas em que “as hegemonias mundiais 
têm ascendido e declinado não num sistema imutável, mas num sistema que elas próprias criaram, 
expandiram e superaram” (Arrighi, 2001, p. 272). Assim depreende-se a ideia que os respectivos 
caos sistêmicos guardam não apenas relações entre si, mas também comportam mudanças 
significativas entre uma hegemonia e outra. 
Entendemos que as crises hegemônicas se caracterizam por cinco processos distintos, mas 
estritamente relacionados: 1) o processo de financeirização da economia-mundo centrado na 
 
9 FONTE: HENDLER, Bruno. A transição hegemônica no sistema-mundo moderno: o declínio da PAX 
BRITANNICA e as origens da hegemonia norte-americana, na passagem para “o longo século XX” (1873-1945). 
Monografia defendida para o Curso de Relações Internacionais do Unicuritiba, 2010. 
6 
 
hegemonia em declínio; 2) a ascensão de novos centros de acumulação de poder e riqueza; 3) a 
obsolescência das instituições internacionais; 4) a perda da capacidade coercitiva relativa do poder 
hegemônico; e 5) a “guerra de trinta anos”. A forma assumida por estes processos e a maneira como 
eles interagem no curso do espaço-tempo variam de uma crise para outra. Mas pode-se identificar 
uma combinação dos cinco processos em cada uma das duas transições hegemônicas concluídas até 
hoje: da hegemonia holandesa para a britânica e da britânica para a norte-americana, bem como na 
possível atual transição do ciclo norte-americano para um destino ainda não conhecido. 
Sendo assim, o objetivo central do presente artigo consiste em apresentar brevemente os 
elementos do caos sistêmico em uma perspectiva histórica, de forma a identificar determinados 
padrões que se repetem ao longo dos séculos, e contrastá-los com alguns elementos “novos” diante 
das recentes transformações políticas e econômicas da ordem mundial. Essa tarefa nos conduz a um 
campo de observação mais amplo, resgatando os momentos de caos sistêmico das últimas duas 
transições hegemônicas até os dias atuais. 
Na tentativa de facilitar a leitura do presente trabalho, cada um dos cinco elementos presentes 
no caos sistêmico ligados à crise hegemônica – derivada da corrosão dos três pilares: coerção, 
consenso e a centralidade econômica – estão representados nas primeiras cinco seções do texto. 
Dessa forma, os elementos 1) e 2) estão ligados a crise da centralidade econômica; o 3) é relativo a 
crise do apelo consensual e ideológico; o 4) está ligado a crise do poder coercitivo; e o 5) resulta na 
ruptura hegemônica, em que os elementos anteriores interagem entre si, dando origem a uma guerra 
de trinta anos10. Por fim, na sexta seção, serão delineados os elementos que compreendem o “novo” 
caos sistêmico, instaurado a partir da década de 1970 e aprofundado após os recentes 
desdobramentos do sistema internacional e do papel dos Estados Unidos na primeira década do 
século XXI. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
10 Para efeito de análise, os autores apontam os cinco elementos considerados principais no caos sistêmico. Não obstante, 
este é um recorte particular e não tem como objetivo englobar todas as variantes sociais, econômicas e políticas que 
caracterizam a teoria do sistema-mundo, nem tão pouco contrastar com outras abordagens teóricas do Sistema-Mundo 
formuladas por autores como Immanuel Wallerstein e José Luís Fiori. 
7 
 
1. OS ELEMENTOS DO CAOS SISTÊMICO NA HISTÓRIA 
 
 
1.1 PROCESSO DE FINANCEIRIZAÇÃODA ECONOMIA-MUNDO CENTRADO NA 
HEGEMONIA EM DECLÍNIO 
 
Através da fórmula de reprodução de capital de Marx (Dinheiro – Mercadoria – Mais 
dinheiro, ou apenas, DMD´), Arrighi identifica duas tendências na economia-mundo capitalista que 
coincidem com as fases do longo século de uma hegemonia. A primeira tendência é a expansão 
material ou DM, que ocorre quando uma hegemonia está em seu auge, em plena expansão. Neste 
momento: 
(...) os capitalistas usam seu capital monetário para mover uma crescente massa de produtos 
(o que inclui força de trabalho e outros fatores de produção transformados em mercadoria), 
esperando, através da posterior comercialização dos produtos finais (realização da mais-
valia), ampliar ainda mais a liquidez de que dispunham quando converteram seu capital 
monetário em mercadorias, antes de iniciar propriamente a produção e o comércio. Nessa 
fase, a introdução de inovações no processo de acumulação e no sistema interestatal pelos 
novos agentes hegemônicos faz com que as atividades produtivas e comerciais 
proporcionem, em relação às demais atividades econômicas, maior lucratividade (...). O 
investimento produtivo é o meio capaz de garantir aos capitalistas a reprodução de seu 
capital a taxas de lucro extraordinárias. (Arienti; Filomeno, 2007, p. 120). (g.n.) 
 
