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O_Culto_e_a_Palavra_Como_cultuar_e_glorificar_a_Deus_com_a_prega

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O culto público e solene a Deus é a atividade mais importante e magnífica que realizamos em
nossas vidas, é o maior privilégio que temos. Por isso, desrespeitá-lo, esquecê-lo, ou
negligenciá-lo é um dos maiores pecados que podemos cometer. Portanto, este livro, do
Orlando III, é extremamente necessário para que resgatemos uma visão sublime do culto a
Deus e a centralidade da Palavra nele, que deve ser a nossa única regra de fé e prática em todos
os assuntos, principalmente do culto a Deus.
Somos convocados a adorar a Deus como Ele quer ser adorado, não de acordo com as
invenções dos homens, ou como nós achamos melhor ou nos agrada. E no culto que Deus nos
ordena em sua Palavra, a pregação da mesma se constitui o seu ápice. Assim podemos nos
perguntar: Como ouvi-la corretamente? Como aproveitar o máximo dela? Como me preparar
para ela? Como aplicar ela a minha vida após ouvi-la? Como ela afeta o resto dos meus dias da
semana? Essas e muitas outras perguntas são sabia e biblicamente respondidas neste livro.
Se você deseja adorar e glorificar a Deus como Ele requer de nós, e assim crescer
espiritualmente e desfrutar de uma fé viva no Senhor; se você deseja usufruir da pregação da
Palavra da melhor maneira possível, mesmo que seja uma pregação ruim; se você, como um
pregador, deseja oferecer uma pregação mais bíblica e nutritiva para seu povo; este livro é
indispensável para você. Ele é prazeroso de se ler, simples e direto, fácil de entender e o mais
importante, fundamentado na Bíblia, a Palavra de Deus.
Que Deus, por Sua graça e para Sua própria Glória, use este livro para conceder a nós, e às
nossas igrejas, uma adoração verdadeira a Ele, e assim nos deleitemos e sejamos
continuamente edificados pela pregação da Palavra.
SDG
Átila Barros de Sousa
Aspirante ao episcopado e grande irmão na fé
Algo que assola a Igreja evangélica brasileira é a sua ignorância quanto ao culto a Deus. Em
nosso tempo, vemos cultos que vão ao encontro do cliente, porque Igrejas se tornaram
empresas e seus membros consumidores. Um culto segundo o padrão de Deus, que é revelado
nas Escrituras, é distinto em muitos lugares. Os cultos que não honram a Palavra de Deus, tem a
tendência a se tornarem bizarros. O que precisamos para reverter tudo isso? Uma volta as
Escrituras! Esse livro do Orlando III vai te ensinar a fazer isso. Essa obra vai abordar a
necessidade e urgência das Escrituras serem o centro do culto. Um culto que glorifica a Deus é
um culto segundo as Escrituras. O Reverendo Brian Schwetley acerta quando diz:
“Crentes reformados de hoje precisam entender a relação que
existe entre a ideia teológica sola Scriptura e o princípio
regulador do culto. As razões que tal entendimento é
necessário são múltiplas. Primeiro, o princípio regulador do
culto está diretamente relacionado às doutrinas sola Scriptura,
como a infalibilidade, autoridade absoluta, suficiência e
perfeição das Escrituras. Os reformadores calvinistas e as
confissões Reformadas muitas vezes usavam referidas
passagens sola Scriptura (por exemplo, Dt. 4:2, Pv. 30:6),
como textos de prova para o princípio regulador do culto.
Quando sola Scriptura é aplicada consistentemente para
adorar, o resultado é santidade e adoração reformada.”
(Copyright © Brian Schwertley, Lansing MI, 2000)
O culto a Deus, nunca deve se basear em nossos sentidos ou em nossas experiências, quanto ao
que achamos melhor ou pior no culto, ou como vamos agradar os visitantes. Não, não pode ser
assim, o culto deve ser pautado pelas Escrituras, a revelação proposicional de Deus aos
homens. O Sola Scriptura é um princípio epistemológico. Sobre esse lema, alguns dizem que
podemos ter como base epistemológica a confiança nas experiências sensoriais e que o Sola
Scriptura ensina isso. Com base nisso, alegam ainda que Deus não fala mais por visão, sonhos
ou profecias fora das Escrituras, caso isso acontecesse, violaria o princípio epistemológico do
Sola Scriptura.
Entendendo esse ponto, podemos afirmar que as experiências sensoriais que alegam ter não
violariam o princípio Sola Scriptura? Podemos adquirir algum tipo de conhecimento
proposicional fora das Escrituras? Existe um algum número de proposições fora das Escrituras?
Se existe, isso não afeta o princípio Sola Scriptura? Com essas alegações, perguntamos: É
melhor confiar em Deus que conhece toda a Verdade, o que Ele fala nas Escrituras e também
fora delas ou confiar nas experiências humanas sensoriais? Note que isso exige um princípio de
autoridade. Deus falar fora das Escrituras não afeta o princípio Sola Scriptura, porque Ele ensina
isso nesse princípio. Mesmo que subordinado a ele, mas ensina. Em quem vamos confiar: Em
Deus ou em nossas experiências sensoriais? E note outra coisa, para alegarmos o princípio
epistemológico do Sola Scriptura, é necessário pressupor o princípio Sola Scriptura. Ou seja, um
pré-conhecimento antes por uma revelação, causação ou iluminação de Deus, seja como você
queira definir. Na verdade, o princípio está em Deus.
Por fim, recomendo, sem sombra de dúvidas, essa obra do meu amigo e irmão em Cristo, o
pastor Orlando III. O livro tem uma leitura fascinante de fácil compreensão, com muito
conteúdo bíblico e teológico. Além disso, ele pode ser usado em estudos de pequenos grupos
familiares ou escolas bíblicas dominicais, pois vem com alguns questionários onde o leitor pode
responder sobre o que tem lido e aprendido.
Prof. Edu Marques
Reitor e Docente no IBETEC – Educação Teológica e Missionário Presbiteriano e um professor
querido
O Orlando tem sido uma pessoa muito interessada e muito fiel na divulgação da Verdade da
Escritura, eu espero que seus escritos sirvam de influência a muitas vidas e que as pessoas
tenham mais desejo de estudarem a Palavra de Deus, que esses escritos sejam um meio que
Deus use para Glorificar a Si mesmo e iluminar pessoas na escuridão intelectual. Desejo a todos
uma boa leitura.
Yuri Schein
Escritor dos livros “Ocasionalismo: Epistemologia e Metafísica Bíblica” e “Espada do Espírito: O
Poder e Autoridade da Escritura Sagrada”, além de amigo de grande conhecimento
Informações
Título: O Culto e a Palavra
Subtítulo: Como cultuar e glorificar a Deus com a pregação
Autor: Orlando III
Revisão: Leonardo Barros de Sousa
Edição e Diagramação: Orlando III
Capa: Orlando III
Ano: 2022
Local: Ubatuba – SP
1ª edição, 2022
TODOS OS DIREITOS DISPONIBILIZADOS, MAS RESTRITOS À CITAÇÃO, POR ORLANDO RIBEIRO
LEITE NETO.
NÃO ACREDITAMOS EM PROPRIEDADE INTELECTUAL, MAS É NECESSÁRIO EXISTIR
RECONHECIMENTO AUTORAL.
Dados para citação
ORLANDO III, O Culto e a Palavra: Como cultuar e glorificar a Deus com a pregação, Ubatuba,
SP: publicação independente. 1ª Edição, 2022.
Todas as citações bíblicas foram retiradas da versão Almeida Revista e Atualizada, salvo
indicação em contrário.
Agradecimentos
Dedico minha obra, primeiramente ao meu Senhor Jesus Cristo, que me levou ao Pai e tornou
meu conhecimento cativo a verdade revelada desse Deus Triuno. Sou grato ao Espírito que me
incomodou de tal modo que esse livreto viesse à existência, partindo de discussões com irmãos
na fé e ideias suscitadas em meio a tantas provações.
Sou grato também aos meus pais que em momento nenhum desistiram de mim, mas foram
faróis usados por Deus para que eu encontrasse a Verdade e a amasse de todo o meu coração.
Por fim, sou grato a Comunidade Cristã Reformada que me permitiu ver como pode existir uma
igreja bíblica em meio a esse caos que o mundo evangélico vive. Nesses irmãos tão queridos
tive a oportunidade de compreender e preencher com amor e vitalidade tudo que falo aqui.
(Obrigado meu querido revisor que suportou as minhas doideiras linguísticas, com as quais você
teve que se adaptar, por conta da minha personalidade de escritor).
Prefácio
O que o leitor encontrará nesse livro é um resumo didático que fiz de parte do que estudei
sobre o culto a Deus. Eu tive oportunidade de ver muitas heresias e, também, bons
testemunhos do evangelho, durante todos esses anos como cristão; assim, percebia
necessidade de aprender mais sobre o tema e como eu poderia auxiliar a igreja.
Passei várias noites em conversas regadas pela Bíblia, discutindo os problemas que eu e alguns
irmãos víamos nas igrejas; formulei muitos insights, motivos de oração e de consolo também.
O que entrego a você, querido leitor, é um pouco do que sei sobre o tema, com o fim de te
ajudar ou, até mesmo, de te munir com fundamento sólido para lutar pela verdade e trazer
vários irmãos para o caminho do Senhor.
Ao Senhor pertence a salvação, o poder, a honra, a glória e tudo o mais. Ele é rei. Ele merece
honra e glória com essa obra.
Introdução
A pregação é o alimento da fé cristã evangélica, é a genuína formação do indivíduo cristão e a
aproximação do Trono de Deus pela própria Palavra, a qual é viva e eficaz sob o crente, o
fazendo cada vez mais ser separado do mal e do passageiro e o colocando, por consequência,
cada vez mais próximo do bom, belo, verdadeiro e eterno que é e está em Deus, ou podemos
dizer, a pregação é usada como (1) transformação, tanto do não-convertido que se converte,
como do cristão verdadeiro que é santificado e fortalecido; (2) ela eleva a mente para algo
maior e melhor, nos fazendo perceber o todo a nossa volta com um olhar muito mais
contemplativo e transcendente; e (3) a pregação nos faz adorar objetivamente a Deus, sendo
um sacrifício de louvor conjunto da congregação no ápice do seu culto ao Senhor, que é a
leitura, explicação, aplicação e vivência da Revelação em cada coração cristão.
