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EA
D
O Culto a Maria
4
1. OBJETIVOS
•	 Conhecer	e	refletir	sobre	o	culto	a	Maria.
•	 Compreender	a	importância	de	Maria	no	centro	da	histó-
ria	com	o	seu	filho	Jesus	Cristo.
•	 Identificar	e	analisar	a	veneração	a	Maria	no	Novo	Testa-
mento.
•	 Compreender	o	culto	marial	na	atualidade.
2. CONTEÚDOS
•	 Presença	de	Maria	na	vida	da	Igreja.
•	 Culto	a	Maria	hoje.
© Mariologia108
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
3. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE 
Antes	de	 iniciar	o	estudo	desta	unidade,	é	 importante	que	
você	leia	as	orientações	a	seguir:
1)	 Sobre	 a	 história	 do	 culto	 marial,	 confira	 as	 seguintes	
obras:	
a)	 SOLL.	 Maria in der Geschichte von Theologie und 
Frommigkeit.	In.	HM,	1984,	p.	93‑231.	
b)	 GAMBERO,	 L.	 Il culto mariano attraverso le varie 
epoche cultural.	In:	NDM,	1985,	p.	429‑436.	
2)	 Leia	os	livros	da	bibliografia	indicada,	para	que	você	am-
plie	seus	horizontes	teóricos.	Coteje‑os	com	o	material	
didático	e	discuta	a	unidade	com	seus	colegas	e	com	o	
tutor.
3)	 Utilize	o	Esquema de conceitos-chave para	o	estudo	de	
todas	as	unidades	deste	Caderno de referência de con-
teúdo.	Isso	poderá	facilitar	sua	aprendizagem	e	seu	de-
sempenho.
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
No	estudo	da	unidade	anterior,	você	foi	subsidiado	com	con-
teúdos	relacionados	aos	dogmas	marianos.
Já	nesta	unidade,	conheceremos	o	culto	a	Maria,	bem	como	
sua	importância	na	vida	da	Igreja.
5. PRESENÇA DE MARIA NA VIDA DA IGREJA
A	Virgem	Maria	de	Nazaré,	israelita,	filha	de	Abraão,	filha	de	
Sião	 (RATZINGER,	1990),	é	a	Mãe	do	Verbo	encarnado,	primeira	
discípula	de	Jesus	Cristo	(GARCIA	PAREDES,	1997),	membro	emi-
nente	da	 Igreja	 (At	1,	14),	 sendo	proclamada	mãe da igreja	por	
Paulo	VI	a	21	de	novembro	de	1964,	presença	ativa	e	exemplar	na	
vida	da	Igreja	(JOÃO	PAULO	II,	1987),	e	peregrina	e	nossa	compa-
109© O Culto a Maria
nheira	de	caminhada;	tudo	isso	mostra	a	importância	da	pessoa	de	
Maria	e	de	sua	presença	na	vida	da	Igreja.	
É	então	para	a	sua	glória	e	para	o	nosso	consolo	que	nós	procla-
mamos	a	Santíssima	Virgem	Maria	mãe da igreja,	isto	é,	de	todo	o	
povo	de	Deus,	tanto	dos	fíéis	como	dos	pastores,	que	nós	a	chama-
mos	Mãe	muito	amada;	e	desejamos	que,	doravante,	com	este	títu-
lo	tão	suave,	a	Virgem	seja	ainda	mais	honrada	e	invocada	por	todo	
o	povo	cristão	(DOCUMENTATION	CATHOLIQUE	(D.	C.)	6/12/1964,	
1544).
O	Papa	João	Paulo	II	inicia	a	sua	Carta	Apostólica	Tertio Mil-
lenio Adveniente	 lembrando	 as	 palavras	 do	 apóstolo	 Paulo:	 “Ao	
chegar	à	plenitude	do	tempo,	Deus	enviou	o	seu	Filho,	nascido	de	
mulher”	(Gal	4,	4).	E	a	plenitude	do	tempo,	segundo	o	Papa,	"iden-
tifica‑se	com	o	mistério	da	Encarnação	do	Verbo,	Filho	consubs-
tancial	ao	Pai,	e	com	o	mistério	da	Redenção	do	mundo”.	São	Paulo	
sublinha,	nessa	passagem,	que	o	Filho	de	Deus	nasceu	de	mulher,	
sujeito	à	Lei,	e	veio	ao	mundo	resgatar	quantos	estavam	sujeitos	à	
Lei,	para	poderem	receber	a	adoção	de	filhos.	E	acrescenta:	“Por-
que	sois	filhos,	Deus	enviou	aos	nossos	corações	o	Espírito	do	seu	
Filho	que	clama:	‘Abba,	Pai!’”.	
