Logo Passei Direto
Buscar
Material
páginas com resultados encontrados.
páginas com resultados encontrados.
left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

Prévia do material em texto

Pregando	Cristo	a	partir	de	Eclesiastes	©	2017,	Editora	Cultura	Cristã.
Publicado	originalmente	em	inglês	com	o	título	Preaching	Christ	from
Eclesiastes	©	2010	Sidney	Greidanus	por	Wm.	B.	Eerdmans	Publishing	Co.
2140	Oak	Industrial	Drive	N.E.,	Grand	Rapids,	Michigan	49505.	Todos	os
direitos	são	reservados.
Conselho	Editorial
Antônio	Coine
Carlos	Henrique	Machado
Cláudio	Marra	(Presidente)
Filipe	Fontes Produção	Editorial
Heber	Carlos	de	Campos	Jr. Tradução
Marcos	André	Marques Vagner	Barbosa
Misael	Batista	do	Nascimento Revisão
Tarcízio	José	de	Freitas	Carvalho Ana	Amélia	Vicente
Sandra	Couto
Mari	Kumagai
Editoração,	capa	e	e-book
OM	Designers	Gráficos
G824p Greidanus,	Sidney	Pregando	Cristo	a	partir	de	Eclesiastes	/	Sidney	Greidanus;	Traduzido	por	Vagner	Barbosa.	_	São	Paulo:	Cultura	Cristã,	2017.
Recurso	eletrônico	(ePub)
ISBN	978-85-7622-890-5
Tradução	Preaching	Christ	from	Eclesiastes
1.	Estudo	Bíblico	2.	Homilética	3.	Pregação	I.	Título
CDU	27-277
A	posição	doutrinária	da	Igreja	Presbiteriana	do	Brasil	é	expressa	em	seus
“símbolos	de	fé”,	que	apresentam	o	modo	Reformado	e	Presbiteriano	de
compreender	a	Escritura.	São	esses	símbolos	a	Confissão	de	Fé	de	Westminster	e
seus	catecismos,	o	Maior	e	o	Breve.	Como	Editora	oficial	de	uma	denominação
confessional,	cuidamos	para	que	as	obras	publicadas	espelhem	sempre	essa
posição.	Existe	a	possibilidade,	porém,	de	autores,	às	vezes,	mencionarem	ou
mesmo	defenderem	aspectos	que	refletem	a	sua	própria	opinião,	sem	que	o	fato
de	sua	publicação	por	esta	Editora	represente	endosso	integral,	pela
denominação	e	pela	Editora,	de	todos	os	pontos	de	vista	apresentados.	A	posição
da	denominação	sobre	pontos	específicos	porventura	em	debate	poderá	ser
encontrada	nos	mencionados	símbolos	de	fé.
Rua	Miguel	Teles	Júnior,	394	–	CEP	01540-040	–	São	Paulo	–	SP
Fones:	0800-0141963	/	(11)	3207-7099
www.editoraculturacrista.com.br	–	cep@cep.org.br
Superintendente:	Haveraldo	Ferreira	Vargas
Editor:	Cláudio	Antônio	Batista	Marra
Aos	nossos	netos:
Jeremy	&	Julie,	Cara	&	Peter,	Caitlin
Zachari,	Anna,	e	Jessica,	e
Mikayla,	Solomon	e	Katherine.
Que	os	“aguilhões	e	pregos”	(Ec	12.11)
da	sabedoria	do	Mestre	deem	direção,
estabilidade	e	segurança	para	sua	vida.
PREFÁCIO
Em	1976,	quando	era	pastor	em	Delta,	Columbia	Britânica,	preguei	uma	série	de
sermões	sobre	Eclesiastes.	Depois	de	ouvir	um	desses	sermões	teocêntricos,	um
pastor	aposentado	aproximou-se	de	mim	e	disse:	“Apreciei	seu	sermão,	Sid,	mas
um	rabino	poderia	ter	pregado	seu	sermão	em	uma	sinagoga”.	Fiquei	confuso,
mas	isso	me	levou	a	pensar	na	questão	da	pregação	cristocêntrica.	É	claro,	um
rabino	e	eu	temos	o	Antigo	Testamento	em	comum.	Além	disso,	como	sabedoria
é	uma	reflexão	sobre	“‘ordens’	costumeiras	no	mundo”	(veja	cap.	1),	a
mensagem	da	literatura	de	sabedoria	pode	ser	a	mesma	para	a	igreja	e	a
sinagoga.	Então,	sim,	um	rabino	poderia	ter	pregado	esse	sermão	em	uma
sinagoga	sem	causar	problemas.	Mas	e	se	em	vez	de	pregar	um	“sermão	no
Antigo	Testamento”	eu	tivesse	pregado	um	“sermão	cristão”?	¹	Meus	sermões
sobre	passagens	do	Antigo	Testamento	não	deviam	refletir	que	essas	passagens,
agora,	funcionam	no	contexto	do	Novo	Testamento?	Os	sermões	dos	pregadores
cristãos	não	deviam	ser	distintivamente	cristãos?
Uns	vinte	anos	mais	tarde,	tive	a	oportunidade	de	pesquisar	essa	questão	com
profundidade.	O	resultado	foi	o	livro	Pregando	Cristo	a	partir	do	Antigo
Testamento:	um	método	hermenêutico	contemporâneo.	Concluí	que	sermões
baseados	no	Antigo	Testamento	não	podem	ser	meramente	sermões	teocêntricos,
mas	devem	ser	cristocêntricos.	Os	pais	da	igreja	sabiam	disso	muito	bem,	mas,
infelizmente,	adotaram	a	interpretação	alegórica	para	alcançar	o	foco
cristocêntrico.	Por	exemplo,	eles	pregavam	o	refrão	frequente	em	Eclesiastes	que
fala	sobre	comer	e	beber	como	referindo-se	à	participação	no	corpo	e	no	sangue
no	Senhor,	na	Ceia.	E	Ambrósio,	pregando	sobre	“o	cordão	de	três	dobras	não	se
quebra	facilmente”	(Ec	4.12),	associou-o	à	Trindade.²	Hoje	não	podemos	mais,
com	integridade,	usar	a	interpretação	alegórica	para	obter	interpretação
teocêntrica.	Aplicada	a	gêneros	diferentes	de	alegoria,	a	interpretação	alegórica	é
arbitrária	e	subjetiva;	ela	subverte	a	intenção	do	autor	bíblico.
Mas	como,	então,	se	pode	pregar	Cristo	na	literatura	de	sabedoria	que	não
contém	uma	promessa	da	vinda	do	Messias	e	raramente	contém	um	tipo	de
Cristo?	Especialmente	com	a	literatura	de	sabedoria	em	mente,	ampliei	a
definição	de	pregar	Cristo.	A	definição	comum	é	pregar	a	pessoa	e/ou	obra	de
Cristo.	Como	a	obra	de	Cristo	é	frequentemente	restrita	à	expiação,	ampliei	a
definição	de	pregar	Cristo	acrescentando	a	categoria	do	ensino	de	Cristo.	O
próprio	Jesus	enfatizou	a	importância	de	seu	ensino	quando	disse:	“Se	vós
permanecerdes	na	minha	palavra	[ensino],	sois	verdadeiramente	meus
discípulos”	(Jo	8.31).	Ele	sublinhou	a	importância	de	seu	ensino	quando	enviou
seus	seguidores	com	a	ordem:	“Ide...	fazeis	discípulos	de	todas	as	nações...
ensinando-os	a	guardar	todas	as	coisas	que	vos	tenho	ordenado”	(Mt	28.19-20).
Subsequentemente,	João	escreve:	“Todo	aquele	que	ultrapassa	a	doutrina	de
Cristo	e	nela	não	permanece	não	tem	Deus;	o	que	permanece	na	doutrina,	esse
tem	tanto	o	Pai,	como	o	Filho”	(2Jo	9).	Por	isso,	defini	“pregar	Cristo”	como
“pregar	sermões	que	autenticamente	integrem	a	mensagem	do	texto	com	o
clímax	da	revelação	de	Deus	na	pessoa,	obra	e/ou	ensino	de	Jesus	Cristo	como
revelados	no	Novo	Testamento”.³
Baseado	em	meu	estudo	do	Novo	Testamento	e	da	história	da	igreja,	concluí	que
há	sete	maneiras	legítimas	de	ir	de	uma	mensagem	do	Antigo	Testamento	para
Jesus	Cristo,	no	Novo	Testamento.	Essas	maneiras	são	a	progressão	histórico-
redentiva,	promessa-cumprimento,	tipologia,	analogia,	temas	longitudinais,
referências	no	Novo	Testamento	e	contraste.	Dependendo	do	texto,	os
pregadores	podem	usar	uma	ou	mais	dessas	maneiras	para	pregar	Cristo.
Escrevi	este	livro	primariamente	para	pregadores,	seminaristas	e	professores	de
Bíblia.	Meu	objetivo	é	encorajar	e	ajudar	pregadores	e	professores	atarefados	a
proclamar	as	mensagens	de	Eclesiastes.	Este	os	capacitará	a	descobrir
rapidamente	os	blocos	de	construção	para	produzir	sermões	e	lições	em
Eclesiastes:	a	unidade	literária,	que	é	o	texto	de	pregação;	a	mensagem	para
Israel	(o	tema	textual);	a	resposta	buscada	de	Israel	e,	por	analogia,	da	igreja,
hoje	(objetivo);	as	várias	maneiras	de	associar	o	tema	textual	com	Jesus	Cristo,
no	Novo	Testamento;	o	tema	e	o	objetivo	do	sermão;	e	a	relevante	exposição
bíblica	de	todos	os	versos	da	passagem.
Os	pregadores	podem	desejar	usar	este	livro	para	pregar	uma	série	de	sermões
sobre	Eclesiastes.	Sugiro	uma	série	de	sete	sermões	sobre	a	primeira	metade	de
Eclesiastes	(1.1–6.9),	seguida	por	uma	série	de	sete	sermões	sobre	a	segunda
metade	(6.10–12.8)	e	um	sobre	o	epílogo	(12.9-14).	Ou	pode-se	optar	por	três
séries	de	cinco	sermões	cada.	Os	professores	de	Bíblia	podem	desejar	ensinar
Eclesiastes	em	quinze	lições,	apresentando	aos	seus	alunos	somente	a	leitura	da
seção	“Exposição	do	sermão”,	em	cada	capítulo.
Os	leitores	observarão	que	segui	o	mesmo	padrão	básico	para	cada	passagem.
Esse	padrão	é	baseado	nos	dez	passos	partindo	do	texto	do	sermão,	que
desenvolvi	para	seminaristas	do	primeiro	ano	(veja	Apêndice	1).	A	repetição
resultante	em	cada	capítulo	tem	o	objetivo	de	repisar	a	abordagem	hermenêutica-
homilética	básica	ao	texto	bíblico.	Primeiro	procuramos	identificar	os	limites	da
unidade	literária	e	verificar	seu	contexto.	Depois	analisamos	importantes
elementos	literários	que	nos	ajudam	a	montar	a	estrutura	(fluxo)	do	texto.
Depois,	observando	onde	e	como	o	texto	fala	de	Deus,	procuramos	formular	o
tema	e	o	objetivo	textual.	Com	esse	tema	em	mente,	podemos	verificar	como
cada	um	dos	sete	caminhos	pode	conduzir	da	mensagem	desse	texto	até	Jesus
Cristo,	no	Novo	Testamento.	Nesse	ponto,	estamos	prontos	para	formular	o
tema,	objetivo	e	necessidade	do	sermão	(o	problema,	o	alvo)	e	considerar	a
forma	do	sermão.	Concluocada	capítulo	com	uma	importante	seção	sobre
“Exposição	do	sermão”.
Nessa	seção	“Exposição	do	sermão”,	procuro	apresentar	um	modelo	para	o
sermão	usando	estilo	oral⁴	sempre	que	possível	e	dar	a	referência	do	verso	antes
da	citação,	para	que	a	congregação	possa	ler	junto	comigo	(a	compreensão	é
muito	melhor	quando	a	congregação	não	apenas	ouve,	mas	vê	as	palavras).	Para
manter	a	exposição	do	sermão	em	movimento,	releguei	a	maior	parte	das
citações,	argumentos	complexos	e	detalhes	técnicos	às	notas	de	rodapé.	Embora
comente	cada	verso	do	texto,	a	preparação	do	sermão	pode	ser	mais	seletiva,
para	evitar	excesso	de	informação.	Na	exposição,	explico	onde	e	como	podemos
fazer	o(s)	movimento(s)	para	Cristo,	no	Novo	Testamento.
Esses	movimentos	são	apresentados	apenas	como	sugestões.	Enquanto	estiverem
escrevendo	um	sermão	real,	os	pregadores	podem	ser	guiados	pelo	Espírito
Santo	a	melhores	caminhos	e	lugares	no	sermão	para	apontar	para	Cristo.
Finalmente,	faço	breves	sugestões	para	aplicação,	relacionadas	ao	objetivo	e	à
necessidade.	Em	sermões	reais,	essas	aplicações	precisam	ser	revigoradas	com
ilustrações	e	sugestões	concretas	apropriadas	à	situação	da	congregação	para	a
qual	se	está	pregando.	Nos	apêndices,	incluí	um	modelo	de	sermão	expositivo,
uma	meditação	sobre	Eclesiastes	3.1-15	e	um	sermão	sobre	Eclesiastes	9.1-12.
A	menos	que	seja	indicado,	a	versão	bíblica	citada	é	a	ARA.	Nessas	citações,
ocasionalmente	enfatizei	palavras,	colocando-as	em	itálico.	Sem	indicação,	o
leitor	entenderá	que	estas	são	minhas	ênfases,	pois	o	itálico	não	está	no	original
hebraico	nem	na	ARA.	As	várias	transliterações	das	palavras	hebraicas	foram
padronizadas	como	indicado	na	tabela	da	página	17.	Ao	citar	outros	autores,
também	regularizei	as	diferentes	transliterações	do	nome	hebraico	“Qohelet”,
mas	mantive	as	preferências	do	autor	nos	títulos	de	seus	livros	e	artigos.
Mantive	as	referências	nas	notas	de	rodapé	ao	mínimo:	referências	completas
podem	ser	encontradas	na	Bibliografia.	Quando	um	livro	ou	artigo	não	estiver
incluído	na	Bibliografia	Selecionada,	a	informação	completa	é	encontrada	na
nota	de	rodapé.
Lanço	este	livro	como	“pão	sobre	as	águas”	(Ec	11.1),	na	esperança	e	na	oração
para	que	ele	estimule	muitos	pregadores	a	pregar	sobre	o	frequentemente
negligenciado	livro	de	Eclesiastes,	para	ajudar	as	pessoas	a	agir	sábia	e
alegremente	em	sua	vida	diária,	para	a	glória	de	Deus.
Grand	Rapids,	Michigan
Sidney	Greidanus
¹	Esta	é	uma	profunda	distinção	feita	por	Edmund	Clowney:	“A	proclamação
cristã	de	um	texto	do	Antigo	Testamento	não	é	a	pregação	de	um	sermão	do
Antigo	Testamento”.	Preaching	and	Biblical	Theology	(Grand	Rapids:
Eerdmans,	1961),	75.	Cf.	Graeme	Goldsworthy,	Preaching	the	Whole	Bible	as
Christian	Scripture:	The	Application	of	Biblical	Theology	to	Expository
Preaching	(Grand	Rapids:	Eerdmans,	1988),	195:	“A	principal	preocupação	do
pregador	deve	ser	pregar	o	significado	do	texto	em	relação	ao	objetivo	de	toda	a
revelação	bíblica,	a	saber,	a	pessoa	e	obra	de	Cristo.	Posso	manter	minha
integridade	como	pregador	cristão	se	pregar	uma	parte	da	Bíblia	como	se	Jesus
não	tivesse	vindo?”
²	Longman,	Book	of	Ecclesiastes,	30-31.	Svend	Holm-Nielsen,	“On	the
Interpretation	of	Qoheleth	in	Early	Christianity”,	VT	24/2	(1974)	175,	afirma:
“O	entendimento	que	Hieronymus	tem	de	Qohelet	é	baseado	nos	mesmos
princípios	que	sua	interpretação	dos	textos	bíblicos...	No	Antigo	Testamento...	a
interpretatio	literalis	e	a	interpretatio	spiritualis.	Mas	deve	ser	lembrado	que	a
spiritualis...	é	igual	à	interpretação	cristológica”.	Ainda	hoje	os	pregadores	são
tentados	a	usar	interpretação	alegórica	para	pregar	Cristo	em	Eclesiastes.	Por
exemplo,	Parsons,	“Guidelines”,	BSac	160	(2003)	300,	menciona	um	sermão	de
casamento	em	que	o	cordão	de	três	dobras,	de	Eclesiastes	4.12,	foi	pregado
como	sendo	o	noivo,	a	noiva	e	Cristo.	Cf.	Matthew	Henry	e	Thomas	Scott,
Commentary	on	the	Holy	Bible,	Vol.	3	(Grand	Rapids:	Baker,	1960
reimpressão),	p.	413:	“Dois	juntos	são	um	cordão	de	três	dobras;	onde	dois	estão
estreitamente	unidos	em	santo	amor	e	comunhão,	Cristo,	por	meio	de	seu
Espírito,	vem	até	eles	e	se	torna	a	terceira	dobra,	assim	como	se	juntou	aos	dois
discípulos	no	caminho	de	Emaús.	Então	há	um	cordão	de	três	dobras	que	não	se
pode	romper”.	Os	pregadores	também	têm	pregado	que	a	passagem	que	fala
sobre	lançar	o	pão	sobre	as	águas	(Ec	11.1)	significa	enviar	Cristo,	o	Pão	da
Vida,	sobre	as	águas	(veja	Percy	P.	Stoute,	“Bread	upon	the	Waters”,	BSac	107
[1950]	223).
³	Greidanus,	Preaching	Christ	from	the	Old	Testament,	10.
⁴	O	estilo	oral	é	marcado,	entre	outras	características,	por	frases	curtas,	voz	ativa,
palavras	curtas,	mas	vívidas;	substantivos	e	verbos	fortes,	linguagem	concreta,
narrativa	no	presente,	referência	dos	versos	antes	da	citação,	uso	de	perguntas
para	envolver	os	leitores,	uso	de	repetição	e	paralelismo.	Veja	Mark	Galli	e
Craig	Brian	Larson,	Preaching	That	Connects:	Using	the	Techniques	of
Journalists	to	Add	Impact	to	Your	Sermons	(Grand	Rapids:	Zondervan,	2004).
AGRADECIMENTOS
Antes	de	tudo,	gostaria	de	agradecer	a	todos	os	autores	dos	livros	e	artigos
listados	na	bibliografia.	Muito	embora	tenham	chegado	a	resultados	amplamente
divergentes,	sem	seus	esforços	para	entender	Eclesiastes	e	publicar	suas
descobertas,	este	livro	sobre	pregação	em	Eclesiastes	não	teria	visto	a	luz	do	dia.
Também	preciso	agradecer	aos	meus	revisores	por	seu	excelente	trabalho.	Eles
são	meu	irmão,	Rev.	Morris	Greidanus,	pastor	aposentado	da	First	Christian
Reformed	Church,	Grand	Rapids,	Michigan,	e	meus	ex-alunos,	Rev.	Ryan	Faber,
de	Pella,	e	Rev.	Joel	Schroes,	de	Denver.	Os	três	leram	cuidadosamente	o
manuscrito	e	deram	muitas	sugestões	úteis	para	melhorar	seu	conteúdo	e	sua
clareza.	Também	aprecio	o	trabalho	da	equipe	da	biblioteca	do	Calvin	College	e
do	Calvin	Theological	Seminary	ao	fornecer	livros	e	artigos	necessários	para
essa	pesquisa.	Agradeço	também	à	equipe	de	Eerdmans	Publishing	Company
por	preparar	competentemente	este	livro	para	publicação,	especialmente	ao
editor	dos	meus	três	últimos	livros,	Milton	Essenburg.	Mais	uma	vez	agradeço	à
minha	esposa,	Marie,	por	seu	encorajamento	e	por	criar	um	lar	pacífico	e	uma
atmosfera	tranquila	para	que	pudesse	me	concentrar	neste	projeto.
Acima	de	tudo,	sou	grato	ao	Senhor	por	me	dar	alegria	diária	por	este	livro	e	por
me	dar	saúde	e	força	para	ver	este	projeto	ser	concluído.
ABREVIATURAS
AUSS Andrews	University	Seminary	Studies
BBR Bulletin	for	Biblical	Research
Bib Biblica
BSac Bibliotheca	Sacra
BTB Biblical	Theology	Bulletin
CBQ Catholic	Biblical	Quarterly
CTJ Calvin	Theological	Journal
CQ The	Congregational	Quarterly
ETL Ephemerides	Theologicae	Lovanienses
EvRT Evangelical	Review	of	Theology
EvQ Evangelical	Quarterly
Int Interpretation
JBL Journal	of	Biblical	Literature
JETS Journal	of	the	Evangelical	Theological	Society
JHS Journal	of	Hebrew	Scriptures
JPS Jewish	Publication	Society
JQR Jewish	Quarterly	Review
JSOT Journal	for	the	Study	of	the	Old	Testament
JSS Journal	of	Semitic	Studies
NASB New	American	Standard	Bible
NEB New	English	Bible
NRSV New	Revised	Standard	Version
NICOT New	International	Commentary	on	the	Old	Testament
NIDOTT&E New	International	Dictionary	of	Old	Testament	Theology	and	Exegesis
p	(p). página	(s)
par. paralelos
PSBul Princeton	Seminary	Bulletin
RB Revue	Biblique
rpt. reimpressão
TDOT Theological	Dictionary	of	the	Old	Testament
TNIV Today’s	New	International	Version
TSFBul Theological	Students	Fellowship	Bulletin
TynBul Tyndale	Bulletin
VT Vetus	Testamentum
TRANSLITERAÇÕES
Hebraico
Consoantes
Nenhuma	distinção	é	feita	entre	o	com	ou	sem	dagesh	lene.
Compare:
Vogais
CAPÍTULO	1
Pregando	Eclesiastes
Vaidade	de	vaidades,	diz	o	Pregador,
tudo	é	vaidade	(Ec	1.2).
Talvez	Eclesiastes	seja	o	livro	mais	difícil	da	Bíblia	para	se	interpretar	e	pregar.
Uma	importante	razão	para	essa	dificuldade	é	que	os	estudiosos	do	Antigo
Testamento	não	concordam	sobre	temas	importantes:	a	quantidadede	autores
envolvida	na	composição	deste	livro;	a	identidade	do	autor	principal;	quando,
onde	e	por	que	o	livro	foi	escrito;	a	qualidade	do	estilo	hebraico;	quais	seções
são	poesia	e	quais	seções	são	prosa;¹	a	estrutura	do	livro,	ou	a	falta	dela;	e	se	sua
mensagem	é	pessimista	ou	positiva.²	Duabe	Garrett	acrescenta:	“Talvez	um
obstáculo	ainda	maior	para	a	pregação	de	Sabedoria	seja	a	suspeita	de	muitas
pessoas	de	que	ela	não	contém	evangelho”.³	Não	é	de	se	estranhar	que	a	maior
parte	dos	pregadores	ache	sábio	omitir	Eclesiastes	de	seu	programa	de	pregação.
De	fato,	o	Revised	Common	Lectionary	atribui	leituras	de	Eclesiastes	para
apenas	dois	cultos:	culto	de	Ano-Novo	(anos	ABC),	Eclesiastes	3.1-3;	e	o
domingo	mais	próximo	de	3	de	agosto	(ano	C),	com	uma	alternativa	para	Oseias
11.1-11;	Eclesiastes	1.12-14;	2.(1-7,11),	18-23.⁴	Infelizmente,	omitir	Eclesiastes
do	programa	de	pregação	é	uma	grande	perda	para	a	igreja.
O	valor	da	pregação	de	Eclesiastes
Eclesiastes	oferece	uma	perspectiva	singular	da	natureza	humana	–	uma
perspectiva	que	é	extremamente	relevante	para	a	igreja	hoje.⁵	Iain	Provan
observa:	“Focando	nossa	atenção	nesta	vida,	e	não	na	próxima,	este	livro
contribui	para	a	correção	de	um	desequilíbrio	muito	frequente	em	todas	as
épocas	no	pensamento	cristão,	que	às	vezes	apresentou	o	Cristianismo	como	se
fosse	mais	uma	questão	de	esperar	por	algo	do	que	uma	questão	de	viver”.
Sandy	e	Giese	afirmam:	“O	livro	de	Eclesiastes	é	uma	das	mais	importantes
posses	da	igreja	cristã,	pois	nos	estimula	a	avaliar	e	corrigir	continuamente	nosso
entendimento	de	Deus	e	nosso	ensino	sobre	Deus	à	luz	de	toda	a	revelação
bíblica...	As	reflexões	do	sábio	em	Eclesiastes	desmascaram	o	mito	da
autonomia	e	da	autossuficiência	humana	e	nos	conduzem,	em	toda	a	nossa
fragilidade	e	incapacidade,	a	encontrar	significado	em	um	mundo	caído	na
relação	Criador-criatura	–	a	polaridade	máxima”.⁷
Além	disso,	Eclesiastes	é	relevante	especialmente	para	nossa	cultura	porque	lida
com	muitas	das	tentações	típicas	do	secularismo.	Leland	Riken	chama
Eclesiastes	de	“o	livro	mais	contemporâneo	da	Bíblia.	Eclesiastes	é	um	ataque
satírico	a	uma	sociedade	aquisitiva,	hedonista	e	materialista.	Ele	expõe	a	busca
louca	da	satisfação	no	conhecimento,	na	riqueza,	no	prazer,	no	trabalho,	na	fama
e	no	sexo”.⁸
Antes	que	os	pregadores	possam	pregar	Eclesiastes	com	integridade,	contudo,
têm	que	obter	alguma	clareza	sobre	as	dificuldades	com	as	quais	os
comentaristas	têm	lutado	há	mais	de	duzentos	anos. 	Primeiro,	exploraremos
dificuldades	na	interpretação	de	Eclesiastes	e,	depois,	na	pregação	deste	livro.
Dificuldades	na	interpretação	de	Eclesiastes
Discutiremos	cinco	grandes	temas	na	interpretação	de	Eclesiastes:	a	natureza	da
literatura	de	sabedoria,	o	contexto	histórico	de	Eclesiastes,	seu	gênero	e	suas
formas,	sua	estrutura	e	sua	mensagem	geral.
A	natureza	da	literatura	de	sabedoria
Não	se	pode	interpretar	e	pregar	corretamente	um	texto	sem	que	se	leve	em
conta	seu	gênero	específico.	A	literatura	de	sabedoria,	assim	como	a	narrativa,	os
salmos,	a	profecia	e	a	literatura	apocalíptica	hebraica,	é	um	gênero	literário
específico.	Portanto,	uma	questão	fundamental	é:	Qual	é	a	natureza	da	literatura
de	sabedoria?	Elizabeth	Achtemeier	responde:	“Sabedoria	é	o	resultado	de
experiência	prática	e	da	observação	cuidadosa	do	mundo	natural	e	humano.	De
todo	o	caos	da	experiência,	Sabedoria	encontra	‘ordens’	no	mundo	–	modos	nos
quais	os	seres	humanos	e	os	fenômenos	naturais	se	comportam	ordinariamente.
Seu	objetivo,	então,	é	ensinar	a	homens	e	mulheres	essas	‘ordens’,	para	que
saibam	como	agir	em	harmonia	com	o	mundo	ao	seu	redor”.¹ 	J.	A.	Loader
observa,	semelhantemente:	“A	Sabedoria	lida	com	a	ordenação	correta	da	vida.
Ação	sábia	é	aquela	que	integra	as	pessoas	harmoniosamente	na	ordem	que	Deus
criou.	As	normas	de	vida	que	prescrevem	como	os	seres	humanos	devem	se
integrar	nessa	ordem	são	os	preceitos	de	sabedoria”.¹¹
Relação	da	Sabedoria	com	a	história	redentiva
Em	contraste	com	outros	gêneros	bíblicos,	a	literatura	de	sabedoria	não	trata	dos
atos	poderosos	de	Deus.	Graeme	Goldsworthy	observa	que	isso	não	significa	que
a	literatura	de	sabedoria	seja	“um	modo	independente	e	alternativo	de	se	olhar
para	Deus	e	a	realidade”.	A	literatura	de	sabedoria,	diz	ele,	“complementa	a
perspectiva	da	história	da	salvação.	De	fato,	devemos	ir	além	disso	e	dizer	que	a
sabedoria	é	uma	teologia	do	homem	redimido	vivendo	no	mundo	sob	governo	de
Deus.	Ela	é,	assim,	um	aspecto	da	teologia	do	reino	tanto	quanto	a	história	da
salvação”.¹²
Também	há	claras	conexões	entre	Eclesiastes	e	o	início	da	história	da	redenção
como	narrada	nos	primeiros	capítulos	de	Gênesis.	Assim	como	Gênesis	ensina
que	Deus	é	o	Criador	soberano,	assim	também	Eclesiastes	proclama	a	soberania
de	Deus	(3.14;	8.17).	Assim	como	Gênesis	ensina	que	Deus,	no	princípio,
estabeleceu	tempos	(dia	e	noite,	1.3-5)	e	mantém	as	estações	(8.22),	assim
também	Eclesiastes	ensina	que	Deus	estabelece	tempos	(3.1-8)	e	fez	tudo
“formoso	no	seu	devido	tempo”	(3.11).	Assim	como	Gênesis	ensina	que	Deus
criou	este	mundo	bom	(	,	7	vezes),	assim	também	Eclesiastes	reconhece	que
ainda	há	bem	a	ser	encontrado	neste	mundo	(	,	e.g.,	2.24;	3.12-13;	5.18).	Assim
como	Gênesis	ensina	que	os	seres	humanos	foram	criados	justos,	Eclesiastes
também	ensina	(7.29).	Assim	como	Gênesis	(1.27;	2.15)	ensina	que	os	seres
humanos	foram	criados	para	comunhão	com	Deus,	Eclesiastes	também	ensina
(12.13).	Gênesis	também	relata	que	os	seres	humanos	romperam	esse
relacionamento	rebelando-se	contra	Deus	(3.6)	e	subsequentemente	se
escondendo	de	Deus	(3.10),	sendo	expulsos	do	jardim	de	Deus	(3.24)	e	sofrendo
a	penalidade	de	viver	em	uma	criação	amaldiçoada	por	Deus	(3.17),	na	qual	o
trabalho	significativo	(2.15)	se	tornaria	pesado	(3.17-19)	e	a	vida
inevitavelmente	terminaria	em	morte	(3.19,	“tu	és	pó	e	ao	pó	tornarás”).
Eclesiastes,	semelhantemente,	fala	de	nosso	presente	distanciamento	de	Deus
(5.2),	da	maldição	de	Deus	sobre	a	terra	(1.15;	7.13),	do	fardo	da	labuta	humana
(1.3;	2.22)	e	da	tragédia	da	morte	(3.20;	12.7:	“...	e	o	pó	volte	à	terra,	como	o
era”).	Além	disso,	Gênesis	revela	que	o	mal	reside	no	coração	humano	(6.5)	e
que	o	pecado	não	controlado	(4.7)	leva	à	morte	–	sendo	a	primeira	vítima
apropriadamente	chamada	de	Abel	(4.8,	,	sopro).	Eclesiastes,	semelhantemente,
mostra	que	o	mal	habita	no	coração	humano	(7.20,29;	8.11;	9.3)	–	sendo	essa
uma	das	razões	para	sua	repetida	declaração	de	que	“tudo	é	vaidade”	(	1.2;
12.8).¹³
Apesar	dessas	conexões	com	Gênesis	e	o	início	da	história	da	redenção,
Eclesiastes	não	foca	nos	atos	redentivos	de	Deus.	Duane	Garrett	formula	o
contraste	desta	forma:	“Gênesis	conta	a	história	de	como	os	seres	humanos	–
originalmente,	em	um	estado	de	vida,	paraíso	e	inocência	–	caíram	em	culpa,
labor	e	mortalidade.	Eclesiastes	mostra	como	pessoas	que	agora	são	fracas	e
mortais	devem	viver”.¹⁴	William	Brown	observa:	“O	que	é	mais	evidente	na
literatura	de	sabedoria	é	seu	caráter	‘a-histórico’.	Estão	surpreendentemente
ausente	em	Provérbios,	Jó	e	Eclesiastes	os	grandes	temas	da	história	bíblica,
como	o	êxodo,	a	aliança	e	a	conquista	da	terra.	O	papel	de	Deus	como	libertador
e	legislador,	por	sua	vez,	raramente	é	mencionado	nas	tradições	de	sabedoria.
Em	vez	disso,	a	ênfase	é	colocada	na	criação	e	no	lugar	da	humanidade”.¹⁵
Isso	não	significa,	contudo,	que	Deus	esteja	ausente	de	Eclesiastes.	Deus	é	o
grande	Criador	(12.1)	que	fez	e	ainda	“faz	todas	as	coisas”	(11.5).	Deus
estabeleceu	os	tempos	e	fez	tudo	“formoso	no	seu	devido	tempo”	(3.11).	Deus
deu	ao	ser	humano	seu	fôlego	(12.7)	e	o	fez	“reto,	mas	ele	se	meteu	em	muitas
astúcias”	(7.29).	Deus	fez	o	“dia	da	prosperidade”	e	o	“dia	da	adversidade”
(7.14).	Deus	nos	dá	os	“dias	da	vida”	(5.18;	8.15),	“riquezas	e	bens”	e	a
capacidade	de	“usufruir	deles”	e	até	“encontrar	prazer	no	trabalho	árduo”	(5.19;
6.2).	Deus	dá	“sabedoria,	conhecimento	e	prazer”	(2.26),	bem	como	“sentenças
coligidas”	de	sabedoria	(12.11).	Deus	quer	que	as	pessoas	desfrutem	a	vida,
“poisDeus	de	antemão	se	agrada	das	tuas	obras”	(9.7).	Deus	prova	as	pessoas
(3.18),	“não	se	agrada	de	tolos”	(5.4)	e	pode	fixar	irado	(5.6).	Deus
responsabiliza	as	pessoas	por	suas	ações	e	julgará	o	justo	e	o	ímpio	(3.16;	11.9;
12.14).	Portanto,	as	pessoas	devem	se	alegrar	em	todos	os	seus	anos	(11.9),
lembrar-se	de	seu	Criador	(12.1),	temer	a	Deus	(3.14;	5.7;	7.18;	8.12)	e	cumprir
seus	mandamentos	(12.13).
Goldsworthy	observa	que	a	sabedoria,	como	a	história	da	salvação,	“encontra
seu	objetivo	e	cumprimento	em	Cristo...	três	aspectos	da	sabedoria	nos
confrontam	no	Novo	Testamento:	primeiro,	as	narrativas	dos	Evangelhos
retratam	Jesus	como	o	homem	sábio	que,	na	forma	e	no	conteúdo	de	muitas	de
suas	declarações,	segue	as	tradições	dos	mestres	de	sabedoria	de	Israel.	Segundo,
Jesus,	vai	além	disso	e	proclama	ser	a	sabedoria	de	Deus.	Terceiro,	certos
escritores	do	Novo	Testamento...	entendem	o	significado	da	pessoa	e	obra	de
Cristo	à	luz	de	certas	ideias	da	literatura	de	sabedoria”.¹
Contradições
Vários	comentaristas	encontram	falhas	em	Eclesiastes	por	causa	de	suas
contradições.	Compare,	por	exemplo,	as	afirmações	do	Pregador:	“(...)	tenho	por
mais	felizes	os	que	já	morreram,	mais	do	que	os	que	ainda	vivem”	(4.2)	e	“Para
aquele	que	está	entre	os	vivos	há	esperança;	porque	mais	vale	um	cão	vivo	que
um	leão	morto”	(9.4).	Ou	considere	a	contradição	dentro	de	uma	mesma
passagem:	“(...)	eu	sei	com	certeza	que	bem	sucede	aos	que	temem	a	Deus.	Mas
o	perverso	não	irá	bem	(...)”	(8.12-13)	e	há	“(...)	justos	a	quem	sucede	segundo
as	obras	dos	perversos,	e	perversos	a	quem	sucede	segundo	as	obras	dos	justos”
(8.14).
As	contradições,	contudo,	são	naturais	na	literatura	de	sabedoria	porque	a	vida	é
complexa.¹⁷	Um	dos	mais	claros	exemplos	de	conselho	contraditório	é
encontrado	em	Provérbios	26.4-5:	“Não	respondas	ao	insensato	segundo	a	sua
estultícia,
para	que	não	te	faças	semelhante	a	ele.
Ao	insensato	responde	segundo	a	sua	estultícia,
para	que	não	seja	ele	sábio	aos	seus	próprios	olhos”.
Às	vezes	é	sábio	não	responder	aos	insensatos;	outras	vezes,	é.¹⁸	Em	vez	de
culpar	Eclesiastes	por	suas	contradições,	deve-se	utilizá-las	para	entender	a
mensagem	do	autor¹ 	(veja	p.	35–36	abaixo,	“Justaposições”).	Como	diz
Raymond	Van	Leeuwen,	“Em	vez	de	nos	forçar	a	apagar	ou	‘harmonizar’	as
ambiguidades	e	‘contradições’,	a	sabedoria	bíblica	nos	convida	a	ponderar	as
nuances	e	complexidades	da	vida;	ela	nos	convida	a	nos	tornarmos	sábios”.²
O	contexto	histórico	de	Eclesiastes
Como	a	sabedoria	ensina	“‘ordens’	comuns	no	mundo”,²¹	identificar	o	contexto
histórico	do	autor	e	de	seus	leitores	originais	não	é	algo	tão	crucial	quanto	para
outros	gêneros	de	literatura	bíblica.	Contudo,	ter	alguma	noção	do	contexto
histórico	em	que	Eclesiastes	foi	escrito	ajuda	os	pregadores	a	entenderem	melhor
a	mensagem	e	a	discernirem	sua	relevância	original.	As	questões	que	devemos
tentar	responder	são:	Quem	escreveu	esse	livro?	Para	quem?	Quando?	Onde?	E
por	quê?
O(s)	autor(es)
Tradicionalmente,	os	pesquisadores	bíblicos	identificaram	o	rei	Salomão	como	o
autor	de	Eclesiastes.	Mas	Lutero	já	começou	a	questionar	essa	identificação.²²	Se
Salomão	fosse	o	autor,	por	que	não	se	identificaria	diretamente,	como	fez	em
Provérbios	1.1:	“Provérbios	de	Salomão,	filho	de	Davi,	o	rei	de	Israel”?	Em	vez
disso,	lemos	em	Eclesiastes	1.1:	“Palavra	do	Pregador,	filho	de	Davi,	rei	de
Jerusalém”.	O	autor	identificado	como	“Pregador”,	Qohelet.²³	Se	Salomão	fosse
o	autor,	por	que	ele	e	seu	editor	esconderiam	seu	nome?	Em	vez	de	usar	um
pseudônimo	de	Salomão,	Tremper	Longman	argumenta:	“É	muito	mais	provável
que	o	apelido	Qohelet	tenha	sido	adotado	pelo	verdadeiro	escritor	para	associar-
se	a	Salomão,	ao	mesmo	tempo	em	que	mantinha	distância	da	verdadeira	pessoa.
Isso	é	uma	forma	de	indicar	que	a	persona	salomônica	está	sendo	adotada	com
propósitos	comunicativos	e	literários.	Em	resumo,	o	sábio	que	adota	o	apelido
Qohelet	finge	ser	Salomão	enquanto	explora	avenidas	de	significado	no
mundo”.²⁴
Depois	que	Lutero	rejeitou	Salomão	como	único	autor	de	Eclesiastes,	as
comportas	de	especulação	se	abriram.	Por	causa	das	contradições	do	livro	e	das
rápidas	mudanças	de	perspectiva,	“houve	estudiosos	dispostos	a	sugerir	que	dois,
três	ou	até	nove	mentes	diferentes	tinham	trabalhado	no	livro”.²⁵	Se	todas	essas
nove	mentes	tivessem	trabalhado	no	livro	com	propósitos	diferentes,	discernir	a
mensagem	específica	de	um	texto	de	pregação	seria	praticamente	impossível.
Qual	seria	o	contexto	para	determinar	a	mensagem	do	texto?
Felizmente,	para	nossos	pregadores,	hoje,	está	surgindo	um	consenso	de	que	o
livro	foi	escrito	por	apenas	um	autor,² 	possivelmente	com	um	ou	dois	editores
que	escreveram	o	epílogo	de	12.8-14	ou	12.9-14	e,	talvez,	o	prólogo	de	1.1;	1.1-
2;	1.1-3;²⁷	ou	1.1-11²⁸	(o	prólogo	e	o	epílogo	são	escritos	na	terceira	pessoa,	não
na	primeira,	como	acontece	no	corpo	de	Eclesiastes).	A	questão	fundamental
agora	é	se	o	editor	final,	como	alguns	estudiosos	supõem,	avalia	criticamente	(e
enfraquece)	a	mensagem	do	Pregador.	A	posição	adotada	quanto	a	esta	questão
determina,	em	grande	medida,	como	a	mensagem	do	Pregador	será	interpretada.
Por	exemplo,	Longman	argumenta	que	o	chamado	“narrador	da	composição”
avalia	criticamente	os	ensinos	do	Pregador.² 	Jerry	Shepherd	adota	a	“teoria	da
composição”	de	Longman,	mas	a	expande,	comparando	pregar	a	sabedoria	do
pregador	com	pregar	os	discursos	dos	amigos	de	Jó:	“O	discurso	autobiográfico
do	Qohelet	em	Eclesiastes	não	é	a	palavra	de	Deus,	mas	está	contido	em	um
livro	que	é	palavra	de	Deus”.³ 	Com	o	golpe	de	uma	caneta,	doze	capítulos	de
sabedoria	do	Pregador	são	desqualificados	por	causa	de	dois	versos	(12.11-12),
que	são	entendidos	como	críticos	ao	pregador	–	e	o	Pregador	não	pode	mais	ser
ouvido	com	imparcialidade.³¹	Iain	Provan	corretamente	argumenta	que	não	é
“geralmente	plausível	que	as	volumosas	palavras	do	Qohelet	sejam	citadas	com
plena	justiça	de	modo	que	o	autor	de	12.8-12	acrescente	apenas	alguns
comentários	alegadamente	duvidando	delas	e	criticando-as	(e,	ainda	assim,	não
lidando	com	elas	de	modo	tão	claro)”.³²	Com	a	maioria	dos	comentaristas,
concordo	que	o	Pregador	e	seu	editor	falam	com	uma	só	voz.³³
Para	os	intérpretes,	isso	ainda	deixa	outra	questão	crucial	sobre	o	autor.	Vários
comentaristas	admitem	que	o	Pregador	critica	a	sabedoria	bíblica	tradicional	e	se
opõe	a	ela.	Por	exemplo,	Loader	escreve:	“Temos	que	concluir...	que	a	oposição
que	o	Pregador	faz	aos	geralmente	otimistas	mestres	de	sabedoria	nunca
diminui”.³⁴	Seow	alega	até	mesmo	que,	em	certo	ponto,	o	Pregador	“usa	a
retórica	de	subversão”.³⁵	Novamente	o	Pregador	é	colocado	em	uma	“caixa”	que
o	impede	de	se	fazer	ouvir.	O	fato	é	que	não	sabemos	com	certeza	quais
provérbios	ele	cita	da	sabedoria	tradicional	e	quais	são	suas	próprias
composições.	Michael	Fox	apresenta	uma	posição	mais	aberta	a	ouvir	a	voz	do
Pregador.	O	Pregador,	diz	ele,	“não	se	opõe	ou	apresenta	antíteses	às	doutrinas
da	sabedoria	tradicional.	Não	está	claro	sequer	que	ele	reconheça	uma	diferença.
Ele	não	está	‘usando	a	sabedoria	tradicional	contra	si	mesma’.	Ele	apenas	a	está
usando”.³
Os	leitores	originais
A	evidência	interna	oferece	algumas	pistas	a	respeito	dos	leitores	originais	deste
livro.	Garret	argumenta	que	“o	livro	não	foi	escrito	para	o	israelita	comum.	Ao
contrário,	membros	de	seus	leitores	originais	tinham	acesso	ao	rei	(8.3),
dedicavam-se	à	busca	da	sabedoria	(1.12-18)	e	tinham	ou	buscavam	riqueza
(5.10-17).	Em	resumo,	os	primeiros	leitores	eram	membros	da	aristocracia”.³⁷
Whybray	acrescenta:	“Qohelet	era...	um	teólogo	judeu	cujo	propósito	era,
motivado	por	uma	fé	religiosa	genuína,	mostrar	a	uma	jovem,	mas	adulta
audiência	masculina	como	manter	sua	fé	em	circunstâncias	que	militavam
poderosamente	contra	isso”.³⁸	Essas	pessoas	deviam	estar	vivendo	nas
proximidades	de	Jerusalém	e	do	templo,	como	podemos	presumir	pela
exortação:	“Guarda	o	teu	pé,	quando	entrares	na	Casa	de	Deus”	(5.1).
A	evidência	também	sugere	que	os	leitores	estavam	preocupados	com	dinheiro.Muitas	das	palavras	usadas	nesse	livro	são	do	mundo	do	comércio.³ 	Seow
conclui	que	os	“‘congregantes’	do	Pregador	estavam	aparentemente	preocupados
com	todos	os	tipos	de	questões	sociais	e	econômicas	–	a	volatilidade	da
economia,	a	possibilidade	de	riqueza,	herança,	posição	social,	a	fragilidade	da
vida	e	a	sempre	presente	sombra	da	morte.	Qohelet	tratou	dessas	questões	e	usou
expressões	que	eram	familiares	à	sua	audiência	para	subverter	suas
preocupações”.⁴
O	livro	também	nos	dá	uma	boa	ideia	da	visão	de	mundo	desses	leitores.	O
Pregador	se	dirige	a	pessoas	“cuja	visão	é	limitada	pelos	horizontes	deste
mundo;	ele	vai	até	eles	onde	eles	estão	e	passa	a	convencê-los	de	sua	vaidade
inerente.	Isso	também	é	expresso	por	sua	expressão	característica	‘debaixo	do
sol’”.⁴¹
Data	de	composição
Se	esse	livro	fosse	escrito	por	Salomão,	nos	dias	de	glória	da	existência	de	Israel
como	nação,	seria	difícil	justificar	seu	tom	pessimista.	O	pesquisador
conservador	Edward	Young	afirma:	“A	autoria	salomônica	não	é	amplamente
aceita	e	é	rejeitada	pela	maioria	dos	estudiosos	protestantes	ortodoxos”.	Uma	das
principais	razões	para	essa	rejeição	é	que	“o	contexto	do	livro	não	se	encaixa	na
época	de	Salomão.	Era	um	tempo	de	miséria	e	vaidade	(1.2-11);	o	esplendor	da
época	de	Salomão	tinha	passado	(1.12–2.26);	um	tempo	de	morte	tinha
começado	para	Israel	(3.1-15);	injustiça	e	violência	estavam	presentes	(4.1-3);
havia	tirania	pagã	(5.7,9-19);	a	morte	era	preferida	à	vida	(7.1);	e	um	homem
governava	sobre	outro	para	arruiná-lo	(8.9)”.⁴²
Uma	data	pós-exílica	se	encaixa	muito	melhor	na	evidência.	Whybray	afirma:
“O	livro	foi	escrito	muitos	séculos	depois	de	Salomão,	muito	provavelmente	no
século	3º	a.C.	As	principais	razões	para	essa	datação	são	três:	o	caráter	do
hebraico	em	que	foi	escrito,	seu	ânimo	e	estilo	de	argumento	e	seu	lugar	na
história	do	pensamento.	Cada	uma	dessas	considerações	seria	suficiente	para
provar	que	esta	é	uma	das	últimas	composições	do	Antigo	Testamento”.⁴³
Whybray	sugere	que	o	livro	provavelmente	foi	escrito	“quando	a	Palestina	era
governada	do	Egito	pela	dinastia	ptolemaica”.	Esse	foi	um	período	de	“intenso
desenvolvimento	econômico...	expansão	do	comércio	internacional...
oportunidade	para	surgimento	de	grandes	fortunas	para	os	empresários.	O
dinheiro	como	meio	de	troca	assumiu	uma	importância	que	nunca	tinha	tido
antes.	Esses	desenvolvimentos	ajudam	a	explicar	a	preocupação	do	Qohelet	com
dinheiro	e	lucro”.⁴⁴	Brown	observa:	“O	Qohelet	reflete	a	ansiedade	e	as
esperanças	que	essa	economia	emergente	inspirava	entre	o	povo	geral	de	Judá
(por	exemplo,	5.10-12;	7.12;	10.19).	De	fato,	o	sábio	vai	direto	ao	assunto	em
suas	reflexões	iniciais	sobre	a	condição	humana,	apresentando	a	questão	do
ganho	econômico	em	1.3:	‘Que	proveito	tem	o	homem	de	todo	o	seu	trabalho,
com	que	se	afadiga	debaixo	do	sol?’	(veja	também	3.9;	5.16)”.⁴⁵
Além	do	contexto	socioeconômico	de	Israel,	também	devemos	levar	em	conta
sua	perspectiva	religiosa	alterada.	Loader	escreve:	“Desde	a	deportação	de
Israel,	no	século	6º	a.C.,	pela	qual	a	nação	foi	forçada	ao	exílio,	profundas
mudanças	tinham	ocorrido	no	panorama	religioso	do	povo.	Eles	ainda	adoravam
o	mesmo	Deus	que	seus	pais	adoravam,	mas	seu	conceito	de	Deus	se	tornou
mais	impessoal”.⁴
Lugar	de	composição
Onde	o	pregador	escreveu	seu	livro?	Embora	alguns	defendam	um	local	de
composição	fora	da	Palestina,	o	próprio	livro	faz	alusão	a	ela.	“As	referências	às
condições	climáticas	e	à	imprevisibilidade	do	clima,	à	dependência	da	chuva...	e
a	sucessões	de	tempestades	(12.2)...	refletem	as	condições	da	Palestina...	Entre
os	locais	que	são	mencionados	pelo	Qohelet	encontramos	vários	que	são
característicos	da	Palestina,	mas	são	improváveis	no	Egito,	como	rachar	lenha
(10.9)	e	o	uso	de	cisternas	(12.6)...	Igualmente	decisivas	para	uma	localização
palestina	são	as	referências	ao	templo	[5.1-7;	8.10;	9.2]”.⁴⁷
O	propósito	de	Eclesiastes
Por	que	o	Pregador	escreveu	esse	livro?	Como	ele	mesmo	não	menciona
explicitamente	seu	propósito,	temos	que	examinar	o	conteúdo	e	a	estrutura	do
livro	(veja	abaixo)	para	podermos	dar	uma	resposta	definitiva.	Mas	podemos	dar
uma	resposta	provisória	aqui,	considerando	suas	reflexões	como	uma	resposta	à
situação	na	qual	os	leitores	originais	se	encontravam.	Vimos	que	esses	leitores
tinham	perdido	seus	ancoradouros	teológicos:	seu	Deus	era	distante,	enquanto
eles	viviam	somente	no	nível	horizontal,	secular,	isto	é,	“debaixo	do	sol”.	O
propósito	do	Pregador,	então,	era	mostrar	a	esses	leitores	a	deficiência	de	sua
visão	de	mundo	secular.	Por	essa	perspectiva,	ele	proclama:	“Tudo	é	vaidade”	(a
inclusio,*	1.2;	12.8).	Hendry,	por	isso,	chama	Eclesiastes	de	“uma	importante
obra	apologética”	e	“uma	crítica	ao	secularismo	e	à	religião	secularizada”.⁴⁸
Bartholomew	acrescenta:	“Eclesiastes	é	escrito	por	um	mestre	sábio	como	uma
exposição	irônica	de	uma	epistemologia	empirista	[epicureus	gregos]	que	busca
a	sabedoria	por	meio	de	experiência	e	análise	pessoal,	sem	os	‘óculos’	do	temor
a	Deus...	Eclesiastes	exorta	os	israelitas	a	se	esforçarem	para	entender	a	natureza
do	sentido	da	vida	e	dos	propósitos	de	Deus	e	a	buscarem	sabedoria	genuína
permitindo	que	seu	pensamento	seja	moldado	integralmente	pelo
reconhecimento	de	Deus	como	Criador,	de	modo	que	possam	desfrutar	das	boas
dádivas	de	Deus	e	obedecer	às	suas	leis	em	meio	ao	enigma	de	seus
propósitos”.⁴
Gênero	e	formas	de	Eclesiastes
Antes	de	podermos	entender	o	que	Eclesiastes	significa,	precisamos	saber	como
ele	significa,	isto	é,	qual	gênero,	forma	e	linguagem	(literal	ou	figurada)	ele	usa
para	comunicar	sua	mensagem.	O	gênero	amplo	de	Eclesiastes	é	literatura	de
sabedoria	(discutido	acima).	Os	comentaristas	têm	tentado	especificar	o	gênero
de	Eclesiastes	com	mais	precisão,	como	“autobiografia	de	estrutura	de
sabedoria”⁵ 	e	“tratado	autobiográfico”.⁵¹	Roland	Murphy	afirma:	Pode-se	dizer
que	nenhum	gênero	único,	nem	mesmo	diatribe,	é	adequado	como	caracterização
do	livro	do	Qohelet.	Isto	parece	ser	devido	ao	fato	de	que	se	trata	de	uma
publicação	de	seus	ensinos,	que	abrangem	muitos	gêneros	[formas]	de	escrita”.⁵²
Para	interpretar	Eclesiastes,	portanto,	devemos	ter	em	mente	que	se	trata	de	uma
literatura	de	sabedoria	e	dar	atenção	especial	aos	seus	subgêneros,	isto	é,	suas
formas.	Enumeramos	os	tipos	mais	comuns.
Reflexão
Reflexão	é	uma	forma	característica	de	Eclesiastes.	Ela	contempla	as	mais
profundas	questões	da	vida	e	normalmente	é	marcada	por	verbos	em	primeira
pessoa,	como	“apliquei-me”,	“disse	a	mim	mesmo”,	“vi	(observei)”.	A	reflexão
“tem	uma	estrutura	vaga;	ela	começa	com	um	tipo	de	observação,	que	é,	então,
examinado	por	um	ou	mais	pontos	de	vista,	levando	a	uma	conclusão.	Dentro
dela,	podem-se	encontrar	provérbios,	empregados	para	desenvolver	ou	preencher
o	pensamento	(por	exemplo,	1.12-18)”.⁵³
Provérbio
Provérbios	são	encontrados	em	todo	o	livro	de	Eclesiastes,	mas	especialmente
nos	capítulos	7,	10	e	11.	“Um	provérbio	é	uma	declaração	vigorosa,	altamente
estilizada,	de	uma	verdade	sobre	a	vida”.⁵⁴	Por	exemplo,	Eclesiastes	10.12	diz:
“Nas	palavras	do	sábio	há	favor,	mas	ao	tolo	os	seus	lábios	devoram”.
Um	provérbio	afirma	uma	verdade	geral,	mas	não	cobre	todas	as	situações.
Thomas	Long	afirma:	“Um	provérbio	é	maior	que	um	caso,	mas	não	é	amplo	o
suficiente	para	abranger	todos	os	casos.	A	presença	de	provérbios	contraditórios
dentro	da	mesma	coleção...	indica	que	os	provérbios	têm	um	“limite	superior”	de
aplicabilidade.	Como	sabedoria,	transcendem	uma	situação	singular,	mas	não
têm	força	indiscriminada	para	serem	aplicados	em	todos	os	lugares	e
momentos”.⁵⁵
Os	provérbios	podem	ser	subdivididos	em	provérbios	“verdadeiros”	(por
exemplo,	1.14:	“(...)	tudo	é	(era)	vaidade	e	correr	atrás	do	vento”);	provérbios
“melhor	que”	(por	exemplo,	4.9:	“Melhor	é	serem	dois	do	que	um”);	e
provérbios	“assim	como”	(por	exemplo,	11.5:	“Assim	como	tu	não	sabes	qual	o
caminho	do	vento,	nem	como	se	formam	os	ossos	no	ventre	da	mulher	grávida,
assim	também	não	sabes	as	obras	de	Deus,	que	faz	todas	ascoisas”).⁵
Instrução
“Uma	instrução	é	um	ensino	em	que	o	autor	procura	persuadir	seu	leitor	a	adotar
ou	se	afastar	de	um	determinado	curso	de	ação	ou	pensamento”.⁵⁷	A	forma	da
instrução	é	normalmente	marcada	por	um	ou	mais	imperativos,	frequentemente
apoiados	por	“motivações”	–	razões	para	obedecer	ao	comando.	Por	exemplo,
Eclesiastes	5.1-2	é	uma	instrução	apoiada	por	motivações:	“Guarda	o	teu	pé,
quando	entrares	na	Casa	de	Deus;	chegar-se	para	ouvir	é	melhor	do	que	oferecer
sacrifícios	de	tolos,	pois	não	sabem	que	fazem	mal.	Não	te	precipites	com	a	tua
boca,	nem	o	teu	coração	se	apresse	a	pronunciar	palavra	alguma	diante	de	Deus;
porque	Deus	está	nos	céus,	e	tu,	na	terra;	portanto,	sejam	poucas	as	tuas
palavras”.
Narrativa	autobiográfica
Narrativa	autobiográfica	é	“uma	descrição	em	terceira	pessoa	de	uma	existência
pessoal,	real	ou	imaginada...	ou	estilizada	como	ficção	literária	(i.e.,	uma
descrição	de	uma	existência	pessoal	criada	pelo	escritor	bíblico	ou	pelo	editor
com	fins	literários	e/ou	teológicos	e/ou	razões	teológicas)”.⁵⁸	Exemplos	de
narrativa	autobiográfica	são	Eclesiastes	1.12–2.16	e	7.23-29.
Anedota
Uma	anedota	(às	vezes	chamada	de	parábola)	é	uma	“história	curta	[contada	em
terceira	pessoa]	para	ilustrar	um	princípio	ou	verdade	de	interesse	do	autor”.⁵
Por	exemplo,	Eclesiastes	9.13-15	começa	com	uma	reflexão	sobre	sabedoria	e	a
ilustra	com	uma	anedota:	“Também	vi	este	exemplo	de	sabedoria	debaixo	do	sol,
que	foi	para	mim	grande.	Houve	uma	pequena	cidade	em	que	havia	poucos
homens;	veio	contra	ela	um	grande	rei,	sitiou-a	e	levantou	contra	ela	grandes
baluartes.	Encontrou-se	nela	um	homem	pobre,	porém	sábio,	que	a	livrou	por
sua	muita	sabedoria;	contudo,	ninguém	se	lembrou	mais	daquele	pobre”.
Metáfora
Uma	metáfora	é	“uma	figura	de	linguagem	em	que	uma	palavra	ou	frase	que
literalmente	denota	um	tipo	de	objeto	ou	ideia	é	usada	em	lugar	de	outra	de
forma	a	sugerir	uma	semelhança	ou	analogia	entre	elas”. 	Por	exemplo,
Eclesiastes	12.6	reúne	quatro	metáforas	para	a	morte	de	uma	pessoa:	“antes	que
se	rompa	o	fio	de	prata,	e	se	despedace	o	copo	de	ouro,	e	se	quebre	o	cântaro
junto	à	fonte,	e	se	desfaça	a	roda	junto	ao	poço”.	A	metáfora	mais	repetida	em
Eclesiastes	é	“vaidade”,	literalmente	“vapor”	ou	“sopro”.	O	que	o	Pregador	quer
dizer	quando	compara	a	vida	humana	ao	vapor?	Ele	está	sugerindo	que	a	vida	é
curta,	efêmera,	ou	está	dizendo	que	a	vida	é	sem	substância	ou	fútil,	ou	está
implicando	que	a	vida	é	absurda	ou	sem	sentido?	O	contexto	tem	que	estabelecer
a	nuance	específica. ¹
Alegoria
Uma	alegoria	é	uma	metáfora	estendida.	Veja,	por	exemplo,	Eclesiastes	12.3-4,
em	que	uma	pessoa	idosa	é	descrita	em	termos	de	uma	casa	e	seus	ocupantes:
“No	dia	em	que	tremerem	os	guardas	da	casa,	os	teus	braços,	e	se	curvarem	os
homens	outrora	fortes,	as	tuas	pernas,	e	cessarem	os	teus	moedores	da	boca,	por
já	serem	poucos,	e	se	escurecerem	os	teus	olhos	nas	janelas;	e	os	teus	lábios,
quais	portas	da	rua,	se	fecharem...”
A	alegoria,	é	claro,	requer	interpretação	alegórica.	Embora	possa	ser	tentador
pregar	Cristo	usando	interpretação	alegórica	em	outros	textos,	esse	tipo	de
interpretação	deve	ser	restrito	à	forma	de	alegoria. ²
A	estrutura	de	Eclesiastes
Identificar	a	estrutura	geral	de	Eclesiastes	é	importante,	pois	só	se	pode	entender
corretamente	o	texto	em	seu	contexto	literário.	A	conhecida	história	antiga	de
um	homem	cego	tocando	em	um	elefante	ilustra	esse	importante	princípio	da
hermenêutica	bíblica.	Quando	o	homem	cego	tocou	o	lado	do	animal,	concluiu
que	tinha	topado	com	uma	parede.	Movendo-se	ao	longo	da	“parede”,	sentiu
uma	perna	e	inferiu	que	havia	uma	grande	árvore	perto	da	parede.	Movendo-se
ainda	mais,	tocou	a	tromba	do	elefante	e	concluiu	que	havia	uma	cobra	na
árvore.	Se	o	homem	cego	tivesse	conhecimento	do	todo,	que	estava	tocando	um
elefante,	teria	sido	capaz	de	identificar	corretamente	as	partes.
Semelhantemente,	para	correta	interpretação,	as	partes	de	Eclesiastes	têm	que	ser
entendidas	no	contexto	do	livro	todo.	Infelizmente,	determinar	a	estrutura	geral
de	Eclesiastes	é	notoriamente	muito	difícil.	Longman	afirma:	“O	estudo
aprofundado	mostra	que	o	pensamento	do	Qohelet	vagueia,	repete-se	e,
ocasionalmente,	se	contradiz”. ³	Franz	Delitzsch	predisse,	em	1891:	“Todas	as
tentativas	de	mostrar,	no	todo,	não	apenas	singularidade	de	espírito,	mas	também
um	progresso	genético,	um	plano	totalmente	abrangente	e	uma	conexão	orgânica
falharam	até	aqui,	e	devem	falhar”. ⁴	Mas	esse	ceticismo	sobre	descobrir	uma
estrutura	geral	não	impediu	os	comentaristas	de	tentar. ⁵	Nenhuma	proposta
detalhada,	porém,	encontrou	aceitação	geral.	O	que	os	pregadores	devem	fazer
quando	os	pesquisadores	ficam	em	pane	total	com	a	estrutura	de	Eclesiastes?
Padrões	literários
Uma	boa	maneira	de	os	pregadores	responderem	à	incapacidade	dos
pesquisadores	é	não	serem	pegos	em	estruturas	literárias	complexas,	mas
examinar	o	livro	em	busca	de	uma	estrutura	geral	mais	modesta	que	os	ajude	a
entender	as	partes.	É	claro	que	Eclesiastes	mostra	sua	estrutura	unificada	com
uma	inclusio:	“Vaidade	de	vaidades,	diz	o	pregador;	vaidade	de	vaidades,	tudo	é
vaidade”	(1.2;	12.8).	A	inclusio	é	reforçada	por	um	poema	de	abertura	sobre	a
falta	de	proveito	no	labor	humano	(1.3-11)	e	um	poema	de	encerramento
encorajando	seus	leitores	a	se	lembrarem	de	seu	Criador	antes	da	velhice	e	da
morte	(12.1-7).	Entre	essas	duas	“extremidades	do	livro”,	o	Pregador	busca	o
sentido	da	vida.	Seu	“tudo	é	vaidade”	inicial	é	repetido	umas	trinta	e	oito	vezes,
mas	é	equilibrado	por	seu	uso	frequente	da	palavra	“bom/bondade”	(cinquenta	e
uma	vezes)	e	seu	sêxtuplo	encorajamento	ao	temor	a	Deus	(3.14;	5.7;	7.18;	8.12-
13	[3X]).	Isso	conduz	a	um	sumário	final	do	editor	sobre	a	busca	de	sentido:	“De
tudo	o	que	se	tem	ouvido,	a	suma	é:	Teme	a	Deus	e	guarda	os	seus
mandamentos;	porque	isto	é	o	dever	de	todo	homem”	(12.13).	Através	de	muitas
paradas	e	começos	para	encontrar	o	sentido	da	vida,	o	padrão	de	Eclesiastes
progride	até	esta	final	e	sétima	exortação:	“Teme	a	Deus”,	elucidada	por	“e
guarda	os	seus	mandamentos”.
Também	devemos	notar	um	padrão	alternativo	de	fios	horizontais	e	verticais	em
Eclesiastes.	Os	fios	horizontais	descrevem	a	vida	“debaixo	do	sol”,	enquanto	os
verticais	apontam	para	Deus.	Podemos	comparar	o	livro	a	uma	roupa	tecida	com
fios	verticais	que	se	entrelaçam	com	fios	horizontais	e	formam	o	tecido.	Os	fios
horizontais	descrevem	a	vida	por	uma	perspectiva	secular:	vida	“debaixo	do	sol”
é	vida	sem	Deus. ⁷	“Vaidade	de	vaidades,	tudo	é	vaidade.	Que	proveito	tem	o
homem	de	todo	o	seu	trabalho	com	que	se	afadiga	debaixo	do	sol?”	(1.2-3).	A
resposta	é:	nada,	absolutamente	nada.	Há	mais	para	viver,	contudo,	que	um
mundo	sem	Deus.	Trinta	e	nove	vezes	o	Pregador	menciona	Deus.	Quando	ele
fala	de	Deus,	“a	terminologia	‘debaixo	do	sol’	fica	em	segundo	plano	ou
totalmente	ausente	(2.24-26;	11.1–12.14);	em	vez	disso,	ele	se	refere	à	‘mão	de
Deus’	(2.24),	à	alegria	do	homem	(2.25;	3.12;	5.18,20;	9.7;	11.7-9)	e	à
generosidade	de	Deus	(2.26;	3.13;	5.19).	Em	doze	ocasiões	é	dito	que	Deus	‘dá’.
Em	sete	ocasiões	é	dito	que	a	humanidade	recebe	de	Deus	uma	‘porção’
alegre”. ⁸	O	Pregador	fala	de	Deus	dando	“sabedoria,	conhecimento	e	prazer”
(2.26),	comida,	bebida	e	prazer	no	trabalho	(3.13),	“riquezas	e	bens”	e	a
capacidade	de	desfrutar	deles	(5.19;	6.2)	e	do	desejo	de	Deus	de	que	as	pessoas
desfrutem	de	suas	dádivas	(9.7).	O	Pregador	também	adverte	que	Deus	“não	se
agrada	de	tolos”	(5.4)	e	“julgará	o	justo	e	o	perverso”	(3.17;	11.9).	Portanto,	as
pessoas	devem	temer	a	Deus	(3.14;	5.7;	7.18;	8.12-13;	12.13).
Justaposições
O	padrão	de	fios	verticais	se	entrelaçando	com	fios	horizontais	explica,	em	parte,
as	contradições	em	Eclesiastes.	O	Pregador	se	coloca	na	posição	de	uma	pessoa
que	vive	sem	Deus	e,	a	partir	dessa	perspectiva,	conclui	que	“tudo	é	vaidade”.
Mas	se	a	pessoa	tiver	os	olhos	postos	na	realidade	de	Deus,	tudo	não	é	vaidade;
há	sentido	na	vida,	muito	embora,	pela	perspectiva	do	Pregador,	ele	seja	restrito
por	causa	da	morte.Para	descrever	essa	polaridade	em	Eclesiastes,	alguns
estudiosos	falam	de	uma	“estrutura	polar” 	ou	“justaposição”;⁷ 	outros,	ainda,
caracterizam	o	livro	como	“diatribe”,⁷¹	“dialógico”,⁷²	ou	“dialético”.⁷³	O
elemento	comum	nessas	descrições	variadas	é	que	eles	se	referem	a	essa	tensão
em	Eclesiastes	entre	uma	perspectiva	secular⁷⁴	e	a	perspectiva	teocêntrica.
As	justaposições	são	propositais.	O	livro	é	como	uma	pintura	de	Rembrant,	na
qual	o	fundo	e	as	figuras	escuras	conduzem	os	olhos	para	as	figuras	na	luz.	O
fundo	escuro	de	vaidade	e	morte	do	pregador	busca	conduzir	o	leitor	aos
elementos	que	estão	na	luz:	alegria;	dádivas	de	Deus;	temor	a	Deus	e
observância	aos	seus	mandamentos.	A	luz	é	o	ponto	focal	da	mensagem	do
Pregador,	mas	somente	em	contraste	com	as	trevas	da	vida	sem	Deus.	A
importância	de	observar	essa	polaridade	entre	o	negativo	e	o	positivo	é	que	não
se	pode	isolar	uma	seção	negativa	de	Eclesiastes	e	pregá-la	como	se	fosse	a
mensagem	do	Pregador.	Todo	texto	de	pregação	deve	ser	entendido	em	seu
contexto	literário	mais	amplo.
A	estrutura	geral
Vários	comentaristas	têm	tentado	utilizar	o	sétuplo	carpe	diem	(“aproveite	o
dia”)	do	Pregador.⁷⁵	Em	2.24,	o	Pregador	afirma:	“Nada	há	melhor	para	o
homem	do	que	comer,	beber	e	fazer	que	a	sua	alma	goze	o	bem	do	seu	trabalho”.
Ele	repete	esse	conselho	para	desfrutar	a	vida	em	3.12-13;	3.22;	5.18-20;	8.15;
9.7-10;	11.7-10.	Embora	certamente	se	deva	considerar	essa	importante	repetição
para	desfrutar	cada	dia,	como	pode	ser	visto	pela	grande	distância	entre	elas,	isso
não	funciona	adequadamente	como	a	estrutura	do	Pregador	de	Eclesiastes.
De	todas	as	propostas,⁷ 	Addison	Wright	provavelmente	produziu	a	mais
convincente	e	detalhada	estrutura	literária	de	Eclesiastes.⁷⁷	Sua	análise	é	baseada
na	“simples	técnica	[do	autor]	de	concluir	seções	relacionadas	com	a	mesma
frase”.	Com	base	nessas	repetições,	Wright	concluiu	“que	o	corpo	do	livro
consiste	de	duas	metades,	1.12–6.9	e	6.10–11.6.	Na	primeira	metade,	Qohelet
examina	o	que	é	bom	o	homem	fazer	(2.4)	e	expressa	suas	próprias	observações
experimentais	em	duas	declarações	introdutórias	de	propósito	(1.12-18)	e	seis
seções	expositivas	(2.1–6.9),	cada	uma	das	quais	terminando	com	“tudo	é
vaidade	e	correr	atrás	do	vento”	(linha	que	nunca	ocorre	novamente	no	livro
depois	de	6.9).	Na	segunda	metade	do	livro	(6.10–11.6),	o	Qohelet	começa
fazendo	duas	perguntas:	Quem	sabe	o	que	é	bom	para	o	homem	e	quem	conhece
o	futuro	(6.10-12).	Ele	desenvolve	a	primeira	seção	em	quatro	seções	(7.1–8.17).
Cada	uma	dessas	seções	termina	com	(não	descobrir),	e	a	última	seção,	com	um
triplo
[não	pode	compreender...	não	a	entenderá...	não	a	poderá	achar]	(8.17).	Ele
desenvolve	a	segunda	pergunta	em	seis	seções	[posteriormente	reduzidas	a
quatro]⁷⁸	(9.1–11.6),	nas	quais	ilustra	a	incapacidade	do	homem	de	conhecer	o
futuro.	Cada	uma	dessas	seções	termina	com	(“você	não	sabe”)	e	a	última	seção,
com	um	triplo
[não	sabes...	não	sabes...	não	sabes]	(11.5-6)”.⁷
O	segundo	estudo	de	Wright	confirmou	suas	conclusões	anteriores	e	as
fortaleceu	com	importantes	detalhes	numéricos.⁸ 	Embora	vários	comentaristas
critiquem	esse	método	e	seus	resultados,⁸¹	incluo	sua	estrutura	proposta	(veja	p.
39)⁸²	porque	ele	parece	ter	encontrado	muitas	divisões	elaboradas	pelo	autor	de
Eclesiastes.	Embora	as	categorias	formais	de	Wright	não	reflitam	o	conteúdo	de
Eclesiastes	–	e,	assim,	não	ofereçam	muito	auxílio	para	o	entendimento	das
unidades	individuais	–,	sua	análise	é	útil	para	determinar	os	limites	das	unidades
literárias	que	podem	servir	como	texto	de	pregação.
A	mensagem	geral	de	Eclesiastes
Já	que	os	comentaristas	não	concordam	sobre	a	estrutura	de	Eclesiastes,	também
não	concordam	com	sua	mensagem	geral.	As	opiniões	variam	de	“tudo	é
vaidade”⁸³	a	“desfrute	a	vida”.⁸⁴	Alguns	estudiosos	optam	por	vários	temas.
