Logo Passei Direto
Buscar
Material
páginas com resultados encontrados.
páginas com resultados encontrados.
left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

Prévia do material em texto

O mínimo sobre MARX
Marize Schons
1ª edição — janeiro de 2024 — CEDET
Copyright © Aline Galhardo 2024
Os direitos desta edição pertencem ao
CEDE — Centro de Desenvolvimento 
Profissional e Tecnológico
Av. Comendador Aladino Selmi, 4630
Condomínio GR Campinas 2 — módulo 8
CEP: 13069-096 — Vila San Martin 
Campinas-SP
Telefones: (19) 3249–0580 / 3327–2257
E-mail: livros@cedet.com.br
CEDET LLC is licensee for publishing and sale of the electronic edition of this book
CEDET LLC
1808 REGAL RIVER CIR - OCOEE - FLORIDA - 34761
Phone Number: (407) 745-1558
e-mail: cedetusa@cedet.com.br
Editor:
Felipe Denardi
Revisão & preparação:
Vitório Armelin
Capa:
José Luiz Gozzo Sobrinho
Diagramação:
Virgínia Morais
Revisão de provas:
Paulo Bonafina
Conselho editorial:
Adelice Godoy
César Kyn d’Ávila
Silvio Grimaldo de Camargo
FICHA CATALOGRÁFICA
Schons, Marize.
O mínimo sobre Marx / Marize Schons
Campinas, SP: O Mínimo, 2024.
ISBN: 978-65-85033-27-5
1. Marxismo
I. Título II. Autor
CDD — 320.531 5
ÍNDICES PARA CATÁLOGO SISTEMÁTICO:
1. Marxismo – 320.531 5
www.ominimoeditora.com.br
Reservados todos os direitos desta obra. Proibida toda e qualquer reprodução desta edição por qualquer meio ou forma,
seja ela eletrônica, mecânica, fotocópia, gravação ou qualquer outro meio de reprodução, sem permissão expressa do
editor.
Sumário
INTRODUÇÃO
A CRÍTICA MATERIALISTA AO IDEALISMO ALEMÃO
A CRÍTICA À FILOSOFIA POLÍTICA BURGUESA
CRÍTICA SOCIOECONÔMICA AO CAPITALISMO
CONCLUSÃO
DICA DE LEITURA
DICA DE LEITURA 2
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
NOTAS DE RODAPÉ
proposta deste livro é apresentar Marx pela sua sociologia e não pela sua biografia ou pelo
A seu pensamento econômico. Essa escolha foi feita por considerar que é a melhor
estratégia para explicar os principais fundamentos da teoria de Marx, assim como
ampliar a visão do leitor sobre uma tradição teórica que, muitas vezes, fica limitada aos
debates econômicos ou militantes.
Essa opção decorre do fato de que não são as propostas econômicas e nem mesmo as
indicações práticas a favor da revolução o que faz Marx ainda ser inevitável nas discussões
tanto acadêmicas quanto políticas. Marx é pertinente não apenas por ser fonte de
inspirações partidárias, mas por ter proposto uma teoria social que leva em consideração
as transformações históricas e tenta explicar a dinâmica do conflito nas relações humanas
que é, talvez, inerente à sociedade.
Para tal empreendimento, optei por dividir os capítulos do livro de acordo com seus três
principais posicionamentos críticos: a) a crítica ao idealismo alemão;1 b) a crítica à
filosofia política burguesa;2 e c) a crítica socioeconômica ao capitalismo.
O primeiro capítulo tem como objetivo apresentar as discordâncias de Marx em relação
a Hegel e ao idealismo absoluto. Nesse capítulo, busco demonstrar os fundamentos do
materialismo histórico, um programa teórico e metodológico que compõe as bases da
proposta do socialismo científico.3
No segundo capítulo, procuro explorar a crítica política à burguesia, o que implica em
evidenciar o entendimento sobre o conceito de ideologia e as repreensões de Marx às
instituições modernas como, por exemplo, o Estado; assim como suas críticas às
instituições tradicionais como, por exemplo, a religião.
Por fim, este pequeno livro apresenta alguns dos aspectos que compõem a difundida
análise de Marx do capitalismo, tendo em vista que esse julgamento está completamente
relacionado à proposta revolucionária de superação da ordem estabelecida por meio da
organização do programa político do partido comunista.
O desafio de trazer O mínimo sobre Marx não significa reduzi-lo em poucas páginas. A
intenção é que esse trabalho seja um passo inicial para os estudos daqueles que,
independentemente da posição política, estejam dispostos a estudar o pensamento do
autor.
O CONTEXTO DAS REVOLUÇÕES DE 1848
Em 1848, Marx e Engels escrevem o Manifesto do Partido Comunista (2010), um breve
tratado que tinha como objetivo expressar os princípios fundadores da Liga Comunista,
uma organização secreta de trabalhadores e intelectuais alemães que viviam no exterior.
Esse panfleto demarcava um compromisso público com a causa do comunismo. Porém,
tal posição política só pode ser compreendida se considerarmos as disputas ideológicas
desse específico momento histórico.
O contexto das tentativas revolucionárias de 1848 demonstravam a “exaustão histórica”
dos regimes absolutistas ainda presentes na Europa. O capitalismo havia penetrado nessas
sociedades transformando os laços sociais tradicionais, estimulando demandas políticas
contestadoras e alterando as relações econômicas convencionais. Contudo, durante este
processo, específicas tensões políticas se tornaram irremediáveis.
É verdade que os propósitos burgueses4 continuavam protagonistas na condução das
diversas reformas políticas e transformações econômicas, tendo em vista que no decorrer
do século XIX a democracia liberal se tornaria a forma de governo estabelecida em várias
partes do mundo. Entretanto, também é verdade que esses processos estavam ocorrendo
de maneira desigual e contraditória, o que estimulou oposições à esquerda da atividade
política burguesa.
Apesar do protagonismo do liberalismo5 nas transformações sociais e econômicas, neste
mesmo período,
as tensões políticas estimuladas pelo novo modelo de
produção capitalista abriam uma janela de oportunidade
para o crescimento expressivo dos partidos socialistas na
Europa.
Esse fenômeno produziu diferentes consequências. A primeira foi a reação conservadora
e restauradora, que reivindicava a manutenção da ordem tradicional frente às
reinvindicações e demandas insurgentes. O outro resultado foi a expansão de uma agenda
socialista independente e notoriamente crítica aos propósitos burgueses.
Nesta época, socialistas censuravam o comportamento político burguês que, por muitas
vezes, adiava processos revolucionários extremos e chegavam, até mesmo, a apoiar
abertamente os regimes conservadores e tradicionais. Esse tipo de dilema pode ser
identificado especialmente na periferia capitalista da época como, por exemplo, no
processo de Unificação Alemã liderado pela coalizão entre os liberais moderados e os
conservadores durante o período bismarckiano6 (Kitchen, 2015).
A “traição burguesa” (Saccarelli, 2015, p. 214) estimulou debates conectados na
Alemanha e na Rússia que encaminhavam orientação aos movimentos socialistas em
diversas regiões da Europa. Alguns dos resultados dessa discussão foram a reorientação
dos propósitos socialistas a favor da independência da classe trabalhadora e a ação voltada
para a construção de um processo revolucionário capaz de superar o sistema capitalista.
Os indivíduos que faziam parte da Liga Comunista realizavam críticas aos intelectuais
da época (em especial, no contexto alemão) que, segundo eles, haviam interpretado mal as
teorias sociais francesas e inglesas que definiam o comunismo negativamente7 em relação
ao socialismo (Townshend, 2013).
Marx e Engels sugeriram que
o objetivo da ação política exigia estar orientado à
“vitória final” do comunismo,
um processo que seria mediado pela transição de uma etapa socialista. O comunismo,
nesse sentido, é descrito como uma sociedade sem classes, onde não existiria a
necessidade do Estado e onde a propriedade privada seria completamente extinguida. O
socialismo, por sua vez, foi definido como a ditadura do proletariado, um processo em
que a estatização dos meios produtivos serviria como um momento gradual para alcançar
o ideal comunista. É nesse contexto que Marx e Engels reivindicam uma ação voltada para
a construção de um partido independente que não aceitasse a liderança política da
burguesia.
Todavia, as tentativas revolucionárias de 1848 não tiveram sucesso. Apesar dos
movimentos insurgentes, os governos estabelecidos conseguiram reprimir as agitações.
Devido a essa repressão política, tanto Marx quanto Engels foram forçados a se exilar,
primeiro em Paris e posteriormente em Bruxelas e Londres.
Apesardo fracasso, as tentativas revolucionárias conseguiram produzir um impacto
duradouro, especialmente devido à consolidação das ideias de Marx como principal fonte
intelectual dos movimentos socialistas e comunistas posteriores. São também as
experiências desse período uma das motivações para Marx aprofundar o projeto do
socialismo científico que procurava distinguir-se das propostas anteriores do socialismo
que Marx e Engels identificavam como utópicas.
Segundo Richard Pipes (2001), não há como definir uma fronteira rígida entre
socialistas e comunistas.8 De qualquer forma, podemos dizer que entre o fim do século
XIX e durante todo o século XX, os propósitos socialistas e os propósitos comunistas se
distinguiram de maneira mais evidente. Essa disputa atinge seu ápice no contexto da
Segunda Internacional Socialista (1889) nas discussões lideradas pelo Partido Social-
Democrata Alemão, especialmente pela atuação de Karl Kautsky.9 Essa ocasião deixou
explícita as tensões entre os reformistas e os revolucionários, e é nesse contexto que o
Partido Bolchevique, graças a Lênin, passou a liderar a formação de uma identidade
ideológica comunista distinta dos socialistas, que tornaram-se atores políticos mais
moderados na disputa por transformações sociais.
