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Imprimir INTRODUÇÃO Olá, estudante! Iniciamos esta aula com um convite para você pensar sobre a nossa Constituição e o projeto de Brasil que foi constituído a partir dela. Por meio da Constituição Federal de 1988, o Brasil consolida um novo pacto político para o país, através do qual o Estado se compromete a garantir a dignidade da pessoa humana, a democracia e um conjunto de direitos sociais que garantiriam cidadania a toda a população. Por outro lado, desde os anos 90, os diversos governos que ocupam o Poder Executivo Federal estão cada vez mais compromissados com o neoliberalismo, que tem como pano de fundo o desmonte das políticas sociais. Isso tudo mostra que vivemos uma grande contradição no Brasil. Bons estudos! Aula 1 A CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 Iniciamos esta aula com um convite para você pensar sobre a nossa Constituição e o projeto de Brasil que foi constituído a partir dela. A CONSTITUIÇÃO FEDERAL NA CONTRAMÃO DO PROJETO NEOLIBERAL Aula 1 - A Constituição Federal de 1988 Aula 2 - A implantação do projeto neoliberal no Brasil part I Aula 3 - A implantação do projeto neoliberal no Brasil part II Aula 4 - Políticas sociais na década de 1990 Aula 5 - Revisão da unidade Referências O CONSTITUCIONALISMO SOCIAL DA DÉCADA DE 80 A Constituição Federal de 1988 (CF/88) é fruto da ação de amplos movimentos sociais que demandavam melhorias nas condições de vida da população brasileira. Por isso, a CF/88 resultou em um constitucionalismo social sem precedentes na história brasileira. Por constitucionalismo social, entende-se um movimento universal que consiste na incorporação dos direitos sociais nas constituições dos Estados. Isso pode ser observado no artigo 6º da CF/88, que estabelece inúmeras obrigações para o Estado no sentido de garantia de um mínimo existencial, baseado em direitos sociais como educação, saúde, moradia, segurança alimentar e nutricional, previdência social e outros. Contudo, o grande desa�o está na concretização dessa esfera de direito. Os direitos sociais demandam prestações positivas do Estado. Isso implica que os governos precisam alocar recursos para concretização desses direitos, que podem ser efetivados por meio de programas sociais ou serviços públicos. Além das receitas, os governos precisam ter condições técnicas e humanas para garantir que os equipamentos públicos funcionem e concretizem os direitos sociais. Bobbio (2004), ao analisar o século XX como a era dos direitos, mostra que os direitos sociais são difíceis de serem garantidos, justamente porque demandam a inclusão orçamentária de seus custos. Para o autor, é mais simples efetivar direitos civis e políticos, que dependem de ações negativas do Estado, do que direitos sociais, que envolvem muitos gastos públicos. Sobre isso, explica o autor: No Brasil, há diversos dilemas para a proteção efetiva de direitos sociais. Temos um ordenamento jurídico amplamente compromissado com esses direitos, mas temos poucos mecanismos para obrigar o Estado a criar programas sociais e serviços públicos. Isso ocorre porque nem todos os direitos sociais são exigíveis. Direitos exigíveis são aqueles que podem ser demandados junto ao Poder Judiciário, como os direitos patrimoniais. Contudo, não há como uma família sem renda ajuizar uma ação pedindo a garantia de trabalho ao Estado, ainda que o trabalho seja um direito. Você consegue perceber a contradição dessa ordem jurídica? O direito está garantido na Constituição, mas como podemos obrigar o Estado a garanti-lo? Neves (1994) a�rma que existe, no Brasil, um fenômeno chamado de constitucionalização simbólica, na qual um conjunto de direitos são determinados pela Constituição como forma de calar os movimentos sociais e sindicais, mas sem que sejam de�nidas as condições que obriguem a sua efetivação pelos governos. Enquanto os direitos de liberdade nascem contra o super poder do Estado — e, portanto, com o objetivo de limitar o poder —, os direitos sociais exigem, para sua realização prática, ou seja, para a passagem da declaração puramente verbal à sua proteção efetiva, precisamente o contrário, isto é, a ampliação dos poderes do Estado. — (BOBBIO, 2004, p. 35) Esse constitucionalismo simbólico tem amplos efeitos nas políticas sociais, porque direitos são negados à população em vulnerabilidade e não existem mecanismos legais para exigi-los. No próximo bloco, veremos os inúmeros prejuízos para as políticas sociais diante da falta de direitos sociais não exigíveis. CONSTITUCIONALIZAÇÃO SIMBÓLICA Imagine que você comprou um carro. Fez o pagamento via transferências bancária à vista para a concessionária e já realizou a transferência do carro para seu nome no cartório. Falta apenas ir até a loja e levar o carro para casa. Você está muito feliz com essa conquista. Entretanto, quando você chega na loja, o proprietário se recusa a entregar o carro para você. Você mostra o comprovante de pagamento e os documentos, mas ainda assim, sem dar uma razão, ele se recusa a deixar você sair com o carro. O que você faria? Certamente iria até a delegacia mais próxima e faria um boletim de ocorrência. Talvez toda a situação demande o ajuizamento de uma ação para que seu direito patrimonial ao carro seja garantido. Isso ocorre porque os direitos patrimoniais no Brasil são exigíveis, ou seja, podem ser solicitados junto ao Poder Judiciário. Isso é diferente na maior parte dos direitos sociais. Por exemplo, temos o direito à segurança alimentar e nutricional, mas não podemos requerer junto ao Poder Judiciário uma cesta básica ou renda mínima. Neves (1994) aponta que isso é muito frequente em países de capitalismo periférico, isto é, nos países mais pobres do mundo e com alta concentração de renda: temos uma Constituição com amplos direitos sociais, uma população extremamente vulnerável e um Estado incapaz de efetivar os direitos sociais. Veja como o autor explica isso: Neves (1994) está explicando algo muito importante sobre a nossa Constituição: ela garante abstratamente vários direitos sociais, mas não determina como eles podem ser efetivados concretamente. No Brasil, é função do Supremo Tribunal Federal a guarda da proteção, contudo, ao garantir direitos sociais, a Constituição não estabelece como eles podem ser exigidos caso os governos não os efetivem. Quando autor a�rma que o sistema jurídico não tem autonomia operacional, ele quer dizer que o Poder Judiciário não tem ferramentas legais para obrigar os poderes públicos a efetivar esses direitos. Ainda, quando Neves (1994) relata que há uma hipertro�a da função político-simbólica da nossa Constituição, basicamente está a�rmando que ela tem um papel para silenciar as massas que, às portas da Constituinte, clamavam por direitos, por melhores