Em poucas palavras, os agentes empresariais e governamentais da hegemonia difundem para 
o resto da economia-mundo, após o fim do caos sistêmico anterior, as inovações organizacionais e 
tecnológicas criadas na fase de ascensão de seu longo século. Com isso, ocorre uma expansão 
material que impulsiona as esferas “reais” da economia – produção e comércio – ao passo que 
consolida uma nova divisão internacional do trabalho, agregando mais valor às atividades 
econômicas centrais em detrimento das periféricas. 
Não obstante, há um momento em que o modelo de acumulação atinge sua máxima eficiência 
e sofre da contradição inerente ao capitalismo, segundo Adam Smith: de tão bem sucedida, a 
expansão material traz um afluxo de capital maior do que os “canais estabelecidos” de produção e 
comércio são capazes de reabsorver em forma de investimentos. Desta forma, o motor da economia-
mundo, a hegemonia, torna-se o centro da expansão financeira que afeta os mais diversos pontos do 
globo “tocados” pelas redes de mercadorias. 
 
Após certo tempo de expansão material, a superacumulação de capitais concretiza-se, isto é, 
a acumulação de capital é muito superior à que pode ser investida com lucro, no comércio e 
na produção, nas estruturas vigentes do regime de acumulação mundial. (...) Um volume 
crescente de capital, na sua forma líquida e mais flexível, vai procurar sua valorização na 
8 
 
esfera financeira. É um período de crise hegemônica, de transformação estrutural do 
moderno sistema de Estados nacionais soberanos, de surgimento de novos regimes de 
acumulação, de novos modos de governo, de reorganização do sistema-mundo sob nova 
liderança, durante o qual são lançadas as bases para a superação da crise financeira e para o 
início de um novo ciclo sistêmico de acumulação, com transformações nas estruturas de 
produção e nas formas de hegemonia política (Arienti; Filomeno, 2007, p. 120-121) (g.n.). 
 
Neste momento a acumulação de capital por parte da hegemonia é tamanha que a taxa de 
lucros na economia real torna-se decrescente. Há excesso de liquidez e perda de lucratividade na 
produção e no comércio, de forma que a especulação, o comércio de moedas e o mercado financeiro 
de forma geral se tornam mais lucrativos para os agentes capitalistas. Em outras palavras, a 
“economia virtual” torna-se mais lucrativa que a economia real, gerando uma expansão financeira, 
ou fase MD´, segundo a fórmula de Marx. 
Após a plena expansão das hegemonias holandesa e britânica, tanto Amsterdã (ao longo do 
século XVIII) quanto Londres (a partir da década de 1870) tornaram-se o epicentro de expansões 
financeiras – que prenunciavam o declínio do longo século. Na primeira, o excesso de capital 
decorreu do sucesso alcançado pelas companhias de comércio, verdadeiras “máquinas de 
acumulação de poder e capital” da Holanda. Na segunda, a expansão financeira decorreu dos anos de 
expansão material impulsionada pela divisão internacional do trabalho, “amarrada” às indústrias 
inglesas que, dispondo de acesso privilegiado a recursos naturais e mercados consumidores, fizeram 
da Grã-Bretanha o grande centro de acumulação do século XIX. 
O começo da expansão financeira coincide com a crise sinalizadora (S) da hegemonia, que 
baliza o início de seu declínio. Historicamente este processo é iniciado com uma crise de 
hiperacumulação, quando o dinheiro e o crédito tornam-se extremamente baratos, os preços caem 
vertiginosamente e as empresas comerciais e produtivas da hegemonia passam a receber menos 
investimentos. 
Após a Guerra dos Sete Anos (1756-1763), estima-se que a concessão de crédito holandês era 
quinze vezes maior do que a moeda líquida ou real na Holanda (Arrighi; Silver, 2001, p. 62), 
causando uma bolha financeira que estouraria numa série de crises de hiperacumulação nos anos 
seguintes. As décadas de 1870 e 1880 testemunharam uma grande crise de hiperacumulação em 
Londres. A Inglaterra tornara-se um “imenso ‘continente’ de capital excedente – capital que se 
acumulava muito além do que podia ser investido com lucro na expansão da produção e do 
comércio” (Arrighi; Silver, 2001, p. 77). Sem grandes perspectivas de lucro na economia real, pois 
os preços estavam em declínio acentuado, boa parte dos capitalistas ingleses acabou migrando para a 
“economia virtual” da bolsa de valores, obtendo lucros com agiotagem, especulação, investimentos 
externos e câmbio de moedas. Londres entrava no caminho sem volta da expansão financeira. 
9 
 
O gráfico abaixo mostra a evolução do Balanço de Pagamentos da Grã-Bretanha. A partir de 
1870 as tendências são claras: o comércio de mercadorias (Balança Comercial) apresenta um déficit 
crescente, chegando a duplicar, de 62,2 para 124,5 milhões de Libras, em apenas dez anos; ocorre 
uma elevação dos rendimentos financeiros, através de serviços e juros líquidos; e o saldo mantém-se 
positivo, ou seja, a acumulação continua, ainda que puxada pela “economia virtual”. 
 
