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1 
 
SUMÁRIO 
INTRODUÇÃO ......................................................................................... 2 
1 PSICOLOGIA E PSICOLOGIA SOCIAL ............................................ 3 
2 COMO APREENDEMOS O MUNDO QUE NOS CERCA .................. 5 
3 A PSICOLOGIA SOCIAL COMUNITÁRIA ......................................... 7 
4 PRODUÇÕES ATUAIS DA PSC: AS VINCULAÇÕES TEÓRICAS E O 
TRABALHO DO PSICÓLOGO COMUNITÁRIO ............................................... 11 
4.1 O trabalho do psicólogo comunitário ......................................... 14 
4.2 A caracterização da prática ....................................................... 17 
4.3 Desafios Teóricos da Psicologia Comunitária ........................... 18 
5 COMO NOS TORNAMOS SOCIAIS ................................................ 20 
5.1 A identidade social .................................................................... 21 
6 PROBLEMAS SOCIAIS E INTERVENÇÃO ..................................... 23 
6.1 Relação ser humano e problemas sociais ................................. 25 
7 A TERAPIA COMUNITÁRIA E SEUS PILARES TEÓRICOS .......... 28 
8 TERAPIA COMUNITÁRIA COMO TECNOLOGIA DE CUIDADO .... 34 
BIBLIOGRAFIA ...................................................................................... 43 
 
 
 
2 
 
INTRODUÇÃO 
Prezado aluno! 
 
O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é 
semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – 
quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao 
professor e fazer uma pergunta , para que seja esclarecida uma dúvida 
sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta 
para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma 
coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao 
protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. 
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da 
nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à 
execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da 
semana e a hora que lhe convier para isso. 
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser 
seguida e prazos definidos para as atividades. 
 
Bons estudos! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3 
 
1 PSICOLOGIA E PSICOLOGIA SOCIAL 
 
Fonte: www.educamundo.com.br 
Sem entrarmos na análise das diferentes teorias psicológicas, podemos 
dizer que a Psicologia é a ciência que estuda o comportamento, principalmente, 
do ser humano. As divergências teóricas se refletem no que consideram 
"comportamento", porém para nós bastaria dizer que é toda e qualquer ação, 
seja a reflexa (no limiar entre a psicologia e a fisiologia), sejam os 
comportamentos considerados conscientes que envolvem experiências, 
conhecimentos, pensamentos e ações intencionais, e, num plano não 
observável diretamente, o inconsciente. 
Assim parece óbvio que a Psicologia Social deve estudar o 
comportamento social, porém surge uma questão polêmica: quando o 
comportamento se torna social? Ou então, são possíveis comportamentos não 
sociais nos seres humanos? 
Cada organismo humano tem suas características peculiares; assim 
como não existem duas árvores iguais, também não existem dois organismos 
iguais. Mesmo que geneticamente sejam idênticos, no caso de gêmeos, as 
primeiras interações dos organismos com o ambiente já provocam diferenças 
entre eles, assim como: mais ou menos luz, som, enfim, diferentes estímulos 
 
4 
 
que levam a diferentes reações já propiciam uma diferenciação nos dois 
organismos. 
A Psicologia se preocupa fundamentalmente com os comportamentos 
que individualizam o ser humano, porém, ao mesmo tempo, procura leis gerais 
que, a partir das características da espécie, dentro de determinadas condições 
ambientais, preveem os comportamentos decorrentes. Como exemplo, 
sabemos que a aprendizagem é consequência de reforços e/ou punições, ou 
seja, sempre que um comportamento for reforçado (isto é, tenha como 
consequência algo bom para o indivíduo), em situações semelhantes é provável 
que ele ocorra novamente. Dizemos então que o indivíduo aprendeu o 
comportamento adequado para aquela situação. 
O enfoque da Psicologia Social é estudar o comportamento de indivíduos 
no que ele é influenciado socialmente. E isto acontece desde o momento em 
que nascemos, ou mesmo antes do nascimento, enquanto condições históricas 
que deram origem a uma família, a qual convive com certas pessoas, que 
sobrevivem trabalhando em determinadas atividades, as quais já influenciam na 
maneira de encarar e cuidar da gravidez e no que significa ter um filho. 
Esta influência histórica-social se faz sentir, primordialmente, pela 
aquisição da linguagem. As palavras, através dos significados atribuídos por um 
grupo social, por uma cultura, determinam uma visão de mundo, um sistema de 
valores e, consequentemente ações, sentimentos e emoções decorrentes. 
As leis gerais da Psicologia dizem que se apreende quando reforçado, 
mas é a história do grupo ao qual o indivíduo pertence que dirá o que é 
reforçador ou o que é punitivo. O doce ou o dinheiro, o sorriso ou a expressão 
de desagrado podem ou não contribuir para um processo de aprendizagem, 
dependendo do que eles significam em uma dada sociedade. Assim também 
aquilo que "deve ser apreendido" é determinado socialmente. 
Da mesma forma, as emoções que são respostas do organismo e, como 
tais, universais, se submetem às influências sociais ao se relacionarem com o 
que nos alegra, nos entristece, nos amedronta. O se sentir alegre com a vitória 
do time, triste com o filme ou com uma música, o ter medo do trovão ou do 
avião, são exemplos que mostram o quanto nossas emoções decorrem desta 
visão de mundo que adquirimos através dos significados das palavras. 
 
5 
 
Assim podemos perceber que é muito difícil encontrarmos 
comportamentos humanos que não envolvam componentes sociais, e são, 
justamente, estes aspectos que se tornaram o enfoque da Psicologia Social. Em 
outras palavras, a Psicologia Social estuda a relação essencial entre o indivíduo 
e a sociedade, esta entendida historicamente, desde como seus membros se 
organizam para garantir sua sobrevivência até seus costumes, valores e 
instituições necessários para a continuidade da sociedade. 
Porém a história não é estática nem imutável, ao contrário, ela está 
sempre acontecendo, cada época gerando o seu contrário, levando a sociedade 
a transformações fundamentalmente qualitativas. E a grande preocupação atual 
da Psicologia Social é conhecer como o homem se insere neste processo 
histórico, não apenas em como ele é determinado, mas principalmente, como 
ele se torna agente da história, ou seja, como ele pode transformar a sociedade 
em que vive. 
2 COMO APREENDEMOS O MUNDO QUE NOS CERCA 
 
Fonte: comunycarte.blogspot.com 
Pelo que tudo indica, a linguagem se desenvolveu historicamente quando 
os seres humanos tiveram que cooperar para a sua sobrevivência. Da mesma 
forma como criaram instrumentos necessários para uma prática de 
sobrevivência, desenvolveram a linguagem como forma de generalizar e 
transmitir esta prática. O trabalho cooperativo, planejado, que submete a 
 
6 
 
natureza ao homem, só foi possível através do desenvolvimento da linguagem 
pelos grupos sociais humanos. 
"A linguagem é aquilo através do que se generaliza a experiência da 
prática sócio histórica da humanidade" (Leontiev, op. cit., p. 172). 
 
Nos tempos primitivos, quando os grupos sociais trabalhavam para a sua 
sobrevivência com divisões simples de trabalho, a relação palavra-objeto 
determinava significados facilmente objetivados para aquele "som" ou conjunto 
de fonemas. 
Na medida em que as relações entre os homens vão se tornando maiscomplexas, em decorrência de uma complexidade maior na divisão de trabalho, 
onde o produto pode ser acumulado (pois a sobrevivência está garantida), 
surgindo a propriedade privada, a linguagem também se torna mais complexa; 
ela deixa de atuar apenas num nível prático-sensorial para ir se tornando 
também genérica, abstrata, atendendo às novas atividades engendradas social 
e historicamente: artes, religião, modas, tecnologias, educação, formas de lazer, 
etc, e assim a linguagem, instrumento e produto social e histórico, se articula 
com significados objetivos, abstratos, metafóricos, além dos neologismos e 
gírias de cada época. 
Até o momento nos referimos apenas à linguagem, à ação de falar, porém 
não podemos esquecer que ela não é o único código de comunicação, a ponto 
de Skinner definir o comportamento verbal como sendo "todo aquele 
comportamento reforçado através da mediação de outras pessoas", e assim 
incluindo, além do falar, o escrever, os sinais, gestos, código Morse, e até os 
rituais. 
 