salários, por educação pública gratuita e por saúde pública. Contudo, em (...) a constitucionalização simbólica será caracterizada como problema típico da modernidade periférica; a convivência de supercomplexidade social com falta de autonomia operacional do sistema jurídico, analisada de forma mais genérica na supramencionada investigação, vincularemos agora mais estreitamente à hipertro�ada função político-simbólica do texto constitucional em detrimento de sua e�cácia normativo- jurídica. — (NEVES, 1994, p.10) nenhum momento a Constituição de�ne mecanismos que garantam seu cumprimento. Os constituintes criaram a obrigação para o Estado, mas não os meios de puni-lo caso não a cumpra. Na próximo bloco, vamos entender essa relação entre direitos e punição. DIREITO CONSTITUCIONAL SOCIAL E NEOLIBERALISMO Nosso ordenamento jurídico tem muitos crimes tipi�cados e, em cada um deles, há uma punição determinada. Obedeceríamos às leis se não houvesse punição? Essa é uma pergunta central no campo do Direito e re�ete sobre o “enforcamento” da lei. O conceito de “enforcar” uma lei se refere a fazê-la se cumprir. Dessa forma, faríamos tudo que somos obrigados a fazer se não fosse obrigatório e se não houvessepunição em caso de desobediência? Por exemplo, a população pagaria impostos se não fosse obrigatório e não houvesse uma punição em caso de não pagamento? Por exemplo, antes da obrigatoriedade do uso do cinto de segurança e da cobrança de multa, muitas pessoas morriam em acidentes de trânsito justamente por não utiliza-lo. Essa re�exão cabe no que se refere à efetivação de direitos sociais pelo Estado. O artigo 6º da Constituição Federal garante inúmeros direitos, mas não estabelece punições para os governos que não garantam esses direitos e não cria mecanismos legais por meio dos quais a população possa procurar o Poder Judiciário para cobrar sua efetivação. Você já conheceu alguém que tenha �cado meses na �lha do SUS para ser atendido por um médico? As demandas de saúde são imediatas e �las de espera são uma violação do direito a ela. Isso é re�exo do neoliberalismo presente no Brasil desde a década de 90, que diminui os recursos destinados às políticas públicas, em nome de atender as exigências da capital �nanceiro, priorizando o pagamento da dúvida pública. Nos últimos anos, conteúdo, a população tem encontrado algumas brechas para garantir direitos sociais, ainda que poucos. Há ações junto ao Poder Judiciário no que se refere à garantia de vagas em creches públicas, transporte escolar, cirurgias emergenciais e eletivas, além de órteses ou próteses e medicamentos de alto custo, não obtidos via Sistema Único de Saúde. Há inúmeros vitórias para a população quanto à garantia desses direitos. Por outro lado, direitos como renda mínima, moradia, segurança alimentar e nutricional, assistência social e trabalho, ainda não encontraram meios de serem solicitadas junto ao Poder Judiciário. Dentro da lógica do neoliberalismo, temos políticas sociais que são condicionantes, como no caso das políticas de renda mínima, as quais estabelecem que a pessoa precisa ter �lhos para obter o benefício. Mas, como �ca a parte da população que tem fome, não tem trabalho, nem renda, e não tem �lhos? Temos ainda muito a conquistar em termos de direitos sociais. A Constituição é certamente um marco, mas ainda precisamos institucionalizar meios de participação social para que a população possa cobrar dos governos a efetivação de políticas sociais e para que os governos sejam punidos caso direitos sejam violados. VIDEO RESUMO Nesta videoaula, aprendemos um conceito muito importante para entender a Constituição de 1988: o constitucionalismo simbólico, de Marcelo Neves (1994). Assim, para que não �quem dúvidas sobre esse conceito, convidamos você a assistir a este vídeo, no qual abordaremos com mais detalhes esse tema. Saiba mais Nesta aula, tratamos do conceito de neoliberalismo e condicionalidades nas políticas sociais. Leia o artigo a seguir, no qual o autor discute a injustiça social e as condicionalidades nas políticas de distribuição de renda no Brasil. ZIMMERMANN, C. R. Os programas sociais sob a ótica dos direitos humanos: o caso do Bolsa Família do governo Lula no Brasil. Sur. Revista Internacional de Direitos Humanos, v. 3, n. 4, p. 144–159, jun. 2006. Disponível em: Scielo. Acesso em: 2 maio 2023. INTRODUÇÃO Olá, estudante! Vamos estudar os efeitos do neoliberalismo na questão social? Na área do Serviço Social, a questão social se refere aos efeitos do capitalismo nos sujeitos sociais; o neoliberalismo amplia as consequências perversas desse sistema econômico na população em vulnerabilidade social. Dessa forma, esta aula propõe um debate sobre a implementação do projeto neoliberal no Brasil a partir da chamada Conferência de Washington em 1989. O neoliberalismo não foi uma escolha voluntária do governo brasileiro, mas uma imposição do sistema �nanceiro internacional e tornou o projeto social da Constituição de 1988 algo muito complexo de concretizar. Bons estudos! Aula 2 A IMPLANTAÇÃO DO PROJETO NEOLIBERAL NO BRASIL PART I Na área do Serviço Social, a questão social se refere aos efeitos do capitalismo nos sujeitos sociais; o neoliberalismo amplia as consequências perversas desse sistema econômico na população em vulnerabilidade social. https://www.scielo.br/j/sur/a/mqN9MyzbxLhGscMDrq7zJDs/abstract/?lang=pt A CHEGADA DO NEOLIBERALISMO AO BRASIL Embora Tancredo Neves tenha sido eleito na primeira eleição presidencial (ainda indireta) pós-ditadura militar, sua morte às vésperas da posse deu o título ao vice, José Sarney. Sarney tomou posse em 15 de março de 1985 e permaneceu até 15 de março de 1990, assumindo a presidência em um contexto econômico bastante complicado de in�ação altíssima e enorme endividamento público, desdobramento dos governos militares. Em 1989, ocorreu o evento que foi o marco do neoliberalismo na América Latina, o chamado Consenso de Washington. Tratou-se de uma reunião entre o Tesouro Americano e instituições do mercado �nanceiro internacional, como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI). Ele ocorreu em 1989, na capital dos Estados Unidos, e tinha como objetivo pensar o endividamento público externo dos países da América Latina. Depois dele, foram realizadas uma série de imposições de caráter neoliberal para que os países conseguissem amortizar as suas dívidas e obtivessem mais empréstimos. Portella Filho (1994, p. 103) explica o que foi recomendado: Conforme explica Portella Filho (1994), as instituições �nanceiras internacionais queriam o pagamento total da dívida e, para isso, sugeriram que os países, inclusive o Brasil, diminuíssem os seus gastos públicos. Vamos, então, tentar entender o efeito disso para a questão social? A questão social é o desdobramento do