Gráfico 2: BALANÇO DE PAGAMENTOS DA GRÃ-BRETANHA11 
 
 
Com este excesso de liquidez, ocorrem dois tipos de concentração de capital: dentro e fora do 
alcance de poder da hegemonia. A concentração que se dá dentro das estruturas hegemônicas 
propicia um “momento maravilhoso de reanimação” do modelo de acumulação. Exemplos disso são 
a formação de oligopólios em setores estratégicos e a efervescência cultural que acontece em 
Amsterdã em princípios do século XVIII e em Londres da idade de ouro da Era Vitoriana12. Mas a 
concentração que ocorre às margens do raio de ação da hegemonia é a causa determinante do 
declínio desta, pois faz brotar estruturas regionais de acumulação que desestabilizam o antigo regime 
e antecipam a emergência do novo (Arrighi, 1996, p. 244-245), nos levando ao segundo fenômeno 
característico do caos sistêmico. 
 
 
 
11 FONTE: HOBSBAWM, Eric. Da Revolução Industrial inglesa ao imperialismo. 5ª Ed – Rio de Janeiro: Forense 
Universitária, 2003, diagrama 10. 
12 Para muitos especialistas a hegemonia norte-americana vive este “momento maravilhoso” desde a década de 1970, sob 
a égide da globalização. 
10 
 
1.2 ASCENSÃO DE NOVOS CENTROS DE ACUMULAÇÃO DE PODER E RIQUEZA 
 
A facilidade para se obter crédito no grande centro financeiro possibilita o surgimento de 
alianças Estado-empresa inovadoras, que reciclam o capital “virtual” acumulado na hegemonia e, 
com novas técnicas organizacionais, passam a concorrer com os agentes empresariais tradicionais 
ligados à própria hegemonia. 
Assim, no sentido contrário à financeirização do modelo de acumulação vigente, novosmodelos iniciam suas expansões materiais (geralmente dois se destacam). Um destes modelos acaba 
optando pela confrontação política direta com a hegemonia em declínio, caracterizando, na visão de 
Wallerstein, um aspirante a império-mundo, que busca o controle das fontes de poder e riqueza 
através da força. Em contrapartida, outro modelo inovador limita-se a concorrer com a hegemonia na 
esfera econômica, evitando, sempre que possível, o acirramento das rivalidades políticas e militares. 
Seja na esfera econômica, política, ou em ambas, o fato é que o surgimento destes novos 
modelos corrói as vantagens competitivas tanto do Estado hegemônico quanto das empresas ligadas 
a ele, contestando, de uma forma ou de outra, a ordem mundial vigente. E a centralidade econômica, 
vista por Arrighi e Cox como fundamental para amparar o exercício da hegemonia, deixa 
gradualmente de existir. 
Esta tendência é verificável nas duas fases de caos sistêmico já encerrado do sistema-mundo. 
Quando Amsterdã iniciou sua expansão financeira, o capital disponível obteve maior lucratividade 
na França e Inglaterra, cujos governos adaptaram o mercantilismo holandês à busca por territórios 
ultramarinos e, em pouco tempo, passaram a contrabalancear as vantagens econômicas e o poderio 
naval desta hegemonia. Em meados do século XVIII, a Holanda era, segundo Arrighi (2001, p. 59), 
“sócia minoritária” do império britânico e suas companhias de comércio concorriam em 
desvantagem com as homólogas francesas e inglesas. Mais do que isso, após a Revolução Gloriosa 
na Inglaterra (1688) – que colocou um nobre holandês no trono inglês – o mercado de capitais de 
Amsterdã praticamente fundiu-se à economia inglesa, cujos agentes capitalistas aproveitaram-se da 
oferta monetária para desenvolver a lógica capitalista que marcaria o século XIX: a produção em 
massa das empresas familiares da Inglaterra, a partir de meados do século XVIII. 
Desta forma, o declínio da hegemonia holandesa esteve, de fato, vinculado à concorrência 
econômica da nova lógica capitalista inglesa. Porém, o fim da governabilidade deveu-se não apenas à 
competição interempresarial, mas também ao acirramento das rivalidades interestatais, intensificadas 
pela preponderância da França monárquica no continente europeu. O vácuo deixado pela hegemonia 
em declínio propiciou a ascensão de outros Estados na disputa por poder e riqueza, destacando-se o 
11 
 
papel da diplomacia da França monárquica no continente europeu, da Inglaterra em vias de 
industrialização, e das três coroas da Europa centro-oriental: Prússia, Áustria e Rússia. 
No período de caos sistêmico seguinte, esta tendência se repetiu. A expansão financeira 
centrada em Londres propiciou a concentração de capital às margens do alcance hegemônico, 
provocando o surgimento de dois modelos de acumulação que passaram a concorrer com as 
empresas inglesas: o norte-americano e o alemão13. Da mesma forma como a Inglaterra 
industrializou-se a partir da abundancia de capital em Amsterdã, os EUA desenvolveram a nova 
lógica capitalista de grandes corporações através da abundância de capital em Londres. “Os Estados 
Unidos se transformaram na fronteira de expansão do capital financeiro e do capitalismo inglês, 
selando uma aliança estratégica e criando um ‘território econômico’ quase contínuo” (Fiori, 2007, p. 
97-99). 
Na virada para o século XX, indústria e império haviam deixado de ser “exclusividade” do 
império britânico. A industrialização de países europeus, bem como dos EUA e do Japão, provocou 
um acirramento considerável da competição interempresarial, o que intensificou o caos sistêmico. 
Porém, na esteira da competição econômica surgiram também os impérios coloniais europeus que 
disputavam o acesso a matérias-primas e mercados consumidores. E dentre estes impérios, a 
Alemanha do Kaiser Guilherme II foi notadamente o país mais agressivo, tanto dentro quanto fora da 
Europa. Questionando a ordem mundial vinculada à hegemonia britânica, a Weltpolitik14 foi 
responsável pela escalada da competição interestatal que levou o sistema-mundo à nova guerra de 
trinta anos – vista por Arrighi como o período compreendido pelas duas guerras mundiais (1914-
1945). 
Portanto, com as vantagens competitivas reduzidas ou anuladas, o Estado hegemônico perde 
seu apelo consensual (soft power) e sua superioridade coercitiva (hard power), ambos fundamentais 
para o exercício da hegemonia, segundo Arrighi. Como conseqüência, chega-se aos outros dois 
elementos característicos do caos sistêmico: o desgaste do apelo ideológico de manutenção do 
sistema, com a obsolescência das instituições internacionais; e a perda da capacidade coercitiva 
relativa do poder hegemônico, conforme veremos nas duas seções seguintes. 
 