 
 
7 
 
3 A PSICOLOGIA SOCIAL COMUNITÁRIA 
 
Fonte: inades.com.br 
Durante as décadas de surgimento do conceito, a Psicologia Social 
Comunitária vinculava-se às práticas comprometidas com a libertação 
sociopolítica da população (Freitas, 1996). 
Nesse contexto, o que se busca é a construção de uma Psicologia capaz 
de ajudar o povo a compreender sua realidade e libertar-se dos condicionantes 
que sua estrutura social lhe impõe (Ibañez, 2005). 
A Psicologia Social Comunitária utiliza-se do enquadre teórico da 
Psicologia Social, privilegiando o trabalho com os grupos, colaborando para a 
formação da consciência crítica e para a construção de uma identidade social e 
individual, orientada por preceitos eticamente humanos (Freitas, 1996). Assim, 
visa desenvolver trabalhos capazes de contribuir para promover relações de 
cooperação e solidariedade e para a construção de sujeitos mais críticos e 
reflexivos, problematizadores e transformadores da realidade, utilizando-se de 
métodos de inserção e atuação comunitária (Góis, 2005 & Monteiro, 2004). 
Tradicionalmente, a utilização de teorias e métodos da Psicologia 
Comunitária foi aplicada às populações de baixa renda. Já nas décadas de 1980 
e 1990, com a implantação do Sistema Único de Saúde (SUS), essa perspectiva 
se modifica e os psicólogos passam a trabalhar também em outros dispositivos 
públicos. A Psicologia Social Comunitária enfatiza, em termos teóricos, a 
problematização da relação entre produção teórica e a aplicação do 
 
8 
 
conhecimento; em termos de metodologia, utiliza-se, sobretudo, a metodologia 
da Pesquisa Participante; e, em termos de valores, a ética da solidariedade, os 
direitos humanos fundamentais e a busca da melhoria da qualidade de vida da 
população focalizada. 
Desse modo, a Psicologia Social Comunitária visa promover a 
consciência e minimizar a alienação, procura promover a participação reflexiva 
dos grupos com os quais trabalha na definição das prioridades de atuação, 
planejamento, execução e avaliação de suas atividades. 
Para Campos (2002), a produção teórica e prática da Psicologia Social 
Comunitária é marcada pela busca do desenvolvimento da consciência crítica, 
da ética, da solidariedade e de práticas cooperativas ou mesmo 
autogestionárias, a partir da análise dos problemas cotidianos da comunidade. 
A Psicologia Social Comunitária tem envolvido trabalhos interdisciplinares 
de modo a coletivizar e facilitar o entendimento entre a comunidade e seus 
diversos aliados. Propõe trabalhar com a comunidade, incorporando seus 
membros em todas as fases do trabalho. Contudo, um dos grandes desafios que 
encontra atualmente é encontrar, no trabalho conjunto com esses atores sociais, 
alternativas originais de desenvolvimento que visem à sustentabilidade humana 
e social. O caminho para a construção desse desenvolvimento deve ser pautado 
na realidade local e estar relacionado ao desenvolvimento pessoal e coletivo dos 
moradores da comunidade. 
A Psicologia Social Comunitária emerge de uma psicologia preocupada 
com a cidadania e tem se constituído ao longo das últimas décadas a partir de 
um esforço de intervenção com os diversos grupos sociais. 
Essa interação tem se dado, de maneira geral, a partir da ênfase na 
autonomia e no protagonismo das populações com as quais se tem trabalhado 
por maio da ampliação da criticidade desses sujeitos em relação ao contexto e 
aos problemas que apresentam, em busca da construção de um conhecimento 
social e comunitário. Portanto, ao destacar a importância do papel ativo dos 
sujeitos na busca de soluções para os problemas relacionados à sua realidade, 
parece pertinente destacar a importância da Psicologia Social Comunitária 
diante a busca por alternativas de desenvolvimento mais sustentáveis. Assim, o 
poder criativo e inventivo do homem passa a ser colocado como questão chave 
diante da sustentabilidade. 
 
9 
 
Para que a história não figure como mero adereço a embelezar um 
conjunto de problemas que se deseja analisar, atribuiremos um papel 
constituinte às condições históricas na análise da Psicologia Social Comunitária 
(PSC). Neste sentido, convém discriminar fatores históricos essencialmente 
envolvidos com a formação do que veio a ser objetivado como PSC. 
O percurso profissional dos psicólogos a partir, principalmente, de um 
determinado momento em que a Psicologia se arvorou pelo lema da 
transformação social, sentindo-se comprometida com as questões sociais do 
contexto onde se desenvolvia, constitui uma série histórica relevante para a PSC. 
É neste mesmo bojo que tratamos dos rumos da Psicologia Social, disciplina 
essa que se revigora por volta da década de 1970, elaborando novas propostas 
não só para si, mas para a própria Psicologia. O movimento despertado “dentro” 
da Psicologia Social, portanto, não se conteve nos limites desse campo, ao 
menos no contexto brasileiro. 
Três têm sido os aspectos fundamentais considerados nos debates sobre 
os caminhos da profissão de psicólogo no Brasil: onde a atuação profissional 
está sendo realizada; o que está sendo feito e com que objetivos; e para quem 
se dirige aquela intervenção, isto é, qual é seu público-alvo. 
A partir destes elementos, sabe-se que a literatura acerca da profissão de 
psicólogo no Brasil comumente classifica uma determinada atuação como 
tradicional, porque exercida nos espaços clássicos da profissão – a clínica, a 
escola e o trabalho (Bastos & Gomide, 2010; Bastos, Gondim, & Borges-
Andrade, 2010; Botomé, 1979/2010; Yamamoto & Costa, 2010). É comum 
também que tal atuação classificada como tradicional seja caracterizada 
historicamente como um trabalho a serviço das elites. 
A identificação da atuação profissional como um serviço voltado e 
submetido primordialmente aos interesses das elites (Amorin, 2010; Bock, 1999, 
2003; Bock, Gonçalves, & Furtado, 2007) serviu para alimentar o argumento 
contrário, a saber: a Psicologia não deve mais comprometer-se com as elites, 
mas voltar-se aos interesses das maiorias populares. A mudança de rumo nos 
caminhos da profissão e a configuração de um novo modo de trabalho em que 
os profissionais estejam comprometidos com as questões sociais do contexto no 
qual se inserem foram amplamente fomentadas. Diante das pesquisas de 
avaliação da profissão realizadas nas décadas de 1970, 1980 e 2000, percebe-
 
10 
 
se que a área clínica era predominante entre os psicólogos, sendo o consultório 
o espaço preferido de atuação. 
Essas questões articularam-se também com o prosseguimento histórico 
da Psicologia Social. Existem pontos importantes desse desdobramento a serem 
considerados quando tematizamos a PSC no Brasil: a crise de identidade da 
Psicologia Social, a defesa de um paradigma latino-americano e a criação da 
Associação Brasileira de Psicologia Social (ABRAPSO). 
A partir da década de 1980, sobretudo coma criação da ABRAPSO, a 
disciplina tomou um caminho diferente daquele estabelecido pelos estudos 
cognitivos e experimentais. O que percebemos, então, é que novos temas 
começam a protagonizar as discussões em Psicologia Social, já que sua 
pretensão era se desvencilhar de um pensamento individualista e privilegiar 
temas de maior relevância social para a população brasileira e latino-americana. 
O que interessava, a partir de então, era tematizar aquilo que faz parte do 
cotidiano e da realidade das maiorias populares. 
A Psicologia reivindicou, neste momento, a tarefa de transformar as 
condições sociais das maiorias populares, embora tal categoria não tenha sido 
conceitualizada naquele momento. Parece nos, entretanto, que o termo 
“maiorias populares” designa genericamente a maior parte dos brasileiros que 
tem acesso restrito aos equipamentos sociais e renda insuficiente para uma 
subsistência digna. 
Surgiram propostas de intervenção atentas a três novos objetivos: 
 Deselitizar a Psicologia, 
 Aproximar - se da realidade concreta da população e 
 Afastar-se dos lugares tradicionais de trabalho (Andery, 1984; Bock, 
1999). 
Questionamentos e problematizações sobre a realidade social e a 
configuração da Psicologia Social, e da própria Psicologia, constituíram as bases 
para as proposições por novos caminhos, novas orientações e outros modos de 
intervenção. 
A Psicologia Comunitária adquire sua particularidade a partir desse 
contexto histórico-social e econômico. Surge da problematização psicossocial da 
vida dos brasileiros, realizada por psicólogos comprometidos com a busca de 
soluções para os graves problemas sociais do país. 
 
11 
 
Sua origem se remonta à década de 60, não com esse nome, mas por 
meio de diversas concepções e práticas de Psicologia existentes dentro do 
Serviço Social e dos movimentos comunitários de saúde e de educação, ações 
estas realizadas em geral para assistir à população pobre e reduzir a tensão 
social gerada pela concentração da riqueza e produção da miséria. Quanto à 
própria Psicologia, nesta década, havia um esforço de socializá-la junto à 
população, pois em geral a atuação do psicólogo estava limitada às classes 
média e alta (CFP, 1988, 1994). 
A construção da Psicologia Comunitária em nosso país se baseou em 
modelos teóricos e práticos da Psicologia Social integrados, principalmente, a 
modelos da Sociologia, da Educação Popular e da Ecologia. Assim como a 
Psicologia Social, esses modelos, também, buscavam uma maior compreensão 
do papel da ideologia e do Estado nas relações econômicas, sociais e humanas, 
papel esse no sentido de reforçar concepções e práticas assistencialistas e de 
controle social, comuns na ação governamental, nos serviços sociais e, 
inclusive, em muitos dos programas de extensão universitária. 
4 PRODUÇÕES ATUAIS DA PSC: AS VINCULAÇÕES TEÓRICAS E O 
TRABALHO DO PSICÓLOGO COMUNITÁRIO 
 
