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DIREITO CONSTITUCIONAL – CFO2 1 ESQUEMA DE DIREITO CONSTITUCIONAL CFO2 2010 Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. DIREITO CONSTITUCIONAL – CFO2 2 Prezados Cadetes do 2º ano, Este esquema é apenas um auxílio ao estudo de vocês, trazendo pontos abordados em sala de aula, de acordo com o conteúdo programático da disciplina. Este trabalho não tem o intuito doutrinário e/ou acadêmico de exaurir os assuntos abordados, nos seus mais diversos pontos; mas apenas de ajudá-los a direcionar seus esforços, bem como, reforçar aspectos importantes e inerentes a função que ocupam dentro desta instituição (PMMG). Espero ter alcançado o objetivo deste esquema e que façam bom proveito. Críticas construtivas serão sempre bem-vindas. Bons estudos! Abs, Profª Amanda Azeredo Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. DIREITO CONSTITUCIONAL – CFO2 3 DIREITO CONSTITUCIONAL CFO2 Introdução O Direito Constitucional, em suma, é o estudo das constituições. Este estudo pode ser feito de 3 formas diferentes, quais sejam: o estudo de uma Teoria Geral do Direito Constitucional, aplicável a todos os ordenamentos; o estudo de uma constituição propriamente dita, como por exemplo, o estudo da nossa Constituição da República de 1988; e, por fim, o estudo do Direito Constitucional comparado (ou seja, o estuda de constituições de países diversos, comparando uma com a outra). No nosso curso a princípio vamos fazer uma revisão geral quanto a Teoria Geral do Direito Constitucional e depois passaremos à análise pormenorizada de parte da Constituição, referente aos direitos e garantias fundamentais. Teoria da Constituição (noções básicas) • DIREITO CONSTITUCIONAL: é um dos ramos do direito público, que tem como objetivo o estudo da constituição (o objetivo de uma constituição é dispor sobre direitos e garantias fundamentais de um Estado e dispor sobre sua forma de organização – organização jurídica- política do Estado). • Direito constitucional positivo é aquele que está positivado e existe em um Estado. O estudo comparado, como o próprio nome diz, compara as constituições dos Estados. O estudo geral do direito constitucional é o estudo de uma teoria geral, e é o que por hora fazemos. O que é a constituição? • O Estado é formado por três elementos principais, quais sejam: soberania, povo e território. • Todos os significados literais da palavra nos leva à idéia de modo de ser de alguma coisa e, por extensão, a de organização interna de seres e entidades. Neste sentido, todo Estado soberano terá uma constituição, que organizará seu povo dentro de seu território. Assim, a constituição de um Estado é a sua organização político-fundamental. • A constituição de um Estado é a norma superior, que irá tratar sobre os elementos essenciais, normas jurídicas que dizem respeito aos direitos e garantias fundamentais do povo daquele Estado, bem como à organização do Estado. Portanto, as normas constitucionais são dotadas de supralegalidade, pois são hierarquicamente superior as demais normas do Estado. Exemplos: é na constituição de um Estado que iremos encontrar a forma de Estado (unitário ou federado), a forma de governo (república ou monarquia), se os poderes do Estado são separados e harmônicos entre si, etc. Como os Estados são diferentes entre si, principalmente no tocante a sua formação, a forma como cada Constituição foi elaborada também foi diferente, o que origem a necessidade de criar uma classificação das Constituições, de acordo com diversos critérios. CLASSIFICAÇÃO DAS CONSTITUIÇOES 1. Critério da Origem • Outorgada – texto imposto de maneira unilateral, sem nenhuma participação popular, pelo agente revolucionário. No Brasil tivemos a de 1824, 1937 e 1967. Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. DIREITO CONSTITUCIONAL – CFO2 4 • Promulgada (democrática/ popular) – texto imposto com participação popular; o texto é fruto do trabalho de uma Assembléia Constituinte, eleita diretamente pelo povo, com o fim de elaborar e estabelecer o Estado; o texto é construído de baixo para cima. Ex: CR/88. - OBS: Carta de modo geral é o nome dado a constituições outorgadas, principalmente no ambiente acadêmico. 2. Critério da forma • Escrita – a constituição tem um texto único, formalizado e positivado, oficialmente reconhecido como constituição; ou seja, é formada por um conjunto de regras sistematizadas e organizadas em um único documento. Ex: CR/88. • Não escrita (consuetudinária/ costumeira) – classificar a constituição como não escrita não significa que não tem nada escrito a título de constituição; significa que não existe necessário texto solene e oficialmente reconhecido como constituição, mas sim que existem normas constitucionais encontradas nos costumes, na legislação espaça e na jurisprudência. Todas as formas que se referem a direitos e garantias fundamentais e organização do Estado serão normas constitucionais, apenas não houve compilação destas normas. Ex: Constituição da Inglaterra. Atualmente inexiste constituição totalmente costumeira. Paulo Bonavides prefere, então, falar em constituição parcialmente costumeira. 3. Critério do conteúdo • Formal – aproxima-se da constituição escrita, formalizada, mas suas normas são identificadas não pelo conteúdo que trazem, mas pela forma como foram introduzidas no ordenamento constitucional, ou se seja, se foram formalizadas, positivadas e passaram por processo solene de elaboração. Não importa se todas as normas falam sobre direitos e garantias fundamentais e organização do Estado, só importa o processo solene de elaboração. Uma norma pode ser material e formalmente constitucional simultaneamente, desde que diga respeito a norma essencialmente constitucional e, ainda, tenha observado o processo solene de elaboração. Ex: CR/88 (todas as normas constitucionais devem passar por processo solene de elaboração e, algumas, ainda são normas materialmente constitucional). OBS: Não há hierarquia entre as normas constitucionais meramente formais e as materiais, ambas são normas com o mesmo status. • Material – é o texto constitucional que tiver apenas as regras de direitos e garantias fundamentais e organização do Estado; ou seja, se identificam como normas constitucionais apenas aquelas que possuem matérias, essências, assuntos de constituição (organização do Estado e direitos e garantias fundamentais) 4. Critério da Extensão • Sintética/ Enxuta/ Sucinta – diz respeito apenas ao que deve ser normas constitucionais, possui apenas normas materialmente constitucionais. Em relação a este texto constitucional temos a necessidade de intensa atividade de interpretação da constituição para adequá-la aos anseios da sociedade. É, em regra, uma constituição mais duradoura. Ex: Constituição Americana. • Analítica/ Extensa/ Prolixa – devido a um processo de democratização, o Estado entendeu por bem “colocar tudo no papel” para não haver dúvidas quanto aos direitos e deveres de cada um. Desta forma, muitas regras não possuem essência material de constituição; sao aquelas que abordam todos os assuntos que os representantes do povo entenderam ser fundamentais; é muito detalhada, possui várias normas constitucionais meramente formais. Ex: CR/88. 5. Critério de reforma do texto constitucional (processo de reforma/ alterabilidade/ estabilidade) OBS: os processos é que são diferenciados • Imutável – não tem nenhum processo legislativo que viabilize a reforma do texto constitucional. Esta classificação é teórica, pois na prática não existe. As cláusulas pétreas não podem ser abolidas nem restringidas, maspodem ser modificadas para aumentar os direitos. Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. DIREITO CONSTITUCIONAL – CFO2 5 • Rígida – Cláusulas pétreas podem existir em qualquer constituição e não são elas que fazem o ser classificado como texto rígido. As constituições rígidas possuem processo de alteração do texto constitucional demorado, rígido, solene, árduo; o processo legislativo para alteração constitucional é complicado, especial e diferente dos demais de alteração da legislação ordinária. Ex: CR/88 • Flexível – constituições que possuem processo legislativo para alteração da constitucional ordinário, simples, semelhante ao processo legislativo da legislação infraconstitucional. • Semi-rígida (semi-flexível) – é aquela constituição que tanto é rígida como é flexível. Pode haver mais de um processo de alteração do texto constitucional de uma mesma constituição, neste caso será semi-rígido, pois algumas normas podem ser alteradas por processo rígido e outras por processo flexível. Não podemos afirmar que nossa atual constituição é classificada como semi-rígida pelo fato de haverem clausulas pétreas, pois na nossa constituição a emenda sempre é por dois turnos de votação na câmara e no senado e com 3/5 de votos, inclusive para as clausulas pétreas (as quais apenas não podem ser abolidas ou restringidas). • Super rígida * - a constituição possui um processo legislativo de alteração da constituição rígido e ainda possui cláusulas pétreas. Alguns autores (como Alexandre de Moraes) classificam nossa constituição assim porque ela possui as clausulas pétreas. Entretanto o STF não adota essa posição, haja vista adotar a possibilidade de alteração das matérias de cláusulas pétreas, desde que não seja para restringir ou abolir estes direitos O fato de ter cláusulas pétreas não é a justificativa para ser rígida. - OBS: as cláusulas pétreas não são hierarquicamente superior às demais regras, elas simplesmente não podem ser abolidas. (art. 60, parágrafo 4º, e espalhadas na constituição, ex. direitos fundamentais, eles estão elencados basicamente nos arts. 5º ao 17) - OBS2: Se chamar o critério de estabilidade não quer dizer que a rígida é mais estável ou que a flexível é mais instável, pois a forma de alteração do texto depende apenas do processo legislativo de alteração. Ex. a constituição consuetudinária e histórica muitas vezes são flexíveis, e são difíceis de serem alteradas, principalmente porque já fazem parte da cultura secular e das tradições daquele povo. - OBS3: é importante assegurar a rigidez da constituição, para que não seja facilmente alterada e solidifique suas normas na sociedade. Entretanto, é importante também que não fique prejudicada a perfeita adaptação das constituições às exigências do progresso, da evolução e do bem-estar social. - OBS4: nem toda constituição rígida será escrita e nem toda constituição não escrita será flexível; são critérios diferentes de classificação. 