Deus nos instituiu um único sacrifício cerimonial no Novo Testamento, que está envolvido com
todas as ordenanças que Cristo e os apóstolos nos deram, que é o sacrifício de louvor (Hb
13:15). Glorificar a Deus é a nossa necessidade maior, é o porquê fomos criados, conforme o
Breve Catecismo de Westminster nos diz na resposta da sua primeira pergunta “o fim principal
do homem é glorificar a Deus...”1, e o glorificar é viver conforme o seu querer, em concordância
com o que é Revelado na Palavra do Senhor. Se vivemos o que nos é ordenado, começamos a
viver o que é dito no resto da resposta da primeira pergunta do BCW: “... [ao] deleitar-se nele
para sempre”; pois vamos nos tornando cada vez mais íntimos do Senhor, seremos tocados e
abraçados por sua Palavra, que é o próprio Cristo. E a intimidade com o Senhor é a maior
proteção que temos contra Satanás, o mundo e nossa carne.
Como é bem estabelecido na Bíblia, principalmente no Novo Testamento, a forma de culto a
Deus tem que ser envolvida na sua Palavra, tem que ter como núcleo e fundamento sua Lei e
Ordenanças, seu sopro oracular. É em Deus que temos sentido e sucesso em nosso culto,
porque Ele é o motivo e o desejo de culto, e Ele mesmo definiu como se revelaria e o que essa
Revelação seria para nós. A Revelação é a ferramenta de vida do cristão, o meio usado por
Deus, com teu Espírito, para nos ensinar e nos fazer crescer, para amadurecermos e o
adorarmos. Assim, não podemos tornar nosso culto uma experiência do interior do nosso
coração, se o nosso coração não estiver preenchido do Espírito com a consciência da Palavra,
pois senão seremos apenas pessoas balbuciando qualquer coisa a um deus morto, um senhor
fraco, um fruto da nossa porca imaginação.
Infelizmente, em nosso tempo, o culto tem sido fruto dessa imaginação infame que destrata a
Palavra de Deus, colocando o desejo humano como prioridade. E eis o grande problema, pois
segundo a Escritura, o homem é mal (Gênesis. 6:5), desejoso em se satisfazer num apetite
desordenado (Colossenses 3:5) e profanador do culto a Deus (Ezequiel 22:26). Assim, podemos
perguntar, não há solução ao homem? Claro que há, pois em Deus recebemos a reconciliação (2
Coríntios 5:19) e a nós que por graça fomos salvos, é dada a missão de levar a Palavra da
salvação, o meio da reconciliação do homem com Deus.
Nossa missão só pode ser cumprida se, por meio do Espírito, nós vivemos e anunciamos a
Palavra de Deus, não uma palavra humana vinda de nossas mentes, mas sim a Palavra do
Senhor por seu Espírito poderoso (1 Tessalonicenses 1:5). Como a igreja em Atos fazia, nós
somos compelidos e animados a levarmos, com toda intrepidez no Espírito, a palavra de poder
que é de Deus (Atos 4:31), palavra essa que não tem a característica de persuasão e
argumentação humana, mas provém do próprio Espírito de Deus (1 Coríntios 2:4).
O culto a Deus é regido por sua Revelação Especial, essa palavra de Poder que provém do
Espírito e é suficiente a todos os homens. Como Cheung diz “A Bíblia é suficiente para todos —
para ensinar crianças, para equipar ministros e para confrontar apóstatas endurecidos e
detratores hostis.”2 E essa mesma é perfeitamente suficiente, justamente por vir direto do
próprio Deus, como é dito pelo apóstolo Paulo “A Escritura é inspirada por Deus” (2 Timóteo
3:16).
A suficiência da Escritura é um ponto, já citado, mas extremamente necessário para nosso
pensamento aqui. Essa doutrina nos ensina que é da Palavra de Deus que vem os
conhecimentos necessários “para a glória dele [de Deus] e para a salvação, fé e vida do
homem” (CFW I:VI). A Bíblia é nosso manual de vida, dela tiramos a proposições para viver
nesse mundo, para entender esse mundo e, principalmente, para glorificarmos a Deus nesse
mundo. Sua suficiência está em ser completa no que ela propõe; pois sendo a Revelação de
Deus, ela está nos revelando verdades inegáveis, verdades substâncias, pois a própria Verdade
a deu a nós (Jo 14:6 e Jo 17:17)
Se a Escritura tem a sua suficiência em ser nosso manual de vida para glorificarmos a Deus, fica
implícito que ela é o manual de culto a Deus, pois trata também da verdade sobre o culto, do
verdadeiro culto ao Senhor. O nosso culto a Deus deve ser conforme a Bíblia ordena, afinal isso
significa ser conforme Deus ordena3. O culto não deve conter o que os homens acham, nem
suas tradições e filosofia (Cl 2:8), mas sim tudo que o santo Deus Triuno nos ensina e obriga. Se
feito dessa forma, o nosso culto vai glorificar a Deus, e por implicação lógica, nos ensinar mais e
mais.
Claro que, quando analisando o culto a Deus, entendemos que todos os participantes devem
ser ativos, mesmo que tendo pessoas chamadas para uma função específica (no caso o pastor
conduzindo a liturgia e a pregação), mas não pode haver inatividade por parte dos que ouvem.
Antes, desde o coração até as “mãos”4, devem estar em atitude reverente ao Senhor. Nós
devemos em toda a liturgia que segue o culto estarmos totalmente atentos, com os ouvidos
“abertos” a ouvir e com a mente ativa para a elevarmos a Deus, de forma que cada cântico,
cada verso lido e cada explicação seja um motivador de glorificarmos ao Senhor, fazendo
nossos pensamentos chegarem até Deus como aroma suave que o alegrará (Gn 8:21).
Dito isso, eu sinceramente espero que esse livro glorifique a Deus e o ajude, querido irmão ou
querida irmã, a fazer o mesmo. Nosso culto precisa ser reformado, nossas vidas precisam ser
inundadas pelo Espírito Santo; e que comecemos com a forma como fazemos nosso culto, em
especial no ápice dele que é a pregação da sua Palavra. Que você consiga, após ter lido esse
livro, aproveitar mais as pregações, os devocionais e EBDs que venha participar, pois esse é o
meu objetivo com tal manuscrito. Deus me guiou a perceber, por meio de várias experiências
pregando e ouvindo pregações, que nos falta sermos mais atentos a esse excelente ofício que
Deus deu a igreja, pois sendo um dos órgãos vitais da igreja (Ef 4:11-16), a pregação,
principalmente o sermão dominical, deve ser aproveitado ao máximo para o nosso benefício e
glorificação de Deus. Assim sendo, peço perdão desde já pelos meus erros e espero que o Santo
Espírito de Deus te ilumine e eleve sua alma para compreender mais o mistério de Deus e suas
ordenanças.
A Ele toda honra e glória eternamente.
Capítulo 1 – A Escritura Sagrada
A única fonte da nossa fé e prática é a Escritura Sagrada, a Bíblia. Conforme o Breve Catecismo
de Westminster nos diz em sua segunda pergunta “Que regra Deus nos deu para nosdirigir na
maneira de o glorificar e de nos alegrarmos nele? Resposta: A Palavra de Deus, que se acha nas
Escrituras do Antigo e do Novo Testamentos, é a única regra para nos dirigir na maneira de o
glorificar e de nos alegrarmos nele.”5 Os teólogos de Westminster, partindo da primeira
pergunta do BCW, que já citamos, constrói essa questão supracitada para dar a direção de
como glorificamos a Deus e como temos prazer nEle.
Ao tratarmos de qualquer questão da vida humana, se somos de fato cristãos, começaremos
pelo que a Escritura tem a dizer sobre; desse modo, eu gostaria de usar a própria Escritura para
nos fundamentarmos no que realmente ela é. A Escritura tem atributos próprios, sendo a
Palavra de Deus dada aos homens, ela se compõe de duas características que, se bem
entendidas e aplicadas em nossas vidas, farão transbordar muito mais o amor a Deus e a sua
vontade. Tais características são: a Bíblia é infalível e suficiente.
Teríamos outras características a declarar e expor sobre a Escritura, mas vejo que essas duas
darão conta do que pretendo com esse capítulo.
I. A Escritura é infalível
De início, existe uma declaração dada por Paulo que sempre é usada para fundamentar toda
discussão sobre a infalibilidade da Bíblia. Paulo na sua segunda carta a Timóteo, no capítulo 3,
verso 16 e 17 nos diz que “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a
repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja
perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra.”
O começo do verso citado diz que a Escritura foi inspirada por Deus, porém essa é uma
tradução que pode levar a entendimentos errôneos, pois pode parecer nos dar a ideia de uma
pessoa que nos inspira para algo, como uma motivação. Na realidade, o termo seria algo como
soprada, pois Deus deu a Escritura ao homem, Ele a soprou aos homens que escolheu para que
a escrevessem. “Se por inspiração queremos nos referir ao sopro de Deus, então um texto é
inspirado ou não, e textos inspirados são a mesma coisa que o sopro de Deus.”6 Sendo assim,
Paulo está nos informando que Deus deu a Escritura, nada menos incisivo devemos pensar
sobre essa doutrina, senão que o próprio Deus, não sendo homem para mentir (Nm 23:19), nos
dá pela Palavra verdades inegáveis e inerrantes, pois
o termo enfatiza a natureza da Escritura — dada por Deus —, e que ela é
diretamente dada por esse em termos de conteúdo. Deus escreveu sobre as
tábuas de pedra quando deu os Dez Mandamentos, contudo, o restante da
Bíblia veio dele tanto quanto aqueles, de sorte que não haveria nenhuma
diferença essencial se Deus tomasse uma caneta e escrevesse toda a Escritura
sem usar escritores humanos. A palavra “sopro de Deus” nos proíbe de tirar
uma conclusão menos enfática.7
Só com esse verso de Paulo, a clareza da infalibilidade da Escritura já é mais que suficiente.
Porém, a título de demonstrar mais ainda o poder do Senhor em nos dar sua Palavra, vamos
continuar. Pedro nos narra que a Palavra não veio, em momento algum, da vontade ou
manipulação dos homens, “nenhuma profecia da Escritura provém de particular elucidação;
porque nunca jamais qualquer profecia foi dada por vontade humana; entretanto, homens
santos falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo.” (2 Pe 1:20-21), assim, o Espírito
Santo, sendo a terceira pessoa da Trindade, foi quem levou o sopro e inspiração que fizeram os
homens santos escreverem a Bíblia.
