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Dissertação - Reinaldo Oscar de Freitas Mundim Lobo Rezende - 2015

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS 
FACULDADE DE DIREITO 
PROGRAMA DE MESTRADO EM DIREITO AGRÁRIO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
REINALDO OSCAR DE FREITAS MUNDIM LOBO REZENDE 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O CONFISCO DA PROPRIEDADE RURAL FRENTE À CULTURA DE 
PLANTAS PSICOTRÓPICAS 
Dissertação 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Goiânia/GO 
Fevereiro de 2015 
 
 
 
TERMO DE CIÊNCIA E DE AUTORIZAÇÃO PARA DISPONIBILIZAR AS TESES E 
DISSERTAÇÕES ELETRÔNICAS (TEDE) NA BIBLIOTECA DIGITAL DA UFG 
 
 
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________________________________________ Data: ____ / ____ / _____ 
 Assinatura do (a) autor (a) 
 
1 Neste caso o documento será embargado por até um ano a partir da data de defesa. A extensão deste prazo suscita justificativa 
junto à coordenação do curso. Os dados do documento não serão disponibilizados durante o período de embargo. 
Autor (a): REINALDO OSCAR DE FREITAS MUNDIM LOBO REZENDE 
E-mail: reinaldooscar@hotmail.com 
Seu e-mail pode ser disponibilizado na página? [ X ]Sim [ ] Não 
Vínculo empregatício do autor Delegado de Polícia do DF 
Agência de fomento: COORDENAÇÃO DE APERFEIÇOAMENTO DE 
PESSOAL DO NÍVEL SUPERIOR 
Sigla: CAPES 
País: BRASIL UF: GO CNPJ: 
Título: O CONFISCO DA PROPRIEDADE RURAL FRENTE À CULTURA DE PLANTAS PSICOTRÓPICAS 
 
 
Palavras-chave: Direito Agrário; Propriedade Rural; Plantação; Plantas Psicotrópicas; Cultura Ilegal; Confisco. 
 
Título em outra língua: La confisca delle aziende agricole, dove le piantagioni illegali di piante psicotrope sono 
trovate 
 
Palavras-chave em 
outra língua: 
Diritto Agrario; Proprietà; Rurale. Piante; Psicotrope; Coltivazioni illegali; Confisca. 
 
 
Área de concentração: DIREITO AGRÁRIO 
Data defesa: (dd/mm/aaaa) 30/03/2015 
Programa de Pós-Graduação: PROGRAMA DE MESTRADO EM DIREITO 
Orientador (a): PROF. Dr. Pedro Sérgio dos Santos 
E-mail: psergio@gmail.com 
Co-orientador (a):* 
E-mail: 
 
REINALDO OSCAR DE FREITAS MUNDIM LOBO REZENDE 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O CONFISCO DA PROPRIEDADE RURAL FRENTE À CULTURA DE 
PLANTAS PSICOTRÓPICAS 
Dissertação 
 
 
 
 
 
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação Stricto Sensu em Direito da 
Universidade Federal de Goiás, nível Mestrado, 
na área de concentração em “Direito Agrário” e 
na linha de pesquisa “Fundamentos e Institutos 
Jurídicos da Propriedade e da Posse”, como 
requisito parcial para a obtenção do título de 
Mestre em Direito, área de concentração 
Agrário, sob a orientação do Prof. Dr. Pedro 
Sérgio dos Santos. 
 
 
 
 
 
Goiânia/GO 
Fevereiro de 2015 
 
REINALDO OSCAR DE FREITAS MUNDIM LOBO REZENDE 
 
 
 
 
 
O CONFISCO DA PROPRIEDADE RURAL FRENTE À CULTURA DE 
PLANTAS PSICOTRÓPICAS 
 
 
 
Dissertação apresentada como exigência parcial para a obtenção do título de Mestre 
em Direito, área de concentração Agrário, na Faculdade de Direito da Universidade Federal de 
Goiás, defendida e aprovada em 30 de Março de 2015, com indicação para publicação, perante 
a banca examinadora constituída pelos seguintes professores: 
 
 
 
______________________________________________________ 
Prof. Dr. Pedro Sérgio dos Santos (Orientador) 
Universidade Federal de Goiás 
Presidente da Banca 
 
 
 
 
 
 
 
______________________________________________________ 
 
Prof. Drª. Cláudia Luiz Lourenço 
Universidade Federal de Goiás 
Avaliador Interno 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
________________________________________________________ 
Prof. Drª. Gisela Maria Bester 
Universidade Federal do Tocantins 
Avaliador Externo 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Aos que sonham. 
E passam a lutar por isso. 
Atingindo-os, ou não. 
 
 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
Aos meus pais, Carmem Lúcia e Carlos David, os fundamentos, pela dedicação 
abnegada em prol da construção de um futuro digno, moralmente honroso e de boa convivênc ia 
familiar a mim e aos meus queridos irmãos Rodrigo Lobo e Caroline Mundim. Aos meus 
familiares todos, pelas ausências a que o mestrado me impôs. Aos meus avós, entre eles pela 
ligação com a literatura, ambos in memoriam, Paulo Rezende, compondo a União Brasile ira 
dos Escritores, com várias obras publicadas e prêmios de literatura e ao bisa Herculano Lobo, 
que deixou experiências e exemplos de boas ações em família, retratadas também em obras, 
tendo sido Governador de Goiás. 
___________________________________________________________ 
Ao meu orientador, Prof. Dr. Pedro Sérgio dos Santos, e diretor desta faculdade, 
pelo acompanhamento das fases do trabalho até este momento, pelo apoio e pelos momentos 
de aprendizado que se sucedem desde minha graduação nesta casa. Ao Prof. Fernando Dantas, 
coordenando com seriedade e capacidade o curso de Mestrado. 
Aos avaliadores da banca de defesa um abraço especial ― À Prof.ª. Drª. Cláudia 
Luiz Lourenço, pelas leituras do presente trabalho, pelos questionamentos e pelas contribuições 
enriquecedoras desta dissertação dadas na fase de elaboração de seu texto; ― À Prof.ª. Drª. 
Gisela Maria Bester, da Universidade Federal do Tocantins, com longa história também na 
Universidade Federal de Santa Catarina, pela dedicação à ciência, pelas inúmeras contribuições 
na e pós banca, inclusive atravessando Estados para estar em Goiânia só para participar e 
contribuir com esta banca. 
Aos servidores técnico-administrativos em educação vinculados ao Programa de 
Mestrado ― Luiz Vendramini, Carlos Brito e Alicinha ―, pelo carinho. 
À centenária Faculdade de Direito da UFG, por me graduar em Direito, por me 
permitir três Pós-Graduações Lato Sensu, e por fim o Mestrado em Direito. Um convívio que 
supera bodas de 15. A essa casa, o agradecimento, pelo que permitiu a mim, me habilitando ao 
mundo profissional, e pelo que faz pelo Direito nos tempos, ostentando a tradição de ser a sexta 
faculdade mais antiga do país, que já atravessa três séculos. 
____________________________________________________________ 
Um agradecimento fraternal ao professor efetivo da Universidade Federal Vilmar 
Rocha, que além de fonte permanente de experiência a nutrir os amigos, foi um elo construtor 
de significativo caminho que também contribuiu a que este mestrado chegasse ao fim. 
 
Aos amigos que dedicaram momentos de suas vidas privadas para, alguns várias 
vezes, sentarem e contribuírem com o projeto deste trabalho: Paulo Henrique Alencar Nunes 
(professor de biologia), Eriberto Bevilacqua (vice reitor), Vitore Maximiano(secretário 
nacional SENAD), Osmar Terra (médico pesquisador), Mário Martini (advogado, brasileiro e 
italiano), Arnaldo Bastos (professor UFG), Raul Batista (servidor do congresso), Virmondes 
Cruvinel (professor UFG), Wilson Assis (procurador da república), Eduardo Vides (delegado), 
Rafael Bastos (procurador da fazenda), Henrique Arantes (historiador), Nivaldo Santos 
(professor universidades), Waldeck Fachinelli (delegado), Gustavo Coelho (médico), Jader 
Ramos (engenheiro). Aos colegas do curso Cláudio Agatão e Marcelo Feitosa, pelos diálogos 
enriquecedores de conhecimento que tive no Mestrado. 
Aos colegas de profissão Sandro Avelar, Edilson de Brito, Cleiler Farias, Deusny 
Filho, Danilo Rabelo, Vivaldo Neres, Efigênio, Antônio Gonçalves (in memoriam), João 
Campos, Rodrigo Ribeiro, Rogério Cunha, Rogério Alencar, Rander Deus, Adriana Accorsi, 
Joaquim Mesquita e Valéria Martirena, cujos olhos amadurecidos da profissão sabem a 
importância que significa a constante construção do conhecimento em nosso meio, refletindo 
neste projeto, que pretende deixar alguma modesta contribuição de legado à ciência. 
Aos estudiosos do Direito Agrário, do Penal, do Ambiental, do Constitucional, da 
Segurança Pública e do tema Drogas, que nos permitiram, com seus escritos, fantásticas leituras 
e aprendizados nesse tempo do curso. O conhecimento é o único patrimônio irretirável do 
Homem. 
Aos colegas de magistério superior em Direito, paixão que já exerci por 6 (seis) 
anos, como professor concursado na graduação e pós da UFG, convidado na graduação da PUC-
GO e pós da Uni-anhanguera, e temporário na Acadepol-PCGO. Creio, que o combustíve l 
motivador de se enfrentar as durezas de uma stricto sensu. 
Aos que me esqueci de mencionar, porque nunca é possível a um mero homem 
mediano lembrar-se de todos. Mas todos estão presentes neste trabalho, simplesmente por 
fazerem parte dessa história. 
 