Brown	afirma:	“Encontrar	um	sentido	uniforme	e	determinado	em	Eclesiastes	é
tão	enganoso	quanto	assegurar	que,	para	o	sábio,	o	ganho	estava	por	trás	deste
livro.	Contudo,	certos	temas	se	destacam,	particularmente	a	fragilidade	da
existência	humana,	a	incapacidade	de	os	seres	humanos	se	estabilizarem,	a
inescrutável	vontade	de	Deus	e	o	chamado	ao	carpe	diem,	“aproveitar	a	vida”
antes	que	o	sol	se	ponha,	por	assim	dizer”.⁸⁵	Esses	temas	podem	ser	pregados
legitimamente	quando	os	textos	de	pregação	os	mencionam.
Devido	ao	fato	de	que	o	Pregador	expõe	uma	variedade	de	temas,	há	um	modo
de	formular	um	único	tema	que	seja	totalmente	abrangente?	Se	tivermos	que
pregar	um	sermão	sobre	todo	o	livro	de	Eclesiastes,	qual	seria	o	tema?⁸ 	Já
observamos	a	ênfase	do	Pregador	com	sua	inclusio	e	sua	constante	repetição	de
que	“tudo	é	vaidade”.	Mas	também	observamos	seu	refrão	“desfrutem	dos	bens”.
Além	disso,	vimos	sua	repetida	ênfase	em	“tema	a	Deus”,	que	também	é
enfatizada	na	conclusão:	“De	tudo	o	que	se	tem	ouvido,	a	suma	é:	Teme	a	Deus	e
guarda	os	seus	mandamentos;	porquanto	isto	é	o	dever	de	todo	homem”.
Podemos	abranger	esses	temas	importantes	com	um	tema	totalmente
abrangente?	Pode-se	considerar	o	seguinte	tema:	temer	a	Deus	para	transformar
uma	vida	vã,	vazia,	em	uma	vida	significativa	que	desfruta	das	dádivas	de
Deus.⁸⁷
Dado	este	tema	totalmente	abrangente,	o	propósito	geral	do	Pregador	seria
encorajar	seus	leitores	a	rejeitar	a	cosmovisão	secular	e	a	fazer	de	Deus	o	ponto
focal	de	sua	vida.	Como	diz	Eaton,	“O	temor	a	Deus	que	ele	[o	pregador]
recomenda	(3.14;	5.7;	8.12;	12.13)	não	é	somente	o	princípio	da	sabedoria;
também	é	o	princípio	da	alegria,	do	contentamento	e	de	uma	vida	poderosa	e
com	propósito.	O	Pregador	deseja	nos	libertar	de	uma	vida	rósea,	autoconfiante	e
sem	Deus,	com	seu	inevitável	cinismo	e	amargor,	e	da	confiança	na	sabedoria,
no	prazer,	na	riqueza	e	na	justiça	ou	integridade	humana.	Ele	deseja	nos	levar	a
ver	que	Deus	está	lá,	que	ele	é	bom	e	generoso,	e	que	somente	esta	perspectiva
torna	a	vida	coerente	e	satisfatória”.⁸⁸	Dentro	desse	panorama	geral,	os
pregadores	precisam	determinar	objetivos	mais	específicos	em	cada	texto	de
pregação.
Dificuldades	na	pregação	de	Eclesiastes
Os	pregadores	têm	que	lidar	não	apenas	com	as	dificuldades	na	interpretação	de
Eclesiastes,	mas	também	têm	que	enfrentar	dificuldades	específicas	na	pregação
desse	livro.	Destacaremos	três	dificuldades:	primeira,	selecionar	um	texto	de
pregação	adequado;	segunda,	formular	um	tema;	terceira,	pregar	Cristo	a	partir
de	Eclesiastes.
A	seleção	de	um	texto	de	pregação	adequado
Para	fazer	justiça	ao	pensamento	do	autor	bíblico,	um	texto	de	pregação	deve	ser
uma	unidade	literária	–	não	um	fragmento	de	uma	unidade	ou	um	verso.⁸ 	Com
narrativas	bíblicas,	as	unidades	são	facilmente	demarcadas,	mas	isso	não
acontece	com	Eclesiastes.	W.	Sibley	Towner	afirma:	“é	mais	difícil	identificar	a
maioria	das	perícopes	individuais	em	Eclesiastes	que	em	qualquer	outro	livro	da
Bíblia	hebraica,	exceto,	talvez,	o	livro	de	Provérbios”.
Os	comentaristas	geralmente	concordam	que	Eclesiastes	1.1-11	e	1.12–2.26	são
unidades	literárias,	mas	não	concordam	sobre	as	que	vêm	depois.	Como	o
sentido	de	um	texto	pode	mudar	com	a	mudança	em	suas	dimensões,	é	muito
importante	selecionar	textos	de	pregação	adequados	em	Eclesiastes.	Se	o	texto
escolhido	não	for	uma	unidade	literária,	ele	arruinará	o	sermão	desde	o	início.
Felizmente,	o	pregador	oferece	algum	auxílio	para	determinar	grandes	e
pequenas	unidades	literárias	com	construções	iniciais	para	suas	reflexões,	como
“vi,	tenho	visto,	observado”	(por	exemplo,	3.16;	4.1,7;	5.18;	7.15;	8.9;	9.11,13)	e
marcadores	finais,	como	“tudo	é	vaidade	e	correr	atrás	do	vento”	(1.14,17;
2.11,17,26;	4.4,6,16;	6.9). ¹	A	análise	literária	de	Addison	Wright	(veja	acima,	p.
39)	também	é	útil	para	confirmar	nossas	escolhas	de	textos	de	pregação.	Como
ele	observa	corretamente,	“Eclesiastes	é	um	livro	difícil	porque	pode	ser	usado
para	dizer	muitas	coisas	diferentes,	dependendo	de	como	se	divide	o	material	em
seções...	consequentemente,	se	o	autor	tiver	indicado	uma	forma	de	dividir	o
material,	essas	indicações	são	da	maior	importânciapara	uma	exegese	válida”. ²
Os	pregadores,	é	claro,	têm	que	escolher	unidades	menores	que	as	identificadas
como	textos	de	pregação	neste	livro,	mas,	para	uma	interpretação	válida,	essas
subunidades ³	ainda	têm	que	ser	entendidas	no	contexto	de	uma	unidade	maior.
Dois	índices	no	fim	deste	livro,	“Alvos	para	sermões”	e	“Tópicos	para	sermões”,
também	podem	despertar	ideias	para	sermões	ocasionais	sobre	Eclesiastes.
Formulação	de	um	tema	único
Sermões	modernos	requerem	um	tema	único	para	que	tenham	unidade	e
movimento. ⁴	Mas	o	Pregador	frequentemente	tenta	apresentar	seu	pensamento
em	som	stereo	por	meio	de	uma	justaposição	de	um	polo	negativo	com	um	polo
positivo	ou	apresentando	dois	polos,	como	“Alegra-te,	jovem,	na	tua	juventude
(...)”	e	“Lembra-te	do	teu	Criador	nos	dias	da	tua	mocidade	(...)”	(11.9;	12.1).
Quando	o	texto	de	pregação	contém	duas	mensagens,	é	um	desafio	formular	um
só	tema	que	faça	justiça	a	ambos	os	polos.	Temos	que	verificar	se	um	dos	dois
temas	é	dominante	para	que	possamos	subordinar	um	ao	outro,	ou	se	podemos
formular	um	tema	totalmente	abrangente	que	inclua	os	dois.
Pregando	Cristo	a	partir	de	Eclesiastes
Os	pregadores	não	podem	simplesmente	proclamar	a	sabedoria	do	Antigo
Testamento	como	“evangelho”	na	igreja	cristã.	Assim	como	a	lei	do	Antigo
Testamento	(pense	na	circuncisão,	no	sábado	e	nas	comidas	impuras)	tem	que	ser
validada	pelo	Novo	Testamento	antes	de	ser	proclamada	como	“evangelho”	(no
sentido	de	boas-novas	também	para	a	igreja),	assim	também	a	sabedoria	do
Antigo	Testamento	tem	que	ser	confirmada	pelo	Novo	Testamento	antes	de	ser
proclamada	como	“evangelho”.	O	núcleo	do	Novo	Testamento	é	Jesus	Cristo,
que	não	apenas	personificou	a	“sabedoria	de	Deus”	(1Co	1.24,30),	mas	também
ensinou	a	sabedoria	às	pessoas	“como	quem	tem	autoridade”	(Mt	7.29).	Jesus
disse	aos	judeus:	“Examinais	as	Escrituras,	porque	julgais	ter	nelas	a	vida	eterna,
e	são	elas	mesmas	que	testificam	de	mim.	Contudo,	não	quereis	vir	a	mim	para
terdes	vida”	(Jo	5.39-40).	Não	devemos	apenas	pregar	o	Antigo	Testamento,	mas
também	associá-lo	a	Cristo	para	que	as	pessoas	tenham	vida.
Como	mencionado	no	Prefácio,	depois	de	pregar	um	sermão	em	uma	série	sobre
Eclesiastes	há	uns	trinta	anos,	fui	perguntado	por	um	pastor	aposentado	se	um
rabino	poderia	ter	pregado	meu	sermão	na	sinagoga.	Tive	que	admitir	que	um
rabino	provavelmente	poderia	ter	feito	isso.	Isso	significa	que	eu	tinha	pregado
um	“sermão	do	Antigo	Testamento”,	em	vez	de	um	“sermão	cristão”. ⁵	Um
estudo	mais	aprofundado	me	convenceu	de	que	os	pais	da	igreja	estavam	certos
em	insistir	que	um	sermão	cristão	devia	pregar	Cristo.	Mas	como?	Eclesiastes
não	contém	sequer	um	“texto	messiânico”. 	Não	há	promessa	da	vinda	do
Messias.	Como	pregar	Cristo	a	partir	de	um	livro	que	não	tem	textos
messiânicos?
Infelizmente,	durante	grande	parte	da	história	da	igreja,	a	interpretação	alegórica
foi	o	método	escolhido	para	pregar	Cristo	no	Antigo	Testamento. ⁷	Mas	a
interpretação	alegórica	é	uma	forma	de	exegese:	ela	lê	o	Jesus	do	Novo
Testamento	no	Antigo.	Hoje	enfrentamos	outra	tendência	perigosa	para	pregar
Cristo.	Brown	escreve:	“A	tentação	surge	entre	os	intérpretes	cristãos	que	tratam
o	Qohelet	meramente	como	realce	para	a	mensagem	do	evangelho,	uma
perspectiva	deficiente	e	perigosa	em	clara	necessidade	de	reabilitação”. ⁸
Embora	o	contraste	com	a	mensagem	de	Eclesiastes	às	vezes	possa	ser	o
caminho	para	pregar	Cristo,	há	muito	mais	opções	a	considerar.	Um	estudo	do
Novo	Testamento	e	da	história	da	igreja	revela	pelo	menos	sete	maneiras
legítimas	de	pregar	Cristo	a	partir	do	Antigo	Testamento.	Investigar	qual	dessas
maneiras	conduz	da	mensagem	do	texto	para	Cristo,	no	Novo	Testamento,	é	uma
forma	de	investigação	que	normalmente	conduz	a	várias	possibilidades.	No
sermão	não	devem	ser	usadas	todas	essas	maneiras,	é	claro,	mas	escolher	a	mais
atrativa,	talvez	apoiada	por	uma	ou	duas	das	outras.	Vejamos	cada	uma	dessas
maneiras.
Progressão	histórico-redentiva
Quando	um	colega	viu	o	título	deste	manuscrito,	Pregando	Cristo	a	partir	de
Eclesiastes,	ele	riu:	“Você	está	tentando	encontrar	Cristo	embaixo	de	cada	pedra,
não?”	No	impulso	do	momento,	respondi:	“Você	está	me	confundindo	com
Paulo”	(veja	1Co	10.4).	Refletindo	sobre	essa	conversa	imprópria	mais	tarde,
concluí	que	dei	a	resposta	errada.	Eu	deveria	ter	dito:	“Não	se	trata	de	tentar
encontrar	Cristo	embaixo	de	cada	pedra,	mas	de	ligar	os	pontos”	–	os	pontos	que
vão	da	periferia	do	Antigo	Testamento	ao	centro	da	revelação	de	Deus	em	Jesus
Cristo.	A	progressão	histórico-redentiva	é	a	maneira	básica	e	fundamental	de
ligar	os	pontos.	Como	a	história	da	redenção	progride	de	seu	início	mais	remoto,
depois	da	Queda	no	pecado	(Gn	3.15),	passa	pelo	tratamento	de	Deus	com	Israel
e	vai	até	a	encarnação	de	Cristo,	sua	vida,	morte,	ressurreição	e	ascensão	e,
finalmente,	à	segunda	vinda,	os	pregadores	cristãos	devem	entender	uma
passagem	do	Antigo	Testamento	à	luz	dessa	progressão	na	história	da
redenção.¹
Por	exemplo,	o	Pregador	não	conhece	a	ressurreição	dos	mortos.	Embora	sugira
que	haverá	um	juízo	final	(3.17;	8.12-13;	11.9),	seu	pressuposto	principal	é	a
morte	como	ponto-final.¹ ¹	Ele	escreve:
O	que	sucede	aos	filhos	dos	homens	sucede	aos	animais;	o	mesmo	lhes	sucede:
como	morre	um,	assim	morre	o	outro,	todos	têm	o	mesmo	fôlego	de	vida,	e
nenhuma	vantagem	tem	o	homem	sobre	os	animais;	porque	tudo	é	vaidade.
Todos	vão	para	o	mesmo	lugar;	todos	procedem	do	pó	e	ao	pó	tornarão.	Quem
sabe	se	o	fôlego	de	vida	dos	filhos	dos	homens	se	dirige	para	cima	e	o	dos
animais	para	baixo,	para	a	terra?	(3.19-21;	cf.	2.15-16;	9.5).
Mas	esse	pressuposto	da	morte	como	ponto-final	muda	drasticamente	quando	a
história	da	redenção	se	move	para	a	frente,	para	a	ressurreição	de	Jesus.	A	morte
não	é	o	fim.	Jesus	venceu	a	morte.	O	próprio	Jesus	ensina	aos	seus	seguidores:
“Eu	sou	a	ressurreição	e	a	vida.	Quem	crê	em	mim,	ainda	que	morra,	viverá;	e
todo	o	que	vive	e	crê	em	mim	não	morrerá,	eternamente”(Jo	11.25-26).	A
progressão	na	história	da	redenção	até	a	ressurreição	de	Jesus	coloca	a
mensagem	do	Pregador	sob	nova	luz.¹ ²
Promessa-cumprimento
O	Antigo	Testamento	contém	muitas	promessas	sobre	a	vinda	do	Messias.	De
uma	promessa	dessas,	pode-se	ir	diretamente	para	seu	cumprimento,	na	vinda	de
Jesus.	Mas	não	podemos	usar	o	modo	de	promessa-cumprimento	em	Eclesiastes
porque	ele	não	contém	promessas	messiânicas.
Tipologia
Tipologia	é	uma	outra	maneira	de	ir	de	um	texto	do	Antigo	Testamento	para
Cristo,	no	Novo	Testamento.	Os	eventos,	pessoas	e	instituições	redentivos	do
Antigo	Testamento	podem	funcionar	como	tipos	que	prenunciam	o	grande
antítipo,	a	pessoa	e/ou	obra	de	Jesus	Cristo.	Contudo,	como	Eclesiastes	é	ensino
de	sabedoria,	não	se	deve	esperar	um	tipo	de	Cristo	nesse	livro.	Duas	exceções
possíveis	são	a	figura	de	“Salomão”,	em	Eclesiastes	1.12–2.26,	e	do	“único
Pastor”,	em	12.11	(veja	p.	74	e	30–31,	abaixo).	Além	disso,	pode-se
possivelmente	argumentar	que	o	próprio	Pregador	sábio,	ao	ensinar	sabedoria,	é
um	tipo	do	sábio	rabino	Jesus,	que	também	ensinou	em
(provérbios/parábolas).¹ ³	Mas	esse	tipo	de	tipologia	não	é	necessário,	já	que
cobriremos	esses	paralelos	no	ensino	na	categoria	de	analogia.
Analogia
Outra	maneira	de	irmos	do	Antigo	Testamento	para	Cristo,	no	Novo	Testamento,
é	a	analogia.	Aplicada	a	Eclesiastes,	a	analogia	observa	paralelos	entre	os
ensinos	do	Pregador	do	Antigo	Testamento	e	os	ensinos	de	Jesus.	Essas
analogias	existem	porque	Jesus	foi	o	supremo	Pregador	sábio.	Paulo	afirma	que,
em	Cristo,	“todos	os	tesouros	da	sabedoria	e	do	conhecimento	estão	ocultos”	(Cl
2.3).	Consequentemente,	ele	pode	falar	de	Jesus	como	“sabedoria	de	Deus”	(1Co
1.24,30).	Com	respeito	à	sabedoria,	o	próprio	Jesus	afirmou	ser	“maior	que
Salomão”	(Lc	11.31;	cf.	2.52;	7.35).	Não	é	surpresa,	portanto,	que	seus
contemporâneos	tenham	avaliado	Jesus	como	um	Pregador	sábio	(Mc	1.22)	e
que	ele	ensinasse	primariamente	nas	formas	de	sabedoria	de	provérbios¹ ⁴	e
parábolas.¹ ⁵
Podemos,	portanto,	buscar	analogias	entre	os	ensinosdo	Pregador	de	Eclesiastes
e	os	de	Jesus.	Por	exemplo,	o	Pregador	adverte	contra	trabalhar	pesado	para
obter	ganho:	“Também	aborreci	todo	o	meu	trabalho,	que	me	afadiguei	debaixo
do	sol,	visto	que	o	seu	ganho	eu	havia	de	deixar	a	quem	viesse	depois	de	mim.	E
quem	pode	dizer	se	será	sábio	ou	estulto?	Contudo,	ele	terá	domínio	sobre	todo	o
ganho	das	minhas	fadigas	e	sabedoria	debaixo	do	sol;	também	isto	é	vaidade”
(2.18-19;	cf.	v.20-23).
Jesus	adverte	de	forma	semelhante:	“Não	acumuleis	para	vós	outros	tesouros
sobre	a	terra,	onde	a	traça	e	a	ferrugem	corroem	e	onde	ladrões	escavam	e
roubam”	(Mt	6.19).	Aliás,	Jesus	conta	uma	parábola	sobre	o	rico	insensato.	O
insensato	constrói	grandes	celeiros	para	estocar	toda	a	sua	produção	e	diz:	“...
tens	em	depósito	muitos	bens	para	muitos	anos;	descansa,	come,	bebe	e	regala-
te.	Mas	Deus	lhe	disse:	Louco,	esta	noite	te	pedirão	a	tua	alma;	e	o	que	tens
preparado,	para	quem	será?	Assim	é	o	que	entesoura	para	si	mesmo	e	não	é	rico
para	com	Deus”	(Lc	12.19-21).
Temas	longitudinais
Os	temas	longitudinais	oferecem	outro	caminho	de	um	texto	do	Antigo
Testamento	para	Jesus,	no	Novo	Testamento.	“Temas	longitudinais”	é	um	termo
técnico	na	disciplina	de	Teologia	Bíblica.	Refere-se	a	temas	que	podem	ser
traçados	através	da	Escritura	desde	o	Antigo	Testamento	até	o	Novo.	Podemos
utilizar	este	conceito	de	temas	longitudinais	para	pregar	Cristo	porque	todo	tema
importante	do	Antigo	Testamento	conduz	a	Cristo.	Por	exemplo,	vimos	que	um
dos	grandes	temas	de	Eclesiastes	é	o	temor	a	Deus.¹ 	Esse	tema	da	obrigação	do
povo	de	Deus	de	reverenciá-lo	remonta	ao	início	da	história	de	Israel	(veja	Gn
22.12;	Êx	14.31)	e	pode	ser	dela	até	posteriores	ordens	de	Deus	com	o	refrão	“...
temerás	o	teu	Deus.	Eu	sou	o	Senhor”	(Lv	19.14,32;	25.17,36,43),	até	Salmos
(por	exemplo,	34.9),	a	literatura	de	sabedoria	(por	exemplo,	Pv	1.7;	9.10;	15.33;
Jó	28.28),	até	Neemias	depois	do	exílio	(Ne	5.9),	até	Eclesiastes	(3.14;	5.7;	7.18;
8.12-13;	12.13),	até	o	ensino	de	Jesus	no	Novo	Testamento:	“Não	temais	os	que
matam	o	corpo	e	não	podem	matar	a	alma;	temei,	antes,	aquele	que	pode	fazer
perecer	no	inferno	tanto	a	alma	como	o	corpo”	(Mt	10.28).
Referências	do	Novo	Testamento
Um	sexto	caminho	de	uma	passagem	do	Antigo	Testamento	para	Cristo,	no
Novo	Testamento,	é	o	das	referências	no	Novo	Testamento.	Embora	as
referências	mais	diretas	para	pregar	Cristo	sejam	citações	dos	ensinos	de	Jesus
nos	Evangelhos,	também	podem	ser	utilizadas	as	cartas	do	Novo	Testamento
quando	ligam	seus	ensinos	a	Cristo.	Infelizmente,	o	Novo	Testamento	raramente
cita	Eclesiastes	diretamente,	e	cita	ou	faz	alusão	a	esse	livro	somente	doze
vezes.¹ ⁷	Para	encontrar	ensinos	do	Novo	Testamento	similares	aos	de
Eclesiastes,	podem-se	usar	concordâncias,	referências	cruzadas,	comentários	e
The	Treasury	of	Scripture	Knowledge,	na	Libronix	ou	a	PC	Study	Bible.	É
melhor,	contudo,	não	usar	as	referências	do	Novo	Testamento	como	único
caminho	até	Cristo,	mas	usá-las	para	apoiar	um	dos	outros	caminhos	até	Cristo
(por	exemplo,	veja	as	referências	do	Novo	Testamento	nas	subdivisões
Progressão	histórico-redentiva,	Analogia	e	Temas	longitudinais,	acima,	e	em
Contraste,	abaixo).
Contraste
Um	último	caminho	do	Antigo	Testamento	até	Cristo,	no	Novo	Testamento,	é	o
contraste.	Por	causa	da	progressão	na	história	da	redenção	e	na	revelação,	a
mensagem	para	a	igreja	contemporânea	pode	ser	totalmente	diferente	da
mensagem	do	Pregador	para	Israel.	Portanto,	pode-se	usar	contraste	para	pregar
Cristo,	indo	da	mensagem	do	Pregador	a	Israel	para	a	mensagem	de	Cristo	para	a
igreja.	Por	exemplo,	o	Pregador	afirma	que	“tudo	é	vaidade”.	Ele	pergunta:	“Que
proveito	tem	o	homem	de	todo	o	seu	trabalho	com	que	se	afadiga	debaixo	do
sol?”	(1.3).	A	resposta	esperada	é:	Não	ganhamos	absolutamente	nada	com	todo
o	nosso	trabalho.	Se	ganhamos	alguma	riqueza,	temos	que	deixá-la	para	os
outros	quando	morremos	(2.18).	Assim,	todo	o	nosso	labor	é	em	vão.	Depois	que
Paulo	encontrou	o	Senhor	vivo	na	estrada	de	Damasco,	adquiriu	uma	perspectiva
totalmente	diferente.	Ele	conclui	seu	poderoso	capítulo	sobre	a	ressurreição	de
Cristo	com	estas	palavras:	“Portanto,	meus	amados	irmãos,	sede	firmes,
inabaláveis	e	sempre	abundantes	na	obra	do	Senhor,	sabendo	que,	no	Senhor,	o
vosso	trabalho	não	é	vão”	(1Co	15.58).
*	*	*
Investigar	qual	desses	caminhos	conduz	a	mensagem	do	texto	de	pregação	até
Cristo,	no	Novo	Testamento,	é	um	método	focado	de	entender	o	texto	no
contexto	de	todo	o	cânon	cristão.	Isso	pode	revelar	um	contraste	com	a
mensagem	do	Antigo	Testamento,	mas	geralmente	confirmará	e	enriquecerá	essa
mensagem	à	luz	da	pessoa,	obra	e/ou	ensino	de	Jesus	Cristo,	que	revelou
completamente	o	Pai	(Mt	11.27;	Jo	1.18).
¹	Veja	Whybray,	Ecclesiastes,	16.
²	“Raramente	há	um	aspecto	do	livro,	seja	data,	autoria	ou	interpetação,	que	não
esteja	sujeito	a	uma	ampla	diferença	de	opinião”.	Gordis,	Poets,	Prophets,	and
Sages	(Bloomington:	Indiana	University	Press,	1971),	326.
³	Garrett,	“Preaching	Wisdom”,	108.
⁴	Compare	esse	uso	mínimo	de	Eclesiastes	com	a	prática	de	algumas
comunidades	judaicas	de	ler	todo	o	livro	de	Eclesiastes	durante	a	festa	anual	de
Sukkot	(Tabernáculos).	Algumas	das	razões	sugeridas	para	a	leitura	de
Eclesiastes	durante	esta	festa	são:	“Qohelet	recomenda	alegria,	que	o	humor	de
Sukkot...	ele	declara	a	transitoriedade	da	vida	humana,	o	que	é	bem	simbolizado
por	uma	tenda	temporária;	e...o	outono	é	a	estação	evocativa	da	mortalidade”.
Michael	Fox,	Ecclesiastes,	xv.
⁵	Segundo	Ellen	Davis,	Proverbs,	Ecclesiastes,	Song	of	Songs,	160,	“Martinho
Lutero	disse	que	devemos	ler	‘este	nobre	livrinho’	todos	os	dias,	precisamente
porque	rejeita	tão	firmemente	a	religiosidade	sentimental”.
	Provan,	Ecclesiastes,	42.	Cf.	Brown,	Ecclesiastes,	21,	“Ao	contrário	do	que	é
comumente	pregado,	a	vida	não	é	simplesmente	uma	jornada	de	experiências
edificantes,	uma	peregrinação	de	divertimento.	A	vida	tem	a	ver	com	confrontar
desespero	inevitável,	desilusão,	sim,	enfrentar	a	morte	face	a	face,	a	via
negativa.	Eclesiastes,	em	resumo,	cobre	toda	a	gama	da	vida	do	lado	de	baixo,
isto	é,	‘debaixo	do	sol’,	e	debaixo	de	Deus.	Sua	teologia	é	uma	teologia	de
baixo,	não	para	liberação,	mas	para	navegar	pelas	águas	turbulentas	da	vida
nesses	dias	em	reverência	a	Deus.	Qohelet	é	um	pregador	para	pregadores	que
viveu	para	falar	sobre	tudo	isso...	de	maneira	crua”.
⁷	D.	Brent	Sandy	e	Ronald	L.	Giese,	Cracking	Old	Testament	Codes:	A	Guide	to
Interpreting	the	Literary	Genres	of	the	Old	Testament	(Nashville:	Broadman	and
Holman,	1995),	271.
⁸	Ryken,	“Ecclesiastes”,	274.	Cf.	Garrett,	“Preaching	Wisdom”,	119:
“Eclesiastes...	remove	todas	as	ideologias	e	falsas	esperanças	pelas	quais	homens
e	mulheres	vivem	e	alarga	as	amarras	de	que	a	busca	por	riqueza,	poder	e
educação	sustenta	as	pessoas.	Ao	fazer	isso,	Eclesiastes	eloquentemente	volta	o
leitor	para	Deus,	a	única	esperança	de	significado	e	vida	eterna”.
	Veja	a	extensa	revisão	histórica	feita	por	Craig	Bartholomew	em	Reading
Ecclesiastes:	Old	Testament	Exegesis	and	Hermeneutical	Theory,	31-205.
¹ 	Achtemeier,	Preaching	from	the	Old	Testament	(Louisville:	Westminster/John
Knox,	1989),	166.	Cf.	von	Rad,	Wisdom	in	Israel,	92-95;	e	Bernhard	W.
Anderson,	Contours	of	Old	Testament	Theology	(Mineápolis:	Fortress,	1999),
264-67.
¹¹	Loader,	Ecclesiastes,	4.
¹²	Goldsworthy,	Gospel	and	Kingdom,	142.
¹³	Veja	Charles	G.	Forman,	“Qohelet’s	Use	of	Genesis”,	JSS	5	(1960)	256-63;
Robert	Johnson,	“Confessions	of	a	Workaholic”,	CBQ	38	(1976)	22;	Roger
Whybray,	“Qoheleth	as	a	Theologian”,	247-48;	Walter	Kaiser,	Ecclesiastes,	36-
37;	Arian	Verheij,	“Paradise	Retried:	On	Qohelet	2:4-6”,	JSOT	50	(1991)	113-
15;	e	David	Clements,	“The	Law	of	Sin	and	Death:	Ecclesiastes	and	Genesis	1–
3”,	Themelios	19/3	(1994)	5-8.
¹⁴	Garrett,	Proverbs,	Ecclesiastes,	Song	of	Songs,	279.
¹⁵	Brown,	Ecclesiastes,	11-12.
¹ 	Brown,	Ecclesiastes,	11-12.
¹⁷	Alguns	estudiosos	tentam	explicar	as	contradições	em	termos	de	mudança	de
pensamento	ao	longo	da	vida	ou	mudança	de	circunstâncias.Crenshaw,
Ecclesiastes,	49,	afirma:	“Creio	que	as	tensões	do	livro	representam,	na	maior
parte,	fruto	de	pesquisa	ao	longo	da	vida.	Circunstâncias	mutáveis	evocam
respostas	diferentes	à	sabedoria	convencional	e	aos	antigos	pensamentos	de	uma
pessoa.	Diferenças	em	interesses	sociais	também	ditam	uma	variedade	de
expressões...	Mas	as	contradições	sugerem	mais	que	o	resultado	da	passagem	do
tempo.	Elas	expressam	as	ambiguidades	da	vida	diária	e	a	absurdidade	dos
esforços	humanos	para	entendê-la”.	Outros	estudiosos	usam	as	contradições	para
argumentar	em	favor	de	autoria	múltipla	(veja	p.	25,	abaixo).
¹⁸	“Contradições”	similares	são	encontradas	em	provérbios	ingleses:	às	vezes
temos	que	dizer:	“a	ave	que	acorda	cedo	pega	a	minhoca”,	mas	outras	vezes
“antes	tarde	do	que	nunca”	é	mais	adequado.	Às	vezes	temos	que	dizer	“aquele
que	hesita	está	perdido”,	mas	outras	vezes	“olhe	antes	de	pular”	ou	“o	apressado
come	cru”	é	mais	adequado.
¹ 	Cf.	Fox,	A	Time	to	Tear	Down,	3,	“As	contradições	no	livro	de	Qohelet	são
reais	e	intencionais.	Devemos	interpretá-las,	não	eliminá-las”.	Veja	toda	esta
seção	em	“On	Reading	Contradictions”,	ibid.,	p.	1-26.	Veja	também	seu	Qohelet
and	His	Contradictions,	e	seu	“The	Inner	Structure	of	Qohelet’s	Thought”.
² 	Raymond	C.	Van	Leeuwen,	“Proverbs”,	in	A	Complete	Literary	Guide	to	the
Bible,	Leland	Ryken	e	Tremper	Longman	(orgs.)	(Grand	Rapids:	Zondervan,
1993),	266.
²¹	Veja	p.	21,	acima.
²²	“Martinho	Lutero	foi,	provavelmente,	o	primeiro	a	negar	a	autoria	salomônica.
Ele	considerava	o	livro	‘um	tipo	de	Talmude,	compilado	de	muitos	livros,
provavelmente	da	biblioteca	do	rei	Ptolomeu	Euergetes,	do	Egito’.”J.	Stafford
Wright,	“Interpretation	of	Ecclesiastes”,	EvQ	18/1	(1946)	19.
²³	A	Septuaginta	traduziu	Qohelet	como	“No	grego	clássico,	significa	“aquele
que	se	senta	ou	prega	na	”,	isto	é,	na	assembleia	local	de	cidadãos.	O	termo
hebraico	qohelet	–	que	ocorre	somente	neste	livro	–	é	quase	certamente	um
particípio	do	verbo	qhl,	“reunir”,	que,	por	sua	vez,	está	relacionado	ao
substantivo	,	“assembleia”	(geralmente	traduzido	como	na	Septuaginta).
Whybray,	Ecclesiastes,	2.
²⁴	Longman,	Book	of	Ecclesiastes,	4-5.	Alguns	comentaristas	ainda	defendem	a
autoria	salomônica	(e.g.,	Kaiser,	Ecclesiastes	[1979],	25-29,	e	Garrett,	Proverbs,
Ecclesiastes,	Song	of	Songs[1993],	264,	266).	Para	argumentos	contra	a	autoria
salomônica,	veja,	e.g.,	Young,	Introduction	to	the	Old	Testament,	347-48;
Kidner,	Wisdom	of	Proverbs,	Job,	and	Ecclesiastes,	105;	e	Longman,	Book	of
Ecclesiastes,	4-8.
²⁵	Kidner,	Time	to	Mourn,	14.	Os	nove	autores	foram	sugeridos	por	D.	C.
Siegfried,	“Prediger	und	Hohelied”,	in	W.	Nowack,	Handkommentar	zum	Alten
Testament	(Göttingen,	1898).
² 	“Há	quase	uma	aceitação	universal	[nas	leituras	críticas	de	Eclesiastes]	de	que
Salomão	não	foi	o	autor	e	de	que	o	livro	foi	escrito	por	volta	do	século	3º	a.C.
Ao	longo	de	todo	o	século	20	houve	um	comprometimento	crescente	com	a
unidade	básica	de	Eclesiastes,	com	exceção	do	epílogo”.	Bartholomew,	Reading
Ecclesiastes,	81.Cf.	p.	104.
²⁷	Veja	Whybray,	Ecclesiastes,	35-36,	para	comentaristas	que	defendem	essas
diferentes	posições.
²⁸	Longman,	Book	of	Ecclesiastes,	7-9,	20-21,	37,	57-59.
² 	Veja	ibid.,	38:	“O	epílogo	começa	com	o	segundo	sumário	do	sábio	sobre	o
ensino	do	Qohelet.	Citando	o	agora	refrão	“sem	sentido”,	o	narrador	da
composição	indica	o	que	considera	ser	a	conclusão	final	do	Qohelet:	‘Tudo	é
vaidade’.	A	partir	deste	ponto,	ele	passa	a	fazer	sua	avaliação,	que	começa	com
aprovação	e	se	move	para	dúvida	e,	finalmente,	para	crítica”.	Veja	também	ibid.,
281	sobre	12:12:	“Em	essência,	ele	diz	ao	seu	filho:	‘O	pensamento	do	Qohelet	é
material	perigoso	–	tenha	cuidado’”.	Cf.	Longman,	“Comparative	Methods	in
Old	Testament	Studies:	Ecclesiastes	Reconsidered”,	TSF	Bul	7	(1984)	5-9,	esp.
8-9;	e	Dillard	e	Longman,	Introduction	to	the	Old	Testament,	252-54.
³ 	Shepherd,	“Ecclesiastes”,	269.
³¹	Veja,	e.g.,	a	descrição	que	Shepherd	faz	do	Pregador:	“Ele	não	deve	ser
considerado,	por	assim	dizer,	um	apologeta	da	fé	cristã	anterior	ao	Novo
Testamento,	ou	da	fé	do	Antigo	Testamento;	em	vez	disso,	ele	representa	neste
livro	exatamente	aquilo	contra	o	que	os	profetas	pregavam	e	contra	o	que	Cristo
e	os	apóstolos	advertiram	–	uma	fusão	sincretista	de	filosofia	cética	e	pessimista
derivada	de	uma	investigação	empírica,	com	uma	fé	que	é	apenas	minimamente
ortodoxa,	sem	vida	e	sem	cor,	sem	qualquer	devoção	real”.	Ibid.,	327.
³²	Provan,	Ecclesiastes,	33,	n.	13.	Cf.	Eaton,	Ecclesiastes,	40:	“É	totalmente
concebível	que	um	editor	publicasse	Eclesiastes	com	uma	nota	de	aprovação,
mas	dificilmente	é	provável	que	alguém	fizesse	isso	se	não	estivesse	satisfeito
com	o	conteúdo	da	obra”.	Veja	também	p.	319,	abaixo.
³³	Cf.	Garrett,	Proverbs,	Ecclesiastes,	Song	of	Songs,	263:	“O	narrador	da
composição,	a	sabedoria	e	o	Pregador	são	todos	máscaras	por	trás	das	quais
ouvimos	a	única	voz	do	autor”.
³⁴	Loader,	Ecclesiastes,	82.	Veja	também	R.	Gordis,	“Quotations	in	Wisdom
Literature”,JQR30/2	(1939)	123-47,	esp.	p.	132-39.	Cf.	Seow,	Ecclesiastes,	40-
41.	Para	referências	detalhadas,	veja	Scott	C.	Jones,	“Qohelet’s	Courtly	Wisdom:
Ecclesiastes	8:1-9”,	CBQ	68	(2006)	211-12,	n.	2.Fox,	“Inner	Structure	of
Qohelet’s	Thought”,	226,	se	opõe:	“Correntemente,	a	abordagem	predominante	é
identificar	certas	declarações	como	palavras	que	o	Qohelet	cita	para	questioná-
las	ou	modificá-las.	Mas	isso	é	fácil	demais...	Citadas	ou	não,	as	palavras	que
um	autor	usa	em	sua	própria	voz	são	uma	expressão	de	suas	próprias	ideias,	a
menos	que	nos	mostre	de	outra	maneira”.	Veja	mais	abaixo,	p.	175-76	e	220.
³⁵	Seow,	Ecclesiastes,	244.
³ 	Fox,	A	Time	to	Tear	Down,	275.	Cf.	ibid.,	250,	“A	fraqueza	desta	abordagem	é
a	arbitrariedade	em	separar	a	sabedoria	tradicional	da	sabedoria	do	Qohelet.	E	às
vezes	isso	envolve	projetar	uma	noção	de	sabedoria	tradicional	a	partir	das
palavras	do	Qohelet	que	não	é	realmente	encontrada	na	‘sabedoria	tradicional’”.
³⁷	Garrett,	“Preaching	Wisdom”,	117.	Cf.	Huwiler,	“Ecclesiastes”,	177:	Os
leitores	implícitos	são	“jovens	israelitas	que	vivem	em	um	nível	mais	elevado
que	o	da	subsistência,	provavelmente	em	Jerusalém	ou	perto	dela.	Entre	eles
pode	haver	oficiais	do	governo,	homens	de	negócios	e	fazendeiros...	pequenos
membros	da	burocracia	podem	ser	os	principais	leitores”.
³⁸	Whybray,	“Qoheleth	as	Theologian”,	245.
³ 	“Além	de	termos	gerais,	como	,	‘dinheiro’,	,	‘riquezas’,	,	‘rico’,	,	‘propriedade
privada’,	,	salário,	recompensa,	compensação,	,	‘herança’,	e	,	sucesso,	há	uma
grande	concentração	de	termos	que	sugerem	vividamente	um	ambiente
comercial:	,	‘ganho	líquido,	lucro’,	,	‘déficit’,	,	‘posses’,	,	‘rendimento’,	,
‘riqueza’,	,	‘negócios’,	,	‘labor,	fruto	do	labor’,	,	‘consumidor’,	,	‘empregado’,	,
‘porção’”.	Seow,	“The	Socioeconomic	Context	of	‘The	Preacher’s’
Hermeneutic”,	PSBul	17/2	(1996)	173-74.
⁴ 	Ibid.,	195.
⁴¹	Hendry,	“Ecclesiastes”,	570.	Para	mais	discussão	sobre	a	expressão	“debaixo
do	sol”,	veja	abaixo,	p.	34–35,	n.	67	e	p.	52–53	e	60–61.
⁴²	Young,	Introduction	to	the	Old	Testament,	347-48,	com	crédito	a
Hengstenberg.
⁴³	Whybray,	Ecclesiastes,	4.	Kidner,	Wisdom	of	Proverbs,	Job,	and	Ecclesiastes,
sugere	uma	data	entre	350	e	250	a.C.,	enquanto	Crenshaw,	Ecclesiastes,	50,
sugere	uma	data	entre	250	e	225	a.C.,	e	Towner,	“Book	of	Ecclesiastes”,	351,
opta	por	“meados	do	século	3º	a.C.,	talvez	por	volta	de	250”.
⁴⁴	Ibid.,	9-10.
⁴⁵	Brown,	Ecclesiastes,	9.	Cf.	Seow,	“The	Socioeconomic	Context	of	‘The
Preacher’s’Hermeneutic”,	PSBul	17/2	(1996)	171-89;	seu	“Theology	When
Everything	Is	out	of	Control”,	Int	55/3	(2001)	238-43;	e	seu	Ecclesiastes,	35-36.
Para	fins	de	pregação,	faz	pouca	diferença	se	a	data	de	composição	foi	o	século
5º	a.C.	(Seow,	Brown)	ou	o	século	3º	a.C.	(Whybray,	Crenshaw)	desde	que	se
tenha	consciência	de	que	o	contexto	era	de	agitação	e	tentações	econômicas.
⁴ 	Loader,	Ecclesiastes,	11.
⁴⁷	Whybray,	Ecclesiastes,	13.
⁴⁸	Hendry,	“Ecclesiastes”,	570.	Cf.	Eaton,	Ecclesiastes,	44,	“Qual,	então,	é	o
propósitode	Eclesiastes?	Este	é	um	ensaio	de	apologética.	Ele	defende	a	vida	de
fé	em	um	Deus	generoso,	apontando	para	a	severidade	da	alternativa”.
⁴ 	Bartholomew,	Reading	Ecclesiastes,	263.
⁵ 	Longman,	Book	of	Ecclesiastes,	17.
⁵¹	Brown,	Ecclesiastes,	17.
⁵²	Murphy,	Wisdom	Literature,	131.
⁵³	Murphy,	Ecclesiastes,	xxxii.
⁵⁴	Longman,	Book	of	Ecclesiastes,	20.
⁵⁵	Thomas	G.	Long,	Preaching	and	the	Literary	Forms	of	the	Bible	(Filadélfia:
Fortress,	1988),	55.
⁵ 	Veja	Loader,	Ecclesiastes,	5-6.
⁵⁷	Longman,	Book	of	Ecclesiastes,	20.
⁵⁸	Andrew	E.	Hill,	“Non-Proverbial	Wisdom”,	in	Cracking	Old	Testament	Codes:
A	Guide	to	Interpreting	the	Literary	Genres	of	the	Old	Testament,	D.	Brent
Sandy	e	Ronald	L.	Giese	(orgs.)	(Nashville:	Broadman	and	Holman,	1995),	265-
66.
⁵ 	Longman,	Book	of	Ecclesiastes,	20.
	Webster’s	New	Collegiate	Dictionary	[Segundo	outra	definição,	metáfora	é
uma	comparação	não	expressa.	N.	do	E.].
¹	James	Kugel,	Great	Poems	of	the	Bible,	310,	sugere	que	o	Pregador
“frequentemente	usa	essa	palavra	para	descrever	algo	na	vida	que	lhe	parece	fútil
e	inútil	(Ec	2.1,11,17,20,23	e	muitas	vezes	daí	em	diante);	outras	vezes,	parece
*	Refere-se,	em	literatura,	a	uma	figura	de	estilo	que	consiste	na	repetição	da
ideia	central	com	expressões,	palavras	e/ou	sílabas	iguais	(N.da	R.).
significar	algo	que	é	apenas	instável	(Ec	5.9;	7.15);	ainda	outras	vezes,	é	usada
para	significar	algo	injusto	(Ec	2.26;	4.7;	6.2;	8.10,14).	E	[em	Ec	12.8]...	é
passageiro,	evanescente:	‘portanto,	transitório’”.
²	Para	exemplos	de	interpretação	alegórica	aplicada	a	textos	não	alegóricos	de
Eclesiastes,	veja	o	Prefácio	acima,	e,	abaixo,	p.	91–92,	129,	262,	263.
³	Longman,	Book	of	Ecclesiastes,	22,	com	referências	a	1.12-18	e	2.11-16;	4.1-3
e	5.7-8(5.8-9);	e	4.4-12	e	5.9–6.9	(5.10–6.9).
⁴	Delitzsch,	Commentary	on	the	Song	of	Songs	and	Ecclesiastes	(1891;
reimpressão.	Grand	Rapids:Eerdmans,	1982),	188.	Para	comentaristas	que,	em
geral,	concordam	com	Delitzsch,	veja	Wright,	“Riddle	of	the	Sphinx”,CBQ	30
(1968)	314,	n.	3.
⁵	Para	um	panorama	das	várias	propostas	de	Norbert	Lohfink,	J.	A.	Loader,
Addison	G.Wright,	A.	Glasser,	François	Rousseau,	Michael	V.	Fox,	Hans-Peter
Muller,	H.	W.	Hertzberg,	Robert	Gordis,	e	outros,	veja	Crenshaw,	Ecclesiastes,
38-48,	e	Bartholomew,	Reading	Ecclesiastes,	69-81,	118-205.	Veja	também	o
panorama	de	Murphy	em	Ecclesiastes,	xxxv-xli,	e	o	de	Wright	em	“Riddle	of	the
Sphinx,”	CBQ	30	(1968)	315-16,	nn.	4-6.	Crenshaw	conclui	seu	panorama	como
segue	(p.	47):	“Essa	discussão	da	estrutura	do	Qohelet	não	conseguiu	resolver
uma	única	questão,	mas	demonstra	a	complexidade	do	problema”.
	Cf.	Fox,	Ecclesiastes,	xvi:	“O	livro	começa	com	um	princípío	geral	(1.3),
continua	com	um	prelúdio	temático,	introduz	a	persona	e	seu	contexto,	descreve
sua	tarefa,	prevê	seus	resultados	e	parte	para	sua	investigação.	A	última	unidade,
12.1-7,	é	climática	e	não	poderia	estar	em	nenhum	outro	lugar”.
⁷	“A	frase	‘debaixo	do	sol’	é	uma	marca	registrada	do	Qohelet	e	é	estreitamente
relacionada	ao	conceito	de	futilidade.	Ela	ocorre	vinte	e	nove	vezes	e	projeta	a
perspectiva	de	um	homem	solitário,	usando	sua	própria	sabedoria	e	seus	próprios
sentidos	somente	‘neste	mundo’”.	Reitman,	“The	Structure	and	Unity	of
Ecclesiastes”,	BSac	154	(1997)	301,	n.	17.
⁸	Eaton,	Ecclesiastes,	45.
	Loader,	Ecclesiastes,	11.	Veja	também	seu	Polar	Structures	in	the	Book	of
Qohelet	(Berlim	e	Nova	York:	de	Gruyter,	1979).
⁷ 	Bartholomew,	Reading	Ecclesiastes,	238-54,	com	referência	a	Sternberg,	The
Poetics	of	Biblical	Narrative.
⁷¹	Norbert	Lohfink,	Kohelet	(Stuttgart,	1980).
⁷²	T.	Anthony	Perry,	Dialogues	with	Qohelet:	The	Book	of	Ecclesiastes
(Filadélfia:	Pennsylvania	State	University,	1993).
⁷³	Ryken,	“Ecclesiastes”,	269,	fala	da	“estrutura	dialética	do	livro”:	“Contraste,
não	sequência,	é	o	princípio	organizador.	O	próprio	livro	apresenta	um
movimento	fluido	para	frente	e	para	trás,	sem	transição,	entre	os	dois	tipos	de
material,	um	negativo,	outro	positivo”.
⁷⁴	“Os	feixes	de	luz	que	temos	observado	são	sinais	ao	leitor	de	que	a	própria
posição	do	autor	e	suas	conclusões	são	muito	diferentes	das	dos	secularistas,
cuja	posição	está	assumindo	para	elaborar	sua	tese”.	Kidner,	Wisdom	of
Proverbs,	Job,	and	Ecclesiastes,	93.
⁷⁵	Veja,	e.g.,	Kaiser,	Ecclesiastes,	17-24;	e	Perdue,	Wisdom	Literature,	190-91.
⁷ 	Veja	n.	16,	n.	65,	acima.
⁷⁷	Wright,	“The	Riddle	of	the	Sphinx:	The	Structure	of	the	Book	of	Qohelet”,
CBQ	30	(1968)	313-34,	e	“The	Riddle	of	the	Sphinx	Revisited:	Numerical
Patterns	in	the	Book	of	Qohelet,”	CBQ	42	(1980)	38-51.
⁷⁸	Veja	Wright,	“Riddle	of	the	Sphinx	Revisited”,	CBQ	42	(1980)	42,	n.	15e.
⁷ 	Wright,	como	sumarizado	em	seu	segundo	estudo,	“The	Riddle	of	the	Sphinx
Revisited”,	CBQ	42	(1980)	38-39.
⁸ 	111	versos	de	1.1–6.9	e	111	versos	de	6.10–12.14;	216	versos	de	1.1–12.8,	o
valor	numérico	de	(1.2;	12.8);	em	1.2,	“	(=	37)	ocorre	três	vezes	no	singular,
para	um	valor	numérico	total	de	11	(37	X	3)	–	o	número	de	versos	na	primeira
metade	do	livro	(1.1–6.9)”;	e	“o	provável	total	de	37	ocorrências	de	no	livro
iguala	o	valor	numérico	da	própria	palavra	”.	Ibid,	43-44.
⁸¹	E.g.,	Fox,	Ecclesiastes,	xvi,	argumenta:	“A	hipótese	de	Wright	enfrenta	muitas
objeções:	os	critérios	para	a	divisão	de	unidades	não	são	frases	bem	definidas;	as
frases-chave	não	estão	sempre	no	fim	da	unidade,	onde	“deveriam”	estar;	as
unidades	são	de	tamanho	e	caráter	muito	diferente;	e	o	plano	não	se	encaixa	com
o	conteúdo”.	Cf.	Fox,	A	Time	to	Tear	Down,	148-49;	Crenshaw,	Ecclesiastes,
41-42;	Longman,	Book	of	Ecclesiastes,	21,	n.	76;	e	Seow,	Ecclesiastes,	44-46.
Outros	comentaristas	seguem	a	estrutura	proposta	por	Wright:	e.g.,	Murphy,
Ecclesiastes,	xxxix,	que	menciona	também	J.	S.	M.Mulder	e	R.	Rendtorff;
Stephen	Brown,	“The	Structure	of	Ecclesiastes”,	EvRT	14/3	(1990)	195-205,
geralmente	concorda	com	a	análise	de	Wright,	mas	procura	desenvolver	os
padrões	em	mais	detalhes.
⁸²	Wright,	“Riddle	of	the	Sphinx	Revisited”,CBQ	42	(1980)	49	(mudei	seu	uso
de	“homem”	e	“ele”	para	“pessoa”).	Veja	também	seu	“Additional	Numerical
Patterns	in	Qohelet”,	CBQ	45(1983),	32-43.
⁸³	Loader,	Ecclesiastes,	14:	“Temos	que	reconhecer,	então,	que	há	apenas	uma
ideia	fundamental	no	livro:	a	declaração	da	falta	de	sentido,	uma	ideia	que	é
esclarecida	e	ilustrada	de	vários	pontos	de	vista”.
⁸⁴	“As	sete	passagens	em	que	ele	recomenda	a	busca	sincera	de	alegria...	estão
organizadas	de	tal	forma	que	declaram	seu	tema	com	ênfase	e	solenidade	cada
vez	maiores”.	Whybray,	“Qoheleth,	Preacher	of	Joy”,	JSOT	23	(1982)	87.	Veja
também	Kaiser,	Ecclesiastes,	42:	“O	espírito	de	Eclesiastes	é	de	prazer,	com	o
prospecto	de	viver	e	desfrutar	todos	os	bens	da	vida,	uma	vez	que	o	homem	tema
a	Deus	e	cumpra	seus	mandamentos”.
⁸⁵	85	Brown,	Ecclesiastes,	12.	Crenshaw,	“Wisdom	Literature,”	379,	sugere
vários	temas	que	percorrem	todo	o	livro:	“Vaidade	das	vaidades,	tudo	é
vaidade”,	e	“Ele	não	pode	encontrar,”	isto	é,	Deus	impôs	limites	ao
conhecimento	humano.	Além	disso,	ele	lista	“várias	outras	fórmulas”:	“Elas
incluem	o	resumo	conclusivo	que	incentivou	o	gozo	da	vida	durante	o	vigor	da
juventude,	as	observações	dos	contemplativas	“que	se	refere	o	autoexame	e	da
consequente	ação	pessoal	e	as	alusões	a	correr	atrás	do	vento,	trabalho,	e	muito”.
⁸ 	Não	é	aconselhável,	é	claro,	pregar	um	único	sermão	sobre	todo	o	livro	de
Eclesiastes,	a	menos	que	seja	para	introduzir	uma	série	de	sermões	sobre	esse
livro.	Nosso	interesse	em	encontrar	um	tema	abrangente	neste	estágio	é	ter	uma
ideia	do	todo	para	entender	melhor	as	partes.
⁸⁷	Cf.	a	sugestão	de	Young:	“O	grande	tema	do	livro	é	que	a	vida	sem	Deus	não
pode	ter	sentido,	pois	somente	Deus	pode	dar	vida	e	sentido”.	Introduction,	351.
Cf.	Ryken,	“Ecclesiastes”,	269:	“O	tema	do	livro,	longe	de	ser	um	problema,	é
um	sumário	virtual	da	cosmovisão	bíblica:	a	vida	vivida	por	padrões	puramente
terrenos	e	humanos	é	fútil,	mas	a	vida	centrada	em	Deus	é	um	antídoto”.	Cf.
Fox,	“The	Inner	Structure	of	Qohelet’s	Thought”,	225:	“Minha	tese	básica	é	queo	foco	central	do	livro	do	Qohelet	é	sentido	–	não	transitoriedade,	nem	trabalho,
nem	valores,	nem	mortalidade.	Esses	temas	estão	lá,	mas	todos	eles	são	meios	de
abordagem	ao	tema	mais	fundamental,	a	saber,	o	sentido	da	vida”.
⁸⁸	Eaton,	Ecclesiastes,	48.	Cf.	Garrett,	Proverbs,	Ecclesiastes,	Song	of	Songs,
278:	o	Pregador	procura	estimular	seus	leitores	a	“reconhecer	que	são	mortais.
Eles	devem	abandonar	todas	as	ilusões	de	importância	pessoal,	encarar	a	morte	e
a	vida	honestamente	e	aceitar,	com	temor	e	tremor,	sua	dependência	de	Deus”.
⁸ 	Veja	meu	Modern	Preacher,	126-28.
	Towner,	“The	Book	of	Ecclesiastes”,	265.
¹	Cf.	Reitman,	“The	Structure	and	Unity	of	Ecclesiastes”,	BSac	154	(1997)	308-
9.
²	Wright,	“Riddle	of	the	Sphinx	Revisited”,	CBQ	42	(1980)	50.
³	Para	algumas	dessas	subunidades,	veja	abaixo,	p.	65-66,	88,	106-107,	125-7,
156,	243,	247,	259.
⁴	Veja	meu	Modern	Preacher,	131-36.
⁵	Termos	de	Clowney.	Veja	Prefácio,	nota	1.
	Ronald	Knox,	Waiting	for	Christ	(Nova	York:	Sheed	and	Ward,	1960),	279-82,
relaciona	150	“textos	messiânicos”	no	Antigo	Testamento,	mas	nenhum	deles
fica	em	Eclesiastes.
⁷	Veja	meu	Preaching	Christ	from	the	Old	Testament,	69-176.
⁸	Brown,	Ecclesiastes,	121.	Como	exemplo,	Brown	menciona	o	comentário	de
Tremper	Longman,	Book	of	Ecclesiastes.	Veja	p.	25–26,	acima.	Jerry	Shepherd,
“Ecclesiastes”,	de	2008,	também	segue	essa	abordagem	(veja	p.	25–26,	acima).
James	Steward,	“Ecclesiastes	and	the	Christian	Preacher:	An	Exercisein	Sermon-
Preparation”,CQ	29	(1951)	120-27,	chamou	Eclesiastes	de	“livro	essencialmente
negativo”	que	“contém	nada	ou	pouco	que	seja	inspirador	ou	edificante	de	um
modo	positivo”	(p.	120).	Dessa	forma,	a	“tarefa	[do	pregador]	é	revelar	as
imperfeições	das	personagens	descritas	e,	quando	isso	for	feito,	colocar	ao	lado
dessas	velhas	descrições	a	semelhança	do	Homem	em	quem	a	vida	plena	e
satisfatória	é	encontrada”	(p.	122).
	Para	uma	explicação	mais	detalhada,	veja	meu	Preaching	Christ	from	the	Old
Testament,	227-77.
¹ 	A	progressão	na	história	da	redenção	está	estreitamente	relacionada	à
progressão	na	revelação.	Como	a	história	da	redenção	progride,	a	revelação
também	progride.	A	progressão	na	história	da	redenção	é	básica	para	as	maneiras
de	promessa-cumprimento,	tipologia	e	contraste,	enquanto	a	progressão	na
revelação	se	expressa	particularmente	nos	temas	longitudinais.	A	maneira	de
analogia	reflete	a	continuidade	geral	que	existe	mesmo	quando	a	história	da
redenção	e	a	história	da	revelação	são	desdobradas.
¹ ¹	Veja	Antoon	Schoors,	“Koheleth:	A	Perspective	of	Life	after	Death?”	ETL
61/4	(1985)295-303.
¹ ²	Cf.	o	comentário	de	Hertzberg	de	que,	por	causa	do	veredito	abrangente	do
Qohelet	sobre	vaidade,	“o	livro	do	Qohelet,	estando	no	fim	do	Antigo
Testamento,	é	a	mais	notável	profecia	messiânica	que	o	Antigo	Testamento	tem	a
oferecer”.	Der	Prediger,	237-38,	citado	por	Kidner,	The	Wisdom	of	Proverbs,
Job	and	Ecclesiastes,	114.
¹ ³	Alguns	dos	pais	da	igreja	(Dídimo,	Orígenes	e	Gregório	de	Nissa),	de	fato,
viram	“o	Pregador”,	entendido	como	Salomão,	como	um	tipo	de	Cristo.	Veja
Robert	Wright,	Proverbs,	Ecclesiastes,	Song	of	Solomon,	190.
¹ ⁴	Veja	Alyce	M.	McKenzie,	“All	Who	Exalt	Themselves	Will	Be	Humbled:
Jesus’	Subversive	Sayings”,	em	seu	livro	Preaching	Proverbs:	Wisdom	for	the
Pulpit	(Louisville:	Westminster	John	Knox,	1996),	59-78.
¹ ⁵	“A	forma	de	ensino	predominante	[de	Jesus]	era	a	parábola,	em	hebraico,
[também	traduzido	como	provérbio]),	uma	forma	de	sabedoria”.	Dillard	e
Longman,	Introduction	to	the	Old	Testament,	245.	Cf.	Ben	Witherington	III,
Jesus	the	Sage:	The	Pilgrimage	of	Wisdom	(Mineápolis:Fortress,	1994),	155-56:
“Até	mesmo	em	uma	estimativa	conservadora,	pelo	menos	70%	da	tradição	de
Jesus	é	na	forma	de	algum	tipo	de	declaração	de	Sabedoria,	como	aforismo,
enigma	ou	parábola”.
¹ 	Veja	acima,	p.	34-35,	38,	e	abaixo,	p.	145,	nota	18.
¹ ⁷	Veja	o	apêndice	em	Nestle-Aland’s	Novum	Testamentum	Graece	(ed.	de
1993).
CAPÍTULO	2
Não	há	nenhum	proveito
em	todo	o	nosso	trabalho
Eclesiastes	1.1-11
Que	proveito	tem	o	homem	de	todo	o	seu	trabalho,
com	que	se	afadiga	debaixo	do	sol?
(Ec	1.3)
Esta	primeira	passagem	de	Eclesiastes	é	um	grande	texto	para	focar	no	tema
contemporâneo	do	materialismo:	a	inclinação	humana	para	trabalhar	e	encontrar
segurança	em	riqueza	material	e	posses.	O	principal	desafio	para	os	pregadores	é
entender	e	explicar	corretamente	o	sentido	de	várias	palavras	e	frases	ambíguas.
Veja,	por	exemplo,	a	palavra	exaustivamente	repetida,	.	A	NRSV	a	traduz	como
“vaidade”,¹	a	NIV	como	“sem	sentido”,	a	Anchor	Bible	como	“vapor”	e	a	New
JPS	Bible	como	“futilidade”	ou	sete	outras	palavras,	dependendo	do	contexto.²
Outros	estudiosos	sugerem	várias	nuances:	“temporal	(“efemeridade”)	e
existencial	(“futilidade”	ou	“absurdidade”),³	principalmente	“futilidade”,	mas,	às
vezes,	“brevidade”,⁴	“falta	de	sentido”	ou	“absurdo”,⁵	e	“a	noção	de	que	a	vida	é
enigmática	e	misteriosa;	de	que	há	muitas	perguntas	não	respondidas	e	não
respondíveis”. 	Outras	palavras	e	frases	nesta	passagem,	como	“tudo”	(v.2),
“proveito”	e	“debaixo	do	sol”	(v.3),	são	igualmente	ambíguas.⁷	Outro	desafio	é
pregar	Cristo	com	base	em	uma	passagem	que	nem	mesmo	menciona	Deus.
Aliás,	parece	que	o	autor	deliberadamente	evita	Deus	para	focar	sua	atenção
exclusivamente	neste	mundo	–	a	vida	“debaixo	do	sol”	(v.3	e	9).
Texto	e	contexto
A	seleção	da	unidade	textual	não	é	difícil	com	essa	passagem	inicial.	Ela	começa
em	Eclesiastes	1.1,	obviamente,	e	termina	no	verso	11,	já	que	o	verso	12	começa
uma	nova	unidade	com	a	narrativa	autobiográfica	“Eu,	o	Pregador”.	Portanto,	há
aceitação	geral	de	que	Eclesiastes	1.1-11	é	uma	unidade	literária.
Quanto	ao	contexto,	é	importante	observar	que	o	verso	2,	“vaidade	de	vaidades,
diz	o	Pregador;	(...),	tudo	é	vaidade”,	é	repetido	em	forma	mais	curta	em	12.8,
formando,	assim,	uma	inclusio	que	abrange	o	livro	todo.	O	verso	2,	portanto,
pode	ser	entendido	como	um	tema	básico	que	percorre	todo	o	livro	–	tema	que
subsequentemente	será	desenvolvido	de	várias	maneiras	e	requer	a	repetição	da
palavra	“vaidade”	umas	trinta	e	oito	vezes	em	Eclesiastes.	Além	disso,	o	poema
inicial	sobre	ciclos	fúteis	na	natureza	(v.4-7)	corresponde	ao	poema,	afinal,	sobre
velhice	e	morte	(12.2-7).	Esses	dois	poemas	“envolvem	o	livro	como	uma
mortalha”,⁸	estabelecendo	um	tom	realista,	se	não	pessimista.
O	verso	3,	como	pode	ser	visto	no	poema	subsequente,	parece	ser	o	coração
desta	passagem.	Ele	levanta	a	questão	retórica:	“Que	proveito	tem	o	homem	de
todo	o	seu	trabalho	com	que	se	afadiga	debaixo	do	sol?”	Esta	pergunta	tem	um
papel	fundamental	no	restante	do	livro.	A	palavra	“proveito”	(	)	será	repetida
mais	oito	vezes	(veja,	por	exemplo,	2.11,	3.9	e	5.16).	A	palavra	“trabalho”	(	)
será	repetida	mais	vinte	e	duas	vezes.	E	a	expressão	“debaixo	do	sol”	(
),	que	só	aparece	em	Eclesiastes,	é	encontrada	duas	vezes	nesta	passagem	(1.3,9)
e	será	repetida	um	total	de	vinte	e	nove	vezes.
Características	literárias
Observar	as	características	literárias	do	texto	nos	ajudará	a	determinar	sua
estrutura,	que,	por	sua	vez,	nos	ajudará	a	discernir	o	tema	da	passagem	e	o
esboço	para	um	sermão	expositivo.
Formas	literárias
O	verso	1	é	um	sobrescrito	que	identifica	o	autor	primário	desta	obra	como	o
Pregador.	O	verso	2	consiste	de	apenas	oito	palavras,	cinco	delas	“vaidade”	(	)	e,
dentre	elas,	quatro	na	forma	enfática	“vaidade	de	vaidades”	(cf.	“santos	dos
santos”).	Como	foi	observado,	este	verso	forma	uma	inclusio	com	12.8,
assinalando,	assim,	que	“tudo	é	vaidade”	é	um	tema	que	percorre	todo	este	livro.
Os	versos	3-11	são	apresentados	na	forma	de	reflexão	sobre	o	labor	humano.
Ele	começa	com	a	pergunta	retórica:	“Que	proveito	tem	o	homem	de	todo	o	seu
trabalho,	com	que	se	afadiga	debaixo	do	sol?”	(v.3).	“Proveito”	é,	literalmente,
ganho	em	negócios.	Este	termo	significa	apenas	proveito	econômico	ou	deve	ser
entendido	em	um	sentido	mais	amplo?	Trabalhar	“debaixo	do	sol”	é	claro	em	seu
sentido	literal,	mas	o	que	isso	significa?	Meramente	estemundo?	Ou	o	mundo
com	a	exclusão	do	mundo	dos	mortos	e	do	céu?	Ou	uma	perspectiva	específica
que	não	leva	Deus	em	conta?	A	resposta	esperada	para	esta	pergunta	retórica	–
não	há	nenhum	proveito	de	todo	o	nosso	trabalho	–	é	ilustrada	pelo	poema	sobre
os	ciclos	sem	fim	na	natureza,	que	não	ganha	nada	(v.4-8).	O	verso	9	reafirma	o
tema	de	“sem	proveito”	em	termos	de	“nada	novo”.	O	verso	10	levanta	e
responde	uma	possível	objeção,	enquanto	o	verso	final	afirma	que	não	há
lembranças	de	pessoas	que	viveram	no	passado	–	outra	forma	de	“sem	proveito”.
Paralelismo	no	poema
Como	o	elemento	característico	da	poesia	hebraica	é	o	paralelismo,	pode	ser	útil
rever	rapidamente	os	vários	tipos	de	paralelismo.	Podemos	diagramar	os
diferentes	padrões	retóricos	da	forma	apresentada	a	seguir:
Paralelismo	regular	–	sinônimo,	sintético	ou	antitético¹ 	(ou	afirmativo,	progressivo	e	opositivo)¹¹
Paralelismo	invertido	–	sinônimo,	sintético	ou	antitético
Quiasma,¹²	também	chamado	de	“estrutura	concêntrica”	e	“inversão’;	pode	haver	menos	ou	mais	elementos	de	cada	lado	do	quiasma,	por	exemplo,	ABCA’B’	ou	ABCDA’B’C’	ou	até	mesmo	um	centro	duplo,	como	ABCDDA’B’C’
Inclusio,	também	chamado	de	“linhas	de	lastro”,	“estrutura	anelar”,	“estrutura	envolvente”	ou	“extremidades	de	livro”
Neste	poema,	encontramos	paralelismo	antitético	no	verso	4,	paralelismo
sintético	nos	versos	5-6	e	paralelismo	sinônimo	no	verso	7.	O	verso	8	conclui:
“Todas	as	coisas	são	canseiras”,	seguido	pelas	três	declarações	paralelas	que
trazem	literalmente:¹³
Um	homem não	é	capaz	de falar
Um	olho não	se	satisfaz	em ver
Um	ouvido não	se	enche	de ouvir
Estrutura	textual
Para	entender	a	força	desta	passagem,	precisamos	esboçar	a	progressão	lógica
das	ideias	do	texto.	Novamente,	os	comentaristas	não	concordam	entre	si.	Fox
provavelmente	chega	mais	perto	ao	apresentar	um	esboço	simples,	mas	válido:¹⁴
A.	1.3.	Tese
B.	1.4-7.	Argumentos	por	analogia
C.	1.8.	Reação	a	observações	em	B
D.	1.9.	Conclusão	abstraída	de	B	e	justificando	A
E.	1.10-11.	Adendo	em	prosa,	reforçando	A
Acrescentar	o	conteúdo	de	cada	título	e	mais	detalhes	é	útil	para	desenvolver	o
sermão	mais	tarde.	Por	isso,	proponho	o	seguinte	esboço	estrutural:
I.	Introdução
A.	Sobrescrito	identificando	o	autor	como	“o	Pregador”	(v.	1)
B.	Tema	básico	do	livro:	“Tudo	é	vaidade”	(v.	2)
II.	Reflexão	sobre	o	tema:	o	homem	não	tem	proveito	do	seu	trabalho	(v.	3)
A.	Tema	ilustrado	por	analogias	de	atividade	fútil	na	natureza	(v.4-7)
1.	Gerações	vão	e	vêm,	mas	o	mundo	permanece	(v.	4)
2.	O	sol	se	levanta,	se	põe	e	volta	ao	seu	lugar	(v.	5)
3.	O	vento	passa	por	toda	parte	e	volta	ao	seu	circuito	(v.	6)
4.	As	correntes	seguem	para	o	mar,	mas	não	o	enchem	(v.	7)
B.	Conclusão:	Todas	as	coisas	são	canseiras	(v.	8a)
1.	Um	homem	não	é	capaz	de	falar	(v.	8b)
2.	Um	olho	não	se	satisfaz	em	ver	(v.	8c)
3.	Um	ouvido	não	se	enche	de	ouvir	(v.	8d)
III.	Reafirmação	do	tema:	Nada	novo	debaixo	do	sol	—	sem	proveito	(v.	9)
A.	Objeção:	Veja,	isto	é	novo	(v.	10a)
B.	Resposta:	já	foi	(v.	10b)
C.	Não	há	lembrança	de	pessoas	—	sem	proveito	(v.	11)
Interpretação	teocêntrica
O	que	o	Pregador	diz	sobre	Deus?	A	resposta	é:	nada.	Em	contraste	com	Gênesis
1–3,	salmo	104	e	Jó	38–41,	o	Pregador	fala	da	criação	sem	fazer	referência	a
Deus.	William	Brown	escreve:	“O	mundo	segundo	o	Qohelet	é	um	cosmos	vazio
que	funciona	perpetuamente	como	um	relógio	em	seus	cursos	cansativos...	Os
ritmos	constantes	do	dia	e	da	noite	não	são	elogiados	por	seu	papel	salutar	em
sustentar	e	ordenar	a	vida	(cf.	Sl	104.19-23);	em	vez	disso,	são	depreciados	por
suas	repetições	incessantes.	De	acordo	com	o	salmista,	os	rios	proporcionam
vida,	inclusive	às	“aves	do	céu”	(v.10-12).	Para	o	Qohelet,	correm	por	nada.	O
mundo	do	Qohelet	não	reflete	a	glória	transcendente	de	Deus	nem	sua	presença
imanente.	Enquanto	o	salmo	104	descreve	vividamente	a	creatio	continuata,	a
criação	sustentada	e	dirigida	em	todas	as	suas	múltiplas	formas,	o	Qohelet
tristemente	descreve	uniformidade	perpétua,	uma	monotonia	das	esferas”.¹⁵	Mas
o	Pregador	nos	avisa	antecipadamente	que	refletirá	sobre	o	mundo	no	nível
horizontal,	o	mundo	sem	Deus.	Ele	descreve	a	vida	“debaixo	do	sol”	(v.3,	9).¹
Ele	descreve	a	vida	por	uma	perspectiva	secular.
Tema	e	objetivo	textual
O	esboço	do	texto	(acima)	nos	ajuda	a	descobrir	o	tema	textual.	O	Pregador
afirma	dois	temas:	“Tudo	é	vaidade”	(v.2)	e	“o	homem	não	tem	proveito	de	todo
o	seu	trabalho”	(v.3).	“Tudo	é	vaidade”	funciona	como	o	tema	de	todo	o	livro.
Nesta	passagem,	o	Pregador	apresenta	um	argumento	em	defesa	deste	tema,	a
saber,	que	o	homem	não	tem	qualquer	proveito	de	todo	o	seu	trabalho.	O	tema
textual	específico	é,	portanto,	“o	homem	não	tem	qualquer	proveito	de	todo	o
seu	trabalho”.¹⁷	Mas	sua	questão	fundamental	é:	Que	proveito	tem	o	homem	de
todo	o	seu	trabalho,	com	que	se	afadiga	debaixo	do	sol?”	“Debaixo	do	sol”	é	um
importante	qualificador.	O	Pregador	está	observando	a	vida	humana	sem	Deus.
Ele	apresenta	seu	argumento	por	uma	perspectiva	secular.	Como	essa	perspectiva
secular	é	de	importância	crucial	para	o	entendimento	da	mensagem,	temos	que
incluí-la	no	tema.	O	tema	textual,	portanto,	passa	a	ser	“o	homem	não	tem
qualquer	proveito	de	seu	trabalho	debaixo	do	sol”.
Contudo,	a	expressão	“debaixo	do	sol”	não	é	imediatamente	clara.	Como	ela
implica	uma	perspectiva	horizontal,	secular,	podemos	esclarecer	o	tema
formulando-o	da	seguinte	forma:	“De	uma	perspectiva	secular,	o	homem	não
tem	qualquer	proveito	em	seu	trabalho”.	Mas	esta	formulação	ainda	pode
confundir	as	pessoas.	O	desafio	é	formular	o	tema	de	maneira	que	ele	seja	breve,
mas	imediatamente	claro.	Provavelmente,	a	formulação	mais	clara	e	mais	curta
é:	Sem	Deus,	o	homem	não	tem	qualquer	proveito	em	seu	trabalho.
