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AULA 3 COOLHUNTING Prof. Deborah Iuri Tazima 2 TEMA 1 – DIFERENTES TIPOS DE TENDÊNCIA Há muita confusão sobre o significado de tendências de consumo e como muitas vezes elas são consideradas informações fúteis pelo senso comum, referindo-se a tendências como a cor que está em alta em determinada estação, por exemplo. Assim, antes de partirmos para ferramentas de identificação de tendências é fundamental entender quais são os tipos possíveis de tendência, já que elas afetam o trabalho do coolhunter. É preciso salientar que essa diferenciação é feita por meio da duração e do impacto que alguns tipos de tendência têm na sociedade. Alguns fenômenos duram poucos meses e são uma febre; outros são mais duradouros e afetam o comportamento de consumo por muitos anos. Para Kotler e Keller (2012), esses movimentos podem ser classificados em modismos, tendências e megatendências. O modismo é “imprevisível, de curta duração e não tem significado social, econômico e político” (Kotler; Keller, 2012, p. 76). São popularmente chamados de “modinha” na linguagem coloquial e aparecem com intensidade no mercado, sendo adotados rapidamente; ainda, na mesma velocidade que surgiram, desaparecem. É difícil basear o modelo de negócio nesses elementos para planejamentos longos nas empresas, mas algumas conseguem responder de forma rápida ao mercado e aproveitar o modismo. Por exemplo, o Pokémon Go pode ser considerado um modismo de 2016, mas mesmo assim diversas empresas conseguiram agir a tempo e lucrar com esse fenômeno, que foi muito intenso por um período de tempo, entretanto, desapareceu rapidamente. Na época, o McDonald’s aumentou seu valor de mercado, bem como o fluxo de suas lojas com uma parceria com a Nintendo, na qual se anunciou que cerca de “3 mil lanchonetes seriam “transformadas” em Ginásios Pokémons, locais em que jogadores podem disputar batalhas entre si” (Pequenas Empresas…, 2016). Tendência “é um direcionamento ou uma sequência de eventos com certa força e estabilidade, mais previsível e duradoura do que um modismo; as tendências revelam como será o futuro e podem prover direção estratégica” (Kotler; Keller, 2012, p. 76). A duração estimada das tendências no mercado é de dois a cinco anos e dão caminhos mais consistentes e seguros para que as empresas possam se planejar. Um ponto importante a salientar é que os modismos sozinhos não necessariamente são uma oportunidade de negócio, mas 3 em conjunto podem indicar uma tendência. É o caso de livros de colorir para adultos, que foram um modismo por um tempo, mas esse fenômeno em conjunto com outros podem apontar para tendências de detox digital ou bem-estar, por exemplo. O último tipo é uma macrotendência que é uma “grande mudança social, econômica, política e tecnológica [que] se forma lentamente e, uma vez estabelecida, passa a nos influenciar por algum tempo — de sete a dez anos, no mínimo” (Kotler; Keller, 2012, p. 76). Elas são mais difíceis de antecipar, mas costumam sintetizar bem o espírito de um tempo, sugerindo atualizações em comportamentos socioculturais como considerar a divisão de tarefas domésticas para produtos de limpeza tanto na comunicação quanto no desenvolvimento de produtos. Apesar de modismos e macrotendências serem fundamentais de serem compreendidos pelas empresas, o foco de atuação do coolhunter é na identificação de tendências de consumo. TEMA 2 – MODELOS DE DIFUSÃO Os modelos de difusão ajudam a explicar e prever como algo vai “se espalhar” na sociedade. Esse tipo de estudo se originou nas áreas de exatas e naturais, e inspirou alguns sociólogos do fim do século XIX e início do século XX a utilizar esses princípios para entender como alguns comportamentos são difundidos, sendo esses conhecimentos bastante aplicados na área de marketing (Caldas, 2004). Os primeiros estudiosos de difusão notaram que as pessoas adotam inovações, métodos e conhecimentos em tempos diferentes, podendo se destacar especialmente a pesquisa de dois sociólogos, Bryce Ryan e Neal Gross, que publicaram um estudo sobre fazendeiros em Iowa