 
 
 
Poema da Terra Adubada 
Por detrás das árvores não se escondem faunos, não. 
Por detrás das árvores escondem-se os soldados 
com granadas de mão. 
 
As árvores são belas com os troncos dourados. 
São boas e largas para esconder soldados. 
 
Não é o vento que rumoreja nas folhas, 
não é o vento, não. 
São os corpos dos soldados rastejando no chão. 
 
O brilho súbito não é do limbo das folhas verdes reluzentes. 
É das lâminas das facas que os soldados apertam entre os dentes. 
 
As rubras flores vermelhas não são papoilas, não. 
É o sangue dos soldados que está vertido no chão. 
 
Não são vespas, nem besoiros, nem pássaros a assobiar. 
São os silvos das balas cortando a espessura do ar. 
 
Depois os lavradores 
rasgarão a terra com a lâmina aguda dos arados, 
e a terra dará vinho e pão e flores 
adubada com os corpos dos soldados. 
 
Antônio Gedeão, in 'Linhas de Força'.
 
RESUMO 
 
O tema desta dissertação de mestrado é o confisco das propriedades rurais onde sejam 
encontradas culturas ilegais de plantas psicotrópicas, previsto no artigo 243 desde a redação 
original da Constituição de 1988. O trabalho visa servir como aparato ao trabalho dos 
pesquisadores do direito, de compreensão dos limites do instituto do Confisco frente às culturas 
ilegais de plantas psicotrópicas. Têm-se como vetores os ensinamentos de hermenêutica 
constitucional, visto que o instituto está elencado expressamente na Constituição, bem como 
abordagens dos doutrinadores do Direito Agrário, ramo específico do Direito. O trabalho 
objetiva constituir fundamento para o estudo do Direito Agrário, por meio de novas concepções 
teóricas que rearticulem o pensamento jurídico diante de transformações institucionais. A 
pesquisa realizada tem caráter teórico e seguiu, primeiramente, as obras e publicações dos 
constitucionalistas e jus-agraristas que se tem, respeitando as individualidades deste último 
ramo peculiar, passando também pelos filósofos e pelos pensamentos dos historiadores das 
sociedades agrárias brasileiras, que abordam o tema terra. Inicia-se no primeiro capítulo, com 
uma apreciação filosófica, histórica e jurídica do surgimento e justificação da função social da 
propriedade rural. Essa modalidade de função social, por se referir a algo recebido pelo Homem 
da natureza (a terra), possui fundamentos de confirmação mais evidentes que a comum “função 
social de toda e qualquer propriedade humana”. No segundo capítulo, explica-se, partindo-se 
da doutrina jus-agrária, o que é uma propriedade rural, diferindo-a da urbana, através da 
percepção e dimensionamento do elemento atividade agrária, conceito elaborado e edificado na 
doutrina agrária. As plantas psicotrópicas proibidas são listadas e explicadas, suas 
características principais e seus componentes entorpecentes. Nesse capítulo elabora-se, 
partindo-se da interpretação dos normativos editados pela Anvisa, como caracterizar-se uma 
cultura como ilícita/ilegal. Também se demonstra a existência de uma estratégia de combate às 
drogas na Constituição. No terceiro capítulo abordam-se especificamente os limites do confisco 
agrário já antes compreendido. Ali, avançando em diferentes pontos da doutrina de referência 
(soberania do poder constituinte originário, hermenêutica constitucional, princíp ios 
constitucionais tutelares da terra e da propriedade privada) e, fazendo a compreensão da leitura 
dos acervos da Assembleia Constituinte sobre o tema confisco, se pode atingir os resultados de 
elaboração dos limites do Confisco, especialmente que ele se justificará em toda a propriedade, 
e não só na parcela plantada, bem como que ele não depende do dolo ou culpa do proprietário 
mas se exclui a responsabilidade em casos de força maior, caso fortuito ou culpa exclusiva do 
Estado. São, assim, objetivos a se proporcionar ao leitor nesta dissertação: saber o que é uma 
propriedade rural; saber o que é uma cultura ilegal de planta psicotrópica; perceber a existênc ia 
filosófica, histórica e jurídica do reconhecimento da função social especial da propriedade rural, 
bem como a existência de uma estratégia nacional de combate às drogas na Constituição; 
conhecer o confisco frente à cultura de psicotrópicos; elaborar e constatar na doutrina se esse 
confisco se dá independente de culpa do proprietário, bem como se na área plantada ou se em 
toda a propriedade. 
 
Palavras-chave: Direito Agrário; Propriedade; Rural; Plantas; Psicotrópicas; Cultura ilega l; 
Confisco.
 
SINTESI 
 
 
il tema di questo studio accademico è la confisca delle aziende agricole, dove le piantagioni 
illegali di piante psicotrope sono trovate ai sensi dell'articolo 243 del testo originale della 
costituzione del 1988. L'obiettivo di questo lavoro è di servire come un apparato di lavoro 
giuridico per gli operatori del diritto capire i limiti dell'Istituto della confisca davanti la 
coltivazione illegale di piante psicotrope. Ci sono come vettori insegnamenti dell'ermeneutica 
costituzionali, visto che l'istituto è espressamente prevista dalla Costituzione, così come gli 
approcci di studiosi di diritto agrario, istituto specifico a cui pensare. Il lavoro si propone di 
costituire un motivo per lo studio della legge agraria, in un contesto di crisi e mancanza di 
paradigmi attraverso lo sviluppo di nuovi concetti teorici che rearticulem il pensiero giurid ico 
prima di cambiamenti istituzionali. La ricerca ha carattere teorico e seguiti, in primo luogo, le 
opere e le pubblicazioni di costituzionalisti e Jus-agraristas, rispettando l'individualità di 
quest'ultimo ramo particolare, anche passando per i filosofi e il pensiero degli storici della 
società agricole brasiliane, che affrontano la questione della terra. Inizia nel primo capitolo, che 
è giustificazione filosófica, storica e giuridica de la nascita e la giustificazione della funzione 
sociale della proprietà rurale. Questo tipo di funzione sociale, perché si riferisce a qualcosa 
lasciata a tutti gli uomini da Dio (la terra), ha motivi di conferma più evidentiche il comune 
"funzione sociale di tutti i beni umani." Nel secondo capitolo si spiega, a partire dalla dottrina 
della giustizia-agrario, che è un'azienda agricola, diversa dal cittadino, attraverso la percezione 
e la progettazione di elementi di attività agraria, progettato e costruito nel concetto dottrina 
agraria. Piante psicotrope vietati sono elencati e spiegati, le sue caratteristiche principali e le 
loro componenti di droga. In questo capitolo ci impegniamo, partendo dall'interpretazione dei 
regolamenti emessi da Anvisa, come caratterizzare una cultura illec ita / illegali. Nel terzo 
capitolo si occupa specificamente con i limiti della confisca agraria prima compreso. Ali, 
avanzando in diversi punti della dottrina referenciadora (sovranità del potere costituente 
originale, l'ermeneutica costituzionali, princip i costituzionali tutelari di terreno e proprietà 
privata) e facendo la comprensione della lettura delle collezioni dela 
Assemblea nazionale costituente in materia di confisca, si possono raggiungere i risultati di 
preparazione dei confini di confisca, soprattutto se si verifica o meno proprietario di colpa nella 
coltivazione, e se si verifica in tutto il zona rurale o solo in modo efficace piantato. Ci sono così 
gli obiettivi di fornire al lettore in questo lavoro: sapere che cosa è un'azienda agricola; sapere 
che cosa è una cultura illegale di piante psicotrope; comprendere la filosofica, storica e giurid ica 
esistenza antica riconoscimento della funzione sociale della proprietà privata; sviluppare e 
trovare la dottrina la confisca si verifica indipendentemente dal proprietario di colpa, e nella 
superficie coltivata o in tutta l'area. 
 
Parole chiave: Diritto Agrario; Proprietà; Rurale. Piante; Psicotrope; Coltivazioni illega li; 
Confisca. 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
LISTA DE FIGURAS..............................................................................................................11 
 
LISTA DE SIGLAS.................................................................................................................12 
 
INTRODUÇÃO....................................................................................................................... 13 
 
CAPÍTULO 1 
PROPRIEDADE RURAL: SUA FORMAÇÃO FILOSÓFICA, HISTÓRICA E 
JURÍDICA LIGADA AO CUMPRIMENTO DE ALGUMA FUNÇÃO SOCIAL ......... 18 
1.1 A evolução do homem e a concepção filosófica do direito de propriedade agrária 
ligada a alguma razão ou função ........................................................................................... 19 
1.2 Das sociedades agrárias no Brasil e a raiz histórica de justificação do direito de 
propriedade ligado ao cumprimento dos interesses da sociedade ...................................... 34 
1.3 Noções jurídicas do surgimento do instituto do direito de propriedade agrária, sua 
concepção atual no Direito brasileiro e possibilidades de intervenção estatal .................. 51 
 
CAPÍTULO 2 
DOS ELEMENTOS DO CONFISCO ....................................................................................... 69 
2.1 Da propriedade rural onde forem localizadas culturas ilegais de plantas 
psicotrópicas ............................................................................................................................ 72 
2.1.1 Da propriedade rural ........................................................................................................ 73 
2.1.2 Das plantas psicotrópicas................................................................................................. 78 
2.1.3 Das culturas ilegais .......................................................................................................... 92 
2.2 Do interesse nacional de combate ao tráfico de entorpecentes e a estruturação 
jurídica de uma estratégia ante a esse inimigo ................................................................... ..98 
 
