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Esquema de Direito Constitucional

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DIREITO CONSTITUCIONAL – CFO2 
 
 
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ESQUEMA DE 
DIREITO 
CONSTITUCIONAL 
CFO2 
2010 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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DIREITO CONSTITUCIONAL – CFO2 
 
 
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Prezados Cadetes do 2º ano, 
 
 Este esquema é apenas um auxílio ao estudo de vocês, 
trazendo pontos abordados em sala de aula, de acordo com o conteúdo 
programático da disciplina. 
 Este trabalho não tem o intuito doutrinário e/ou 
acadêmico de exaurir os assuntos abordados, nos seus mais diversos 
pontos; mas apenas de ajudá-los a direcionar seus esforços, bem como, 
reforçar aspectos importantes e inerentes a função que ocupam dentro 
desta instituição (PMMG). 
 Espero ter alcançado o objetivo deste esquema e que 
façam bom proveito. Críticas construtivas serão sempre bem-vindas. 
 Bons estudos! 
 Abs, 
 
 
 Profª Amanda Azeredo 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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DIREITO CONSTITUCIONAL 
CFO2 
 
 
Introdução 
 
O Direito Constitucional, em suma, é o estudo das constituições. Este estudo pode ser feito de 3 
formas diferentes, quais sejam: o estudo de uma Teoria Geral do Direito Constitucional, aplicável 
a todos os ordenamentos; o estudo de uma constituição propriamente dita, como por exemplo, o 
estudo da nossa Constituição da República de 1988; e, por fim, o estudo do Direito 
Constitucional comparado (ou seja, o estuda de constituições de países diversos, comparando 
uma com a outra). 
No nosso curso a princípio vamos fazer uma revisão geral quanto a Teoria Geral do Direito 
Constitucional e depois passaremos à análise pormenorizada de parte da Constituição, referente 
aos direitos e garantias fundamentais. 
 
Teoria da Constituição (noções básicas) 
 
• DIREITO CONSTITUCIONAL: é um dos ramos do direito público, que tem como objetivo o 
estudo da constituição (o objetivo de uma constituição é dispor sobre direitos e garantias 
fundamentais de um Estado e dispor sobre sua forma de organização – organização jurídica-
política do Estado). 
• Direito constitucional positivo é aquele que está positivado e existe em um Estado. O estudo 
comparado, como o próprio nome diz, compara as constituições dos Estados. O estudo geral do 
direito constitucional é o estudo de uma teoria geral, e é o que por hora fazemos. 
 
O que é a constituição? 
 
• O Estado é formado por três elementos principais, quais sejam: soberania, povo e território. 
• Todos os significados literais da palavra nos leva à idéia de modo de ser de alguma coisa e, 
por extensão, a de organização interna de seres e entidades. Neste sentido, todo Estado 
soberano terá uma constituição, que organizará seu povo dentro de seu território. Assim, a 
constituição de um Estado é a sua organização político-fundamental. 
• A constituição de um Estado é a norma superior, que irá tratar sobre os elementos 
essenciais, normas jurídicas que dizem respeito aos direitos e garantias fundamentais do povo 
daquele Estado, bem como à organização do Estado. Portanto, as normas constitucionais são 
dotadas de supralegalidade, pois são hierarquicamente superior as demais normas do Estado. 
Exemplos: é na constituição de um Estado que iremos encontrar a forma de Estado (unitário ou 
federado), a forma de governo (república ou monarquia), se os poderes do Estado são 
separados e harmônicos entre si, etc. 
 Como os Estados são diferentes entre si, principalmente no tocante a sua formação, a forma 
como cada Constituição foi elaborada também foi diferente, o que origem a necessidade de criar 
uma classificação das Constituições, de acordo com diversos critérios. 
 
CLASSIFICAÇÃO DAS CONSTITUIÇOES 
 
1. Critério da Origem 
• Outorgada – texto imposto de maneira unilateral, sem nenhuma participação popular, pelo 
agente revolucionário. No Brasil tivemos a de 1824, 1937 e 1967. 
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• Promulgada (democrática/ popular) – texto imposto com participação popular; o texto é fruto 
do trabalho de uma Assembléia Constituinte, eleita diretamente pelo povo, com o fim de elaborar 
e estabelecer o Estado; o texto é construído de baixo para cima. Ex: CR/88. 
- OBS: Carta de modo geral é o nome dado a constituições outorgadas, principalmente no 
ambiente acadêmico. 
 
2. Critério da forma 
• Escrita – a constituição tem um texto único, formalizado e positivado, oficialmente 
reconhecido como constituição; ou seja, é formada por um conjunto de regras sistematizadas e 
organizadas em um único documento. Ex: CR/88. 
• Não escrita (consuetudinária/ costumeira) – classificar a constituição como não escrita não 
significa que não tem nada escrito a título de constituição; significa que não existe necessário 
texto solene e oficialmente reconhecido como constituição, mas sim que existem normas 
constitucionais encontradas nos costumes, na legislação espaça e na jurisprudência. Todas as 
formas que se referem a direitos e garantias fundamentais e organização do Estado serão 
normas constitucionais, apenas não houve compilação destas normas. Ex: Constituição da 
Inglaterra. Atualmente inexiste constituição totalmente costumeira. Paulo Bonavides prefere, 
então, falar em constituição parcialmente costumeira. 
 
3. Critério do conteúdo 
• Formal – aproxima-se da constituição escrita, formalizada, mas suas normas são 
identificadas não pelo conteúdo que trazem, mas pela forma como foram introduzidas no 
ordenamento constitucional, ou se seja, se foram formalizadas, positivadas e passaram por 
processo solene de elaboração. Não importa se todas as normas falam sobre direitos e garantias 
fundamentais e organização do Estado, só importa o processo solene de elaboração. Uma 
norma pode ser material e formalmente constitucional simultaneamente, desde que diga respeito 
a norma essencialmente constitucional e, ainda, tenha observado o processo solene de 
elaboração. Ex: CR/88 (todas as normas constitucionais devem passar por processo solene de 
elaboração e, algumas, ainda são normas materialmente constitucional). OBS: Não há 
hierarquia entre as normas constitucionais meramente formais e as materiais, ambas são 
normas com o mesmo status. 
• Material – é o texto constitucional que tiver apenas as regras de direitos e garantias 
fundamentais e organização do Estado; ou seja, se identificam como normas constitucionais 
apenas aquelas que possuem matérias, essências, assuntos de constituição (organização do 
Estado e direitos e garantias fundamentais) 
 
4. Critério da Extensão 
• Sintética/ Enxuta/ Sucinta – diz respeito apenas ao que deve ser normas constitucionais, 
possui apenas normas materialmente constitucionais. Em relação a este texto constitucional 
temos a necessidade de intensa atividade de interpretação da constituição para adequá-la aos 
anseios da sociedade. É, em regra, uma constituição mais duradoura. Ex: Constituição 
Americana. 
• Analítica/ Extensa/ Prolixa – devido a um processo de democratização, o Estado entendeu 
por bem “colocar tudo no papel” para não haver dúvidas quanto aos direitos e deveres de cada 
um. Desta forma, muitas regras não possuem essência material de constituição; sao aquelas 
que abordam todos os assuntos que os representantes do povo entenderam ser fundamentais; é 
muito detalhada, possui várias normas constitucionais meramente formais. Ex: CR/88. 
 
5. Critério de reforma do texto constitucional (processo de reforma/ alterabilidade/ 
estabilidade) OBS: os processos é que são diferenciados 
• Imutável – não tem nenhum processo legislativo que viabilize a reforma do texto 
constitucional. Esta classificação é teórica, pois na prática não existe. As cláusulas pétreas não 
podem ser abolidas nem restringidas, maspodem ser modificadas para aumentar os direitos. 
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• Rígida – Cláusulas pétreas podem existir em qualquer constituição e não são elas que 
fazem o ser classificado como texto rígido. As constituições rígidas possuem processo de 
alteração do texto constitucional demorado, rígido, solene, árduo; o processo legislativo para 
alteração constitucional é complicado, especial e diferente dos demais de alteração da legislação 
ordinária. Ex: CR/88 
• Flexível – constituições que possuem processo legislativo para alteração da constitucional 
ordinário, simples, semelhante ao processo legislativo da legislação infraconstitucional. 
• Semi-rígida (semi-flexível) – é aquela constituição que tanto é rígida como é flexível. Pode 
haver mais de um processo de alteração do texto constitucional de uma mesma constituição, 
neste caso será semi-rígido, pois algumas normas podem ser alteradas por processo rígido e 
outras por processo flexível. Não podemos afirmar que nossa atual constituição é classificada 
como semi-rígida pelo fato de haverem clausulas pétreas, pois na nossa constituição a emenda 
sempre é por dois turnos de votação na câmara e no senado e com 3/5 de votos, inclusive para 
as clausulas pétreas (as quais apenas não podem ser abolidas ou restringidas). 
• Super rígida * - a constituição possui um processo legislativo de alteração da constituição 
rígido e ainda possui cláusulas pétreas. Alguns autores (como Alexandre de Moraes) classificam 
nossa constituição assim porque ela possui as clausulas pétreas. Entretanto o STF não adota 
essa posição, haja vista adotar a possibilidade de alteração das matérias de cláusulas pétreas, 
desde que não seja para restringir ou abolir estes direitos O fato de ter cláusulas pétreas não é a 
justificativa para ser rígida. 
- OBS: as cláusulas pétreas não são hierarquicamente superior às demais regras, elas 
simplesmente não podem ser abolidas. (art. 60, parágrafo 4º, e espalhadas na constituição, ex. 
direitos fundamentais, eles estão elencados basicamente nos arts. 5º ao 17) 
- OBS2: Se chamar o critério de estabilidade não quer dizer que a rígida é mais estável ou que a 
flexível é mais instável, pois a forma de alteração do texto depende apenas do processo 
legislativo de alteração. Ex. a constituição consuetudinária e histórica muitas vezes são flexíveis, 
e são difíceis de serem alteradas, principalmente porque já fazem parte da cultura secular e das 
tradições daquele povo. 
- OBS3: é importante assegurar a rigidez da constituição, para que não seja facilmente alterada 
e solidifique suas normas na sociedade. Entretanto, é importante também que não fique 
prejudicada a perfeita adaptação das constituições às exigências do progresso, da evolução e do 
bem-estar social. 
- OBS4: nem toda constituição rígida será escrita e nem toda constituição não escrita será 
flexível; são critérios diferentes de classificação. 
 