no qual classificaram os tipos de agricultores desse estado estadunidense levando em consideração o tempo que levaram para adotar uma inovação específica – uma semente de milho híbrido (Gloor; Cooper, 2007). Com base nesses estudos, surgiu um dos modelos de difusão mais famosos de Everett Rogers. Foi em um livro didático, na década de 1960, no qual sua teoria explica como os avanços tecnológicos e científicos são adotados ao longo do tempo (Vejlgaard, 2008). O autor ficou famoso com a criação das 4 categorias que dividiam o mercado em cinco grupos por meio de uma curva de adoção de inovação, como pode ser visto na Figura 1. Figura 1 – Curva de adoção de inovação Fonte: Carvalho, 2020. O modelo demonstra que a adoção de inovação costuma ter um início lento, cresce aos poucos. Assim que atinge o pico, inicia-se o declínio, sobrando poucas pessoas no mercado que não adotaram. Além disso, a curva de adoção de inovação classifica o mercado em cinco categorias, conforme a seguir. 1. Inovadores: representam cerca de 2,5% da população e são as pessoas que adotam a inovação de forma mais rápida, pois normalmente são indivíduos ousados que são entusiastas da tecnologia, tendo uma necessidade de serem vistas como pessoas inovadoras. Costumam se disponibilizar a testar as versões betas dos produtos e identificar falhas, desde que o preço seja interessante (Kotler; Keller, 2012). 2. Adotantes iniciais: compõem cerca de 13,5% do mercado e costumam ser vistos em seus círculos sociais como líderes de opinião. São fundamentais de serem monitorados por coolhunters e profissionais de marketing de forma geral, pois, apesar de serem menos rápidos do que os inovadores, esse grupo é menos sensível a preço e sua opinião pode fazer com que a difusão continue ou pare, fazendo com que um produto fracasse. 3. Maioria inicial: essa fatia representa cerca de 34% dos clientes e sua característica mais marcante é seu pragmatismo. De acordo com Kotler e Keller (2012, p. 636) esse grupo “adota a nova tecnologia somente quando 5 seus benefícios já foram comprovados e ocorreram muitas adoções. Eles constituem a corrente dominante do mercado”. 4. Maioria tardia: esses clientes também formam 34% do mercado. Esses consumidores são caracterizados pelo ceticismo e conservadorismo. São aquelas pessoas que somente vão comprar uma categoria de produto depois que ela foi extremamente popularizada e tenha versões mais baratas, já que são altamente sensíveis a preço. 5. Retardatários: é uma fatia do final da curva de inovação, são os 16% restantes do mercado que são bastantes tradicionais e resistentes à mudança. O coolhunter precisa dominar esses perfis para orientar seus clientes, já que “se a empresa quiser que a sua inovação passe por todo o ciclo de vida do produto, deve abordar cada um dos cinco grupos com um tipo diferente de marketing” (Kotler; Keller, 2012, p. 636). Para Gloor e Cooper (2007), a aplicação principal da teoria de Rogers para um coolhunter seria o foco em buscar encontrar inovadores e adotantes iniciais, mapeando e observando seu processo de adoção. Ou seja, um forte indício de consolidação de uma tendência seria encontrar esses indivíduos e monitorá-los. No entanto, apesar de parecer simples, essa não é uma tarefa tão fácil, pois raramente se identifica a tempo quem são os inovadores e adotantes iniciais no início da difusão de uma inovação. 2.1 Críticas ao modelo de curva de adoção de inovação de Rogers O modelo de curva de adoção de inovação de Rogers é amplamente difundido no mercado para prever comportamentos de consumo tanto por profissionais de PD&I e marketing, para gestão de produtos, quanto por coolhunters, para análise de tendências. No entanto, é importantefazer algumas ressalvas em relação a ela, de forma mais crítica. Uma das questões colocadas por Vejlgaard (2008) é em relação à pesquisa que deu origem a esse modelo, que foi originalmente desenvolvido e testado em um contexto de pequenas comunidades agrícolas. Ou seja, a curva de adoção de inovação não necessariamente testou se esse comportamento ocorre na população em geral, ainda mais