CAPÍTULO 3 
DOS LIMITES DO CONFISCO ......................................................................................... 117 
3.1 Princípios constitucionais agrários .............................................................................. 118 
3.1.1 Princípio da desapropriação para reforma agrária como política de Estado........ ......... 120 
3.1.2 Princípio da preservação do ambiente ........................................................................... 122 
10 
3.1.3 Princípio do fortalecimento da economia, pelo aumento da produtividade .................. 123 
3.1.4 Princípio da melhoria da qualidade de vida no campo .................................................. 124 
3.1.5 Princípio da prioridade da atividade agrária em relação ao direito de propriedade. ..... 126 
3.2 Princípios constitucionais tutelares da propriedade privada .................................... .127 
3.2.1 Direito de propriedade: aspectos materiais resguardados no artigo 5º e também nos 
artigos 1º e 3º da Constituição ................................................................................................ 130 
3.2.2 Direito de propriedade: aspectos processuais resguardados no artigo 5º ...................... 134 
3.3 Da soberania do poder constituinte originário ............................................................ 138 
3.4 Hermenêutica constitucional conformadora ................................................................ 144 
3.5 Da expropriação e seus limites....................................................................................... 154 
3.5.1 Dos debates na Assembleia Nacional Constituinte e do Congresso Nacional .............. 156 
3.5.2 Da discussão do tema pelo Supremo Tribunal Federal ................................................. 163 
3.5.3 Da área expropriada e da discussão da culpa................................................................. 169 
 
CONCLUSÃO ....................................................................................................................... 184 
 
REFERÊNCIAS.................................................................................................................... 189 
 
APÊNDICES ......................................................................................................................... 199 
Apêndice I –Acompanhamento de caso policial de repressão ao cultivo de drogas ....... 200 
Apêndice II – Entrevistas Vitore Maximiano e Osmar Terra ......................................... 206 
 
ANEXOS................................................................................................................................ 219 
Anexo I- Portaria nº 344/98 do Ministério da Saúde (Dispositivos Selecionados) .......... 220 
Anexo II– Diários da Assembleia Nacional Constituinte ................................................. 222 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
11 
LISTA DE FIGURAS - As 8 (oito) plantas psicotrópicas proscritas - 
 
 
 
Figura 1 Planta da Cannabis Sativa....................................................................................... 82 
Figura 2 Planta da Claviceps Paspali Stevens e Hall.............................................................84 
Figura 3 Planta da Datura suaveolens Willd....................................................................................85 
Figura 4 Planta da Erythroxlum Coca Lam......................................................................................86 
Figura 5 Planta da Lophophora Williamsii Coult....................................................... ......................88 
Figura 6 Planta da Papaver Somniferum L...................................................................................89 
Figura 7 Planta da Prestonia Amazonica J. F. Macbr.......................................................................90 
Figura 8 Planta da Salvia Divinorum............................................................................. ...................9012 
LISTA DE SIGLAS 
 
 
AIDS SÍNDROME DA IMUNODEFICIÊNCIA ADQUIRIDA 
ANVISA AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA 
CBD CANABIDIOL 
CEPAL COMISSÃO ECONÔMICA PARA A AMÉRICA LATINA E CARIBE 
CF CONSTITUIÇÃO FEDERAL 
CPT COMISSÃO PASTORAL DA TERRA 
CTN CÓDIGO TRIBUTÁRIO NACIONAL 
DMT DIMETILTRIPTAMINA 
DNA ÁCIDO DESOXIRRIBONUCLEICO 
EUA ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA 
MST MOVIMENTO DOS SEM TERRAS 
ONU ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS 
RDC RESOLUÇÃO DA DIRETORIA COLEGIADA DA ANVISA 
SENAD SECRETARIA NACIONAL DE POLÍTICAS SOBRE DROGAS 
SISNAD SISTEMA NACIONAL DE POLÍTICAS PÚBLICAS SOBRE DROGAS 
STF SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL 
THC TETRAHIDROCANABINOL 
TRF TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL 
UFG UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS 
USP UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
13 
INTRODUÇÃO 
 