Outros autores, como Gramsci (na Itália) e Rosa Luxemburgo (na Alemanha) também
contribuíram para tal distinção entre reformistas e revolucionários, mesmo que não
necessariamente tenham se submetido de maneira absoluta ao programa leninista russo.
Contudo,
a autoidentidade comunista, durante o século XX, esteve
geralmente associada ao projeto político que consolidou a
União Soviética
e outras experiências históricas inspiradas da tradição Leninista como, por exemplo, o
processo revolucionário chinês.
AS DIFICULDADES DE ESTUDAR MARX
A influência de Marx é tanto intelectual como política, sendo muito difícil separar ambas
as esferas. É por esse motivo que, antes de tudo, é preciso esclarecer escolhas conceituais e
de vocabulário, para tentar evidenciar as diferenças entre o pensamento Marx dos seus
intérpretes autointitulados marxistas.10 Nesse sentido, tive a preocupação de limitar o
termo “marxista” à forma como as gerações posteriores interpretaram os textos de Marx.
Enquanto o uso do termo “marxiano” pretende referir-se ao pensamento de Marx
derivado dos textos originais.
Tendo em vista que a “tradição marxista”, que se desenvolveu especialmente depois da
morte de Marx, exigiria que eu fizesse uma minuciosa distinção entre autores que são
divergentes entre si, considero mais viável limitar o recorte do livro ao pensamento de
Marx, apesar de deixar parcialmente registradas as participações de Engels em algumas de
suas obras e atividades políticas. Mesmo escolhendo fazer esse recorte, não significa que
essa foi uma tarefa simples. Isso porque
Marx é um teórico amplamente discutido nos círculos
acadêmicos,
o que quer dizer que as pesquisas sobre o pensamento marxiano nem sempre estão em
consenso.
Outra dificuldade é que a análise ampla das obras de Marx precisa levar em
consideração que o seu pensamento muda como o passar do tempo. Como diria
Raymond Aron: “Marx nem sempre disse a mesma coisa sobre os mesmos temas” (Aron,
2003, p. 188). Para auxiliar em explicar essa diversidade, utilizo da definição de Louis
Althusser (2015), que considera que existe pelo menos dois Marx: o autor da juventude e
o autor da maturidade.
Em termos gerais, tal distinção significa que os textos da juventude de Marx expressam
considerações de cunho filosófico como, por exemplo, especulações sobre a natureza, a
condição humana e as limitações e potencialidades do sujeito na história. Quanto às obras
da maturidade, podemos encontrar estudos relacionados ao campo da economia política e
a sua clássica análise sobre o capitalismo. Apesar de tal distinção, vale ressaltar que o teor
materialista do pensamento de Marx é permanente durante toda a sua trajetória mesmo
que em diferentes níveis.
Essa definição é importante para que os estudos subsequentes dos leitores levem em
consideração a distinção entre o marxismo ocidental11 e o marxismo que se pretendia
ortodoxo.12 Não é verdade que a discussão do marxismo ortodoxo exclua completamente
as discussões filosóficas, nem que o marxismo ocidental negue completamente a
importância da análise das relações econômicas. Todavia, um dos motivos dessa distinção
ocorre porque textos como Ideologia alemã (2007) e Manuscritos econômicos e filosóficos
(2004) só vieram a público na década de 30, o que impactou profundamente as discussões
nos círculos marxistas fora da Rússia. O segundo motivo, é que essa tensão entre
neomarxistas e ortodoxos acompanha as críticas ocidentais aos caminhos que a
burocracia soviética tomou com o decorrer do tempo.
Dessa forma, espero que esse trabalho consiga equilibrar propósitos introdutórios sem
renunciar à inevitável complexidade do tema. Considero que
a discussão panfletária é vulgar e simplificadora,
assim como advogo a favor de que Marx não seja excluído dos estudos dos seus
potenciais antagonistas intelectuais ou políticos.
O
A CRÍTICA MATERIALISTA AO IDEALISMO ALEMÃO
O MATERIALISMO
pensamento de Marx precisa ser compreendido pela sua postura crítica; isso quer
dizer que a teoria marxiana pretende contrapor seus antecessores e construir um
programa teórico e metodológico autônomo. A crítica filosófica não consiste na simples
rejeição de ideias anteriores. Na verdade, a crítica analisa sistematicamente as premissas
de uma proposta teórica, assim como reflete sobre as implicações práticas e políticas da
tradição de pensamento em questão. Essa é a postura de Marx em relação ao idealismo
alemão, à filosofia política burguesa, aos socialistas utópicos13 e aos anarquistas.14 Por essa
razão, a influência de Hegel ou de Adam Smith no pensamento marxiano só pode ser
assimilada levando em consideração que, apesar de Marx absorver parte do arcabouço
conceitual desses autores, essa escolha não significou validar os pressupostos do idealismo
absoluto ou da economia política clássica.
O projeto teórico de Marx foi definitivo para marcar
uma ruptura no pensamento político e filosófico moderno,
e por esse motivo não é razoável presumir que existe uma relação linear entre os
pensadores anteriores e Marx. A proposta marxiana produziu críticas em diferentes
frentes — política, social e moral —; contudo, nesse primeiro contato com o pensamento
marxiano, é necessário assimilar que a sua principal crítica é de caráter teórico e,
especialmente, materialista.
O materialismo consiste numa concepção filosófica ampla, que afirma que a realidade
existe independente da consciência humana, que a matéria é uma condição concreta e que
o comportamento da matéria pode ser conhecido.15 Os idealistas, por sua vez, consideram
que o princípio de todas as coisas reside no espírito, na ideia, na consciência. Para fins
didáticos, o conhecido dilema entre materialismo x idealismo gira em torno das seguintes
questões:
• A matéria tem autoridade sobre as ideias ou o contrário?
• É possível produzir dados objetivos sobre ideias intangíveis?
• Existe relação entre a matéria e o conhecimento objetivo?
O materialismo proposto por Marx presume que a matéria tem primazia em relação à
mente, o que significa afirmar que as ideias não existem de maneira independente das
condições materiais. A intenção de Marx e Engels de desenvolver um projeto “científico”
frente às propostas do “socialismo utópico” é sustentado, primeiro, pelo pressuposto que
a realidade pode ser conhecida objetivamente
e, segundo, de que existe um intercâmbio entre a “matéria” e a “realidade objetiva”. Essa
proposta específica de materialismo não busca meramente descrever objetos concretos
isolados, mas sim conceber uma proposta teórica e metodológica capaz de explicar o
desenvolvimento histórico das relações sociais.
Apesar de autores como Popper (2002) e Weber (2014) questionarem o patamar
científico desta proposta, ironicamente, Marx foi a primeiro a colocarseu próprio projeto
teórico no centro da distinção entre “ideologia e verdade” (Outhwaite, 1996, p. 372). Isso
produziu efeitos irreversíveis na discussão sobre o que é conhecimento, tendo em vista
que Marx inaugura a ideia de que estar do “lado certo da história” — ser, portanto,
“científico” — significa estar subjugado ao entendimento marxista de verdade. Por essa
razão,
o programa do socialismo científico restringe a ciência a
um único caminho: o do materialismo histórico.
Essa postura muitas vezes justificou uma visão radical de reduzir qualquer proposta
divergente à mera ideologia.16
Em resumo, a teoria de Marx precisa ser entendida como uma crítica materialista aos
seus antecessores. O materialismo entende que existe uma primazia da matéria sobre a
mente. O específico materialismo proposto busca explicar o desenvolvimento histórico
das relações sociais. O programa teórico marxiano pretende ser científico por vincular o
conhecimento sobre a matéria com a realidade objetiva. Por fim, ironicamente, Marx
colocou o socialismo científico como uma espécie de critério de demarcação entre o que é
verdade e o que é ideologia, entre o que é factual e o que é utópico.
A RELAÇÃO ENTRE INFRAESTRUTURA E SUPERESTRUTURA
O materialismo presume que as ideias não existem de maneira isolada do mundo
material; isso implica em admitir que as ideias e instituições estão limitadas pelas
condições concretas de uma época. Por outro lado, são relações materiais, que configuram
a organização econômica em uma sociedade, que condicionariam os processos históricos
de transformação.
Em outras palavras, por mais que Marx admita que a economia e as instituições sociais
sejam interdependentes,
o Estado ou a religião não são capazes de ter autonomia
perante as condições econômicas.
A sociedade é, portanto, uma totalidade em constante mudança e, à medida que a
economia se desenvolve, ocorrem transformações nas instituições políticas, jurídicas,
religiosas e culturais.
Os conceitos de infraestrutura e superestrutura são fundamentais para entender a
relação entre a economia e instituições. A infraestrutura se refere aos aspectos econômicos
e materiais de uma sociedade, incluindo a organização da produção, as relações de
propriedade, as forças produtivas e as estruturas de classes.Enquanto a superestrutura é
um conceito que se refere tanto às instituições como o Estado, o direito e a religião;
quanto a formas de pensar como a cultura e os sistemas de valores.17
A superestrutura consiste na expressão das relações de produção e da organização
econômica em uma sociedade, entretanto, isso não significa que podemos concluir que a
superestrutura é apenas um reflexo passivo da economia. Um exemplo dessa questão é
que Marx admite que o Estado pode ter uma independência relativa; mas, por outro lado,
o Estado inevitavelmente é formado a partir de um
processo histórico subordinado às relações econômicas.