capitalismo sobre a população pobre, especialmente nos países da periferia do capital. Essa população, formada por pessoas sem propriedade privada e sem meios de produção, que precisam vender a sua força de trabalho, �ca extremamente vulnerável quando não há emprego para todos. Essa massa de trabalhadores desempregados �ca em risco de violação de direitos e cabe ao Estado garantir o seu mínimo existencial. Por outro lado, se o Estado está economizando e fazendo menos investimentos sociais, como propôs o Consenso de Washington, então os recursos públicos para garantia de direitos sociais são impactados. Essa é a lógica do neoliberalismo: submeter o Estado ao mercado �nanceiro internacional, desconstruindo direitos que são constitucionalmente garantidos e mantendo a população brasileiro na miséria. Nos países que implementaram as políticas neoliberais, a questão social é agravada, porque o Estado diminui os recursos Os devedores latino-americanos foram encorajados a tentar realizar simultaneamente a estabilização, a liberalização e o pagamento in totum das dívidas. A perseguição simultânea das três metas signi�cou uma trajetória de ajustamento de difícil execução técnica e política. As políticas de ajustamento eram quase sempre drásticas e deveriam apresentar resultados a curto prazo. O país endividado negociava um programa de ajustamento contendo políticas macroeconômicas do FMI e reformas setoriais orientadas pelo BIRD. públicos destinados à área social, deixando de enfrentar as consequências do neoliberalismo. O governo Collor e, posteriormente, o governo FHC, mantiveram a mesma lógica nefasta no Brasil. Vamos entender mais sobre isso no próximo bloco. A REFORMA DO APARELHO DE ESTADO Em 1995, no governo de Fernando Henrique Cardoso, foi feita a chama Reforma do Aparelho de Estado, conduzida pelo Ministro Luiz Carlos Bresser-Pereira. Vejamos, então, um dos exemplos de propostas dessa reforma: Vamos entender essa citação. O texto reconhece que o Brasil passava por uma crise �scal, ou seja, gastava mais do que arrecadava e, com isso, tinha di�culdade em pagar sua dívida externa pública. Nesse contexto, o projeto de reforma reconhecia a necessidade de o país gastar menos, ou seja, fazer o ajuste �scal. Contudo, a grande discussão aqui é em que medida é viável implementar políticas públicas diante de diminuição de investimentossociais. Essa é a grande contradição da reforma. Vemos também que um dos objetivos da reforma foi a privatização de ativos públicos e a maior participação do mercado por meio de contratos de parcerias público-privada (PPP) �rmados entre os governos e empresas privadas. De fato, durante o governo Fernando Henrique Cardoso, temos um amplo processo de privatização. Desde então, o Brasil tem utilizado as PPPs em diversos setores, inclusive aqueles que tipicamente enfrentam as questões sociais. Por exemplo, os restaurantes populares, que vendem refeições a um real, são muito comumente políticos sociais pagas pelos governos, mas executadas por organizações do terceiro setor. Há também práticas de parcerias entre os governos e organizações do terceiro setor para executar políticas sociais de acolhimento em longa permanência de idosos, além de acolhimento de crianças. A reforma do Estado envolve múltiplos aspectos. O ajuste �scal devolve ao Estado a capacidade de de�nir e implementar políticas públicas. Através da liberalização comercial, o Estado abandona a estratégia protecionista da substituição de importações. O programa de privatizações re�ete a conscientização da gravidade da crise �scal e da correlata limitação da capacidade do Estado de promover poupança forçada através das empresas estatais. Através desse programa transfere-se para o setor privado a tarefa da produção que, em princípio, este realiza de forma mais e�ciente. Finalmente, através de um programa de publicização, transfere-se para o setor público não-estatal a produção dos serviços competitivos ou não-exclusivos de Estado, estabelecendo-se um sistema de parceria entre Estado e sociedade para seu �nanciamento e controle. — (BRASIL, 1995, grifos nossos) No âmbito de grandes ações de construção civil, como saneamento básico, sistema de esgoto, tratamento de água, construção de rodovias, iluminação urbana, construção de aterros sanitários, dentre outros, é muito comum que os governos façam parcerias com empresas privadas, via licitação, na qual a empresa privada �rma um contrato de prestação de serviços público. O Brasil dos anos 90 foi marcado por essa imposição externa de políticas econômicas que privilegiam o capital �nanceiro e deixam a população ainda mais vulnerável. No próximo bloco, vamos entender melhor os desdobramentos dessas políticas na questão social. POLÍTICAS SOCIAIS E NEOLIBERALISMO Vamos pensar juntos sobre a natureza das políticas sociais e o enfrentamento da questão social. As políticas sociais conseguem minimizar os efeitos do capitalismo. Por exemplo, se a lógica do capitalismo �exível traz desemprego porque substitui o homem pela máquina, então o Estado pode garantir renda mínima a setores da população, baseado no direito constitucional à segurança alimentar e nutricional. Por sua vez, se o trabalhador adoecer pelo trabalho exaustivo e insalubre, então o Estado oferece o Sistema Único de Saúde (SUS). Ainda, se o mercado precisa de pessoas alfabetizadas e pro�ssionalmente capacitadas, então o Estado garante educação gratuita. Dessa forma, as políticas sociais não são instrumentos de libertação do indivíduo da lógica alienante do capital. Elas são ferramentas do próprio capital, porque garantem um mínimo existencial para que o trabalhador seja �sicamente capaz de produzir. Sobre isso, Piana (2009, p. 41) faz uma discussão importante: Com isso, a autora explica que não há possibilidade de igualdade material dentro do sistema capitalista, porque o capital apenas se reproduz e se acumula se há uma classe social que precisa vender a sua mão de obra de maneira barata. Para isso, é preciso a existência de um exército de reserva de mão de obra, disposto a aceitar a exploração das relações entre capital e trabalho. Por isso, o fundamento das políticas sociais não é a distribuição da riqueza coletiva, mas a manutenção do trabalhador minimamente alimentado e com saúde física para que possa produzir. Segundo Piana (2009), a lógica do neoliberalismo é um Estado enxuto, que atenda aos interesses do capital �nanceiro, a �m de que cada indivíduo busque o seu bem-estar por meio do mercado. Mas como um país de economia periférica como o Brasil, de base agroexportadora e, ainda, um dos países com a maior O fundamento das desigualdades sociais está alicerçado na forma de produção da riqueza que, na sociedade capitalista, se sustenta sobre a propriedade privada dos meios de produção e nas