 A propriedade é considerada como um fator humano de elevada relevância social, 
tendo passado por um processo de modificação e compreensão nos passar dos tempos. A 
propriedade rural destaca-se nesse contexto, em virtude de que a terra é de indiscutível valor à 
satisfação das necessidades básicas do ser humano e à construção da cidadania. A própria 
circunstância de que a terra precede ao Homem na natureza, e é essencial à sobrevivência e 
perpetuação da raça humana, é de especial valia na leitura das relações que se sucederam no 
tempo entre os indivíduos e o espaço natureza/rural. 
 Na sequência das formas de existências humanas já experimentadas em nosso 
mundo, cada povo deu o valor à propriedade, inclusive à da terra, de acordo com os seus 
costumes e convencimentos. Os diferentes povos acabavam limitando, com suas peculiaridades, 
as circunstâncias do exercício desse direito. Atualmente, a propriedade da terra possui vasta 
regulação jurídica nacional, tutelando sua existência, bem como tutelando a necessidade de que 
ela deva servir à sua função social. Em meio a esse conjunto de normas tutelares da função 
social da propriedade, existe a previsão constitucional de expropriação da propriedade rural 
sem indenização, considerada juridicamente um confisco, inclusive como uma manifestação da 
opção de uma estratégia nacional de combate ao tráfico de drogas no país. 
No Brasil, a ordem constitucional atual diz que as propriedades rurais em que forem 
localizadas culturas ilegais de plantas psicotrópicas serão imediatamente expropriadas, sem 
indenização, e destinadas à reforma agrária e ao assentamento de colonos. Esse é o tema deste 
trabalho. O título final da dissertação acabou com a seguinte redação “O confisco da 
propriedade rural frente à cultura de plantas psicotrópicas”. Assim, será o objeto de abordagem 
a expropriação não indenizada de propriedades rurais em que localizadas culturas ilegais de 
plantas psicotrópicas. Referido confisco possui previsão normativa constitucional no artigo 243 
e regulação legal através da lei federal nº 8257/91. 
O tema justifica a pesquisa, tendo em vista ser relevante ao Direito Agrário 
nacional, já que se trata de um instituto em vigência, onde há um problema central a ser 
pesquisado, que é o fato de o instituto estar sendo debatido nos tribunais em casos concretos, 
com divergências de posicionamentos quanto aos limites do confisco, conforme se observará 
no terceiro capítulo da obra, com alguns pontos de sua execução e aplicação polêmicos, e com 
pouca produção doutrinária sobre o assunto, desconhecendo-se nesta pesquisa algum livro 
específico sobre o tema, que tenha sido publicado e divulgado satisfatoriamente. 
14 
Ademais, a par da necessidade jurídica de solucionar esse problema, a justifica t iva 
social do trabalho é que esse aspecto do tráfico de drogas (plantação) é realidade preocupante 
no país, dado às suas dimensões territoriais e agrárias, que faz, aos olhos do narcotráfico, o 
Brasil ser visto com potencial para ser um grande produtor mundial de plantas psicotrópicas. E 
ainda, a destinação que se verá prevista para essas terras porventura confiscadas (reforma 
agrária/assentamento de colonos), é fator de interesse social, como instrumento colaborador de 
mudança no estado agrário vigente. 
Há, para os operadores do Direito, alguns pontos de grandes debates e divergênc ias 
quanto a esse confisco, que se tornam o problema central desta pesquisa, que neste parágrafo 
se explica melhor. Tratam-se de quais são os limites jurídicos dessa expropriação sem 
indenização. Em especial, se o confisco se dá sobre toda a propriedade rural, ou se somente 
diante da parcela cultivada, bem como se ele ocorre independente, ou não, de culpa do 
proprietário. Surge naturalmente, então, o objetivo central dessa obra: investigar a existênc ia 
de soluções às dúvidas quanto aos limites jurídicos dessa expropriação prevista no artigo 243 
da Constituição, já que a Carta não é expressa. 
No decorrer do enfrentamento do problema central, surgem alguns problemas 
acessórios. Assim, naturalmente também surgem alguns outros objetivos específicos na 
pesquisa. Os objetivos, no conjunto são: investigar a existência da necessidade de atendimento 
da função social na propriedade rural; investigar o adequado significado dos elementos 
expressos do confisco: “propriedade rural”, “cultura ilegal” e “planta psicotrópica”; pesquisar 
a existência normatizada de uma estratégia nacional de combate ao tráfico de drogas; detectar 
os princípios constitucionais agrários e os princípios constitucionais tutelares da propriedade 
privada que possuem correlação com o assunto; pesquisar se a expropriação se dá de todo o 
imóvel ou da área cultivada; pesquisar se ocorre independente da culpa do proprietário; 
pesquisar se a expropriação atinge o ente público; pesquisar se ela ocorre no plantio unitár io 
para o uso da droga. 
A apresentação de resposta a esses objetivos na dissertação se dá após pesquisa, e 
estabelecimento dos referenciais teóricos, que é de onde se extraem os conceitos utilizados para 
se ler o objeto de estudo. A investigação feita, visando levantar elementos para se enfrentar o 
problema central, teve seu produto dividido em três capítulos nesta obra. 
O capítulo um, elaborado em três separados tópicos, trata da constatação de uma 
formação filosófica, histórica e jurídica da propriedade rural ligada ao cumprimento de sua 
função social. São referenciais nessa pesquisa, em cada um de seus campos de conhecimento, 
os escritos de Locke, Marx, Ligia Osório da Silva, Aronne, Guilherme Teixeira e Falconi. A 
15 
ideia é, com essas leituras dos referenciais, perceber que a função social da propriedade rural é 
muito peculiar e sua percepção remonta às origens da ligação do Homem com a terra, sendo 
constatada nos campos filosófico, histórico e jurídico. No direito atual, a função social da 
propriedade é algo prestigiado. Quando se fala da propriedade rural, a pesquisa visa constatar 
se o cumprimento dessa função social deva ser algo ainda mais cobrado e exigido, pois é 
importante ao se apreciar o problema dos limites do Confisco Agrário, visto que a plantação de 
plantas proscritas indica ser uma forma de descumprimento da função social da terra. 
O capítulo dois levanta os elementos do confisco agrário. Nele, se abordam os 
elementos expressos: “propriedade rural”, “cultura ilegal” e “plantas psicotrópicas”; bem como 
também se aborda o elemento implícito do confisco: “a estratégia constitucional e legal de 
enfrentamento ao tráfico de drogas”. São referenciais nessa abordagem, os escritos de Tormin 
Borges, Ricardo dos Santos, Jakobs e os normativos conceituadores de expressões da Agência 
Nacionalde Vigilância Sanitária. Nesse capítulo, debatemos a propriedade rural e seus critérios 
de diferenciação e singularização da propriedade urbana. A atividade agrária, conforme traz 
Tormin Borges, é pano de fundo desse debate. Debate-se também o que são culturas, indo 
buscar as acepções do termo, para, depois, demonstrar nos atos normativos que regem o tema, 
quais são as culturas tidas por ilegais. São demonstradas também quais são as oito plantas 
proscritas no Brasil, em virtude de gerarem psicotrópicos proibidos. Apresentam-se algumas 
curiosidades relativas às drogas provenientes das plantas. Analisa-se a existência de um 
elemento implícito do confisco: a estratégia de combate ao tráfico na constituição e se esse é 
adotado como um inimigo do Estado, conforme preleciona Jakobs. 
O terceiro capítulo, enfim, entra na questão dos limites do confisco. Passa-se 
primeiramente pela investigação da existência de princípios constitucionais agrários e 
princípios constitucionais tutelares da propriedade privada correlatos ao tema, da soberania do 
poder constituinte originário, das técnicas de hermenêutica constitucional e pela análise dos 
debates da Assembleia Nacional Constituinte quando da criação do confisco. De posse desses 
conhecimentos, se observa em seguida as respostas que a jurisprudência do STF está dando às 
dúvidas do problema central, para, ao final, se apresentar uma resposta científica à questão. São 
referenciais nessa elaboração, em cada uma das partes, os escritos, quanto aos temas entre 
parênteses, de Umberto Oliveira (princípios constitucionais agrários), Alexandre de Moraes 
(princípios da propriedade privada), Ricardo dos Santos (aspectos do confisco), Manoel 
Gonçalves Ferreira Filho e Gilmar Mendes (soberania do poder constituinte), Lenio Streck e 
J.J. Gomes Canotilho (hermenêutica constitucional), bem como Carlos Roberto Gonçalves 
(responsabilidade individual). 
16 
Este estudo se trata de uma dissertação fruto de pesquisas realizadas junto ao 
Programa de Mestrado em Direito, área de concentração Agrário, da Universidade Federal de 
Goiás, aderido à linha de pesquisa “Fundamentos e Institutos Jurídicos da Propriedade e da 
Posse”, orientado pelo Prof. Dr. Pedro Sérgio dos Santos. 
Quanto à metodologia de pesquisa empregada durante o presente estudo, efetuou-
se ampla revisão da literatura pertinente e conexa, sendo a pesquisa bibliográfica a principa l 
fonte, tem em vista o trabalho ter se desenvolvido no curso de um mestrado acadêmico. Após 
o levantamento bibliográfico, foram realizados os fichamentos das informações relevantes 
sobre o assunto, retiradas dessa bibliografia, com a finalidade de otimização da pesquisa a ser 
realizada. Foi feita pesquisa em base de dados de órgãos governamentais, como informações 
policiais, e pesquisa das informações registradas no Congresso Nacional quanto ao trabalho da 
Assembleia Nacional Constituinte na votação e aprovação do artigo 243 da Constituição. Foi 
feita pesquisa de campo, com entrevista de atores envolvidos no processo social de 
enfrentamento do tema. Assim, através de todas essas informações contendo registros de dados 
necessários ao desenvolvimento e fundamentação teórico do estudo, tem-se uma visão mais 
dinâmica do tema proposto. O método utilizado é o dedutivo, recorrente em trabalhos das 
ciências sociais. 
A obra concentrou em investigar os aspectos de direito material do confisco frente 
à cultura de plantas psicotrópicas, e não seu aspecto processual. É de se registrar, que quando a 
pesquisa já se encontrava em estágio avançado ocorreu a votação, aprovação e promulgação da 
Emenda Constitucional nº 81/2014, que reformulou o artigo 243 da Carta. Procedeu-se, ali, a 
uma alteração aumentando a previsão da norma objeto de estudo. O confisco, que até esse 
momento só se dava diante de cultura ilegal de plantas psicotrópicas em imóveis rurais, passou 
a ser aplicável também em casos de utilização de trabalho escravo. A propriedade urbana passa 
a ser passível também de confisco. Manda-se observar, para a expropriação, o artigo 5º da 
Constituição Federal. 
Este trabalho permaneceu fiel ao tema anteriormente delimitado acima, não 
trazendo para a pesquisa a apreciação do trabalho escravo e da propriedade urbana. As novas 
expressões da emenda 81: “propriedade rural (no lugar de glebas)” e “observado, no que couber, 
o artigo 5º” já foram absorvidas, pois não alteram o sentido do confisco e, inclusive, ajudam a 
enfrentar o problema central da obra. A essa parte delimitada do artigo 243 convencionou-se 
chamar nesta obra pelo neologismo de “Confisco Agrário Ulyssiano”. Isso, pois apesar de não 
se tratar do confisco exatamente original da Constituição de 88 (já que absorveu duas 
expressões trazidas pela emenda 81), trata-se ainda da ideia original surgida na Carta de 
17 
Ulysses2, tendo em vista que essas expressões não mudam o cerne desse confisco idealizado 
pelos constituintes originários. 
Esta dissertação possui 2 (dois) apêndices e também 2 (dois) anexos, que trazem 
complementos ao trabalho. Os anexos trazem norma administrativa que conceitua expressões e 
regula o assunto drogas no país, bem como a documentação relativa à discussão da Assemble ia 
Nacional Constituinte quanto ao Confisco Agrário. Os apêndices trazem acompanhamento de 
trabalho policial de atuação em situação de repressão à plantação de planta proscrita, bem como 
entrevistas com Vitore Maximiano, secretário nacional de políticas sobre drogas, e Osmar 
Terra, médico, político e pesquisador do tema drogas. 
Ademais, o estudo de todos esses pontos pelos quais se passam nos três capítulos 
da dissertação, precisa levar em conta que se trata o tema de assunto inserido dentro da área de 
conhecimento que acabou sendo reconhecida como ramo disciplinar autônomo no âmbito do 
Direito. Ramo que se convencionou chamar de Direito Agrário. Essa compreensão é essencial. 
Em que pese ser uma introdução, adiantaremos um conceito de Direito Agrário, pois se trata de 
uma ideia inicial necessária à leitura, e o leitor pode optar por inicia- la por qualquer dos 
capítulos do desenvolvimento do trabalho. Paulo Tormin BORGES (1998) traça um conceito 
de Direito Agrário que se transcreve: “O direito agrário é o conjunto sistemático de normas 
jurídicas visam disciplinar as relações do homem com a terra, tendo em vista o progresso social 
e econômico do rurícola e o enriquecimento da comunidade”. 
Dessa forma, explicitada no discorrer desta introdução, a base em que se pautou a 
pesquisa, bem como após citada a necessidade de que o leitor inicie a leitura do 
desenvolvimento da obra admitindo a existência de princípios próprios que regem assuntos do 
Direito Agrário, que diferem dos princípios do Direito Civil, já é o momento de adentrar-se aos 
capítulos em si. 
 
 
 
 
 
 
 
2 Expressão utilizada como sinônimo da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. 
18 
1 PROPRIEDADE RURAL: SUA FORMAÇÃO FILOSÓFICA, HISTÓRICA E 
JURÍDICA LIGADA AO CUMPRIMENTO DE ALGUMA FUNÇÃO SOCIAL 
 
O confisco agrário, objeto de estudo do presente trabalho, é instituto, como se 
afirmou, novo no Direito Brasileiro. Na essência em que se o concebe hoje, foi trazido à 
existência pela Constituição Federal de 1988. 
O instituto criado tem a função de ser mais um instrumento na declarada opção 
estatal da luta contra o tráfico de drogas e a disseminação do uso de drogas, o que, na estratégia 
política que predomina, preocupam e ameaçam o futuro de nossa nação, conforme se analisará 
no capítulo posterior. 
Para que se possa compreender o surgimento de tão gravosa intervenção do Estado 
na propriedade privada é necessário primeiramente estudar os antecedentes fáticos e tomar 
leitura nas análises filosóficas e históricas do Homem, que precederam o surgimento do 
instituto. 
Também é necessário seter uma visão de como funcionou a intervenção do Estado 
na propriedade privada antes do advento do instituto confiscatório em análise. Para isso, se faz 
necessário uma passagem pelos momentos filosófico/histórico/jurídicos que marcam as fases 
de evolução de nosso Direito e da nossa sociedade organizada quanto a ligação com a terra. 
Essa é a função deste capítulo da obra. Fazer uma análise que funda filoso fia, 
história e direito, e que traga a estas páginas uma melhor compreensão do “solo3” em que pisava 
o constituinte, quando este optou em germinar o confisco analisado. É função deste capítulo 
demonstrar que “a função social da propriedade rural” possui base filosófica, histórica e 
jurídica, conforme vê-se na doutrina peculiar e mais expressiva/diferenciada da chamada função 
social da propriedade comum, exigida para outros tipos de propriedade. 
O leitor perceberá que a exposição filosófica que se apresentará não seguirá a ordem 
cronológica da vida dos filósofos, pois a intenção era aproximar-se mais da cronologia entre os 
objetos da análise: etapas da evolução do homem. 
Também, pode-se melhor entender a expressão “expropriação”, que é gênero que 
contém a espécie Confisco Agrário, aqui chamado de Confisco Agrário Ulyssiano. 
 