Em contrapartida, as mudanças nos modos de produção e nas relações produtivas, como
aconteceu na transição do feudalismo para o capitalismo, podem levar a alterações
fundamentais nas instituições, incluindo a forma de governo, as manifestações culturais e
as expressões religiosas.
Por essas razões, a instituições são capazes de agir sobre a manutenção das relações entre
as classes, mas não está nelas o lugar onde relações de poder podem ser transformadas
estruturalmente.18
Em resumo, o conceito de infraestrutura e superestrutura pretende explicar a conexão
entre as relações econômicas e as instituições sociais. A infraestrutura descreve as relações
socioeconômicas e os modos de produção. A superestrutura descreve as instituições como
o Estado e a religião, assim como expressões da consciência como a cultura. A
superestrutura não tem autonomia absoluta em relação à infraestrutura, o que não
significa dizer que essas instituições sociais são mero reflexo passivo da economia.
A INVERSÃO HEGELIANA
É por essa concepção materialista que em Manuscritos econômicos e filosóficos Marx
sugere que a filosofia hegeliana inverteu a relação entre a realidade material e as ideias.19
Isto é, em vez de ver a realidade material como a base fundamental para a existência das
ideias humanas, Hegel, de acordo com Marx, transformou o mundo real em uma mera
manifestação da ideia. A partir dessa crítica, Marx buscou corrigir o que ele chamou de
“inversão hegeliana” ao enfatizar a importância das condições materiais na compreensão
da sociedade e da história.
A filosofia hegeliana propõe investigar a natureza da consciência e como a consciência
se desenvolve ao longo do tempo.20 O conceito de “dialética” tenta descrever esse processo
que envolve o conflito e a reconciliação de ideias opostas, no qual a consciência passa por
estágios de desenvolvimento em direção a uma compreensão mais rica e complexa.
A dialética é o princípio que impulsiona o
desenvolvimento e a transformação das ideias e da
realidade.
Dessa forma, Hegel observa, a partir da história da filosofia, como as categorias, noções
ou formas de consciência surgem umas das outras, formando a totalidade cada vez mais
inclusiva e racional.21 Em outras palavras, a verdade está no todo e o erro está na
particularidade e na simplificação. A dialética, portanto, progride trazendo luz ao
implícito e reparando as ausências ou inadequações nas ideias.
O problema da dialética se apresenta no pensamento de Marx a partir de três aspectos:
a) como um conjunto de leis que governam a realidade; b) como um método para
conhecer a realidade; c) como a interação conflituosa das forças sociais no próprio
processo histórico (Bottomore, 1988).
Dessa maneira, enquanto para Marx a realidade está nas concretas relações sociais de
produção, sendo a tensão entre infraestrutura e superestrutura um processo permanente
de conflito capaz de fabricar as transformações históricas. Para Hegel, a realidade era
moldada por um processo infinito de contradições entre ideias opostas e reconciliação
dessas ideias, produzindo assim uma nova concepção mais elevada que irá ser
confrontada novamente.
O MATERIALISMO HISTÓRICO-DIALÉTICO
Marx enfatiza a objetividade e a independência da realidade em relação ao conhecimento
subjetivo. Isso quer dizer que a tentativa de Marx de produzir um projeto científico está
de acordo com a proposta de que a realidade pode ser conhecida, que a realidade está em
conexão com a matéria e que a realidade é independente do sujeito observador.
Diferente do idealismo,
Marx reconhece a existência independente dos objetos
materiais, defendendo o realismo deste objeto.
No entanto, diferente do empirismo, afirma que a verdade científica não pode se limitar
pela experiência sensível, pois a experiência pode nos levar a crer que as aparências
enganosas das coisas são a verdade. Dessa forma, o materialismo-histórico-dialético
consiste em uma proposta teórica que enfatiza a cientificidade e a historicidade do
conhecimento, e que busca investigar como as relações sociais e econômicas definem a
produção em uma sociedade, identificando as classes sociais e seus respectivos papéis na
organização produtiva.
Ao utilizar uma abordagem dialética para compreender a dinâmica e as contradições
presentes nas relações de produção e nas transformações históricas,
Marx reconhece a luta de classes como um motor
fundamental das mudanças sociais.
A história, portanto, é um processo constante, marcado por contradições e conflitos.
As mudanças nas estruturas sociais ao longo do tempo, por sua vez, podem ser
analisadas a partir das transformações dos arranjos organizacionais e as relações de
produção predominantes em uma sociedade em determinado período histórico, o que foi
chamado por Marx de modos de produção.
Essa análise histórica é capaz de identificar diferentes modos de produção como, por
exemplo, o modo de produção feudal baseado no trabalho servil e na propriedade da
terra; ou o modo de produção do capitalismo baseado no trabalho assalariado e na
propriedade privada dos meios produtivos. De certo modo,esse tipo de pesquisa
produziu “modelos ideais” de diferentes tipos de sociedade baseado na identificação dos
diferentes padrões de relações produtivas:
• Sociedade primitiva: Identificada como a forma mais antiga de organização social. Nessa fase, a propriedade é
comum a todos e as relações de produção são baseadas na coletividade e na subsistência. Não há uma divisão
estruturada do trabalho ou exploração sistemática.
• Sociedade escravista: Nessa forma de sociedade, a propriedade privada emerge, e a exploração ocorre por meio da
escravidão. Uma classe dominante de proprietários de escravos controla os meios de produção, enquanto a classe
escravizada é explorada e forçada a trabalhar sem possuir esses meios de produção.
• Sociedade feudal: O feudalismo é caracterizado pela relação entre senhores feudais e camponeses. Os senhores
feudais possuem as terras e exercem controle sobre os camponeses, que trabalham na terra em troca de proteção e
sustento. As relações sociais são organizadas em torno de laços de vassalagem e obrigações feudais.
• Sociedade capitalista: O capitalismo é a forma de sociedade predominante na época de Marx e Engels. Nesse tipo de
sociedade os meios de produção são baseados na propriedade privada e controlados pela burguesia capitalista. A
exploração ocorre por meio da relação entre capital e trabalho assalariado, onde os trabalhadores vendem sua força de
trabalho para os capitalistas em troca de salário.
• Sociedade socialista/comunista: Marx e Engels vislumbram a superação do capitalismo em direção a uma sociedade
socialista e, posteriormente, comunista. No socialismo, os meios de
produção serão estatizados e gradualmente a exploração será eliminada. No comunismo, as classes sociais são
abolidas, e a propriedade é comum com uma distribuição equitativa dos bens e recursos.
Assim, a teoria de Marx sobre a relação entre história e revolução parte de sua análise de
diferentes tipos de sociedade, sendo a história um processo que pode ser tanto explicado
como previsto a partir da análise materialista das contradições internas presentes em uma
configuração socioeconômica.22
Isso significa que o materialismo histórico-dialético não só pretende ser um método
capaz de caracterizar modelos de sociedades passadas e explicar o funcionamento do
capitalismo presente na época de Marx, mas é também
uma filosofia do devenir histórico
(Aron, 2008, p. 198) que muitas vezes não distingue com nitidez a fronteira entre a
análise do sistema e a previsão sobre o seu desenvolvimento, sendo essa característica um
dos aspectos que qualifica o tom profético dos textos de Marx.
A
A CRÍTICA À FILOSOFIA POLÍTICA BURGUESA
A REVOLUÇÃO BURGUESA
consideração de que as mudanças históricas ocorrem a partir de rupturas
revolucionárias talvez seja um dos traços mais característicos da tradição marxista
como um todo.23 Essa suposição de que a transformação social acontece mais por rupturas
que por continuidades não é apenas um pressuposto teórico, mas é também uma
presunção que inspira formas de ação motivadas a alcançar condições para mudanças
dramáticas em detrimento do engajamento voltado aos processos fragmentados de
reformas graduais. A revolução, portanto, seria um ato de transformação radical, no qual
as antigas estruturas sociais seriam derrubadas e uma nova ordem social seria
estabelecida.
Especificamente sobre o capitalismo, Marx argumenta que, à medida que este modo de
produção se desenvolve, as contradições se aprofundam, resultando em crescentes
desigualdades, injustiças sociais e empobrecimento da classe. Deste modo,
a revolução é o ponto culminante desses processos de
contradições, sendo a oportunidade de a classe oprimida,
consciente de sua condição de exploração, se unir e se
levantar contra a classe dominante.
Assim foi o processo que consolidou o modo de produção capitalista que substituiu o
modo de produção feudal. A revolução burguesa na França foi um momento histórico de
intensa agitação social e política, derivado das contradições do sistema feudal que
tornaram o arranjo social insustentável.
O modelo social do Antigo Regime, baseado na aristocracia feudal e no poder absoluto
do monarca, estava em conflito com as aspirações e necessidades da burguesia emergente,
bem como das massas populares. Por esse motivo, a crescente exploração e opressão das
classes produtivas (incluindo os camponeses), aliadas às restrições impostas pelo sistema
feudal, criaram as condições materiais para a transformação. Contudo, esse processo é
duramente criticado por Marx, à medida que resultou na ascensão dos interesses de uma
minoria organizada (a classe burguesa) que após a revolução ascende ao poder e submete
as massas populares ao domínio dos seus interesses particulares.
Se por um lado Marx observa que a revolução teve o mérito de produzir alguns avanços
significativos como a abolição dos privilégios aristocráticos e consolidação do modo de
produção industrial, por outro lado, ele também critica o fato de que essas conquistas
burguesas mantiveram as desigualdades socioeconômicas. Marx acusa que a ascensão da
burguesia ao poder político, na realidade, criou um véu alienante de uma suposta
igualdade e liberdade ilusória que esconde uma nova forma de exploração a ser
desvendada pelo materialismo histórico-dialético.
