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Conselho de Tutela – Repensando a Descolonização nas Relações Internacionais Contemporâneas: A questão palestina e a questão curda. Benito Bortolotto Jack Netto Jayme Callado Neto Tainah Pereira Nova Iorque, 20 de novembro de 2014. Excelentíssimos Senhores Embaixadores, Os povos do mundo, reunidos na Assembleia Geral das Nações Unidas, decidem demandar ao Conselho de Tutela a oportuna reabertura de suas sessões de trabalho, a fim de dar nova a luz às questões relativas aos atuais avanços territoriais das milícias jihadistas no Oriente Médio. Em primeiro lugar quanto à situação do povo curdo e em segundo quanto à legalidade, finalidade e todas as consequências sociais inerentes aos assentamentos israelenses na Cisjordânia de acordo com a Carta das Nações Unidas (1946) e com o Direito Internacional Humanitário atual. Como órgão especializado em questões ligadas aos mandatos sobre territórios sem capacidade plena de governarem a si mesmos, é de sua responsabilidade a compreensão e coordenação em temas territoriais, visto que o Conselho de Segurança tem-se ocupado outros temas diversos. Para reforçar reforça o comprometimento do Conselho de Tutela com as questões humanitárias, recomenda-se o convite aos representantes do Conselho de Direitos Humanos, da Liga Árabe e da Província Semiautônoma do Curdistão Iraquiano. Os debates serão pautados de acordo com uma agenda proposta. Entre as soluções possíveis temos notas consultivas, declarações conjuntas, e petições para o Conselho de Segurança e Assembleia Geral, estes, serão Documentos Provisórios até serem trabalhados e aprovados em forma de Projeto de Resolução. Os povos do mundo depositam sua confiança em vosso Comitê e contam com os senhores para que novas tragédias na região sejam evitadas. Esperamos que os senhores prezem, acima de tudo, pela vida e pelas boas relações entre os povos e cheguem a uma solução para estes conflitos, amenizando os efeitos contínuos destes conflitos. Atenciosamente, O Secretariado. 1. Introdução Estabelecido como um dos cinco principais órgãos das Nações Unidas na sua fundação em 1945, o Conselho de Tutela foi, durante quase cinquenta anos, o principal fórum de debate e implementação de políticas de descolonização nas relações internacionais do pós-guerra. Inativo desde 1994, momento em que o Palau, último Estado confiado ao Sistema de Tutela, torna-se independente, o Conselho de Tutela da SiONU 2014 reunir-se-á em 2014 em caráter especial sob pedidos da Assembleia Geral. Dois tópicos de atual relevância para a paz e a ordem mundial comporão a agenda de debates. Em primeiro lugar, a questão do Curdistão. Dispersos por uma área superior a 450.00 km², mais de 30 milhões de curdos ainda hoje residem nos atuais Estados da Turquia, Irã, Iraque, Síria, Armênia e Azerbaijão. Movimentos de independência, no entanto, em nome do princípio da autodeterminação dos povos, há décadas vêm pleiteando a criação do Curdistão, eventual Estado nacional que sofre a oposição dos vizinhos. Em segundo lugar, a questão da Palestina. Embora a região seja multiétnica, apenas a população de origem judaica possui um Estado de fato reconhecido pela comunidade internacional. Antiga reivindicação dos países árabes, a criação do Estado nacional palestino enfrenta contemporaneamente uma série de obstáculos internos e nas negociações com Israel e Estados Unidos. Apesar de reconhecida oficialmente pela ONU desde 2011 como Estado e não mais como entidade, é preciso repensar as possibilidades de sua efetiva constituição em base soberana e as implicações internacionais daí decorrentes. 2. Institucional 2.1. Estrutura e competências do Conselho de Tutela Conforme disposto no capítulo XII da Carta das Nações Unidas, o Conselho de Tutela será composto pelos Membros que administrem territórios tutelados, pelos Membros permanentes do Conselho de Segurança e quantos outros Membros eleitos por um período de três anos pela Assembleia Geral, sejam necessários para assegurar que o número total de Membros do Conselho de Tutela fique igualmente dividido entre os Membros das Nações Unidas que administrem territórios tutelados e aqueles que não o fazem. Quanto a seu funcionamento, importa destacar que cada Membro terá direito a um voto, suas decisões serão tomadas por uma maioria dos membros presentes e votantes e suas reuniões ocorrerão sempre que necessário, por decisão de seus membros, convocação do Presidente, a pedido da Assembleia Geral ou do Conselho de Segurança das Nações Unidas. O Conselho de Tutela valer-se-á, quando for necessário, da colaboração do Conselho Econômico e Social e das entidades especializadas, a respeito das matérias em que estas e aquele sejam respectivamente interessados. Baluarte do Sistema Internacional de Tutela, é o principal responsável por conduzir seus objetivos básicos: favorecer a paz e a segurança internacionais; fomentar o progresso político, econômico, social e educacional dos habitantes dos territórios tutelados e seu desenvolvimento progressivo para alcançar governo próprio ou independência; e estimular o respeito aos direitos humanos e às liberdades fundamentais para todos. 