A	próxima	pergunta	é:	Por	que	o	Pregador	deseja	enviar	sua	mensagem	a	Israel?
Qual	é	seu	objetivo?	Como	vimos	acima	(p.	27–28),	o	Pregador	se	dirige	a
israelitas	que	estavam	“preocupados	com	todos	os	tipos	de	questões	sociais	e
econômicas	–	a	volatilidade	da	economia,	a	possibilidade	de	riqueza,	herança,
posição	social,	a	fragilidade	da	vida	e	a	sempre	presente	sombra	da	morte”.¹⁸
Eles	viviam	longe	de	Deus,	mas	perto	do	mercado,	com	seu	interesse	por
“proveito”.	“A	todos	aqueles	que	tentam	‘tirar	proveito’	da	vida,	seja	o	que	for
que	aleguem	fazer,	o	Qohelet	apresenta	a	severa	realidade	–	realidade	que	não
muda	simplesmente	porque	desejamos	que	mude,	mas	que	continua
fundamentalmente	a	mesma	apesar	de	tudo	o	que	acontece	sob	o	título	de
‘progresso’.	Quanto	mais	as	coisas	mudam,	mais	continuam	as	mesmas.	O
universo	não	tem	o	objetivo	de	permitir	que	o	‘proveito’	aconteça”.¹ 	O	objetivo
do	Pregador,	então,	é	advertir	Israel	que,	sem	Deus,	não	terá	qualquer	proveito
do	seu	trabalho.
Maneiras	de	pregar	Cristo
²
Das	sete	maneiras	de	ir	de	uma	passagem	do	Antigo	Testamento	para	Cristo,	no
Novo	Testamento,	vimos	que	promessa-cumprimento	e	tipologia	(com	duas
possíveis	exceções)	não	são	aplicáveis	ao	livro	de	Eclesiastes.	Isso	nos	deixa
cinco	caminhos	possíveis:	progressão	histórico-redentiva,	analogia,	temas
longitudinais,	referências	no	Novo	Testamento	e	contraste.	Verificaremos	cada
um	deles.
Progressão	histórico-redentiva
Dado	o	tema	“sem	Deus,	o	homem	não	tem	qualquer	proveito	em	seu	trabalho”,
a	progressão	histórico-redentiva	fornece	algum	caminho	para	se	chegar	ao	Novo
Testamento?	Observe	no	verso	9,	que	o	Pregador	reafirma	seu	tema	com
imagens	diferentes:	“O	que	foi	é	o	que	há	de	ser;	e	o	que	se	fez,	isso	se	tornará	a
fazer;	nada	há,	pois,	novo	debaixo	do	sol”.	Se	não	há	nada	novo,	não	há	nada	a
ser	ganho.	Mas	como	a	história	redentiva	se	move	para	frente,	há,	de	fato,	um
evento	radicalmente	novo:	Jesus,	o	Filho	de	Deus,	entra	neste	mundo.	Jesus	diz
aos	judeus:	“Vós	sois	cá	de	baixo,	eu	sou	lá	de	cima;	vós	sois	deste	mundo,	eu
deste	mundo	não	sou”	(Jo	8.23).	Jesus	dá	uma	nova	palavra:	“Se	vós
permanecerdes	na	minha	palavra,	sois	verdadeiramente	meus	discípulos;	e
conhecereis	a	verdade,	e	a	verdade	vos	libertará”	(Jo	8.31-32).	Jesustambém
oferece	um	novo	nascimento	para	se	entrar	no	reino	de	Deus	(Jo	3.3),	estabelece
uma	nova	aliança	(Lc	22.20)	e,	mais	importante,	vence	a	morte	(Mt	28.5-6).	De
fato,	por	causa	da	nova	era	que	Jesus	inaugurou,	João	vê	novo	céu	e	nova	terra	e
ouve	a	promessa	de	Deus:	“Eis	que	faço	novas	todas	as	coisas”	(Ap	21.1,5).
Quando	a	história	redentiva	progride,	portanto,	há	novos	eventos,	novas
realidades	e	novas	esperanças	de	que	Deus	fará	novas	todas	as	coisas.	Embora	o
homem	não	ganhe	nada	de	todo	o	seu	trabalho	sem	Deus,	por	meio	de	Jesus
Cristo	há	muito	a	ser	ganho	de	nosso	trabalho.	Paulo	escreve:	“(...)	no	Senhor
[i.e.,	em	Cristo],	o	vosso	trabalho	não	é	vão”	(1Co	15.58).
Analogia
Assim	como	Eclesiastes	afirma	que	não	temos	nenhum	proveito	de	nosso
trabalho	sem	Deus,	Jesus	também	afirma	que	não	temos	nenhum	proveito	em
trabalhar	por	posses	terrenas.	Jesus	pergunta:	“(...)	que	aproveitará	o	homem	se
ganhar	o	mundo	inteiro	e	perder	a	sua	alma?	Ou	que	dará	o	homem	em	troca	da
sua	alma?”	(Mt	16.26).	Aliás,	Jesus	conta	a	parábola	do	rico	insensato	que
perdeu	tudo	e	conclui:	“Assim	é	o	que	entesoura	para	si	mesmo	e	não	é	rico	para
com	Deus”	(Lc	12.16-21).	Por	isso	Jesus	nos	encoraja:
Não	acumuleis	para	vós	outros	tesouros	sobre	a	terra,	onde	a	traça	e	a	ferrugem
corroem	e	onde	ladrões	escavam	e	roubam;	mas	ajuntai	para	vós	outros	tesouros
no	céu,	onde	traça	nem	ferrugem	corrói,	e	onde	ladrões	não	escavam,	nem
roubam;	porque,	onde	está	o	teu	tesouro,	aí	estará	também	o	teu	coração.	(...)
Ninguém	pode	servir	a	dois	senhores;	porque	ou	há	de	aborrecer-se	de	um	e
amar	ao	outro,	ou	se	devotará	a	um	e	desprezará	ao	outro.	Não	podeis	servir	a
Deus	e	às	riquezas	(Mt	6.19-24).
Em	outro	lugar	Jesus	diz:	“Trabalhai,	não	pela	comida	que	perece,	mas	pela	que
subsiste	para	a	vida	eterna,	a	qual	o	Filho	do	Homem	vos	dará;	porque	Deus,	o
Pai,	o	confirmou	com	o	seu	selo”	(Jo	6.27).
Temas	longitudinais
Pode-se	traçar	o	tema	bíblico-teológico	de	trabalhar	por	nada	a	partir	da	Queda
no	pecado,	quando	o	trabalho	significativo	se	torna	“suor”	e	uma	vida	inteira	de
trabalho	termina	nos	seres	humanos	voltando	ao	pó	da	terra	(Gn	3.17-18)	–	sem
proveito.	O	tema	do	trabalho	que	termina	em	morte	percorre	todo	o	Antigo
Testamento	de	geração	a	geração	(cf.	a	repetição	de	“e	morreu”,	em	Gn	5)	e,
aparentemente,	entra	no	Novo	Testamento.	Santos	e	pecadores	morrem,	e	“não
há	lembrança	das	coisas	que	precederam”	(Ec	1.11).	Jesus	proclama,	contudo:
“Eu	sou	a	ressurreição	e	a	vida.	Quem	crê	em	mim,	ainda	que	morra,	viverá;	e
todo	o	que	vive	e	crê	em	mim	não	morrerá,	eternamente”	(Jo	11.25-26).
Referências	do	Novo	Testamento
Além	das	referências	neotestamentárias	usadas	para	abrir	os	três	caminhos	acima
e	o	contraste,	abaixo,	também	podemos	considerar	Romanos	8,	em	que	Paulo
usa	a	mesma	palavra	grega,	,	que	a	Septuaginta	usa	para	traduzir	:	“Pois	a
criação	está	sujeita	à	vaidade”.²¹	Mas,	como	Cristo	veio,	Paulo	pôde	ir	além	de
Eclesiastes:	“Pois	a	criação	está	sujeita	à	vaidade,	não	voluntariamente,	mas	por
causa	daquele	que	a	sujeitou	[i.e.,	Deus;	veja	Gn	3.17],	na	esperança	de	que	a
própria	criação	será	redimida	do	cativeiro	da	corrupção,	para	a	liberdade	da
glória	dos	filhos	de	Deus”	(Rm	8.20-21).
Tiago	também	se	aproxima	de	usar	a	imagem	de	Eclesiastes,	“tudo	é	vaidade”,
literalmente,	ao	afirmar	que	“tudo	é	vapor,	sopro”,	quando	escreve:	“Sois,
apenas,	como	neblina	que	aparece	por	instante	e	logo	se	dissipa”	(Tg	4.14).	Mas
Tiago	não	liga	sua	observação	diretamente	a	Cristo.
Contraste
Por	causa	da	vinda	de	Jesus	Cristo	e	sua	ressurreição,	o	contraste	também
oferece	uma	boa	ponte	para	chegarmos	a	Cristo,	no	Novo	Testamento.	Paulo
conclui	seu	capítulo	sobre	a	ressurreição	de	Jesus	com	estas	palavras	profundas:
“(...)	meus	amados	irmãos,	sede	firmes,	inabaláveis	e	sempre	abundantes	na	obra
do	Senhor,	sabendo	que,	no	Senhor,	o	vosso	trabalho	não	é	vão”	(1Co	15.58).
Eclesiastes	implica	que	a	pessoa	não	tem	nenhum	proveito	de	seu	trabalho	(1.3).
Paulo	afirma	que	a	pessoa	tem	proveito	no	seu	trabalho	“no	Senhor”:	“No
Senhor,	o	vosso	trabalho	não	é	vão”.	O	próprio	Paulo	viveu	por	esta	perspectiva.
Ele	escreve	aos	filipenses:	“(...)	para	mim,	o	viver	é	Cristo,	e	o	morrer	é	lucro”
(Fp	1.21).	Paulo	também	contradiz	a	afirmação	de	Eclesiastes	de	que	não	há
nada	novo.	Ele	escreve:	“(...)	se	alguém	está	em	Cristo,	é	nova	criatura;	as	coisas
antigas	já	passaram;	eis	que	se	fizeram	novas”	(2Co	5.17).	O	próprio	Jesus
afirma	que	nosso	trabalho	pode	produzir	fruto:	“Eu	sou	a	videira,	vós,	os	ramos.
Quem	permanece	em	mim,	e	eu,	nele,	esse	dá	muito	fruto;	porque	sem	mim	nada
podeis	fazer”	(Jo	15.5).	Jesus	até	diz	que	receberemos	uma	recompensa	pelo
nosso	trabalho:	“Quem	recebe	um	profeta,	no	caráter	de	profeta,	receberá	o
galardão	de	profeta;	quem	recebe	um	justo,	no	galardão	de	justo,	receberá	o
galardão	de	justo.	E	quem	der	a	beber,	ainda	que	seja	um	copo	de	água	fria,	a	um
destes	pequeninos,	por	ser	este	meu	discípulo,	em	verdade	vos	digo	que	de	modo
algum	perderá	o	seu	galardão”	(Mt	10.41-42).
Tema	e	objetivo	do	sermão
Formulamos	o	tema	textual	assim:	“Sem	Deus,	o	homem	não	tem	qualquer
proveito	em	seu	trabalho”.	Agora	precisamos	decidir	se,	no	sermão,	colocaremos
ênfase	em	nosso	movimento	para	Jesus,	no	Novo	Testamento,	na	analogia	ou	no
contraste.	Se	enfatizarmos	o	contraste	entre	a	mensagem	de	Eclesiastes	e	a	de
Jesus,	teremos	que	mudar	o	tema	textual	quase	para	seu	oposto	para	chegarmos
ao	tema	do	sermão.	Então,	podemos	considerar	como	tema	do	sermão	as
palavras	de	Paulo:	“No	Senhor,	o	vosso	trabalho	não	é	vão”.	Ou,	refletindo	as
palavras	de	Jesus,	podemos	considerar:	“Todo	aquele	que	permanece	em	mim,	e
eu,	nele,	esse	dá	muito	fruto”.	Mas	o	resultado	disso	é	que	nosso	texto	não
suporta	mais	o	tema	do	sermão.	Para	fazer	justiça	ao	texto	do	Antigo
Testamento,	normalmente	é	aconselhável	nos	mantermos	firmes	o	máximo
possível	no	tema	textual,	isto	é,	focar	na	continuidade	com	o	Novo	Testamento,
não	em	sua	descontinuidade.²²	Em	nossa	exposição	do	sermão,	portanto,
devemos	focar	primariamente	nas	analogias.	Isso	significa	que	o	tema	do	nosso
sermão	pode	ser	o	mesmo	tema	textual:	Sem	Deus,	o	homem	não	tem	qualquer
proveito	em	seu	trabalho.
O	objetivo	do	Pregador	para	Israel	que	formulamos	foi:	“Advertir	a	Israel	que,
sem	Deus,	não	terá	qualquer	proveito	do	seu	trabalho”.	Nosso	objetivo	ao	pregar
este	sermão	deve	ser	similar	ao	objetivo	do	Pregador	e	corresponder	ao	tema	do
sermão.	Podemos	fazer	isso	fazendo	uma	pequena	mudança	no	objetivo	do
sermão:	advertir	aos	ouvintes	que,	sem	Deus,	eles	não	terão	proveito	algum	em
seu	trabalho.
Este	objetivo	indica	que	a	necessidade	tratada	por	este	sermão,	o	problema	em
vista,	é,	de	forma	ampla,	o	materialismo	desenfreado	em	nossa	cultura,	que	afeta
também	nossos	ouvintes.	A	necessidade	é	o	perigo	de	que	os	ouvintes	comprem
o	sonho	americano	de	que,	com	nosso	trabalho,	ganhamos	algo	importante:
podemos	nos	tornar	homens	e	mulheres	prósperos	e	independentes.
A	forma	do	sermão
Como	a	“reflexão”	do	Pregador	é	uma	forma	didática,	o	sermão	pode	seguir
melhor	a	forma	didática.	Além	disso,	ele	afirma	seu	tema	logo	no	início	(v.	3)	e
depois	o	defende	(v.	4-11).	Em	outras	palavras,	ele	usa	desenvolvimento
dedutivo.	Um	sermão	expositivo	pode	usar	o	mesmo	desenvolvimento	dedutivo.
A	introdução	é	uma	parte	importante	do	sermão,	embora	deva	criar	interesse,	e
“introduzir”	(intro	ducere)	o	tópico	do	sermão,	pode	fazer	muito	mais.	A
introdução	pode	mostrar	a	relevância	do	sermão	revelando	seu	alvo	(por	que	o
sermão	é	pregado	e	por	que	as	pessoas	devem	ouvi-lo);	pode	estabelecer	a	tensão
que	manterá	os	ouvintes	atentos	para	a	resolução;	pode	criar	fome	de	ouvir	a
palavra	do	Senhor.	Portanto,	sugiro	que	os	pregadores	geralmente	comecem	com
uma	ilustração	da	necessidade	que	será	tratada	pelo	sermão;	depois,	conectem
essa	ilustração	pastoralmente	à	necessidade	dos	ouvintes;	depois,	mostrem	que
essa	necessidade	é	similar	à	necessidade	de	Israel	(a	questão	por	trás	do	texto)	e
(com	desenvolvimento	dedutivo)afirmem	o	tema	textual.²³
Exposição	do	sermão
²⁴
Para	este	sermão,	a	introdução	pode	ilustrar	o	desejo	comum	de	acumular
riqueza.	Nossa	sociedade	oferece	incontáveis	ilustrações	desse	desejo:	o	vício
cada	vez	maior	em	jogos	de	azar,	milhões	de	pessoas	comprando	bilhetes	de
loteria	na	esperança	de	ganhar	o	prêmio,	pessoas	na	TV	se	expondo
absurdamente	para	se	tornarem	milionárias;	a	busca	por	salários	cada	vez	mais
altos,	carros	cada	vez	maiores,	barcos	cada	vez	maiores,	casas	cada	vez	maiores.
Em	vez	de	apresentar	tudo	isso	como	exemplos,	é	mais	atrativo	contar	a	história
de	uma	pessoa	que	caiu	na	armadilha	de	tentar	acumular	riqueza.	Então	associe
essa	ilustração	cuidadosamente	ao	nosso	desejo	de	ter	cada	vez	mais	riqueza:
Será	que	estamos	imunes	ao	materialismo	exorbitante	presente	em	nossa	cultura?
Será	que	nós,	também,	contraímos	síndrome	do	“maior	é	melhor”	da	nossa
sociedade?
O	Pregador	de	Eclesiastes	está	se	dirigindo	a	israelitas	para	os	quais	um	novo	dia
havia	nascido.	Eles	não	tinham	mais	sua	existência	tranquila	e	baseada	na
agricultura	–	dependendo	do	Senhor	para	lhes	dar	o	pão	de	cada	dia.	Eles	viviam
na	encruzilhada	de	uma	nova	e	florescente	linha	de	comércio	internacional	entre
Egito	e	Ásia/Europa.	Fortunas	podiam	ser	feitas	e	perdidas	da	noite	para	o	dia.
Os	israelitas	estavam	se	apressando	para	enriquecer.	Mas	o	Pregador	começa	seu
livro	advertindo-os:	“Sem	Deus,	não	há	qualquer	proveito	em	todo	o	seu
trabalho”.
Ele	começa	sua	mensagem	no	verso	2:²⁵	“Vaidade	de	vaidades,	diz	o	Pregador;
vaidade	de	vaidades,	tudo	é	vaidade”.	A	palavra	traduzida	aqui	como	“vaidade”
é,	literalmente,	“vapor”	ou	“sopro”.	“Tudo	é	vaidade”	é,	literalmente,	“tudo	é
vapor”,	“tudo	é	sopro”.	Saia	de	casa	em	uma	fria	manhã	de	inverno	e	sopre.	O
que	você	vê?	Você	vê	um	sopro	como	vapor.	E	o	que	mais	você	vê?	O	vapor	fica
ali	por	uns	instantes	e	some.	Todas	as	coisas	neste	mundo	são	como	nosso	sopro,
diz	o	Pregador.	Ficam	aqui	por	um	momento	e	se	vão.	O	salmista	também	clama:
Deste	aos	meus	dias	o	comprimento	de	alguns	palmos;
À	tua	presença,	o	prazo	da	minha	vida	é	nada.
Na	verdade,	todo	homem,	por	mais	firme	que	esteja,	é	pura	vaidade	(	).²
No	Novo	Testamento,	Tiago	usa	uma	imagem	similar.	Ele	escreve:	“Sois,
apenas,	como	a	neblina	que	aparece	por	instante	e	logo	se	dissipa”	(Tg	4.14).
Pergunte	às	pessoas	sobre	sua	vida	e,	mesmo	quando	estiverem	com	noventa
anos,	concordarão	que	sua	vida	foi	como	“a	neblina	que	aparece	por	instante	e
logo	se	dissipa”.	Hoje	está	aqui,	amanhã	não	está	mais.	Isso	é	o	que	o	Pregador
ensina	a	Israel	e	a	nós,	a	saber,	que	nossa	vida	é	extremamente	breve;	é	como	um
sopro	em	uma	manhã	de	inverno:	nós	a	vemos	por	um	momento	e,	de	repente,
ela	se	foi.²⁷
Mas	há	mais	nessa	imagem	do	que	brevidade.	Sopre	em	uma	manhã	fria	de
inverno	e	tente	agarrar	o	vapor.	Não	há	nada	a	agarrar.	Ele	não	apenas
desaparece	rapidamente,	mas,	mesmo	durante	sua	curta	existência,	parece	não
haver	substância	nele;	é	enganoso.	Nossa	vida	é	transitória	e	enganosa.	Ela	não
faz	sentido;	tudo	parece	muito	sem	propósito,	muito	fútil.²⁸
“Vaidade	de	vaidades,	diz	o	Pregador;	vaidade	de	vaidades,	tudo	é	vaidade”.
“Vaidade	de	vaidades”	é	uma	forma	de	expressar	o	superlativo.	O	“santos	dos
santos”	é	o	lugar	mais	santo	do	templo.	O	“céu	dos	céus”	é	o	céu	mais	alto.
“Vaidade	de	vaidades”	é	vaidade	total.² 	O	Pregador	repete	a	expressão	para	se
certificar	de	que	entendemos	o	que	ele	quer	dizer:	“vaidade	de	vaidades”:	a	vida
humana	é	totalmente	vaidade.
Ele	conclui	dizendo	que	“tudo	é	vaidade”.	Tudo	o	que	vemos	neste	mundo	é	de
curta	duração	e	não	tem	substância.	As	roupas	que	usamos	logo	sairão	de	moda	e
teremos	que	comprar	outras.	O	carro	que	compramos	logo	estará	obsoleto	e
teremos	que	comprar	outro.	A	casa	em	que	moramos	resiste	mais	tempo,	mas
eventualmente	será	derrubada	e	substituída.	“Tudo	é	vaidade”.	Para	provar	isso,
o	Pregador,	neste	livro,	examina	a	vida	por	diferentes	ângulos.	Nesta	passagem,
ele	a	observa	pelo	ângulo	daquilo	que	ganhamos	na	vida	com	nosso	trabalho.	No
verso	3	ele	levanta	a	questão:	“Que	proveito	tem	o	homem	de	todo	o	seu
trabalho,	com	que	se	afadiga	debaixo	do	sol?”	a	resposta	esperada	é:	nenhum.	As
pessoas	não	têm	nenhum	proveito	de	todo	o	trabalho	que	realizam	debaixo	do
sol.
A	palavra	“proveito”	(	)	aparece	nove	vezes	em	Eclesiastes³ 	e	em	nenhum	outro
lugar	do	Antigo	Testamento.	A	palavra	é	derivada	de	um	verbo	que	significa	“ser
deixado,	permanecer”	–	como	quando	alguém	investe	em	um	negócio,	pagando
despesas	e	recebendo	lucro,	e,	no	fim	do	ano,	verifica	o	que	ganhou.	Assim,
“proveito”	também	pode	ser	traduzido	como	“lucro”.³¹	O	que	a	pessoa	lucra	com
todo	o	seu	trabalho	debaixo	do	sol?
“Debaixo	do	sol”	também	é	uma	expressão	típica	encontrada	somente	em
Eclesiastes.	O	Pregador	a	usa	vinte	e	nove	vezes.³²	“Debaixo	do	sol”	se	refere	a
viver	neste	mundo	sem	levar	Deus	em	conta.	“A	cena	em	mente	é
exclusivamente	o	mundo	que	podemos	observar,	e...	nosso	ponto	de	observação
está	no	nível	do	chão”.³³	“Que	proveito	tem	o	homem	de	todo	o	seu	trabalho,
com	que	se	afadiga	debaixo	do	sol?”.	A	resposta	é:	nenhum.	De	uma	perspectiva
secular,	sem	Deus,	o	ser	humano	não	tem	nenhum	proveito	de	todo	o	seu
trabalho.	No	Novo	Testamento,	Jesus	faz	uma	pergunta	semelhante:	“Que
aproveitará	o	homem	se	ganhar	o	mundo	inteiro	e	perder	a	sua	alma?	Ou	que
dará	o	homem	em	troca	da	sua	alma?”	(Mt	16.26).	Se	a	pessoa	perder	sua	vida,
sua	alma,	a	essência	de	seu	ser,	nada	resta.
O	Pregador	provará	sua	afirmação	com	um	argumento	cuidadosamente
elaborado.	Ele	compara	a	futilidade	da	vida	humana	com	os	ciclos	que	podemos
observar	na	natureza.	Verso	4:	“Geração	vai	e	geração	vem;	mas	a	terra
permanece	para	sempre”.	“Geração	vai	e	geração	vem”	parece	apontar	para	a
brevidade	da	vida	humana.³⁴	Mas,	na	verdade,	este	verso	fortalece	a	ideia	de	que
não	há	proveito.	Normalmente	se	diria:	“Uma	geração	vem,	uma	geração	vai”.
Mas	o	Pregador	inverteu	a	ordem:	“Geração	vai	e	geração	vem”.	“A	ordem	das
palavras	no	verso	4,	na	verdade,	coloca	a	ênfase	na	substituição	de	uma	geração
por	outra	(a	geração	que	vai	é	substituída	pela	geração	que	vem),	processo
semelhante	ao	dos	outros	fenômenos	descritos”.³⁵	Apesar	das	constantes
mudanças,	na	verdade	nada	muda.	Não	há	proveito.	O	verso	4	é	similar	ao	verso
7:	Todos	os	rios	correm	para	o	mar,	e	o	mar	não	se	enche”.	Apesar	de	toda	a
água	derramada	no	mar,	ele	não	enche.	Não	há	mudança.	Da	mesma	forma,	aqui,
“geração	vai	e	geração	vem;	mas	a	terra³ 	permanece	para	sempre”.	A	terra
permanece	a	mesma,	como	o	mar.	Nada	muda.	Não	há	proveito.
Da	terra,	o	Pregador	se	move	para	o	sol,	e	ali	também	observa	ciclos	que	não
mudam	nada.	“Levanta-se	o	sol	e	põe-se	o	sol,	e	volta	ao	seu	lugar,	e	nasce	de
novo”.	Esta	descrição	do	sol	é	totalmente	diferente	da	empolgada	descrição	do
salmista:	“Aí	[nos	confins	do	mundo],	pôs	uma	tenda	para	o	sol,	o	qual,	como
noivo	que	sai	dos	seus	aposentos,	se	regozija	como	herói,	a	percorrer	o	seu
caminho”	(Sl	19.4-5).	Em	Eclesiastes,	“levanta-se	o	sol,	e	põe-se	o	sol,	e
[literalmente]	volta³⁷	ao	seu	lugar,	onde	nasce	de	novo”.	Ele	se	esforça	para
voltar	ao	lugar	de	onde	veio.	“O	sol	respira	com	dificuldade	para	cumprir	seus
enervantes	circuitos”.³⁸	No	entanto,	“ele	não	realiza	nada	indo	e	voltando.	É
apenas	trabalho,	pois,	seguindo	sua	jornada	diária,	não	há	oportunidade	para
descanso	para	se	recuperar	e	repetir	o	desempenho.	É	tudo	uma	repetição	sem
pausa,	um	trabalho	monótono	e	sem	descanso”.³ 	E	não	há	proveito.
Da	terra	e	do	sol,	o	Pregador	se	volta	para	o	vento.	Verso	6:	“O	vento	vai	para	o
sul	e	faz	o	seu	giro	para	o	norte;	volve-se,	e	revolve-se,	na	sua	carreira,	e	retorna
aos	seus	circuitos”.	Enquanto	o	sol	(pela	nossa	percepção)	sempre	se	move	do
oriente	para	o	ocidente,	o	vento	vai	para	o	sul	e	volta	para	o	norte.	Mas,	ao
contrário	do	sol,	que	está	preso	em	um	ciclo	constante	de	leste	para	oeste,	o
vento	parece	totalmente	livre.	O	Pregador	chama	atenção	para	os	movimentos
rápidos	e	repetidos...	literalmente	vai...	faz	seu	giro...	volve-se,e	revolve-se”.⁴ 	O
vento	é	livre	para	soprar	onde	quiser.	Mas	o	desfecho	de	todas	essas	idas	e
vindas	é	“retorna	aos	seus	circuitos”.	Até	mesmo	o	vento	“entra	em	uma
rotina”.⁴¹	Até	mesmo	o	vento	segue	um	caminho	fixo	e	nada	é	ganho.⁴²
Da	terra,	do	sol	e	do	vento,	o	Pregador	finalmente	vai	para	o	mar.	Verso	7:
“Todos	os	rios	correm	para	o	mar,	e	o	mar	não	se	enche;	ao	lugar	para	onde
correm	os	rios,	para	lá	tornam	eles	a	correr”.	O	Pregador	pode	ter	pensado	no
Mar	Morto	–	que	fica	a	420	metros	abaixo	do	nível	do	mar,	o	mar	mais	profundo
do	planeta	e,	portanto,	sem	saída.	Embora	o	rio	Jordão	e	muitos	ribeiros
deságuem	no	Mar	Morto,	ele	não	transborda.	O	mesmo	acontece	com	o
Mediterrâneo	e	os	oceanos.	“Todos	os	rios	correm	para	o	mar,	e	o	mar	não	se
enche;	ao	lugar	para	onde	correm	os	rios	[i.e.,	o	mar],	para	lá	tornam	eles	a
correr”.⁴³	Sabemos,	é	claro,	que	o	mar	não	enche	porque	as	águas	evaporam	e	as
nuvens	trazem	a	chuva	de	volta	para	a	terra	–	outro	ciclo.⁴⁴	Mas	este	não	é	o	foco
deste	verso.	O	ponto	é	que	os	rios	continuam	a	correr	para	o	mar,	mas	o	mar	não
enche.	Toda	essa	atividade	não	mostra	resultados.	Não	há	proveito.
“O	mundo	todo	é	um	cenário	de	intenso	movimento	e	atividade.	Mas	isso	é
significativo?...	Devido	a	todo	o	movimento	que	caracteriza	o	cosmos,	pode-se
pensar	que	algo	está	sendo	realizado.	Mas	não.	Embora	os	milênios	passem,	toda
aparência	de	progresso	é	apenas	uma	miragem.	A	atividade	é	abundante;	tudo
está	em	perpétuo	movimento,	como	um	hamster	em	uma	roda,	mas	nada	é
alcançado.	Essa	demonstração	de	esforço	cósmico	sem	fim	é	sem	valor”.⁴⁵	A
terra	continua	a	mesma;	o	sol	parece	sempre	trabalhar	na	mesma	órbita;	o	vento
volta	aos	seus	circuitos;	e	o	mar	não	se	enche.	Terra,	fogo,	ar	e	água	trabalham
em	uma	rotina.	Se	os	elementos	básicos	do	mundo	antigo	não	têm	proveito	de
todo	o	seu	trabalho,	certamente	os	seres	humanos	também	não	têm.⁴
O	Pregador	resume	tudo	no	verso	8:	“Todas	as	coisas	são	canseiras	tais,	que
ninguém	as	pode	exprimir;	os	olhos	não	se	fartam	de	ver,	nem	se	enchem	os
ouvidos	de	ouvir”.	“Todas	as	coisas”⁴⁷	refere-se	aos	ciclos	constantes	na
natureza.	“que	ninguém	pode	exprimir	é	a	primeira	de	três	afirmações	paralelas
que	dizem,	literalmente:
Um	homem não	é	capaz	de falar
Um	olho não	se	satisfaz	em ver
Um	ouvido não	se	enche	de ouvir
“Cada	frase	oferece	uma	ilustração	concreta,	desta	vez	extraída	da	vida	humana,
da	operação	contínua	de	boca,	olho...	e	ouvido”.⁴⁸	A	boca	não	pode	expressar
suficientemente	a	cansativa	repetição	de	ciclos	fúteis	na	natureza.	“Ninguém
pode	falar	significativamente...	sobre	o	mundo,	isto	é,	ninguém	pode	explicá-lo,
influenciá-lo	ou	controlá-lo”.⁴ 	O	olho	também	“nunca	alcança	o	ponto	em	que
não	pode	mais	penetrar,	nem	o	ouvido	fica	tão	cheio	de	som	que	não	pode	mais
aceitar	impulsos	do	mundo	exterior”.⁵ 	A	atividade	incessante	das	gerações,	do
sol,	do	vento	e	dos	rios	é	refletida	na	vida	humana.	Assim,	como	toda	essa
atividade	na	natureza	não	tem	proveito	algum,	assim	também	a	atividade
humana	de	falar,	ver	e	ouvir	não	tem	proveito	algum.
No	verso	9,	o	Pregador	aborda	o	tema	de	falta	de	proveito	por	um	ângulo
diferente.	“O	que	foi	é	o	que	há	de	ser;	e	o	que	se	fez,	isso	se	tornará	a	fazer;
nada	há,	pois,	novo	debaixo	do	sol”.	“O	que	foi	é	o	que	há	de	ser”	parece	referir-
se	aos	ciclos	fúteis	revelados	na	natureza.⁵¹	As	gerações	continuarão	indo	e
vindo,	assim	como	o	sol,	o	vento	e	os	rios.	“O	que	foi	é	o	que	há	de	ser”.	Nada
novo.	Nenhum	proveito.
Mas,	então,	o	Pregador	muda	para	a	história	humana:	“O	que	foi	é	o	que	há	de
ser”.	Na	história	humana	também,	diz	ele,	vemos	atividade	frenética,	mas	ela
não	chega	a	lugar	algum.	Tudo	o	que	vemos	é	repetição	fútil.	“O	que	foi	é	o	que
há	de	ser”.	Ele	conclui:	“Nada	há,	pois,	novo	debaixo	do	sol”.	Nada	novo!	A
história	humana	também	mostra	que	não	há	proveito	para	os	indivíduos.	Não	há
nada	novo!	No	verso	10,	o	Pregador	antecipa	uma	objeção	à	sua	afirmação
radical	de	que	não	há	nada	novo	debaixo	do	sol.	“Há	alguma	coisa	de	que	se
possa	dizer:	Vê,	isto	é	novo?”	Sua	resposta	a	esta	objeção	é	curta	e	abrupta:
“Não!	Já	foi	nos	séculos	que	foram	antes	de	nós”.	Um	bebê	nasce.	Uma	pessoa
diz:	“Veja,	isto	é	novo”.	O	Pregador	responde:	“Isso	já	aconteceu”.	Bebês
nasciam	no	passado	também.	Uma	guerra	começa.	Alguém	diz:	“Veja,	isto	é
novo”.	O	Pregador	responde:	“Isso	já	aconteceu”.	Guerras	começaram	no
passado	também.⁵²	“À	luz	da	natureza	repetitiva	da	história,	toda	coisa
alegadamente	nova	é	apenas	uma	variação	de	algo	do	passado”.⁵³
O	Pregador	conclui	esta	passagem	no	verso	11:	“Já	não	há	lembrança	das	coisas
que	precederam;	e	das	coisas	posteriores	também	não	haverá	memória	entre	os
que	hão	de	vir	depois	delas”.	Aqui	ele	expande	um	argumento	apresentado	no
verso	4:	“Geração	vai	e	geração	vem;	mas	a	terra	permanece	para	sempre”.
Muito	embora	as	idas	e	vindas	de	gerações	não	façam	diferença	na	terra,	é
possível	uma	geração	de	pessoas	ou	indivíduos	se	distinguir	de	alguma	forma	e
mostrar	algum	proveito?	É	possível	uma	pessoa	causar	tamanho	impacto	na
história	a	ponto	de	ser	lembrada	e	pelo	menos	ganhar	reconhecimento?	Sua
resposta	pessimista	é	“não”,	“não	há	lembrança	das	coisas	que	precederam”.	A
memória	humana	é	curta	demais.
O	Pregador	“não	está	exatamente	alegando	que	os	seres	humanos	são	totalmente
esquecidos	do	passado,	mas	minando	suas	mais	profundas	e	presunçosas
aspirações	de	garantir	um	lugar	permanente	ou	uma	‘lembrança’	na	história.
Uma	vida	orientada	à	conquista	de	um	legado	para	a	posteridade	é	uma	vida
dedicada	a	correr	atrás	do	vento.	O	futuro	não	pode	ser	controlado,	assim	como	o
passado	não	pode	ser	plenamente	lembrado”.⁵⁴	As	pessoas	podem	ser
homenageadas	com	seu	nome	dado	a	montanhas,	mas	uma	geração	seguinte
muda	os	nomes.	As	pessoas	podem	ser	homenageadas	com	seu	nome	dado	a
edifícios,	mas,	com	o	tempo,	os	edifícios	são	derrubados	e	os	nomes	são
esquecidos.	As	pessoas	escrevem	livros	para	serem	lembradas	pela	posteridade,
mas,	com	o	tempo,	esses	livros	são	substituídos	por	outros	e	os	autores	são
esquecidos.	“Não	faz	diferença	o	que	uma	pessoa	realizou	ou	quem	ela	foi	(veja
2.16).	Quando	a	morte	chega,	todas	as	esperanças	perecem,	e	ninguém	é	melhor
que	os	outros...	A	morte	dissipa	todas	as	esperanças	de	imortalidade,	inclusive	a
‘imortalidade’	de	ser	lembrado	para	sempre”.⁵⁵
O	Pregador	claramente	defendeu	sua	posição	de	que	a	pessoa	não	tem	proveito
algum	de	todo	o	trabalho	que	realiza	debaixo	do	sol,	isto	é,	não	tem	proveito
algum	de	todo	o	trabalho	que	realiza	sem	Deus.	Ele	reforçará	essa	posição	mais
adiante,	com	outras	imagens.	Em	2.18-19,	ele	escreve:	“Também	aborreci	todo	o
meu	trabalho,	com	que	me	afadiguei	debaixo	do	sol,	visto	que	o	seu	ganho	eu
havia	de	deixar	a	quem	viesse	depois	de	mim.	E	quem	pode	dizer	se	será	sábio
ou	estulto?	Contudo,	ele	terá	domínio	sobre	todo	o	ganho	das	minhas	fadigas	e
sabedoria	debaixo	do	sol;	também	isto	é	vaidade”.	E,	em	5.16,	ele	escreve:
“Também	isto	é	grave	mal:	precisamente	como	veio,	assim	ele	vai;	e	que
proveito	lhe	vem	de	haver	trabalhado	para	o	vento?”
No	Novo	Testamento,	Jesus	defende	a	mesma	posição.	Ele	pergunta:	“Que
aproveitará	o	homem	se	ganhar	o	mundo	inteiro	e	perder	a	sua	alma?	Ou	que
dará	o	homem	em	troca	da	sua	alma?”	(Mt	16.26).	Quando	a	pessoa	perde	sua
alma,	ela	não	tem	proveito	algum	–	nenhum	ganho.	Jesus	defende	a	mesma
posição	de	Eclesiastes	com	uma	história	simples,	uma	parábola:
O	campo	de	um	homem	rico	produziu	com	abundância.	E	arrazoava	consigo
mesmo,	dizendo:	Que	farei,	pois	não	tenho	onde	recolher	os	meus	frutos?	E
disse:	Farei	isto:	destruirei	os	meus	celeiros,	reconstruí-los-ei	maiores	e	aí
recolherei	todo	o	meu	produto	e	todos	os	meus	bens.	Então,	direi	à	minha	alma:
tens	em	depósito	muitos	bens	para	muitos	anos;	descansa,	come,	bebe	e	regala-
te.	Mas	Deus	lhe	disse:	Louco,	esta	noite	te	pedirão	a	tua	alma;	e	o	que	tens
preparado,	para	quem	será?”	Quando	o	homem	rico	morreu,	não	teve	proveito
algum	de	todo	o	seu	trabalho.	Nada	foi	deixado:	sem	proveito.	Jesus	conclui	esta
parábola:“Assim	é	o	que	entesoura	para	si	mesmo	e	não	é	rico	para	com	Deus”
(Lc	12.16-21).
Sem	Deus,	a	pessoa	não	tem	qualquer	proveito	em	todo	o	seu	trabalho.
Então	não	há	nada	a	ser	ganho	de	nossa	vida	na	terra?	Nada	para	ser	deixado
quando	morrermos?	Nenhum	proveito?	Sim,	diz	Jesus,	pode	haver	um	proveito,
mas	para	isso	não	devemos	guardar	tesouros	para	nós	mesmos,	mas	sermos	ricos
para	com	Deus.	Por	isso	ele	nos	encoraja:	“Não	acumuleis	para	vós	outros
tesouros	sobre	a	terra,	onde	a	traça	e	a	ferrugem	corroem	e	onde	ladrões	escavam
e	roubam;	mas	ajuntai	para	vós	outros	tesouros	no	céu,	onde	traça	nem	ferrugem
corrói,	e	onde	ladrões	não	escavam,	nem	roubam;	porque,	onde	está	o	teu
tesouro,	aí	estará	também	o	teu	coração”	(Mt	6.19-21).⁵ 	Em	outro	lugar,	Jesus
admoesta:	“Trabalhai,	não	pela	comida	que	perece,	mas	pela	que	subsiste	para	a
vida	eterna,	a	qual	o	Filho	do	Homem	[i.e.,	Jesus]	vos	dará”	(Jo	6.27).
A	mensagem	de	Jesus	é	clara:	não	ganhamos	nada	ajuntando	tesouros	sobre	a
terra.	Não	ganhamos	nada	se	trabalharmos	sem	Deus.	Mas	nossa	vida	pode	ter
proveito	se	formos,	nas	palavras	de	Jesus,	“ricos	para	com	Deus”,	se	ajuntarmos
tesouros	no	céu,	se	servirmos	a	Deus.	Paulo	confirma	as	palavras	de	Jesus.	Ele
escreve:	“(...)	meus	amados	irmãos,	sede	firmes,	inabaláveis	e	sempre
abundantes	na	obra	do	Senhor,	sabendo	que,	no	Senhor,	o	vosso	trabalho	não	é
vão”	(1Co	15.58).
Mas	se	o	nosso	trabalho	não	for	“no	Senhor”,	se	trabalharmos	sem	Deus,	não
temos	proveito	algum.	Por	isso	Jesus	nos	adverte:	“Não	acumuleis	para	vós
outros	tesouros	sobre	a	terra...	ajuntai	para	vós	outros	tesouros	no	céu	(...)”	(Mt
6.19-20).
¹	Jerônimo	foi	o	primeiro	a	traduzir	o	hebraico	para	vanitas.	Por	isso,	as	versões
inglesas	usam	“vaidade”.	Mas,	em	inglês	moderno,	“vaidade”	não	abrange	todas
as	conotações	de	.	De	acordo	com	o	dicionário	Webster,	“vaidade”	é	“aquilo	que
é	vão	ou	vazio,	inativo	ou	inútil”.	Ela	não	abrange	aquilo	que	é	de	pouca
duração,	efêmero	ou	transitório.	Embora	os	pregadores	geralmente	sigam	o
palavreado	bíblico	em	seus	sermões,	certamente	podem	defender	uma	tradução
diferente,	preferivelmente	citando	outra	versão	bíblica.
²	Veja	Fox,	“The	Meaning	of	Hebel	for	Qohelet”,	JBL	105/3	(1986)	413.	Cf.
Whybray,“Qoheleth	as	a	Theologian”,	263-64:	“Qohelet	usa	o	termo	com
respeito	a	uma	variedade	desconcertante	de	assuntos:	riqueza	e	amor	pela
riqueza	(5.9;	6.2);	o	fato	de	que	a	sabedoria	não	dá	vantagem	ao	insensato
quando	a	morte	ocorre	(2.15;	cf.	3.19);	o	caráter	enganoso	do	prazer	(2.1)	e	o
riso	vazio	dos	tolos	(7.6);	e,	de	forma	mais	geral,	a	própria	vida	(7.15;	9.9)	e,	em
particular,	a	juventude	(11.10);	o	labor	(2.11;	4.4,8);	a	ignorância	humana	sobre
o	futuro	(2.19)	e	a	distribuição	desigual	de	recompensas	e	punições	(2.26;
8.10,14);	a	necessidade	de	uma	pessoa	abandonar	suas	posses	após	a	morte
(2.19-21);	as	incertezas	do	poder	político	(4.13-16);	e	a	finalidade	de	“tudo	o	que
é	feito	debaixo	do	sol”	(1.14;	2.17).
³	Crenshaw,	Ecclesiastes,	57-58.
⁴	Whybray,	Ecclesiastes,	36.
⁵	Fox,	Ecclesiastes,	3.
	Ogden,	Qoheleth,	22.	James	Kugel,	Great	Poems	of	the	Bible,	310,	sugere	que
o	Pregador	“frequentemente	usa	esta	palavra	para	descrever	algo	na	vida	que	lhe
parece	fútil	e	inútil	(Ec	2.1,11,17,20,23,	e	várias	vezes	daí	em	diante);	outras
vezes,	parece	significar	algo	que	é	apenas	instável	(Ec	5.9;	7.15);	ainda	outras
vezes,	é	usado	para	significar	algo	injusto	(Ec	2.26;	4.7;	6.2;	8.10,14).	E	[Em	Ec
12.8]...	é	como	um	sopro,	evanescente:	‘Portanto,	passageiro’”.
⁷	Veja	Lindsay	Wilson,	“Artful	Ambiguity	in	Ecclesiastes	1:1-11:	A	Wisdom
Technique?”,	in	Qohelet	in	the	Context	of	Wisdom,	Antoon	Schoors	(org.)
(Leuven:	Peeters,	Leuven	University,	1998),	357-65.
⁸	Salyer,	Vain	Rhetoric,	264.
	Murphy,	Ecclesiastes,	133.
¹ 	Para	mais	discussão	sobre	as	diferentes	formas	de	paralelismo,	referências	e
exemplos,	veja	meu	Modern	Preacher,	60-62,	246-47,	293-94.
¹¹	Nova	nomenclatura	introduzida	por	Gerald	H.	Wilson,	Psalms:	Volume	1
(Grand	Rapids:	Zondervan,	2002),	40-48.
¹²	“Embora	a	maioria	dos	comentaristas	use	“quiasma”	para	designar	o
paralelismo	invertido,	como	a	principal	característica	da	poesia	hebraica	é	o
paralelismo,	é	melhor	distinguir	claramente	entre	paralelismo	invertido	e
quiasma.	Em	distinção	ao	paralelismo	invertido,	um	quiasma	–	do	grego	,
“marcar	com	um	(X)”	–	forma	um	X	em	torno	de	um	componente	central.	Cf.
John	Breck,	“Biblical	Chiasmus:	Exploring	Structure	for	Meaning”,	BTB	17/2
(1987)	71:	“A	singularidade	da	estrutura	quiástica	está	em	seu	foco	em	um	tema
central,	sobre	o	qual	as	outras	proposições	da	unidade	literária	são
desenvolvidas”.	Para	mais	discussão	sobre	estruturas	quiásticas,	exemplos	e
referências,	veja	meu	Modern	Preacher,	62-63,	209-11,	249-50,	280-82,	292-93,
e	320-21.
¹³	Ogden,	Qoheleth,	32
¹⁴	Fox,	A	Time	to	Tear	Down,	164.	Murphy,	Wisdom	Literature,	133,	propõe
uma	inclusio	de	(“vai”)	nos	versos	4	e	6	e	outro	em	/	(“encher”),	nos	versos	7	e
8.	Consequentemente,	ele	une	os	versos	4-6	e	7-8,	o	que	resulta	no	seguinte
esboço:
A.	Tese:	não	há	proveito	no	trabalho	humano³
B.	Tese	ilustrada ⁴-⁸
1.	Uma	sucessão	sem	fim	de	eventos ⁴-
a.	Geração ⁴
b.	Sol ⁵
c.	Vento
2.	Carência	da	criação	a	ser	preenchida ⁷-⁸
a.	Mar ⁷
b.	Homem ⁸
É	claro	que	nem	toda	repetição	funciona	como	uma	inclusio.	Um	autor	pode
simplesmente	repetir	uma	palavra	porque	não	há	outra	disponível	para
estabelecer	uma	conexão	entre	uma	afirmação	e	outra	(como	“encher”,	nos	v.7-
8).	De	qualquer	forma,	o	conteúdo	destes	versos	supera	quaisquer	inclusios
questionáveis.
¹⁵	Brown,	Ecclesiastes,	24.
¹ 	“Debaixo	do	sol”	é	“o	mundo	visível,	interpretado	em	termos	de	si	mesmo”.
Eaton,	Ecclesiastes,	63.	Cf.	Reitman,	“The	Structure	and	Unity	of	Ecclesiastes”,
BSac	154	(1997)	301,	n.	17.	“A	expressão	‘debaixo	do	sol’	é	uma	marca
registrada	do	Qohelet	e	está	estritamente	ligada	ao	conceito	de	futilidade.	Ela
ocorre	vinte	e	nove	vezes	e	projeta	a	perspectiva	do	homem	sozinho	usando	sua
própria	sabedoria	e	seus	próprios	sentidos	na	esfera	‘deste	mundo’	sozinho”.	Cf.
Seow,	Ecclesiastes,	105.	“O	Qohelet	claramente	conhece	a	expressão	mais
comum	‘debaixo	do	céu’	e	a	usa,	mas	sua	preferência	é	por	‘debaixo	do	sol’...
Enquanto	‘debaixo	do	céu’	se	refere	à	universalidade	das	experiências	humanas
em	todos	os	lugares	do	mundo	(i.e.,	sua	designação	espacial),	‘debaixo	do	sol’	se
refere	ao	universo	temporal	dos	vivos	(cf.	8.9,	em	que	‘debaixo	do	sol’	é
definido	temporalmente:	“tempo	em	que...”)...	A	expressão	‘debaixo	do	sol’,	que
se	refere	a	este	mundo,	explica	sua	recorrência	em	Eclesiastes”.
¹⁷	Cf.	Fox,	A	Time	to	Tear	Down,	164,	e	Seow,	Ecclesiastes,	111.
¹⁸	Seow,	“The	Socioeconomic	Context	of	‘The	Preacher’s’	Hermeneutic”,	PSBul
17/2	(1996)	195.
¹ 	Provan,	Ecclesiastes,	63.
² 	Neste	capítulo	e	nos	seguintes	usamos	as	seções	“maneiras	de	pregar	Cristo”
para	mostrar	todos	os	movimentos	legítimos	possíveis	para	ir	do	texto	até	Cristo,
no	Novo	Testamento.	Ao	escrever	o	sermão	podemos,	subsequentemente,
escolher	a	melhor	forma	ou	melhores	formas	de	focar	o	sermão	em	Cristo.	Em
sua	pesquisa	para	elaborar	sermões,	os	pregadores	não	precisam	entrar	em	tantos
detalhes	quanto	nestas	apresentações,	que	têm	o	objetivo	de	demonstrar	mais
completamente	como	se	pode	chegar	a	Cristo	por	meio	de	cada	caminho
legítimo.
²¹	Veja	a	referência	no	apêndice	de	Nestle-Aland,	Novum	Testamentum	Graece.
²²	Para	mais	discussão	sobre	este	tema,	veja	p.	114–115,	abaixo,	“Tema	e
objetivo	do	sermão”.
²³	Veja	Apêndices	1	e	2,	abaixo	(p.	330–44).
²⁴	Neste	capítulo	e	nos	seguintes,	as	seções	“Exposição	do	sermão”	procuram
expor	o	significado	de	quase	cada	verso	do	texto	de	pregação.	Como	a	inclusão
de	toda	essa	informação	em	um	sermão	real	o	deixaria	sobrecarregado	de
informações,	é	preciso	selecionar	o	material	pertinente	ao	sermão	e	acrescentar
ilustrações	e	aplicações	que	foquem	na	congregação	específica	em	que	o	sermão
for	pregado.
²⁵	Não	precisamos	discutir	o	verso	1,	sobre	o	autor,	neste	sermão.	O	assunto
surgirá	na	próxima	seção,	que	começaem	Eclesiastes	1.12.
² 	Salmos	39.5.	Cf.	Salmos	144.4.
²⁷	Provan,	Ecclesiastes,	52,	corretamente	questiona	a	tradução	da	TNIV	como
“sem	sentido”:	“Faz	pouco	sentido	o	Qohelet	aconselhar	uma	pessoa	jovem	a	ser
feliz	enquanto	vive	reverentemente	diante	de	Deus	somente	para	lembrar-lhe	de
que	‘a	juventude	e	a	primavera	da	vida	são	sem	sentido’	(11.10)!	Faz	muito
sentido,	contudo,	ele	oferecer	este	conselho	no	contexto	da	brevidade	da
juventude...	A	conclusão	que	segue	a	descrição	gráfica	da	velhice	e	da	morte	em
12.1-7,	bem	como	todas	as	palavras	do	Qohelet	(12.8),	refere-se,	muito
naturalmente,	à	natureza	efêmera	de	todas	as	coisas,	não	à	sua	falta	de	sentido.
Se	12.8	tem	este	sentido	para	,	provavelmente	1.2	também	tem.
²⁸	Os	comentaristas,	compreensivelmente,	querem	clareza	e,	por	isso,	tentam
localizar	com	precisão	um	único	significado	para	uma	metáfora	que	parece	ter
várias	e	profundas	dimensões.	Mas	o	autor	pode	ter	planejado	que	ela	tivesse
vários	significados.	Assim	como	ouvimos	dois	significados	juntos	em	um
paralelismo	sinônimo,	como	um	som	estereofônico,	assim	também	podemos
ouvir	mais	de	um	significado	em	uma	metáfora,	como	som	ambiente.
Certamente,	a	ambiguidade	pode	levar	a	várias	dimensões	conectadas.	Neste
caso,	como	todas	as	coisas	são	transitórias,	elas	são	insubstanciais;	de	fato,
podem	ser	fúteis.	O	contexto	terá	que	decidir	qual	é	o	tom	predominante.
² 	Kidner,	A	Time	to	Mourn,	22.	Cf.	Seow,	Ecclesiastes,	101,	“Qoh.	Rabb.
Interpreta	a	palavra	como	“como	o	bafo	que	sai	do	forno”,	e	o	superlativo	é
interpretado	como	significando	que	a	humanidade	é	ainda	menos	substancial	que
esse	bafo”.
³ 	Eclesiastes	1.3;	2.11,13;	3.9;	5.9,16	(hebraico	5.8,15);	7.12;	10.10,11.
³¹	Veja	Provan,	Ecclesiastes,	54.	Perdue,	Wisdom	Literature,	192,	sugere:	“O
Qohelet	deseja	encontrar	algo	que	dure	mais	que	o	tempo	de	vida	de	um	ser
humano,	algo	que	possa	sobreviver	ao	túmulo,	pelo	menos	na	memória
humana”.	Veja	também	p.	81,	abaixo.
³²	Eclesiastes	1.3,9,14;	2.11,17,18,19,20,22;	3.16;	4.1,3,7,15;	5.13,18	(hebraico
5.12,17);	6.1,12;	8.9,15	(2x),17;	9.3,6,9(2x),11,13;	10.5.
³³	Kidner,	A	Time	to	Mourn,	23.
³⁴	Veja,	e.g.,	Murphy,	Ecclesiastes,	7:	“Este	verso	afirma	o	caráter	efêmero	da
humanidade,	contra	o	pano	de	fundo	da	terra,	sempre	presente”.	Esta
interpretação	apoia	o	verso	2,	“tudo	é	vaidade”.	Mas	o	pregador,	aqui,	procura
apoiar	o	verso	3,	que	diz	que	não	há	proveito.
³⁵	Fox,	Ecclesiastes,	5.
³ 	Fox	argumenta	que	a	terra	(	)	“aqui	não	significa	o	mundo	físico,	mas	a
humanidade	como	um	todo	–	‘le	monde’,	não	‘la	terre’”.	“Qohelet	1.4,”	JSOT	40
(1988)	109.	Cf.	seu	Ecclesiastes,	5.	Mas	não	há	necessidade	de	mudar	a	tradução
de	“terra”	para	o	termo	muito	mais	raro	“humanidade”.	Quando	a	palavra	é
interpretada	como	significando	o	mundo	físico	–	o	sol,	o	mar	e	o	vento	são
físicos	–,	o	argumento	se	mantém:	gerações	vão	e	vêm	sobre	a	terra,	mas	ela
permanece	a	mesma.
³⁷	“A	palavra	voltar	com	pressa	(	)	é,	literalmente,	arquejar.	Os	comentaristas	têm
observado	corretamente	que	o	Antigo	Testamento	a	usa	tanto	em	sentido
negativo	quanto	em	sentido	positivo.	Positivamente,	a	palavra	significa	palpitar
de	ansiedade	ou	desejo	(pelos	mandamentos	de	Deus,	em	Sl	119.131);
negativamente,	arquejar	com	exaustão	(como	uma	mulher	em	trabalho	de	parto,
Is	42.14)”.	Longman,	Book	of	Ecclesiastes,	69.	No	contexto	de	Eclesiastes,
Longman	opta	pelo	sentido	negativo,	encontrando	apoio	na	Septuaginta,	helkei,
“arrastar-se”,	e	no	Targum	,	“arrastar-se”.
³⁸	Brown,	Ecclesiastes,	24.
³ 	Loader,	Ecclesiastes,	20.
⁴ 	Seow,	Ecclesiastes,	108.
⁴¹	Crenshaw,	Ecclesiastes,	64:	“Esse	sentimento	de	entrar	em	uma	rotina	alcança
seu	ápice	em	três	particípios	sucessivos,	,	,	,	imediatamente	antes	de	o	sujeito	ser
introduzido”.
⁴²	Seow,	Ecclesiastes,	115:	“O	vento	se	move	de	modo	imprevisível,	mas	até
mesmo	o	vento	imprevisível	retorna,	por	causa	de	suas	idas	e	voltas.	Há	muito
movimento,	mas,	por	fim,	nada	novo	acontece.	Nenhum	proveito	é	obtido,
apesar	de	toda	a	agitação”.
⁴³	A	NIV	traduz	o	verso	7b	como	completando	o	ciclo:	“Para	o	lugar	de	onde
vêm	os	rios,	para	lá	retornam”.	Garrett,	Proverbs,	Ecclesiastes,	Song	of	Songs
285,	comenta;	“a	última	frase	não	se	refere	ao	ciclo	de	evaporação	e	chuva,
como	fica	implícito	pela	tradução	da	NIV.	Gordis	[Koheleth,	207]	corretamente
chama	essa	interpretação	de	‘linguisticamente	forçada’.	A	tradução	deve	ser:	‘Ao
lugar	para	onde	correm	os	rios,	para	lá	vão	continuamente’.	A	implicação	aqui
não	é	de	movimento	cíclico,	mas	de	atividade	fútil”.
⁴⁴	Whybray,	Ecclesiastes,	42-43,	argumenta	em	favor	do	movimento	cíclico.
⁴⁵	Brown,	Ecclesiastes,	23.
⁴ 	Jerônimo,	citado	por	Crenshaw,	Ecclesiastes,	63,	observou:	“O	que	é	mais	vão
do	que	esta	vaidade:	que	a	terra,	que	foi	feita	para	os	seres	humanos,	permanece
–	mas	os	próprios	seres	humanos,	os	senhores	da	terra,	repentinamente	voltam	ao
pó?”
⁴⁷	Ao	contrário	de	muitos	comentaristas,	que	traduzem	como	“todas	as	palavras”,
no	contexto,	“todas	as	coisas”	é	uma	tradução	melhor,	como	a	tradução	de	como
“coisa”,	em	1.10.	Veja,	e.g.,Whybray,	Ecclesiastes,	44,	e	Crenshaw,	Ecclesiastes,
66.
⁴⁸	Ogden,	Qoheleth,	32.
⁴ 	Garrett,	Proverbs,	Ecclesiastes,	Song	of	Songs,	287.
⁵ 	Ogden,	Qoheleth,	32.
⁵¹	Whybray,	Ecclesiastes,	45.
⁵²	“Como	Agostinho	[Cidade	de	Deus,	12.13]	observou	quando	argumentou
contra	a	teoria	do	tempo	cíclico,	o	Qohelet	está	falando	de	recorrência	de	tipos
de	seres	e	eventos...	Eventos	arquetípicos	(incluindo	ações,	vistas	como	eventos)
–	nascimento,	morte,	guerra	e	assim	por	diante	–	se	realizam	em	manifestações
específicas:	o	nascimento	de	indivíduos	específicos,	atos	específicos	de	abraçar,
o	início	de	guerras	específicas,	etc.”.	Fox,	Qohelet	and	His	Contradictions,	172.
⁵³	Brown,	Ecclesiastes,	27.	Longman,	Book	of	Ecclesiastes,	75,	acrescenta:
“Mesmo	que	se	admita	que	novas	descobertas	são	feitas,	as	pessoas	continuam
as	mesmas”.
⁵⁴	Brown,	ibid.,	28.
⁵⁵	Seow,	Ecclesiastes,	117.
⁵ 	Jesus	continua,	em	Mateus	6.24:	“Ninguém	pode	servir	a	dois	senhores;
porque	ou	há	de	aborrecer-se	de	um	e	amar	ao	outro,	ou	se	devotará	a	um	e
desprezará	ao	outro.	Não	podeis	servir	a	Deus	e	às	riquezas”.
CAPÍTULO	3
A	busca	de	sentido	pelo	Pregador
Eclesiastes	1.12–2.26
Eu,	o	Pregador,	venho	sendo	rei	de	Israel,	em
Jerusalém.	Apliquei	o	coração	a	esquadrinhar	e	a
informar-me	com	sabedoria	de	tudo	quanto	sucede
debaixo	do	céu;	este	enfadonho	trabalho	impôs
Deus	aos	filhos	dos	homens,	para	nele	os	afligir.
(Ec	1.12-13)
Esta	é	uma	passagem	ideal	para	explorar	o	interesse	contemporâneo	pelo	sentido
da	vida.	Como	o	texto	de	Eclesiastes	1.12–2.26	é	o	texto	de	pregação	mais	longo
deste	livro,	um	grande	desafio	será	fazer	justiça	aos	seus	muitos	elementos	em
um	só	sermão	e	ainda	mantê-lo	unificado	e	em	movimento.	Outro	desafio	é
formular	um	único	tema	que	abranja	os	resultados	negativos	da	busca	por
sentido	(“vaidade	e	correr	atrás	do	vento”)	e	o	conselho	final	positivo	(“nada	há
melhor	para	o	homem	do	que	comer,	beber	e	fazer	que	a	sua	alma	goze	o	bem	do
seu	trabalho”).
Texto	e	contexto
É	claro	que	uma	nova	unidade	literária	começa	em	1.12-13:	“Eu,	o	Pregador,
venho	sendo	rei	de	Israel,	em	Jerusalém.	Apliquei	o	coração	a	esquadrinhar	e	a
informar-me	com	sabedoria	de	tudo	quanto	sucede	debaixo	do	céu	(...)”.	A
conclusão	desta	unidade,	contudo,	não	é	tão	evidente.	Alguns	comentaristas
terminam	a	unidade	em	1.18,	outros,	em	2.11,	outros,	em	2.23¹
e	ainda	outros,	em	2.26	e	alguns	até	em	3.15.²	Embora	1.12-18	certamente	seja
uma	subunidade,	o	Pregador	continua	sua	busca	por	sentido	em	2.1:	“Disse
comigo”.³	Novamente,	2.1-11	certamente	é	uma	subunidade,	mas	o	Pregador
continua	sua	busca	em	2.12:	“Então,	passei	a	considerar	a	sabedoria...”
Novamente,	2.12-23	é	uma	subunidade,	mas	a	unidade	toda	só	se	completa	com
a	conclusão	final	da	busca	do	Pregador,	em	2.24-26:	“Nada	há	melhor	para	o
homem	do	que	comer,	beber	e	fazer	que	a	sua	alma	goze	o	bem	do	seu	trabalho.
No	entanto,	vi	também	que	isto	vem	da	mão	de	Deus”.⁴	O	texto	de	3.1	começauma	nova	unidade,	“Tudo	tem	o	seu	tempo	determinado...”.	Nossa	unidade
textual,	portanto,	é	Eclesiastes	1.12–2.26.⁵
Quanto	ao	contexto,	o	Pregador	explora	nesta	passagem	a	questão	fundamental
levantada	antes:	“Que	proveito	tem	o	homem	de	todo	o	seu	trabalho,	com	que	se
afadiga	debaixo	do	sol?”	(1.3).	Ele	chega	à	mesma	conclusão:	“Considerei	todas
as	obras	que	fizeram	as	minhas	mãos,	como	também	o	trabalho	que	eu,	com
fadigas,	havia	feito;	e	eis	que	tudo	era	vaidade	e	correr	atrás	do	vento,	e	nenhum
proveito	havia	debaixo	do	sol”	(2.11).	Muitas	palavras	e	frases	da	passagem
anterior	são	repetidas	aqui	–	“trabalho”,	“vaidade”,	“debaixo	do	sol”,
“lembrança”	–	e	serão	repetidas	novamente	em	passagens	posteriores.	O
conselho	final	depois	da	longa	busca	do	pregador,	“Nada	há	melhor	para	o
homem	do	que	comer,	beber	e	fazer	que	sua	alma	goze	o	bem	do	seu	trabalho”
(2.24)	será	repetido	mais	seis	vezes	em	Eclesiastes	(3.12-13,22;	5.18-20;	8.15;
9.7-10;	11.8-10)	“com	ênfase	e	solenidade	cada	vez	maiores”.
Elementos	literários
Nesta	seção,	o	Pregador	faz	uso	de	várias	formas	literárias	(subgêneros).	Toda	a
unidade	tem	a	forma	de	uma	narrativa	autobiográfica.	Eclesiastes	1.12-15,
começando	com	“Apliquei	o	coração”,	é	uma	reflexão	sobre	a	vaidade	de	usar	a
sabedoria,	assim	como	1.16-18,	começando	com	“disse	comigo”.	Cada	uma
dessas	duas	reflexões	introdutórias	termina	com	um	provérbio	(1.15,18).
Eclesiastes	2.1-11,	que	começa	com	“disse	comigo”,	é	uma	reflexão	sobre	a
busca	do	prazer.	Eclesiastes	2.12-17,	começando	com	“Então,	passei	a
considerar”,	é	uma	reflexão	sobre	os	benefícios	da	sabedoria	sobre	a	loucura.
Essa	reflexão	também	inclui	um	provérbio	de	confirmação	(2.14).	Finalmente,
2.18-26	é	uma	reflexão	que	foca	especificamente	os	resultados	do	trabalho
humano	(posses),	concluindo	com	a	admoestação	de	que	os	seres	humanos
devem	“comer,	beber	e	fazer	que	a	sua	alma	goze	o	bem	do	seu	trabalho”	(2.24-
26).⁷
O	Pregador	novamente	usa	repetições	para	enfatizar	pontos	importantes.	Nesta
passagem,	ele	repete	duas	vezes	o	termo	comum	“debaixo	do	céu”	(1.13;	2.3),
mas	sete	vezes	seu	termo	específico	para	vida	“debaixo	do	sol”	(1.14;
2.11,17,18,19,20,22)	–	isto	é,	vida	considerada	por	uma	perspectiva	secular,
horizontal,	vida	que	não	leva	Deus	em	conta.⁸	Ele	repete	oito	vezes	“tudo	é
vaidade”	(1.14;	2.1,11,17,19,21,23,26),	combinando	esta	frase	quatro	vezes	com
“correr	atrás	do	vento”	(1.14;	2.11,17,26)	e	uma	vez	apenas	“correr	atrás	do
vento”	(1.17).	Ele	repete	quinze	vezes	nesta	passagem	a	palavra-chave
“trabalho”	de	1.3:	“Que	proveito	tem	o	homem	de	todo	o	seu	trabalho,	com	que
se	afadiga	debaixo	do	sol?”	Ele	normalmente	se	refere	à	vaidade	do	“trabalho”,
mas	duas	vezes	combina	prazer	com	trabalho	(2.10,	“[não]	privei	o	coração	de
alegria	alguma,	pois	eu	me	alegrava	com	todas	as	minhas	fadigas”,	e	2.24,	“goze
o	bem	do	seu	trabalho”).	E	três	vezes	ele	se	refere	a	Deus	(1.13;	2.24,26),
formando	uma	possível	inclusio	para	esta	unidade	literária.
O	Pregador	busca	paralelismo	sinônimo	dos	dois	primeiros	provérbios	(1.15,18)
e	paralelismo	antitético	no	terceiro	(2.14).	Ele	também	usa	muitas	metáforas
nesta	passagem,	como	“vapor”,	“correr	atrás	do	vento”,	“debaixo	do	sol”,	“meu
coração”,	“mão	de	Deus”,	“trevas”	e,	possivelmente,	“comer	e	beber”.
Estrutura	textual
As	reflexões	enfatizadas	sob	“elementos	literários”,	acima,	proporcionam	as
principais	divisões	da	passagem:	1.12-18;	2.1-11;	2.12-17;	2.18-23;	2.24-26.
Essas	divisões	são	confirmadas	pelo	encerramento	de	cada	seção	com	um
provérbio	ou	com	a	declaração	de	“vaidade”.	Podemos	esboçar	o	fluxo
complexo	do	argumento	do	Pregador	da	seguinte	forma:
I.	Introdução:	o	Pregador	busca	sabedoria	(1.12-13a)
A.	Tudo	o	que	é	feito	debaixo	do	céu	(1.13b)
1.	Conclusão:	Deus	deu	aos	seres	humanos	um	trabalho	enfadonho	(1.13c)
a.	Razão:	todos	os	atos	praticados	debaixo	do	céu	são	vaidade	(1.14)
i.	Confirmada	por	um	provérbio:	Aquilo	que	é	torto	não	se	pode	endireitar;	e	o
que	falta	não	se	pode	calcular	(1.15)
B.	Ele	procura	distinguir	a	sabedoria	da	loucura	(1.16-17a)
1.	Conclusão:	distinguir	a	sabedoria	da	loucura	é	correr	atrás	do	vento	(1.17b)
a.	Confirmada	por	um	provérbio:	Na	muita	sabedoria	há	muito	enfado;	e	quem
aumenta	a	ciência	aumenta	a	tristeza	(1.18)
II.	O	Pregador	verifica	o	que	é	ganho	pelo	prazer	(2.1a)
A.	Alegre-se	(2.1b)
B.	Conclusão:	isso	também	é	vaidade	(2.1c)
C.	Razões:
1.	Rir	é	loucura	(2.2a)
2.	O	prazer	é	inútil	(2.2b)
D.	Objetos	verificados:
1.	Vinho	(2.3)
2.	Várias	posses	(2.4-8a)
3.	Arte	(2.8b)
4.	Sexo	(2.8c)
E.	Resultados:
1.	Tornei-me	grande	(2.9)
2.	Meu	coração	encontrou	prazer	no	meu	trabalho	(2.10)
F.	Conclusão:
1.	Meu	trabalho	era	vaidade	(2.11a)
2.	Nenhum	proveito	há	debaixo	do	sol	(2.11b)
III.	O	Pregador	verifica	os	benefícios	da	sabedoria	sobre	a	loucura	(2.12)
A.	Tese:	a	sabedoria	excede	a	loucura	como	a	luz	excede	as	trevas	(2.13)¹
1.	Confirmada	por	um	provérbio:	“os	olhos	do	sábio	estão	na	sua	cabeça,	mas	o
estulto	anda	em	trevas”	(2.14)
B.	Problemas:
1.	O	mesmo	destino	alcança	os	sábios	e	os	tolos	(2.14c-15)
2.	Não	há	lembrança	permanente	dos	sábios	nem	dos	tolos	(2.16)
C.	Resultado:	odiei	a	vida	(2.17a)
D.	Conclusão:	Tudo	é	vaidade	(2.17b)
IV.	O	Pregador	verifica	o	proveito	do	trabalho	pelas	posses¹¹
A.	Afirmação:	odiei	meu	trabalho	debaixo	do	sol	(2.18a)
B.	Razões:
1.	Devo	deixar	minhas	posses	para	os	que	vierem	depois	de	mim	(2.18b)
2.	Não	sei	se	serão	sábios	ou	tolos	(2.19a)
C.	Conclusão:	isso	também	é	vaidade	(2.19b)
A’.	Afirmação:	entreguei	o	coração	ao	desespero	sobre	meu	trabalho	(2.20)
B’.	Razão:	Devo	deixar	minhas	posses	para	que	outros	desfrutem	(2.21)
C’.	Conclusão:	o	ser	humano	não	tem	nenhum	proveito	do	seu	trabalho	(2.22)
1.	Seus	dias	são	cheios	de	dor	(2.23a)
2.	À	noite,	sua	mente	não	descansa	(2.23b)
3.	Isso	também	é	vaidade	(2.23c)
V.	O	conselho	final	do	Pregador
A.	Não	há	nada	melhor	que	comer,	beber	e	desfrutar	do	trabalho	(2.24a)
B.	Razões:
1.	Isso	também	vem	da	mão	de	Deus	(2.24b)
2.	Sem	Deus,	não	podemos	nos	alegrar	(2.25)
3.	Deus	dá	sabedoria	e	prazer	àqueles	que	lhe	agradam	(2.26a)
4.	Ao	pecador,	Deus	dá	o	trabalho	de	ajuntar,	apenas	para	dar	o	fruto	àqueles	que
lhe	agradam	(2.26b)
a.	Conclusão:	Isso	também	é	vaidade	e	correr	atrás	do	vento	(2.26c)
Interpretação	teocêntrica
As	referências	a	Deus	nesta	passagem	são	poucas	e	esparsas.	O	Pregador
menciona	Deus	na	introdução,	“(...)	este	enfadonho	trabalho	impôs	Deus	aos
filhos	dos	homens,	para	nele	os	afligir”	(1.13b).	Deus	então	desaparece	quando	o
Pregador	explora	“todas	as	obras	que	se	fazem	debaixo	do	sol”	(1.14),	mas,	na
conclusão,	reaparece	de	forma	poderosa:	Deus	capacita	os	seres	humanos	a
“comer,	beber	e	fazer	que	sua	alma	goze	o	bem	do	seu	trabalho”	(2.24).	De	fato,
“Deus	dá	sabedoria,	conhecimento	e	prazer”	àquele	que	lhe	agrada,	até	mesmo
tirando	do	pecador	e	dando	àquele	que	lhe	agrada	(2.26).