Foi Deus quem falou, não os homens — ele falou por meio de homens. A
implicação é clara — as palavras da Escritura são tão “da parte de Deus” que é
como se elas tivessem vindo diretamente “da boca do Senhor”, e, na
realidade, elas vieram. Portanto, não devemos fazer nenhuma distinção entre
as palavras da Escritura e as palavras de Deus.8
A Palavra é, com toda certeza, infalível porque veio de Deus, o próprio Senhor e Criador de
tudo, que desejando salvar alguns, escolheu reservar o seu conhecimento revelado aos homens
em palavras que formam os 66 livros da Escritura, como é dito na CFW “foi o Senhor servido,
em diversos tempos e diferentes modos, revelar-se e declarar à sua Igreja aquela sua vontade;
e depois, para melhor preservação e propagação da verdade, para o mais seguro
estabelecimento e conforto da Igreja contra a corrupção da carne e malícia de Satanás e do
mundo, foi igualmente servido fazê-la escrever toda.”(Cap. 1, Seção I)
Isso tudo acima citado, só é possível porque o Deus que nós servimos é Senhor de tudo (Sl
119:91), onipotente (Is 43:13), onisciente (Hb 4:13), onipresente (Sl 13:1-2, 7), majestoso (Sl
8:1), justo (Dt 32:4), santo (Is 6:3), bondoso (Êx 34:6), misericordioso (Sl 145:8) e amoroso (1 Jo
4:7-8). Conforme Rushdoony diz, acerca de Deus ser quem é, e por consequência, o que
podemos esperar da sua Palavra: “Deus, que não pode mentir, é, dessa forma, verdade para
sempre, e tudo o que ele é e faz é verdade. Assim, a palavra proferida por Deus é
obrigatoriamente infalível.” Desse modo, se Ele em sua grandíssima misericórdia não desejasse
manifestar o seu ser por meio da sua Palavra, se Ele não quisesse mudar nossa história, a Bíblia
nunca teria vindo até nós. E podemos dizer o oposto, por questão didática e de devoção que,
justamente porque Ele é amoroso e bondoso para conosco, é que recebemos sua revelação,
que se encontra registrada na Bíblia Sagrada. O que me faz pensar em alguns questionamentos
sobre nossas atitudes com a Palavra de Deus... Como podemos pensar em ser negligentes com
tamanha riqueza de conhecimento? Como podemos ser tão irreverentes com a Escritura? E
como podemos adorar e agradecer ao Senhor pela salvação, se não ouvimos a sua Voz e não
pegamos em teu livro para nos deleitarmos?
Por fim, sendo a Revelação infalível e tratando de um Deus tão perfeito e real, só podemos
concluir que o fim que a Palavra nos leva é a glorificar o Senhor e vivermos felizes. E, para o
conforto nessa vida, nas Sagradas Letras recebemos o devido conhecimento para viver e agir
nessa terra, pois ela, a Revelação, é suficiente para nosso entendimento de nós mesmos, do
mundo e, principalmente, de Deus.
II. A Escritura é suficiente
A Escritura é infalível, isso já ficou mais que claro para nós. Sendo infalível e inerrante, ela traz
consigo, naturalmente, o aspecto da suficiência, ou seja, acompanhando novamente o que
Paulo diz (grifo próprio) “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a
repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja
perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra.” Conforme bem explica Cheung, em
sua Teologia Sistemática:
A doutrina [da suficiência] afirma que a Bíblia contém informação suficiente
para alguém, não somente para encontrar a salvação em Cristo, mas para,
subsequentemente, receber instrução e direção em todo aspecto da vida e
pensamento, seja por declarações explícitas da Escritura, ou por inferências
dela necessariamente retiradas. A Bíblia contém tudo que é necessário para
construir uma cosmovisão cristã compreensiva que nos capacite a ter uma
verdadeira visão da realidade. A Escritura nos transmite, não somente a
vontade de Deus em assuntos gerais da fé e conduta cristãs, mas, ao aplicar
preceitos bíblicos, podemos também conhecer sua vontade em nossas
decisões específicas e pessoais. Tudo que precisamos saber como cristãos é
encontrado na Bíblia, seja no âmbito familiar, do trabalho ou da igreja.9
Ou seja, a Escritura como sopro de Deus tem uma utilidade, uma finalidade para a qual nos foi
dada. Sei que em alguma medida já tratamos desse assunto com a segunda pergunta do BCW
que citamos, mas precisamos destrinchar um pouco mais desse assunto e a exposição objetiva
desses versículos supracitados nos ajudará (exposição objetiva significa que não exaurirei o
máximo do conteúdo que pode se extrair desse texto, mas sim expor de uma forma aplicável
objetivamente, sem rodeios que, para o momento não nos cabem, mas muitas vezes são
necessários)10.
Uma nota é necessária, quando tratamosda utilidade da Palavra, estamos aplicando a sua
suficiência, pois fica claro que ela é suficiente em fazer tais coisas descritas no texto, no caso
ensinar, repreender, corrigir e educar para a justiça. Isso tudo, seguindo o texto, se refere a
uma suficiência e utilidade ao homem de Deus, o qual se tornará aperfeiçoado e preparado
para toda boa obra.
A utilidade da Bíblia é descrita por Paulo, primeiramente, como sendo “útil ao ensino”:
começaremos por definir melhor esse termo, aqui Paulo pretende usar um termo que pode ser
mais bem traduzido por “útil a doutrina”, o que já nos destaca a importância primária da
Escritura. Ela é a autoridade suficiente e útil para a nossa doutrina, não precisamos de nada
além dela para nos expor e ensinar a doutrina de Deus.
A Escritura é útil e suficiente para o ensino porque, se a Bíblia afirma algo, ela
é a palavra de Deus sobre o assunto, e isso dirime a questão. Nenhuma
confirmação adicional é requerida e qualquer evidência extrabíblica citada
como suporte possuiria, de fato, uma autoridade infinitamente inferior, de
forma que seu valor racional seria ínfimo.11
O texto continua, útil “para a repreensão”: aqui nesse termo Paulo deseja que Timóteo
entenda que a Palavra de Deus é útil para debater e refutar toda e qualquer falsa doutrina. A
ideia de Paulo é que seu discípulo entenda que a Escritura, além de nos dar um sistema perfeito
de conclusões doutrinais, ela nos fundamenta o suficiente para derrubarmos todas as outras
ideias que não correspondem a verdade bíblica. A Bíblia é uma espada de ataque e defesa, ou
seja, ela pode manifestar a verdade de forma irrefutável (Hb 4:12) e, também, pode nos fazer
sobrepujar os ataques do inimigo (Ef 6:17).
Toda a Escritura é útil “para a correção”: nessa parte a questão moral está em pauta, ela nos
doutrina e nos ajuda a refutar o erro, mas mais ainda, sendo o sopro de Deus, a Bíblia traz a
autoridade divina para a questão, assim sendo, ela nos mostra o que Deus requer do homem,
como Ele define o que é bom para o homem fazer e o que é mal para o homem evitar. O termo
“correção” significa que há um delito a ser resolvido, e como sabemos, o homem sendo mal é
tendencioso a seguir o seu coração e não a Deus, assim a Palavra serve como fundamento ético,
as ações que o homem deve tomar na vida, e as que ele deve evitar, estão claras ou
logicamente expostas na Escritura.
Por fim, Paulo diz que a Escritura é útil “para a educação na justiça”: nesse sentido, o termo
educação vem de paideia, que é um termo grego que remetia para eles toda a ideia de um
treinamento completo do corpo e da mente, uma educação toda estruturada e bem
estabelecida, formada por disciplina e conteúdo de altíssima qualidade. Ou seja, Paulo quer
dizer à Timóteo que a Escritura ensina de forma completa na justiça, ou seja, além de nos
corrigir no nosso delito, ela nos dá um treinamento intenso e vivo na justiça, na forma que um
justo deve viver, segundo Deus.
E o encerramento feito no versículo 17 define muito bem o objetivo, que é comentado por
Cheung:
a Bíblia contém informação suficiente para que o homem de Deus possa estar
plenamente equipado para toda boa obra. Em outras palavras, a Bíblia
contém um completo sistema moral. Ela é suficiente e proveitosa para
fornecer instrução e orientação moral e para definir o bem e o mal. Ela é a
palavra primeira e última em todas as considerações morais e deve ser a corte
de apelação primeira e última para todos os debates e discussões morais.12
III. A Escritura é nosso fundamento da verdade, ou nosso axioma
epistemológico
Todo ser humano tem um conceito de como a verdade é alcançada, ou seja, qual é o
fundamento de onde vem o conhecimento. Todo sistema filosófico e cosmovisão tem isso
definido, ou ao menos vivem sem declaração oficial uma epistemologia, termo esse que
significa uma teoria do conhecimento, que é um conceito e ideia de como podemos conhecer.
R. J. Rushdoony, analisando a infalibilidade da Palavra e a nossa teoria cristã do conhecimento,
ele diz:
Várias filosofias trazem implícita certa forma camuflada de infalibilidade, i.e.,
a razão, o método científico, a experiência, e assim por diante. Todo sistema
de pensamento tem implicitamente a sua doutrina da verdade; embora
disfarçadas com negações modestas, cada uma delas assenta-se num
fundamento de pressuposições que definem e identificam a verdade.13
O cristão tem sua epistemologia como a Palavra de Deus (Sl 119:66), até aqui isso já deve estar
explícito, porém somos falhos em concluir o óbvio muitas vezes. Para nós, povo de Deus, a
Escritura nos informa de modo fundacional o conhecimento verdadeiro, pois sendo Palavra de
Deus, ela traz a verdade por si mesma, e quando a analisamos buscando bases para a
explicação das coisas e das ideias, ela nos fundamenta infalível e suficientemente em tudo
quanto é necessário.
Nós precisamos ter essa realidade em nossas vidas, a Palavra de Deus é por nós recebida como
fonte principal, axiomática do conhecimento. Axioma significa um princípio indemonstrável, ou
seja, um fundamento do conhecimento que só pode ser demonstrado verdadeiro se as
proposições retiradas dele forem verdadeiras, aplicáveis, demonstráveis ou praticáveis14, claro
que estou sendo, com motivo, muito reducionista na explicação, assim em resumo, o axioma é
a base do conhecimento e ele se prova verdadeiro se o que fundamenta é real. W. Gary
Crampton, ao analisar a filosofia e teologia de Gordon Clark, expõe um pouco sobre o tema:
Gordon Clark afirmou que a Palavra de Deus não é tinta preta sobre papel
branco. A Palavra de Deus é eterna; as páginas impressas da Bíblia não o são.
As letras ou palavras sobre as páginas impressas são sinais ou símbolos que
significam a verdade eterna — a mente de Deus—, comunicada por Deus de
forma direta e imediata à mente humana. O dr. Clark, com certeza, não
rebaixou o aspecto físico da humanidade. Ele reconheceu ter Deus criado a
mente do homem e seu corpo, incluindo-se os sentidos. Mas nem a mente
nem os sentidos são fontes de conhecimento. Como Paulo escreveu: Nem
olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano
o que Deus tem preparado para aqueles que o amam (1 Co 2.9). Ou como
Jesus disse; “Bem-aventurado és, Simão Barjonas, porque não foi carne e
sangue que to revelaram, mas meu Pai, que está nos céus” (Mt 16.17).