2.2. Histórico do Comitê Um dos principais órgãos da ONU, o Conselho de Tutela foi criado para administrar 11 territórios sob tutela da Organização quando de sua fundação, em 1945. O Conselho suspendeu suas operações quando o último território tutelado da ONU, Palau, alcançou a independência em 1994. Seu objetivo era contribuir para os avanços políticos, econômicos, sociais e educacionais de cada território ora tutelado, e, eventualmente, ajudá-los a alcançar a independência. Ao facilitar a tutela – um sistema de governança internacional aplicado aos territórios que ainda não sejam capazes de se autogovernar – o Conselho oferece uma alternativa ao controle colonial por terceiros e aos horrores das guerras de secessão. Único comitê a ter concluído seus objetivos, o Conselho de Tutela encontra-se hoje inativo. Entre suas competências estiveram a análise de relatórios da nação Administradora sobre território, a visita aos territórios tutelados quando acordado com a nação Administradora, condição necessária para que fossem aceitos quaisquer pedidos relativos a eles, além da formulação de relatórios sobre política, economia, sociedade e educação dos povos. Importante notar que o Conselho de Tutela não governa diretamente um território. São as chamadas nações Administradoras que exercem esse papel, dentro dos limites impostos pelos artigos que regem o Conselho de Tutela, como membros deste comitê. Existe ainda a possibilidade de que a autoridade sobre algum território seja concedida pelo Conselho de Tutela, como aconteceu em 1947, quando a Assembleia Geral requisitou ao Conselho a criação de uma zona internacional em Jerusalém e seu entorno, para proteção de pessoas e de lugares sagrados. Ao colocar essa região “sob regime internacional permanente”, esperava-se que se estabelecesse um governo que se reportaria a um conselho eleito, mas o plano foi abandonado quando israelenses e jordanianos iniciaram uma guerra em 1948. Pedido semelhante foi submetido pelo Presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, para "colocar oficialmente o Estado da Palestina sob o regime de proteção internacional da ONU”. Uma proposta do ex-Secretário Geral da ONU, Kofi Annan, de 2005 pôs em pauta a suspensão definitiva das atividades do Conselho de Tutela. A medida não foi aprovada, no entanto, porque implicaria em alterações substanciais da Carta das Nações Unidas. 3. Problematização 3.1. A Questão Palestina 3.1.1 Histórico do Problema O direito do povo palestino a um Estado Árabe na Palestina sediado em Jerusalém está garantido pela ONU quedebateu esse tema em seus anos iniciais de existência, ainda sob o fantasma da Liga das Nações. A fundação de Israel e ascensão do sionismo afetam a dinâmica já conturbada da região. As sucessivas ondas de violência que arrastam os povos dessa região podem ser rastreadas até a questão dos atos genocidas cometidos ao longo do tempo contra curdos, armênios e tantas outras minorias. Os assentamentos israelenses na Cisjordânia e os ataques sucessivos a Gaza ilustram essa situação infeliz. O Conselho de Tutela tem o dever de analisar a legalidade, finalidade e todas consequências sociais inerentes aos assentamentos israelenses na Cisjordânia. Antes do início do Mandato britânico na Palestina, os líderes árabes se esforçaram para evitar a implantação de um lar nacional judeu, especialmente após a Declaração Balfour. Isto porque os britânicos haviam prometido aos árabes a independência de seus territórios, em troca de ajuda para derrotar os turco- otomanos. A promessa, contudo não foi cumprida, pois com o fim da Primeira Guerra Mundial, os territórios dominados pelo antigo Império Turco-Otomano foram divididos entre França e Grã-Bretanha pelo Acordo Sykes-Picot, que mais tarde foi aprovado pela Liga das Nações. Para os árabes, a independência sob o domínio judeu seria equivalente a um colonialismo ainda pior. As ondas de emigração judaica para a Palestina começaram a aumentar, principalmente na década de 1930, com o fortalecimento do antissemitismo na Europa, ocasião em que muitas portas se fecharam no continente europeu. Além disso, este sentimento se disseminou também entre os árabes