Tema	e	objetivo	textual
Ao	formular	um	único	tema	para	esta	passagem,	precisamos	avaliar	seus	dois
temas	principais.	A	maior	parte	do	texto	trata	do	tema	de	que	todos	os
empreendimentos	humanos	são	vaidade,	enquanto	somente	três	versos	são
dedicados	ao	tema	“comer,	beber	e	gozar	o	bem	do	seu	trabalho”.	Mas	esses	três
versos	formam	a	importante	conclusão	da	busca	do	Pregador	pelo	sentido	da
vida.	Ele	procurou	proveito	na	vida	em	muitas	direções	diferentes	e	acabou	não
o	encontrando.	Mas	finalmente	ele	chega	a	uma	resposta:	“Nada	há	melhor	para
o	homem	do	que	comer,	beber	e	fazer	que	sua	alma	goze	o	bem	do	seu	trabalho”
(2.24).	Não	é	coincidência	que,	nesta	conclusão,	o	Pregador	cite	Deus	como	o
doador	da	alegria.	Contra	o	pano	de	fundo	da	vaidade	dos	empreendimentos
humanos	“debaixo	do	sol”,	a	mensagem	do	Pregador	para	Israel	é	comer,	beber	e
desfrutar	de	seu	trabalho.	Podemos	fazer	justiça	aos	dois	temas	subordinando	o
tema	da	“vaidade”	ao	tema	da	“alegria”.	O	tema	textual,	então,	pode	ser
formulado	da	seguinte	forma:	“Como	todos	os	empreendimentos	humanos
‘debaixo	do	sol’	são	vaidade,encontre	alegria	nas	dádivas	diárias	de	Deus,	a
saber,	comer,	beber	e	trabalhar”.	Em	benefício	da	clareza,	temos	que	encontrar
uma	palavra	mais	lúcida	para	substituir	a	expressão	“debaixo	do	sol”.	Esta
expressão,	como	vimos,	é	a	visão	que	o	Pregador	tem	do	mundo	a	partir	de	uma
perspectiva	horizontal,	secular.	Podemos,	portanto,	substituir	“empreendimentos
‘debaixo	do	sol’”	por	“empreendimentos	sem	Deus”	ou	“empreendimentos
terrenos”.	Também	podemos	esclarecer	a	palavra	“vaidade”,	que,	neste	contexto,
está	associada	a	“proveito”	(veja	2.11,22-23).	Qual	das	várias	conotações	de
“vapor”	expressaria	o	sentido	de	“sem	proveito”?	As	melhores	opções	são	“fútil’
ou	“vazio”.	Essas	considerações	conduzem	à	formulação	do	seguinte	tema:
Como	todos	os	empreendimentos	terrenos	são	fúteis,	encontre	alegria	nas
dádivas	diárias	de	Deus,	a	saber,	comer,	beber	e	trabalhar.
Por	que	o	Pregador	encorajaria	Israel	a	se	alegrar	por	sua	comida,	bebida	e	seu
trabalho?	Contra	o	pano	de	fundo	da	busca	dos	israelitas	pelo	sentido	da	vida	no
trabalho	pesado,	em	fazer	fortuna	e	desfrutar	da	vida	depois,	o	Pregador	deseja
encorajá-los	a	não	adiar	a	alegria	para	um	tempo	futuro,	mas	a	saborear	a	alegria
dada	por	Deus	no	presente	momento,	comendo,	bebendo	e	trabalhando.	O
objetivo	do	Pregador,	então,	é	encorajar	Israel	a	encontrar	alegria	nas	dádivas
diárias	de	Deus,	a	saber,	comer,	beber	e	trabalhar.
Maneiras	para	pregar	Cristo
Como	podemos	nos	mover	do	tema	“Como	todos	os	empreendimentos	terrenos
são	fúteis,	encontre	alegria	nas	dádivas	diárias	de	Deus,	a	saber,	comer,	beber	e
trabalhar”	para	Jesus	Cristo,	no	Novo	Testamento?	Não	há	promessa	de	Cristo,	o
que	elimina	o	caminho	de	promessa-cumprimento.	Isso	deixa	seis	caminhos
possíveis	para	nos	levar	a	Cristo,	no	Novo	Testamento.	Como	a	progressão
histórico-redentiva	e	os	temas	longitudinais	estão	entrelaçados,¹²	esses	dois
caminhos	serão	combinados	nesta	análise.
Progressão	histórico-redentiva/Temas	longitudinais
Pode-se	traçar	pela	história	da	redenção	e	a	Escritura	o	tema	de	encontrar	alegria
nas	dádivas	diárias	de	comida,	bebida	e	trabalho,	que	recebemos	da	parte	de
Deus.	No	paraíso,	Deus	deu	a	Adão	e	Eva	um	trabalho	significativo	(“cultivar	e
guardar”	o	jardim	[Gn	2.15])	e	boa	comida	(“De	toda	árvore	do	jardim	comerás
livremente”)	[Gn	2.16]).	A	Queda	no	pecado	destruiu	o	bom	planejamento	de
Deus:	“Maldita	é	a	terra	por	tua	causa;	em	fadigas	obterás	dela	o	sustento
durante	os	dias	de	tua	vida...	No	suor	do	rosto	comerás	o	pão”	(Gn	3.17,19).	O
trabalho	se	tornou	uma	labuta	sem	muita	alegria.	Mas	a	labuta	não	era	totalmente
fútil:	ela	ainda	proporcionava	comida.	Deus	ordenou	a	Israel:	“Seis	dias
trabalharás	e	farás	toda	a	tua	obra”	(Êx	20.9).	E	Deus	ainda	podia	tornar	o
trabalho	agradável.	Israel	orou:
Sacia-nos	de	manhã	com	a	tua	benignidade,
para	que	cantemos	de	júbilo	e	nos	alegremos	todos	os
nossos	dias	(...	)
Seja	sobre	nós	a	graça	do	Senhor,	nosso	Deus;
confirma	sobre	nós	as	obras	das	nossas	mãos,	sim,
confirma	as	obras	das	nossas	mãos	(Sl	90.14,17).
O	salmo	128.1-2	declara:
Bem-aventurado	aquele	que	teme	ao
Senhor
e	anda	nos	seus	caminhos!
Do	trabalho	de	tuas	mãos	comerás,
feliz	serás,	e	tudo	te	irá	bem.
Assim,	o	Pregador	de	Eclesiastes	2.24	também	pode	dizer:	“Nada	há	melhor	para
o	homem	do	que	comer,	beber	e	fazer	que	sua	alma	goze	o	bem	do	seu	trabalho.
No	entanto,	vi	também	que	isto	vem	da	mão	de	Deus”.
No	entanto,	neste	mundo	caído,	o	trabalho	deixa	muito	a	desejar.	Isaías	(65.21-
23)	anseia	pela	nova	terra,	onde
Eles	edificarão	casas	e	nelas	habitarão;
plantarão	vinhas	e	comerão	o	seu	fruto.
Não	edificarão	para	que	outros	habitem;
não	plantarão	para	que	outros	comam	(...)
(...)	meus	eleitos	desfrutarão	de	todas	as	obras
das	suas	próprias	mãos.
Não	trabalharão	debalde	(...)	(cf.	1Co	15.58).
Quando	Jesus	veio	a	este	mundo,	ele	trabalhou	como	carpinteiro	(Mc	6.3),
depois	como	mestre	(Mc	6.2,6)	e	realizador	de	milagres:	alimentou	pessoas	(Mc
6.30-44),	curou	enfermos	(Mc	6.53-56).	Jesus	enviou	seus	discípulos	para	pregar
o	evangelho	e	disse:	“Digno	é	o	trabalhador	do	seu	salário”	(Lc	10.1-7).	Jesus
também	nos	ensinou	a	não	nos	preocuparmos	com	o	que	comer,	o	que	beber	e
com	que	nos	vestir,	mas,	em	vez	disso,	focar	nossa	vida	no	reino	de	Deus,	“(...)	e
todas	estas	coisas	vos	serão	acrescentadas”	(Mt	6.33).	De	fato,	Jesus	promete
ganho,	o	reino	de	Deus,	àqueles	que	fizerem	bem	o	seu	trabalho:	“Vinde,
benditos	de	meu	Pai!	Entrai	na	posse	do	reino	que	vos	está	preparado	desde	a
fundação	do	mundo.	Porque	tive	fome,	e	me	destes	de	comer;	tive	sede,	e	me
destes	de	beber;	era	forasteiro,	e	me	hospedastes...	Em	verdade	vos	afirmo	que,
sempre	que	o	fizestes	a	um	destes	pequeninos	irmãos,	a	mim	o	fizestes”	(Mt
25.34-40).	Por	meio	de	Jesus	Cristo,	nosso	trabalho	foi	redimido	e	pode
novamente	proporcionar	sentido,	alegria	e	até	mesmo	proveito.
Consequentemente,	Paulo	pode	nos	ordenar:	“Alegrai-vos	sempre	no	Senhor;
outra	vez	digo:	alegrai-vos”	(Fp	4.4).
Tipologia
Esta	é	uma	de	apenas	duas¹³	passagens	de	Eclesiastes	em	que	possivelmente
podemos	fazer	uso	de	tipologia.	O	Pregador	procura	dar	mais	peso	à	sua
mensagem	usando	as	experiências	e	palavras	do	grande	rei	Salomão.	O	rei
Salomão,	é	claro,	era	amplamente	conhecido	por	sua	sabedoria	e	suas	grandes
obras.	Até	mesmo	a	rainha	de	Sabá	ouviu	falar	de	sua	fama,	viajou	muitas
milhas	para	conhecê-lo	e	louvou	ao	Senhor:	“Bendito	seja	o	Senhor,	teu	Deus,
que	se	agradou	de	ti	para	te	colocar	no	trono	de	Israel;	é	porque	o	Senhor	ama	a
Israel	para	sempre,	que	te	constituiu	rei	para	executares	juízo	e	justiça”	(1Rs
10.9).
Salomão	(	),	o	rei	de	paz,	governou	sabiamente	na	cidade	de	paz	(Jerusalem).	O
rei	Salomão	é	um	tipo	do	grande	Rei	de	paz;	ele	prefigura	Jesus	Cristo.	Quando
algumas	pessoas	pediram	a	Jesus	um	sinal	para	provar	que	ele	era	especial,	Jesus
respondeu:	“A	rainha	do	Sul	se	levantará,	no	Juízo,	com	esta	geração	e	a
condenará;	porque	veio	dos	confins	da	terra	para	ouvir	a	sabedoria	de	Salomão.
E	eis	aqui	está	quem	é	maior	do	que	Salomão”	(Mt	12.42).	Jesus	é	outro
Salomão,	o	grande	e	sábio	rei;	mas	Jesus	é	muito	maior	que	Salomão.
Analogia
A	mensagem	do	Pregador	é	encontrar	alegria	nas	dádivas	diárias	de	comida,
bebida	e	trabalho,	que	recebemos	de	Deus.	Jesus	nos	ensina	a	orar	ao	nosso	Pai
do	céu:	“o	pão	nosso	de	cada	dia	dá-nos	hoje”	(Mt	6.11).	Nosso	pão	diário	é	uma
dádiva	de	Deus	a	nós.	Jesus	também	nos	diz:
(...)	não	andeis	ansiosos	pela	vossa	vida,	com	o	que	haveis	de	comer	ou	beber;
nem	pelo	vosso	corpo,	quanto	ao	que	haveis	de	vestir	(...)	Observai	as	aves	do
céu:	não	semeiam,	não	colhem,	nem	ajuntam	em	celeiros;	contudo,	vosso	Pai
celeste	as	sustenta.	Porventura,	não	valeis	vós	muito	mais	do	que	as	aves?	(...)	E
por	que	andais	ansiosos	quanto	ao	vestuário?	Considerai	como	crescem	os	lírios
do	campo:	eles	não	trabalham,	nem	fiam.	Eu,	contudo,	vos	afirmo	que	nem
Salomão,	em	toda	a	sua	glória,	se	vestiu	como	qualquer	deles.	Ora,	se	Deus	veste
assim	a	erva	do	campo,	que	hoje	existe	e	amanhã	é	lançada	no	forno,	quanto
mais	a	vós	outros,	homens	de	pequena	fé?	Portanto,	não	vos	inquieteis,	dizendo:
Que	comeremos?	Que	beberemos?	Ou:	Com	que	nos	vestiremos?	Porque	os
gentios	é	que	procuram	todas	estas	coisas;	pois	vosso	Pai	celeste	sabe	que
necessitais	de	todas	elas;	buscai,	pois,	em	primeiro	lugar,	o	seu	reino	e	a	sua
justiça,	e	todas	estas	coisas	vos	serão	acrescentadas	(Mt	6.25-33).
Nosso	Pai	celestial	nos	dará	tudo	o	que	precisamos.	Portanto,	podemos	nos
contentar	e	nos	alegrar	diariamente	por	suas	dádivas.
Referências	do	Novo	Testamento
Além	das	referências	do	Novo	Testamento	mencionadas	acima,	há	algumas
outras	que	possivelmente	podem	ser	usadas	como	pontes	para	conduzir	a	Cristo,
no	Novo	Testamento.	Paulo	encoraja	os	cristãos	primitivos	a	terem	uma	vida	de
gratidão	pelas	dádivas	de	Deus:	“Habite,	ricamente,	em	vós	a	palavra	de	Cristo;
instruí-vos	e	aconselhai-vos	mutuamente	em	toda	a	sabedoria,	louvando	a	Deus,
com	salmos,	e	hinos,	e	cânticos	espirituais,	com	gratidão,	emvosso	coração.	E
tudo	o	que	fizerdes,	seja	em	palavra,	seja	em	ação,	fazei-o	em	nome	do	Senhor
Jesus,	dando	por	ele	graças	a	Deus	Pai”	(Cl	3.16-17).	Em	outro	lugar,	Paulo
escreve:	“(...)	quer	comais,	quer	bebais	ou	façais	outra	coisa	qualquer,	fazei	tudo
para	a	glória	de	Deus”	(1Co	10.31).
Refletindo	a	perspectiva	do	Pregador	sobre	a	vaidade	das	riquezas	e	a
importância	de	viver	contente	com	as	dádivas	diárias	de	Deus,	Paulo	escreve:
De	fato,	grande	fonte	de	lucro	é	a	piedade	com	contentamento.	Porque	nada
temos	trazido	para	o	mundo,	nem	coisa	alguma	podemos	levar	dele.	Tendo
sustento	e	com	que	nos	vestir,	estejamos	contentes.	Ora,	os	que	querem	ficar
ricos	caem	em	tentação,	e	cilada,	e	em	muitas	concupiscências	insensatas	e
perniciosas,	as	quais	afogam	os	homens	na	ruína	e	na	perdição.	Porque	o	amor
do	dinheiro	é	a	raiz	de	todos	os	males;	e	alguns,	nessa	cobiça,	se	desviaram	da	fé
e	a	si	mesmos	se	atormentaram	com	muitas	dores	(1Tm	6.6-10).
Para	usar	esta	passagem,	é	preciso	ligá-la	a	Jesus	fazendo	menção	ao	contexto:
“Se	alguém	ensina	outra	doutrina	e	não	concorda	com	as	sãs	palavras	de	nosso
Senhor	Jesus	Cristo	e	com	o	ensino	segundo	a	piedade...”	(1Tm	6.3),	ou	talvez
com	a	parábola	do	rico	insensato	(Lc	12.13-21)	ou	com	a	parábola	do	rico	e
Lázaro	(Lc	16.19-31).
Contraste
Em	contraste	com	a	mensagem	positiva	do	Pregador,	a	saber,	encontrar	alegria
neste	mundo,	Paulo	também	olha	para	além	deste	mundo:	“(...)	para	mim,	o
viver	é	Cristo,	e	o	morrer	é	lucro.	Entretanto,	se	o	viver	na	carne	traz	fruto	para	o
meu	trabalho,	já	não	sei	o	que	hei	de	escolher.	Ora,	de	um	e	outro	lado,	estou
constrangido,	tendo	o	desejo	de	partir	e	estar	com	Cristo,	o	que	é
incomparavelmente	melhor”	(Fp	1.21-23).
Tema	e	objetivo	do	sermão
Resumimos	a	mensagem	do	Pregador	para	Israel	no	tema:	“Como	todos	os
empreendimentos	terrenos	são	fúteis,	encontre	alegria	nas	dádivas	diárias	de
Deus,	a	saber,	comer,	beber	e	trabalhar”.	Embora	o	Novo	Testamento	vá	muito
além	dessa	ideia	(veja	“Contraste”,	acima),	ele	não	contradiz	o	tema	de	encontrar
alegria	nas	dádivas	diárias	de	Deus.	Portanto,	o	tema	do	sermão	pode	manter	o
mesmo	foco	do	tema	textual:	Como	todos	os	empreendimentos	terrenos	são
fúteis,	encontre	alegria	nas	dádivas	diárias	de	Deus,	a	saber,	comer,	beber	e
trabalhar.
Contra	o	pano	de	fundo	em	que	os	israelitas	buscavam	o	sentido	da	vida	no
trabalho	duro,	em	fazer	fortuna	e	desfrutar	a	vida	mais	tarde,	o	objetivo	do
Pregador	foi	“encorajar	Israel	a	encontrar	alegria	nas	dádivas	diárias	de	Deus,	a
saber,	comer,	beber	e	trabalhar”.	As	pessoas	hoje	enfrentam	as	mesmas	tentações
de	materialismo	e	consumismo	que	Israel	enfrentou.	Portanto,	podemos	manter	o
objetivo	do	Pregador	como	o	objetivo	do	sermão:	encorajar	Israel	a	encontrar
alegria	nas	dádivas	diárias	de	Deus,	a	saber,	comer,	beber	e	trabalhar.	Este
objetivo	expõe	a	necessidade	tratada	neste	sermão:	as	pessoas	buscam	o	sentido
da	vida	e	alegria	em	lugares	e	tempo	(o	futuro)	errados.
Forma	do	sermão
O	Pregador	apresenta	seu	argumento	geral	de	maneira	indutiva,	isto	é,	revela	seu
tema	principal	somente	no	fim.	Os	pregadores	modernos	podem	seguir	esse
método	e	desenvolver	o	sermão	indutivamente.	De	fato,	o	pregador	usa	uma
forma	de	sermão	clássica	(discurso)	às	vezes	chamada	de	“técnica	de
perseguição”:	“Não	isto,	nem	isto,	nem	isto,	nem	isto,	mas	isto”.¹⁴	O	Pregador
declara:	Não	sabedoria,	nem	prazer,	nem	os	benefícios	da	sabedoria	sobre	a
loucura,	nem	posses,	mas	alegria	diária.	Um	sermão	expositivo	pode	seguir	esse
caminho,	expondo	não	apenas	o	sentido,	mas	também	a	estrutura	do	texto.
A	introdução	do	sermão	pode	focar	na	necessidade	tratada.	Por	exemplo,	pode-se
começar	com	o	impacto	do	materialismo	e	do	consumismo	sobre	os	ouvintes.
Incontáveis	pessoas	acreditam	nas	propagandas	que	prometem	felicidade	por
meio	da	compra	e	do	consumo	de	produtos.	Maior	é	melhor:	carros	maiores,
casas	maiores,	e,	é	claro,	salários	maiores.	Mas	o	consumismo	realmente	conduz
a	uma	alegria	maior?
Também	pode-se	começar	de	forma	mais	simples,	perguntando	quantas	pessoas
anseiam	pela	sua	aposentadoria.	Aquele	tempo	em	que,	muitos	pensam,
começarão	a	desfrutar	a	vida.	Enquanto	isso,	trabalham	como	escravos	para
economizar	dinheiro	suficiente	para	esse	grande	dia.	Muitos	odeiam	seu
trabalho,	chamam-no	de	competição	insana,	mas	o	toleram	porque,	no	futuro,	a
aposentadoria	vem.	Faça	a	transição	para	Israel,	que,	há	muito	tempo,	foi	pego
nessa	mesma	competição	insana.¹⁵
Exposição	do	sermão
Nesta	passagem,	o	Pregador	fala	como	se	fosse	Salomão,	o	sábio	e	próspero	rei
de	Israel.	Em	1.1,	ele	se	identifica	como	“o	Pregador,	filho	de	Davi,	rei	de
Jerusalém”.	O	Pregador	escreveu	esse	livro	provavelmente	uns	seiscentos	anos
depois	do	rei	Salomão	(veja	p.	28–29,	acima).	Mas,	nesta	passagem,	finge	ser
Salomão	para	dar	maior	impacto	à	sua	importante	mensagem.¹ 	Por	isso	ele
começa,	no	verso	12:	“Eu,	o	Pregador,	venho	sendo	rei	de	Israel,	em	Jerusalém.
Apliquei	o	coração	a	esquadrinhar	e	a	informar-me	com	sabedoria	de	tudo
quanto	sucede	debaixo	do	céu”.	No	verso	16,	acrescenta:	“Disse	comigo:	eis	que
me	engrandeci	e	sobrepujei	em	sabedoria	a	todos	os	que	antes	de	mim	existiram
em	Jerusalém”.	Embora	ainda	não	diga	que	é	Salomão,	temos	que	ouvir	esta
passagem	como	se	fosse	escrita	por	Salomão,	porque	ninguém	teve	mais
sabedoria	que	esse	sábio	rei.
“Salomão”,	então,	diz	que	aplicou	seu	coração	a	“esquadrinhar	e	a	informar-me
com	sabedoria¹⁷	de	tudo	quanto	sucede	debaixo	do	céu”.	Depois	da	conclusão
anterior,	de	que	o	homem	não	tem	qualquer	proveito	“de	todo	o	trabalho	com
que	se	afadiga	debaixo	do	sol”	(1.3),	o	Pregador	como	“Salomão”	usa	sua
grande	sabedoria	para	fazer	várias	experiências	a	fim	de	verificar	se	tudo	é,
realmente,	vaidade,	fútil,	ou	se	há	alguma	coisa	mais	substancial.
Seu	primeiro	teste	é	usar	sua	sabedoria	para	procurar	entender	“tudo	quanto
sucede	debaixo	do	céu”.	Mas	ele	imediatamente	chega	à	conclusão	de	que	sua
busca	por	sabedoria	“é	enfadonho	trabalho¹⁸	[que]	impôs	Deus¹ 	aos	filhos	dos
homens,	para	os	afligir”.	Por	que	buscar	sabedoria	é	um	trabalho	enfadonho?	Ele
responde	no	verso	14:	“Atentei	para	todas	as	obras	que	se	fazem	debaixo	do	sol,
e	eis	que	tudo	era	vaidade	e	correr	atrás	do	vento”.	Observando	toda	essa
atividade	“debaixo	do	sol”,	todo	esse	esforço	humano,² 	o	Pregador	conclui	que
ela	é	fútil	e	vazia.	O	que	se	percebe	é	que	“o	sábio	rei	(Salomão)	está
empenhado	em...	correr	atrás	do	vento”.²¹	Literalmente,	ele	diz:	“Tudo	é	vapor	e
agrupar²²	o	vento”.	Tentar	capturar	vapor	é	fútil	e	agrupar	o	vento	deixa	a	pessoa
com	as	mãos	vazias.	Em	outras	palavras,	a	busca	da	sabedoria	é	fútil	e	resulta
em	nada.
O	Pregador	confirma	sua	conclusão	com	um	provérbio,	verso	15:
Aquilo	que	é	torto	não	se	pode	endireitar;
e	o	que	falta	não	se	pode	calcular.
Não	se	pode	mudar	o	mundo	como	é	dado.	“O	que	é	torto	não	se	pode
endireitar”.	A	sabedoria	não	pode	endireitar	o	que	é	torto.	Mais	adiante,	em	seu
livro,	o	Pregador	escreve:	“Atenta	para	as	obras	de	Deus,	pois	quem	poderá
endireitar	o	que	ele	torceu?”	(Ec	7.13).²³	Depois	da	Queda,	Deus	amaldiçoou	a
terra,	dando	origem	a	cardos	e	abrolhos	(Gn	3.17-18),	tornados	e	furacões,
influenza	e	câncer.	Paulo	fala	do	gemido	da	criação.	Ele	diz	que	“...	a	criação
está	sujeita	à	vaidade...”	(Rm	8.20).	Essa	vaidade	levanta	muitas	questões	que
não	conseguimos	responder.	Não	conseguimos	entender	essas	coisas	torcidas:
por	que	tornados	destroem	casas	de	um	lado	da	rua	e	deixam	intactas	as	casas	do
outro	lado?	Por	que	o	câncer	atinge	umas	pessoas	e	outras	não?	Não	podemos
endireitar	o	que	é	torto.	Só	podemos	esperar,	com	Paulo,	que,	um	dia,	a	criação
seja	redimida	do	cativeiro	da	corrupção	(Rm	8.20-21).
O	provérbio	continua:	“O	que	falta	não	se	pode	calcular”.	Os	políticos	podem
desejar	dar	uma	interpretação	positiva	para	um	déficit,	mas	a	simples	verdade	é
que	“o	que	falta	não	se	pode	calcular”.	Um	provérbio	similar	seria	“não	se	pode
contar	com	os	ovos	que	a	galinha	não	botou”.	Se	não	os	temos,	não	podem	ser
contados	comoproveito.	Assim,	é	com	sabedoria	que	se	examina	“tudo	o	que
sucede	debaixo	do	céu”.	Não	há	nada	a	acrescentar.	Esta	é	uma	busca	fútil	e
vazia.	Toda	a	busca	é	“vaidade	e	correr	atrás	do	vento”.
Depois	o	Pregador	toma	um	caminho	levemente	diferente.	Da	verificação	de
todas	as	coisas	pela	sabedoria,	ele	passa	a	examinar	a	própria	sabedoria.	Ele
escreve	no	verso	16:	“Disse	comigo:	eis	que	me	engrandeci	e	sobrepujei	em
sabedoria	a	todos	os	que	antes	de	mim	existiram	em	Jerusalém;	com	efeito,	o
meu	coração	tem	tido	larga	experiência	da	sabedoria	e	do	conhecimento.
Apliquei	o	coração	a	conhecer	a	sabedoria	e	a	saber	o	que	é	loucura	e	o	que	é
estultícia...”.	Nesses	dois	versos,	ele	usa	a	palavra	“sabedoria”	três	vezes.	Ele
quer	saber	precisamente	como	a	sabedoria	é	diferente	da	loucura.²⁴	Mas	essa
busca	também	é	fútil:	“Vim	a	saber	que	também	isto	é	correr	atrás	do	vento”.
Procurar	entender	a	própria	sabedoria	também	é	correr	atrás	do	vento	–	uma
busca	que	deixa	a	pessoa	de	mãos	vazias.
Novamente	o	Pregador	confirma	sua	conclusão	com	um	provérbio,	verso	18:
(...)	na	muita	sabedoria	há	muito	enfado;
e	quem	aumenta	ciência	aumenta	tristeza.
Muita	sabedoria	traz	consigo	muita	frustração,	porque	o	mundo	não	parece	fazer
sentido.²⁵	Além	disso,	a	sabedoria	aumenta	a	tristeza	porque	a	pessoa	se	torna
mais	consciente	da	dor	e	do	sofrimento	neste	mundo.
Tendo	fracassado	em	encontrar	sentido	verificando,	pela	sabedoria,	tudo	o	que
sucede,	o	Pregador	decide	tentar	encontrar	sentido	com	a	busca	do	prazer.
Capítulo	2.1:	“Disse	comigo:	vamos!	Eu	te	provarei	com	a	alegria;	goza,	pois,	a
felicidade	(...)”.	Agora	devemos	entender	que,	em	Eclesiastes,	o	prazer	não	é
mau.	De	fato,	nesta	mesma	passagem,	2.26,	o	Pregador	diz	que	o	prazer	é	uma
dádiva	de	Deus:	“(...)	Deus	dá	sabedoria,	conhecimento	e	prazer	(...)”.² 	Mais
adiante,	neste	livro,	ele	encoraja	seus	leitores:	“Vai,	pois,	come	com	alegria	o	teu
pão	e	bebe	gostosamente	o	teu	vinho,	pois	Deus	já	de	antemão	se	agrada	das	tuas
obras”	(9.7).	A	busca	de	prazer	não	é	errada.	O	problema	é	que	o	Pregador
procura	encontrar	sentido	no	prazer	“debaixo	do	sol”.	Ele	escreve	no	fim	desta
seção,	2.11,	que	“nenhum	proveito	havia	debaixo	do	sol”.	Em	outras	palavras,
ele	buscou	prazer	sem	Deus,	sem	levar	Deus	em	conta.²⁷
Mais	uma	vez	ele	rapidamente	chega	à	conclusão	de	que	a	busca	de	prazer	sem
Deus	é	fútil.	No	verso	2,	ele	registra:	“Do	riso,	disse:	é	loucura;	e	da	alegria:	de
que	serve?”	E	ele	passa	a	descrever	os	vários	experimentos	que	o	fizeram
concluir	que	o	prazer	é	fútil.	Ele	experimentou	sucessivamente	o	prazer	do
vinho,	de	grandes	obras,	da	arte	e	do	sexo.	Ele	começa	com	o	vinho.	Verso	3:
“Resolvi	no	meu	coração	dar-me	ao	vinho,	regendo-me,	contudo,	pela	sabedoria,
e	entregar-me	à	loucura,	até	ver	o	que	melhor	seria	que	fizessem	os	filhos	dos
homens	debaixo	do	céu,	durante	os	poucos	dias	da	sua	vida”.	O	Pregador	não
quis	se	embebedar.	Ele	só	queria	se	alegrar	com	o	vinho	enquanto	sua	mente
ainda	pudesse	guiá-lo	com	sabedoria.	Isso	lhe	deu	discernimento	quanto	ao	que	é
bom	para	as	pessoas	durante	sua	breve	permanência	neste	mundo?
Aparentemente,	não,	pois	ele	passa	rapidamente	para	a	construção	de	grandes
obras.	A	descrição	das	grandes	obras	aqui	se	aproxima	do	que	sabemos	sobre	as
obras	do	rei	Salomão	(1Rs	7.	10-21).	Mas	observe	o	quanto	essa	busca	pelo
prazer	é	egoísta:	“Edifiquei	para	mim...	plantei	para	mim...	fiz	jardins	e	pomares
para	mim...	fiz	para	mim	açudes...	comprei...	possuí...	Amontoei	também	para
mim...	provi-me”.	Michael	Fox	descreve	adequadamente	esse	esforço	como	“um
tipo	de	intenso	consumismo”.²⁸	Verso	4:	“Empreendi	grandes	obras;	edifiquei
para	mim	casas;	plantei	para	mim	vinhas.	Fiz	jardins	e	pomares	para	mim	e,
nestes,	plantei	árvores	frutíferas	de	toda	espécie”.	“Salomão”	criou	para	si	outro
paraíso² 	no	mundo.	Certamente,	no	paraíso,	ele	encontraria	sentido.
O	verso	7	continua:	“Comprei	servos	e	servas	e	tive	servos	nascidos	em	casa;
também	possuí	bois	e	ovelhas,	mais	do	que	possuíram	todos	os	que	antes	de	mim
viveram	em	Jerusalém.	Amontoei	também	para	mim	prata	e	ouro	e	tesouros	de
reis	e	de	províncias	(...)”.	Em	adição	a	todas	essas	posses,	“Salomão”
acrescentou	o	prazer	da	arte,	verso	8b,	“(...)	provi-me	de	cantores	e	cantoras”,	e
o	prazer	do	sexo,	“(...)	delícias	dos	filhos	dos	homens:	mulheres	e	mulheres”.
Ele	conclui,	nos	versos	9-11:
“Engrandeci-me	e	sobrepujei	a	todos	os	que	viveram	antes	de	mim	em
Jerusalém;	perseverou	também	comigo	a	minha	sabedoria.	Tudo	quanto
desejaram	os	meus	olhos	não	lhes	neguei,	nem	privei	o	coração	de	alegria
alguma,	pois	eu	me	alegrava	com	todas	as	minhas	fadigas,	e	isso	era	a
recompensa	de	todas	elas.	Considerei	todas	as	obras	que	fizeram	as	minhas
mãos,	como	também	o	trabalho	que	eu,	com	fadigas,	havia	feito;	e	eis	que	tudo
era	vaidade	e	correr	atrás	do	vento,	e	nenhum	proveito	havia	debaixo	do	sol”.
Aqui	está	explicitamente	a	resposta	à	pergunta	retórica	levantada	em	1.3:	“Que
proveito	tem	o	homem	de	todo	o	seu	trabalho,	com	que	se	afadiga	debaixo	do
sol?”	A	resposta	é:	“absolutamente,	nenhum”.	Até	mesmo	o	grande	rei
“Salomão”,	depois	de	tentar	construir	outro	paraíso	neste	mundo,	chega	à
conclusão	de	que	“nenhum	proveito	havia	debaixo	do	sol”.	De	fato,	ele	deduz,
“tudo	era	vaidade	[futilidade]	e	correr	atrás	do	vento	[deixando-o	de	mãos
vazias],	e	nenhum	proveito³ 	havia	debaixo	do	sol”.	“Todos	os	termos-chave	do
Pregador	se	combinam	neste	ponto:	trabalho,	vaidade,	correr	atrás	do	vento,	sem
proveito,	debaixo	do	sol.	O	ajuntamento	de	termos	comunica	amarga	desilusão...
Está	sendo	mostrado	ao	homem	secular	o	fracasso	de	seu	estilo	de	vida,	sob	suas
próprias	premissas”.³¹	O	materialismo	e	o	consumismo	não	conseguem	dar
sentido	à	vida	humana.
O	Pregador	lidou	primeiro	com	a	sabedoria,	depois	com	o	prazer.	Agora	ele
planeja	um	terceiro	teste.	Ele	verificará	se	o	uso	da	sabedoria	oferece	benefícios
sobre	o	uso	da	loucura.	Ele	escreve,	no	verso	12:	“Então,	passei	a	considerar	a
sabedoria,³²	e	a	loucura,	e	a	estultícia.	Que	fará	o	homem	que	seguir	ao	rei?	O
mesmo	que	outros	já	fizeram”.“Salomão”,	o	mais	sábio	rei	do	mundo,	realmente
está	indo	a	fundo	na	questão.	Como	é	o	rei	mais	sábio	que	já	viveu,	seu	sucessor
nunca	poderá	melhorar	seu	experimento	e	seus	resultados.³³
Imediatamente,	o	Pregador	discerne	uma	importante	diferença	entre	o	sábio	e	o
tolo.	Verso	13:	“Então,	vi	que	a	sabedoria	é	mais	proveitosa	do	que	a	estultícia,
quanto	a	luz	traz	mais	proveito	que	as	trevas”.	Ele	confirma	sua	observação	com
um	provérbio,	no	verso	14:
Os	olhos	do	sábio	estão	na	sua	cabeça,
Mas	o	estulto	anda	em	trevas.
“Trevas	é	uma	metáfora	para	cegueira	espiritual.	O	tolo	é	como	um	homem	cego
que	tropeça	e	cai	(cf.	Pv	3.23;	4.18-19);	o	sábio,	por	outro	lado,	tem	olhos	em
sua	cabeça:	pode	ver	e,	portanto,	consegue	evitar	o	desastre”.³⁴	Que	tremenda
vantagem	o	sábio	tem	em	relação	ao	tolo!
Mas	então	o	Pregador	observa:	“Contudo,	entendi	que	o	mesmo	lhes	sucede	a
ambos”.	O	sábio	e	o	tolo	morrem.	No	verso	15,	ele	perde	a	esperança:	“Pelo	que
disse	eu	comigo:	como	acontece	ao	estulto,	assim	me	sucede	a	mim;	por	que,
pois,	busquei	eu	mais	a	sabedoria?	Então,	disse	a	mim	mesmo	que	também	isso
era	vaidade”.	A	morte,	em	sua	opinião,	é	o	fim;	fim	de	jogo.³⁵	Qual	é	o	proveito
de	ser	tão	sábio?	Se	o	sábio	e	o	tolo	morrem,	não	há	proveito	em	ser	sábio.
Ou	há	algum	proveito?	Podemos	morrer,	mas	nossa	reputação	pode	viver	na
memória	daqueles	que	vierem	depois	de	nós.	Os	tolos	podem	ser	esquecidos
rapidamente,	mas	é	possível	que	o	sábio	seja	lembrado?	A	esperança	do
Pregador	logo	se	extingue.	Verso	16:	“(...)	tanto	do	sábio	quanto	do	estulto,	a
memória	não	durará	para	sempre;	pois,	passados	alguns	dias,	tudo	cai	no
esquecimento”	(cf.	1.11).	Agonizantemente,	ele	diz:	“Ah!	Morre	o	sábio,	e	da
mesma	sorte,	o	estulto”.	E	ele	confessa:	“Pelo	que	aborreci³ 	a	vida,	pois	me	foi
penosa	a	obra	que	se	faz	debaixo	do	sol;	sim,	tudo	é	vaidade	e	correr	atrás	do
vento”.	A	vida	é	fútil	e	sem	substância.	“Tudo	é	vaidade	e	correr	atrás	dovento”.
No	fim	da	vida,	nem	mesmo	o	sábio	tem	algo	para	mostrar	por	ter	vivido	de
forma	sábia.	Ele	também	morre	e	logo	será	esquecido.	Não	tendo	conseguido
encontrar	“proveito”	na	vida	ao	usar	a	sabedoria,	buscar	o	prazer	e	examinar	os
benefícios	do	sábio	sobre	o	tolo,	o	Pregador	faz	o	teste	final.	Há	algo	que	fica
quando	morremos.	Nossas	posses	não	morrem	conosco.	Aqueles	que	morrem
deixam	uma	herança.	Essas	posses	são	um	“proveito”,	um	“ganho”	de	uma	vida
inteira	de	trabalho?
O	Pregador	rapidamente	fecha	essa	porta	para	algum	sentido	da	vida.	Ele	clama,
no	versos18-19:	“Também	aborreci	todo	o	meu	trabalho,³⁷	com	que	me	afadiguei
debaixo	do	sol,	visto	que	o	seu	ganho	eu	havia	de	deixar	a	quem	viesse	depois	de
mim.	E	quem	pode	dizer	se	será	sábio	ou	estulto?	Contudo,	ele	terá	domínio
sobre	todo	o	ganho	das	minhas	fadigas	e	sabedoria	debaixo	do	sol;	também	isto	é
vaidade”.	Todo	o	seu	trabalho	com	sabedoria	é	fútil,	pois,	na	morte,	ele	tem	que
deixar	suas	posses	para	trás,	e	até	um	tolo	pode	herdá-las.
Ele	continua,	no	verso	20:	“Então,	me	empenhei	por	que	o	coração	se
desesperasse	de	todo	trabalho	com	que	me	afadigara	debaixo	do	sol.	Porque	há
homem	cujo	trabalho	é	feito	com	sabedoria,	ciência	e	destreza;	contudo,	deixará
o	seu	ganho	como	porção	a	quem	por	ele	não	se	esforçou”.	E,	novamente,	ele
exclama:	“(...)	também	isto	é	vaidade	e	grande	mal”.	Todo	o	seu	trabalho	com
sabedoria	se	torna	fútil	porque	ele	tem	que	deixá-lo	“a	quem	por	ele	não	se
esforçou”.
Novamente	ele	levanta	a	questão,	no	verso	22:	“Que	tem	o	homem	de	todo	o	seu
trabalho	e	fadiga	do	seu	coração,	em	que	ele	anda	trabalhando	debaixo	do	sol?”
A	resposta	é:	Nada!	Na	verdade,	menos	que	nada	a	um	viciado	em	trabalho	–
uma	pessoa	que,	“como	‘Salomão’,	é	possuída	pela	ambição	incessante	de
alcançar	alguma	coisa	–	seja	lá	o	que	possa	ser	–	para	si	mesma	e	que	coloca
esse	‘interesse’...	acima	de	tudo	o	mais”.³⁸	O	proveito	é	menos	que	nada	porque,
como	ele	observa	no	verso	23,	“(...)	todos	os	seus	dias	são	dores,	e	o	seu
trabalho,	desgosto;	até	de	noite	não	descansa	o	seu	coração”.	E,	pela	terceira	vez
nesta	seção,	o	Pregador	exclama:	“(...)	também	isto	é	vaidade”.	A	vida	e	o	labor
humanos	são	fúteis,	inúteis!
E	então?	O	Pregador	fracassou	em	seus	experimentos.	Ele	não	encontrou	sentido
em	tentar	entender	a	vida	pela	sabedoria,	nem	valor	durável	na	busca	do	prazer,
nem	vantagem	em	ser	sábio	em	contraste	com	ser	tolo,	nem	benefícios	duráveis
em	ajuntar	posses.	Todos	os	nossos	esforços	terrenos	são	fúteis	e	vazios.	E	então,
não	há	proveito	nenhum	em	viver	neste	mundo?
Sim,	há.	O	Pregador	conclui,	no	verso	24:	“Nada	há	melhor³ 	para	o	homem	do
que	comer,	beber	e	fazer	que	a	sua	alma	goze	o	bem	do	seu	trabalho”.	Este	não	é
um	pensamento	totalmente	novo.	Quando	estava	investigando	o	prazer,	ele	fez
uma	descoberta	interessante.	Quando	estava	trabalhando	para	construir	casas	e
plantar	vinhas,	ele	escreve,	em	2.10:	“(...)	eu	me	alegrava	com	todas	as	minhas
fadigas,	e	isso	era	a	recompensa	[literalmente,	minha	porção]⁴ 	de	todas	elas”.
Muito	embora	descreva	todo	o	seu	trabalho	como	“vaidade	e	correr	atrás	do
vento”	(2.11),	esse	trabalho	tinha	um	benefício	inesperado.	Ele	tinha	prazer	em
todo	o	seu	trabalho.
Quando	Deus	criou	os	seres	humanos,	colocou-os	no	jardim	com	a	ordem	de
cultivá-lo	e	guardá-lo	(Gn	2.15).	O	trabalho	devia	dar	às	pessoas	um	sentimento
de	realização	e	prazer.	Agora	o	Pregador	descobriu	que,	muito	embora	todo	o
seu	trabalho	fosse	fútil,	ainda	trazia	consigo	esse	sentimento	de	prazer.	E,	assim,
chegando	ao	fim	de	seus	experimentos	e	não	encontrando	sentido	durável	na
vida	“debaixo	do	sol”	–	vida	sem	Deus	–,	ele	nos	aconselha	a	pelo	menos
experimentarmos	o	prazer	do	presente	momento:	comer,	beber⁴¹e	encontrar
alegria	no	trabalho.	Não	espere	para	desfrutar	disso	no	futuro,	mas	encontre
alegria	em	suas	atividades	diárias:	comer,	beber	e	trabalhar.	Com	força	cada	vez
maior,	o	Pregador	repetirá	este	conselho	sete	vezes,	chegando	ao	clímax	em
11.9:	“Alegra-te,	jovem,	na	tua	juventude,	e	recreie-se	o	teu	coração	nos	dias	da
tua	mocidade”.	“A	alegria	tem	o	poder	de	redimir	a	noção	de	trabalho	em	meio
(e	não	sobre	ou	contra)	as	vicissitudes	da	vida,	a	ilusão	do	ganho	e	o	poder
devastador	da	morte”.⁴²
Devemos,	então,	buscar	o	prazer,	afinal?	Isso	seria	interpretar	mal	o	Pregador.
Depois	de	nos	aconselhar	a	comer,	beber	e	fazer	que	o	coração	desfrute	o	bem	do
nosso	trabalho,	ele	continua,	no	verso	24b:	“No	entanto,	vi	também	que	isto	vem
da	mão	de	Deus.	Pois,	separado	deste,	quem	pode	comer	ou	quem	pode	alegrar-
se?”	A	alegria	é	um	presente	de	Deus	para	nós.	Busque-a	sozinho	(“debaixo	do
sol”)	e	ela	se	dissipará	como	o	vento	–	como	o	Pregador	descobriu	(2.1-2).⁴³	Em
vez	disso,	devemos	receber	a	alegria	como	um	presente	de	Deus	para	nós.
O	Pregador	conclui	no	verso	26:	“(...)	Deus	dá	sabedoria,	conhecimento	e	prazer
ao	homem	que	lhe	agrada;	mas	ao	pecador	dá	trabalho,	para	que	ele	ajunte	e
amontoe,	a	fim	de	dar	àquele	que	agrada	a	Deus.	Também	isto	é	vaidade	e	correr
atrás	do	vento”.	“Deus	dá⁴⁴	sabedoria,	conhecimento	e	prazer	ao	homem	que	lhe
agrada”.	Aqueles	que	agradam	a	Deus	são	aqueles	que	reconhecem	sua
soberania:	aqueles	que	recebem	alegria	por	seu	trabalho	como	um	presente	de
Deus;	aqueles	que	honram	a	Deus	sendo	agradecidos	por	suas	dádivas.	Àqueles
que	lhe	agradam,	Deus	derrama	suas	boas	dádivas:	não	apenas	alegria,	mas
também	sabedoria	e	conhecimento.
“Mas	ao	pecador	dá	trabalho,	para	que	ele	ajunte	e	amontoe,	e	fim	de	dar	àquele
que	agrada	a	Deus”.	O	“pecador”	é,	literalmente,	“aquele	que	erra	o	alvo”.	No
vocabulário	do	Pregador,	“a	palavra	designa	alguém	que,	embora	não	seja	ímpio,
perdeu	o	ponto	da	vida	que	Deus	tinha	dado”.⁴⁵	Neste	contexto,	o	pecador	é	a
pessoa	que	busca	o	sentido	da	vida	em	si	mesmo	e	nos	bens	que	pode	adquirir
“debaixo	do	sol”.	A	essa	pessoa,	Deus	dá	“trabalho,	para	que	ele	ajunte	e
amontoe”.	Não	há	pausa.	Este	é	um	verdadeiro	viciado	em	trabalho.	Toda	a	sua
vida	é	focada	em	ajuntar	e	amontoar.	E	qual	é	o	resultado?	Em	vez	de	terminar
com	riquezas,	Deus	as	dá	a	quem	lhe	agrada.⁴
A	parábola	das	dez	minas,	contada	por	Jesus,	tem	uma	mensagem	similar:	o
senhor	tomou	a	mina	do	servo	que	tinha	errado	o	alvo	de	negociar	com	ela	e	a
deu	ao	que	tinha	ganho	mais	dez	minas.	Quando	o	servo	reclamou	dizendo	que
isso	não	era	justo,	o	senhor	respondeu:	“Eu	vos	declaro:	A	todo	o	que	tem	dar-
se-lhe-á;	mas	ao	que	não	tem,	o	que	tem	lhe	será	tirado”	(Lc	19.26).	Aqueles	que
erram	o	alvo	na	vida	acabam	sem	nada.	“Também	isso	é	vaidade	e	correr	atrás
do	vento”.⁴⁷
A	mensagem	do	Pregador,	então,	é	que	já	que	todos	os	nossos	esforços	humanos
são	fúteis,	já	que	todos	os	nossos	esforços	sem	Deus	são	fúteis,	devemos
encontrar	alegria	nas	dádivas	que	Deus	nos	dá	todos	os	dias.	Devemos	saborear
o	momento	e	encontrar	alegria	em	comer,	beber	e	trabalhar	no	presente,	porque
isso	é	presente	de	Deus	para	nós.
Infelizmente,	muitas	pessoas	adiam	esse	desfrute	para	um	tempo	no	futuro.
Muitas	pessoas	hoje	odeiam	seu	trabalho.	Em	vez	de	agradecer	a	Deus	por	seu
trabalho,	dizem:	“Graças	de	Deus,	é	sexta-feira!”	Dizem	que	o	trabalho	é	um
esforço	insano,	mas	não	sabem	como	escapar	dele.	Muitas	pessoas	compram
bilhetes	de	loteria	na	esperança	de	ganhar	milhões	para	que	possam	sair	do
emprego.	Mas	poucas	conseguem	escapar	do	trabalho.	As	pessoas	anseiam	pela
aposentadoria	porque	é	quando	começarão	a	desfrutar	a	vida.	Mas	a
aposentadoria	pode	nunca	vir.	Até	mesmo	os	cristãos	frequentemente	reclamam
por	viverem	nesse	“vale	de	lágrimas”	e	anseiam	pela	alegria	futura	no	céu.	Mas
o	Pregador,	como	grande	parte	do	Antigo	Testamento,	nos	convida	a	encontrar
alegria	nesta	vida,	aqui	e	agora.	“Nada	há	melhor	para	o	homem	do	que	comer,
beber	e	fazer	que	sua	alma	goze	o	bem	do	seu	trabalho”.
O	Novo	Testamento	continua	a	mesma	ênfase.	Na	verdade,	o	Novo	Testamento
também	conhece	a	vida	depois	da	morte	e	futuros	novo	céu	e	nova	terra,	onde
“não	haverá	luto,	nem	pranto,	nem	dor”	(Ap	21.4).	Mas	Jesus	também	nos
ensina	a	saborear	os	dons	de	Deusaqui	e	agora.	Ele	nos	ensina	a	nos
contentarmos	com	a	nossa	vida	e	a	recebermos	nossa	comida	e	bebida	como
presentes	de	Deus:	“Não	andeis	ansiosos	pela	vossa	vida,	quanto	ao	que	haveis
de	comer	ou	beber”,	ele	diz:
Observai	as	aves	do	céu:	não	semeiam,	não	colhem,	nem	ajuntam	em	celeiros;
contudo,	vosso	Pai	celeste	as	sustenta.	Não	valei	vós	muito	mais	do	que	as	aves?
(...)	não	vos	inquieteis,	dizendo:	Que	comeremos?	Que	beberemos?	Ou:	Com
que	nos	vestiremos?	Porque	os	gentios	é	que	procuram	todas	estas	coisas;	pois
vosso	Pai	celeste	sabe	que	necessitais	de	todas	elas;	buscai,	pois,	em	primeiro
lugar,	o	seu	reino	e	a	sua	justiça,	e	todas	estas	coisas	vos	serão	acrescentadas	(Mt
6.26-33).
Os	gentios	erraram	o	alvo	da	vida.	Os	seguidores	de	Jesus	conhecem	o	alvo:
buscar	primeiro	o	reino	de	Deus,	e	Deus	lhes	dará	comida,	bebida	e	roupas.
Paulo	também	encoraja	os	cristãos	a	terem	uma	vida	de	gratidão	pelos	dons	de
Deus.	Ele	escreve:	“Habite,	ricamente,	em	vós	a	palavra	de	Cristo;	instruí-vos	e
aconselhai-vos	mutuamente	em	toda	a	sabedoria,	louvando	a	Deus,	com	salmos
e	hinos,	e	cânticos	espirituais,	com	gratidão,	em	vosso	coração.	E	tudo	o	que
fizerdes,	seja	em	palavra,	seja	em	ação,	fazei-o	em	nome	do	Senhor	Jesus,	dando
por	ele	graças	a	Deus	Pai”	(Cl	3.16-17).	“Tudo	o	que	fizerdes”	inclui	comer,
beber	e	trabalhar.	Devemos	agradecer	a	Deus	todos	os	dias	por	seus	dons
maravilhosos.	E	devemos	desfrutar	desses	dons	todos	os	dias.	Se	não
desfrutarmos	dos	dons	de	Deus,	tratamos	mal	a	Deus,	que	é	quem	os	dá.	Mas,	se
desfrutarmos	de	nossa	comida,	bebida	e	trabalho,	Deus	se	agradará.	Desfrute	dos
dons	de	Deus	todos	os	dias!
¹	Veja	Murphy,	Wisdom	Literature,	136.
²	Veja	Seow,	Ecclesiastes,	142.
³	Veja	ibid.,	142-43,	para	o	inclusio	“debaixo	do	céu”,	em	1.13	e	2.3,	e	“muitas
continuidades	entre	1.13-18	e	2.1-3”.
⁴	Em	2.24-26,	“o	autor	retorna	aos	temas	levantados	na	seção	introdutória	(1.13–
2.3):	Deus,	a	entrega	de	uma	preocupação,	o	lugar	de	sabedoria,	conhecimento	e
alegria	e	ver	o	bem.	Pode-se	dizer,	então,	que	2.24-26	constitui	a	seção	final	de
toda	a	unidade	literária,	formando	com	a	introdução,	em	1.13–2.23,	uma
estrutura	teológica	dentro	da	qual	o	todo	deve	ser	interpretado”	Ibid.,	143.
⁵	Cf.	Dorsey,	Literary	Structure,	193:	“a	segunda	unidade	do	livro	começa	com
mudanças	de	pessoa	(da	terceira	para	a	primeira	pessoa)	e	gênero	(de	poesia	para
prosa	autobiográfica).	Esse	relato	autobiográfico	continua	até	2.26,	quando	o
autor	retorna	à	poesia”.
	Veja	Whybray,	“Qoheleth,	Preacher	of	Joy”,	JSOT	23	(1982)	87-98.
⁷	Veja	Murphy,	Wisdom	Literature,	134-36.
⁸	“Debaixo	do	sol”	é	“o	mundo	visto,	interpretado	em	termos	de	si	mesmo”.
Eaton,	Ecclesiastes,	63.
	Cf.	Seow,	Ecclesiastes,	157:	“Ele	não	está	se	referindo	aqui	às	atividades
específicas	de	comer	e	beber,	mas	à	atitude	geral	diante	da	vida”.
¹ 	Whybray,	Ecclesiastes,	57,	chama	os	versos	13-17	de	“o	primeiro	exemplo	no
livro	do	chamado	‘aforismo	quebrado’”.
¹¹	Observe	as	afirmações	paralelas	A,	B,	C,	A’,	B’,	C’.
¹²	Para	a	razão	pela	qual	esses	dois	caminhos	estão	frequentemente	entrelaçados,
veja	p.	43,	nota	100,	acima.
¹³	A	outra	possibilidade	é	a	menção	ao	“único	Pastor”,	em	12.11	(veja	abaixo,	p.
320–21).
¹⁴	Fred	B.	Craddock,	Preaching	(Nashville:	Abingdon,	1985),	177.
¹⁵	O	Pregador	“mostra	a	absurdidade	inerente	de	uma	cultura	de	‘trabalho	total’.
Embora	esteja	falando	para	judeus	helenistas,	sua	exposição	é	perfeitamente
adequada	à	moderna	América	profissional,	na	qual	muitos	de	nós	aprendemos	a
nos	valorizar	principalmente	em	termos	de	quanto	trabalhamos.	Nessa	cultura,	é
admirável	ser	continuamente	pressionado	pelo	tempo”.	Davis,	Proverbs,
Ecclesiastes,	Song	of	Songs,	181.
¹ 	“A	escolha	de	Salomão	por	sua	‘função	real’	não	foi	feita	somente	porque	ele
era	o	arquetípico	rei	sábio,	mas	igualmente	em	vista	de	sua	fama	de	grande
riqueza:	se	nem	mesmo	Salomão,	que	tinha	tudo	que	um	homem	pode	possuir,
descobriu	que	seus	esforços	para	alcançar	felicidade	e	contentamento	eram
profundamente	insatisfatórios,	muito	mais	provavelmente	pessoas	comuns
falhariam	nessa	tentativa”.	Whybray,	Ecclesiastes,	48.
¹⁷	“	refere-se	a	conhecimento	prático,	habilidade,	inteligência,	discernimento,
inteligência	geral	e	sabedoria”.	Crenshaw,	Ecclesiastes,	72.
¹⁸	O	referente	de	“enfadonho	trabalho”	é	ambíguo.	Pode	estar	no	verso	13,	a
busca	pela	sabedoria,	ou	no	verso	14,	“tudo	quanto	sucede	debaixo	do	céu”.	A
estrutura	paralela	dos	versos	12-15	e	16-18	favorece	a	busca	por	sabedoria,	já
que	sabedoria	é	o	foco	do	verso	17.	Portanto,	concordo	com	Fox,	que,	ao
contrário	de	muitos	comentaristas,	escreve	que	o	“enfadonho	trabalho”	é	“a
busca	por	entendimento.	O	Qohelet	vê	essa	busca	como	sem	esperança,	uma
tarefa	frustrante,	mesmo	quando	realizada	em	sabedoria	e	por	um	sábio	(1.12,16;
8.16-17),	de	quem	o	Qohelet	salomônico	é	o	maior	exemplo”.	Ecclesiastes,	9.
Também	Whybray,	Ecclesiastes,49,	com	referências	a	Lauha	e	Lohfink.	Cf.
Eaton,	Ecclesiastes,	63.
¹ 	Esta	é	a	primeira	menção	a	Deus.	“Aqui,	como	em	outros	trinta	e	nove	casos
no	livro,	Deus	é	chamado	pelo	nome	genérico	,	o	nome	preferido	na	tradição	de
sabedoria	a	YHWH.	A	preferência	pode	estar	ligada	ao	interesse	da	tradição	de
sabedoria	por	verdades	universais,	não	na	relação	de	uma	divindade	específica
com	um	povo	específico.	YHWH	é	o	nome	do	Deus	da	aliança,	o	Deus	de	Israel,
enquanto	é	o	termo	universal	para	divindade,	o	Deus	do	universo	e	de	cada
pessoa.	Esse	Deus	descrito	pelo	Qohelet	é	muito	presente	e	muito	ativo	no
cosmos,	sempre	dando...	e	fazendo...	o	Deus	sobre	o	qual	o	Qohelet	fala	é	um
Deus	transcendente	e	inescrutável”.	Seow,	Ecclesiastes,	146.	Cf.	Murphy,
Ecclesiastes,	lxviiilxix.
² 	Veja	p.	68,	nota	8,	acima.
²¹	Seow,	Ecclesiastes,	146.
²²	“	sugere	o	pastor	que	tenta	agrupar	o	vento	como	agrupa	ovelhas	e	carneiros”.
Ogden,	Qoheleth,	35.
²³	Cf.	a	palavras	de	Jesus,	em	Mateus	6.27:	“Qual	de	vós,	por	ansioso	que	esteja,
pode	acrescentar	um	côvado	ao	curso	da	sua	vida?”.
²⁴	“Talvez	seja	possível,	por	meio	de	esforço	intelectual	concentrado,	distinguir
essas	coisas	mais	precisamente	–	refinar	o	entendimento	que	a	pessoa	tem	do
mundo	–	e,	assim,	escapar	da	armadilha	armada	pela	vida	para	a	pessoa
comum”.	Provan,	Ecclesiastes,	70.
²⁵	Cf.	Eclesiastes	8:16-17:	“Aplicando-me	a	conhecer	a	sabedoria	e	a	ver	o
trabalho	que	há	sobre	a	terra	–	pois	nem	de	dia	nem	de	noite	vê	o	homem	sono
nos	seus	olhos	–	então	contemplei	toda	a	obra	de	Deus	e	vi	que	o	homem	não
pode	compreender	a	obra	que	se	faz	debaixo	do	sol;	por	mais	que	trabalhe	o
homem	para	a	descobrir,	não	a	entenderá;	e,	ainda	que	diga	o	sábio	que	a	virá	a
conhecer,	nem	por	isso	a	poderá	achar”.
² 	“Este	substantivo	(	)	ocorre	oito	vezes	em	Eclesiastes,	e	a	RSV	o	traduz	de
várias	maneiras	diferentes,	de	acordo	com	os	contextos	em	que	ocorre:	prazer,
alegria,	jovialidade,	gozo”.	Whybray,	Ecclesiastes,	52.
²⁷	“É	porque	‘Salomão’	determinou	buscá-lo	independentemente	para	si	mesmo
que	ele	descobre	que,	como	sua	tentativa	correspondente	de	se	apoiar	em	sua
sabedoria	e	conhecimento	(1.13,17)	isso	é	totalmente	insatisfatório”.	Ibid.
²⁸	Fox,	A	Time	to	Tear	Down,	176.
² 	“Vinhas	foram	plantadas,	jardins	e	parques,	criados	(pardes,	“parque”,	é	uma
palavra	persa	que,	em	grego,	torna-se	paradeisos,	“paraíso”)	e,	neles,	várias
árvores	frutíferas	foram	plantadas,	reminiscentes	do	jardim	edênico	em	Gênesis
2”.	Ogden,	Qoheleth,	40.	Para	esta	associação	com	o	jardim	do	Éden	por	meio
do	sétuplo	padrão	rítmico	desta	passagem	(“o	padrão	sétuplo	evoca	os	sete	dias
da	criação,	que	também	são	contados	em	estilo	rítmico”),	veja	Davis,	Proverbs,
Ecclesiastes,	Song	of	Songs,	178.	Para	essa	associação	por	meio	da	recorrência
combinada,	aqui,	de	palavras	hebraicas	encontradas	em	Gênesis	1	e	2	(plantar,
jardim,	árvore,	fruto,	regar,	reverdecer,	fazer),	veja	Arian	Verheij,	“Paradise
Retried:	On	Qohelet	2:4-6”,	JSOT	50	(1991)	113-15.
³ 	“Suas	realizações,	embora	fossem	sem	precedentes,	equivaliam	a	nada	quando
avaliadas	pelo	critério	do	“proveito”	(	).	Economicamente,o	“proveito”	é	o
resultado,	a	margem	de	lucro	de	todo	empreendimento	humano.	De	forma	mais
ampla,	marca	o	legado	material	que	proporciona	benefício	durável	ao	realizador,
a	“taxa	de	retorno”	em	função	da	qual	todas	as	coisas	são	medidas”.	Brown,
“‘Whatever	Your	Hand	Finds	to	Do’”,	Int	55/3	(2001)	277.	Veja	também	p.	59,
n.31,	acima.
³¹	Eaton,	Ecclesiastes,	68	(ênfase	dele).
³²	“As	palavras	‘sabedoria’,	‘sábio’	e	‘ser	sábio’	ocorrem,	juntas,	seis	vezes	em
2.12-17.	Isso	é	compensado	por	seis	ocorrências	das	palavras	‘loucura’	e	‘tolo’”.
Seow,	Ecclesiastes,	152.
³³	O	Pregador	“dessa	forma	afirma	a	aplicabilidade	universal	de	seu
experimento.	Ele	se	coloca	como	o	rei	e	conclui	que,	se	o	rei	não	puder
encontrar	sentido,	ninguém	mais	pode”.	Longman,	Book	of	Ecclesiastes,	96.
³⁴	Whybray,	Ecclesiastes,	58.
³⁵	Veja	Murphy,	Ecclesiastes,	lxvii-lxviii.
³ 	“Porque	o	sábio	e	o	tolo,	o	bom	e	o	mau,	sofrem	o	mesmo	destino,	a	morte,
não	há	razão	para	nos	esforçarmos	pela	sabedoria	e	pela	bondade.	Esse
pensamento	desperta	no	Qohelet	ódio	pela	vida,	que	é	fútil	e	correr	atrás	do
vento”.	Crenshaw,	Ecclesiastes,	70.
³⁷	“Esta	passagem	é	elaborada	em	torno	da	noção	de	,	entendido	tanto	como	fruto
do	trabalho	como	o	próprio	trabalho.	Como	substantivo	ou	verbo,	ocorre	não
menos	que	onze	vezes	nesta	curta	seção”.	Murphy,	Ecclesiastes,	27.
³⁸	Whybray,	Ecclesiastes,	62.
³ 	Embora	alguns	comentaristas,	e.g.,	Leupold	e	Kaiser,	sigam	a	leitura	hebraica
original,	“não	há	coisa	boa	[inerente]	no	homem...”,	a	maioria	pensa	que	a	letra
foi	inadvertidamente	perdida	(Delitzsch,	Commentary,	251,	diz	que	isso	está
“acima	de	toda	dúvida”)	e	que	a	frase	deve	ser	lida	“não	há	nada	melhor”,	como
em	3.12,22;	8.15.	Observe	também	que	“os	versos	finais	do	capítulo	2	contêm
quatro	ocorrências	de	[“bom”]...	em	paralelo	com	as	quatro	ocorrências	de	,
“sem	sentido,	sem	propósito”,	que	se	refere	à	vida	da	pessoa	que	corre	atrás	do
vento	nos	versos	17-23”.	Provan,	Ecclesiastes,	76.
⁴ 	Veja	Brown,	Ecclesiastes,	33.
⁴¹	Comer	e	beber	“deve	ser	interpretado	literalmente,	embora	provavelmente	–
como	em	outros	lugares	do	Antigo	Testamento	e	na	antiga	literatura	o	Oriente
Próximo	–	represente	o	gozo	das	coisas	materiais	da	vida	em	geral”.	Whybray,
Ecclesiastes,	63.	Cf.	Seow,	Ecclesiastes,	157:	“ele	não	está	se	referindo	aqui	a
atividades	específicas	de	comer	e	beber,	mas	à	atitude	geral	em	relação	à	vida”.
⁴²	Brown,	“‘Whatever	Your	Hand	Finds	to	Do’”,	Int	55/3	(2001)	279.
⁴³	“A	alegria	não	é	um	fim	a	ser	buscado,	não	é	algo	a	ser	buscado.	De	fato,	em
lugar	nenhum	o	Qohelet	chama	as	pessoas	à	busca	do	prazer.	Em	vez	disso,	a
alegria	é	apresentada	como	um	presente	divino	(2.26;	3.12-13,22;	5.19;	cf.	9.7)”.
Seow,	“Theology	When	Everything	Is	out	of	Control”,	Int	55/3(2001)	244.
⁴⁴	“O	verbo	‘dar’	ocorre	vinte	e	oito	vezes	neste	curto	livro,	em	quinze	delas
referindo-se	a	um	ato	divino”.	Davis,	Proverbs,	Ecclesiastes,	Song	of	Songs,
161.
⁴⁵	Ibid.,	181.
⁴ 	“Em	outro	lugar	encontramos	o	princípio:	‘A	riqueza	do	pecado	é	depositada
para	o	justo’	(Pv	13.22;	cf.	28.8).	Incidentes	ocasionais	(Mordecai	recebendo	o
anel	de	Hamã,	as	boas	cidades	dos	cananeus	caindo	nas	mãos	dos	israelitas)	dão
um	vislumbre	do	que	o	Pregador	tem	em	mente”.	Eaton,	Ecclesiastes,	76.
⁴⁷	Crenshaw,	Ecclesiastes,	91,	afirma:	“O	comentário	final,	‘também	isto	é
vaidade	e	correr	atrás	do	vento’,	resume	tudo	aquilo	em	que	o	Qohelet	se
envolveu	para	avaliar,	não	é	uma	declaração	de	juízo	sobre	o	modo	imprevisível
como	Deus	trata	os	seres	humanos”.	Cf.	Longman,	Book	of	Ecclesiastes,110:	“O
tipicamente	ambíguo	isto	[em	‘também	isto	é	vaidade’]	provavelmente	se	refere
a	mais	do	que	o	verso	26,	mas	certamente	o	inclui”.	É	improvável,	contudo,	que
o	Pregador	recomendasse	“alegria”	nos	versos	25-26	se	a	considerasse	vaidade.
Além	disso,	em	todas	as	suas	recomendações	seguintes	de	alegria	(3.12-13;	3.22;
5.18-20;	8.15;	9.7-10;	11.8-9),	ele	não	conclui	com	a	avaliação	de	vaidade.
Acredito,	portanto,	que	a	“vaidade	e	correr	atrás	do	vento”	no	verso	26	se	refira
especificamente	ao	ajuntar	e	amontoar	da	pessoa	que	erra	o	alvo	na	vida	e,
subsequentemente,	perde	todos	os	seus	bens.
CAPÍTULO	4
Deus	determina	os	tempos
Eclesiastes	3.1-15
Sei	que	tudo	quanto	Deus	faz	durará	eternamente;
nada	se	lhe	pode	acrescentar
e	nada	lhe	tirar;	e	isto	faz	Deus	para	que
os	homens	temam	diante	dele.
(Ec	3.14)
De	todas	as	passagens	de	Eclesiastes,	esta	sobre	os	tempos	é,	provavelmente,	a
mais	conhecida	e	mais	frequentemente	pregada.¹	É	uma	passagem	maravilhosa
para	ajudar	as	pessoas	a	refletir	sobre	a	grandeza	de	Deus.	Um	importante
desafio	é	chegar	a	um	entendimento	correto,	pois	os	comentaristas	propõem	uma
variedade	de	interpretações	diferentes.	Por	exemplo,	o	verso	5	afirma	que	há
tempo	para	“espalhar	pedras”.	Mas	o	que	significa	isso?	Alguns	comentaristas
entendem	que	é	um	tempo	de	guerra,	quando	se	espalham	pedras	no	campo	do
inimigo.	Outros	entendem	como	um	tempo	de	prosperidade,	para	distribuir	a
riqueza	(pedras	preciosas);²	e,	surpreendentemente,	vários	intérpretes	modernos
entendem	que	este	é	um	tempo	para	intercurso	sexual	(veja	abaixo).	O	verso	11
diz	que	Deus	pôs	no	coração	humano.	Mas	o	que	é	?	Crenshaw	afirma:	“Entre	as
muitas	respostas	possíveis,	as	mais	prováveis	são:	(1)	o	mundo;	(2)	a	eternidade;
(3)	as	trevas”.³	O	verso	15	diz,	literalmente:	“Deus	busca	o	que	é	perseguido”
(nota	de	rodapé	da	NRSV).	A	questão	é:	O	que	Deus	busca?	“Várias	respostas
foram	oferecidas:	(1)	os	perseguidos;	(2)	os	eventos	do	passado;	(3)	os	mesmos;
(4)	o	que	Deus	viu	anteriormente”.⁴	Outro	desafio	é	associar	esta	mensagem	de
Eclesiastes	a	Jesus	Cristo,	no	Novo	Testamento.
Texto	e	contexto
Está	claro	que	Eclesiastes	3.1	começa	uma	nova	unidade	literária:	o	estilo	muda
de	prosa	para	poesia	e	os	tópicos	mudam	de	“dar	sabedoria	e	alegria”	para	“Deus
estabelece	um	tempo	para	tudo”.	Mas	não	é	tão	claro	onde	a	unidade	termina.
Com	base	na	recorrência	da	frase	“vaidade	e	correr	atrás	do	vento”,	em	4.4,6,
Addison	Wright	propõe	uma	unidade	que	vai	de	3.1	a	4.6	sob	o	título	“não	se
pode	determinar	o	tempo	certo	de	agir”.⁵	Como	esta	seção	é	grande	demais	para
ser	abrangida	por	um	único	sermão,	precisamos	buscar	uma	unidade	menor.
O	Revised	Common	Lectionary	atribui	Eclesiastes	3.1-13	à	noite	de	Ano-Novo.
Contudo,	esta	não	é	uma	unidade	literária	completa,	pois	o	verso	14	(repetindo
“sei”,	do	v.12)	continua	a	conclusão	da	reflexão	do	Pregador.	Nossas	opções	para
um	texto	de	pregação	são	3.1-5	ou	3.1-22.	Provan,	procurando	justificar	sua
escolha	de	3.1-22,	escreve:	“Os	versos	16-17	retomam	e	desenvolvem	o	tema	do
controle	divino	‘dos	tempos’,	usando-o	para	discutir	a	questão	da	injustiça	no
mundo...	Os	versos	16	e	17	são	claramente	relacionados	aos	versos	1-15
temática	e	sintaticamente	(“vi	ainda”,	heb.	)”. 	Embora	as	duas	seções	estejam
claramente	relacionadas,	é	igualmente	claro	que	os	versos	16-22	tratam	de	outros
tópicos,	a	saber,	a	impiedade	neste	mundo	e	os	seres	humanos	morrendo	como
animais.	Whybray	corretamente	afirma:	“Os	Versos	1-15	devem	ser
considerados	uma	única	seção.	O	verso	16	provavelmente	marca	o	início	de	uma
nova	seção,	embora	–	como	acontece	em	outros	lugares	deste	livro	–	não	haja
um	rompimento	temático	absoluto”.⁷	Devemos,	portanto,	selecionar	Eclesiastes
3.1-15	como	nosso	texto	de	pregação.
Este	texto,	é	claro,	deve	ser	entendido	em	seu	contexto	mais	amplo.	Há	uma
importante	conexão	entre	o	poema	sobre	tempos	(3.2-8)	e	o	poema	anterior,
sobre	os	ciclos	na	natureza	(1.4-9).	O	poema	sobre	a	natureza	começa	com	a
pergunta	retórica:	“Que	proveito	tem	o	homem	de	todo	o	seu	trabalho	com	que
se	afadiga	debaixo	do	sol?”	(1.3),	enquanto	este	poema	termina	com	uma
pergunta	retórica	similar:	“Que	proveito	tem	o	trabalhador	naquilo	com	que	se
afadiga?”(3.9).	Além	disso,	a	terra	permanece	para	sempre”	(1.4)	é	similar	a
“tudo	quanto	Deus	faz	durará	eternamente”	(3.14).	“Ao	movimento
continuamente	repetido	do	sol,	do	vento	e	das	águas	correspondem	eventos	na
vida	do	indivíduo	e	da	humanidade”.⁸Um	comentário	em	prosa	vem	depois	de
cada	poema	(1.10-11;	3.10-15).	“As	conclusões	são	similares	nos	dois	casos:
tudo	o	que	aconteceu	acontece	de	novo.	Em	outras	palavras,	tudo	o	que
aconteceu	acontece	de	novo	(1.9;	3.15)”. 	O	Pregador	voltará	à	questão	do	tempo
em	3.17;	7.17;	8.5-6,9;	9.11-12;	10.17.	Seu	conselho	para	desfrutarmos	das
dádivas	diárias	de	Deus	(3.12-13),	dado	anteriormente	em	2.24-25,	será	dado
novamente	em	3.22;	5.18-20;	8.15;	9.7-9;	11.8-9.	Ele	também	revisitará	seu
argumento	de	que	os	homens	devem	temer	diante	de	Deus	(3.14)	em	5.7;	7.18;
8.12,	enquanto	um	editor	resumirá	o	livro:	“De	tudo	o	que	se	tem	ouvido,	a	suma
é:	Teme	a	Deus	e	guarda	os	seus	mandamentos;	porque	isto	é	o	dever	de	todo
homem”	(12.13).