A	sua	conclusão	é	verdadeiramente	consoladora:	“Portanto,	
já	não	és	servo,	mas	filho;	e,	se	és	filho,	também	és	herdeiro,	pela	
graça	de	Deus”	(Gal	4,	6‑7)	(TM	1).	Certamente,	o	interesse	central	
de	Paulo	em	Gl	4,	4	é	o	nascimento	do	Filho	de	Deus,	do	Filho	con-
substancial	ao	Pai,	por	quem	veio	a	Redenção	do	mundo,	de	modo	
que,	como	diz	o	Papa,	se	trata	do	anúncio	do	mistério	da	Encarna-
ção,	e	para	a	realização	da	qual	teve	papel	decisivo	uma	mulher,	
que	historicamente	foi	a	Virgem	Maria	de	Nazaré.	
O	Novo	Testamento	reconhece	a	importância	de	Maria,	co-
locando‑a	no	centro	da	história	juntamente	com	o	seu	filho	Jesus	
Cristo.	É	importante	constatar	que	Paulo	ligou	não	somente	o	Filho	
de	Deus	com	a	história	do	mundo	e	da	salvação,	mas	também	a	
mãe	desse	mesmo	Filho,	e	que	Paulo,	com	seu	conhecimento	claro	
da	preexistência	e	da	divindade	de	Cristo	e	 igualmente	da	 reali-
© Mariologia110
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
dade	do	seu	nascimento	terrestre,	apresentou	as	duas	premissas,	
das	quais	decorre,	com	lógica	concludente,	o dogma fundamental 
de toda a doutrina marial: a maternidade divina dessa mulher.	
Nesse	sentido,	Gl	4,4	é	dogmaticamente	a	afirmação	mario-
lógica	mais	importante	do	Novo	Testamento.	O	apóstolo	dos	gen-
tios	começa	a	ligação	da	Mariologia	com	a	Cristologia	mediante	o	
testemunho	da	maternidade	divina	de	Maria	e	por	meio	do	início	
de	uma	visão	histórico‑salvífica	e	antropológica	do	seu	significado	
(SOLL,	1978).
Informação ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
João Paulo II deu muita importância a Gl 4, 4-6 na encíclica “Redemptoris Mater” 
(cfr. RM 1), insistindo particularmente sobre a ideia de que, na plenitude dos 
tempos, Deus enviou o seu Filho, em cumprimento das promessas, nascido sob 
a Lei e nascido de uma mulher. É significativo que esse texto tenha sido o ponto 
de partida da encíclica papal, explicando toda a sua doutrina marial a partir dele. 
Igualmente, é importante lembrar que o Papa inicia a sua Carta Apostólica Tertio 
Millennio Adveniente citando Gl 4,4, (cfr. TM 1). 
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
No	Novo	Testamento,	a	prioridade	é	o	anúncio	do	querigma,	
ou	seja,	o	anúncio	da	vida,	morte	e	ressurreição	de	Jesus	Cristo;	
porém,	já	podemos	falar	em	indícios	bastante	fortes	de	um	culto	a	
Maria,	sobretudo	no	Evangelho	de	Lucas.	
A	Igreja	antiga,	se	tivesse	tido	algo	contra	o	culto	marial,	cer-
tamente	teria	eli	minado,	na	formação	do	Cânon,	o	Magnificat	do	
evangelho	de	Lucas.	Disso	pode‑se	muito	bem	dizer	que	o	Magni-
ficat,	de	modo	especial	a	proclamação	marial:	“Do	ravante	as	gera-
ções	todas	me	chamarão	bem‑aventurada”	(Lc	1,48b),	tem	o	seu	
Sitz im Leben	no	culto	marial	que	começa	na	Igreja	antiga.	
Esse	culto	marial	não	é	posto	em	questão	também	por	Lc	11,	
27‑28,	em	que	Jesus	responde	à	mulher	que	lhe	dissera:	“‘felizes	
as	entranhas	que	te	trouxeram	e	os	seios	que	te	amamentaram!’.	
Ele,	porém,	respondeu:	‘Felizes,	antes,	os	que	ouvem	a	palavra	de	
Deus	e	a	observam’,	pois,	no	contexto	do	evangelho	de	Lucas,	o	
louvor	pronun	ciado	pela	mulher	é,	com	efeito,	repetição	do	louvor	
111© O Culto a Maria
pronunciado	inicialmente	por	Isabel:	“bendita	és	tu	entre	as	mu-
lheres,	e	bendito	é	o	fruto	do	teu	ventre!”(Lc	1,42).	