palestinos, que reagiam com cada vez mais violência. Os britânicos temiam uma revolta muçulmana se disseminasse por todo o Império. Esse temor gerou o que ficou conhecido como Livro Branco, que praticamente anulou a Declaração Balfour, pois limitou drasticamente a imigração judaica na Palestina. Além disso, a oposição, antes entre árabes e judeus da Palestina, seria agora entre árabes e sionistas. O impasse entre israelenses e palestinos só viria a aumentar, sobretudo na década de 80. Antes disso, voltemos à década de 70. Nesse período, sobretudo a partir do momento em que Begin tornou-se primeiro-ministro pelo Likud, a política de colonização passou a ser oficial do seu governo. Com isso, cada vez mais assentamentos eram construídos, sobretudo na Cisjordânia. Assim, no futuro, os territórios poderiam ser anexados à Israel. Durante a década de 1980, o Oriente Médio foi palco de uma série de acontecimentos conturbados. No Líbano, onde já ocorria uma guerra civil que durou de 1975 a 1990, a presença israelense teve extrema relevância. Após uma série de ataques ao território israelense, além da tentativa de assassinato do embaixador israelense Shlomo Argov em Londres, atribuídos à Organização pela Libertação da Palestina (OLP), liderada por Yasser Arafat, as Forças de Defesa Israelenses (FDI) invadem o sul do Líbano, tendo participação ativa no conflito, que só tem fim em 1990. Internamente, o levante palestino ocorrido em 1987, batizado de Intifada e posteriormente, Primeira Intifada, em virtude da ocupação israelense, leva palestinos a lutarem armados de paus e pedras contra o Exército Israelense. Em um clima extremamente turbulento, devido a esses episódios que, no início da década de 1990, as negociações para o fim do conflito são retomadas. Em linhas gerais, ambas as partes se comprometem ao reconhecimento mútuo, além de Israel dar autonomia aos territórios árabes ocupados.Entretanto, as questões internas inerentes a ambos os lados tornava difícil a concretização das conversações iniciadas em Oslo. Dentre outras coisas, podemos notar como principais falhas: dificuldades em relação ao idioma, disparidades socioeconômicas entre palestinos e israelenses, onde os últimos, geralmente mais bem instruídos que os primeiros dominavam atividades coordenadas, além de ignorar questões históricas que necessitavam ser solucionadas para que se pudesse seguir adiante com o processo de paz. Se a implementação do que fora definido nos acordos já era difícil, se tornou praticamente impossível após o assassinato do líder israelense Yitzhak Rabin. Rabin representava a única liderança capaz de dar prosseguimento aos acordos e que nem mesmo seu sucessor político, Shimon Peres, estaria à sua altura. Peres perde as eleições para Benjamin Netanyahu, membro da direita conservadora israelense, o Likud. A vitória de Netanyahu nas eleições de 1993 significou um retrocesso nas negociações, onde a recusa do governo israelense em ceder concessões aos palestinos foi latente. Além de negar continuidade aos processos de paz, Netanyahu deu prosseguimento à construção de assentamentos em regiões palestinas. No ano de 2000, já no governo trabalhista de Ehud Barak, a convite de Bill Clinton, as negociações são retomadas, sem obter sucesso. Nesse panorama, a Segunda Intifada ocorre. Nesse sentido, para os palestinos os acordos de Oslo vem a constituir que uma série de acordos injustos que não contemplam as expectativas palestinas. Após a eleição de George W. Bush e ocorrência dos Atentados de 11 de Setembro culminaram na Guerra ao Terror, a questão do conflito entre palestinos e sraelenses sofre uma guinada radical. O retorno dos republicanos ao poder, após os oitoanos de governo Bill Clinton, marcam a ascensão da ultradireita conservadora cristã. Com a eleição de Barack Obama para a presidência dos EUA, há uma mudança na agenda norte-americana para o Oriente Médio. Em primeiro lugar, a nomeação de George Mitchell para representante especial para o Oriente Médio mostra um aparente comprometimento do governo Obama com a retomada das negociações entre israelenses e palestinos. Entretanto, após os primeiros anos de mandato, a preocupação com a reeleição se torna constante, como via de regra e a questão é posta novamente de lado, na qual o lobby judaico tem influência. Ao mesmo tempo, enquanto os EUA se distanciavam das tentativas de se alcançar a paz em Israel, novos atores entram em cena com o objetivo de acelerar as discussões. Entre esses países, a União Europeia, onde a França desempenha papel central, especialmente quando o então presidente francês, Nicolas Sarkozy visita o Oriente Médio, iniciando negociações tanto com palestinos como