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Direito Civil IV – Teoria dos Contratos P1 Contrato é uma espécie de negócio jurídico que depende, para a sua formação, da participação de pelo menos duas partes. · Unilateral: se aperfeiçoam pela manifestação de apenas uma das partes · Plurilateral: resultam de uma composição de interesses “Acordo de vontades para o fim de adquirir, resguardar, modificar ou extinguir direitos” Função Social do Contrato O Código Civil de 2002 procurou afastar-se das concepções individualistas. Princípio da Socialidade: reflete a prevalência dos valores coletivos sobre os individuais, sem perda, porém, do valor fundamental da pessoa humana. Tem como escopo promover a realização de uma justiça comutativa, aplainando as desigualdades substanciais entre os contraentes. Segundo Caio Mário, a função social do contrato serve para limitar a autonomia da vontade quando tal autonomia esteja em confronto com o interesse social e este deva prevalecer. Podem ser vistas de dois aspectos: · Individual: relativo aos contratantes, que se valem do contrato para satisfazer seus interesses próprios · Público: é interesse da coletividade sobre o contrato. A função social só estará cumprida quando a sua finalidade for atingida de forma justa, ou seja, quando o contrato representar uma fonte de equilíbrio social Cláusulas Gerais são normas orientadoras sob forma de diretrizes, dirigidas precipuamente ao juiz, vinculando-o, ao mesmo tempo em que lhe dão liberdade para decidir. (art. 422/art. 113/ art. 187) As cláusulas gerais resultaram basicamente do convencimento do legislador de que as leis rígidas, definidoras de tudo e para todos os casos, são necessariamente insuficientes e levam seguidamente a situações de grave injustiça. Art. 2.035. CC/02 Parágrafo único. Nenhuma convenção prevalecerá se contrariar preceitos de ordem pública, tais como os estabelecidos por este Código para assegurar a função social da propriedade e dos contratos. Contrato no CDC O consumidor é a parte vulnerável das relações de consumo, o Código procura restabelecer o equilíbrio entre os protagonistas de tais relações. O CDC estabeleceu princípios gerais de proteção que pela sua amplitude, passaram a ser aplicados também aos contratos em geral, mesmo que estes não envolvam relação de consumo. Destacam-se os princípios gerais da Boa-fé (art.51, IV), da Obrigatoriedade da proposta (art.51, VIII) e da Intangibilidade das convenções (art.51, X, XI e XIII). No capítulo concernente às cláusulas abusivas o referido diploma introduziu os princípios tradicionais da Lesão nos contratos (art. 51, IV e § 1°) e da Onerosidade excessiva (art. 51, § 1°, III). Condições de Validade do Contrato Para que o negócio jurídico produza efeitos, possibilitando a aquisição, modificação ou extinção de direitos, deve preencher certos requisitos, apresentados como os de sua validade. Se, porém, falta-lhe um desses requisitos, o negócio é inválido, não produz o efeito jurídico em questão e é nulo ou anulável. Requisitos da validade dos contratos · De ordem geral · Capacidade do agende · Objeto lícito, possível, determinado ou determinável · Forma prescrita ou não defesa em lei (CC, art. 104) · De ordem especial · Consentimento recíproco ou acordo de vontades Podendo também ser: · Subjetivos; · Objetivos; · Formais. Os requisitos subjetivos consistem: a) Manifestação de duas ou mais vontades e na capacidade genérica dos contraentes; b) Aptidão específica para contratar c) Consentimento. Capacidade genérica – é a capacidade de agir em geral Aptidão específica para contratar – é uma capacidade especial, mais intensa do que a normal. Deve exibir a outorga uxória ou o consentimento dos descendentes e do cônjuge do alienante. Essas hipóteses não dizem respeito propriamente à capacidade geral, mas a falta de legitimação ou impedimentos para a realização de certos negócios. Consentimento – é o consentimento recíproco ou acordo de vontades e deve abranger os seus três aspectos: a) Acordo sobre a existência e natureza do contrato b) Acordo sobre o objeto do contrato c) Acordo sobre as cláusulas que o compõem O consentimento deve ser livre e espontâneo, sob pena de ter a sua validade afetada pelos vícios ou defeitos do negócio jurídico: erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão e fraude. A manifestação da vontade nos contratos pode ser tácita quando a lei não exigir que seja expressa (CC, art. 111), expressa ou escrita. O silêncio pode ser interpretado como manifestação tácita da vontade quando as circunstâncias ou os usos o autorizarem e não for necessária a declaração de vontade expressa. Não se admite a existência de autocontrato ou contrato consigo mesmo. Requisitos objetivos: Dizem respeito ao objeto do contrato. a) Licitude de seu objeto – não atenta contra a lei, a moral ou os bons costumes b) Possibilidade física ou jurídica do objeto – quando impossível, o negócio é nulo c) Determinação de seu objeto – o objeto do contrato deve ter algum valor econômico Requisitos formais: É o meio