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Programas de qualidade, implicações com controle e estrutura divisionada SST Vieira, Patrícia Programas de qualidade, implicações com controle e estrutura divisionada / Patrícia Vieira Ano: 2020 nº de p.: Copyright © 2020. Delinea Tecnologia Educacional. Todos os direitos reservados. 12 3 Programas de qualidade, implicações com controle e estrutura divisionada Apresentação Nesta unidade, estudaremos sobre os programas de qualidade e as suas implicações com controle e estrutura divisionada. Você já pensou no quanto uma empresa gasta para manter a qualidade dos seus produtos ou serviços? Ao longo de nossos estudos, veremos, então, o quanto custa para manter os processos com a devida qualidade. Na sequência, analisaremos quais os impactos que a falta de qualidade pode gerar para as empresas e o quanto isso custa. Por fim, compreenderemos como a controladoria pode auxiliar a controlar os custos gerados pela busca da qualidade nos processos das empresas. Bons estudos! Programas de qualidade Para se manter competitiva no mercado, uma empresa deve primar pela qualidade de seus produtos e/ou serviços, ou seja, tomar a qualidade como um componente de prevenção do aumento dos custos devido a retrabalhos, insatisfação dos clientes e perdas. Nesse sentido, a qualidade é entendida como uma conformidade com padrões, normas e especificações de um determinado produto ou serviço. É necessário então que exista, nas organizações, um setor ou uma equipe que cuide do controle de qualidade. Tal área ou setor de qualidade: [...] deve atuar no momento que precede a entrada dos materiais na empresa, através de suas inspeções físicas diretamente nas instalações dos fornecedores correspondentes, durante todo o processo produtivo e em seu final, sempre buscando a garantia de que o índice de produtos acabados defeituosos seja mínimo, preservando a empresa quanto à anulação de vendas já realizadas, devido à falta de qualidade de produtos, e a sua própria imagem e, por conseguinte, a sua marca. (NASCIMENTO; REGINATO, 2015. p. 321) 4 Se o controle de qualidade falhar, haverá inúmeras consequências, gerando maiores gastos e influenciando na imagem de mercado da empresa. Deve haver, portanto, um fluxo de controle de qualidade em cada um dos processos de produção, seguindo todas as etapas e verificando os possíveis gargalos para que se procedam as correções antes da finalização do produto e da sua remessa para os pontos de vendas. As empresas utilizam indicadores de desempenho em diversos processos. A partir desses indicadores, constroem-se relatórios para prestar informações sobre o desempenho dos processos. Atenção A fim de que o controle da qualidade seja satisfatório, é preciso medir o alcance dos padrões determinados, bem como verificar os gargalos existentes por meio de indicadores, determinando assim se há qualidade ou não. A indicação do desempenho decorre da análise de valores mensuráveis, quantificados ao se fazer a comparação entre o que ocorre (o real) e o que foi estipulado (o ideal). Veja na figura a seguir o esquema desses indicadores. Indicadores para a área de qualidade, relacionados à dimensão do preço CLIENTES PREÇOS ÁREA DE QUALIDADE Meta para rejeição de material na linha - em $ ÷ índice Real Real Meta 0,30 0,30 0,40? ? ? Meta em $ devolução de materiais por defeito ÷ índice Real Outros indicadores Real alcançado versus metaIndicadores P e s o s Fonte: Adaptada de Nascimento e Reginato (2015). 