em um mundo hiperconectado como o que vivemos. É uma inferência que é feita pelo mercado e não necessariamente 6 invalida a ferramenta, mas é importante entender que tem outros aspectos que podem influenciar os indivíduos nesse processo de adoração de inovação. Outra ressalva feita por Vejlgaard (2008) é que normalmente o processo de difusão de inovação tende a ocorrer dentro de um grupo de pessoas com um perfil muito semelhante e o processo de tendência parte do pressuposto de que esta afeta indivíduos dissimilares simultaneamente. Para Gloor e Cooper (2007, p. 18) Para ser justo, Rogers não é a última palavra sobre a difusão da inovação. A taxa real em que uma inovação é adotada é governada tanto pela taxa de início quanto pela taxa de crescimento posterior. Algumas inovações de custo relativamente baixo podem decolar rapidamente; outras inovações têm um valor que aumenta à medida que a adoção se espalha e podem apresentar crescimento mais rápido em estágios posteriores. Este último fenômeno é chamado de “efeito de rede” – o que certamente corresponde ao nosso conceito de criatividade em enxame. Além disso, Vejlgaard (2008) indica que é inegável a influência de uma dimensão socioeconômica quando olhamos para cada um dos cinco grupos. Os primeiros pesquisadores de difusão observaram que as pessoas adotam novas inovações, novos conhecimentos e novos métodos em velocidades diferentes. Um dos primeiros estudos envolveu agricultores em Iowa, que foram presenteados com um novo tipo de semente que poderia aumentar sua colheita em 20%. Mesmo com este aumento impressionante, houve grandes diferenças na rapidez com que os agricultores começaram a usar a nova semente. O agricultor típico levou sete anos para adotar a nova semente. Neste e em outros estudos, observou-se que os agricultores ricos foram mais rápidos do que os agricultores pobres em começar a usar a nova semente. Ao mesmo tempo, notou-se que os agricultores ricos possuíam uma rede social maior e, portanto, podiam falar mais pessoas sobre a nova semente. [...] Neste modelo, o mais cosmopolita, o mais viajado, o mais educado, o mais estável mentalmente, o mais empático, o mais inteligente, o mais rico, aquele que menos acredita no poder do destino e as pessoas mais socialmente ativas são encontrados nas categorias Inovadores e adotantes iniciais. Pessoas pobres e pessoas sem uma rede social são encontradas nas categorias Maioria tardia e Retardatários. Em outras palavras, essas categorias são baseadas em um perfil abrangente de personalidade, possuindo uma determinada situação financeira e possuindo uma rede social. Apenas uma reflexão superficial sobre os grupos de tendências e categorias de adotantes mostrará semelhanças entre os dois. Na verdade, são fenômenos sociais diferentes. (Vejlgaard, 2008, p. 164) Além disso, no processo de difusão de tendência a mídia tem um papel fundamental na sua difusão, como vimos anteriormente. A tendência pode se espalhar na sociedade pela indústria cultural e não depende apenas de líderes de opinião para mudar seu comportamento de consumo. No entanto, estes são ainda bastante relevantes, como será explorado no próximo tema. 7 TEMA 3 – CADEIA DE INFLUÊNCIA No tema anterior, discutiu-se sobre como ocorre o processo de difusão de tendência, mas é preciso complementar esse conceito sobre algumas outras etapas fundamentais para se compreender como ocorre a difusão de tenências. Ainda no modelo de Rogers, é feita a distinção de algumas etapas do processo de difusão (Gloor; Cooper, 2007), sendo elas: 1.º a inovação em si – um conhecimento, tecnologia ou ideia que muda a expectativa e o comportamento das pessoas que aplicam a inovação; 2.º os canais de comunicação, por meio dos quais essas novas ideias são disseminadas – podendo ser revistas, jornais, cinema; hoje em dia, esse papel também é desempenhado pelas redes sociais; 3.º o tempo e a taxa de adoção de uma inovação, no qual estabelece critérios que podem acelerar ou retardar a difusão dessas inovações; 4.