Dessa forma, a revolução burguesa foi um processo que consolidou o modo de produção
capitalista que substituiu o modo de produção feudal. Entretanto, a revolução burguesa
foi uma revolução que aconteceu representando apenas os interesses de uma pequena
classe que, depois da superação do Antigo Regime, passou a preservar seus interesses
mantendo relações opressoras às massas populares.
IDEOLOGIA E FALSA CONSCIÊNCIA
Para Marx, a busca por mudanças nas concepções ideológicas é insuficiente para a
construção de um horizonte revolucionário. A consciência, apesar de fazer parte da
organização política das classes, não é capaz de sozinha produzir mudanças estruturais,
pois o processo revolucionário também depende das condições materiais, especialmente
das transformações das forças produtivas (o que inclui a tecnologia, organização do
trabalho e recursos naturais disponíveis).24 Entretanto, nos estudos da juventude, Marx
está preocupado em discutir como a ideologia pode ser um mecanismo de controle e
manutenção do status quo.
A ideologia corresponde a um conjunto de ideias, concepções políticas, filosóficas,
religiosas e morais. Todavia, a ideologia, apesar de ser uma espécie de consciência, não
consiste em um pensamento subjetivo e individual. A ideologia está subordinada a uma
condição de classe (determinada material e historicamente) e, por isso,
sempre é coletiva.
Nas obras da juventude o tema da ideologia aparece como uma espécie de ilusão, por
inverter o caráter das coisas ao considerar que a consciência determina a realidade
material.25 Essas são as razões que fazem Marx considerar que a filosofia burguesa, e,
portanto, a ideologia da classe dominante, tem como objetivo falsear a natureza das
relações sociais a fim de contribuir para a manutenção da sua condição de poder. Por
conseguinte, trata-se de uma filosofia “alienante” que “esconde” as relações de exploração
por defender que a consciência do sujeito é autônoma das condições materiais
determinadas historicamente.
A segunda fase da discussão, conhecida como fase de transição (1845–1857), é o período
em que identificamos o processo de construção do materialismo-histórico. Nas obras
dessa fase, a crítica à falsa consciência será abandonada e o conceito de ideologia será
apresentado explicitamente pela primeira vez em A ideologia alemã. A crítica sobre a
inversão na relação entre consciência e realidade material permanece, mas Marx aponta
sua crítica especificamente à atuação política e intelectual dos “jovens hegelianos”, que
consideravam que o meio de ação para a transformação seria “libertar o homem das suas
ilusões”. Em contrapartida, Marx e Engels concluem que os verdadeiros problemas da
sociedade não estãona consciência, mas nas contradições sociais que são materiais e, por
isso, verdadeiras.
A terceira fase da análise sobre a ideologia corresponde ao desenvolvimento da obra O
Capital, fase mais madura do pensamento de Marx. Nesse momento, a palavra ideologia
praticamente desaparece; todavia, o sentido de ideologia passa a fazer parte da própria
realidade do capitalismo devido à manifestação invertida da esfera de produção no
funcionamento das relações no mercado (O Capital, III, cap. XII). Em outras palavras,
é próprio da realidade do capitalismo esconder as
contradições das relações econômicas,
deste modo, o mercado (circulação de mercadorias e competição) vira fonte da ideologia
burguesa (Bottomore, 1998, apud Capital, I, cap. VI).
A alienação é como uma consequência inevitável das relações de produção capitalistas,
nas quais o trabalho humano é subordinado à lógica do lucro e da acumulação de capital.
No capitalismo, as relações sociais entre os indivíduos são mediadas pelas relações de
mercado, onde prevalecem a competição e o individualismo. Isso leva à alienação das
relações humanas genuínas, onde as pessoas são tratadas como concorrentes ou como
meios para atingir fins econômicos. Marx argumenta que a alienação no capitalismo leva
à perda da essência humana dos indivíduos. Ao serem privados do controle sobre sua
própria vida e trabalho, eles perdem a capacidade de se autodeterminarem e de
desenvolverem plenamente suas habilidades e potencialidades.
É nesta ocasião que a discussão sobre o “fetichismo da mercadoria” é desenvolvida.
O conceito de “fetichismo” descreve a maneira como as
relações sociais e econômicas no capitalismo são
obscurecidas, transformando as relações entre pessoas em
relações entre coisas.
Para Marx, no capitalismo, as pessoas tendem a atribuir um valor intrínseco às
mercadorias, como se o valor delas viesse de suas próprias características naturais e não
do trabalho humano. Essa espécie de alienação leva a uma inversão das relações sociais,
ocultando as condições reais de produção no capitalismo como um sistema baseado nas
relações de exploração.
Dessa forma, a noção de ideologia como “falsa consciência” não consiste em um simples
erro individual, mas sim numa distorção específica. Essas alienações ocorrem
especialmente no sistema capitalista que esconde as contradições produzidas pela luta de
classe e transforma a exploração e a desigualdade em categorias pretensamente universais.
É essa condição alienante uma das explicações para a manutenção das relações de
opressão e desigualdade.
Todavia, apesar de Marx e Engels considerarem que a consciência de classe possui um
papel para a manutenção da ordem política e econômica dominante, isso não quer dizer
que a ação política centralizada nas mudanças das “formas de pensar” é capaz de produzir
uma mudança definitiva nas relações de exploração. A ideologia serve para legitimar e
justificar as relações de poder e dominação presentes nas estruturas sociais, entretanto, a
mudança histórica não ocorre pela ação política que busca mudança das ideias.
O PROBLEMA DA ALIENAÇÃO
Em A ideologia alemã, Marx e Engels desenvolvem uma crítica abrangente às filosofias
idealistas e materialistas da época, incluindo a filosofia de Feuerbach26 . Mesmo que
Feuerbach tenha também criticado fortemente o idealismo, argumentando que a filosofia
idealista estava alienando a humanidade ao desviar o foco da realidade material e das
experiências concretas do ser humano, Marx, ainda assim, contesta a abordagem de
Feuerbach ao materialismo, argumentando que o filósofo alemão não levou em
consideração adequadamente as condições sociais e históricas que moldam a consciência.
Feuerbach argumenta que a religião e a filosofia tradicional colocavam Deus e a ideia
como fundamentos da realidade, negligenciando o ser humano real e suas necessidades
terrenas. Em outras palavras,
a religião seria uma projeção das qualidades e desejos
humanos em um ser divino imaginado,
uma forma de alienação, em que a humanidade atribui a Deus as características e
poderes que, na verdade, pertencem a ela mesma. Nesse sentido, uma forma de se
emancipar dessa existência alienada é reconhecer e afirmar a natureza humana em toda a
sua plenitude.
Marx, por sua vez, afirma que Feuerbach errou ao considerar o indivíduo como um ator
isolado, sem pensar devidamente nas relações sociais e nas estruturas econômicas,
produzindo, assim, uma filosofia que permanece presa em uma abstração contemplativa,
sem considerar a ação concreta e transformadora da realidade. Apesar de Feuerbach
defender que a religião é uma forma de alienação decorrente das contradições e das
condições materiais da sociedade, Marx procura ir além dessa análise, conectando a
alienação religiosa à alienação social e propondo uma reflexão mais profunda das
estruturas econômicas e sociais que perpetuam a exploração e a desigualdade.
Marx via a alienação como um produto das contradições das relações sociais no sistema
capitalista e, por essa razão, acusou Feuerbach de ter sugerido uma filosofia contemplativa
e abstrata que não levava em conta a prática e a transformação da realidade,
argumentando que a verdadeira compreensão da realidade só poderia ser alcançada por
meio da ação política concreta e engajada.
A discussão sobre a religião nos escritos da juventude ainda é devedora da influência de
Feuerbach, por isso, aparece como uma espécie de distorção da realidade que serve para
impedir a consciência sobre as contradições em uma sociedade de classes, escondendo as
relações de conflito e de dominação. Contudo, o tema da religião acaba, por vezes, sendo
reduzido à famosa frase
“a religião é o ópio do povo”,
escondendo uma certa complexidade ou, pelo menos, uma certa variação das
abordagens sobre o tema no decorrer do desenvolvimento da teoria marxiana.
Deste modo, a segunda abordagem sobre o tema da religião nas obras de Marx faz
referência à crítica produzida aos jovens hegelianos em A ideologia alemã. Considerando
que a esquerda hegeliana, na época, afirmava que a mudança social dependia da mudança
da consciência dos indivíduos, a crítica materialista de Marx irá apontar no sentido
oposto ao idealismo. Sendo a religião um elemento imaterial que não tem autonomia em
relação às condições materiais, agir sobre a religião não alteraria as relações de dominação
que se formam materialmente. Dessa forma, Marx não escolheu a religião como foco de
ação política. Inclusive, depois de A ideologia alemã. Marx deu pouca atenção ao tema da
religião especificamente, tendo em vista que nas obras maduras de Marx a religião irá ser
tratada como uma das diversas forma de ideologia assim como a ética, a cultura e a
filosofia (Löwy, 1989).
Em síntese, a emancipação de uma vida alienada depende de uma transformação
profunda das estruturas socioeconômicas que são reais e concretas e não contemplativas e
abstratas. O tema da alienação e da ideologia, apesar das distinções internas dentro do
pensamento marxiano, consiste em uma reflexão crítica sobre aspectos contraditórios e
injustos na sociedade capitalista estimulando, assim, um engajamento verdadeiramente
capaz de superar as condições opressoras historicamente constituídas.
