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1 
	
A ATUAÇÃO DA PSICOLOGIA EM CONTEXTOS DE DESIGUALDADE 
SOCIAL: UMA INTERPRETAÇÃO MARXISTA 
THE PERFORMANCE OF PSYCHOLOGY IN CONTEXTS OF SOCIAL 
INEQUALITY: A MARXIST VIEW 
 
Dayanne Antunes Alexandre1 
Dayane Patrícia Fernandes dos Santos2 
Rogéria Paula de Jesus Silva3 
Rômulo Silva dos Santos4 
 
Resumo: A desigualdade socioeconômica é um fenômeno social debatido em 
diversos campos de estudo. No ramo da psicologia, esse tema também pode ser 
explorado e estudado em diferentes perspectivas. Neste artigo, busca-se 
compreender o papel do psicólogo mediante os impactos psicossociais da 
desigualdade econômica, dando ênfase na parcela populacional de baixa renda. 
Para isso, foi realizada uma revisão bibliográfica narrativa que analisou 
publicações de teóricos da psicologia social latino-americana e, também, 
publicações sobre a atuação da psicologia das políticas públicas. Através da 
leitura e análise crítica da bibliografia, compreendeu-se os impactos da pobreza 
tanto na construção da identidade dos indivíduos, afetando no desenvolvimento 
das potencialidades, como também na precarização da qualidade de vida da 
população pobre. O papel do psicólogo é de romper os processos de fragilização 
presentes na sociedade, a partir de uma atuação crítica e do posicionamento 
frente à realidade social, além de auxiliar na transformação desta realidade para 
promover reflexões, emancipação e autonomia dos sujeitos. 
Palavras-chave: Desigualdade, Pobreza no Brasil, Psicologia, Marxismo, 
Políticas Públicas. 
 
Abstract: Socioeconomic inequality is a social phenomenon debated in several 
fields of study. In the field of psychology, this topic can also be explored and 
studied from different perspectives. This article seeks to understand the role of 
the psychologist through the psychosocial impacts of economic inequality, 
emphasizing the low-income population. For this, a narrative bibliographic review 
	
1Acadêmica do curso de Psicologia do Centro Universitário UNA. E-mail: 
dany_antunes.14@hotmail.com 
2Acadêmica do curso de Psicologia do Centro Universitário UNA. E-mail: 
dayapatricia.dp@gmail.com 
3Acadêmica do curso de Psicologia do Centro Universitário UNA. E-mail: 
rogeriapaula80@gmail.com 
4Acadêmico do curso de Psicologia do Centro Universitário UNA. E-mail: 
romulos271@gmail.com 
Artigo apresentado como requisito parcial para a conclusão do curso de Graduação em 
Psicologia do Centro Universitário UNA. 2022. Orientador: Prof. Acríssio Luiz Gonçalves, Doutor. 
	
2 
	
was carried out that analyzed publications by Latin American social psychology 
theorists and, also, publications on the performance of public policy psychology. 
Through the reading and critical analysis of the bibliography, the impacts of 
poverty were understood both in the construction of the identity of individuals, 
affecting the development of potentialities, as well as in the precariousness of the 
quality of life of the poor population. The psychologist's role is to break the 
processes of fragility present in society, from a critical action and positioning in 
the face of social reality, in addition to helping in the transformation of this reality 
to promote reflections, emancipation, and autonomy of the subjects. 
Keywords: Inequality, Poverty in Brazil, Psychology, Marxism, Public Policy. 
 
1. INTRODUÇÃO 
A pobreza é um fenômeno multidimensional, que pode ser entendido 
como uma cadeia completa de privações no qual se vivencia a escassez de 
bens, até uma camada simbólica onde se encontram questões de ordem política 
e ideológicas (ALBERNAZ; GUROVITZ, 2002). Atualmente, vivenciamos no 
Brasil um cenário onde a desigualdade econômica e a pobreza chamam atenção. 
O desemprego e a baixa da renda per capita (IBGE 2021), o índice de pessoas 
em situação de miséria, a fome e a precariedade das condições de moradia, 
saúde e higiene pessoal desencadeiam um conjunto de consequências 
prejudiciais à integridade e bem-estar físico e psíquico. De acordo com os últimos 
dados coletados pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua - 
PNAD, divulgados pelo IBGE, em 2020, o Brasil apresentou 14,9% de 
desempregados, tendo diminuído essa taxa no 4° trimestre de 2021, com 11,1% 
de desempregados. 
A alta da inflação também chama atenção para a situação econômica do 
país, sendo o IPCA acumulado nos últimos 12 meses de 10,54% (fevereiro de 
2021 a fevereiro de 2022). O aumento anual do salário-mínimo por sua vez não 
acompanha a inflação, ficando 0,14% abaixo no ano de 2022. Devemos 
considerar ainda as variáveis como a renda familiar per capita, calculada pela 
somatória de renda de todos os moradores de uma residência, dividida pela 
quantidade de pessoas que vivem na mesma residência. A média de renda 
familiar per capita varia muito também de acordo com o Estado; em algumas 
regiões, como Alagoas e Piauí, a média registrada em 2021 foi de R$777,00 e 
R$837,00 respectivamente. Neste mesmo ano o salário-mínimo estipulado era 
	
