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CAPíTULO 6 • Decorrências da Teoria das Relações Humanas 135 2. Inadequada visualização 90S problemas de relações industriais Elton Mayo, em particular, e a Escola das Relações Humanas, em geral, são criticados pela interpreta ção inadequada e distorcida dos problemas de rela ções industriais, seja da compreensão do problema do conflito e dos interesses conflitantes dos empre gados e da organização, seja da própria localização das causas e das implicações desse conflito.43 ~ DICAS Os tropeços eincertezas da Experiência de Hawthorne Essa visualização inadequada e distorcida foi pres sentida por Whyte, quando no início da Experiência de Hawthone: "toda vez que chegávamos a certas conclusões, mais e mais nos encontrávamos em becos sem saída. Como não tínhamos todas as res postas, éramos forçados a repensar o trabalho que estávamos fazendo. Isso nos levou a um novo pa drão de teoria e pesquisa não suficientemente para proporcionar conclusões práticas· igualmente bom para os empregados, pois trazem melhor remuneração), os autores da Escola das Re lações Humanas enfatizavam o conflito industrial entre os interesses da organização e os interesses dos empregados como basicamente indesejável. Assim, procuram promover a harmonia industrial, descurando-se das importantes funções sociais do conflito. A função do administrador passa a ser substancialmente a de solucionar conflitos, evitan do que eles apareçam e interfiram negativamente na harmonia industrial. Essa inadequada visualização dos problemas das relações industriais tem suas cau sas no fato de a Teoria das Relações Humanas ter sido um produto da ética e do espírito democrático então vigente nos Estados Unidos. Por meio dessa teoria, o administrador americano passou a encon trar um instrumento clínico para solucionar proble mas de conflito e de insatisfação humana no traba lho. Daí o seu caráter pragmático e orientado para a ação: visava implantar medidas capazes de promo ver relações humanas harmoniosas. Sete proposições representam a promoção típi ca de práticas eficazes de relações humanas no tra balho.45 Enquanto os autores clássicos não viam o confli to industrial, uma vez que acreditavam na perfeita compatibilidade entre os interesses da empresa e os dos empregados (o que é bom para a organização, como os métodos racionalizados de trabalho, é 1. Necessidade de utilizar generalizações inter disciplinares - utilizando psicologia, sociolo gia etc. - para orientar o administrador quan to às decisões a tomar. 2. A importância da participação do empregado. tral~altlo em si, mas apenas em suas bordas jogos, colônias de férias etc. Assim, um sacrifício compensado pela felil::idéldé fora dele. Dessa maneira, "a nas representa a evitação e a ne!Jaç:ão analítico - em nível institucional do procurando alcançar maior produtividade de uma rede de serviços sociais na errme.Sa. nho interno, a assistência per'sollalizacla tendo cursos e cursilhos que im~)õeln1 maneiras de pensar, sentir e agir transmitida a ideologia dos Nascimento,46 a Escola das Relações HlJmal1êll; CtmcentroLI-se naquilo que chama de pseu problema de integração do homem ao que em vez de atuar sobre as causas da AIii~hí;I~Ã.,n A do conflito - como subutilização das apti co.1trcl/es formais etc. - procurou tornar mais tiJ,91'adáveris e compensadoras para o trabalhador as ati\4déilders extrafuncionais - como intervalos de des ~fl~iç<)es no restaurante da fábrica, associa- errfprE~gatdO:s, torneios de esportes, excur fôffletC)$ ou jornais dos empregados, salões de 136 Introdução à Teoria Geral da Administração· iDALBERTO CHIAVENATO 3. Estudo dos papéis sociais que o empregado desempenha na organização. 4. A função da comunicação, da liderança e da motivação. ') A necessidade de trabalho em equipe. s. A constatação de que a organização é um siste ma social. Desenvolvimento da habilidade do adminis trador em relaçôes humanas. 