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COMUNICAÇÃO E CULTURA ORGANIZACIONAL 
FATORES DECISIVOS PARA A EVOLUÇÃO E A PERMANÊNCIA 
José Vecchi de Carvalho 
 
 A comunicação sempre foi praticada entre os homens, mas só mais recentemente, em meados do 
século XX, passou a ser estudada como elemento essencial na vida das pessoas e como campo acadêmico 
distinto. A comunicação empresarial é ainda mais recente, se vista como objeto de estudo e como 
componente especializado dentro das organizações. Porém, sem nos enveredar por caminhos de teorias e 
definições, faremos incursões por fatos reconhecidos pela ciência e por boa parte da sociedade para 
fundamentarmos nossos argumentos, embora, talvez, nem haja tanta necessidade, se hodiernamente são 
anuídos, mesmo que tacitamente, o valor e o reconhecimento da comunicação e da cultura organizacional, 
como fatores decisivos para o sucesso das organizações. 
 Se atentarmos para alguns fatos ocorridos no período da grande era do gelo, poderemos nos 
deparar com situações que nos auxiliarão no nosso propósito: houve um tempo em que a inteligência 
humana era atribuída tão-somente ao tamanho do crânio. Essa tese já foi refutada, mas de qualquer forma 
e, exclusivamente para esse caso, vale lembrá-la. O homem de Neanderthal possuía o volume do crânio 
maior do que o do homo-sapiens. No entanto, o homo-sapiens sobreviveu a todos os grupos que cruzaram 
o seu caminho, provavelmente, dizimando-os. O neanderthal tinha o cérebro mais desenvolvido, de fato, 
mas não possuía outras habilidades imprescindíveis para a sobrevivência do grupo, sua língua não lhe 
proporcionava uma boa comunicação, por isso, não conseguia se organizar para o combate e para a defesa, 
de maneira a se perpetuar. Já os homo-sapiens possuíam maior capacidade de comunicação, de se 
organizar e se tornavam, assim, mais inteligentes, articulados e mais fortes, ou seja, a comunicação 
propiciava a convergência, a participação, a união do grupo. 
Ainda nesse período, os grupos que já eram nômades passaram a se deslocar ainda mais, fugindo 
das regiões mais frias à procura de abrigo e alimentos. Membros de tribos diferentes, mas de mesma etnia, 
se encontravam e, muitas vezes, trocavam utensílios, ferramentas e outros objetos. Se atentarmos para 
esse comportamento, perceberemos que vários objetos tinham pouco ou nenhum valor para quem os 
recebia, mas o valor estava no gesto que, em vez de hostilidade, representava a vontade de aproximação e 
de convívio. Era uma comunicação implícita no comportamento e, se aprofundarmos um pouco, 
notaremos uma perfeita comunicação, como a que deveria ser implementada dentro das organizações: o 
diálogo e a vontade de tornar comum os objetivos de grupos diferentes. Eram culturas com diferenças. 
Mesmo que as tribos fossem todas homo-sapiens, havia diferenças sobre vários aspectos, como os 
climáticos, de vegetação e do ecossistema como um todo, e diferenças de crenças e valores. Mas, certo é 
que havia, por experiências, comportamentos aceitos pelos membros de cada grupo que, juntamente com 
as armas, com as ferramentas e com os utensílios formavam a cultura que ia passando de grupo para 
grupo, de geração para geração. 
 O que isso tem a ver com a comunicação empresarial? As tribos a que nos referimos anteriormente 
eram organizações e, mesmo que primitivas, eram organizações que, por intermédio de suas culturas e do 
processo contínuo de comunicação, foram naturalmente assimilando os progressos, as transformações, 
deixando legados e se perpetuando como espécie. As empresas são organismos vivos, compostas e 
movimentadas por pessoas vindas, muitas vezes, de regiões diferentes. Cada indivíduo membro da 
organização tem, naturalmente, ligações familiares, frequenta clubes ou associações, possui crenças e 
valores, medos e expectativas. Tais componentes da cultura podem ser diferentes em cada indivíduo e em 
cada grupo, e estão permeados nas organizações. Além disso, as organizações possuem normas, métodos 
de produção que devem ser assimilados pelos colaboradores. Isso remete para uma troca de saberes, um 
bom relacionamento entre todos os integrantes da organização. Não se pode esquecer que cada 
organização foi criada para se estabelecer de fato, para durar e para gerar riqueza. E a forma de se 
relacionar interna e externamente faz a diferença. 
Sendo assim, toda organização utiliza processos de comunicação. O que é necessário saber, é que 
umas utilizam processos de comunicação mais intensos e mais eficazes, enquanto outras utilizam 
processos mais brandos e menos eficazes. No plano interno, como exemplo, apenas informar aos 
funcionários as normas e os acontecimentos, é praticar uma comunicação míope, branda, ineficaz. Nesse 
modelo não há diálogo nem participação, o que há são decisões numa esfera mais alta da hierarquia que 
são passadas para os demais membros da organização. Da mesma forma, no plano externo, apenas 
anunciar seus valores e produtos não basta; é imperioso perscrutar a opinião pública, a concorrência, as 
legislações inerentes e analisar as tendências, inclusive, para poder interferir nas mesmas. Sem isso, as 
organizações não estão praticando o que os nossos ancestrais praticaram, as atitudes e os gestos que 
representam vontade de aproximação e de convívio, a troca de ferramentas e utensílios, que, nesse caso, 
pode ser traduzida como a troca de experiências e opiniões, a verdadeira fórmula de consolidação de uma 
cultura. Isto significa que as normas e os procedimentos de uma organização, quanto mais discutidos, 
serão mais aprimorados e mais facilmente disseminados. Não que se deva abandonar os meios utilizados 
para informar (e-mails, intranet, internet, house organs, murais etc.), mas utilizar apenas esses 
mecanismos, incorre-se no risco de uma menor adesão e assimilação da cultura da empresa por parte dos 
colaboradores. Qualquer que seja o ramo de negócio, nenhuma organização pode prescindir da realidade 
cultural de seus colaboradores, assim como não pode se instalar numa região à revelia daquele 
determinado meio geográfico, econômico e cultural. Da mesma forma, o desenvolvimento e a publicidade 
de seus produtos devem levar em consideração fatores externos a ela. Tanto interna como externamente, o 
diálogo é o que torna o processo de comunicação completo. E não é para ter medo, nem para promover o 
medo, é sim, para falar e ouvir, argumentar e contra-argumentar, acatar e/ou convencer. Essa troca gera 
confiança, credibilidade, mudanças seguras, transformações, enfim, é o que pode garantir a evolução e a 
permanência da organização no mercado. 
 
Disponível em: 
<http://www.comunicacaoempresarial.com.br/comunicacaoempresarial/artigos/comunicacao_cultura/artigo%202%20Jose%20
Vecchi.php>. Acesso em: 09 set. 2018.

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