º a influência do ambiente social como pilar para como uma inovação se dissemina em um contexto. Pensando nisso, há alguns grupos ou indivíduos que têm capacidade de acelerar a difusão de algumas tendências e, apesar de não ser uma tarefa fácil, o coolhunter deve mapeá-los para melhorar suas previsões. Na teoria de Rogers, os lançadores de tendência têm um perfil baseado em características socioeconômicas muito fortes. Como um contraponto, Vejlgaard (2008) propõe um modelo baseado em personalidade que considera que tem características psicológicas de quem influencia e de quem é influenciado em um processo de adoção de tendências, dividindo esses grupos de indivíduos em um diamante de tendências, representado na Figura 2. 8 Figura 2 – Diamante das tendências Fonte: Vejlgaard, 2008, p. 64. Mas por que algumas pessoas ficam no topo do diamante e outras embaixo? Para Vejlgaard (2008), essa dimensão vertical do modelo gráfico demonstra que na parte superior ficam as pessoas com maior disposição a mudar e experimentar novos estilos e na parte superior são perfis que têm um desejo dominante pelo familiar e não se sentem confortáveis com o novo. Assim, eles são classificados conforme a seguir. • Criadores de tendência (trend creators): esse grupo é formado por pessoas que estão sempre criando algo novo e são extremamente inovadoras. São bastante curiosos e abertos a mudanças. De acordo com Vejlgaard (2008), não se pode dizer que representam um nicho, pois esse 9 grupo é muito pequeno. No entanto, são importantes de serem mapeados pelos coolhunters, pois desempenham um papel fundamental no processo de tendências pelo fato de serem pessoas que criam os novos estilos e gostos que serão adotados pela restante da população. Esse é um grupo heterogêneo e são colocados no topo do diamante por serem responsáveis por criar ou fazer algo que pode desencadear uma tendência. • Formadores de opinião (trendsetters): para Rasquilhas (2015), esse é o grupo que faz as tendências existirem, pois são os primeiros a adotar as novas tendências criadas pelo grupo anterior, tornando-as conhecidas por causa de sua influência. • Seguidores de tendências (trend followers): esse grupo gosta de inovação, mas não se sente tão seguro para arriscar em inovações assim que surgem; eles precisam ver os formadores de opinião utilizando-as para aderir também. • Mainstreamers primários (early mainstreams): não adotam a tendência quando elas acabam de sair, mas são os primeiros a aceitar as tendências quando elas estão mais estabilizadas no mercado, experimentando-as antes da maioria do público. • Mainstreamers: é o grupo que consolida de fato a tendência, pois tem um peso muito grande no consumo por concentrar grande parte dos consumidores, que a adotam uma tendência por se sentirem por fora da novidade, quando todos estão adotando. • Mainstreamers tardios (late mainstreamers): são receosos e precavidos em mudar o comportamento de consumo, mas ainda têm algum nível de abertura com novidades. Costumam adotar inovações por se sentirem peixes fora d’água porque a maioria já mudou o comportamento de consumo por uma tendência. • Conservadores (conservatives): se sentem bastante desconfortáveis com mudanças no consumo e somente adotam inovações quando não tem outra forma de continuar utilizando produtos e serviços que sempre usaram. • Anti-inovadores (anti-innovators): sãogrupos muito pequenos que não chegam a influenciar no consumo e normalmente são grupos extremistas aversos a mudanças. 10 Ao analisar os perfis de adoção de tendências por questões psicológicas, como visto neste tema, ou socioeconômicas, como visto no tema anterior, é possível perceber que no fim das contas quem cria as tendências e possibilitam sua difusão são pessoas. No entanto, alguns veem uma inovação pela primeira vez e já ficam curiosos para testá-la (como os criadores de tendência e os trendsetters), mas outros precisam observá-las em usos centenas (e até milhares) de vezes até se sentirem prontos para embarcar (como os mainstreamers). O importante é que o coolhunter compreenda esses processos para que consiga fisgar essa difusão no início do processo para que esta seja formulada como