Elementos	literários
Uma	análise	detalhada	de	vários	elementos	literários	nos	ajudará	não	somente	a
discernir	a	estrutura	textual,	mas	também	a	chegar	a	uma	interpretação	correta
desta	passagem	frequentemente	mal	interpretada.	Observaremos	as	formas
literárias,	depois	examinaremos	o	paralelismo	do	poema	e,	finalmente,
discutiremos	se	partes	do	poema	devem	ser	entendidas	literária	ou
figuradamente.
As	formas	literárias
Esta	passagem	contém	várias	formas	literárias.	Depois	de	uma	tese	introdutória
(3.1),	o	Pregador	apresenta	um	poema	sobre	os	tempos	(3.2-8).	Isto	é	seguido
pela	pergunta	retórica:	“Que	proveito	tem	o	trabalhador	naquilo	com	que	se
afadiga?”	(3.9).	Com	seu	“Vi”,	o	Pregador	começa	uma	reflexão	no	poema
(3.10-11),	que	é	seguida	por	duas	conclusões,	ambas	começando	com	“Sei”
(3.12,14).	A	segunda	conclusão	contém	um	provérbio,	“nada	se	lhe	pode
acrescentar	e	nada	lhe	tirar”	(3.14).¹
Paralelismo	no	poema
A	repetição	aparece	particularmente	nas	construções	paralelas	no	poema.	O
poema	consiste	de	catorze	linhas,	cada	uma	delas	construída	na	forma	de
paralelismo	antitético.	Por	exemplo,
Tempo	de	nascer	e	tempo	de	morrer	[A	–	B]
A	maioria	dos	versos	de	duas	linhas	é	construída	na	forma	de	paralelismo	regular
(sinônimos	ou	sintéticos).¹¹	Por	exemplo:
Tempo	de	nascer e	tempo	de	morrer	[A	–	B]
Tempo	de	plantar e	tempo	de	arrancar	o	que	se	plantou	[A’	–	B’]
O	verso	8,	em	contraste,	tem	paralelismo	invertido:
Tempo	de	amar e	tempo	de	aborrecer ¹²
Tempo	de	guerra e	tempo	de	paz
O	poema	começa	com	nascimento	e	morte	e	termina	com	guerra	e	paz.
Crenshaw	sugere	que	“isso	dá	ao	poema	um	padrão	circular,	uma	estrutura
fechada”.¹³	Se	isto	for,	de	fato,	uma	inclusio,	é	fraca.	Seria	melhor	dizer	que	o
poema	indica	sua	conclusão	com	o	incomum	(para	este	poema)	paralelismo
invertido,	que	faz	com	que	“paz”	seja	a	palavra	final	da	linha	14.
O	poema	usa	a	palavra	“tempo”	28	vezes	(4	X	7),	distribuída	pelas	14	linhas	(2
X	7).	Como	7	é	o	número	da	completude	(pense	nos	sete	dias	da	criação),	o
autor,	sem	citar	todos	os	tempos	possíveis,	pretende	descrever	o	número
completo	de	diferentes	tempos	que	os	seres	humanos	podem	encontrar	durante
sua	vida.
Isso	também	fica	evidente	pelo	primeiro	par,	nascimento	e	morte,	que	“marca	os
limites	extremos	da	existência	humana	e,	assim,	por	antecipação,	define	o
escopo	de	toda	a	lista”.¹⁴	Embora	o	poema	seja	dominado	pelo	“tempo”	(	),	este
conceito	“é	significativamente	contrastado	com	,	duração,	no	verso	11,	palavra
usada	para	caracterizar	a	atividade	divina	no	verso	14”.¹⁵
Algumas	outras	repetições	devem	ser	observadas.	Deus	“deu”	três	coisas:	“o
trabalho...	aos	filhos	dos	homens,	para	com	ele	os	afligir”	(v.	10),	“as	obras
desde	o	princípio	até	o	fim”	(v.	11)	e	“comer,	beber	e	desfrutar	o	bem	de	todo	o
seu	[do	homem]	trabalho”	(v.13).	Além	disso,	em	sua	conclusão	o	Pregador
repete	duas	vezes	o	confiante	“sei”	(v.12,14).
Linguagem	literal	ou	figurativa
O	último	elemento	literário	que	discutiremos	é	a	presença	ou	ausência	de
linguagem	figurativa.	Muitos	comentaristas	abandonam	a	relativa	segurança	da
interpretação	literal	para	caminhar	pelo	terreno	escorregadio	da	interpretação
figurativa.	Isso	é	feito	frequentemente	com	base	em	antigas	interpretações	ou
usos	desses	termos	em	outras	partes	da	Escritura.	Por	exemplo,	Leupold	defende
que	as	atividades	mencionadas	nos	versos	2-8	não	se	referem	a	“relacionamentos
puramente	humanos”,	mas	ao	“controle	[de	Deus]	e...	ao	governo	da	igreja”.¹
Assim,	“tempo	de	nascer”	(v.	2)	se	referiria	a	“épocas	em	que	Deus	concede	à
sua	igreja	a	capacidade	de	produzir	filhos”.	“Tempo	de	morrer”	refere-se	a
“épocas	de	morte	para	a	igreja,	quando	Deus	a	castiga	por	causa	de	seus
pecados”,	e	assim	por	diante.¹⁷
Walter	Kaiser	corretamente	objeta:	“O	resultado	é	uma	caricatura	do	resultado
pretendido	pelo	autor”.¹⁸	Os	pregadores	devem	resistir	à	ideia	de	espiritualizar	e
alegorizar	quando	o	sentido	literal	faz	bom	sentido	e	quando	o	autor	não	sinaliza
que	suas	palavras	devem	ser	entendidas	figuradamente.	Por	que	interpretar
“tempo	de	plantar	e	tempo	de	arrancar	o	que	se	plantou”	(v.2b)	como	“metáforas
para	vida/morte”¹ 	quando	isso	já	é	afirmado	literalmente	na	linha	imediatamente
anterior?	Se	essas	frases	são	metáforas,	dificilmente	se	pode	objetar	quando
outro	comentarista	dá	uma	interpretação	particular	ao	seu	significado:	“na	vida,
geralmente	há	momentos	de	‘plantar’	e	aprofundar	raízes	e	momentos	de
‘arrancar’	e	romper”.²
Semelhantemente,	“tempo	de	derribar	e	tempo	de	edificar”	(v.3b)	faz	bom
sentido	quando	entendido	literalmente.	Por	que	deveria	ser	entendido
figurativamente:	“No	Antigo	Testamento,	as	palavras	para	derrubar	e	edificar	são
frequentemente	usadas	para	fazer	referência	à	destruição	e	edificação	da	vida
humana”?²¹
A	mais	exorbitante	interpretação	alegórica	é	a	do	verso	5a,	“tempo	de	espalhar
pedras	e	tempo	de	ajuntar	pedras”.	Murphy	escreve:	“Muitos	comentaristas
propõem	uma	interpretação	encontrada	no	Midrash	Rabbah,	que	interpreta	as
ações	como	intercurso	sexual;	assim,	um	certo	paralelismo	com	o	verso	5b	é
obtido.	Mas	a	natureza	peculiar	da	metáfora	permanece	não	explicada”.²²	Não
consegui	encontrar	qualquer	evidência	de	que	“espalhar	pedras”	alguma	vez
tenha	significado	intercurso	sexual²³	–	deixei	de	fora	dessa	identificação	antigas
fontes	judaicas	e	cristãs.²⁴	Mas	certamente	a	interpretação	alegórica	em	fontes
antigas,	quando	a	interpretação	alegórica	estava	em	uso,	não	deve	ser	seguida
por	nós	hoje.	A	interpretação	alegórica	pode	ser	usada	legitimamente	apenas
quando	o	autor	claramente	apresenta	uma	alegoria,	como	em	Eclesiastes	12.3-4a.
Mas,	nesta	passagem,	o	autor	não	sugere	que	ele	tenha	tido	a	intenção	de	que
suas	palavras	fossem	entendidas	metaforicamente	quando	uma	interpretação
literal	faz	bom	sentido.	De	fato,	em	seu	contexto,	uma	interpretação	literal	desta
frase	tão	debatida	forma	um	paralelo	surpreendente.	A	sétima	linha	afirma:
“tempo	de	espalhar	pedras”	nos	campos	do	inimigo	em	tempo	de	guerra	e
“tempo	de	ajuntar	pedras”	para	que	se	possa	plantar	novamente	em	tempo	de
paz.	“Compare	com	a	décima	quarta	linha	(2	X	7),	“tempo	de	guerra	e	tempo	de
paz”.
Estrutura	Textual
Vimos	que	o	Pregador	começa	com	uma	afirmação	(3.1)	e,	logo	depois,	faz	um
poema	sobre	os	tempos	(3.2-8).	Depois	ele	faz	a	pergunta	retórica:	“Que
proveito	tem	o	trabalhador	naquilo	com	que	se	afadiga?”	(3.9).	Com	seu	“Vi”,
ele	começa	uma	reflexão	sobre	o	poema	(3.10-11)	que	leva	a	duas	conclusões,
cada	uma	delas	começando	com	“Sei”	(3.12,14).	Essas	formas	nos	ajudam	a
esboçar	a	estrutura	textual:
I.	Declaração:	Tudo	tem	seu	tempo...	há	tempo	(3.1)
A.	Poema	com	catorze	(2	×	7)	pares	de	tempos,	um	fazendo	contraponto	ao	outro
(3.2-8)
B.	Conclusão:	o	trabalhador	não	tem	proveito	do	seu	trabalho	(3.9;	cf.	1.3;	2.11)
II.	Reflexão	sobre	o	trabalho	que	Deus	nos	impôs	(3.10)
A.	Tudo	fez	Deus	formoso	no	seu	devido	tempo	(3.11a)
B.	Deus	pôs	um	sentimento	de	eternidade	em	nosso	coração	(3.11b)
C.	Mas	não	podemos	descobrir	o	que	Deus	fez	do	princípio	ao	fim	(3.11c)
D.	Conclusão:	Portanto,	nada	melhor	que	desfrutar	das	dádivas	de	Deus	(312-13)
III.	Tudo	o	que	Deus	faz	(presumivelmente	a	determinação	dos	tempos)	dura
para	sempre	(3.14a)
A.	Fortalecida	por	um	provérbio:
Nada	se	lhe	pode	acrescentarE	nada	lhe	tirar	(3.14b)
B.	Propósito:	Deus	faz	isso	para	que	todos	temam	diante	dele	(3.14c)
C.	Conclusão:	não	há	nada	novo	(cf.	1.9);	Deus	renovará	o	que	se	passou	(3.15)
Interpretação	teocêntrica
Como	mencionado,	o	Revised	Common	Lectionary	atribui	esta	passagem	sobre
os	tempos	ao	Ano-Novo.	Infelizmente,	essa	colocação	do	texto	no	Ano-Novo
pode	estimular	os	pregadores	a	falar	sobre	resoluções	para	o	novo	ano	e	sobre
como	devemos	agir	no	tempo	oportuno.	Como	Seow	salienta,	“o	poema	é
popularmente	entendido	como	significando	que	há	momentos	apropriados	para
as	pessoas	agirem	e,	no	momento	adequado,	até	mesmo	uma	situação	censurável
pode	ser	“bela	ao	seu	próprio	modo”.²⁵	Se	quisermos	desenvolver	o	sermão	nessa
direção	de	pessoas	agindo	no	tempo	adequado,	acabaremos	com	um	sermão
centrado	no	ser	humano	e	perderemos	a	intenção	do	autor.	É	por	isso	que,	antes
de	formular	o	tema	textual,	é	importante	levantar	a	questão:	O	que	esta	passagem
diz	sobre	Deus?
William	Brown	escreve:	“Muito	embora	a	humanidade	seja	o	sujeito	gramatical
dos	vários	infinitivos	–	pessoas	plantam	e	arrancam,	pranteiam	e	saltam	de
alegria	–,	o	sujeito	humano	de	maneira	nenhuma	é	o	determinante	dos	eventos.
O	Qohelet	deixa	claro	que	somente	Deus	é	quem	determina;	Deus	é	o	ator
primário,	embora	implícito,	do	cenário	temporal.	A	oscilação	sempre	constante
do	pêndulo	do	tempo	é	suspensa	e	sustentada	firmemente	por	Deus”.²
Muito	embora	Deus	não	seja	mencionado	na	tese	inicial	e	no	poema	sobre	os
tempos	(v.2-8),	a	sequência	deixa	claro	que	é	Deus	quem	estabelece	os	tempos.
Deus	deu	“um	trabalho	aos	filhos	dos	homens”	(v.10).	Além	disso,	ele	nos	dá
comida,	bebida	e	prazer	no	trabalho	(v.13).	Deus	fez	“tudo	formoso	no	seu
devido	tempo”	(v.11a)	e	colocou	a	noção	de	eternidade	no	coração	humano
(v.11b).	Deus	age	desde	o	princípio	até	ao	fim	(v.11c)	e	renova	“o	que	se	passou”
(v.15c).	Tudo	o	que	ele	faz	“dura	eternamente”	(v.14a).	“Isto	faz	Deus	para	que
os	homens	temam	diante	dele”	(v.14c).
Tema	e	objetivo	textual
Whybray	escreve:	“O	tema	de	toda	a	seção	é	inconfundível	e	enfaticamente
proclamado	pela	ocorrência	da	palavra-chave	[tempo]	não	menos	que	vinte	e
nove	vezes	nos	oito	primeiros	versos	e	também	pela	sua	ocorrência	no	verso
11a”.²⁷	A	frequente	repetição	dessa	palavra-chave	certamente	nos	dá	uma	pista
do	tema	desta	passagem.	A	questão,	contudo,	é:	O	que	o	autor	quer	dizer	sobre	o
tempo?	Ele	está	falando	sobre	os	seres	humanos	discernirem	o	tempo	correto
para	agir,	sobre	Deus	determinando	os	tempos	ou	sobre	as	duas	coisas?	Embora
a	passagem	fale	sobre	“trabalhador”	(v.9),	em	nenhum	lugar	ela	deixa	explícito
que	as	pessoas	devem	agir	no	tempo	certo.	Pelo	contrário,	ela	claramente	afirma
que	Deus	estabelece	os	tempos.	De	fato,	ele	“tudo	fez	formoso	no	seu	devido
tempo”	(v.11).	O	verso-chave	é	encontrado	na	conclusão:	“Sei	que	tudo	quanto
Deus	faz	durará	eternamente...	e	isto	faz	Deus	para	que	os	homens	temam	diante
dele”	(v.14).	Essas	considerações	levam	à	seguinte	declaração	temática:	O	Deus
soberano	estabelece	os	tempos	para	sempre	para	que	as	pessoas	o	temam.
O	objetivo	do	autor	ao	apresentar	sua	mensagem	a	Israel	está	implícito	no
objetivo	de	Deus	afirmado	no	verso	14:	“para	que	os	homens	temam	diante
dele”.	Mas	o	objetivo	do	autor	é	mais	do	que	simplesmente	encorajar	Israel	a
temer	a	Deus.	Com	seu	longo	poema	sobre	os	tempos	e	os	argumentos	seguintes,
ele	procura	convencer	Israel	a	temer	diante	de	Deus.	Portanto,	podemos	formular
o	objetivo	do	autor	da	seguinte	forma:	Convencer	os	israelitas	a	temer	diante	de
Deus,	seu	Deus	soberano.
Maneiras	de	pregar	Cristo
Como	podemos	nos	mover	do	tema	declarado	para	Jesus	Cristo,	no	Novo
Testamento?	Esta	passagem	não	contém	uma	promessa	da	vinda	do	Messias	nem
um	tipo	de	Cristo.	Isso	nos	deixa	com	cinco	maneiras	de	explorar.	Como	a
progressão	histórico-redentiva	e	os	temas	longitudinais	mais	uma	vez	estão
entrelaçados,	nós	os	combinaremos.
Progressão	histórico-redentiva/Temas	longitudinais
Esta	combinação	provavelmente	oferece	o	melhor	caminho	para	chegarmos	a
Cristo,	no	Novo	Testamento.	Iain	Provan	observa:	“Que	Deus,	não	seres	mortais,
controla	os	“tempos”	é	uma	convicção	bíblica	fundamental.	Assim,	o	relato
bíblico	do	passado	de	Israel	não	foca	primariamente	forças	políticas	e	sociais,
que	dirigem	a	história,	nem	os	grandes	heróis	que,	segundo	se	diz,	moldam	sua
direção.	Ele	retrata	o	passado,	em	vez	disso,	como	uma	entidade	formada	por
Deus,	que	age	em	graça	e	juízo,	no	meio	de	todas	as	ações	de	seus	participantes
humanos	e	de	outros	participantes”.²⁸	Pode-se	traçar	esse	tema	de	Deus
controlando	os	temas	no	Antigo	Testamento	de	Gênesis	a	Malaquias² 	e	entrando
no	Novo	Testamento.
No	tempo	determinado,	também	chamado	“plenitude	do	tempo”,	Deus	enviou
seu	Filho,	Jesus	Cristo,	a	este	mundo.	Paulo	escreve:	“(...)	vindo,	porém,	a
plenitude	do	tempo,	Deus	enviou	seu	Filho,	nascido	de	mulher,	nascido	sob	a	lei,
para	resgatar	os	que	estavam	sob	a	lei,	a	fim	de	que	recebêssemos	a	adoção	de
filhos”	(Gl	4.4-5).	Jesus	começou	seu	ministério	pregando:	“O	tempo	está
cumprido,	e	o	reino	de	Deus	está	próximo;	arrependei-vos	e	crede	no	evangelho”
(Mc	1.15).	Quando	as	autoridades	tentaram	prender	Jesus,	João	relata	que
“ninguém	lhe	pôs	a	mão,	porque	ainda	não	era	chegada	a	sua	hora”	(Jo	7.30).
Mas	a	hora	de	Jesus	veio	logo:	“(...)	antes	da	Festa	da	Páscoa,	sabendo	Jesus	que
era	chegada	a	sua	hora	de	passar	deste	mundo	para	o	Pai...”	(Jo	13.1).	Jesus	disse
aos	seus	discípulos:	“Ide	à	cidade	ter	com	certo	homem	e	dizei-lhe:	O	Mestre
manda	dizer:	O	meu	tempo	está	próximo;	em	tua	casa	celebrarei	a	Páscoa	com
os	meus	discípulos”	(Mt	26.18).	Mais	tarde,	Paulo	escreve:	“(...)	Cristo,	quando
nós	ainda	éramos	fracos,	morreu	a	seu	tempo	pelos	ímpios”	(Rm	5.6).
Jesus	ressuscitou	dos	mortos,	prometeu	voltar	e	subiu	ao	céu.	Ele	havia	predito
que,	antes	de	sua	segunda	vinda,	haveria	um	tempo	de	grande	tribulação:	“(...)
Nesse	tempo	haverá	grande	tribulação,	como	desde	o	princípio	do	mundo	até
agora	não	tem	havido	e	nem	jamais	haverá”.	Mas	“Logo	em	seguida	à	tribulação
daqueles	dias...	aparecerá	no	céu	o	sinal	do	Filho	do	Homem;	todos	os	povos	da
terra	se	lamentarão	e	verão	o	Filho	do	Homem	vindo	sobre	as	nuvens	do	céu,
com	poder	e	muita	glória.	E	ele	enviará	os	seus	anjos,	com	grande	clangor	de
trombeta,	os	quais	reunirão	os	seus	escolhidos,	dos	quatro	ventos,	de	uma	a	outra
extremidade	dos	céus”	(Mt	24.21,	29-31).
Enquanto	vivemos	nessa	época	de	interlúdio,	Paulo	nos	orienta:	“Exorto-te,
perante	Deus,	que	preserva	a	vida	de	todas	as	coisas,	e	perante	Cristo	Jesus,	que,
diante	de	Pôncio	Pilatos,	fez	a	boa	confissão,	que	guardes	o	mandato	imaculado,
irrepreensível,	até	à	manifestação	de	nosso	Senhor	Jesus	Cristo;	a	qual,	em	suas
épocas	determinadas,	há	de	ser	revelada	pelo	bendito	e	único	Soberano,	o	Rei
dos	Reis	e	Senhor	dos	senhores	(1Tm	6.13-15).
Analogia
Assim	como	o	Pregador	afirmou	que	Deus	estabeleceu	os	tempos,	Jesus	ensina
que	Deus	estabeleceu	o	tempo	para	a	vinda	do	“Filho	do	Homem”.	“(...)	a
respeito	daquele	dia	e	hora	ninguém	sabe,	nem	os	anjos	dos	céus,	nem	o	Filho,
senão	o	Pai”	(Mt	24.36).	Mas,	enquanto	o	Pregador	chegou	à	conclusão	de	que
devemos	temer	diante	de	Deus,	Jesus	chega	à	conclusão	de	que	devemos
“vigiar”	e	“ficar	apercebidos”	(Mt	24.42,44).
Referências	do	Novo	Testamento
Em	adição	às	referências	mencionadas	acima,	também	podemos	considerar
Mateus	16.1-4.	Imediatamente	após	Jesus	ter	curado	muitas	pessoas	e
alimentado	quatro	mil	pessoas	(Mt	15.29-39),
Aproximando-se	os	fariseus	e	saduceus,	tentando-o,	pediram-lhe	que	lhes
mostrasse	um	sinal	vindo	do	céu.	Ele,	porém,	lhes	respondeu:	Chegada	a	tarde,
dizeis:	Haverá	bom	tempo,	porque	o	céu	está	avermelhado;	e,	pela	manhã:	Hoje,
haverá	tempestade,	porque	o	céu	está	de	um	vermelho	sombrio.	Sabeis,	na
verdade,	discernir	o	aspecto	do	céu	e	não	podeis	discernir	os	sinais	dos	tempos?
Uma	geração	má	e	adúltera	pede	um	sinal;	e	nenhum	sinal	lhe	será	dado,	senão	o
de	Jonas	(Mt	16.1-4).
Os	“sinais	dos	tempos”	que	Jesus	temem	mente	são	sua	chegada,	sua	pregação	e
seus	milagres;	estes	sinais	mostram	que	o	reino	de	Deus,	há	muito	esperado,	está
próximo.	Quando	iniciou	seu	ministério,	Jesus	proclamou:	“O	tempo	está
cumprido,	e	o	reino	de	Deus	está	próximo;	arrependei-vos	e	crede	no	evangelho”
(Mc	1.15).
Contraste
Não	há	contraste	entre	a	mensagem	do	Pregador	e	a	do	Novo	Testamento.
Tema	e	objetivo	do	sermão
Como	o	Novo	Testamento	não	muda	o	tema	do	autor,	o	tema	do	sermão	pode	ser
idêntico:	O	Deus	soberano	estabelece	os	tempos	para	sempre	para	que	as	pessoas
o	temam.
O	objetivo	do	autor	ao	apresentar	esta	mensagem	a	Israel	é	igualmente	válido
hoje:	Convencer	os	ouvintes	a	temer	diante	de	Deus,	seu	Deus	soberano.	Este
objetivo	aponta	para	a	necessidade	tratada	neste	sermão:	as	pessoas	não	temem
diante	de	Deus.
Exposição	do	sermão
Pode-se	começar	o	sermão	com	uma	ilustração	contemporânea	de	pessoas	que
não	temem	diante	de	Deus.	Um	ateu	nega	a	própria	existência	de	Deus;	insulta	a
Deus;	usa	o	nome	de	Deus	em	vão.	Um	cientista	moderno	alega	que	a	verdadeira
ciência	deve	explicar	a	origem	do	cosmos	sem	referência	a	Deus.	Um
evangelista	místico	tenta	manipular	Deus,	frequentemente	usando	o	nome	dele	e
o	de	Jesus	em	trabalhos	de	cura,	com	o	objetivo	final	de	enriquecer.	Um	cristão
fala	com	Deus	em	oração	como	se	Deus	fosse	um	mero	colega.	Um	teólogo
disseca	a	natureza	de	Deus	como	se	Deus	fosse	uma	criatura.	Em	nosso	trabalho,
todos	nós	temos	momentos	em	que	pensamos	que	só	nós	somos	responsáveis	e
nos	esquecemos	de	Deus.
Quando	o	Pregador	escreveu	esta	mensagem	a	Israel,	os	israelitas	também
estavam	ocupados	comprando	e	vendendo,	fazendo	fortunas	e	perdendo-as,
pensando	que	só	eles	eram	responsáveis.	Eles	não	temiam	diante	de	Deus.	O
Pregador	começa	a	se	opor	a	este	problema	de	forma	suficientemente	inocente,
lembrando	a	Israel	e	a	nós	hoje	que	há	tempo	para	tudo.
Eclesiastes	3.1:	“Tudo	tem	o	seu	tempo	determinado,	e	há	tempo	para	todo
propósito	debaixo	do	céu”.	Para	tudo	há	um	tempo	apropriado.	A	vida	humana
não	é	um	acaso.	Há	um	tempo	apropriado	para	“todo	propósito	debaixo	do	céu”.
Ele	ilustra	seu	argumento	com	um	poema	sobre	os	tempos.	Esse	poema
menciona	a	palavra	“tempo”	vinte	e	oito	vezes.	Há	tempo	para	isso	e	tempo	para
aquilo	–	vinte	e	oito	vezes.	“Parece	um	relógio	que,	inexorável	e
independentemente	dos	desejos	das	pessoas,	continua	funcionando.	Aconteça	o
que	acontecer,	e	não	há	nada	que	se	possa	fazer	sobre	isso”.³
O	poema	começa	com	os	tempos	que	começam	e	terminam	a	vida	humana.
Verso	2:	“Tempo	de	nascer	e	tempo	de	morrer”.	Não	decidimos	nascer,	muito
menos	o	tempo	de	nascer.	E	não	decidimos	o	tempo	de	morrer.	O	tempo	de
nascer	e	o	tempo	de	morrer	estão	fora	do	nosso	controle.
O	poema	combina	a	este	primeiro	par	um	segundo	par:
[tempo	de	nascer					e	tempo	de	morrer];
Tempo	de	plantar					e	tempo	de	arrancar	o	que	se	plantou.
Novamente,	não	controlamos	o	tempo	de	plantar	nem	o	de	arrancar	o	que	foi
plantado.	Plantamos	nossas	árvores	frutíferas	no	tempo	apropriado	e,	quando
ficam	velhas	e	não	produzem	mais	fruto,	nós	as	arrancamos.	Plantamos	nossas
flores	na	primavera	e,	no	outono,	as	arrancamos.	Somos	livres,	é	claro,	para
plantar	flores	fora	do	tempo	adequado.	Podemos	decidir	plantar	nossas	flores	no
meio	do	inverno.	Somos	livres	para	ignorar	os	tempos	apropriados,	mas	isso
seria	tolice.	Somos	livres	para	plantar	sempre	que	quisermos,	mas	não	podemos
controlar	o	tempo	apropriado.
Verso	3:	“Tempo	de	matar	e	tempo	de	curar”.	Novamente,	não	controlamos	o
tempo	apropriado	para	isso.	Não	podemos	matar	em	qualquer	tempo,	mas	há
tempo	apropriado	para	isso.	Por	exemplo,	para	autodefesa	em	tempo	de	guerra.
Mas	também	há	tempo	apropriado	para	curar,	isto	é,	para	preservar	a	vida
quando	a	guerra	termina	e	o	tratado	de	paz	é	assinado.
Associado	a	“tempo	de	matar	e	tempo	de	curar”,	está	“tempo	de	derribar	e	tempo
de	edificar”.	Novamente	podemos	pensar	em	um	tempo	de	guerra.	“Um	exército
invasor	derruba	edifícios,	mas,	depois	que	as	hostilidades	cessam,	eles	são
reconstruídos”.³¹	Mas	também	podemos	pensar	de	maneira	mais	ampla:	“Na
antiga	Palestina,	a	construção	geralmente	requeria	o	desmantelamento	de
estruturas	de	pedra	já	existentes”.³²	O	mesmo	acontece	hoje	em	nossas	cidades
do	interior.	Prédios	são	derrubados,	implodidos,	para	dar	lugar	a	edifícios	mais
modernos.	“Tempo	de	derribar	e	tempo	de	edificar”.
Verso	4:
Tempo	de	chorar	e	tempo	de	rir;
Tempo	de	prantear	e	tempo	de	saltar	de	alegria.
Há	tempos	apropriados	para	chorar	e	para	rir.	A	segunda	linha	intensifica	o
tempo	de	chorar:	é	um	tempo	de	prantear.	No	funeral	de	uma	pessoa	amada,	não
apenas	choramos,	mas	pranteamos	profundamente.	Mas	então,	novamente,	há
um	tempo	em	que	é	apropriado	não	apenas	rir,	mas	saltar	e	dançar	de	alegria.³³
Verso	5:
Tempo	de	espalhar	pedras	e	tempo	de	ajuntar	pedras;
Tempo	de	abraçar	e	tempo	de	afastar-se	de	abraçar.
Novamente	podemos	pensar	em	um	tempo	de	guerra.	“Durante	a	guerra,	pedras
são	jogadas	em	campos	cultiváveis	para	torná-los	inúteis”.³⁴	Aqueles	que	já
estiveram	em	Israel	se	lembrarão	que,	ainda	hoje,	uma	das	principais
características	da	Palestina	é	a	grande	quantidade	de	pedras.	Lemos	em	2Reis
que	Israel,	em	sua	guerra	contra	Moabe,	foi	instruído:	“Danificareis	com	pedras
todos	os	bons	campos”;	e	Israel	concordou:	“(...)	cada	um	lançou	a	sua	pedra	em
todos	os	bons	campos,	e	os	entulharam”	(3.19,25).	Como	resultado,	os	moabitas
não	podiam	semear	seus	campos	nem	fazer	suas	colheitas.	“Em	tempo	de	paz,	as
pedras	tinham	que	ser	retiradas	do	campo	antes	do	cultivo;	nas	ladeiras,	essas
pedras	eram	geralmente	organizadas	em	terraços,	para	evitar	a	erosão,	armazenar
água	da	chuva	e	permitir	que	ela	penetrasse	no	solo”.³⁵
A	linha	que	faz	par	com	“tempo	de	espalhar	pedras	e	tempo	de	ajuntar	pedras”	é
“tempo	de	abraçar	e	tempo	de	afastar-se	de	abraçar”.	Também	se	pode	associar
esta	linha	a	tempos	de	guerra	e	paz.	Em	um	tempo	de	guerra,	a	pessoa	se	abstém
de	abraçar	o	inimigo,	enquanto,	em	tempo	de	paz,	pode	abraçar	aquele	que
outrora	foi	seu	inimigo.³ 	Mas	também	se	pode	pensar	de	maneira	mais	ampla:
há	tempos	apropriados	para	abraçar,	como	quando	uma	pessoa	se	casa,	e	tempos
apropriados	para	afastar-se,	como	quando	alguém	contrai	lepra	ou	outra
enfermidade	contagiosa.	Verso	6:
Tempo	de	buscar	e	tempo	de	perder;	tempo	de	guardar
e	tempo	de	deitar	fora.
Há	tempo	apropriado	para	buscar,	isto	é,	adquirir	posses,³⁷	e	tempo	apropriado
para	perder	posses.	“A	referência	pode	ser	à	família,	quando	as	mulheres
procuravam	alguma	coisa	(como	na	parábola	da	dracma	perdida)	que	tinha	sido
perdida.	Facilmente	se	pode	pensar	em	várias	circunstâncias	em	que	procurar	era
oportuno	e	em	que	uma	busca	infrutífera	finalmente	justificava	a	decisão	de
considerar	o	objeto	permanentemente	perdido”.³⁸
Esta	linha	está	em	par	com	“tempo	de	guardar	e	tempo	de	deitar	fora”.	Há	um
tempo	apropriado	para	guardar	posses,	mas	também	há	um	tempo	apropriado
para	“deitar	fora”,	descartar	posses.	Uma	fonte	antiga	“menciona	o	descarte	da
carga	de	um	navio	em	uma	tempestade”.³ 	Pense	nos	marinheiros	do	barco	onde
estava	Jonas	lançando	a	carga	no	mar	para	aliviar	a	embarcação	durante	a
tempestade.	Ainda	hoje,	com	o	declínio	da	atividade	comercial,	as	pessoas
podem	pensar	que	este	é	o	tempo	adequado	para	liquidar	certos	estoques.
Certamente	para	os	casais	mais	velhos	chega	o	tempo	de	“abrir	mão”.	Verso	7:
Tempo	de	rasgar	e	tempo	de	coser.
Esta	linha	se	refere	claramente	a	antigas	práticas	de	demonstração	de	tristeza.
Quando	as	pessoas	pranteavam	a	morte	de	um	ente	querido,	expressavam	sua
tristeza	rasgando	suas	roupas.	Por	exemplo,	quando	Rubem	pensou	que	seu
irmão	mais	novo,	José,	havia	sido	morto,	ele	“rasgou	as	suas	vestes”.	Quando
mais	tarde	Jacó	pensou	que	seu	filho	preferido	estava	morto,	ele	“rasgou	as	suas
vestes”	(Gn	37.29,34).⁴ 	Mas,	quando	o	tempo	de	prantear	passava,	as	pessoas
costuravam	suas	roupas	de	novo.
Esta	linha	está	emparelhada	com	“tempo	de	estar	calado	e	tempo	de	falar”.	As
pessoas	expressavam	a	tristeza	pelamorte	de	um	ente	querido	mantendo
silêncio.	Os	amigos	de	Jó	“sentaram-se	com	ele	na	terra,	sete	dias	e	sete	noites;	e
nenhum	lhe	dizia	palavra	alguma,	pois	viam	que	a	dor	era	muito	grande”	(Jó
2.13).	Quando	o	tempo	de	prantear	terminava,	era	novamente	“tempo	de	falar”.
Mas	o	“tempo	de	estar	calado”	não	precisava	ser	restrito	a	um	tempo	de	tristeza.
“O	foco...	pode	estar	associado	ao	importantíssimo	tema	sapiencial	de	saber	o
tempo	adequado	para	falar	e	para	abster-se	de	falar”.⁴¹
As	linhas	finais	do	poema	estão	no	verso	8:
Tempo	de	amar	e	tempo	de	aborrecer;⁴²
Tempo	de	guerra	e	tempo	de	paz.
“Tempo	de	aborrecer”	está	ligado	a	“tempo	de	guerra”,	enquanto	“tempo	de
amar”	está	ligado	a	“tempo	de	paz”.	O	poema	termina	com	este	grande	contraste:
“Tempo	de	guerra	e	tempo	de	paz”.	“De	acordo	com	a	Midrash	[uma	exposição
judaica],	este	par	resume	vários	outros,	a	saber,	arrancar/plantar,	buscar/perder,
derrubar/edificar,	matar/curar,	rasgar/coser	e	odiar/amar”.⁴³
O	poema	se	parece	muito	com	o	poema	sobre	os	ciclos	da	natureza,	no	capítulo
1:
Geração	vai	e	geração	vem...
Levanta-se	o	sol	e	põe-se	o	sol...
O	vento	vai	para	o	sul	e	faz	o	seu	giro	para	o	norte...	(1.4-6).
Assim	como	vemos	estes	ciclos	repetidos	na	natureza,	também	observamos
tempos	determinados	para	a	vida	na	terra:
(...)	tempo	de	nascer	e	tempo	de	morrer;
tempo	de	plantar	e	tempo	de	arrancar	o	que	se	plantou	(...)
–	e	assim	por	diante.
E	assim	como	o	Pregador	levantou	a	questão	no	capítulo	1,	“que	proveito	tem	o
homem	de	todo	o	seu	trabalho,	com	que	se	afadiga	debaixo	do	sol”	(1.3),	aqui,
ele	levanta	a	questão	no	verso	9:	“Que	proveito	tem	o	trabalhador	naquilo	com
que	se	afadiga?”	A	resposta	esperada	é	a	mesma.	O	trabalhador	não	tem	nenhum
proveito	em	seu	trabalho.	Percebe	como	um	tempo	anula	o	outro?	“Tempo	de
nascer	e	tempo	de	morrer”.	Nada	resta.	Um	tempo	de	plantar	nossas	flores	na
primavera	e	tempo	de	arrancá-las	no	outono.	Não	há	ganho.	“Tempo	de	derrubar
e	tempo	de	edificar”.	Nada	mudou.	“Que	proveito	o	trabalhador	tem	naquilo	com
que	se	afadiga?”	Absolutamente	nenhum.⁴⁴
Até	aqui	o	Pregador	não	disse	nada	sobre	o	modo	e	a	razão	dos	tempos.	Ele
meramente	ilustrou	que	há	tempo	para	tudo	e	que	esses	tempos	se	anulam.	Mas
quem	estabeleceu	esses	tempos?	E	por	quê?	Na	próxima	seção,	ele	responderá	a
essas	perguntas	importantes.	Ele	escreve	nos	versos	10	e	11:	“Vi	o	trabalho⁴⁵	que
Deus	impôs	aos	filhos	dos	homens,	para	com	ele	os	afligir.	Tudo	fez	Deus
formoso	no	seu	devido	tempo	(...)”.	O	Deus	soberano	estabeleceu	os	tempos.	Ele
é	aquele	que	fez	“tudo	formoso	no	seu	devido	tempo”.	O	“tudo”	refere-se	ao
verso	1,	“Tudo	tem	o	seu	tempo	determinado,	e	há	tempo...”	Isso	inclui	os
tempos	de	nascer	e	morrer,	plantar	e	arrancar,	guerra	e	paz.	Deus	soberanamente
estabeleceu	todos	esses	tempos.
Deus	também	estabeleceu	o	tempo	em	que	Jesus	nasceria.	O	Novo	Testamento	o
chama	de	“plenitude	do	tempo”.	Paulo	escreve:	“vindo,	porém,	a	plenitude	do
tempo,	Deus	enviou	seu	Filho,	nascido	de	mulher,	nascido	sob	a	lei,	para
resgatar	os	que	estavam	sob	a	lei,	a	fim	de	que	recebêssemos	a	adoção	de	filhos”
(Gl	4.4-5).	Jesus	estava	muito	consciente	dos	tempos	estabelecidos	por	Deus.	Ele
começou	seu	ministério	pregando:	“O	tempo	está	cumprido,	e	o	reino	de	Deus
está	próximo;	arrependei-vos	e	crede	no	evangelho”	(Mc	1.15).	Jesus	também
sabia	que	Deus	tinha	estabelecido	um	tempo	para	sua	morte.	Pouco	antes	de	sua
crucificação,	Jesus	disse	aos	seus	discípulos:	“Ide	à	cidade	ter	com	certo	homem,
e	dizei-lhe:	O	Mestre	manda	dizer:	O	meu	tempo	está	próximo;	em	tua	casa
celebrarei	a	Páscoa	com	os	meus	discípulos”	(Mt	26.18).	Naquela	noite,	Jesus
transformou	a	Páscoa	do	Antigo	Testamento	na	Ceia	do	Senhor.	Ele	“(...)	tomou
um	cálice	e,	tendo	dado	graças,	o	deu	aos	discípulos,	dizendo:	Bebei	dele	todos;
porque	isto	é	o	meu	sangue,	o	sangue	da	[nova]	aliança,	derramado	em	favor	de
muitos,	para	remissão	de	pecados.	E	digo-vos	que,	desta	hora	em	diante,	não
beberei	deste	fruto	da	videira,	até	aquele	dia	em	que	o	hei	de	beber,	novo,
convosco,	no	reino	de	meu	Pai”	(Mt	26.27-29).
Jesus	morreu	e,	no	tempo	determinado	(Mc	8.31),	ressuscitou	dos	mortos.	Antes
de	subir	ao	céu,	Jesus	se	encontrou	com	seus	discípulos.	Eles	lhe	perguntaram:
“Senhor,	será	este	o	tempo	em	que	restaures	o	reino	a	Israel?”	Jesus	respondeu:
“Não	vos	compete	conhecer	tempos	ou	épocas	que	o	Pai	reservou	pela	sua
própria	autoridade.”	Deus	soberanamente	estabeleceu	os	tempos.	Mas	os	anjos
asseguraram	aos	discípulos:	“Esse	Jesus	que	dentre	vós	foi	assunto	ao	céu	virá
do	modo	como	o	vistes	subir”	(At	1.6-7,11).	No	tempo	de	Deus,	Jesus	virá
novamente	para	estabelecer	o	reino	de	Deus	na	terra	com	perfeição.	“Tudo	fez
Deus	formoso	no	seu	devido	tempo”.
O	Pregador	continua,	no	verso	11:	“Também	pôs	a	eternidade	no	coração	do
homem,	sem	que	este	possa	descobrir	as	obras	que	Deus	fez	desde	o	princípio
até	ao	fim”.	Assim	como	Jesus	disse	aos	seus	discípulos	“não	vos	compete
conhecer	tempos”,	assim	também	o	Pregador	do	Antigo	Testamento	declara	que
o	ser	humano	não	pode	“descobrir	as	obras	que	Deus	fez	desde	o	princípio	até	ao
fim”.	Não	sabemos	o	que	Deus	fez	no	passado	distante	nem	o	que	fará	no	futuro
distante.
Na	verdade,	o	Pregador	também	diz	aqui	que	Deus	“pôs	a	eternidade	no	coração
do	homem”.	Diferentemente	dos	animais,	que	vivem	somente	o	presente,
podemos	estudar	o	passado	e	contemplar	o	futuro.	Deus	nos	deu	o	tipo	de
autoconsciência	que	nos	permite	transcender	o	presente	e	refletir	sobre	o	passado
e	o	futuro.⁴ Mas	ainda	não	conseguimos	compreender	o	quadro	inteiro.	“Somos
como	uma	pessoa	desesperadamente	míope,	tateando	uma	grande	tapeçaria	ou
um	afresco	para	tentar	compreendê-lo.	Vemos	o	suficiente	para	reconhecer	algo
de	sua	qualidade,	mas	o	grande	desenho	nos	escapa,	pois	nunca	conseguimos
recuar	o	suficiente	para	vê-lo	como	o	Criador	vê,	tudo	ao	mesmo	tempo,	do
início	ao	fim”.⁴⁷
Como	somos	incapazes	de	entender	completamente	o	significado	dos	tempos	de
Deus,	o	Pregador	conclui,	nos	versos	12	e	13:	“Sei	que	nada	há	melhor	para	o
homem	do	que	se	regozijar	e	levar	vida	regalada;	e	também	que	é	dom	de	Deus
que	possa	o	homem	comer,	beber	e	desfrutar	o	bem	de	todo	o	seu	trabalho”.	Este
conselho	é	um	eco	da	conclusão	anterior:	como	todos	os	esforços	humanos	são
vaidade,	“nada	há	melhor	para	o	homem	do	que	comer,	beber	e	fazer	que	sua
alma	goze	o	bem	do	seu	trabalho.	No	entanto,	vi	também	que	isto	vem	da	mão
de	Deus”	(2.24).	Nesse	caso,	como	os	seres	humanos	não	conseguem	entender
os	tempos	que	Deus	estabeleceu,	muito	menos	controlá-los,	é	melhor	se
concentrarem	no	presente:	desfrutar	das	dádivas	de	comida,	bebida	e	trabalho.⁴⁸
Mas	há	mais.	O	verso	14	é	o	verso-chave	de	toda	esta	passagem:	“Sei	que	tudo
quanto	Deus	faz⁴ 	durará	eternamente;⁵ 	nada	se	lhe	pode	acrescentar	e	nada	lhe
tirar;	e	isto	faz	Deus	para	que	os	homens	temam	diante	dele”.	Aqui	finalmente
temos	uma	resposta	à	pergunta	“por	que	Deus	estabeleceu	os	tempos?”	O
Pregador	diz:	“Tudo	quanto	Deus	faz	durará	eternamente”.	Os	tempos	que	Deus
estabeleceu	são	permanentes	e	imutáveis.⁵¹	“Nada	se	lhe	pode	acrescentar	e	nada
lhe	tirar”.	Não	podemos	acrescentar	nada	ao	passado	nem	tirar	nada	dele.	Da
mesma	forma,	não	podemos	acrescentar	nada	ao	futuro,	nem	tirar	nada	dele.	O
ponto	é	que	“aquilo	que	Deus	fizer	invariavelmente	será	feito,	e	nenhum	ser
humano	pode	esperar	alterar	o	curso	das	coisas	por	seu	próprio	esforço”.⁵²	“Isto
faz	Deus”,	conclui	o	Pregador	no	verso	14,	“(...)	para	que	os	homens	temam
diante	dele”.	Foi	por	isso	que	Deus	estabeleceu	os	tempos:	“Para	que	os	homens
temam	diante	dele”.	Este	foi	o	propósito	de	Deus⁵³	ao	estabelecer	os	tempos.	Os
tempos	de	Deus	nos	deixam	conscientes	de	nossa	impotência:	não	podemos
controlar	os	tempos.	Os	tempos	de	Deus	nos	deixam	conscientes	de	nossa	total
dependência	de	Deus:	não	podemos	sequer	conhecer	os	tempos.	A	consciência
de	nossa	impotência	e	dependência	nos	faz	temer	diante	de	Deus.	Ele	é	o	Deus
soberano	que	controla	todas	as	coisas.	Jesus	diz:	“Não	se	vendem	dois	pardaispor	um	asse?	E	nenhum	deles	cairá	em	terra	sem	o	consentimento	do	vosso	Pai.
E,	quanto	a	vós	outros,	até	os	cabelos	todos	da	cabeça	estão	contados”	(Mt
10.29-30).	Deus	estabeleceu	os	tempos;	ele	controla	todas	as	coisas.
No	verso	15,	o	Pregador	reitera	mais	uma	vez	sua	afirmação	de	que	Deus
controla	todas	as	coisas:	“O	que	é	já	foi,	e	o	que	há	de	ser	também	já	foi”.	Isto	é,
o	presente	já	esteve	no	passado	e	o	futuro	já	está	no	presente.	Em	outras
palavras,	“passado,	presente	e	futuro	estão	unidos”.⁵⁴	O	fim	do	verso	15	repete
esta	noção:	“Deus	fará	renovar-se	o	que	se	passou”,⁵⁵	isto	é,	Deus	renova	os
eventos	do	passado	e	os	traz	à	existência.⁵ 	O	pensamento	é	similar	ao	do	poema
inicial:	“O	que	foi	é	o	que	há	de	ser;	e	o	que	se	fez,	isso	se	tornará	a	fazer;	nada
há,	pois,	novo	debaixo	do	sol”	(1.9).	Os	tempos	de	Deus	não	apenas	“durarão
eternamente”	(v.14a),	mas	também	formam	um	todo	coerente	(v.15).
O	ponto	é	que	Deus	está	no	controle	dos	tempos.	E,	como	o	verso	14	afirma,
“isto	[ie.,	o	estabelecimento	dos	tempos	para	sempre]	faz	Deus	para	que	os
homens	temam	diante	dele”.	O	Deus	soberano	estabeleceu	os	tempos	para
sempre,	diz	o	texto,	literalmente,	“para	que	todos	temam	diante	dele”	–	para	que
todos	reverenciem	a	Deus;	para	que	todos	honrem	a	Deus	como	o	Deus
soberano.⁵⁷
Por	que	geralmente	não	tememos	a	Deus?	Por	que	geralmente	pensamos	que	só
nós	estamos	no	comando	e	nos	esquecemos	de	Deus?	Por	que	é	que	mesmo
quando	nos	lembramos	de	Deus	e	nos	aproximamos	dele	em	oração	fazemos	isso
com	falta	de	reverência	como	se	ele	fosse	nosso	colega	ou	procuramos
manipulá-lo?	Por	que	é	que	geralmente	não	reverenciamos	a	Deus?
Será	que	não	o	reverenciamos	porque	não	o	vemos?	Quando	vemos	um	fogo
aceso	perto	de	nós,	tememos.	Quando	vemos	um	tornado	se	aproximando,
tememos.	Quando	Israel	viu	os	relâmpagos	no	Monte	Sinai	e	ouviu	o	trovão,
“todo	o	povo	que	estava	no	arraial	estremeceu”	(Êx	19.16).	Mas,	quando	os
sinais	da	terrível	presença	de	Deus	foram	embora,	eles	logo	se	rebelaram	contra
Deus.
Devido	à	nossa	falta	de	temor	diante	de	Deus,	o	Pregador	nos	leva	a	considerar	a
mão	de	Deus	que	vemos	na	criação	ao	nosso	redor.	Deus	estabeleceu	os	tempos
aos	quais	estamos	sujeitos.	Deus	estabeleceu	o	tempo	para	nosso	nascimento	e
para	nossa	morte	e	para	tudo	o	que	acontece	entre	uma	e	outra.	Em	outras
palavras,	Deus	está	no	controle	e	somos	completamente	dependentes	dele.
Quando	refletimos	profundamente	sobre	a	grandeza	de	Deus	e	nossa
dependência	de	Deus,	somos	obrigados	a	temer	diante	dele.
Jesus	também	nos	ensinou	a	temer	diante	de	Deus.	Ele	disse:	“Não	temais	os	que
matam	o	corpo	e	não	podem	matar	a	alma;	temei,	antes,	aquele	que	pode	fazer
perecer	no	inferno	tanto	a	alma	como	o	corpo”	(Mt	10.28).	Jesus	também	nos
instruiu	a	nos	dirigirmos	a	Deus	como	“Pai	nosso,	que	estás	nos	céus”	(Mt	6.9).
Deus	está	no	céu.⁵⁸	Isso	significa	que	Deus	é	totalmente	diferente	de	nós,	suas
criaturas.	Ele	é	infinito	e	nós	somos	finitos.	Ele	tem	toda	autoridade	e	nós	somos
seus	súditos.	Ele	controla	os	tempos,	e	nós	somos	sujeitos	aos	tempos.
Só	há	um	modo	de	abordarmos	esse	Deus,	e	esse	modo	é	o	temor.	Quer
busquemos	Deus	em	oração	pessoal	ou	o	adoremos	com	seu	povo,	quer
estudemos	sua	palavra	ou	sua	criação,	só	há	um	modo	de	nos	aproximarmos	de
Deus	–	com	reverência	e	temor.	Como	diz	o	autor	de	Hebreus,	“(...)	recebendo
nós	um	reino	inabalável,	retenhamos	a	graça,	pela	qual	sirvamos	a	Deus	de
modo	agradável,	com	reverência	e	santo	temor;	porque	o	nosso	Deus	é	fogo
consumidor”	(Hb	12.28-29).	Devemos	sempre	nos	aproximar	de	Deus	com
reverência	e	temor.⁵
¹	Esta	é	a	única	passagem	de	Eclesiastes	que	o	Revised	Common	Lectionary
atribui	aos	Anos	ABC.
²	Provan,	Ecclesiastes,	88,	escreve:	“Parece	mais	provável...	que	esta	linha	em
3.5	se	refere	ao	acúmulo	e	à	distribuição	de	bens	e	que	a	imagem	de	ajuntar
pedras	é	usada	para	se	referir	à	prática	de	acumulação.	O	hebraico	(pedra)	pode
ser	usado	para	fazer	referência	a	pedras	preciosas”.
³	Crenshaw,	Ecclesiastes,	97.
⁴	Ibid.,	100.
⁵	Wright,	“Riddle	of	the	Sphinx	Revisited”,	CBQ	42	(1980)	49.	Veja	seu
diagrama	na	p.	21,	acima.	Murphy,	Ecclesiastes,	28-39,	sugere	a	mesma	unidade
sob	o	título	“Uma	reflexão	sobre	tempo	e	trabalho”.	Juntamente	com	outros
comentaristas,	Murphy,	ibid.,	31,	subdivide	esta	unidade	“do	ponto	de	vista	do
conteúdo”	em	quatro	partes:	3.1-15;	3.16-22;	4.1-3;	4.4-6.
	Provan,	Ecclesiastes,	91,	92.	Na	verdade,	pode-se	lidar	com	uma	unidade	maior
em	um	comentário	do	que	em	um	sermão,	que	requer	um	foco	único.
⁷	Whybray,	Ecclesiastes,	65.	Cf.	Ogden,	Qoheleth,	51:	“Esta	seção	tem	um	tema
distintivo	–	tempo	–	que	a	separa	do	capítulo	anterior.	Podemos	fixar	seu	ponto
terminal	em	3.15	com	base	no	fato	de	que	os	versos	16-22	tratam	de	um	tópico
diferente”.
⁸	Joseph	Blenkinsopp,	“Ecclesiastes	3:1-15:	Another	Interpretation”,	JSOT	66
(1995)	63.
	Seow,	Ecclesiastes,	169.
¹ 	“Sendo	um	provérbio,	não	nos	surpreende	encontrar	declarações	que	usam	um
vocabulário	quase	idêntico	em	outros	lugares	(Dt	4.2;	13.1	[12.32];	e,	em	parte,
em	Pv	30.6).”	Longman,	Book	of	Ecclesiastes,123.
¹¹	Para	uma	rápida	revisão	dos	diferentes	tipos	de	paralelismo,	veja	p.	50,	acima.
Para	exemplo	de	paralelismo	sintético,	veja	o	verso	4	em	“Exposição	do
sermão”,	abaixo.
¹²	Para	um	exemplo	concreto	de	como	a	consciência	de	paralelismo	pode	ajudar
na	interpretação,	veja	nota	36,	abaixo.
¹³	Crenshaw,	Ecclesiastes,	93.
¹⁴	Whybray,	Ecclesiastes,	68.	Este	mecanismo	poético	é	chamado	de	“merisma”.
¹⁵	Murphy,	Ecclesiastes,	31.	Loader,	Ecclesiastes,	33-38,	apresenta	um	padrão
mais	elaborado	para	o	poema,	baseado	naquilo	que	considera	tempos	favoráveis
e	desfavoráveis.	Mas	suas	decisões	sobre	o	que	é	favorável	às	vezes	são
especulativas	e	forçam	uma	interpretação	específica	do	texto”	(e.g.,	veja	v.5a).
Para	uma	crítica	do	padrão	de	Loader,	veja	Whybray,	Ecclesiastes,	69,	e	Seow,
Ecclesiastes,	170-71.
¹ 	Leupold,	Exposition	of	Ecclesiastes,	81	(ênfase	sua).	Leupold	justifica	sua
interpretação	alegórica	como	segue	“Pois	assim,	indica	Jerônimo,	esta	passagem
era	interpretada	desde	os	dias	antigos	pelo	judeus	no	Targum...	como	referindo-
se	a	Israel...	Também	pode	ser	demonstrado	que	todas	essas	atividades	para	as
quais	se	diz	que	há	tempo	específico	são	mencionadas,	em	outros	lugares	da
Escritura,	como	formas	de	atividade	em	que	Deus,	em	um	momento	ou	outro,
engajou-se	para	a	correção	ou	para	o	livramento	da	igreja”.	Ibid.,	81-82.
¹⁷	Ibid.,	84.
¹⁸	Kaiser,	Ecclesiastes,	63.
¹ 	Murphy,	Ecclesiastes,	33.	Cf.	Seow,	Ecclesiastes,	160:	“O	sentido	literal	é
adequado,	embora	também	seja	possível	que	esta	linha	continue	o	tema	do	verso
2a,	como	muitos	estudiosos	sugerem.	Isto	é,	‘plantar’	pode	ser	uma	metáfora
para	vida	e	‘arrancar’,	para	morte”.
² 	Provan,	Ecclesiastes,	88.
²¹	Loader,	Ecclesiastes,	36.	A	razão	de	Loader	para	esta	interpretação	é	que	ele
reforça	seu	padrão	geral:	“A	primeira	linha	no	verso	3	é	expandida	pela
segunda”.
²²	Murphy,	Ecclesiastes,	33.	Murphy	continua:	“K.	Galling,	que	salienta	que,	de
outra	forma,	a	metáfora	está	ausente	nos	versos	2-8,	sugere	que	se	trata	de	pedras
para	contagem,	usadas	em	transações	comerciais.	H.	Hertzberg	refere-se	às	ações
de	um	fazendeiro	que	trabalha	em	seu	campo”.
²³	Para	detalhes,	veja	Seow,	Ecclesiastes,	161.
²⁴	Veja	J.	Robert	Wright,	Proverbs,	Ecclesiastes,	223-25.	Por	exemplo,	Wright
cita	Agostinho,	The	Excellence	of	Widowhood	8.11:	“Quanto	a	vocês,	vocês	têm
filhos	e	vivem	naquele	fim	do	mundo	em	que	já	não	é	tempo	para	‘espalhar
pedras,	mas	de	ajuntar;	não	de	abraçar,	mas	de	afastar-se’.	[Este	é	um	tempo]
quando	o	apóstolo	clama:	‘Mas	digo	isto,	irmãos,	o	tempo	é	curto;	aqueles	que
têm	esposa	devem	viver	como	se	não	tivessem’”.
²⁵	Seow,	Ecclesiastes,	169.	Seow	continua:	“Colocado	adequadamente	em	seu
presente	contexto,	contudo,	torna-se	claro	que	o	poema	não	fala	sobre	a
determinação	humana	de	eventos,	nem	sobre	o	discernimento	humano	de	tempos
e	estações.	Ele	fala	sobre	a	atividade	de	Deus	e	a	apropriada	resposta	humana	a
eles”.Ibid.
² 	Brown,	Ecclesiastes,	42.
²⁷	Whybray,	Ecclesiastes,	65-66.
²⁸	Provan,	Ecclesiastes,	94-95.
² 	Veja	ibid.
³ 	Loader,	Ecclesiastes,	35.
³¹	Longman,	Book	of	Ecclesiastes,	115.	Longman	adverte:	“Não	se	pode	forçar
demais	este	argumento,	pois	as	palavras	são	amplamente	usadas	fora	do	contexto
de	guerra”.
³²	Crenshaw,	Ecclesiastes,	94.
³³	Veja	Loader,	Ecclesiastes,	36,	com	referências	ao	salmo	114.4,6,	em	que	o
mesmo	verbo	é	usado.
³⁴	Crenshaw,	Ecclesiastes,	94.	Cf.	Fox,	A	Time	to	Tear	Down,	208.
³⁵	Ibid.	Veja	Isaías	5.2.
³ 	Esta	interpretação	é	justificada	porque	o	paralelismo	invertido	(AB.	B’A’)	está
em	linha	com	o	paralelismo	invertido	do	verso	8	e	liga	o	paralelismo	entre	a
sétima	e	a	décima-quarta	linha	do	poema:	em	tempo	de	guerra,	“espalhar
pedras”;	em	tempo	de	paz,	“ajuntar	pedras”	(v.5a)	e	“tempo	de	guerra	e	tempo	de
paz”	(v.8b).
³⁷	Veja	Murphy,	Ecclesiastes,	34.
³⁸	Crenshaw,	Ecclesiastes,	95.	Seow,	Ecclesiastes,	162,	observa	que	“o	verbo
[para	perder]	é	usado	em	Jeremias	23.1	para	fazer	referência	a	pastores	que
dispersam	as	ovelhas	–	deixam-nas	perecer”.
³ 	Targum;	Fox,	Ecclesiastes,	22.
⁴ 	Veja	também	2Samuel	1.11;	3.31;	e	13.31.
⁴¹	Longman,	Book	of	Ecclesiastes,	117,	com	referência	a	Provérbios	10.19;	13.3;
16.24;	17.27;21.23;	25.11	e	especialmente	15.23.
⁴²	“Até	mesmo	o	ódio	tem	seu	tempo,	como	é	demonstrado	nos	Salmos
imprecatórios	(por	exemplo,	Sl	58.6-11;	137.7-9;	139.19-22;	cf.	Ec	2.18).	Cada
atividade	tem	seu	valor	e	sua	utilidade	relativos,	seu	“lugar”	no	grande	esquema
providencial.”	Brown,	Ecclesiastes,	41.	É	claro,	Jesus	disse:	“Ouvistes	que	foi
dito:	Amarás	o	teu	próximo	e	odiarás	o	teu	inimigo.	Eu,	porém,	vos	digo:	amai
os	vossos	inimigos	e	orai	pelos	que	vos	perseguem”	(Mt	5.43-44).
⁴³	Fox,	Ecclesiastes,	22.
⁴⁴	“Assim	como	os	rios	correm	continuamente	para	o	mar	sem	efeito	(1.7),	assim
também	o	trabalho	incessante	continua	sem	ter	sequer	o	prospecto	de	garantir
ganho	tangível.	Dentro	de	um	estado	de	existência	frágil	com	a	interminável
reciclagem	da	atitvidade	humana	(3.2-8),	a	questão	do	ganho	continua	para
sempre	um	non	sequitur”.	Brown,	“‘Whatever	Your	Hand	Finds	to	Do’,”	Int	55/3
(2001)	277.
⁴⁵	“O	‘trabalho’	em	questão	é	descrito	no	verso	seguinte:	tentar	entender	o	que
Deus	traz	à	existência,	o	que	é,	sem	dúvida,	uma	tarefa	impossível	de	ser
realizada”.	Fox,	Ecclesiastes,	22.	Cf.	Eclesiastes	8.17:	“Então,	contemplei	toda	a
obra	de	Deus	e	vi	que	o	homem	não	pode	compreender	a	obra	que	se	faz	debaixo
do	sol;	por	mais	que	trabalhe	o	homem	para	a	descobrir,	não	a	entenderá;	e,
ainda	que	diga	o	sábio	que	a	virá	a	conhecer,	nem	por	isso	a	poderá	achar”.
⁴ 	“Os	seres	humanos	são	dotados	com	a	facilidade	de	se	afastar	de	situações
imediatas	e	eventos	específicos	que	requerem	sua	atenção	para	ter	um	vislumbre
da	totalidade	da	existência,	inclusive	a	sua	própria.	Este	é	o	objetivo	da
autoconsciência.	No	entanto,	eles	permanecem	ignorantes	da	providência
intencional	que	serve	de	base	para	a	totalidade...	A	capacidade	de	transcender	a
si	mesmo,	de	fato,	aponta	para	o	enigma	da	existência	humana	para	o	Qohelet.
Os	seres	humanos	são	dotados	com	a	capacidade	de	olhar	para	a	além	da
imediaticidade	da	vida,	elevar-se,	delicadamente,	acima	das	circunstâncias	para
sentir	o	eterno,	mas	nunca	são	totalmente	capazes	de	entender	seu	sentido”.
Brown,	Ecclesiastes,43,	44.
⁴⁷	Kidner,	A	Time	to	Mourn,	39.
⁴⁸	“Uma	vez	que	a	busca	pelo	sentido	básico	da	vida	é	frustrada,	o	melhor	a	se
fazer	é	buscar	os	pequenos	e	sensuais	prazeres	da	vida”.	Longman,	Book	of
Ecclesiastes,	121.
⁴ 	“Com	esta	expressão,	[o	Pregador]	certamente	se	refere	a	‘fez’	(v.11)	Deus
formoso	no	seu	devido	tempo,	e,	assim,	recupera	os	versos	1-8”.	Longman,	ibid.,
123.
⁵ 	“Eternamente.	Quer	dizer,	não	limitado	pelo	tempo	e	existindo
invariavelmente	(	).	O	sentido	de	é	esclarecido	pela	linha	seguinte:	‘nada	se	lhe
pode	acrescentar	e	nada	lhe	tirar’”	Seow,	Ecclesiastes,	164.
⁵¹	Veja	Murphy,	Ecclesiastes	35.
⁵²	Seow,	Ecclesiastes,	174.
⁵³	Fox	traduz:	“Deus	quer	que	os	homens	temam	diante	dele”	(assim	introduz
uma	cláusula	de	propósito)”.	A	Time	to	Tear	Down,	212-13.
⁵⁴	Ogden,	Qoheleth,	57.
⁵⁵	Estou	seguindo	a	interpretação	dada	na	tradução	da	NRSV.	Também	se	pode
usar	uma	interpretação	diferente	usando	uma	nota	de	rodapé,	“heb.o	que	é
buscado”.	A	questão	é:	O	que	é	precisamente	que	Deus	renova?	Seow,
Ecclesiastes,	174,	escreve:	“A	frase	final...	parece	sugerir	que	é	Deus	quem
cuidará	do	que	é	buscado,	a	saber,	de	todos	aqueles	assuntos	que	estão	além	do
conhecimento	humano”.	Cf.	ibid.,	166.	Cf.	Brown,	Ecclesiastes,	46:	“Somente
Deus	tem	êxito	em	renovar	e	apreender	tudo	o	que	é	visto	(por	Deus	ou	pelo	ser
humano).	Somente	Deus	determina	o	resultado,	tais	como	quem	vencerá	a
batalha,	quem	receberá	o	ganho	de	outro	e	quem	será	bem-sucedido	(cf.	Pv
16.1,9;	21.31)”.
⁵ 	Cf.Murphy,	Ecclesiastes,	30:	“A	referência,	então,	é	ao	passado	ou	aos	eventos
do	passado,	que	Deus	chamará	de	volta	à	existência,	em	harmonia	com	o
pensamento	do	verso	15a”.	Veja	ibid.,	nota	15,	para	várias	opções	de
interpretação	desta	difícil	sentença.	Crenshaw,	Ecclesiastes,	100,	sugere	que
“Deus	assegura	que	eventos	que	acabaram	de	ocorrer	não	evaporam	no	ar.	Deus
os	traz	de	volta	mais	uma	vez,	de	modo	que	o	passado	circula	o	presente”.	Cf.
Blenkinsopp,	“Ecclesiastes	3:1-15,”	JSOT	66	(1995)	62-63:	“Deus	renova	o	que
se	passou,	isto	é,	Deus	chama	de	volta	ocorrências	que	se	moveram	do	futuro
para	o	presente	e	dali	para	o	passado	para	que	possam	ser	recicladas
eventualmente	em	um	novo	presente”.
⁵⁷	“A	reverência	a	Deus	é	baseada	em	uma	aguda	consciência	da	finitude	da
pessoa	diante	de	Deus,	o	totalmente	Outro	e	totalmente	soberano...	Temor	é	a
resposta	apropriada	ao	mysterium	tremendum”.	Brown,	Ecclesiastes,	45.
Cf.Murphy,	Ecclesiastes,	lxiv:	“O	sentido	fundamental	é	reverência	diante	do
numinoso,	do	tremendum	(Êx	20.18-21)”.
⁵⁸	Cf.	Eclesiastes	5.2,	“Deus	está	nos	céus,	e	tu,	na	terra”.
⁵ 	Uma	meditação	baseada	nesta	pesquisa	é	encontrada	no	Apêndice	3,	abaixo.
CAPÍTULO	5
Trabalhando	em	um	mundo	ímpio
Eclesiastes	3.16–4.6
Melhor	é	um	punhado	de	descanso
do	que	ambas	as	mãos	cheias	de
trabalho	e	correr	atrás	do	vento.
(Ec	4.6)
Esta	passagem	trata	do	trabalho	em	um	mundo	cheio	de	competição	implacável,
impiedade,	opressão	e	inveja.	Como	todos	nós	precisamos	trabalhar,	este	é	um
bom	texto	de	pregação	para	qualquer	época,	mas	especialmente	para	o	domingo
anterior	ao	Dia	do	Trabalho.	Um	importante	desafio	será	descobrir	alguma
progressão	lógica	de	pensamento	em	uma	passagem	que,	à	primeira	vista,	parece
desarticulada.	Além	disso,	o	significado	de	algumas	palavras	e	sentenças	não	é
claro.	Por	exemplo,	como	Deus	está	“provando”	os	seres	humanos	(3.18)?	Qual
é	o	significado	de	“quem	o	fará	voltar	para	ver	o	que	será	depois	dele?”	(3.22).	O
que	é	exatamente	“um	punhado	de	descanso”	(4.6)?	E,	finalmente,	como	lidar
com	conceitos	que	são	contrários	aos	ensinos	do	Novo	Testamento	–	conceitos
como	o	de	que	seres	humanos	não	têm	vantagem	sobre	os	animais	(3.19);	ou	que
seres	humanos	e	animais	vão	para	o	mesmo	lugar	(3.20)	e	ainda,	que	os	mortos
são	mais	felizes	que	os	vivos	(4.2)?
Texto	e	contexto
Eclesiastes	3.16	começa	uma	nova	unidade	literária	com	seu	“Vi	ainda...”	e	a
mudança	de	assunto	dos	tempos	que	Deus	estabeleceu	para	a	impiedade	no
mundo.	A	pergunta	é:	Onde	esta	unidade	termina?	A	maioria	dos	comentaristas
trata	3.16-22	como	uma	unidade	e	4.1-16	como	outra.	O	verso	22	de	fato	forma
uma	conclusão	natural	para	esta	seção:	“Pelo	que	vi	não	haver	coisa	melhor	do
que	se	alegrar	o	homem	nas	suas	obras,	porque	essa	é	a	sua	recompensa”.	Pode-
se,	portanto,	selecionar	como	texto	de	pregação	Eclesiastes	3.16-22.	O	problema
com	essa	escolha	em	uma	série	de	sermões	sobre	Eclesiastes	é	que	a	repetição,
pelo	Pregador,	do	tema	de	desfrutar	do	trabalho	conduz	virtualmente	ao	mesmo
tema	de	sermão	de	Eclesiastes	1.12–2.26	(veja	acima).	Além	disso,	4.1	continua
o	tema	da	impiedade,	desta	vez	na	forma	de	opressão.	Crenshaw,	portanto,discute	a	unidade	de	3.16–4.3	sob	o	tema:	“As	lágrimas	dos	oprimidos”.¹
Novamente,	seria	possível	pregar	um	sermão	sobre	esta	unidade,	mas	isso	deixa
4.4-6	como	um	texto	órfão.	Baseado	no	refrão	“isto	é	vaidade	e	correr	atrás	do
vento”	e	“correr	atrás	do	vento”	(4.4,6),	4.4-6	forma	a	conclusão	de	uma	unidade
maior,	que	vai	de	3.1	a	4.6²	e,	portanto,	deve	ser	incluído	neste	texto	de
pregação.	Embora	estes	versos	que	tratam	do	trabalho	pareçam	se	mover	para
um	tópico	diferente	de	opressão,	o	trabalho	que	“provém	da	inveja	do	homem
contra	o	seu	próximo”	(4.4)	é	uma	forma	de	opressão.³	Além	disso,	a	conclusão,
“melhor	é	um	punhado	de	descanso”	(4.6),	matiza	a	conclusão	anterior,	“vi	não
haver	coisa	melhor	do	que	se	alegrar	o	homem	nas	suas	obras”	(3.22).	Portanto,
selecionaremos	Eclesiastes	3.16–4.6	como	nosso	texto	de	pregação.
Esta	passagem	está	ligada	à	anterior	e	à	seguinte.	Sintaticamente,	o	Pregador
estabelece	o	elo	com	a	passagem	anterior	com	sua	observação:	“Vi	ainda”.⁴	Em
termos	de	conteúdo,	sua	afirmação	de	que	“há	tempo	para	todo	propósito	e	para
toda	obra”	(3.17)	retoma	seu	tema	anterior	de	Deus	estabelecendo	os	tempos
(3.1-15).	Ele	levanta	aqui	pela	primeira	vez	o	tema	da	impiedade	no	mundo
(3.16)	–	tema	que	ele	levantará	novamente	na	sequência	(5.8;	8.10-15;	9.13-16;
10.5-7).	Ele	também	menciona	aqui	pela	primeira	vez	que	“Deus	julgará	o	justo
e	o	perverso”	(3.17)	–	crença	que	será	revisitada	mais	tarde	(11.9)	e	que	também
será	reiterada	no	último	verso	do	livro:	“Deus	há	de	trazer	a	juízo	todas	as	obras,
até	as	que	estão	escondidas,	quer	sejam	boas,	quer	sejam	más”	(12.14).	Ele
também	afirma	aqui,	pela	primeira	vez,	que,	na	morte,	“todos	vão	para	o	mesmo
lugar”	(3.20)	–	uma	convicção	que	mencionará	novamente	mais	tarde	(6.6;
9.10).	O	Pregador	repete	em	3.22	seu	conselho	anterior	de	“comer,	beber	e	fazer
que	a	sua	alma	goze	do	bem	do	seu	trabalho”	(2.24;	cf.	3.12-13)	–	conselho	que
ele	reiterará	na	sequência	(5.18-20;	8.15;	9.7-9;	11.8-9).
Elementos	literários
Esta	passagem	é	composta	de	várias	formas	de	sabedoria.	O	Pregador	começa
com	uma	observação	sobre	a	impiedade	neste	mundo	(“Vi	ainda	debaixo	do	sol”,
3.16),	que	ele	acompanha	com	uma	reflexão	sobre	o	juízo	de	Deus	(“disse
comigo”,	3.17).	Depois	desta	reflexão	ele	faz	outra,	sobre	Deus	nos	mostrando
que	somos	apenas	animais	(“disse	ainda	comigo”,	3.18)	e	uma	conclusão
dizendo	para	nos	alegrarmos	com	nosso	trabalho	(3.22).