contradições de classe. Diante disso, o homem torna-se sujeito coletivo e transformador das relações existentes. Então, a busca pela transformação social é um processo que necessita do fortalecimento da população e de protagonistas na conquista de direitos, na participação. concentração de renda do mundo, poderá mudar essa lógica? O assistente social é um pro�ssional que garante direitos e é um executor de políticas sociais. Mas ele deve também se perceber como um trabalhador inserido no sistema capitalista, também sujeito a esse conjunto de contradições. Ele também está dentro da lógica reprodutora. Cabe ao assistente social ter um posicionamento ético, como pro�ssional que atua sobre a questão social, de entender os limites das políticas sociais; isto é, compreender que a emancipação do indivíduo só poderá ocorrer quando este sair da alienação do capitalismo e se perceber como sujeito com potencial transformador. VÍDEO RESUMO O assistente social precisa entender que a política social é um mecanismo de ação do próprio capitalismo e, por isso, é uma ferramenta de reprodução do capital. Nesse contexto, o assistente social é um pro�ssional que se coloca nas contradições do capital, mas que tem a responsabilidade ética de produzir emancipação. Saiba mais Nessa aula, mencionamos o exército de reserva do capitalismo e como o desemprego possibilita a acumulação do capital, porque leva os indivíduos a aceitar receber muito pouco, para poder acessar o consumo. Então, veja os índices de desemprego apresentados no site do IBGE. Nele, você poderá acompanhar dados o�ciais atualizados não somente sobre o desemprego, mas sobre uma série de questões que impactam a vida do trabalhador. INTRODUÇÃO Olá, estudante! Aula 3 A IMPLANTAÇÃO DO PROJETO NEOLIBERAL NO BRASIL PART II Nesta aula, propomo-nos a fazer um balanço da situação da questão social no Brasil hoje com a desestabilização da classe média, a instalação da precariedade nos serviços públicos, a redescoberta da extrema miséria e a reforma da previdência social. https://www.ibge.gov.br/explica/desemprego.php Você já aprendeu que a questão social tem sua expressão exacerbada diante da implementação das políticas econômicas neoliberais. Assim, nesta aula, propomo-nos a fazer um balanço da situação da questão social no Brasil hoje com a desestabilização da classe média, a instalação da precariedade nos serviços públicos, a redescoberta da extrema miséria e a reforma da previdência social. O neoliberalismo cria uma armadilha contra ele mesmo, porque tira o poder de consumo das pessoas e, com isso, prejudica o próprio mercado, que vende e produz medo, com a queda nas vendas. Que tal entender todas essas contradições? Bons estudos! BALANÇO DA QUESTÃO SOCIAL NO SÉCULO XXI A questão social, em sua expressão neoliberal, traz consequências gravíssimas para a população em vulnerabilidade. Abreu (2017) apresenta alguns dos desdobramentos do neoliberalismo: 1. Amplia a concorrência. 2. Internacionaliza a economia. 3. Expande suas ideologias, naturalizando a desigualdade social e a meritocracia. 4. Imposição do agronegócio nos países de capitalismo periférico. 5. Promove a especulação imobiliária. 6. Amplia os mecanismos de exploração da vida. É sobre esse último elemento que vamos trabalhar com mais detalhes nesta aula, avaliando como os mecanismos de exploração da vida se ampliam dentro da lógica do neoliberalismo, já que ocorre a precarização dos serviços públicos e a diminuição de investimentos em políticas sociais.Abreu (2017) explica que, dentro da sociedade capitalista, as políticas sociais são respostas à necessidade de controle e vigilância do potencial ameaçador do trabalho à manutenção da sociedade capitalista. São estratégias de controle, porque evitam que os trabalhadores criem sistemas de resistência contra a exploração do capitalismo. Sobre isso, explica o autor: Este contexto adquire legitimidade a partir da função do Estado do capital que fomenta a subordinação das relações sociais diante da esfera econômica. Ao abrir o campo de disputa que rege as políticas sociais aos interesses privados, desloca, paulatinamente, os direitos sociais à lógica mercantil. Para tanto, ampliam-se aos artifícios de desarticulação e criminalização dos movimentos de luta da classe trabalhadora que trazem a questão social no cerne das suas demandas. — (ABREU, 2017, p. 2) No contexto do neoliberalismo, a efetivação de direitos ocorre a partir da lógica do mercado. Basta pensar, por exemplo, nos programas sociais de moradia, que subsidiam casas por meio de incentivos federais, mas que também bene�ciam o mercado imobiliário e da construção civil. Do mesmo modo, quando tratamos de políticas de distribuição de renda mínima, não podemos deixar de considerar que elas garantem, ainda que de forma precária, alguma segurança alimentar e nutricional para que esse trabalhador, geralmente informal, consiga ter forças para o trabalho. Abreu (2017) explica que a dimensão dos direitos sociais é estratégia do Estado neoliberal para gerenciar a classe trabalhadora, evitando manifestações e mobilizações contra as relações de trabalho exploradoras e os baixos salários. Direitos sociais são mecanismos de acumulação e reprodução do capitalismo. Contudo, quando observamos a segunda década dos séculos XX, precisamos enxergar um desmonte das políticas sociais. Quando olhamos, por exemplo, o novo regime �scal, institucionalizado pela Emenda Constitucional 16/95, que diminui os investimentos na seguridade social e até mesmo a reforma da previdência de 2019, não podemos deixar de considerar que vivemos um desmonte do Estado social. Se a classe média no Brasil havia crescido nos primeiros anos do século XX, nos últimos anos, ela tem perdido poder de compra. Essa classe, que era considerada estável, volta a empobrecer. O MAPA DA FOME Nos últimos anos, especialmente com a pandemia covid-19, a pobreza no Brasil voltou a crescer, em decorrência de uma conjuntura que mistura suas próprias consequências e a falta de investimentos públicos. Sobre isso, leia o trecho a seguir, da Agência Senado (2022, s/p): Conforme você já aprendeu, as políticas socioassistenciais são centrais para o combate à fome, especialmente aquelas de distribuição de renda e de cestas básicas e verdes (cestas de produtos de hortifruti). O Brasil tem cinco instituições centrais para o combate à fome, que você pode veri�car a seguir: A falta de acesso regular a uma alimentação adequada por grande parte da população brasileira tem sido um dos principais desa�os enfrentados pela sociedade ao longo dos últimos anos. O país havia saído do Mapa da Fome da Organização das Nações Unidas (ONU) em 2014, por meio de estratégias de segurança alimentar e nutricional aplicadas desde meados da década de 1990. Mas voltou a �gurar no cenário a partir de 2015, obtendo um especial agravamento ao longo da pandemia de Covid-19 que afetou o mundo todo por dois anos a partir de 2020. Em 2022, o Segundo Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia de Covid-19 no Brasil apontou que 33,1 milhões de pessoas não têm garantido o que comer — o que representa 14 milhões de novos brasileiros em situação de fome. Conforme o estudo, mais da metade (58,7%) da população brasileira convive com a insegurança alimentar em algum grau: leve, moderado ou grave. 