13 Nos EUA predominou a integração vertical de grandes corporações, em que a mesma empresa controlava diferentes 
setores da cadeia produtiva. Já na Alemanha predominou a integração horizontal, em que se formaram oligopólios ou 
monopólios em setores estratégicos para o Estado. Em ambos os casos, o protecionismo estatal foi largamente aplicado, 
esvaziando o liberalismo econômico pregado pela Grã-Bretanha. 
14 A Weltpolitik ou Política mundial foi a política externa do período Guilhermino da Alemanha Imperial (1897-1913). 
Recebeu este nome em contraposição à Realpolitik de Otto Von Bismarck, que primava por uma postura defensiva do 
país em relação aos seus vizinhos. A Weltpolitik consistiu numa série de discursos revisionistas e ações de expansionismo 
do Kaiser Guilherme II que tinham por objetivo maximizar o poder (interno e externo) do Estado alemão e garantir a 
inclusão da Alemanha no clube das grandes potências. 
12 
 
 
1.3 OBSOLESCÊNCIA DAS INSTITUIÇÕES INTERNACIONAIS 
 
As normas, princípios e instituições criadas pela hegemonia quando o caos sistêmico se 
encerra, visam garantir nova rodada de governabilidade para o sistema. Tal ordem não significa a 
ausência de conflitos, mas uma “ordem anárquica” cujos membros reconhecem e adotam seus 
procedimentos, seja na guerra ou na paz. No papel de “garantidor” desta ordem, o Estado 
hegemônico difunde a ideia de que seu poder é benéfico a todos, alimentando as aspirações ideais de 
seus subalternos em busca de um futuro melhor. Segundo Cox, 
 
Para se tornar hegemônico, um Estado teria de fundar e proteger uma ordem mundial que 
fosse universal em termos de concepção, isto é, uma ordem em que um Estado não explore 
outros diretamente, mas na qual a maioria desses (ou pelo menos aqueles ao alcance da 
hegemonia) possa considerá-la compatível com seus interesses (Cox, 2007, p. 117). 
 
Porém, há um momento em que os mecanismos jurídicos e os argumentos ideológicos não 
dão conta de absorver as transformações infra-estruturais dos tópicos 1.1 e 1.2, pois os novos players 
não mais se sujeitam às regras de uma ordem mundial regida por uma hegemonia. 
O apelo ideológico de manutenção do sistema que, em tese, é bom para todos, é questionado 
e esvaziado por novas visões de mundo, tanto empresariais quanto estatais. A face consensual da 
hegemonia, que se assenta sobre este discurso, está fadada a desaparecer, sendo substituída por uma 
pluralidade de visões que acirram ainda mais a competição e contribuem para a intensificação do 
caos sistêmico. 
Os princípios de equilíbrio de poder, soberania estatal e proteção do comércio, instituídos à 
época da hegemonia holandesa na Paz de Westfália (1648), foram sistematicamente violados 
conforme os conflitos se intensificavam. De forma homóloga, o liberalismo econômico, o equilíbrio 
de poder do Concerto Europeu e a legitimidade das monarquias européias, positivados no Congresso 
de Viena (1815) e atrelados à hegemonia britânica, também passaram a ser questionados e violados 
pelos novos modelos políticos e econômicos. A obsolescência destes princípios e instituições 
resultou na perdado soft power das hegemonias em questão, uma vez que deixaram de garantir a 
estabilidade sistêmica. 
 
 
 