 
6. Critério do Momento de elaboração 
• Dogmática – é a constituição elaborada em um só momento da história do país; constitui-se 
uma assembléia constituinte e a constituição é elaborada. Ex: CR/88. 
• Histórica – é uma constituição que se consolidou ao longo dos anos, da história do Estado; 
consolidou-se através de lento e contínuo processo, através da história e tradições de um povo. 
Baseada nas decisões políticas, judiciais. Não se identifica um momento pontual e específico 
para elaborar o texto constitucional dentro da história do Estado. Portanto, a regra é que seja 
consuetudinária, não escrita e material. 
 
Classificação da Constituição de 1988: promulgada, escrita, formal, analítica, rígida e dogmática. 
 
 
SUPREMACIA CONSTITUCIONAL 
 
Por nossa constituição ser rígida, podemos falar que tal característica corrobora com 
a supremacia das normas constitucionais, ou seja, é a constituição é a pedra em que se assenta 
o edifício do moderno direito político ou todas as normas jurídicas do Estado; é a constituição 
que está no vértice da pirâmide do ordenamento jurídico e que confere validade e determina a 
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competência de cada órgão e poder do Estado. Toda autoridade só nela encontra fundamento e 
só ela confere poderes e competências governamentais. 
Nenhum dos entes federativos são soberanos, pois todos são limitados, expressa ou 
implicitamente, pelas normas positivadas da nossa lei fundamental. Portanto, todas as normas 
só serão válidas se se conformarem com as normas da CR/88. 
 
 
PODER CONSTITUINTE (noções básicas) 
 
 
O Poder Constituinte é o instituidor do Estado, criador da estrutura jurídica que 
possibilita a convivência do homem em sociedade. 
Para Gomes Canotilho o estudo do Poder Constituinte pode se resumir em quatro 
perguntas, quais sejam: o que é o Poder Constituinte? Quem é o titular deste poder? Qual a 
forma de seu exercício? Existem ou não limites jurídicos e políticos para este poder? Vamos 
partir destas indagações para estudarmos noções básicas do Poder Constituinte. 
 
O que é o Poder Constituinte? 
- É o poder de construir, reconstruir e reformular a ordem jurídica estatal. É um poder que 
antecede o Estado e não encontro justificativa em si mesmo, senão depende de considerações 
extras e pré-jurídicas para se legitimar ou de outro meio que possa expressar a força 
constituinte. Portanto, é um poder superior e distinto dos demais poderes, mormente por ser 
essencialmente soberano pela capacidade de estabelecer originaria e livremente a estrutura 
jurídico-política do Estado e de sua Constituição (adotando determinadas concepções político-
fundamentais). Em suma, como o próprio nome já diz, é o poder de constituir e formar um 
Estado. 
 
Quem é o titular do Poder Constituinte? 
- A pessoa que detém a titularidade é que legitimamente irá exercer o Poder Constituinte. 
- A titularidade do Poder Constituinte pertence ao povo; mas não o povo em sentido de cidadão 
ou quem exerça o sufrágio, e sim o que chamamos de povo real, como comunidade aberta de 
sujeitos constituintes que pactuam e consentem no modo de governo da sociedade; são as 
forças políticas plurais, capaz de propor e defender idéias suscetíveis de servir de base à 
constituição. Não podemos confundir a titularidade com o exercício do poder constituinte; vez 
que ele será exercido através das assembléias constituinte ou de outro meio que expressar a 
força constituinte. A revolução, consiste em mudança rápida e profunda na estrutura de uma 
sociedade e de seu sistema de poder, não é o triunfo da violência; já o golpe de Estado é a 
tomada de poder através de meios inconstitucionais (usurpação) por um grupo ou movimento 
que derruba e assume o poder. 
 
Qual a forma de exercício do Poder Constituinte? 
- O exercício do Poder Constituinte se dá através dos constituintes escolhidos pelo povo ou pelo 
grupo que toma o poder, e não se submete a nenhum outro poder; ou seja, o exercício do Poder 
Constituinte se dará através dos representantes que formam a assembléia constituinte. O que 
não quer dizer que seja absoluto, uma vez que encontra-se vinculado ao seu titular, o povo, e 
seus respectivos poderes. 
 
Existem limites jurídico-políticos ao Poder Constituinte? 
- Há limites ao Poder Constituinte, os quais iremos estudar de acordo com a divisão clássica de 
poder constituinte originário e poder constituinte secundário. 
- O Poder Constituinte Originário é inicial (não se funda em nenhum poder e nem é oriundo de 
ordem jurídica que lhe seja anterior). É autônomo, pois não se subordina a nenhum outro poder. 
É incondicionado, pois não se sujeita a condições nem fórmulas jurídicas para sua manifestação. 
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Entretanto,ele não é absoluto, pois possui limites em si próprio, como todo poder. O critério do 
que é justo, a interdependência dos povos, os ideais, as crenças, os costumes e as forças 
resistem, moderam e neutralizam os mais entusiasmado ímpeto revolucionário. Quem 
estabelece a ordem constitucional não pode chocar-se frontalmente com as concepções mais 
arraigadas da comunidade, sob pena de termos uma ordem constitucional ineficaz. Além disso, 
há doutrinadores que entendem que o poder constituinte originário é limitado pelo direito 
internacional e suas regras fundamentais (mormente as que tutelam os direitos do homem). 
- O Poder Constituinte Secundário pode ser dividido em poder constituinte secundário 
derivado e secundário decorrente. 
- O Poder Constituinte Derivado é subordinado, por se vincular ao poder originário, e é 
condicionado, vez que seu exercício possui limites e condições estabelecidos na própria 
Constituição. 
- Ele possui, ainda, limitações que condicionam seu exercício no espaço e no tempo, são elas: 
 Limitações circunstanciais  dentro de determinadas circunstâncias de desordem do 
Estado não pode ser exercido o poder derivado. Essas circunstâncias estão no §1º do 
art. 60 e são o estado de sítio, de defesa e intervenção federal, ou seja, eventos que não 
propiciam um clima de ampla liberdade e isento de paixões decorrentes de 
acontecimentos extraordinários de ordem política, pois o Estado está fragilizado; 
 Limitações formais  o poder de reforma deve observar um procedimento previamente 
determinado Art. 60, I, II e III c/c §§2º e 5º; 
 Limitações temporais  vedam a reforma constitucional por um prazo determinado, com 
a justificativa de querer assegurar estabilidade às normas constitucionais, ex. 
Constituição Portuguesa; 
 Limitações materiais  matérias que não podem ser excluídas da Constituição (cláusulas 
pétreas, que não podem ser abolidas e nem restringidas, art. 60, §4º, CR/88). 
 
- O Poder Constituinte Decorrente é o poder dado a cada estado-membro de se organizar 
(através das Constituições estaduais), conforme as normas constitucionais originárias. 
 
 
CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE 
(Não iremos nos ater ao estudo do controle de constitucionalidade por não ser alvo de nosso 
programa de estudo, entretanto, faremos considerações quanto a noções básicas deste ponto, 
assim como foi feito em sala de aula. Para quem se interessar e quiser, será disponibilizado um 
material a parte referente ao controle de constitucionalidade, sendo completo e sistematizado). 
 
• O Princípio da Supremacia das normas constitucionais, em nosso ordenamento jurídico, 
requer que todas as situações jurídicas se conformem com os princípios e preceitos da CR/88. 
Para tanto, temos o chamado Controle de Constitucionalidade, que tem a função princípio de 
verificar essa adequação das normas infraconstitucionais com o conteúdo das normas 
constitucionais. 
 A nossa Constituição reconhece tanto a inconstitucionalidade por ação (que ocorre na 
produção de atos legislativos ou administrativos que contrariem normas ou princípios 
constitucionais, o que pode gerar a incompatibilidade vertical, a qual se resolve com a 
declaração de invalidade das normas de níveis hierarquicos menos elevados) e, ainda, que pode 
ser material ou formal. Quanto a inconstitucionalidade por omissão, que verifica-se nos 
casos em que não são praticados atos legislativos ou administrativos requeridos para tornar 
plenamente aplicáveis as normas constitucionais. 
• Não existe norma constitucional originária inconstitucional, é preciso fazer a harmonia das 
normas através da interpretação das normas constitucionais diante do caso concreto. 
• No nosso ordenamento temos, basicamente, dois tipos de controle de constitucionalidade, 
quais sejam: político e jurisdicional. O jurisdicional pode ser feito de forma difusa (via de exceção 
ou incidental, através da análise de um caso concreto, por qualquer órgão do Poder Judiciário) 
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ou concentrada (feito, em regra, pela Supremo Tribunal Federal, através de ações próprias – 
Ação Direta de Inconstitucionalidade - por ação ou por omissão - ou Ação Direta de 
Constitucionalidade; as quais possuem legitimados expressos no texto contitucional). 
 Os efeitos da declaração de inconstitucionalidade vão depender da ação utilizada para 
efetuar o controle (por exemplo, o controle difuso terá efeitos inter partes e ex tunc; o controle 
por ADI genérica terá efeitos erga omnes, vinculante; por ADI interventiva é erga omnes e 
determina o decreto de intervenção; por ADI por omissão é erga omnes e dá ciência ao poder ou 
órgão em débito; e por ADC é erga omnes e vinculante). 
 