Em	4.1,	o	Pregador	faz	outra	observação	(“Vi	ainda...	debaixo	do	sol”),	desta	vez
sobre	opressões	no	mundo.	Esta	observação	leva	a	uma	reflexão	(“tenho”,	4.2)
que	inclui	um	provérbio	“melhor	que”	(4.3).
Finalmente,	em	4.4	o	Pregador	acrescenta	obra	observação/reflexão⁵	(“Então,
vi”),	desta	vez	sobre	trabalho	motivado	pela	inveja.	Esta	reflexão	inclui	um
provérbio	sobre	o	tolo	(4.5)	e	outro	provérbio	“melhor...	que...”	(4.6).
Em	adição	às	formas	literárias,	a	repetição	dá	pistas	para	se	chegar	à	mensagem
do	autor.	Em	3.16,	o	Pregador	usa	paralelismo	sinônimo	para	enfatizar	a
impiedade	que	observou	“debaixo	do	sol”:
Vi	ainda	debaixo	do	sol	que	no	lugar	do	juízo
reinava	a	maldade
e	no	lugar	da	justiça,
maldade	ainda.
De	maneira	similar,	o	Pregador	enfatiza	em	4.1	as	opressões	que	também
observou	“debaixo	do	sol”.	Desta	vez	ele	repete	três	vezes	uma	forma	da	palavra
“opressão”	e	duas	vezes	que	não	havia	consolo:
Vi	ainda	todas	as	opressões	que	se	fazem	debaixo	do	sol:
vi	as	lágrimas	dos	que	foram	oprimidos,
sem	que	ninguém	os	consolasse;
vi	a	violência	na	mão	dos	opressores,
sem	que	ninguém	consolasse	os	oprimidos.
Estrutura	textual
As	formas	literárias	descobertas	acima	nos	permitem	traçar	a	estrutura	do	texto,
que	nos	ajudará	a	ver	o	fluxo	do	argumento	do	Pregador.
I.	Observação:	Vi,	debaixo	do	sol,	no	lugar	da	justiça,	impiedade	(3.16)
A.	Reflexão:	Deus	julgará	o	justo	e	o	perverso	(3.17a)
1.	Razão:	Deus	estabeleceu	um	tempo	para	juízo	(3.17b)
B.	Mais	reflexão:	Deus	está	mostrando	às	pessoas	que	são	apenas	animais	(3.18)
1.	Razão:	o	destino	dos	humanos	e	dos	animais	é	o	mesmo	(3.19a)
a.	Como	morre	um,	assim	morre	o	outro	(3.19b)
i.	Todos	eles	têm	o	mesmo	fôlego	(3.19c)
ii.	Os	humanos	não	têm	vantagem	sobre	os	animais	(3.19d)
iii.	Porque	tudo	é	vaidade	(3.19e)
b.	Todos	vão	para	o	mesmo	lugar	(3.20a;	cf.	6.6)
i.	Todos	vêm	do	pó	e	ao	pó	tornarão	(3.20b;	cf.12.7)
ii.	Ninguém	sabe	se	o	espírito	humano	vai	para	cima	(3.21)
C.	Conclusão:	Não	há	nada	melhor	que	todos	desfrutarem	do	seu	trabalho
(3.22a)
1.	Pois	esta	é	a	nossa	recompensa	(3.22b)
2.	Não	sabemos	o	que	será	depois	de	nós	(3.22c)
II.	Observação:	Novamente	vi	as	opressões	que	são	praticadas	debaixo	do	sol
(4.1a)
A.	Reflexão:	Vi	as	lágrimas	dos	oprimidos	(4.1b)
1.	Não	havia	consolo	para	eles	(4.1c)
B.	Ao	lado	dos	seus	opressores	está	o	poder	(4.1d)
1.	Não	há	quem	os	console	(4.1e)
C.	Conclusão:	Os	mortos	são	mais	felizes	que	os	vivos	(4.2)
1.	Mas	melhores	que	ambos	são	os	que	não	nasceram	(4.3a)
a.	Pois	não	viram	os	atos	maus	que	são	praticados	debaixo	do	sol	(4.3b)
III.	Observação/reflexão:	Vi	que	todo	trabalho	provém	da	inveja	do	homem
(4.4a)
A.	Isto	também	é	vaidade	e	correr	atrás	do	vento	(4.4b)
B.	O	tolo	cruza	os	braços	(não	trabalha)	(4.5a)
1.	E	consome	sua	própria	carne	(4.5b)
C.	Melhor	é	um	punhado	de	descanso	(4.6a)
1.	Que	duas	mãos	cheias	de	trabalho	(4.6b)
a.	E	correr	atrás	do	vento	(4.6c)
Interpretação	teocêntrica
Esta	passagem	tem	somente	duas	referências	a	Deus.	Observando	a	impiedade
totalmente	abrangente	em	sua	sociedade,	o	Pregador	responde	com	um	provérbio
com	a	resposta	padrão	da	Bíblia	à	impiedade⁷:
Deus	julgará	o	justo	e	o	perverso;
Pois	há	tempo	para	todo	propósito	e	toda	boa	obra	(3.17);
Mas	uma	reflexão	mais	profunda	leva	o	Pregador	para	além	dessa	resposta
padrão:	“é	por	causa	dos	filhos	dos	homens,	para	que	Deus	os	prove,	e	eles
vejam	que	são	em	si	mesmos	como	animais”	(3.18).
Tema	e	objetivo	textual
O	Pregador	começa	enfatizando	a	impiedade	que	observa	debaixo	do	sol.	No
exato	lugar	onde	se	espera	encontrar	justiça,	havia	impiedade:
(...)	no	lugar	do	juízo	reinava	a	maldade
e	no	lugar	da	justiça,	maldade	ainda	(3.16).
Depois	de	dar	a	resposta	padrão	à	impiedade	–“Deus	julgará	o	justo	e	o
perverso”	–,	o	Pregador	reflete	que,	não	desarraigando	a	impiedade,	Deus	está
provando	as	pessoas	para	lhes	mostrar	que	são	apenas	animais.	Como	os	seres
humanos	morrem	como	os	animais	e	como	não	sabemos	se,	na	morte,	o	espírito
humano	vai	para	cima	ou	para	baixo,	ele	conclui	que	não	há	“coisa	melhor	do
que	se	alegrar	o	homem	nas	suas	obras”	(3.22).
Em	seguida	o	Pregador	observa	a	impiedade	sob	a	forma	de	opressões.
Graficamente	ele	descreve	“as	lágrimas	dos	que	foram	oprimidos,	sem	que
ninguém	os	consolasse”	(4.1).	Ele	conclui	que	os	mortos,	que	não	veem	mais
essa	impiedade,	estão	em	situação	melhor	que	os	vivos,	que	a	presenciam	todos
os	dias.	“Porém	mais	que	uns	e	outros	tenho	por	feliz	aquele	que	ainda	não
nasceu	e	não	viu	as	más	obras	que	se	fazem	debaixo	do	sol”	(4.3).
Finalmente,	o	Pregador	observa	ainda	outra	forma	de	impiedade:	“(...)	todo
trabalho	e	toda	destreza	em	obras	provêm	da	inveja	do	homem	contra	o	seu
próximo”	(4.4).	A	inveja	é	o	motor	que	orienta	nossa	ética	do	trabalho.	Como
reagir	corretamente	a	essa	realidade?	Os	tolos	respondem	renunciando	ao
trabalho	–	com	o	trágico	resultado	de	que	comem	sua	própria	carne	(4.5).	Outros
são	consumidos	por	sua	inveja	e	se	tornam	escravos	de	seu	trabalho	para	ajuntar
o	máximo	possível.	Infelizmente,	essa	atitude	resulta	em	ficar	com	“ambas	as
mãos	cheias	de	trabalho	e	correr	atrás	do	vento”	(4.6).	A	resposta	do	Pregador	a
esse	problema	do	trabalho	motivado	pela	inveja	fica	entre	as	respostas	dos	tolos
preguiçosos	que	renunciam	ao	trabalho	e	a	dos	viciados	em	trabalho,	que
trabalham	para	ter	as	duas	mãos	cheias:	“Melhor	é	um	punhado	de	descanso”
(4.6)	ou	“tranquilidade”	(TNIV)	ou	“paz	mental”	(NEB).	Podemos	resumir	a
mensagem	do	Pregador	em	uma	sentença:	Tendo	em	vista	a	impiedade,	as
opressões	e	a	inveja	neste	mundo,desfrute	do	seu	trabalho	com	tranquilidade.
Esta	passagem	revela	muito	claramente	a	questão	por	trás	do	texto.	O	Pregador
está	enviando	sua	mensagem	primariamente	aos	leitores	jovens	do	sexo
masculino	que	vivem	em	um	mundo	volátil	e	estão	fascinados	pelas
possibilidades	de	fazer	fortuna.⁸	Como	o	Pregador	repetida	e	vividamente
descreve	a	impiedade	neste	mundo,	seu	objetivo	é	mais	do	que	simplesmente
encorajar	seus	leitores	a	fazerem	isso.	Seu	objetivo	é	estimular	seus	leitores,	em
vista	de	impiedade,	das	opressões	e	da	inveja	neste	mundo,	a	não	se
escravizarem	em	uma	competição	implacável	com	o	próximo ,	mas	a
desfrutarem	de	seu	trabalho	e	de	seus	frutos	com	tranquilidade.
Maneiras	de	pregar	Cristo
Como	podemos	nos	mover,	no	sermão	do	tema	do	Pregador,	“desfrutar	do
trabalho	com	tranquilidade”,	para	Jesus	Cristo,	no	Novo	Testamento?	Não	há
promessa	de	Cristo	nesta	passagem,	nem	um	tipo	de	Cristo.	Isso	nos	deixa	cinco
opções	a	serem	exploradas.	Como	a	progressão	histórico-redentiva	e	os	temas
longitudinais	estão	novamente	entrelaçados,	nós	os	combinaremos	nesta
investigação.
Progressão	histórico-redentiva/temas	longitudinais
Embora	traçar,	em	todo	o	Antigo	Testamento	até	Jesus	Cristo,	no	Novo
Testamento,	o	tema	“encontrar	alegria	no	trabalho”	(veja	p.	72–73,	acima),	é
melhor,	aqui,	traçar	o	tema	mais	específico	de	“desfrutar	do	trabalho	com
tranquilidade”.	Podemos	começar	com	o	jardim	do	Éden,	onde	o	trabalho
significativo	era	recompensado	com	o	prazer	de	comer	livremente	“de	toda
árvore	do	jardim”	(Gn	2.16).	Embora	o	desejo	de	Adão	e	Eva	de	serem	como
Deus	(Gn	3.5)	os	tenha	privado	de	seu	contexto	de	tranquilidade,	Deus	prometeu
levar	seu	povo	para	outro	“jardim	do	Senhor”	(Gn	13.10):	“(...)	desci	a	fim	de
livrá-lo	da	mão	dos	egípcios	e	para	fazê-lo	subir	daquela	terra	a	uma	terra	boa	e
ampla,	terra	que	mana	leite	e	mel	(...)”	(Êx	3.8).	Nessa	terra,	em	contraste	com	o
Egito,	Israel	poderia	desfrutar	do	fruto	de	seu	trabalho	com	tranquilidade	e
confiança.	Aqui	poderia	confiantemente	confessar:
O
Senhor
é	o	meu	pastor;
Nada	me	faltará.
Ele	me	faz	repousar	em	pastos	verdejantes.
Leva-me	para	junto	das	águas	de	descanso;
refrigera-me	a	alma	(Sl	23.1-3).
O	ideal	em	Israel	era	voltar	ao	contexto	tranquilo	do	paraíso:	todos	vivendo	em
segurança,	“(...)	cada	um	debaixo	da	sua	videira	e	debaixo	da	sua	figueira	(...)”
(1Rs	4.25;	cf.	Is	36.16;	65.21-25).
No	Novo	Testamento,	João	Batista	advertiu	os	soldados	que	foram	até	ele	em
busca	de	conselhos:	“A	ninguém	maltrateis,	não	deis	denúncia	falsa	e	contentai-
vos	com	o	vosso	soldo”	(Lc	3.14).	Jesus	advertiu	semelhantemente:	“Tende
cuidado	e	guardai-vos	de	toda	e	qualquer	avareza;	porque	a	vida	de	um	homem
não	consiste	na	abundância	dos	bens	que	ele	possui”	(Lc	12.15).	Jesus	orientou
seus	seguidores	a	mudar	o	foco	na	vida,	de	posses	para	o	reino	de	Deus.	“buscai,
pois,	em	primeiro	lugar,	o	seu	reino	e	a	sua	justiça,	e	todas	estas	coisas	[comida,
bebida,	vestes]	vos	serão	acrescentadas”	(Mt	6.33).
Paulo,	mais	tarde,	escreve:	“(...)	aprendi	a	viver	contente	em	toda	e	qualquer
situação.	Tanto	sei	estar	humilhado	como	também	ser	honrado;	de	tudo	e	em
todas	as	circunstâncias,	já	tenho	experiência,	tanto	de	fartura	como	de	fome;
assim	de	abundância	como	de	escassez”	(Fp	4.11-13).	Ele	também	exclama:
“(...)	grande	fonte	de	lucro	é	a	piedade	com	o	contentamento.	Porque	nada	temos
trazido	para	o	mundo,	nem	coisa	alguma	podemos	levar	dele.	Tendo	sustento	e
com	que	nos	vestir,	estejamos	contentes”	(1Tm	6.6-8).	Mas,	como	o	Pregador	de
Eclesiastes,	Paulo	também	adverte	contra	retirar-se	da	força	de	trabalho:	“(...)
estamos	informados	de	que,	entre	vós,	há	pessoas	que	andam	desordenadamente,
não	trabalhando;	antes,	se	intrometem	na	vida	alheia.	A	elas,	porém,
determinamos	e	exortamos,	no	Senhor	Jesus	Cristo,	que,	trabalhando
tranquilamente,	comam	o	seu	próprio	pão.	E	vós,	irmãos,	não	vos	canseis	de
fazer	o	bem”	(2Ts	3.11-13).
Analogia
A	mensagem	do	Pregador	de	desfrutar	do	trabalho	com	tranquilidade	encontra
eco	no	Novo	Testamento.	Paulo	escreve	aos	tessalonicenses:	“(...)	vos
exortamos,	irmãos,	a	progredirdes	cada	vez	mais...	diligenciardes	por	viver
tranquilamente,	cuidar	do	que	é	vosso	e	trabalhar	com	as	próprias	mãos,	como
vos	ordenamos;	de	modo	que	vos	porteis	com	dignidade	para	com	os	de	fora	e
de	nada	venhais	a	precisar”	(1Ts	4.10-12).	Paulo	dá	esta	instrução	“no	Senhor
Jesus”	(1Ts	4.2).
Em	sua	primeira	carta	a	Timóteo,	Paulo	enfatiza	a	importância	do
contentamento.	Ele	escreve:
(...)	grande	fonte	de	lucro	é	a	piedade	com	o	contentamento	(...)	Tendo	sustento	e
com	que	nos	vestir,	estejamos	contentes.	Ora,	os	que	querem	ficar	ricos	caem	em
tentação,	e	cilada,	e	em	muitas	concupiscências	insensatas	e	perniciosas,	as	quais
afogam	os	homens	na	ruína	e	perdição.	Porque	o	amor	do	dinheiro	é	raiz	de
todos	os	males;	e	alguns,	nessa	cobiça,	se	desviaram	da	fé	e	a	si	mesmos	se
atormentaram	com	muitas	dores	(1Tm	6.6-10).
O	autor	de	Hebreus	reflete	esse	sentimento:	“Seja	a	vossa	vida	sem	avareza.
Contentai-vos	com	as	coisas	que	tendes”	(Hb	13.5).	Para	estabelecer	a	conexão
com	Jesus	diretamente,	ligue	as	duas	últimas	passagens	aos	ensinos	de	Jesus
sobre	o	perigo	do	amor	ao	dinheiro	e	o	valor	do	contentamento	(por	exemplo,	Mt
6.19-33).
Referências	do	Novo	Testamento
O	Novo	Testamento	não	cita	esta	passagem	de	Eclesiastes	nem	faz	alusão	a	ela.
Contraste
Algumas	das	ideias	desta	passagem	mostram	uma	surpreendente
descontinuidade	com	os	ensinamentos	do	Novo	Testamento.	O	Pregador	não	vê
qualquer	evidência	de	que	a	morte	dos	seres	humanos	seja	diferente	da	dos
animais.	Ele	escreve:
O	mesmo	lhes	sucede;	como	morre	um,	assim	morre	o	outro,	todos	têm	o	mesmo
fôlego	de	vida,	e	nenhuma	vantagem	tem	o	homem	sobre	os	animais;	porque
tudo	é	vaidade.	Todos	vão	para	o	mesmo	lugar;	todos	procedem	do	pó	e	ao	pó
tornarão.	Quem	sabe	se	o	fôlego	de	vida	dos	filhos	dos	homens	se	dirige	para
cima	e	o	dos	animais	para	baixo,	para	a	terra?”	(3.19-21).
Em	contraste,	o	Novo	Testamento	ensina	que	o	espírito	humano	sobrevive	à
morte.	Paulo	escreve:
Sabemos	que,	se	a	nossa	casa	terrestre	deste	tabernáculo	se	desfizer,	temos	da
parte	de	Deus	um	edifício,	casa	não	feita	por	mãos,	eterna,	nos	céus.	(...)	Temos,
portanto,	sempre	bom	ânimo,	sabendo	que,	enquanto	no	corpo,	estamos	ausentes
no	Senhor;	visto	que	andamos	por	fé	e	não	pelo	que	vemos.	Entretanto,	estamos
em	plena	confiança,	preferindo	deixar	o	corpo	e	habitar	com	o	Senhor	(2Co
5.1,6-8).¹
O	Pregador	parece	ter	a	ideia	de	que	Deus	estabeleceu	um	tempo	determinado
para	o	juízo,	mas	sua	posição	sobre	a	finalidade	da	morte	não	deixa	lugar	para
um	juízo	depois	da	morte.	Em	contraste,	o	Novo	Testamento	ensina	que	o	juízo
final	acontecerá	depois	da	morte	e	da	ressurreição.	Jesus	declara:	“(...)	vem	a
hora	em	que	todos	os	que	se	acham	nos	túmulos	ouvirão	a	sua	voz	e	sairão:	os
que	tiverem	feito	o	bem,	para	a	ressurreição	da	vida;	e	os	que	tiverem	praticado
o	mal,	para	a	ressurreição	do	juízo”	(Jo	5.28-29).
Além	destes	contrastes,	devemos	mencionar	também	o	contraste	entre	a
mensagem	do	Pregador	para	desfrutarmos	do	nosso	trabalho	com	tranquilidade
em	um	mundo	ímpio	e	a	mensagem	neotestamentária	para	nos	opormos	à
impiedade.	A	lei	do	Antigo	Testamento	já	estimulava	Israel	a	se	opor	à	injustiça.
Por	exemplo:	“Não	farás	injustiça	no	juízo.	Nem	favorecendo	o	pobre,	nem
comprazendo-se	ao	grande;	com	justiça	julgarás	o	teu	próximo”	(Lv	19.15-16;
cf.	Dt	16.20).
Os	profetas	especialmente	clamavam	por	justiça.	Miqueias	pregou:
“Ele	te	declarou,	ó	homem,	o	que	é	bom	e	o	que	é	que	o
Senhor
pede	de	ti:	que	pratiques	a	justiça,	e	ames	a	misericórdia,	e	andes	humildemente
com	o	teu	Deus”	(Mq	6.8-9).
E	Amós	clamou:
“(...)	corra	o	juízo	como	as	águas;	e	a	justiça,	como	ribeiro	perene”	(Am	5.24).
No	Sermão	do	Monte,	Jesus	proclamou:
“Bem-aventurados	os	que	têm	fome	e	sede	de	justiça,	porque	serão	fartos.	(...)
Bem-aventurados	os	perseguidos	por	causa	da	justiça,	porque	deles	é	o	reino	dos
céus”	(Mt	5.6,10).
Jesus	repreendeu	os	líderesreligiosos	que	pervertiam	a	justiça:	“(...)	ai	de	vós,
fariseus!	Porque	dais	o	dízimo	da	hortelã,	da	arruda	e	de	todas	as	hortaliças	e
desprezais	a	justiça	e	o	amor	de	Deus;	devíeis,	porém,	fazer	estas	coisas,	sem
omitir	aquelas”	(Lc	11.42-43).
Tema	e	objetivo	do	sermão
Formulamos	o	tema	textual	como	“Tendo	em	vista	a	impiedade,	as	opressões	e	a
inveja	neste	mundo,	desfrute	do	seu	trabalho	com	tranquilidade”.	Mas
“Contraste”,	acima,	mostra	que,	em	um	mundo	injusto,	Jesus	e	o	Antigo
Testamento	requerem	muito	mais	de	nós	do	que	simplesmente	que	desfrutemos
do	nosso	trabalho	com	tranquilidade.	Jesus	claramente	requer	nosso	engajamento
neste	mundo	para	lutarmos	contra	a	impiedade	em	todas	as	suas	formas	e
promover	a	justiça.	A	questão	é:	Devemos	mudar	o	tema	do	sermão	nesta
direção	de	promoção	da	justiça?	Em	outras	palavras,	devemos	enfatizar	a
descontinuidade	entre	a	mensagem	do	Pregador	e	a	de	Jesus	(contraste)	ou
devemos	optar	pela	continuidade	(analogia)?	Embora	possamos	ser	tentados	a
mudar	o	tema	para	a	promoção	da	justiça	porque	isso	parece	ser	muito	mais
relevante	e	atraente,	este	procedimento	é	problemático	porque	o	texto	de
pregação	de	Eclesiastes	não	o	aborda.	Além	disso,	se	alguém	desejar	pregar
sobre	a	promoção	da	justiça	neste	mundo	ímpio,	encontrará	muitos	textos	no
Antigo	Testamento	e	no	Novo	que	tratam	deste	tema	direta	e	vigorosamente.
Na	pregação	desta	passagem	de	Eclesiastes,	contudo,	devemos	salientar	a
continuidade	entre	a	mensagem	do	Pregador	e	a	de	Jesus.	A	principal	vantagem	é
que	o	texto	de	pregação	escolhido	aborda	o	tema	do	sermão.	Além	disso,	a
mensagem	do	Pregador	orientando-nos	a	desfrutar	do	nosso	trabalho	com
tranquilidade	não	é	menos	relevante	que	o	tema	da	promoção	da	justiça.	Em	um
mundo	ímpio,	muitas	pessoas	odeiam	seu	trabalho,	chamam-no	de	correria	e
querem	se	aposentar	o	mais	rápido	possível	ou	são	escravizadas	pelo	seu
trabalho.	Portanto,	esta	mensagem	é	extremamente	relevante.	Assim,
manteremos	o	tema	textual	como	tema	do	nosso	sermão:	Tendo	em	vista	a
impiedade,	as	opressões	e	a	inveja	neste	mundo,	desfrute	do	seu	trabalho	com
tranquilidade.
Formulamos	o	objetivo	textual	como	“estimular	seus	leitores,	em	vista	de
impiedade,	das	opressões	e	da	inveja	neste	mundo,	a	não	se	escravizarem	em
uma	competição	implacável	com	o	próximo,	mas	a	desfrutarem	de	seu	trabalho	e
de	seus	frutos	com	tranquilidade”.	Nosso	objetivo	ao	pregar	o	sermão	deve	estar
em	harmonia	com	o	objetivo	do	autor	e	se	harmonizar	com	o	tema	do	sermão.	Já
que	podemos	adotar	o	tema	do	autor	como	tema	do	sermão,	também	podemos
fazer	de	seu	objetivo	o	objetivo	do	sermão:	estimular	seus	leitores,	em	vista	de
impiedade,	das	opressões	e	da	inveja	neste	mundo,	a	não	se	escravizarem	em
uma	competição	implacável	com	o	próximo,	mas	a	desfrutarem	de	seu	trabalho	e
de	seus	frutos	com	tranquilidade.
Este	objetivo	revela	a	necessidade	que	será	tratada	neste	sermão.	A	necessidade
é	que	muitas	pessoas	hoje	não	desfrutam	de	seu	trabalho,	mas	se	escravizam	em
uma	competição	interminável	com	o	próximo.	O	sermão	deve	responder	à
pergunta:	Como	o	poder	de	Deus	trabalha	em	uma	sociedade	cheia	de
impiedade,	opressões	e	inveja?
Exposição	do	sermão
Como	os	cristãos	devem	trabalhar	em	um	mundo	em	que	um	come	o	outro?	A
competição	é	terrível	aqui.	Empresas	competem	com	outras	empresas	para
controlar	o	mercado.	Estão	prontas	a	destruir	umas	às	outras.	Dentro	das
empresas,	os	funcionários	competem	entre	si,	tentando	subirem	sua	hierarquia.
Eles,	também,	estão	prontos	a	destruir	uns	aos	outros.
Como	os	cristãos	devem	trabalhar	num	mundo	assim?	Alguns	tentam	escapar
dessa	confusão	retirando-se	logo	que	possível	para	uma	comunidade	murada.
Outros	se	juntam	à	confusão	e	dedicam	todo	o	seu	tempo	e	toda	a	sua	energia	à
empresa.	Vendem	sua	alma	à	empresa.	A	competição	é	terrível	ali.
As	coisas	não	eram	muito	diferentes	quando	o	Pregador	escreveu	Eclesiastes.
Devido	à	expansão	do	comércio	internacional,	a	economia	estava	crescendo
rapidamente.	Fortunas	podiam	ser	feitas	da	noite	para	o	dia	e	perdidas	ainda
mais	rapidamente.	A	competição	era	terrível	e	implacável.	Como	o	povo	de	Deus
deve	trabalhar	em	um	mundo	cheio	de	impiedade,	opressões	e	inveja?
O	sábio	pregador	que	escreveu	Eclesiastes	reflete	sobre	esse	dilema.	Ele	está
bem	consciente	da	impiedade	neste	mundo	caído.	Ele	começa,	em	3.16:	“Vi
ainda	debaixo	do	sol	que	no	lugar	do	juízo	reinava	a	maldade	e	no	lugar	da
justiça,	maldade	ainda”.	“No	lugar	da	justiça”,	isto	é,	na	corte	de	justiça.	Se	há
algum	lugar	no	mundo	em	que	se	espera	encontrar	justiça,	é	na	corte	de	justiça.
No	mundo	ocidental,	geralmente	uma	corte	de	justiça	pode	ser	identificada	pela
escultura	de	uma	mulher	segurando	uma	balança	de	pratos.	A	mulher	é	a	Justiça.
Ela	pesa	cuidadosamente	o	que	é	justo	e	o	que	é	injusto,	o	que	é	certo	e	o	que	é
errado.	Se	há	um	lugar	neste	mundo	em	que	se	espera	encontrar	justiça,	é	na
corte.	Mas	o	pregador	observa	justamente	o	oposto:	“No	lugar	do	juízo	reinava	a
maldade”.	Para	enfatizar,	ele	repete:	“No	lugar	da	justiça,	maldade	ainda”.	A
maldade	estava	totalmente	infiltrada	na	sociedade.
Esta	era	uma	situação	terrível.	Impiedade.	Impiedade!	Isaías	descreve	essa
impiedade	no	lugar	da	justiça:	“Por	suborno,	justificam	o	perverso	e	ao	justo
negam	justiça”.¹¹	O	próprio	Pregador	escreve	em	Eclesiastes	5.8:	“Se	vires	em
alguma	província	opressão	de	pobres	e	o	roubo	em	lugar	do	direito	e	da	justiça,
não	te	maravilhes	de	semelhante	caso”.	A	impiedade	está	tão	infiltrada	na
sociedade,	diz	ele,	que	não	devemos	nos	espantar	com	isso.
Mas	isso	não	está	certo.	Algo	está	terrivelmente	errado	quando	a	impiedade	é
encontrada	até	mesmo	na	corte	de	justiça.	Algo	está	terrivelmente	errado	quando
os	juízes	“por	suborno,	justificam	o	perverso	e	ao	justo	negam	justiça”.	Algo
está	terrivelmente	errado	quando	o	ímpio	prospera	e	o	pobre	é	oprimido.
Compensa	ser	ímpio?
O	Pregador	reflete	sobre	esta	questão	e,	primeiro,	responde	do	modo	como	a
Bíblia	geralmente	responde	a	esta	pergunta.¹²	Verso	17:	“(...)	disse	comigo:	Deus
julgará	o	justo	e	o	perverso;	pois	há	tempo	para	todo	propósito	e	para	toda	obra”.
Esta	é	uma	boa	resposta.	O	ímpio	nunca	se	livrará	com	seus	atos	maus.	Ainda
existe	um	Deus,	e	Deus	vê	seus	atos	maus.	“Deus	julgará	o	justo	e	o	perverso”,
isto	é,	Deus	determinará	quem	é	justo	e	quem	é	ímpio.	O	Pregador	não	está
falando	do	juízo	final	de	Deus,	no	fim	dos	tempos.	Ele	não	tem	uma	ideia	clara
de	um	juízo	final	depois	da	morte.	Ele	está	dizendo	simplesmente	que	“Deus
julgará	em	seu	próprio	tempo”.¹³	Em	seu	próprio	tempo,	Deus	endireitará	as
coisas.	“Deus	intervirá	em	favor	das	vítimas	de	injustiça”.¹⁴	Como	o	Pregador
afirmou	no	início	do	capítulo,	Deus	está	no	controle	dos	tempos.	Ele	estabeleceu
os	tempos,	“tempo	de	nascer	e	tempo	de	morrer”	(3.2).	Além	disso,	“tudo	fez
Deus	formoso	no	seu	devido	tempo”	(3.11).	Portanto,	deve	haver	um	tempo	em
que	“Deus	julgará	o	justo	e	o	perverso;	pois	há	tempo	para	todo	propósito	e	para
toda	obra”	(3.17).	Mas	não	sabemos	quando	isso	acontecerá.	Pelo	que	podemos
observar	na	vida,	esse	tempo	não	é	agora.	O	ímpio	continua	a	prosperar	e	o
pobre	continua	a	ser	oprimido.
Esse	pensamento	leva	o	Pregador	a	outra	reflexão.	Verso	18:	“Disse	ainda
comigo:	É	por	causa	dos	filhos	dos	homens,	para	que	Deus	os	prove,	e	eles
vejam	que	são	em	si	mesmos	como	os	animais”.	O	adiamento	do	julgamento	da
impiedade	por	parte	de	Deus	permite	que	Deus	prove¹⁵	os	seres	humanos	para
ver	se	estão,	de	fato,	inclinados	a	todo	mal.	Como	o	Pregador	dirá	em	Eclesiastes
8.11,	“Visto	como	não	se	executa	logo	a	sentença	sobre	a	má	obra,	o	coração	dos
filhos	dos	homens	está	inteiramente	disposto	a	praticar	o	mal”.¹ 	A	impiedade
crescente	na	sociedade	humana	mostra	às	pessoas	que	elas	são	“como	os
animais”.	Os	animais	não	têm	conceito	de	certo	e	errado,	de	justiça	ou	injustiça.
Permitindo	que	a	impiedade	se	inflame	na	sociedade	humana,	Deus	está	testando
as	pessoas	para	que	fique	evidente	que	elas	são	“como	os	animais”.
Muitos	exemplos	antigos	de	comportamentobárbaro,	animalesco,	podem	ser
dados.	Exemplos	modernos	de	comportamento	animalesco	incluem	o	holocausto
de	Hitler	na	Europa,	a	intoxicação	por	gases	feita	por	Saddam	Hussein	em	seu
próprio	povo,	na	Ásia,	e	rebeliões	que	promovem	sequestros	e	assassinatos	na
África	e	na	América	do	Sul.
O	Pregador	sustenta	a	ideia	de	que	os	seres	humanos	são	“como	os	animais”	com
dois	argumentos.	O	primeiro	é	que	o	destino¹⁷	dos	seres	humanos	e	dos	animais	é
o	mesmo.	Verso	19:	“Porque	o	que	sucede	aos	filhos	dos	homens	sucede	aos
animais;	o	mesmo	lhes	sucede;	como	morre	um,	assim	morre	o	outro,	todos	têm
o	mesmo	fôlego	de	vida,	e	nenhuma	vantagem	tem	o	homem	sobre	os	animais;
porque	tudo	é	vaidade”.	O	destino	dos	seres	humanos	e	dos	animais	é	o	mesmo.
Ambos	morrem.	Isso	acontece	porque	ambos	têm	o	mesmo	fôlego	de	vida.
Quando	Deus	tira	esse	fôlego	de	vida,	eles	morrem.¹⁸	O	Pregador	conclui	que
“nenhuma	vantagem	tem	o	homem	sobre	os	animais;	porque	tudo	é	vaidade”.
Tudo	é	passageiro,	transitório.¹ 	Os	seres	humanos	são	como	animais	no	sentido
de	que	não	têm	vantagem	sobre	os	animais	com	respeito	à	morte.
Seu	segundo	argumento	para	sustentar	sua	afirmação	de	que	os	seres	humanos
são	“como	os	animais”	é	que,	na	morte,	seres	humanos	e	animais	vão	para	o
mesmo	lugar.	Verso	20:	“Todos	vão	para	o	mesmo	lugar;	todos	procedem	do	pó	e
ao	pó	tornarão”.	“Todos	procedem	do	pó	e	ao	pó	tornarão”	é	uma	referência	a
Gênesis	3,	em	que	Deus	puniu	com	a	morte	a	tentativa	humana	de	ser	igual	a
Deus:	“(...)	tu	és	pó	e	ao	pó	tornarás”	(Gn	3.19).	O	lugar	ao	qual	os	seres
humanos	e	os	animais	vão	é	o	pó.²
Mas	não	há	algo	especial	sobre	os	humanos?	No	verso	21,	o	Pregador	levanta	a
questão:	“Quem	sabe	se	o	fôlego	de	vida	dos	filhos	dos	homens	se	dirige	para
cima	e	o	dos	animais	para	baixo,	para	a	terra?”	A	resposta	esperada	a	esta
pergunta	é:	“Ninguém	sabe”.	Quando	observamos	a	morte	de	um	ser	humano	e	a
morte	de	um	animal,	não	podemos	dizer	se	o	espírito	de	um	vai	para	cima	e	o	do
outro	vai	para	baixo.
O	Novo	Testamento,	é	claro,	vai	além	do	Antigo	Testamento	e	ensina	claramente
que	o	espírito	humano	sobrevive	à	morte.	Na	morte	de	seu	amigo	Lázaro,	Jesus
consolou	Maria:	“Eu	sou	a	ressurreição	e	a	vida.	Quem	crê	em	mim,	ainda	que
morra,	viverá”	(Jo	11.25).	Mais	tarde,	Jesus	disse	aos	seus	discípulos:	“(...)
quando	eu	for	e	vos	preparar	lugar,	voltarei	e	vos	receberei	para	mim	mesmo,
para	que,	onde	eu	estou,	estejais	vós	também”	(Jo	14.3).	Jesus	e	o	Novo
Testamento	ensinam	que	o	espírito	ou	alma	humana	sobrevive	à	morte.
Mas	o	argumento	do	Pregador	é:	quando	observamos	o	mundo	por	uma
perspectiva	secular	(“debaixo	do	sol”,	3.16),	não	podemos	dizer,	na	morte	dos
seres	humanos,	que	seu	espírito,	em	distinção	ao	dos	animais,	vai	para	cima.
Assim,	pela	propagação	da	impiedade	neste	mundo,	Deus	mostra	aos	seres
humanos	que	eles	são	“como	os	animais”.	Eles	não	são	como	Deus.	Eles	têm	o
mesmo	destino	que	os	animais:	eles	morrem	e	vão	para	o	mesmo	lugar	que	os
animais:	voltam	ao	pó.
Como,	então,	o	povo	de	Deus	deve	trabalhar	durante	sua	curta	vida	neste	mundo
ímpio?	O	Pregador	oferece	seu	conselho	no	verso	22:	“(...)	vi	não	haver	coisa
melhor	do	que	se	alegrar	o	homem	nas	suas	obras,	porque	essa	é	a	sua
recompensa;	quem	o	fará	voltar	para	ver	o	que	será	depois	dele?”	“Vi	não	haver
coisa	melhor	do	que	se	alegrar	o	homem	nas	suas	obras”.	O	Pregador	já	deu	este
conselho	antes.	Em	2.24,	ele	escreveu:	“Nada	há	melhor	para	o	homem	do	que
comer,	beber	e	fazer	que	sua	alma	goze	o	bem	do	seu	trabalho”.	Em	3.12,	ele
disse:	“Sei	que	nada	há	melhor	para	o	homem	do	que	se	regozijar	e	levar	vida
regalada”.
Nesta	passagem,	ele	foca	especificamente	em	nosso	trabalho	e	nas	posses
obtidas	pelo	trabalho.²¹	Ele	diz	no	verso	22:	“(...)	vi	não	haver	coisa	melhor	do
que	se	alegrar	o	homem	nas	suas	obras,	porque	esta	é	a	sua	recompensa	(...)”.
Todos	nós	temos	que	trabalhar	para	ganhar	a	vida.	Então	também	podemos
desfrutar	do	nosso	trabalho	e	de	seus	frutos.	Ele	pergunta:	“Quem	o	fará	voltar
para	ver	o	que	será	depois	dele?”	Novamente	a	resposta	esperada	é:	“Ninguém”.
Ninguém	pode	nos	trazer	para	ver	o	que	acontecerá	depois	de	nós,	isto	é,	depois
da	nossa	morte.²²	Com	base	em	nossas	observações	da	vida	no	mundo,	não
sabemos	se,	na	morte,	o	espírito	humano	vai	para	cima	nem	o	que	acontecerá
depois	da	morte.	Portanto,	podemos	aproveitar	nossa	curta	vida	neste	mundo
desfrutando	do	nosso	trabalho	e	de	seus	frutos.
Mas	este	não	é	o	fim	de	seu	conselho.	O	Pregador	não	deixa	a	impiedade	neste
mundo.	Ele	volta	a	ela	novamente	com	sua	descrição	gráfica	de	opressões	na
sociedade	humana.	Três	vezes	ele	se	refere	à	opressão:	“opressões”,	“oprimidos”
e	“opressores”.	“Na	Bíblia,	a	opressão	envolve	fraudar	o	próximo	em	alguma
coisa	(Lv	6.2-5),	defraudá-lo	e	roubá-lo...	Opressão	é	acumulação	–	a	busca	de
ganho	–	sem	levar	em	conta	a	natureza,	as	necessidades	e	os	direitos	de	outras
pessoas”.²³
O	Pregador	escreve,	em	4.1:	“Vi	ainda	todas	as	opressões	que	se	fazem	debaixo
do	sol:	vi	as	lágrimas	dos	que	foram	oprimidos,	sem	que	ninguém	os	consolasse;
vi	a	violência	na	mão	dos	opressores,	sem	que	ninguém	consolasse	os
oprimidos”.“Veja,	as	lágrimas	dos	oprimidos!”	Pessoas	estão	sofrendo
terrivelmente.	Elas	choram	para	dormir	à	noite.	E	não	há	consolo	para	elas.	O
Pregador	acrescenta:	“(...)	vi	a	violência	na	mão	dos	opressores”.	Depois,	ele
repete	a	ênfase:	“(...)	sem	que	ninguém	consolasse	os	oprimidos”.	Não	há
ninguém	que	console	os	oprimidos,	protegendo-os	do	abuso	de	seus	opressores.²⁴
Essa	impiedade,	a	ponto	de	ninguém	se	apresentar	para	ajudar	os	oprimidos	que
clamam	por	ajuda	é	tão	repulsiva	que	o	Pregador	conclui,	no	verso	2:	“(...)	tenho
por	mais	felizes	os	que	já	morreram,	mais	do	que	os	que	ainda	vivem”.	Os
mortos,	pelo	menos,	não	têm	mais	que	ver	essa	demonstração	de	impiedade	na
sociedade	humana.	Mas	ele	acrescenta	no	verso	3:	“(...)	porém	mais	que	uns	e
outros	tenho	por	feliz	aquele	que	ainda	não	nasceu	e	não	viu	as	más	obras	que	se
fazem	debaixo	do	sol”.	Os	que	ainda	não	nasceram	são	mais	felizes	que	os	vivos
e	os	mortos	porque	não	viram	“as	más	obras	que	se	fazem	debaixo	do	sol”.	Os
que	ainda	não	nasceram	não	viram	que	os	seres	humanos,	por	estarem	centrados
no	seu	próprio	proveito,	ignoram	as	lágrimas	dos	oprimidos.²⁵
O	Pregador,	até	aqui,	mencionou	duas	formas	de	impiedade:	impiedade	até	nas
cortes	de	justiça	e	pessoas	sendo	oprimidas	sem	que	haja	quem	as	ajude.
Finalmente	ele	menciona	uma	outra	forma	de	impiedade	que	permeia	a
sociedade:	a	inveja.	Em	4.4,	ele	escreve:	“(...)	vi	que	todo	trabalho	e	toda
destreza	em	obras	provêm	da	inveja	do	homem	contra	o	seu	próximo”.	A	TNIV
traduz:	“Vi	que	todo	trabalho	e	toda	realização	vêm	da	inveja	de	uma	pessoa	por
outra”.	O	foco	em	nosso	trabalho	é	a	realização.	O	que	orienta	nosso	trabalho	e
nossa	realização?	Aqui,	pela	primeira	vez,	o	Pregador	expõe	o	que	está	por	trás
do	nosso	trabalho.	É	a	inveja.	“A	inveja	inspira	competição	e,	assim,	distorce	o
sentido	nobre	da	vocação	em	um	exercício	de	rivalidade,	uma	busca	de	domínio
que	leva	à	violência.	A	inveja	por	uma	outra	pessoa	(lit.	pelo	“próximo”)	foge
diante	do	grande	mandamento	encontrado	em	Levítico	e	nos	lábios	de	Jesus:
‘Amarás	o	teu	próximo	como	a	ti	mesmo’”	(Lv	19.18b;	Mt	22.39).²
Mas	a	inveja	orienta	nosso	mundo	de	negócios.	Tentamos	sobrepujar	uns	aos
outros,	geralmente	em	detrimento	do	outro.	No	mundo	corporativo,	as	pessoas
sobem	sobre	cadáveres	para	chegar	ao	topo.	Provérbios	27.4	diz:	“Cruel	é	o
furor,	e	impetuosa,	a	ira,	mas	quem	pode	resistir	à	inveja?”	“Também	isto	é
vaidade	e	correr	atrás	do	vento”,	diz	o	Pregador.	Nossa	competição	implacável
uns	contra	os	outros	para	obter	maior	ganho	é	vaidade.	É	fútil!	É	“correr	atrás	do
vento”	–	isto	é,	deixa-nos	de	mãos	vazias.
Como	o	povo	de	Deus	pode	trabalhar	neste	mundo	ímpio,	competitivo?	O
Pregador	esboça	graficamente	as	três	opções	que	temos.	Como	geralmente
trabalhamos	com	as	mãos,	ele	esboça	as	três	opções	com	três	posições	das
nossas	mãos.	A	primeira	posição	é	com	as	mãos	fechadas.	Verso	5:
O	tolocruza	os	braços*
e	come	a	própria	carne.
A	pessoa	que	fecha	as	mãos	não	pode	usá-las	para	o	trabalho.	Mãos	fechadas
mostram	que	a	pessoa	não	quer	trabalhar.	Essas	pessoas	optam	por	ficar	fora	da
força	de	trabalho.	Esta	não	é	uma	boa	opção.	O	Pregador	chama	essas	pessoas	de
“tolos”.	O	livro	de	Provérbios	adverte:	“Um	pouco	para	dormir,	um	pouco	para
tosquenejar,	um	pouco	para	encruzar	os	braços	em	repouso,	assim	sobrevirá	a	tua
pobreza	como	um	ladrão,	e	a	tua	necessidade,	como	um	homem	armado”	(Pv
6.10-11;	24.33-34).	O	Pregador	coloca	a	pobreza	resultando	de	uma	forma	ainda
mais	gráfica:	“O	tolo	cruza	os	braços	e	come	a	própria	carne”.²⁷	Eles	acabam
comendo	a	si	mesmos.	Como	não	há	nada	mais	para	comer,	comerão	suas
economias	e	morrerão.	São	“tolos”.	Ficar	fora	da	força	de	trabalho	não	é	uma
opção	sábia.
A	segunda	opção	é	a	de	mãos	abertas	em	forma	de	cuia	para	adquirir	o	máximo
possível.	Quando	as	crianças	saem	para	o	Halloween,	geralmente	colocam	as
mãos	juntas,	em	forma	de	cuia.	Duas	mãos	juntas	em	forma	de	cuia	podem	reter
muito	mais	do	que	uma	mão	aberta.²⁸	Verso	6:
Melhor	é	um	punhado	de	descanso
Do	que	ambas	as	mãos	cheias	de	trabalho
E	correr	atrás	do	vento.
À	primeira	vista,	as	“duas	mãos	cheias”	parecem	algo	muito	desejável.	Quem
não	prefere	ter	duas	mãos	cheias	em	vez	de	uma?	Em	nossa	sociedade,	logo
aprendemos	que	maior	é	melhor:	mais	dinheiro	é	melhor	que	menos;	uma	Ferrari
Testarosa	é	melhor	que	um	fusca;	uma	mansão	é	melhor	que	um	barraco;	um
grande	negócio	é	melhor	que	um	pequeno.	Maior	é	melhor.	É	melhor	ter	duas
mãos	cheias	do	que	uma.
Mas	há	um	aspecto	negativo	em	escolher	as	duas	mãos	cheias.	O	Pregador	diz:
“Ambas	as	mãos	cheias	de	trabalho	e	correr	atrás	do	vento”.	Para	ter	as	duas
mãos	cheias,	as	pessoas	têm	que	trabalhar	sem	descanso:	trabalho,	trabalho,
trabalho.² 	E,	no	fim,	isso	se	torna	“correr	atrás	do	vento”.	As	pessoas	acabam
com	as	duas	mãos	cheias	de	vento,	isto	é,	cheias	de	nada.
A	terceira	opção	é	uma	mão	cheia.	Verso	6:	“Melhor	é	um	punhado	de
descanso”.	Um	punhado	é	uma	quantidade	muito	pequena.³ 	Mas	se	o	punhado
vem	com	“descanso”,	“tranquilidade”	(TNIV),	com	“paz	mental”	(NEB),	este	é
o	modo	recomendado	pelo	Pregador	para	que	o	povo	de	Deus	trabalhe	em	um
mundo	ímpio.	“Melhor	é	um	punhado	de	descanso	do	que	ambas	as	mãos	cheias
de	trabalho	e	correr	atrás	do	vento”.
O	conselho	do	Pregador,	aqui,	segue	outras	declarações	sapienciais	do	Antigo
Testamento:
Melhor	é	o	pouco,	havendo	o	temor	do
Senhor
,
Do	que	grande	tesouro	onde	há	inquietação	(Pv	15.16).
Melhor	é	o	pouco,	havendo	justiça,
Do	que	grandes	rendimentos	com	injustiça	(Pv	16.8).
Melhor	é	um	bocado	seco	e	tranquilidade
Do	que	a	casa	farta	de	carnes	e	contendas	(Pv	17.1).³¹
O	conselho	do	Pregador,	então,	é	não	somente	a	conclusão	dada	em	3.22	de	que
“vi	não	haver	coisa	melhor	do	que	se	alegrar	o	homem	nas	suas	obras”.	Como	o
trabalho,	em	nossa	sociedade,	é	orientado	pela	inveja,	ainda	temos	que	fazer
escolhas	quanto	a	para	que	trabalharemos.	Cruzaremos	os	braços	e	optaremos
por	sair	da	força	de	trabalho?	Uniremos	as	duas	mãos	em	cuia	e	nos	tornaremos
viciados	em	trabalho?	Ou	nos	contentaremos	com	um	punhado?	O	Pregador
aconselha:
Melhor	é	um	punhado	de	descanso
Do	que	ambas	as	mãos	cheias	de	trabalho
E	correr	atrás	do	vento.
Seu	argumento,	então,	é	que,	em	vista	das	muitas	formas	de	impiedade	que
existem	neste	mundo,	devemos	ficar	satisfeitos	com	um	punhado	e	desfrutar	do
nosso	trabalho	com	tranquilidade.	Em	nosso	mundo	hoje	podemos	observar	as
mesmas	formas	de	impiedade	que	o	Pregador	viu.	Nos	tribunais	ao	redor	do
mundo,	vemos	impiedade.	Em	incontáveis	países,	vemos	“as	lágrimas	dos	que
foram	oprimidos,	sem	que	ninguém	os	consolasse”.	No	mundo	dos	negócios,
vemos	que	o	trabalho	é	orientado	pela	inveja,	o	que	resulta	em	competição
implacável.	O	Pregador	nos	ordena:	Tendo	em	vista	a	impiedade,	as	opressões	e
a	inveja	neste	mundo,	desfrute	de	seu	trabalho	com	tranquilidade.
Mas	isso	é	suficiente?	É	suficiente,	em	um	mundo	ímpio,	simplesmente
desfrutarmos	do	nosso	trabalho	com	tranquilidade?	Não,	não	é.	Muitos	profetas
do	Antigo	Testamento	e	Jesus	(por	exemplo,	em	Mt	25.31-46)	nos	estimulam	a
lutar	por	justiça,	consolar	e	ajudar	os	oprimidos.³²	Mas	este	é	outro	sermão.
O	ponto	desta	passagem	é	que	devemos	nos	contentar	com	um	punhado	e
desfrutar	do	nosso	trabalho	com	tranquilidade.	Jesus	também	adverte	contra	o
desejo	de	adquirir	duas	mãos	cheias.	Ele	diz:	“Tende	cuidado	e	guardai-vos	de
toda	e	qualquer	avareza;	porque	a	vida	de	um	homem	não	consiste	na
abundância	dos	bens	que	ele	possui”	(Lc	12.15).	Jesus	conta	a	parábola	do	rico
insensato	que	achava	que	tinha	o	suficiente	para	muitos	anos.	O	homem	era	rico,
mas	Deus	o	chamou	de	louco.	“Assim	é	o	que	entesoura	para	si	mesmo	e	não	é
rico	para	com	Deus”	(Lc	12.21),	disse	Jesus.
Jesus	quer	que	foquemos	nossa	vida	não	em	ajuntar	posses,	mas	em	Deus,	em
promover	o	reino	de	Deus	e	sua	justiça.	Que	dizer,	então,	sobre	comida,	bebida	e
vestes?	Jesus	diz:	“(...)	não	vos	inquieteis,	dizendo:	Que	comeremos?	Que
beberemos?	Ou:	Com	que	nos	vestiremos?	Porque	os	gentios	é	que	procuram
todas	estas	coisas;	pois	vosso	Pai	celeste	sabe	que	necessitais	de	todas	elas;
buscai,	pois,	em	primeiro	lugar,	o	seu	reino	e	a	sua	justiça,	e	todas	estas	coisas
vos	serão	acrescentadas”	(Mt	6.31-33).
Em	harmonia	com	o	ensino	de	Jesus,	o	apóstolo	Paulo	também	estimula	os
cristãos	a	se	contentarem	com	o	que	têm.	Ele	escreve:
(...)	grande	fonte	de	lucro	é	a	piedade	com	o	contentamento.	(...)	Tendo	sustento
e	com	que	nos	vestir,	estejamos	contentes.	Ora,	os	que	querem	ficar	ricos	caem
em	tentação,	e	cilada,	e	em	muitas	concupiscências	insensatas	e	perniciosas,	as
quais	afogam	os	homens	na	ruína	e	perdição.	Porque	o	amor	do	dinheiro	é	raiz
de	todos	os	males;	e	alguns,	nessa	cobiça,	se	desviaram	da	fé	e	a	si	mesmos	se
atormentaram	com	muitas	dores	(1Tm	6.6,8-10).
O	autor	de	Hebreus	reflete	esse	sentimento:	“Seja	a	vossa	vida	sem	avareza.
Contentai-vos	com	as	coisas	que	tendes”	(Hb	13.5).
Ainda	hoje,	com	toda	a	impiedade	que	observamos	neste	mundo,	o	conselho	do
Pregador	do	Antigo	Testamento	deve	ser	ouvido:
Melhor	é	um	punhado	de	descanso
Do	que	ambas	as	mãos	cheias	de	trabalho
E	correr	atrás	do	vento.
Desfrutar	do	nosso	trabalho	com	tranquilidade	nos	permitirá	experimentar
novamente	um	pouquinho	da	tranquilidade	do	paraíso.	Podemos	trabalhar	com
tranquilidade,	com	paz	mental,	confiando	que	nosso	Pai	celestial	nos	dará
comida,	bebida,	vestes	e	abrigo.	Em	um	deserto	de	impiedade	–	competição
implacável,	confusão,	um	“comendo”	o	outro	–,	podemos	experimentar	um	oásis
de	alegria	e	tranquilidade	quando	não	seguimos	a	multidão	que	trabalha	para
acumular	posses.	Desfrute	do	seu	trabalho	com	tranquilidade,	e	seu	Pai	celestial
suprirá	todas	as	suas	necessidades.
¹	Crenshaw,	Ecclesiastes,	101-6.
²	Veja	a	análise	de	Wright	na	p.	39,	acima.	Veja	também	Murphy,	Wisdom
Literature,	136.
³	Veja	Brown,	Ecclesiastes,	49.
⁴	Heb.	.	Provan,	Ecclesiastes,	92.	Cf.	Longman,	Book	of	Ecclesiastes,	126.
⁵	Como	pode	ser	visto	nesta	passagem,	a	observação	às	vezes	antecede	a
reflexão,	outras	vezes	é	parte	dela.
	Veja	Longman,	Book	of	Ecclesiastes,	126-38.
⁷	Veja	p.	116–117,	nota	12,	abaixo.
⁸	Aqui	é	útil	lembrar	que	a	audiência	original	do	Qohelet	era	provavelmente
composta	por	homens	jovens	ansiosos	para	ter	sucesso	em	uma	sociedade	urbana
que	estava	muito	distante	do	ideal	bíblico	de	comunidade,	a	saber,	as	vilas	de
seus	ancestrais.	Davis,	Proverbs,	Ecclesiastes,	Song	of	Songs,	190.
	A	tradução	usada	pelo	autor	traz	“a	inveja	de	uma	pessoa	contra	outra”,	mas	o
texto	literalmente	diz	“a	inveja	de	um	homem	contra	o	seu	próximo”,	como	na
ARA.
¹ 	Cf.	Filipenses	1.21-23:	“(...)	para	mim,	o	viver	é	Cristo	e	o	morrer	é	lucro.
Entretanto,	se	o	viver	na	carne	traz	fruto	para	o	meu	trabalho,	já	não	sei	o	que
hei	de	escolher.	Ora,	de	um	e	outro	lado,	estou	constrangido,	tendo	o	desejo	de
partir	e	estar	com	Cristo,	o	que	é	incomparavelmente	melhor”.
¹¹	Isaías	5.23;	cf.	1.21.¹²	Veja,	e.g.,	Gênesis	18.25,	“Longe	de	ti	o	fazeres	tal	coisa,	matares	o	justo	com
o	ímpio,	como	se	o	justo	fosse	igual	ao	ímpio;	longe	de	ti.	Não	fará	justiça	o	Juiz
de	toda	a	terra?”;	Deuteronômio	1.17:	“(...)	o	juízo	é	de	Deus...”;	Jó	19.29:	“(...)
temei,	pois,	a	espada,	porque	tais	acusações	merecem	o	seu	furor,	para	saberdes
que	há	um	juízo”;	salmo	9.8:	“...	[O	Senhor]	julga	o	mundo	com	justiça;
administra	os	povos	com	retidão”;	salmo	94.2:	“Exalta-te,	ó	juiz	da	terra;	dá	o
pago	aos	soberbos”.
¹³	Seow,	Ecclesiastes,	166.	Também	Murphy,	Ecclesiastes,	36.
¹⁴	Ogden,	Qoheleth,	60.	Outros	comentaristas,	como	Loader,	Ecclesiastes,	43,
acreditam	que	“o	juízo	de	Deus	sobre	os	dois	grupos	pode	se	referir	somente	à
morte,	que	vem	sobre	ambos,	sem	discriminação”.	Esta	interpretação	levanta
mais	perguntas	que	respostas.
¹⁵	“A	nuance	precisa	do	propósito	divino	permanece	ambígua...	Se	for
interpretada	como	significando	‘testar’,	pode	consistir	na	manifesta	injustiça	em
assuntos	humanos	(v.16),	que	mostra	se	os	seres	humanos	vão	se	libertar	das
restrições	morais,	já	que	não	há	princípio	de	justiça	em	atividade	em	sua
experiência	(cf.	8.11)”.	Murphy,	Ecclesiastes	36.
¹ 	Cf.	Apocalipse	22.10-11:	“Não	seles	as	palavras	da	profecia	deste	livro,
porque	o	tempo	está	próximo.	Continue	o	injusto	fazendo	injustiça,	continue	o
imundo	ainda	sendo	imundo;	o	justo	continue	na	prática	da	justiça,	e	o	santo
continue	a	santificar-se”.
¹⁷	“A	palavra-chave	deste	verso...	é	destino	(	).	Mas,	como	em	2.24,	esta	não	é
uma	força	maligna	e	impessoal.	‘Destino’	é	simplesmente	o	que	acontece	a	uma
pessoa	ou	a	qualquer	criatura	viva;	e	o	‘acontecimento’	final,	tanto	para	os	seres
humanos	quanto	para	os	animais,	é	a	morte”.	Whybray,	Ecclesiastes,	79.
¹⁸	“Os	seres	humanos	e	os	animais	compartilham	o	mesmo	,	‘espírito’	ou	‘fôlego
de	vida’.	Todos	os	seres	vivos	têm	um	corpo	(comumente	chamado	de	‘carne’)	e
um	.	Esse	não	é	uma	alma	imortal,	mas	o	fôlego	de	vida,	a	força	que	dá	e
preserva	a	vida.	Quando	Deus	o	retira,	a	criatura	morre	(Sl	104.29;	Jó	34.14-
15)”.	Fox,	Ecclesiastes,	26.
¹ 	“O	sentido	de	provavelmente	é	‘passageiro’,	‘efêmero’,	‘transitório’.
Crenshaw,	Ecclesiastes,	104.	Também	Murphy,	Ecclesiastes,	79.
² 	Alguns	comentaristas,	por	exemplo,Whybray,	Ecclesiastes,	80,	afirmam	que	“a
referência	[ao	mesmo	lugar]	é	ao	Seol:	cf.	9.10”.	Embora	essa	interpretação	seja
possível,	o	contexto	aqui	se	refere	à	volta	ao	pó.	Cf.	Murphy,	Ecclesiastes,	37:
“O	‘mesmo	lugar’	para	o	qual	todos	vão	é	especificado	como	sendo	o	‘pó’	(cf.
6.6),	embora	o	Qohelet	reconheça	a	existência	do	Seol	(9.10).	O	tema	da	volta	ao
pó	é	frequente	(Jó	10.9;	34.15;	Sl	104.29;	146.4;	Sir	40.11)”.
²¹	“Heb.	(lit.	‘suas	obras’),	aquilo	que	uma	pessoa	adquiriu	e	agora	possui”.	Fox,
Ecclesiastes,26.
²²	“	tem	sido	entendido	de	três	maneiras:	(1)	‘Depois	dele’,	com	referência	ao
que	acontece	a	um	indivíduo	depois	de	sua	morte	(Delitzsch,	Crenshaw).	(2)
‘Depois	dele’,	com	referência	ao	que	acontece	no	mundo	depois	da	morte	de
uma	pessoa	(Rashbaum,	Murphy).	(3)	‘Depois’,	com	referência	ao	que	acontece
no	mundo	dentro	do	período	de	vida	de	uma	pessoa	(Podechard,	Gordis,
Fox1987)...	No	presente	contexto,	depois	de	um	verso	que	declara	a	ignorância
humana	sobre	o	que	acontece	depois	da	morte,	provavelmente	a	primeira
alternativa	é	a	correta”.	Fox,	A	Time	to	Tear	Down,	217.	Cf.Longman,	Book	of
Ecclesiastes,	131:	“A	frase	depois	dele	é	um	modo	de	dizer	‘depois	de	sua	morte’
Como	acima	[v.21],	aqui	o	Qohelet	não	tem	certeza	se	(e	provavelmente	duvida
que)	a	vida	continua	depois	da	morte.	Ninguém	sabe	com	certeza”.
²³	Provan,	Ecclesiastes,	103.
²⁴	Davis,	Proverbs,	Ecclesiastes,	Song	of	Songs,	189,	está	errada	quando	entende
a	repetição	de	“sem	que	ninguém	os	consolasse”	como	ninguém	para	consolar	os
oprimidos	e	ninguém	para	consolar	o	opressor:	“Escravo	e	proprietário	de
escravo,	prisioneiro	e	carcereiro,	mulher	espancada	e	homem	espancador	–	é
preciso	ter	piedade	de	ambos,	pois	estão	no	mesmo	sistema,	‘sem	que	ninguém
os	console’”.	Pelo	contrário,	a	repetição	enfatiza	a	condição	dos	oprimidos.	Cf.
Brown,	Ecclesiastes,	48:	“Sozinha,	a	primeira	menção	a	‘consolo’,	no	verso	1,
pode	comunicar	meramente	o	contido	de	consolação.	Sua	segunda	ocorrência,
contudo,	sugere	mais	do	que	simplesmente	prover	o	tecido	proverbial	para
enxugar	as	lágrimas	da	vítima.	Aqui,	o	consolador	assume	um	papel	ativo	que
tem	como	objetivo	a	proteção	dos	fracos	contra	o	abuso	dos	poderosos.	O
consolador,	em	resumo,	é	um	defensor...	Essa	defesa	acarreta	um	investimento
de	poder	em	favor	dos	fracos”.
²⁵	“Se	a	melancolia	do	Qohelet	nos	parece	excessiva	neste	ponto,	é	necessário
perguntar	se	nossa	posição	mais	agradável	nasce	da	esperança,	não	da
complacência.	Embora	nós,	como	cristãos,	vejamos	mais	longe	do	que	ele
poderia	ver,	isso	não	é	razão	para	nos	pouparmos	das	realidades	do	presente”.
Kidner,	Time	to	Mourn,	44.
² 	Brown,	Ecclesiastes,	49.
²⁷	“O	Qohelet	está	usando	a	imagem	grotesca	de	autocanibalismo	para
representar	autodestruição.	Os	tolos	que	são	tão	preguiçosos	acabarão	devorando
a	si	mesmos”.	Seow,	Ecclesiastes,	179.
²⁸	“O	Qohelet	imagina	uma	palma	aberta	versus	duas	mãos	unidas	em	forma	de
cuia	para	reter	o	máximo”.	Crenshaw,	Ecclesiastes,	109.
² 	“Para	o	Qohelet,	a	incessante	orientação	do	indivíduo	para	o	trabalho,	mesmo
que	seja	para	seu	próprio	enriquecimento,	não	é	diferente	da	opressão	imposta
por	um	capataz	implacável...	Sem	o	benefício	do	descanso,	até	mesmo	o
enriquecimento	pessoal	é	escravidão”.	Brown,	Ecclesiastes,	50.
³ 	“O	hebraico	refere-se	a	uma	quantidade	muito	pequena	(cf.	1Rs	17.12).	A
ênfase	é	na	natureza	limitada	de	um	punhado,	não	na	totalidade”.	Seow,
Ecclesiastes,	180.
³¹	Cf.	salmo	37.16:	“Mais	vale	o	pouco	do	justo	que	a	abundância	de	muitos
ímpios”.
³²	Assim	como	o	Pregador,	Jesus	também	admite	que	“os	pobres,	sempre	os
tendes	convosco”	(Mc	14.7).
*	Na	tradução	do	autor,	“o	tolo	fecha	as	mãos”.	Embora	as	palavras	usadas	nas
traduções	sejam	diferentes,	o	sentido	de	inatividade,	pretendido	pelo	autor,	é
mantido	(N.	do	T.).
CAPÍTULO	6
Trabalhando	juntos
Eclesiastes	4.7-16
Melhor	é	serem	dois	do	que	um,	porque
têm	melhor	paga	do	seu	trabalho.
(Ec	4.9)
Eclesiastes	4.7-16	é	um	bom	antídoto	para	o	individualismo	que	infecta	nossa
sociedade	e	que	também	contamina	a	comunidade	cristã.	Um	dos	desafios,
novamente,	é	selecionar	uma	unidade	textual	adequada.	Embora	esteja	claro	que
esta	passagem	contém	três	subunidades	(v.7-8,	9-12,	13-16),	a	questão	é	quantas
delas	constituem	o	texto	de	pregação.	Se	escolhermos	as	três	subunidades,	a
questão	é:	Qual	tema	as	une?	Whybray,	por	exemplo,	não	reconhece
“continuidade	temática”	entre	as	duas	primeiras	unidades¹	–	muito	menos	nas
três	–	e	trata	cada	seção	separadamente.	Outro	desafio	é	interpretar	a	terceira
unidade,	sobre	o	jovem	sábio	e	o	rei	insensato	(v.13-16).	Os	estudiosos	são
pessimistas	sobre	a	solução	deste	enigma.	Murphy	escreve:	“Toda	tradução,	e,
portanto,	interpretação	dos	versos	13-16	é	incerta,	por	causa	da	falta	de	clareza
do	texto”.²	E	um	desafio	final	é	pregar	Cristo	com	base	em	um	texto	que	nem
sequer	menciona	Deus.
Texto	e	Contexto
Eclesiastes	4.7	começa	uma	nova	unidade	com	“Então,	considerei	outra	vaidade
debaixo	do	sol”.	Esta	unidade	sobre	o	trabalho	de	um	indivíduo	solitário	é
concluída	no	verso	8	com	uma	inclusio,	“também	isto	é	vaidade	e	enfadonho
trabalho”.	Pode-se	selecionar	esta	subunidade	como	texto	de	pregação,	mas	a
próxima	unidade,	sobre	o	valor	de	se	ter	um	companheiro	(v.	9-12),
complementa	a	primeira,	sobre	o	indivíduo	solitário.	É	tentador,	portanto,
selecionar	como	texto	de	pregação	somente	os	versos	7-12.	Isso	simplificaria	a
formulação	do	tema	e	evitaria	muitas	dificuldades	para	interpretar	corretamente
a	unidade	seguinte,	sobre	o	jovem	sábio	e	o	rei	insensato.	O	problema	com	esta
opinião	é	que	o	Pregador	claramente	tentou	associar	esta	terceira	unidade	às	duas
anteriores.	Provan	observa:	“Os	versos	finais	do	capítulo	4	(v.	13-16),	embora
sua	relação	precisacom	o	que	os	precede	confunda	os	comentaristas,	parecem
claramente	ligados	aos	versos	que	os	precedem	pelo	tema	e	pela	linguagem
(observe	a	referência	comum	ao	que	é	‘melhor’	nos	versos	6,	9,	13;	a	referência
a	uma	“segunda	pessoa”	[	],	nos	versos	8	e	15...	e	a	ocorrência	de	‘não	cessa’	[	],
nos	versos	8	e	16)”.³	Além	disso,	cortar	o	texto	de	pregação	no	verso	12	deixa	os
versos	13-16	órfãos,	pois	6.16	encerra	a	unidade	maior	com	“também	isto	é
vaidade	e	correr	atrás	do	vento”,	enquanto	5.1	começa	uma	nova	unidade	com
um	assunto	diferente.	Portanto,	selecionamos	como	nosso	texto	de	pregação
Eclesiastes	4.7-16.
Quanto	ao	seu	contexto,	o	tema	do	trabalho,	nos	versos	4-6,	é	continuado	nesta
passagem,	nos	versos	7-9.	O	“melhor	que”	do	verso	6	é	repetido	nos	versos	9	e
13.	Seu	“olhos	não	se	fartam	de	riquezas”	recupera	1.8,	“olhos	não	se	fartam”,	e
será	retomado	novamente	em	5.10,	“quem	ama	o	dinheiro	jamais	dele	se	farta”.
A	história	sobre	o	jovem	pobre,	mas	sábio,	parece	similar	à	história	de	9.15-16:
“Encontrou-se	nela	um	homem	pobre,	mas	sábio,	que	a	livrou	pela	sua
sabedoria;	contudo,	ninguém	se	lembrou	mais	daquele	pobre”.	O	“tampouco	os
que	virão	depois	dele	se	hão	de	regozijar	nele”	(v.16)	parece	refletir	1.11:	“Já
não	há	lembrança	das	coisas	que	precederam”	(cf.	2.16).
Elementos	literários
Observar	as	formas	de	literatura	sapiencial	neste	texto	nos	ajudará	a	esboçar	a
“Estrutura	textual”,	abaixo.	“Então,	considerei	outra	(...)”	(v.	7)	indica	que	esta	é
uma	observação	que	inicia	uma	reflexão.	A	reflexão	consiste	de	uma	anedota
sobre	um	solitário	avarento	e	inclui	sua	pergunta	retórica:	“Para	quem	trabalho
eu,	se	nego	à	minha	alma	os	bens	da	vida?”	Esta	unidade	termina	com	a
exclamação	“também	isto	é	vaidade”	(v.	8),	que	forma	um	inclusio	com
“vaidade”	do	verso	7.
A	unidade	seguinte	começa	com	um	provérbio	“melhor	que”	(“Melhor	é	serem
dois	do	que	um”,	v.	9),	que	é	fortalecido	por	duas	ilustrações	(v.	10-12a).	O
Pregador	reforça	o	argumento	de	cada	ilustração	respectivamente	com	um
oráculo	“ai”	(v.	10b),	uma	pergunta	retórica	(v.	11b)	e	um	provérbio	final	(“o
cordão	de	três	dobras	não	se	rebenta	com	facilidade”,	v.	12b).
A	unidade	final	novamente	começa	com	um	provérbio	“melhor	que”	(“melhor	é
o	jovem	pobre	e	sábio	do	que	o	rei	velho	e	insensato”,	v.	13).	Ele	é	seguido	por
uma	anedota	(v.	14-16b)	e	concluído	com	o	refrão	“também	isto	é	vaidade	e
correr	atrás	do	vento”	(v.	16c).
Novamente	é	importante	observar	as	repetições,	pois	elas	nos	ajudarão	a
discernir	o	tema	do	Pregador.	A	palavra	“vaidade”	é	repetida	três	vezes	(v.	7,	8,
16),	assim	como	a	palavra	“trabalho”	(v.	8	[2	vezes],9).	Mas	as	palavras-chave
primárias	desta	passagem	são	os	números	um	e	dois	(segundo).	O	Pregador	usa
“um”	(	)	cinco	vezes	(v.	8,9,10,11,12)	e	“dois”,	“segundo”	(	,	),	seis	vezes	(v.	8
[“solitário”	é,	literalmente,	“não	um	segundo”],	9,10,11,12,15).
Estrutura	Textual
As	formas	descobertas	em	nossa	análise	literária	nos	permitem	esboçar	a
estrutura	textual:
I.	Observação/Reflexão:	Novamente	vi	vaidade	debaixo	do	sol	(4.7)
A.	História	sobre	alguém	sem	um	segundo,	sem	filhos	ou	irmãos	(4.8a)
1.	Contudo,	não	cessa	de	trabalhar	(4.8b)
2.	Seus	olhos	não	se	fartam	de	riquezas	(4.8c)
B.	Pergunta:	Para	quem	trabalho	eu,	se	nego	à	minha	alma	os	bens	da	vida?
(4.8d)
C.	Conclusão:	Também	isto	é	vaidade	e	enfadonho	trabalho	(4.8e)
II.	Provérbio:	Melhor	é	serem	dois	do	que	um	(4.9a)
A.	Porque	têm	uma	boa	recompensa	pelo	seu	trabalho	(4.9b)
1.	Pois,	se	caírem,	um	levanta	o	outro	(4.10a)
a.	Mas	ai	do	que	estiver	sozinho	e	cair,	pois	não	haverá	quem	o	ajude	(4.10b)
2.	Novamente,	se	dois	estiverem	juntos,	se	aquentarão	(4.11a)
a.	Mas	como	pode	se	esquentar	quem	está	sozinho?	(4.11b)
3.	Dois	resistem	a	um	(observe	o	inverso,	4.12b)
a.	Embora	um	possa	prevalecer	contra	outro	(4.12a)
B.	Provérbio	final:	um	cordão	de	três	dobras	não	se	rompe	com	facilidade
(4.12c)
III.	Provérbio:	Melhor	é	o	jovem	pobre	e	sábio	do	que	o	rei	velho	e	insensato,
que	já	não	se	deixa	admoestar	(4.13)
A.	Anedota	para	confirmar	o	provérbio
1.	Uma	pessoa	pode	sair	da	prisão	para	reinar	(4.14a)
a.	Mesmo	que	nasça	pobre	no	reino	(4.14b)
2.	Todos	os	viventes	seguem	o	jovem	que	substituirá	o	rei	(4.15)⁴*
3.	Era	sem	conta	o	povo	que	o	seguia	(4.16a)
B.	A	brevidade	da	fama	política:	os	que	vierem	depois	não	se	alegrarão	nele
(4.16b)
C.	Conclusão:	Certamente	isso	também	é	vaidade	e	correr	atrás	do	vento	(4.16c)
Interpretação	teocêntrica
Esta	seção	pode	ser	muito	breve,	porque	não	há	referência	a	Deus	nesta
passagem.	Contudo,	como	a	literatura	de	sabedoria	reflete	as	“ordens
costumeiras”	na	criação	de	Deus,	o	conselho	dado	pelo	Pregador	inspirado	pode
ser	entendido	como	conselho	de	Deus	sobre	como	as	pessoas	devem	viver	em
harmonia	com	o	mundo	criado.⁵
Tema	e	objetivo	textual
O	texto	de	pregação	selecionado	contém	três	subunidades.	Uma	forma	de
descobrir	o	tema	textual	é	observar	a	estrutura	do	texto.	Como	vimos	acima,	a
estrutura	geral	do	texto	é	um	quiasma	simples,	ABA,	com	o	ponto	focal	em	B.