13 
 
1.4 PERDA DA CAPACIDADE COERCITIVA RELATIVA DO PODER HEGEMÔNICO 
 
Assim como o apelo ideológico, a superioridade coercitiva do poder hegemônico também 
tende a se relativizar até desaparecer. A assimetria de poder bélico, que predomina na fase de 
governabilidade, desaparece quando os novos players se utilizam da expansão financeira para 
desenvolver métodos de guerra que fazem frente ao poder hegemônico. 
Desta forma, conforme outros Estados se armam, a hegemonia é obrigada a aumentar seus 
gastos com defesa, o que agrava ainda mais sua economia – em processo de financeirização. A perda 
de sua capacidade coercitiva relativa gera um vácuo de poder que estimula os novos players a 
“abocanhar” o que outrora fora exclusividade da hegemonia, seja tecnologia bélica avançada, 
colônias, mercados consumidores ou pontos estratégicos para uma possível guerra. 
Esta necessidade de expansão estatal é verificada na noção de Norbert Elias que perduraria 
até hoje, citada por Fiori (2007, p. 18), ao se referir às guerras de fins da Idade Média. De acordo 
com o sociólogo, no ambiente de extrema competição, “quem não sobe, cai”, ou seja, os poderes 
soberanos são sempre expansivos, propondo-se em última instância a conquista de um poder cada 
vez mais global, até onde alcancem seus recursos e possibilidades. 
O soft power tende a predominar quando a hegemonia está em seu auge, ainda que seu poder 
bélico esteja bem acima do alcance dos demais. Porém, quando o apelo ideológico da hegemonia 
começa a enfraquecer, o hard power tende a ser mais usado, como que para compensar as 
desvantagens econômicas e reveses políticos. Assim, o choque entre a hegemonia decadente e um 
poder em ascensão torna-se praticamente inevitável. 
Confrontado com a produção de navios de guerra em larga escala da Alemanha nos primeiros 
anos do século XX, o governo britânico viu-se obrigado a investir ainda mais em seu poderio 
marítimo para assegurar sua soberania e sua segurança. Após a Primeira Guerra Mundial, a Grã-
Bretanha deixara finalmente de ser a “senhora dos mares”, dividindo os oceanos com outros países 
na seguinte proporção: 5 para Grã-Bretanha e EUA; 3 para o Japão; 1,75 para França e Itália (Neré, 
1981, p. 364). 
Quanto à assimetria de poder coercitivo da hegemonia holandesa, chega a ser questionável a 
sua existência, dadas as derrotas em batalhas navais de “guerras de ajuste” contra a Inglaterra e a 
força do exército francês. Ainda que tenha sido uma grande potência naval em meados do século 
XVII, a Holanda esteve longe de apresentar uma assimetria de poder bélico em relação a seus 
concorrentes, sendo, na visão dos autores do presente artigo, um poder hegemônico incompleto – 
pleno em sua centralidade econômica e apelo consensual, mas falho em seu hard power. 
14 
 
1.5 A “GUERRA DE TRINTA ANOS” 
 
Conforme os quatro elementos examinados interagem entre si, o conflito armado se torna 
cada vez mais provável. Mais do que provável, Arrighi vê como inevitável a ocorrência de uma 
guerra de grandes proporções que marca o clímax do caos sistêmico e a crise terminal (T) da 
hegemonia. A este conflito, o autor dá o nome de “guerra de trinta anos”, pois historicamente, sua 
ocorrência durou cerca de três décadas. 
É possível perceber um padrão de formação das alianças que disputam esta guerra. De um 
lado figura o aspirante a império-mundo, expansionista, que contesta diretamente a ordem mundial 
centrada na hegemonia em declínio e busca a conquista, pela força, das fontes de poder e riqueza 
desta. Como resposta a este movimento, surge uma coalizão de unidades políticas ameaçadas por 
esta expansão, que são lideradas pela hegemonia em declínio, mas, principalmente, por um outro 
modelo de acumulação que, assim como o império-mundo, surgiu da expansão financeira centrada 
na hegemonia. 
A guerra de trinta anos marca a substituição definitiva de uma hegemonia por outra, após 
ambas terem lutado lado a lado contra o império-mundo. Assim, ocorre o que Arrighi (2001, P. 75) 
chama de “centralização da capacidade militar e financeira nas mãos do Estado hegemônico em 
ascensão”, pois apenas este chega ao final do conflito com a capacidade de reorganizar o sistema-
mundo, enquanto que a hegemonia anterior tem suas forças exauridas pela guerra. 
As Guerras Napoleônicas (1792-1815) são consideradas a típica “guerra de trinta anos” de 
Arrighi, em que o clímax do caos sistêmico provoca uma “desorganização aguda e irremediável”. As 
estruturas existentes – o princípio do equilíbrio de poder e a soberania dos Estados – não 
correspondem mais aos desafios impostos pelas novas estruturas ou novas visões de mundo, no caso, 
os ideais iluministas difundidos (à força) por Napoleão. 
 
À medida que aumenta o caos sistêmico, a demanda de ‘ordem’ – a velha ordem, uma nova 
ordem, qualquer ordem! – tende a generalizar cada vez mais entre os governantes, os 
governados, ou ambos. Portanto, qualquer Estado ou grupo de Estados que esteja em 
condições de atender a essa demanda sistêmica de ordem tem a oportunidade de se tornar 
mundialmente hegemônico. (Arrighi, 1996, p. 30) 
 
Ao final dos conflitos, o império-mundo francês é derrotado pela coalizão das demais 
unidades políticas e a hegemonia holandesa está em frangalhos devido ao desgaste da guerra. Apenas 
a Inglaterra, cujo modelo de acumulação se desenvolveu a partir da expansão financeira de 
Amsterdã, tem as condições de garantir uma nova rodada de governabilidade sistêmica. 
15 
 