de revelação da vontade a) Consensualismo – liberdade da forma b) Formalismo – forma obrigatória No sistema brasileiro o consensualismo é a regra e o formalismo é a exceção Espécies de formas: a) Livre – qualquer meio de manifestação da vontade não imposto obrigatoriamente pela lei b) Especial ou Solene – é a exigida pela lei como requisito de validade de determinados NJ c) Contratual – é a convencionada pelas partes Princípios Fundamentais do Direito Contratual a) Autonomia da vontade b) Supremacia da Ordem Pública c) Consensualismo d) Relatividade dos efeitos e) Obrigatoriedade f) Revisão g) Onerosidade excessiva h) Boa-fé Princípio da Autonomia da Vontade Se alicerça exatamente na ampla liberdade contratual, no poder dos contratantes de disciplinar os seus interesses mediante acordo de vontades. O princípio da autonomia da vontade serve de fundamento para a celebração dos contratos atípicos. Contrato atípico é o que resulta não de um acordo de vontades regulado no ordenamento jurídico, mas gerado pelas necessidades e interesses das partes. Faculdade de contratar e de não contratar – atualmente, se mostra relativa, pois a vida em sociedade obriga as pessoas a realizar, frequentemente, contratos de toda espécie Liberdade de escolha do outro contraente – sofre, hoje, restrições, como nos casos de serviço públicos concedidos sob regime de monopólio Poder de estabelecer o conteúdo do contrato – sofre também, hodiernamente, limitações determinadas pelas cláusulas gerais Princípio da Supremacia da Ordem Pública O interesse da sociedade deve prevalecer quando colide com o interesse individual. O princípio da autonomia da vontade, como vimos, não é absoluto. É limitado pelo princípio da supremacia da ordem pública. A noção de ordem pública e o respeito aos bons costumes constituem freios e limites à liberdade contratual. Princípio do Consensualismo O contrato já estará perfeito e acabado desde o momento em que o vendedor aceitar o preço oferecido pela coisa, independente da entrega desta. O pagamento e a entrega do objeto constituem outra fase, a do cumprimento das obrigações assumidas pelos contratantes (CC, art. 481). Princípio da Relatividade dos Efeitos do Contrato Os efeitos do contrato só se reproduzem em relação às partes, àqueles que manifestaram a sua vontade, vinculando-os ao seu conteúdo sem afetar terceiros nem seu patrimônio. Exceções: · Estipulações em favor de terceiros · Convenções coletivas de trabalho Após o Código Civil de 2002 não se concebe mais o contrato apenas como instrumento de satisfação de interesses pessoais dos contraentes. Tal fato tem como consequência, por exemplo, possibilitar que terceiros que não são propriamente partes do contrato possam nele influir, em razão de serem por ele atingidos de maneira direta ou indireta. Princípio da Obrigatoriedade dos Contratos Representa a força vinculante das convenções. Como foram as partes que escolheram os termos do ajuste e a ele se vincularam, não cabe ao juiz preocupar-se com a severidade das cláusulas aceitas. Fundamentos: a) Necessidadede segurança nos negócios b) Intangibilidade ou imutabilidade do contrato A única limitação a esse princípio, dentro da concepção clássica, é a escusa por caso fortuito ou força maior. Princípio da Revisão dos Contratos ou da Onerosidade Excessiva Permite aos contraentes recorrerem ao Judiciário para obterem alteração da convenção e condições mais humanas em determinadas situações. a) Cláusula rebus sic stantibus e teoria da imprevisão A Cláusula rebus sic standibus consiste basicamente em presumir, nos contratos comutativos, de trato sucessivo e de execução diferida, a existência implícita (não expressa) de uma cláusula, pela qual a obrigatoriedade de seu cumprimento pressupõe a inalterabilidade da situação de fato. A teoria da imprevisão consiste, portanto, na possibilidade de desfazimento ou revisão forçada do contrato quando, por eventos imprevisíveis e extraordinários, a prestação de uma das partes tornar-se exageradamente onerosa. Princípio da Boa-Fé e da Probidade O princípio da boa-fé exige que as partes se comportem de forma correta não só durante as tratativas como também durante a formação e o cumprimento do contrato. A probidade pode ser entendida como a honestidade de proceder ou a maneira criteriosa de cumprir todos os deveres, que são atribuídos ou cometidos à pessoa. · Subjetiva - psicológica · Objetiva – ética Boa-fé subjetiva: Serve à proteção daquele que tem a consciência de estar agindo conforme o direito, apesar de ser outra realidade. Denota estado de consciência ou convencimento individual da parte ao agir em conformidade ao direito. Deve o intérprete considerar a intenção do sujeito da relação jurídica. Boa-fé objetiva: Está fundada na honestidade, na retidão, na lealdade e na consideração para com os interesses do outro contraente. (Regra de conduta) Função de controle ou de limite “comete ato ilícito quem, ao exercer o seu direito, exceder manifestamente os limites impostos pela boa-fé” (abuso de direito) Proibição de “venire