A.		Anedota	de	um	rico	solitário	cuja	vida	é	vaidade
B.		Provérbio:	Melhor	é	serem	dois	do	que	um
A’.		Anedota	de	um	rei	popular	cuja	vida	é	vaidade
O	Pregador	também	mostra	que	quer	enfatizar	B	para	confirmar	o	provérbio
“Melhor	é	serem	dois	do	que	um”	com	não	menos	que	três	ilustrações.	Assim,
podemos	formular	o	tema	desta	passagem	simplesmente	como	“melhor	é	serem
dois	do	que	um”.
Para	confirmar	nossa	tentativa	inicial	de	encontrar	um	tema,	devemos	verificar
se	esse	tema,	de	fato,	é	o	fio	que	une	as	três	seções.	A	anedota	do	rico	solitário,
marcada	por	“vaidade”,	confirma	que	“melhor	é	serem	dois	do	que	um”.	Embora
a	anedota	do	rei	que	é	esquecido	seja	mais	difícil	de	encaixar,	ela	termina	com
um	sentimento	de	isolamento	ainda	maior	que	o	do	rico:	“(...)	tampouco	os	que
virão	depois	se	hão	de	regozijar	nele”	(4.16b).	E	aqui,	também,	o	veredito	é:	“Na
verdade,	também	isto	é	vaidade	e	correr	atrás	do	vento”	(4.16c).	Esse	veredito	de
vaidade	confirma	o	foco	textual	em	“melhor	é	serem	dois	do	que	um”.
Este	tema,	contudo,	não	faz	justiça	a	todo	o	texto.	Embora	seja	um	bom	tema
para	os	versos	9-12,	não	dá	ênfase	suficiente	ao	isolamento	experimentado	pelo
rico	e	pelo	rei	(as	extremidades).	Para	abranger	totalmente	essa	ênfase,	podemos
formular	o	tema	textual	da	seguinte	forma:	Já	que	trabalhar	sozinho	é	fútil,
devemos	cooperar	com	os	outros.
O	objetivo	do	Pregador	pode	ser	derivado	tanto	do	tema	quanto	das
circunstâncias	históricas	por	trás	do	texto.	Essas	circunstâncias,	como	vimos,	são
uma	economia	orientada	pelo	individualismo	egoísta.	Fortunas	podiam	ser
rapidamente	feitas	e	perdidas.	As	pessoas	competiam	umas	com	as	outras	por
inveja	(4.4).	Era	um	mundo	em	que	um	“comia”	o	outro.	Mais	que	isso,	já	que
usa	três	ilustrações	para	reforçar	esse	ponto,	ele	procura	não	somente	encorajar
seus	leitores,	mas	persuadi-los.	Assim,	podemos	formular	o	objetivo	do	Pregador
como	persuadir	seus	leitores	a	não	trabalhar	sozinhos,	mas	a	cooperar	uns	com
os	outros.
Maneiras	de	pregar	Cristo
Para	pregar	um	sermão	cristocêntrico,	os	pregadores	têm	frequentemente
submetido	esta	passagem	à	interpretação	alegórica.	“Ambrósio	via	Cristo	como
aquele	que	levanta	seu	companheiro	(v.	10)	e	o	aconselha	(v.	11)	e	como	aquele
que	saiu	da	prisão	para	reinar	(v.	13)”.	Jerônimo	também	viu	a	Trindade	na
declaração	do	Qohelet	sobre	o	cordão	de	três	dobras”. 	Mais	recentemente,	o
comentário	de	Matthew	Henry	diz:	“Dois	juntos	são	um	cordão	de	três	dobras;
onde	dois	estão	intimamente	unidos	em	santo	amor	e	comunhão,	Cristo,	por
meio	de	seu	Espírito,	vem	até	eles	e	faz	o	terceiro,	como	ele	se	uniu	aos	dois
discípulos	no	caminho	de	Emaús;	Então	há	um	cordão	de	três	dobras	que	nunca
será	quebrado”.⁷
Podemos	evitar	a	interpretação	alegórica	e	ainda	pregar	um	sermão
cristocêntrico	investigando	os	sete	caminhos	cristocêntricos.	Esta	passagem	não
contém	promessa	de	Cristo	nem	tipo	de	Cristo.	A	progressão	histórico-redentiva
e	o	contraste	também	não	servem	para	daruma	ponte	para	Cristo,	no	Novo
Testamento.	Isso	nos	deixa	com	três	opções	a	explorar:	analogia,	temas
longitudinais	e	referências	no	Novo	Testamento.
Analogia
A	pergunta	é:	Jesus,	como	o	Pregador	do	Antigo	Testamento,	também	ensina	que
trabalhar	sozinho	é	vaidade	e	que	devemos	cooperar	com	os	outros?	Jesus
certamente	se	opôs	à	ganância	–	uma	forma	extrema	de	egoísmo	que	nos	isola
uns	dos	outros.	A	parábola	do	rico	insensato,	contada	por	Jesus,	é	uma	anedota
sobre	o	homem	rico	da	nossa	passagem.	O	rico	insensato	também	tinha	“em
depósito	muitos	bens	para	muitos	anos”.	Apesar	disso,	sabemos	que	ele	não
tinha	companhia	(“segundo”)	com	quem	compartilhar	sua	riqueza,	pois	Deus	lhe
disse:	“Louco,	esta	noite	te	pedirão	a	tua	alma;	e	o	que	tens	preparado,	para
quem	será?”	(Lc	12.19-20).	A	pergunta	de	Deus	na	parábola	de	Jesus	se	parece
muito	com	a	pergunta	do	rico	em	nosso	texto:	“Para	quem	trabalho	eu?”	(4.8).
De	qualquer	maneira,	Jesus	advertiu:	“Não	acumuleis	para	vós	outros	tesouros
sobre	a	terra,	onde	a	traça	e	a	ferrugem	corroem	e	onde	ladrões	escavam	e
roubam”	(Mt	6.19).	Em	vez	disso,	ele	ordenou:	“Amarás	o	teu	próximo	como	a
ti	mesmo”	(Mt	22.39).	Quando	Jesus,	subsequentemente,	foi	perguntado	“quem
é	o	meu	próximo?”,	ele	contou	a	parábola	do	bom	samaritano.	O	próximo	foi
aquele	que	“usou	de	misericórdia”.	Jesus	enfatizou	o	que	queria	dizer,
afirmando:	“Vai	e	procede	tu	de	igual	modo”	(Lc	10.29,37).
O	próprio	Jesus	enviou	seus	discípulos	não	como	indivíduos,	mas	“dois	a	dois”
(Mc	6.7).	Ele	também	orientou	seus	seguidores:
Se,	porém,	não	te	ouvir,	toma	ainda	contigo	uma	ou	duas	pessoas,	para	que,	pelo
depoimento	de	duas	ou	três	testemunhas,	toda	palavra	se	estabeleça.	(...)	Em
verdade	também	vos	digo	que,	se	dois	dentre	vós,	sobre	a	terra,	concordarem	a
respeito	de	qualquer	coisa	que,	porventura,	pedirem,	ser-lhes-á	concedida	por
meu	Pai,	que	está	nos	céus.	Porque	onde	estiverem	dois	ou	três	reunidos	em	meu
nome,	ali	estou	no	meio	deles	(Mt	18.16,19-20).
Temas	longitudinais
Pode-se	chegar	a	Cristo	também	traçando	o	tema	do	companheirismo	do	Antigo
Testamento	até	Jesus,	no	Novo	Testamento.	Deus	criou	os	seres	humanos	para	o
companheirismo.	No	paraíso,	Deus	declarou:	“Não	é	bom	que	o	homem	esteja
só;	far-lhe-ei	uma	auxiliadora	que	lhe	seja	idônea”	(Gn	2.18).	Deus	criou	os
seres	humanos	como	seres	sociais.	Eles	foram	feitos	para	trabalhar	juntos	e
ajudar	uns	aos	outros.	“Israel	é	chamado	para	fora	do	Egito	para	mostrar	ao
mundo	como	uma	comunidade	justa	deve	funcionar”.⁸	Deus	deu	a	Israel	muitas
leis	que	exigem	o	cuidado	com	o	próximo,	sendo	seu	clímax:	“Amarás	o	teu
próximo	como	a	ti	mesmo”	(Lv	19.18).	O	Pregador	reflete	esta	lei	em
Eclesiastes	4	chamando	a	vida	solitária	de	“vaidade”,	fútil	e	inútil	e	ilustrando
que	“melhor	é	serem	dois	do	que	um”.
Jesus	reconheceu	essa	sabedoria	ao	reunir	seus	discípulos	e	enviá-los	de	“dois
em	dois”	(Mc	6.7).	Jesus	também	reiterou	o	mandamento	do	amor:	“Amarás	o
teu	próximo	como	a	ti	mesmo”	(Mt	22.39).	Os	cristãos	primitivos	expressavam
esse	mandamento	de	amor	ficando	juntos	e	tendo	“(...)	tudo	em	comum.
Vendiam	suas	propriedades	e	bens,	distribuindo	o	produto	entre	todos,	à	medida
que	alguém	tinha	necessidade”	(At	2.44-45).	Paulo	instrui	a	igreja:
Se	há,	pois,	alguma	exortação	em	Cristo,	alguma	consolação	de	amor,	alguma
comunhão	do	Espírito,	se	há	entranhados	afetos	e	misericórdias,	completai	a
minha	alegria,	de	modo	que	penseis	a	mesma	coisa,	tenhais	o	mesmo	amor,
sejais	unidos	de	alma,	tendo	o	mesmo	sentimento.	Nada	façais	por	partidarismo
ou	vanglória,	mas	por	humildade,	considerando	cada	um	os	outros	superiores	a
si	mesmo.	Não	tenha	cada	um	em	vista	o	que	é	propriamente	seu,	senão	também
cada	qual	o	que	é	dos	outros	(Fp	2.1-4;	veja	também	1Co	12–13	sobre	a	igreja
como	corpo	de	Cristo,	com	muitos	membros).
Referências	do	Novo	Testamento
O	Novo	Testamento	não	cita	esta	passagem	nem	faz	alusão	a	ela.	Mas	também
podem-se	procurar	passagens	no	Novo	Testamento	que	tenham	uma	posição
similar	à	do	Pregador	(veja	as	passagens	neotestamentárias	que	servem	de
suporte	para	as	duas	maneiras	acima).	Consequentemente,	também	se	pode
considerar	usar	como	ponte	para	Cristo	a	história	sobre	Jesus	e	Zaqueu.	Zaqueu
é	descrito	como	“maiorial	dos	publicanos	e	rico”.	Ele	nos	lembra	o	homem	rico
de	Eclesiastes	4.	Quando	Jesus	se	convida	para	jantar	na	casa	de	Zaqueu,	este	o
recebe	e	diz:	“Senhor,	resolvo	dar	aos	pobres	a	metade	dos	meus	bens;	e,	se
nalguma	coisa	tenho	defraudado	alguém,	restituo	quatro	vezes	mais”.	Zaqueu
declara	que	desistirá	de	sua	solitária	busca	por	riquezas	à	custa	do	próximo	e
restituirá	segundo	a	lei	de	Deus,	que	requeria	que	um	ladrão	fizesse	restituição
“quatro	ovelhas	por	uma	ovelha”	(Êx	22.1).	Não	é	de	se	espantar	que	Jesus	lhe
tenha	dito:	“Hoje,	houve	salvação	nesta	casa,	pois	que	também	este	é	filho	de
Abraão”	(Lc	19.1-9).	Por	meio	de	Jesus,	Zaqueu	descobriu	que	Deus	nos	criou
não	como	exploradores	solitários,	mas	como	criaturas	sociais	que	são	obrigadas
a	ajudar	umas	às	outras.
Tema	e	objetivo	do	sermão
Formulamos	o	tema	textual	como	“Já	que	trabalhar	sozinho	é	fútil,	devemos
cooperar	com	os	outros”.	Como	o	Novo	Testamento,	como	vimos,	defende	este
tema,	o	tema	textual	pode	funcionar	como	tema	do	sermão:	Já	que	trabalhar
sozinho	é	fútil,	devemos	cooperar	com	os	outros.
Formulamos	o	objetivo	textual	como	“persuadir	seus	leitores	a	não	trabalhar
sozinhos,	mas	a	cooperar	uns	com	os	outros”.	Podemos	manter	o	mesmo
objetivo	para	o	sermão:	persuadir	nossos	ouvintes	a	não	trabalhar	sozinhos,	mas
a	cooperar	uns	com	os	outros.	Este	objetivo	revela	o	alvo	deste	sermão:	a
necessidade	tratada	é	o	individualismo	rigoroso,	egoísta,	em	nossa	cultura	e	seus
efeitos	sobre	os	cristãos.
Exposição	do	sermão
A	introdução	do	sermão	pode	contar	a	história	de	uma	pessoa	contemporânea
que	andou	sobre	cadáveres	para	enriquecer.	Então	faça	a	pergunta:	Será	que	o
individualismo	egoísta	está	influenciando	a	igreja	e	seus	membros?	Israel
frequentemente	demonstrava	individualismo	egoísta.	Quando	Deus	tirou	Israel
do	Egito	para	formar	seu	povo	da	aliança,	ele	ordenou	repetidamente	que	os
israelitas	não	explorassem	seus	irmãos:	“Não	furtarás.	Não	dirás	falso
testemunho	contra	o	teu	próximo.	Não	cobiçarás	a	casa	do	teu	próximo	(...)	nem
coisa	alguma	que	pertença	ao	teu	próximo”	(Êx	20.15-17).	“Amarás	o	teu
próximo	como	a	ti	mesmo”	(Lv	19.18).	Séculos	mais	tarde,	os	profetas	tiveram
que	advertir	aos	israelitas	para	não	explorarem	o	próximo,	mas	cuidarem	dele:
“Ele	te	declarou,	ó	homem,	o	que	é	bom	e	que	é	o	que	o	Senhor	pede	de	ti:	que
pratiques	a	justiça,	e	ames	a	misericórdia,	e	andes	humildemente	com	o	teu
Deus”	(Mq	6.8).
O	Pregador	em	Eclesiastes	também	trata	desta	questão	de	individualismo
egoísta.	Como	lemos	em	4.4,	pouco	antes	do	nosso	texto,	“(...)	vi	que	todo
trabalho	e	toda	destreza	em	obras	provêm	da	inveja	do	homem	contra	o	seu
próximo”.	As	pessoas	trabalhavam	não	apenas	para	suprir	suas	necessidades,
mas	para	superar	as	outras.	As	pessoas	estavam	interessadas	em	enriquecer.	Não
tinham	interesse	pela	necessidade	do	próximo.	Aquele	era	um	mundo	de
competição	selvagem.
O	Pregador	começa,	em	4.7-8:	“Então,	considerei	outra	vaidade	debaixo	do	sol,
isto	é,	um	homem	sem	ninguém,	não	tem	filho	nem	irmã;	contudo,	não	cessa	de
trabalhar,	e	seus	olhos	não	se	fartam	de	riquezas”.	O	Pregador	chama	atenção
para	aquilo	que	chama	de	“vaidade”,	isto	é,	futilidade,	inutilidade.	Ele	chama
atenção	para	um	indivíduo	solitário.	O	original	diz:	“Há	uma	pessoa	e	ela	não
tem	uma	segunda”. 	Ele	é	totalmente	sozinho	em	suas	ocupações.	Ele	“não	tem
segundo”	nem	companhia.	O	texto	diz	que	ele	não	tem	nem	mesmo	“filho	nem
irmã”,	isto	é,	“as	relações	mais	próximas	ao	longo	de	duas	gerações	e	os	dois
parentes	que	podiam	se	beneficiar	do	seu	trabalho	por	meio	de	herança”.¹ 	Essa
pessoa	cortou	todas	as	suas	relações	para	se	concentrar	no	único	objetivo	de	sua
vida:	“Afligido	por	um	apetite	insaciável	por	riquezas,	o	solitário	é	consumido
pelo	trabalho”.¹¹
Essa	sede	por	riquezaretorna	ao	verso	6,	imediatamente	antes	do	nosso	texto.
“Melhor	é	um	punhado	de	descanso	do	que	ambas	as	mãos	cheias	de	trabalho	e
correr	atrás	do	vento”.	Muitas	pessoas	hoje	estão	insatisfeitas	com	um	punhado.
Querem	mais	e	mais:	pelo	menos	duas	mãos	cheias.	Mas	somos	advertidos	que
duas	mãos	cheias	vêm	com	“trabalho”.	O	Pregador	escreve,	no	verso	8,	que	essa
pessoa	gananciosa	“não	cessa	de	trabalhar”.	Por	que	ela	não	cessa	de	trabalhar?
Porque,	diz	o	Pregador,	“seus	olhos	não	se	fartam	de	riquezas”	(v.	8;	cf.	1.8).¹²
“O	olho,	o	órgão	do	desejo,	não	consegue	ficar	satisfeito”.¹³	Isso	leva	a	ainda
mais	trabalho	para	satisfazer	aos	olhos.	Essa	pessoa	é	pega	em	um	ciclo	vicioso:
“não	cessa	de	trabalhar”.
Finalmente,	o	rico	desperta	para	sua	situação	desagradável.	Ele	faz	a	si	mesmo	a
pergunta	crucial:	“Para	quem	trabalho	eu,	se	nego	à	minha	alma	os	bens	da
vida?”	A	resposta	esperada	é:	“Para	ninguém”.	Ele	“não	tem	segundo”,	nem
companheira	que	possa	se	beneficiar	de	toda	a	sua	riqueza.	Ele	não	tem	sequer
filhos	ou	irmãos	que	possam	receber	sua	herança.	Ele	está	sozinho.	E	ele	nem
sequer	beneficia	a	si	mesmo,	pois,	como	ele	diz,	está	se	privando	dos	“bens	da
vida”.	Ele	não	encontra	prazer	na	vida.	O	trabalho	não	lhe	dá	prazer	porque	ele
se	tornou	um	escravo	do	trabalho.	Comer	e	beber	não	lhe	dão	prazer	porque	ele
dificilmente	reserva	tempo	para	isso.	O	descanso	não	lhe	dá	prazer,	porque	ele	é
orientado	pelo	trabalho	e	tem	pouco	tempo	para	descansar.	Ele	“não	cessa	de
trabalhar”.¹⁴
O	Pregador	resume,	no	fim	do	verso	8:	“Também	isto	é	vaidade	e	enfadonho
trabalho”.	A	vida	dessa	pessoa	é	“vaidade”,	isto	é,	literalmente,	“vapor”.	Sua
vida	é	fútil,	inútil.	Ela	não	tem	substância¹⁵	porque	ele	é	sozinho:	“ele	‘não	tem
segundo’–	ninguém	com	quem	compartilhar	os	frutos	de	seu	labor	de	algum
modo;	seu	trabalho	não	beneficia	a	ninguém	mais”.¹ 	O	Pregador	conclui	que	a
vida	desse	rico	solitário	é	um	“enfadonho	trabalho”.
Contraste	a	vida	dessa	pessoa	solitária	com	a	de	uma	pessoa	que	tem	“um
segundo”,	um	companheiro.	Verso	9:	“Melhor	é	serem	dois	do	que	um,	porque
têm	melhor	paga	do	seu	trabalho”.	“Melhor	é	serem	dois	do	que	um”.	Quando	se
trata	de	riquezas,	o	Pregador	disse,	em	4.6:	mais	não	é	melhor.	“Melhor	é	um
punhado	de	descanso	do	que	ambas	as	mãos	cheias	de	trabalho”.	Mas,	quando	se
trata	de	relacionamentos	humanos,	mais	é	melhor.	“Melhor	é	serem	dois	do	que
um”.	“O	‘um’	a	que	ele	se	refere	é,	sem	dúvida,	o	trabalhador	solitário	cujo
objetivo	é	o	acúmulo	de	ganho	material,	o	que	não	pode,	por	fim,	trazer
satisfação.	De	mais	valor...	são	os	“dois”	que,	pelo	menos,	compartilham	os
frutos	de	seu	trabalho”.¹⁷
De	fato,	dois	podem	fazer	muito	mais	do	que	compartilhar	os	frutos	de	seu
trabalho.	O	Pregador	dá	três	ilustrações	de	como	duas	pessoas	podem	se	ajudar
mutuamente.	Primeiro,	verso	10:	“Se	caírem,	um	levanta	o	seu	companheiro;	ai,
porém,	do	que	estiver	só,	pois,	caindo,	não	haverá	quem	o	levante”.	O	Pregador
está	pensando	aqui	nas	pessoas	que	viajavam	no	Oriente	Médio.	Isso	podia	ser
perigoso,	especialmente	em	noites	escuras.	Não	havia	ruas	nem	iluminação
pública.	Nem	mesmo	lanternas.	Andando	por	caminhos	que	frequentemente
acompanhavam	a	borda	de	barrancos,	as	pessoas	podiam	facilmente	tropeçar	e
cair.	A	paisagem	também	era	salpicada	de	poços	–	poços	de	betume	(vf.	Gn
14.10)	ou	de	buracos	escondidos	para	capturar	animais.¹⁸	Em	uma	de	suas
parábolas,	Jesus	se	referiu	ao	perigo	de	cair	em	um	desses	buracos.	Ele
perguntou:	“Pode,	porventura,	um	cego	guiar	a	outro	cego?	Não	cairão	ambos	no
barranco?”	(Lc	6.39).	Portanto,	era	perigoso	viajar	sozinho	pelo	Oriente	Médio.
Mas	“melhor	é	serem	dois	do	que	um...	Porque,	se	caírem	[i.e.,	se	um	ou	outro
cair¹ ],	um	levanta	o	seu	companheiro”.	Como	estão	juntos,	podem	se	ajudar
mutuamente	e	sobreviver.	“Mas	ai	do	que	estiver	só;	pois,	caindo,	não	haverá
quem	o	levante”.	A	pessoa	solitária	perecerá.	Hoje	ainda	aplicamos	essa
sabedoria	de	que	é	melhor	serem	dois	do	que	um.	Quando	crianças	vão	acampar,
elas	aprendem	o	“sistema	companheiro”:	cada	criança	forma	dupla	com	outra,	de
modo	que	possam	se	ajudar	mutuamente.	“Melhor	é	serem	dois	do	que	um”.
A	segunda	ilustração	do	Pregador	é	feita	no	verso	11:	“Também,	se	dois
dormirem	juntos,	eles	se	aquentarão;	mas	um	só	como	se	aquentará?”	Essa
ilustração	também	é	extraída	dos	perigos	de	se	viajar	pelo	Oriente	Médio.	Os
viajantes	geralmente	passavam	as	noites	ao	relento.	Quando	Jacó	fugiu	da	fúria
de	Esaú,	ele	viajou	para	o	norte	até	o	sol	se	pôr.	Então,	dormiu	ao	relento	com
uma	pedra	como	travesseiro	(Gn	28.11).	Mas	como	uma	pessoa	sozinha	pode	se
aquecer	em	noites	frias?	As	pessoas	não	levavam	sacos	de	dormir	nem	cobertas.
Tudo	o	que	tinham	para	se	cobrir	era	sua	capa	(veja	Êx	22.26-27).	Em	noites
frias,	isso	não	era	suficiente.	Então	as	pessoas	podiam	ficar	juntas,
compartilhando	suas	capas	e	o	calor	do	corpo.	“Melhor	é	serem	dois	do	que	um”,
pois	podem	ficar	juntas	e	“se	aquentarão;	mas	um	só	como	se	aquentará?”
O	Pregador	acrescenta	uma	terceira	ilustração	no	verso	12:	“Se	alguém	quiser
prevalecer	contra	um,	os	dois	lhe	resistirão”.	Novamente,	esta	ilustração	é
extraída	dos	perigos	das	viagens	pelo	Oriente	Médio.	Longe	da	segurança	de
vilas	e	cidades,	havia	o	perigo	de	ladrões,	que	perambulavam	pelo	interior.	Pense
na	parábola	de	Jesus	sobre	um	homem	que	foi	de	Jerusalém	a	Jericó.	Ele	“veio	a
cair	em	mãos	de	salteadores,	os	quais,	depois	de	tudo	lhe	roubarem	e	lhe
causarem	muitos	ferimentos,	retiraram-se,	deixando-o	semimorto”	(Lc	10.30).
Sozinho,	o	homem	não	teria	chance.	“Se	alguém	[um	ladrão]	quiser	prevalecer
contra	um	[viajante],	os	dois	[companheiros]	lhe	resistirão”.	Ainda	hoje,	agimos
com	base	nessa	sabedoria,	advertindo	as	pessoas	a	nunca	fazerem	corridas	ou
caminhadas	sozinhas.
Essas	três	ilustrações	dão	três	exemplos	das	vantagens	de	se	ter	um	“segundo”.
No	entanto,	elas	se	aplicam	em	uma	área	muito	maior	que	a	de	viagens.	Já	no
paraíso,	Deus	disse:	“Não	é	bom	que	o	homem	esteja	só;	far-lhe-ei	uma
auxiliadora	que	lhe	seja	idônea”	(Gn	2.18).	Deus	nos	criou	não	como	seres
solitários,	mas	como	seres	sociais.	Há	muitas	vantagens	para	marido	e	esposa
trabalharem	juntos,	para	se	completarem	nos	assuntos	da	casa,	na	criação	dos
filhos	e,	finalmente,	na	aposentadoria.	Pesquisas	hoje	mostram	que,	em	contraste
com	os	solteiros,	“pessoas	casadas	vivem	mais	e	com	mais	saúde	nesses	anos
extras”.² 	Também	há	muitas	vantagens	para	colegas	de	trabalho	que	trabalham
juntos	e	se	complementam	em	seu	trabalho.	Há	muita	vantagem	em	se	ter	um
piloto	e	um	copiloto	no	controle	de	um	avião,	em	vez	de	apenas	um	piloto.
O	Pregador	resume	sua	mensagem	no	fim	do	verso	12	com	um	provérbio:	“O
cordão	de	três	dobras	não	se	rebenta	com	facilidade”.	O	Pregador
“provavelmente	está	fazendo	alusão	a	um	conhecido	provérbio	antigo	do	Oriente
Próximo	a	respeito	dos	benefícios	da	amizade”.²¹	Um	cordão	de	três	dobras	é
uma	corda	com	três	fios	torcidos	juntos.	Um	cordão	simples	pode	ser	rompido
facilmente.	Como	vimos	nas	ilustrações,	uma	pessoa	sozinha	não	consegue
sobreviver	à	queda,	não	consegue	se	aquecer	em	uma	noite	fria	e	não	consegue
resistir	a	um	ladrão.	Um	cordão	simples	pode	ser	facilmente	rompido.	Dois
cordões	combinados	são	muito	mais	fortes.	Como	vimos	nas	ilustrações,	dois
podem	sobreviver	à	queda,	podem	se	aquecer	e	podem	resistir	a	um	ladrão.	Mas
três	cordões	entretecidos	juntos	são	ainda	mais	fortes.	“O	cordão	de	três	dobras
não	se	rebenta	com	facilidade”.
Pela	repetição	de	dois,	dois,	dois,	o	Pregador	se	move	para	o	clímax	de	três.²²	O
movimento	de	dois	para	três	pode	ser	“uma	pista	de	que	não	há	nada	sacrossanto
no	par	e	de	que	a	companhia	pode	funcionar	em	números	maiores”.²³	Há	muitas
vantagens	para	um	time	de	futebol	quando	os	jogadores	funcionam	como	uma
equipe,	não	como	estrelas	individuais.	Há	muitas	vantagens	para	uma	igreja
quando	seus	membros	trabalham	juntos	completando	uns	aos	outros	pelo	uso	de
seus	dons	individuais	para	benefício	da	igreja.	Como	trabalhar	sozinho	é	fútil,	a
mensagem	do	Pregador	é	quedevemos	cooperar	uns	com	os	outros.
Deus	criou	os	seres	humanos	para	companhia	–	como	seres	sociais.	Deus	deu	a
Israel	muitas	leis	que	exigiam	o	cuidado	com	o	próximo.	Essas	leis	alcançaram	o
clímax	em	Levítico	19:	“Amarás	o	teu	próximo	como	a	ti	mesmo”	(Lv	19.18).
No	Novo	Testamento,	Jesus	reiterou	que	não	devemos	ser	solitários	egoístas,
mas	cuidar	do	próximo.	Jesus	também	ordenou:	“Amarás	o	teu	próximo	como	a
ti	mesmo”	(Mt	22.39).	O	próprio	Jesus	agiu	com	base	na	sabedoria	de	que
“melhor	é	serem	dois	do	que	um”.	Em	vez	de	ser	um	vulto	solitário,	ele	reuniu
discípulos	ao	seu	redor.	Além	disso,	ele	os	enviou	de	“dois	em	dois”	(Mc	6.7).
Jesus	também	instruiu	aos	seus	seguidores:
Se,	porém,	não	te	ouvir,	toma	ainda	contigo	uma	ou	duas	pessoas,	para	que,	pelo
depoimento	de	duas	ou	três	testemunhas,	toda	palavra	se	estabeleça.	(...)	Em
verdade	também	vos	digo	que,	se	dois	dentre	vós,	sobre	a	terra,	concordarem	a
respeito	de	qualquer	coisa	que,	porventura,	pedirem,	ser-lhes-á	concedida	por
meu	Pai,	que	está	nos	céus.	Porque	onde	estiverem	dois	ou	três	reunidos	em	meu
nome,	ali	estou	no	meio	deles	(Mt	18.16,19-20).
Os	cristãos	primitivos	não	eram	solitários.	Lucas	relata	que	“todos	os	que	creram
estavam	juntos	e	tinham	tudo	em	comum.	Vendiam	as	suas	propriedades	e	bens,
distribuindo	o	produto	entre	todos,	à	medida	que	alguém	tinha	necessidade”	(At
2.44-45).	Paulo	rogou	à	igreja:
Se	há,	pois,	alguma	exortação	em	Cristo,	alguma	consolação	de	amor,	alguma
comunhão	do	Espírito,	se	há	entranhados	afetos	e	misericórdias,	completai	a
minha	alegria,	de	modo	que	penseis	a	mesma	coisa,	tenhais	o	mesmo	amor,
sejais	unidos	de	alma,	tendo	o	mesmo	sentimento.	Nada	façais	por	partidarismo
ou	vanglória,	mas	por	humildade,	considerando	cada	um	os	outros	superiores	a	si
mesmo.	Não	tenha	cada	um	em	vista	o	que	é	propriamente	seu,	senão	também
cada	qual	o	que	é	dos	outros	(Fp	2.1-4).
A	igreja	é	uma	comunidade.	Muito	embora	tenha	muitos	membros,	esses
membros	formam	um	corpo	–	o	corpo	de	Cristo.	Como	membros,	temos	que
trabalhar	juntos	pelo	bem	comum	(1Co	12–13).
O	Pregador	do	Antigo	Testamento	continua	sua	mensagem	com	uma	última
história.	Verso	13:	“Melhor	é	o	pobre	jovem	e	sábio	do	que	o	rei	velho	e
insensato,	que	já	não	se	deixa	admoestar”.	O	rei	velho	e	insensato	é	uma	figura
trágica.	Provérbios	12.15	diz:	“O	caminho	do	insensato	aos	seus	próprios	olhos
parece	reto,	mas	o	sábio	dá	ouvidos	aos	conselhos”.	Em	Israel,	os	anciãos	eram
considerados	sábios.	Certamente	o	rei	deveria	ser	sábio.	Mas	aqui	temos	um	“rei
velho	e	insensato,	que	já	não	se	deixa	admoestar”.	Esse	rei	tolo	é	tão	isolado
quanto	o	homem	rico	da	primeira	história.	O	homem	rico	dedicou	toda	a	sua
vida	a	acumular	riquezas	e	perdeu	suas	companhias,	até	mesmo	seus	filhos	e
irmãos.	Ele	era	uma	figura	solitária,	sem	“um	segundo”.	O	“rei	velho	e
insensato...	não	se	deixa	admoestar”.	Ele	demitiu	seus	conselheiros.²⁴	Ele	seguirá
sozinho.	Ele,	também,	é	uma	figura	solitária,	não	tem	“um	segundo”.	Ou	há	“um
segundo”?	Sim,	há.	O	segundo	é	o	sucessor	do	velho	rei.²⁵	Ele	está	esperando	na
prisão.
O	verso	14	diz:	“Ainda	que	aquele² 	saia	do	cárcere	para	reinar	ou	nasça	pobre
no	reino	deste”.	O	jovem	pobre	e	sábio	pode	sair	da	prisão	para	reinar.	Um
exemplo	de	jovem	sábio	que	saiu	da	prisão	para	reinar	é	o	“jovem”	(Gn	37.30)
José,	que	saiu	da	prisão	no	Egito	e	passou	a	governar	a	nação.	Faraó	lhe	disse:
“Vês	que	te	faço	autoridade	sobre	toda	a	terra	do	Egito”	(Gn	41.41).²⁷
O	verso	15	continua:	“Vi	todos	os	viventes	que	andam	debaixo	do	sol	com	o
jovem	sucessor,	que	ficará	em	lugar	do	rei”.	“Todos	os	viventes”	seguiam	“o
jovem	[o	segundo]²⁸	que	ficará	em	lugar	do	rei”.	Ele	não	era	solitário	como	o	rei
velho	e	insensato.	Ele	era	um	com	todas	as	pessoas	que	liderava.	Este	jovem
sábio	se	tornou	um	rei	sábio.	O	verso	16	diz:	“Era	sem	conta	todo	o	povo	que	ele
dominava”.	Os	comentaristas	estranham	frases	como	“todos	os	viventes”
seguindo	o	jovem	e	“era	sem	conta	todo	o	povo	que	ele	dominava”.	É	uma
hipérbole?	É	um	exagero?	Provavelmente.	Mas	nos	faz	pensar	novamente	em
José,	sobre	quem	lemos	em	Gênesis	41.57:	“(...)	todas	as	terras	vinham	ao	Egito,
para	comprar	de	José,	porque	a	fome	prevaleceu	em	todo	o	mundo”.
O	Pregador	tem	em	mente	um	grande	e	sábio	rei	como	José.	Mas	ele	continua,
no	verso	16:	“tampouco	os	que	virão	depois	dele	se	hão	de	regozijar	nele”.	As
pessoas	se	tornarão	críticas	e	não	mais	seguirão	o	rei.² 	Eles	o	rejeitarão.	A	fama
política	é	de	curta	duração.	“As	pessoas	são	volúveis	e	podem	estender	as
palmas	diante	de	um	recém-chegado	e	clamar	“crucifica-o”	poucos	dias
depois”.³
Com	sua	afirmação	de	que	“tampouco	os	que	virão	depois	dele	se	hão	de
regozijar	nele”,	o	Pregador	pode	sugerir	que	o	rei	sábio	logo	será	esquecido.	Em
9.15,	o	Pregador	conta	uma	história	similar	sobre	um	homem	pobre	e	sábio:
“Encontrou-se	nele	um	homem	pobre,	porém	sábio,	que	a	livrou	pela	sua
sabedoria;	contudo,	ninguém	se	lembrou	mais	daquele	pobre”.	Como	o	Pregador
disse	em	2.16,	“(...)	tanto	do	sábio	como	do	estulto,	a	memória	não	durará	para
sempre;	pois,	passados	alguns	dias,	tudo	cai	no	esquecimento”	(cf.	1.11).
Novamente	podemos	pensar	em	José.	Um	rei	tão	sábio,	com	tanta	sabedoria.
Mas	lemos	em	Êxodo	1.8:	“Entrementes,	se	levantou	novo	rei	sobre	o	Egito,	que
não	conhecera	a	José”.	Aqueles	que	vieram	depois	de	José	se	esqueceram	dele.
Um	rei	tão	grande	foi	esquecido.
O	Pregador	conclui:	“Na	verdade,	que	também	isto	é	vaidade	e	correr	atrás	do
vento”.	Até	mesmo	uma	vida	orientada	por	sabedoria,	até	mesmo	uma	vida	que
alcança	o	pináculo	da	realização	humana,	até	mesmo	uma	vida	que	é	exaltada
pela	adoração	de	milhões	é	fútil,	inútil,	no	fim.	O	Pregador	chama	isso	de
“correr	atrás	do	vento”.	É	vazio,	não	tem	substância.	O	grande	rei	e	seus	atos
maravilhosos	são	esquecidos.
Com	esta	história,	o	Pregador	está	nos	advertindo	de	que	há	um	limite	para	onde
a	sabedoria	pode	nos	levar	nesta	vida.	Certamente	ele	nos	adverte	a	não
seguirmos	sozinhos.	Isso	é	seguramente	fútil.	De	muitas	maneiras,	é	melhor
serem	dois	do	que	um.	Um	cordão	de	três	dobras	é	ainda	melhor:	não	se	rompe
com	facilidade.	Devemos	cooperar	uns	com	os	outros	nesta	vida.	Mas	devemos
perceber	que	esta	vida	terrena	terá	um	fim,	e	nossas	maiores	realizações	logo
serão	esquecidas.	A	percepção	da	brevidade	do	nosso	legado	neste	mundo	deve
nos	manter	humildes	mesmo	quando	trabalhamos	junto	com	outras	pessoas.
Assim	o	Pregador	nos	desafia	a	não	trabalharmos	sozinhos	e	para	nós	mesmos,
mas	humildemente	com	e	para	outros.	Seguir	sozinho	é	fútil.	Trabalhar	juntos
oferece	muitas	vantagens.	Jesus	também	nos	orienta	a	viver	não	para	nós
mesmos,	mas	a	amar	o	próximo	como	a	nós	mesmos	(Mt	22.39).	Paulo	diz	que
somos	todos	membros	de	um	só	corpo	–	o	corpo	de	Cristo.	Como	membros	de
um	só	corpo,	não	devemos	seguir	sozinhos,	mas	trabalhar	juntos.	“Não	podem	os
olhos	dizer	à	mão:	Não	precisamos	de	ti;	nem	ainda	a	cabeça,	aos	pés:	Não
preciso	de	vós”	(1Co	12.21).
Nossa	cultura	é	marcada	por	severo	individualismo.	O	trato	egoísta	também
tende	a	se	infiltrar	na	igreja.	Mas	os	cristãos	não	podem	ser	individualistas
porque	são	membros	de	uma	comunidade.	Somos	todos	membros	do	corpo	de
Cristo.	Como	membros	do	corpo	de	Cristo,	devemos	trabalhar	juntos	pela	vinda
do	reino	de	Deus	ao	mundo.	Todas	as	nossas	realizações	individuais	serão
esquecidas	no	futuro,	mas	o	que	fazemos	juntos	pelo	reino	de	Deus	permanecerá.
Paulo	nos	encoraja:	“(...)	meus	amados	irmãos,	sede	firmes,	inabaláveis	e	sempre
abundantes	na	obra	do	Senhor,	sabendo	que,	no	Senhor,	o	vosso	trabalho	não	é
vão”	(1Co	15.58).
¹	“Não	há	continuidade	temática	aqui”.	Whybray,	Ecclesiastes,	86.
²	Murphy,	Ecclesiastes,	42.	Cf.	Fox,	Ecclesiastes,	30:	“O	texto	hebraico	desta
passagem	é	muito	difícil...	Em	hebraico,	geralmente	não	é	claro	a	que	pronomes
e	verbos	se	referem,	e	não	é	certo	sequer	quantos	“jovens”	aparecem	na	história,
dois	ou	três”.	Cf.	Delitzsch,	Ecclesiastes,	280:	“Gratz	acha	que	os	versos	13-16
levam	os	expositores	ao	desespero”.	Para	um	panorama	clarodas	diferentes
opiniões	entre	os	comentaristas,	veja	A.	D.Wright,	“The	Poor	but	Wise	Youth
and	the	Old	but	Foolish	King”,	142-48.
³	Provan,	Ecclesiastes,	106-7.	Cf.Murphy,	Wisdom	Literature,	137:	“Esta
unidade	[4.7-16]	é	unida	pela	repetição	da	palavra-chave,	(	,	v.8,10,15;	,	v.	9,	1,
12)	e	a	frase	característica	‘vaidade	e	correr	atrás	do	vento’	termina	a	unidade”.
⁴	Tendo	em	vista	a	incerteza	da	tradução	do	hebraico	(veja	p.	125,	nota	2,	acima),
por	enquanto	estou	seguindo	a	tradução	(e	interpretação)	da	NRSV.
⁵	Veja	von	Rad,	Wisdom	in	Israel,	92-95.
	Jarick,	Gregory	Thaumaturgos’	Paraphrase,	359-60,	n.	49,	citado	por	Longman,
Book	of	Ecclesiastes,	143.
*	A	publicação	em	português	continua	seguindo	a	ARA	(N.	do	T.).
⁷	Matthew	Henry	e	Thomas	Scott,	Commentary	on	the	Holy	Bible,	Vol.	3	(Grand
Rapids:	Baker,	1960,	reimpressão),	413.
⁸	Provan,	Ecclesiastes,	110.	Veja	ali	também	várias	leis	que	requerem	cuidado
com	o	próximo.
	“A	frase	hebraica	que	era	totalmente	sozinho	(	)	é	uma	frase	geral	que	indica
que	o	homem	não	tinha	amigo,	nem	colega	de	trabalho,	nem	esposa	(contra
todos	os	comentaristas	que	têm	tentado	especificar	uma	dessas	relações)”.
Longman,	Book	of	Ecclesiastes,	140.	Seow,	Ecclesiastes,188,	salienta	que	“o
comentarista	medieval	Rashbam	especula	que	este	verso	se	refere	a	avarentos
que	se	recusam	a	aceitar	qualquer	pessoa	como	companheira,	porque	não	querem
compartilhar	sua	riqueza”.
¹ 	Longman,	ibid.
¹¹	Brown,	Ecclesiastes,	51.	Cf.	Provérbios	18.1.
¹²	“No	verso	8b,	é	uma	conjunção	coordenativa...	Em	outras	palavras,	há	dois
fatores	no	comportamento	deste	homem:	externo	–	ele	nunca	cessa	de	trabalhar	–
e	interno	–	nunca	fica	satisfeito	com	o	que	tem”.	Fox,	Qohelet,	204.
¹³	Crenshaw,	Ecclesiastes,	110.
¹⁴	“O	espírito	competitivo	que	orienta	a	pessoa	para	melhor	desempenho	precisa
ser	equilibrado	com	o	perigo	de	ação	compulsiva.	Quando	o	trabalho	se	torna
uma	busca	irrefletida	por	riquezas,	ele	deixa	de	ter	sentido”.	Ogden,	Qoheleth,
69.
¹⁵	“As	duas	ocorrências	de	em	4.7-8	referem-se	à	falta	de	substância	do	vapor
para	descrever	o	trabalho	fútil”.	Miller,	“Power	in	Wisdom”,	157,	nota	35.
¹ 	Wright,	“The	Poor	butWise	Youth”,	148-49.	Cf.	Brown,	Ecclesiastes,	51:	“A
vaidade	de	tudo	isso	é	que	a	determinação	incansável	e	a	diligência	focada
produzem	não	autorrealização,	mas	autoprivação”.
¹⁷	Ogden,	“The	Mathematics	of	Wisdom”,	VT	34/4	(1984)	450.
¹⁸	Veja	Eclesiastes	10.8;	Provérbios	26.27;	28.10.
¹ 	“O	hebraico	é	estritamente	plural	(‘se	caírem’),	mas,	ocasionalmente,	o	plural
pode	‘denotar	um	singular	indefinido’	e,	assim,	significar	‘se	algum	deles
cair...’”	Eaton,	Ecclesiastes,	94.
² 	Conforme	registrado	em	Time,	28	de	janeiro	de	2008,	75.	O	artigo	explica	que
“estudos	associaram	o	casamento	a	taxas	menores	de	enfermidades
cardiovasculares,	câncer,	doenças	respiratórias	e	mentais.	O	casamento	ajuda	os
cônjuges	a	lidar	melhor	com	o	stress”.
²¹	Longman,	Book	of	Ecclesiastes,	143.	Veja	também	Fox,	A	Time	to	Tear
Down,	223.
²²	“A	sequência	numérica	X,	X	+	1	é	muito	comum	no	Antigo	Testamento	(cf.	Ec
11.2;	Am	1.3,	etc.)	e	geralmente	indica	uma	medida	cheia	daquilo	que	está	sendo
mencionado”.	Eaton,	Ecclesiastes,95.
²³	Ibid.
²⁴	O	rei	velho	e	sábio	“se	torna	vulnerável	a	ser	substituído	por	um	que	seja
receptivo	ao	conselho	sábio”.	Brown,	Ecclesiastes,	53.	Veja	Provérbios	15.22:
“Onde	não	há	conselho	fracassam	os	projetos,	mas	com	os	muitos	conselheiros
há	bom	êxito”.	Cf.	Provérbios	11.14:	“Não	havendo	sábia	direção,	cai	o	povo,
mas	na	multidão	de	conselheiros	há	segurança”.
²⁵	“O	objetivo	primário	da	narrativa	em	seu	presente	contexto	é	que	“um
segundo”	nem	sempre	é	uma	vantagem”.	Wright,	“The	Poor	but	Wise	Youth”,
154.
² 	A	questão	é:	Quem	é	“aquele”?	É	o	rei	insensato	ou	o	jovem	sábio?	Wright,
“The	Poor	but	Wise	Youth”,	152,	argumenta	que	o	velho	rei	continua	sendo	o
sujeito	do	relato:	“Ele	(o	rei)	veio	da	prisão	e	da	pobreza;	o	jovem	ficaria	no
lugar	do	rei;	o	rei	estava	acima	de	todos	eles;	os	que	viessem	depois	não	se
alegrariam	no	rei”.	Outros	comentaristas	argumentam	que	é	o	jovem	sábio,	que
se	torna	rei	(veja	Eaton,	Ecclesiastes,	96,	com	referências	a	Gordis	e	Aalders;	e
Longman,	Book	of	Ecclesiastes,	146).	Como	a	ambiguidade	não	muda	o	foco	da
história,	seguirei	a	interpretação	da	NRSV,	que	é	a	interpretação	da	maioria	dos
comentaristas.
²⁷	A	maioria	dos	comentaristas	argumenta	que	o	Pregador	não	tem	um	vulto
histórico	específico	em	mente.	Ogden	é	uma	das	exceções.	“Outra	evidência	de
que	o	Qohelet	tem	a	história	de	José	em	mente	é	seu	uso,	em	várias	ocasiões
(7.9;	8.8;	10.5)	do	termo	usado	somente	em	uma	outra	ocasião,	em	Gênesis	42.6,
para	descrever	o	ofício	de	José	como	conselheiro”.	Qoheleth,	72.
²⁸	Por	causa	da	palavra	“segundo”,	muitos	comentaristas	argumentam	que	há
dois	jovens	(alguns,	até	três)	na	história:	o	jovem	A	(v.13)	e	o	jovem	B	(v.15).
Veja,	e.g.,	Murphy,	Ecclesiastes,	42-43;	Whybray,	Ecclesiastes,	89-90;	Longman,
Book	of	Ecclesiastes,	146-47;	Fox,	Ecclesiastes,	31;	e	Seow,	Ecclesiastes,	191.
Wright,	“The	Poor	but	Wise	Youth”,	149-50,	apresenta	um	argumento	atraente
em	favor	de	um	só	jovem:	“O	significado	da	palavra	‘o	segundo’	no	verso	15	é
determinado	por	seu	uso	nos	versos	8	e	10,	em	que	foi	empregada	pela	primeira
vez...	Significa	‘companhia’	ou	‘associado’,	como	todos	os	tradutores
reconhecem.	Não	há	um	jovem	B	na	história,	porque	a	palavra	‘segundo’	não	é
usada	em	sentido	enumerativo	(i.e.,	segundo,	terceiro,	quarto),	mas	no	sentido	de
‘companhia/associado’.	O	jovem	descrito	como	‘o	segundo’	não	é	um	segundo
em	relação	ao	jovem	já	mencionado	no	verso	13...	É	segundo	em	relação	ao	rei,
isto	é,	um	associado	ou,	neste	caso,	futuro	sucessor”.
² 	“A	expressão	[‘regozijar-se	nele’]...	pode	indicar	aceitação	do	governo	do	rei”.
Seow,	Ecclesiastes,192.	Cf.	Juízes	9.19.
³ 	Eaton,	Ecclesiastes,	96.
CAPÍTULO	7
Adorando	na	casa	de	Deus
Eclesiastes	5.1-7
¹
Guarda	o	teu	pé,	quando
entrares	na	casa	de	Deus.
(Ec	5.1)
Eclesiastes	5.1-7	é	um	texto	único	em	Eclesiastes	porque	foca	a	adoração	no
templo	de	Deus.	Este	é	um	texto	de	pregação	ideal	para	resistir	à	tendência
contemporânea	de	transformar	a	adoração	a	Deus	em	entretenimento	social	ou
em	um	espetáculo	pomposo.	O	grande	desafio	ao	pregar	nesta	passagem	é
conseguir	entendimento	adequado	de	algumas	frases	obscuras.	Veja,	por
exemplo,	a	sentença	“chegar-se	para	ouvir	é	melhor	do	que	oferecer	sacrifícios
de	tolos”	(5.1).	O	que	é	“sacrifício	de	tolos”?	Longman	pergunta:	“Como	ele	está
encorajando	a	ouvir	e	não	a	prestar	um	sacrifício	alternativo,	isso	significa	que
todos	os	sacrifícios	são	sacrifícios	de	tolos?”²	É	ainda	mais	difícil	interpretar	a
linha	seguinte,	que	diz,	literalmente:	“Pois	não	sabem	como	fazer	mal”.	O
Pregador	está	dizendo	que	os	tolos	“não	sabem	como	fazer	mal”?³	E	como	lidar,
no	sermão,	com	5.7a:	“Como	na	multidão	dos	sonhos	há	vaidade,	assim	também,
nas	muitas	palavras”?	A	NRSV	observa:	“significado	do	hebraico	incerto”.	“A
NAB	e	a	NEB	o	omitem	totalmente”.⁴
Texto	e	contexto
Os	limites	desta	unidade	textual	são	identificados	muito	facilmente.	Eclesiastes
5.1	começa	uma	nova	unidade	literária	com	“Guarda	o	pé,	quando	entrares	na
casa	de	Deus”.	Ir	à	casa	de	Deus	indica	um	novo	tópico.	Além	disso,	“guarda	o
pé”	sinaliza	“uma	nova	unidade	literária,	pela	mudança	de	tom.	A	linguagem	de
reflexão	em	4.1-16	dá	lugar	à	linguagem	de	instrução	em	5.1-7”.⁵	A	única
questão	é	onde	a	unidade	termina.	Alguns	comentaristas	estendem	o	texto	até	o
verso	9	porque	os	versos	8	e	9	continuam	“o	discurso	em	segunda	pessoa	–
exatamente	como	o	restante	do	poema	que	os	precede”. 	Mas	o	Pregador,	em
outros	lugares,	emprega	uma	ponte	de	uma	unidade	para	outra	–	o	que	torna
necessária	uma	decisão	de	se	a	ponte	deve	ser	incluída	no	primeiro	texto	de
pregação	ou	no	segundo	(veja,	por	exemplo,	3.16-17;	8.16-17;	9.11-12;	e	11.7-
8).	Nesse	caso,	ele	indica	que	os	versos	1-7	são	uma	unidade,	que	forma	uma
inclusio	com	os	imperativos	“Guarda	o	teu	pé	quando	entrares	na	casa	de	Deus”
(v.	1)	e“teme	a	Deus”	(v.	7).	O	imperativo	conciso,	“teme	a	Deus”,	forma	uma
poderosa	conclusão	para	a	unidade	literária.	Em	adição,	no	verso	8,	ele	muda	do
tópico	da	adoração	no	templo	para	“a	opressão	ao	pobre”.	Portanto,	podemos
selecionar	Eclesiastes	5.1-7	como	nosso	texto	de	pregação.
Como	esta	passagem	trata	de	um	tópico	totalmente	novo,	há	apenas	algumas
conexões	com	seu	contexto.	O	pregador	usa	a	palavra	“tolo”	três	vezes.	Ele
havia	escrito	sobre	tolos	antes	(2.14,15,16,19;	4.5,13)	e	fará	isso	novamente
adiante	(6.8;	7.6,17,25;	10.2,3,12,14,15).	Mais	importante,	a	admoestação	“teme
a	Deus”	ecoa	uma	conclusão	anterior	de	que	Deus	estabeleceu	os	tempos	“para
que	os	homens	temam	diante	dele”	(3.14).	O	mesmo	tema	de	temor	a	Deus	será
mencionado	novamente	na	sequência	(7.18;	8.12-13)	e,	por	fim,	na	conclusão	do
livro	(12.13).
Elementos	literários
Esta	passagem	contém	várias	formas	de	sabedoria.	Os	imperativos	indicam	que	a
forma	geral	é	de	instrução.⁷	O	Pregador	usa	“quatro	admoestações	ou
imperativos	relacionados	à	atividade	cúltica.	Cada	um	deles	é	fortalecido	por
uma	cláusula	motora,	e,	também,	há	citações	ou	comentários	que	dão	força	à
ordem”.⁸	Podemos	descrever	a	estrutura	básica	da	seguinte	forma:
I.	Admoestação
A.	Cláusula	motora	(razão	para	obedecer	à	admoestação)
1.	Provérbio	adicional	de	reforço
A	primeira	admoestação,	“Guarda	o	pé	quando	entrares	na	casa	de	Deus”,	é
reforçada	por	uma	cláusula	motora	que	consiste	de	um	provérbio	“melhor	que”:
“Chegar-se	para	ouvir	é	melhor	do	que	oferecer	sacrifícios	de	tolos”	(v.	1).	A
segunda	admoestação	consiste	de	um	paralelismo	sinônimo:	“Não	te	precipites
com	a	tua	boca,	nem	com	o	teu	coração	se	apresse	a	pronunciar	palavra	alguma
diante	de	Deus”.	Ela	é	reforçada	por	uma	cláusula	motora	que	consiste	de	um
provérbio	com	paralelismo	antitético:	“Porque	Deus	está	nos	céus,	e	tu,	na	terra”
(v.	2)	e	por	um	provérbio	com	paralelismo	sinônimo:	“Porque	dos	muitos
trabalhos	vêm	os	sonhos,	e	do	muito	falar,	palavras	néscias”	(v.	3).	A	terceira
admoestação,	“quando	fizeres	a	Deus	algum	voto,	não	tardes	em	cumpri-lo”,	é
reforçada	pela	cláusula	motora,	“porque	não	se	agrada	de	tolos”	(v.	4),	e
concluída	com	um	provérbio	“melhor	que”:	“Melhor	é	que	não	votes	do	que
votes	e	não	cumpras”	(v.	5).	A	admoestação	final	consiste	de	paralelismo
sintético:	“Não	consintas	que	a	tua	boca	te	faça	culpado,	nem	digas	diante	do
mensageiro	de	Deus	que	foi	inadvertência”.	Ela	é	reforçada	por	uma	cláusula
motora	na	forma	de	uma	pergunta	retórica:	“por	que	razão	se	iraria	Deus	por
causa	da	tua	palavra...?”	(v.	6),	bem	como	um	provérbio	com	paralelismo
sinônimo,	“como	na	multidão	dos	sonhos	há	vaidade,	assim	também,	nas	muitas
palavras”	(v.7)	e	concluída	com	o	imperativo:	“Teme	a	Deus”. 	Essas	formas	de
sabedoria	nos	ajudarão	a	esboçar	a	estrutura	do	texto.
A	repetição	pode	novamente	dar	pistas	do	tema	do	autor.	Deve-se	observar	que,
nesta	curta	passagem,	o	Pregador	menciona	“Deus”	seis	vezes	e	se	refere	aos
“tolos”	três	vezes.	Graham	Ogden	afirma:	“O	teor	das	admoestações	e	a	menção
ao	tolo	em	três	ocasiões	sugere	que	o	Qohelet	está	interessado	em	que	o	povo
evite	os	tipos	de	erro	que	os	tolos	podem	cometer	na	área	cúltica.	O	uso
frequente	de	vocabulário	ligado	à	comunicação	verbal	(	,	,	,	,	)	[dizer,	palavra,
boca,	voz,	voto]	foca	nos	perigos	de	fala	descuidada,	à	qual	o	tolo	é
especialmente	inclinado”.¹
Estrutura	textual
A	melhor	pregação	expositiva	foi	descrita	com	a	imagem	vívida	do	pregador
tocando	o	texto	“com	um	martelo	de	prata	e	imediatamente	quebrando-o	em
divisões	naturais	e	memoráveis”.¹¹	Neste	estágio	de	nosso	estudo,	procuramos	as
“divisões	naturais”	e	suas	subdivisões	no	texto	de	pregação.	Nesta	passagem,	as
quatro	admoestações	oferecem	os	pontos	principais	da	estrutura	textual:
I.	Guarda	o	pé,	quando	entrares	na	casa	de	Deus	(v.	1a)
A.	Razão:	Chegar-se	para	ouvir	é	melhor	do	que	oferecer	sacrifícios	de	tolos	(v.
1b)
1.	Pois	não	sabem	que	fazem	mal	(v.	1c)
II.	Não	te	precipites	com	a	tua	boca	(v.	2a)
nem	o	teu	coração	se	apresse	a	pronunciar	palavra	alguma	diante	de	Deus
A.	Razão:	Porque	Deus	está	nos	céus	e	tu,	na	terra	(v.	2b)
B.	Conclusão:	Portanto,	sejam	poucas	as	tuas	palavras	(v.	2c)
C.	Provérbio	de	reforço	e	ordem:	Porque	dos	muitos	trabalhos	vêm	os	sonhos,
e	do	muito	falar,	palavras	néscias	(v.	3)
III.	Quando	a	Deus	fizeres	algum	voto,	não	tardes	em	cumpri-lo	(v.	4a)
A.	Razão:	Porque	[Deus]	não	se	agrada	de	tolos	(v.	4b)
B.	Conclusão:	Cumpre	o	voto	que	fazes	(v.	4c)
C.	Provérbio	de	reforço	e	ordem:
Melhor	é	que	não	votes	(v.	5)
do	que	votes	e	não	cumpras
IV.	Não	consintas	que	a	tua	boca	te	faça	culpado	(v.	6a)
nem	digas	diante	do	mensageiro	de	Deus	que	foi	inadvertência
A.	Razão:	Por	que	razão	se	iraria	Deus	por	causa	da	tua	palavra	(v.	6b)
a	ponto	de	destruir	as	obras	das	tuas	mãos?
B.	Provérbio	de	reforço	e	ordem:
Como	na	multidão	dos	sonhos	há	vaidade	(v.	7a),
assim	também	nas	muitas	palavras	(cf.	v.	3)
C.	Conclusão:	Tu,	porém,	teme	a	Deus	(v.7b)¹²
Interpretação	teocêntrica
Como	mencionado,	esta	passagem	se	refere	a	Deus	não	menos	de	seis	vezes	–
uma	concentração	notável	para	o	livro	de	Eclesiastes.	Essa	concentração	se	deve
ao	fato	de	que	esta	passagem	trata	do	comportamento	no	templo	de	Deus.	Mais
importante	é	a	afirmação	teológica	do	Pregador:	“Deus	está	nos	céus,	e	tu,	na
terra”	(v.	2).	Esta	convicção	da	transcendência	de	Deus	é	o	fundamento	para	as
quatro	admoestações.	“A	consciência	da	transcendência	divina	sustenta	uma
economia	de	discurso	humano,	afirma	o	Qohelet.	Se	Deus	fosse	totalmente
imanente,	residindo	totalmente	dentro	do	coração	da	pessoa,	como	alguns	hoje
alegam,	então	seria	dada	liberdade	total	ao	discurso	e	à	imaginação	humana,
como	a	lógica	do	Qohelet	sugere...	‘Deus	está	nos	céus’	e	o	abismo	que	separa	a
criatura	do	Criador	requer	economia	de	palavras,	que	reflita	integridade	e
reverência	adequadas.	Como	totalmente	Outro,	Deus	responsabiliza	as	pessoas
pelo	que	dizem	e	fazem”.¹³
Tema	e	objetivo	textual
Michael	Fox	alega	que	“o	tema	principal	da	presente	unidade	é	o	cuidado	em
fazer	votos.	As	observações	sobre	ir	ao	templo,	oferecer	sacrifícios,	evitar	a	fala
precipitada	e	temer	a	Deus	são	todas	organizadas	em	torno	desse	tema	e	devem
ser	interpretadas	nesse	contexto”.¹⁴	Mas	sua	proposta	é	restrita	demais,	pois
vemos	na	estrutura	textual	acima	que	os	votos	só	são	mencionados	no	terceiro
ponto	principal.
Devemos	formular	um	tema	que	abranja	todos	os	pontos	da	passagem:	guardar	o
pé,	ouvir,	orar,	cumprir	os	votos,	não	considerar	o	voto	um	erro	e	temer	a	Deus.
Todos	esses	componentes	são	unidos	pelo	tema	de	adorar	a	Deus	em	seu	templo.
Como	diz	Seow:	O	tema	comum	nestes	versos	é	a	atitude	da	pessoa	diante	de
Deus,	com	o	Qohelet	aconselhando	cuidado,	reverência,	comedimento,
moderação	e	sinceridade.	A	ênfase	em	toda	a	passagem	é	a	necessidade	de	se
respeitar	a	distância	entre	a	humanidade	e	Deus,	ênfase	que	é	condensada	pelas
admoestações	‘guarda	o	pé’	(5.1)	e	‘teme	a	Deus’	(5.7)”.¹⁵	Esses	dois
imperativos,	como	vimos,	formam	uma	inclusio	para	nosso	texto.	Portanto,
podemos	alcançar	os	vários	elementos	deste	texto	com	o	tema	abrangente:
“Adore	a	Deus	em	sua	casa	com	temor”.
Contudo,	como	os	temas	devem	ser	claros	como	cristal,	temos	que	esclarecer	a
palavra	“temor”,	que	está	sujeita	à	má	interpretação.	Perdue	fala	em	favor
daqueles	que	entendem	“temor”	como	“medo”,	“terror”,	“ter	medo	de	Deus”.	Ele
escreve:	“Diferentemente	do	significado	da	frase	em	Provérbios,	o	Qohelet
entende	que	‘temor	a	Deus’	é	medo,	até	mesmo	terror,	evocado	pela	insondável
soberania	da	história	humana”.¹ 	Mas	dadas	as	quatro	admoestações,	faz	pouco
sentido	dizer:	“Adore	a	Deus	em	sua	casa	com	terror	e	medo”.	Além	disso,	não
há	razão	válida	para	entender	o	uso	que	o	Pregador	faz	da	frase	“temor	a	Deus”
de	modo	diferente	do	modo	como	é	entendida	no	epílogo	(12.13)	e	em	outros
lugares	do	Antigo	Testamento.¹⁷	Temer	a	Deus	é	reverenciar	a	Deus,	ter
reverência	a	Deus,	aproximar-se	dele	com	reverência.¹⁸	Podemos,	portanto,formular	o	tema	textual	como:	Adorar	a	Deus	em	sua	casa	com	reverência.
O	objetivo	do	Pregador	ao	enviar	essa	mensagem	é	mais	urgente	do	que
simplesmente	encorajar	os	israelitas	a	fazer	alguma	coisa.	Os	imperativos
indicam	que	ele	está	ordenando,	orientando.	Assim,	podemos	formular	o
objetivo	textual	da	seguinte	forma:	orientar	Israel	a	adorar	a	Deus	em	sua	casa
com	reverência.
Maneiras	de	pregar	Cristo
Como	esta	passagem	não	contém	nem	uma	promessa	nem	um	tipo	de	Cristo,
exploraremos	os	outros	cinco	caminhos	para	se	chegar	a	Cristo,	no	Novo
Testamento.
Progressão	histórico-redentiva
O	Pregador	orienta	Israel	a	adorar	a	Deus	em	sua	casa	com	reverência.	A	casa	de
Deus	naqueles	dias	era	o	segundo	templo.	Nos	tempos	do	Antigo	Testamento,	as
pessoas	precisavam	levar	seus	sacrifícios	(5.1)	ao	templo	em	Jerusalém.	Mas	a
vinda	de	Jesus	provocou	uma	grande	mudança	com	respeito	aos	sacrifícios
animais	e	ao	lugar	de	adoração.	Quando	a	mulher	samaritana	disse	a	Jesus
“Nossos	pais	adoravam	neste	monte;	vós,	entretanto,	dizeis	que	em	Jerusalém	é
o	lugar	onde	se	deve	adorar”,	ele	respondeu:	“Mulher,	podes	crer-me	que	a	hora
vem,	quando	nem	neste	monte,	nem	em	Jerusalém	adorareis	o	Pai...	vem	a	hora	e
já	chegou,	em	que	os	verdadeiros	adoradores	adorarão	o	Pai	em	espírito	e	em
verdade”	(Jo	4.20-23).	As	pessoas	agora	podem	adorar	o	Pai	sempre	que	duas	ou
três	pessoas	estiverem	reunidas	em	nome	de	Jesus	(Mt	18.20).
O	Pregador	também	nos	exorta	com	“sejam	poucas	as	tuas	palavras”	por	causa
da	distância	entre	Deus	e	nós:	“Deus	está	nos	céus,	e	tu,	na	terra”.	Mas,	com	a
vinda	de	Jesus,	o	Mediador,	a	distância	entre	Deus	e	nós	foi	coberta	por	uma
ponte.	Jesus	instruiu	seus	seguidores	a	respeito	da	oração:	“(...)	tudo	quanto
pedirdes	em	meu	nome,	isso	farei,	a	fim	de	que	o	Pai	seja	glorificado	no	Filho.
Se	me	pedirdes	alguma	coisa	em	meu	nome,	eu	o	farei”	(Jo	14.13-14).	Paulo,
também,	escreve	que,	por	intermédio	de	Cristo	Jesus,	“temos	acesso	ao	Pai	em
um	Espírito”	(Ef	2.18).	O	autor	de	Hebreus	também	nos	encoraja:	“Tendo,	pois,
irmãos,	intrepidez	para	entrar	no	Santo	dos	Santos,	pelo	sangue	de	Jesus,	pelo
novo	e	vivo	caminho	que	ele	nos	consagrou	pelo	véu,	isto	é,	pela	sua	carne,	e
tendo	grande	sacerdote	sobre	a	casa	de	Deus,	aproximemo-nos,	com	sincero
coração,	em	plena	certeza	de	fé,	tendo	o	coração	purificado	de	má	consciência	e
lavado	o	corpo	com	água	pura”	(Hb	10.19-22).
Analogia
O	Pregador	nos	orienta	a	adorar	a	Deus	em	sua	casa	com	reverência	porque
“Deus	está	nos	céus,	e	ti,	na	terra”.	Jesus	também	nos	ensina	a	lembrar	de	que
Deus	está	nos	céus;	aliás,	ele	nos	ensina	a	nos	dirigirmos	a	Deus	como	“Pai
nosso	que	estás	nos	céus”	(Mt	6.9).	Durante	seu	ministério	terreno,	Jesus
também	orientou	a	adoração	reverente	no	templo.	Quando	Jesus	viu	que	os	átrios
do	templo	tinham	sido	transformados	em	um	mercado	livre,	ele	“expulsou	todos
os	que	ali	vendiam	e	compravam;	também	derrubou	as	mesas	dos	cambistas	e	as
cadeiras	dos	que	vendiam	pombas.	E	disse-lhes:	Está	escrito:	A	minha	casa	será
chamada	casa	de	oração;	vós,	porém,	a	transformais	em	covil	de	salteadores”
(Mt	21.12-13).
Também	devemos	observar	analogias	em	detalhes	das	instruções	do	Pregador	e
das	de	Jesus.	Como	o	Pregador	do	Antigo	Testamento,	Jesus	nos	orienta	a	que
nossas	palavras	sejam	poucas:	“(...)	orando,	não	useis	de	vãs	repetições,	como	os
gentios;	porque	presumem	que	pelo	seu	muito	falar	serão	ouvidos.	Não	vos
assemelheis,	pois,	a	eles;	porque	Deus,	o	vosso	Pai,	sabe	o	de	que	tendes
necessidade,	antes	que	lho	peçais”	(Mt	6.7-8).
A	respeito	dos	votos,	Jesus	chama	os	escribas	e	fariseus	de	“hipócritas”	e	“guias
cegos”	por	ensinarem	que	não	há	necessidade	de	se	cumprir	os	votos.	Eles
ensinavam:	“Quem	jurar	pelo	santuário,	isso	é	nada;	mas,	se	alguém	jurar	pelo
ouro	do	santuário,	fica	obrigado	pelo	que	jurou!”	(Mt	23.16;	cf.	v.18).	De	fato,	a
respeito	dos	votos	feitos	ao	Senhor,	Jesus	disse:	“(...)	de	modo	algum	jureis;	nem
pelo	céu,	por	ser	o	trono	de	Deus;	nem	pela	terra,	por	ser	estrado	de	seus	pés	(...)
Seja,	porém,	a	tua	palavra:	Sim,	sim;	não,	não”	(Mt	5.34-37).
Como	o	Pregador	do	Antigo	Testamento,	Jesus	também	nos	instrui	a	“temer	a
Deus”.	Ele	disse:	“Não	temais	os	que	matam	o	corpo	e	não	podem	matar	a	alma;
temei,	antes,	aquele	que	pode	fazer	perecer	no	inferno	tanto	a	alma	como	o
corpo”	(Mt	10.28).
Temas	longitudinais
O	Pregador	insiste	que	adoremos	a	Deus	com	reverência	ouvindo,	não	falando.
O	grande	mandamento	do	antigo	povo	da	aliança	de	Deus	era:	“Ouve,	Israel,	o
Senhor,	nosso	Deus,	é	o	único	Senhor.	Amarás,	pois,	o	Senhor,	teu	Deus,	de	todo
o	teu	coração,	de	toda	a	tua	alma	e	de	toda	a	tua	força”	(Dt	6.4-5).	O
mandamento	divino	de	ouvir	é	repetido	muitas	vezes	no	Antigo	Testamento	(por
exemplo,	Dt	4.10;	5.1;	6.3,	4;	9.1;	12.28;	20.3;	31.12,13;	Is	1.10;	7.13;	28.14).
Provan	observa:	“Sem	ouvir	não	pode	haver	entendimento	do	reino	de	Deus;	por
isso,	Jesus	repete:	‘Quem	tem	ouvidos	[para	ouvir],	ouça’	(por	exemplo,	Mt
11.15;	13.9,43;	Jo	8.47)”.¹
Referências	do	Novo	Testamento
Além	das	referências	no	Novo	Testamento	que	servem	de	base	para	os	caminhos
para	se	chegar	a	Cristo	apresentados	acima,	também	se	pode	usar	Hebreus	12.28-
29:	“(...)	recebendo	nós	um	reino	inabalável,	retenhamos	a	graça,	pela	qual
sirvamos	a	Deus	de	modo	agradável,	com	reverência	e	santo	temor;	porque	o
nosso	Deus	é	fogo	consumidor”.
Contraste
A	não	ser	pelos	contrastes	observados	na	progressão	histórico-redentiva,	acima,
não	há	contraste	entre	a	mensagem	do	Pregador	e	a	do	Novo	Testamento.
Tema	e	objetivo	do	sermão
Formulamos	o	tema	textual	como	“Adorar	a	Deus	em	sua	casa	com	reverência”.
Em	nosso	texto,	a	“casa”	de	Deus	é	entendida	como	sendo	o	templo	de	Deus.
Como	foi	observado	acima,	a	vinda	de	Jesus	muda	o	lugar	de	adoração	do
templo	de	Jerusalém	para	onde	estiverem	dois	ou	três	reunidos	em	seu	nome	(Mt
18.20;	Jo	4.20-23).	Mas,	como	ainda	falamos	de	cada	um	desses	lugares	de
reunião	como	“casa	de	adoração”,	devemos	manter	o	tema	textual	como	tema	do
sermão:	Adorar	a	Deus	em	sua	casa	com	reverência.
O	objetivo	do	Pregador	foi	“orientar	Israel	a	adorar	a	Deus	em	sua	casa	com
reverência”.	Nosso	objetivo	ao	pregar	este	sermão	pode	ser	praticamente	o
mesmo:	orientar	os	ouvintes	a	adorar	a	Deus	em	sua	casa	com	reverência.