5 A qualidade é fundamental e sua falta prejudica as empresas. Considera-se custo de qualidade um gasto gerado pelas falhas incorridas nos processos, sendo também a falta de conformidade com os padrões estabelecidos e em consideração. Em outras palavras, é uma forma de medir a gestão da qualidade das empresas. No quadro a seguir, encontramos alguns dos termos mais utilizados referentes a esse processo, bem como a sua definição. Terminologia a. Refugo: produção que não corresponde aos padrões dimensionais ou de qualidade, sendo, portanto, refugado e vendido por seu valor de disposição. O custo líquido do refugo é a diferença entre os cus- tos acumulados até́ o ponto de rejeição menos o valor de disposição. b. Unidade defeituosa: produção que não corresponde aos padrões dimensionais ou de qualidade; subsequentemente, é retrabalhada e vendida por meio dos canais normais, como uma mercadoria de primeira ou de segunda, dependendo das características do produto e das alternativas disponíveis. c. Desperdício: material que se perde, evapora ou encolhe; é resíduo que não tem valor de recuperação mensurável (gases, poeira, fuma- ça, resíduos invendáveis). Às vezes, a disposição do desperdício ain- da obriga a empresa a custos adicionais, como o desperdício com materiais radioativos. d. Sobras: resíduo de materiais de certas operações fabris que têm valor mensurável, mas de importância relativamente pequena. Por exemplo, o metal que sobra em uma operação de estampagem, apa- ras, limalha, serragem, resíduos de algodão e pequenos pedaços de material resultante de operações de corte. As sobras podem ser ven- didas ou reaproveitadas. e. Reclamações: no genérico “Reclamações”, estão acumulados todos os custos e as despesas relacionadas às reclamações dos clientes. Tais custos e despesas também podem estar associados à garantia assegurada aos produtos vendidos. Entretanto, é possível receber reclamações de clientes após transcorridos os prazos de garantia. Assim, esse custo vai depender de a decisão empresarial-comercial assumir ou não os encargos dos reparos autorizados após o prazo da garantia. Fonte: Robles Jr. (2009, p. 30). 6 Nascimento e Reginato (2015) nos dão uma boa visão desse tipo de custo. Segundo os autores: Os processos de fabricação e os de prestação de serviços recebem inputs na forma de recursos físicos, humanos e monetários. Os outputs desses processos, à primeira vista, deveriam ser produtos ou serviços. Todavia, nem todos os inputs se transformam em produtos e serviços. Os processos encerram outros tipos de outputs; essas saídas consistem em refugos, unidades defeituosas, desperdícios e sobras. (NASCIMENTO; REGINATO, 2015, p. 321) De acordo com o processo de produção, são gerados “produtos” (output) que nas mais diversas empresas levam a indicadores preocupantes de desperdícios de produtos, processos, tempo e pessoas, conforme ilustrado na figura a seguir. Sistema de produção Input Insumos Sistema produtivo ou de prestação de serviços Devoluções Output Produtos Refugos Unidades defeituosas Desperdícios Sobras Fonte: Adaptada de Robles Jr. (2009). Nesse sentido, as entradas de insumos, além de seguirem o curso original, também acabam gerando “produtos” indesejados que acarretarão outros gastos que não os custos necessários e planejados para fabricação. No quadro a seguir, encontramos alguns tipos de gastos e suas definições. 7 Tipos de gastos Gastos Definição Custos Desembolso feito para gerar a atividade fim da empresa, isto é, a sua atividade principal. Na produção, temos como exemplo os gastos com a matéria-prima utilizada e a mão de obra dos operários. Despesas Desembolso com recursos para a atividade meio, a qual dá suporte para a atividade principal da empresa. Na produção, são a administração, as vendas etc. Como exemplo, temos o salário pago ao pessoal do administrativo e o combustível utilizado para o transporte dos produtos aos pontos de vendas. Desperdícios Gasto que ocorre por falta de controle, por má qualidade na produção ou no manuseio incorreto, entre outros diversos fatores que geram mais gastos para a empresa. Perdas Gasto que não gera retorno, mas sim um gasto adicional; ocorre de forma inesperada, sem possibilidade de previsão. Fonte: Elaborado pelo autor (2020). Os custos de qualidade serão, portanto, os gastos que não estão na previsão do processo de produção da empresa, ou seja, são gerados por descaracterização dospadrões e normas estipuladas, incidindo em custos que a empresa computará, mas que não servirão para gerar um retorno dos insumos envolvidos. Custos da qualidade Os custos de qualidade são classificados em dois tipos: de controle e das falhas dos controles. O primeiro tem origem nos controles necessários aos processos (prevenção e avaliação); o segundo deriva da falha nos controles (falhas internas e externas), fazendo com que os custos sejam determinados pela conformidade ou pela não conformidade com os procedimentos. Tipos de custo de controle Custos de prevenção Custos de controle Custos das falhas dos controles Custos de avaliação Custos das falhas internas Custos das falhas externas Fonte: Adaptada de Robles Jr. (2009, p. 58). 