israelenses, além de ampliá-las a Egito e Síria. Entretanto, o fim da presidência francesa do Conselho Europeu em 2009 e sucessão da República Tcheca, fez com que as ações europeias se tornassem desencontradas, já que se verificou que a França agia de maneira independente, sem consultar a União Europeia. Outro entrave às negociações, dessa vez inerente às questões internas, é o governo israelense. Após denúncias de corrupção e tráfico de influências, o então premiê israelense, Ehud Olmert pede demissão do cargo e novas eleições para o Parlamento são convocadas. Entretanto, o resultado das eleições de fevereiro de 2009 não resolve a instabilidade governamental israelense, já que o Partido Kadima leva a maioria dos assentos, mas não consegue formar uma coligação. Desse modo, o Likud lidera uma coligação, assumindo Benjamin Netanyahu, o que dificulta o prosseguimento nas negociações. A disposição dos partidos e da coligação no parlamento israelense, o Knesset, é extremamente importante para que a dificuldade no prosseguimento das negociações seja entendida. A coligação de 2009 é formada principalmente por cinco partidos com ideologias e disposições bastante distintas: o Likud, de Netanyahu, é considerado o partido da Direita Conservadora israelense, e também mais duro em relação ao tratamento dado aos palestinos; o Kadima, do ex-premiê Olmert, é considerado um partido centrista ideologicamente e mais aberto em negociações com os palestinos, se comparadoao Likud. É uma dissidência do Likud, que conta também com ex-membros do Partido Trabalhista; o ultranacionalista Yisrael Beitenu, do ministro das Relações Exteriores, Avigdor Lieberman, publicamente conhecido por defender posições extremamente radicais em relação aos palestinos; o Shas, partido religioso israelense, que prega a aniquilação dos palestinos e por fim, o Partido Trabalhista, que é a centro- esquerda israelense, fundada pelo pai da pátria judaica, Ben Gurion, e membro da internacional socialista. Dos cinco, é o que mais se predispõe a fazer concessões aos palestinos e foi durante um governo trabalhista que Israel e OLP estiveram mais próximas da paz definitiva, quando foi assinado o Acordo de Oslo. Outro fator que está entravando as negociações é a mudança de status da Palestina nas Nações Unidas para membro observador em novembro de 2012, contra a vontade de Israel e Estados Unidos (para ambos, as negociações para o reconhecimento da Palestina devem ser bilaterais entre as partes interessadas). Com isso, esta nação tem acesso aos diversos comitês que fazem parte da ONU, inclusive ao Tribunal Penal Internacional. 3.1.2 Conjuntura e problematização No dia 29 de Novembro de 2012 a Assembleia Geral das Nações Unidas se reuniu para debater uma de suas questões mais emblemáticas, a Questão Palestina. Não por acaso esse dia é o Dia Internacional da Solidariedade Com o Povo Palestino. Neste dia, a Palestina passou de “Território Não Autogovernado” para não Membro Observador perante a Organização das Nações Unidas. Mas quais implicações práticas e ideológicas essa mudança provoca? Com a intenção de retomar as negociações para que se alcance a Paz no conflito israelense-palestino, a votação para mudança no status da Palestina possui um forte caráter simbólico. Contando com 138 votos a favor e 9 contra (Israel, Estados Unidos, República Tcheca, Canadá, Panamá, Federação dos Estados da Micronésia, República de Palau, Ilhas Marshall e Nauru), além de 41 abstenções, a votação foi internacionalmente reconhecida como “esmagadora” quanto a vontade dos Estados em conceder à Palestina o reconhecimento devido dentro da ONU. O gatilho que iniciou, definitivamente, junto a Comunidade Internacional a defesa do direito a existência do Estado Palestino foi a operação militar levada a cabo na Faixa de Gaza em 2008-2009, onde ficou explícita a intransigência israelense. Como ficou claro em dois relatórios, um elaborado pelo Comitê para o Exercício dos Direitos Inalienáveis do Povo Palestino (documento A/67/35 ) que analisou o período de, 07 de outubro de 2011 a 6 de Outubro de 2012. E o outro, um relatório do Secretário Geral sobre a resolução pacífica da Questão da Palestina (documentos A/67/364-S/2012/701 e A/67/364/Add.1), abrangendo o período de setembro de 2011 a agosto de 2012, contendo as suas observações sobre o estado atual do conflito entre israelenses e palestinos e sobre os esforços internacionais para fazer avançar o processo de paz. De acordo com primeiro relatório, não houve nenhum avanço nos esforços para a retomada das negociações diretas entre israelenses e palestinos, devido à recusa consistente de Israel em cessar suas atividades de ocupação (assentamentos) e aderir aos termos de longa data de referência do processo de paz. O Conselho de Tutela a mando do Conselho de Segurança das Nações Unidas tem a obrigação de revisitar as questões territoriais fundamentais na Palestina e propor soluções para esta questão. Entre os pontos a serem abordados: a eventual mudança de status da Palestina junto as Nações Unidas e sua relação com o controle territorial nesta localidade; a legalidade, finalidade e consequências sociais inerentes aos assentamentos israelenses na Cisjordânia e; sobre a criação de uma zona internacional permanente em Jerusalém e seu entorno, para proteção de pessoas e lugares sagrados. 