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Prévia do material em texto

Elaborado pela equipe Na aula de português
www.naauladeportugues.com.br
Apresentação
CONTEÚDO INDICADO PARA ENSINO FUNDAMENTAL 2 - 6º a 9º anos
Todos os exercícios podem ser adaptados conforme o seu contexto escolar. Considere, por exemplo,
facilitar ou dificultar o vocabulário dos enunciados, fragmentar em itens (“a” e “b”), trocar os trechos
propostos para análise. O mesmo pode ser feito com o gabarito, adeque o grau de exigência e a
formulação ao seu contexto escolar.
A seguir, você encontrará questões que exploram:
● Características do gênero crônica;
● Interpretação de texto;
● Interpretação de implícitos;
● Identificação de informações explícitas no texto;
● Interpretação de figuras de linguagem;
● Identificação e análise de intertextualidade;
● Identificação de estratégias de coesão (uso de pronomes);
● Identificação de usos e sentidos dos advérbios;
● Discussão oral de temas atuais.
Habilidades da bncc
EF69LP13, EF69LP17, EF67LP05, EF67LP28, EF67LP38, EF07LP09, EF07LP12, EF07LP13, EF89LP03,
EF89LP27, EF89LP29, EF89LP32, EF89LP37, EF08LP10, EF08LP15, EF08LP16.
Professor(a), propomos que leia o texto com a turma e, depois, discuta o tema por ele apresentado com os alunos.
Para essa discussão, você pode utilizar as perguntas a seguir.
● Quem se identifica com o relato da crônica?
● Quem gosta de ler? Quantos livros lê por ano?
● As pessoas que eles conhecem, principalmente adultos, costumam ler?
● Vocês concordam que as pessoas estão lendo menos hoje? Qual pode ser a causa disso?
● Quem gostaria de ler mais? O que está dificultando essa leitura?
Após a discussão, os alunos devem responder às perguntas de "Leitura e interpretação de crônica".
Há, ainda, uma proposta de discussão sobre intertextualidade, a qual pode ser realizada antes ou depois das
perguntas de interpretação.
http://www.naauladeportugues.com.br
Leitura e interpretação de crônica
Leia a crônica "Meu filho não quer ler. E agora, José?" e responda às perguntas a seguir.
1. Uma das características do gênero textual crônica é que se trata de um texto inspirado em um fato do cotidiano
do(a) autor(a) ou do contexto em que ele(a) vive. No caso da crônica lida por você, o fato do cotidiano que motivou
Giovana Madalosso a escrever o texto foi:
a. uma notícia que alertava sobre o baixo índice de leitura dos brasileiros.
b. o filho mais novo dela não gosta de ler, mesmo ela sendo escritora.
c. a filha dela gostava de ler quando mais jovem, mas agora não gosta mais.
d. o impacto causado pelo vício e uso excessivo das redes sociais na leitura.
Resposta correta: alternativa B
2. Ao discutir o fato de que, atualmente, as pessoas não estão lendo ou estão lendo menos do que gostariam, a
cronista cita algumas possíveis justificativas para esse problema. Todas as justificativas abaixo são coerentes com o
texto, EXCETO:
a. as pessoas preferem passar o tempo usando o celular ao invés de ler.
b. os próprios pais não leem, ou seja, não dão exemplo para seus filhos.
c. há muita crítica negativa em torno de quem não lê "boa literatura".
d. as escolas não incentivam mais as crianças a lerem desde cedo.
Resposta correta: alternativa D.
3. Em uma crônica, o cronista relata um acontecimento do seu cotidiano e apresenta-o a partir de sua perspectiva,
juntamente com reflexões pessoais sobre o tema, por isso trata-se de um texto subjetivo.
a. Releia os dois primeiros parágrafos e transcreva deles 2 verbos e 2 pronomes que comprovam que o texto é
subjetivo.
Resposta esperada:
● Verbos: escrevi, contava, amo, adoro.
