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SÍNDROMES HIPERTENSIVAS NA GESTAÇÃO Epidemiologia • Principal causa de morte materna no Brasil • Causas de morte obstétricas diretas entre 1996 e 2018: 1. Hipertensão 2. Hemorragia 3. Infecção puerperal 4. Abortamento Fisiologia • Multifatorial • Disfunção endotelial sistêmica • Células trofoblásticas invadem o útero e as arteríolas espiraladas → Obstruem o lúmen até a 11ª semana (protege o feto na organogênese) → ERRO: não ocorre a invasão e remodelação pelo trofoblasto na segunda onda, logo, a camada externa muscular permanece e o fluxo sanguíneo não aumenta (alta resistência e baixo fluxo). MAS POR QUÊ? o Adaptação imunológica Exacerbação da reação materna à presença dos novos tecidos (feto e placenta), que funcionaram como um “aloenxerto semi-heterólogo” (metade de origem paterna) o Incompatibilidade genética HLA (antígeno leucocitário humano) e linfócitos NK, fundamentais para que o organismo materno não reconheça o feto como corpo estranho, facilita a invasão e possibilita a aceitação no tecido estranho Fatores de risco • História previa de pré-eclâmpsia; • Primigesta; • História familiar de pré-eclâmpsia em parente de primeiro grau; • Diabetes clínico; • Hipertensão arterial crônica; • LES; • SAAF; • IMC>30; • DRC; • Gestação múltipla; • Idade materna avançada. Hipertensão arterial crônica Diagnóstico • PAS>140mmHG e/ou PAD >90mmHg com duas medidas no intervalo mínimo de 4h • Antes da 20ª semana de gestação • Deve permanecer após 12 semanas após o parto Manejo • Dieta com restrição de sal • Consultas mensais até 28 semanas, quinzenais até 34 semanas e então semanais • Avaliação laboratorial (para descartar alterações e PE sobreposta) • Se possível, USG mensal • Individualizar outros exames: eletrocardiograma, fundo de olho • Tratamento anti-hipertensivo medicamentoso o Meta: PAD <ou= 85 mmHg Classe Agente Posologia Simpatolíticos de ação central METILDOPA Comprimidos de 250 e 500mg 750 a 2000mg/dia 2 a 4x/dia Bloqueadores de canais de cálcio NIFEDIPINO de liberação rápida Comprimidos de 10 e 20mg 20 a 60mg/dia 2 a 3x/dia Betabloqueadores METOPROLOL Comprimidos de 25, 50 e 100mg 100 a 200mg/dia 2x/dia • Interrupção: se HAC bem controlada, até 39 semanas e 6 dias Pré-eclâmpsia sobreposta Diagnóstico • Esse diagnóstico é estabelecido quando: o A partir da 20ª semana de IG, ocorre o aparecimento ou piora da proteinúria o A gestante necessita de associações de anti-hipertensivos o Ocorrência de disfunção de órgãos-alvo Proteinúria > que 300mg em urina de 24 horas Amostra proteína/creatinina > 0,3 1+ em teste de fita Manejo • Manejo não medicamentoso • Orientação exaustiva • Monitoramento da PA residencial • Interrupção: o Se controlada: 37 semanas o Com sinais de gravidade: obedecer a manejo de PE grave Hipertensão gestacional Diagnóstico • Diagnóstico temporário • PAS ≥ 140mmHG e/ou PAD ≥ 90mmHg com duas medidas no intervalo mínimo de 4h • Após a 20ª semana de gestação • Deve desaparecer 12 semanas após o parto • Proteinúria negativa Manejo • Manejo não medicamentoso • Orientação exaustiva • Monitoramento da PA residencial • Interrupção: se controlada, 39 semanas e 6 dias (segundo MS) Pré-eclâmpsia (sem sinais de gravidade) Diagnóstico • Diagnóstico temporário • PAS ≥ 140mmHG e/ou PAD ≥ 90mmHg com duas medidas no intervalo mínimo de 4h • Após a 20ª semana de gestação • Deve desaparecer 12 semanas após o parto • Proteinúria positiva Classificação • PE precoce: < 34 semanas • PE tardia: ≥ 34 semanas • PE pré-termo: < 37 semanas • PE termo: ≥ 37 semanas Manejo • Manejo não medicamentoso • Orientação exaustiva • Monitoramento da PA residencial (alvo: PAS entre 110-140 e PAD < 85mmHg) • Interrupção: 37 semanas Pré-eclâmpsia grave Diagnóstico • Hipertensivo: PAS ≥ 160mmHg e/ou PAD ≥ 110mmHg, confirmada com intervalo de 15 min • Clínico: sinais de iminência de eclâmpsia (cefaleia, distúrbios visuais como fotofobia e escotomas, epigastralgia) • Laboratorial: insuficiência renal, caracterizada pela elevação da creatinina (Cr ≥ 1,2mg/dl) ou oligúria (< 500ml/24horas) e laboratório referente a síndrome HELLP • Síndrome HELLP • Eclâmpsia • EAP • Alguns outros sinais: dor de cabeça persistente, rápido ganho de peso, inchaço repentino das mãos e pés, visão embaçada, náuseas, vômitos e tontura excessiva, diminuição de urina Manejo • Afastar condições de interrupção imediata: o HELLP o Eclâmpsia o EAP (edema agudo de pulmão) o IRA (insuficiência renal aguda) o DPP (Descolamento precoce de