Fonte: www.wreducacional.com.br 
 
12 
 
A análise documental das produções textuais da PSC expõe os seguintes 
referenciais teóricos e epistemológicos: Psicologia Clínica, psicoterapia, 
Psicoterapia Breve e Orientação Psicodramática; PSC, PC; Psicologia Social 
Crítica, Psicologia Política; Psicologia Histórico-Cultural; Movimento 
Institucionalista; Promoção da Saúde; Psicologia Sócio-Histórica; 
Psicossociologia; Sociologia Clínica; Perspectiva Sistêmica; Psicologia da 
Libertação; Educação Libertadora; Biodança; Socionomia; Teoria Histórico-
Cultural; Intervenção Psicossocial; Grupo Operativo (Pichón-Riviére); 
Psicanálise e Paradigma Ecológico. 
A pluralidade de referenciais teórico epistemológicos que compõe o 
campo é evidente. Tal multiplicidade indica que muitas coisas cabem dentro da 
PSC e que essa forma-disciplina está longe de ter limites conceituais bem 
definidos e consensuais. Analisando detidamente a produção textual foi possível, 
contudo, vincular a PSC a três grandes campos de atuação, a saber, a saúde, a 
assistência social e a educação. Além disso, destacamos duas vinculações 
teóricas da PSC: uma com a Psicologia Clínica e outra com o Paradigma 
Ecológico. Discutir as alianças da Psicologia Clínica com a Psicologia 
Comunitária envolve duas questões principais. 
A primeira diz respeito à nossa dificuldade em escapar das formas já 
consagradas de atuação e, por sua vez, de encarar o desafio de buscar novas 
referências e de criar outro modo de fazer psicologia. 
Parece que a ânsia pelo conforto de “saber o que fazer” no momento em 
que “é preciso fazer alguma coisa” nos faz procurar acolhimento naquilo que já 
está estabelecido, no lugar onde encontramos as respostas e onde o modo de 
fazer já está prescrito. Ao mesmo tempo, ao cair, novamente, no atendimento 
psicológico (seja ele individual, em grupo, ou nos seus diferentes formatos), a 
Psicologia não consegue ampliar seu escopo de atuação. Parece que os limites 
de intervenção de um psicólogo sempre serão definidos pelos limites do 
indivíduo. 
Apesar de todo o clamor por incluir a dimensão comunitária social em suas 
intervenções, do esforço em se deslocar até os espaços de periferia-favela-
comunidade, não conseguimos abrir mão do indivíduo, nem de suas correlações 
- o sujeito, o desejo, a subjetividade. Um dos aportes teóricos mais citados nas 
produções textuais da PSC é o que tem sido chamado de “Perspectiva sistêmica” 
 
13 
 
ou “Paradigma ecológico”. Sem a pretensão de explicitar os conceitos e 
pressupostos que compõem esta “perspectiva” ou este “paradigma”, nós 
chegamos a, pelo menos, duas problematizações acerca desta vinculação: o 
alinhamento com a Psicologia Positiva e a utilização da PSC norte-americana 
como referência. 
A aliança entre a Psicologia Comunitária e a Psicologia Positiva deve ser 
analisada com cuidado. Esta não é nossa pretensão neste momento, mas a 
identificação de tal enlace já produz questão. A princípio, a PSC em sua trajetória 
latino-americana esteve próxima aos setores populares tendo como direção 
produzir algum tipo de mudança ou transformação social. Este campo aliou-se 
fundamentalmente à Psicologia Social, em sua perspectiva crítica, a fim de 
produzir intervenções sociais de caráter coletivo. 
A Psicologia Positiva surge nos Estados Unidos no fim da década de 1990 
e se define como um movimento que pretende contribuir para o florescimento e 
o funcionamento saudável de pessoas, grupos e organizações por meio do 
fortalecimento das competências ao invés de corrigir deficiências. A Psicologia 
Positiva reconhece o sofrimento humano, situações de risco e patologias, mas 
pretende investigar outra face das questões, por exemplo, o altruísmo e a 
felicidade. 
Essa elaboração enfatiza a individualização de aspectos relacionais e 
purifica as relações profundamente desiguais constitutivas da história de nossas 
classes populares comparada aos segmentos mais privilegiados de nossa 
sociedade. 
 
 
 
14 
 
 
Fonte: natucoaching.com.br 
4.1 O trabalho do psicólogo comunitário 
 
Fonte: www.portaleducacao.com.br 
É comum encontrarmos alguma indicação sobre qual é a tarefa do 
psicólogo que atua em comunidades. Em geral, criticam-se as atuações 
relacionadas à chamada Psicologia tradicional e, ao mesmo tempo, propõe-se 
um novo tipo de intervenção. Portanto, ao examinar o trabalho do psicólogo 
comunitário, convém verificar que, de fato, suas ações se distanciam disto que 
é apresentado como Psicologia tradicional (em geral, indicado como psicologia 
clínica ou àquelas que se limitam à dimensão individual). Ao tentar estabelecer 
 
15 
 
o escopo do seu trabalho, o psicólogo comunitário se embaraça entre o que se 
define como clínica e todas as práticas que, mesmo sem saber exatamente em 
que consistem, se definem como “não clínicas”. 
Na tentativa de escapar das práticas tradicionais, caímos no limbo de tudo 
aquilo que, em tese, não são atuações clínicas. Todavia, estar nolimbo e não 
saber exatamente o que se faz não nos parece ser um problema. É interessante 
notar que a proposta de novas formas de fazer psicologia seja construída pela 
negação de uma prática. É preciso não fazer clínica para que alguma coisa 
diferente possa acontecer. 
Na análise das produções textuais, deparamos nos com duas dicotomias 
principais na descrição do trabalho dos psicólogos comunitários: uma diz 
respeito à oposição individual versus coletivo-comunitário; e outra está 
associada às dimensões concreta versus subjetiva. É comum encontrar pelo 
menos uma dessas duas oposições no relato de suas tarefas. Além disso, 
apresentamos também as discussões sobre a formação, pois ela está 
diretamente atrelada ao debate sobre o trabalho do psicólogo. 
É possível afirmar que a temática da formação circula nos referenciais da 
PSC. Há uma ideia de que é preciso construir um arcabouço teórico-
metodológico consistente para instrumentalizar aqueles que atuam em 
comunidades. Não ter referenciais para a atuação é um desafio e causa 
desconforto aos profissionais. Logo, a ideia de que eles devem estar munidos de 
teorias consistentes para intervir em contextos comunitários parece ter alguma 
relação com o aparecimento da temática da formação. Essa ideia está 
intimamente relacionada com as defesas de constituição de um campo e de uma 
especialidade em PSC. Na medida em que temos um campo de trabalho, com 
teorias e metodologias próprias, é necessário formar profissionais que tenham 
domínio sobre ele. Este é o processo de construção de um especialista. 
O que se percebe no material analisado é uma crítica geral dirigida à 
formação em psicologia. A crítica consiste em denunciar uma deficiência na 
formação, historicamente pautada na atividade clínica. Essa falha na formação 
tem como consequência a falta de preparo dos profissionais para o trabalho com 
políticas públicas ou em contextos comunitários. Por isso, justifica-se o 
desconforto sentido pelos profissionais ao se depararem com a atividade 
comunitária por tal deficiência latente na formação em psicologia. Ao discutir a 
 
16 
 
formação, critica-se a exclusividade do trabalho clínico e transposição desse 
modelo na atuação comunitária: 
O debate a respeito dos problemas sociais não adentra a formação 
básica da graduação do psicólogo. Não se trata, então, de criticar o 
atendimento individual, mas sim a pura e simples transposição de um 
modelo clínico para um trabalho que requer dimensões sociais e 
políticas muito mais abrangentes. ... a formação maciça em clínica 
prepara para uma relação dual, importante, mas com aplicação pouco 
eficaz para a inserção na comunidade. (Paiva & Yamamoto, 2010, p. 
155). 
A consequência desse argumento é de que é preciso, então, uma 
formação para a intervenção psicossocial ou comunitária. A crítica geral à 
formação em psicologia nos parece coerente. Apesar de serem recorrentes e 
existirem, pelo menos, desde a sua regulamentação, as críticas à formação 
ainda são necessárias. Isto porque, apesar das muitas transformações que sofre 
ao longo dos anos, a formação em psicologia ainda enfatiza o trabalho clínico e 
discute muito pouco a questão social e as políticas públicas. É preciso então 
mudar a formação em psicologia, para que todos os profissionais possam estar 
atentos a questões políticas, econômicas e sociais implicadas em suas práticas. 
Para que possam, principalmente, refletir sobre as consequências de suas 
intervenções na sociedade. 
No entanto, o argumento de que é preciso formar especialistas em 
psicologia comunitária, a partir de um processo de formação próprio para tal, não 
parece fazer sentido. A ideia não é formar profissionais especializados em 
intervenções comunitárias, mas sim ampliar o olhar dos psicólogos de maneira 
geral. Incluir discussões relativas aos problemas sociais, políticos, econômicos 
na formação em psicologia para que todos tenham acesso a esse debate, para 
que todos pensem sobre as consequências de suas práticas. Isso não deve ser 
privilégio dos especialistas em psicologia comunitária ou daqueles que, de 
alguma forma, estejam inseridos no campo das políticas públicas. 
 
17 
 
4.2 A caracterização da prática 
 
Fonte: www.poderesaude.com.br 
Ao descrever suas práticas, os psicólogos costumam diferenciar as ações 
direcionadas à dimensão individual, nomeadas Psicologia Tradicional, daquelas 
direcionadas à dimensão coletiva. Assim, o que se defende na atuação 
comunitária é um deslocamento das intervenções centradas no indivíduo para 
aquelas que se dirigem à dimensão ambiental-coletiva-contextual comunitária. 
Isso porque as novas formas de fazer psicologia devem passar a considerar que 
as causas do sofrimento não pertencem somente à dimensão intrapsíquica, mas 
estão também condicionadas de acordo com o contexto ou o ambiente 
comunitário. Portanto, a oposição individual versus coletivo se revela nessa 
outra: Psicologia Tradicional versus Psicologia Comunitária. 
As intervenções na dimensão individual parecem pertencer somente à 
Psicologia Tradicional, enquanto as ações sobre a dimensão coletiva ficam a 
cargo da Psicologia Comunitária. Ainda quanto às oposições que definem a 
prática do psicólogo comunitário, é preciso alertar para a que se estabelece entre 
a dimensão concreta e a dimensão subjetiva. Apesar de reconhecer a 
materialidade da vida das pessoas que vivem em comunidades, como condições 
de saneamento básico e saúde, acesso à escola, questões econômicas, 
políticas, o psicólogo parece não intervir nessa esfera. Seu alvo sempre se 
constitui em torno do que vagamente denominamos dimensão subjetiva ou 
aquela que envolve relações, afetos, vínculos, desejo. 
 