6. Critério do Momento de elaboração • Dogmática – é a constituição elaborada em um só momento da história do país; constitui-se uma assembléia constituinte e a constituição é elaborada. Ex: CR/88. • Histórica – é uma constituição que se consolidou ao longo dos anos, da história do Estado; consolidou-se através de lento e contínuo processo, através da história e tradições de um povo. Baseada nas decisões políticas, judiciais. Não se identifica um momento pontual e específico para elaborar o texto constitucional dentro da história do Estado. Portanto, a regra é que seja consuetudinária, não escrita e material. Classificação da Constituição de 1988: promulgada, escrita, formal, analítica, rígida e dogmática. SUPREMACIA CONSTITUCIONAL Por nossa constituição ser rígida, podemos falar que tal característica corrobora com a supremacia das normas constitucionais, ou seja, é a constituição é a pedra em que se assenta o edifício do moderno direito político ou todas as normas jurídicas do Estado; é a constituição que está no vértice da pirâmide do ordenamento jurídico e que confere validade e determina a Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. DIREITO CONSTITUCIONAL – CFO2 6 competência de cada órgão e poder do Estado. Toda autoridade só nela encontra fundamento e só ela confere poderes e competências governamentais. Nenhum dos entes federativos são soberanos, pois todos são limitados, expressa ou implicitamente, pelas normas positivadas da nossa lei fundamental. Portanto, todas as normas só serão válidas se se conformarem com as normas da CR/88. PODER CONSTITUINTE (noções básicas) O Poder Constituinte é o instituidor do Estado, criador da estrutura jurídica que possibilita a convivência do homem em sociedade. Para Gomes Canotilho o estudo do Poder Constituinte pode se resumir em quatro perguntas, quais sejam: o que é o Poder Constituinte? Quem é o titular deste poder? Qual a forma de seu exercício? Existem ou não limites jurídicos e políticos para este poder? Vamos partir destas indagações para estudarmos noções básicas do Poder Constituinte. O que é o Poder Constituinte? - É o poder de construir, reconstruir e reformular a ordem jurídica estatal. É um poder que antecede o Estado e não encontro justificativa em si mesmo, senão depende de considerações extras e pré-jurídicas para se legitimar ou de outro meio que possa expressar a força constituinte. Portanto, é um poder superior e distinto dos demais poderes, mormente por ser essencialmente soberano pela capacidade de estabelecer originaria e livremente a estrutura jurídico-política do Estado e de sua Constituição (adotando determinadas concepções político- fundamentais). Em suma, como o próprio nome já diz, é o poder de constituir e formar um Estado. Quem é o titular do Poder Constituinte? - A pessoa que detém a titularidade é que legitimamente irá exercer o Poder Constituinte. - A titularidade do Poder Constituinte pertence ao povo; mas não o povo em sentido de cidadão ou quem exerça o sufrágio, e sim o que chamamos de povo real, como comunidade aberta de sujeitos constituintes que pactuam e consentem no modo de governo da sociedade; são as forças políticas plurais, capaz de propor e defender idéias suscetíveis de servir de base à constituição. Não podemos confundir a titularidade com o exercício do poder constituinte; vez que ele será exercido através das assembléias constituinte ou de outro meio que expressar a força constituinte. A revolução, consiste em mudança rápida e profunda na estrutura de uma sociedade e de seu sistema de poder, não é o triunfo da violência; já o golpe de Estado é a tomada de poder através de meios inconstitucionais (usurpação) por um grupo ou movimento que derruba e assume o poder. Qual a forma de exercício do Poder Constituinte? - O exercício do Poder Constituinte se dá através dos constituintes escolhidos pelo povo ou pelo grupo que toma o poder, e não se submete a nenhum outro poder; ou seja, o exercício do Poder Constituinte se dará através dos representantes que formam a assembléia constituinte. O que não quer dizer que seja absoluto, uma vez que encontra-se vinculado ao seu titular, o povo, e seus respectivos poderes. Existem limites jurídico-políticos ao Poder Constituinte? - Há limites ao Poder Constituinte, os quais iremos estudar de acordo com a divisão clássica de poder constituinte originário e poder constituinte secundário. - O Poder Constituinte Originário é inicial (não se funda em nenhum poder e nem é oriundo de ordem jurídica que lhe seja anterior). É autônomo, pois não se subordina a nenhum outro poder. É incondicionado, pois não se sujeita a condições nem fórmulas jurídicas para sua manifestação. Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. DIREITO CONSTITUCIONAL – CFO2 7 Entretanto,ele não é absoluto, pois possui limites em si próprio, como todo poder. O critério do que é justo, a interdependência dos povos, os ideais, as crenças, os costumes e as forças resistem, moderam e neutralizam os mais entusiasmado ímpeto revolucionário. Quem estabelece a ordem constitucional não pode chocar-se frontalmente com as concepções mais arraigadas da comunidade, sob pena de termos uma ordem constitucional ineficaz. Além disso, há doutrinadores que entendem que o poder constituinte originário é limitado pelo direito internacional e suas regras fundamentais (mormente as que tutelam os direitos do homem). - O Poder Constituinte Secundário pode ser dividido em poder constituinte secundário derivado e secundário decorrente. - O Poder Constituinte Derivado é subordinado, por se vincular ao poder originário, e é condicionado, vez que seu exercício possui limites e condições estabelecidos na própria Constituição. - Ele possui, ainda, limitações que condicionam seu exercício no espaço e no tempo, são elas: Limitações circunstanciais dentro de determinadas circunstâncias de desordem do Estado não pode ser exercido o poder derivado. Essas circunstâncias estão no §1º do art. 60 e são o estado de sítio, de defesa e intervenção federal, ou seja, eventos que não propiciam um clima de ampla liberdade e isento de paixões decorrentes de acontecimentos extraordinários de ordem política, pois o Estado está fragilizado; Limitações formais o poder de reforma deve observar um procedimento previamente determinado Art. 60, I, II e III c/c §§2º e 5º; Limitações temporais vedam a reforma constitucional por um prazo determinado, com a justificativa de querer assegurar estabilidade às normas constitucionais, ex. Constituição Portuguesa; Limitações materiais matérias que não podem ser excluídas da Constituição (cláusulas pétreas, que não podem ser abolidas e nem restringidas, art. 60, §4º, CR/88). - O Poder Constituinte Decorrente é o poder dado a cada estado-membro de se organizar (através das Constituições estaduais), conforme as normas constitucionais originárias. CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE (Não iremos nos ater ao estudo do controle de constitucionalidade por não ser alvo de nosso programa de estudo, entretanto, faremos considerações quanto a noções básicas deste ponto, assim como foi feito em sala de aula. Para quem se interessar e quiser, será disponibilizado um material a parte referente ao controle de constitucionalidade, sendo completo e sistematizado). • O Princípio da Supremacia das normas constitucionais, em nosso ordenamento jurídico, requer que todas as situações jurídicas se conformem com os princípios e preceitos da CR/88. Para tanto, temos o chamado Controle de Constitucionalidade, que tem a função princípio de verificar essa adequação das normas infraconstitucionais com o conteúdo das normas constitucionais. A nossa Constituição reconhece tanto a inconstitucionalidade por ação (que ocorre na produção de atos legislativos ou administrativos que contrariem normas ou princípios constitucionais, o que pode gerar a incompatibilidade vertical, a qual se resolve com a declaração de invalidade das normas de níveis hierarquicos menos elevados) e, ainda, que pode ser material ou formal. Quanto a inconstitucionalidade por omissão, que verifica-se nos casos em que não são praticados atos legislativos ou administrativos requeridos para tornar plenamente aplicáveis as normas constitucionais. • Não existe norma constitucional originária inconstitucional, é preciso fazer a harmonia das normas através da interpretação das normas constitucionais diante do caso concreto. • No nosso ordenamento temos, basicamente, dois tipos de controle de constitucionalidade, quais sejam: político e jurisdicional. O jurisdicional pode ser feito de forma difusa (via de exceção ou