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LÍNGUA PORTUGUESA PARA DOCENTES Monique Bisconsim Ganasin Valéria Adriana Maceis Imprimir CONHECENDO A DISCIPLINA Estimado acadêmico, primeiramente gostaríamos de expressar nossa satisfação em preparar este material para você. Saiba que procuramos fazê-lo com muito carinho e dedicação, a �m de que você adquira, amplie e/ou enriqueça seus conhecimentos a respeito de todos os conteúdos a serem vistos aqui. No decorrer de todo o livro, preocupamo-nos em escrever com clareza e diversidade de conteúdo, fazendo uso de exemplos sempre que possível, pois, a nosso ver, eles auxiliam muito na �xação do que se está estudando. Pedimos que você procure realizar as suas leituras com atenção e empenho. Interaja com o texto, faça anotações, responda às atividades propostas, anote suas dúvidas, consulte as sugestões de leitura e de re�exão que percorrem todo o texto e, especialmente, realize novas pesquisas sobre os assuntos trabalhados, já que este material traz fundamentações teóricas básicas, o que signi�ca que não deve ser encarado como o único e absoluto meio de se estudar e de se re�etir sobre os aspectos de nossa língua. Temos certeza de que você vai aprender muita coisa interessante e bastante signi�cativa para o seu futuro pro�ssional. Conhecer bem a nossa língua materna; saber como se dá seu uso e funcionamento; interpretar e compreender bem uma porção textual – seja ela verbal, não verbal ou multimodal; conseguir se expressar com clareza, construindo textos organizados e coerentes são apenas algumas das inúmeras razões para se estudar a Língua Portuguesa. E a importância de tal ação Deseja ouvir este material? Áudio disponível no material digital. 0 V er a n ot aç õe s intensi�ca-se se o estudioso em questão objetiva atuar na formação humana, pessoal e pro�ssional de um cidadão, isto é, se deseja atuar na área docente – o que, certamente, implica contato direto com a busca por estratégias que auxiliem crianças, adolescentes e demais educandos a atingirem êxito na vivência da leitura e da escrita. 0 V er a n ot aç õe s Com relação à organização deste material, ele é formado por quatro unidades. Na primeira e na segunda, norteadas pelas competências e habilidades descritas na BNCC (Base Nacional Comum Curricular), falaremos sobre Análise Linguística e Semiótica de aspectos de nossa língua. Você sabe quais conteúdos esse estudo aborda? Detalharemos a você! Acreditamos que, ao longo de sua vida escolar, você já tenha estudado – considerável ou super�cialmente – regras ortográ�cas – de gra�a e de acentuação –, além das variedades de que dispõe a linguagem que usamos em nossa comunicação formal e informal; estruturas e expressões dotadas de sentidos distintos e classi�cações morfológicas e sintáticas, certo? Pois bem! Em síntese, tais noções e conceitos e seus respectivos desdobramentos compreendem o conteúdo programático do que se denomina Análise Linguística e Semiótica I (primeira unidade) e Análise Linguística e Semiótica II (segunda unidade), partes constituintes deste material. Com isso, você terá a oportunidade de rever, primeiramente, os seguintes assuntos: o emprego de por que, por quê, porque e porquê; uso e distinção de palavras parônimas e homônimas; principais regras de acentuação: oxítonas, paroxítonas, proparoxítonas; noções sobre a utilização do hífen; fatores responsáveis pelas variações; níveis de variação no português falado; tipos de variação linguística: histórica, regional, social e estilística; norma-padrão, variedades de prestígio e preconceito linguístico; conceitos básicos relacionados à semântica: polissemia/ambiguidade; sinonímia/antonímia; conotação/denotação; signi�cados contextuais e efeitos de sentido; o uso de pre�xos e su�xos na produção de sentidos; principais �guras de linguagem na construção do texto. Na segunda unidade, passaremos ao estudo das relações morfossintáticas no Português: categorias gramaticais e suas funções sintáticas – o estudo da oração e dos períodos. Dessa forma, serão estudados: o substantivo e sua função nuclear nas orações; o adjetivo e seu uso como adjunto adnominal e predicativo; verbos: parte essencial da oração; artigos, numerais e pronomes: determinantes e constituintes referenciais; o emprego das orações coordenadas, subordinadas 0 V er a n ot aç õe s substantivas, subordinadas adjetivas e subordinadas adverbiais. Ademais, ainda nesta unidade, também serão vistos outros aspectos sintáticos relevantes na construção do texto: sinais de pontuação: funções e efeitos de sentido; elementos- base de concordância nominal e de concordância verbal; regência verbal e regência nominal: casos principais; conceituação e emprego do acento indicativo de crase. Você se recorda desses conteúdos? Se não se lembra, não se preocupe; vamos ajudá-lo a relembrar e a compreender tais itens gramaticais. A terceira unidade se voltará, mais especi�camente, à Leitura e Interpretação em Língua Portuguesa. Assim, disponibilizará a você, futuro professor, o contato com processos e estratégias de leitura, com análise de contexto e relações de sentidos e com leitura e interpretação de textos: multimodalidade e linguagem. Tais aspectos de aprendizagem compreendem os seguintes conteúdos: processo de leitura: extração e atribuição de sentidos; estratégias de leitura; ativação de conhecimento prévio; o papel do conhecimento linguístico na leitura; o papel das condições de produção e do contexto na construção do texto; reconhecimento de informações contextuais; relações intertextuais; reconhecimento de informações implícitas: pressupostos e subentendidos; leitura: conceitos e práticas; reconhecimento de marcas de coesão e coerência; a con�guração dos textos: organização e produção de sentidos; leitura de imagens e objetos multimodais. Por �m, na quarta unidade trataremos da Produção escrita em Língua Portuguesa – unidade que se dedica ao estudo dos gêneros discursivos – a prática social de linguagem, além de tratar da construção do texto: coesão, coerência e organização textual e ainda dos processos de escrita: aspectos ortográ�cos e contextuais. Tais itens de estudos, por sua vez, dividem-se entre os seguintes conteúdos: conceito de gêneros discursivos; a relação entre prática social e gêneros discursivos; marcas linguístico-enunciativas: as particularidades da linguagem; gêneros discursivos orais e escritos; a construção do texto: elementos de coesão; a inserção do sentido: coerência textual; elementos básicos de escrita: 0 V er a n ot aç õe s paragrafação e pontuação; o continuum da escrita: uma unidade textual; processo de escrita; aspectos ortográ�cos da língua; relações entre escrita e contexto; noções de argumentatividade. Para concluir, acreditamos sinceramente que este livro possa contribuir, de maneira signi�cativa, para o alcance do sucesso em sua prática docente. Portanto, estude, dedique-se e queira sempre ser o melhor que puder ser. 0 V er a n ot aç õe s NÃO PODE FALTAR ELEMENTOS NOTACIONAIS DA ESCRITA: ORTOGRAFIA E ACENTUAÇÃO Monique Bisconsim Ganasin Valéria Adriana Maceis Imprimir C CONVITE AO ESTUDO aro estudante, nesta unidade sobre Análise Linguística e Semiótica em Língua Portuguesa você terá a oportunidade de aprimorar seus conhecimentos sobre aspectos ortográ�cos, semânticos e os voltados à PALAVRAS "As palavras formam os �os com os quais tecemos nossas experiências." (Aldous Huxley) Fonte: Shutterstock. Deseja ouvir este material? Áudio disponível no material digital. 0 V er a n ot aç õe s diversidade de nossa língua materna – conteúdo relevante para sua vivência pro�ssional como educador. 0 V er a n ot aç õe s Em algum momento de sua vida escolar e/ou cotidiana, você já deve ter tido dúvidas do tipo: “Esse porquê é com acento ou sem acento? Junto ou separado?”; “Será que essa palavra é grafada com ‘c’ cedilha ou com ‘ss’?”; “Tem hífen ou não tem mais?”. Pois bem: nosso estudo volta-se, primeiramente,a elementos relevantes da escrita, a �m de auxiliar você – tanto em sua rotina acadêmica quanto em sua prática docente futura – a ter domínio de elementos que atuam na construção de textos sem deslizes gramaticais, organizados, claros e que estabeleçam relações de sentido coerentes. No mundo contemporâneo, apesar de tantos avanços e evoluções, não raramente nos deparamos com inúmeras situações de intolerância e discriminações dos mais variados tipos. Em termos de linguagem não é diferente: também precisamos lidar com o chamado preconceito linguístico. Sendo assim nossa intenção é ampliar seus conhecimentos a respeito dessas variedades estigmatizadas e acerca de outras variações que permeiam nossa língua, com intuito de se compreender o fenômeno da pluralidade linguística, o qual faz parte de nossa prática educativa, já que envolve a nossa comunicação em todas as suas manifestações sociais, formais ou informais. Por �m, com o objetivo de ampliar habilidades de leitura e interpretação de textos verbais e multimodais para uma atuação docente de qualidade, estudaremos também algumas noções basilares acerca da Semântica. Essa área de estudo linguístico é familiar a você? Vale a pena esclarecer: a Semântica compreende o estudo dos signi�cados, do(s) sentido(s) de um termo, uma expressão, uma frase; ela atua na relação entre o signi�cante, isto é, a palavra, o código, o símbolo – os quais usamos para nos expressar – e o que eles representam, sua literalidade, sua signi�cação. Boa leitura! PRATICAR PARA APRENDER 0 V er a n ot aç õe s Nesta seção, você terá a oportunidade de resgatar e/ou aprimorar seus conhecimentos-base voltados à escrita. Por que tais conhecimentos são importantes? Por quê? Sim. É possível que você queira saber o porquê disso… Simples: porque eles são fundamentais para um trabalho e�caz e satisfatório nos bancos escolares. Pegou a referência aos porquês? Não foi mera coincidência! Intuímos, nesta seção, tirar quaisquer dúvidas que, porventura, você ainda possa ter com relação ao uso desse conectivo. Falando em seção, você já teve dúvida se deveria grafar “seção” – com cê-cedilha – ou “sessão”, com “ss”? Ou, então, em algum momento não sabia se o correto era escrever “emigrar” ou “imigrar”, por exemplo? Tais dúvidas são recorrentes entre os usuários do português brasileiro. Vamos tratar desses e de outros casos semelhantes também nesta seção. 