18 
 
A defesa das intervenções na dimensão subjetiva vem acompanhada dos 
argumentos que defendem uma especificidade para o trabalho do psicólogo 
quando inserido em contextos comunitários. É necessário então individualizar ou 
psicologizar questões econômicas, políticas, sociais para que o psicólogo possa 
intervir, tendo em vista os limites de sua atuação e de sua formação. Alguns 
textos reivindicam explicitamente uma especificidade para o trabalho do 
psicólogo comunitário, relacionada à sua caracterização como o profissional que 
pode lidar com o desejo, a singularidade, a emoção, o afeto etc. 
A sua exclusividade está justamente na possibilidade de intervir em tais 
dimensões. Assim, esse argumento, em geral, sustenta a necessidade de 
diferenciarmos a prática do psicólogo de outros profissionais também envolvidos 
nas atuações comunitárias. 
4.3 Desafios Teóricos da Psicologia Comunitária 
 
Fonte: repositorio.ufsc.br 
Na América Latina e no Brasil, a Psicologia Comunitária seguiu três 
grandes modelos teóricos: o modelo norte-americano de movimento em prol da 
saúde mental, de inspiração multidisciplinar, seguindo, contudo, o modelo 
adaptativo da psicologia; o modelo cognitivista, voltado para a psicologia do 
desenvolvimento social, também adaptativo; e a ação comunitária, que utiliza o 
 
19 
 
método derivado do materialismo histórico, voltada para uma psicologia de 
transformação social. 
A totalidade destas correntes em psicologia Comunitária apresenta os 
mesmos problemas conceituais. A análise da literatura utilizada neste trabalho 
sobre este tema aponta para diversas dificuldades da Psicologia Comunitária: 
falta de referencial teórico adequado em Psicologia Social, necessidade de 
articulação entre teoria e práxis, inadequação da metodologia utilizada, etc. 
No entanto, estes problemas devem ser considerados naturais para um 
saber psicológico que tem menos de quarenta anos de desenvolvimento e 
articulação e encontra-se em plena construção. 
A falta de uma definição precisa sobre o que é Psicologia Comunitária é 
uma decorrência direta deste paradoxo e da tentativa da Psicologia de resolvê-
lo. Esta indefinição conceitual não chega a se constituirem um entrave, pois 
aumenta o espectro de alternativas teóricas e metodológicas na busca de 
possibilidades de práxis desta psicologia (Bender, 1978; Amorim, 1980; 
Rodrigues 1987; Freitas, 1988; Nascimento, 1990). 
Do ponto de vista das teorias e das práxis empreendidas em nome da 
Psicologia Comunitária, Brea (1985) enumera algumas críticas importantes para 
se compreender a fragilidade deste saber psicológico em construção. Vejamos 
tais críticas: 
a) Comunitarismo - é a preocupação exacerbada desta Psicologia com 
os problemas comunitários em detrimento da consideração pelos problemas de 
natureza teórica e metodológica suscitada por esta abordagem. 
b) Academicismo - é o oposto do comunitarismo. Aqui a preocupação da 
Psicologia Comunitária volta-se para problemas acadêmicos, preocupada 
apenas com o desenvolvimento de teorias e técnicas cientificamente relevantes, 
sem considerar a relevância social destes achados. 
c) Idealismo - este seria o resultado da visão reformista de alguns 
psicólogos comunitários que reduzem todos os problemas sociais a fatores 
políticos, sem considerar a necessidade do conjunto da sociedade humana e, às 
vezes, as necessidades de mudança da própria psicologia. 
d) Assistencialismo - identificação da Psicologia com obras caritativas e 
assistências, que servem apenas para alimentar a dependência da comunidade. 
 
20 
 
5 COMO NOS TORNAMOS SOCIAIS 
O ser humano ao nascer necessita de outras pessoas para a sua 
sobrevivência, no mínimo de mais uma pessoa, o que já faz dele membro de um 
grupo (no caso, de uma díade — grupo de dois). E toda a sua vida será 
caracterizada por participações em grupos, necessários para a sua 
sobrevivência, além de outros, circunstanciais ou esporádicos, como os de lazer 
ou aqueles que se formam em função de um objetivo imediato. 
Assim, desde o primeiro momento de vida, o indivíduo está inserido num 
contexto histórico, pois as relações entre o adulto e a criança recém-nascida 
seguem um modelo ou padrão que cada sociedade veio desenvolvendo e que 
considera correta. São práticas consideradas essenciais, e, portanto, 
valorizadas; se não forem seguidas dão direito aos "outros" de intervirem direta 
ou indiretamente. E, quando se fala em "dar o direito", significa que a sociedade 
tem normas e/ou leis que institucionalizam aqueles comportamentos que 
historicamente vêm garantindo a manutenção desse grupo social. 
Em cada grupo social encontramos normas que regem as relações entre 
os indivíduos, algumas são mais sutis, ou restritas a certos grupos, como as 
consideradas de "bom-tom", outras são rígidas, consideradas imperdoáveis se 
desobedecidas, até aquelas que se cristalizam em leis e são passíveis de 
punição por autoridades institucionalizadas. Estas normas são o que, 
basicamente, caracteriza os papéis sociais, e que determina as relações sociais: 
os papéis de pai e de mãe se caracterizam por normas que dizem como um 
homem e uma mulher se relacionam quando eles têm um filho, e como ambos 
se relacionam com o filho e este, no desempenho de seu papel, com os pais. 
Do mesmo modo, o chefe de uma empresa só o será, em termos de 
papel, se houver chefiados que, exercendo seus respectivos papéis, atribuam 
um sentido à ação do chefe. Ou seja, um complementa o outro: para agir como 
chefe tem que ter outros que ajam como chefiados. Esta análise poderia ser 
feita em todas as relações sociais existentes em qualquer sociedade — amigos, 
namorados, estranhos na rua, que interagem circunstancialmente, balconista e 
freguês — em relação a todos existem expectativas de comportamentos mais 
ou menos definidos e quanto mais a relação social for fundamental para a 
 
21 
 
manutenção do grupo e da sociedade, mais precisas e rígidas são as normas 
que a definem. 
E a pergunta que sempre ocorre é: e a individualidade? Aquelas 
características peculiares de cada indivíduo? Afinal, se nós apenas 
desempenhamos papéis, e tudo que se faz tem sua determinação social, onde 
ficam as características que individualizam cada um de nós? 
A resposta é, mais ou menos, como aquela estória do pai dizendo à filha: 
"Você pode se casar com quem quiser, desde que seja com o João . . .". Em 
outras palavras, podemos fazer todas as variações que quisermos, desde que 
as relações sejam mantidas, isto é, aquelas características do papel que são 
essenciais para que a sociedade se mantenha tal e qual. 
Existem teorias que definem os papéis sociais em termos de graus 
máximos e mínimos, de variações possíveis, e exemplificam com fatos como: a 
rainha Elizabeth (Inglaterra), na abertura do Parlamento, desempenha um papel 
totalmente definido; qualquer ação ou não ação que saia fora do protocolo gera 
confusão. 
O viver em grupos permite o confronto entre as pessoas e cada um vai 
construindo o seu "eu" neste processo de interação, através de constatações 
de diferenças e semelhanças entre nós e os outros. É neste processo que 
desenvolvemos a individualidade, a nossa identidade social e a consciência-de-
si-mesmo. 
5.1 A identidade social 
É o que nos caracteriza como pessoa, é o que respondemos quando 
alguém nos pergunta "quem é você?". 
Procurem responder esta questão antes de continuar a leitura, e 
verifiquem como se define a identidade social de cada um na sequência do 
texto. 
Uma jovem adolescente respondeu: 
"Quem sou eu 
Bem, é um pouco difícil dizer quem sou e como sou. Mas posso tentar: 
 
