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A conquista do ambiente terrestre e aquático continental pelos crustáceos e suas implicações filogenéticas Disciplina: Filogenia dos Metazoa Aula 11 Prof. Dr. Felipe Bezerra Ribeiro DB - FFCLRP Habitats O ambiente dulcícola Hyalella azteca (Amphipoda) Parastacus (Astacidea) Macrobrachium (Caridea) A maioria das espécies de eglídeos vivem nos leitos de arroios, rios e lagos, sob pedras no substrato, em águas límpidas e bem oxigenadas. Também podem ser encontrados em cavernas e ambientes límnicos de altitude O ambiente terrestre Decapoda 5 Amphipoda Isopoda Talitridae Oniscidea Anomura Astacidea Brachyura Um pouco de história... • Único grupo de artrópodes no mar, onde sua radiação foi tão extensiva como a dos outros grupos de artrópodes terrestres; • Anfípodos marinhos x insetos; • Colonização terrestre mais recente que os outros grupos de artrópodos; • Nenhum fóssil de crustáceo terrestre foi encontrado datando de antes do Terciário (60Mia); (Hay, 1987; Alastair & Araujo, 2015) Um pouco de história ... • Embora aproximadamente 85% de todos os crustáceos sejam marinhos, muitos outros são adaptados a viver completamente em habitats dulcícolas ou ambientes de transição; • Esse processo de adaptação de crustáceos a habitats aquáticos continentais já dura cerca de 65 milhões anos (Babcock et al. 1998); • O que levou a essas diversas espécies não marinhas a se adaptarem a novas condições ambientais? • A ascensão das Angiospermas no Cretáceo (100 Mia) e o desenvolvimento subsequente de folhas decíduas e largas podem ter fornecido as condições necessárias para a sobrevivência de crustáceos (e moluscos) na terra, fornecendo um substrato no qual minerais, especialmente cálcio, são depositados na superfície do solo pela queda de folhas. Escala de adaptações ao ambiente terrestre em crustáceos T1 Midlittoral T2 T3 T5T4 Powers & Bliss (1983) Richardson & Araujo (2015) High Littoral Supralittoral Extralittoral Terrestrial Rotas para a terra • Evolução a partir de ancestrais litorâneos (Oniscidea e Talitridae e alguns decápodos); • Evolução a partir de ambientes dulcícolas: decápodos (lagostins) • Hábito tipicamente criptozóico; • Modificadores de substrato ou não- modificadores de substrato; Habitats e micro-habitats Metopaulias depressus caranguejo das bromélias Kingsleya attenboroughi – caranguejo do semi-árido Ligia Tylos Atlantoscia Porcellio Armadillidium Hemilepistus "And the winner is..." Courtesy of the Invertebrate Zoology Multimedia Lab Assistant, 3-disc CD-ROM set on invertebrates developed by T. Carefoot and C. Young at the Department of Zoology, University of British Columbia http://www.uni-kiel.de/zoologie/institut/limnologie/isopoda.htm Habitat e hábitos escavadores - Lagostins Riachos Banhados Áreas temporariamente inundadas Matas Paludosas K.M. Gomes Ribeiro et al. (2016) Vegas ou Hualves Rudolph (2015) Ribeiro et al. (2016) Planícies de inundação Habitat e hábitos escavadores Noro & Buckup (2010) K.M. Gomes Ribeiro et al. (2017) Ribeiro et al. (2020) Abouessa et al. (2015) Estação seca Estação chuvosa • Implicações na morfologia das espécies: “Open water species” Euastacus “Semi-terrestrial burrowing crayfish” Parastacus defossus Engaewa Engaeus Habitat e hábitos escavadores Adaptações morfológicas • Redução e modificações de pleópodos e brânquias; • Redução de antenas; • Fortalecimento geral da cutícula; • Desenvolvimento de estruturas e estratégias para obter e conservar água e mudanças em direção à eficiência reprodutiva. PULMÕES PLEOPODAIS - TATUZINHOS invaginações ramificadas e revestidas por cutícula fina Atlantoscia Balloniscus Periscyphis BRÂNQUIAS COXAIS - ANFÍPODOS Orchestia MODIFICAÇÕES NA CÂMARA BRANQUIAL + estruturas acessórias - DECÁPODOS Cardisoma Gecarcinus Saco pericárdico médio Saco pericárdico