● Pronomes: me, minha, eu.
b. Justifique por que a resposta anterior comprova a subjetividade do texto.
Resposta esperada: Os pronomes identificados são pronomes pessoais ou possessivos da 1ª pessoa do singular,
enquanto os verbos foram conjugados na 1ª pessoa. Por isso, eles comprovam que o texto é subjetivo.
4. Na crônica, há a comparação entre as pessoas e dois insetos.
a. Liste esses dois insetos.
Resposta esperada: Os dois insetos são traça e barata.
b. Em apenas um dos casos, a comparação é positiva. Indique qual comparação é positiva e explique o sentido dessa
comparação.
Resposta esperada: Apenas a comparação com a traça é positiva. A traça é um inseto que se alimenta de papel,
material do qual os livros são feitos, por isso ela seria um inseto que "come livros". Da mesma forma, uma pessoa
que é uma traça seria uma pessoa que "come/devora livros", ou seja, uma pessoa que lê muito.
5. Releia, a seguir, o 4º parágrafo do texto.
Essa rotina, que um coach chamaria de estratégia, acabou funcionando. Nunca obriguei minha filha a
ler, mas, não podendo usar telas, tudo o que lhe restava era desenhar, olhar as manchas da parede
ou se entregar à leitura. Depois de esgotar seus lápis, foi pegando um gibi aqui, um livro ali, até o dia
em que a vi acordar cercada de celulose.
a. Indique a que a expressão "essa rotina" se refere.
Resposta esperada: A expressão se refere à rotina antiga da família, de sempre ler antes de dormir.
b. Indique a quem se refere os pronomes destacados no texto.
Resposta esperada: Todos os pronomes destacados se referem à filha da autora.
c. Explique o significado da expressão "cercada de celulose".
Resposta esperada: Significa que a filha estava cercada de livros.
d. Com o uso dessa expressão, a autora construiu uma figura de linguagem. Indique qual seria essa figura de
linguagem.
Resposta esperada: Metonímia.
e. Neste trecho, a cronista apresenta uma possível causa para a filha ter se tornado leitora. Resuma a causa
apresentada por ela.
Resposta esperada: Segundo a cronista, a filha desenvolveu o hábito da leitura, porque o uso de telas era proibido,
por isso ela não tinha muitas outras opções para ocupar o tempo além de escrever e ler. Era isso ou ficar entediada.
6. Releia, a seguir, mais um trecho retirado do texto.
Tudo o que sei é que vale a pena praticar pequenas resistências. Nem sempre lemos à noite, mas
tentamos ler todas as noites. Nem sempre lemos em viagens, mas levamos livros para todas as
viagens.
a. Indique a classe gramatical das palavras/expressões destacadas.
Resposta esperada: Todas as palavras destacadas são advérbios ou locuções adverbiais.
b. Indique a circustância expressa por cada uma delas.
Resposta esperada:
Nem: negação
Sempre: tempo
À noite / todas as noites: tempo
Em viagens / para todas as viagens: lugar
c. Das palavras/expressões destacadas, liste aquelas que são importantes para construir a ideia de rotina ou hábito.
Resposta esperada: As expressões são “à noite”, “todas as notas” e “para todas as viagens”.
d. A função de algumas das palavras destacadas é justamente romper com a ideia de que há uma rotina ou hábito de
leitura na família. Liste as palavras que rompem com essa ideia.
Resposta esperada: As palavras que rompe com essa ideia são “nem” e “sempre”.
e. Resuma a reflexão apresentada pela cronista neste trecho.
Resposta esperada: Neste trecho, a cronista apresenta uma reflexão sobre a importância de insistir no hábito da
leitura. Embora a família não consiga mais ler todas as noites ou em todas as viagens, eles estão no processo de
tentar inserir a leitura na rotina e, por isso, levam sempre um livro com eles.