22 
 
Fisicamente sou magra, estatura média, pele muito clara, olhos 
esverdeados, cabelos castanhos e compridos, rosto fino, nariz arrebitado, com 
cara de moleca, mas corpo de mulher. 
Psicologicamente sou tagarela, brincalhona, expansiva, briguenta, triste, 
agressiva e estúpida (minha mãe que o diga). 
Estou fazendo pela 4ª vez o primeiro colegial, tenho 17 anos e completo 
18, em outubro, dia 31, sou de 1963. 
Meu signo é Escorpião, geniozinho difícil. Não sou fanática por estudos, 
mas estou tentando. Faço e adoro ballet assim como artes em geral, leio 
bastante, vou ao cinema mas são poucos os filmes intelectualmente bons, gosto 
muito de Wood Alen mas ainda não vi seu último filme Memórias. Em literatura, 
gosto de romances antigos e de autores brasileiros como Mario de Andrade, 
Cecília Meirelles, Graciliano Ramos e Fernando Pessoa entre outros. 
Gosto de estar sempre a par de tudo, como artes, política, atualidade, 
economia e tudo que ocorre ao redor da gente. 
Sou bem complicada, não? 
Gosto também de música popular e tenho afeição especial por Chico 
Buarque, Milton Nascimento e Rita Lee, gosto também de Mozart e Tchaikovsky 
(isto por causa do ballet). 
Tenho como ídolo nº 1 Mikhail Baryshnikov, bailarino russo, atualmente 
residente nos EUA; é diretor do American Ballet Theatre de Nova Iorque, mas 
também dança com o New York City Ballet; bem, eu estou falando de mim e 
não do MISHA (seu apelido), chega de ballet. O que mais posso dizer ... 
Ah! Não tenho namorado, nem sou apaixonada por ninguém, mas gosto 
de ter amigos e estar sempre cercada de gente. 
Bem, eu sou assim, uma pessoa que faz o que gosta e luta pelo que quer, 
sonhadora, mas realista, acho que sou alguém indecifrável, sou uma incógnita 
para mim mesma". 
O relato acima nos permite caracterizar, em primeiro lugar: o sexo, a 
aparência física e traços de personalidade que demonstram como ela se 
relaciona com os outros e dá "dicas" sobre como deve ser o seu grupo de 
amigos: se estes não forem descontraídos, dificilmente a aceitarão no grupo. A 
menção da idade e do curso que faz a localizam numa faixa etária, com 
determinado nível educacional, que se complica com a menção do signo e de 
 
23 
 
"não ser fanática por estudo", ou seja, possivelmente seu grupo preferido de 
pares não está na escola. 
O fazer ballet e as coisas de que gosta dizem sobre quais os grupos que 
são importantes para ela e, sem dúvida, indicam toda umaestimulação 
intelectual que, não vindo da escola, deve estar presente no contexto familiar, e 
no grupo de ballet. (Para constatar estas inferências precisaríamos também da 
sua história de vida.) 
É interessante observar um certo tom de mistério, desde achar difícil dizer 
"quem é" até se sentir "indecifrável, uma incógnita" — uma forma de não se 
comprometer definitivamente com uma identidade — ela nos dá o seu potencial 
e guarda para si os aspectos idealizados para o futuro. Este aspecto da 
representação de si mesmo parece ser uma característica de adolescente do 
qual não é exigida uma definição precoce e cujo ambiente social deve enfatizar 
a autodeterminação do jovem sem impor modelos "bons" a serem seguidos. 
Estes dois relatos enfatizam características peculiares que dizem respeito 
à maneira de cada um se relacionar com os outros, sendo características que 
foram sendo apreendidas nas relações grupais; sejam familiares e/ou de amigos, 
através do desempenho de papéis diversificados. E é nessa diversidade que eles 
vão se descobrindo um indivíduo diferente, distinto dos outros. Nossos amigos 
deixaram de ser um, entre muitos da espécie humana e passaram a ser pessoas 
com características próprias no confronto com outras pessoas — eles têm suas 
identidades sociais que os diferenciam 
6 PROBLEMAS SOCIAIS E INTERVENÇÃO 
Analisar problemas sociais na perspectiva da Psicologia exige, por um 
lado, uma compreensão deste entrelaçamento, por outro, a adoção de 
referências conceituais e metodológicas que deem conta desta realidade - o ser 
humano e suas implicações com o mundo e os problemas sociais. 
De uma forma geral, a Psicologia e as Ciências Humanas e Sociais têm-
se preocupado em entender como somos produzidos pela sociedade, mas têm 
pouco ou nada a dizer a respeito de como poderíamos produzir esta sociedade, 
criando, através de mudanças provocadas, novas condições de existência pela 
 
24 
 
ação dos indivíduos. Notoriamente, estamos diante de uma grande crise social, 
em que a desumanização, o medo, a desconfiança, a desigualdade social, o 
desrespeito à diversidade humana, as relações de exclusão e a barbárie 
apontam para a evidente necessidade de serem revistos esses problemas 
sociais e de intervir para reinventar e transformar o futuro. 
Um problema social existe quando coletividades sofrem por mutilações do 
cotidiano, por desigualdade social e injustiça vivenciada. Isto é, quando as 
instituições que deveriam estar em consonância com o desejo humano não 
cumprem seus objetivos ou não existem. Quando isso acontece, as leis são 
transgredidas e não atendem as coletividades nas suas necessidades, nas suas 
carências, no seu desejo de ser gente, e a relação entre fazer e ser humano não 
se produz. A relevância do problema social está diretamente associada à 
extensão dos seus efeitos, por exemplo, aumento dos índices de mortalidade, 
desnutrição, analfabetismo, fome, exclusão pelas diferenças humanas e 
desigualdade social, sofrimento e padecimento psíquico. 
Os problemas sociais são produtos de um sistema social, econômico, 
político e cultural e, como tal, não são explicados unicamente pelas 
características e condições das instituições sociais vigentes ou pelas 
características dos seres humanos e da cultura. São, antes, fenômenos sociais 
configurados no jogo dessas relações, nas intersubjetividades em ato, durante o 
viver cotidiano. Dessa maneira, levam em conta tanto as instituições e seus 
sistemas de produção e organização, quanto os indivíduos e suas funções 
psicológicas voluntárias, que medeiam as suas relações com o mundo, fazendo 
a história. 
Em termos operacionais, o problema social pode ser compreendido pela 
análise da relação entre a situação atual e a situação desejada, entre o que 
existe e o que deveria existir, entre o que foi alcançado e o que deveria ser 
alcançado, configurando a discrepância entre o "que é", o "como está" e o como 
"deve ser". Uma vez identificada, essa discrepância coloca-se como um 
problema, que precisa ser analisado em função da complexidade das relações 
que o produzem e da situação de incompletude que se estabelece. A análise do 
problema deve buscar, no seu interior, o processo de sua constituição, suas 
causas, nós, leis, funções, estrutura, categorias, conceitos, implicações, 
 
25 
 
relações, interferências, perdas provocadas, alternativas de soluções, 
viabilidades, modos de atuação e de acompanhamento. 
A análise dos problemas sociais, na perspectiva da Psicologia, reflete, por 
um lado, uma compreensão desse entrelaçamento. Por outro lado, exige 
referências conceituais e metodológicas que deem conta dessa realidade, isto é, 
do ser humano e suas implicações com o mundo e com os problemas sociais. É 
necessário ir além do empírico e ser capaz de explicitar os mecanismos ocultos 
de construção do real. Uma análise profunda que desperte os afetos e a reflexão 
da realidade e seu compromisso como sujeito social. 
"Desvelar a realidade de tal forma que nos sintamos capazes de nos 
comover até as entranhas com a dor e o sofrimento da humanidade 
excluída, discriminada, vítima da violência e de nos solidarizarmos com 
suas causas e lutas" (Sacavino, 2008, p. 192). 
Em seu percurso analítico, Marx (1984) já dizia: eu parto do mundo e tento 
explicá-lo. E o meu método será fértil se eu explicar o mundo real. Se eu não 
explicar o real, de modo autêntico e verdadeiro, o meu caminho metodológico 
está fadado ao fracasso. 
A análise do problema social reside no enfoque do problema não como 
materialidade externa ao indivíduo, na forma de uma crise do estado de bem-
estar social, mas na consideração das implicações psíquicas desse indivíduo, 
como apropriações, mediações, sofrimentos, reflexões e potência de ação. Esta 
perspectiva aguça o olhar para captar as múltiplas e sutis nuanças do problema 
social, tal como vividas pelo sujeito (Sawaia, 2006, 2010). Fazer emergir na 
análise o processo de configuração do problema social objetivado no ser humano 
significa, fundamentalmente, descobrir sua natureza, seu real, uma vez que é 
somente em movimento que um corpo mostra o que é (Vigotski, 1999, 2004b). 
6.1 Relação ser humano e problemas sociais 
A análise da relação entre ser humano e problemas sociais, busca 
capturar as implicações constituídas por afetos em ato, nas nuances das 
vivências, nos brados dos sofrimentos e dos desejos, o que demanda diversos 
olhares que se entrelaçam entre o ser humano e a cultura. Essa relação se 
expressa através de padecimento, humilhação, fome, doenças, violência, medo, 
 
26 
 
delinquência, brutalização, banalização e ou potência de ação, diante do caos 
social e da espiral dos problemas sociais. A configuração dos afetos e dos 
problemas sociais traduz um pensamento e um sentimento, e uma forma e 
intensidade de implicação dessas instâncias. 
Como ciência do sentir, pensar e fazer, a Psicologia tem no psicológico a 
unidade de captura da totalidade do real e de atuação no mundo, para a sua 
transformação. Os seres humanos se produzem na história que constroem por 
meio dos afetos, da linguagem e da atividade, e desta construção configura-se 
o sistema psicológico, seus significados, sentidos e consciência. O ambiente 
social e os problemas sociais concretos produzem o desenvolvimento de 
processos de mediação, relativos às várias funções psicológicas superiores 
(Luria, 1990). Quando os seres humanos agem no ambiente, introduzem 
modificações neste ambiente e em si próprios. 
A perspectiva dos processos mentais humanos enraizados na história 
social, compreendidos na configuração das condições reais de vida de um povo 
e na linguagem por ele utilizada, coloca-se como a base dos estudos 
desenvolvidos por Vigotski (Luria, 1990). 
Vigotski (1997, 1998, 2001, 2004a) iniciou seus trabalhos num contexto 
de mudanças sociais e culturais, adotando o ponto de vista de que asatividades 
mentais voluntárias guardam sua natureza sócio histórica e de que a estrutura e 
funcionamento da atividade mental, não apenas seu conteúdo específico, como 
também as conexões básicas de todos os processos mentais, mudam ao longo 
do desenvolvimento histórico. 
O ser humano é um ser social e histórico; é um ser constituído no seu 
movimento, em todas as suas fases e processos de mudança ao longo do tempo, 
pela relação com a cultura e condições sociais produzidas. Concebe-se o 
desenvolvimento do ser humano vinculado à história social mediado por 
sistemas simbólicos. A abordagem psico-sócio-histórica, admitindo a influência 
da natureza sobre o ser humano, afirma que este age sobre a natureza e cria, 
através das mudanças nela provocadas, novas condições para sua existência, 
portanto, precisa aprender formas de satisfação de suas necessidades, e sendo 
essas sociais, precisam ser estimuladas de maneira a serem adquiridas. Um ser 
rico em possibilidades tem na sociedade, na cultura e nas relações sociais, os 
 