1. Centro de Referência em Assistência Social (CRAS). 2. Centro de Referência Especializado em Assistência Social (CREAS). 3. Serviço Especializado para Pessoas em Situação de Rua (Centro Pop). 4. Cadastro Único. 5. Restaurante populares, com refeições a 1 real. Contudo, é preciso lembrar que a Emenda Constitucional de 95/2016 diminui os recursos que eram investidos na seguridade social, da qual fazem parte as ações de assistência social. Dessa forma, essa austeridade �scal implica a diminuição dos investimentos para atender as demandas da fome. A seguridade social é composta por três políticas: saúde, assistência social e previdência. Até antes da emenda, a cada ano os valores investidos para a seguridade social eram reajustados pelo Produto Interno Bruto (PIB). A partir de 2017, os investimentos para assistência social passaram a serem reajustados pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que é menor que o PIB. A PREVIDÊNCIA SOCIAL Estudante, a previdência social faz parte da seguridade social e é direito adquirido de trabalhadores que são contratados pelo regime da Consolidação das Leis do Trabalho. Vejamos o que a Constituição Federal de 1988 determina sobre ela: Art. 106. Fica instituído o Novo Regime Fiscal no âmbito dos Orçamentos Fiscal e da Seguridade Social da União, que vigorará por vinte exercícios �nanceiros (...) II - para os exercícios posteriores, ao valor do limite referente ao exercício imediatamente anterior, corrigido pela variação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), publicado pela Fundação Instituto Brasileiro de Geogra�a e Estatística, ou de outro índice que vier a substituí-lo, apurado no exercício anterior a que se refere a lei orçamentária. — (BRASIL, 1988) A previdência social é um direito importante para que as pessoas tenham um envelhecimento digno e para aqueles que estão doentes ou sofrem acidentes de trabalho. Ela é uma política contributiva, ou seja, é preciso ter contribuído diversos anos para conseguir esse direito. No caso das pessoas que nunca tiveram trabalho remunerado durante a vida ou que são de�cientes, temos a política chamada Benefício da Prestação Continuada (BPC). Vejamos o que diz sobre isso a Lei Orgânica da Assistência Social: Contudo, em 2019, foi feita uma reforma da previdência que teve impactos negativos para os trabalhadores, mas que possibilitou atender às demandas do mercado �nanceiro. A justi�cativa para mudar as regras de aposentadoria foi o imenso dé�cit público, de bilhões de dólares, no sistema previdenciário e havia uma pressão do mercado pelo acerto desse dé�cit, de forma a tornar o Brasil um país mais seguro de investir. Além disso, o mercado �nanceiro temia que o país tivesse di�culdade em continuar amortizando os juros da dívida pública, diante desse desequilíbrio �scal. Para diminuir o desequilíbrio �scal nas contas públicas, era preciso criar condições para que o governo tivesse menos gastos previdenciários e várias estratégias foram feitas, como aumentar a idade para se aposentar e mudar o cálculo da aposentadoria. Art. 194. A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social. Parágrafo único. Compete ao Poder Público, nos termos da lei, organizar a seguridade social, com base nos seguintes objetivos: I - universalidade da cobertura e do atendimento; II - uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e rurais; III - seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços; IV - irredutibilidade do valor dos benefícios; V - equidade na forma de participação no custeio. — (BRASIL, 1988) Art. 20. O benefício de prestação continuada é a garantia de um salário-mínimo mensal à pessoa com de�ciência e ao idoso com 65 (sessenta e cinco) anos ou mais que comprovem não possuir meios de prover a própria manutenção nem de tê-la provida por sua família. — (BRASIL, 1993). De fato, os trabalhadores perderam muito com a reforma. Antes dela,a regra de cálculo das aposentadorias era a média de 80% dos maiores salários, desde julho de 1994. A data de 1994 é referente ao Plano Real. Com a Reforma esse cálculo mudou e as novas aposentadorias passaram para a média de 100% dos salários. Por que isso é prejudicial? Porque, geralmente, no começo de uma carreira, a pessoa ganha menos do que ao �nal. Com essa regra, é comum uma diminuição de 15% no valor. Com o neoliberalismo, como mencionado, há o desmonte das políticas sociais e os mais pobres são os mais afetados. VIDEO RESUMO Ao mesmo tempo em que as políticas sociais são um projeto do capitalismo e possibilitam a sua reprodução, ainda assim elas estão sofrendo um desmonte com o neoliberalismo. Nessa aula, convidamos você a entender, com mais detalhes, essas contradições, avaliando como elas afetam o trabalhador, mas também a acumulação de capital. Saiba mais Que tal conhecer melhor como a reforma da previdência afeta o trabalhador? Nesse site, o advogado Rafael Ingrácio Beltrão explica com detalhes: BELTRÃO, Rafael Ingrácio. Reforma da Previdência | Guia Completo. 2023. INTRODUÇÃO Olá, estudante! Nessa aula, traremos dos impactos do neoliberalismo sobre as políticas de assistência social no �nal do século XX, mais especi�camente, nos anos 1990. Vamos discorrer sobre aspectos da gestão de políticas sociais, que ganhou novos fundamentos nos anos 1990, especialmente a partir de três conceitos: privatização de ativos públicos, terceirização de serviços públicos e parcerias público-privadas. Para compreender a lógica das Aula 4 POLÍTICAS SOCIAIS NA DÉCADA DE 1990 Nessa aula, traremos dos impactos do neoliberalismo sobre as políticas de assistência social no �nal do século XX, mais especi�camente, nos anos 1990. https://ingracio.adv.br/reforma-da-previdencia/ políticas sociais no �m do século, vamos entender a lei de criação das OSCIP (Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público), que atribui um grande poder às organizações do terceiro setor para gerenciar políticas sociais, inclusive por meio de dinheiro público. Bons estudos! PRIVATIZAÇÕES E PARCERIAS PÚBLICO-PRIVADO Vamos começar re�etindo sobre os desdobramentos do neoliberalismo para a gestão das políticas sociais. O capitalismo amplia os espaços do mercado e do terceiro setor na gestão de serviços públicos, ressigni�cando os conceitos espaço e domínio