0 V er a n ot aç õe s E quanto à acentuação? Você se recorda das oxítonas, paroxítonas e proparoxítonas? Lembra-se da relação delas com as sílabas tônicas e, por consequência, do uso de acentos agudo e circun�exo? Resgatar e ampliar sua aprendizagem sobre regras de acentuação em uso hoje também faz parte do conteúdo programático desta seção. Mini-saia ou minissaia? Microondas ou micro-ondas? Se você pensou em “minissaia” e em “micro-ondas”, você acertou! Também revisaremos, nesta seção, o emprego do hífen, elemento notacional da escrita que ainda gera muitas dúvidas quanto ao uso nos falantes em geral. Esses questionamentos e re�exões servem apenas para apresentar a você um “aperitivo” do que será estudado nesta primeira seção. É válido ressaltar que o domínio da norma-padrão de nossa língua materna é importante tanto para o sucesso pessoal quanto para o pro�ssional em qualquer área do mercado de trabalho e do convívio em sociedade. E, se este pro�ssional é um professor e/ou atuante na área da educação, a cobrança por tal competência linguística intensi�ca-se, uma vez que atuamos de forma direta na formação técnica e humana dos educandos – o que nos deve ser motivo de muita satisfação e orgulho, apesar de todos os desa�os. O trabalho de auxiliar seus alunos a construir textos organizados e que estabeleçam relações de sentido será uma constante em sua vivência docente. Independentemente da área do conhecimento na qual atue, são muitos os desa�os que nós, professores, enfrentamos todos os dias. Procurar estratégias e�cazes para auxiliar os alunos a vencer de�ciências na escrita, sem dúvida, é um deles. Dessa forma, vê-se a importância de, desde já, você ter contato com alguns exemplos de situações da prática pro�ssional. Portanto, primeiramente, imagine que você leciona para uma turma de 5º ano do ensino fundamental I, que tem apresentado muitos deslizes ortográ�cos em suas produções. Alunos que, entre outras coisas, não acentuam devidamente oxítonas, paroxítonas e proparoxítonas ou então acentuam termos que não têm acento 0 V er a n ot aç õe s grá�co. Você já os orientou, apontou os problemas detectados, já demonstrou possíveis caminhos para solucionar tais problemas e, ainda assim, eles permanecem recorrentes nos textos dos alunos. Como fazer para instigar nos alunos o desejo de ser pro�ciente em sua língua materna, tendo domínio das regras de acentuação, para um bom uso em situações comunicativas diversas? Não é fácil, mas é possível! Pense em uma estratégia que os envolva e os entusiasme no contato com as palavras e demais expressões linguísticas. Estude, persista e siga em frente! 0 V er a n ot aç õe s CONCEITO-CHAVE O EMPREGO DE POR QUE, POR QUÊ, PORQUE E PORQUÊ Está clara para você a diferença de uso entre “porquê” (com acento) e “porque” (sem acento)? Vale a pena esclarecer tal distinção aqui, uma vez que ela gera dúvida a muitos falantes na hora de escrever. Para iniciar nosso estudo, analise os exemplos a seguir: I. “E em tudo que eu faço Existe um porquê Eu sei que eu nasci Eu sei que eu nasci pra saber.” (AGORA, 1975) II. “Amai, porque nada melhor para a saúde que um amor correspondido” (MORAES, [s.d.]). Começaremos nossa explicação pelo “porquê” – junto e com acento –, pois faremos uso dele em todo texto referente a esse assunto nesta seção, mesmo quando estivermos explicando os outros usos: “porque”, “por que” e “por quê”. E qual é a razão disso? É que o uso do “porquê” – junto e com acento – faz referência ao nome do conectivo em si, isto é, ele é usado toda vez que evocamos seu emprego como substantivo. Para �car mais claro, o “porquê”, como se observa no Exemplo I, vem sempre acompanhado de um artigo “Existe um porquê […]”, justamente pelo fato de os artigos acompanharem substantivos. Perceba que, no Exemplo I, equivale a “Existe um motivo”. ASSIMILE De agora em diante, ao nos referirmos ao “porquê” como nome do conectivo em si, isto é, com função de substantivo, acompanhado de artigo, sempre usaremos o “porquê” junto e com acento, mesmo quando se tratar das explicações de outros usos do “porquê”. 0 V er a n ot aç õe s Em síntese: Porquê Usaremos o “porquê” quando ele estiver com função de substantivo, equivalendo a “motivo”, “razão”, e sempre acompanhado de um determinante como “um”, “o”, “este” etc. 0 V er a n ot aç õe s Agora releia o segundo Exemplo II, cuja autoria é de um poeta que muito amou na vida: Vinícius de Moraes. Note que, nesse caso, “porque” – junto e sem acento – introduz uma justi�cativa para a oração anterior “Amai”, ou seja, o trecho “porque nada melhor para a saúde que um amor correspondido” funciona como a explicação, a justi�cativa para o que consta na oração anterior. Por que amar? Porque, segundo o autor, nada é melhor nesta vida do que um amor correspondido. Em outras palavras, Antes de seguirmos para a explicação do uso dos porquês “separados”, observe os exemplos: III. “Por que fake news viralizam mais do que notícias reais?” (POR QUE […], 2018, [s.p.]). IV. “Gostaria de saber por que as pessoas acreditam mais em fake news do que em notícias reais.” V. “Fake news viralizam mais do que notícias reais. Por quê?” Você notou que as três frases apresentadas são interrogativas? Portanto, já �ca enfatizada a relação próxima entre o uso de tal conectivo – grafado separadamente – e as perguntas, isto é, frases interrogativas diretas ou indiretas. O que nos indicará se devemos usar ou não o acento é, sobretudo, a posição de tal uso dentro da frase.Veja que, no Exemplo III, temos uma pergunta direta. A gra�a “por que” – separada e sem acento – é empregada no início de frases interrogativas diretas, com ponto de interrogação, como no Exemplo III, ou em perguntas indiretas, no Porque Usaremos “porque” em respostas a perguntas, em justi�cativas, sempre com ideia de causa, explicação. Esse é o uso mais recorrente do termo. 0 V er a n ot aç õe s meio da sentença e com ponto �nal (e não ponto de interrogação), como no Exemplo IV. Já no Exemplo V, a gra�a “por quê” – separada e com acento – também está empregada em uma pergunta direta, porém no �m da sentença ou isoladamente e sempre apresenta ponto de interrogação. 0 V er a n ot aç õe s Entendido o emprego de “por que” e “por quê” em perguntas, vejamos também um caso em que a gra�a “por que” – separada e sem acento – é utilizada também em frases a�rmativas, e não só em interrogativas, como se viu até então. Observe o exemplo que segue: VI. “Este é o caminho por que passei.” Note que nesse exemplo tal conectivo é usado em uma frase a�rmativa, como pronome relativo , isto é, ele funciona como um elemento de retomada do termo anterior “caminho”: “Este é o caminho. Eu passei por esse caminho.”. Em inúmeras situações fazemos uso de pronome relativo para fazer referência a um termo e relacioná-lo com o restante da informação. Veja que, nessas ocorrências, ele pode ser substituído por “pelo qual”: “Este é o caminho pelo qual passei.”. Dessa forma, para não ter dúvida, faça o teste de tentar trocar “por que” por “pelo qual” ou “pela qual” (em caso de o substantivo a ser retomado ser do gênero feminino: “Essa é a avenida por que/pela qual passei.”). Por que / Por quê Uma observação interessante do uso de “por que/por quê” (separado – com ou sem acento) é que ele sempre tem ideia de “por que motivo?”, “por que razão?”. Note como é possível comprovar isso nos exemplos apresentados: III. “Por que (motivo) fake news viralizam mais do que notícias reais?” IV. “Gostaria de saber por que (razão) as pessoas acreditam mais em fake news do que em notícias reais.” V. “Fake news viralizam mais do que notícias reais. Por quê (motivo)?” 0 V er a n ot aç õe s ASSIMILE Quadro 1.1 | Uso dos “porquês” Porquê Sempre acompanhado de um determinante; função de substantivo e equivalente a “motivo”, “razão”. Porque Empregado em respostas, justi�cativas, explicações. Por que Usado em frases interrogativas diretas (início de frase, com ponto de interrogação) e em interrogativas indiretas (meio de frase, raramente no �m, sem ponto de interrogação). Também é usado em sentenças a�rmativas, podendo ser substituído por “pelo(a) qual”. Por quê Usado em frases interrogativas diretas, porém no �m de frases, com ponto de interrogação, ou então isoladamente. Fonte: elaborado pelas autoras. USO E DISTINÇÃO DE PALAVRAS PARÔNIMAS E DE HOMÔNIMAS Você sabe o que são palavras parônimas? E homônimas? Comecemos pela explicação das parônimas. Para tanto, analise o exemplo que segue: VII. “Caminhoneiros descriminados em utilização de banheiros por contaminação querem parar” (CAMINHONEIROS […], 2020, [s.p.]). Você notou algum deslize ortográ�co nessa sentença? Analise novamente, com atenção ao uso do termo “descriminado”, tendo em vista que, nesse contexto, o sentido a ser compreendido é de que os caminhoneiros foram impedidos de usar banheiros em algum estabelecimento. O correto nesse caso é “descriminado” ou “discriminado”? “Discriminado”, com “i”, é a resposta, uma vez que “descriminado”, com “e”, não tem sentido de algo ou alguém que foi alvo de discriminação, mas sim de alguém que foi absolvido, inocentado de seus crimes. 