[...]
a mesma verdade existente na mente do homem existe em primeiro lugar na
mente de Deus.
[...]
O conhecimento, então, que o homem tem de Deus e da criação não é
derivado de meios empíricos nem racionais. Nem ele é em algum sentido um
conhecimento mediado. Antes, de acordo com o dr. Clark, todo o
conhecimento é imediato, revelacional e proposicional. É o “professor
interno", Jesus Cristo, o Logos divino, que ensina o homem, e não os sentidos
na interação com a criação. Isso é verdade mesmo quando diz respeito às
páginas impressas da Bíblia. Todo discurso ou comunicação é uma questão de
palavras e palavras (mesmo as encontradas na sagrada Escritura) são sinais
com significado. Quando sinais são usados, o recipiente, para entender, deve
já conhecer interiormente o que é significado. A parte desse
conhecimento interior, ensinou o dr. Clark, os sinais não teriam sentido."
[...]
“Se o homem conhece algo, ele deve conhecer uma verdade que Deus
conhece, pois Deus conhece todas as verdades” [citando o próprio Clark]15
Por que toda essa explicação, afinal? Bom, a finalidade é que possamos entender com a maior
precisão possível o que a Escritura deve ser para nós, como cristãos que confessamos ser. É
nosso dever, para a glória de Deus e avanço do Teu reino, estarmos preparados e capacitados
para respondermos aos nossos detratores (1 Pe 3:15) e, na nossa vida cotidiana, conseguirmos
cumprir todo o conselho de Deus (At 20:27). Se a nossa vida é fundamentada pela Bíblia,
devemos ter toda a reverência por ela, sendo Palavra de Deus, e todo o desejo de cumprir as
suas verdades reveladas que são inabaláveis, irrefutáveis e inegáveis.
Conclusão
Entendemos agora,com mais clareza, que a Escritura é (1) infalível, pois foi dada por um Deus
Todo-Poderoso, o qual é perfeito e eterno em seu ser, sendo sábio e todo conhecedor, logo em
nada falha, assim sua revelação também não falha. A Escritura também é (2) suficiente, pois
sendo infalível, seu objetivo não pode ser frustrado, mas pelo contrário, é facilmente cumprido;
e (3) o objetivo da Bíblia é nos ensinar para vivermos nesse mundo glorificando a Deus e tendo
plena alegria nEle. Todas essas coisas, sendo fatos inegáveis, fazem da Palavra de Deus a nossa
fonte da verdade, o nosso axioma e base da nossa epistemologia, como foi explicado acima.
Assim sendo, se levamos essas verdades a nossa mente e a nossa vida, não poderemos ser
fracassados, inertes ou infrutíferos em nosso culto ao Senhor Eterno que nos deu a salvação. Ao
contrário, seremos os mais felizes dentre os homens, teremos prazer em um culto bíblico e uma
devoção que busca ser preenchida pela verdade de Deus, por meio do Santo Espírito.
Que nossas mentes sejam renovadas por meio de tudo que aprendemos nesse capítulo, que
vocês, meus irmãos e irmãs, possam tornar cada vez mais sua vida, uma vida que segue toda a
Lei do Senhor, meditando de dia e de noite nela (Sl 1:2) e buscando, em cada culto, ser mais
preparado para cumprir o bom louvor ao Senhor (Is 42:10).
Perguntas para a revisão
1 – Qual foi o meio que Deus nos deu para aprendermos a glorificar a Ele e, com isso, nos
alegrarmos eternamente?
2 – Quais as características da Escritura que trabalhos nesse capítulo?
3 – O que significa dizer que a Escritura é infalível?
4 – O que significa dizer que a Escritura é suficiente?
5 – O que é epistemologia?
6 – O que é um axioma?
7 – Qual é a nossa epistemologia e o nosso axioma?
Leituras sugeridas:
A inspiração divina da Bíblia – A. W. Pink
Como estudar a Bíblia – John MacArthur
Infalibilidade e interpretação – R. J. Rushdoony & P. Andrew Sandlin
Introdução a Teologia Sistemática – Vincent Cheung
Lendo a Bíblia – J. C. Ryle
O Ministério da Palavra – Vincent Cheung
Os Símbolos de Fé de Westminster
Capítulo 2 – O Culto Cristão
No culto público, no Dia do Senhor, os crentes
glorificam a Deus e dele desfrutam de forma
apenas comparável ao culto em que todos os
santos tomarão parte no final dos tempos, no novo
céu e na nova terra. Porque, no Dia do Senhor,
quando os crentes se reúnem com os demais
membros da sua congregação na presença de Deus,
eles também se ajuntam às hostes invisíveis de
anjos e santos, antecipando, assim, o culto que
caracterizará a vida deles na Jerusalém celestial16
Jon Payne
O cristão verdadeiro é, acima de tudo, um pecador redimido que vive para adorar a Deus, que
entendeu sua miserabilidade e podridão, isto é, que esse Senhor bondoso lhe salvou de si
mesmo, num estado de serventia ao mal, e o colocou na melhor posição possível, que é a de
filho desse Deus Triuno, pessoal e amoroso. Nessas condições só podemos pensar em adorar a
esse Deus, e mais, só podemos ter desejo e disposição de assim fazê-lo.
Mas infelizmente, dentre tantas coisas que não são como deveriam, porém, nada fugindo do
controle de Deus, o culto a Ele tem sido extremamente desrespeitado por muitos, e também
esquecido por alguns, e negligenciado por outros tantos. Pois, (1) alguns se achando senhores
de si e do culto, tem o feito como lhes apraz, segundo o desejo do seu coração; (2) outros
simplesmente pela fraqueza de doutrina e maturidade cristã, têm esquecido como deve ser o
culto a Deus e permitem que os detratores o mudem; e (3) outros que são conhecedores e
maturados nesse entendimento, por preferência ou simples falta de sensibilidade espiritual
para discernir o mal, permitem que o culto seja feito de qualquer forma, mesmo que com a
estrutura certa, mas sem o conteúdo e o coração disposto, de fato.
Esses são os maus que assolam nosso culto hoje, desde as igrejas mais tradicionais até as mais
contemporâneas17. E pior, as Igrejas Reformadas, que deveriam ser o pilar da boa doutrina,
culto e prática piedosa, são as que mais sofrem disso, pois quando você chega a um nível tão
alto, descer depois é um retrocesso muito maior se comparado com quem já estava baixo. Com
isso quero dizer que nós, sendo de uma tradição bíblica que expandiu, explicou e aplicou o
melhor culto a Deus, nos tornamos tão podres, tão fracos e inúteis em nosso culto. Nos
vendemos ao modernismo, secularismo e tutti quanti, que empregam todas suas forças em
parar a Igreja de Deus.
Sabemos, claro, que nada nem ninguém pode parar o corpo de Cristo, justamente por causa do
poder do cabeça, do noivo da Igreja. Mas podemos, muitas vezes, sermos iludidos e enganados
pelos lobos (At 20:29). Assim sendo, quero tratar um pouco do falso e verdadeiro culto a Deus
nesse capítulo.
I. O culto que não agrada a Deus
Quando analisamos a Escritura, várias histórias em várias épocas se destacam para nós no que
se refere ao culto que não agrada a Deus. Temos Caim, o acontecido com o Bezerro de Ouro,
Nadabe e Abiú, Uzá, Ananias e Safira e muitas outras histórias e momentos em que são
manifestos atos impuros, práticas malignas sem arrependimento, atos cerimoniais feitos só por
obrigação, e a lista é infindável. Nesse sentido, partindo do que falamos no capítulo 1, com o
entendimento que a Escritura é o nosso manual, vamos dar uma pincelada em algumas
histórias, a fim de encontrar o que possa nos doutrinar, nos corrigir, nos repreender e nos
educar na maneira de fazer e viver o culto a Deus.
Caim
A primeira história que traz à tona um culto que Deus não se agrada está em Gênesis 4, na
história do primeiro homicídio, que é um fratricídio18. Caim e Abel, filhos de Adão e Eva,
segundo nos relata a Palavra, entregaram a Deus ofertas, sendo a de Caim frutos, pois era
agricultor; e a de Abel foram as primícias dos seus animais, pois era pastor de rebanhos. A
Escritura narra que o Senhor se agradou da oferta de Abel, mas da oferta de Caim não, o que
levou o mesmo a ficar irado, o que levou a inveja contra o seu irmão, o qual ele matou.
O que se percebe nesse texto, na questão do culto, é que Abel ofereceu o melhor que tinha,
enquanto Caim só ofereceu algo que achou que estava bom, uma coisa qualquer. Em nenhum
momento o problema está no que eles ofereceram em si, como se um cordeiro fosse melhor
que os frutos; não é essa a questão, mas sim como o coração deles estava, se eles tinham
realmente vontade de adorar a Deus. Assim, no caso de Abel, era verdadeira sua adoração e,
por isso, ele escolhe dar o melhor do seu rebanho, enquanto em Caim havia maldade, pois era
do Maligno (1 João 3:12).
Ou seja, se somos, de fato, cristãos verdadeiros, oferecer o nosso melhor a Deus não será
pesado, cansativo ou tedioso; mas, sem sombra de dúvidas, será animador, de um regozijo sem
fim, de uma vontade ativa e sincera perante o Senhor. Pois nossas ofertas serão uma busca por
adorar o Deus da nossa salvação, que nos permitiu ter vida e, mais, vida em abundância em
Cristo Jesus.
O culto a Deus tem de ser sincero, de todo o coração, e ofertando o seu melhor.
O Bezerro de Ouro
Em Êxodo 32 temos outra história que narra a nós um culto que não agrada ao Senhor. No texto
diz que enquanto Moisés se encontrava no Monte Sinai, diante do Senhor, o povo de Israel,
achando que ele estava demorando para retornar, pede a Arão que faça deuses para eles
servirem e os proteger. Arão pega todo o ouro deles, o derrete e faz um bezerro de ouro
dizendo que esse era o deus que os havia tirado do Egito.
Deus, no monte com Moisés, fala para ele toda a situação que estava ocorrendo, assim o
Senhor se enfurece com seu povo, mas Moisés pede calma a Deus para que ele fosse ao povo
resolver. Porém, o próprio Moisés se ira ao descer e ver o que eles faziam. Então, por meio dos
levitas e em seguida de um Anjo, a ira cai sob o povo e eles sofrem com o seu falso culto.
