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66 parte I – os novos desafIos da gestão de pessoas fIgura 8 Os desdobramentos da estratégia empresarial.9 missão organizacional Visão de futuro desenho organizacional (estrutura) Organização do trabalho Níveis hierárquicos Autoridade Responsabilidade cultura organizacional (dinâmica) valores e princípios Comportamentos Relacionamentos Atitudes Processos organizacionais Tarefas e atividades Metas individuais e grupais objetivos organizacionais estratégia organizacional Mapeamento ambiental Intenção estratégica Definição de objetivos O que somos Como fazer O que fazer Aonde chegar O que queremos ser em conjunto. Entretanto, quando eram da mesma espé- cie, não conseguiam sobreviver. Gause definiu o Princípio da Exclusão Competitiva: duas espécies que conseguem o sustento de maneira idêntica não podem coexistir em um determinado ambiente. Moral da história: a competição existiu muito antes da estratégia. Ela começou com o aparecimento da pró- pria vida. Os primeiros organismos unicelulares exigiam certos recursos para se manter vivos. Se os recursos eram suficientes, o número de organismos aumentava de uma geração para outra. A evolução dos seres vivos fez com que esses organismos se tornassem uma fonte de alimenta- ção para outras formas mais complexas de vida ao longo da cadeia alimentar. Quando duas espécies competem por um mesmo recurso essencial, uma delas tende a deslocar a outra. Se não houver algo que mantenha um equilíbrio estável que dê a cada uma das espécies uma vantagem em seu próprio território, somente uma das duas consegue sobreviver. Assim, ao longo de milhões de anos, se desenvolveu uma complexa rede de interação competitiva. A cada momento, milhares de espécies estão se extinguindo e outras milhares emergindo no planeta. O que explica tamanha abundância de espécies? A variedade. Quanto mais rico o ambiente, maior o número de variáveis significativas que possam dar a cada espécie uma vantagem única. Mas, também, quanto mais rico o ambiente, maior o número de competidores – e mais acirrada a competição. É claro que durante milhões de anos a competição natural não precisou de estratégias. Pelo acaso e pela lei das probabilidades, os competidores encontravam as combinações de recursos que melhor correspondiam às suas diversas características e neces- sidades. Isso não era estratégia, mas a seleção natural de Darwin baseada na adaptação e na sobrevivência do mais apto. O mesmo modelo aplica-se a todos os sistemas vi- vos, inclusive organizações. A competição biológica e a organizacional seguem o mesmo modelo de mudan- ças evolutivas graduais, com apenas uma diferença: os estrategistas das organizações usam a imaginação e a capacidade de raciocínio lógico para acelerar os efeitos da competição e a velocidade das mudanças. Em outras palavras, imaginação e lógica tornam possível a estraté- gia. Sem elas, comportamentos e tática seriam apenas intuitivos ou o mero resultado de reflexos condicionados. Além disso, a estratégia requer a compreensão da com- plexa trama da competição natural. vOltandO aO CasO IntrOdutórIO: a Mainframe O passo seguinte para desencadear o processo de mudança da Mainframe seria a busca de uma estraté- gia empresarial para realizar a missão, atingir a visão CapÍtULo 3 – pLaneJaMento estratÉgICo de gestão de pessoas 67 organizacional almejada e alcançar os objetivos orga- nizacionais. Marina e Pedro resolveram que todos os funcionários deveriam participar das discussões a res- peito da estratégia a ser adotada pela empresa. Mas qual seria a estratégia? Certamente não seria uma estratégia conservadora e defensiva. Como ajudar Pedro e Marina? desdobRamentos da estRatÉgIa A estratégia precisa ser planejada com antecipação e deve ser estendida no longo prazo. Ela requer um planejamento estratégico para ser colocada em ação. Em geral, o planejamento estratégico é desdobrado em planos táticos e estes em planos operacionais.1 •» Planejamento estratégico: refere-se à organização como uma totalidade e indica como a estratégia glo- bal deverá ser formulada e executada. Suas princi- pais características são: »– É holístico e sistêmico, envolve o todo organiza- cional em relação ao contexto ambiental. »– Seu horizonte temporal é de longo prazo. »– É definido pela cúpula da organização. •» Planejamento tático: refere-se ao meio de campo da organização