0 V er a n ot aç õe s Esse par de termos que apresentam gra�a semelhante, mas pronúncia e sentido diferentes, faz parte do grupo de palavras parônimas de que fazemos uso em Língua Portuguesa. É provável que alguma vez você já tenha tido dúvidas ao escrever alguma palavra assim, não é mesmo? Pois seus futuros educandos provavelmente também as terão. Dessa forma, é válido seu estudo, revisão e �xação do uso desses termos, visto que, em seu futuro pro�ssional, além de, hora ou outra, você ter de lançar mão deles em alguma situação comunicativa, será também você quem auxiliará seus alunos a escrevê-los corretamente. Vejamos, no quadro a seguir, mais alguns casos de palavras parônimas de que fazemos uso em nossa comunicação. Quadro 1.2 | Palavras parônimas absolver: perdoar, inocentar. absorver: aspirar, sorver. eminente: elevado, alto. iminente: que está prestes a acontecer. coalisão: aliança, acordo político. colisão: choque, luta. �agrante: evidente. fragrante: perfumado. comprimento: extensão. cumprimento: saudação. �uir: correr (líquido), passar (tempo), escoar (tráfego). fruir: desfrutar, gozar. descriminar: tirar a culpa. discriminar: diferenciar. in�igir: aplicar pena, multa. infringir: transgredir, desrespeitar. descrição: ato de descrever. discrição: qualidade de quem é discreto. mandado: ordem judicial. mandato: procuração, delegação. 0 V er a n ot aç õe s despensa: compartimento da casa no qual se guardam mantimentos. dispensa: isenção, licença. prescreveu: determinar, �xar, receitar. proscreveu: desterrar, expulsar. destorcer: endireitar, desfazer a torção. distorcer: desvirtuar, mudar o sentido ou a intenção. reti�car: corrigir. rati�car: con�rmar. docente: relativo a professores. discente: relativo a alunos. soar: produzir som. suar: transpirar. emigrar: deixar um país. imigrar: entrar em um país. tráfego: trânsito. trá�co: negócio ilegal, escuso. Fonte: adaptado de Cereja e Magalhães (2016). E palavras homônimas, do que se trata? Você deve ter observado que o termo “homônimas” apresenta o elemento de composição homo, que tem sentido de semelhante, igual, mesmo, bem como outros termos em nossa língua: homogênea (algo de natureza semelhante), homossexual (atraído pelo mesmo sexo), entre outras. As palavras homônimas são aquelas que apresentam a mesma pronúncia; às vezes, a mesma gra�a, porém com signi�cados diferentes. Talvez você já deva estar imaginando alguns exemplos de palavras assim. Observe as imagens-exemplo (A) e (B) a seguir: 0 V er a n ot aç õe s (A) Fonte: Shutterstock. (B) Fonte: Freepik. 0 V er a n ot aç õe s Elas fazem referência a uma palavra que tem a mesma pronúncia, a mesma gra�a, todavia sentidos distintos – um para cada uma dessas imagens. Você já sabe que palavra é essa, certo? O vocábulo “banco” – termo que, dependendo do contexto, corresponde à empresa onde se efetuam operações �nanceiras ou se refere a um assento de pedra, madeira, ferro ou outro material, com ou sem encosto. Termos como esse são classi�cados por alguns autores como homônimos perfeitos. Além do exemplo de banco, há vários outros: Quadro 1.3 | Homônimos Homônimos perfeitos canto: esquina, extremidade. canto: música vocal. grama: unidade de medida. grama: planta rasteira. cedo: antecipadamente. cedo: 1ª pessoa do verbo ceder. são: verbo. são: santo. coroa: ornamento circular para a cabeça ou cargo soberano de que faz uso desse ornamento. coroa: pessoa de meia-idade. vela: peça de cera para iluminar. vela: tecido usado em uma embarcação. vela: peça de um carro. vela: estar na companhia de um casal. Fonte: elaborado pelas autoras. 0 V er a n ot aç õe s Tais homônimos considerados “perfeitos”, apesar de não estarem isentos de gerar ambiguidade em alguma situação comunicativa, dispõem do contexto para propiciar o entendimento do que se quer comunicar. Mas, de qualquer modo, é válido dar atenção especial aos chamados homógrafos (mesma gra�a, porém pronúncia e sentidos diferentes) e, sobretudo, os homófonos (mesma pronúncia, porém gra�a e sentidos diferentes), por gerarem mais dúvida ao falante no momento da escrita. Veja alguns exemplos de cada caso. Quadro 1.4 | Homógrafos Homógrafosacordo: Fizemos um acordo. (substantivo) acordo: Acordo às 6 horas. (verbo) gosto: Eu gosto de você. (verbo) gosto: O gosto é peculiar. (substantivo) almoço: Eu almoço sempre às 13h. (verbo) almoço: O almoço estava uma delícia. (substantivo) governo: Eu governo meu destino. (verbo) governo: O governo lançou uma campanha contra a violência. (substantivo) apoio: Seu apoio é importante para mim. (substantivo) apoio: Eu apoio seu posicionamento nesse assunto. (verbo) jogo: O jogo começa às 21 horas. (substantivo) jogo: Eu jogo no time titular. (verbo) 0 V er a n ot aç õe s Homógrafos choro: Eu choro com facilidade. (verbo) choro: Foi um choro demorado. (substantivo) molho: Gosto de molho à bolonhesa. (substantivo) molho: Eu me molho lavando meu cachorro. (verbo) começo: O começo do jogo foi tenso. (substantivo) começo: Hoje eu começo em meu novo emprego. (verbo) seca: Minha roupa já está seca. (adjetivo) seca: Minha máquina seca as roupas. (verbo) coro: Fizemos um coro para responder ao professor. (substantivo) coro: Eu coro quando estou com vergonha. (verbo) sobre: Deixei o livro sobre a mesa. (preposição) sobre: Coma tudo para que não sobre nada. (verbo) Fonte: adaptado de Cereja e Magalhães (2016). 0 V er a n ot aç õe s Agora preste atenção aos homófonos, termos que geram muitas dúvidas quanto à gra�a. Quadro 1.5 | Homófonos Homófonos acender: pôr fogo. ascender: subir. empoçar: formar poça. empossar: dar posse a. acento: sinal grá�co. assento: local onde se senta. espectador: aquele que assiste a algo. expectador: aquele que espera alguma coisa. caçar: perseguir animais. cassar: tornar sem efeito. espiar: observar. expiar: pagar pena. cela: pequeno quarto. sela: arreio. sela: verbo selar. incipiente: principiante. insipiente: ignorante. cerrar: fechar. serrar: cortar. paço: palácio. passo: movimento dos pés para caminhar. passo: verbo passar. coser: costurar cozer: cozinhar sessão: reunião, assembleia. seção: corte, divisão. cessão: ato de ceder, doação. Fonte: adaptado de Cereja e Magalhães (2016). Para �car ainda mais clara para você a diferença entre parônimos, homônimos perfeitos, homógrafos e homófonos, observe o Quadro 1.6: EXEMPLIFICANDO 0 V er a n ot aç õe s Quadro 1.6 | Parônimos, homônimos perfeitos, homógrafos e homófonos Parônimos: semelhantes, mas com gra�a, pronúncia e sentidos diferentes. “Como os submarinos imergem (mergulham) e depois emergem (voltam à superfície)?” (adaptado de COMO […], [s.d.], [s.p.]). Homônimos perfeitos: mesma gra�a, mesma pronúncia e sentidos diferentes. “Segundo os nutricionistas, o ideal é comer somente 30 gramas de queijos amarelos por semana.” (CONSUMO […], 2012, [s.p.]). “Veja neste vídeo dicas de como cortar a grama.” (adaptado de CONSUMO […], 2012, [s.p.]). Homógrafos: mesma gra�a, mas com pronúncia e sentidos diferentes. “Desde 27 de março, a Torre Ei�el presta homenagem todas as noites às pessoas mobilizadas diante do coronavírus […]” (RFI, 2020, [s.p.]). “Torre seu próprio café e harmonize com seu per�l.” (CAFÉ DO SEU JEITO, [s.d.], [s.p.]). Homófonos: mesma pronúncia, mas com gra�a e sentido diferentes. “[…] O IBGE decidiu adiar a realização do Censo Demográ�co para 2021.” (BRASIL, 2020, [s.p.]). “O humorismo alivia-nos das vicissitudes da vida, ativando o nosso senso de proporção e revelando-nos que a seriedade exagerada tende ao absurdo.” (PENSADOR, 2020, [s.p.]). Fonte: elaborado pelas autoras. Í Í 0 V er a n ot aç õe s PRINCIPAIS REGRAS DE ACENTUAÇÃO: OXÍTONAS, PAROXÍTONAS, PROPAROXÍTONAS Infelizmente, no cotidiano escolar encontramos muitos estudantes com di�culdades para acentuar as palavras. A falta de acento é um dos problemas ortográ�cos mais constantes nas correções de redações e a�ns. Dessa forma, constata-se a importância de se resgatar, rever e compreender bem o uso e funcionamento desses conceitos da escrita para que, em seu futuro pro�ssional, você possa compartilhar com êxito esse conhecimento com seus futuros alunos. Portanto, sigamos ao estudo e análise das principais regras de acentuação. Para relembrar e �xar tal conteúdo, inicialmente é muito importante recordar a classi�cação das palavras quanto à sílaba tônica. Sílaba tônica? Sim! Aquela pronunciada com mais intensidade em uma palavra e que pode ou não apresentar acento grá�co. Nosso objetivo aqui é justamente veri�car em que tipo de palavra as sílabas tônicas recebem essa marca grá�ca na escrita e em quais não recebem. Por exemplo, no termo “escola”, qual é a silaba tônica? Aquela que se prolonga, a qual tem mais força. Veja: “escoooola”. É a sílaba “co”, certo? Visto isso, retomemos agora o conceito da divisão das palavras mediante a posição da sílaba tônica. Analise essa imagem-exemplo: Fonte: Freepik. 0 V er a n ot aç õe s O que você vê nessa imagem? Vamos analisar alguns dos termos que dela podemos extrair: café, fumaça, xícara. Observe a classi�cação dessas palavras com base na sílaba tônica : Em café, a sílaba tônica é a última, portanto temos uma palavra oxítona, bem como colher, papel, armazém. Já em fumaça, a sílaba tônica é a penúltima, com isso temos uma palavra paroxítona, assim como amarelo, saboroso, incrível. E em xícara, a sílaba tônica é a antepenúltima, o que a torna uma palavra proparoxítona, bem como os termos retângulo, fotógrafo, sílaba, proparoxítona. ACENTUAÇÃO DAS PROPAROXÍTONAS Você deve ter observado que todas as proparoxítonas listadas são acentuadas, não é mesmo? Algumas oxítonas e paroxítonas são acentuadas e outras não. Como saber quando devemos usar o acento ou não nesses termos que apresentam ou a última (oxítona) ou a penúltima (paroxítona) sílaba mais forte quanto à pronúncia? É isso que vamos ver a seguir. Para tanto, será fundamental conferir a terminação das palavras. Í Proparoxítona Essa é a regra mais fácil de memorizar! Devemos acentuar todas as palavras que têm a sílaba tônica na antepenúltima posição. 