 
3 “Solo” em sentido de “ambiente histórico”, ou em sentido de “circunstâncias seculares”. 
19 
1.1 A evolução do homem e a concepção filosófica do direito de propriedade agrária ligada 
a alguma razão ou função 
 
O direito de propriedade, no passar dos séculos, assumiu diversas feições até chegar 
a sua novel compreensão, atrelada ao cumprimento de uma função social que o justifique. 
Dessa forma, desde os primórdios em que é possível se constatar a existência do 
Homem e da humanidade, a questão da propriedade se põe diante dos pensadores das regras 
sociais como das mais complexas questões a se justificar. Primeiramente, não se pode referir a 
ela como elemento pertencente somente ao campo do Direito, em função de que a expressão 
propriedade se aplica também a diversos outros campos do conhecimento, podendo ser citados 
aqui, por exemplo: a filosofia, a economia, a arte, as ciências políticas, a sociologia e tantas 
outras. 
A filosofia debate o momento de surgimento do homem na natureza e a 
complexidade dos fatores em que ele estava inserido. Nesse estudo, é possível perceber a 
questão do atrelamento do homem às coisas da natureza, bem como os argumentos sobre se é 
possível, ou não, encontrar raiz que justifique uma ligação personalíssima entre o Homem e 
qualquer dos bens encontráveis, nesse momento primitivo da formação da civilização humana. 
Lê-se na filosofia, geralmente associado ao nome de “teoria da evolução”. Tenta-se condensar 
e narrar as diversas etapas que foram se lançando à raça humana nos desdobramentos de sua 
evolução. 
O Estudo da evolução do Homem então traz as bases filosóficas da compreensão 
da existência e encaminhamento temporal das fases do Homem, bem como do surgimento e 
dimensão axiológica da noção de propriedade rural nessas etapas da chamada linha evolutiva. 
Filósofos, convenceram à destruição da ideia de criação de um Estado social divino, 
com bases justificativas divinas, ponderadas na fé, e passaram a discorrer e fundamentar sobre 
a criação do Estado social partindo da evolução natural do Homem, em seus aspectos naturais. 
Corolário de um raciocínio que se pretende científico ou demonstrável, e não baseado em fé. 
Na evolução do Homem que daí se sucedeu, primeiramente é reconhecido um 
momento inicial, que se convencionou chamar de Estado de Natureza, em que o homem se 
comporta na forma selvagem a que veio ao mundo. 
J.J. ROUSSEAU é reconhecido um expoente dessa compreensão filosófica, tendo 
editado obras famosas como o “Discurso sobre a origem da desigualdade” e o “Contrato 
Social”. Há, em sua escrita, a compreensão do amadurecimento da ideia de um homem que 
surgiu em um Estado Natural, passando aos poucos a se transformar no homem social. Nele, o 
20 
homem social, pelas diferenças físicas e depois morais, foi dando surgimento às desigualdades 
entre os homens (ROUSSEAU, 1973). 
Locke, também lança seus escritos reconhecendo a existência de um Estado de 
Natureza (2003, p. 24). Em sua escrita, redige o que concebe por Estado de Natureza. Expõe 
que era o momento em que os homens estavam em seu estado e origem, e não existia poder 
nenhum que pudesse fazer um se sobrepor sobre o outro. 
Assim, o que regularia as posses e as pessoas eram as leis da natureza. Nelas, as 
apreensões eram naturais e também seus usufrutos, sem que nenhum dos homens necessitasse 
dependerem ou subordinarem a nenhum outro homem. A natureza já tinha dado ao homem a 
solução de sua sobrevivência, independente e livre de qualquer interdependência para com os 
demais homens. 
Os únicos limites, nesse raciocínio, vinham das regras naturais. A existência de um 
deveria respeitar a existência do outro. O direito de usar e dispor livremente de sua posse não 
dava o direito de destruir o outro, já que todos tinham o direito de existir, por serem frutos de 
alguma lógica criadora, a que os homens se submetiam e que imperava a coexistência de todos, 
eram as ideias de Locke (2003, p.25). 
Nos textos de Locke, que temporalmente antecede Rousseau, se identifica um 
homem natural castigador. Para sobreviver sacrificava ao outro, como executor de uma lei da 
natureza da sobrevivência. Assim, era dada aos existentes, a possibilidade de aplicar a justiça 
como fator de sobrevivência. Noutra ótica, Rousseau prestigiava a ideia de um homem natural 
bom, que habitava a terra e tinha nos seus afazeres o desenvolvimento dos hábitos da 
sexualidade e da alimentação, como fatores da sua existência. 
John LOCKE, é interessante no que pretendemos apresentar. Ele dava a ideia do 
surgimento da propriedade baseada na associação da apreensão pelo trabalho. Assim, a 
propriedade se concebe em uma justificativa. A sua titularidade é fruto de algo, no caso o 
trabalho e a necessidade. Há passagem de sua obra que apresenta essa visão (2003, p. 35): 
Deus, que deu o mundo aos homens em comum, também lhes deu a razão para que o 
utilizassem para maior proveito da vida e da própria conveniência. Concedeu -se a 
terra e tudo quanto ela contém ao homem para sustento e conforto da existên cia. E, 
embora todos os frutos que ela produz naturalmente e todos os animais que alimenta 
pertençam à Humanidade em comum, conforme produzidos pela mão espontânea da 
natureza; contudo, destinando-se ao uso dos homens, deve haver necessariamente 
meio de apropriá-los de certa maneira antes de serem utilizados ou de se tornarem de 
qualquer modo benéficos a qualquer indivíduo em particular. O fruto ou a caça que 
alimenta o índio selvagem, que não conhece divisas e ainda é possuidor em comum, 
deve ser dele e de tal maneira dele, isto é, parte dele, que qualquer outro não possa 
mais alegar qualquer direito àqueles alimentos, antes que lhe tragam qualquer 
benefício para sustentar lhe a vida. 
21 
Em outro momento, que interessa para o objeto deste estudo relativo ao imóvel 
rural, Locke também justifica a existência até da propriedade da terra. E o faz com base no 
cultivo do imóvel rural, no desempenho do trabalho sobre a terra (2003, p. 43): “A extensão de 
terra que um homem lavra, planta, melhora, cultiva, cujos produtos usa, constitui a sua 
propriedade. Pelo trabalho, por assim dizer, separa-a do comum. E prossegue, em continuação, 
fazendo abordagem divina de justificação: “Deus, ao dar o mundo em comum a todos os 
homens, ordenou-lhes também que trabalhassem; e a penúria da condição humana o exigia”. 
Assim, percebe-se a gênese filosófica de que a propriedade estava atrelada a alguma função 
social, sendo Locke um referencial teórico dessa constatação. 
A razão divina imposta por Deus, nesses pensamentos,ordenava a que os homens 
dominassem a terra. Dominar a terra era torna-la útil ao desenvolvimento da sobrevivênc ia 
humana, melhorá- la para as necessidades da vida, e nela lançar a sua força de trabalho. Os 
homens que seguissem esse mandamento natural divino geravam um vínculo legítimo com a 
terra (lavrando-a e semeando-a), que justificava sua exclusividade naquela porção de terra. 
Dessa forma, o uso, ou individualização da terra em um titular, se justificava 
filosoficamente em seu pensamento no desempenho do trabalho sobre a terra. Como se fosse 
uma lógica que derivava da natureza. De alguma regra posta pelo mundo natural, tal qual entre 
os animais não civilizados. 
Assim, a legitimação da propriedade encontra em Locke um de seus principa is 
expoentes, uma vez que ele elabora uma teoria de justificação da apropriação de parcela da 
natureza pensada nas necessidades de limitar o acesso à terra e convertê-la em fonte de matéria 
prima para evolução nascente. Locke diz que a propriedade original do homem é ele próprio e 
o trabalho que seu corpo é capaz de produzir. Fala que essa propriedade original se junta ao que 
esse trabalho transforma e extrai da natureza, passando a ser sua propriedade e excluindo, 
portanto, qualquer outra pessoa de direito sobre a mesma propriedade. Esse fato cria a obrigação 
de impedir que a coisa se deteriore (2003). 
No caso da propriedade rural, a apreensão pressupõe que nela se trabalhe e que esse 
trabalho se dê na porção de terra que se consiga explorar. Deus deu a terra aos homens e aos 
animais e o obrigou a nela se trabalhar. Ao trabalhar a terra e ela cultivar, o trabalho, a melhora, 
ao melhorá- la adquire-se o direito de propriedade sobre a terra que este Homem melhorou. As 
terras foram propiciadas por Deus aos que são capazes de produzir. Estes concordaram 
antecipadamente e simbolicamente com a desigual distribuição dessas terras por serem escassas 
e limitadas. É como se existisse uma função na apropriação da terra, pois ao se produzir na terra 
se ajuda toda a comunidade (2003). 
22 
Jean Jacques ROUSSEAU (1973), de forma polêmica, ou talvez romantizada, em 
texto consagrado nos tempos, também fala da origem do surgimento da propriedade da terra, 
ligando-o ao surgimento de uma sociedade civil. É uma confirmação do referencial teórico de 
que a propriedade rural desvinculada de uma função social acaba sendo um mal aos Homens: 
 
O primeiro que, tendo cercado um terreno, se lembrou de dizer: Isto é meu, e 
encontrou pessoas bastantes simples para o acreditar, foi o verdadeiro fundador da 
sociedade civil. Quantos crimes, guerras, assassínios, misérias e horrores não teria 
poupado ao gênero humano aquele que, arrancando as estacas ou tapando os buracos, 
tivesse gritado aos seus semelhantes: ‘Livrai-nos de escutar esse impostor; estareis 
perdidos se esquecerdes que os frutos são de todos, e a terra de ninguém!’ Parece, 
porém, que as coisas já tinham chegado ao ponto de não mais poder ficar como 
estavam: porque essa ideia de propriedade, dependendo muito de ideias anteriores que 
só puderam nascer sucessivamente, não se formou de repente no espírito humano: foi 
preciso fazer muitos progressos, adquirir muito indústria e luzes, transmiti-las e 
aumenta-las de idade em idade, antes de chegar a esse último termo do Estado de 
Natureza. Retomemos, pois, as coisas de mais alto, e tratemos de reunir, sob um só 
ponto-de-vista, esta lenta sucessão de acontecimentos e de conhecimentos na sua 
ordem mais natural. 
 