O que aprendemos nessa história é que não devemos trocar Deus por nada, e que devemos ser
gratos a Ele somente, por tudo que fez por nós. Eles erraram ao se esquecerem da aliançado
Senhor, eles trocaram o Senhor e seu poder por nada e eles desejaram, com tudo isso, fazer as
coisas do seu jeito e no seu tempo.
O culto a Deus tem que ser para o Senhor, pois só Ele é o nosso salvador e Deus,
verdadeiramente.
Nadabe e Abiú
Em Levítico 9 vemos um culto a Deus, guiado por Moisés, Arão e seus filhos, segundo o rito
dado por Deus (Lv 9:16). Culto feito com holocaustos e ofertas, tendo participação da
congregação, conforme Deus havia ordenado. Entretanto, no capítulo 10, na continuação da
narrativa, dois filhos de Arão – chamados Nadabe e Abiú – descumpriram a ordem de Deus por
trazerem, conforme alguns comentaristas dizem, fogo de um lugar não autorizado pelo Senhor,
queimando os incensos com “fogo estranho”, que era abominável a Deus.19
Os sacerdotes no Velho Testamento tinham o santo ofício de levarem os pecados do povo ao
Senhor e os expiar, para o povo ser purificado e santificado. Mas para que isso ocorresse
corretamente, incluía-se uma vida de extrema santidade e alto respeito pelas ordenanças do
Senhor, “segundo o rito” que ele ordenara. Não podia haver, de nenhuma forma, rituais e ações
que fossem criadas por homens, mas tudo conforme foram ensinados, pois como é dito da
parte do Senhor para Arão sobre a santidade dos sacerdotes: “para fazerdes diferença entre o
santo e o profano e entre o imundo e o limpo e para ensinardes aos filhos de Israel todos os
estatutos que o SENHOR lhes tem falado por intermédio de Moisés.” (Lv 10:10-11).
Conforme observado, Nadabe e Abiú se preocuparam apenas em cumprir um ritual, sem
pensar, com excelência e cuidado, na glória de Deus, mas apenas pensando em fazer o que
parecia agradável, fácil ou bom, segundo eles. E isso voltou para eles como ira de Deus, pois ao
contrário do culto ser recebido com fogo santo (Lv 9:24), o culto deles se tornou em
manifestação da ira de Deus, que os queimou e consumiu (Lv 10:2).
Pode ser por nós entendido com essa passagem que, Deus sendo santo e poderoso, não pode
ser cultuado conforme nossos desejos, segundo nossos pensamentos, mas conforme suas
prescrições e ordenanças. Nós não temos direito de retirar, um pouco que seja, a autoridade de
Deus para mudarmos qualquer lei dele, por mais ínfimo e insignificante que possa parecer a
nós.
O culto a Deus deve ser feito conforme a sua Lei, e não temos direito de fazer qualquer mudança
nela. Antes, somos compelidos para com temor e tremor nos apresentarmos diante de Deus, em
alta reverência.
Uzá
A frase clássica “de boas intenções o inferno está cheio” é muito apropriada a história de Uzá.
Em 2 Samuel, capítulo 6, é narrado o resultado da vitória de Davi sobre os filisteus (o confronto
é narrado no capítulo 5). Davi havia conseguido recuperar a arca da aliança da mão dos seus
inimigos e estava a levando para a casa, quando um homem chamado Uzá, filho de Abinadabe
(Vs. 3), que era um dos responsáveis pelo transporte, tentando segurar a arca da aliança,
porque os bois a deixavam pender, é ferido por Deus.
Por que isso ocorre? Porque Uzá cometeu sacrilégio contra a santidade de Deus, a arca da
aliança era o símbolo e o meio pelo qual Deus manifestava-se ao seu povo, logo deveria ser
puro, não deveria ter toque de ninguém, tanto que dispunha de anéis e varas para a levar
(apesar de não usarem nesse transporte narrado, manifestando já a boa intenção sem o devido
cuidado e reverência por parte dos envolvidos no transporte da arca, ou como diz Paulo em
romanos 10, verso 2, havia “zelo sem entendimento”).
Assim, fica evidente que um culto verdadeiro a Deus, envolve usar de todas as ferramentas que
Ele nos dispõe, e não criarmos as nossas próprias, pensando que o culto é uma questão de bom
gosto, de opção, e que Deus ficará feliz com isso. Uzá desrespeitou a forma prescrita de
respeito a Deus e, por isso, foi ferido pelo Senhor, apesar da sua boa vontade. Conforme é dito
por Emílio Garofalo, no Prefácio da obra de Terry L. Johnson20:
“Por causa da distância entre nós, criaturas, e o nosso Criador, somos
incapazes de alcançar seus pensamentos e o que lhe é agradável, sem que ele
mesmo nos diga. Uma visão reformada afirma que culto é questão de gosto;
mas do gosto de um Deus soberano, não de humanos caídos.”
O culto a Deus não deve ser feito com uma boa intenção que não tem fundamento na Palavra
de Deus, mas, pelo contrário, segundo todo o conselho do Senhor na forma como Ele requer a
adoração, devemos diligentemente dar o nosso melhor no culto prescrito por Deus.
Ananias e Safira
A última história que eu desejo contar aqui ocorre em Atos dos Apóstolos, em seu quinto
capítulo. No contexto, a Igreja estava crescendo e se expandindo, e o amor deles era tanto que
vendiam suas propriedades e bens para compartilhar entre os irmãos; assim começa nossa
narrativa, onde é apresentado a nós um casal cujo nome do homem era Ananias e da mulher
Safira; eles haviam se comprometido com Deus para entregar todo o valor da venda de uma
propriedade que lhes pertencia, como oferta.
Porém, os dois, querendo reter parte do valor para si, imaginaram que poderiam enganar o
Senhor descumprindo o que eles haviam falado, no entanto, eles sofreram a dura pena da
morte, pois quando vieram entregar a Pedro o valor, o Espírito lhe comunicou a mentira e eles
foram, na hora, mortos pelo Senhor.
Somos levados a imaginar quão sério é cumprir o culto a Deus, o quão importante é manter
nosso compromisso com o Senhor. Não devemos prometer nada além do que nos convêm e o
nosso melhor deve ser entregue a Deus, pelo nosso culto.
O culto ao Senhor, inclusive feito com ofertas ao trabalho da Igreja, deve ser feito com todo
cuidado e sinceridade. Toda mentira deve ser largada, pois o Senhor abomina o mentiroso (Ap
21:8)
II. Características do culto que agrada a Deus21
O culto que agrada a Deus é o culto que Ele pede de nós, culto este que é condizente com suas
ordenanças, centrado em Deus, que fala com Ele, sendo feito de forma simples e objetiva para,
com alegria, O glorificar. O culto é pactual e evangélico, sendo reverente por sua forma
litúrgica, fazendo assim a Trindade ser manifesta, e a Pessoa e Obra de Cristo receber toda a
glória que lhe é devida.
O culto é bíblico
Nós já demandamos um bom tempo tratando dessa questão no primeiro capítulo, mas é
extremamente importante aplicarmos, novamente, essa questão. O culto que agrada a Deus é
um culto que segue o que foi ordenado por Deus, e essas ordenanças estão reveladas na
Palavra dEle; assim sendo, o culto tem de ser bíblico. Essa forma de pensar foi definida pelos
reformados como Princípio Regulador do Culto:
O Princípio Regulador declara que, no culto, os crentes nada devem fazer
exceto aquilo que foi prescrito ou ordenado na Escritura. Esse princípio não
somente salienta o fato de que Deus revelou na sua Palavra o modo como
deseja ser adorado, mas também, de modo maravilhoso, resguarda o culto
das inovações da humanidade pecaminosa. Certa vez, Calvino comentou que
a nossa mente é uma fábrica de ídolos, sempre inventando novos objetos de
culto e imaginando novas maneiras como adorar. O Princípio Regulador
considera com muita seriedade tanto a veracidade da Palavra de Deus como a
falsidade do coração dos homens.22
O culto é centrado em Deus
Obviamente uma característica segue da outra aqui, pois é evidente que, se a Palavra de fato é
o nosso Princípio Regulador, o seu autor vai ser enfatizado e adorado, afinal é isso que Ele exige
na Escritura.
O culto tem de ser centrado em Deus porque Ele é o único merecedor de culto, conforme vimos
anteriormente, afinal os cultos que deram errado por não agradarem a Deus, estavam
totalmente dissonantes com o Senhor, não focavam nEle, mas nos desejos e pensamos do
homem. Mas o que é o homem senão um miserável (Jó 7:17) que mal pode discernir seu
caminho? (Pv 20:24). Sendo desse modo, só Deus que é majestoso e poderoso é quem merece
toda a honra e toda a glória eternamente (Ap 4:9-11).
Já diria o Breve Catecismo de Westminster na resposta da pergunta 50: “O segundo
mandamento exige que recebamos,observemos e guardemos puros e íntegros todo o culto e
ordenanças religiosas que Deus instituiu em sua Palavra.”23
O culto é comunicativo
Quando lemos sobre o culto no Antigo Testamento, vários símbolos são óbvias referências a
Jesus, a começar pelo cordeiro pascal. Deus, em toda a sua sabedoria, já estava naquela época,
como em todas Ele faz, comunicando conhecimentos por meio do culto. Ele usava os símbolos
para referenciar a esperança futura que era o Cristo que viria e a sua Obra. No caso do culto
hoje, tudo tem referência na Pessoa e Obra de Cristo já manifestos, a começar com a oração,
passando pelo cerne do culto que é a Palavra, e chegando até os sacramentos que são símbolos
importantíssimos da redenção.
Além disso, o culto a Deus sempre envolveu o seu povo, pelos meios que Ele ordenava, para se
comunicarem com Ele, pedindo perdão, agradecendo e sempre o glorificando. Hoje não é
diferente, nós louvamos a Deus, oramos a Ele pedindo perdão e ouvimos suas instruções por
meio do ministro da Palavra (Ef 5:19-21). Em tudo isso glorificamos a Ele e temos prazer nEle.
O Catecismo Maior nos ensina que os meios exteriores pelos quais Cristo nos comunica os
benefícios da sua mediação são “todas as suas ordenanças, especialmente a Palavra, os
Sacramentos e a Oração; todas essas ordenanças se tornam eficazes aos eleitos em sua
salvação.”
O culto é alegre
“A vida cristã não se resume a recebermos o amor de Deus, mas a também respondermos ao
seu amor com louvor, confissão, gratidão e obediência cheias de fé.”24 Nós amamos a Deus
pelo que Ele fez por nós, e isso é um fato. Assim, transformamos esse amor em sacrifícios de
louvor, atos de adoração e confissão a Deus, que simbolizam e manifestam a nossa obediência
a Ele, pois somos filhos que amam o Pai que deu tudo para nós (Ef 1:22-23).