27 
 
limites e condições impostas para significações e construções do seu projeto de 
vida (Catão, 2001, 2007a). 
O sistema psicológico e as funções psicológicas voluntárias, emoção, 
consciência, imaginação, linguagem, memória, analisadas no movimento das 
condições reais de vida, na prática social do sujeito no mundo, coloca-se como 
a base dos estudos desenvolvidos por Vigotski. Inspirado na filosofia monista de 
Espinosa (2005) e na teoria dialético-materialista de Marx (1984), Vigotski 
(2004b) construiu as bases de estudo do psiquismo humano como um sistema 
integrado de funções psicológicas, em que todas estão relacionadas entre si, ao 
corpo biológico, mediadas pela cultura e pela história social. 
As emoções têm um papel fundamental nesse sistema, juntamente com 
a razão, formam uma unidade tendo como finalidade a expansão humana e a 
potência de ação (Vigotski, 2004b; Sawaia, 2000), "é por essa via analítica que 
Vigotski sustenta a ideia de sujeito que se constitui nas determinações sociais, 
mas como dimensão de resistência" (Sawaia, 2010, p. 369). Nesta perspectiva, 
são os significados que vão propiciar a mediação simbólica entre o indivíduo e o 
mundo real, constituindo-se no "filtro" através do qual o homem é capaz de sentir, 
analisar e agir sobre os problemas sociais. A capacidade de significar e 
configurar sentidos é a base da liberdade, permitindo a atividade criadora, 
fazendo do ser humano um ser projetado para o futuro. 
Vigotski (2000) distingue o significado propriamente dito do sentido, 
referindo-se ao sistema de relações objetivas que se formou no processo de 
desenvolvimento da palavra, que consiste num núcleo relativamente estável, 
compartilhado por todas as pessoas que a utilizam. Por sua vez, o sentido refere-
se ao significado para cada indivíduo. Nesta direção, analisamos que os seres 
humanos não são especificamente determinados pelas características objetivas 
de seu contexto social, mas igualmente pela forma com que capturam e se 
relacionam com este contexto, configurando implicações e significados. É 
através da reflexão crítica na dimensão do vivido que o ser humano poderá lidar 
com o problema social em direção às possibilidades/impossibilidades do futuro, 
superando a objetividade anterior negada pela subjetividade, transformando sua 
situação. 
Preferencialmente, procuramos analisar o problema social não somente 
como uma materialidade externa ao indivíduo, tentamos enfocar o problema 
 
28 
 
social como uma configuração dos afetos, dos desejos desistidos, sucumbidos, 
adiados, das necessidades banalizadas, descompromissadas por parte do 
Estado, da coletividade, e pelo próprio indivíduo (Catão, 2007a, 2007b). 
Introduzir a afetividade, como objeto da análise do problema social, remete a 
uma concepção de necessidade humana que supera a dicotomia entre ética e 
necessidade (Espinosa, 2005; Sawaia, 2000, 2006, 2010). Nesta perspectiva, a 
práxis analítica deve preocupar-se com o exercício e fortalecimento da 
legitimidade social e individual de cada um. 
7 A TERAPIA COMUNITÁRIA E SEUS PILARES TEÓRICOS 
A Terapia Comunitária na visão de Adalberto Barreto (2008) é acostada 
teoricamente em cinco pilares conceituais: teoria da comunicação, antropologia 
cultural, resiliência, teoria sistêmica e a pedagogia de Paulo Freire. Abordaremos 
esses conceitos e ideias para o melhor entendimento de sua metodologia. 
 
Teoria da Comunicação 
 
De acordo com Hoebel e Frost (1995) a origem da palavra comunicação 
vem do latim, communication, que significa partilhar elementos de 
comportamento em um processo onde o indivíduo provoca uma resposta num 
outro indivíduo, isto é, lançar de si um estímulo favorecendo uma 
alteração/resposta no receptor. 
A comunicação é um meio de transmissão de ideias, emoção e valores 
por meio de um sistema de símbolos produzidos e funciona como um veículo de 
transmissão de cultura ou como fomentadora cultural de cada indivíduo, pois, 
sem ela a cultura humana seria totalmente impossível. Um exemplo que ocorre 
nos encontros de Terapia Comunitária é o fato de o terapeuta comunitário utilizar 
ditados populares que estimulam os participantes a falarem sobre suas 
dificuldades, conflitos, sofrimentos psíquicos, angústias, medos e temores, como 
por exemplo: “quando a boca cala, os órgãos falam. E quando a boca fala, os 
órgãos saram”, assim ocorre a valorização da comunicação no grupo associada 
à cura. 
 
29 
 
A comunicação para Barreto (2008) decorre de um processo participativo 
dos indivíduos ou grupos sociais nas experiências dos outros, usando elementos 
comuns, podendo ser percebida, como um elemento de união entre os 
indivíduos, a família e a sociedade. 
Dessa maneira, comunicar significa participar, trocar informações, 
tornar comuns aos outros, ideias e estados de espíritos, a comunicação 
pode ainda ser entendida como uma atividade educativa, já que há 
uma transmissão de ensinamentos, que moldam a disposição mental 
entre os que se comunicam. Como os homens têm necessidade de 
estar em constante relação com o mundo, com as informações e 
notícias, usa-se, então, a comunicação como mediadora na interação 
e na construção social (HOLANDA, 2006, p 28). 
A comunicação tem evidência como instrumento de transmissão de 
significados entre as pessoas, objetivando sua integração na organização social. 
Além da transformação pessoal e coletiva devemos ficar alertas aos efeitos 
nocivos usados de maneira ambígua, uma vez que todo ato verbal tem várias 
possibilidades de significados e sentidos que podem estar ligados ao 
comportamento e a busca de cada ser humano pela consciência de existir e 
pertencer como cidadão (BARRETO, 2008). 
Para Camarotti et al (2009) os homens, no ato da comunicação entre si, 
ganham consciência do seu próprio eu e passam a fazer parte viva de sua 
própria realidade. Nesse sentido a Terapia Comunitária, por meio da 
comunicação, apropria-se das experiências ofertadas na roda e amplia as 
possibilidades de ressignificação e de transformação do eu de cada participante. 
Consoante Watzlawick (1967), entre dois indivíduos há cinco axiomas na sua 
teoria da comunicação. Afirma ainda que se um deles não funcionar, a 
comunicação pode falhar. Vejamos a seguir os axiomas da Teoria da 
Comunicação de Paul Watzlawick: 
 
 É impossível não se comunicar; 
 Toda comunicação tem um aspecto de conteúdo e um aspecto de relação; 
 A natureza de uma relação está dependente da pontuação das sequências 
comunicacionais entre os comunicantes; 
 Os seres humanos se comunicam de forma digital e analógica; 
 
30 
 
 As permutas comunicacionais são simétricas ou complementares, segundo 
se baseiem na igualdade ou na diferença. 
 
 
 
Antropologia Cultural 
 
Antropologia é uma ciência que pesquisa as origens, o desenvolvimento 
e as semelhanças das sociedades humanas,bem como as diferenças entre elas. 
A palavra antropologia tem origem de duas palavras gregas: anthropos que quer 
dizer homem e logia que significa estudo. Nesse sentido, procura conhecer a 
humanidade, compreender os problemas humanos e o modo de enfrentá-los. E 
a cultura é o sistema associado de padrões estudados caracterizando os 
componentes de uma sociedade, ou seja, é o resultado da invenção social 
transmitida e aprendida por meio da comunicação e não o resultado de herança 
biológica. 
Os autores, Hoebel e Frost (1995), acrescentam que a antropologia 
cultural é imprescindível para a saúde pública, porque investiga como mudar os 
métodos para uma sociedade conseguir alimentos, transformar hábitos 
alimentares, práticas de saneamento, com também, finalidade de melhorar a 
saúde da população e diminuir o sofrimento físico e mental dos indivíduos. 
Para Barreto (2008) a antropologia cultural estima os valores culturais 
como fatores importantes para a formação da identidade do indivíduo e do grupo, 
área que subsidia para a edificação das redes sociais que incluem ações 
intersetoriais, interinstitucionais, valorização dos recursos locais, fortalecimento 
de vínculos e apoio à dinâmica familiar. “Presos a uma única cultura, somos não 
apenas cegos à dos outros, mas míopes quando se trata da nossa [..]” diz 
Laplantine (1995). Nesse sentido, a experiência da alteridade nos faz ver aquilo 
que não conseguimos imaginar mediante nossa dificuldade em fixar nossa 
atenção no que é habitual e crer que somos uma cultura possível, entre tantas 
outras. Laplantine (1995) define cultura como o conjunto dos comportamentos, 
saberes característicos de um grupo humano, sendo essas atividades adquiridas 
por um processo de aprendizagem, sendo transmitidas ao conjunto de seus 
 