3 
	
de R$1.100,00, logo, percebemos que em alguns estados a realidade familiar 
não acompanha sequer o mínimo para suprir as necessidades básicas. 
Essa é uma situação que já perpetua historicamente, pela desigualdade 
e a exploração dos mais vulneráveis a longas gerações. No percurso histórico 
social, a pobreza se manifesta em diferentes perspectivas e formas. Na era do 
pré-capitalismo europeu, a pobreza era vista como algo natural e de ordem 
divina. Ou seja, não existia de fato uma problematização em cima desta, as 
pessoas eram predestinadas à classe social a qual nasciam, portanto, por ordem 
natural, aqueles que nasciam em famílias sem títulos e patrimônios assim 
deveriam permanecer até o fim da vida, no lugar tal qual pertenciam (ANDRADE, 
1989). 
Com as mudanças nos moldes econômicos, o surgimento da burguesia 
e da revolução industrial, a pobreza passa ocupar um novo lugar, vista como 
sinônimo de vagabundagem, enfermos, desempregados, todos englobados no 
mesmo círculo: “desajustados e potencialmente criminosos”. Esse é um estigma 
que vivenciamos ainda hoje. Moura (2012) afirma que as pessoas pobres são 
geralmente expostas a variadas formas de discriminação, sendo concebidas 
como criminosas, violentas, culpadas pela sua situação de pobreza, 
vagabundas, sujas, doentes e causadoras de mazelas sociais. 
No que se refere ao fenômeno da vulnerabilidade social, o mesmo pode 
ser compreendido a partir da dialética inclusão/exclusão, como uma combinação 
de fatores que afetam o bem-estar pessoal e social de diferentes formas. A 
exclusão social trata-se da não ocupação de um lugar por parte dos sujeitos 
inseridos em contextos de vulnerabilidade social, sendo estes sujeitos privados 
de acesso aos recursos, aos espaços, e às esferas políticas e sociais. O sujeito 
em vulnerabilidade social é, portanto, aquele que demanda assistência e se 
encontra excluído das esferas sociais sejam elas de ordem simbólica, material 
ou geográfica (ALMEIDA, PINTO, & CARDOSO, 2021). 
O psicólogo por sua vez tem um papel importante para com a 
comunidade, considerando-se fundamental o direito de todos os indivíduos, 
independentemente da classe social pertencente, o acesso aos serviços, 
saberes e a ciência da psicologia (CFP, 2005). Dado o compromisso e o papel 
que a psicologia exerce socialmente, pensando em aprimorar as práticas de 
	
4 
	
atuação em prol das populações em vulnerabilidade social, o conselho criou o 
CREPOP – Centro de Referência Técnica em Psicologia e Políticas Públicas, 
com intuito de identificar, elaborar e organizar estratégias para contribuir na 
melhoria dos serviços prestados. 
O presente estudo tem, portanto, como principal objetivo, compreender 
e identificar a atuação do psicólogo perante a população em estado de pobreza 
e vulnerabilidade social, a fim de buscar recursos e ferramentas, capazes de 
fornecer aos indivíduos melhores condições relacionadas à saúde mental e a 
compreensão docontexto em que estão inseridos. 
 
2. MÉTODO 
Este trabalho e todo seu processo de construção tem como critério 
metodológico a revisão bibliográfica narrativa, que consiste na análise da 
literatura publicada em livros, artigos de revista impressas e/ou eletrônicas e na 
interpretação e análise crítica destas (ROTHER, 2007). Por meio deste, 
buscamos expandir o conhecimento teórico e as noções do campo de atuação 
profissional do psicólogo mediante o cenário de desigualdade econômica e 
pobreza, tanto no que se refere aos aspectos sociais dos coletivos, quanto no 
que diz respeito a individualidade e a subjetividade neste contexto. 
Para tal e no decorrer deste, analisaremos o que configura e como vem 
se mantendo por gerações a alta parcela populacional em situação de pobreza, 
utilizando da visão Marxista como perspectiva e direcionamento para tal análise. 
Buscaremos observar os impactos deste fenômeno nos grupos e nos indivíduos. 
Por fim, analisaremos como a psicologia e as políticas públicas têm trabalhado 
para amenizar e auxiliar essa população em vulnerabilidade econômica. Para 
este fim, será explorada uma parcela de artigos e publicações disponíveis nas 
plataformas e bases de dados científicos, sendo elas: SciELO, e Pepsic, com as 
palavras chaves: Desigualdade econômica, pobreza, marxismo, psicologia, 
políticas públicas. Além disso, também foram utilizados os conteúdos 
disponibilizados e publicados pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP), como 
Código de Ética do Profissional Psicólogo (2005), e pelo Centro de Referência 
Técnica em Psicologia e Políticas Públicas (CREPOP), como o “Referências 
	
5 
	
técnicas para Práticas de Psicólogas(os) no Centro de Referência Especializado 
da Assistência Social – CREAS” (2012). 
 