O velho roteiro da guerra de trinta anos (como clímax do caos sistêmico) voltou à cena na 
Primeira Guerra Mundial e perdurou até a Segunda. Nos dois conflitos houve um aspirante a 
império-mundo (a Alemanha imperial e nazista) que contestava diretamente a ordem mundial 
baseada na hegemonia e buscava, por meio da força, a conquista das fontes de poder e riqueza deste 
poder. 
Os princípios liberais e mecanismos de negociação interestatal existentes no século XIX, 
como o Concerto Europeu, foram pulverizados pela crise do entre-guerras, aniquilando os resquícios 
da hegemonia britânica, cujo governo afundou-se em dívidas para evitar a invasão pelo Canal da 
Mancha. 
Como conseqüência da ameaça imperial da Alemanha nas duas guerras mundiais (e do Japão 
e da Itália na Segunda), os EUA aparecem como líderes da coalizão anti-império-mundo e chegam 
ao final dos conflitos como o único Estado capaz de reorganizar o sistema-mundo e garantir nova 
rodada de governabilidade. 
Não obstante, a partir de 1945 ocorrerá uma mudança de paradigmas ocasionada por dois 
novos elementos: a bomba nuclear e a “convivência” da nova hegemonia (EUA) com um poder anti-
sistêmico (URSS) detentor de tecnologias de destruição em massa. 
 
2. OS ELEMENTOS DO “NOVO” CAOS SISTÊMICO: LIMITES E 
POSSIBILIDADES 
 
 
Após o sucesso do desempenho econômico norte-americano apresentado no período do pós 
Segunda Guerra Mundial, conhecido como a idade de ouro do capitalismo – que definiu o ciclo de 
expansão material da potência hegemônica –, a expansão financeira nas décadas de 1970 e 1980 
parece marcar o retorno à tendência de caos sistêmico, uma vez que muitos dos elementos que 
caracterizam este processo podem ser verificados na atual configuração do sistema mundo moderno. 
Tal como nos ciclos anteriores, o começo da expansão financeira coincide com a crise sinalizadora 
(S) da hegemonia de Arrighi, momento também identificado como um sinal do outono por Braudel. 
A década de 1970 marca a “crise inicial” da hegemonia norte-americana, e sua “crise terminal”, 
denominada “ruptura hegemônica” no esquema deste autor (2001, p. 75) ainda encontra-se incógnita 
neste início do século XXI, se é que ocorrerá. Assim, estamos vivenciando um momento decisivo na 
história do capitalismo, que coincide com as variáveis típicas do caossistêmico15. 
 
15 À primeira vista, é fácil perceber que a economia dos Estados Unidos é significativamente menos vultosa do que era 
no passado. Esta comparação livre pode ser enganosa, pois não podemos comparar os Estados Unidos de hoje com sua 
16 
 
O capitalismo mundial e o sistema interestatal passaram por significativas mudanças estruturais 
na década de 197016. Na década seguinte, a reestruturação do capitalismo nos países desenvolvidos 
foi posta em marcha sob o comando de governos neoliberais que se concentraram na 
desregulamentação a e abertura comercial e financeira das economias nacionais. Simultaneamente, 
as grandes empresas fizeram avançar um processo de reestruturação produtiva inaugurando, segundo 
Harvey (1992), um padrão de acumulação flexível, baseado em novas formas de organização das 
forças produtivas, pela introdução da automação e microeletrônica, desregulamentação das leis 
trabalhistas e pela precarização do emprego. 
Diante da escalada da competição interempresarial, as grandes empresas transnacionais buscaram 
novos espaços de acumulação em locais onde a classe trabalhadora recebesse baixa remuneração, 
dentre outras facilidades, como apoio de subsídios e legislações ambientais menos restritivas. Esse 
processo levou à realocação geográfica de diversos segmentos produtivos, em especial, na Ásia, cujo 
resultado redesenhou espacialmente o sistema capitalista mundial. 
Segundo Corsi (2010, p.62), a lenta acumulação do ciclo de expansão material da hegemonia foi 
a grande responsável, mas não a único, “pela ampliação do excedente de capital na forma dinheiro, 
que vinha crescendo desde o final da década de 1960 e que sofreu uma majoração exponencial a 
partir da própria valorização fictícia nos mercados financeiros cada vez mais globalizados”. Assim, 
conclui o autor, a ampliação e a falta de controle dos mercados financeiros permitiram para a 
crescente autonomia da esfera financeira em relação à produção de valor. 
O predomínio do capital financeiro passou a criar um ambiente de instabilidade crônica na 
economia mundial a partir da formação de bolhas especulativas. Tal processo desencadeou, ao todo, 
seis crises, a saber: recessão 1990-1991; a crise do México (1994); a do Sudeste Asiático (1997); 
Rússia/Brasil/Argentina (1998-2001); recessão 2001-2002 e a crise da bolha imobiliária (2007). 
No período pós Guerra Fria, novos arranjos de poder e riqueza aumentaram de importância em 
virtude dessa nova lógica de estruturação do sistema internacional, tal como a ascensão de blocos 
econômicos de geometrias variáveis e a consolidação da Ásia (em especial a China) como um 
 