Deus merece ser louvado, Ele tem esse direito. Porém, mais ainda, o Senhor deseja transmitir
alegria aos que o louvam, pois são bem-aventurados nEle, são pessoas que passam por
tribulação, mas não são desamparadas ou destruídas (2 Co 4:9). Pelo contrário, em Deus temos
alegria eterna (Fp 4:4), o que faz nosso culto ser prazeroso, ter regozijo em Deus (Sl 97:8),
afinal, o Senhor em sua alegria, é quem nos dá força (Ne 8:10).
Assim sendo, o que nos é prazeroso é vivermos como o salmista diz:
Celebrai com júbilo ao SENHOR, todas as terras.
Servi ao SENHOR com alegria, apresentai-vos diante dele com cântico.
Sabei que o SENHOR é Deus; foi ele quem nos fez, e dele somos; somos o seu
povo e rebanho do seu pastoreio.
Entrai por suas portas com ações de graças e nos seus átrios, com hinos de
louvor; rendei-lhe graças e bendizei-lhe o nome.
Porque o SENHOR é bom, a sua misericórdia dura para sempre, e, de geração
em geração, a sua fidelidade. (Sl 100:1-5)
O culto é pactual
O culto é o momento que a Igreja se reúne como povo de Deus em comunidade para o cultuar
por seu pacto conosco. Pois em Cristo fomos tornados Seu povo da aliança (Ef 2:11-22), agora
sacerdotes reais e nação santa, receptores da misericórdia do Senhor (1 Pe 2:9-10). Assim
sendo, estamos em pacto com Deus, ou seja, Deus em sua graça manifestou a salvação a nós e
nos tornou seu povo, por meio do cabeça da Igreja, que é Cristo (Gl 3:16).
Há muito a se discorrer sobre isso, pois desde a queda de Adão o Senhor escolhe meios de
administrar seu pacto de graça ao povo (CMW 33-35), porém não temos o devido tempo para
explanarmos o aspecto pactual da Escritura e da forma como Deus age com seu povo.
Mas o que precisamos saber é que a importância do culto que prioriza o aspecto de pacto é que
suas crianças serão abençoadas com o batismo, os adultos que professarem a fé entenderão
onde estão sendo inseridos, a ceia do Senhor fará sentido como sacramento, a pregação terá
um aspecto contínuo e atual, entre outras coisas.
Como esse pacto é administrado a nós da Nova Aliança? O CMW nos responde na pergunta 35:
No Novo Testamento, quando Cristo, a substância, foi manifestado, o mesmo
pacto da graça foi e continua a ser administrado na pregação da palavra na
celebração dos sacramentos do batismo e da Ceia do Senhor; e assim a graça
e a salvação são manifestadas em maior plenitude, evidência e eficácia a
todas as nações.25
O culto é evangélico
Eu imagino que a maioria dos meus leitores seja de cristãos que se dizem evangélicos, mas,
infelizmente, muitos só dizem ser, não vivem isso de fato. Essa característica do culto a Deus é
de extrema importância, pois o culto deve ser feito com uma manifestação de genuína fé
evangélica, que não se prende a ritos e tradições (Mc 7:1-13), a lei (Gl 3:23-29) ou a qualquer
vento de doutrina (Ef 4:14).
Pelo contrário, agora em Cristo, somos livres (Jo 8:36), e com essa liberdade servimos a Deus (1
Pe 2:16) com plena confiança (Ef 3:12), cultuando a Deus com sacrifício vivo, santo e agradável
(Rm 12:1-2) e não nos conformando com o mundo, mas vivendo o que Deus requer de nós, com
toda sabedoria e entendimento espiritual (Cl 1:9). Afinal, essa é a verdadeira fé evangélica (Fp
1:27).
O culto é trinitário
Se nós somos cristãos verdadeiros, nós somos cristãos trinitários e bradamos o credo apostólico
sem qualquer problema. Podemos confessar juntos com o CMW26 na sua pergunta 10:
10. Quais são as propriedades pessoais das três pessoas da Divindade?
R: O Pai gerou o Filho, o Filho foi gerado pelo Pai, e o Espírito Santo procede
do Pai e do Filho, desde toda à eternidade.
Nosso culto é para a Trindade, dirigimos nosso culto a Deus Pai, por intermédio do Deus Filho,
no poder e orientação do Deus Espírito Santo. Essa é a nossa devoção, dar glória a Deus, em sua
tríplice pessoalidade, da forma que lhe é devida; pois nada somos para discordar de Deus ou
acharmos que temos poder para entender qual deve ser o culto a Ele.
Os modernos, com seu culto antibíblico, fazem diversas proezas em busca do Espírito Santo e,
além de errarem em como o buscar, esquecem as outras pessoas da Trindade ou tornam elas
menos Deus. O mesmo erro se dá no entendimento da pessoa de Deus Pai por alguns
tradicionais que trocam sua glória que está na tripartição de forma justa, para dar mais atenção
ao Pai apenas. E há aqueles que se dizem os certos por seguirem Cristo, mas se esquecem de
Deus Pai e de Deus Espírito Santo, se esquecem da obra destes em detrimento de quererem
parecer cristocêntricos, o que, de fato não são, agindo assim.
O culto é cristocêntrico
“Jesus é o centro de tudo que há” é estrofe de uma música que ouvi a alguns anos. E de fato ela
está certa, pois Jesus é o caminho por onde somos salvos, é a revelação da verdade que nos
liberta e é por Ele que temos a vida, afinal ninguém vai ao Pai a não ser por Ele (Jo 14:6). Ele é a
imagem do Deus invisível (Cl 1:15), nEle foram criadas todas as coisas, tanto no céu como na
terra (Cl 1:16) e Ele é o sustentador de todas essas coisas criadas (Hb 1:3).
Sem Jesus Cristo não haveria salvação (At 4:11-12), mas pelo contrário, em Cristo temos vida (Ef
2:5) e somos aproximados a Deus pelo seu sangue (Ef 2:13) para glorificarmos a Deus, por meio
dEle, com sacrifícios de louvor (Hb 13:5).
Nós somos dependentes de Cristo, Ele é o nosso Senhor, devemos louvar e adorar a Deus por
meio dEle, pois sem Ele nada do que foi feito se faria (Jo 1:3). Sua obra é perfeita, cumpre todos
os requisitos de Deus e, por isso, Ele recebe do próprio Pai todo o domínio sobre o universo.
Esse é o nosso Senhor, o qual sendo Todo-Poderoso, entrega a nós o domínio sobre todas as
coisas (Ef 1:22-23).
Devemos louvar a Ele conforme é dito em Apocalipse 5:12 “proclamando em grande voz: Digno
é o Cordeiro que foi morto de receber o poder, e riqueza, e sabedoria, e força, e honra, e glória,
e louvor.”
O culto é litúrgico
Eu quis colocar essa característica por último, pois acredito ser uma das mais negligenciadas
pela modernidade. De fato, não é a única esquecida ou considerada ruim, mas com certeza é a
mais considerada retrógrada e inútil pelos ignorantes da Palavra e hereges no geral. Assim
sendo, quero encerrar com ela,a fim de deixar como última impressão essa chave de ouro para
um bom culto cristão.
Primeiramente, liturgia se remete a uma palavra grega que significa culto, um exemplo do uso é
Hebreus 9:12 onde, ao fim do versículo, vem traduzido “serviço sagrado”. E assim, de início, já
entendemos que a liturgia é o serviço religioso, o que para nós pode-se entender como a
organização e prática do culto.
O Catecismo de Heildelberg define muito bem, na pergunta 10327, o que é a liturgia bíblica: é
uma ordem de culto onde vamos a igreja para ouvir a Palavra de Deus, participar dos
sacramentos, adorar ao Senhor e praticar a caridade cristã para com os necessitados.
Também uma definição muito próxima é dada por Daniel Hyde:
Atos 2.42 nos dá um esboço descritivo do culto nas primeiras congregações
cristãs. Aqui lemos que os cristãos primitivos devotavam-se à “comunhão”,
que é o vínculo de amor que existe entre os membros da igreja, como
expresso no dar esmolas. Como uma comunhão de crentes, eles também se
devotavam ao ensino dos apóstolos (a Palavra), ao partir do pão (a Ceia do
Senhor, como o texto grego diz “o pão”), e às orações. As categorias gerais de
um culto aceitável são a Palavra, os sacramentos, a oração e as ofertas.28
Ou seja, podemos deduzir, de uma forma sistemática, o que a liturgia deve conter e o seu
escopo:
Deve conter:
A Palavra de Deus
Os Sacramentos
A oração
As ofertas
E o escopo que podemos muito bem deduzir pode ser algo como:
Adoração e gratidão: início do culto em que agradecemos a Deus por tudo que Ele
é, fez e faz por nós.
Perdão de pecados: momento em que a congregação se coloca em unidade
pedindo perdão pelos pecados cometidos.
Sermão: ápice do culto, quando o pastor leva a porção da Palavra de Deus a
congregação, expondo o texto bíblico da melhor forma possível.
Ceia do Senhor e Batismo: momento em que são dados os sinais da aliança para
aqueles que desejam adentrar o pacto e onde é ministrada a Ceia do Senhor.
Ofertas: momento em que são disponíveis os meios para a congregação investir
financeiramente no Reino de Deus.
Com essa organização, fazemos com que nosso Deus seja adorado, louvado e honrado como Ele
merece, com ordem e decência, com amor e verdade e com todo o conselho dEle para nós.
III. Em espírito e em verdade
Disse-lhe Jesus: Mulher, podes crer-me que a hora vem, quando nem neste monte,
nem em Jerusalém adorareis o Pai. Vós adorais o que não conheceis; nós adoramos o
que conhecemos, porque a salvação vem dos judeus. Mas vem a hora e já chegou, em
que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque são
estes que o Pai procura para seus adoradores. Deus é espírito; e importa que os seus
adoradores o adorem em espírito e em verdade. João 4:21-24
Jesus diz a mulher samaritana que vem um momento em que em nenhum local conhecido, pela
religião da época, Deus será adorado. Os samaritanos adoravam em um local que não tinha
base alguma, e os judeus seguiam os ritos veterotestamentários, porém Cristo manifesta que já
está chegando o momento que todos esses locais serão ineficazes, não por deixar de ser
possível adorar neles, mas porque em qualquer local Deus poderá ser adorado, dentro das
circunstâncias que comentamos aqui, as quais são bíblicas.