incidental, através da análise de um caso concreto, por qualquer órgão do Poder Judiciário) Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. DIREITO CONSTITUCIONAL – CFO2 8 ou concentrada (feito, em regra, pela Supremo Tribunal Federal, através de ações próprias – Ação Direta de Inconstitucionalidade - por ação ou por omissão - ou Ação Direta de Constitucionalidade; as quais possuem legitimados expressos no texto contitucional). Os efeitos da declaração de inconstitucionalidade vão depender da ação utilizada para efetuar o controle (por exemplo, o controle difuso terá efeitos inter partes e ex tunc; o controle por ADI genérica terá efeitos erga omnes, vinculante; por ADI interventiva é erga omnes e determina o decreto de intervenção; por ADI por omissão é erga omnes e dá ciência ao poder ou órgão em débito; e por ADC é erga omnes e vinculante). ALTERAÇÃO DO TEXTO CONSTITUCIONAL - A Constituição pode ser alterada de acordo com as próprias regras nela contidas para o processo de sua alteração. - De acordo com a Teoria da Constituição podemos falar em mutação constitucional e em reforma constitucional. A mutação constitucional se constitui de uma alteração não formal, ou seja, não há uma alteração do texto constitucional em si, mas da interpretação da norma constitucional, por exemplo: mudança de costumes, que podem interferir na estrutura orgânica do Estado. Já a reforma constitucional é a alteração formal do texto constitucional, ou seja, alteração do texto constitucional e engloba a emenda constitucional (mudança genérica do texto constitucional) e a revisão (alterações especiais, que exigem processos diversos do de emenda constitucional) da constituição. Atualmente em nosso cenário jurídico temos apenas a emenda à constituição. - A emenda à constituição, de acordo com a CR/88, tem quorum especial de aprovação de 3/5, em cada casa do congresso nacional e deverá ser votada duas vezes em cada uma delas. Uma vez rejeitada, não pode ser alvo de votação na mesma sessão legislativa. - A Emenda Constitucional deve ser realizada através do poder constituinte derivado. No fundo, o agente é o poder constituinte originário, já que foi ele quem possibilitou essa alteração constitucional, mas delegou tal competência ao poder constituinte derivado. - A emenda constitucional é a forma encontrada para permitir a mudança da Constituição, adaptação da Constituição às novas necessidades, aos novos impulsos, às novas forças, sem que, para tanto, seja preciso recorrer à revolução; sem que seja preciso recorrer ao poder constituinte originário. - Alcance das cláusulas pétreas: a vedação do §4º, do art. 60 da CR/88 atinge a pretensão de restringir ou abolir qualquer elemento conceitual da Federação, ou do voto direto, ou indiretamente restringir a liberdade religiosa ou de comunicação ou outro direito fundamental; portanto, a proposta de emenda não pode sequer tender à abolição de algum desses direitos. - A votação de emendas constitucionais não podem ocorrer em situações de estado de sítio, estado de defesa ou intervenção federal. EFICÁCIA E APLICABILIDADE DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS As normas constitucionais podem ser classificadas de acordo com a ssua eficácia, ou seja, possibilidade de gerar efeitos e ser aplicada. Existem várias classificações neste sentido, criadas por doutrinadores diversos. Iremos adotar a classificação segundo José Afonso da Silva, por ser, em nosso entendimento, a mais coerente e, também, por ser a mais utilizada no cenário jurídico. De acordo com José Afonso da Silva, as normas constitucionais podem ser classificadas quanto a sua eficácia em: plena, contida e limitada. Segue as principais características de cada uma delas. • Plena são as normas de aplicabilidade imediata, direta e integral. Não é preciso nenhuma legislação infraconstitucional para exercer o direito ou garantia nela inseridos; e, ainda, tal direito não pode ser restringido por legislação ordinária. Ex: art. 2º; art. 14, parágrafo 2 º; arts. 19 a 21; todos da CR/88. Generatedby Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. DIREITO CONSTITUCIONAL – CFO2 9 • Contida são as normas de aplicabilidade imediata, direta e restringível (limitação). Trazem um direito ou garantia que já é imediatamente aplicável, porém o legislador ordinário pode trazer algumas restrições. Ex: é livre a locomoção em tempos de paz e nos termos da lei (já pode se locomover livremente, porém a lei futuramente pode vir a restringir essa liberdade). Entretanto, a restrição nunca pode ser tão grave e tão dura a ponto de abolir o direito. Nem sempre a experessão “nos temos da lei” significa que a norma é de eficácia contida, para determinar isso é necessário verificar a aplicabilidade da norma (mediata ou imediata). Ex: art. 5º, XIII, VII, VIII, XV, etc. • Limitada são as normas que possuem aplicabilidade mediata e indireta, pois não conseguimos aplicar imediatamente a norma; é necessária uma legislação ordinária que viabilize a aplicação da norma constitucional. Dizer que a aplicabilidade é indireta traz dois princípios: princípio institutivo (a constituição cria um direito para que seja devidamente regulamentada); e princípio programático (a constituição traz os programas e direções que devem ser seguidos pelos poderes e pelos cidadãos dentro do Estado). Ex. art. 3º, CR/88 - a busca deve acontecer diariamente. Essas normas impõem obrigação de resultados e não de direitos; não geram um direito subjetivo ao indivíduo (ou seja, se não for cumprido, não tem como reclamar, até porque a norma traz um programa, que pode alcançar seu fim ou não); apesar disso tem eficiência e eficácia, portanto, deve-se buscar dar a norma a maior efetividade possível. Constituições que possuem normas programáticas são classificadas como dirigentes (CR/88), e seu oposto é a constituição garantia, a qual só dá a garantia e os direitos, mas não mostram o caminho para efetivá-los. INTERPRETAÇÃO DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS - A norma jurídica não existe, senão interpretada. Interpretar um ato normativo nada mais é do que colocá-lo no tempo ou integrá-lo na realidade pública. A norma não é prévia, simples e acabada. Quanto mais pluralista uma sociedade, mais abertos são os critérios de interpretação. Ademais, os julgadores e intérpretes podem precisar de conhecimentos alheios aos seus conhecimentos técnicos (jurídicos) para interpretar uma norma, para tanto, no nosso ordenamento e cenário jurídico temos a possibilidade de convocação de audiências públicas (a primeira realizada pelo STF, desde a promulgação da Constituição foi em 2008, na ADI n. 3,105, que discutia a possibilidade de utilização das células tronco em embriões humanos). - Para interpretarmos uma norma constitucional utilizamos alguns princípios e critérios que servem par orientar a atividade de interpretação das normais constitucionais, são eles: • Princípio da Unidade – é preciso estudar as normas em unidade, pois o texto é um todo único sem contrariedades e, conseqüentemente, o controle de constitucionalidade é feito apenas sobre a legislação infraconstitucional ou emenda; não há, portanto, controle do texto original, e as aparentes antinomias devem ser afastadas (ressaltamos, as antinomias são apenas aparentes). Não há norma do texto original que possa ser inconstitucional. Deve ser feita uma harmonia, com máxima eficácia de cada um dos direitos. • Princípio do efeito integrador – interpretação da norma dentro da estrutura política favorecendo a integração política e social e o reforço das unidade política, dentro da unidade; muito próximo do Princípio da Unidade, busca a integralidade de uma norma com a outra, uma norma completa a outra. • Princípio da Máxima eficácia (eficiência/ efetividade) – a interpretação da norma constitucional deve sempre buscar a maior efetividade possível para as normas constitucionais, pois elas devem ter a mais ampla efetividade social. Nem todas as normas constitucionais têm eficácia plena, mas todas devem ser assim interpretadas, dentro das possibilidades de cada uma. Hoje este princípio é muito aplicado no âmbito dos direitos fundamentais. Ex. art. 5º, parágrafo 1º, CR/88 – toda norma que define garantia e direito fundamental tem aplicação imediata não significa que todas essas normas têm eficácia plena, mas sim que não importa qual seja o direito ou garantia fundamental, se buscará dar a ele a maior eficácia possível. Ex. Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. DIREITO CONSTITUCIONAL – CFO2 10 direito da greve de acordo com legislação é de eficácia limitada, mas pode ter efetividade direta (ainda que mínima), pois norma constitucional impede a existência de uma lei ordinária que diga ser vedada o direito de greve, sob pena de inconstitucionalidade. • Princípio da Justeza (conformidade funcional) – este princípio está vinculado a questão de distribuição de competência entre as unidades da federação e entre os poderes. Ex. cada poder deve trabalhar exercendo suas competências de acordo com o que a Constituição dispõe. O intérprete da constituição não pode chegar a uma conclusão que perturbe o esquema de organização do Estado estabelecido pelo texto constitucional. • Princípio da Harmonização (concordância prática) – este princípio será aplicado quando há conflito aparente entre as normas constitucionais. Juridicamente nenhuma norma constitucional é hierárquica a outra; o que se faz é a harmonização das normas, compondo os dois direitos, aplicando-se um em maior grau e outro em menor grau diante de cada caso concreto; não se exclui nem se suprime nenhum dos direitos. Os bens jurídicos constitucionalizados devem coexistir de maneira harmônica na hipótese de eventual conflito ou concorrência entre eles, buscando-se assim evitar o sacrifício de um princípio ou regra em relação ao outro. O fundamento da idéia de concordância decorre da inexistência de hierarquia entre princípios e normas constitucionais. • Princípio da Relatividade (convivência das liberdades públicas) – nossos direitos são relativos, e esta relatividade traz limites a cada um deles. A própria Constituição traz tais exceções. Ex. é garantida a liberdade de pensamento, mas é vedado o anonimato. Essas restrições existem inclusive quanto ao direito à vida, pois, por ex., excepcionalmente pode haver a pena de morte. • Princípio da força normativa - os aplicadores da Constituição devem dar máxima efetividade às normas constitucionais, pois suas normas possuem força normativa diante de todo o ordenamento jurídico. • Princípio da proporcionalidade – este princípio consubstancia a interpretação da norma baseada em uma pauta de natureza axiológica que emana diretamente da idéia de justiça, equidade, bom senso, prudência, moderação, justa medida, proibição de excessos, etc. Este princípio é extremamente importante nos casos de colisão entre valores constitucionalizados. ESTRUTURA DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA DE 1988 A CR/88 possui a estrutura da seguinte maneira: Preâmbulo + texto constitucional (art. 1º ao 250º)+ Ato de disposições constitucionais transitórias (ADCT- art. 1º ao 36). PREÂMBULO - Preâmbulo é uma apresentação de uma constituição; é a marca de um rompimento com a ordem constitucional anterior e a apresentação da nova, trazendo algumas idéias e valores contidos neste texto; é, portanto, elemento natural de constituições feitas em momentos de ruptura histórica ou de grande transformação político social. - Segue abaixo, in verbis, o preâmbulo de nossa atual Constituição: “Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembléia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos,fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL.” Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. DIREITO CONSTITUCIONAL – CFO2 11 Qual a natureza jurídica do preâmbulo? Há três teorias para esta resposta, quais sejam: a) tese de irrelevância jurídica: o preâmbulo constitucional situa-se no domínio da política, sem relevância jurídica; b) tese da plena eficácia: o preâmbulo constitucional tem a mesma eficácia jurídica das normas constitucionais, sendo, porém, apresentado de forma não articulada; c) tese da relevância jurídica indireta: ponto intermediário entre as duas correntes anteriores, já que entende que muito embora o preâmbulo constitucional participe das “características jurídicas da Constituição”, não deve ser confundido com o texto articulado. - O STF, no julgamento da ADI n. 2.076, em 2003, já se manifestou no sentido da primeira teoria, de irrelevância jurídica do preâmbulo constitucional, mas apenas relevância política. O que não significa dizer que tudo que nele consta não será juridicamente aplicado, haja vista o texto constitucional trazer reescrito no seu corpo boa parte do texto do preâmbulo. ADI n. 2076: A invocação da “proteção de Deus” deve obrigatoriamente estar presente nos textos constitucionais estaduais? O Brasil, desde a proclamação da República é um país laico, leigo e não confessional, ou seja, não deve haver qualquer relação entre Estado e Igreja, não havendo, portanto, qualquer religião oficial. Apesar disso, todas as nossas constituições até hoje foram editadas com a esta expressão (“sob a proteção de Deus) em seu preâmbulo. No mesmo sentido, as constituições estaduais também transcreveram tal expressão; com exceção da Constituição do Acre, motivo pelo qual a mesma foi questionada através de ADI, n. 2.076, oportunidade em que o STF se manifestou no sentido de não haver obrigatoriedade da invocação da proteção de Deus na constituição. - O preâmbulo, diante de tal posição adotada, também não tem força normativa, não cria direitos e obrigações e não tem força obrigatória, servindo apenas como norte interpretativo das normas constitucionais. ATO DE DISPOSIÇÕES CONSTITUCIONAIS TRANSITÓRIAS Como o próprio nome já diz, as disposições contidas neste texto são constitucionais, não havendo o que se discutir quanto à natureza jurídica dessas normas, que são constitucionais e, portanto, poderá trazer exceções às regras colocadas no corpo da Constituição. Não há, portanto, prevalência (hierarquia) das regras do corpo constitucional sobre as regras do ADCT, deve haver uma harmonização (interpretação) das regras, tendo em vista que a natureza de ambas é constitucional . TEXTO CONSTITUCIONAL O texto constitucional da Constituição da República de 1988 é composto por 250 artigos, dividido em 9 títulos, são eles: 1) Dos Princípios Fundamentais; 2) Dos direitos e Garantias Fundamentais; 3) Da organização do Estado; 4) Da Organização dos Poderes; 5) Defesa do Estado e das Instituições Democráticas; 6) Da tributação e do orçamento; 7) Da ordem econômica e financeira; 8) Da ordem social; 9) Das disposições gerais. A atual Constituição é considerada a CONSTITUIÇÃO CIDADÃ, pois teve ampla participação popular (ainda que indireta) na sua produção, bem como, porque se volta decididamente para a plena realização da cidadania. Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. DIREITO CONSTITUCIONAL – CFO2 12 PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS A) Princípios Constitucionais - O que são os princípios constitucionais? Na Constituição, a palavra princípio vem com o sentido de “mandamento nuclear de um sistema”(Celso Antonio de Bandeira Mello); são ordenações que irradiam para todo o ordenamento, para todo o sistema de normas, os quais contêm valores e bens constitucionais. Podemos dizer que princípios são uma das espécies de normas, sendo a outra as regras (teoria de Hans Kelsen). - Os princípios constitucionais, de acordo com Gomes Canotilho, podem ser classificados em dois grupos, quais sejam: • Princípios Político- Constitucionais são princípios que traduzem opções políticas fundamentais conformadoras da constituição. Ex: Art. 1º ao 4º CR/88, são os princípios fundamentais. • Princípios jurídicos- Constitucionais são princípios constitucionais gerais, informadores da ordem jurídica nacional. Não raro decorrem dos princípios político- constitucionais, mas dão direcionamento direto ao ordenamento jurídico. Ex: Princípio da Legalidade, Princípio da Isonomia, Princípio da autonomia individual, Princípio da Proteção dos Trabalhadores, da proteção da família, do ensino e da cultura. B) Natureza Os princípios fundamentais são positivados e muito variados, o que torna difícil estabelecer uma natureza única a todos eles. Canotilho ensina que são os princípios que visam o direcionamento político e estrutural do Estado, enumerando suas principais opções político-constitucionais. Esses princípios traduzem um resumo de todas as demais normas constitucionais, que serão inspiradas em seus conteúdos. Trata-se dos princípios definidores da forma de Estado, da estrutura do Estado, do regime político, da forma de governo e da organização política em geral. C) Funções e relevância Função ordenadora como já falamos, os princípios fundamentais têm a função de ordenar e de organizar o Estado; são diretrizes básicas a serem seguidas pelo governo, pelo povo e pelo ordenamento jurídico. Funcionam, também, como regra geral de interpretação das normas constitucionais, para dar coerência geral ao sistema. Em razão desta função, a CR/88 é também conhecida como uma constituição dirigente, uma vez que desde a criação da lei até a sua aplicação e integração, devemos observar os conteúdo dos princípios fundamentais. Função hermenêutica os princípios fundamentais permitem aos magistrados, na função de interpretação da norma no caso concreto, extraírem a essência de uma determinada disposição constitucional, servindo ainda de limite preventivo contra a arbitrariedade. Função Integrativa os princípios fundamentais preenchem as lacunas deixadas pelas normas constitucionais, tendo em vista a textura aberta das constituições contemporâneas. Função limitativa os princípios fundamentais atuam no sentido de impedir a produção de normas inconstitucionais, limitando o conteúdo das normas infraconstitucionais e das emendas constitucionais. D) Princípios fundamentais em espécie - CR/88, art. 1º, in verbis: Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. DIREITO CONSTITUCIONAL – CFO2 13 “Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: I - a soberania; II - a cidadania; III - a dignidade da pessoa humana; IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; V - o pluralismo político. Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.” - REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL Na história, primeiramente o país teve o nome de Monte Pascoal, Terra de Santa Cruz e, por fim, Brasil (terra do pau cor de brasa). O nome do país não necessariamente precisa coincidir com o nome do Estado, por isso nosso país tem o nome de Brasil e nosso Estado tem o nome de República Federativa do Brasil. O nome de nosso Estado contém o nome de nosso país, a forma de governo e a forma de Estado. A forma de Estado é o modo de exercício de poder político a federação é caracterizada pela união de coletividadespúblicas dotadas de autonomia político-constitucional, autonomia federativa. O cerne do conceito de federação está na configuração de dois tipos de entidades: a União e os Estados-membros. O nosso modelo de federação, entretanto, tem também as figuras dos territórios, do Distrito Federal e dos Municípios. Os territórios não são entes federativos. A União é a reunião de todas as partes componentes do estado federado, constituindo-se pessoa jurídica de direito público interno e é dotado de autonomia. Os estados membros também são dotados de autonomia e também são pessoas jurídicas de direito público interno. ATENÇÃO: o Estado Federado, ou seja, a República Federativa do Brasil é quem é dotado de soberania (poder supremo consistente na capacidade de autodeterminação). Os estados-membros e a União são titulares apenas da autonomia, compreendida como governo próprio dentro do círculo de competências tratadas na Constituição. O Estado Federativo é quem é competente para figurar em relações internacionais, ou seja, para relações internacionais é um Estado único, entretanto, internamente tem seu poder dividido dando autonomia aos seus componentes. A autonomia federativa (expressa no art. 18 da CR/88) assenta-se em dois preceitos, quais sejam: órgãos próprios e posse de competências exclusivas (repartição de competências). As competências de cada ente estão nos arts. 21 e seguintes da CR/88, sendo que os estados-membros possuem o que chamamos de competência residual (tudo o que não for de competência da União ou dos Municípios é o que será de competência dos estados-membros). Nas relações internacionais o Estado é sempre considerado uma unidade; ou seja, os Estados nas relações internacionais são sempre considerados como únicos, porém, constituídos de entes internos dotados de autonomia. Portanto, uma federação possui um poder central e soberano e diversos poderes internos que possuem autonomia (oriunda de concessão do poder soberano). Ex. no Brasil a soberania pertence à República Federativa do Brasil e ela concede este poder à união, aos estados membros, DF e municípios. Lembrando-se que a soberania é una e indivisível. Atenção: art. 18 CR/88, a União é autônoma, não soberana; não se confundem, pois, a União (que é umas das várias entidades da federação) com a República Federativa do Brasil (que é a junção de todas as entidades da nossa federação). Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. DIREITO CONSTITUCIONAL – CFO2 14 União indissolúvel de estados, DF e municípios Princípio da Indissociabilidade: nenhum dos três entes podem se separar do Estado, devido ao pacto federativo e por não existir o direito de secessão (não significa que não existe a possibilidade de criação, divisão e fusão de estados e municípios). O espaço geográfico da União é o mesmo da República Federativa do Brasil, portanto, ainda que não esteja expresso, ela é indissolúvel, mas não precisa ser expresso por ter seu território confundido com o do próprio Estado. TERRITÓRIOS FEDERAIS - atualmente não temos nenhum território; eles são autarquias da União (descentralização administrativa da União); não são entes administrativos da federação e não têm autonomia, mas fazem parte da administração pública indireta da União. REPÚBLICA res publica: coisa do povo e para o povo, se opõe a toda forma de tirania. Se refere à maneira como se dá a instituição do poder na sociedade e como se dá a relação entre governantes e governados. O conceito de república surgiu na antiguidade e foi reforçado por Maquiavel, que entendia qual vocábulo como o principal contraponto à monarquia. A CR/88 ao instituir nosso Estado como uma República quis aproximar a figura da democracia, como governo limitado e responsável, principalmente pela temporariedade dos mandatos (nos moldes dos arts. 28, 29, I e II, e 77, todos da CR/88). O princípio republicano não é uma novidade da atual Constituiçao, já que vinha consagrado nas constituições desde 1889. Entretanto, hoje o Princípio da República não é considerado cláusula pétrea, como em constituições anteriores, podendo, portanto, vir a ser abolido; sendo apenas prevista a possibilidade da intervenção federal no estado que desrespeitar este princípio. A República pressupõe a legitimidade popular para o exercício do Poder Legislativo e Executivo (a qual será exercida através de eleições periódicas). SOBERANIA a soberania é fundamento do próprio conceito de Estado, sequer precisaria ser mencionada no texto Constituição. Significa poder político supremo (não está limitado a nenhum outro na ordem interna) e independente (na ordem internacional não tem que acatar regras que não sejam voluntariamente aceitas e está em pé de igualdade com os poderes supremos de outros povos). CIDADANIA a cidadania como fundamento de nosso Estado significa bem mais que um indivíduo ser titular de direitos políticos; significa que a Constituição reconhece o indivíduo como integrante da sociedade estatal; o funcionamento do Estado é submetido à vontade popular. Neste sentido, a CR/88 redimensionou o significado de cidadania, ampliando os mecanismos de participação popular no processo político. Ex. Habeas Corpus e Habeas Data são ação constitucionais para defesa de direitos fundamentais e são gratuitas; sufrágio universal e igual valor de voto (art. 14, CR/88); a previsão da ação popular, que possibilita a defesa do Estado por seus próprios cidadãos. DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA a dignidade da pessoa é um valor supremo, que atrai o conteúdo de todos os direitos fundamentais. Este princípio não se relaciona apenas com direitos individuais, mas também com sociais, coletivos e políticos. A dignidade humana é uma qualidade inerente à pessoa humana, que foi positivada no ordenamento jurídico. A ministra Carmem Lúcia Antunes Rocha entende que este é um super princípio, hierarquicamente superior aos demais, que é o guia de todas as normas constitucionais e que está acima de todas elas. PLURALISMO POLÍTICO este princípio não diz respeito apenas ao pluripartidarismo; significa que somos uma sociedade leiga, laica, onde cada um pode ter suas crenças e opiniões, sem que isso seja censurado ou penalizado. O Estado contemporâneo é essencialmente Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. DIREITO CONSTITUCIONAL – CFO2 15 pluralista (no Estado atual inclusive temos a necessidade de defesa dos direitos metaindividuais – sejam eles difusos, coletivos ou individuais homogêneos). LIVRE INICIATIVA E VALORES SOCIAIS DO TRABALHO o trabalho é a forma como o homem pode se inserir na sociedade, pode efetivar sua dignidade. A necessidade da livre iniciativa é no sentido de não intervenção direta estatal nas atividades privadas, tendo o Estado papel meramente regulador do mercado, sem contudo tomar a frente do mesmo. PRINCÍPIO DA SEPARAÇÃO DOS PODERES Tripartição do poder em: Poder Legislativo, Poder Executivo e Poder Judiciário. - CR/88, art. 2º, transcrito: “Art. 2º São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.” Esta nomenclatura é considerada pela doutrina inapropriada, já que a palavra “poder” tem duplo sentido, podendo se referir às funções de cada órgão, como também indicar os respectivos órgãos, bem como, o poder em si é uno, indivisível e indelegável. A separação dos poderes consiste em confiar cada uma das funções governamentais a órgãos diferentes, os quais tomam os nomes das respectivas funções. A separação de poderes pressupõe que cada poder seja especializado em sua função, bem como, que cada poder seja independente, ou seja, não haja subordinação entre eles. Na verdade não são poderes, repetimos, o poder é único e indivisível e como uno e soberano pertence à República Federativa doBrasil (já que a União é dotada de autonomia). São funções (função executiva, legislativa e jurisdicional). Para exercer tais funções o poder soberano cria órgãos, que são chamamos de Poder Executivo, Poder Legislativo e Poder Judiciário. Hoje não temos mais a rigidez como outrora (como quando idealizada a separação dos poderes por Montesquieu) no exercício funcional de cada um dos poderes. Hoje cada poder exerce uma função, compatível com sua finalidade, com preponderância (função típica) e, ainda, exercerá excepcionalmente as demais funções (funções atípicas). O exercício das funções estatais não é feito com exclusividade, mas sim com preponderância. Isto é o chamado sistema de freios e contrapesos. A Constituição é quem determina as funções típicas e atípicas de cada Poder e estas não podem ser delegadas de um poder ao outro, salvo se houver regra constitucional neste sentido, oriundo do poder constituinte originário. Este é Princípio da Indelegabilidade. Poder Executivo – função típica: administrativa; funções atípicas: legislar(ex. medidas provisórias) e julgar (ex. processos administrativos); Poder Judiciário – função típica: jurisdicional; funções atípicas: legislar (ex. regimentos internos) e administrar (ex. gerir seu próprio orçamento); Poder Legislativo – funções típicas: legislar, fiscalizar (através do auxílio dos tribunais de contas) e investigar (ex. CPI’s – apenas investiga, não julga nem condena; investiga e encaminha para o MP); funções atípicas: administrar (ex. gerir licitações) e julgar (ex. senado julga presidente da república por crime de responsabilidade). Tribunal de Contas: não está subordinado ao Poder Legislativo e nem é um órgão interno de tal Poder – não tem competência jurisdicional e não é órgão do Poder Judiciário; é independente, com orçamento e quadro próprio de pessoal e que passa por controle externo – contábil, orçamentário, fiscal. Está enquadrado ao lado do Legislativo, mas não é um quarto poder (como o MP e Defensoria estão para o Executivo). Não exerce a fiscalização, ele auxilia o Poder Legislativo nesta função. Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. DIREITO CONSTITUCIONAL – CFO2 16 Os poderes são INDEPENDENTES e harmônicos entre si (cada poder atua dentro da sua parcela de competência constitucional). Atenção à expressão “poderes interdependentes”, os quais estão presentes apenas no parlamentarismo. No nosso caso não há subordinação, não há hierarquia e nem dependência recíproca, mas os três poderes devem exercer as funções de forma harmônica, de acordo com o “sistema de freios e contrapesos”, que leva a uma atuação conjunta e harmônica, percebida em vários momentos; a harmonia significa consciente colaboração e a um controle recíproco. Ex. função legislativa é típica do Poder Legislativo, mas depois da aprovação legislativa é necessária a sanção do Poder Executivo, para somente após termos uma lei constitucional, que ainda assim pode ter sua constitucionalidade questionada no Poder Judiciário, isso tudo para garantir o equilíbrio da atuação dos poderes. Ex. número 2: os ministros do STF são escolhidos pelo Presidente da República e esta escolha ainda depende da aprovação do Senado. União Executivo: Presidente com auxílio dos ministros de Estados; Legislativo: senado e câmara; Judiciário: tribunais superiores Estado Executivo: governador e secretários; Legislativo: assembléia legislativa; Judiciário: tribunais e juizes de direito Município Executivo: prefeitos e secretários; Legislativo: câmara de vereadores; e não tem judiciário DF Executivo: governador (não há prefeitos nem vereadores) com auxilio dos secretários; Legislativo: câmara legislativa do DF (composta pelos deputados distritais, eleitos na época de deputados estaduais); Judiciário: tribunal e juizes (organizado, mantido e legislado pela União, assim como MP e a Defensoria do DF). Exemplo da Portaria 88 do CNJ. OBJETIVOS FUNDAMENTAIS - CR/88, arts. 3º e 4º, in verbis: “Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: I - construir uma sociedade livre, justa e solidária; II - garantir o desenvolvimento nacional; III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes princípios: I - independência nacional; II - prevalência dos direitos humanos; III - autodeterminação dos povos; IV - não-intervenção; V - igualdade entre os Estados; VI - defesa da paz; VII - solução pacífica dos conflitos; VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo; IX - cooperação entre os povos para o progresso da humanidade; X - concessão de asilo político. Parágrafo único. A República Federativa do Brasil buscará a integração econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana de nações.” Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. DIREITO CONSTITUCIONAL – CFO2 17 - É a primeira vez que a Constituição assinala especificadamente objetivos do Estado. A efetividade deles visam a garantida da dignidade da pessoa humana. São regras programáticas (ou seja, não criam um direito em si, mas sim programas, direcionamentos à ação do Estado). O art. 3º traz ações políticas a serem desenvolvidas pela República Federativa do Brasil, são objetivos fundamentais internos. O art. 4º traz valores e princípios que o Brasil depende internacionalmente, toma como base a relação com outros Estados soberanos. TEORIA DOS DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS - Os direitos fundamentais têm como base para seu surgimento o cristianismo primitivo, o qual continha uma mensagem de libertação do homem, com a afirmação da dignidade eminente da pessoa humana, tendo em vista que o homem é uma criatura criada à imagem e semelhança de Deus. - Além do cristianismo, os direitos fundamentais se baseiam nos reconhecidos direitos naturais do séc. XVII e XVIII. - E, por fim, os direitos fundamentais têm, também, embasamento no movimento iluminista, com suas idéias sobre a ordem natural, liberdade e individualismo. FORMAÇÃO HISTÓRICA DAS DECLARAÇÕES DE DIREITO - O estudo da formação histórica das declarações de direitos se faz importante para a compreensão do conteúdo da Teoria dos Direitos Fundamentais e do conteúdo de nosso direito positivo. - O reconhecimento de direitos fundamentais do homem através de declarações é acontecimento recente e está longe de se esgotar, uma vez que com o passar do tempo, a tendência atual é a conquista de novos direitos de acordo com a evolução da humanidade e suas respectivas necessidades. Na verdade trata-se de uma reconquista, como uma retomada do que ficou perdido a partir do momento que tivemos a civilização dividida entre proprietários e não proprietários. - A partir do momento que temos a apropriação dos bens, com o surgimento da propriedade em meio a uma sociedade que até então se pautava em critérios de não subordinação e opressão, temos a construção de um Estado para legitimar esse critério de dominação. Surge com isso a escravidão, que nada mais é do que o retrato da opressão política e social, da qual, desde então o homem busca libertar-se. A busca incessante por conquista de direitos tem como objetivo, então, a retomada do modo social primitivo, sem divisões de proprietários e não proprietários, onde se faça prevalecer a solidariedade, a fraternidade e a igualdade. - Os primeiros antecedentes às declarações são ainda da Idade Média. São eles: o veto da plebe contra ações injustas dos patrícios em Roma; a Lei Valério Publícola (que proibia penas corporaiscontra cidadãos) e o Interdicto de Homine Libero Exhibendo (que tinha como finalidade a proteção jurídica da liberdade). Entretanto, a princípio, essas ações tinham alcance apenas às classes dominantes. - Ainda na Idade Média tivemos o surgimento das Leis Fundamentais do Reino, que trouxeram limites ao poder do monarca, na tentativa de impedir a tirania dos reis. Dessa idéia, advinda do Direito Natural, tivemos o surgimento dos forais, pactos e cartas de franquias, dos quais destacamos a Magna Carta (1215) do séc XIII, e outros tantos documentos do séc XVII nos mais diversos países. - A Inglaterra foi um dos países pioneiros nas declarações de direitos. Entretanto, é preciso destacar que essas primeiras declarações não tinham o mesmo sentido do atual, haja vista que seus textos eram limitados e muitas vezes estamentais (o conteúdo atual das declarações Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. DIREITO CONSTITUCIONAL – CFO2 18 passou a ser utilizado depois da revolução americana e francesa). Os documentos ingleses mais importantes neste sentido foram: • Magna Carta assinada em 1215, mas definitiva apenas em 1225; apesar de significar uma grande passo e um avanço na defesa dos direitos fundamentais, principalmente por ter sido utilizada como fundamentação para instituição de uma ordem jurídica democrática no país, se caracteriza pela proteção de privilégios de barões e homens livres apenas (os quais as época poderiam ser contados) e nada se fazia aos homens não livres. • Petição de Direitos (Petition of Rights) de 1628, foi um documento dirigido ao monarca em que os membros do parlamento pediram o reconhecimento de diversos direitos e liberdades para os súditos de sua majestade. Na verdade, essa petição pedia o reconhecimento expresso pelo monárquica de vários direitos já elencados na Magna Carta, os quais, entretanto, não eram observados pelo rei, como por exemplo direito de liberdade ou direito a um julgamento legal de seus pares e leis do país. Também não era um documento universal. • Habeas Corpus Act reforçou reivindicações de liberdade, suprimindo aos déspotas a possibilidade de prisões arbitrárias. • Declaração de Direitos (Bill of Rights) decorrente da revolução de 1688, que reconheceu o Parlamento como poder superior do monarca, destitui o Rei Jaime II, e institui no poder o Rei Guilherme, que teve seu poder limitado, momento em que surgiu na Inglaterra a monarquia constitucional, subordinada à soberania popular - Além de tais documentos, teve também importância como precedente das atuais declarações, na devida ordem cronológica, a Declaração da Virgínia, de 1776. Nesta declaração tínhamos a base dos direitos do homem, como o direito de igualdade do homens, de liberdade, de soberania popular, direito de defesa, liberdade de imprensa, entre outros. Essa declaração se preocupava com a estrutura de um governo democrático e com um sistema de limitação do poder. Podemos notar que os documentos ingleses tinham por finalidade a limitação do poder do monarca, enquanto essa declaração previa a limitação do poder estatal como tal, baseado na crença de direitos naturais e imprescritíveis. Um trecho de destaque da declaração é: “(...) que todos os homens foram criados iguais, foram dotados pelo Criador de certos direitos inalienáveis; que, entre estes, estão a vida, a liberdade e a busca de felicidade (...)” - Ainda nos EUA, tivemos a Declaração Norte Americana, em 1787, que a princípio não continha direitos fundamentais do homem, os quais foram exigidos a inclusão por parte das antigas colônias, a partir de então, estados-membros. Assim, foram feitas as 10 primeiras emendas à Constituição da Filadélfia, para introduzir direitos fundamentais do homem ao texto constitucional e que formam o Bill of Rights do povo americano. Dentre tais direitos podemos citar direito a liberdade de culto, de imprensa, de reunião, direito de defesa, direito de inviolabilidade da casa, sufrágio universal, entre muitos outros. - Seguindo a ordem cronológica, outro documento de grande importância na história do reconhecimento dos direitos fundamentais foi a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, na França em 