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO 
3.1 A POBREZA E SUA EXPRESSÃO NUMA PERSPECTIVA MARXISTA 
Ao debatermos o conceito de pobreza, adentramos uma gama complexa 
de fatores que podem ser discutidos sob diferentes perspectivas. Aqui, nos 
referimos à pobreza como a escassez, como a ausência de condições dignas de 
vida. 
Segundo a Declaração Universal dos Direitos Humanos 1984, artigo 25, 
é de direito de todos acesso a condições dignas de saúde, bem estar, 
alimentação, vestuário e moradia. Observamos, entretanto, que na pobreza o 
indivíduo é privado de tal direito por ausência de capital. O sujeito pobre é, 
portanto, desumanizado, dada a ausência de dignidade humana. 
Para entender a pobreza, faz-se necessário refletirmos sobre o contexto 
social em que ela se faz presente, analisando criticamente os pilares da 
sociedade e os fatores de contribuição e manutenção desta. 
Na história da humanidade observamos alguns pontos que foram 
marcantes para compreensão da sociedade atual, como a queda do sistema 
feudal, o surgimento da burguesia, do capitalismo e as revoluções industriais. 
Segundo Marc Bloch (1987), a sociedade feudal pode ser considerado 
um sistema de civilização que se instalou num amplo território do ocidente 
durante a idade média central, associada a um modo de vida e a práticas 
comuns, sendo uma destas o próprio feudalismo, que funcionava como um 
subsistema econômico. Tal modelo ganha força com a queda do império romano 
e as invasões das cidades pelos bárbaros. Com a migração de pessoas para o 
interior, os donos de terra passaram a obter poder e o modo de produção feudal 
incluía, desta forma, um sistema senhorial de exploração, onde a terra e 
agricultura supriam as necessidades da crescente população que em troca 
serviam nos feudos. 
	
6 
	
Esse sistema econômico entrou em crise com o renascimento urbano e 
comercial nas cidades, logo após o fim das cruzadas e a reabertura do 
mediterrâneo. Com o comércio em alta, surge a classe denominada burguesia, 
que logo aliam-se aos reis em busca de apoio e crescimento, formando assim 
os Estados Nacionais Absolutistas. Este momento de aliança entre a classe dos 
comerciantes e a realeza é o marco para o surgimento da nova era econômica. 
(OLIVEIRA, 1987). 
Com o poder da burguesia e crescente expansão comercial dadas as 
explorações marítimas, a sociedade passa a moldar-se a um novo modelo 
econômico, que conhecemos como capitalismo. O capitalismo inicia-se então 
entre os séculos XIII e XIV, mas tem de fato sua consolidação com a Primeira 
Revolução Industrial (OLIVEIRA, 1987). 
Através da grande demanda comercial e da expansão do modelo 
econômico surgem as indústrias e a figura do operário (trabalhador) em busca 
de subsistência, dada está por meio do salário. As condições de vida nas cidades 
eram precárias, a grande população à mercê da pobreza e da ausência de 
recursos foi a chave para o crescimento e acúmulo de capital por parte das 
grandes indústrias. Os operários dados as circunstâncias e as necessidades 
eram exploradas através de cargas horárias de trabalho altíssimas e baixa 
remuneração, o que consequentemente gerava para a empresa lucro 
gigantesco, alta produção por um baixíssimo custo de mão de obra. Era, 
portanto, uma pequena minoria detentora dos meios de produção a favorecido 
economicamente, enquanto a grande maioria sobrevivia sob domínio desta. 
(GIANNOTTI, 2007) 
Quanto maior o crescimento do capitalismo e o poder da revolução 
industrial, mais pessoas migravam para as cidades em busca de oportunidades. 
Com isso, houve uma demanda de pessoas superior à demandada de empregos, 
surgindo assim a marginalização nas grandes cidades e uma nova concepção 
social de pobreza. 
Segundo Neto (2010, p. 40, 41, 45, 47): 
As indústrias se expandem, mas simultaneamente ocorre um processo 
de pauperização da população, com aumento descontrolado da 
mendicância e dos trabalhadores empobrecidos e socialmente 
desprotegidos (...) com a dissolução dos feudos, da vassalagem, 
	
7 
	
imensos contingentes é expulso das terras, sem direitos... (...) A 
pauperização do trabalhador empurra, para o mercado produtivo, 
mulheres e crianças em tenra idade, cujo envolvimento na luta pela 
sobrevivência não é suficiente para a reprodução digna da vida 
humana. (...) O processo de organização do trabalho do capital tem por 
finalidade última a expansão e a concentração do próprio capital. 
Ainda hoje observamos o constante poder e crescimento do modelo 
capitalista na sociedade contemporânea. Ao analisarmos a perspectiva de 
pobreza neste contexto faz-se de importante valia os estudos de Karl Marx 
(1818-1883). 
Marx foi o primeiro autor a analisar criticamente o modelo econômico 
capitalista em sua obra “O Capital”. Suas contribuições permitem uma reflexão 
sobre o fenômeno da desigualdade econômica e a manutenção da pobreza na 
sociedade, para tal citamos aqui os capítulos “A Assim Chamada Acumulação 
Primitiva”, e “Lei Geral da Acumulação Capitalista”. 
Em “O Capital”, Marx (1985, p. 261) explica que o período da 
“acumulação primitiva” precede à acumulação capitalista, sendo o ponto de 
partida do modo de produção capitalista. Este período nasce com o início do 
processo de dissociação do trabalhador de seus meios de produção. 
Após a era feudal, o trabalhador ‘’livre” da servidão encontrava-se “solto”, 
sem quaisquer recursos e meios de subsistência, visto que este não possui 
meios de produção. Estava, assim, à mercê das condições tendo como única 
mercadoria possível para venda sua própria força de trabalho, ou seja, mão de 
obra. Surge, assim, a figura do trabalhador assalariado, e a classe denominada 
proletariado. 
Logo, a chamada acumulação primitiva é, portanto, marcada como o 
processo histórico da separação entre produtor (trabalhador) e meios de 
produção. (MARX, 1985, p.262). 
A acumulação primitiva torna-se o capitalismo propriamente dito com o 
crescimento do sistema de exploração por meio da mais valia, ou seja, salários 
baixos por altas horas de jornada de trabalho, onde a produção e o lucro gerado 
são muito maiores que o proporcionalmente pago aos trabalhadores. Tal 
exploraçãopermitiu com que fosse dessa forma gerado um imenso acúmulo de 
capital nas mãos de poucos, sendo estes os detentores dos meios de produção, 
	