3. Concepção ingênua e romântica do operário Outro aspecto dessa inadequada visualização dos problemas das relações industriais é exatamente a concepção ingênua e romântica do operário desen volvida por essa teoria. Os autores das décadas de 1940 e 1950 imaginavam um trabalhador feliz, produtivo e integrado no ambiente de trabalho. Contudo, essa imagem nem sempre foi confirmada por pesquisas posteriores, que descobriram traba lhadores felizes e improdutivos, bem como infeli zes e produtivos, descaracterizando a correlação entre satisfação e produtividade. Verificou-se tam bém que o supervisor liberal e concentrado no tra balhador nem sempre era o responsável pelos gru pos mais produtivos e que a consulta participativa criava mais problemas do que aqueles que resolvia. Os trabalhos de dinâmica de grupo, inicialmente otimistas, visionários e calcados em princípios éti cos preconcebidos, foram paulatinamente seguin do uma linha analítica e experimental.48 4. Limitação do campo experimental Os autores da escola de Relações Humanas - pelo menos os do grupo de Elton Mayo - limitaram-se ao mesmo ambiente restrito de pesquisa da Admi nistração Científica: a fábrica. Deixaram de verifi car outros tipos de organizações - como bancos, hospitais, universidades etc. - o que reduz a aplica bilidade das suas teorias e conclusões. Além disso, "a Escola das Relações Humanas só examina as relações entre pessoa x grupo na área da empresa mas não as ultrapassa".5o DICAS foco míope Convém não esquecer que a Experiência de Hawt horne baseou-se em uma amostra de cinco mo ças, inicialmente, dentro de uma específica situa ção industrial. As generalizações da pesquisa tor naram-se muito frágeis. Os experimentadores ten taram ampliar o grau de certeza por meio do pro grama de entrevista que envolveu mais de 20.000 empregados da fábrica. Mesmo assim, a limitação a uma situação industrial permanece.49 5. Parcialidade das conclusões Enquanto a Teoria Clássica se restringiu à organiza ção formal revelando "escassez de variáveis", isto é, abrangendo um pequeno número de variáveis, para explicar seus pontos de vista, a Teoria das Relações Humanas também se mostra pareialista, restringin do-se à organização informal e sofrendo da mesma escassez de variáveis, enfatizando os aspectos infor mais da organização e relegando os aspectos for mais a um plano inferior.51 Mesmo na abordagem dos fatores humanos, onde essa teoria mais se con centrou, as conclusões de Mayo não vão ao fundo do problema. Para Motta, elas se expõem às seguin tes críticas: 52 a. Mayo investigou a indústria excluindo seu background social. b. Mayo e seus seguidores tendem a favorecer a Administração em detrimento dos trabalha dores. c. No campo do método científico, Mayo igno ra a teoria e adota uma atitude que exalta o emplflsmo, a observação e a descoberta de dados. 6. Ênfase nos grupos informais A Teoria das Relações Humanas concentra-se no es tudo dos grupos primários como seu principal cam po de atuação. Supervaloriza a coesão grupal como condição de elevação da produtividade. Para Mayo ~ DICAS CAPíTULO 6 • Decorrências da Teoria das Relações Humanas t37 ~ DICAS insuficiente ;TrStgtEmberg salienta que "a pesquisa de Ha1NthorrlE/ a definição da ideologia das rela,cõE~ funda-se em evidências diretas, não demclns ser o fruto conclusivo de hipóteses básicas, seriam testadas pela realidade. Suas pesquisas no universo do empirismo radical".53 aconteceu com a Administração CiEmtífjc~i,. "'''.'''0, uc.<> Relações Humanas restringiu-se à lado as demais áreas da empresa. "na indústria e em outras situações humanas, o ad ministrador lida com grupos humanos bem entrela çados e não com uma horda de indivíduos... o dese jo que tem o homem de ser constantemente associa do, em seu trabalho, a seus companheiros, é uma for te, senão a mais forte, característica humana".54 Mayo procurou demonstrar que o problema de abstenção, rotatividade, mobilidade,baixo moral e baixa eficiên cia se reduz ao problema de saber como os grupos po dem ser solidificados para aumentar a colaboração, tanto na grande como na pequena indústria. A Teoria das Relações Humanas trouxe uma for te visão humanística da Administração, incluindo: a. Participação dos escalões inferiores na solu ção dos problemas da organização. b. Necessidade de relacionamento e franqueza entre indivíduos e grupos nas organizações. c. Necessidade de melhorar a competência dos administradores no relacionamento interpes soaI para diminuir o abismo entre o mundo da Administração e o mundo dos operários. d. Introdução das ciências do comportamento nas práticas administrativas. e. Definição de uma filosofia humanística e de mocrática na organização. f. Atitude voltada para a pesquisa e o conheci mento profundo da natureza humana. A idéia de uma administração participativa para aumentar a inclusão dos operários nas metas da em- uma atividade grupal. b. O mundo social do adulto é padronizado em re lação à atividade no trabalho. c. A necessidade de reconhecimento e segurança e o senso de