8 A seguir, vejamos, então, a que se referem os custos de controle – isto é, os custos de prevenção e de avaliação – e os custos das falhas dos controles – ou seja, os custos das falhas internas e externas. 1. Custos de prevenção: são determinados pelos gastos utilizados para evitar não conformidades, problemas na produção, possíveis ações outras, análise de processos, avaliação de causas e efeitos. “São gastos com atividades no intuito de se assegurar que produtos, componentes ou serviços insatisfatórios ou defeituosos não sejam produzidos” (ROBLES JR., 2009, p. 63). 2. Custos de avaliação: no processo produtivo, há custos que são gerados para avaliar a qualidade daquilo que foi produzido. Caso o produto esteja de acordo com as especificações, se não houver falhas e tudo estiver em conformidade, ele pode seguir para a venda. 3. Custos das falhas internas: são custos que ocorrem devido a falhas nos processos da empresa – “[...] associados às atividades decorrentes de falhas internas, como falhas de projetos, compras, suprimentos, programação e controle da produção e falhas na própria produção” (ROBLES JR., 2009, p. 63) – , que devem ser verificados e resolvidos para diminuir a ocorrência de custos. 4. Custos das falhas externas: são os custos que ocorrem quando o produto ou serviço é posto no mercado, ou seja, disponível para a aquisição do cliente, podendo comprometer a imagem da empresa, o que gera não só o custo pela falha, mas também da perda de mercado. Temos ainda outro custo a considerar, pois se relaciona com a existência de qualidade nas empresas: o custo de oportunidade. Este se refere ao custo incorrido no fator decisório, na tomada de decisão entre investir em um produto ou processo no lugar de outro e o que se perde com essa escolha. No caso, a decisão tomada pode resultar em perda de mercado, de produto ou de outro tipo que gere custos. 9 As consequências dos desperdícios e a gestão da qualidade Ao abordar os tipos de custo incidentes da qualidade necessária para a empresa, inferimos que as falhas são componentes danosos aos resultados almejados e podem comprometer a imagem da empresa, prejudicar seu aspecto competitivo frente aos concorrentes, além de aumentar os custos. Nesse sentido, é fundamental para toda empresa identificar, analisar, valorar e obter informações sobre falhas ou possíveis falhas. Na figura a seguir, analisamos as consequências do desperdício de recursos. Tipos de custo de controle O valor criado é menor que a soma de todos os recursos usados pela companhia No comando de uma organização, o desperdí- cio reduz permanente- mente os recursos disponíveis e o lucro potencial Valor criado Recursos disponíveis Produtos Dinheiro Edifícios Pessoas Rede de informações Equipamentos Água, gás, eletricidade Computadores ProcessosMercados Conhecimento de mercado Estoques Reputação da empresa Cultura Patentes e marcas Conhecimento especializado em gerenciamento Pesquisa e desenvolvimento Canais de distribuição Cadeia de valor da organização Desperdício Fonte: Adaptada de Padoveze (2013). Como consequência, as falhas nos processos de qualidade levam ao aumento dos custos e às alterações desfavoráveis nos resultados das empresas. Por esse motivo, a análise de gastos deve ser feita continuamente, possibilitando a identificação de gargalos e pontos críticos, que merecem um olhar cuidadoso. Com o intuito de manter a qualidade dos seus procedimentos, as empresas seguem normas (nacionais e internacionais) de processos que viabilizam uma padronização, o que consequentemente facilita o controle da qualidade. A norma ISO 9004 recomenda que medições são importantes para se tomarem decisões com base