0 V er a n ot aç õe s ACENTUAÇÃO DAS OXÍTONAS Serão acentuadas as oxítonas terminadas em -a, -e, -o, -éi, -éu, -ói (ditongos abertos) – todos esses seguidos ou não de -s – e as terminadas em -em, -ens. Exemplos : sofá, café, pavê, bisavós, �éis, troféu, herói, armazém, parabéns. Com isso, em se tratando de palavras que têm a última sílaba como tônica, se só são acentuadas exclusivamente aquelas com essas terminações, o que �ca subentendido? Que todas as outras oxítonas, ou seja, as não terminadas em -a, -e, -o, -éi, -éu, -ói, -em, -ens não serão acentuadas, bem como colher, papel, arroz, pírex, abacaxi, bambu, alecrim, algum, marrom e outras. ATENÇÃO! Só serão acentuadas as oxítonas terminadas em -u e -i se essas vogais vierem precedidas de outra vogal, como em baú, Itajaí. Cereja e Magalhães (2016) lembram que os verbos conter, deter, manter e reter apresentam formas oxítonas e são acentuadas nas 3as pessoas do presente do indicativo. No singular, é usado o acento agudo e, no plural, acento circun�exo: ele contém / eles contêm; ela detém / elas detêm. MONOSSÍLABOS TÔNICOS Lembra-se dos monossílabos, ou seja, termos que apresentam apenas uma sílaba? Tendo entendido bem a regra de acentuação das oxítonas, �ca fácil gravar à dos monossílabos também, uma vez que o conceito é bem semelhante. Serão acentuados os monossílabos tônicos terminados em -a, -e, -o, -éi, -éu, -ói (ditongos abertos) – todos esses seguidos ou não de -s (só não entram os terminados em -em e -ens, como ocorre nas oxítonas). São exemplos de monossílabos acentuados: já, fé, avós, réis, céu, dói. 0 V er a n ot aç õe s Con�ra alguns exemplos de monossílabos não acentuados: �or, giz, bom, lei, mau, bem. O conceito de acentuação das oxítonas e dos monossílabos tônicos contém equivalências. Em síntese, todas as oxítonas e todos os monossílabos tônicos terminados em -a, -e, -o, -éi, -éu, -ói (seguidos ou não de -s) serão acentuados.ATENÇÃO! Atente para o fato de que, no caso dos monossílabos, não há acento nos terminados em -em e -ens – regra válida apenas para as oxítonas (além do que consta no quadro Atenção já apresentado). Talvez você esteja se perguntando: por que os vocábulos têm e vêm são monossílabos tônicos terminados em -em e podem receber acento? Nesse caso dos verbos ter e vir, acentua-se a forma da 3ª pessoa do plural apenas para diferenciá-la da forma singular: ela tem / elas têm; ele vem / eles vêm. Os monossílabos tônicos podem ou não ser acentuados. Eles têm força, tonicidade na pronúncia e signi�cado próprio: �or, fé. Os monossílabos átonos, por sua vez, nunca são acentuados. São fracos quanto à tonicidade e acabam sendo pronunciados como se �zessem parte da palavra anterior ou posterior, e não têm signi�cado próprio – apenas ligam elementos de uma frase: de, enviou-te. 0 V er a n ot aç õe s ACENTUAÇÃO DAS PAROXÍTONAS Vamos agora ao entendimento da acentuação das paroxítonas. Se você compreendeu bem o funcionamento da acentuação das oxítonas (e dos monossílabos tônicos), então você compreenderá facilmente as regras de acentuação das palavras cuja tonicidade recai sobre a penúltima sílaba, isto é, as paroxítonas. Isto porque, com algumas ressalvas, o conceito de acentuação das paroxítonas é exatamente o oposto das oxítonas. Veja: se, no caso das oxítonas, acentuamos as terminadas em -a, -e, -o, -éi, -éu, -ói – seguidos ou não de -s; e também em -em e -ens, como já ressaltado aqui, não serão acentuadas exatamente as paroxítonas que possuem essas terminações. Portanto: paroxítonas terminadas em -a, -e, -o, -éi, -éu, -ói (seguidos ou não de -s) -em e -ens não serão acentuadas – ao contrário do que ocorre com as oxítonas. Não são comuns no português paroxítonas com essas terminações. Isso signi�ca que as paroxítonas com qualquer outra terminação: -l, -r, -n, -x, -ps, -u(s), -i(s), -um, -ã, -ão(s) etc. receberão acento. Assim �ca mais fácil memorizar essas regras, certo? São exemplos de paroxítonas acentuadas: incrível, caráter, hífen, tórax, bíceps, álbum, vírus, júri. Repare nas terminações das palavras. Em nossa língua, as paroxítonas são as mais numerosas, sobretudo as não acentuadas. Con�ra exemplos de paroxítonas não acentuadas: fumaça, escola, livro, amarelo, saboroso, analise (verbo), metade, atenciosamente, homem, nuvens. Pensar dessa forma, opondo as regras de acentuação das oxítonas em relação às regras das paroxítonas, costuma ser útil para �xar o conhecimento acerca desses conceitos de acentuação em Língua Portuguesa. DITONGOS 0 V er a n ot aç õe s Porém, é preciso também deixar claro que, apesar de termos visto que paroxítonas terminadas em -a, -e, -o não são acentuadas, existem termos como estratégia, cárie, órgão, relógio que, mesmo terminados em -a, -e, -o, são paroxítonas acentuadas. Por quê? Nesses casos, tais termos são �nalizados por ditongos, e paroxítonas terminadas em ditongo também recebem acento. Portanto, anote aí: são acentuadas as paroxítonas não terminadas em -a, -e, -o (seguidos ou não de -s), -em e -ens, e as paroxítonas terminadas em ditongo, por exemplo: estratégia, cárie, órgão, relógio. FOCO NA BNCC É relevante saber que o estudo das oxítonas, paroxítonas e proparoxítonas, assim como os demais conteúdos estudados nesta seção, vai ao encontro de habilidades e competências prescritas na BNCC (Base Nacional Comum Curricular). Veja, por exemplo, três das habilidades pertinentes ao ensino fundamental I (3º, 4º e 5º ano): O estudo das regras de acentuação de nossa Língua Portuguesa não se resume apenas ao caso das oxítonas, paroxítonas e proparoxítonas. Aqui, conforme enuncia o nome do conteúdo, procuramos abordar apenas os casos considerados principais. No entanto, há ainda mais a se estudar quando o assunto é acentuação. Con�ra nossas dicas de leitura! DICA (EF03LP04) Usar acento grá�co (agudo ou circun�exo) em monossílabos tônicos terminados em a, e, o e em palavras oxítonas terminadas em a, e, o, seguidas ou não de s. (EF03LP06) Identi�car a sílaba tônica em palavras, classi�cando-as em oxítonas, paroxítonas e proparoxítonas. (EF04LP04) Usar acento grá�co (agudo ou circun�exo) em paroxítonas terminadas em -i(s), - l, -r, -ão(s). (EF05LP03) Acentuar corretamente palavras oxítonas, paroxítonas e proparoxítonas. (BRASIL, 2017) “ 0 V er a n ot aç õe s Existem mudanças relevantes que ocorreram na acentuação após a Reforma Ortográ�ca de 2009 e também o caso dos hiatos e dos acentos diferenciais. Dessa forma, indicamos algumas referências para a leitura a respeito de tais assuntos. Aproveite! DIRETORIA GERAL DE RECURSOS HUMANOS UNICAMP – DGRH. Acordo Ortográ�co. Reforma Ortográ�ca 2009, [s.d.]. NEVES, F. Palavras com hiato. Norma Culta, [s.d.]. NOVA ESCOLA. Novo acordo ortográ�co: acento diferencial. Nova Escola, 5 jan. 2008. NOÇÕES SOBRE A UTILIZAÇÃO DO HÍFEN MICROONDAS OU MICRO-ONDAS? Segundo Nicola (2014), como regra geral e guiando-se pelo Vocabulário Ortográ�co, somente se ligam por hífen os elementos dos vocábulos compostos em que a noção de composição seja mantida. Em outras palavras, isso se aplica aos substantivos compostos formados por elementos que apresentam independência fonética e de unidade de sentido. Exemplos: couve-�or, amor- perfeito, água-de-colônia. Palavras como “girassol” e “pontapé”, por exemplo, perderam a noção de composição, por isso não recebem hífen. Ademais, há hífen no uso de enclíticos (buscá-lo) e mesoclíticos (amar-te-ei). Em menor frequência, também usamos hífen no emprego de su�xos de origem tupi-guarani: açu, guaçu e mirim. Exemplo: capim-açu. Mas aqui vamos dedicar maior atenção ao emprego ou não de hífen naqueles termos que, a nosso ver, causam mais dúvida aos usuários da língua em geral no que tange à escrita, isto é, os termos em que o hífen é empregado com pre�xos, como o caso de “micro-ondas”, em que há o pre�xo “micro” + o substantivo “ondas”. Tudo isso levando em conta, é claro, as mudanças sofridas quanto ao uso do hífen após o Acordo Ortográ�co de 2009. 0 V er a n ot aç õe s A �m de procurar facilitar o seu entendimento sobre o assunto, criamos um quadro com as principais regras acerca do emprego do hífen. Foque sua atenção, sobretudo, na terminação do primeiro elemento e na letra que introduz o segundo elemento de cada termo composto. Quadro 1.7 | Uso do hífen Composição Conceito e exemplos Vogal + vogal Usa-se hífen entre elementos ligados por vogais iguais: micro-ondas, contra-ataque, semi-integral. Exceção: nos pre�xos “co” e “re” não se usa hífen. Exemplo: cooperação, reescrita. Não se usa hífen se essas vogais forem diferentes: autoescola, infraestrutura, semiaberto. Vogal + consoante Não se usa hífen quando o pre�xo termina em vogal e o segundo elemento começa por consoante: antipedagógico, seminovo. No caso de as consoantes serem “r” ou “s”, estas serão duplicadas: semirreta, minissaia. Após a Reforma Ortográ�ca de 2009, o termo micro-ondas, por ter o primeiro elemento terminado em vogal – no caso “o” – e ter o segundo elemento iniciado pela mesma vogal, passou a ser grafado separadamente e com o uso de hífen. 0 V er a n ot aç õe s Composição Conceito e exemplos Consoante + consoante Usa-se hífen se o pre�xo termina por consoante igual à que introduz o segundo elemento: inter-regional, sub-bibliotecário. Com o pre�xo “sub”, usa-se o hífen diante de palavra iniciada por “r”: sub-região, sub-raça. Com os pre�xos “circum”, “mal” e “pan”, usa-se o hífen diante de palavra iniciada por “h”, “m”, “n” e “vogal”: circum-hospitalar, circum-navegação, pan- americano, mal-assombrado. Consoante + vogal Não se usa hífen quando o pre�xo termina por consoante e o segundo elemento começa por vogal: hiperativo, superinteressante. Segundo elemento iniciado por h Usa-se sempre hífen com pre�xos diante de palavra iniciada por h. Veja: anti-higiênico, mini-hotel, super- homem.Com os pre�xos ex, sem, além, aquém, recém, vice, pós, pré, pró (tônicos) Usa-se sempre hífen (independentemente de que letra inicie o segundo elemento): ex-namorado, sem-terra, além-mar, aquém-fronteiras, recém-chegado, vice- presidente, pós-operatório, pré-escola, pró-africano. As formas átonas aglutinam-se aos elementos seguintes: pospor, preexistência. A palavra não Desde 2009, não se usa mais hífen nas palavras formadas com “não” como pre�xo: não linear, não verbal. 