8 
	
enquanto a classe trabalhadora explorada dependia cada vez mais dos salários 
e era submetida às condições impostas. Observamos assim que o modo de 
produção capitalista nasce por consequente à crescente acumulação de uma 
minoria explorando a força de trabalho da maioria. 
Viu-se como o dinheiro é transformado em capital, como por meio do 
capital é produzida mais-valia e da mais-valia mais capital. A acumulação do 
capital, porém, pressupõe a mais-valia, a mais-valia a produção capitalista, e 
esta, por sua vez, a existência de massas relativamente grandes de capital e 
força de trabalho nas mãos de produtores de mercadorias. Todo esse movimento 
parece, portanto, girar num círculo vicioso, do qual só podemos sair supondo 
uma acumulação “primitiva”, precedente à acumulação capitalista, uma 
acumulação que não é resultado do modo de produção capitalista, mas sim seu 
ponto de partida (MARX, 1984, p. 261). 
Com o capitalismo já estruturado em vigor na sociedade, podemos 
analisar o que Marx define como “Lei Geral da Acumulação Capitalista” o que 
explicaria a grande massa de pessoas em situação de pobreza. 
O acúmulo de capital como dito previamente deu-se pela mais valia: 
parte do lucro que é obtido por meio desta é utilizado para aumentar e alimentar 
a cadeia produtiva, ou seja, comprando mais meios de produção (capital 
constante) e mais mão de obra (capital variável). Nessa cadeia produtiva o 
trabalhador produz não para a satisfação das necessidades individuais do 
produtor, mas sim para a produção incessante de mais-valia, valorizando o 
capital. 
Para que o sistema funcione, somente parte do capital é acumulada e a 
outra parte é aplicada. Adentramos neste ponto no conceito de capital constante, 
ou seja, para que a cadeia produtiva possa continuar aumentando, a parte 
aplicada deve ser sempre dividida proporcionalmente entre a compra dos meios 
de produção e da compra de mão-de-obra, de modo que gradualmente a 
aplicação vai crescendo, e consequentemente maior produção de mais valia, 
que alimenta o ciclo e concentra cada vez mais a riqueza na mão do capitalista. 
Em contrapartida, o proletariado deve permanecer pobre e dependente deste 
sistema, afinal, se os salários ou a oferta de empregos aumentassem de forma 
	
9 
	
a perder a mais valia, o capitalista deixaria de se beneficiar perdendo poder de 
compra futuramente, e o sistema entraria em colapso. 
Enquanto o capital constante deve crescer, o capital variável jamais 
poderá crescer proporcionalmente, deste modo sempre haverá uma massa de 
pessoas desempregadas. Marx (1985) chamou esta massa de “exército 
industrial de reserva” ou “superpopulação relativa”. 
Mas, se uma população trabalhadora excedente é produto necessário 
da acumulação ou do desenvolvimento da riqueza com base no 
capitalismo, essa superpopulação torna-se, por sua vez, a alavanca da 
acumulação capitalista, até uma condição de existência do modo de 
produção capitalista. Ela constitui um exército industrial de reserva 
disponível, que pertence ao capital de maneira tão absoluta, como se 
ele o tivesse criado à sua própria custa (MARX, 1985, p. 200). 
Essa população, constitui-se de trabalhadores desempregados que não 
conseguem vender sua força de trabalho em troca de um salário. Entretanto, 
essa população é extremamente importante para o capital, uma vez que são 
trabalhadores prontos e à disposição do capital. Deste modo sempre haverá um 
controle sobre classe trabalhadora, sendo quais forem as condições de trabalho, 
sempre haverá procura dada a necessidade deste “exército industrial de 
reserva’’. Ou seja, a quantidade de pessoas em situação de pobreza e 
desemprego é um fator favorável e que serve como base para permanência e 
prosperidade do sistema capitalista. 
Portanto, é possível observar que o sistema capitalista se beneficia da 
situação pobreza de grande parcela populacional, assim como também controla 
para que se permaneça desta forma. 
O capitalismo, desde sua origem até os dias atuais, passou por diversas 
mudanças significativas, principalmente no que se refere ao mercado de 
trabalho. Constituem-se atualmente novas formas de exploração que 
acompanham o desenvolvimento de uma nova era, globalizada e tecnológica. 
Em um mercado de trabalho altamente competitivo, observamos a exploração 
pelo viés do capital humano. O capital humano, segundo Theodore W. Schultz 
(1973), é um conjunto de habilidades e competências que um trabalhador possui 
como valor para uma empresa. 
Pelo viés do capital humano, promove-se a desigualdade e discrepância 
salarial entre cargos. Para explicar as diferenças salariais, este sistema pauta-
	