3.2 A Questão do Curdistão A região montanhosa situada entre os Rios Tigres e Eufrates, onde na antiguidade era a Mesopotâmia, hoje é o Curdistão. Essa nação já gozou de breves períodos de independência, sobretudo nos Séculos XI e XII da Era Cristã alternados com períodos mais longos de dominação estrangeira, fez parte do Império Persa (Século IV A.C.) até ter sido anexada ao Império Otomano (Século XVI), passada a Primeira Guerra Mundial essa região ficou sob mandato britânico, os quais incorporaram o Curdistão ao Iraque (1923). Passada a Segunda Guerra Mundial e a Guerra Fria o povo curdo ainda não possui seu próprio Estado a despeito de seu idioma, cultura e etnia serem reconhecidos internacionalmente. Esse povo de 25 milhões de seres humanos está distribuído por 500.000 Km² entre o norte do Iraque (4,5 milhões de curdos), leste turco (13 milhões) e sírio (1 milhão), oeste iraniano (6,5 milhões) e ao sul do Cáucaso espalhados em comunidades na Armênia, Azerbaijão Geórgia e até no Turcomenistão (700 mil), fora de sua terra natal espalhados pelo Oriente Médio os curdos ainda estão massivamente, por exemplo, no Líbano (100 mil). Essa região, diferentemente do Oriente Médio, que possui um clima predominantemente desértico, possui altos níveis de precipitação e a passagem dos rios Tigre e Eufrates em seus cursos superiores. Apresenta-se, portanto, como uma região fértil para a agricultura, um grande potencial hidrelétrico e, além disso, grandes reservas de óleo – predominantemente na região do Iraque. Uma vez entendida a presença curda em diversos países, iremos apresentar as diferenças entre cada região em busca de uma perspectiva mais precisa da atual situação do Curdistão. Então, estaremos aptos a debater e propor ações eficazes para solucionar a situação calamitosa que se encontra o Oriente Médio, especialmente no Curdistão. O Curdistão do Norte (Turquia) A Turquia, como vimos, é o país que abriga o maior número de curdos, 13 milhões aproximadamente. Talvez, seja por esse fato que é também o lugar onde os atritos parecem ser mais evidentes. A constante negação de um Estado independente aos curdos, e a extrema violência que é usada contra suas manifestações de insatisfação para com o governo turco, tem gerado conseqüências dramáticas. Revoltas em 1925 e 1930 foram duramente reprimidas pelos militares turcos. Em 1978 é fundado o PKK (Partido dos Trabalhadores Curdos) por Abdullah Öcalan a partir de movimentos estudantis, cuja meta última era de um Curdistão reconhecido internacionalmente. Durante a Década de 80 militantes do PKK e Palestinos se aliam contra a invasão ao Líbano em 1982. Durante essa década, visando aumentar seu apelo popular e identificação regional por meio da religião que ocorre uma radicalização ideológica dentro do PKK, adotando não somente uma postura Marxista-Leninista como também se aproximando dos fundamentalistas islâmicos. O ano de 1984 é um marco na questão curda, pois é quando fica oficializada a 29ª Rebelião Curda, em parte financiada por curdos da Líbia, os mesmos que financiaram os treinamentos conjuntos com os Palestinos no início da Década. Já na Década de 90 o PKK cria além do cargo de Presidente ocupado por Öcalan, um Conselho da Presidência, um Comitê Central e um Quadro Central Disciplinar. Esse grau de institucionalização permitiu ao PKK propor um “cessar-fogo” à Turquia. Tendo sido negado, ocorre uma escalada de violência contando com massacres às comunidades curdas na Turquia, desaparecimentos forçados e prisões em massa. A partir de 1999 com a prisão de Öcalan, que tinha passado os últimos vinte anos em exílio na Síria até ser expulso, o quadro começa a mudar. O PKK de divide e intensifica sua atuação com atentados terroristas até ser reconhecido como organização terrorista pela OTAN, Estados Unidos e União Européia, por um lado. Pelo outro, devido as aspirações turcas de integrar a EU, que primapelo respeito à diversidade cultural, a Turquia arrefece em sua perseguição aos curdos. Reconhecendo seu idioma, e extinguindo