7. Releia, a seguir, o último parágrafo do texto.
Minha filha não é aquela traça que, em certo momento, aparentou ser, mas já sabe o caminho, já sabe como
chegar às lombadas. E saber o caminho já é algum caminho andado.
a. Indique a classe gramatical da expressão destacada.
Resposta esperada: Locução adverbial.
b. A expressão destacada pode ter dois sentidos possíveis. O sentido mais literal está relacionado ao verbo "chegar".
Explique esse sentido.
Resposta esperada: Considerando o verbo "chegar", essa expressão seria uma locução adverbial de lugar e
significaria as pequenas elevações que existem nas ruas para impedir que os carros andem em alta velocidade.
c. Explique o sentido da expressão destacada considerando, agora, o sentido mais amplo do texto.
Resposta esperada: Considerando o sentido mais amplo do texto, essas lombadasseriam as lombadas dos livros, ou
seja, a filha já sabe o caminho até os livros.
Discussão sobre intertextualidade
Por se tratar de uma discussão complexa, recomenda-se fazer essa atividade apenas com turmas do 8º e 9º anos.
● Explique para os alunos o conceito de intertextualidade;
● Divida os alunos em grupo e entregue para cada grupo um dos textos/trechos abaixo;
● Peça que os alunos leiam o texto/trecho recebido e identifiquem a intertextualidade com a crônica. Eles
devem, também, explicar o sentido dessa intertextualidade, ou seja, de que maneira ela contribuiu para o
sentido da crônica e/ou para as reflexões da cronista;
● Peça que cada grupo apresente a discussão para a classe;
● Por último, discuta com os alunos se eles haviam entendido/estabelecido essas conexões entre as obras e a
crônica antes de lerem os textos/trechos. Discuta com eles de que maneira esse conhecimento prévio é
importante para compreender a crônica de maneira mais profunda.
TEXTO 1 - “Metamorfose”, Franz Kafka
Numa manhã, ao despertar de sonhos inquietantes, Gregório Samsa deu por si na cama transformado num
gigantesco inseto. Estava deitado sobre o dorso, tão duro que parecia revestido de metal, e, ao levantar um pouco
a cabeça, divisou o arredondado ventre castanho dividido em duros segmentos arqueados, sobre o qual a colcha
dificilmente mantinha a posição e estava a ponto de escorregar. Comparadas com o resto do corpo, as inúmeras
pernas, que eram miseravelmentefinas, agitavam-se desesperadamente diante de seus olhos.
Que me aconteceu ? — pensou. Não era nenhum sonho. O quarto, um vulgar quarto humano, apenas
bastante acanhado, ali estava, como de costume, entre as quatro paredes que lhe eram familiares. Por cima da
mesa, onde estava deitado, desembrulhada e em completa desordem, uma série de amostras de roupas: Samsa
era caixeiro-viajante, estava pendurada a fotografia que recentemente recortara de uma revista ilustrada e
colocara numa bonita moldura dourada. (...) Não seria melhor dormir um pouco e esquecer todo este delírio? —
cogitou. Mas era impossível, estava habituado a dormir para o lado direito e, na presente situação, não podia
virar-se. Por mais que se esforçasse por inclinar o corpo para a direita, tornava sempre a rebolar, ficando de costas.
Tentou, pelo menos, cem vezes, fechando os olhos, para evitar ver as pernas a debaterem-se, e só desistiu quando
começou a sentir no flanco uma ligeira dor entorpecida que nunca antes experimentara. Oh, meu Deus, pensou,
que trabalho tão cansativo escolhi! (...) Sentiu uma leve comichão na barriga; arrastou-se lentamente sobre as
costas, — mais para cima na cama, de modo a conseguir mexer mais facilmente a cabeça, identificou o local da
comichão, que estava rodeado de uma série de pequenas manchas brancas cuja natureza não compreendeu no
momento, e fez menção de tocar lá com uma perna, mas imediatamente a retirou, pois, ao seu contato, sentiu-se
percorrido por um arrepio gelado. Voltou a deixar-se escorregar para a posição inicial. (...)