público. Sobre isso, Fadul (1997, p. 56) explica: A privatização ocorre quando o Estado vende um ativo público. Nesse caso, o serviço deixa efetivamente de ser público e passa a ser produzido e gerenciado por uma empresa privada. Por outro lado, no caso de delegação de serviços públicos, como ocorre nas concessões ou terceirizações, a política continua formulada pelos governos, mas a execução é privada. Considerando o ciclo de uma política pública, podemos, então, a�rmar que o governo formula a política, mas é a empresa privada que a produz. Como isso afeta as políticas socioassistenciais? Elas são afetadas com a presença de atores não estatais na sua execução, especialmente atores do terceiro setor. Ocorre que muitas organizações do terceiro setor podem ter expertises que determinado município não possua, como gestão de restaurantes, acolhimento de idosos em sistemas de longa permanência, etc. Nesse caso, elas podem, por meio de um plano de trabalho, oferecer seus serviços em troca de uma remuneração. Contudo, é importante lembrar que essa remuneração não pode trazer lucro, apenas trazer recursos para pagar pelo serviço e pelos trabalhadores contratados pelo regime da CLT. Veja, pois, o exemplo dos serviços de restaurantes populares que servem refeições a um real. Nem sempre a prefeitura tem expertise na gestão de restaurante e nem pessoal quali�cado para essa área. Nesse caso, a prefeitura pode abrir um edital de seleção de instituições que podem realizar o serviço com dinheiro público. Nesse caso, é celebrado entre a OSCIP e o governo um contrato chamado de termo de parceria. A inserção do setor privado na produção de serviços públicos, sob formas jurídicas variadas, não é mais novidade. Venda dos ativos públicos a empresas privadas, transformação de administrações públicas em sociedades de economia mista, delegação através de contratos de prestação de serviços, concessão, permissão, terceirização ou parceria são expressões amplamente utilizadas, com bastante familiaridade, pelos administradores públicos de qualquer esfera de governo, e temas exaustivamente discutidos nos meios pro�ssionais, políticos e acadêmicos. Por sua vez, também é muito comum que grandes serviços de construção urbana, saneamento básico e distribuição de água sejam realizados por empresas privadas do ramo da construção civil. Muitas rodovias na imensa malha rodoviária brasileira são gerenciadas por contratos de concessão de serviços públicos por empresas privadas especialistas nesse tipo de obra. Diferentemente do caso anterior, a concessão de serviços públicos é feita por meio de uma licitação na modalidade de concorrência, na qual o governo toma a decisão pelo preço, a partir de critérios de qualidade estabelecidos no edital de licitação. AS OSCIPS Em 1999, o Poder Executivo brasileiro cria uma nova �gura jurídica, chamada Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), nome dado às organizações de terceiro setor e, portanto, de direito privado sem �ns lucrativos, que podem receber dinheiro público para executar políticas sociais. Dessa forma, a OSCIP é uma quali�cação jurídica, concedida pelo Ministério da Justiça, às organizações do terceiro setor que possuem os critérios de�nidos. O Decreto no 3.100, de 30 de junho de 1999, de�ne os seguintes critérios: O processo de quali�cação para que uma ONG receba a quali�cação de OSCIP é bastante burocrático, em decorrência do fato de que ela é quali�cada para receber dinheiro público. Então, é preciso que todos os critérios sejam garantidos, para evitar qualquer desvio de dinheiro público. A OSCIP terá que prestar contas de cada gasto mínimo empreendido em nome do serviço público. A política é formulada pelo Estado, no ente federativo que deseja executá-la. O governo abre um edital de parceria, ao qual as OSCIPs podem se candidatar, enviando um plano de trabalho, muito bem detalhado. Esse plano de trabalho é tão importante que também é regulamento por lei, especi�camente a lei nº 13.019, de 31 Art. 1o O pedido de quali�cação como Organização da Sociedade Civil de Interesse Público será dirigido, pela pessoa jurídica de direito privado sem �ns lucrativos que preencha os requisitos dos arts. 1o, 2o, 3o e 4o da Lei no 9.790, de 23 de março de 1999, ao Ministério da Justiça por meio do preenchimento de requerimento escrito e apresentação de cópia autenticada dos seguintes documentos: I - estatuto registrado em Cartório; II - ata de eleição de sua atual diretoria; III - balanço patrimonial e demonstração do resultado do exercício; IV - declaração de isenção do imposto de renda e; VI - declaração de estar em regular funcionamento há, no mínimo, três anos, de acordo com as �nalidades estatutárias. — (BRASIL, 1999b). de julho de 2014, em seu artigo 22: Note que o plano de trabalho tem uma grande riqueza de detalhes; isso tem como objetivo garantir que a OSCIP tenha efetivamente condições de executar o projeto e que tenha habilidade técnica para atendê-lo. OS INSTRUMENTOS GOVERNAMENTAIS Nos anos 1990, foram criados novos instrumentos de gestão de políticas sociais. A criação de estratégias para tornar a formulação e execução de políticas sociais é certamente um avanço, desde que não implique na omissão do Estado em sua obrigação de garantir direitos sociais. Ollaik e Medeiros (2011) descreveram esses instrumentos e explicaram que o mais utilizado é a gestão direta. A gestão direta é aquela realizada pelo próprio governo, por meio da sua gestão pública. Serviços de segurança pública, bombeiro, polícia, gestão penitenciária, controle de epidemiase tráfego aéreo são tradicionalmente estatais. Segundo os autores, há também algumas áreas de baixo interesse do mercado em atuar. Por exemplo, uma empresa privada abriria uma escola em uma área rural? Provavelmente não, porque o lucro seria muito baixo. Assim, o Estado precisa oferecer esse serviço. Contudo, com o neoliberalismo, novos instrumentos governamentais passam a ser utilizados. Há o instrumento denominado pelos autores de Ollaik e Medeiros (2011) como contratação, que indica toda forma de contrato entre o governo e empresas privadas para efetivar serviços públicos e executar serviços sociais. Ollaik e Medeiros (2011) classi�cam como aquisição de serviços contratados os termos de parcerias que estamos estudando. Nesse caso, o setor público contrata instituições especializadas em alguma área, dentro do terceiro setor ou do mercado, para executar um serviço público. Por exemplo, quando o governo faz um Art. 22. Deverá constar do plano de trabalho de parcerias celebradas mediante termo de colaboração ou de fomento: I - descrição da realidade que será objeto da parceria, devendo ser demonstrado o nexo entre essa realidade e as atividades ou projetos e metas a serem atingidas; II - descrição de metas a serem