o termo “turco das montanhas” para designar os curdos. Ainda que tímidas essas medidas e outras como uma confusa representação parlamentar, engessada por uma burocracia labiríntica podem ser encaradas como um progresso, após anos de abusos cometidos pelo governo turco, custando além da desestruturação do setor rural curdo, uma diáspora e um saldo de 45 mil mortos desde 1984. Curdistão Ocidental (Síria) A Síria foi protetorado francês de 1920 até 1946, a partir dessa última data se inicia um intenso processo de construção da identidade nacional temperada com sucessivas mudanças radicais de governo. Em 1949 com o Coronel Housni Al-Zaim tomando o poder pela força e pondo fim ao sistema parlamentar; em 1958 fundando a República Árabe Unida com o Egito que duraria até 1961; com a chegada do Baath ao poder em 1963 por meio de um golpe de Estado e, posteriormente em 1966 com um “golpe dentro do golpe” dado pela ala esquerda do movimento; em 1970 Hafez Al- Assad toma o poder novamente por meio de um golpe. Sua dinastia permanece até os dias atuais. Nesse cenário de tamanha instabilidade os curdos foram considerados uma ameaça e sua simples existência é negada pelo regime sírio. Suas manifestações culturais, seu idioma e sua educação foram proibidas. Seus registros nos livros de História apagados e sua memória negada. Em 1982 na cidade de Hama ocorreu o fato mais emblemático para entendermos a posição síria quanto a questão curda: após uma rebelião liderada pelos curdos o governo bombardeou a cidade, dinamitou prédios ainda com seus cidadãos dentro, aplainou a cidade com rolos compressores e enterrou mais de 20 mil pessoas em valas comuns. O governo sírio vem procurando ignorar o povo curdo dentro de suas fronteiras a todo custo. Dos quatro Estados a abrigar populações curdas consideráveis, a saber: Irã, Iraque, Turquia e Síria, este último é aquele mais radical uma vez que não reconhece o povo curdo como cidadão e nega veementemente aos curdos qualquer tipo de representação oficial junto ao governo. Curdistão Oriental (Irã) A trajetória curda no Irã durante o Século XX oscila de acordo com as mudanças políticas na região. Durante a Segunda Guerra Mundial enquanto os soviéticos se aproximavam pelo norte e os britânicos pelo sul, os curdos se aproveitaram do vazio de poder criado pela malfadada aliança entre Reza Xá e Hitler, e declaram independência da República de Mehabad o ano era 1946. Logo em seguida se ligam ao Azerbaijão em questões econômicas, militares e sociais. Contudo, nenhum desses dois países tem força para resistir as redefinições de fronteiras entre Iraque e Irã mesmo com o apoio soviético. Após 11 meses, em 1947, a República de Mehabad é erradicada e o ensino do curdo proibido, os livros queimados e as editoras fechadas. Com a Revolução de 1979 a perseguição se agrava, de orientação xiita os novo regime iraniano enxerga os curdos sunitas como potenciais inimigos e o saldo final do ajuste fica em 240 comunidades curdas destruídas e 40.000 mortos. Conseqüentemente o governo de Teerã assistiu apreensivo a fundação do PJAK, Partido por uma Vida Livre no Curdistão, organização similar ao PKK, dotada dos mesmos métodos terroristas de sua contrapartida turca, Progressivamente os curdos iranianos foram obtendo certos direitos junto ao governo do Irã. Hoje o ensino do idioma e das tradições é respeitado pelo governo persa que nomeou a província fronteiriça com Iraque e Turquia de “Curdistão” obviamente sob comando de Teerã. Curdistão do Sul (Iraque) Para que possamos entender a relação entre o povo curdo e os governos iraquianos se faz necessário um resumo dos fatos ocorridos após a Primeira Guerra Mundial. O Império Otomano aliado a Tríplice Entente, firmam o Tratavo de Sèvres (1920) que entre outros assuntos versava sobre o estabelecimento de um Estado de fronteiras bem definidas para os curdos. Esse tratado foi substituído pelo Tratado de Lausanne onde a Turquia recém criada renunciava a criação de um curdistão independente. A Grã Bretanha que liderou esse acordo e assumiu o controle sobre o que posteriormente viria a ser o Iraque(mencionar o Sir Winston Churchill na Conf do Cairo1921. Em 1922, 1931 e 1945 revoltas curdas foram reprimidas militarmente pelo governo monárquico do Rei Faiçal, que havia convencido Winston Churchill a não dividir aquele território e lhe deu garantias que iria manter o equilíbrio de poder entre xiitas ao sul, curdos sunitas ao norte e árabes sunitas no centro. Em 1958 a monarquia é derrubada pelo General Kassem, que proclama a União Livre das Nações Árabes e Curdas na República do Iraque. Em 1963 o Partido Baath toma o poder no Iraque e inicia massacres anticomunistas. Em 