O	objetivo	do	sermão	revela	a	necessidade	tratada	neste	sermão:	as	pessoas	não
estão	adorando	a	Deus	com	reverência.	Provan	observa	que	“‘cultos	de
adoração’	dão	pouca	oportunidade	para	a	reverência	silenciosa	na	presença	de
Deus,	mas	muita	oportunidade	para	performances	por	parte	de	alguns	oradores	e
músicos	profissionais	selecionados,	que	ocupam	todo	o	tempo	com	suas	palavras
e	sons”.	Ele	também	observa	que	nossa	cultura	narcisista	está	invadindo	a	igreja:
“Um	panorama	de	sermões	pregados	por	ministros	evangélicos	entre	1985	e
1990	sugere,	de	fato,	que	cerca	de	80%	deles	fizeram	Deus	e	sua	palavra	girarem
em	torno	do	eu.	Isso	está	relacionado	à	profissionalização	do	ministério,	na	qual
o	ponto	de	articulação	em	torno	do	qual	o	ministério	gira	não	é	mais	Deus,	mas	a
igreja,	que,	por	sua	vez,	passa	a	ser	um	tipo	de	ídolo”.²
Exposição	do	sermão
Pode-se	começar	o	sermão	com	uma	ilustração	contemporânea	da	necessidade
tratada.	Muitos	vêm	a	igreja	sem	a	reverência	adequada.	Alguns	vêm	por
costume	ou	superstição;	outros,	para	serem	entretidos;	ainda	outros,	para	serem
vistos	e	ouvidos.
Isso	acontecia	também	em	Israel.	As	pessoas	ainda	iam	ao	templo,	mas	não	se
aproximavam	de	Deus	com	reverência.	A	adoração	a	Deus	tinha	se	tornado	mera
formalidade.	De	fato,	sabemos,	por	Malaquias,²¹	que	Israel	desonrou	a	Deus	em
seu	templo.	Enquanto	Deus	requeria	que	as	pessoas	trouxessem	os	melhores
animais	para	serem	sacrificados,	elas	apresentavam	como	oferta	os	animais	que
não	tinham	mais	utilidade	para	si	mesmas:	animais	cegos,	coxos	e	doentes.	Em
vez	de	abençoar	seus	adoradores,	Deus	disse:	“Maldito	seja	o	enganador,	que,
tendo	um	animal	sadio	no	seu	rebanho,	promete	e	oferece	ao	Senhor	um
defeituoso”	(Ml	1.14).	Além	disso,	as	pessoaseram	rápidas	em	fazer	votos	a
Deus;	eram	rápidas	em	fazer	promessas	a	Deus,	mas	também	eram	rápidas	“em
retratarem-se	por	elas	mais	tarde,	quando	percebiam	as	implicações	de	suas
palavras	(veja	Pv	20.25)”.²²
Contra	este	pano	de	fundo	no	qual	Deus	amaldiçoa	seus	adoradores,	ouvimos	a
urgência	da	mensagem	do	Pregador	em	Eclesiastes.	Ele	dá	a	Israel	uma	série	de
ordens	sobre	sua	conduta	na	adoração	a	Deus	em	seu	templo.	Ele	começa	em
5.1:	“Guarda	o	pé,	quando	entrares	na	casa	de	Deus”.	Tenha	cuidado	quando
entra	no	templo.	Pense	no	que	está	prestes	a	fazer.	Você	não	está	fazendo	uma
visita	informal	a	um	amigo	para	bater	papo.	Você	não	está	apenas	passando
tempo	com	um	amigo.	Você	está	indo	à	“casa	de	Deus”.	Você	está	indo	ao	lugar
onde	o	Criador	Todo-Poderoso	se	abaixa	para	se	encontrar	com	você.	“Guarda	o
pé”.	Pense	em	Moisés	se	encontrando	com	Deus	na	sarça	ardente.	Deus	lhe
disse:	“Não	te	chegues	para	cá;	tira	as	sandálias	dos	pés,	porque	o	lugar	onde
estás	é	terra	santa”	(Êx	3.5).	“Guarda	o	pé”.
Como	devemos	guardar	o	pé?	O	Pregador	explica	na	linha	seguinte:	“Chegar-se
para	ouvir	é	melhor	do	que	oferecer	sacrifícios	de	tolos”.	No	templo,	enquanto
os	sacrifícios	eram	oferecidos	a	Deus,	“o	silêncio	reinava,	alimentando	o
sentimento	da	presença	divina	e	da	receptividade	humana”.²³	Então	o	sacerdote
lia	a	lei	de	Deus	e	explicava	o	que	era	lido.	Ele	fazia	orações	e	o	povo	respondia
com	cânticos.	E,	finalmente,	o	sacerdote	colocava	a	bênção	de	Deus	sobre	seu
povo.	“Chegar-se	para	ouvir	é	melhor	do	que	oferecer	sacrifícios	de	tolos”.
Tolos	eram	aqueles	que	ofereciam	sacrifícios	inaceitáveis	a	Deus.	As	pessoas	são
tolas	quando	apresentam	a	Deus	o	que	elas	mesmas	não	podem	usar:	animais
cegos,	coxos	e	doentes.	Os	tolos	também	“creem	que	seus	sacrifícios
automaticamente	apagam	seus	pecados,	sem	necessidade	de	arrependimento”.²⁴
Os	tolos,	diz	o	Pregador,	no	fim	do	verso	1,	“não	sabem	que	fazem	mal”.	Eles
fazem	o	mal	até	mesmo	quando	vão	à	casa	de	Deus.²⁵
O	ponto	é:	devemos	ir	à	casa	de	Deus,	antes	de	tudo,	para	ouvir	o	que	Deus	tem
a	nos	dizer.² 	Muitas	vezes,	Deus	disse	a	Israel:	“Ouve,	Israel”.²⁷	Israel	devia
ouvir,	antes	de	tudo,	a	instrução	de	Deus.	Jesus	também	diz	à	sua	igreja
repetidamente:	“Aquele	que	tem	ouvidos	para	ouvir,	ouça”.²⁸	Paulo	escreve	que
“A	fé	vem	pela	pregação	[pelo	ouvir],	e	a	pregação,	pela	palavra	de	Cristo”	(Rm
10.17).	E	Tiago	admoesta:	“Todo	homem,	pois,	seja	pronto	para	ouvir,	tardio
para	falar”	(Tg	1.19).	Devemos	ir	à	casa	de	Deus	primeiramente	para	ouvir.
O	segundo	ponto	que	o	Pregador	quer	enfatizar	sobre	a	adoração	a	Deus	com
reverência	tem	a	ver	com	a	oração.	Ele	escreve,	no	verso	2:	“Não	te	precipites
com	a	tua	boca,	nem	o	teu	coração	se	apresse	a	pronunciar	palavra	alguma	diante
de	Deus”.	As	palavras	“diante	de	Deus”	“geralmente	significam	no	templo,	na
presença	de	Deus”.² 	Assim,	não	devemos	ser	precipitados	com	a	nossa	boca.
Não	devemos	ser	rápidos	para	falar	quando	oramos	na	casa	de	Deus.	Por	que	o
Pregador	nos	adverte	a	sermos	moderados	ao	falarmos	diante	de	Deus?	Ele
responde:	“Porque	Deus	está	nos	céus,	e	tu,	na	terra”.	O	Pregador	nos	faz
lembrar	a	tremenda	distância	que	há	entre	Deus	e	nós.	Deus	está	nos	céus,	nós,
na	terra.	Deus	está	muito	acima	de	nós,	é	muito	superior	a	nós.	Deus	é	o	Rei
Criador	Todo-Poderoso.	Mesmo	quando	nos	encontramos	com	reis	e	rainhas
humanos,	devemos	ser	moderados	em	nosso	falar.	Por	isso,	certamente	devemos
controlar	nossa	língua	quando	nos	encontramos	com	o	Deus	Todo-Poderoso	em
sua	casa.	Somos	meros	seres	terrenos.	Mostramos	reverência	a	Deus	quando	não
somos	rápidos	para	falar.³
O	Pregador	repete	sua	ordem	no	fim	do	verso	2:	“Portanto,	sejam	poucas	as	tuas
palavras”.	Sua	primeira	orientação	para	uma	adoração	reverente	foi	“chegar-se
para	ouvir”.	A	segunda	é	“sejam	poucas	as	tuas	palavras”,	porque	Deus	está	nos
céus.	Jesus	também	nos	ensina	a	moderar	as	palavras.	Ele	nos	instrui:	“Orando,
não	useis	de	vãs	repetições,	como	os	gentios;	porque	presumem	que	pelo	seu
muito	falar	serão	ouvidos.	Não	vos	assemelheis,	pois,	a	eles;	porque	Deus,	o
vosso	Pai,	sabe	o	de	que	tendes	necessidade,	antes	que	lho	peçais”.	Então,
curiosamente,	Jesus	diz:	“Vós	orareis	assim:	Pai	nosso,	que	estás	nos	céus”	(Mt
6.7-9).	Como	o	Pregador	do	Antigo	Testamento,	Jesus	nos	lembra	de	que	Deus
está	no	céu	e	nós,	na	terra.	Assim,	por	reverência	ao	Deus	Todo-Poderoso,
nossas	palavras	devem	ser	poucas.	Mas	Jesus	acrescenta	que	nossas	palavras
podem	ser	poucas	porque	estamos	orando	ao	nosso	“Pai,	que	está	nos	céus”,	e
ele	“sabe	o	de	que	tendes	necessidade,	antes	que	lho	peçais”.
O	Pregador	reforça	sua	segunda	orientação,	“sejam	poucas	as	tuas	palavras”,
com	um	provérbio,	no	verso	3:	“Dos	muitos	trabalhos	vêm	os	sonhos,	e	do	muito
falar,	palavras	néscias”.	O	provérbio	admite	que	muitas	preocupações	levam	a
sonhos.	Um	segue	o	outro.	Assim	também	a	voz	de	um	tolo	leva	a	“palavras
néscias”.³¹	Como	em	sua	primeira	orientação,	na	qual	contrastou	o	chegar-se
para	ouvir	com	o	“sacrifício	de	tolos”,	aqui	ele	contrasta	sua	orientação	“sejam
poucas	as	tuas	palavras”	com	a	voz	de	um	tolo	que	fala	“palavras	néscias”.	Mais
adiante,	em	seu	livro,	o	Pregador	dirá	que	“o	estulto	multiplica	palavras”
(10.14).	Não	devemos	ser	tolos	em	nossa	adoração	ao	Deus	Todo-Poderoso.
Tendo	orientado	que	devemos	adorar	a	Deus	com	reverência	quando	vamos	à
sua	casa,	primeiro,	para	ouvir,	e	de	que	devemos	usar	poucas	palavras	em
oração,	o	Pregador	passa	ao	terceiro	ponto.	Esse	ponto	tem	a	ver	com	votos.
Verso	4:	“Quando	a	Deus	fizeres	algum	voto,	não	tardes	em	cumpri-lo;	porque
não	se	agrada	de	tolos”.	Novamente	o	Pregador	se	refere	aos	tolos.	Deus	não	tem
prazer	em	tolos,	por	isso	devemos	ser	sábios	quando	adoramos	o	Deus	Todo-
Poderoso.	E	somos	sábios	quando	não	demoramos	em	cumprir	um	voto	feito	a
Deus.	O	Pregador	faz	alusão,	aqui,	à	lei	de	Deus	em	Deuteronômio	23.21-22,
que	diz:	“Quando	fizeres	algum	voto	ao	Senhor,	teu	Deus,	não	tardarás	em
cumpri-lo;	porque	o	Senhor,	teu	Deus,	certamente	o	requererá	de	ti,	e	em	ti
haverá	pecado.	Porém,	abstendo-te	de	fazer	o	voto,	não	haverá	pecado	em	ti”	(cf.
Nm	30.2).	Um	voto	é	geralmente	uma	promessa	condicional	feita	a	Deus.	Se
Deus	fizer	alguma	coisa	pelo	adorador,	o	adorador	fará	isso	ou	aquilo	para
Deus.³²	Por	exemplo,	a	estéril	Ana	votou:	“Senhor	dos	Exércitos,	se
benignamente	atentares	para	a	aflição	da	tua	serva,	e	de	mim	te	lembrares,	e	da
tua	serva	te	não	esqueceres,	e	lhe	deres	um	filho	varão,	ao	Senhor	o	darei	por
todos	os	dias	da	sua	vida,	e	sobre	a	sua	cabeça	não	passará	navalha”	(1Sm	1.11).
Quando	Deus	respondeu	à	sua	oração	com	a	concepção	e	nascimento	de	Samuel,
ela	cumpriu	seu	voto,	levando-o	“à	Casa	do	Senhor,	em	Silo”	e	“devolvendo-o”
ao	“Senhor,	por	todos	os	dias	que	viver”	(1Sm	1.24,28).	Ana	cumpriu	seu	voto
logo	que	pôde	–	depois	que	Samuel	foi	desmamado.
Infelizmente,	os	adoradores	são	tentados	a	não	cumprir	seu	voto	depois	que
Deus	atendeu	ao	seu	pedido.	Por	isso	o	Pregador	continua,	no	verso	5:	“Melhor	é
que	não	votes	do	que	votes	e	não	pagues”.	O	Novo	Testamento	oferece	um
exemplo	surpreendente	da	ira	de	Deus	quando	a	pessoa	não	cumpre	seus	votos.
Ananias	e	Safira	aparentemente	votaram	que	entregariam	o	dinheiro	da	venda	de
uma	propriedade	à	igreja	para	a	distribuição	aos	necessitados.	Mas,
secretamente,	retiveram	para	si	parte	do	dinheiro.	Pedro	disse	a	Ananias:
“Conservando-o,	porventura,	não	seria	teu?	E,	vendido,	não	estaria	em	teu
poder?”	Pela	mentira,	Ananias	e	Safira	foram	punidos	com	a	morte,	“e	sobreveio
grande	temor	a	toda	a	igreja	e	a	todos	quantos	ouviram	a	notícia	desses
acontecimentos”	(At	5.4,11).
A	tradição	judaica	ressaltava	a	seriedade	de	se	fazer	votos	a	Deus	jurando	por
algum	objeto.	Como	hoje	podemos	jurar	com	a	mão	sobre	a	Bíblia,	eles	juravam
pelo	céu,	pela	terra,	pelo	santuário,	pelo	ouro	do	santuário,	pelo	altar	ou	pela
oferta	sobre	o	altar.	Jesus	acusou	os	escribas	e	fariseus	por	fazerem	engenhosas
distinções	entre	esses	votos,	pois	alguns	votos	tinham	que	ser	cumpridos,
enquanto	outrospodiam	ser	desconsiderados.	Por	exemplo,	eles	ensinavam:
“Quem	jurar	pelo	santuário,	isso	é	nada;	mas,	se	alguém	jurar	pelo	ouro	do
santuário,	fica	obrigado	pelo	que	jurou”	(Mt	23.16-22).	Jesus,	ao	contrário,
ensinou	que	todos	os	votos	a	Deus	devem	ser	cumpridos.	Mas	ele	simplificou	a
questão.	A	respeito	dos	votos	feitos	ao	Senhor,	ele	disse:	“De	modo	algum	jureis;
nem	pelo	céu,	por	ser	o	trono	de	Deus;	nem	pela	terra,	por	ser	o	estrado	de	seus
pés;	nem	por	Jerusalém,	por	ser	a	cidade	do	grande	Rei;	nem	jures	pela	tua
cabeça,	porque	não	podes	tornar	um	cabelo	branco	ou	preto.	Seja,	porém,	a	tua
palavra:	Sim,	sim;	não,	não.	O	que	disto	passar	vem	do	maligno”	(Mt	5.34-37).
Hoje,	na	igreja,	ainda	fazemos	votos	a	Deus.	Quando	nos	casamos,	prometemos
diante	de	Deus	vivermos	juntos	como	marido	e	esposa	“até	que	a	morte	nos
separe”.	Quando	apresentamos	nossos	filhos	para	o	batismo,	prometemos
instruí-los	na	fé	cristã	e	conduzi-los	no	discipulado	cristão.	Quando	somos
ordenados	como	oficiais	da	igreja,	prometemos	cumprir	fielmente	esse	chamado.
Também	podemos	fazer	promessas	particulares	a	Deus	na	igreja:	“Se	Deus	me
curar,	eu...”	E,	em	um	número	surpreendente	de	hinos,	fazemos	promessas	a
Deus.	Por	exemplo:	“Ó,	Jesus,	prometo	te	servir	até	o	fim”;³³	“Tome	minha	prata
e	meu	ouro;	nem	uma	migalha	vou	reter”;³⁴	“Ensina-me,	ó	Senhor,	teu	caminho
de	verdade,	e	dele	não	me	apartarei”;³⁵	“Vimos	com	ofertas	à	tua	casa,	e	aqui
pagamos	os	solenes	votos	que	fizemos	em	angústia”;³ 	“Adiante	em	teu	nome,	ó
Senhor,	vou	meu	labor	diário	cumprir	–	tu	somente,	Senhor,	sabes	tudo	o	que
penso,	falo	ou	faço”;³⁷	“Eu	te	seguirei	por	todos	os	meus	dias”.³⁸	O	ponto	é:
devemos	cumprir	essas	promessas	se	quisermos	adorar	a	Deus	com	reverência.
Essa	admoestação	é	tão	séria	que	o	Pregador	a	reforça	com	sua	orientação	final.
Verso	6:	“Não	consintas	que	a	tua	boca	te	faça	culpado,	nem	digas	diante	do
mensageiro	de	Deus	que	foi	inadvertência”.	O	Pregador,	aqui,	parece	estar	se
referindo	a	pessoas	que	fazem	votos	para	serem	pagos	com	uma	certa	quantia	ao
tesouro	do	templo.	Quando	deixam	de	pagar	o	que	tinham	prometido,	o
sacerdote	ou	algum	mensageiro	do	templo	as	visitava	para	lembrar-lhes	do
voto.³ 	Então	as	pessoas	podiam	dizer	que	seu	voto	foi	“inadvertido”,	foi	um
“erro”.	Diziam	que	o	voto	não	foi	intencional.⁴ 	Essa	conduta	era	tola.	Eles
realmente	achavam	que	Deus	não	via	através	desse	artifício?	O	Pregador
pergunta:	“Por	que	razão	se	iraria	Deus	por	causa	da	tua	palavra,	a	ponto	de
destruir	as	obras	das	tuas	mãos?”	Deus	pune	as	pessoas	por	não	cumprirem	seus
votos	e	as	punirá	por	suas	desculpas	esfarrapadas.
O	Pregador	conclui	com	o	verso	7:	“Como	na	multidão	dos	sonhos	há	vaidade,
assim	também,	nas	muitas	palavras;⁴¹	tu,	porém,	teme	a	Deus”.	A	primeira	parte
deste	verso	parece	ser	outro	provérbio	que	reforça	a	orientação	de	que	não
devemos	deixar	que	a	boca	nos	leve	ao	pecado.⁴²	Como	muitos	sonhos	são
vaidades,	isto	é,	vazios	e	fúteis,	assim	também	uma	multidão	de	palavras	na
adoração	é	vazia	e	fútil.	Até	mesmo	nossa	adoração	a	Deus	pode	ser	sem
substância,	fútil,	por	causa	da	“multidão	de	palavras”.
Consequentemente,	o	Pregador	conclui	com	uma	última	ordem:	“Teme	a	Deus”.
Em	vez	de⁴³	usar	palavras	vazias,	tema	a	Deus.	O	livro	de	Provérbios	enfatiza
que	“o	temor	do	Senhor	é	o	princípio	do	saber”	(1.7;	cf.	9.10;	31.30).	O	Pregador
diz	que	o	temor	do	Senhor	é	o	princípio	da	adoração.	Temer	a	Deus	não	significa
que	devemos	ter	medo	de	Deus	ou	ficar	aterrorizados	quando	estamos	na	sua
presença.	Temer	a	Deus	significa	que	reverenciamos	a	Deus,	que	temos
reverência	por	ele,	que	comparecemos	à	sua	presença	com	reverência.
Jesus	concorda	com	o	Pregador	do	Antigo	Testamento	que	devemos	adorar	a
Deus	em	sua	casa	com	reverência.	Jesus	ficou	muito	irado	quando	viu	que	os
átrios	do	templo	tinham	se	transformado	em	um	mercado.	Lemos	em	Mateus	21,
que	ele	“(...)	expulsou	todos	os	que	ali	vendiam	e	compravam;	também	derribou
as	mesas	dos	cambistas	e	as	cadeiras	dos	que	vendiam	pombas.	E	disse-lhes:
Está	escrito:	A	minha	casa	será	chamada	casa	de	oração;	vós,	porém,	a
transformais	em	covil	de	salteadores”	(Mt	21.12-13).	“A	minha	casa	será
chamada	casa	de	oração”.
Devemos	adorar	a	Deus	em	sua	casa	com	reverência.	A	reverência	a	Deus	nos
fará	guardar	o	pé	quando	entrarmos	na	casa	de	Deus.	A	reverência	a	Deus	nos
fará	chegar	para	ouvir,	em	vez	de	tagarelar	como	tolos.	A	reverência	a	Deus	nos
fará	não	sermos	precipitados	em	nosso	falar.	A	reverência	a	Deus	nos	fará
cumprir	prontamente	quaisquer	promessas	que	tivermos	feito	a	Deus.	A
reverência	a	Deus	nos	fará	abandonar	as	desculpas	esfarrapadas	por	não
cumprirmos	nossas	promessas.	Em	resumo,	a	reverência	a	Deus	tornará	nossa
adoração	verdadeiramente	impressionante.
¹	Na	Bíblia	hebraica,	4.17–5.6.
²	Longman,	Book	of	Ecclesiastes,	150.
³	Fox,	Qohelet,	210-11,	reconhece	abertamente:	“O	fim	de	4.17	[heb.]	é	um
problema...	Já	que	o	MT	é	claro	e	gramaticalmente	possível,	traduzo	a	sentença
sem	entender	o	objetivo	de	seu	contexto”.
⁴	Eaton,	Ecclesiastes,	100.	Crenshaw,	Ecclesiastes,	118,	observa:	“Nenhuma
solução	parece	ser	totalmente	satisfatória”.
⁵	Seow,	Ecclesiastes,	197.
	Loader,	Ecclesiastes,	57.	Veja	também	Crenshaw,	Ecclesiastes,	115.
⁷	Murphy,	Wisdom	Literature,	138-39.
⁸	Ogden,	Qoheleth,	75.	As	quatro	admoestações	são	encontradas	em	5.1;	5.2;
5.4;	5.6.
	Para	algumas	dessas	formas,	veja	Longman,	Book	of	Ecclesiastes,	151-56.
¹ 	Ogden,	Qoheleth,	75-76.
¹¹	W.	R.	Nicoll,	descrevendo	os	sermões	de	Alexander	McLaren;	citado	por	John
Stott,	Between	Two	Worlds:	The	Art	of	Preaching	in	the	Twentieth	Century
(Grand	Rapids:	Eerdmans,	1982),	230.
¹²	Cf.	Murphy,	Wisdom	Literature,	138,	que	esboça	esta	passagem	de	A	a	J	e
Fletcher,“Ecclesiastes	5:1-7”,	Int	55/3	(2001)	296.
¹³	Brown,	Ecclesiastes,	56.
¹⁴	Fox,	Ecclesiastes,	32.	Cf.	seu	Qohelet,	209.
¹⁵	Seow,	Ecclesiastes,	197.
¹ 	Perdue,	Wisdom	Literature,	201.	Cf.	Shepherd,	“Ecclesiastes”,	304,	que	diz
que	o	Qohelet	não	quer	dizer	“o	que	o	narrador	quer	dizer	em	12.13	quando	diz
‘teme	a	Deus’,	embora	use	palavras	idênticas...	A	admoestação	do	Qohelet	aqui
não	é	que	se	deve	ter	um	medo	‘reverencial’	de	Deus,	mas	que	se	deve
verdadeiramente	ter	medo	de	Deus”.	Cf.	Longman,	Book	of	Ecclesiastes,	124.
¹⁷	As	diferentes	interpretações	se	devem	a	diferentes	pressupostos.	Veja	acima,	p.
21–27.	Cf.	Whybray,	Ecclesiastes,	75:	“A	ideia	de	que	o	conceito	do	Qohelet	de
‘temor	a	Deus’	é	essencialmente	diferente	de	seu	sentido	usual	no	Antigo
Testamento	(devoção	a	Deus,	adoração	a	Deus	ou	pronta	obediência	aos	seus
mandamentos)	é	derivada	de	uma	interpretação	particular	do	pensamento	do
Qohelet	em	geral,	não	do	uso	real	da	frase.	Seu	significado	é	que	Deus
corretamente	requer	‘temor’	dos	homens,	no	sentido	de	reconhecimento	de	sua
diferença	essencial	de	suas	criaturas	(cf.	5.2)”.
¹⁸	“A	noção	de	‘temor	a	Deus...	de	modo	nenhum	denota	terror.	Em	vez	disso,	o
conceito	de	temor	a	Deus,	aqui,	como	em	outros	lugares	da	literatura	sapiencial
israelita,	enfatiza	a	distância	entre	divindade	e	humanidade”.	Seow,	Ecclesiastes,
174.	Cf.	Whybray,	“Qoheleth	as	a	Theologian”,	264:	“A	posição	comumente
defendida	de	que	o	‘temor	a	Deus’	que	o	Qohelet	recomendou	aos	seus	leitores
era	medo	–	isto	é,	terror	–	no	sentido	mais	literal	não	pode	ser	sustentada.	Não	há
base	para	isso	no	texto”.	Cf.	Provan,	Ecclesiastes,	118:	“O	leitor	é	exortado	a	se
manter	na	realidade:	‘Mantenha	o	temor	a	Deus’”.	Cf.	Von	Rad,	Wisdom	in
Israel,	66:	“O	leitor	moderno	deve...	eliminar,	no	caso	da	palavra	‘temor’,	a	ideia
de	algo	emocional,	de	uma	forma	psíquica	específica	da	experiência	de	Deus”.
¹ 	Provan,	Ecclesiastes,	119.	Veja	também	Apocalipse	2.7,11,17,29;	3.6,13,22.
² 	Ibid.,	121-22.
²¹	Malaquias	escreveu	seu	livro	por	volta	de	430	a.C.	–	um	ou	dois	séculos	antes
de	Eclesiastes.
²²	Seow,	Ecclesiastes,	200.	Seow,	ibid.,	200-201,	continua:	“A	Mishnah,	de	fato,
fala	de	uma	série	de	justificativas	que	as	pessoas	podiam	apresentar	para	não
cumprirem	seus	votos”	(Ned.	9)”.
²³Brown,	Ecclesiastes,	55.
²⁴	Whybray,	Ecclesiastes,	93:	“O	‘tolos’	que	o	Qohelet	tem	em	mente	são
presumivelmente,	aqueles	que	acreditam	que	seus	sacrifícios	automaticamente
apagarão	seus	pecados	sem	necessidade	de	arrependimento,	e	também	estão
oferecendo	sacrifícios	que	em	si	mesmos	são	essencialmente	ímpios	e	merecem
a	ira	de	Deus”.	Provan,	Ecclesiastes,	116-17,	sugere:	“O	‘sacrifício	de	tolos’	é...
a	observância	descuidada	da	religião,	desvinculada	de	qualquer	movimento
genuíno	da	alma	em	direção	a	Deus	e	realizado	por	costume,	pressão	ou	hábito”.
Shepherd,	“Ecclesiastes”,	302,	argumenta:	“Designando	o	ouvir	como	a	coisa
mais	apropriada	a	se	fazer	na	presença	de	Deus,	a	implicação	é	que	o	‘sacrifício
de	tolos’	é	o	falar	excessivo;	esta	implicação	se	torna	explícita	no	verso	2”.	As
últimas	duas	interpretações	não	consideram	“sacrifício”	literalmente,	mas
entendem	a	palavra	como	uma	metáfora.
²⁵	O	hebraico	diz,	literalmente:	“pois	eles	não	sabem	de	fazer	mal”.	A	NRSV
interpreta	isso	como:	“Pois	eles	não	sabem	como	deixar	de	fazer	mal”;	A	NASB
traz:	“Pois	eles	não	sabem	que	estão	fazendo	mal”;	e	a	TNIV	traz:	“Quem	não
sabe	que	eles	fazem	mal”.	Como	esta	frase	não	é	importante	e	para	não
confundir	seus	ouvintes,	acho	melhor	seguir	a	tradução	da	Bíblia	que	o	povo	usa.
² 	Muitos	comentaristas	ligam	este	verso	a	1Samuel	15.22,	“obedecer	é	melhor
que	sacrificar”,	e	igualam	ouvir	a	obedecer.	Mas	o	contraste,	neste	contexto,	é
entre	ouvir	e	se	precipitar	com	a	boca.	“Em	contraste	com	a	abordagem	de	tolos
barulhentos,	é	melhor	ouvir	do	que	falar”.	Seow,	Ecclesiastes,	194.
²⁷	E.g.,	Deuteronômio	4.10;	5.1;	6.3,4;	9.1;	12.28;	20.3;	31.12,13;	Isaías	1.10;
7.13;	28.14
²⁸	E.g.,	Mateus	11.15;	13.9,43;	João	8.47;	Apocalipse	2.7,11,17,29;	3.6,13,22.
² 	Fox,	Ecclesiastes,	33.
³ 	“Para	o	Pregador,	o	ato	supremo	de	impiedade	é	a	presunção	de	que	a	pessoa
está	na	posição	de	controle	quando	trata	com	Deus”.	Garrett,	Proverbs,
Ecclesiastes,	311.
³¹	Veja	Whybray,	Ecclesiastes,	94.
³²	“Os	votos	no	templo	eram	um	elemento	comum	na	adoração	do	Antigo
Testamento	e	envolvia	promessas	de	consagrar	coisas	como	sacrifício	ou
dinheiro	a	Deus	para	garantir	um	pedido	feito	em	oração	(Lv	7.16-17;	22.18-23;
27.1-25;	Nm	6).	A	tentação	apresentada	ao	adorador	era	evitar	cumprir	o	voto
depois	que	a	oração	fosse	respondida”	Provan,	Ecclesiastes,	117.
³³	John	E.	Bode,	1869.
³⁴	Frances	R.	Havergal,	1874.
³⁵	salmo	119.33.
³ 	salmo	66.13-14.
³⁷	Charles	Wesley,	1749.
³⁸	Rich	Mullins,	2005.
³ 	Para	esta	interpretação,	veja	Longman,	Ecclesiastes,	154,	e	Crenshaw,
Ecclesiastes,	117.	Leupold,	Exposition	of	Ecclesiastes,	121-22,	entende	o
“mensageiro”	como	o	sacerdote	a	quem	se	pede	para	fazer	uma	“correção	de
oferta”	para	o	votante	se	livrar	do	pecado.	Whybray,	Ecclesiastes,	96,	concorda
que	o	“mensageiro”	“é	o	sacerdote,	a	quem	é	feita	confissão	(neste	caso,	falsa)”.
⁴ 	Para	a	distinção	entre	pecados	intencionais	e	não	intencionais,	veja	Levítico
4.2-35	e	Números	15.22-31.
⁴¹	“Não	há	verbo	no	hebraico,	e	três	substantivos	–	sonhos,	“futilidades”	(	,	no
plural)	e	palavras	–	são	unidos	simplesmente	pelo	(normalmente,	“e”),	sugerindo
que	formam	uma	lista”.	Whybray,	Ecclesiastes,	96.	A	falta	de	um	verbo	leva	a
muitas	traduções	e	intrepretações	diferentes	(see	Seow,	Ecclesiastes,	197).	Por
exemplo,	a	TNIV	traduz:	“Muitos	sonhos	e	muitas	palavras	são	sem
significado”.	Como	antes,	no	verso	3,	acho	que	é	melhor,	no	sermão,	seguir	a
tradução/interpretação	da	Bíblia	que	os	ouvintes	usam.
⁴²	“O	verso	começa	com	[‘porque’,	omitido	na	maioria	das	traduções],	que	eu,
aqui,	interpreto	em	um	sentido	casual,	identificando	a	primeira	parte	do	verso
como	uma	cláusula	motora.	Isso	dá	uma	razão	final	para	a	cautela	na	prática
cúltica”.	Longman,	Book	of	Ecclesiastes,	156.
⁴³	“O	Qohelet	insiste	que,	em	vez	disso	(o	é	adversativo)	seus	ouvintes/leitores
devem	temer	a	Deus”.
CAPÍTULO	8
O	amor	ao	dinheiro
Eclesiastes	5.8–6.9
¹
Quem	ama	o	dinheiro	jamais	dele
se	farta;	e	quem	ama	a	abundância
nunca	se	farta	da	renda
(Ec	5.10)
Eclesiastes	5.8–6.9	conclui	a	primeira	metade	do	livro.²	Este	é	um	texto	de
pregação	ideal	para	combater	o	materialismo	de	nossa	sociedade	e	seu	impacto
sobre	a	igreja	e	seus	membros.	Como	acontece	com	outros	textos	de	pregação,
ele	confronta	os	pregadores	com	vários	desafios.	Como	“não	há	entendimento
entre	os	estudiosos	sobre	os	limites	da	passagem”,³	a	primeira	questão	a	resolver
é	a	escolha	de	uma	unidade	textual	adequada.	Se	5.8-9	for,	de	fato,	parte	desta
unidade,	a	próxima	questão	é	como	a	“opressão	de	pobres”	(v.	8)	está
relacionada	a	“quem	ama	o	dinheiro”	(v.	10).	Também	enfrentamos	o	problema
de	interpretar	algumas	palavras	e	frases	hebraicas	obscuras.	Por	exemplo,	qual	é
o	significado	de	5.9,	“o	rei	se	serve	do	campo”?⁴	Além	disso,	devemos	entender
frases	como	“nas	trevas,	comeu	em	todos	os	seus	dias”	(5.17)	literal	ou
figuradamente?	E,	finalmente,	como	veremos,	a	estrutura	dessa	passagem
levanta	uma	importante	questão	para	o	sermão.
Texto	e	Contexto
Começamos	procurando	os	limites	do	texto.	Onde	começa	a	unidade	literária?
Alguns	comentaristas	consideram	que	5.8-9	pertence	à	unidade	literária
precedente	(5.1-7),⁵	enquanto	outros	argumentam	que	formam	uma	unidade	em
separado. 	Esses	comentaristas,	então,	começariam	a	unidade	maior	em	5.10.
Mas	outros	comentaristas	começam	a	unidade	em	5.8.⁷	Há	divergência
semelhante	sobre	o	fim	da	unidade	–	alguns	a	terminam	em	5.20;	outros,	em	6.9;
ainda	outros,	em	6.12.
Seja	qual	for	a	unidade	que	selecionemos,	fica	claro,	pelo	conteúdo,	que	a
exclamação	do	Pregador,	“Eis	o	que	eu	vi...”	(5.18-20),	é	o	clímax	do	texto	de
pregação.	Um	bom	texto	de	pregação,	portanto,	seria	5.10-20.	Contudo,	de
acordo	com	a	análise	de	Wright	da	estrutura	de	Eclesiastes	(veja	p.	39,	acima),
6.9,	com	uma	repetição	final	do	duplo	“também	isto	é	vaidade	e	correr	atrás	do
vento”,	marca	o	fim	da	primeira	metade	do	livro.	Ficamos,	portanto,	com	duas
questões:	Devemos	incluir	6.1-9	em	nosso	texto	de	pregação	e	adicionar	5.8-9	ao
seu	início?
A	resposta	a	essas	perguntas	foi	indefinível	até	1989,	quando	Daniel	Fredericks
publicou	um	artigo	intitulado	“Quiasma	e	estrutura	paralela	em	Qohelet	5.9	[ing.
5.10]–6.9”.⁸	Enfatizando	as	palavras	hebraicas	paralelas,	Fredericks	argumentou
em	favor	da	estrutura	quiástica:	A	(5.10-12);	B	(5.13-17);	C	(5.18-20);	C’	(6.1-
2);	B’	(6.3-6);	A’	(6.7-9).
Em	1997,	Seow	refinou	a	proposta	de	Fredericks,	incluindo	5.8-9	no	quiasma	e
centrando-o	em	5.20.	Ele	observou	os	seguintes	paralelos:¹
A	5:8-12	O	pobre	(v.	8)	Não	satisfeito	(v.	10)	Que	proveito	(v.	11)	Ver	com	os	olhos	(v.	11)
B	5:13-17	Filho	que	gerou	(v.	14)	Indo	como	veio	(v.	15)	Nas	trevas,	comeu	(v.	17)
C	5:18-19	Boa	(v.	18)	Deus	conferiu	(v.	19)	Isto	é	dom	(v.	19)
D	5:20	Não	se	lembrará	muito	Deus	lhe	enche	o	coração	de	alegria
Consequentemente,	Seow	propôs	a	seguinte	estrutura	quiástica:¹¹
A	Pessoas	que	não	podem	ser	satisfeitas	(5.8-12)
B	Pessoas	que	não	podem	desfrutar	(5.13-17)
C	O	que	é	bom	(5.18-19)
D	Desfrute	o	momento	(5.20)¹²
C’	O	que	é	mau	(6.1-2)
B’	Pessoas	que	não	podem	desfrutar	(6.3-6)
A’	Pessoas	que	não	podem	ser	satisfeitas	(6.7-9)
Todos	esses	paralelos	não	podem	ser	coincidência.	O	Pregador	deve	ter
deliberadamente	estruturado	Eclesiastes	5.8–6.9	como	um	quiasma.	Como	o
autor	pretendeu	apresentar	os	versos	como	uma	unidade,	devemos	usar	toda	a
unidade	como	nosso	texto	de	pregação.
Quanto	ao	contexto,	o	Pregador	começa	o	texto	com	a	opressão	do	pobre	e	a
injustiça	na	terra	(5.8)	–	tópico	tratado	pela	primeira	vez	em	4.1-3.	Ele	salienta
que	“quem	ama	o	dinheiro	jamais	dele	se	farta”	e	que	o	apetite	humano	jamais
“se	farta”	(5.10;	6.7).	Ele	já	fez	uma	afirmação	semelhante	anteriormente:	“Os
olhos	não	se	fartam	de	ver”	(1.8)	e,	especificamente	sobre	indivíduos	solitários
que	trabalham	duro,	disse:	“Seus	olhos	não	se	fartam	de	riquezas”	(4.8).	O
Pregador	conclui	que	devemos	desfrutar	de	nossa	comida,	bebida	e	trabalho
(5.18-20),	como	havia	feito	anteriormente	(2.24-26;3.12-13,22)	e	fará
novamente	na	sequência	(8.15;	9.7-10).
Elementos	literários
Em	adição	às	repetições,	paralelos	e	estrutura	quiástica	citados	acima,	também
devemos	observar	as	outras	formas	literárias	presentes	na	passagem.	O	Pregador
começa	com	uma	instrução	sobre	opressão	ao	pobre	e	injustiça,	incluindo	a
proibição	“não	te	maravilhes	de	semelhante	caso”	(5.8)	e	um	provérbio	sobre	o
rei	(5.9).	Em	seguida,	menciona	um	provérbio	sobre	aquele	que	ama	o	dinheiro,
que	não	fica	satisfeito	(paralelismo	sinônimo)	e	sua	confirmação,	“também	isto	é
vaidade”	(5.10).	O	Pregador	continua	com	um	provérbio	sobre	o	aumento	de
bens	e	o	aumento	daqueles	que	os	comem	(paralelismo	sinônimo)	e	sua
confirmação,	com	a	pergunta:	“Que	mais	proveito,	pois,	têm	os	seus	donos	do
que	os	verem	com	seus	olhos?”	(5.11).	Ele	encerra	esta	seção	com	um	quarto
provérbio,	comparando	o	doce	sono	do	trabalhador	com	a	falta	de	sono	do	rico
(paralelismo	antitético;	5.12).
O	Pregador	continua	com	uma	reflexão,	“Grave	mal	vi	debaixo	do	sol”	(5.13a).
Ele	relata	uma	anedota	sobre	uma	pessoa	rica	que	perdeu	suas	riquezas	em	uma
má	ventura	e	ficou	sem	ter	o	que	passar	aos	seus	filhos	(5.13-17).	Ele	inclui	na
anedota	uma	declaração	popular	(5.15)	similar	a	Jó	1.21:	“Nu	saí	do	ventre	de
minha	mãe	e	nu	voltarei”,	e	faz	outra	pergunta	retórica:	“Que	proveito	lhe	vem
de	haver	trabalhado	para	o	vento?”	(5.16).
Em	seguida,	o	Pregador	faz	uma	reflexão	sobre	o	que	viu	de	bom:	“Boa	e	bela
coisa	é	comer	e	beber	e	gozar	cada	um	do	bem	de	todo	o	seu	trabalho,	com	que
se	afadigou	debaixo	do	sol”	(5.18-19).	Ele	conclui	essa	reflexão	com	a	segurança
de	que	“Deus	lhe	enche	o	coração	de	alegria”	(5.20).
Depois,	o	Pregador	faz	outra	reflexão	sobre	o	que	viu	de	mal	“debaixo	do	sol”
(6.1).	Aqui	ele	relata	uma	anedota	sobre	uma	pessoa	que	tem	tudo	o	que	seu
coração	desejar,	“mas	Deus	não	lhe	concede	que	disso	coma”	(6.2).	Ele	também
chama	isso	de	“grave	mal”	(6.3;	cf.	5.13).	Nessa	anedota,	ele	usa	hipérbole:
“cem	filhos”	e	viver	“duas	vezes	mil	anos”	(6.3,6).
O	Pregador	conclui	esta	passagem	com	um	provérbio	sobre	o	apetite	não
satisfeito	(paralelismo	sintético;	6.7),	duas	perguntas	retóricas	(6.8),	um
provérbio	“melhor	que”	(6.9a)	e	sua	avaliação	final:	“Também	isto	é	vaidade	e
correr	atrás	do	vento”	(6.9b).¹³
Se	impusermos	nossas	descobertas	sobre	a	estrutura	quiástica,	descobriremos
que	até	mesmo	as	formas	de	sabedoria,	grosso	modo,	confirmam	o	quiasma:
A	Pessoas	que	não	podem	ser	satisfeitas	(5.8-12)				instrução/quatro	provérbios
B	Pessoas	que	não	podem	desfrutar	(5.13-17)				reflexão/anedota
C	O	que	é	bom	(5.18-19)				reflexão
D	Desfrute	o	momento	(5.20)				conclusão
C’	O	que	é	mau	(6.1-2)				reflexão
B’	Pessoas	que	não	podem	desfrutar	(6.3-6)				anedota
A’	Pessoas	que	não	podem	ser	satisfeitas	(6.7-9)				dois	provérbios
Estrutura	textual
Com	a	estrutura	quiástica	e	as	formas	literárias	em	mente,	estamos	prontos	para
expor	o	esboço	lógico	do	texto.
I.	Instrução:	Não	se	surpreenda	com	a	opressão	ao	pobre	(5.8a)
E	a	violação	da	justiça	e	do	direito
A.	Razão:	Pois	o	alto	oficial	é	vigiado	por	um	ainda	maior	(5.8b)
1.	No	entanto,	um	rei	pode	ser	uma	vantagem	para	a	terra	(5.9)
B.	Provérbio:	Aquele	que	ama	o	dinheiro	não	se	farta	dele	(5.10)
E	o	que	ama	a	riqueza	não	se	farta	da	renda
1.	Isso	também	é	vaidade
2.	Quando	os	bens	aumentam,	aumentam	seus	consumidores	(5.11)
3.	O	pobre	dorme	bem,	mas	o	rico	não	consegue	dormir	(5.12)
II.	Reflexão	sobre	um	“grave	mal”	(5.13-17)
A.	Anedota	sobre	um	rico	que	perde	suas	riquezas	em	uma	má	ventura	(5.13b-
14a)
1.	Não	tem	nada	para	deixar	ao	seu	filho	(5.14b)
2.	Não	tem	proveito	de	todo	o	seu	trabalho	(5.15-16)
3.	Acaba	comendo	em	trevas	e	ressentimento	(5.17)
III.	Reflexão	sobre	o	que	é	visto	ser	bom	(5.18-20)
A.	é	bom	comer,	beber	e	encontrar	alegria	no	trabalho	(5.18a)
1.	Esta	é	a	nossa	porção	(5.18b)
2.	Deus	dá	riqueza	e	posses,	bem	como	a	capacidade	de	desfrutar	delas	(5.19)
B.	Razão:	não	se	lembrará	muito	dos	dias	da	sua	vida,	pois	Deus	lhe	dá	alegria
(5.20)
IV.	Reflexão	sobre	o	que	é	visto	ser	mau:	um	“grave	mal”	(6.1-6)
A.	Anedota	sobre	uma	pessoa	rica	que	não	tem	falta	de	nada	(6.2a)
1.	Mas	não	permite	que	desfrute	de	sua	riqueza	(6.2b)
B.	Uma	pessoa	pode	ter	cem	filhos,	vida	longa	e	não	ter	alegria	(6.3a)
1.	Um	filho	que	ainda	não	nasceu	é	melhor	que	ela	(6.3b-6)
a.	Pois	não	tem	conhecimento	de	nada	(6.4-5a)
b.	Tem	mais	descanso	que	o	rico	(6.5b)
V.	Provérbio:	Todo	o	trabalho	humano	é	para	sua	boca	(6.7),
Mas	o	apetite	não	fica	satisfeito
A.	Razão:	Pois	o	sábio	não	tem	vantagem	sobre	o	tolo	(6.8a)
1.	Mas	o	pobre	pode	ter	vantagem	sobre	o	rico	(6.8b)
B.	Provérbio:	Melhor	é	a	vista	dos	olhos	do	que	o	delírio	do	desejo	(6.9a)
1.	O	delírio	do	desejo	(o	apetite	humano)	é	vaidade	(6.9b)
E	correr	atrás	do	vento
Interpretação	teocêntrica
Derek	Kidner	escreve:	“À	primeira	vista,	esta	passagem	pode	parecer	mero
elogio	à	simplicidade	e	à	moderação;	mas,	de	fato,	a	palavra-chave	é	Deus,	e	o
segredo	da	vida	nos	é	revelado,	a	saber,	sinceridade	com	ele:	prontidão	de
receber	o	que	vem	a	nós	como	enviado	pelo	céu,	seja	em	trabalho,	riqueza	ou	em
ambos”.¹⁴	De	fato,	é	notável	que	nesta	passagem	relativamente	breve	o	Pregador
mencione	Deus	não	menos	que	seis	vezes	e	que	as	coloque	no	coração	da
passagem:	“Os	poucos	dias	da	vida	que	Deus	lhe	deu”	(5.18);	“Deus	conferiu
riquezas	e	bens	e	lhe	deu	poder	para	deles	comer	e	receber	a	sua	porção,	e	gozar
do	seu	trabalho,	isto	é	dom	de	Deus”	(5.19);	“Deus	lhe	enche	o	coração	de
alegria”	(5.20);	“A	quem	Deus	conferiu	riquezas,	bens	e	honra...	mas	Deus	não
lhe	concede	que	disso	coma”	(6.2).
É	claro	que	esta	passagem	é	centrada	em	Deus:	O	Deus	soberano	nos	dá	nossa
vida,	nossa	riqueza	e	nossos	bens	e	a	capacidade	de	desfrutar	deles.	O	Pregador
enfatiza	que	Deus	é	o	grande	Doador,	repetindo	em	5.19	que	“isto	é	dom	de
Deus”.	Deus	é	bom:	ele	“enche	de	alegria	o	coração”	das	pessoas	(5.20).	Mas
Deus	também	pode	reter	esses	dons:	os	pobres	são	oprimidos	(5.8);	os	“poucos
dias”	de	nossa	vida	chegarão	ao	fim	(5.18);	Deus	também	pode	reter	a	alegria
(6.2).	Deus	pode	fazer	tudo	isso	porque	é	soberano.
Tema	e	objetivo	textual
O	centro	da	estrutura	quiástica	frequentemente	foca	no	tema.	Nesta	passagem,	o
centro	é	a	conclusão,	em	5.20.	Deus	mantém	o	povo	ocupado	com	alegria.	Mas
essa	conclusão	é	alcançada	por	meio	de	advertências	sobre	buscar	saúde	e
encorajamento	para	desfrutar	dos	dons	diários	de	Deus,	comida,	bebida	e
trabalho.	Portanto,	a	questão	é:	O	foco	desta	passagem	está	em	Deus	dando
alegria	ou	no	encorajamento	para	que	nós	desfrutemos	dos	dons	diários	de	Deus,
ou	ambos?	Acho	que	podemos	manter	o	foco	duplo	no	sermão:	a	mensagem	do
Pregador	é:	Desfrute	dos	dons	diários	de	Deus.	Depois	de	seguir	esta	orientação,
reconheceremos	que	foi	Deus	quem	nos	deu	essa	alegria.	Mas,	para	termos	um
sermão	unificado,	devemos	formular	um	tema	único.	Levando	em	conta	as
advertências	do	Pregador	sobre	as	riquezas,	podemos	formular	o	tema	textual:
Em	vez	de	buscar	riqueza,	desfrute	dos	dons	diários	de	Deus.
Quanto	ao	objetivo	em	enviar	esta	mensagem,	Ellen	Davis	afirma	que	o
Pregador	“mostra	mais	consciência	dos	perigos	do	acúmulo	de	riquezas	que
qualquer	outro	escritor	do	Antigo	Testamento.	Isso	reflete	o	fato	de	que,	no
século	3º	a.C.,	muitos	judeus	estavam	ansiosos	por	participar	da	economia
mercantil	altamente	agressiva	desenvolvida	pelos	governantes	ptolomeus	no
Egito,	cujo	poder	se	estendia	por	toda	a	Palestina”.¹⁵	Contra	este	pano	de	fundo
histórico,	o	objetivo	duplo¹ 	do	Pregador	foi	advertir	Israel	a	não	buscar	riqueza
e	encorajá-lo	a	desfrutar	os	dons	diários	de	Deus.
Maneiras	de	pregar	Cristo
Com	o	tema	em	mente,	devemos	agora	perguntar	como	podemos	movê-lo	a
Jesus,	no	Novo	Testamento.	A	progressão	histórico-redentiva	não	oferece	uma
boa	ponte;	o	mesmo	acontece	com	promessa-cumprimento,	tipologia	e	contraste.
Isso	nos	deixa	três	caminhos	a	explorar:	analogia,	temas	longitudinais	e
referências	no	Novo	Testamento.
AnalogiaA	analogia	sustentada	por	referências	neotestamentárias	oferece	a	ponte	mais
óbvia	da	mensagem	do	Pregador,	no	Antigo	Testamento,	para	Jesus,	no	Novo
Testamento,	pois,	em	muitas	ocasiões,	Jesus	advertiu	contra	a	busca	de	riquezas.
Ele	disse:	“Ninguém	pode	servir	a	dois	senhores;	porque	ou	há	de	aborrecer-se
de	um	e	amar	ao	outro,	ou	se	devotará	a	um	e	desprezará	ao	outro.	Não	podeis
servir	a	Deus	e	às	riquezas”	(Mt	6.24).
Jesus	advertiu	seus	discípulos:	“Tende	cuidado	e	guardai-vos	de	toda	e	qualquer
avareza;	porque	a	vida	de	um	homem	não	consiste	na	abundância	dos	bens	que
ele	possui”.	Para	salientar	seu	ensino,	Jesus	contou	a	parábola	do	rico	insensato
que	construiu	celeiros	maiores	para	estocar	toda	a	sua	produção	e	seus	bens.	O
rico	insensato	disse:	“Tens	em	depósito	para	muitos	anos;	descansa,	come,	bebe,
regala-te”.	Mas	Deus	lhe	disse:	“Louco,	esta	noite	te	pedirão	a	tua	alma;	e	o	que
tens,	para	quem	será?”	Jesus	concluiu:	“Assim	é	o	que	entesoura	para	si	mesmo
e	não	é	rico	para	com	Deus”	(Lc	12.15-21).
Jesus	também	contou	a	parábola	do	semeador	cuja	semente	caiu	em	diferentes
tipos	de	solo:	pelo	caminho,	em	terreno	rochoso,	entre	espinhos	e	em	bom	solo.
Para	nosso	propósito,	o	ponto	relevante	é	a	semente	que	caiu	entre	espinhos,	pois
Jesus,	posteriormente,	explicou:	“O	que	foi	semeado	entre	os	espinhos	é	o	que
ouve	a	palavra,	porém	os	cuidados	do	mundo	e	a	fascinação	das	riquezas
sufocam	a	palavra,	e	fica	infrutífera”	(Mt	13.22).
Além	disso,	Jesus	disse	aos	seus	discípulos:	“Quão	dificilmente	entrarão	no
reino	de	Deus	os	que	têm	riquezas!...	é	mais	fácil	passar	um	camelo	pelo	fundo
de	uma	agulha	do	que	entrar	um	rico	no	reino	de	Deus”.	Quando	seus	ouvintes
perguntaram	“então,	quem	pode	ser	salvo?”,	Jesus	respondeu:	“Para	os	homens	é
impossível;	contudo,	não	para	Deus,	porque	para	Deus	tudo	é	possível”	(Mc
10.23,26-27).	É	preciso	nada	menos	que	o	Deus	Todo-Poderoso	para	salvar	os
ricos.
Jesus	também	advertiu	aos	seus	seguidores:	“Trabalhai,	não	pela	comida	que
perece,	mas	pela	que	subsiste	para	a	vida	eterna,	a	qual	o	Filho	do	Homem	vos
dará”	(Jo	6.27).¹⁷	Por	isso	Jesus	orientou	a	multidão:
Se	alguém	quer	vir	após	mim,	a	si	mesmo	se	negue,	tome	a	sua	cruz	e	siga-me.
Quem	quiser,	pois,	salvar	a	sua	vida	perdê-la-á;	e	quem	perder	a	vida	por	causa
de	mim	e	do	evangelho	salvá-la-á.	Que	aproveita	ao	homem	ganhar	o	mundo
inteiro	e	perder	a	sua	alma?	Que	daria	um	homem	em	troca	de	sua	alma?	Porque
qualquer	que,	nesta	geração	adúltera	e	pecadora,	se	envergonhar	de	mim	e	das
minhas	palavras,	também	o	Filho	do	homem	se	envergonhará	dele,	quando	vier
na	glória	de	seu	Pai	com	os	santos	anjos	(Mc	8.34-38).
Além	disso,	Jesus	ensinou	aos	seus	seguidores	que	não	precisavam	se	preocupar
com	comida	e	bebida.	Ele	observou	que	“(...)	os	gentios	é	que	procuram	todas
estas	coisas”.	Jesus	assegurou	aos	seus	seguidores	que	não	deviam	se	esforçar
por	comida	e	bebida,	“(...)	pois	vosso	Pai	celeste	sabe	que	necessitais	de	todas
elas;	buscai,	pois,	em	primeiro	lugar	o	seu	reino	e	a	sua	justiça,	e	todas	estas
coisas	vos	serão	acrescentadas”	(Mt	6.32-33).	A	implicação	é	que,	em	vez	de	nos
preocuparmos	com	comida	e	bebida,	devemos	confiar	em	Deus	e	desfrutar	de
suas	boas	dádivas	todos	os	dias.	De	fato,	Jesus	ensinou	que	até	mesmo	quando
sofremos	perseguição	podemos	nos	regozijar	e	exaltar	(Mt	5.12).	Paulo,
semelhantemente,	instruiu	a	igreja:	“Alegrai-vos	sempre	no	Senhor;	outra	vez
digo:	alegrai-vos”	(Fp	4.4).
Temas	longitudinais
Podemos	traçar	do	Antigo	ao	Novo	Testamento	o	tema	longitudinal	do	encontro
da	alegria	nos	dons	diários	de	Deus,	comida,	bebida	e	trabalho	–	como	fizemos
no	capítulo	3,	acima.	Como	esta	passagem,	em	adição,	adverte	contra	a	busca	de
riquezas,	também	podemos	traçar	o	tema	do	perigo	de	se	buscar	riquezas.	Em
sua	lei,	Deus	advertiu:	“Não	cobiçarás	a	casa	do	teu	próximo.	Não	cobiçarás	a
mulher	do	teu	próximo,	nem	o	seu	servo,	nem	a	sua	serva,	nem	o	seu	boi,	nem	o
seu	jumento,	nem	coisa	alguma	que	pertença	ao	teu	próximo”	(Êx	20.17).	Os
profetas	também	advertiram	contra	a	busca	de	riquezas.	Por	exemplo,	Isaías
proclamou:
Ai	dos	que	ajuntam	casa	a	casa
reúnem	campo	a	campo,
até	que	não	haja	mais	lugar,
e	ficam	como	únicos	moradores	no	meio	da	terra!
A	meus	ouvidos	disse	o
Senhor
dos	Exércitos:
Em	verdade,	muitas	casas	ficarão	desertas,
até	as	grandes	e	belas,	sem	moradores	(Is	5.8-9).¹⁸
A	literatura	de	sabedoria	contém	advertências	similares	contra	a	busca	de
riquezas	não	somente	em	Eclesiastes,	mas	também	em	Provérbios.	Por	exemplo,
Provérbios	23.4-5	adverte:
Não	te	fatigues	para	seres	rico;
Não	apliques	nisso	a	tua	inteligência.
Porventura,	fitarás	os	olhos	naquilo	que	não	é	nada?
Pois,	certamente,	a	riqueza	fará	para	ti	asas,
Como	a	águia	que	voa	pelos	céus.
E	Provérbios	28.22	afirma:	“Aquele	que	tem	olhos	invejosos	corre	atrás	das
riquezas;	Mas	não	sabe	que	há	de	vir	sobre	ele	a	penúria.”
O	Novo	Testamento	continua	esse	tema.	Muitas	vezes	Jesus	advertiu	contra	a
busca	de	riquezas	(veja	“Analogia”,	acima).	Paulo	prescreveu	que	o	bispo	deve
ser	“irrepreensível...	não	avarento”	(1Tm	3.2-3).	Em	1Timóteo	6,	Paulo	reflete
muitos	dos	pensamentos	do	Pregador	em	nosso	texto.	Paulo	chama	suas	próprias
palavras	de	“sãs	palavras	de	nosso	Senhor	Jesus	Cristo”	(1Tm	6.3):
De	fato,	grande	fonte	de	lucro	é	a	piedade	com	o	contentamento.	Porque	nada
temos	trazido	para	o	mundo,	nem	coisa	alguma	podemos	levar	dele.	Tendo
sustento	e	com	que	nos	vestir,	estejamos	contentes.	Ora,	os	que	querem	ficar
ricos	caem	em	tentação,	e	cilada,	e	em	muitas	concupiscências	insensatas	e
perniciosas,	as	quais	afogam	os	homens	na	ruína	e	perdição.	Porque	o	amor	do
dinheiro	é	raiz	de	todos	os	males;	e	alguns,	nessa	cobiça,	se	desviaram	da	fé	e	a
si	mesmos	se	atormentaram	com	muitas	dores...	Exorta	os	ricos	do	presente
século	que	não	sejam	orgulhosos,	nem	depositem	a	sua	esperança	na
instabilidade	da	riqueza,	mas	em	Deus,	que	tudo	nos	proporciona	ricamente
para	nosso	aprazimento	(1Tm	6.6-10,17).
Referências	do	Novo	Testamento
Além	das	referências	neotestamentárias	acima,	podemos	usar	algumas	palavras
de	Paulo.	A	respeito	da	alegria,	Filipenses	4.4-7:	“Alegrai-vos	sempre	no
Senhor;	outra	vez	digo:	alegrai-vos...	E	a	paz	de	Deus,	que	excede	todo	o
entendimento,	guardará	o	vosso	coração	e	a	vossa	mente	em	Cristo	Jesus”	(Fp
4.4-7).	E	a	respeito	do	contentamento,	Filipenses	4.11-13:	“(...)	aprendi	a	viver
contente	em	toda	e	qualquer	situação...	de	tudo	e	em	todas	as	circunstâncias,	já
tenho	experiência,	tanto	de	fartura	como	de	fome;	assim	de	abundância	como	de
escassez;	tudo	posso	naquele	que	me	fortalece”.¹
Tema	e	objetivo	do	sermão
Formulamos	o	tema	textual	como:	“Em	vez	de	buscar	riqueza,	desfrute	dos	dons
diários	de	Deus”.	Como	o	Novo	Testamento	não	muda	a	mensagem,	podemos
usar	o	tema	textual	como	tema	do	sermão:	Em	vez	de	buscar	riqueza,	desfrute
dos	dons	diários	de	Deus.
Formulamos	o	objetivo	do	sermão	como:	“advertir	Israel	a	não	buscar	riqueza	e
encorajá-lo	a	desfrutar	os	dons	diários	de	Deus”.	Este	objetivo	revela	a
necessidade	tratada:	as	pessoas	são	tentadas	a	buscar	riquezas	e,	assim,	não
desfrutam	dos	dons	diários	de	Deus.
Forma	do	sermão
A	forma	do	texto,	como	vimos,	é	um	quiasma.	Isso	levanta	a	questão	de	se	um
sermão	expositivo	seguiria	a	forma	quiástica	ou	a	mudaria	para	uma	forma	mais
convencional	para	ouvintes	ocidentais	–	isto	é,	se	haveria	uma	reorganização	das
partes	para	que	o	clímax	de	5.18-20	venha	no	fim,	não	no	meio.	Podemos
realizar	essa	mudança	combinando	cada	um	dos	pares	de	paralelos	(como	A	e
A’)	como	pontos	do	sermão.	Essa	reorganização	pode	ser	descrita	da	seguinte
forma:
Essa	reorganização	do	texto	tem	várias	vantagens:	podemos	combinar	os	sete
pontos	textuais	em	quatro	pontos	do	sermão;	podemos	enfatizar	as	similaridades
e	diferenças	entre	as	partes	paralelas;	e	podemos	encerrar	o	sermão	com	o
clímax	da	passagem.	Uma	desvantagem,	é	claro,	é	que	precisaremos	ir	para
frente	e	para	trás	no	sermão,	de	uma	parte	do	texto	para	outra.	Podemos	reduzir
essas	idase	vindas,	contudo,	combinando	C’	e	B’	(6.1-2,3-6),	de	modo	que	seja
paralelo	à	reflexão	e	anedota	de	B	(5.13-17).	Também	podemos	combinar	C	e	D
como	ponto-final	(5.18-20).
O	esboço	de	sermão	resultante	é	um	claro	sermão	de	três	pontos:
I.	Pessoas	que	buscam	riquezas	não	ficarão	satisfeitas	(5.8-12;	6.7-9)	–
instrução/provérbios
II.	O	mal	de	as	pessoas	não	desfrutarem	a	vida	(5.13-17;	6.1-6)	–	duas
reflexões/duas	anedotas
III.	Desfrute	os	dons	diários	de	Deus	(5.18-20)	–	reflexão
Exposição	do	sermão
Em	todos	os	tempos	e	lugares,	as	pessoas	parecem	estar	interessadas	em
acumular	riqueza.	As	pessoas	querem	ser	ricas.	No	passado,	milhares
participaram	da	corrida	do	ouro.	Hoje	as	pessoas	buscam	empregos	que	tenham
altos	salários.	Alguns	se	esforçam	para	ser	o	CEO	da	empresa	para	que	recebam
ricos	bônus	e	opções	sobre	ações.	Outros	vão	a	cassinos	tentar	ganhar	uma
bolada.	Quando	o	prêmio	da	loteria	chega	a	cem	milhões,	as	pessoas	vão	em
bandos	para	as	lotéricas	fazer	suas	apostas.	Elas	estão	sempre	querendo	mais.
Alguns	pregadores	até	exploram	essa	ânsia	humana	de	riqueza.	Prometem	que
Deus	abençoará	seus	ouvintes	com	saúde	e	prosperidade	se	tiverem	fé	e	derem
um	“dinheiro	semente”.
Havia	uma	ânsia	de	riquezas	também	quando	o	Pregador	escreveu	Eclesiastes.	A
terra	de	Israel	tinha	se	tornado	uma	província	no	imenso	império	governado
pelos	ptolomeus	de	Alexandria,	no	Egito.	O	comércio	internacional	está	em
plena	atividade.	Algumas	pessoas	ficaram	ricas;	outras	fariam	tudo	para	ficar.	O
Pregador	quer	advertir	as	pessoas	contra	a	busca	por	riquezas	e	encorajá-las	a
desfrutar	os	dons	diários	de	Deus.
Ele	apresenta	sua	mensagem	em	uma	forma	estimada	no	antigo	Oriente
Próximo.	Essa	forma	se	chama	quiasma.	Podemos	descrever	um	quiasma	como
uma	pirâmide:
O	Pregador	sobe	a	pirâmide	fazendo	pontos	1a	e	2a	até	alcançar	o	clímax,	no
ponto	3.	Então	ele	desce	pelo	outro	lado	da	pirâmide,	fazendo	pontos	paralelos,
2b	e	1b.	No	Ocidente,	preferimos	uma	estrutura	mais	linear,	fazendo	vários
pontos	e	terminando	com	o	clímax.	Neste	sermão,	portanto,	combinaremos	os
passos	paralelos,	como	1a	e	1b,	e	terminaremos	com	o	clímax.
O	primeiro	ponto	do	Pregador	é	afirmar	que	pessoas	que	buscam	riquezas	nunca
ficarão	satisfeitas.	Mas	ele	começa	esse	ponto	de	um	modo	estranho.	Ele	escreve
em	5.8:	“Se	vires	em	alguma	província² 	opressão	de	pobres	e	o	roubo	em	lugar
do	direito	e	da	justiça,	não	te	maravilhes	de	semelhante	caso”.	O	Pregador	quer
advertir	contra	a	busca	da	riqueza,	mas	começa	com	os	pobres.	Por	que	ele	faz
isso?	E	por	que	escreve	sobre	eles	desse	modo?	Podíamos	esperar	algo	assim:
“Se	vires	em	alguma	província	opressão	de	pobres	e	o	roubo	em	lugar	do	direito
e	da	justiça,	faça	algo	sobre	isso”.	Mas	o	Pregador	adverte:	“Não	te	maravilhes
de	semelhante	caso”.	Por	que	não	devemos	nos	maravilhar?
Porque,	ele	explica,	“o	que	está	alto	tem	acima	de	si	outro	mais	alto	que	o
explora,	e	sobre	estes	há	ainda	outros	mais	elevados	que	também	exploram”.
“‘Acima	de	si’	significa	que	o	alto	e	poderoso	‘responde’	a	outro,	de	modo	que
não	há	chance	de	justiça	para	o	pobre”.²¹	Os	altos	oficiais	estão	interessados
somente	em	encher	os	bolsos.	Eles	não	se	importam	com	os	pobres.	De	fato,	eles
espoliam	os	pobres	para	que	possam	encher	as	mãos,	mesmo	que	isso	viole	a
justiça.²²	Com	tanta	corrupção	no	governo,	o	Pregador	diz:	“Não	te	maravilhes...
se	vires...	opressão	de	pobres	e	o	roubo	em	lugar	do	direito	e	da	justiça”.	Tudo
isso	é	resultado	da	ganância	–	a	ganância	e	a	corrupção	de	oficiais	arrogantes.
Mas,	considerando	todas	as	coisas,	ele	continua:	“O	proveito	da	terra	é	para
todos;	até	o	rei	se	serve	do	campo”.	Pode	ser	que	essas	pessoas	ricas	comprem
terras	como	investimento²³	e	as	deixem	sem	cultivo.	Assim,	o	pobre	seria
privado	até	do	seu	direito	de	rebuscar	os	campos	para	obter	comida.	Então,	seria
uma	vantagem	para	a	terra	se	o	rei	restaurasse	a	terra	ao	seu	uso	próprio,	a	saber,
produzir	alimento.	Isso	proveria	alimento	não	apenas	para	o	proprietário,	mas
também	para	o	pobre.	Infelizmente,	a	ganância	humana	impede	que	haja	justiça
para	o	pobre.	Por	isso,	“não	te	maravilhes”	quando	vires	“opressão	de	pobres	e	o
roubo	em	lugar	do	direito	e	da	justiça”.
Em	seguida	o	Pregador	adverte	aqueles	que	buscam	riquezas.	Verso	10:	“Quem
ama	o	dinheiro	jamais	dele	se	farta;	e	quem	ama	a	abundância	nunca	se	farta	da
renda”.	Este	verso,	com	sua	repetição	de	“quem	ama	o	dinheiro”	e	“quem	ama	a
abundância”,	foca	naqueles	que	colocam	o	dinheiro	e	a	prosperidade	antes	de
tudo	o	mais	em	sua	vida.	Vivem	para	o	dinheiro	–	nunca	se	importam	de	violar	a
justiça.	Buscam	o	dinheiro	como	seu	objetivo	na	vida.
Mas	esse	é	um	objetivo	inatingível.	O	Pregador	adverte	que	“quem	ama	o
dinheiro	jamais	dele	se	farta”.²⁴	“A	riqueza	em	si	não	é	o	problema	aqui,	mas	a
instabilidade	daqueles	que	amam	o	dinheiro.	Há	sempre	mais	coisas	que	querem,
sempre	algo	mais”.²⁵	O	Pregador	resume	sua	posição	sobre	a	busca	de	dinheiro:
“Também	isto	é	vaidade”,	isto	é,	é	como	buscar	vapor,	é	vazio,	é	fútil,	não
satisfaz.
Como	o	Pregador,	o	apóstolo	Paulo	adverte:	“(...)	o	amor	do	dinheiro	é	raiz	de
todos	os	males;	e	alguns,	nessa	cobiça,	se	desviaram	da	fé	e	a	si	mesmos	se
atormentaram	com	muitas	dores”	(1Tm	6.10).	Paulo	chama	esse	ensino	de	“sãs
palavras	de	nosso	Senhor	Jesus	Cristo”	(1Tm	6.3).	O	próprio	Jesus	advertiu	seus
discípulos:	“Tende	cuidado	e	guardai-vos	de	toda	e	qualquer	avareza;	porque	a
vida	de	um	homem	não	consiste	na	abundância	dos	bens	que	ele	possui”.	Para
salientar	seu	ensino,	Jesus	contou	a	parábola	do	rico	insensato,	que	construiu
celeiros	maiores	para	estocar	sua	colheita	e	suas	posses.	Esse	rico	insensato	disse
à	sua	alma:	“tens	em	depósito	para	muitos	anos;	descansa,	come,	bebe,	regala-te.
Mas	Deus	lhe	disse:	Louco!	Esta	noite	te	pedirão	a	tua	alma;	e	o	que	tens
preparado,	para	quem	será?”	Jesus	concluiu:	“Assim	é	o	que	entesoura	para	si
mesmo	e	não	é	rico	para	com	Deus”	(Lc	12.15-21).
No	verso	11,	o	Pregador	escreve:	“Onde	os	bens	se	multiplicam,	também	se
multiplicam	os	que	deles	comem;	que	mais	proveito,	pois,	têm	os	seus	donos	do
que	os	verem	com	seus	olhos?”	Quando	os	bens	aumentam,	aumentam	aqueles
que	os	consomem.	Quando	as	pessoas	se	tornam	ricas,	precisam	de	uma
empregada	para	limpar	a	casa,	de	um	jardineiro,	de	uma	babá,	de	um	motorista,
de	um	contador,	de	um	corretor,	de	um	guarda-costas.	Todas	essas	pessoas	terão
que	ser	pagas.	Além	disso,	o	imposto	será	mais	alto,	e	as	obras	de	caridade
encherão	sua	caixa	postal	com	pedidos	de	doações.	Quem	fica	rico	também
descobre	que	tem	muitos	“amigos”	que	gostariam	de	ajudá-lo	a	se	livrar	de	seu
dinheiro.	“Onde	os	bens	se	multiplicam,	também	se	multiplicam	os	que	deles
comem;	que	mais	proveito,	pois,	têm	os	seus	donos	do	que	os	verem	com	seus
olhos?”	Nenhum!	Não	há	proveito.	Tudo	o	que	o	dono	do	dinheiro	faz	é	vê-lo
“com	seus	olhos”.	Ele	meramente	vê	outros	consumirem	seus	bens.	Não	há
proveito	para	o	dono.
Não	apenas	não	há	proveito	para	o	dono	da	riqueza,	mas	também	há	as
responsabilidades	do	rico.	Verso	12:	“Doce	é	o	sono	do	trabalhador,	quer	coma
pouco	quer	muito;	mas	a	fartura	do	rico	não	o	deixa	dormir”.	O	“trabalhador”
pode	ser	o	pobre	mencionado	no	verso	8.² 	Às	vezes,	tem	apenas	um	pouco	de
comida.	Mas	quer	tenha	pouco	ou	muito,	dorme	bem.	Em	contraste,	“a	fartura	do
rico	não	o	deixa	dormir”.	O	rico	se	preocupa	com	suas	riquezas.	Ele	a	vê
escorrendo	pelos	dedos	quando	uma	quantidade	cada	vez	maior	de	pessoas	quer
seu	pedaço	do	bolo.	Ele	se	preocupa	com	a	segurança	de	seus	investimentos	e
fica	ansioso	com	uma	recessão.	Ele	perderá	tudo	pelo	que	trabalhou	tanto?	Tais
pensamentos	são	suficientes	para	mantê-lo	acordado	à	noite.²⁷
Neste	primeiro	ponto,	o	Pregador	deu	três	razões	pelas	quais	as	pessoas	que
buscam	riquezas	não	ficam	satisfeitas:	“Quem	ama	o	dinheiro	jamais	dele	se
farta”;	“onde	os	bens	se	multiplicam,	também	se	multiplicam	os	que	deles
comem”;	“a	fartura	do	rico	não	o	deixa	dormir”.
Em	seu	ensino	final,	o	último	degrau	na	descida	da	pirâmide,	o	Pregador
acrescenta

Mais conteúdos dessa disciplina