uma tendência a tempo de as empresas aproveitarem a oportunidade de negócio. Outra dica de Vejlgaard (2008) para observação de tendências é tentar buscar pessoas de algumas profissões/características que costumam ser criadores de tendência ou formadores de opinião, sendo eles: jovens, designers, artistas, ricos, celebridades e indivíduos que fazem parte de subculturas. TEMA 4 – CICLO DE VIDA DE UMA TENDÊNCIA Já vimos em momentos anteriores que as tendências afetam a estratégia de marketing de diversos segmentos e no desenvolvimento de produtos, já que a empresa será afetada por tendências de consumo, ela querendo ou não. Uma das formas de torná-las mais tangíveis aos negócios é fazer um cruzamento do ciclo de vida de produto com a maturidade ou o nível de difusão de uma tendência. A teoria de difusão de Rogers divide o mercado em cinco grupos e faz uma análise de como ela se comporta no mercado por meio de uma curva-S (Figura 3). Após uma aceitação inicial lenta de uma inovação por inovadores e adotantes iniciais, a adoção chega a um ponto crítico, em que o uso desse produto ou serviço explode. Em seguida, ele se estabiliza após a maioria inicial e tardia ter adotado a inovação, com os retardatários levando uma quantidade desproporcional de tempo para finalmente adotá-la. 11 Figura 3 – Curva de difusão de inovações Fonte: Ferreira; Ruffoni; Carvalho, 2018, p. 183. Pelo gráfico apresentado na Figura 3, é possível notar que existe um timing que as empresas precisam embarcar na tendência antes de saturar o mercado e parar de fazer sentido. No entanto, é possível “que ocorram variações na velocidade e na inclinação das curvas, visto que algumas inovações podem se difundir rapidamente, gerando uma curva íngreme, enquanto outras têm uma taxa mais lenta de adoção, desenhando uma curva de inclinação mais gradual, mas no formato S” (Ferreira; Ruffoni; Carvalho, 2018, p. 184). Para aplicação em marketing, podemos considerar que a tendência tem um ciclo de vida similar ao ciclo de vida de um produto. É possível fazer um paralelo com o ciclo de vida de produto e o nível de difusão da tendência, Em momentos anteriores, utilizamos algumas metáforas para explicar a tendência, como uma onda que o coolhunter precisa “sentir” que está vindo. Outra forma de compreender a tendência é ver seu ciclo de vida. Em marketing, essa é uma analogia muito comum para analisar portfólio de produtos, podendo também ser utilizadas pelo coolhunter para entender como uma tendência se relaciona com o ciclo de vida de um produto. De acordo com Kotler e Keller (2012), a curva de ciclo de vida de produto mais utilizada é em formato de sino e costuma ser dividida em introdução, crescimento, maturidade e declínio, como pode ser visto na Figura 4. 12 Figura 4 – Ciclo de vida de produto Fonte: Kotler; Keller, 2012, p. 331. Esses quatro estágios são descritos por Kotler e Keller (2012, p. 331) como 1. Introdução: período de baixo crescimento nas vendas, uma vez que o produto está sendo introduzido no mercado. Não há lucros nesse estágio devido às pesadas despesas com o lançamento do produto. 2. Crescimento: período de rápida aceitação do mercado e melhoria substancial dos lucros. 3. Maturidade: período de baixa no crescimento das vendas, porque o produto já alcançou a aceitação da maioria dos compradores potenciais. Os lucros se estabilizam ou declinam em face do aumento da concorrência. 4. Declínio: período em que as vendas mostram uma queda vertiginosa e os lucros desaparecem. Na aplicação de tendências em um contexto mercadológico, cada um desses estágios pode também ser relacionado com modelos de difusão de inovação vistos anteriormente e a matriz BCG para auxiliar as empresas na análise da tendência, sendo que A Matriz BCG (Boston Consulting Group), utiliza a participação relativa de mercado e a taxa anual de crescimento de mercado como critérios para a tomada de decisões de investimento, classificando as [...] como abacaxis (produtos problemáticos), vacas leiteiras (produtos geradores de caixa), em questionamento (produtos que são dúvidas, incógnitas) e estrelas (produtos que são uma promessa) (Kotler; Keller, 2012, p. 43) O cruzamento das ferramentas de ciclo de vida de produto, matriz BCG e curva de adoção de inovação pode ser visto na Figura 5. 