atingidas e de atividades ou projetos a serem executados; II-A - previsão de receitas e de despesas a serem realizadas na execução das atividades ou dos projetos abrangidos pela parceria; III - forma de execução das atividades ou dos projetos e de cumprimento das metas a eles atreladas; IV - de�nição dos parâmetros a serem utilizados para a aferição do cumprimento das metas. — (BRASIL, 2014) termo de parceria com uma OSCIP que faz tratamento de usuários de drogas e álcool, então ele contrata uma instituição com determinada expertise para efetivar políticas de saúde mental. Ollaik e Medeiros (2011, p. 1951) explicam a diferença entre contratação e aquisição de serviço contratado. Outro instrumento muito comum utilizado em tempos de neoliberalismo é a renúncia �scal. Você já ouviu falar de prefeituras que dão isenção �scal de 20 anos no IPTU para empresas que se instalarem no município e, com isso gerar impostos? Ainda, já ouviu falar de governos que dão desconto no IPI da linha branca ao �nal do ano para que as pessoas consumam mais no Natal, quando recebem 13º salário? Esse tipo de política é claramente neoliberal, porque protege o mercado. O problema dessa lógica é que os impostos, como o IPTU e o IPI, são utilizados para investimentos de políticas sociais, como de saúde e educação. Dessa forma, ao diminuir ou isentar empresários e a elite econômica, o poder público diminui recursos para políticas sociais de que as pessoas mais pobres tanto precisam. VIDEO RESUMO Estudante, uma marca do neoliberalismo é justamente trazer para a esfera pública organizações do setor privado, seja empresas com �ns lucrativos ou instituições do terceiro setor. Essa prática recebe o nome de aquisição de serviço contratado. Então que tal entender melhor a lógica que envolve essa prática? Então veja o vídeo a seguir! Saiba mais Você já ouviu falar de um hospital, especializado em câncer infantil e juvenil, chamado GRAACC? Ele é um exemplo de uma OSCIP, que recebe recursos públicos para realizar políticas de saúde. Então, entre no site e pesquisa no ícone Doação. Lá você poderá ver demonstrativos �nanceiros que indicam os valores recebidos pelos governos. (...) instrumento onde a administração pública contrata uma entidade privada, por uma quantia determinada, para fornecer um serviço a um determinado grupo de pessoas ou “clientes”, por exemplo, programas de ensino pro�ssionalizante, de aconselhamento para dependentes de drogas, de cuidados aos idosos e aos doentes mentais. Difere da contratação porque o Estado compra o serviço para terceiros e não para ele próprio. Aula 5 https://graacc.org.br/nossa-historia/ https://graacc.org.br/nossa-historia/ UM BRASIL NEOLIBERAL Olá, estudante! O neoliberalismo é um tipo de política econômica que de�ne a forma como o Estado se relaciona com o mercado e com a sociedade. No Estado de bem-estar social, por exemplo, as políticas econômicas tinham como meta �nanciar serviços públicos e programas sociais. Por sua vez, com o neoliberalismo, vemos claramente a submissão do Estado aos interesses do mercado e, no Brasil, especialmente do agronegócio. Com isso, as políticas sociais deixam de ser o foco das políticas governamentais, que passam a ser sobretudo as políticas que atendem aos interesses dos empresários. Os interesses da classe trabalhadora são deixados de lado e a população mais pobre se torna ainda mais vulnerável. Sobre isso, Oliveira (2022, p. 365) a�rma: O neoliberalismo impõe sobre a classe trabalhadora uma lógica nefasta. A automatização fabril diminui as vagas na indústria e o setor de serviços não consegue dar conta de empregar toda essa mão de obra. Ao mesmo tempo, cresce o número de trabalhadores informais e os chamados trabalhadores de aplicativo, que trabalham sem vínculo empregatício. A competição e o individualismo ganham proporções gigantescas, enquanto o Estado �exibiliza direitos, como aconteceu com a reforma das leis trabalhistas de 2017. Contudo, há uma ampla contradição aqui. Ao mesmo tempo em que o mercado neoliberal e o Estado falham em garantir direitos trabalhistas e até mesmo vagas de emprego, o mercado precisa dessa mão de obra com força física para o trabalho. É aqui que as políticas sociais de cunho assistencial ganham uma dimensão fundamental. O Estado passa a criar políticas que garantam a essa mão de obra um mínimo existencial, para que possam ir ao trabalho e tenham forças para a produção ou para a inovação, proatividade e criatividade exigidas pelos empregadores. O neoliberalismo, como vem sendo chamada a nova forma de ser do capitalismo desde a década de 1970, tem provocado mudanças importantes na sociedade no seu todo. No âmbito do trabalho, as novas formas de controle e de gerenciamento da força de trabalho impõem aos indivíduos uma competição mortal, colocando em questão sua própria sobrevivência e tornando-os, a um só tempo, vítimas e algozes de novos tipos de sofrimento. REVISÃO DA UNIDADE Para isso, são criadas políticas de distribuição de renda mínima, políticas de saúde emergenciais, educação básica gratuita e tradicional; �nanciamento público de vagas em universidades privadas, programas de subsídios para compra de imóveis populares e restaurantes populares. São ações do Estado, denominadas de políticas sociais, que objetivam manter o controle sobre a classe trabalhadora e a massa de desempregados, para que todos continuem a se submeter à lógica da dominação do capitalismo. Há tantas reclamações sobre os serviços públicos no Brasil, não é mesmo? Fala-se da educação de baixa qualidade e das �las para conseguir uma consulta com o médico ou um exame dentro do Sistema Único de Saúde. Mas a lógica do neoliberalismo é essa – nefasta para o trabalhador – porque garante apenas o mínimo existencial, não uma vida digna. REVISÃO DA UNIDADE Compreender as contradições das políticas sociais implica entender que elas surgem no contexto do neoliberalismo, para consolidar a acumulação �exível de capital. Implica que não podemos olhar utopicamente as políticas sociais, mas sim dentro do contexto em que elas surgem, que é o do capitalismo monopolista. Veja esta videoaula para revisar esse conteúdo. ESTUDO DE CASO Imagine que você, já formado como assistente social, é contratado por uma organização do terceiro setor, uma ONG, que precisa de um consultor especializado em termos de parceria. Essa ONG quer fechar uma parceria com o município para realizar um projeto de quali�cação pro�ssional para jovens em busca do primeiro emprego. O presidente da ONG observou que a prefeitura tem um edital aberto e está aceitando projetos nessa área social e educacional. Você então aceita esse desa�o e pede todos os documentos da ONG. Você sabe que, paraobter dinheiro público por meio de um termo de parceria, a ONG precisa obter a quali�cação de OSCIP