31 
 
membros, através dos processos de contato, difusão, interação e aculturação 
(adoção das normas de uma cultura por outra). 
Morin (1979) defende que o homem é um ser de uma afetividade 
incomensurável e instável, que sorri, chora, ama e se angustia; é um ser 
gozador, extático, furioso, amante, um ser invadido pelo imaginário, que se 
alimenta de ilusões, que segrega o mito e a magia possuídos pelos espíritos e 
deuses; um ser subjetivo, cujas relações com o mundo objetivo são incertas; um 
ser submetido ao erro, à desordem, já que a verdade humana comporta o erro e 
a ordem humana comporta a desordem. 
Nessa percepção, a Terapia Comunitária tem como referencial importante 
os valores culturais e as crenças de uma comunidade como significado da 
realização de um povo, a maneira de pensar, discernir valores e opções para o 
cotidiano. A cultura é a estrutura da nossa identidade, com isso assumir a própria 
identidade cultural representa um avanço na inserção social. Corroborando com 
essa afirmação, Dias (2002) descreve “uma rede de símbolos e significados 
elaborados pelos seres humanos, abrangendo estruturas e significados pelos 
quais os indivíduos dão forma às suas experiências”. 
A Terapia Comunitária reconhece e valoriza os conhecimentos, as 
crenças e as manifestações populares como indispensável para a transformação 
do indivíduo em sujeito ativo da sua história. Desse modo, ressalta que a pessoa 
tem problema, mas também tem a solução. 
 
Resiliência 
 
Resiliência é uma palavra derivada do latim, do verbo resilire, que tem o 
significado de saltar para trás, recusar vivamente, etiologicamente falando. É 
definido também como a capacidade de desenvolvimento em condições 
adversas, um longo e complexo processo de resistência, persistência e 
sobrevivência em qualquer circunstância (SILVIA, 2006 apud ROCHA, 2009). 
Barreto (2008) define resiliência como a capacidade dos indivíduos, famílias e 
comunidades em superar as suas dificuldades, aprendendo com as suas 
próprias experiências de vida, sendo fundamental para Terapia Comunitária, 
pois as crises, sofrimentos, vitórias e conquistas de cada um, ofertados no 
encontro são aproveitados como um processo progressivo de consciência social: 
 
32 
 
As pessoas resilientes valorizam muito os vínculos de apoio e estímulo, 
o que lhes permitem alimentar sua autoconfiança e autoestima. Não 
podemos negar que os indivíduos e grupos sociais dispõem de 
mecanismos próprios para superar as adversidades contextuais [...] a 
resiliência é um processo, é um caminho a seguir, o qual o indivíduo, 
levado pelas torrentes da vida, pode vencer, graças ao seu poder 
resiliente (BARRETO, 2008, p. 98). 
 
A resiliência é considerada como âncora para a Terapia Comunitária por 
ser compreendida como a capacidade de transformar sofrimento em 
aprendizado, modificando os desafios em contextos de crescimento e 
incremento de autonomia, uma vez que o encontro de TC não é um espaço para 
resolução de problemas, mas sim para desenvolver a resiliência. Nesse sentido 
a mudança é de fato para as pessoas, a transformação dos seus problemas em 
um novo jeito de enfrentar a vida, prolongando sua cresça na vida e na 
possibilidade do amanhã ser um novo dia no qual seu valor e dignidade possam 
ser reconhecidos (GRANDESCO e AMARANTE, 2007). 
A Terapia Comunitária é um instrumento que estimula o desenvolvimento 
do processo resiliente das pessoas que participam dos grupos, por ser um 
espaço que estimula e fortalece a fala, a escuta e o compartilhamento das 
dificuldades através das histórias de vidas socializadas nas rodas (FERREIRA 
FILHA, DIAS, 2009). 
A resiliência é importante na Terapia Comunitária por valorizar a 
experiência pessoal e estimular a capacidade de aprendizado de cada um dos 
participantes, ou seja, fazendo a interação entre o indivíduo e seu ambiente; 
espírito construtivo e senso de humor como forma de transformar o trágico em 
lúdico; valorização da competência dos indivíduos e da comunidade. A 
implantação da TC nos serviços de saúde tem corroborado que a promoção da 
fala, socialização das situações de perda e sofrimento, tem sido um veículo na 
sedimentação da resiliência, viabilizando a construção de redes solidárias e 
canalizando o sofrimento para uma condição identificável, gerando referência de 
alteridade (CAMAROTTI et al, 2009). 
A resiliência apresenta a disposição das pessoas para conviverem com 
as adversidades da vida, procurando superar os empecilhos. A Terapia 
Comunitária é um espaço de promoção da resiliência, pois estimula a autonomia, 
fortalece a autoestima e promove o vínculo interpessoal. 
 
33 
 
 
 
Pensamento Sistêmico 
 
O pensamento sistêmico é uma nova forma de abordagem sobre o 
desenvolvimento do ser humano a partir da perspectiva de uma complexidade 
que para alcançá-lo em uma abordagem sistêmica, é necessário ampliar o olhar 
não apenas para a pessoa de modo independente, mas procura compreender o 
seu contexto e a relação nele existente (PENSAMENTO SISTÊMICO, 2009). 
Confirmando essa abordagem, Holanda (2006, p. 25), afirma que: 
A teoria sistêmica propõe uma mudança do modelo linear do 
pensamento científico (padrão causa-efeito) pelo modelo circular 
(padrão interativo). Seguindo esse raciocínio, os acontecimentos que 
envolvem a vida cotidiana não são possíveis de serem explicados pela 
referência casual ou em função de decisões e ações individuais, mas 
em decorrência da ação dos sistemas socioculturais, em interação. 
Sendo assim, os problemas e os desafios do dia-a-dia devem ser 
percebidos como sistêmico o que significa que estão interconectados 
e são interdependentes em seus contextos. 
Todos os problemas estão inseridos em um contexto complexo, de 
maneira que o campo de intervenção na Terapia Comunitária é baseado na 
abordagem sistêmica entendida como uma maneira de abordar, de ver, de situar, 
de pensar um problema em relação ao seu contexto. Tendo em vista que tudo 
está interligado e cada parte influencia a outra, dificuldades e crises só têm a 
capacidade de ser entendidas no momento em que são percebidos comoparte 
conectada a uma rede complexa relacionada às pessoas num todo envolvendo 
corpo, mente, emoções e a sociedade (BARRETO, 2008). 
Para Ferreira Filha e Dias (2009), no olhar paradigmático do pensamento 
sistêmico, tudo está interligado, cada fato faz parte de um complexo sistema 
interligado, onde os sistemas estão interligados a outros, em uma rede de 
histórias de vida habituais, fazendo com que a comunidade se torne fonte 
abundante e fecunda de inúmeras possibilidades de enfrentamento dos 
problemas advindos desse cotidiano. Esse é um acontecimento que ocorre nos 
encontros de Terapia Comunitária, como defende na citação a seguir Holanda, 
Dias e Ferreira Filha (2007, p. 26): 
 
34 
 
A Terapia Comunitária apoia-se no pensamento sistêmico como 
mecanismo de intervenção na comunidade e no indivíduo, utilizando a 
teia infinita de padrões interconexos que permite ao grupo a reflexão 
dos problemas em todos os ângulos de um determinado contexto. 
Desse modo, as pessoas que vivenciam situações-problema tornam-
se corresponsáveis e são estimuladas a refletir sobre o seu papel. Os 
acontecimentos passam a ser entendidos olhando-se o contexto e não 
como a soma de suas partes. 
Compreender esse contexto possibilita um olhar renovador que rompe as 
barreiras do pensamento cientifico que se limita na causa e efeito dos 
acontecimentos, amplia o campo de visão para entender melhor as afinidades 
existentes nas famílias e comunidades. 
8 TERAPIA COMUNITÁRIA COMO TECNOLOGIA DE CUIDADO 
 
Fonte: circularede.com.br 
A Terapia Comunitária (TC) é um espaço coletivo que oportuniza a fala e 
a escuta dos participantes a partir de suas histórias de vida, deixando as pessoas 
mais transparentes e assim, possibilitando a descoberta de um novo olhar para 
si em busca das suas verdades no âmago de suas vidas. Segundo Barreto 
(2008) a TC é um espaço comunitário onde as pessoas têm a oportunidade de 
falar sobre a sua história de vida, dor e conflitos de forma horizontal e circular. 
Cada um torna-se terapeuta de si mesmo partilhando experiências de vida e 
sabedoria. Todos se tornam corresponsáveis na busca de superações e 
 
35 
 
soluções dos problemas cotidianos. Propicia aos participantes experimentar a 
ajuda do grupo que oferece suporte e apoio. 
Para Camarotti et al (2009) a Terapia Comunitária brota como um espaço 
de fala dos sofrimentos e possibilidades de prevenção das consequências do 
estresse habitual visando garantir o resgate da autoestima necessária para a 
prática de mudanças em suas vidas. É um procedimento técnico para o trabalho 
terapêutico em grupo, que visa à promoção da saúde na atenção primária em 
saúde mental, estimulando a comunidade a usar sua criatividade a partir da sua 
própria cultura. 
A palavra terapia é originária do grego therapeia, que significa acolher, 
ser caloroso, servir, atender. O terapeuta é aquele que cuida dos outros de 
maneira calorosa. Por outro lado, comunidade é uma palavra composta: comum 
e unidade, significando o que as pessoas têm em comum e isso as une. Essa 
interpretação é apresentada por Barreto (2008) e acolhida nesse estudo, ou seja, 
a Terapia Comunitária é uma tecnologia na qual as pessoas são cuidadas 
calorosamente nas suas dificuldades cotidianas. 
 