10 
	
se na preferência e valorização de certas características e atributos produtivos 
em contrapartida à desvalorização e discriminação de outros (COSTANZI, 2005). 
Como exemplo dessa realidade temos a divisão de setores em um grupo 
empresarial, em uma hierarquia onde o setor operacional composto por 
faxineiros, cozinheiros e porteiros recebem uma base salarial mínima e, em 
contrapartida, os funcionários do setor administrativo que pode chegar a receber 
três vezes essa base. 
Através da leitura de Costanzi (2005), podemos dizer que este sistema 
promove um tipo de ideia onde o sujeito, através de seu esforço e dedicação, irá 
alcançar a ascensão profissional e, através desta, colher os frutos de uma vida 
economicamente estável. Entretanto, a realidade que se faz presente na 
sociedade desmente tal ideia, visto que os fatores socioculturais que perpetuam 
famílias pobres, geração após geração, dificultam a chegada aos cargos "altos" 
e a construção de negócios empresariais, em contrapartida ao que ocorre na 
vivência de pessoas já estruturalmente ricas. Em suma, com a expansão do 
mercado no sistema capitalista, houve diversas mudanças para classe 
trabalhadora, surgindo uma vasta gama de cargos, funções e a necessidade do 
desenvolvimento de qualificações e capacitações, entretanto, estas não excluem 
a desigualdade e a exploração em prol de poder e acúmulo de capital da classe 
rica. 
 
3.2 IMPACTOS PSICOSSOCIAIS DA POBREZA E DA VULNERABILIDADE 
SOCIAL 
Para avaliarmos os impactos psicossociais da pobreza, devemos 
primeiramente observar os elementos que compõem a identidade e a 
subjetividade humana. Para tal entendimento, seguimos aqui a linha da 
psicologia social crítica. 
A subjetividade, no campo da psicologia social crítica, é vista como 
expressão de singularidade e também fruto do produto social. Entendemos como 
produto social as relações histórico-sociais, a transmissão de conhecimento e a 
comunicação que perpassam as gerações, sendo elementos culturais e 
simbólicos partes desta transmissão. É desse modo, portanto, que entendemos 
	
11 
	
a subjetividade, como um conjunto de características pertencentes a um 
indivíduo, as quais são influenciadas e moldadas pelas interações sociais e a 
absorção e interpretação destas (ALMEIDA; PINTO; CARDOSO, 2021). 
Segundo Sawaia (2009), a identidade pode ser vivenciada por meio da 
constante transformação que ocorre através das relações sociais e de fatores de 
ordem biológica, ou seja, adquirida durante o desenvolvimento, proporcionada 
ao sujeito. Diante disso, percebemos que o indivíduo cria sua identidade ao 
decorrer de sua vida, mudando ideias e comportamentos e se adaptando muitas 
vezes à realidade que lhe é proposta. Então, podemos dizer que a identidade 
pessoal e social é a atividade humana, o movimento contínuo que se o indivíduo 
constrói diariamente. 
Dentro de um cenário de desigualdade social, considerando a hierarquia 
da sociedade, aqueles em situação de pobreza possuem clara desvantagem em 
relação às classes mais ricas, sendo estabelecida a limitação de possibilidades 
por posição social baixa e ausênciade recursos financeiros. Dessa forma, o 
indivíduo é privado do acesso a boa parte da produção social, seja no âmbito 
material ou intelectual. Tal posição implica diretamente no desenvolvimento das 
potencialidades e no caráter de formação da identidade (SAWAIA, 2009). 
Segundo Lane (1989), os seres humanos são formados a partir dos 
contextos que fazem parte, ou seja, dentro de um campo de possibilidades. 
Sendo assim, em um contexto de vulnerabilidade socioeconômica, onde a 
liberdade encontra-se restrita, a torna-se identidade condicionada à opressão. 
Em direção semelhante, Góis (2008) destaca que a identidade que se 
molda a partir de uma realidade opressora, em um contexto de escassez e 
pobreza, pode ser interpretada como um modo de sobrevivência social, biológica 
e psicológica. É um tipo de identidade que não integra socialmente os indivíduos 
e os mantém separados, individualizados, dentro de sua coletividade, em uma 
tentativa de resistir à exploração, à doença e à morte imposto pela classe 
dirigente (GÓIS, 2008, p. 61-62). 
A opressão aos pobres é promovida e mantida pela hierarquia e o status 
dos papéis sociais, pelos estigmas e estereótipos que vem destes papéis, sendo 
estes pautados nas ideais capitalistas da era contemporânea. Dentro desses 
	