e, para isso, precisa cumprir com os critérios. Você sabe que precisa consultar o Decreto no 3.100, de 30 de junho de 1999, que traz todas essas diretrizes. Ao olhar o artigo 1º desse decreto, você logo anota tudo que precisa: Você, então, pede que o presidente da ONG obtenha todos esses documentos e também se certi�ca de que a ONG atua há mais de três anos. Com todos os itens em mãos, você precisa fazer o encaminhamento para o Ministério da Justiça, que é o responsável por atribuir essa quali�cação jurídica. Isso é feito por meio do endereço eletrônico do Ministério da Justiça. Agora é necessário esperar que a quali�cação seja emitida. Enquanto isso, você começa a discutir com a equipe da ONG quais são os próximos passos. Na verdade, se trata de elaborar um plano de trabalho, com todos os critérios também de�nidos por lei, para a obtenção desses recursos. Nesse momento, você faz uma re�exão com sua equipe. Uma vez que esse recurso chegue, ele precisa ser utilizado segundo todos os critérios de�nidos no edital e é preciso muita responsabilidade, porque será preciso comprovar cada gasto mínimo realizado, por meio de documentos �scais. Com suas orientações, a equipe decide seguir em frente e se candidatar ao edital. Re�ita Agora que a equipe decidiu seguir em frente com o projeto, é preciso escrever o plano de trabalho. Você, que será um futuro pro�ssional do Serviço Social, deve desenvolver a habilidade de elaborar e desenvolver projetos sociais. O plano de trabalho para a celebração de termos de parceria funciona como um projeto social; contudo, eles devem seguir exatamente o passo a passo do texto legal e mostrar detalhes na execução orçamentária e �nanceira. O plano de trabalho apresentado à prefeitura terá um cronograma de execução do projeto, bem como o número de bene�ciários dele. Esses critérios precisam ser seguidos à risca. Por isso, a OSCIP precisa ter responsabilidade ao se candidatar para esse edital e ter a certeza de que poderá cumprir com o contrato que será assinado com a prefeitura. Art. 1o I - estatuto registrado em Cartório; II - ata de eleição de sua atual diretoria; III - balanço patrimonial e demonstração do resultado do exercício; IV - declaração de isenção do imposto de renda; V - inscrição no Cadastro Geral de Contribuintes/Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica - CGC/CNPJ; e VI - declaração de estar em regular funcionamento há, no mínimo, três anos, de acordo com as �nalidades estatutárias. — (BRASIL, 1999a) Então, estudante, qual é o próximo passo para a celebração deste termo de parceria? Quais são as etapas do plano de trabalho? Como elaborar esse documento? RESOLUÇÃO DO ESTUDO DE CASO Para responder à pergunta que �zemos na re�exão do nosso Estudo de caso, você precisa conhecer bem a lei no 9.790, de 23 de março de 1999, que regulamenta os termos de parceria. O trabalho do assistente social envolve um conhecimento das leis que impactam suas funções; isso é um diferencial no mercado de trabalho. Veja então como a lei de�ne termos de parceria: Note que todos os envolvidos devem estar cientes das obrigações que deverão ser cumpridas. Ainda, outra lei que precisa ser lida com cuidado e seguida à risca é a lei que cria o Marco Regulatório do Terceiro Setor, que é a Lei 13019/2014. Com o conhecimento da legislação, a OSCIP tem mais chances de ter o projeto aprovado e evita problemas de cunhos legais no futuro. A seguir, você poderá ver tudo o que deve constar no seu plano de trabalho, com base no Marco Regulatório: 1. Descrição do problema social a ser enfrentado, bem como das atividades e metas a serem atingidas. 2. Descrição de cada atividade que será executada e a quais metas elas estão alinhadas. 3. Orçamento do projeto (previsão de receitas e de despesas). 4. Forma planejada de execução das atividades de cumprimento das metas. 5. Indicadores que serão utilizados para veri�car o cumprimento das metas (indicadores, quantitativos ou qualitativos, de avaliação de resultados) Agora que você sabe tudo que deve estar no seu plano de trabalho, basta juntar as forças da equipe e escrever um excelente projeto, que deve ser submetido à prefeitura para avaliação! Art. 9o Fica instituído o Termo de Parceria, assim considerado o instrumento passível de ser �rmado entre o Poder Público e as entidades quali�cadas como Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público destinado à formação de vínculo de cooperação entre as partes, para o fomento e a execução das atividades de interesse público previstas no art. 3o desta Lei. Art. 10. O Termo de Parceria �rmado de comum acordo entre o Poder Público e as Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público discriminará direitos, responsabilidades e obrigações das partes signatárias. — (BRASIL, 1999b) RESUMO VISUAL Fonte: elaborada pela autora. Aula 1 BOBBIO, Norberto. A Era dos Direitos. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004. NEVES, Marcelo. A Constitucionalização Simbólica. São Paulo: Acadêmica, 1994. Aula 2 BRASIL. Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado. Brasília, 1995. Disponível em: http://www.anped11.uerj.br/planodiretor1995.pdf. Acesso em: 10 maio 2023. PIANA, MC. A construção do per�l do assistente social no cenário educacional. São Paulo: Editora UNESP/Cultura Acadêmica, 2009. PORTELLA FILHO, Petrônio. O ajustamento na América Latina: crítica ao modelo de Washington. Lua Nova: Revista de Cultura e Política, n. 32, p. 101–132, abr. 1994. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ln/a/XWq9bmGTrn69ZtbkQy39zCm/. Acesso em: 10 maio 2023. REFERÊNCIAS http://www.anped11.uerj.br/planodiretor1995.pdf https://www.scielo.br/j/ln/a/XWq9bmGTrn69ZtbkQy39zCm/ Imagem de capa: Storyset e ShutterStock. Aula 3 ABREU, Thinally Ribeiro Abreu. As políticas sociais no neoliberalismo: expressões da luta de classes. VIII Jornada Internacional de Políticas Públicas: Um século de reforma e revolução. Maranhão. 2017. AGÊNCIA SENADO. Retorno do Brasil ao Mapa da Fome da ONU preocupa senadores e estudiosos. Brasília, 2022. Disponível em: https://www12.senado.leg.br/noticias/infomaterias/2022/10/retorno-do-brasil- ao-mapa-da-fome-da-onu-preocupa-senadores-e-estudiosos. Acesso em: 22 maio 2023. BRASIL. Constituição Federal de 1988. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 22 maio 2023. BRASIL. Lei Orgânica da Assistência Social – lei nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8742.htm. Acesso em: 22 maio 2023. Aula 4 BRASIL. Lei nº 13.019, de 31 de julho de 2014. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011- 2014/2014/lei/l13019.htm. Acesso em: 28 maio 2023. BRASIL. Lei no 9.790, de 23 de março de 1999. 1999a. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9790.htm. 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