SOBRE O ESTADO BURGUÊS
A teoria de ideologia de Marx é, na verdade, uma dura crítica à filosofia moderna e liberal
e, especialmente, às instituições e conceitos jurídicos produzidos a partir dessa tradição
como, por exemplo: o Estado Moderno, a soberania, o direito natural, a liberdade, a
igualdade perante a lei, a legitimidade da autoridade política, a democracia representativa
e a legalidade.
A discussão sobre o Estado na teoria marxiana geralmente desperta controvérsias.
Considerando que partidos no campo da esquerda tendem a ser favoráveis ao modelo de
Estado centralizador, essa constatação, por mais que verdadeira, não pode ser
compreendida como um resultado imediato dos textos originais de Marx.
Apesar desse tipo de erro ter suas razões — tendo em vista que a teoria social marxista
inspirouprocessos revolucionários que produziram um modelo ditatorial de Estado —
o pensamento de Marx não oferece uma teoria sistemática
sobre o Estado.
Isso não quer dizer que não podemos encontrar considerações sobre esse tema de
maneira destacada nos textos originais.
Em termos gerais, a concepção marxista do Estado representativo burguês mantém um
tom estritamente crítico. O Estado é uma superestrutura e, por isso, não existe de maneira
independente das condições sociais e econômicas. A partir desse raciocínio, Marx
considera que o desenvolvimento da indústria moderna foi responsável pela formação de
um tipo específico de Estado, que passou a ser detentor exclusivo do poder político e da
administração dos mercados internacionais.
A evolução do capitalismo não só implicou no desenvolvimento da produção de
mercadorias e na expansão do comércio, como também produziu novas instituições
jurídicas capazes de proteger os interesses da classe burguesa emergente que mobilizou,
através do Estado, políticas protecionistas que os protegiam dos competidores
internacionais, leis que beneficiavam monopólios e conquistas de privilégios assegurados
pelo direito de propriedade. Dessa forma,
o Estado consiste em um escritório de administração
dos interesses burgueses,
sendo as promessas de uma liberdade através da democracia representativa fruto de uma
ilusão interessada da classe dominante disposta a perpetuar as relações de exploração.
Apesar da frágil concepção marxista original sobre o Estado Moderno, sua teoria
mantém coerência ao admitir que mesmo que o Estado Absolutista tenha obtido recursos
através da emergente classe produtiva burguesa, é exatamente esse processo histórico
econômico (em que a burguesia passa a deter o controle dos meios de produção) o
principal elemento para compreender os motivos que levaram o modelo Absolutista ser
superado pelo Estado burguês.
Essas considerações não esgotam o assunto do Estado na tradição política e intelectual
marxista posterior. Na verdade, essa discussão ocupou um lugar muito mais relevante
entre os marxistas durante o século XX, sendo um assunto recorrente, apesar de
diferentes formas, nas obras de Lênin, dos austromarxistas, dos neomarxistas e do
marxismo estrutural.
Ainda que o tema do Estado não seja central nos textos originais, o projeto
revolucionário proposto por Marx e Engels incluiu o Estado na condução da
transformação social pós-capitalista. A aposta da tomada do poder político e a estatização
dos meios produtivos estão relacionadas, em grande medida, com as previsões do colapso
do sistema capitalista. Contudo, o papel do Estado para a revolução foi especialmente
questionado pelos anarquistas como Bakunin (1989), personagem importante na disputa
com Marx pelo controle da Primeira Internacional.27
Um dos principais focos das críticas de liberais, libertários e conservadores é que a
apropriação estatal dos meios produtivos não é um processo que irá aniquilar as
desigualdades, mas sim é um processo que irá aprofundar relações de coerção a partir da
concentração de poder e recursos nas mãos de uma classe partidária.
A comum explicação do ponto de vista de alguns marxistas é que
um Estado socialista, que corporifica os interesses
proletários, supostamente é capaz de distribuir os recursos
de maneira mais justa e “garantir os direitos fundamentais
dos trabalhadores”
por serem a expressão de uma nova etapa da história. Isso quer dizer que a promessa
revolucionária proporciona uma transformação geral na sociedade, reconfigurando,
assim, não só as relações socioeconômicas, mas também transformando a natureza das
instituições políticas.
Portanto, a revolução implica na superação tanto do modo de produção capitalista
quanto das instituições burguesas que dele decorrem.
O socialismo, chamado por Marx e Engels de ditadura do
proletariado, é um estágio transitório para a construção de
uma sociedade comunista superior.
O Estado burguês é um produto das contradições de classe na sociedade capitalista, que
serve como um mecanismo de coerção da classe dominante sobre a classe dominada. Em
uma sociedade sem classe como a sociedade comunista, o Estado supostamente perderia
sua importância.
Nesse entendimento profético, estima-se, portanto, que a estatização dos meios de
produção será capaz de eliminar gradualmente tanto a exploração quanto a necessidade
do Estado. Dessa forma, a sociedade comunista é vagamente descrita como uma sociedade
sem Estado em que as classes sociais são abolidas, a propriedade dos meios produtivos é
comum a todos e a distribuição dos bens e dos recursos é amplamente igualitária.
O
CRÍTICA SOCIOECONÔMICA AO CAPITALISMO
O TRABALHO E A EVOLUÇÃO DA TÉCNICA
que nos faz humanos? A reflexão ontológica28 sobre o que define o ser humano
consiste em uma das perguntas mais frequentes da filosofia e da antropologia. A
discussão sobre a natureza humana geralmente parte do pressuposto de que todos os
indivíduos partilham de características em comum. Por outro lado, essa discussão
frequentemente tem caráter metafísico, o que para Marx demonstra, na verdade, o caráter
ideológico e não científico do debate. Diante deste argumento, a concepção de Thomas
Hobbes (2014) sobre a natureza humana como uma natureza violenta, envolve a
construção de um Estado natural hipotético que não pode ser verificado, sendo tal teoria
reflexo de interesse de classe que buscam legitimar posições políticas dominantes.
Desse modo,
Marx não desenvolveu uma teoria sistemática sobre a
natureza humana,
porém instigou uma discussão crítica às teorias clássicas ao direcionar o entendimento
sobre a condição humana a um conceito dinâmico e histórico. O que nos faz humanos é a
capacidade de produzirmos nossas próprias condições de existência, o que aponta para
uma prática humana consciente (a práxis) capaz de transformar a natureza para
contemplar suas necessidades.
O conceito de “práxis” se refere à interação dinâmica entre teoria e prática, ou entre
ação e reflexão. A práxis é a atividade humana consciente e transformadora, na qual as
pessoas não apenas refletem sobre o mundo, mas também o transformam por meio de sua
ação. A natureza, por sua vez, existe de maneira independente. Contudo, para a
humanidade a natureza só ganha significado através da relação com o trabalho humano
que é capaz de transformá-la.
Essa discussão sobre a relação entre natureza humana e natureza abriu um debate
interminável entre os marxistas que, grosso modo, se dividem em dois grupos: a posição
do socialismo soviético, que rejeita a concepção de natureza humana, mas reforça a
relação instrumental entre atividade do trabalho e transformação da natureza. E a
segunda, em oposição ao socialismo soviético, do humanismo neomarxista que coloca a
discussão sobre a natureza humana como um dos pontos dos seus debates teóricos.
A concepção neomarxista questiona o determinismo
histórico rígido do socialismo real e constrói teses que
reforçam a capacidade emancipadora dos seres humanos,
que só é possível porque existem capacidades humanas universais como os sentidos, a
comunicação simbólica (produção da cultura), a linguagem e assim por diante.
Portanto, o trabalho é ontológico, mas a força de trabalho é um processo histórico e
social, isto é, a questão sobre o trabalho na obra de Marx tem “duplo caráter” (Bottomore,
1988, p. 383). A “atividade de trabalho” é a condição eterna da existência humana,
enquanto a força de trabalho é o uso dessa capacidade inerente dos seres humanos para a
produção de bens e serviços.
A antropologia marxista, ao relacionar a natureza humana ao conceito práxis, concebe
uma análise sobre a formação das sociedades como resultado da ação consciente e
intencional capaz de transformar a realidade através da evolução da técnica, da produção
e da interação. Deste modo,
o trabalho é uma atividade fundamental para a evolução
da técnica, e a evolução da técnica é fundamental para que
os humanos sejam capazes de moldar o mundo a partir das
suas próprias necessidades.
Entretanto,a evolução da técnica para Marx pode assumir uma percepção dual:
entusiasmada e crítica. Se por um lado Marx reconhece que o modo de produção
capitalista foi responsável por um progresso civilizatório inegável. Por outro, o ápice do
estágio civilizatório que a sociedade industrial atingiu só foi possível graças ao trabalho
alienado e, portanto, sustenta-se a partir da exploração e desumanização da classe
proletária. Podemos concluir, dessa forma, que a história do capitalismo é indissociável
dos conflitos de classe e das relações de exploração.
O senso comum sobre a teoria marxista pode incorrer no erro de que Marx e seus
intérpretes, de alguma maneira, opunham-se politicamente ao progresso e à tecnologia.
Essa não é uma verdade, pois suas predições futuras em relação ao comunismo,
absolutamente, não estão de acordo com um ideal de comunismo primitivo e, por isso,
pré-moderno.