ALTERAÇÃO DO TEXTO CONSTITUCIONAL 
 
- A Constituição pode ser alterada de acordo com as próprias regras nela contidas para o 
processo de sua alteração. 
 - De acordo com a Teoria da Constituição podemos falar em mutação constitucional e em 
reforma constitucional. A mutação constitucional se constitui de uma alteração não formal, ou 
seja, não há uma alteração do texto constitucional em si, mas da interpretação da norma 
constitucional, por exemplo: mudança de costumes, que podem interferir na estrutura orgânica 
do Estado. Já a reforma constitucional é a alteração formal do texto constitucional, ou seja, 
alteração do texto constitucional e engloba a emenda constitucional (mudança genérica do texto 
constitucional) e a revisão (alterações especiais, que exigem processos diversos do de emenda 
constitucional) da constituição. Atualmente em nosso cenário jurídico temos apenas a emenda à 
constituição. 
 - A emenda à constituição, de acordo com a CR/88, tem quorum especial de aprovação de 3/5, 
em cada casa do congresso nacional e deverá ser votada duas vezes em cada uma delas. Uma 
vez rejeitada, não pode ser alvo de votação na mesma sessão legislativa. 
- A Emenda Constitucional deve ser realizada através do poder constituinte derivado. No fundo, 
o agente é o poder constituinte originário, já que foi ele quem possibilitou essa alteração 
constitucional, mas delegou tal competência ao poder constituinte derivado. 
- A emenda constitucional é a forma encontrada para permitir a mudança da Constituição, 
adaptação da Constituição às novas necessidades, aos novos impulsos, às novas forças, sem 
que, para tanto, seja preciso recorrer à revolução; sem que seja preciso recorrer ao poder 
constituinte originário. 
 - Alcance das cláusulas pétreas: a vedação do §4º, do art. 60 da CR/88 atinge a pretensão de 
restringir ou abolir qualquer elemento conceitual da Federação, ou do voto direto, ou 
indiretamente restringir a liberdade religiosa ou de comunicação ou outro direito fundamental; 
portanto, a proposta de emenda não pode sequer tender à abolição de algum desses direitos. 
- A votação de emendas constitucionais não podem ocorrer em situações de estado de sítio, 
estado de defesa ou intervenção federal. 
 
 EFICÁCIA E APLICABILIDADE DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS 
 
As normas constitucionais podem ser classificadas de acordo com a ssua eficácia, ou seja, 
possibilidade de gerar efeitos e ser aplicada. Existem várias classificações neste sentido, criadas 
por doutrinadores diversos. Iremos adotar a classificação segundo José Afonso da Silva, por ser, 
em nosso entendimento, a mais coerente e, também, por ser a mais utilizada no cenário jurídico. 
De acordo com José Afonso da Silva, as normas constitucionais podem ser classificadas quanto 
a sua eficácia em: plena, contida e limitada. Segue as principais características de cada uma 
delas. 
 
• Plena  são as normas de aplicabilidade imediata, direta e integral. Não é preciso nenhuma 
legislação infraconstitucional para exercer o direito ou garantia nela inseridos; e, ainda, tal direito 
não pode ser restringido por legislação ordinária. Ex: art. 2º; art. 14, parágrafo 2 º; arts. 19 a 21; 
todos da CR/88. 
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• Contida  são as normas de aplicabilidade imediata, direta e restringível (limitação). 
Trazem um direito ou garantia que já é imediatamente aplicável, porém o legislador ordinário 
pode trazer algumas restrições. Ex: é livre a locomoção em tempos de paz e nos termos da lei 
(já pode se locomover livremente, porém a lei futuramente pode vir a restringir essa liberdade). 
Entretanto, a restrição nunca pode ser tão grave e tão dura a ponto de abolir o direito. Nem 
sempre a experessão “nos temos da lei” significa que a norma é de eficácia contida, para 
determinar isso é necessário verificar a aplicabilidade da norma (mediata ou imediata). Ex: art. 
5º, XIII, VII, VIII, XV, etc. 
• Limitada  são as normas que possuem aplicabilidade mediata e indireta, pois não 
conseguimos aplicar imediatamente a norma; é necessária uma legislação ordinária que viabilize 
a aplicação da norma constitucional. Dizer que a aplicabilidade é indireta traz dois princípios: 
princípio institutivo (a constituição cria um direito para que seja devidamente regulamentada); e 
princípio programático (a constituição traz os programas e direções que devem ser seguidos 
pelos poderes e pelos cidadãos dentro do Estado). Ex. art. 3º, CR/88 - a busca deve acontecer 
diariamente. Essas normas impõem obrigação de resultados e não de direitos; não geram um 
direito subjetivo ao indivíduo (ou seja, se não for cumprido, não tem como reclamar, até porque a 
norma traz um programa, que pode alcançar seu fim ou não); apesar disso tem eficiência e 
eficácia, portanto, deve-se buscar dar a norma a maior efetividade possível. Constituições que 
possuem normas programáticas são classificadas como dirigentes (CR/88), e seu oposto é a 
constituição garantia, a qual só dá a garantia e os direitos, mas não mostram o caminho para 
efetivá-los. 
 
 
 INTERPRETAÇÃO DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS 
 
- A norma jurídica não existe, senão interpretada. Interpretar um ato normativo nada mais é do 
que colocá-lo no tempo ou integrá-lo na realidade pública. A norma não é prévia, simples e 
acabada. Quanto mais pluralista uma sociedade, mais abertos são os critérios de interpretação. 
Ademais, os julgadores e intérpretes podem precisar de conhecimentos alheios aos seus 
conhecimentos técnicos (jurídicos) para interpretar uma norma, para tanto, no nosso 
ordenamento e cenário jurídico temos a possibilidade de convocação de audiências públicas (a 
primeira realizada pelo STF, desde a promulgação da Constituição foi em 2008, na ADI n. 3,105, 
que discutia a possibilidade de utilização das células tronco em embriões humanos). 
- Para interpretarmos uma norma constitucional utilizamos alguns princípios e critérios que 
servem par orientar a atividade de interpretação das normais constitucionais, são eles: 
 
• Princípio da Unidade – é preciso estudar as normas em unidade, pois o texto é um todo 
único sem contrariedades e, conseqüentemente, o controle de constitucionalidade é feito apenas 
sobre a legislação infraconstitucional ou emenda; não há, portanto, controle do texto original, e 
as aparentes antinomias devem ser afastadas (ressaltamos, as antinomias são apenas 
aparentes). Não há norma do texto original que possa ser inconstitucional. Deve ser feita uma 
harmonia, com máxima eficácia de cada um dos direitos. 
• Princípio do efeito integrador – interpretação da norma dentro da estrutura política 
favorecendo a integração política e social e o reforço das unidade política, dentro da unidade; 
muito próximo do Princípio da Unidade, busca a integralidade de uma norma com a outra, uma 
norma completa a outra. 
• Princípio da Máxima eficácia (eficiência/ efetividade) – a interpretação da norma 
constitucional deve sempre buscar a maior efetividade possível para as normas constitucionais, 
pois elas devem ter a mais ampla efetividade social. Nem todas as normas constitucionais têm 
eficácia plena, mas todas devem ser assim interpretadas, dentro das possibilidades de cada 
uma. Hoje este princípio é muito aplicado no âmbito dos direitos fundamentais. Ex. art. 5º, 
parágrafo 1º, CR/88 – toda norma que define garantia e direito fundamental tem aplicação 
imediata não significa que todas essas normas têm eficácia plena, mas sim que não importa 
qual seja o direito ou garantia fundamental, se buscará dar a ele a maior eficácia possível. Ex. 
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direito da greve de acordo com legislação é de eficácia limitada, mas pode ter efetividade direta 
(ainda que mínima), pois norma constitucional impede a existência de uma lei ordinária que diga 
ser vedada o direito de greve, sob pena de inconstitucionalidade. 
• Princípio da Justeza (conformidade funcional) – este princípio está vinculado a questão de 
distribuição de competência entre as unidades da federação e entre os poderes. Ex. cada poder 
deve trabalhar exercendo suas competências de acordo com o que a Constituição dispõe. O 
intérprete da constituição não pode chegar a uma conclusão que perturbe o esquema de 
organização do Estado estabelecido pelo texto constitucional. 
• Princípio da Harmonização (concordância prática) – este princípio será aplicado quando há 
conflito aparente entre as normas constitucionais. Juridicamente nenhuma norma constitucional 
é hierárquica a outra; o que se faz é a harmonização das normas, compondo os dois direitos, 
aplicando-se um em maior grau e outro em menor grau diante de cada caso concreto; não se 
exclui nem se suprime nenhum dos direitos. Os bens jurídicos constitucionalizados devem 
coexistir de maneira harmônica na hipótese de eventual conflito ou concorrência entre eles, 
buscando-se assim evitar o sacrifício de um princípio ou regra em relação ao outro. O 
fundamento da idéia de concordância decorre da inexistência de hierarquia entre princípios e 
normas constitucionais. 
• Princípio da Relatividade (convivência das liberdades públicas) – nossos direitos são 
relativos, e esta relatividade traz limites a cada um deles. A própria Constituição traz tais 
exceções. Ex. é garantida a liberdade de pensamento, mas é vedado o anonimato. Essas 
restrições existem inclusive quanto ao direito à vida, pois, por ex., excepcionalmente pode haver 
a pena de morte. 
• Princípio da força normativa - os aplicadores da Constituição devem dar máxima efetividade 
às normas constitucionais, pois suas normas possuem força normativa diante de todo o 
ordenamento jurídico. 
• Princípio da proporcionalidade – este princípio consubstancia a interpretação da norma 
baseada em uma pauta de natureza axiológica que emana diretamente da idéia de justiça, 
equidade, bom senso, prudência, moderação, justa medida, proibição de excessos, etc. Este 
princípio é extremamente importante nos casos de colisão entre valores constitucionalizados. 
 