contra factum proprium” Uma das principais funções do princípio da boa-fé é limitadora: veda ou pune o exercício de direito subjetivo quando se caracterizar abuso da posição jurídica. Ato contrário ao previsto, com surpresa e prejuízo à contraparte. “Havendo real contradição entre dois comportamentos, significando o segundo quebra injustificada da confiança gerada pela prática do primeiro, em prejuízo da contraparte, não é admissível dar eficácia à conduta posterior” Supressio O contrato de prestação duradoura que tiver permanecido sem cumprimento durante longo tempo, por falta de iniciativa do credor, não pode ser motivo de nenhuma exigência, se o devedor teve motivo para pensar extinta a obrigação e programou sua vida nessa perspectiva. As expectativas são projetadas apenas pela injustificada inércia do titular por considerável decurso do tempo. Surrectio Consiste no nascimento de um direito, sendo nova fonte de direito subjetivo, consequente à continuada prática de certos atos. Tu quoque “Aquele que descumpriu norma legal ou contratual, atingindo, atingindo com isso determinada posição jurídica, não pode exigir do outro o cumprimento do preceito que ele próprio já descumprira.” Duty to mitigate the loss “O princípio da boa-fé objetiva deve levar o credor a evitar o agravamento do próprio prejuízo” A vítima do inadimplemento, mesmo quando não contribui para o evento danoso, tem não apenas o dever de proceder de sorte que o dano não se agrave, mas também o de tentar reduzi-lo na medida do possível. Art. 769. O segurado é obrigado a comunicar ao segurador, logo que saiba, todo incidente suscetível de agravar consideravelmente o risco coberto, sob pena de perder o direito à garantia, se provar que silenciou de má-fé. Art. 771. Sob pena de perder o direito à indenização, o segurado participará o sinistro ao segurador, logo que o saiba, e tomará as providências imediatas para minorar-lhe as conseqüências. · Fases 1° Fase: Tratativas ou negociações preliminares Não está prevista no código civil Responsabilidade extra contratual (expectativa de contratação) A contratação como obrigação não pode existir nessa fase Reconhecida pelo direito Há a possibilidade ressarcir se houver algum dano Principio da Boa-fé objetiva Precisa de dois elementos para estabelecer o principio da boa fé objetiva pré-contratual: a expectativa legítima e o prejuízo material. 2° Fase: Proposta Precisa caracterizar uma vontade definitiva de contratar Precisar ser séria clara, inequivoca, concreta, com preço, quantidade, tempo de entrega forma de pagamento. Pode ser oral, por escrito ou tácita Se não ficar claro que não existe obrigação fica claro que a proposta de contrato obriga o proponente Art. 427. A proposta de contrato obriga o proponente, se o contrário não resultar dos termos dela, da natureza do negócio, ou das circunstâncias do caso. Contrato Civis x Consumerista Exceções à obrigatoriedade: · Termos da proposta - “Não vale como proposta” · Natureza do Negócio - ofertas ao píblico vinculadas à duração do estoque · Circunstâncias - análise do caso concreto Art. 428. Deixa de ser obrigatória a proposta: I - se, feita sem prazo a pessoa presente, não foi imediatamente aceita. Considera-se também presente a pessoa que contrata por telefone ou por meio de comunicação semelhante; II - se, feita sem prazo a pessoa ausente, tiver decorrido tempo suficiente para chegar a resposta ao conhecimento do proponente; III - se, feita a pessoa ausente, não tiver sido expedida a resposta dentro do prazo dado; IV - se, antes dela, ou simultaneamente, chegar ao conhecimento da outra parte a retratação do proponente. Pessoa presente: resposta sincrona Pessoa ausente: lapso de tempo Proposta feita entre presentes: · não demanda presença física · comunicação simultânea · Ex: telefone, skype, chat, conversa online, whatsapp Proposta feita entre ausentes: · o proponente não mantém contato direto com o aceitante · há um lapso temporal entre a emissão da proposta e a aceitação · ex: cartas, telegramas, email Art. 429. A oferta ao público equivale a proposta quando encerra os requisitos essenciais ao contrato, salvo se o contrário resultar das circunstâncias ou dos usos. Parágrafo único. Pode revogar-se a oferta pela mesma via de sua divulgação, desde que ressalvada esta faculdade na oferta realizada. Aceitante X Proponente Atos de aceitação Atos de execução- o interessado em aceitar a proposta desenvolve um determinado comportamento Atos de apropriação ou utilização- aceitação da proposta ao se utilizar da coisa Art. 431. A aceitação fora do prazo, com adições, restrições, ou modificações, importará nova proposta. (contraproposta) Hipóteses de inexistência de força vinculante da aceitação Art. 431. A aceitação fora do prazo, com adições, restrições, ou modificações, importará nova proposta. (O policitante está liberado, mas deve comunicar imediatamente o oblato) Art. 433. Considera-se inexistente a aceitação, se antes dela ou com ela chegar ao proponente a retratação do aceitante. (a lei permite a retratação)