13 Figura 5 – Ciclo de vida de produto x Matriz BCG x Curva de difusão de inovação Fonte: Veraldi, 2016. Créditos: UI/Shutterstock; file404/Shutterstock; Maksim M/Shutterstock; Syafira Fitriani/Shutterstock. Com a convergência dessas ferramentas, é possível identificar que, na fase de introdução de um produto, este provavelmente estará em questionamento na matriz BCG e terá como público-alvo os inovadores no modelo de difusão de inovação, que representam cerca de 2,5% do mercado. No estágio de crescimento do ciclo de vida do produto, o público-alvo principal são os adotantes iniciais; o produto será considerada uma estrela. A maturidade do produto é o momento em que a maior parte do mercado (maioria inicial e tardia) vai adotar a inovação, fazendo do produto uma vaca leiteira. Já na última etapa do ciclo de vida do produto, o produto está em declínio e é considerado um abacaxi, devendo ser retirado do portfólio, pois só restam os retardatários no mercado como público- alvo. TEMA 5 – PROCESSO DE TENDÊNCIAS Nos temas anteriores, trabalhou-se o tipo de tendência, como esta se dissemina na sociedade, quem a influencia e como o ciclo de vida de tendências e produtos estão relacionados no mercado. No entanto, é preciso considerar alguns modelos alternativos de difusão e entender as formas como essa tendência surge e morre no mercado. O diamante das tendências considera que a adoção de uma tendência é feita em uma escala de quem cria essa tendência chegando até os conservadores. No entanto, para Rasquilhas (2015, p. 37-38), independentemente do estágio ou https://www.shutterstock.com/pt/g/UI https://www.shutterstock.com/pt/g/file404 https://www.shutterstock.com/pt/g/Macki158 https://www.shutterstock.com/pt/g/Syafira+Fitriani 14 grupo de adoção, as tendências têm cinco fases de adoção em cada uma dessas categorias, sendo elas: 1. Sensibilização: o indivíduo é exposto à inovação, mas falta informação completa sobre tal; 2. Interesse: o indivíduo fica interessado na nova ideia e procura informação adicional sobre tal; 3. Avaliação: o indivíduo aplica mentalmente a inovação no presente e antecipa a situação futura, decidindo depois se experimenta ou não; 4. Julgamento: o indivíduo utiliza e experimenta a inovação; 5. Adopção: o indivíduo decide se continua a utilizar a inovação. Assim, é importante compreender que os modelos nos ajudam a compreender como as tendências podem se espalhar, mas eles não conseguem capturar toda a complexidade da realidade. Além disso, há movimentos diferentes que podem acontecer na sociedade que não são tão lineares e previsíveis, mas são importantes de se compreender para a função de um coolhunter, sendo eles:trickle down, bubble up e trickle across. Dentro da prática de coolhunting, os termos são utilizados em inglês e o significado de cada um desses modelos será detalhado a seguir. 5.1 Trickle down, bubble up e trickle across Desde o início do século XX, diversos estudiosos de sociologia tentam explicar como novas ideias são adotadas (Vejlgaard, 2008). O modelo mais aceito nesse período era o chamado trickle down, ou efeito de “gotejamento”, como se, em uma sociedade com hierarquia social, a classe mais alta sempre ditaria qual seria o comportamento de consumo, com as tendências se espalhando dos mais ricos aos mais pobres, necessariamente. No entanto, na sociedade atual, as relações sociais e econômicas entre as pessoas mudaram radicalmente. No processo de tendência de hoje, o princípio do gotejamento não é a única forma de novos estilos se tornarem populares. Há também um processo de “borbulhamento”, com muitos exemplos de mudanças no estilo e no gosto vindos de párias, pessoas pobres e subculturas underground. Hoje, as tendências emergem de todos os estratos da sociedade – até mesmo adolescentes e jovens das favelas do Rio de Janeiro, com música e em calçados. Até 1993, Havaianas era uma mercadoria – era um sapato de gente pobre. Depois se tornou um acessório de moda. (Vejlgaard, 2008, p. 160) Ou seja, o efeito de bubble up (“borbulhamento”) acontece quando, em uma pirâmide social, a base influencia a elite. Esse movimento é cada vez mais comum e os marcadores sociais ficam mais cada vez difusos. Muitas vezes, um tênis esportivo pode transmitir mais luxo do que uma peça de seda, por exemplo. 