1968 Saddam Hussein já era o “homem forte” do Partido no Iraque, em 1979 ele acumula todos os poderes sobre si mesmo. A ascensão do petróleo como a nova matriz energética resultou em conseqüências nefastas para o povo curdo no Iraque. Pois na região norte do país onde a maioria do povo era (é) de origem curda está uma das maiores e mais valiosas jazidas de petróleo. O regime de Saddam sistematicamente começa a expulsar os curdos da região. Por meio de armas químicas, napalm e outros métodos altamente condenáveis por volta de 300.000 foram expulsos. Acredita-se que milhares de curdos foram mortos durante o regime de Saddam até a invasão ao Kuwait, onde estes tentaram sua “primavera” e foram novamente reprimidos com armas químicas e outros métodos contrários ao Direito Humanitário Internacional. Problematização: o Curdistão hoje As recentes mudanças de regime no Oriente Médio possibilitaram ao povo curdo novo fôlego. Se durante a operação “Tempestade no Deserto”, liderada pelos EUA em 1991 para combater a invasão iraquiana no Kuwait os curdos não lograram êxito, o mesmo não deve ser dito sobre a operação “Iraque Livre”. A invasão levada a cabo em 2003 e a derrocada do regime de Saddam causaram o desmantelamento do exército regular iraquiano, abrindo uma brecha oportuna aproveitada pelos curdos do Iraque. Os pershmegas, “aqueles que encaram a morte”, combatentes curdos que se aliaram aos invasores ocidentais, se tornaram o núcleo do exército regular, e os curdos se revelaram os principais atores na reconstrução do Iraque. Em 2005 uma nova constituição foi promulgada oficializando o status autônomo da província, em pauta junto à Bagdá desde a Década de 1970. O Conselho de Tutela tem a responsabilidade de analisar a situação do povo do curdo, suas relações com os povos vizinhos e seu respeito aos Direitos Humanos, em todas as suas facetas. E propor uma solução para a questão da falta de representatividade internacional na região onde habita o povo curdo. 4. Bibliografia BAKER, Heather; FORTUN, Jonathan; JONES, Kimberly. Restructuring ECOSOC and The General Assembly. Model United Nations of The Far West, 2010. Disponível em: < http://www.munfw.org/archive/45th/ecosoc1.htm > Acesso em: 31 jan. 2014. BRASIL. Ministério Público Federal. Declaração Universal dos Direitos Humanos. Disponível em: <http://www.mp.go.gov.br/portalweb/hp/7/docs/declaracao_universal_dos_direitos_do _homem.pdf >. Acesso em: 18 mar. 2012. CASTILHO, Ricardo. Direitos Humanos: Processo histórico – Evolução no mundo,Direitos Fundamentais. Constitucionalismo contemporâneo. Disponível em: <http://www.editorasaraiva.com.br/repositorioAmostra/9788502091641.pdf >. Acesso em: 14 fev. 2012. HANSEN, H.H. 1961. The Kurdish Woman's Life. Copenhage. Ethnographic Museum Record 7:1-213; LEACH, E.R. Social and Economic Organization of the Rowanduz Kurds. London School of Economics Monographs on Social Anthropology,1938. 3:1-74. LONGRIGG, S.H. Iraq, 1900-1950. Londres, 1953. MASTERS, W.M.. Rowanduz., University of Michigan, 1953. ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Assembleia Geral: Inaccessible Without Israeli Permission, City Cut Off From West Bank, International Meeting On Question Of Jerusalem Told. Ankara, 2014. Disponível em: <http://unispal.un.org/UNISPAL.NSF/0/07495A45598F5A7685257CD60071A72D> Acesso em: 25 out. 2014. ONU Brasil. A ONU e os Direitos Humanos. Disponível em: <http://www.onu.org.br/aonu-em-acao/a-onu-e-os-direitos-humanos/ >. Acesso em: 18 mar. 2012. The World Fact Book. Iraq. Disponível em: <https://www.cia.gov/library/publications/the-world-factbook/geos/iz.html>. Acesso em: 20 out. 2014. http://www.munfw.org/archive/45th/ecosoc1.htm http://www.editorasaraiva.com.br/repositorioAmostra/9788502091641.pdf http://unispal.un.org/UNISPAL.NSF/0/07495A45598F5A7685257CD60071A72D https://www.cia.gov/library/publications/the-world-factbook/geos/iz.html 5.1 Outras referências e fontes bibliográficas recomendadas e comentadas IX CIMUN - Chicago International Model United Nations. UN Trusteeship Council Topic Background Guide.. Chigaco, 2012. Disponível em: < http://www.cimun.org/bg2012/trustee.pdf >. Acesso em: 31 jan. 2014. Comentário: Guia de estudos de outra simulação que trabalhou dois dos principais tópicos do mandato do Conselho de Tutela: sistemas educacionais nos territórios tutelados e desenvolvimento econômico e status futuros dos territórios tutelados. O guia traz ainda um terceiro tópico sobre o futuro do CT após a Guerra Fria. Interessante notar a escolha dos autores por trabalhar com palavras chave, direcionando os delegados a pensar dentro da lógica do mandato do comitê. BARTH, F. Principles of Social