1789. Essa declaração utilizou da técnica da Declaração Norte Americana para se aperfeiçoar, mas não podemos dizer que é derivada ou influenciada basicamente por esta, tendo em vista que se baseia no pensamento europeu daquele momento, qual seja, a liberação do homem do regime absolutista e feudal. Distingue-se das demais declarações até então por possuir um caráter universalizante (ao mesmo tempo que é mundialista, ou seja, quer que os direitos atinjam a todas as pessoas, é individualista, porque defende apenas direitos individuais, se preocupa na defesa do indivíduo contra o Estado). Proclama a liberdade, igualdade, propriedade e legalidade. - Até aqui tivemos a defesa em tais documentos de direitos individuais. Ocorre que mesmo com a Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão, a qual continha um caráter universal, os direitos só podiam ser exercidos por capitalistas, deixando à margem da sociedade a recém Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. DIREITO CONSTITUCIONAL – CFO2 19 surgida classe dos operários. Assim, surge uma nova perspectiva dos direitos fundamentais, com necessidade de reconhecimento, que são os direitos sociais. Neste sentido, tem importante papel o Manifesto Comunista, a Revolução de 1948, e a Constituição Mexicana de 1917 e a Constituição de Weimar (Alemanha), precursores desta idéia. - Esse caráter universalizante da declaração francesa e a necessidade de inserção dos direitos sociais influenciou todas as demais declarações de direitos fundamentais, mormente a criação de um carta universal, reconhecendo os direitos fundamentais mundialmente. Daí a instituição como primeiro grande objetivo da Organização das Nações Unidade a criação de uma Declaração Universal de Direitos Humanos, a qual se concretizou em 1948. A declaração universal da ONU possui 30 artigos, os quais consagram o Princípio da Dignidade da Pessoa Humana como base da liberdade, justiça e paz; consagra também o ideal democrático e a resistência à opressão. Os artigos 1 ao 21 consagram direitos fundamentais individuais; os artigos 22 ao 28 consagram direitos sociais; o artigo 29 consagra deveres da pessoa com a comunidade; e, por fim, o artigo 30 consagra o Princípio de Interpretação da Declaração, o qual prevê que sempre deve acontecer de maneira a preservar dos direitos e liberdades nela proclamados. Na América ainda temos documento internacional de grande importância no tocante a direitos fundamentais que é o Pacto de San José da Costa Rica (Convenção Americana de Direitos Humanos), de 1969, do qual o Brasil se tornou signatário em 1992. - O grande entrave que ainda vivemos, diante de avanços consideráveis do reconhecimento dos direitos fundamentais é que tais declarações, por terem caráter universal, são de difícil instrumentalização da obrigatoriedade do cumprimento, o qual dependerá de cada país e seu respectivo governo. Portanto, não há instrumentos internacionais para garantir os direitos nelas previstos, mormente pela necessidade de respeito à soberania dos Estados. - Diante deste entrave de eficácia das previsões dos direitos fundamentais em declarações, fez- se necessária a inserção destes direitos nas constituições, para dotá-los de eficácia constitucional. Portanto, as constituições democráticas passaram a trazer um capítulo em que são subjetivados e positivados os direitos fundamentais. DECLARAÇAO DE DIREITOS FUNDAMENTAIS NAS CONSTITUIÇÕES BRASILEIRAS - A Constituição do Império, de 1824, já trazia regras de direitos fundamentais em seu texto, porém sem a denominação de Declaração de Direitos. - A Constituição de 1891 trazia a defesa dos direitosindividuais fundamentais, já coma devida denominação, mormente no tocante à liberdade, segurança e propriedade. - A partir da Constituição de 1934 tivemos a inserção no título de direitos fundamentais dos direitos à nacionalidade e políticos. As constituições de 1946 e 1967 trazem também como direitos fundamentais os direitos econômicos e os sociais (estes últimos estruturados de maneira melhor em comparação às demais constituições anteriores). - Por fim, a Constituição de 1988 traz uma redação mais moderna, trazendo um título com os princípios fundamentais e logo em seguida outro com direitos e garantias fundamentais, o qual engloba direitos individuais, sociais, políticos, nacionalidade e econômicos (os quais também serão encontrados esparsos no restante do texto constitucional). LOCALIZAÇÃO DOS DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS NA CR/88 - Os direitos e garantias fundamentais são os direitos e deveres individuais e coletivos, direitos sociais, direito de nacionalidade, direitos políticos e partidos políticos. Portanto, conforme manifestação do STF em diversos julgados, não se restringem aos direitos e garantias Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. DIREITO CONSTITUCIONAL – CFO2 20 elencados no art. 5º da CR-88, podendo ser encontrados ao longo do texto constitucional ou mesmo em tratados internacionais dos quais o Brasil seja signatário. NOMENCALTURA Apesar de termos na doutrina diversos nomes para o que essencialmente se refere aos direitos fundamentais do homem, mais correta é a utilização tão somente de tal expressão, haja vista, “fundamentais” ser referente a situações jurídicas sem as quais a pessoa humana não se realiza, e às vezes nem ao menos sobrevive. “Do homem” está no sentido do alcance de todos, da raça humana. EVOLUÇÃO DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS - Dentre vários outros critérios, que a doutrina adota para classificação dos direitos fundamentais, iremos no ater ao mais estudado que é o que costuma classificar os direitos fundamentais em gerações de direitos (ou dimensões), quais sejam: • Primeira geração esses direitos dizem respeito às liberdades públicas e aos direitos políticos; direitos que traduzam o valor da liberdade. Marcada pelo texto da Magna Carta de 1215 (Inglaterra), Bill of rights (1688) declarações Americana e Francesa (1776 e 1789). • Segunda geração o que impulsiona e inspira essa geração de direitos é a revolução industrial européia. Em decorrência das péssimas condições de trabalho e de sobrevivência, de vida, eclodiram movimentos sociais, como os cartistas, em busca de reivindicações trabalhistas e normas de assistência social. Neste sentido, buscou-se a fixação de direitos sociais, que garantissem a saúde e a dignidade do trabalhador. É nesse período também que temos uma intensa formação do Direito do Trabalho. • Terceira geração surgem os chamados direitos de solidariedade, tendo em vista a mudança da sociedade devido aprofundas mudanças na comunidade internacional (sociedade de massa, crescente desenvolvimento técnológico e científico). Mudam-se as preocupações, como por exemplo, cresce a atenção no tocante à preservação ambiental e necessária proteção dos consumidores. São dos direitos metaindividuais (difusos, coletivos e individuais homogêneos). • Quarta geração esses direitos decorrem dos avanços no campo da pesquisa genética que, segundo Bobbio, pode colocar em risco a própria existência humana, através da manipulação do material genético. O jurista entende que este tipo de pesquisa pode trazer efeitos cada vez mais traumáticos, que permitirá manipulações do patrimônio genético de cada indivíduo. DIREITO FUNDAMENTAIS X GARANTIAS FUNDAMENTAIS - Como diferenciarmos os direitos da garantias fundamentais? São sinônimos? - Um dos primeiros estudiosos juristas a enfrentar essa questão foi Rui Barbosa que definiu os direitos como as disposições meramente declaratórias e as garantias como as disposições assecuratórias. Uma mesma disposição poderia conter tanto a parte declaratória como, conseguinte, a parte assecuratória. - Na mesma linha de Rui Barbosa, podemos estabelecer que os direitos são bens e vantagens prescritos na norma constitucional, enquanto que as garantias são os instrumentos através dos quais se assegura o exercício de tais direitos (ainda que previstas na forma de direito; por exemplo, a inviolabilidade é um direito, mas antes disso é uma garantia ao direito de privacidade). As garantias não se restringem aos chamados remédios constitucionais. Como veremos, eles são sim algumas das espécies do gênero garantia, mas temos outras garantias fundamentais no texto constitucional. Ex: é inviolável a liberdade de consciência e de crença, Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. DIREITO CONSTITUCIONAL – CFO2 21 sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos (direito), garantindo-se na forma da lei a proteção aos locais de culto e suas garantias (garantia); direito ao juízo natural (direito), vedação a instituição de juízo ou tribunal de exceção (garantia). CARACTERÍSTICAS DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS • UNIVERSALIDADE os direitos fundamentais destinam-se, indiscriminadamente, a todos os seres humanos. Nas primeiras cartas e forais, esses direitos vinham como vantagens de classes superiores, mantidas nas chamadas sociedades estatizadas, mormente na Idade Média. Atualmente não podemos admitir a discriminação de direitos fundamentais para determinadas classes diante do cenário jurídico e social atual. • LIMITABILIDADE os direitos fundamentais não são absolutos (relatividade), podendo existir muitas vezes, no caso concreto, conflito de interesses. A solução pode vir discriminada na própria Constituição ou caberá ao intérprete do caso concreto decidir qual interesse deverá preponderar, considerando a regra a máxima observância dos direitos fundamentais envolvidos e sua mínima restrição,bem como os