Libertar-se da colcha era tarefa bastante fácil: bastava-lhe inchar um pouco o corpo e deixá-la cair por si.
Mas o movimento seguinte era complicado, especialmente devido à sua invulgar largura. Precisaria de braços e
mãos para erguer-se; em seu lugar, tinha apenas as inúmeras perninhas, que não cessavam de agitar-se em todas
as direções e que de modo nenhum conseguia controlar. Quando tentou dobrar uma delas, foi a primeira a
esticar-se, e, ao conseguir finalmente que fizesse o que ele queria, todas as outras pernas abanavam
selvaticamente, numa incômoda e intensa agitação.
Fonte: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ua00106a.pdf
TEXTO 2 - Bíblia, Gênesis
A serpente era o mais astuto de todos os animais do campo que o Senhor Deus tinha formado. Ela disse à mulher:
— É verdade que Deus vos proibiu comer do fruto de toda árvore do jardim?
A mulher respondeu-lhe:
— Podemos comer do fruto das árvores do jardim. Mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, Deus disse:
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ua00106a.pdf
"Vós não comereis dele, nem o tocareis, para que não morrais".
— Oh, não! — tornou a serpente — vós não morrereis! Mas Deus bem sabe que, no dia em que dele comerdes,
vossos olhos se abrirão, e sereis como deuses, conhecedores do bem e do mal.
A mulher, vendo que o fruto da árvore era bom para comer, de agradável aspecto e mui apropriado para abrir a
inteligência, tomou dele, comeu, e o apresentou também ao seu marido, que comeu igualmente. Então os seus
olhos abriram-se; e, vendo que estavam nus, tomaram fo lhas de figueira, ligaram-nas e fizeram tangas para si.
E eis que ouviram o barulho (dos passos) do Senhor Deus que passeava no jardim, à hora da brisa da tarde. O
homem e sua mulher esconde ram-se da face do Senhor Deus, no meio das árvores do jardim.
Mas o Senhor Deus chamou o homem e perguntou-lhe:
— Onde estás?
E ele respondeu:
— Ouvi o barulho dos vossos passos no jardim; tive medo, porque estou nu; e ocultei-me.
O Senhor Deus disse:
— Quem te revelou que estavas nu? Terias tu porventura comido do fruto da árvore que eu te havia proibido de
comer?”.
O homem respondeu:
— A mu lher que pusestes ao meu lado apresentou-me deste fruto, e eu comi.
O Senhor Deus disse à mulher: ‘
— Por que fizeste isso?
— A serpente enganou-me — res pondeu ela — e eu comi.
Adaptado de https://www.bibliacatolica.com.br/biblia-ave-maria/genesis/3/
TEXTO 3 - “José”, Carlos Drummond de Andrade
E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?
Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?
https://www.bibliacatolica.com.br/biblia-ave-maria/genesis/3/
E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio — e agora?
Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?
Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse...
Mas você não morre,
você é duro, José!
Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?
TEXTO PARA LEITURA:
Meu filho não quer ler. E agora, José?
Quase ninguém está lendo, ou quase ninguém está lendo tanto quanto gostaria
Há poucos anos, escrevi um texto me gabando de ter transformado minha filha em leitora. Eu contava que, tal qual o
personagem de Kafka, ela havia passado por uma metamorfose, tendo se transmutado em um inseto, no caso, uma
traça, com a couraça abaulada de tanto consumir livros.
Na ocasião, ela tinha nove anos. Como pode se esperar de uma escritora (desculpe o clichê), eu amo ler. Adoro a
possibilidade de viver uma história em completo silêncio, coisa que só a literatura oferece.