Já pensando diferente, KANT (apud PASCAL, 1999) não associa a conquista da 
propriedade ao trabalho em si. Chega a dizer, ao recusar a tradicional justificação, que o uso é 
apenas um acidente da substância. Esse argumento para Kant pode ser inválido, pois argumenta 
ser possível se tornar proprietário sem trabalhar. A propriedade surgiria do respeito dos demais 
às conquistas de determinadas pessoas. É um contraponto às ideias lançadas pelos pensadores 
que visualizaram a conquista da propriedade sobre a terra unicamente razoável diante do 
trabalho nela desenvolvido. Nega a ligação direta intrínseca e supostamente necessária, como 
antes pensado. 
 Em A República, o filósofo PLATÃO4 (2003) também debate sobre a propriedade 
e as preocupações da corrupção política que dela poderia advim. Platão assim lança suas 
preocupações sobre o tema propriedade, registrando-a ser uma fonte de sofrimento. Sustentava, 
que a única maneira de remediar os seus efeitos seria fazer com que os poderosos não 
possuíssem propriedades e os proprietários não possuíssem poder (2003, p. 28). Platão se 
caracterizava por possuir um pensamento forte sobre o tema que lhe fazia não ser agradável a 
qualquer das classes sociais. Já que não era interessante aos ricos perderem suas propriedades 
e, de outro, lado, às classes dominadas, ele defendia que estas deviam se submeter ao poder 
 
4 Platão é personagem marcante da História da filosofia do pensamento mundial. É componente de uma sequência 
de filósofos gregos iniciada por Sócrates, sucedida por Platão e sucedida finalmente por Aristóteles, cujos estudos 
possuem uma sequência de aprofundamentos e reflexões ainda presentes e respeitados. 
23 
absoluto de seus superiores. A fonte do poder não estaria na propriedade, mas na razão superior 
do pensamento. 
Aqui, a própria função da propriedade é indiretamente pensada. Pois, a propriedade 
não deveria, então, nessa linha de pensamento, servir como fonte de mais poder. Ou, ser 
utilizada como algo disponível a servir à dominação de classes. A propriedade acaba, nesse 
raciocínio, sendo percebida como a servir a alguma função outra que não à especulação de 
interesses tal qual ela serviria se fosse bem absoluto e apropriável indistintamente. 
A contribuição de ARISTÓTELES (2003), referente ao debate sobre o impacto da 
propriedade sobre a política atinge sua maior reflexão quando cita as causas do colapso da vida 
civil, apontando a propriedade como um dos fatores desse colapso. A má distribuição da 
propriedade seria fator de desequilíbrio social demonstrado nas guerras gregas por exemplo. 
Verificou que os cenários da guerra civil que devastaram as cidades gregas eram antagônicos. 
Os ricos tentavam usar dessa condição para atingir o poder políticos e fazerem força frente aos 
pobres. Já os pobres tentavam transformar seus direitos políticos em acesso às riquezas. 
 Aristóteles não simplifica as coisas ao ponto de dizer que a riqueza é a causa direta 
da guerra civil. Não se pode tê-lo como um determinista. Para ele, não é apenas a riqueza a 
causa direta da guerra civil, mas as diferentes conclusões internas sobre a justiça social que 
originam povos com grandes diferenças sociais de riquezas entre suas classes sociais. É como 
se as classes menos favorecidas compreendessem que por terem idêntico poder político 
deveriam ter também a mesma condição social e de riquezas. Sendo que, noutro giro, os mais 
abastados pensassem que o justo seria que devessem ter mais poder político, em razão de 
possuírem mais riquezas. 
 Suas contribuições são ainda válidas, e gérmen de debates por filósofos e 
pensadores de diferentes tempos, como se vê nessa passagem (RYAN, 1988, p. 38): “O remédio 
de Aristóteles, o qual tem sido muito admirado pelos sociólogos que dele tiveram conhecimento 
desde então, era uma distribuição da riqueza que afastaria a tentação sentida por ricos e pobres. 
Essa distribuição era o que no século XX se chama ‘distribuição em losango”. 
Essa fórmula sugerida por Aristóteles tende a ser um espectro de justiça econômica 
social visada para a coexistência pacífica das pessoas. Essa conclusão também se vê quando 
Ryan explica a fórmula do losango (1988, p.39): 
 
Se existem algumas pessoas ricas confrontadas com a massa de pessoas muito pobres, 
o contraste entre ricos e pobresé muito evidente e irritante para os pobres; e os ricos 
são demasiados poucos para terem alguma probabilidade de se defenderem de 
qualquer ataque intencional vindo de baixo. Se, por outro lado, a maioria possuir mais 
24 
ou menos a quantidade média de riqueza, as coisas serão bem diferentes. A ideia 
intuitiva é bastante simples. 
Para MAQUIAVEL (2003), autor de “O príncipe”, a propriedade da terra seria fonte 
de atingimento de poder, já que deveria ser utilizada para premiar os louros da guerra. Seja para 
se premiar os soldados nas vitórias ou para se atrair os mercenários para seus exércitos, como 
fizeram os Romanos. Aprofunda um pensamento de Aristóteles de que poderia ser necessário 
proceder mal com os membros de outros Estados para salvaguarda do próprio Estado. 
Dessa forma, em passagem de sua obra que prescinde de citação, dado ao 
conhecimento universal dessa passagem, também está presente a ele uma função na 
propriedade5. Não é algo imotivado o adquirir da terra nesse pensamento. Mas algo conquistado 
como fruto do trabalho. Inclusive, trabalho exercido sobre a própria propriedade, visualizando-
se a guerra como o exercício de um trabalho, já que as terras a se premiar são as novas atingidas 
no esforço de guerra que se dava sobre a terra. É como a terra servindo ao interesse de 
sobrevivência da comunidade local. 
A partir do século XVIII ganha força a corrente do Liberalismo, afirmando-se na 
Europa e até na América do Norte. Essa corrente combate o intervencionismo do Estado em 
todos domínios da vida humana. Defende a propriedade e a iniciativa privada, e defende que o 
mercado fará a regulação econômica. Defende um Estado político mínimo também. 
Há no pensamento liberal uma enorme diversidade de ideias6, que evoluíram de 
acordo com as próprias sociedades. Há um pensamento de fundo em Locke, aprofundado nesses 
pensadores, que é o de existirem direitos individuais que precedem à sociedade. 
Entre nomes do pensamento liberal (LIMA, 2014) encontra-se Adam Smith, que 
escreveu que o papel do Estado na economia devia ser reduzido, sendo esta confiada a auto 
regulação do mercado. O Estado deve facilitar a produção privada, a manter a ordem pública 
para que se possa proteger a propriedade privada. 
 