demais princípios para a interpretação das normas constitucionais. • CONCORRÊNCIA os direitos fundamentais podem ser exercidos cumulativamente, ou seja, mais de um ao mesmo tempo e, para isso, precisam ser compatíveis. Ex: jornalista que transmite notícias (direito de informação) e, juntamente, emite uma opinião (direito de opinião). • IRRENUNCIABILIDADE pode até acontecer da pessoa não exercer um direito fundamental, mas jamais poderá renunciá-lo, ou seja, manifestar sua opinião pela perda daquele direito. (Ex: a atuação do Ministério Público no caso dos anões lançados pelo “canhão humano”). • INALIENABILIDADE se não podemos renunciá-los, com muito mais razão, os direitos fundamentais não são alienáveis, não podem ser vendidos por não possuírem conteúdo econômico; serão, portanto, indisponíveis (irrenunciáveis e inalienáveis). • IMPRESCRITIBILIDADE tais direitos não sofrem prescrição (ou seja, podem ser reclamados a qualquer tempo), que só atingirá direitos de caráter patrimonial. ABRANGÊNCIA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS (destinatários dos direitos fundamentais) - Apesar da Constituição trazer no caput do art. 5º que os direitos e garantias fundamentais são garantidos apenas aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no país, o entendimento atual, através de uma leitura interpretativa teleológica da Constituição é que esses direitos e garantias são também garantidos aos estrangeiros não residentes no país, aos apátridas e às pessoas jurídicas. Aliás, não apenas os direitos fundamentais, mas quaisquer disposições constitucionais. - É claro que devemos observar se o direito a ser exercido por essas pessoas não possui alguma particularidade, como por ex. a ação popular que só pode ser ajuizada pelo cidadão (portanto, nenhuma pessoa jurídica, nenhum estrangeiro e nenhum apátrida poderá exercer tal direito). E isso serve para qualquer direito constitucional. Portanto,a regra é que qualquer pessoa em território brasileiro seja titular dos direitos fundamentais; entretanto, nem todos os direitos constitucionais de brasileiros natos, sejam eles direitos fundamentais ou não, são assegurados aos estrangeiros, apátridas ou mesmo às pessoas jurídicas (aqueles que a Constituição prevê uma condição especial para sua titularidade não poderão ser exercidos por estas pessoas). - Entretanto, nada impede que, por ex., que um turista americano impetre um mandado de segurança ou um habeas corpus aqui no Brasil. - Segue uma análise específica de cada um desses destinatários dos direitos fundamentais não expressos no texto constitucional: Pessoa jurídica a pesquisa no texto constitucional mostra que vários dos direitos arrolados no art. 5º se estendem às pessoas jurídicas, tais como princípio da isonomia, da legalidade, direito de resposta, direito de propriedade, etc. Estrangeiro residente Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. DIREITO CONSTITUCIONAL – CFO2 22 não tem titularidade apenas dos direitos arrolados no art. 5º, apesar de só ali ser mencionado expressamente. Estrangeiro não residente e apátridas não está no caput do art. 5 º, mas, como acima descrito, uma interpretação teleológica, temos que o art. 1º impõe a dignidade da pessoa humana como um dos fundamentos do Estado Democrático de Direito, o que a faz com proclamação universal, ou seja, abrangente de qualquer ser humano e os direitos fundamentais nada mais são do que diversos desdobramentos deste princípio, motivo pelo qual, devem ser aplicados a todos no nosso território. APLICABILIDADE DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS de acordo com o §1º do art. 5º da nossa Constituição as normas de direitos e garantias fundamentais possuem aplicabilidade imediata. É claro que dentro dessa aplicabilidade imediata devemos respeitar a natureza da norma quanto a sua eficácia (plena, contida ou limitada), e efetivá-la (aplicá-la) dentro das possibilidades fáticas (princípio da máxima eficácia das normas constitucionais, métodos de interpretação). EFICÁCIA HORIZONTAL DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS - A aplicação dos direitos fundamentais nas relações entre o particular e o Poder Público, ou seja, a eficácia vertical desses direitos, não se discute, visto que o Direito Constitucional é um ramo do direito público. Por exemplo, com certeza, em um concurso público deve ser observado o Princípio da Isonomia entre os candidatos. Mas e uma empresa privada, deve respeitar o Princípio da Isonomia quando for contratar empregados? Ou seja, os direitos fundamentais devem ser (obrigatoriamente) respeitados nas relações entre particulares? Eles possuem, portanto, eficácia horizontal (entre iguais)? - Algumas situações são de mais fácil resolução por não envolver apenas um direito fundamental, mas, por exemplo, um fundamento de nosso Estado, ex. o caso em que se fere a dignidade da pessoa humana pela prática de racismo (até porque o racismo é crime), quanto a este fundamento do nosso Estado não há dúvidas de que há o dever de observância do direito fundamental entre os particulares. - Visando explicar a aplicabilidade da eficácia horizontal dos direitos fundamentais surgem duas teorias: • Eficácia indireta ou mediata os direitos fundamentais são aplicados de maneira reflexa (indireta), tanto para proibir o legislador de editar leis que violem os direitos fundamentais, como para incentivar o legislador a criar leis para implementar os direitos fundamentais, ponderando quais devem ser aplicados às relações privadas. • Eficácia direta ou imediata alguns direitos fundamentais podem ser aplicados às relações privadas, sem que haja intermediação do legislador para sua concretização e isso será avaliado no caso concreto, diante da necessidade de interpretação das normas constitucionais. - Dentro desta perspectiva, podemos destacar o efeito irradiante dos direitos fundamentais. Este efeito diz respeito à necessidade de influência dos direitos fundamentais nos atos realizados pelos Poderes (Legislativo, Judiciário e Executivo), cada um em sua função constitucionalmente determinada. - O Judiciário, na análise de alguns casos marcantes, já se manifestou pela aplicabilidade de direitos fundamentais às relações privadas, ou seja, pela eficácia horizontal desses direitos. Ex: a revista íntima de empregadas de fábrica de lingerie foi considerada constrangimento ilegal; a prisão civil em contrato de alienação fiduciária que a dívida do valor contratado aumentou absurdamente também foi considerada inconstitucional, por ferir a dignidade da pessoa humana; e, a violação do Princípio do Devido Processo Legal e da Ampla Defesa em caso de exclusão de associado de cooperativa sem direito à defesa. - Assim, atualmente, podemos notar que a aplicabilidade da eficácia direta dos direitos fundamentais nas relações privadas tem crescido, principalmente diante de atividades que Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. DIREITO CONSTITUCIONAL – CFO2 23 possuem certo caráter público (escolas, clubes, relaçoes de trabalho). Na mesma proporção teremos o crescimento de colisões de princípios, como livre iniciativa e dignidade da pessoa humana, devendo-nos valer da ponderação de interesses e os demais princípios de interpretação da Constituição, em cada caso, para solucioná-lo. CLASSIFICAÇÃO DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS direitos individuais (art. 5º, CR/88); direito a nacionalidade (art. 12, CR/88); direitos políticos (art. 14 a 17 CR/88 direitos sociais (art. 6º ao 11 e art. 193, todos da CR/88); direitos coletivos e direitos solidários (espalhados, ex. direito ao meio ambiente, art. 225, CR/88). Apesar da classificação, esses direitos não devem ser considerados antagônicos ou opostos, mas sim integrativos entre si, ou seja, há um integração harmônica entre todas as categorias dos direitos fundamentais do homem. DIREITOS FUNDAMENTAIS EM ESPÉCIE Art. 5º, caput, CR/88, in verbis: TÍTULO II Dos Direitos e Garantias Fundamentais CAPÍTULO I DOS DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS “Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:” (grifos nossos) 1. DIREITO À VIDA caput do art. 5º - na forma como previsto em nossa Constituição, o direito à vida abrange tanto o direito de não ser morto, privado da vida, como o direito a uma vida digna; o direito a vida humana engloba elementos materiais (físicos e psíquicos) e imateriais (espirituais). É no direito à vida que repousa a condenação do aborto, a não aceitação do suicídio e a proibição de prescrição de tratamento inadequado. A seguir teremos alguns desdobramentos dos direito à vida. A. DIREITO À EXISTÊNCIA o direito à existência consiste no direito de permanecer vivo, de lutar pela vida, de defender sua vida, ou seja, de ter o processo vital interrompido tão somente pela morte espontânea e inevitável. Em decorrência desse desdobramento do direito à vida, temos que a legislação infraconstitucional penal pune toda forma de interrupção violenta da vida. É também decorrente do direito à vida o direito à legítima defesa. B. DIREITO Á INTEGRIDADE FÍSICA agredir o corpo humano é o mesmo que agredir a vida, pois esta se realiza naquele. Daí, então, o porquê de as lesões corporais serem punidas pela legislação penal. Ainda, a própria Constituição traz a proibição á tortura, art. 5º, inciso III (“ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante;”). PROIBIÇÃO DA TORTURA A tortura no Brasil é uma herança cultural ainda arraigada na sociedade, cabendo aos operadores do Direito uma formação do efetivo respeito aos direitos humanos. A prática