para cada unidade organizacional ou departamento da empresa. Suas características são: »– Indica a participação de cada unidade no plane- jamento global. Refere-se a cada área ou departa- mento da empresa. »– Seu horizonte temporal é de médio prazo, geral- mente um ano. »– É definido por cada unidade organizacional como contribuição ao planejamento estratégico. •» Planejamento operacional: refere-se à base da or- ganização envolvendo cada tarefa ou atividade da empresa. Suas características são: »– Indica como cada tarefa, operação ou atividade deverá contribuir para o planejamento tático da unidade. »– Seu horizonte temporal é de curto prazo, geral- mente um mês. »– É definido para cada tarefa, operação ou atividade exclusivamente. Todo planejamento se subordina a uma filosofia de ação. Ackoff aponta três tipos de filosofia do planeja- mento estratégico:12 1. Planejamento conservador ou defensivo: é o pla- nejamento voltado para a estabilidade e a manuten- ção da situação existente. As decisões são tomadas no sentido de obter bons resultados, mas não neces- sariamente melhores ou ótimos, pois dificilmente farão mudanças radicais na organização. A ênfase é conservar e manter as práticas vigentes. Está mais preocupado em identificar e sanar deficiências e pro- blemas internos do que em explorar novas oportu- nidades. Sua base é retrospectiva para aproveitar a experiência passada e projetá-la para o futuro. 2. Planejamento otimizante ou analítico: é o pla- nejamento voltado para a adaptabilidade e a ino- vação da organização. As decisões são tomadas no sentido de obter os melhores resultados possíveis para a organização, seja minimizando recursos para alcançar determinado desempenho ou objetivo, seja maximizando o desempenho para melhor utilizar os recursos disponíveis. Está baseado na preocupação em melhorar as práticas vigentes na organização. Sua base é incremental no sentido de melhorar con- tinuamente as operações, tornando-as melhores a cada dia. 3. Planejamento prospectivo ou ofensivo: é o pla- nejamento voltado para as contingências e para o futuro da organização. As decisões são tomadas no sentido de compatibilizar diferentes interesses en- volvidos pela composição capaz de levar a resultados para o desenvolvimento natural da organização e ajustá-la às contingências que surgem no meio do caminho. É o contrário do planejamento retrospec- tivo que procura a eliminação das deficiências lo- calizadas no passado da organização. Sua base é a aderência ao futuro no sentido de se ajustar às novas demandas ambientais e se preparar para as futuras contingências, quando eventualmente ocorrerem. Em todos os casos, o planejamento consiste na to- mada antecipada de decisões. Trata-se de decidir agora o que fazer antes que ocorra a ação necessária. Não se trata da previsão das decisões que deverão ser tomadas no futuro, mas da tomada de decisões que produzirão efeitos e consequências futuras (Figura 9). 68 parte I – os novos desafIos da gestão de pessoas Planejamento estRatÉgIco de gP A cada determinada estratégia organizacional deve corresponder um planejamento estratégico de GP, que deve ser parte integrante do planejamento estratégico da organização. Quase sempre o primeiro busca uma maneira de integrar a função de GP nos objetivos globais da empresa, como mostra a Figura 10. Um dos aspectos mais importantes do planeja- mento estratégico de GP é o alinhamento da função de GP com a estratégia organizacional. É necessário traduzir os objetivos e as estratégias organizacionais em objetivose estratégias de GP. Isso é feito pelo pla- nejamento estratégico de GP. Assim, o planejamento estratégico de GP refere-se à maneira como a função de GP deve contribuir para o alcance dos objetivos orga- nizacionais e, simultaneamente, favorecer e incentivar o alcance dos objetivos funcionais de suas áreas e dos objetivos individuais dos funcionários. Trata-se de alinhar talentos e competências com as necessidades da organização. fIgura 10 As vinculações do planejamento estratégico de GP.13 Planejamento estratégico da empresa Missão organizacional Análise ambiental Cenários e prospecções Análise organizacional Planejamento otimizado visão de futuro Planejamento pessimistaCompetitividade e sustentabilidade Planejamento conservador Objetivos organizacionais Planejamento estratégico da GP Planejamento conservador e defensivo Planejamento para