5 Essas idéias levaram a Maquiavel ser dos pensadores mais lembrados e ao mesmo tempo mais polêmicos dos 
tempos. Em sua leitura empolgante, ele incita os homens à ambição e ficou celebrizado com a expressão de que 
“os fins justificam os meios”. 
6 O discurso Liberal é estudado em diversas obras, seja em primeira pessoa, seja de estudiosos que passaram a 
analisar equidistantes as obras desses pensadores. É que, como os cernes das idéias liberais ainda hoje operam em 
grande parte do mundo, esses conceitos e as visões dos grandes pensadores são cotidianamente repensadas 
criticamente. Jorge Cernev, em “Do Liberalismo ao Neoliberalismo: quanta diferença”’ (2014), faz uma análise 
citando criticamente a sucessão dessas épocas e momentos do liberalismo clássico, pontuando -o em três 
momentos: “1- Liberalismo teológico; 2- Liberalismo político e 3- Liberalismo econômico. O Liberalis mo 
teológico seria o da liberdade de crença, o que era uma ruptura com as tradicionais idéias da Idade Média. Era a 
liberdade de pensamento. O liberalismo político confunde-se com a conquista das liberdades individuais perante 
o Estado. É o reconhecimento de direitos fundamentais e que o estado está em órbita paralela com o cidadão. Por 
fim, o liberalismo econômico é a ampla liberdade de produzir e atuar na economia, dada aos cidadãos, deixando o 
Estado como não participante dessa relação, e com regulação mínima”. 
25 
Essas ideias eram exemplificadas na Revolução Inglesa, Revolução Americana e 
na Revolução Francesa a que esses pensadores ora se influenciaram, ora se as utilizaram como 
referendo. O liberalismo dominou a política europeia e dos EUA nos séculos XIX e XX, nem 
sempre conseguindo fidelidade ao seu combate contra o intervencionismo estatal. Os liberais já 
foram escancarados defensores da propriedade privada, inclusive da terra, das economias de 
mercado e da liberdade de comércio. Seria a redução do Estado à sua função mínima. O 
Liberalismo acabou, assim, andando lado a lado com o Imperialismo. Nessa lógica, os mais 
fortes prevalecem sobre os mais fracos, na forma de um Darwinismo Social, como se operasse 
uma seleção natural. 
A história registra (OLIVEIRA, 1989) esses pensamentos como responsáveis por 
conduzir as sociedades liberais para as grandes guerras. As duas guerras Mundiais e a crise de 
1929 abalam o sistema teórico clássico do Liberalismo e fazem necessário surgir a ideia de um 
Estado providência, como também fazem surgir regimes totalitários, ambos com o argumento 
da visão de defesa dos interesses coletivos. 
O grande desafio que se tornou enfrentar o sedutor discurso socialista, somado à 
percepção dos problemas gerados à humanidade por um liberalismo clássico nos últimos 
tempos, fez com que no final do século XX surgisse forte o Neoliberalismo, como se verá, após 
a análise do momento socialista e as ideias que se destacaram neste momento. 
Há a corrente socialista que lança uma análise sobre o modelo burguês de 
apropriação da propriedade da terra. É uma teoria crítica e que busca constatar o que seria o 
desserviço humanitário de um modelo capitalista que seria explorador e gerador da miséria do 
proletário. É a refutação do modelo liberal clássico, lançando argumentos em via inversa. Difere 
do Neoliberalismo, que se verá a frente. Este modelo busca refutar apenas parcela do modelo 
liberal clássico, andando, entretanto, em paralelo com este na essência de sua inspiração. 
Um nome significativo da corrente socialista, MARX, marca sua passagem na 
história a partir de um pensamento não somente contemplador da realidade, mas que visa a 
transformação da realidade. Há pensadores que afirmam que Karl Marx é um divisor de águas 
até para a filosofia, por achar um novo papel para essa ciência: “Essa ruptura tanto com o 
idealismo tradicional quanto com o materialismo apenas contemplativo consiste num dos 
maiores diferenciais do pensamento marxista, e é certamente um pensamento vivo e 
fundamental até os dias atuais” (MASCARO, 2008, p. 98). O mesmo crítico demonstra o 
rompimento que essas ideias de Marx significam na tradição filosófica: “Assim, o pensamento 
Marxista desloca-se totalmente da tradição filosófica até então. Não é mais um conhecimento 
26 
especulativo, meramente contemplativo. Trata-se, pois, de um pensamento para a 
transformação” (p. 99-100). 
Nesse ponto, Marx atrela, necessariamente, a filosofia a uma postura 
revolucionária. Essa proposta se choca frontalmente com a tradição filosófica de seu tempo, em 
especial a alemã. O subjetivismo, próprio do pensamento moderno, está definitivamente 
sepultado pela crítica marxista. Não se trata mais de conhecer o mundo com base no homem 
em si, ou em sua essência, ou em sua natureza, ou em seus atributos fundamentais. Na verdade, 
o homem somente o é enquanto se perfaz nas próprias relações sociais, de trabalho. 
Marx é expoente desse debate socialista, pensador das relações entre os homens, e 
busca em suas reflexões compreender o desenvolvimento da apropriação privada capitalista e 
apontar de que forma ela se relaciona a esse modo de produção, sendo uma de suas 
determinações fundamentais. Aponta também os vícios que esse modelo trouxe à humanidade. 
Para Marx, o modelo capitalista tem sua fonte de produção de valor na extração de 
trabalho não pago dos trabalhadores. A isso, ele convencionou chamar de mais-valia. Nesse 
contexto, o trabalhador não possui nenhuma relação de submissão original, e é potencialmente 
livre. Não possui ligação direta com a terra e nem com os meios de produção. O Modelo já 
nasce com vício antecedente de injustiçavisto que o modelo pressupôs, ao surgir, uma 
acumulação primitiva de capital, que se coloca no modelo burguês a girar na lógica capitalis ta, 
e a crescer. Marx narra a conquista do estabelecimento da acumulação primitiva, como fruto de 
uma estratégia da burguesia nascente, que teria conseguido esse objetivo com práticas como o 
estabelecimento de preço para as terras e a extinção de terras comuns, com a obrigação de leis 
que obrigavam ao trabalho, tendo salários que não permitiam a acumulação, e com os 
obstáculos de acesso à terra. Assim, criou-se uma classe de Homens livres e sem posses frágeis 
a serem absorvidos pela indústria capitalista (MARX, 1989). 
A saída do povo do campo faz gerar grandes latifúndios. Esses se associam a um 
capitalista, que gira seu capital por meio da utilização de operários na terra, pagando ao 
proprietário a utilização da terra, e constituindo para este uma renda. Assim, nesse modelo, a 
propriedade da terra em si não é o maior fator determinante de sua exploração. E sim, o capital. 
A propriedade da terra nesse contexto deixa de ser intrinsicamente ligada a sua exploração e 
vira instrumento de renda independente, sem correlação com o trabalho na terra lançado (1989, 
p. 860). 
Dessa forma, a exploração da agricultura passa a ser irradiada pelos princípios do 
modo de produção capitalista, e não consegue ser explicada sem se considerar sua vinculação 
a este sistema econômico peculiar. Sua exploração só se explica conhecendo-se as bases do 
27 
modelo capitalista. A natureza jurídica da propriedade, de autônomo título do solo, existente 
apenas no sistema capitalista, permite ao proprietário gerir a terra de maneira semelhante ao 
que lida com as demais mercadorias. 
 O capitalismo separa o solo da propriedade jurídica fundiária e do titular da terra. 
Para este, a terra representa apenas uma renda em dinheiro. Utilizando-se de seu monopólio do 
Direito naquele espaço, ele arrecada dos capitalistas que investem sobre a terra. A propriedade 
fundiária recebe sua forma puramente de um valor econômico, em sentido não antes registrado 
na história da civilização, e leva à racionalização empreendedora da agricultura, convergindo 
esses fatores para o empobrecimento do trabalhador (2005, p. 124). 
O estudo de sua teoria nos faz ver que Marx buscou realizar uma análise das 
especificidades da propriedade da terra sob o sistema de produção capitalista, lançando seus 
pensamentos em bases que são, ou almejaram ser, científicas. 
Marx afirma que o capital é o criador da propriedade da terra na acepção tida como 
moderna. Daí surge a ideia de renda da terra, própria ao capitalismo, como consectário lógico 
do modelo. A propriedade territorial privada é reconhecida como requisito e produto do modo 
de produção capitalista. O que caracteriza essa forma tida como moderna de propriedade, algo 
na história nunca antes existente, é a completa dissolução da forma como se relacionam o 
proprietário de terras e a terra. Isso significa que o proprietário de terras, aufere um valor, pela 
só propriedade, para conferir ao capital todos os direitos à utilização da terra como instrumento 
e condição de produção. 
 O proprietário de terras, nesse modelo, pode ter papel inerte ao trabalho 
desenvolvido na terra, bem como ser o proprietário e ao mesmo tempo ser indiferente e não 
estar coligado à acumulação que se está advindo da exploração de sua própria terra (2005). Essa 
extensa crítica lançada por Marx o torna um referencial na constatação da defesa de que a 
propriedade rural deve sim estar atrelada a uma função mais nobre, a uma função social. 
 Um dos pontos que Marx desenvolve, em certos momentos quando fala da 
agricultura ligada ao capitalismo, é uma crítica ecológica e radical das catástrofes resultantes 
do produtivismo capitalista. Está aí, um ponto lançado por ele, de um prejuízo social da 
propriedade vista tão só como mercadoria. 
 Outro autor, LOWY (2005, p. 49-52), ao escrever sobre a preocupação ecológica 
da exploração capitalista da propriedade privada, demonstra riscos sociais desse modo de 
produção baseado na acumulação ilimitada do lucro. Cita a preocupação do esgotamento dos 
recursos, da exploração não sustentável do meio ambiente, do consumo atentatório e não 
racionalmente calculado. Demonstra a preocupação de uma crise ecológica maior se essa lógica 
28 
capitalista expandir-se para a exploração da terra em todo o mundo. Partindo disso, explica que 
a lógica capitalista acaba tendo a necessidade de gerar uma desigualdade entre os países 
desenvolvidos com os demais países. Aqueles explorando mais e não permitindo uma 
exploração na mesma escala dos demais países, sob pena de se inviabilizar a natureza, e, como 
consequência derivada, findar o modelo capitalista com o próprio fim da existência humana. 
A preservação do meio ambiente é, portanto, uma necessidade cogente humanista. 
Entretanto, é de se fazer um contraponto. Nas sociedades socialistas que viveram no Mundo, o 
Homem assistiu a algumas catástrofes ambientais vindas no mundo socialista (p. ex. 
Chernobyl). Segundo reflexões razoáveis, a burocratização da atuação de um Estado 100% 
estatizado, e a ausência de tecnologia e interesse em sucesso/lucro, bem como a hierarquização 
total das decisões, podem ser alguns fatores que levaram a que grandes empreendimentos 
carecessem de estudos técnicos e logísticas suficientes, vindo a decorrer em catástrofes. 
Voltando, a crítica socialista aponta que o pressuposto necessário da propriedade 
no liberalismo capitalista é a exclusão da maior parte dos Homens do acesso à terra, enquanto 
instrumento de trabalho e de sustento a si e da própria família. A esses homens sem posse, e 
sem terras, não sobra outra alternativa senão o caminho da submissão proletária ao capital e aos 
seus vícios. É a crítica dos socialistas como Marx à propriedade privada tida como mercadoria 
e dissociada de uma função social. 
Já, em outra ótica, os pensadores que marcaram a corrente tida como 
“neoliberalismo”, possuem na propriedade privada também uma de suas bases de sustentação. 
Demonstram que a democracia liberal só acaba florescendo em países com economia 
capitalista. Seria ela geradora da liberdade e independência do Homem. Mesmo que tenham 
ocorrido tiranias de diversos estilos em países de economia com propriedades privadas, a 
verdade é que os neoliberais sustentam que nos tempos atuais só em países com economia 
capitalista se é possível pensar em uma democracia aberta e constitucionalmente respeitadora 
da liberdade do povo. A propriedade privada chega a ser um poder frente à tirania do Estado 
(RYAN, 1988, p. 63). O Estado deixa de ser o único titular de todos os elementos das relações 
jurídicas e o indivíduo na sua liberdade passa a poder se opor ou enfrentar o Estado. O Estado 
então é titular de direitos de forma horizontal diante dos demais membros da comunidade. 
A propriedade assume também, na evolução da sociedade, papel essencial, dado 
que se não existisse a propriedade privada o avanço tecnológico social teria sido bem restrito , 
já que se as matérias primas pertencessem a todos, não haveria lógica em que alguém tivesse 
motivos para agrega-la de valor e de tecnologia (1988, p. 88). 
29 
Acabam, as propriedades, sendo também consectários da liberdade do homem e 
meio de exercitação de sua própria personalidade, que deve ser livre e não delimitada pelo 
Estado. Admite-se a regulação necessária para o respeito e coexistência pacífica de todos, os 
limites ao exercício dos direitos, mas não a delimitação incapacitante do exercício da vida 
privada e encaixotadora do homem. 
Diverge-se de um Liberalismo clássico pois não se vê esses direitos à propriedade 
de forma absoluta. Deve-se prestigiar as liberdades, deve-se prestigiar a apropriação, situação 
em que o Homem está em paralelo com o Estado, mas há que se possuir regulamentações de 
interessecoletivo e de igualdade de oportunidades. A propriedade deve existir, mas se tem que 
ela precisa cunhar um fim social, ou estar a servir à sociedade, objetivo maior da finalidade da 
União dos Homens em nações. É fruto de um pós-guerra mundial que reconhece que o 
individualismo exacerbado conduz a atrocidades. É um avanço social do liberalismo 
tradicional. Essa concepção neoliberal se vê abraçada, no mundo jurídico, no surgimento e 
reconhecimento das várias etapas ou gerações de Direitos Fundamentais Humanos7. 
Em sua visão, ENGELS (2002), em relação ao falado direito de propriedade tendo-
o como um direito natural, acentua um aspecto socioeconômico, a relação indissociável entre a 
concepção de lar, de união entre as pessoas, e o surgimento da então propriedade, que passou 
do caráter público e coletivista, do privado e individualista para a individualização do homem 
e da família. 
Engels (2002, p. 83) descreve em seus escritos, que entre os povos do lado oriental 
do mundo, muito notável entre os persas, a propriedade territorial era familiar e tribal. Essa 
propriedade teria vindo a individualizar-se entre os gregos e os romanos. Os eslavos e 
 