Deus, em Cristo, tira o limite da adoração de ser feita apenas em um local, e faz com que a
liberdade cristã perdure sobre a Igreja:
“O culto é necessário, mas o lugar onde ele ocorre é indiferente,
indeterminado; é deixado à prudência humana escolher o lugar que seja mais
conveniente. Não encontramos nenhuma regra obrigatória, mas, em geral,
“que todas as coisas sejam feitas com decência e ordem”. As consagrações
dos homens não podem tornar santo o que a instituição de Deus não
santifica.”29
Cristo repete a questão do momento, diz que está chegando a hora que os verdadeiros
adoradores adorarão o Senhor em espírito e em verdade, porque Deus procura esses para o
adorar. A verdadeira adoração é aquela que é feita “em espírito”, ou seja, estando vivos ao
nascer do Espírito, nos tornamos espírito, e assim podemos adorar a Deus na beleza da sua
santidade, sem qualquer muleta cerimonial ou mediador, pois em Cristo temos o Sumo
Sacerdote e Supremo Mediador que nos torna Sacerdócio Real, nos permitindo adorarmos
diretamente a Deus. E a “verdade” é essa, que em Cristo podemos estar face a face com Deus,
adorarmos diretamente o Senhor de tudo e, por meio do Espírito, desfrutamos sua presença de
forma íntima e profunda.
“Deus é espírito”, essa é a natureza de Deus, um dos seus atributos, assim sendo, importa que
nós como adoradores, o adoremos no que Ele é, como Ele quer. Importa, então, que o
adoremos como verdadeiros adoradores, no espírito e não nos símbolos e, na verdade e não
em ritos mortos.
Conclusão
Somos um povo chamado para adorar a Deus como Ele quer ser adorado, não podemos pensar
que temos algum direito sobre o Senhor, mas é Ele que nos transforma, Ele quem em nós
habita, Ele quem conduz a salvação e é Ele para quem tudo foi feito e tudo O glorifica. Sejamos
sensatos e piedosos, cheguemos a Deus como Ele requer de nós, é o nosso dever O adorar
como convém a Ele. Não a nós, Senhor, não a nós, mas ao teu nome dá glória (Sl 115:1).
Perguntas para a revisão
1 – O cristão verdadeiro é, acima de tudo, o quê?
2 – Quais são os cultos que não agradaram a Deus?
3 – Quais as características ruins aprendemos com os cultos que não agradam a Deus?
4 – Quais as características que aprendemos do culto que agrada a Deus?
5 – O que é adorar em espírito e em verdade?
Leituras sugeridas:
Adoração – A. W. Pink
Adoração Evangélica – Jeremiah Burroughs
Adoração Reformada: adoração segundo as escrituras – Terry L. Johnson
No Esplendor da Santidade: Redescobrindo a Beleza da Adoração Reformada para
o Século XXI – Jon Payne
O Culto Público: Uma breve teologia e por que deve ser preferido ao privado –
David Clarkson
O Que é um Culto Reformado: Por que em uma igreja Reformada o culto é tão
diferente da maioria das outras igrejas? – Daniel R. Hyde
Capítulo 3 – A igreja, o sermão e a vida
Quando eu planejei escrever esse pequeno livro, a minha ideia sobre o que seria exposto aqui
era justamente sobre ouvir um sermão e o entender corretamente, sobre saber aproveitar o
momento de culto solene para a glória de Deus. Creio que, na medida do possível e no meu
limite, consegui expor o necessário para esse momento em que trataremos do pré-culto e suas
implicações necessárias, do culto e o seu valor indescritível e do pós-culto e sua ação
pertinente. Que Deus seja louvado e a sua Verdade exposta claramente aqui.
I. Pré-culto
Eu quero nos fazer pensar de forma bem elementar antes de adentrarmos questões como
oração e cuidado estético para o culto, mas o que tratarei, em alguma medida, está relacionado
com todo tipo de matéria ética e, principalmente, de cunho espiritual. Pois, conforme vimos
anteriormente, é necessário ao cristão, e muito prazeroso também, viver conforme a Escritura,
que é a Palavra de Deus. Além de que, um culto cristão tem características próprias que só são
encontradas em um grupo de cristãos que mantêm a Revelação divina como seu fundamento.
A nossa crítica a igreja moderna está, conforme os capítulos passam, se acentuando e
formando em nós uma unidade de pensamento sobre o culto e a nossa vida com Deus. Assim,
desejo que, com princípios objetivamente estabelecidos, possamos glorificar mais e mais a
Deus em nossa vida, fazendo nosso louvor, nosso clamor e afins, serem sinceros e profundos no
Espírito.
A igreja local
Para que haja um culto bíblico, a primeira coisa que é claramente necessária, é congregar em
uma igreja local que seja bíblica. O que podemos definir como uma igreja bíblica? Bom, eu
gosto de elucidar, como início de discussão, a confissão de Pedro:
Indo Jesus para os lados de Cesaréia de Filipe, perguntou a seus discípulos:
Quem diz o povo ser o Filho do Homem? E eles responderam: Uns dizem: João
Batista; outros: Elias; e outros: Jeremias ou algum dos profetas.
Mas vós,continuou ele, quem dizeis que eu sou? Respondendo Simão Pedro,
disse: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo.
Então, Jesus lhe afirmou: Bem-aventurado és, Simão Barjonas, porque não foi
carne e sangue que to revelaram, mas meu Pai, que está nos céus. Também
eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as
portas do inferno não prevalecerão contra ela. (Mt 16:13-18)
Temos esse texto por base, porque a fala de Pedro, segundo o próprio Cristo, é feliz e certeira
em definir quem, de fato, Cristo é. Pedro receberia a bênção de ser o líder da igreja primitiva30
e ele só o poderia ser se, com toda a certeza, tivesse uma confissão coerente com a verdade de
Deus (não vamos considerar a discussão do texto ou a questão de Pedro ainda não ter
entendido toda a obra de Cristo nesse momento).
Jesus é O Cristo, aquele que foi profetizado desde Gênesis 3:15, o cordeiro de Deus que tira o
pecado do mundo e aquele que reina sobre todos. Ele é o salvador prometido e só uma igreja
bíblica pode o reconhecer nesses termos, entendendo ser Ele o filho de Deus e, ao mesmo
tempo, o Cristo, ou seja, entendendo a união hipostática de Jesus Cristo, sendo
verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem.
Também só pode ser uma igreja bíblica aquela que entende que o Pai é quem revela a verdade,
de modo que a confissão de Pedro só faz sentido sobre a iluminação sobrenatural, inclusive,
nesses termos já podemos conectar a continuação do texto: “Dar-te-ei as chaves do reino dos
céus; o que ligares na terra terá sido ligado nos céus; e o que desligares na terra terá sido
desligado nos céus.” (Mt 16:19). Essa continuação só faz sentido quando lemos Atos 2 e
percebemos que o Espírito Santo é que legitima a igreja bíblica, logo a confissão verdadeira
também inclui a Trindade.
Eu não quis expor o texto de forma detalhada, pois não é a finalidade desse livro, mas inclui os
pontos que formam uma confissão bíblica que só uma igreja bíblica seguiria. Assim, sobre essas
afirmações de fé, resistimos contra todos que trocam Cristo por um papa, um pastor, um
profeta ou apóstolo, entre outras coisas. Afinal, se trocamos Cristo, nossa confissão não é mais
cristã.
Outra questão que envolve uma igreja local bíblica são os seus ministros, pois uma igreja só é
uma igreja bíblica se os seus líderes a guiam para a Palavra de Deus e, consequentemente, para
Deus. Efésios 4 ilustra isso muito bem para nós:
E ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para
evangelistas e outros para pastores e mestres, com vistas ao aperfeiçoamento
dos santos para o desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de
Cristo, até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do
Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de
Cristo, para que não mais sejamos como meninos, agitados de um lado para
outro e levados ao redor por todo vento de doutrina, pela artimanha dos
homens, pela astúcia com que induzem ao erro.
Mas, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a
cabeça, Cristo, de quem todo o corpo, bem ajustado e consolidado pelo
auxílio de toda junta, segundo a justa cooperação de cada parte, efetua o seu
próprio aumento para a edificação de si mesmo em amor. (Ef 4:11-16)
Cristo concedeu a igreja os dons de ensino para que ela seja aperfeiçoada, para que o seu
desempenho na santidade seja cada vez maior por meio do ensino e exposição da Palavra. Um
ministro verdadeiramente chamado, leva o povo de Deus ao amadurecimento e entendimento
da fé e da doutrina, a fim de evitar que o próprio povo caia em ventos de doutrina, mas que
também desenvolvam sua salvação no Senhor.
Sem uma exposição bíblica contínua, sem um líder para caminhar junto e ensinar a viver
conforme Cristo, a igreja desfalece e se vende ao mundo. É, infelizmente, o que mais vemos
hoje em dia, pois muitos que deveriam pastorear e ensinar estão preferindo fazer shows, criar
movimentos de muita emoção e pouca verdade, desenvolver métodos de evangelismo que são
pecaminosos e diabólicos, entre outras coisas que só o fazer menção já é horrível. Partindo
desse entendimento, fica mais claro que, para o benefício do cristão, é necessário que o mesmo
busque uma igreja edificante na doutrina e teologia, conforme o primeiro capítulo desse livro.
Seguindo a análise, outra questão de extrema importância para definir uma igreja bíblica é se
ela crê e entende corretamente os sacramentos; lembre-se da igreja católica com aquele
entendimento demoníaco da transubstanciação31, entendimento esse que foi destroçado pelos
reformadores com poucos textos bíblicos certeiros. Aí está o exemplo e o porquê devemos nos
preocupar com essa questão, apesar de ser comumente correto o entendimento no meio
evangélico, é necessário prevenir-se de heresias possíveis.
Eu passei algum tempo, quando ainda ignorante de doutrinas bíblicas, em uma igreja onde era
permitido ao visitante tomar a Ceia do Senhor sem qualquer crença. Isso é um absurdo sem
medida. Infelizmente, pode ocorrer do entendimento bíblico ser trocado pelo pragmatismo ou
o que for mais fácil, pois se tornou claro para mim que eles permitiam que o visitante tomasse a
Ceia para que não ficasse estranho ou aparentemente “separatista” na visão da pessoa que
visita. Porém, estava errado.
Por fim, imaginando que os princípios supracitados são cumpridos, nós naturalmente teremos
uma igreja com comunhão verdadeira, que busca fazer da fé de cada parte do corpo, um todo
coerente e vivo. Claro que, infelizmente, existem igrejas que aparentemente cumprem os
requisitos acima, mas são cheias de pessoas que não buscam acolher, que não amam uns aos
outros no corpo. E isso é resultante do fato que algum dos princípios acima estarem sendo
quebrados.
Entretanto, a igreja bíblica terá sim uma comunhão boa e agradável, que traz o reino de Deus
para perto do povo de Deus. Uma igreja para chamar de lar, para amar e para lutar, em
unidade, pela verdade de Deus.