Contudo, em Manifesto do Partido Comunista, seu tom oscila entre o reconhecimento
do sentido evolutivo do capitalismo em comparação com as formas anteriores de
sociedade e entre um tom crítico (e por vezes trágico) quando acusa que a sociedade
burguesa reduziu os laços familiares a relações objetificadas pelo dinheiro.
Essa dualidade, definitivamente, demonstra um certo reconhecimento do paradoxo em
que o capitalismo incorre: a industrialização torna possível altos níveis de bem-estar
tecnológico, entretanto, esse grau de tecnologia só existe porque está sustentado por uma
história de
exploração da classe proletária
e na distribuição desigual da riqueza produzida pelo trabalhador.
Portanto, o trabalho é aquilo que permite que seres humanos produzam suas condições
materiais de existência a partir de uma relação criativa e instrumental com a natureza. O
capitalismo consiste em um estágio histórico superior quanto à evolução da técnica,
entretanto, essa evolução coexiste com o aprofundamento das desigualdades sociais. Em
outras palavras, Marx identifica um paradoxo: ao mesmo tempo que sociedade industrial
elevou o progresso tecnológico de maneira inédita na história, essa evolução ocorre
porque é sustentada por relações de exploração da classe proletária que, apesar oprimida,
é a classe que verdadeiramente produz a riqueza apropriada pela burguesia dominante.
PROPRIEDADE E LUTA DE CLASSES
A evolução da técnica é um processo fundamental para que sociedades sejam capazes de
superar as limitações impostas por uma economia de subsistência. Neste tipo de
configuração não há possibilidade de existir excedente, pois a produção realizada é apenas
capaz satisfazer as necessidades básicas de consumo da própria família ou comunidade. A
economia de subsistência difere do sistema de produção para o mercado, onde a produção
é feita com o objetivo de vender produtos excedentes para obter renda e lucro.
A origem da propriedade privada está ligada a essa transformação e refinamento das
forças produtivas e das relações de produção ao longo da história que tornou possível a
existência do excedente. Assim, no decorrer deste processo histórico, o excedente tornou
necessário a organização de condições de armazenamento e o aprimoramento das
relações de troca. Essa condição resultou na
apropriação privada dos meios de produção por parte
de alguns indivíduos ou grupos.
Essa apropriação, por sua vez, dissolveu o sentido coletivo da divisão social do trabalho
que existia nas sociedades pré-modernas.29
Para os liberais clássicos como Smith (2023), é a divisão social do trabalho que organiza
as relações produtivas da sociedade, o que torna possível a interdependência entre
indivíduos e a evolução da técnica através da especialização do trabalho.30 Dessa forma, a
concepção burguesa da divisão social do trabalho considera que as relações produtivas
modernas são responsáveis não só pelo progresso econômico, mas também pela
construção de um tecido social solidário, cooperativo e pacífico.
De maneira geral, a partir da divisão social do trabalho, os interesses individuais não
estão em antagonismo imediato com o progresso coletivo, pois é a interdependência
econômica a engrenagem responsável pela solidariedade em uma sociedade complexa.31
Portanto, para o pensamento burguês, a propriedade privada é um instrumento
civilizatório capaz de proteger o direito individual, racionalizar a alocação de recursos e
permitir que uma sociedade pacífica de contratos se concretize.
Para a tradição marxista, o contrário:
está na propriedade privada a origem de uma sociedade
de classe e, por isso, das relações de conflito, de dominação
e de exploração.
É o processo que resultou na apropriação exclusiva dos meios de produção e na
acumulação do lucro que dissolveu os laços coletivos nas sociedades tradicionais. Isso
quer dizer que a divisão do trabalho não só implica a divisão das pessoas em especialistas,
mas também a divisão das pessoas em classes.
A forma dominante de propriedade em uma determinada época histórica é sempre a
expressão da relação dominante de produção, ou seja, das relações sociais através das
quais os indivíduos se apropriam dos meios de produção e trocam os produtos. A forma
de propriedade, portanto, não é apenas um aspecto externo e aparente, mas reflete as
relações fundamentais que determinam a estrutura e o funcionamento de uma
determinada sociedade.
A teoria que explica a origem e desenvolvimento da propriedade privada é talvez um dos
elementos mais importantes para a compreensão da crítica social ao capitalismo, pois há
uma relação causal entre a forma de propriedade e a distribuição do poder em uma
sociedade. Isso quer dizer que a propriedade no pensamento marxiano não é um objeto,
não é um instrumento jurídico e muito menos um direito. É, na verdade, um conceito
relacional e histórico que explica a origem da sociedade de classe e, por isso, de uma
sociedade em que os interesses privados estão em conflito com os interesses coletivos.
EXPLORAÇÃO E MAIS-VALIA
A teoria da exploração, conhecida também como teoria da mais-valia, constitui a base de
toda a construção sociológica marxista (Durand, 2009). Marx se deparava com perguntas
aparentemente simples: Como provar que é o trabalho assalariado dos homens que gera
lucro para o capitalista? Como evidenciar o processo pelo qual um valor inicial (antes da
jornada de trabalho) se transforma em um outro valor após a jornada de trabalho? Para
abordar essa questão, Marx propõe-se começar por explicar a natureza da mercadoria.
A mercadoria é definida como “uma coisa externa, uma coisa que, pelos seus atributos,
satisfaz necessidades humanas de qualquer espécie” (O Capital, I, I, p. 49). O valor de uma
mercadoria não é simplesmente determinado pelo custo dos materiais utilizados na sua
produção, mas sim pelo trabalho humano necessário para produzi-la32 . Por ser uma
entidade complexa, a mercadoria possui tanto um valor de uso, relacionado à sua
utilidade para satisfazer necessidades humanas, quanto um valor de troca, que determina
sua capacidade de ser trocada por outras mercadorias através do dinheiro.
No capitalismo, a força de trabalho é tratada como uma mercadoria, sendo comprada e
vendida no mercado como qualquer outra. Os trabalhadores, ao venderem sua força de
trabalho aos capitalistas, tornam-se assalariados.
A força de trabalho possui um valor de uso, determinado pela habilidade,
conhecimento, experiência e capacidade física e mental do trabalhador, que são essenciais
para produzir bens ou serviços.
O valor de troca da força de trabalho, por sua vez, está ligado ao custo de reprodução da
vida do trabalhador, ou seja, o tempo médio que é necessário para produzir os meios de
subsistência (alimentação, moradia, vestuário etc.) suficientes para que o trabalhador
possa continuar a trabalhar.
O salário é a forma monetária que representa o valor de
troca da força de trabalho no mercado.
Isto é, os capitalistas pagam aos trabalhadores um valor equivalente ao custo de
reprodução da força de trabalho, mas os trabalhadores produzem o valor adicional que é
chamado de mais-valia. É a apropriaçãodessa mais-valia pelos proprietários dos meios de
produção que gera o lucro e sustenta o sistema capitalista.
Em outras palavras, no processo de produção capitalista, os trabalhadores vendem sua
força de trabalho em troca de um salário. No entanto, o valor da força de trabalho, ou seja,
o valor necessário para reproduzir as condições básicas de vida do trabalhador, é menor
do que o valor total produzido durante a jornada de trabalho.
A diferença entre o valor total produzido pelo trabalhador e
o valor pago a ele como salário é a mais-valia.
Essa mais-valia é apropriada pelo capitalista como lucro, representando uma forma de
exploração econômica. Marx argumenta que a mais-valia é a fonte fundamental para o
enriquecimento da classe dominante e para a acumulação de capital.
O COLAPSO DO CAPITALISMO
A proposição que prevê a autodestruição do regime capitalista consiste nas afirmações em
torno do problema da proletarização e pauperização da classe trabalhadora.
A tese sobre a proletarização afirma que à medida que o regime capitalista se desenvolve,
a classe proletária cresce quantitativamente, pois as classes intermediárias são absorvidas
pelo processo de proletarização. A pauperização, por sua vez, consiste em um processo de
empobrecimento generalizado da classe proletária. Ou seja, apesar do desenvolvimento do
sistema capitalista e especialização dos meios produtivos, as condições de vida da classe
proletária tendem a se tornar cada vez piores.
Esse dilema se expressa na contradição inerente entre as forças produtivas e as relações
de produção. Essas contradições surgem da tensão entre o desenvolvimento das forças
produtivas, que englobam os meios de produção, a tecnologia, a capacidade produtiva e a
organização do trabalho, e as relações de produção, que envolvem as formas de
propriedade, a divisão do trabalho e as relações sociais de exploração.
Para Marx, as forças produtivas têm uma tendência natural a se desenvolver e avançar,
impulsionadas pela busca de eficiência e produtividade.
Isso envolve a introdução de novas tecnologias e o aumento da automatização. No
entanto, as relações de produção capitalistas, baseadas na propriedade privada dos meios
de produção e na exploração da classe trabalhadora, limitam o potencial pleno e
harmonioso das forças produtivas.
Essas contradições podem se manifestar de várias formas. Tal como
a introdução de tecnologias avançadas e a automação
podem levar à substituição de trabalhadores por máquinas,
resultando em desemprego da classe trabalhadora e a impossibilidade da melhoria de
vida do trabalhador a partir do aumento dos seus salários.
Sendo a essência do capitalismo o lucro que é resultado da exploração da classe
trabalhadora, a necessidade de manter as taxas de lucro dos capitalistas nesse sistema
altamente competitivo, obriga que sejam mantidas e aprofundadas as relações de
exploração do trabalho.
Dessa forma, o processo de proletarização (amplificação da extensão da classe operária)
e processo de pauperização (vulnerabilização das condições de trabalho) resultará,
inevitavelmente, na revolta das massas que serão, nesta ocasião, protagonistas para um
novo tipo de sociedade.