 
ESTRUTURA DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA DE 1988 
 
A CR/88 possui a estrutura da seguinte maneira: Preâmbulo + texto constitucional (art. 1º ao 
250º)+ Ato de disposições constitucionais transitórias (ADCT- art. 1º ao 36). 
 
PREÂMBULO 
 
- Preâmbulo é uma apresentação de uma constituição; é a marca de um rompimento com a 
ordem constitucional anterior e a apresentação da nova, trazendo algumas idéias e valores 
contidos neste texto; é, portanto, elemento natural de constituições feitas em momentos de 
ruptura histórica ou de grande transformação político social. 
- Segue abaixo, in verbis, o preâmbulo de nossa atual Constituição: 
 
“Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembléia 
Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado 
a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a 
segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça 
como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem 
preconceitos,fundada na harmonia social e comprometida, na ordem 
interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, 
promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO 
DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL.” 
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DIREITO CONSTITUCIONAL – CFO2 
 
 
11 
 
 Qual a natureza jurídica do preâmbulo? Há três teorias para esta resposta, quais 
sejam: a) tese de irrelevância jurídica: o preâmbulo constitucional situa-se no domínio da 
política, sem relevância jurídica; b) tese da plena eficácia: o preâmbulo constitucional tem 
a mesma eficácia jurídica das normas constitucionais, sendo, porém, apresentado de 
forma não articulada; c) tese da relevância jurídica indireta: ponto intermediário entre as 
duas correntes anteriores, já que entende que muito embora o preâmbulo constitucional 
participe das “características jurídicas da Constituição”, não deve ser confundido com o 
texto articulado. 
 
- O STF, no julgamento da ADI n. 2.076, em 2003, já se manifestou no sentido da primeira teoria, 
de irrelevância jurídica do preâmbulo constitucional, mas apenas relevância política. O que não 
significa dizer que tudo que nele consta não será juridicamente aplicado, haja vista o texto 
constitucional trazer reescrito no seu corpo boa parte do texto do preâmbulo. 
 
 ADI n. 2076: A invocação da “proteção de Deus” deve obrigatoriamente estar presente 
nos textos constitucionais estaduais? O Brasil, desde a proclamação da República é um 
país laico, leigo e não confessional, ou seja, não deve haver qualquer relação entre 
Estado e Igreja, não havendo, portanto, qualquer religião oficial. Apesar disso, todas as 
nossas constituições até hoje foram editadas com a esta expressão (“sob a proteção de 
Deus) em seu preâmbulo. No mesmo sentido, as constituições estaduais também 
transcreveram tal expressão; com exceção da Constituição do Acre, motivo pelo qual a 
mesma foi questionada através de ADI, n. 2.076, oportunidade em que o STF se 
manifestou no sentido de não haver obrigatoriedade da invocação da proteção de Deus 
na constituição. 
 
- O preâmbulo, diante de tal posição adotada, também não tem força normativa, não cria direitos 
e obrigações e não tem força obrigatória, servindo apenas como norte interpretativo das normas 
constitucionais. 
 
 
ATO DE DISPOSIÇÕES CONSTITUCIONAIS TRANSITÓRIAS 
 
Como o próprio nome já diz, as disposições contidas neste texto são constitucionais, não 
havendo o que se discutir quanto à natureza jurídica dessas normas, que são constitucionais e, 
portanto, poderá trazer exceções às regras colocadas no corpo da Constituição. Não há, 
portanto, prevalência (hierarquia) das regras do corpo constitucional sobre as regras do ADCT, 
deve haver uma harmonização (interpretação) das regras, tendo em vista que a natureza de 
ambas é constitucional . 
 
TEXTO CONSTITUCIONAL 
 
O texto constitucional da Constituição da República de 1988 é composto por 250 artigos, dividido 
em 9 títulos, são eles: 1) Dos Princípios Fundamentais; 2) Dos direitos e Garantias 
Fundamentais; 3) Da organização do Estado; 4) Da Organização dos Poderes; 5) Defesa do 
Estado e das Instituições Democráticas; 6) Da tributação e do orçamento; 7) Da ordem 
econômica e financeira; 8) Da ordem social; 9) Das disposições gerais. 
 
A atual Constituição é considerada a CONSTITUIÇÃO CIDADÃ, pois teve ampla participação 
popular (ainda que indireta) na sua produção, bem como, porque se volta decididamente para a 
plena realização da cidadania. 
 
 
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12 
PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS 
 
 
A) Princípios Constitucionais 
 
- O que são os princípios constitucionais? Na Constituição, a palavra princípio vem com o 
sentido de “mandamento nuclear de um sistema”(Celso Antonio de Bandeira Mello); são 
ordenações que irradiam para todo o ordenamento, para todo o sistema de normas, os quais 
contêm valores e bens constitucionais. Podemos dizer que princípios são uma das espécies de 
normas, sendo a outra as regras (teoria de Hans Kelsen). 
- Os princípios constitucionais, de acordo com Gomes Canotilho, podem ser classificados em 
dois grupos, quais sejam: 
• Princípios Político- Constitucionais  são princípios que traduzem opções políticas 
fundamentais conformadoras da constituição. Ex: Art. 1º ao 4º CR/88, são os princípios 
fundamentais. 
• Princípios jurídicos- Constitucionais  são princípios constitucionais gerais, informadores da 
ordem jurídica nacional. Não raro decorrem dos princípios político- constitucionais, mas dão 
direcionamento direto ao ordenamento jurídico. Ex: Princípio da Legalidade, Princípio da 
Isonomia, Princípio da autonomia individual, Princípio da Proteção dos Trabalhadores, da 
proteção da família, do ensino e da cultura. 
 
B) Natureza 
 
Os princípios fundamentais são positivados e muito variados, o que torna difícil estabelecer uma 
natureza única a todos eles. Canotilho ensina que são os princípios que visam o direcionamento 
político e estrutural do Estado, enumerando suas principais opções político-constitucionais. 
Esses princípios traduzem um resumo de todas as demais normas constitucionais, que serão 
inspiradas em seus conteúdos. Trata-se dos princípios definidores da forma de Estado, da 
estrutura do Estado, do regime político, da forma de governo e da organização política em geral. 
 
C) Funções e relevância 
 
Função ordenadora  como já falamos, os princípios fundamentais têm a função de ordenar e 
de organizar o Estado; são diretrizes básicas a serem seguidas pelo governo, pelo povo e pelo 
ordenamento jurídico. Funcionam, também, como regra geral de interpretação das normas 
constitucionais, para dar coerência geral ao sistema. Em razão desta função, a CR/88 é também 
conhecida como uma constituição dirigente, uma vez que desde a criação da lei até a sua 
aplicação e integração, devemos observar os conteúdo dos princípios fundamentais. 
 
Função hermenêutica  os princípios fundamentais permitem aos magistrados, na função de 
interpretação da norma no caso concreto, extraírem a essência de uma determinada disposição 
constitucional, servindo ainda de limite preventivo contra a arbitrariedade. 
 
Função Integrativa  os princípios fundamentais preenchem as lacunas deixadas pelas 
normas constitucionais, tendo em vista a textura aberta das constituições contemporâneas. 
Função limitativa  os princípios fundamentais atuam no sentido de impedir a produção de 
normas inconstitucionais, limitando o conteúdo das normas infraconstitucionais e das emendas 
constitucionais. 
 
D) Princípios fundamentais em espécie 
 
- CR/88, art. 1º, in verbis: 
 
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13 
“Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união 
indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, 
constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como 
fundamentos: 
I - a soberania; 
II - a cidadania; 
III - a dignidade da pessoa humana; 
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; 
V - o pluralismo político. 
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por 
meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta 
Constituição.” 
 
- REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL  Na história, primeiramente o país teve o nome de 
Monte Pascoal, Terra de Santa Cruz e, por fim, Brasil (terra do pau cor de brasa). O nome do 
país não necessariamente precisa coincidir com o nome do Estado, por isso nosso país tem o 
nome de Brasil e nosso Estado tem o nome de República Federativa do Brasil. O nome de nosso 
Estado contém o nome de nosso país, a forma de governo e a forma de Estado. A forma de 
Estado é o modo de exercício de poder político  a federação é caracterizada pela união de 
coletividadespúblicas dotadas de autonomia político-constitucional, autonomia federativa. 
 O cerne do conceito de federação está na configuração de dois tipos de entidades: a 
União e os Estados-membros. O nosso modelo de federação, entretanto, tem também as 
figuras dos territórios, do Distrito Federal e dos Municípios. Os territórios não são entes 
federativos. 
 A União é a reunião de todas as partes componentes do estado federado, constituindo-se 
pessoa jurídica de direito público interno e é dotado de autonomia. Os estados membros 
também são dotados de autonomia e também são pessoas jurídicas de direito público 
interno. 
 ATENÇÃO: o Estado Federado, ou seja, a República Federativa do Brasil é quem é 
dotado de soberania (poder supremo consistente na capacidade de autodeterminação). 
Os estados-membros e a União são titulares apenas da autonomia, compreendida como 
governo próprio dentro do círculo de competências tratadas na Constituição. O Estado 
Federativo é quem é competente para figurar em relações internacionais, ou seja, para 
relações internacionais é um Estado único, entretanto, internamente tem seu poder 
dividido dando autonomia aos seus componentes. 
 A autonomia federativa (expressa no art. 18 da CR/88) assenta-se em dois preceitos, 
quais sejam: órgãos próprios e posse de competências exclusivas (repartição de 
competências). As competências de cada ente estão nos arts. 21 e seguintes da CR/88, 
sendo que os estados-membros possuem o que chamamos de competência residual 
(tudo o que não for de competência da União ou dos Municípios é o que será de 
competência dos estados-membros). 
 Nas relações internacionais o Estado é sempre considerado uma unidade; ou seja, os 
Estados nas relações internacionais são sempre considerados como únicos, porém, 
constituídos de entes internos dotados de autonomia. 
 Portanto, uma federação possui um poder central e soberano e diversos poderes internos 
que possuem autonomia (oriunda de concessão do poder soberano). Ex. no Brasil a 
soberania pertence à República Federativa do Brasil e ela concede este poder à união, 
aos estados membros, DF e municípios. Lembrando-se que a soberania é una e 
indivisível. Atenção: art. 18 CR/88, a União é autônoma, não soberana; não se 
confundem, pois, a União (que é umas das várias entidades da federação) com a 
República Federativa do Brasil (que é a junção de todas as entidades da nossa 
federação). 
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14 
 União indissolúvel de estados, DF e municípios Princípio da Indissociabilidade: nenhum 
dos três entes podem se separar do Estado, devido ao pacto federativo e por não existir 
o direito de secessão (não significa que não existe a possibilidade de criação, divisão e 
fusão de estados e municípios). O espaço geográfico da União é o mesmo da República 
Federativa do Brasil, portanto, ainda que não esteja expresso, ela é indissolúvel, mas não 
precisa ser expresso por ter seu território confundido com o do próprio Estado. 
 TERRITÓRIOS FEDERAIS - atualmente não temos nenhum território; eles são 
autarquias da União (descentralização administrativa da União); não são entes 
administrativos da federação e não têm autonomia, mas fazem parte da administração 
pública indireta da União. 
 
REPÚBLICA  res publica: coisa do povo e para o povo, se opõe a toda forma de tirania. Se 
refere à maneira como se dá a instituição do poder na sociedade e como se dá a relação entre 
governantes e governados. O conceito de república surgiu na antiguidade e foi reforçado por 
Maquiavel, que entendia qual vocábulo como o principal contraponto à monarquia. 
 A CR/88 ao instituir nosso Estado como uma República quis aproximar a figura da 
democracia, como governo limitado e responsável, principalmente pela temporariedade 
dos mandatos (nos moldes dos arts. 28, 29, I e II, e 77, todos da CR/88). 
 O princípio republicano não é uma novidade da atual Constituiçao, já que vinha 
consagrado nas constituições desde 1889. Entretanto, hoje o Princípio da República não 
é considerado cláusula pétrea, como em constituições anteriores, podendo, portanto, vir 
a ser abolido; sendo apenas prevista a possibilidade da intervenção federal no estado 
que desrespeitar este princípio. 
 A República pressupõe a legitimidade popular para o exercício do Poder Legislativo e 
Executivo (a qual será exercida através de eleições periódicas). 
 
 
 
SOBERANIA  a soberania é fundamento do próprio conceito de Estado, sequer precisaria ser 
mencionada no texto Constituição. Significa poder político supremo (não está limitado a nenhum 
outro na ordem interna) e independente (na ordem internacional não tem que acatar regras que 
não sejam voluntariamente aceitas e está em pé de igualdade com os poderes supremos de 
outros povos). 
 
CIDADANIA  a cidadania como fundamento de nosso Estado significa bem mais que um 
indivíduo ser titular de direitos políticos; significa que a Constituição reconhece o indivíduo como 
integrante da sociedade estatal; o funcionamento do Estado é submetido à vontade popular. 
Neste sentido, a CR/88 redimensionou o significado de cidadania, ampliando os mecanismos de 
participação popular no processo político. Ex. Habeas Corpus e Habeas Data são ação 
constitucionais para defesa de direitos fundamentais e são gratuitas; sufrágio universal e igual 
valor de voto (art. 14, CR/88); a previsão da ação popular, que possibilita a defesa do Estado por 
seus próprios cidadãos. 
 
DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA  a dignidade da pessoa é um valor supremo, que atrai o 
conteúdo de todos os direitos fundamentais. Este princípio não se relaciona apenas com direitos 
individuais, mas também com sociais, coletivos e políticos. A dignidade humana é uma qualidade 
inerente à pessoa humana, que foi positivada no ordenamento jurídico. A ministra Carmem Lúcia 
Antunes Rocha entende que este é um super princípio, hierarquicamente superior aos demais, 
que é o guia de todas as normas constitucionais e que está acima de todas elas. 
 
PLURALISMO POLÍTICO  este princípio não diz respeito apenas ao pluripartidarismo; 
significa que somos uma sociedade leiga, laica, onde cada um pode ter suas crenças e opiniões, 
sem que isso seja censurado ou penalizado. O Estado contemporâneo é essencialmente 
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pluralista (no Estado atual inclusive temos a necessidade de defesa dos direitos metaindividuais 
– sejam eles difusos, coletivos ou individuais homogêneos). 
 
LIVRE INICIATIVA E VALORES SOCIAIS DO TRABALHO  o trabalho é a forma como o 
homem pode se inserir na sociedade, pode efetivar sua dignidade. A necessidade da livre 
iniciativa é no sentido de não intervenção direta estatal nas atividades privadas, tendo o Estado 
papel meramente regulador do mercado, sem contudo tomar a frente do mesmo. 
 
PRINCÍPIO DA SEPARAÇÃO DOS PODERES  Tripartição do poder em: Poder Legislativo, 
Poder Executivo e Poder Judiciário. 
 
- CR/88, art. 2º, transcrito: 
 
“Art. 2º São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o 
Legislativo, o Executivo e o Judiciário.” 
 
 Esta nomenclatura é considerada pela doutrina inapropriada, já que a palavra “poder” 
tem duplo sentido, podendo se referir às funções de cada órgão, como também indicar os 
respectivos órgãos, bem como, o poder em si é uno, indivisível e indelegável. 
 A separação dos poderes consiste em confiar cada uma das funções governamentais a 
órgãos diferentes, os quais tomam os nomes das respectivas funções. A separação de 
poderes pressupõe que cada poder seja especializado em sua função, bem como, que 
cada poder seja independente, ou seja, não haja subordinação entre eles. 
 Na verdade não são poderes, repetimos, o poder é único e indivisível e como uno e 
soberano pertence à República Federativa doBrasil (já que a União é dotada de 
autonomia). São funções (função executiva, legislativa e jurisdicional). Para exercer tais 
funções o poder soberano cria órgãos, que são chamamos de Poder Executivo, Poder 
Legislativo e Poder Judiciário. 
 Hoje não temos mais a rigidez como outrora (como quando idealizada a separação dos 
poderes por Montesquieu) no exercício funcional de cada um dos poderes. Hoje cada 
poder exerce uma função, compatível com sua finalidade, com preponderância (função 
típica) e, ainda, exercerá excepcionalmente as demais funções (funções atípicas). O 
exercício das funções estatais não é feito com exclusividade, mas sim com 
preponderância. Isto é o chamado sistema de freios e contrapesos. 
 A Constituição é quem determina as funções típicas e atípicas de cada Poder e estas não 
podem ser delegadas de um poder ao outro, salvo se houver regra constitucional neste 
sentido, oriundo do poder constituinte originário. Este é Princípio da Indelegabilidade. 
 Poder Executivo – função típica: administrativa; funções atípicas: legislar(ex. medidas 
provisórias) e julgar (ex. processos administrativos); 
 Poder Judiciário – função típica: jurisdicional; funções atípicas: legislar (ex. regimentos 
internos) e administrar (ex. gerir seu próprio orçamento); 
 Poder Legislativo – funções típicas: legislar, fiscalizar (através do auxílio dos tribunais 
de contas) e investigar (ex. CPI’s – apenas investiga, não julga nem condena; 
investiga e encaminha para o MP); funções atípicas: administrar (ex. gerir licitações) e 
julgar (ex. senado julga presidente da república por crime de responsabilidade). 
 