12 
	
ideais, aqueles que são pobres são culpabilizados pela própria pobreza, vivendo 
de tal modo sob o estereótipo da marginalização e sob condições excludentes 
(VAZQUEZ; PANADERO, 2009). 
Conforme Ferreira (2004) nos mostra, a culpabilização do indivíduo 
pobre parte de: 
[...] uma legitimação ideológica que suporta a criação e reprodução das 
relações de exploração e dominação no capitalismo. Frente à pseudo 
igualdade e à competitividade inerente ao ideal liberal, qualquer 
problemática que envolva a inserção do indivíduo no sistema produtivo 
é alvo de um reducionismo que o descontextualiza da sociedade e 
transfere-lhe a culpa e responsabilidade por sua condição (MATTOS; 
FERREIRA, 2004, p. 49). 
Segundo Lane (1989), os papéis sociais constituem uma forma de 
dominação naturalizada e ideológica, de modo a manter a ordem social, ou seja, 
para que os pobres permaneçam em suas devidas posições, de modo que não 
ameacem a estrutura atual da sociedade. 
Deste modo, entendemos que em um sistema onde a riqueza vigora 
através da exploração e da pobreza, a opressão é "arma" social que delimita as 
identidades, sendo de tal modo a barreira do potencial humano. 
Os impactos da desigualdade social se devem à má administração dos 
recursos públicos, falta de investimentos em políticas públicas, corrupção e 
desemprego. 
Além disso, percebemos esses impactos de diferentes formas, sendo 
pelo acesso à educação que continua sendo muito precária nesta presente 
época e, no ápice da pandemia pudemos perceber que as escolas particulares 
por mais que se fecharam, as aulas continuaram por meio do acesso online e 
não tiveram problemas quanto ao acesso à internet, enquanto grande parte da 
população pobre, além de não ter uma educação de qualidade, não possuíam 
nenhum meio eletrônico para que acessassem às aulas, o que fez com que 
ficassem ainda mais atrasados no aprendizado. 
Também há uma precariedade no acesso à saúde e alta mortalidade 
infantil que “em 2010, o Brasil registrou uma Taxa de Mortalidade Infantil (TMI) 
de 16,0 por mil nascidos vivos (NV)” e, de acordo com o estudo que foi realizado 
na região Nordeste, por mais que houve redução dessa taxa de mortalidade 
	
13 
	
infantil, “a desigualdade no risco de morte infantil aumentou nos bairros com 
piores condições de vida em relação àqueles de melhores condições” 
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2021, p. 1). 
Ainda que houvesse melhorias em alguns hospitais grandes, a demora 
nos atendimentos em unidades de saúde continua constante, além da falta de 
profissionais que se dá principalmente pela falta de reconhecimento da 
profissão. Na pandemia, percebemos que esses profissionais adoeceram devido 
à alta demanda de pacientes com a doença (FENAM, 2022). 
O desemprego também é algo que ainda está muito presente na 
atualidade, sobretudo com relação ao sexo e a raça/cor das pessoas. Como 
exemplo disso, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2018) 
mostra a diferença de salários de pessoas pardas ou negras, R$1.608, enquanto 
os brancos ganham em média R$2.796. 
A dificuldade de acesso à moradia também é algo muito presente, 
aumentando o número de pessoas em situação de rua, sendo famílias muitas 
vezes. O acesso ao saneamento básico é outro ponto que se faz presente em 
muitas cidades e bairros mais pobres do Brasil, além de ruas esburacadas e falta 
de asfalto. 
O Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) 
identifica que: 
[...] as pessoas em situação de rua constituem uma parcela da 
população brasileira nos limites inferiores de pobreza e de 
vulnerabilidade. É uma população que, além de extremamente pobre, 
é escassamente escolarizada e se compõe predominantemente de 
negros, que, embora estando predominantemente em idade 
economicamente ativa, não conseguem inserção no mercado formal 
de trabalho (BRASIL, 2009, p. 101). 
Diante dos dispostos acima, podemos perceber que os impactos da 
pobreza atingem demasiada parcela da população brasileira e são condições 
mínimas necessárias de sobrevivência. É fato que a população tem crescido 
muito nos últimos anos, porém, é primordial que o Estado cumpra seu papel 
liberando os recursos devidos para essas condições, para que a população 
tenha seus direitos garantidos, conforme a Declaração de Direitos Humanos 
(1948, Art. XXV) preconiza: 
	
14 
	
Toda a pessoa tem direito a um nível de vida suficiente para lhe 
assegurar e à sua família a saúde e o bem-estar, principalmente quanto 
à alimentação, ao vestuário, ao alojamento, à assistência médica e 
ainda quanto aos serviços sociais necessários, e tem direito à 
segurança no desemprego, na doença, na invalidez, na viuvez, na 
velhice ou noutros casos de perda de meios de subsistência por 
circunstâncias independentes da sua vontade. 
Neste sentido, observamos o papel do estado e das políticas públicas 
como fundamentais para garantir o mínimo de dignidade humana e assistência 
à população em situação de pobreza. Entretanto, pela realidade social, é 
possível deduzir que as mesmas têm sido poucos eficientes em termos de 
melhorias significativas. 
 
3.3 A ATUAÇÃO DA PSICOLOGIA FRENTE À POBREZA 
Em 1968, um psicólogo francês chamado Marc Richelle se questionava 
sobre o pra quê do fazer psicológico, devido à "inquietante proliferação de uma 
espécie nova” (Richelle, 1968, p. 7), ou seja, o crescimento dos profissionais na 
época. O francês Didier Deleule, na mesma época, respondeu a essa questão 
dizendo que essa proliferação se devia ao fato de que a psicologia estava 
assumindo na sociedade contemporânea a função de “oferecer soluções 
alternativas para os conflitos sociais” que se tratava de “mudar o indivíduo 
preservando a ordem social” … “ou gerando a ilusão de que talvez, ao mudar o 
indivíduo também se mudaria a ordem social” … (DELEULE, 1972 apud 
MARTIN-BARÓ, 1996, p. 12). 
Desta forma, percebemos que a psicologia era uma área na saúde que 
estava em constante crescimento em todo mundo, e além disso, psicólogos que 
já atuavam minimamente na questão individual/pessoal do sujeito se 
questionavam sobre como isso poderia impactar e transformar o social. Mesmo 
que Deleule possa estar correto nesse questionamento, Martin Baró nos faz 
refletir em algo mais profundo, que seria: qual o caminho que o psicólogo vai 
seguir com seus fundamentos? Como seria esse fazer psicológico? E “que efeito 
objetivo a atividade psicológica produz em uma determinada sociedade”? 
(MARTIN-BARÓ, s. d.). 
Outra questão muito importante que apareceu nessa época que são 
críticas quanto o fazer psicológico no âmbito da América Central, é de que os 
	