a estabilidade manutenção do status quo Ambiente previsível e estável Assegurar a continuidade do sucesso Ambiente dinâmico e incerto Assegurar a reação adequada às frequentes mudanças Planejamento para a melhoria Inovação Planejamento otimizante e analítico Ambiente mais dinâmico e incerto Antecipar-se a eventos que podem ocorrer e identificar ações apropriadas Planejamento para a contingência futuro Planejamento prospectivo e ofensivo fIgura 9 As três orientações do planejamento estratégico da organização. Relações entre o planejamento estratégico de gP e o planejamento estratégico da organização O planejamento estratégico de GP não mais se restringe apenas à quantidade de pessoas necessárias às operações da empresa, envolve muito mais do que isso. Ele começa com a missão e a visão organizacio- nal, a definição dos objetivos a atingir e precisa lidar com competências disponíveis e aquelas necessárias ao sucesso organizacional. Envolve também a criação do CapÍtULo 3 – pLaneJaMento estratÉgICo de gestão de pessoas 69 fIgura 11 Alternativas de fusão entre o planejamento estratégico (adaptativo) e o de GP (autônomo e isolado).14 planejamento adaptativo planejamento integrado planejamento autônomo e isolado O foco se concentra no planejamento empresarial, sendo as práticas de GP consideradas como reflexão posterior O foco se concentra na síntese entre o planejamento empresarial e o planejamento de GP O foco se concentra nas práticas de GP e na forma como a função de GP pode adicionar valor à empresa As discussões cabem aos gerentes de linha, com envolvimento tangencial de profissionais de GP Os gerentes de linha e os profissionais de GP trabalham como parceiros para garantir a ocorrência de um processo integrado de planejamento de GP Os profissionais de GP trabalham no plano e o apresentam aos gerentes de linha O resultado é uma síntese das práticas de GP necessárias à realização dos planos empresariais O resultado é um plano que destaca as práticas de GP prioritárias para a obtenção de resultados empresariais O resultado é um plano para a função de GP, incluindo práticas prioritárias clima e da cultura corporativa favorável ao alcance dos objetivos, arquitetura organizacional adequada, estilo de gestão e modelagem do trabalho, além de incentivos pelo alcance de objetivos e uma plataforma que permita aos executivos – como gestores de pessoas – trabalhar adequadamente com suas equipes. dICa: o planejamento estratégico de GP deve ser holístico O planejamento estratégico de GP deve ser formula- do juntamente ao planejamento estratégico da empresa como um conjunto integrado para poder garantir a pla- taforma referida. Quando o planejamento estratégico de GP é feito após a elaboração do planejamento estratégi- co da empresa e procura se ajustar a ele no sentido de contribuir para sua implementação, recebe o nome de planejamento adaptativo de RH. isso significa fragmen- tar o planejamento estratégico. Ele não deve ser uma colcha de retalhos, mas o trabalho integrado de toda a organização. Na outra ponta, quando o planejamento estraté- gico de GP é feito isoladamente pelos especialistas da área e sem nenhuma preocupação ou articulação com o planejamento estratégico da organização, como um planejamento introvertido e auto-orientado para a fun- ção de GP, recebe o nome de planejamento autônomo e isolado de GP. Funciona como um estranho no ninho. Ambos – planejamento adaptativo e planejamento au- tônomo – não funcionam bem pelo fato de não estarem perfeitamente integrados no plano maior. O ideal é o planejamento estratégico de GP integrado ao planeja- mento estratégico da organização. tipos de planejamento estratégico de gP O planejamento estratégico de GP refere-se à manei- ra como a função de GP deve contribuir para o alcance dos objetivos organizacionais e, ao mesmo tempo, fa- vorecer e incentivar o alcance dos objetivos funcionais das diversas áreas da organização e dos objetivos indi- viduais dos funcionários. Trata-se de alinhar talentos e competências com as necessidades da organização para que todos saiam ganhando. Assim, o planejamento es- tratégico da GP se subordina à estratégia organizacional, seja ela conservadora/defensiva ou prospectiva/ofensiva (Figura 12). CasO de apOIO: empresas defensivas e empresas ofensivas 16 A Lincoln Electric é uma empresa norte-americana que fabrica produtos elétricos e que adota uma estra-