posição ocupada no início da guerra fria. Assim, entende-se que a análise da possível crise da hegemonia norte-
americana deve ser analisada diante de uma perspectiva que dê conta de verificar as correlações de força imanentes no 
sistema político e econômico contemporâneo. Faz-se necessário então que a comparação seja feita com as outras forças 
presentes, e em particular, segundo Sader (2004), com seus pontos de força e de debilidade. Diante da limitação do 
recorte de objeto proposto no presente trabalho, não será delineada a atual configuração de forças que servem como 
formidáveis incentivos as facilidades e constrangimentos à hegemonia norte-americana. 
16 São exemplos dessas mudanças: o colapso do sistema de Bretton Woods; as crises do petróleo (de 1973 e 1979); a 
desregulamentação das finanças; o impacto da elevação da taxa de juros norte-americanos em 1979 nos países de terceiro 
mundo; a liquidez mundial baseada em uma cesta de moedas, dentre outras. 
17 
 
atrativo pólo de investimentos para as forças produtivas, o que nos leva ao segundo elemento do caos 
sistêmico: a ascensão de novos centros de acumulação de poder e riqueza. 
Durante as últimas duas décadas, a dinâmica da economia-mundo passou a ficar mais complexa 
diante do aumento do peso do novo pólo de acumulação sistêmica formado na Ásia. Em sua última 
obra, Adam Smith em Pequim (2008), Arrighi afirma a tese de uma transição para uma hegemonia 
com sede na Ásia, inaugurando assim, uma nova lógica de acumulação de capital com o prognóstico 
de formidáveis mudanças para as próximas décadas17. A internacionalização americana associada 
com o crescimento chinês permitiu o vislumbre de uma tendência capaz de produzir mudanças no 
“longo” século norte-americano. São vários os especialistas que apontam sem muita surpresa a 
criação nacional de acumulação de poder e de capital da China com grande capacidade gravitacional 
similar à dos Estados Unidos. Assim, o incremento das relações econômico-comerciais entre este 
país e China permitiu verificar um ponto atípico: a falta de uma rivalidade geopolítica sem 
complementaridade econômica como ocorreu com a hegemonia inglesa (frente à rivalidade alemã), e 
no século XX, com a hegemonia norte-americana frente à rivalidade soviética. 
Os Estados Unidos adquiriram um quase monopólio do uso legítimo da força em escala mundial. 
No entanto, seu endividamento financeiro é de tais proporções que o país torna-se vulnerável diante 
dos países que controlam a liquidez internacional, tais como a China18, Japão e outros países 
asiáticos. Segundo Gunder Frank (2003, p.368): “Pela primeira vez desde as origens mais remotas da 
economia mundial capitalista, o poder do dinheiro parece estar escapando ou haver escapado das 
mãos do Ocidente”. 
Em tese, vislumbra-se a perda do poder relativa dos EUA diante de novas geometrias de poder 
variável em curso, em especial na Ásia; no entanto, apesar do extraordinário crescimento da China 
não é possível encontrar um candidato em um horizonte próximo que consiga reunir grande parte dos 
atributos de potência hegemônica, pois, para isso, seria necessário o provável candidato contemplar 
não apenas os elementos importantes para o exercício da hegemonia – como as supremacias nas 
dimensões econômicas, militar, política e cultural –, mas também oferecer respostas sistêmicas 
capazes de estruturar um novo momento de governabilidade, ou ainda, em se comportar como um 
aspirante a império-mundo, tal como a Weltpolitik alemã no ciclo anterior. Sendo assim, a ascensão 
 
17 Foi longo o caminho percorrido pela China para realizar o tão debatido “milagre econômico”. Um substantivo 
incremento das relações sino-americanas iniciou-se na década de 1970, através da opção estratégica dos EUA em isolar a 
URSS no sistema internacional a partir do acordo geopolítico realizado com a China. Como sublinha Fiori (2008, p. 66): 
“Foi a maior e mais rápida expansão do ‘território econômico supranacional’ dos Estados Unidos. Ela aumentou, de 
forma geométrica, o poder do dólar e dos títulos da dívida pública do governo americanos e a capacidade de 
multiplicação do seu capital financeiro”. 
18 Importante mencionar que a China é o país que mais compra títulos do tesouro norte-americano, financiando assim a 
dívida pública dos Estados Unidos. 
18 
 
econômica da China não tem provocado a confirmação de um aumento na escalada da competição 
interestatal que seja capaz de desencadear uma guerra de trinta anos, tal como prevê o argumento de 
Arrighi nos ciclos anteriores. 
Ao final da Segunda Guerra Mundial (em Bretton-Woods e São Francisco19) foram criadas as 
instituições internacionais que garantiram a inflação do poder consensual hegemônico norte-
americano e, por conseqüência, a nova rodada de governabilidade das décadas seguintes. A 
coexistência com uma potência antagônica (a União Soviética) – e as guerras regionais decorrentes 
desta rivalidade – não reduziram o poder hegemônico dos EUA durante as primeiras décadasda 
Guerra-Fria. Pelo contrário, o advento deste conflito em potencial deu a justificativa ideológica 
necessária para a construção de um mundo pautado em instituições e valores defendidos por esta 
nação. 
Não obstante, com a crise econômica mundial da década de 1970 e o fim da URSS em 1991, 
muitas das instituições e dos princípios que as norteavam acabaram por ser violados pela própria 
hegemonia. Como conseqüência, ocorre o fenômeno da obsolescência destas organizações e ideias, 
que não acompanharam ou foram obrigadas a se adaptar a um contexto diferente daquele em que 
foram criadas. 
Em meio à crise do petróleo de 1973 e à concorrência econômica oferecida por Japão e 
Alemanha, os EUA romperam unilateralmente com o padrão ouro-dólar – uma das principais 
convenções de Bretton-Woods. O neoliberalismo pregado por Reagan e Thatcher, tido como a única 
alternativa após a falência do socialismo real, sofreu severos golpes a partir da década de 1990, com 
a sucessão de crises econômicas em países periféricos, o agravamento das desigualdades de renda e o 
crescimento desenfreado da especulação, conforme já mencionado. 
Embora de natureza militar, o propósito político da Organização do Tratado do Atlântico 
Norte (OTAN) também se esvaziou com o fim de sua contraparte – o Pacto de Varsóvia. Não 
havendo mais a ameaça de invasão do “rolo compressor” soviético, os EUA perderam, na década de 
90, a justificativa para manter suas tropas estacionadas no continente europeu. 
Portanto, na visão de Gramsci e Arrighi, o enfraquecimento destas instituições reflete a 
deflação de poder hegemônico, uma vez que o apelo consensual – a diplomacia e a negociação 
 