em fatos. Exemplos de medições de desempenho dos processos da organização incluem: medição e avaliação de seus produtos; 10 capacidade dos processos; alcance dos objetivos do projeto; e satisfação dos clientes e de outras partes interessadas (ABNT, 2000). Segundo Padoveze (2013, p. 437), “[...] a redução de custos busca o maior controle possível sobre esses elementos internos, objetivando reduzir as imperfeições existentes no processo interno de geração de produtos e serviços para venda”. Na figura a seguir, podemos observar um modelo de sistema de gestão da qualidade. Modelo de um sistema de gestão da qualidade baseado em processo Melhoria contínua do sistema de gestão da qualidade Partes interessadas Satisfação Partes interessadas Responsabilidade da direção Responsabilidade do produto Gestão de recursos Medição, análise e melhoria Requisitos Produto Legenda Entrada Saída Atividades que agregam valor Fluxo de informação Fonte: ABNT (2000, p. 3). Nesse contexto, é importante observar que a qualidade das informações que servem de base para a análise dos custos de qualidade é fornecida pela controladoria. A partir desses dados, pode-se verificar como e onde ocorre o volume desses custos nos gastos gerais das empresas. A controladoria tem de assumir um papel de parceria, possibilitando que a informação crie um fluxo contínuo e ágil até os gestores. Ou seja, a controladoria, dentro de um ambiente de competitividade: precisa estar envolvida no processo decisório/operacional da empresa. Para tanto, um de seus instrumentais deve ser o da gestão estratégica de custos (CMS), principalmente quando a empresa está adotando ou pretendendo adotar o controle da produção por meio de sistemas integrados por computador (CIM). A CMS tem como ponto de apoio a contabilidade por atividades (ABC). (ROBLES JR., 2009, p. 150) 11 Ao determinar o papel da controladoria, Robles Jr. (2009) vê a necessidade de participação nos atos administrativos de forma proativa, passando a exercer uma efetiva parceria com as demais áreas funcionais da empresa. Essa posição levará a uma evolução das funções da controladoria, definidas anteriormente pelo “Controller Institute of America”, das quais destacamos as que estão relacionadas ao sistema de custos da qualidade, representadas na figura a seguir. Funções da controladoria relacionadas ao sistema de custos da qualidade Implantação e supervisão do plano contábil da empresa. Preparação e interpretação dos relatórios financeiros da empresa. Compilação dos custos de produção. Compilação dos custos de distribuição. Preparação e interpretação de estatísticas e relatórios para decisão administrativa. Fonte: Elaborada pelo autor (2020). As ações da controladoria são, portanto, percursoras de atitudes em prol da melhoria da qualidade e da redução dos custos com a falta de qualidade. Fechamento Nesta unidade, vimos a importância dos programas de qualidade, bem como as suas implicações com controle e estrutura divisionada. Vimos que a falta do controle da qualidade pode acarretar inúmeros prejuízos para a organização. Também conhecemos a lógica do sistema de produção, o qual considera os insumos e os produtos. Na sequência, vimos que os custos da qualidade podem ser classificados em custos de controle e custos das falhas dos controles, observando também qual o impacto desses custos nas organizações. Por fim, analisamos as consequências dos desperdícios e a relevânciade haver uma controladoria em conjunto com a gestão da qualidade. 12 Referências Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR ISO 9004: sistemas de gestão da qualidade: requisitos. Rio de Janeiro: ABNT, 2000. NASCIMENTO, A. M.; REGINATO, L. Controladoria: instrumento de apoio ao processo decisório. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2015. PADOVEZE, C. L. Controladoria estratégica e operacional: conceitos, estrutura, aplicação. 3. ed. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2013. ROBLES JR., A. Custos da qualidade: aspectos econômicos da gestão de qualidade e da gestão ambiental. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2009.