 Tribunal de Contas: não está subordinado ao Poder Legislativo e nem é um órgão interno de tal 
Poder – não tem competência jurisdicional e não é órgão do Poder Judiciário; é independente, 
com orçamento e quadro próprio de pessoal e que passa por controle externo – contábil, 
orçamentário, fiscal. Está enquadrado ao lado do Legislativo, mas não é um quarto poder (como 
o MP e Defensoria estão para o Executivo). Não exerce a fiscalização, ele auxilia o Poder 
Legislativo nesta função. 
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 Os poderes são INDEPENDENTES e harmônicos entre si (cada poder atua dentro da sua 
parcela de competência constitucional). Atenção à expressão “poderes interdependentes”, os 
quais estão presentes apenas no parlamentarismo. No nosso caso não há subordinação, não há 
hierarquia e nem dependência recíproca, mas os três poderes devem exercer as funções de 
forma harmônica, de acordo com o “sistema de freios e contrapesos”, que leva a uma atuação 
conjunta e harmônica, percebida em vários momentos; a harmonia significa consciente 
colaboração e a um controle recíproco. Ex. função legislativa é típica do Poder Legislativo, mas 
depois da aprovação legislativa é necessária a sanção do Poder Executivo, para somente após 
termos uma lei constitucional, que ainda assim pode ter sua constitucionalidade questionada no 
Poder Judiciário, isso tudo para garantir o equilíbrio da atuação dos poderes. Ex. número 2: os 
ministros do STF são escolhidos pelo Presidente da República e esta escolha ainda depende da 
aprovação do Senado. 
 União  Executivo: Presidente com auxílio dos ministros de Estados; Legislativo: senado 
e câmara; Judiciário: tribunais superiores 
 Estado  Executivo: governador e secretários; Legislativo: assembléia legislativa; 
Judiciário: tribunais e juizes de direito 
 Município  Executivo: prefeitos e secretários; Legislativo: câmara de vereadores; e não 
tem judiciário 
 DF  Executivo: governador (não há prefeitos nem vereadores) com auxilio dos 
secretários; Legislativo: câmara legislativa do DF (composta pelos deputados distritais, 
eleitos na época de deputados estaduais); Judiciário: tribunal e juizes (organizado, 
mantido e legislado pela União, assim como MP e a Defensoria do DF). Exemplo da 
Portaria 88 do CNJ. 
 
OBJETIVOS FUNDAMENTAIS 
 
- CR/88, arts. 3º e 4º, in verbis: 
 
“Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do 
Brasil: 
I - construir uma sociedade livre, justa e solidária; 
II - garantir o desenvolvimento nacional; 
 III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as 
desigualdades sociais e regionais; 
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, 
sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. 
 
Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações 
internacionais pelos seguintes princípios: 
I - independência nacional; 
II - prevalência dos direitos humanos; 
III - autodeterminação dos povos; 
IV - não-intervenção; 
V - igualdade entre os Estados; 
VI - defesa da paz; 
VII - solução pacífica dos conflitos; 
VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo; 
IX - cooperação entre os povos para o progresso da humanidade; 
X - concessão de asilo político. 
Parágrafo único. A República Federativa do Brasil buscará a 
integração econômica, política, social e cultural dos povos da América 
Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana de 
nações.” 
 
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- É a primeira vez que a Constituição assinala especificadamente objetivos do Estado. A 
efetividade deles visam a garantida da dignidade da pessoa humana. São regras programáticas 
(ou seja, não criam um direito em si, mas sim programas, direcionamentos à ação do Estado). O 
art. 3º traz ações políticas a serem desenvolvidas pela República Federativa do Brasil, são 
objetivos fundamentais internos. O art. 4º traz valores e princípios que o Brasil depende 
internacionalmente, toma como base a relação com outros Estados soberanos. 
 
 
TEORIA DOS DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS 
 
- Os direitos fundamentais têm como base para seu surgimento o cristianismo primitivo, o qual 
continha uma mensagem de libertação do homem, com a afirmação da dignidade eminente da 
pessoa humana, tendo em vista que o homem é uma criatura criada à imagem e semelhança de 
Deus. 
- Além do cristianismo, os direitos fundamentais se baseiam nos reconhecidos direitos naturais 
do séc. XVII e XVIII. 
- E, por fim, os direitos fundamentais têm, também, embasamento no movimento iluminista, com 
suas idéias sobre a ordem natural, liberdade e individualismo. 
 
 
 
 
 
FORMAÇÃO HISTÓRICA DAS DECLARAÇÕES DE DIREITO 
 
- O estudo da formação histórica das declarações de direitos se faz importante para a 
compreensão do conteúdo da Teoria dos Direitos Fundamentais e do conteúdo de nosso direito 
positivo. 
- O reconhecimento de direitos fundamentais do homem através de declarações é 
acontecimento recente e está longe de se esgotar, uma vez que com o passar do tempo, a 
tendência atual é a conquista de novos direitos de acordo com a evolução da humanidade e 
suas respectivas necessidades. Na verdade trata-se de uma reconquista, como uma retomada 
do que ficou perdido a partir do momento que tivemos a civilização dividida entre proprietários e 
não proprietários. 
- A partir do momento que temos a apropriação dos bens, com o surgimento da propriedade em 
meio a uma sociedade que até então se pautava em critérios de não subordinação e opressão, 
temos a construção de um Estado para legitimar esse critério de dominação. Surge com isso a 
escravidão, que nada mais é do que o retrato da opressão política e social, da qual, desde então 
o homem busca libertar-se. A busca incessante por conquista de direitos tem como objetivo, 
então, a retomada do modo social primitivo, sem divisões de proprietários e não proprietários, 
onde se faça prevalecer a solidariedade, a fraternidade e a igualdade. 
- Os primeiros antecedentes às declarações são ainda da Idade Média. São eles: o veto da 
plebe contra ações injustas dos patrícios em Roma; a Lei Valério Publícola (que proibia penas 
corporaiscontra cidadãos) e o Interdicto de Homine Libero Exhibendo (que tinha como finalidade 
a proteção jurídica da liberdade). Entretanto, a princípio, essas ações tinham alcance apenas às 
classes dominantes. 
- Ainda na Idade Média tivemos o surgimento das Leis Fundamentais do Reino, que trouxeram 
limites ao poder do monarca, na tentativa de impedir a tirania dos reis. Dessa idéia, advinda do 
Direito Natural, tivemos o surgimento dos forais, pactos e cartas de franquias, dos quais 
destacamos a Magna Carta (1215) do séc XIII, e outros tantos documentos do séc XVII nos 
mais diversos países. 
- A Inglaterra foi um dos países pioneiros nas declarações de direitos. Entretanto, é preciso 
destacar que essas primeiras declarações não tinham o mesmo sentido do atual, haja vista que 
seus textos eram limitados e muitas vezes estamentais (o conteúdo atual das declarações 
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passou a ser utilizado depois da revolução americana e francesa). Os documentos ingleses mais 
importantes neste sentido foram: 
• Magna Carta  assinada em 1215, mas definitiva apenas em 1225; apesar de 
significar uma grande passo e um avanço na defesa dos direitos fundamentais, 
principalmente por ter sido utilizada como fundamentação para instituição de uma ordem 
jurídica democrática no país, se caracteriza pela proteção de privilégios de barões e homens 
livres apenas (os quais as época poderiam ser contados) e nada se fazia aos homens não 
livres. 
• Petição de Direitos (Petition of Rights)  de 1628, foi um documento dirigido ao 
monarca em que os membros do parlamento pediram o reconhecimento de diversos direitos 
e liberdades para os súditos de sua majestade. Na verdade, essa petição pedia o 
reconhecimento expresso pelo monárquica de vários direitos já elencados na Magna Carta, 
os quais, entretanto, não eram observados pelo rei, como por exemplo direito de liberdade 
ou direito a um julgamento legal de seus pares e leis do país. Também não era um 
documento universal. 
• Habeas Corpus Act  reforçou reivindicações de liberdade, suprimindo aos déspotas 
a possibilidade de prisões arbitrárias. 
• Declaração de Direitos (Bill of Rights)  decorrente da revolução de 1688, que 
reconheceu o Parlamento como poder superior do monarca, destitui o Rei Jaime II, e institui 
no poder o Rei Guilherme, que teve seu poder limitado, momento em que surgiu na 
Inglaterra a monarquia constitucional, subordinada à soberania popular 
 
 
- Além de tais documentos, teve também importância como precedente das atuais declarações, 
na devida ordem cronológica, a Declaração da Virgínia, de 1776. Nesta declaração tínhamos a 
base dos direitos do homem, como o direito de igualdade do homens, de liberdade, de soberania 
popular, direito de defesa, liberdade de imprensa, entre outros. Essa declaração se preocupava 
com a estrutura de um governo democrático e com um sistema de limitação do poder. 
Podemos notar que os documentos ingleses tinham por finalidade a limitação do poder do 
monarca, enquanto essa declaração previa a limitação do poder estatal como tal, baseado na 
crença de direitos naturais e imprescritíveis. Um trecho de destaque da declaração é: “(...) que 
todos os homens foram criados iguais, foram dotados pelo Criador de certos direitos 
inalienáveis; que, entre estes, estão a vida, a liberdade e a busca de felicidade (...)” 
- Ainda nos EUA, tivemos a Declaração Norte Americana, em 1787, que a princípio não 
continha direitos fundamentais do homem, os quais foram exigidos a inclusão por parte das 
antigas colônias, a partir de então, estados-membros. Assim, foram feitas as 10 primeiras 
emendas à Constituição da Filadélfia, para introduzir direitos fundamentais do homem ao texto 
constitucional e que formam o Bill of Rights do povo americano. Dentre tais direitos podemos 
citar direito a liberdade de culto, de imprensa, de reunião, direito de defesa, direito de 
inviolabilidade da casa, sufrágio universal, entre muitos outros. 
- Seguindo a ordem cronológica, outro documento de grande importância na história do 
reconhecimento dos direitos fundamentais foi a Declaração dos Direitos do Homem e do 
Cidadão, na França em 1789. Essa declaração utilizou da técnica da Declaração Norte 
Americana para se aperfeiçoar, mas não podemos dizer que é derivada ou influenciada 
basicamente por esta, tendo em vista que se baseia no pensamento europeu daquele momento, 
qual seja, a liberação do homem do regime absolutista e feudal. Distingue-se das demais 
declarações até então por possuir um caráter universalizante (ao mesmo tempo que é 
mundialista, ou seja, quer que os direitos atinjam a todas as pessoas, é individualista, porque 
defende apenas direitos individuais, se preocupa na defesa do indivíduo contra o Estado). 
Proclama a liberdade, igualdade, propriedade e legalidade. 
 