19 Em Bretton-Woods (1944) foram criadas as instituições que regulariam a economia mundial: Fundo Monetário 
Internacional (FMI), Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD) e a natimorta Organização 
Internacional do Comércio (OIC). Em 1945, na Carta de São Francisco, foi criada a Organização das Nações Unidas 
(ONU), tornando-se a autoridade máxima do Direito Internacional Público e o foro multilateral de discussões entre os 
Estados soberanos do mundo. 
19 
 
multilateral – é substituído por ações unilaterais coercitivas que não visam mais a governabilidade 
sistêmica e sim o interesse particular e o resultado imediato. 
O desrespeito às resoluções do Conselho de Segurança da ONU quanto às invasões do Iraque 
e do Afeganistão, além de ações militares como na Somália em 1994, demonstram claramente a 
preponderância coercitiva da política externa norte-americana nas últimas quatro décadas, gerando 
um forte desgaste da imagem do país, principalmente a partir da política neoconservadora de Bush 
após o 11 de Setembro. Apesar da eleição de Barack Obama, mais voltado ao diálogo multilateral 
(pelo menos no discurso), tais fatos sustentam uma possível crise de liderança por parte dos Estados 
Unidos em virtude da perda do apelo consensual do líder hegemônico. 
Não obstante, afirmar que vivemos um período de caos sistêmico similar aos homônimos já 
encerrados, é contar apenas parte da história. Ainda que sejam verificáveis a expansão financeira, a 
ascensão de novos centros e a corrosão do poder consensual da hegemonia, a atual configuração do 
sistema internacional apresenta uma série de variáveis que não são previstas pela teoria do sistema-
mundo. Em primeiro lugar, não se pode falar da perda da capacidade coercitiva relativa do poder 
norte-americano. O próprio Arrighi (2001, p. 104), admite uma anomalia: enquanto os caos 
sistêmicos anteriores foram marcados pela fusão do poder financeiro e militar sob a jurisdição da 
nação hegemônica ascendente, no presente momento ocorre uma fissão destes dois poderes: o 
financeiro migrando para a Ásia Oriental, e o militar permanecendo nas mãos dos EUA. 
Porém, apesar da manutenção da assimetria de poder bélico dos EUA, ocorre um dilema 
peculiar: as armas nucleares tornaram-se um “atalho” para a maximização de poder de nações não-
centrais, de forma que o aparato militar norte-americano perde parte de sua eficácia frente a ameaças 
como o Irã e a Coréia do Norte. 
Partindo do princípio realista de que os Estados calculam racionalmente suas ações em 
função de benefícios e prejuízos, a teoria apresenta um segundo “ponto cego”, ligado ao primeiro: a 
impossibilidade de Estados de usarem arsenais nucleares devido à destruição mútua assegurada 
fazendo com que a tradicional lógica da “guerra total” entre exércitos nacionais torne-se 
ultrapassada. Pela primeira vez na história da humanidade, a tecnologia bélica mais avançada não 
pode ser usada devido à certeza de seus efeitos colaterais negativos, estando restrita ao plano da 
coerção e da ameaça. Assim, a ocorrência de uma nova “guerra de trinta anos”, que precipite o 
colapso de uma hegemonia e impulsione outra, parece improvável. Por outro lado, as ações de 
grupos paramilitares e/ou terroristas agindo em nome de causas diversas, têm se tornado focos de 
conflitos intra e interestatais, contribuindo para a instabilidade de regiões como o Oriente Médio e a 
20 
 
América do Sul, e obrigando a hegemonia norte-americana a despender recursos em nome da 
segurança. 
Inúmeras outras variáveis não relevadas pela teoria do sistema-mundo poderiam ser citadas 
como exclusivas do atual caos sistêmico, tornando apenas parcialmente legítima a afirmação de que, 
de fato, vivemos o novo caos. Os desequilíbrios ambientais, por exemplo, consistem numa agenda 
que urge não apenas Estados, mas todos os seres humanos, a pensar em conjunto, pois assim como 
uma suposta guerra nuclear, geram danos que extrapolam fronteiras e não respeitam classe, cor ou 
religião. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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