7 O surgimento da discussão e do avanço do reconhecimento dos Direitos Humanos é um efeito das guerras 
mundiais ocorridas no séxulo XX. Viu-se a necessidade de internacionalizar e de aprodundar o reconhecimento de 
direitos humanos diante das atrocidades que se viram. A dignidade do ser humano fez com que o homem, após 
sofrer com as tragédias, reconhecer uma nova profundidade na proteção de direitos qu e seriam inerentes à própria 
existência humana. Assim, foram sendo reconhecidos novos direitos fundamentais. A isso convencionou-se 
chamar de tipos de Direitos Fundamentais ou Gerações de Direitos Fundamentais. Esta última expressão possui 
uma deficiência que remonta à própria teoria dos Direitos Humanos. É que estes são vistos como direitos naturais 
que já nasceram com os homens, são inerentes à raça humana civilizada. E, portanto, não foram surgindo aos 
poucos, ou também, não se pode dizer que gradualmente foram se gerando novos direitos. O professor Cançado 
Trindade (TRINDADE, 2003), reconhecido em âmbito internacional ao falar sobre o tema, explica a contradição. 
Entretanto, o que é importante, é que o leitor compreenda essa natureza jurídica de todos os Direitos Humanos e 
não se deixe confundir com a nomenclatura relativa às gerações. A doutrina cita as gerações de Direitos Humanos. 
A primeira seria aqueles direitos negativos do Homem perante o Estado, em que este deveria respeitar os direitos 
individuais, naturais resultantes do pensamento iluminista de que o Estado deve respeitar o cidadão. Aí estão a 
liberdade, a propriedade, por exemplo. A segunda geração são os direitos coletivos ou sociais, influenciados pelo 
socialismo, em que o Estado deve prestar algumas prestações positivas aos membros da comunidade, como, por 
exemplo prover a legislação trabalhista, ou a previdência social. A terceira geração são os direitos relativos à 
dignidade da pessoa humana, preocupação latente após as atrocidades ocorridas durante as guerras mundiais e a 
percepção da existência da xenofobia entre raças e do preconceito racial dilacerador. A quarta geração são o 
biodireito, direitos relativos à comunicação, relativo à genética, que se encontram difusos na sociedade. 
30 
germânicos conheceram em seus povos a propriedade comum, que acabaram abandonando pela 
influência do cristianismo. 
Por consequência, a propriedade acaba adquirindo um novo significado, 
fundamentado em uma família monogâmica, que também serviu como base histórica e 
filosófica para a regulação do direito individual de apropriar-se da terra e das formas de 
produção, que juntamente com o capital e a divisão do trabalho, formam os elementos da 
economia capitalista e do direito privado. A sua utilização para o sustento da família, e o 
escambo do excedente como forma de suprir as demais necessidades básicas. O sustento da 
família é notadamente uma função social na propriedade, já que a família é tida a célula mater 
da sociedade. 
Já, em filosofia dirigida à nossa realidade, o pensamento conhecido como filoso fia 
libertadora para a américa latina, também debate a propriedade privada, que é tida para essa 
corrente como produto da dominação lançada por uma história eurocêntrica impregnada ao 
mundo, que foi fazendo valer seus ideais e objetivos. 
Há pensamentos filosóficos nesse sentido (DUSSEL, 2007), a debater a necessidade 
de libertação do Homem, que por motivos históricos, muitos tiveram a negação de suas 
dignidades operadas pelos fatores de poder que no tempo predominaram. 
A dominação Ameríndia levada a efeito pelo centro europeu (Portugal, Espanha, 
Inglaterra, França) com o descobrimento dos caminhos marítimos no oceano atlântico, levou a 
que a história se evoluísse preponderando fatores de poder, que levaram à negação dos direitos 
de diversos povos. Seja durante a colonização, seja após, pelo legado dos institutos jurídicos e 
políticos deixados. Assim, ainda é necessário um processo de libertação dos Homens que foram 
colocados em situação de negação de seus direitos. As propriedades rurais hoje existentes 
seriam decorrência desses fatores de poder que ocorreram. Há uma proposta de Dussel, após 
percepção das forças de transformação em curso em nosso continente, em que se sustenta a 
ideia do reconhecimento de uma concepção material de direito baseada na ideia de dignidade 
do Homem. A dignidade é algo a se lutar e conquistar. De se construir em etapas, é gradual o 
processo de afirmação da dignidade (2007b, p. 137). 
 Algo, nessa linha, vale enquanto é uma mediação prática para a produção, 
reprodução ou desenvolvimento dos Homens, em último termo de toda a humanidade que 
evolui no tempo. O sujeito humano que vive tem reconhecido a dignidade, o que funda todos 
os demais valores, mesmo aqueles éticos, e bem como todos os direitos. Há direito à 
sobrevivência, podemos dizer também que há como que direito à permanência em vida, sendo 
31 
diferente do direito à vida somente. O fundamento não seria o direito, mas seria o fundamento 
dos direitos (2007b, p. 142-143). Há, assim, o direito a atingir a terra. 
Nesse raciocínio é preciso situar a América Latina, nosso palco de análise, ao menos 
nos planos cronológico, histórico e filosófico, para então estabelecer os fundamentos de uma 
crítica à realidade latino-americana que fundamenta a necessidade de uma nova compreensão 
dos Direitos nesse microcosmo, equidistando-o da realidade posta na parte eurocêntrica do 
mundo. Daí, fundamentar-se-ão novas visões que podem anteceder como premissa, o debate 
sobre o reconhecimento e a extensão do direito à propriedade da terra, por exemplo. O debate 
parte da análise de América Latina inserida e vista na sua gênese atual, que se convenciona 
chamar de modernidade. Modernidade é algo visto como nova cultura de centro, vinda do 
“centro do mundo”. 
Essa ideia de centro só pôde ser aceita a partir, claro, do descobrimento do que seria 
a “periferia”. Centro e periferia, na romantizada história eurocêntrica, só podem ser afirmadas 
a partir do momento em que os continentes americano, centro-sul africano e Índico passaram a 
serem anexados ao mundo central. A partir daí, dessa anexação, cria-se, e passa-se a querer 
convencer, da existência de um mundo dimensionado em centro e periferia. 
Assim, DUSSEL considera que a chamada modernidade é uma cultura de centro, 
do centro de um sistema-mundo (o primeiro sistema-mundo efetivamente do ponto de vista 
mundial), que ocorreu historicamente pela incorporação da Ameríndia ao horizonte geográfico 
africano-asiático-europeu. A modernidade, portanto, é o resultado da gestão dessa centralidade : 
 
Então a modernidade seria, para este paradigma mundial, um fenômeno próprio do

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