pertencer são mais importantes no moral do operário e na produtividade do que as condições físicas de trabalho. d. Uma reclamação raramente é o enunciado obje tivo de fatos; ela pode ser um sintoma de distúr bio relacionado com o status do indivíduo. e. O trabalhador é uma pessoa cujas atitudes e efi ciência são condicionadas pelas demandas so ciais, tanto dentro como fora da fábrica. f. Grupos informais dentro da fábrica exercem controle social sobre os hábitos no trabalho e atitudes do operário individual. g. A mudança de uma sociedade estável para uma sociedade em adaptação - ou seja, do tipo anti go de comunidade para a sociedade atomística de indivíduos isolados, da sociedade paleotéc nica para a eotécnica - tende a desmembrar a organização social da fábrica. presa e de motivá-los para alcançarem essa meta é uma das principais decorrências dessa teoria. Con tudo, as pesquisas têm revelado que a coesão de gru po não está necessariamente correlacionada com o aumento de produtividade, podendo até ser disfun cional, integrando o grupo contra a direção. 7. Enfoque manipulativo das relações humanas Pode até parecer que os autores da Escola das Rela ções Humanas tenham se preocupado com o bem estar e com a felicidade dos trabalhadores, esque cendo-se de que essa preocupação não é a função principal da empresa, que é a de produzir bens e gerar lucros. No fundo, a Escola das Relações Hu manas e, principalmente, Mayo e seus colaborado- 138 Introdução à Teoria Geral da Administração· IDAlBERTO CHIAVENATO ~ DICAS Enfoque manipulativo "Com a Escola das Relações Humanas, há uma confrontação entre a organização e os problemas humanos. A resistência à mudança é reconhecida, identificada e explorada. Porém, essa tomada de consciência que podia ser positiva, ao tentar ape nas contornar as dificuldades em vez de saná-Ias, tornou-se negativa e exploratória." Tragtenberg ar gumenta que "na empresa norte-americana onde a acumulação e a reprodução ampliada do capital foram realizadas, o fator humano começou a ter status. O surgimento da Escola de Relações Hu manas de Mayo, como resposta intelectual a um sistema industrial onde a alta concentração do ca pital fora traduzida na formação de grandes corpo rations, em que as formas de regulamentação da força de trabalho do operário efetuadas por via au toritária direta (esquema Taylor - Fayol) cedem lu gar à sua exploração de forma direta: pela manipu lação do operário por especialistas, os quais são instrumentos manipulados pela direção das em presas, onde a força de trabalho é recrutada por conselheiros psicológicos, especialistas em rela ções humanas e relações industriais". Além disso, "a Escola de Relações Humanas define-se como uma ideologia manipulatória da empresa capitalis ta em um determinado momento histórico de seu desenvolvimento. Acentua a preferência do operá- rio fora do trabalho pelos seus companheiros, quando na realidade ele quer, após o trabalho, ir para casa; é sua maior satisfação. Valoriza símbo los de prestígio, quando o operário procura maior salário. Vê os conflitos da empresa na forma de de sajustes individuais, quando atrás disso se escon de a oposição de duas lógicas: a do empresário que procura maximizar lucros e a do trabalhador que pro cura maximizar seu salário". 57 Essa premissa equivocada de que apenas o em pregado é que precisa mudar, quando. na maioria das vezes, é a própria Administração que precisa de mudanças, é um traço típico dessa teoria. 55 A Teoria das Relações Humanas busca a justificação ideoló gica da estrutura organizacional (organização for mai) que procura proteger, desviando a atenção para os problemas relativos ao ajustamento da es trutura informal. 59 A abordagem parcialista da Teoria das Relações Humanas também se revela na relegação a plano secundário das recompensas salariais e materiais, enfatizando as recompensas sociais na indústria e utilizando-as com a finalidade manipulativa de apa ziguar os operários, concedendo-lhes símbolos ba ratos de prestígio e afeição, em vez de aumento de salários. 6o ADMINISTRAÇÃO - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - Incentivos Sociais Indivíduo Sistema de Comunicações Grupo Social Padrões de Liderança Organização Informal Participação nas Decisões OBJETIVOS DA ORGANIZAÇÃO FORMAL Figura 6.10. O enfoque manipulativo das Relações Humanas. ... INTRODUCAO A TEORIA GERAL DA ADMINISTRACAO - IDALBERTO CHIAVENATO - SETIMA EDICAO, TOTALMENTE REVISTA E ATUALIZADA tga157 tga158 tga159 tga160