Confissão de fé bíblica
Toda igreja deveria ter uma confissão de fé. Essa afirmação pode trazer algumas dúvidas, entre
elas está a mais clássica: “Mas a Bíblia não é nossa confissão de fé?”. De fato, a Palavra de Deus
é o nosso fundamento, mas por alguns motivos nós usamos confissões de fé, entre os motivos
temos, talvez, o mais importante que é a questão didática.
Uma confissão de fé é um texto construído de forma didática, para que o povo de Deus possa
entender e expressar em termos objetivos o que crê e o que entende como ações bíblicas. Joel
Beeke introduz muito bem essa questão:
“A autoridade das confissões é derivada da Palavra de Deus e sempre tem de
ser subordinada a ela, que possui autoridade intrínseca. No entanto, eles [os
primeiros calvinistas] reconheciam que as confissões prestam valiosa
contribuição às tarefas primárias da igreja: a adoração (a tarefa doxológica), o
testemunho (a tarefa proclamadora), o ensino (a tarefa didática) e a defesa da
fé (a tarefa disciplinadora). As confissões reformadas têm sido
particularmente eficientes em ajudar a igreja a declarar de modo unânime o
que ela crê, o que ela deve ser e como ela deve ser um testemunho
evangélico para aqueles que estão fora de sua comunhão.”32
Tendo em vista o que Beeke cita, temos bons motivos para termos uma confissão de fé, mesmo
que não seja histórica, ela deve ser necessariamente bíblica. E devemos saber qual a
confessionalidade da igreja que estamos para analisarmos se entramos de acordo com a sua
confissão.
Vida com Deus
Não adianta em nada termos uma igreja com confissão bíblica e estrutura minimamente
espiritual se nós mesmos não formos pessoas assim. Precisamos ser confessionais na prática,
em nossas vidas e, logicamente, espirituais.
Os cristãos de hoje estão em estado catatônico, em um processo paralisante espiritualmente
que deveria nos assustar e muito, mas isso não ocorre, justamente porque já aceitamos essa
situação mórbida e fria. Estamos morrendo aos poucos e nem percebemos. Me diga, quantos
irmãos sentados no mesmobanco que você, são pessoas ativas na igreja ou com projetos
cristãos externos a igreja? Você mesmo faz algo ou simplesmente vive no banco?
Não quero dizer que trabalhar na igreja ou ter projetos torna, necessariamente, alguém mais
espiritual (Fp 1:15), mas uma pessoa espiritual fará e não conseguirá se conter em inércia, ou
seja, um cristão espiritualmente maduro e estabilizado, terá desejo por desenvolver trabalhos e
ações para o reino de Deus expandir e o Senhor ser glorificado (Ef 2:10). E, atualmente, quantos
cristãos tem essa disposição pelo Reino? Poucos, infelizmente, muitos poucos.
Isso já é resultado da falta de vida com Deus, pois nossos bancos são lotados de pessoas vazias.
Sendo positivo, cristãos fracos na fé, sendo negativo, falsos cristãos que não passaram por
genuína conversão. E o culto que agrada a Deus é feito por pessoas sinceras e desejosas de
amadurecer e prosperar na fé (Jo 4:23-24), de nada adianta possuirmos vários membros, várias
igrejas cheias, vários pregadores bons e escolas dominicais com conteúdo, se a alma de cada
indivíduo que participa disso tudo não está ligada espiritualmente a Deus, não é saudável na fé
verdadeira. Obviamente isso se aplica a pastores, líderes e membros, pois ninguém pode fugir
desse problema que está profundamente enraizado em nosso meio. Desse modo, eu intento
ensinar algumas mudanças eficazes que dão resultado na vida espiritual e que nos tornam
cristãos mais amadurecidos.
Eu creio que, por mais óbvio que possa ser, é necessário tratarmos da vida íntima em três
grandes pontos: a leitura bíblica, a meditação e a oração.
O primeiro ponto é fundamental, pois o conhecimento de Deus na sua revelação, como já
vimos, é o fundamento que nos dá base para entender e viver de acordo com a Verdade. Sem a
palavra de Deus, simplesmente não somos cristãos, somos qualquer outra coisa menos a nossa
real identidade, afinal o eixo que coordena espiritualmente o cristão evangélico é e sempre
deve ser a Palavra de Deus, conhecida como Bíblia Sagrada. Nesse ínterim é evidente que não
há vida espiritual sem intimidade com a Revelação do Senhor, a qual é a nossa guia nessa
jornada33.
O segundo ponto é a meditação, nela se inclui um aspecto disciplinar pouco analisado hoje em
dia, sendo tomado pelo esquecimento, o que deveria nos assustar porque os antigos cristãos
nunca esqueceram de usar essa ferramenta para o desenvolvimento da fé. Meditar funciona
por dois métodos, segundo o pastor Paulo Junior34, a (1) meditação ocasional, que é durante o
recorrer do dia, quando situações e coisas nos lembram princípios bíblicos e o que faz ela ser
praticada cada vez mais é a nossa disposição de sempre tentar nos recordar sobre ela, tornar
isso uma obrigação que, naturalmente, será embutida em nossa rotina. E a (2) meditação
proposital que é um momento em que separamos para realmente pensarmos sobre as coisas
celestiais, para meditarmos, ponderarmos e refletirmos sobre a vida espiritual e o
conhecimento de Deus e sobre Deus. Ambas as meditações são importantíssimas para a nossa
vida espiritual e nos amadurecem muito quanto ao que devemos fazer e a esperança que nós
recebemos do Pai.
O terceiro ponto é a oração, ela que é o nosso meio de se comunicar com Deus, o caminho
permitido pelo Senhor por meio do nosso Sumo Sacerdote Jesus Cristo (Hb 9:23-28). Conforme
Calvino expõe:
“Ora, que esta seja a primeira norma da oração correta: que abandonemos
todo pensamento de nossa glória pessoal; que nos desvencilhemos de toda
noção de nossa dignidade pessoal; que expulsemos toda a nossa
autossegurança; que rendamos glória ao Senhor em nosso abjeto estado e em
nossa profunda humildade; que nos deixemos admoestar pelo ensino
profético: “não lançamos nossas súplicas perante a tua face fiados em nossas
justiças, mas em tuas muitas misericórdias. Ó Senhor, ouve; ó Senhor, perdoa;
ó Senhor, atende-nos e age; não te retardes, por amor de ti mesmo, ó Deus
meu; porque a tua cidade e o teu povo são chamados pelo teu nome” (Daniel
9.18–19).”35
Que assim seja, a nossa oração precisa estar pautada nesses princípios de abandono do eu para
a dependência do Senhor. Não há outra forma, pois é na oração que colocamos nossos
intentos, desejos, gratidão, pedidos de perdão e glorificamos ao nosso Deus.
Quanto tempo dedicados em oração ao Senhor? Buscamos Ele somente para pedir ou para
agradecer também? Somos dedicamos em nossa intimidade com Ele? Essas e outras perguntas
devem nos fazer refletir sobre a nossa disposição espiritual, principalmente na oração.
Dia do Senhor
O dia da ressurreição é o dia do Senhor para os cristãos, o domingo tem o símbolo de nossa
gênese espiritual, a celebração do culto no dia que o nosso Senhor venceu a morte significa
muito para nós, apesar do que alguns fracos na fé dizem. Muitos não entendem o significado
por trás de tudo isso e como é bíblico o sábado cristão ser no domingo.
A questão do sábado é simples: é o dia que o Senhor descansou no livro de Gênesis, mas por
que transferir para o domingo? Porque o nosso descanso é em Cristo e na sua obra perfeita.
Jesus Cristo está vivo! E nós celebramos a Deus, em comunhão, dominicalmente por seu grande
feito em ter nos tirado do império das trevas e colocado no reino do seu Filho (Cl 1:13). Deus
seja louvado.
Infelizmente, aponta Jon Payne:
Nas tradições reformada e pactual, onde o Dia do Senhor tem sido
historicamente entendido como um dia inteiro santificado a Deus para
descanso e adoração, o domingo agora é quase sempre ingenuamente visto
como outro mero dia da semana — um dia em que “por acaso” os cristãos se
reúnem numa cerimônia matinal. De fato, evidências dessa diluição do Dia do
Senhor são vistas num crescente número de igrejas que proporcionam cultos
no sábado à noite.36
Ou seja, a Igreja esqueceu essa doutrina singular e importante, preferindo cair em uma
irreverência modernista e pagã. Um absurdo que é mais comum do que, muitas vezes,
imaginamos. O povo de Deus tem a muito tempo se vendido a esses tipos de pensamento mais,
aparentemente, livre, porém preso ao pecado e a mentira.
A Igreja, ao se vender a essas ideias, permite que imbecilidades de todo o tipo comecem a
adentrar a mesma. Ela, ao conduzir-se sem doutrinas claras e já qualificadas pela Escritura,
começa a desenvolver substitutos fracos e carnais que, junto aos nossos inimigos37, atacarão
cada vez mais os fundamentos cristãos e esses serão desmoronados por falta de bons servos de
Deus que entendam coerentemente a doutrina para a defender.
Eu termino esse ponto com a conclusão bem estabelecida pela Confissão de Fé de Westminster:
Como é lei da natureza que, em geral, uma devida proporção do tempo seja
destinada ao culto de Deus, assim também em sua palavra, por um preceito
positivo, moral e perpétuo, preceito que obriga a todos os homens em todos
os séculos, Deus designou particularmente um dia em sete para ser um
sábado (descanso) santificado por Ele; desde o princípio do mundo, até a
ressurreição de Cristo, esse dia foi o último da semana; e desde a ressurreição
de Cristo foi mudado para o primeiro dia da semana, dia que na Escritura é
chamado Domingo, ou dia do Senhor, e que há de continuar até ao fim do
mundo como o sábado cristão. (Capítulo XXI – Seção VII)38
II. O culto
Chegamos ao ápice do capítulo, não desdenhando todo o conteúdo, mas era até aqui, em
alguma medida, que eu planejei o caminho. Eu tentei, no meu máximo, buscar trazer à tona
todas as verdades concernentes a questão de culto e vida que, indireta e diretamente,
influenciam a nossa forma de cultuar a Deus, e desse modo busquei que nossa meditação sobre
os erros e acertos nos fizessem ser mais conscientes de nossa fraqueza espiritual. Eu espero, de
fato, que o leitor esteja congregando em uma igreja bíblica que se preocupa com tudo que já
falei e vou falar, desse modo, se você observar algo que está fora do padrão, busque
diligentemente reformar a sua igreja ou sair dela. Isso mesmo, eu sei que é doloroso ler isso e,
para mim, é angustiante dar essa notícia e ensino,

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