grande e epitélio altamente vascularizado Saco pericárdico pequeno, necessita dos tufos de cerdas Ocypode Scopimera Discos membranosos: trocas gasosas ANTENA 1 ANTENA 2 Alimentação • Amplamente detritívoros e depositívoros; • Carnívoros, herbívoros, filtradores; • Bactérias endossimbiontes; • Moinho gástrico em decápodos; • Coprofagia em tatuzinhos; Lagostins • Onívoros oportunistas “Dieta da sopa” • A dieta consiste principalmente de detritos de origem vegetal • Peças bucais + Pereiópodos. Noro (2007) Foram analisados conteúdo estomacal de 175 indivíduos de P. defossus. Noro (2007) Verão Outono Inverno Primavera Origem animal 6,09% 0,63% 1,21% 1,42% Origem vegetal 36,68% 48,7% 55,58% 48,33% MOINHO GÁSTRICO: MACERAÇÃO DO ALIMENTO NO ESTÔMAGO Estômag o pilórico Estômago pilórico Estômago cardíaco elementos esqueléticos calcificados + conjunto de músculos estriados quebrar e moer grandes partículas de alimento (Lima-Gomes, 2013). (Loureiro et al., 2019). (Cassel et al. In prep). Grupos ecomorfológicos Grupos ecomorfológicos dos isópodos terrestres proposto por Schmallfuss (1984) Runners Creepers Clingers Rollers Spiny forms Foto: Gustavo Graciolli Locomoção http://en.wikibooks.org/wiki/Image:Armadillidium_vulgare_001.jpg http://en.wikibooks.org/wiki/Image:Armadillidium_vulgare_001.jpg Flexão do abdome: “Tail-flip” Fisiologia • Água e balanço iônico - Sistema condutor de água: anfípodos talitrídeos e tatuzinhos; - Presença de cera na cutícula; - Capacidade volvacional; - Decápodos com tegumento relativamente impermeável; Fisiologia • Muda - Dependência do cálcio; - Mecanismos de armazenamento de cálcio: gastrólitos, placas de cálcio e concreções nos cecos digestivos; - Consumo da exúvia; Ainda no estágio de pré-muda... Reaborção dos nutrientes do exoesquelo Placas de cálcio Gastrólitos Armazenamento de Cálcio MUDA EM DUAS ETAPAS Porcellio scaber Indicativo de muda: placas de cálcio Balloniscus sellowii Fisiologia • Excreção de Nitrogênio - Talitrídeos: amônia líquida através das brânquias e glândulas antenais; - Tatuzinhos: amônia gasosa, reabsorção de urina; - Decápodos: amônia líquida através das brânquias necessidade de água * Ác. Úrico em Birgus latro • Trocas gasosas - Modificações das estruturas respiratórias; Órgãos do sentido e comportamento • Desenvolvimento de olhos e estruturas táteis; • Hábitos noturnos; • Agregações; • Sinais acústicos: estridulação; 1 min 3 min 5 min 10 min 5 min 10 min 20 min Ligia exotica Porcellionides pruinosus FEROMÔNIO DE AGREGAÇÃO EXTRATO FECAL CONTROLE 1 min PAPEL FILTRO LIMITA EVAPORAÇÃO: Em condições secas: agregação intensa Em condições úmidas: fraca Reprodução • Razão sexual pode ser desviada em favor das fêmeas: Wolbachia feminização de machos; Reprodução • Rituais pré-copulatórios: amplexo e sinalizações visuais; Reprodução • Intersexualidade (ALMEIDA & BUCKUP, 1999; RUDOLPH, 2013) - Fenômeno caracterizado pela presença de características sexuais masculinas e femininas em um mesmo indivíduo de uma espécie gonocórica, protândrica ou protogínica. Essas características podem estar limitadas à morfologia externa ou podem se estender à diferenciação das gônadas (SAGI et al., 1996). Reprodução Em crustáceos, a intersexualidade pode ser causada por: - Infecções virais (Juchault et al. 1991); - Parasitas (Ginsburger-Vogel 1991) - Fatores Hereditários, incluindo anomalias genéticas (Hough et al. 1992), - Estrutura social (demográfica) (Baeza & Bauer 2004), - Fatores abióticos (Bauer 2002). Reprodução Hermafroditismo(RUDOLPH, 1995; SILVA-CASTIGLIONI et al., 2008): - Caracterizado pela produção simultânea ou sequencial de gametas de ambos os sexos; - Hermafroditismo Sequencial: Protândrico ou Protogínico; Hermafroditismo em crustáceos Cirripedia: Cracas Cephalocarida Decapoda: Caridea Lysmata Remipedia Reprodução • Partenogênese: ‘Lagostim de