0 V er a n ot aç õe s Composição Conceito e exemplos O pre�xo bem Usa-se hífen nos compostos em que o advérbio bem forma uma unidade de sentido com o segundo elemento: bem-estar, bem-humorado. Exceções: bendizer, benfazejo, benfeitor. Fonte: elaborado pelas autoras. REFLITA A principal justi�cativa para a implantação da Reforma Ortográ�ca ocorrida em 2009 foi “A uni�cação ortográ�ca dos países que têm o português como língua o�cial”. No entanto, na época, tal Acordo Ortográ�co gerou polêmica e debate quanto à sua relevância e aplicação. Dessa forma, deparamo-nos com posicionamentos a favor e contra tal Acordo, conforme se observa a seguir: E você? Qual é a sua opinião sobre o assunto? Re�ita sobre tais posições divergentes. Esperamos que tenham �cado claras para você tanto as orientações quanto ao uso do hífen quanto todas as outras explicações e conteúdos apresentados nesta seção. Desejamos que todo esse conhecimento possa ser útil em sua vida pessoal, acadêmica e em sua prática educativa. Siga �rme em seus estudos! REFERÊNCIAS Com o acordo, os países de língua portuguesa terão uma identidade mais forte e a língua portuguesa sai fortalecida. Haverá maior circulação de livros entre os países lusófonos. Com uma tiragem maior, a expectativa é que o livro saia mais barato, o que vai contribuir para a diminuição do analfabetismo […]. “Os custos para trocas de livros nas editoras podem ser contabilizados. Mas os custos sociais, não. Qual será o preço da adaptação de toda a sociedade brasileira?”, desa�a. “Nós vivemos em um país com quase 200 milhões de pessoas e todo mundo terá que se adaptar”. — (LEONI, 2008, [s.p.]) “ 0 V er a n ot aç õe s AGORA só falta você. Intérprete: Rita Lee. Compositores: Rita Lee, Luis Sérgio Carlini. In: FRUTO Proibido. Intérprete: Rita Lee & Tutti Frutti. São Paulo: Som Livre, 1975. ASSIS, M. Dom Casmurro. São Paulo: Editorial Sol90, 2004. BATE-PAPO virtual (Hangout) com Maria José Nóbrega. YouTube, [s.d.]. (1 hora, 1 min e 35 seg). Publicado pelo canal Plataforma do Letramento. Disponível em: https://bit.ly/3hraGDW. Acesso em: 3 jun. 2020. BRASIL. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Censo 2020 adiado para 2021. IBGE, 17 mar. 2020. Disponível em: https://bit.ly/3jA7Iz1. Acesso em: 8 maio 2020. BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: Ministério da Educação, 2017. CAFÉ DO SEU JEITO. Sobre a loja. Varginha, [s.d.]. Disponível em: https://bit.ly/2D4JsnB. Acesso em: 8 maio 2020. CAMINHONEIROS descriminados em utilização de banheiros por contaminação querem parar. Brasil do Trecho, 23 mar. 2020. Disponível em: https://bit.ly/3eVt7Pk. Acesso em: 7 maio 2020. CAPRISTANO, C. C.; NOTARI, V. F. O registro do hífen na aquisição da escrita. Calidoscópio, v. 15, n. 1, jan./abr. 2017. Disponível em: https://bit.ly/39lzLxj. Acesso em: 10 maio 2020. CEREJA, W. R.; MAGALHÃES, T. C. Gramática: texto, re�exão e uso. 5. ed. São Paulo: Atual, 2016. COMO os submarinos submergem e emergem? YouTube, [s.d.]. (4 min 32 seg). Publicado pelo canal Integrando Conhecimento. Disponível em: https://bit.ly/2BmIeng. Acesso em: 10 maio 2020. 0 V er a n ot aç õe s https://bit.ly/3hraGDW https://bit.ly/3jA7Iz1 https://bit.ly/2D4JsnB https://bit.ly/3eVt7Pk https://bit.ly/39lzLxj https://bit.ly/2BmIeng CONSUMO diário de pequena porção de queijo traz benefício para a saúde. G1, Jornal Hoje, 9 jan. 2012. Disponível em: https://glo.bo/2CzjBoe. Acesso em: 7 maio 2020. DIRETORIA GERAL DE RECURSOS HUMANOS UNICAMP – DGRH. Acordo Ortográ�co. Reforma Ortográ�ca 2009, [s.d.]. Disponível em: https://bit.ly/30DtOI9. Acesso em: 4 jun. 2020. DIRETORIA GERAL DE RECURSOS HUMANOS UNICAMP – DGRH. Hífen. Reforma Ortográ�ca 2009, [s.d.]. Disponível em: https://bit.ly/2WQHG0x. Acesso em: 10 maio 2020. LEONI, F. Acordo ortográ�co: os prós e os contras de uma uni�cação. Opinião & Notícia, 21 nov. 2008. Disponível em: https://bit.ly/3jwymso. Acesso em: 3 jun. 2020. MORAES, V. Amigos meus. [S.l, s.d.]. Disponível em: https://bit.ly/2BniPd9. Acesso em: 17 jun. 2020. NEVES, F. Palavras com hiato. Norma Culta, [s.d.]. Disponível em: https://bit.ly/39kI3pj. Acesso em: 4 jun. 2020. NICOLA, J. N. Gramática: palavra, frase, texto. São Paulo: Scipione, 2004. NOBRE, J. D. A gramática no cordel. Patos: Ed. do Autor, [s.d.]. NOVA ESCOLA. Novo acordo ortográ�co: acento diferencial. Nova Escola, 5 jan. 2008. Disponível em: https://bit.ly/3eT9IP6. Acesso em: 4 jun. 2020. PENSADOR. Charles Chaplin. Pensador, [s.d.]. Disponível em: https://bit.ly/2CxXvm5. Acesso em: 3 jun. 2020. PENSADOR. Vinícius de Moraes. Pensador, [s.d.]. Disponível em: https://bit.ly/2CFGE0x. Acesso em: 4 jun. 2020. POR QUE fake news viralizam mais do que notícias reais? Portal Multiplix, 16 out. 2018. Disponível em: https://bit.ly/3eUivQP. Acesso em: 12 abr. 2020. 0 V er a n ot aç õe s https://glo.bo/2CzjBoe https://bit.ly/30DtOI9 https://bit.ly/2WQHG0x https://bit.ly/3jwymso https://bit.ly/2BniPd9 https://bit.ly/39kI3pj https://bit.ly/3eT9IP6 https://bit.ly/2CxXvm5 https://bit.ly/2CFGE0x https://bit.ly/3eUivQP RFI. Paris agradece pro�ssionais e voluntários projetando retratos na Torre Ei�el. G1, Mundo, 8 maio 2020. Disponível em: https://glo.bo/32Or65q. Acesso em: 8 maio 2020. RUIZ, Eliana Maria Severino Danai. Como se corrige redação na escola. Campinas, SP: Mercado de Letras, 2001. SILVA, A.; MORAIS, A. G.; MELO, K. L. R. (Orgs.). Ortogra�a na sala de aula. 1. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2007. Disponível em: https://bit.ly/3fP1wAN. 0 V er a n ot aç õe s https://glo.bo/32Or65q https://bit.ly/3fP1wAN FOCO NO MERCADO DE TRABALHO ELEMENTOS NOTACIONAIS DA ESCRITA: ORTOGRAFIA E ACENTUAÇÃO Monique Bisconsim Ganasin Valéria Adriana Maceis SEM MEDO DE ERRAR ACENTO GRÁFICO Conheça algumas possibilidades de trabalhar acento grá�co de maneira lúdica. Fonte: Lorem ipsum Deseja ouvir este material? Áudio disponível no material digital. 0 V er a n ot aç õe s Nesta seção, nosso desa�o é encontrar uma solução para o seguinte desa�o: Como fazer para instigar nos alunos o desejo de ser pro�ciente em sua língua materna, tendo domínio das regras de acentuação, para um bom uso em situações comunicativas diversas? Para a resolução da situação-problema, você, como educador dessa turma, pode propor a realização de jogos – atividades lúdicas que motivem os alunos a participar e que, se possível, propiciem que o aprendizado ocorra de modo natural e divertido. Com planejamento, organização e objetivos bem delineados, essas atividades podem ser realizadas com determinada frequência, a �m de que, a médio ou a longo prazo, já rendam resultados positivos no que tange à superação de de�ciências na escrita. Sugestão: primeiramente, faça um levantamento das palavras que mais comumente têm sido grafadas sem acento (você pode aproveitar essa atividade para trabalhar outras questões ortográ�cas também). Identi�cadas tais palavras, você pode escrevê-las da forma correta e da forma incorreta em papéis que, a seguir, podem ser distribuídos pela sala e por toda a escola, para a realização de uma espécie de “caça ao tesouro”. Os alunos terão um tempo determinado para essa busca e, ao �m desse tempo, concluída a busca, todos voltam à sala e podem entregar a você, um de cada vez, os “tesouros” encontrados, isto é, as palavras corretas. Nesse momento, você pode propor a leitura em voz alta de cada termo, com a participação da salatoda. Com isso, motiva-se a identi�cação da sílaba tônica. Logo após, tais termos podem ser inseridos por você no quadro e copiados por eles no caderno. É válido ressaltar que o estudo da acentuação em Língua Portuguesa corresponde ao campo das regularidades, ou seja, há uma regra que precisa ser compreendida pelo aluno (no caso das irregularidades não há uma regra e, portanto, exige memorização). 0 V er a n ot aç õe s Dessa forma, no caso do uso dos acentos, procure ajudá-los a identi�car a sílaba tônica “chamando” a palavra, por exemplo, “professoooora”. Quando chamamos, a sílaba tônica se prolonga, o que facilita sua identi�cação. Ademais, procure destacar as terminações de cada termo, já que os sinais grá�cos são inseridos, como se viu, a depender da posição da sílaba tônica e da terminação de cada vocábulo. Em oportunidade de uso, �que à vontade para adaptá-la a seu modo e tenha muito sucesso em sua prática educativa! AVANÇANDO NA PRÁTICA VENCENDO DEFICIÊNCIAS NA ESCRITA Vamos a mais uma possível situação-problema, a �m de contextualizar sua aprendizagem. Sendo assim, desta vez imagine que você leciona para uma turma de adolescentes do 8º ano do ensino fundamental II. Você está preocupado com a quantidade de problemas ortográ�cos de toda ordem que eles têm apresentado em atividades e produções. Alunos que, por exemplo, iniciam respostas de questões com “porquê”; que não acentuam palavras; que trocam comprimento por cumprimento; acento por assento; absolver por absorver; e ainda não sabem, com clareza, quando devem ou não empregar o hífen. Você já fez reuniões com pais, alunos e coordenação; já descontou nota em prova devido a esses deslizes gramaticais; já solicitou monitorias para quem apresenta casos mais críticos; já fez correções resolutivas, indicativas e classi�catórias. Mesmo assim os problemas persistem. Você não se sente confortável em deixar seus alunos seguirem para o 9º ano apresentando essas di�culdades de escrita. Que ações precisam ser tomadas para auxiliar