Meu companheiro é dos meus. Portanto, à noite, tudo o que se ouvia na nossa casa eram páginas sendo viradas e
aparelhos digestivos trabalhando, já que, antes de dormir, a tela era não apenas desincentivada como proibida para
menores.
Essa rotina, que um coach chamaria de estratégia, acabou funcionando. Nunca obriguei minha filha a ler, mas, não
podendo usar telas, tudo o que lhe restava era desenhar, olhar as manchas da parede ou se entregar à leitura.
Depois de esgotar seus lápis, foi pegando um gibi aqui, um livro ali, até o dia em que a vi acordar cercada de celulose.
Poderíamos ter vivido para sempre nesse paraíso se a humanidade não tivesse mordido a maçã de Zuckerberg. Ou
melhor, se ele e seus colegas do Silício não tivessem envenenadoa maçã, usando diversos subterfúgios para prender
a nossa atenção ou mesmo nos viciar nos aplicativos, como o botão de like, estímulo de resultado tão potente (e
danoso) que chega a aparecer em tomografias na região do cérebro que ativa a dopamina.
De uns anos para cá, eu, meu companheiro e minha filha deixamos de ser traças e passamos a ser baratas
insatisfeitas inventando desculpas para pegar o smartphone. Depois do jantar, digo para eles que preciso resolver
uma emergência do trabalho e dou uma olhada no Instagram. Meu companheiro faz o mesmo, entrando no Twitter.
Ela, que ainda não usa redes sociais, diz que precisa pegar uma tarefa no WhatsApp e aproveita para ver
mensagens.
Sejamos honestos, quase ninguém está lendo. Ou quase ninguém está lendo tanto quanto gostaria. E se nem nós
conseguimos, como cobrar isso dos nossos filhos? Se eu tivesse resposta, não estaria escrevendo esta coluna, e sim
um best-seller, afinal muita gente está passando pela mesma crise.
Tudo o que sei é que vale a pena praticar pequenas resistências. Nem sempre lemos à noite, mas tentamos ler todas
as noites. Nem sempre lemos em viagens, mas levamos livros para todas as viagens.
Sempre chega uma hora em que, como no poema "E agora, José?"
a festa acabou,
a luz apagou,
o wifi oscilou,
a mãe desplugou,
e o José, ou melhor, a criança, acaba pegando um livro.
E que livro é esse? Aquele que dá prazer.
E isso vale para todas as idades. Não conseguiremos competir com vídeos de gatinhos fofos ou com algoritmos
turbinados para reter a nossa atenção se ficarmos de nariz empinado dizendo que só isto ou aquilo é boa literatura.
Precisamos criar leitores livres, leves e soltos. Ou não criaremos.
Como já andei dizendo por aí, se o seu filho gosta de ler horóscopo, ótimo. Quem começa com áries acaba indo para
libra, para a astrologia, para a astronomia, para a filosofia, e tudo isso pode dar em Clarice Lispector. Ou nos vídeos
da Madama Brona. Porque também é preciso aceitar que, desde sempre, alguns de nós se tornam leitores ávidos e
outros não.
Minha filha não é aquela traça que, em certo momento, aparentou ser, mas já sabe o caminho, já sabe como chegar
às lombadas. E saber o caminho já é algum caminho andado.
Giovana Madalosso
Escritora, roteirista e uma das idealizadoras do movimento Um Grande Dia para as Escritoras.
Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/giovana-maladosso/2023/06/meu-filho-nao-quer-ler-e-agora-jose.shtml
Acesso em 30 nov 2023.
Glossário
abaulada: arredondada
dopamina: neurotransmissor sintetizado por certas células nervosas que age em regiões do cérebro e está envolvido no controle
dos movimentos, da emoção, da motivação e da sensação de prazer.
subterfúgio: atitude dissimulada e astuciosa para se atingir um objetivo.
https://www1.folha.uol.com.br/colunas/giovana-maladosso/2023/06/meu-filho-nao-quer-ler-e-agora-jose.shtml

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