Organization in Southern Kurdistan. University Ethnographic Museum 7, 1953. Oslo. Comentário: A fonte trata da etnia curda e suas peculiaridades, regiões e cultura. COLE, Juan. A redescoberta do nacionalismo. University of Michigan, 2004. Disponível em: <http://www.diplomatique.org.br/acervo.php?id=1019> Acesso em: 29 set. 2014. Comentário: Abordagem bastante enriquecida dos desenvolvimentos políticos, sobretudo do Iraque em relação ao Baath, os Xiitas e Curdos da região. Enciclopédia do Curdistão. Disponível em: < http://www.kurdistanica.com/ > Acesso em: 25 out. 2014. Comentário: O site é uma espécie de enciclopédia do Curdistão. Encontram-se muitas informações principalmente, pós 1992 já o site foi criado e se destina, em muitos casos, a uma observação mais detalhada dos acontecimentos a partir daquele ano. MATTAR, Marina. Movimento curdo de independência ameaça retomar luta armada contra Turquia, 2013. Disponível em: <http://operamundi.uol.com.br/conteudo/noticias/31979/movimento+curdo+de+indepe ndencia+ameaca+retomar+luta+armada+contra+turquia.shtml. > Acesso em: 22 out. 2014. Comentário: Análise da questão curda na Turquia e na Síria. A autora trata de como a questão curda foi abalada pela guerra civil síria e como começam as primeiras articulações curdas quanto ao processo de paz na Turquia e sua cada vez mais forte falência. http://www.cimun.org/bg2012/trustee.pdf http://www.diplomatique.org.br/acervo.php?id=1019 http://www.kurdistanica.com/ http://operamundi.uol.com.br/conteudo/noticias/31979/movimento+curdo+de+independencia+ameaca+retomar+luta+armada+contra+turquia.shtml http://operamundi.uol.com.br/conteudo/noticias/31979/movimento+curdo+de+independencia+ameaca+retomar+luta+armada+contra+turquia.shtml McGUFFIN, Sean. Issue Brief for the GA Fourth Committee: SPECPOL - Reinvigorating the United Nations Trusteeship Council. Old Dominion Universit, Model United Nations Society, 2014. Disponível em: <https://www.odu.edu/content/dam/odu/offices/mun/2014/specpol/specpol- reinvigorating-the-united-nations-trusteeship-council.pdf > Acesso: 31 jan. 2014 Comentário: Background interessante de outra simulação que realizou um Conselho de Tutela. Servirá bem para entender como funciona o comitê, suas atribuições e capacidades, bem como um pouco de seu histórico, visto que o tópico abordado foram os países falidos, com ênfase na Somalilândia Italiana. NEZAN, Kendal. President of the Kurdish Institute of Paris. A Brief Survey Of The History Of The Kurds. Disponível em: <http://www.institutkurde.org/en/institute/who_are_the_kurds.php. > Acesso em 29 set. 2014. Comentário: O artigo presente é bastante detalhado quanto a história dos primeiro curdos e como estes se instalaram na região e define o que são os curdos. Faz uma abordagem bastante rica. Site da UNPO. Disponível em:< http://unpo.org/members/7892> Acesso em: 27 set. 2014. Comentário: A UNPO (Unrepresented Nations and Peoples Organization) É uma organização internacional não violenta que a está focada na problemática de seus membros, como indigentes, minorias e território ocupados e/ou não reconhecidos que se uniram para defender seus direitos culturais e humanos. No site da organização há diversas fontes de informação sobre várias culturas, incluindo os curdos. Screamers: the documentary (2006). Disponível em: < http://www.youtube.com/watch?v=QcsNMhYP378 >. Acesso em: 25 out. 2014. Comentário: Documentário dirigido por Carla Garapedian, com a colaboração dos músicos da banda de rock System of a Down e da Embaixadora dos Estados Unidos na ONU, Samantha Power, que faz uma abordagem generalista sobre os genocídios ocorridos desde 1915 (armênios) até os dias atuais em Darfur. O filme procura evidenciar a postura passiva da comunidade internacional, notadamente da Turquia e dos Estados Unidos, em relação aos diversos casos de conflitos e violência generalizada ao redor do mundo que ainda se encontram sem solução e/ou que não são reconhecidos mundialmente como genocídio. https://www.odu.edu/content/dam/odu/offices/mun/2014/specpol/specpol-reinvigorating-the-united-nations-trusteeship-council.pdf https://www.odu.edu/content/dam/odu/offices/mun/2014/specpol/specpol-reinvigorating-the-united-nations-trusteeship-council.pdf http://www.institutkurde.org/en/institute/who_are_the_kurds.php http://unpo.org/members/7892 http://www.youtube.com/watch?v=QcsNMhYP378 YUDENITSCH, Natalia. Curdos, um conflito que não tem fim. Revista História, 2006. Comentário: O artigo da revista História propõe uma reflexão sobre o problema curdo e disserta sobre a origem, localização e os principais fatos ocorridos nas regiões conflitivas onde se localizam os curdos. ANEXO – Mapas da região