POR QUE A REVOLUÇÃO?
O que podemos concluir é que a crítica socioeconômica de Marx reconhece que o
desenvolvimento do sistema capitalista é, ao mesmo tempo, uma história de progresso
econômico, mas também uma história de inegáveis prejuízos morais e desumanização,
pois aliena quem produz do resultado da sua própria força de trabalho.
Por conseguinte, as contradições do capitalismo introduzem uma espécie de imperativo
revolucionário (Aron, 2008), pois, como é dito no Manifesto do Partido Comunista:
“Proletários nada têm a perder com ela [a revolução] a não ser as suas cadeias. Têm,
porém, um mundo a ganhar”.
A supressão da propriedade privada é a condição para a superação dessa sociedade
desigual, tornando possível seguir um caminho para a construção de
uma nova sociedade verdadeiramente cooperativa.
O processo revolucionário é, assim, tanto uma ação voltada para o futuro como um
reencontro com a humanidade que foi perdida desde que a sociedade industrial passou a
existir.
É por essas razões que Marx propõe que a superação dessas contradições ocorra por
meio de uma mudança revolucionária nas relações de produção, estabelecendo um
sistema socialista no qual as forças produtivas sejam colocadas a serviço do bem-estar
coletivo, em vez de serem subordinadas aos interesses de uma classe dominante.
A aniquilação da propriedade é uma prioridade dos objetivos políticos da Liga
Comunista, porque as transformações das formas de propriedade permitem a
reconfiguração da disposição entre classe dirigente e classe explorada. Portanto, a
revolução só é possível com a superação da propriedade privada capitalista, substituída no
primeiro momento por uma fase socialista sustentada pela estatização dos meios
produtivos.
O socialismo é uma fase de transição necessária para que gradualmente a exploração seja
eliminada. Como uma fase de transição,
o socialismo não é uma configuração social definitiva,
mas sim o caminho para alcançar o destino comunista.
No comunismo, as classes sociais serão abolidas, o Estado deixará de existir, a
propriedade privada será completamente aniquilada e a distribuição de bens e recursos
será equitativa.
O que Marx proclama com suas reinvindicações revolucionárias é que o comunismo
seja o objetivo da ação política. A suposta liberdade da sociedade burguesa é como um véu
de ignorância que nos afasta de uma verdadeira liberdade. Uma real emancipação não se
satisfaz pelas reformas graduais, mais sim pela superação total e definitiva do sistema
vigente. Em outras palavras,
a pré-condição para a liberdade é revolução.
A revolução proletária supostamente será diferente pois, desta vez, o processo
revolucionário será conduzido por uma massa abrangente e não mais por um grupo
restrito interessado na construção de uma ordem social sustentada por privilégios e
relações de exploração. A profecia de Marx promete uma revolução inédita,
completamente diferente de processos revolucionários anteriores. Nesse sentido, a
revolução proletária não será apenas uma reconfiguração dos papeis históricos que
determinam a classe dominante e a classe oprimida, mas será uma solução final capaz,
inclusive, de ditar
o fim da história.
O pensamento de Marx precisa ser compreendido como uma ampla crítica filosófica e
social ao mundo moderno. Quanto à crítica filosófica, Marx propõe um programa
teórico e metodológico que pretende conhecer objetivamente a história a partir do
reconhecimento das relações sociais concretas. Quanto à crítica social, Marx denunciou as
instituições modernas por supostamente esconderem relações de opressão e perpetuarem
a dinâmica de exploração, inspirando partidos e transformações políticas pelo mundo.
Mesmo que as promessas de Marx não tenham se concretizado,
sua imagem ainda é capaz de embriagar gerações
posteriores a favor do imperativo revolucionário. Esse imperativo pode aparecer em
diferentes tons, dos mais intensos e violentos, aos mais estonados e moderados.
Ironicamente, o legado de Marx não resiste pela concretização de suas ambições
científicas, muito pelo contrário. O que o torna seu pensamento ainda presente no espaço
público é uma específica teoria de sociedade impregnada com um forte teor normativo.
Essa teoria social com o tempo se tornou uma forma de senso comum que, para existir,
não depende mais da leitura atenta dos textos originais, tendo em vista que se expressa
como uma visão de mundo que pouco reflete sobre seus pressupostos. Por outro lado, a
pouca disciplina pode até ser uma opção para aqueles que se consideram convertidos, mas
nunca é uma opção para aqueles que querem se colocar na posição de críticos.
DICA DE LEITURA
OS TEXTOS ORIGINAIS
A obra de Marx é extensa. Por essa razão proponho a leitura dos textos originais a partir
do seguinte programa:
FASE JOVEM:
Crítica da filosofia do direito de Hegel (1843) Manuscritoseconômico-filosóficos (1844)
A ideologia alemã (1845, publicada postumamente) Crítica da economia política (1859,
publicada postumamente)
FASE DE TRANSIÇÃO:
Miséria da filosofia (1847) Manifesto Comunista (1848) Lutas de classe na França de 1848
a 1850 (1850)
FASE MADURA:
O Dezoito Brumário de Luís Bonaparte (1852) Contribuição para a crítica da economia
política (1859) O Capital (1867) — Dividido em vários volumes, o primeiro volume foi
publicado em 1867, e os demais volumes foram compilados por Friedrich Engels e
publicados após a morte de Marx.
DICA DE LEITURA 2
O QUE LER DO LIVRO O CAPITAL?
A obra O Capital de Karl Marx é composta por três volumes. A seguir, apresento os
principais capítulos de cada volume.
Volume I: O processo de produção do capital
CAPÍTULO 1: A mercadoria CAPÍTULO 2: O processo de troca CAPÍTULO 3: O dinheiro ou a
circulação de mercadorias CAPÍTULO 4: A transformação do dinheiro em capital CAPÍTULO
7: O processo de trabalho e o processo de valorização CAPÍTULO 10: A jornada de trabalho
CAPÍTULO 15: A mais-valia absoluta e relativa
Volume II: O processo de circulação
do capital
CAPÍTULO 1: O ciclo do capital CAPÍTULO 4: O capital fixo e o capital circulante CAPÍTULO
10: A reprodução simples e a reprodução ampliada
Volume III: O processo global da produção capitalista
CAPÍTULO 6: A Conversão da mais-valia em lucro e da taxa de mais-valia em taxa de lucro
CAPÍTULO 15: Salário e lucro CAPÍTULO 23: A lei geral da acumulação capitalista
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALTHUSSER, Louis. Por Marx. Campinas: Unicamp, 2015.
ALTHUSSER, Louis. Aparelhos ideológicos de Estado. São Paulo: Boitempo. 2022.
ANDERSON, Perry. Considerations on Western Marxism. London: NLB, 1976.
ARON, Raymond. As etapas do pensamento sociológico. São Paulo: Martins Fontes,
2003.
BAKUNIN, Mikhail. Escritos contra Marx. Conflito de titãs na Internacional. [s.l.]:
Novos Tempos, 1989.
BERNSTEIN, Eduard. The Preconditions of Socialism. Cambridge: Cambridge
University Press, 1993.
BOTTOMORE, Tom (org.). Dicionário do pensamento marxista. Rio de Janeiro: Zahar,
1988.
CARDOSO, Ciro Flamarion S. Modo de produção asiático. Rio de Janeiro: Campus,
1990.
DURAND, JeanPierre. A sociologia de Marx. São Paulo: Editora UNESP, 2009.
DURKHEIM, Émile. Da divisão do trabalho social. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
GRAMSCI, Antonio. Cadernos do cárcere, 6 vols. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
1999.
HEGEL, G. W. F. Fenomenologia do Espírito. 3. ed. São Paulo: Editora Vozes, 2014.
HOBBES, T. Leviatã: ou Matéria, forma e poder de um Estado eclesiástico e civil. São
Paulo: Martin Claret, 2014.
KITCHEN, Martin. História da Alemanha Moderna. São Paulo: Editora Cultrix, 2015.
KAUTSKY, Karl. “The Communist Manifesto after Six Decades”, in Marx, The
Communist Manifesto, ed. Frederick L. Bender. New York and London: Norton, 1988,
pp. 127–131.
KOLAKOWSKI, Leszek. Principais correntes do marxismo, 3 vols. São Paulo: Vide,
2022.
LÖWY, M. Marxismo e cristianismo na América Latina. Lua Nova: Revista de Cultura e
Política, n. 19, pp. 5–22, nov. 1989.
LUKÁCS, G. História e consciência de classe. São Paulo: Martins Fontes, 2016.
MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Manifesto do Partido Comunista. São Paulo:
Boitempo, 2010.
MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. A ideologia alemã. São Paulo: Boitempo, 2007.
MARX, Karl. Manuscritos econômico-filosóficos. Tradução de Jesus Ranieri. São Paulo:
Boitempo, 2004.
MARX, Karl. O capital: crítica da economia política. Livro primeiro. Volume 1, 2 e 3.
São Paulo: Boitempo, 2013.
MARX, Karl. Crítica à filosofia do direito de Hegel. São Paulo: Boitempo, 2010.
MERQUIOR, José Guilherme. O marxismo ocidental. São Paulo: É Realizações, 2018.
MILL, Stuart. As dificuldades do socialismo: e outros escritos sobre a liberdade. Lisboa,
2021.
OUTHWAITE, William. Verbete “ideologia”, in Dicionário do pensamento social do
século XX. Ed. William Outhwaite e Tom Bottomore. Rio de Janeiro: Jorge Zahar. 1996,
pp. 371–372.