- Até aqui tivemos a defesa em tais documentos de direitos individuais. Ocorre que mesmo com 
a Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão, a qual continha um caráter universal, os 
direitos só podiam ser exercidos por capitalistas, deixando à margem da sociedade a recém 
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surgida classe dos operários. Assim, surge uma nova perspectiva dos direitos fundamentais, 
com necessidade de reconhecimento, que são os direitos sociais. Neste sentido, tem 
importante papel o Manifesto Comunista, a Revolução de 1948, e a Constituição Mexicana de 
1917 e a Constituição de Weimar (Alemanha), precursores desta idéia. 
 
- Esse caráter universalizante da declaração francesa e a necessidade de inserção dos direitos 
sociais influenciou todas as demais declarações de direitos fundamentais, mormente a criação 
de um carta universal, reconhecendo os direitos fundamentais mundialmente. Daí a instituição 
como primeiro grande objetivo da Organização das Nações Unidade a criação de uma 
Declaração Universal de Direitos Humanos, a qual se concretizou em 1948. A declaração 
universal da ONU possui 30 artigos, os quais consagram o Princípio da Dignidade da Pessoa 
Humana como base da liberdade, justiça e paz; consagra também o ideal democrático e a 
resistência à opressão. Os artigos 1 ao 21 consagram direitos fundamentais individuais; os 
artigos 22 ao 28 consagram direitos sociais; o artigo 29 consagra deveres da pessoa com a 
comunidade; e, por fim, o artigo 30 consagra o Princípio de Interpretação da Declaração, o qual 
prevê que sempre deve acontecer de maneira a preservar dos direitos e liberdades nela 
proclamados. Na América ainda temos documento internacional de grande importância no 
tocante a direitos fundamentais que é o Pacto de San José da Costa Rica (Convenção 
Americana de Direitos Humanos), de 1969, do qual o Brasil se tornou signatário em 1992. 
 
- O grande entrave que ainda vivemos, diante de avanços consideráveis do reconhecimento dos 
direitos fundamentais é que tais declarações, por terem caráter universal, são de difícil 
instrumentalização da obrigatoriedade do cumprimento, o qual dependerá de cada país e seu 
respectivo governo. Portanto, não há instrumentos internacionais para garantir os direitos nelas 
previstos, mormente pela necessidade de respeito à soberania dos Estados. 
- Diante deste entrave de eficácia das previsões dos direitos fundamentais em declarações, fez-
se necessária a inserção destes direitos nas constituições, para dotá-los de eficácia 
constitucional. Portanto, as constituições democráticas passaram a trazer um capítulo em que 
são subjetivados e positivados os direitos fundamentais. 
 
DECLARAÇAO DE DIREITOS FUNDAMENTAIS NAS CONSTITUIÇÕES 
BRASILEIRAS 
 
- A Constituição do Império, de 1824, já trazia regras de direitos fundamentais em seu texto, 
porém sem a denominação de Declaração de Direitos. 
- A Constituição de 1891 trazia a defesa dos direitosindividuais fundamentais, já coma devida 
denominação, mormente no tocante à liberdade, segurança e propriedade. 
- A partir da Constituição de 1934 tivemos a inserção no título de direitos fundamentais dos 
direitos à nacionalidade e políticos. 
As constituições de 1946 e 1967 trazem também como direitos fundamentais os direitos 
econômicos e os sociais (estes últimos estruturados de maneira melhor em comparação às 
demais constituições anteriores). 
- Por fim, a Constituição de 1988 traz uma redação mais moderna, trazendo um título com os 
princípios fundamentais e logo em seguida outro com direitos e garantias fundamentais, o qual 
engloba direitos individuais, sociais, políticos, nacionalidade e econômicos (os quais também 
serão encontrados esparsos no restante do texto constitucional). 
 
LOCALIZAÇÃO DOS DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS NA CR/88 
 
- Os direitos e garantias fundamentais são os direitos e deveres individuais e coletivos, direitos 
sociais, direito de nacionalidade, direitos políticos e partidos políticos. Portanto, conforme 
manifestação do STF em diversos julgados, não se restringem aos direitos e garantias 
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elencados no art. 5º da CR-88, podendo ser encontrados ao longo do texto constitucional ou 
mesmo em tratados internacionais dos quais o Brasil seja signatário. 
 
NOMENCALTURA 
 
Apesar de termos na doutrina diversos nomes para o que essencialmente se refere aos direitos 
fundamentais do homem, mais correta é a utilização tão somente de tal expressão, haja vista, 
“fundamentais” ser referente a situações jurídicas sem as quais a pessoa humana não se realiza, 
e às vezes nem ao menos sobrevive. “Do homem” está no sentido do alcance de todos, da raça 
humana. 
 
EVOLUÇÃO DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS 
 
- Dentre vários outros critérios, que a doutrina adota para classificação dos direitos 
fundamentais, iremos no ater ao mais estudado que é o que costuma classificar os direitos 
fundamentais em gerações de direitos (ou dimensões), quais sejam: 
 
• Primeira geração  esses direitos dizem respeito às liberdades públicas e aos direitos 
políticos; direitos que traduzam o valor da liberdade. Marcada pelo texto da Magna Carta de 
1215 (Inglaterra), Bill of rights (1688) declarações Americana e Francesa (1776 e 1789). 
• Segunda geração  o que impulsiona e inspira essa geração de direitos é a revolução 
industrial européia. Em decorrência das péssimas condições de trabalho e de sobrevivência, 
de vida, eclodiram movimentos sociais, como os cartistas, em busca de reivindicações 
trabalhistas e normas de assistência social. Neste sentido, buscou-se a fixação de direitos 
sociais, que garantissem a saúde e a dignidade do trabalhador. É nesse período também 
que temos uma intensa formação do Direito do Trabalho. 
• Terceira geração  surgem os chamados direitos de solidariedade, tendo em vista a 
mudança da sociedade devido aprofundas mudanças na comunidade internacional 
(sociedade de massa, crescente desenvolvimento técnológico e científico). Mudam-se as 
preocupações, como por exemplo, cresce a atenção no tocante à preservação ambiental e 
necessária proteção dos consumidores. São dos direitos metaindividuais (difusos, coletivos 
e individuais homogêneos). 
• Quarta geração  esses direitos decorrem dos avanços no campo da pesquisa 
genética que, segundo Bobbio, pode colocar em risco a própria existência humana, através 
da manipulação do material genético. O jurista entende que este tipo de pesquisa pode 
trazer efeitos cada vez mais traumáticos, que permitirá manipulações do patrimônio genético 
de cada indivíduo. 
 
 
DIREITO FUNDAMENTAIS X GARANTIAS FUNDAMENTAIS 
 
- Como diferenciarmos os direitos da garantias fundamentais? São sinônimos? 
- Um dos primeiros estudiosos juristas a enfrentar essa questão foi Rui Barbosa que definiu os 
direitos como as disposições meramente declaratórias e as garantias como as disposições 
assecuratórias. Uma mesma disposição poderia conter tanto a parte declaratória como, 
conseguinte, a parte assecuratória. 
- Na mesma linha de Rui Barbosa, podemos estabelecer que os direitos são bens e vantagens 
prescritos na norma constitucional, enquanto que as garantias são os instrumentos através dos 
quais se assegura o exercício de tais direitos (ainda que previstas na forma de direito; por 
exemplo, a inviolabilidade é um direito, mas antes disso é uma garantia ao direito de 
privacidade). As garantias não se restringem aos chamados remédios constitucionais. Como 
veremos, eles são sim algumas das espécies do gênero garantia, mas temos outras garantias 
fundamentais no texto constitucional. Ex: é inviolável a liberdade de consciência e de crença, 
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sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos (direito), garantindo-se na forma da lei a 
proteção aos locais de culto e suas garantias (garantia); direito ao juízo natural (direito), vedação 
a instituição de juízo ou tribunal de exceção (garantia). 
 
 
CARACTERÍSTICAS DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS 
 
• UNIVERSALIDADE  os direitos fundamentais destinam-se, indiscriminadamente, a todos 
os seres humanos. Nas primeiras cartas e forais, esses direitos vinham como vantagens de 
classes superiores, mantidas nas chamadas sociedades estatizadas, mormente na Idade Média. 
Atualmente não podemos admitir a discriminação de direitos fundamentais para determinadas 
classes diante do cenário jurídico e social atual. 
• LIMITABILIDADE  os direitos fundamentais não são absolutos (relatividade), podendo 
existir muitas vezes, no caso concreto, conflito de interesses. A solução pode vir discriminada na 
própria Constituição ou caberá ao intérprete do caso concreto decidir qual interesse deverá 
preponderar, considerando a regra a máxima observância dos direitos fundamentais envolvidos 
e sua mínima restrição,bem como os demais princípios para a interpretação das normas 
constitucionais. 
• CONCORRÊNCIA os direitos fundamentais podem ser exercidos cumulativamente, ou 
seja, mais de um ao mesmo tempo e, para isso, precisam ser compatíveis. Ex: jornalista que 
transmite notícias (direito de informação) e, juntamente, emite uma opinião (direito de opinião). 
• IRRENUNCIABILIDADE  pode até acontecer da pessoa não exercer um direito 
fundamental, mas jamais poderá renunciá-lo, ou seja, manifestar sua opinião pela perda daquele 
direito. (Ex: a atuação do Ministério Público no caso dos anões lançados pelo “canhão humano”). 
• INALIENABILIDADE  se não podemos renunciá-los, com muito mais razão, os direitos 
fundamentais não são alienáveis, não podem ser vendidos por não possuírem conteúdo 
econômico; serão, portanto, indisponíveis (irrenunciáveis e inalienáveis). 
• IMPRESCRITIBILIDADE  tais direitos não sofrem prescrição (ou seja, podem ser 
reclamados a qualquer tempo), que só atingirá direitos de caráter patrimonial. 
 