esses alunos a vencer tais de�ciências na escrita? Com base em tudo que já leu até aqui, re�ita sobre esta questão. RESOLUÇÃO 0 V er a n ot aç õe s Primeiramente, é importante ter consciência de que todo conhecimento ortográ�co tem como base uma convenção social, isto é, algo que a criança e o adolescente não aprendem sozinhos – a internalização de tais regras ortográ�cas se dá em processo conjunto, que é longo e progressivo. Dessa forma, é importante que, apesar de todas as outras atribuições que o professor já tem em seu dia a dia, o trabalho com a ortogra�a não seja esquecido; ele deve fazer parte de um projeto gradual e contínuo. Em todo caso, seguem duas sugestões para auxiliá-lo nesse desa�o. Uma primeira iniciativa que tende a gerar resultados positivos seria a abordagem de uma correção textual-interativa (e não apenas resolutiva, indicativa ou classi�catória). Neste tipo de correção o professor tece comentários, deixa recados ou, nas palavras Ruiz (2001), deixa “bilhetes” para seu aluno em uma linguagem não codi�cada. Desta maneira, os dois sujeitos envolvidos na correção de atividades, avaliações e a�ns conseguem, juntos, discutir os possíveis acertos e problemas do texto (do texto como um todo, mas, é claro, focando na questão da escrita nesse caso). Com isso, juntos podem encontrar soluções ou sugestões para que se realize uma reescrita de qualidade. Além disso, outra estratégia seria a organização de um concurso. Sim! Um concurso ortográ�co! Acreditamos que os alunos demonstrariam interesse em participar. Esse concurso pode ser organizado em três etapas. Primeiramente, é relevante se fazer uma avaliação diagnóstica – por meio perguntas ou produções textuais – com os alunos, para observar quais são as questões mais críticas e que merecem mais atenção dentro do sistema ortográ�co. Logo após, considerando os resultados percebidos na avaliação inicial, pode-se realizar atividades que ajudem os alunos a terem mais domínio das normas gramaticais. Por exemplo: realização de quiz, jogos, exercícios de repetição e memorização. Essas duas etapas seriam uma espécie de preparação para a prova �nal do concurso. Caso perceba avanços 0 V er a n ot aç õe s por parte deles, motive-os a valorizar isso! Por �m, a etapa de realização do concurso em si. Aqui, pode-se fazer uma retomada das etapas anteriores, a �m de que os discentes re�itam sobre o percurso desse projeto e sobre a importância de se conhecer bem as regras ortográ�cas de sua língua materna. Depois, você pode propor a atividade decisiva: a produção de um texto, cujo gênero já seja de conhecimento deles: uma crônica, um artigo de opinião, um texto narrativo. Ganhará o concurso aquele que tiver o texto mais bem escrito, isto é, o texto de quem se mostrar mais pro�ciente quanto à norma ortográ�ca em uso. Nesse projeto, o aluno terá a oportunidade de se desa�ar, de ampliar seus conhecimentos linguísticos e de re�etir sobre sua própria escrita. 0 V er a n ot aç õe s NÃO PODE FALTAR VARIAÇÃO LINGUÍSTICA E A HETEROGENEIDADE DA LÍNGUA Monique Bisconsim Ganasin Valéria Adriana Maceis PRATICAR PARA APRENDER Vivemos em uma sociedade plural, rica em diversidade. Em nossas atividades cotidianas, indivíduos de distintos gêneros, orientações, crenças, raças e posicionamentos buscam o pleno convívio social. Com a linguagem – nosso meio HETEROGENEIDADE DA LÍNGUA "A heterogeneidade da língua é espelho da heterogeneidade da sociedade.” (Carlos Alberto Faraco) Fonte: Freepik. Deseja ouvir este material? Áudio disponível no material digital. 0 V er a n ot aç õe s de comunicação – não poderia ser diferente, uma vez que não é possível separar língua e sociedade; nosso idioma não é homogêneo, pois varia a depender de regiões, fatores socioeconômicos, faixa etária, gênero, estilos etc., sobretudo em se tratando de um país tão grande e multiétnico como o nosso. É preciso, portanto, compreensão e, acima de tudo, respeito a essas variedades linguísticas. Sabemos que o conhecimento consistente das variedades ainda é pouco difundido entre os professores em geral, inclusive entre professores de Língua Portuguesa e entre os estudantes de Letras. Portanto, nesta seção, estimado aluno e futuro professor, convidamos você a conhecer um pouco mais a respeito dessas variedades que permeiam nossa linguagem. Você já deve ter parado para re�etir acerca de nosso léxico, tão vasto e diverso. Por exemplo, se você mora em São Paulo, talvez tenha estranhado ouvir algum conhecido seu da região Sul lhe oferecer uma bergamota, em vez de uma mexerica; ou então, se você mora em determinada região do Nordeste, talvez não tenha entendido quando um colega do Paraná pediu pão francês, em vez de carioquinha na padaria. Essas e muitas outras diferenças de vocabulário são bastante frequentes no Português Brasileiro. A passagem do tempo, a qual permite tantas mudanças e transformações em nossa forma de viver, pensar e se relacionar, também se faz sentir na linguagem. Por exemplo, você conhece o termo “Vossa merecendência”? Sabe o que ele signi�ca? Você o usa muito na comunicação, mas com uma escrita diferente. Ao longo do tempo, “Vossa merecendência” modi�cou-se, ganhou outras gra�as e hoje corresponde ao pronome “você”, o qual, na língua falada comumente tem sido pronunciado como “cê”. Sendo assim, trataremos aqui não só sobre essas e outras variações, mas também sobre níveis de manifestação e sobre aspectos que as ocasionam. Ademais, propomos ainda re�exões acerca de como podemos acolher e entender – sem discriminação – todas as variedades constitutivas de uma língua. 0 V er a n ot aç õe s Infelizmente, com considerável frequência, o professor em sala de aula precisa lidar com situações de intolerância, bullying, preconceito, discriminações. E, entre esses tipos de exclusões, pode se deparar com casos de preconceito linguístico. Por essa razão, apresentamos umasituação-problema a seguir para que você possa re�etir e, desde já, pensar em estratégias e�cientes para lidar com esse tipo de situação na prática pro�ssional. Imagine que você é professor do 7º ano do ensino fundamental em uma rede particular de ensino. Em sua turma só há alunos de mesmo nível socioeconômico, residentes na região em que a escola está localizada (nascidos ali). Então, no meio do semestre, chega à sua turma um aluno bolsista, pertencente a uma classe social de menor prestígio. Você percebe que esse aluno não foi bem acolhido pela turma, a qual o vê como diferente, talvez “inferior”, e o exclui, fazendo deboche sobre seu jeito de falar. O que fazer? Como agir para ajudar os alunos a desenvolver empatia e respeito pelo outro e, nesse caso, ajudá- los a entender que cada variedade linguística é um patrimônio da sociedade e da cultura e deve ser respeitada? Vamos pensar juntos! O trabalho com as variações linguísticas, sem dúvida, é desa�ador. Portanto, vá “em frente e enfrente” as adversidades que possam surgir pelo caminho! Re�ita, estude, pesquise, desa�e-se e não desista jamais! CONCEITO-CHAVE FATORES RESPONSÁVEIS PELAS VARIAÇÕES LINGUÍSTICAS Para começar nosso estudo, é importante destacar: a língua não é algo pronto, homogêneo, acabado, e seus usuários não a utilizam de modo igual – eis aí a exuberância da diversidade linguística: as variações – intrínsecas a qualquer idioma. E é justamente essa a concepção a ser estabelecida acerca das variedades existentes em nossa língua, isto é, a concepção de que essa pluralidade e riqueza 0 V er a n ot aç õe s Imprimir de formas, dialetos, estilos, sotaques é sinônimo de riqueza e beleza de uma língua; não pode, pois, ser vista como um problema, como uma deturpação do idioma, conforme muitos miticamente a enxergam. FATORES EXTRALINGUÍSTICOS (SOCIAIS) Nosso país não é monolíngue – em diferentes cidades, em diferentes regiões, as pessoas falam de modo diferente. No quadro, a seguir, vamos compreender melhor esse fator geográ�co e descobrir outros importantes fatores extralinguísticos que motivam as variações linguísticas. Quadro 1.8 | Fatores extralinguísticos (sociais) que explicam a variação da língua Regionalismo Facilmente identi�camos a fala de um morador da região Nordeste ou do Sul, por exemplo. Isso ocorre porque cada dimensão geográ�ca apresenta suas próprias especi�cidades – seja na pronúncia, seja no vocabulário (ou em ambas) – em função de fatos e elementos históricos, culturais, sociais particulares de cada região. Mercado de trabalho O lugar onde trabalhamos e a nossa posição hierárquica também podem in�uenciar nosso modo de falar. Algumas pro�ssões, inclusive, como a de advogado, fazem uso de um vocabulário bem especí�co. Nível de renda Os indicadores econômicos relativos a cada falante – no que concerne a rendas e remunerações – conferem pertencimento a esta ou aquela camada social, de maior ou menor prestígio; e cada camada social, por sua vez, tem formas variadas de usar a língua. 0 V er a n ot aç õe s Grau de escolaridade Indivíduos que frequentam ou frequentaram a escola por muito tempo tendem a internalizar mais a variedade privilegiada pelo ensino escolar, ou seja, a linguagem de maior prestígio social, presente em textos literários clássicos, didáticos etc. Idade Crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos manifestam também diferenças no modo de falar, seja nas escolhas vocabulares, seja na pronúncia, na forma de organizar as frases etc. Gênero A forma como homens e mulheres se comunicam também pode ser diferente. Como existe na sociedade tradicional certa concepção de comportamentos, estereótipos desse ou daquele gênero, isso também se re�ete no uso da língua. Contexto social e papéis sociais Situações comunicativas distintas demandam diferentes formas de expressão, podendo ser ora mais, ora menos formais. Isso signi�ca que os falantes adéquam sua linguagem aos ambientes que exigem maior ou menor grau de formalidade. Dessa forma, por exemplo, um médico, no exercício de sua pro�ssão, monitora sua linguagem; faz uso de estruturas mais formais, especializadas; já em casa, entre falantes com quem tem maior intimidade, pode fazer uso de uma linguagem mais informal. 