Lucas	não	teria	também	aceito	essa	tradição	na	redação	do	
seu	Evangelho	se	tivesse	havido,	no	seu	tempo,	uma	recusa	a	tal	
louvor	da	pessoa	da	mãe	de	Jesus	(MUSSNER,	1984).
Esses	dados	são	suficientes	para	concluir	que,	no	Evangelho	
de	Lucas,	se	encontram	já	claros	 indícios	de	um	culto	marial	em	
gestação	e	uma	doutrina	marial	com	os	seguintes	aspectos:
1.	 Maria	é	a	cheia de graça	(Lc	1,28);
2.	 Maria	é	a	virgem	intacta	(Lc	1,27.34);
3.	 Maria	é	a	mãe	do	Messias	(Lc	1,31‑33);
4.	 Maria	é	a	mãe	do	Filho	de	Deus	(Lc	1,35b);
5.	 Maria	é	a	desposada	do	Espírito	Santo	(Lc	1,35a);
6.	 Maria	é	a	obediente	serva do Senhor	(Lc	1,38);
7.	 Maria	é	o	exemplo	daqueles	que	creem	(Mãe dos que creem)	
(Lc	1,45);
8.	 Maria	é	o	exemplo	daquele	que	ouve	a	Palavra	de	Deus	 (Lc	
2,19.51b;	11,28);	
9.	 Maria	é	a	Mãe das dores	(Lc	2,35b);
10.	 Maria	 é	 a	 bendita	 entre	 todas	 as	mulheres	 e	 a	 proclamada	
bem	‑aventurada	por	todas	as	gerações	(Lc	1,42.48b)	(MUSS-
NER,	1984).	
Informação Complementar –––––––––––––––––––––––––––––
Convém notar que, para o contexto de libertação na América Latina, a doutrina 
marial de Lucas, de modo especial do Magnificat, é importante. Segundo Amato 
(apud Dicionário de Mariologia, 646): “E a própria Virgem Santíssima parece 
consciente da sua condição de libertada por Deus, já que o cântico do magnificat 
se revela como a ‘carta magna’ dessa Teologia da libertação (AMATO).” A 
Congregação para a Doutrina da Fé, na sua Instrução sobre a Liberdade Cristã e 
a Libertação n. 48, apresenta Maria como a representante dos pobres de Iahweh; 
ela mesma pobre, mas plenamente liberta, sendo, pois, facilmente reconhecida 
e identificada pelos pobres:“O senso da fé, tão vivo nos pequeninos, sabe 
reconhecer imediatamente toda a riqueza do Magnificat, ao mesmo tempo 
soteriológica e ética”.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
© Mariologia112
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
Esses	dados	do	Novo	Testamento	e	outros	textos,	especial-
mente	Jo	2,	1‑12;	19,	25‑27,	comprovam	que	a	veneração	e	o	cul-
to	a	Maria	não	são	uma	invenção	medieval	da	Igreja.	No	caso	do	
Magnificat:
É	claramente	um	hino	litúrgico	da	primeira	comunidade	cristã	que	
representa	os	sentimentos	de	Maria,	de	gratidão	e	gozo,	e	expri-
me	sua	fé	no	mistério	da	Encarnação.	Quando	se	põe	nos	 lábios	
da	Virgem,	o	Magnificat transforma‑se	num	cântico	da	Igreja	que	
exprime	aquilo	que	a	Mãe	do	Senhor	significa	para	ela.	
[...]
O	Magnificat	é	um	testemunho	muito	valioso	de	que	a	comemo-
ração	litúrgica	de	Maria	entrou	na	Igreja	antes	que	Lucas	escreves-
se	seu	Evangelho.	Isso	revela	que	Maria,	desde	a	Igreja	apostólica,	
forma	parte	da	Liturgia	e,	portanto,	da	vida	espiritual	dos	cristãos,	
os	quais	sempre	oram	segundo	a	fé	na	qual	foram	batizados	(GON-
ZÁLEZ,	1998,	n.p.).
Essa	veneração	a	Maria,	tão	evidente	no	Novo	Testamento,	
vai	se	desenvolver	nos	séculos	subsequentes	ao	período	neotesta-
mentário,	de	uma	forma	gradativa	e	sempre	crescente	na	vida	da	
Igreja,	na	sua	liturgia	e	na	devoção	do	povo	cristão,	tendo	aí	im-
portante	papel	o	sensus fidelium	ou	sensus fidei,	pois,	na	história	
do	desenvolvimento	do	dogma,	o	culto,	os	símbolos,	a	vivência,	a	
experiência	e,	sobretudo,	a	fé	vivida	precederam	as	proclamações	
dogmáticas	oficiais,	o	que	significa	que	o	dogma	surge	da	fé	viva	
da	Igreja,	fundamentada	na	Escritura	e	na	Tradição.	