15 Street style é a principal inspiração do momento na indústria do luxo [...] E, em tempos de grandes transformações sociais e políticas, é natural que a indústria do luxo eleja a moda urbana, mais democrática, como maior fonte de inspiração. A partir dos anos [19]60, os teenagers se transformaram em consumidores independentes e livres dos adultos. Os baby boomers, como eram chamados, julgaram então o street style como a mais autêntica e importante fonte de inspiração estilística. Desde então, os jovens passaram de uma estética “tribal” (beat, mod, rockabilly, biker, punk, hip-hop etc.) para os atuais grupos “pós-tribais”, mais diluídos, mas que ainda têm a intenção de trazer, associado aos looks, um conjunto de valores e opiniões, filosofias e uma espécie de comunidade ideal, com estilo de vida alternativo. Uma ideia sob medida para os novos e intrigantes sinais dos tempos. (Pascolato, 2017) No entanto, nem sempre a difusão ocorre de forma vertical (da base para o topo – ou vice-versa). Em uma sociedade hiperconectada como a que vivemos, muitos fenômenos se espalham de forma simultânea em várias camadas sociais. Esses modelos top-down foram criticados a partir dos anos 1960 [...] quando a euforia consumista fez constatar que determinadas inovações atingiam diretamente as classes médias, sem precisar da legitimação das elites, isto é, sem originar-se, necessariamente, no topo da pirâmide; hoje, na mesma categoria, poderíamos citar as modas lançadas pelas novelas, que atingem diretamente vários estratos sociais. (Caldas, 2004, p. 47) Esse movimento é o que chamamos de trickle across, que é quando uma difusão ocorre em um fluxo horizontal e as hierarquias sociais não são a explicação mais importante. Esse tipo de movimento de tendência foi potencializado pela internet e redes sociais, já que a informação se dissemina em rede nesse universo e chega a vários públicos diferentes simultaneamente. Pense em como a informação dos cosméticos asiáticos e skin care chegou ao Brasil. Assim, muitos modismos e tendências atualmente têm um fluxo horizontal de disseminação. 16 REFERÊNCIAS CALDAS, D. Observatório de sinais: teoria e prática da pesquisa de tendências. São Paulo: Senac, 2004. CARVALHO, H. Difusão da Inovação: a curva de adoção de produtos. Vida de produto, 10 jul. 2020. Disponível em: <https://vidadeproduto.com.br/difusao-da- inovacao/>. Acesso em: 5 mar. 2021. FERREIRA, J. L.; RUFFONI, J.; CARVALHO, A. M. Dinâmica da difusão de inovações no contexto brasileiro. Revista Brasileira de Inovação, v. 17, n. 1, p. 175-200, 2018. GLOOR, P. A.; COOPER, S. M. Coolhunting: chasing down the next big thing. New York: Amacom, 2007. KOTLER, P.; KELLER, K. L. Administração de marketing. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2012. PASCOLATO, C. Street style é a principal inspiração do momento na indústria do luxo. Vogue, 24 jan. 2017. Disponível em: <https://vogue.globo.com/moda/ noticia/2017/01/street-style-e-principal-inspiracao-do-momento-na-industria-do-lux o.html>. Acesso em: 5 mar. 2021. POKÉMON Go faz até o McDonald's ganhar mais dinheiro. Pequenas Empresas Grandes Negócios, 25 jul. 2016. Disponível em: <https://revistapegn.globo.com/ Franquias/noticia/2016/07/pokemon-go-faz-ate-o-mcdonalds-ganhar-mais-dinheiro .html>. Acesso em: 5 mar. 2021. RASQUILHA, L. Coolhunting e pesquisa de tendências: observar, Identificar e mapear as tendências e mentalidades emergentes do consumidor. Coimbra: Actual, 2015. VEJLGAARD, H. Anatomy of a Trend. New York: McGraw-Hill, 2008. VERALDI, G. S. A matriz BCG e a sua importância. Medium, 27 jun. 2016. Disponível em: <https://medium.com/@gsveraldi/a-matriz-bcg-e-a-sua-import%C3 %A2ncia-90732d08e456>. Acesso em: 7 mar. 2021.