15 
	
psicólogos dedicavam suaatenção à população mais rica. Conforme Zuniga 
(1976) a atividade do psicólogo centra sua atenção às raízes pessoais dos 
problemas, se esquecendo dos fatores sociais. 
Percebemos que, na época, os psicólogos compactuavam com o status 
quo, ignorando a população pobre que também necessitava de ajuda 
psicológica. Além disso, frequentemente tais teóricos desconsideravam que os 
fatores sociais, tanto quanto os fatores de ordem biológica interferem no 
comportamento do sujeito. 
Segundo Martín Baró, para se saber sobre o papel do psicólogo é 
necessário voltar às raízes históricas da psicologia, ou seja, é preciso que se 
volte o olhar para a consciência humana, não supervalorizando a consciência 
enquanto privada, mas a partir do impacto refletido do ser e do fazer em 
sociedade, para que o sujeito construa uma identidade pessoal e social precisa 
assumir e elaborar um saber sobre si mesmo e sobre sua realidade. 
Segundo Lane e Codó (1989), o psicólogo social possui uma visão do 
homem como um ser que vive em grupos, sociedades, culturas e organiza sua 
vida em relação a outros seres humanos, influencia e é influenciado pela história, 
pelas instituições e pelos comportamentos. Já Almeida (2018, p. 5) nos diz que 
o trabalho do psicólogo serve de auxílio para compreender a necessidade que 
se sente do outro e “a importância da comunicação frente ao comportamento 
alheio”. Além disso, o interesse dos psicólogos sociais é de saber a influência 
das pessoas umas com a outras na sociedade, para entender “as atitudes, como 
o preconceito”, para saber se as pessoas se comportam diferentes sozinhas ou 
em grupo. 
O autor também salienta sobre o dever do psicólogo social: 
É função do psicólogo social colaborar na luta contra o rompimento dos 
entraves sociais, tais como: preconceitos, estigmas, estereótipos e 
estigmas, mostrando através de intervenções que somos pessoas de 
direito, capazes de combater as desigualdades sociais, assim como 
compreender suas causas e efeitos (ALMEIDA, 2018, p. 6). 
As políticas públicas são pensadas como ferramentas para que o estado 
possa atender as necessidades da sociedade (ALMEIDA; PINTO; CARDOSO, 
2021), ou seja, metas e planos que os governos traçam para alcançar o bem-
estar da coletividade. Diante da condição de vulnerabilidade, o Estado deve 
	
16 
	
assumir o papel crucial de forma que mude a realidade vivida por essa 
população. Para identificar o grau de prioridade as políticas públicas passam por 
análise quando criadas, sendo selecionadas e implementadas para atender ao 
menos de forma parcial à demanda que aquela população necessita, por 
exemplo, o direcionamento de dinheiro público para áreas que sofrem com 
enchentes. 
No contexto Brasileiro, um avanço histórico foi a criação da Lei 8742, a 
Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS), que surgiu em 1988 equiparando os 
direitos de assistência social com os direitos de acesso à saúde e à previdência 
social. Ela assegura que a assistência social deve ser direito do cidadão e dever 
do Estado (ALMEIDA; PINTO; CARDOSO 2021). Também podemos citar o 
“Sistema Único de Assistência Social” (SUAS), criado em 7 de dezembro de 
1993, conforme estabelece a Lei Federal nº 8.742, cujo objetivo é de assegurar 
a proteção social aos cidadãos, ou seja, proporcionar apoio a indivíduos, famílias 
e à comunidade no enfrentamento de suas dificuldades, por meio de serviços, 
benefícios, programas e projetos (MINISTÉRIO DA CIDADANIA, 2015). 
Ao lidarmos com a efetividade das Políticas Públicas que promovem o 
enfrentamento ao fenômeno da vulnerabilidade econômica, não se ataca só o 
problema da forma como ele se apresenta a posteriori. Pondera-se, também, a 
respeito da construção das subjetividades dos sujeitos presentes nos contextos 
vulneráveis, ao assumir que, ao traçar movimentos que buscam a alteração da 
realidade material, formam-se novos sujeitos, novas subjetividades, a partir da 
interseção com o mundo simbólico, que é social (BOCK, 2004). 
Mediante a atuação da psicologia em contexto de vulnerabilidade social 
podemos citar, por exemplo, a “Referência Técnica para atuação de psicólogas 
(os) nos Centros de referência Especializado de Assistência Social – CREAS” 
(CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2012). Conforme as referências 
técnicas apontam, o atendimento psicossocial realizado no CREAS tem um 
efeito terapêutico na medida em que o psicólogo busca compreender o 
sofrimento dos sujeitos e suas famílias em situações de violação de direito, 
visando a autonomia dos sujeitos e às mudanças que impactam na superação 
da realidade vivida (CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2012). 
	