0 V er a n ot aç õe s Modalidades: escrita e falada Quando escreve, a pessoa tem mais tempo para planejar, elaborar, monitorar e revisar a linguagem empregada no texto; ao falar, o usuário da língua atua com improvisos e maior espontaneidade, logo, com menor atenção quanto às regras da norma-padrão. Redes sociais (não necessariamente as digitais) Nesse caso, leia-se a rede de relacionamentos: amigos, família, colegas de trabalho e demais pessoas com quem o indivíduo se relaciona. Tudo isso também in�uencia o modo de falar. Fonte: elaborado pelas autoras. Como se pode observar, alguns fatores, como mercado de trabalho, nível de renda, grau de escolaridade, muitas vezes se correlacionam, pois se voltam, não raramente, à condição socioeconômica do falante. E, conforme será abordado mais adiante nesta seção, a linguagem empregada por indivíduos destituídos de prestígio social com frequência costuma ser motivo de preconceito linguístico, posto que, muitas vezes, diferencia-se em maior ou menor escala daquela empregada por falantes mais privilegiados econômica e intelectualmente. INTERESSANTE SABER! Você imagina qual(is) seja(m) o(s) fator(es), entre os listados, mais determinante(s) para haver diversidade linguística em nosso país? Segundo inúmeras pesquisas realizadas, são dois: o nível de renda aliado ao de escolarização formal (grau de escolaridade) – esses são os que mais in�uenciam, de acordo com pesquisadores, para haver maneiras diferentes de se usar uma língua. FATORES LINGUÍSTICOS Além dos fatores extralinguísticos concernentes à variação, existem ainda os fatores linguísticos, ou seja, aqueles mais voltados a estruturas da língua em si. 0 V er a n ot aç õe s Imagine como se pronunciam essas duas expressões: “as duas alunas” e “as três alunas”. Você notou que o som de “as”, em uma e em outra, é distinto? Em “as duas”, pronunciamos com som de /z/ e, em “as três”, o som é de /s/. Isso ocorre porque, no primeiro caso, o “s” foi empregado antes de “d”, uma consoante considerada sonora (som pronunciado com as cordas vocais) e toda letra pronunciada antes desse tipo de consoante se sonoriza. Já no segundo caso, há o encontro de dois sons considerados surdos “s” e “t”. Com isso, não há sonorização. Esse, por exemplo, é um fator considerado puramente linguístico de variação. DICA! Para entender melhor os fatores linguísticos de variação, é importante conhecer um pouco mais dos aspectos fonéticos e fonológicos que fazem parte do inventário do Português Brasileiro. Para tanto, acesse os itens disponíveis nas indicações que seguem. Boa leitura! Para uma noção introdutória, sugerimos: INTRODUÇÃO à Fonologia | Aula 1. YouTube, 16 out. 2015. (23 min 42 seg). Publicado pelo canal Português com Charme [Prof. Thiago Charme]. CONSOANTES | Aula 4. YouTube, 22 dez. 2015. (14 min 35 seg). Publicado pelo canal Português com Charme [Prof. Thiago Charme]. E o texto, que trata da linguagem de sinais, mas também dá claras explicações acerca de variação, fonética e fonologia: KARNOPP, L. Fonética e Fonologia. Apostila do Curso de Libras, Bacharelado e Licenciatura da Universidade Federal de Santa Catarina. Educação a Distância. [S.l., s.d.]. Para aqueles que se interessam pelo tema em alfabetização, este breve texto também pode ser enriquecedor. 0 V er a n ot aç õe s • BISOL, L. Fonética e fonologia na alfabetização. Letras de Hoje, v. 9, n. 2, p. 32-39, 1974. Além de fatores, a diversidade da língua enuncia-se também em diferentes níveis. NÍVEIS DE VARIAÇÃO NO PORTUGUÊS FALADO Fonte: Freepik. Tendo já compreendido o caráter instável, mutante e heterogêneo das línguas e conhecido os fatores responsáveispelas variações, é mais fácil entender os níveis em que tal diversidade manifesta-se. Além disso, de posse desse saber, no futuro você poderá usufruir, com êxito, de tal conhecimento em sua atuação pro�ssional, ajudando a consolidar um modelo de educação linguística mais democrático, contemporâneo e que se oriente pelas transformações da sociedade. REFLITA 0 V er a n ot aç õe s Leia com atenção uma declaração do professor Carlos Alberto Faraco, ao encerrar uma videoconferência, tratando de variação linguística: O que você acha? É um sonho para o educador conseguir, em sala de aula, fazer seus alunos conhecerem, entenderem e respeitarem a diversidade linguística de nosso país? Pense sobre isso! A seguir, vamos resumir e exempli�car os níveis de variação: léxico, fonológico, morfológico, sintático e discursivo. A tradição normativa e escolar opera com rigidez e se sustenta numa cultura do erro. O horizonte que estamos a desbravar é o da �exibilidade e da cultura da adequação. É uma utopia. É um sonho. Talvez uma quimera… Não sei. O importante é continuarmos sonhando e trabalhando para desatar esses nós. (CARLOS, [s.d.]) “ 0 V er a n ot aç õe s Quadro 1.9 | Níveis de variação Nível léxico Em geral, as variantes lexicais estão diretamente relacionadas ao fator regionalismo, ou seja, a região geográ�ca em que o falante vive exerce forte in�uência sob seu modo de se expressar. Por exemplo, o termo “mandioca” em algumas regiões é conhecido por “aipim” ou “macaxeira”. Isso também ocorre com “apressado/avexado”; “menino/piá/guri” etc. Essa variação também pode ocorrer entre falantes de uma mesma região. Por exemplo, em um mesmo território geográ�co, alguns falantes podem usar o termo “patente” e outros “privada” para o nome “vaso sanitário”. Nível fonológico A fonologia estuda os sons da linguagem humana, logo as variações de nível fonológico são aquelas que se expressam nos sons da fala, por exemplo: a troca de “lh” por “i”, como em (telha); transformação de proparoxítonas em paroxítonas: como em “arve” (árvore); redução do ditongo, como em “baxo” (baixo); troca de “o” por “u” e “e” por “i”: “brutu” (bruto); “denti” (dente); acréscimo de vogal, como em “peneu” (pneu); troca da consoante “l” por “r”: “prantar” (plantar). Nível morfológico Este nível, referente à morfologia, ou seja, ao estudo da estrutura interna das palavras, suas formações e classes, diz respeito a mudanças nas formas dos termos. Exemplos: redução de “ndo” para “no”: “mandano” (mandando), “dançano” (dançando); perdas de desinências verbais: “comê” (comer). 0 V er a n ot aç õe s Nível sintático Tal nível relaciona-se à sintaxe, isto é, à parte da gramática que estuda a função dos termos da oração, como concordam, como são regidos etc. Sendo assim, alterações nesse nível correspondem a mudanças na organização dos termos na sentença. Por exemplo, o não uso de preposições “As informações que preciso” (As informações de que preciso); ausência de concordância, como na gíria: “As mina” (As minas). Nível discursivo O discurso aqui deve ser entendido como um contexto de comunicação – oral ou escrita – entre dois interlocutores. Variações que se dão no nível discursivo referem-se ao uso de conectivos, termos que conectam porções textuais, tais como: “daí”, “aí”, “então” e expressões como “ô meu”, “bah!”, “né”, “pô” etc. Fonte: elaborado pelas autoras. Vamos agora conhecer os tipos de variação, os quais apresentam características especí�cas de alguns desses níveis listados. TIPOS DE VARIAÇÃO LINGUÍSTICA Para abrir nosso estudo sobre esse assunto, leia um trecho da crônica “Antigamente”, de Carlos Drummond de Andrade: Você utiliza expressões como “janotas” (alguém elegante)? Ou fazer “pé-de- alferes” (ato de namorar, cortejar)? Nesse texto, o autor propositalmente empregou termos e expressões que sofreram mudanças e/ou caíram em desuso ANTIGAMENTE, as moças chamavam-se mademoiselles e eram todas mimosas e muito prendadas. Não faziam anos: completavam primaveras, em geral dezoito. Os janotas, mesmo não sendo rapagões, faziam-lhes pé-de-alferes, arrastando a asa, mas �cavam longos meses debaixo do balaio. E se levavam tábua, o remédio era tirar o cavalo da chuva e ir pregar em outra freguesia. As pessoas, quando corriam, antigamente, era para tirar o pai da forca e não caíam de cavalo magro. Algumas jogavam verde para colher maduro, e sabiam com quantos paus se faz uma canoa. O que não impedia que, nesse entrementes, esse ou aquele embarcasse em canoa furada. […] MAS TUDO ISSO era antigamente, isto é, outrora. (DRUMMOND, [s.d.]) “ 0 V er a n ot aç õe s com o passar dos tempos. As variantes da língua que passaram por esse processo enquadram-se no tipo de variação denominado variação histórica. VARIAÇÃO HISTÓRICA OU VARIAÇÃO DIACRÔNICA Passam por esse tipo de variação termos que caíram em desuso, como os extraídos do texto de Drummond e aqueles que sofreram mudança em sua gra�a ou em seu conteúdo. Vejamos uma pequena amostra dessas ocorrências: Quadro 1.10 | Exemplos de variação histórica Embora Hoje já não tem o sentido de "em boa hora", mas foi dessa expressão que tal termo surgiu, mediante o processo de aglutinação; corresponde, atualmente, a um advérbio com sentido de ir-se a algum lugar. Também funciona hoje como conjunção concessiva, equivalente a “apesar de”. Farmácia Anteriormente, tal substantivo tinha a seguinte gra�a: “pharmacia”. Com o Acordo Ortográ�co de 1911, ela passou pela troca do “ph” por “f” e ganhou o acento. Por O verbo “por”, antigamente, era escrito como “poer” (poner < ponere) – fato que justi�ca seu pertencimento à segunda conjugação “er”. Alguns estudiosos, como Roberto G. Camacho, denominam essas formas antigas como “arcaísmos”. Crônica Acredita-se que o termo “crônica” se origina de “khrónos”, que, em grego, signi�ca tempo. Seu sentido também mudou: antigamente, tal vocábulo era usado para se referir a registros de acontecimentos