mármore’- Procambarus virginalis - Genoma triploide; - Produção exclusiva de fêmeas; - Espécie com menos de 30 anos de existência; - Bioinvasão!!! INVASÃO DOS CLONES! Lyko (2017). The marbled crayfish (Decapoda: Cambaridae) represents an independent new species. Zootaxa, 4363 (4): 544–552 Reprodução Tipos de desenvolvimento Desenvolvimento longo - Um desenvolvimento longo envolve uma maior produção de ovos de menor tamanho, uma série de estágios larvais planctônicos e ausência de incubação de ovos. Encontrado em Dendrobranchiata e Euphausicea; - Pleocyemata apresentam uma redução no número de estágios, eclosão num estágio posterior ao nauplius e incubação de ovos nos pleópodos; Subordem Pleocyemata Gr. Κυεω = estar/ficar grávida Vogt (2013) Marin & Turbanovo (2016) 50 Reprodução Tipos de desenvolvimento Desenvolvimento abreviado - O desenvolvimento abreviado pode ocorrer em habitats estressantes e pode ser indicativo de um menor número de ovos produzidos (maior tamanho). 51 Desenvolvimento larval longo (6 a 12 estágios) Desenvolvimento larval abreviado (2 a 3 estágios) Desenvolvimento direto 52 Reprodução Tipos de desenvolvimento Desenvolvimento direto - Eclosão de juvenis, similares aos adultos. - Ocorre em vários grupos de crustáceos marinhos, dulcícolas e terrestres; - Peracarida Oostegitos* e Marsúpio: bolsa incubadora ventral modificação na coxa dos pereiópodos (exceto na Ordem Thermosbaenacea); Bolsa incubadora THERMOSBAENACEA 53 Marsúpio fechado: Tipo–Ligia vs. Tipo–Porcelio 54 Cotilédones - Extensões temporárias nos segmentos (2-5) no marsúpio Erhard 1995 Ovo Embrião Manca marsupial - Nutrição dos filhotes: água, oxigênio, cálcio e nutrientes proporcionados pela mãe (Hoese and Janssen 1989) Hemolinfa e tecido adiposo 55 Porcellio scaber (Isopoda) 56 Reprodução em lagostins • Desenvolvimento direto: Rudolph & Rojas (2003) Virilastacus araucanius • Desenvolvimento direto: - Juvenis permanecem ligados aos pleópodos das mães por 2-3 mudas; Huxley (1878) Barcelos (2007) Reprodução em lagostins Ple Egg case Telson thread Cuidado Parental Decapodito Caridea Brachyura Anomura Aeglidae 64 Cuidado Parental 65 Cuidado Parental Juvenil 1 Juvenil 2 Noro et al. (2005) Parastacus brasiliensis 66 Cuidado Parental 67 Cuidado Parental 68 Cuidado Parental Cretáceo Cambriano Cuidado Parental Lagostins 71 Classe Malacostraca Ordem Decapoda INFRAORDEM ASTACIDEA Nephropoidea e Enoplometopoidea (Lagostas Queladas) “Astacida” (Lagostins de água doce) Astacoidea Parastacoidea Crandall & De Grave (2017) • 700 espécies distribuídas mundialmente (exceto Africa e Antartica); • Dois centros de diversificação (HOLDICH, 2002; SINCLAIR et al., 2004; CRANDALL & DE GRAVE, 2017, 2008; BRACKEN et al., 2009) Diversidade Cambaroididae • Origem: Pangaea no período Triássico (185-225 Ma); • Parastacidae: origem no início do Jurássico (183 Ma); divergência e estabelecimento de linhagens (144-159 Ma); e radiação no início do Cretáceo (99-144 Ma); Crandall et al. (2000); Sanmartín & Ronquist (2004); Toon et al. (2010) 165 Mia 80 Mia 31 Mia 75 Modificado de Toon et. al. (2010) 76 Modificado de Toon et. al. (2010) • Evoluções independentes; Caranguejos de água doce Trichodactylidae Trichodactylus sp. Pseudotelphusidae Pseudotelphusa sp. Potamonautidae Potamonautes sp. Gecarcinucidae Potamidae Cardisoma guanhumi Potamon sp. Tsang et al. (2014) 77 Tatuzinhos-de-jardim O gênero anfíbio Ligia parece estar mais estreitamente relacionado a representantes marinhos, enquanto o padrão filogenético do Oniscidea remanescente implica uma história complexa da transição do ambiente marinho à terra. Conclusões • Ampla diversidade de ocupação de ambientes; • Vantagens e desvantagens; • Adaptações morfológicas, fisiológicas e comportamentais; • Diferentes rotas de evolução; Obrigado pela sua atenção! feliperibeiro@ffclrp.usp.br