PERTILLE, José P. Aufhebung: Meta-categoria da lógica hegeliana. Revista Eletrônica de
Estudos Hegelianos, v. 15, 2011, pp. 58–66.
PIPES, Richard. O comunismo. São Paulo: Objetiva, 2001.
POPPER, K. The Poverty of Historicism. New York: Routledge, 2002.
SACCARELLI, Emanuele. “The Permanent Revolution in and around the Manifesto”, in
The Cambridge Companion to The Communist Manifesto, ed. James Farr e Terrell
Carver. New York: Cambridge University Press, 2015, pp. 213–243.
SMITH, A. A riqueza das nações. São Paulo: Vide, 2023.
TOWNSCHEND, Jules. “Marxism and the Manifesto after Engels”, in The Cambridge
Companion to The Communist Manifesto, ed. James Farr e Terrell Carver. New York:
Cambridge University Press, 2015, pp. 175–212.
WEBER, Max. Escritos políticos. São Paulo: Martins Fontes, 2014.
NOTAS DE RODAPÉ
1 O idealismo alemão é um movimento filosófico que teve origem na Alemanha no final do século XVIII e início do
século XIX. É caracterizado pela ênfase na importância da mente, da consciência e da razão na compreensão do mundo.
Os principais filósofos associados ao idealismo alemão são Immanuel Kant, Johann Gottlieb Fichte, Friedrich Wilhelm
Joseph Schelling e Georg Wilhelm Friedrich Hegel.
2 A filosofia política burguesa é amplamente associada a pensadores que fundamentaram ideias que serviram como
base para a estruturação da sociedade capitalista e da democracia liberal como, por exemplo, John Locke, Adam Smith,
Barão de Montesquieu e Thomas Hobbes.
3 A ideia de socialismo científico está no esforço de Marx por demonstrar cientificamente a evolução do regime
capitalista. Tal definição também serviu como forma de distinção política com os socialistas utópicos da época.
Entretanto, há discussões da filosofia da ciência (ver em Popper, 2002) que argumentam que o socialismo científico, na
verdade, não pode ser considerado uma ciência verdadeira.
4 O termo “burguês” refere-se a classe social específica associada à ascensão do capitalismo.
5 Considerar o termo “liberalismo” como a autorreferência ideológica da classe burguesa no século XIX.
6 Otto von Bismarck foi um estadista e político alemão do século XIX. Ele é reconhecido por desempenhar um papel
significativo na unificação da Alemanha e na consolidação do poder do Império Alemão.
7 Ver em Stuart Mill (2021) um exemplo dessa visão crítica ao comunismo.
8 Por outro lado, autores como Stuart Mill (2021) se preocuparam em fazer tal distinção. As considerações de Mill são
mais ou menos simultâneas ao desenvolvimento do programa teórico do socialismo que se pretende científico, o que
indica que os ideais socialistas e comunistas já existiam antes Marx e foram, posteriormente, absorvidos pelo seu
programa teórico e político.
9 Karl Kautsky foi um proeminente teórico e político socialista, considerado um dos principais teóricos marxistas no
final do século XIX e início do século XX.
10 Karl Marx nunca se autodenominou “marxista”.
11 Identificado pelo marxismo de autores como Gramsci, Lukács e os da Escola de Frankfurt. Ver em José Guilherme
Merquior (2018) e Perry Anderson (1976).
12 O marxismo ortodoxo geralmente é associado à filosofia oficial do Estado Soviético.
13 Como, por exemplo, Henri de Saint-Simon e Charles Fourier
14 Como, por exemplo, Pierre-Joseph Proudhon.
15 Nos escritos de Marx, diferentes concepções de materialismo podem aparecer, mas tem prevalecido, de modo
geral, um materialismo menos rígido a fim de evitar o possível reducionismo que sugere uma relação mecânica entre a
matéria e a ideia.
16 György Lukács (2016) argumenta que o materialismo histórico é um método e não um dogma. Por outro lado,
renomados críticos e historiadores do pensamento marxista como José Guilherme Merquior (2018) e Leszek Kolakowski
(2022) identificam na filosofia de Lukács uma das expressões mais dogmáticas entre as correntes do pensamento
marxista.
17 É fundamental levar em conta que a infraestrutura eco- nômica não se constitui simplesmente de objetos como
máquinas, capital e propriedade. A infraestruturaé muito mais um conceito sociológico que descreve variadas formas de
relações de produção em um dado momento histórico. Por outro lado, a definição do conceito de superestrutura pode
aparecer de maneira menos precisa por não haver uma distinção clara em ideologia e superestrutura, ou seja, entre
formas de consciência e instituições.
18 Apesar da fronteira pouco nítida entre superestrutura e ideologia, considero conveniente não confundir esses
conceitos apesar de estarem relacionados. Dessa forma, sugiro que a ideologia seja compreendida como um componente
da superestrutura, referindo-se às crenças, valores, normas e ideias que existem em uma sociedade. Acredito que o autor
que melhor expressa essa distinção é Althusser (2022) quando distingue os Aparelhos Repressivos do Estado (exércitos,
polícia, governo, judiciário etc.) dos Aparelhos ideológicos de dominação (um sistema de pensamento e as visões de
mundo que as pessoas mantêm) no ensaio “Aparelhos ideológicos de Estado” publicado pela primeira vez 1970.
19 Embora Hegel não tenha conceituado explicitamente uma divisão entre infraestrutura e superestrutura, sua ênfase
na dialética e na evolução histórica influenciou a maneira como Marx analisou a sociedade.
20 A relação entre Ser e Consciência na filosofia de Hegel é complexa e dinâmica. A consciência não é vista como
uma entidade estática e isolada, mas como algo que está em constante evolução e autorreflexão. Isso quer dizer que a
consciência é capaz de se tornar consciente de si mesma através da negação e da contradição. Em outras palavras, Hegel
argumenta que a consciência chega a um estágio em que se torna autoconsciente, reconhecendo-se como um sujeito
consciente em relação a um objeto consciente. Ver em Fenomenologia do Espírito (2014).
21 Apesar de ser associado a Hegel as categorias de tese- antítese-síntese, esses não são conceitos propriamente
hegelianos e para especialistas, como José Pinheiro Pertille (2011), essa fórmula cria simplificações grosseiras. Para
compreender tal aspecto da filosofia hegeliana, procurar estudos sobre o conceito de Aufhebung.
22 Às margens do processo histórico de transformação do ocidente, Marx definiu o tipo ideal de “modo de produção
asiático” para descrever uma forma específica de organização econômica e social que, segundo ele, existia em sociedades
antigas na Ásia, particularmente na Índia, China, Mesopotâmia e outras regiões. As características do modo de produção
asiático incluem a propriedade coletiva da terra, ausência de classes sociais bem definidas e a organização estatal forte.
Para estudos sobre o modo de produção asiático ver em Ciro Flamarion S. Cardoso (1990)
23 É importante ressaltar que há exceções. No sentido teórico podemos destacar tanto o conceito de revolução passiva
descrito por Gramsci (1999) como o revisionismo proposto por Eduard Bernstein (1993). No sentido político podemos
indicar a postura reformista de Karl Kautsky (1988) e a atuação do Partido Social-Democrata Alemão durante a Segunda
Internacional Socialista (1889 a 1916).
24 Em A ideologia alemã, Marx e Engels criticaram diretamente os neohegelianos de esquerda por sugerirem que a
revolução iria ser alcançada pela mudança de consciência dos trabalhadores.
25 É importante ressaltar que o conceito de ideologia não aparece expressamente nos textos do jovem Marx, apesar da
centralidade da discussão sobre a falsa consciência burguesa. É possível, contudo, reconhecer na crítica de Marx à religião
(Teses sobre Feuerbach, 2002 e na crítica ao Estado e ao Direito (Crítica à filosofia do direito de Hegel, 2010) os
elementos que irão compor a discussão sobre ideologia na tradição marxiana.
26 Para outro exemplo de crítica a Feuerbach ver em Sagrada Família (2003)
27 A “Primeira Internacional” é uma referência à Associação Internacional dos Trabalhadores fundada em 1864, em
Londres, que reunia uma variedade de correntes do movimento operário, incluindo socialistas, anarquistas e sindicalistas.
28 Ontologia é um ramo da filosofia que se concentra na natureza do ser, da existência e da realidade. O termo
“ontologia” deriva das palavras gregas ontos (do verbo “ser”) e logos (estudo ou ciência), e pode ser traduzido como “o
estudo do ser”. Essa área da filosofia explora questões fundamentais sobre o que existe, o que pode existir, e como as
coisas existem. Além disso, a ontologia investiga as categorias fundamentais de existência, tais como substância, tempo,
espaço, causa e efeito, identidade e mudança.
29 Marx e Engels consideram que na sociedade tradicional/ tribal os meios produtivos eram coletivizados e a divisão
do trabalho não apresentava distinções rígidas dos papéis produtivos.
30 Ver em A riqueza das nações (2023) a descrição de Adam Smith sobre a fábrica de alfinetes (livro I, cap. I).
31 Ver o conceito de solidariedade orgânica de Émile Durkheim (1999) na obra Da divisão do trabalho social
publicada pela primeira vez em 1893.
32 Este é o argumento central para a teoria valor-trabalho.
	Introdução
	A crítica materialista ao idealismo alemão
	A crítica à filosofia política burguesa
	Crítica socioeconômica ao capitalismo
	Conclusão
	dica de leitura
	dica de leitura 2
	Referências bibliográficas
	Notas de Rodapé

Mais conteúdos dessa disciplina