placenta) o Alterações da vitalidade fetal • Internamento • Exames laboratoriais: o Hemograma o DHL (desidrogenase lática) o Bilirrubinas totais o Transaminase Oxalacética o Creatinina o Ureia, ácido úrico e TGP • Manejo farmacológico: 1. MgSO4 (proteção para convulsão, em caso de eclâmpsia) o Esquema Zuspan e Pritchard o Atentar-se para impregnação de magnésio: observar diurese, reflexos tendinosos, frequência respiratória o Se sinais de impregnação: gluconato de cálcio 10% MgSO4 Endovenoso (EV) Dose de ataque: 4g de MgSO4 Diluir 8ml de MgSO4 + 12mL de água destilada Aplicar IV em 5 a 10 minutos Dose de manutenção: 1 a 2 g/h Diluir 10mL de MgSO4 + 149mL de soro fisiológico Velocidade de 50mL/h Utilizar bomba de infusão identificada 1g/h = 50mL/h 2g/h = 100mL/h Intramuscular (IM) Recomendado para locais sem disponibilidade de uso de bombas de infusão e para transporte de pacientes Maior risco de abscessos e hematomas NÃO utilizar em caso de síndrome HELLP com plaquetopenia Dose de ataque: 4g intravascular + 10g intramuscular EV: diluir 8mL de MgSO4 + 12mL de água destilada e aplicar IV em 5 a 10 minutos IM: 10mL de MgSO4 IM no quadrante superior externo de cada glúteo (total de 20mL ou 10g) Dose de manutenção: 5g de 4 em 4 horas 10 mL de MgSO4 IM de 4 em 4 horas 2. Tratamento da crise hipertensiva 3. Otimização dos anti-hipertensivos Medicamento Posologia HIDRALAZINA Ampola de 20mg/ml A ampola de hidralazina contém 1 ml, na concentração de 20mg/ml. Diluir uma ampola (1ml) em 19 ml de água destilada, assim obtém-se a concentração de 1mg/ml Dose inicial: 5mg, via IV Repetir, se necessário: 5mg a cada 20 minutos Dose máxima: 30mg NIFEDIPINO Comprimido de 10mg Dose inicial: 10mg, VO Repetir, se necessário: 10mg a cada 20 a 30 minutos Dose máxima: 30mg NITROPRUSSIATO DE SÓDIO Ampola de 50mg/2ml A ampola de nitroprussiato de sódio contém 2 ml, na concentração de 50mg/2ml. Diluir uma ampola (2ml) em 248 ml de soro glicosado 5%, assim teremos a concentração de 200 mcg/ml Dose inicial: 0,5 mcg a 10 mcg/kg/min, infusão intravenosa contínua 4. Avaliar corticoide entre 24 e 34 semanas • Interrupção: 34 semanas HELLP Diagnóstico • H: hemolysis • E: elevated • L: liver enzimes • L: low • P: platelets Exame Parâmetro Hemólise Bilirrubina DHL > 1,2 mg/dl > 600U/L Alteração da função hepática TGO ou TGP > 70UI Plaquetopenia Plaquetas < 100.000/mm3 • Classificação de Martin (1983) para síndrome HELLP: o Classe I: < 50.000 plaquetas o Classe II: > 50.000 e < 100.000 plaquetas o Classe III: > 100.000 e < 150.000 plaquetas • Complicações o Hemorragia (SNC, fígado, ferida operatória, DPP) o CIVD (em especial, plaquetas < 50.000) o Eclâmpsia o DPP o Hematoma hepático o EAP ou ascite o Condição fetal não tranquilizadora o IRA o Morte materna o Prematuridade Manejo • MgSO4 • Controlar a PA • Avaliar prognóstico materno: interrupção imediata ou aplicar PIERS • Planejar hemoterapia: manter plaquetas acima de 50.000 para cesariana e 20.000 para parto vaginal • Programar o parto • Cuidados pós-parto: vigiar sangramentos, manter MgSO4 por 24 horasEclâmpsia Diagnóstico • Ocorrência de convulsão tônico-clônica generalizada em uma gestante ou puérpera com distúrbio hipertensivo Manejo • Os 10 passos no manejo da convulsão eclâmptica: 1. Aspirar as secreções e inserir um protetor bucal 2. Mediar a saturação de O2 e administra O2 a 8 a 10 L/min 3. Instalar solução de glicose a 5% em veia periférica 4. Recolher amostra de sangue e urina para avaliação laboratorial 5. Manter paciente em decúbito lateral 6. Administrar sulfato de magnésio 7. Administrar Nifedipina (VO) ou Hidralazina (IV) se PA ≥ 160/110mmHg 8. Inserir um cateter vesical de demora 9. Aguardar recuperação do sensório 10. Programar a interrupção da gestação • Interrupção: imediata Prevenção • AAS 100mg, iniciando na 12ª a 16ª semana até a 36ª semana • 1 alto risco ou 2 riscos moderados Fatores de risco associados à pré-eclâmpsia Risco considerado Apresentação clínica e/ou obstétrica ALTO História de PE, principalmente acompanhada de desfechos adversos Gestação múltipla Obesidade (IMC>30) HAC Diabetes tipo 1 ou 2 Doença renal Doenças autoimunes (ex.: LES, SAAF) MODERADO Nuliparidade História familiar de PE (mãe e/ou irmãs) Baixo nível socioeconômico Etnia afrodescendente Idade >ou= a 35 anos História pessoal de baixo peso ao nascer Gravidez prévia com desfecho adverso Intervalo > 10 anos desde a última gestação BAIXO Gravidez prévia de termo e sem intercorrências • Não existem preditores comprovados!