 
Fonte: www.childfundbrasil.org.br 
Assim, a Terapia Comunitária desponta como uma tecnologia de cuidado, 
apresentando respostas satisfatórias aos participantes, sendo mais uma 
ferramenta de trabalho para os profissionais da saúde e da própria comunidade 
na construção e no fortalecimento de vínculos solidários, levando as pessoas a 
construírem uma identidade coletiva, sem perder de vista as suas 
singularidades. 
 
36 
 
Para Boff (2008) é a partir do cuidado com o outro que o ser humano 
desenvolve a dimensão da alteridade, do respeito e dos valores fundamentais 
da experiência humana. 
De acordo com Barreto (2008), a Terapia Comunitária pode ser realizada 
em contextos e espaços físicos diferentes, podendo acontecer em locais 
públicos como: parques, clubes, salas de espera, ambulatórios, ginásios 
desportivos, salas de aula, igrejas, presídios, anfiteatros ou em qualquer local 
onde as pessoas vivem ou frequentam. Não requer um contexto físico das salas 
de terapia tradicionais. É importante a regularidade semanal ou quinzenal para 
a realização das rodas de Terapia Comunitária de acordo com a combinação 
com os participantes. Cada encontro tem duração normalmente de cerca de duas 
horas. Ainda conforme Barreto (2008), a Terapia Comunitária é uma prática de 
cuidado, cujos objetivos principais são: 
 Reforçar a dinâmica interna de cada indivíduo para descobrir seus 
valores, potencialidades e tornar-se mais autônomo; 
 Reforçar a autoestima individual e coletiva; 
 Redescobrir a confiança em cada indivíduo, diante de sua capacidade de 
evoluir e de se desenvolver como sujeito; 
 Valorizar o papel da família e da rede de relações em que vive; 
 Acender em cada indivíduo, família e grupo social, o sentimento de união 
e identificação com seus valores culturais; 
 Proporcionar o desenvolvimento comunitário por meio da restauração e 
fortalecimento de laços sociais; 
 Promover e valorizar as instituições sociais e práticas culturais 
tradicionais locais; 
 Favorecer a comunicação entre as diferentes formas do “saber popular” 
e “saber científico”; 
 Estimular a participação das pessoas no grupo como requisito 
fundamental para dinamizar as relações sociais, a partir do diálogo e da 
reflexão para que possa ser sujeito de sua própria transformação. 
Para a realização de um encontro de Terapia Comunitária, deve-se formar 
uma roda em que os participantes sentam-se lado a lado, possibilitando a 
visualização mútua e um sentimento de igualdade e inclusão que não se sabe 
 
37 
 
qual é o primeiro nem o último integrante da roda. É importante que o encontro 
de Terapia Comunitária seja conduzido por uma equipe composta por dois 
terapeutas comunitários. 
A Psicologia Social Comunitária é uma prática que tem um compromisso 
com os setores menos favorecidos da população, buscando contribuir para sua 
conscientização e mobilização. 
Por iniciar-se das relações cotidianas não é considerado um trabalho 
assistencialista, pois é centrado na perspectiva do indivíduo, não tem como foco 
psicologizar os problemas das pessoas e sim lidar com o diferente “analisando-
o como um produto de um processo de construção da dinâmica e das estruturas 
societais e comunitárias, que acabam tendo por incidência particular o indivíduo” 
(FREITAS, 2004). 
Inicialmente, os trabalhos em comunidades vêm de um levantamento das 
necessidades e carências vividas pelo grupo-cliente. Em seguida, procura-se 
trabalhar com os grupos populares, tendo como base métodos e processos de 
conscientização, “para que assumam o papel de sujeitos de sua própria história, 
conscientes dos determinantes sócio-políticos de sua situação e ativos na busca 
de soluções para os problemas mais enfrentados” ( CAMPOS, 1996). Busca-se 
ainda o desenvolvimento de consciência crítica. 
A técnica para a realização da Terapia Comunitária é desenvolvida em 
seis momentos, são eles: acolhimento, escolha do tema, contextualização, 
problematização, encerramento (rituais de agregação e conotação positiva), e 
por último, a avaliação. Assim são discutidos: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Momento 1 – Acolhimento 
 
38 
 
 
Fonte: www.maceio.al.gov.br 
Inicialmente devemos ambientar o grupo, deixando os participantes à 
vontade e contribuindo para que os mesmos sintam-se acomodados de maneira 
confortável. Normalmente nesse momento ocorrem dinâmicas de grupo com o 
objetivo de integração e relaxamento dos participantes. Essa etapa é realizada 
pelo primeiro terapeuta, que depois passa a palavra para o seu colega terapeuta 
para conduzir os outros momentos da Terapia Comunitária. Em seguida são 
dadas as boas-vindasao grupo e celebrado os aniversários do mês, como 
maneira de valorização das histórias de vida. Esta é uma etapa importante, 
favorece o aquecimento do grupo e sua participação. As pessoas podem 
participar a qualquer momento durante a realização da Terapia Comunitária. 
Para finalizar esse primeiro momento, o terapeuta comunitário conceitua a 
Terapia Comunitária e apresenta as regras para o funcionamento do encontro, 
quais sejam: 
 O silêncio, enquanto um participante estiver falando, os outros silenciam 
com atenção ao sujeito que está expondo sua história de vida; 
 Falar sempre na primeira pessoa do singular - eu - sobre a própria 
experiência e sentimentos; 
 Respeitar a história de cada pessoa, não dando conselhos ou sermões e 
não julgar o outro; 
 Entre uma fala e outra, pode ser sugerida uma música, um provérbio, um 
poema ou uma frase que ilustre a situação que está sendo narrada. 
 
39 
 
 
 
Momento 2 - Escolha do Tema 
 
Fonte:www.integranbdh.com.br 
Nessa etapa, o terapeuta comunitário estimula o grupo a falar acerca 
daquilo que o está incomodando. Em seguida as pessoas começam a falar de 
suas dificuldades e o terapeuta comunitário faz o registro. Ao final das falas, o 
grupo escolhe por votação um dos problemas apresentados que será o tema 
trabalhado no encontro. 
 
 
 
 
 
 
 
Momento 3 – Contextualização 
 
40 
 
 
Fonte: revistasimplesmente.com.br 
A contextualização é o momento em que a pessoa, apropriando-se do 
tema que foi eleito pela maioria dos integrantes, explica melhor a sua dificuldade. 
Nessa ocasião os participantes podem fazer perguntas no sentido de 
compreender melhor o problema abordado e o protagonista fica à vontade para 
só responder aquilo que quiser. 
O objetivo dessa fase é proporcionar uma reflexão a pessoa escolhida 
sobre sua própria vida, valorizando o potencial que a mesma tem para resolver 
suas questões. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Momento 4 – Problematização 
 
41 
 
 
Fonte: psiquecienciaevida.com.br 
Nessa fase, o terapeuta comunitário apresenta o mote, que é uma 
pergunta-chave, a qual define a situação-problema, promovendo a reflexão 
coletiva sobre o tema apresentado. Normalmente, usa-se o mote coringa, que 
consiste em um questionamento que possibilite a identificação dos participantes 
com o problema apresentado, que é: “quem já viveu uma situação parecida e o 
que fez para superá-la? ”. Os participantes passam a falar de si mesmos, 
ofertando suas experiências relacionadas ao mote e compartilhando de que 
maneira conseguiram superá-las. 
 
Momento 5 – Encerramento (Ritual de Agregação e Conotação 
Positiva) 
 
O final do encontro caracteriza-se pela conotação positiva que o terapeuta 
comunitário deve dar ao tema trabalhado naquele dia. Deve-se valorizar e 
agradecer o esforço, coragem, determinação e sensibilidade com que cada 
pessoa apresenta suas dificuldades para o grupo. Não se trata de valorizar o 
sofrimento, mas de reconhecer o esforço e a vontade de superar as dificuldades 
por cada um. Posteriormente o grupo forma um círculo, com todos de pé e 
abraçados, realizando movimentos pendulares com o corpo, e o terapeuta 
pergunta: “o que aprendi hoje nessa terapia? O que estou levando de 
aprendizagem? ” O encontro é sempre muito especial e emocionante, as 
 
42 
 
pessoas celebram com músicas, poesias, orações e falam do que aprenderam 
referindo-se aos seus valores e crenças, é um momento de reflexão acerca do 
vivenciado. 
 
Momento 6 – Avaliação 
 
Este passo é reservado à equipe que conduz a terapia. São preenchidas 
fichas para o acompanhamento dos encontros de Terapia Comunitária, 
avaliando o impacto nas pessoas a partir da participação de cada uma, os temas 
escolhidos e como foram superadas as dificuldades apresentadas. É também 
avaliada a condução da terapia pela equipe de terapeutas comunitários. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
43 
 
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