 
ABRANGÊNCIA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS (destinatários dos direitos 
fundamentais) 
 
- Apesar da Constituição trazer no caput do art. 5º que os direitos e garantias fundamentais são 
garantidos apenas aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no país, o entendimento atual, 
através de uma leitura interpretativa teleológica da Constituição é que esses direitos e garantias 
são também garantidos aos estrangeiros não residentes no país, aos apátridas e às pessoas 
jurídicas. Aliás, não apenas os direitos fundamentais, mas quaisquer disposições constitucionais. 
- É claro que devemos observar se o direito a ser exercido por essas pessoas não possui 
alguma particularidade, como por ex. a ação popular que só pode ser ajuizada pelo cidadão 
(portanto, nenhuma pessoa jurídica, nenhum estrangeiro e nenhum apátrida poderá exercer tal 
direito). E isso serve para qualquer direito constitucional. Portanto,a regra é que qualquer 
pessoa em território brasileiro seja titular dos direitos fundamentais; entretanto, nem todos os 
direitos constitucionais de brasileiros natos, sejam eles direitos fundamentais ou não, são 
assegurados aos estrangeiros, apátridas ou mesmo às pessoas jurídicas (aqueles que a 
Constituição prevê uma condição especial para sua titularidade não poderão ser exercidos por 
estas pessoas). 
- Entretanto, nada impede que, por ex., que um turista americano impetre um mandado de 
segurança ou um habeas corpus aqui no Brasil. 
- Segue uma análise específica de cada um desses destinatários dos direitos fundamentais não 
expressos no texto constitucional: Pessoa jurídica  a pesquisa no texto constitucional mostra 
que vários dos direitos arrolados no art. 5º se estendem às pessoas jurídicas, tais como princípio 
da isonomia, da legalidade, direito de resposta, direito de propriedade, etc. Estrangeiro residente 
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 não tem titularidade apenas dos direitos arrolados no art. 5º, apesar de só ali ser mencionado 
expressamente. Estrangeiro não residente e apátridas  não está no caput do art. 5 º, mas, 
como acima descrito, uma interpretação teleológica, temos que o art. 1º impõe a dignidade da 
pessoa humana como um dos fundamentos do Estado Democrático de Direito, o que a faz com 
proclamação universal, ou seja, abrangente de qualquer ser humano e os direitos fundamentais 
nada mais são do que diversos desdobramentos deste princípio, motivo pelo qual, devem ser 
aplicados a todos no nosso território. 
 
APLICABILIDADE DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS  de acordo com o §1º do art. 5º da 
nossa Constituição as normas de direitos e garantias fundamentais possuem aplicabilidade 
imediata. É claro que dentro dessa aplicabilidade imediata devemos respeitar a natureza da 
norma quanto a sua eficácia (plena, contida ou limitada), e efetivá-la (aplicá-la) dentro das 
possibilidades fáticas (princípio da máxima eficácia das normas constitucionais, métodos de 
interpretação). 
 
EFICÁCIA HORIZONTAL DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS 
 
- A aplicação dos direitos fundamentais nas relações entre o particular e o Poder Público, ou 
seja, a eficácia vertical desses direitos, não se discute, visto que o Direito Constitucional é um 
ramo do direito público. Por exemplo, com certeza, em um concurso público deve ser observado 
o Princípio da Isonomia entre os candidatos. Mas e uma empresa privada, deve respeitar o 
Princípio da Isonomia quando for contratar empregados? Ou seja, os direitos fundamentais 
devem ser (obrigatoriamente) respeitados nas relações entre particulares? Eles possuem, 
portanto, eficácia horizontal (entre iguais)? 
- Algumas situações são de mais fácil resolução por não envolver apenas um direito 
fundamental, mas, por exemplo, um fundamento de nosso Estado, ex. o caso em que se fere a 
dignidade da pessoa humana pela prática de racismo (até porque o racismo é crime), quanto a 
este fundamento do nosso Estado não há dúvidas de que há o dever de observância do direito 
fundamental entre os particulares. 
- Visando explicar a aplicabilidade da eficácia horizontal dos direitos fundamentais surgem duas 
teorias: 
 
• Eficácia indireta ou mediata  os direitos fundamentais são aplicados de maneira 
reflexa (indireta), tanto para proibir o legislador de editar leis que violem os direitos 
fundamentais, como para incentivar o legislador a criar leis para implementar os direitos 
fundamentais, ponderando quais devem ser aplicados às relações privadas. 
• Eficácia direta ou imediata  alguns direitos fundamentais podem ser aplicados às 
relações privadas, sem que haja intermediação do legislador para sua concretização e isso 
será avaliado no caso concreto, diante da necessidade de interpretação das normas 
constitucionais. 
 
- Dentro desta perspectiva, podemos destacar o efeito irradiante dos direitos fundamentais. Este 
efeito diz respeito à necessidade de influência dos direitos fundamentais nos atos realizados 
pelos Poderes (Legislativo, Judiciário e Executivo), cada um em sua função constitucionalmente 
determinada. 
- O Judiciário, na análise de alguns casos marcantes, já se manifestou pela aplicabilidade de 
direitos fundamentais às relações privadas, ou seja, pela eficácia horizontal desses direitos. Ex: 
a revista íntima de empregadas de fábrica de lingerie foi considerada constrangimento ilegal; a 
prisão civil em contrato de alienação fiduciária que a dívida do valor contratado aumentou 
absurdamente também foi considerada inconstitucional, por ferir a dignidade da pessoa humana; 
e, a violação do Princípio do Devido Processo Legal e da Ampla Defesa em caso de exclusão de 
associado de cooperativa sem direito à defesa. 
- Assim, atualmente, podemos notar que a aplicabilidade da eficácia direta dos direitos 
fundamentais nas relações privadas tem crescido, principalmente diante de atividades que 
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possuem certo caráter público (escolas, clubes, relaçoes de trabalho). Na mesma proporção 
teremos o crescimento de colisões de princípios, como livre iniciativa e dignidade da pessoa 
humana, devendo-nos valer da ponderação de interesses e os demais princípios de 
interpretação da Constituição, em cada caso, para solucioná-lo. 
 
CLASSIFICAÇÃO DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS  direitos individuais (art. 5º, CR/88); 
direito a nacionalidade (art. 12, CR/88); direitos políticos (art. 14 a 17 CR/88 direitos sociais (art. 
6º ao 11 e art. 193, todos da CR/88); direitos coletivos e direitos solidários (espalhados, ex. 
direito ao meio ambiente, art. 225, CR/88). Apesar da classificação, esses direitos não devem 
ser considerados antagônicos ou opostos, mas sim integrativos entre si, ou seja, há um 
integração harmônica entre todas as categorias dos direitos fundamentais do homem. 
 
 
DIREITOS FUNDAMENTAIS EM ESPÉCIE 
 
Art. 5º, caput, CR/88, in verbis: 
 
TÍTULO II 
Dos Direitos e Garantias Fundamentais 
CAPÍTULO I 
DOS DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS 
“Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer 
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes 
no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, 
à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:” (grifos nossos) 
 
1. DIREITO À VIDA  caput do art. 5º - na forma como previsto em nossa Constituição, o 
direito à vida abrange tanto o direito de não ser morto, privado da vida, como o direito a uma vida 
digna; o direito a vida humana engloba elementos materiais (físicos e psíquicos) e imateriais 
(espirituais). É no direito à vida que repousa a condenação do aborto, a não aceitação do 
suicídio e a proibição de prescrição de tratamento inadequado. A seguir teremos alguns 
desdobramentos dos direito à vida. 
A. DIREITO À EXISTÊNCIA  o direito à existência consiste no direito de permanecer 
vivo, de lutar pela vida, de defender sua vida, ou seja, de ter o processo vital interrompido 
tão somente pela morte espontânea e inevitável. Em decorrência desse desdobramento do 
direito à vida, temos que a legislação infraconstitucional penal pune toda forma de 
interrupção violenta da vida. É também decorrente do direito à vida o direito à legítima 
defesa. 
 
B. DIREITO Á INTEGRIDADE FÍSICA  agredir o corpo humano é o mesmo que 
agredir a vida, pois esta se realiza naquele. Daí, então, o porquê de as lesões corporais 
serem punidas pela legislação penal. Ainda, a própria Constituição traz a proibição á tortura, 
art. 5º, inciso III (“ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou 
degradante;”). PROIBIÇÃO DA TORTURA  A tortura no Brasil é uma herança cultural 
ainda arraigada na sociedade, cabendo aos operadores do Direito uma formação do efetivo 
respeito aos direitos humanos. A prática

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