históricos, verídicos, em uma sequência cronológica; hoje corresponde, em geral, a um texto que trata de temas cotidianos e pode conter humor, re�exão, argumentação etc. 0 V er a n ot aç õe s Sabor A palavra “sabor”, hoje com ideia de “paladar”, “gosto”, também já signi�cou “prazer”, como nessa passagem do português medieval: “Tan gran sabor houv’eu de lhe dizer […]” (CAMACHO, 1988). Formidável Este adjetivo também sofreu variação em seu sentido com o tempo. Hoje, diz respeito àquilo que suscita admiração, belo, bom; anteriormente, signi�cava praticamente o oposto: “terrível”, algo que inspirava medo. Fonte: elaborado pelas autoras. Camacho (1988, p. 30) a�rma que tal variação histórica também pode ser chamada de variação diacrônica e destaca: Portanto, vê-se que leva um tempo e há todo um processo para que uma mudança se �rme em nosso idioma. Mas, ainda assim, como a língua é dinâmica e mutável, são muitos os exemplos desse tipo de variação. Vamos agora tratar um pouco mais das variações regionais ou geográ�cas. VARIAÇÃO REGIONAL OU GEOGRÁFICA Conforme já explicitado anteriormente, ao se tratar do fator regionalismo e do nível lexical em uma localidade como o Brasil, por exemplo – uma nação de grande extensão –, é natural haver, mesmo em falantes de uma mesma língua, variações de pronúncia, sons, construções e uso do vocabulário. Dessa forma, podemos citar alguns termos e usos que comprovam essa diversidade linguística por região espacial. Por exemplo: a pronúncia com abertura sistemática da vogal pretônica – toda a região nordestina apresenta tal pronúncia, em geral mais É preciso lembrar que o processo de mudança linguística não é tão simples como pode parecer. Em sua origem, uma variante em processo de adoção pela norma da comunidade é apenas uma das inumeráveis variantes con�nadas ao uso de um grupo restrito de falantes. Ao se propagar, é adotada por um grupo socioeconomicamente expressivo, que reconhece nela um fator de prestígioem contraste com a forma em desuso. Finalmente, elege-se como variante normal na fala da comunidade, com a eliminação completa da forma em substituição, que acaba por �xar-se em virtude da modalidade escrita. “ 0 V er a n ot aç õe s fechada em outras regiões, como em “mEnino”; “fOgão”. Há também o caso da realização de “e” e “o” átonos �nais – em determinadas áreas da região Sul do país – pronunciados com grau médio de abertura. Por exemplo: “leitE”. Já em outras regiões, tal abertura ocorre em forma reduzida, como em São Paulo (“leiti”). Há também os casos da não palatalização das sílabas “ti” e “di”, comuns no interior de São Paulo, ou ainda o chamado “r” retro�exo (ou o “r – caipira”), que também é frequentemente ouvido no interior de São Paulo ou interior do Paraná, por exemplo. Além desses casos de pronúncias distintas, há também, como já exposto, as diferenças de vocabulário, isto é, um mesmo elemento recebe denominações diferentes a depender da região. Como mais dois exemplos desses casos de variante lexical, observe as imagens a seguir: (A) Fonte: Shutterstock. 0 V er a n ot aç õe s Como você se refere a esse instrumento regulador do trânsito? “Semáforo”, “farol”, “sinaleira”, “sinal”? Em todo o Brasil, em regiões diversas, há essas formas distintas para referenciar tal instrumento. E que nome você usa para se referir ao objeto (B)? Dependendo da região em que mora, pode ser “pipa”, “papagaio”, “pandorga”, entre outros. E viva a riqueza e diversidade de nossa língua! DICA! Há muitos outros termos que variam de nome, dependendo da região do Brasil. Há também muitas outras curiosidades e saberes relevantes para se estudar sobre o assunto. Sendo assim, seguem mais algumas sugestões de leitura. PARÁBOLA EDITORIAL. Variação Linguística – o que é, exemplos, dicas de leitura. Blog da Parábola Editorial, 1 jan. 2019. PIRES DE OLIVEIRA, A. M. P. Brasileirismos e regionalismos. Alfa Revista de Linguística, v. 42, 1988. (B) Fonte: Shutterstock. 0 V er a n ot aç õe s SOUSA, J. L.; LIMA, L. N. M. Regionalismo e variação linguística: uma re�exão sobre a linguagem caipira nos causos de Geraldinho. Revista do Instituto de Estudos Brasileiros, São Paulo, n. 72, jan./abr. 2019. Conforme já a�rmado aqui, diferentes faixas etárias, os gêneros, as variadas regiões geográ�cas, as hierarquias socioeconômicas e seus efeitos sobre o acesso à educação e aos bens culturais, além das atividades em que o falante está envolvido a cada momento, condicionam as variações em nossa língua. 0 V er a n ot aç õe s VARIAÇÃO SOCIAL Em se tratando de variação social, retomaremos vários fatores extralinguísticos já apresentados e vamos enfatizar que é preciso �xar esta proposição: a língua varia conforme as características sociais de uma comunidade de fala. Em outras palavras, a sociedade é formada por grupos sociais distintos: jovens, idosos, mulheres, homens, comunidade LGBTQIA+, etnias, classes sociais etc. Todos esses fatores condicionam o que se denomina variação social. Segundo Camacho (1988), a variação social é o resultado da tendência para maior semelhança entre atos verbais dos membros de um mesmo setor sociocultural da comunidade. Por exemplo, os jovens – que, como é próprio da idade, buscam formas de se diferenciar dos mais velhos, “os ultrapassados” – comumente usam gírias e determinados termos que falantes de mais idade não usam ou mesmo desconhecem. Assim, construções como “Que massa, mano!”; “Se pá, topa um rolê hoje, gata?”, “As mina” etc. estão presentes no repertório de usos de falantes, em geral, mais jovens. EXEMPLIFICANDO Como educadores, é importante conhecer o contexto social de nossos alunos, para que, sempre que possível, consigamos trazer para a sala de aula a realidade deles. Dessa forma, todo o conteúdo desenvolvido torna- se mais signi�cativo aos educandos. Pensando nisso, no que tange ao trabalho com jovens, é valido conhecer as gírias e demais expressões próprias de sua linguagem. Quem sabe até alguma atividade relacionada a isso possa ser desenvolvida no âmbito pedagógico. E, no que diz respeito a esse tema, é interessante observar como as gírias se atrelam também às variações históricas, além das sociais, uma vez que há aquelas expressões populares que “estão na moda”, isto é, são muito usadas por um tempo, mas que no entanto podem cair em desuso depois de determinado período. Atualmente, por exemplo, vê-se muito, sobretudo em mídias 0 V er a n ot aç õe s sociais, construções como “Nossa! Hoje tô um nojo de linda!” (uma versão mais moderna para: “Olha como estou maravilhosa hoje!); “Você é meu crush” (“crush” substituiu o antigo “paquera” – alguém por quem se está atraído); “Vamos shippar esses dois!” (Vamos torná-los um casal), entre outras. Qual será o “prazo de validade” de uso dessas e outras expressões atuais? Só o tempo poderá responder a essa pergunta. Mas o que é certo é que a língua está sempre em movimento, sempre em transformação, e nós, falantes, estamos sempre contribuindo com a condução/reconstrução da língua. Em se tratando de gênero, é veri�cável que o emprego de formas afetivas como “gracinha”, por exemplo, é mais comum em falantes do sexo feminino. Além disso, há também questões de entonação. Por exemplo, mais mulheres do que homens têm a tendência de prolongar a duração das sílabas tônicas em adjetivos como “maravilhoso”, cuja pronúncia �caria: “maravilhooooso”. A comunidade LGBTQIA+ faz uso de termos como: “bofe” (homem bonito), “mona” (mulher ou homossexual masculino afeminado), entre outros bem mais especí�cos do meio. Algumas mudanças em nível fonológico podem ser observadas em todas as classes sociais – mais ou menos privilegiadas. Todavia, Camacho (1988) destaca que algumas delas são mais perceptíveis em indivíduos pertencentes a baixos extratos socioeconômicos. O autor se refere a mudanças do tipo: Redução de ditongo em palavras como “homem” – em vez de se pronunciar “em”, pronuncia-se: “ein”; Ausência da marca de plural em verbos como “vamos”, em que se pronuncia “vamo”, ou em substantivos como “os meninos”, em que se pronuncia “os mininu” (nesse caso, além de ausência de “s”, há a troca comum de “e” por “i” e de “o” por “u”). 0 V er a n ot aç õe s Algo que precisa �car claro é que fatores extralinguísticos – já apresentados anteriormente e que atuam na formação dos grupos sociais, isto é, formam essa variação social – muitas vezes não se constituem como os únicos itens determinantes para a formação de setores distintos de atividade verbal. Não raramente, tais fatores atuam conjugados entre si. Por exemplo, o nível socioeconômico de um indivíduo aliado a seu grau de instrução, ao acesso à cultura e à sua regionalidade pode caracterizar seu modo de falar. VARIAÇÃO ESTILÍSTICA Por �m, trataremos da variação estilística. Sabe a que ela se refere? Para entendê-la, retomaremos ao demonstrado sobre o fator “contexto social/papéis sociais”. A adequação da linguagem ao contexto de fala ou de escrita é indispensável – é a isso, em suma, que se refere a variação estilística. Para nos comunicarmos, dispomos do estilo informal (mais imediato, cotidiano) e do formal (mais elaborado, com maior prestígio). Portanto, assim como para ir, por exemplo, a um casamento, usamos um traje de festa – e não um pijama; e, para ir à praia, usamos roupas de banho – e não terno e gravata, também adequamos nossa fala e escrita para cada contexto comunicativo. 0 V er a n ot aç õe s Dessa maneira, usamos formas mais monitoradas ou menos monitoradas a depender da situação. É aí que entram os papéis sociais. Por exemplo, um diplomata, em seu trabalho, participando de uma conferência ou reunião, provavelmente tentará usar uma modalidade mais monitorada e formal de linguagem, sem o uso de gírias ou reduções do tipo “tô”, “cê”, “nóis vamo” e outras. Quando está em casa, com sua família, afrouxa o monitoramento e emprega uma variante