17 
	
Na política de assistência social, é estabelecido um vínculo entre o 
profissional e o público do CREAS, devendo este ser construído a partir do 
reconhecimento da história de vida do sujeito considerando o contexto social. 
Com isto, devem ser pensadas atividades que provoquem reflexões e, 
consequentemente, gerem novos pertencimentos sociais (CONSELHO 
FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2012). 
A atuação da Psicologia na Política de Assistência Social vem sendo 
construída a partir de uma reflexão crítica sobre seu potencial e papel na 
sociedade. Conforme Sawaia (2009) explica, a Psicologia nas políticas públicas 
acontece de forma a reforçar alguns paradigmas na concepção de que “as 
políticas públicas, por seu caráter abrangente, se fazem antagônicas à 
subjetividade e à singularidade” (SAWAIA, 2009, p. 365). O trabalho da 
Psicologia no CREAS, portanto, tem muito a contribuir com a proteção social de 
famílias e/ou indivíduos com foco na subjetividade e nos processos 
psicossociais. Para isso, a psicologia deve ter sua atuação de maneira 
interdisciplinar com outros profissionais que atuam no CREAS (advogados e 
assistentes sociais) para construir novos saberes conjuntos (CONSELHO 
FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2012). 
Neste sentido, é importante que o Psicólogo trabalhe conceitos como 
vulnerabilidade social, desigualdade social, pobreza e violação de direitos, sendo 
os princípios norteadores: o respeito aos direitos humanos, democracia, 
emancipação e autonomia dos sujeitos, para que se tenha uma prática 
profissional comprometida ética e politicamente com a transformação social. 
Vale salientar que a(o) psicóloga(o) deve sair do lugar que identifica “problemas”, 
que culpabiliza ou busca responsáveis, para o lugar que proporcione espaços 
criativos para que os sujeitos em situação de violação encontrem alternativas 
individuais e coletivas para superação. 
Deste modo, pode-se compreender que a prática dos profissionais da 
psicologia traz inúmeras indagações e reflexões, em busca de romper com os 
processos de fragilização inseridos na sociedade, através de um olhar crítico e 
do posicionamento frente a realidade social. Para tal, se faz necessário um 
planejamento estratégico, indo além dos modelos teóricos, devendo o psicólogo 
assumir a função social, percebendo-se como sujeito desta prática. 
	
18 
	
 
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS 
Através do presente estudo, foi possível analisar a realidade da 
desigualdade social e da pobreza como um fenômeno multidimensional. Tal 
fenômeno é fortalecido por um modelo econômico pautado na exploração e no 
acúmulo de capital de uma minoria, que consequentemente precariza a vida de 
uma grande maioria privada de recursos e de condições dignas para viver. Esse 
modelo econômico que tem suas origens próximas à revolução industrial e que 
se mantém em constante crescimento até o presente momento, denominado 
capitalismo. 
A partir dos estudos de Karl Marx, foi possível observar criticamente tal 
modelo econômico, compreendendo a exploração por meio da mais valia e o 
crescimento da riqueza burguesa por meio desta. Pela perspectiva marxista, 
entende-se a riqueza como o reflexo da exploração e da pobreza, sendo por 
meio do controle, da fragilidade e da necessidade econômica de uma grande 
camada populacional queo sistema vigora e perpetua em nossa sociedade. O 
capitalismo está em constante mudança, em um processo que acompanha o 
desenvolvimento das sociedades; entretanto, tais mudanças constituem sempre 
em novas formas de exploração. 
Pautados nas ideias capitalistas estão uma série de estereótipos sociais, 
que classificam e rotulam a população pobre sofrendo diversas formas de 
discriminação, sendo concebidas como criminosas, violentas e culpadas pela 
sua situação de pobreza, vistas como vagabundas, sujas doentes e causadoras 
de mazelas sociais. 
Notamos que os papéis sociais impostos pela sociedade, a opressão e 
a falta de acesso a recursos para o desenvolvimento das potencialidades são 
instituídas justamente para que o pobre não saia da posição de subordinado e 
seja dependente do Estado. Várias são as privações que os pobres enfrentam e 
muito ainda deve ser feito. Para isso, é necessário, primeiramente, que os 
recursos enviados para as cidades sejam distribuídos sem desvios, 
proporcionando à população o acesso aos serviços básicos de qualidade como 
a educação, saúde, acesso à moradia, saneamento básico, e que todos 
	
19 
	
consigam emprego para dar sustento às suas famílias, ou seja, o mínimo de 
sobrevivência, como assegura a Declaração dos Direitos Humanos de 1948. 
No Brasil, como forma de enfrentamento dessa realidade temos, 
atualmente em vigor, algumas políticas públicas como a Lei Orgânica de 
Assistência Social (LOAS), que assegura os direitos à saúde e à previdência 
social. Contamos, também, com o Sistema Único de Assistência Social (SUAS) 
que garante a proteção e o apoio aos cidadãos no enfrentamento de sua 
dificuldade por meios de programas, projetos e benefícios. A psicologia enquanto 
ciência e profissão também tem o compromisso e o dever de auxiliar no combate 
à desigualdade social. Para isso, deve-se buscar ferramentas capazes de 
fornecer aos indivíduos melhores condições de vida, saúde mental e meios de 
compreender essa realidade para ajudar na transformação social. 
Foi possível observar que a psicologia tem atuado por meio das políticas 
públicas visando dar assistência aos mais vulneráveis. Como parte das 
ferramentas utilizadas pela psicologia, podemos citar as referências técnicas 
disponíveis no CREPOP, as quais ajudam a conduzir a prática profissional. Vale 
salientar que as referências técnicas demonstram a importância do exercício 
criativo, democrático e participativo, sempre respeitando as diferenças e 
complexidades de sujeitos e dos contextos sociais. 
 
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