Informação Complementar –––––––––––––––––––––––––––––
 “Sensus fidelium” e “sensus fidei” são expressões correntes na linguagem 
teológica para designar o sentido cristão ou o sentido da fé. A denominação 
“sensus fidei” seria, segundo Dillenschneider (1954), a menos equivoca, pois 
a fórmula sensus fidelium pode dar, às vezes, a impressão de que se trataria 
somente da fé dos simples, do povo, quando, na verdade, os representantes do 
Magisté rio também são fiéis autênticos. Para evitar esse inconveniente, alguns 
autores preferem servir-se de um termo de alcance mais geral, falando com 
“sentido da fé” ou “sentido cristão”; Franzelin fala mesmo em “consciência da 
fé” ou “consciência da Igreja”. A Constituição Apostólica Munificentissimus Deus 
de PIO XII usa muito as expressões “Christiani populi fides” e “communis fides 
Ecclesia”, que, algumas vezes, fazem referência aos elementos objetivos da fé 
abraçados pelo corpo eclesial sob a graça do Espírito Santo. Neste nosso estudo, 
utilizamos, de preferência, o termo “sensus fidelium”, que parece exprimir melhor 
a realidade que temos interesse em analisar, pois, à apresentação clássica de 
Dillenschneider, temos a mais recente de Tillard (1976), que faz a distinção entre 
fé popular e fé erudita. 
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
113© O Culto a Maria
A	 importância	de	Maria	na	 vida	da	 Igreja	 vai	 se	 confirmar	
pelas	proclamações	dogmáticas	que	aconteceram	no	decorrer	dos	
séculos:	
1.	 Maria,	Mãe	de	Deus	(Concílio	de	Éfeso,	431,	D	111a).	
2.	 Virgindade	Perpétua	de	Maria	(Concílio	Lateranense,	649,	DZ	
255s).	
3.	 Imaculada	Conceição	(Pio	IX,	8	de	dezembro	de	1854,	Bula	Ine-
ffabilis, D	1641).	
4.	 Assunção	de	Maria	 (Pio	XII,	Const.	Apost.	Munificentissimus,	
1º	de	novembro	de	1950,	AAS	42(1950),	D	2333).	
O	Concílio	Vaticano	II	confirmou	a	doutrina	marial	dos	con-
cílios	e	as	proclamações	dogmáticas	e	abriu	novas	perspectivas.	
A	intenção	básica	do	Concílio	foi	a	de	"esclarecer	com	empenho,	
tanto	a	missão	da	Bem‑aventurada	Virgem	no	mistério	do	Verbo	
Encarnado	e	do	Corpo	Místico,	como	os	deveres	dos	homens	re-
midos	para	com	a	Mãe	de	Deus,	mãe	de	Cristo	e	mãe	dos	homens,	
mormente	 dos	 fiéis",	 sem	querer	 ter	 tido	 a	 intenção	 de	 propor	
a	 doutrina	 completa	 sobre	Maria	 (LG	 142).	O	 importante	 é	 que	
Maria,	na	perspectiva	da	Lumen Gentium,	é	vista	no	mistério	de	
Cristo	e	da	 Igreja,	 e	não	 como	uma	 figura	 isolada	 (LG	140‑141).	
Além	desses	aspectos,	uma	 intenção	básica	do	Concílio	 foi	 a	de	
possibilitar	o	diálogo	ecumênico,	evitando,	no	documento,	termos	
que	pudessem	ferir	a	sensibilidade	ecumênica,	e	citando	os	textos	
bíblicos	comuns	às	confissões	cristãs	quando	se	trata	de	Maria	na	
Sagrada	Escritura.
As	proclamações	dogmáticas	vieram	revelar	a	natureza	pro-
funda	da	pessoa	de	Maria	e	sua	vocação	e	atuação	no	plano	salví-
fico	de	Deus,	natureza	essa	revelada	também	pelos	vários	títulos	
que	ela	tem	recebido.	Um	desses	títulos,	certamente	o	mais	 im-
portante,	é	Theotokos,	ou	seja,	Mãe	de	Deus	(D	111a).	Outro	título	
de	grande	significado	para	a	Igreja,	embora	fosse	já	conhecido	na	
antiga	tradição,	mas	que	recentemente	recebeu	uma	confirmação	
oficial	por	meio	de	Paulo	VI,	é	o	que	proclamou	Maria	como	Mãe	
da	Igreja	(MS	56	(1964),1015.	Cf.	tb.	D.C.	6/12/1964,	1544).	
© Mariologia114
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
Além	dos	títulos	oficiais,	a	devoção	popular	atribui‑lhe	tan-
tos	outros	títulos,	expressão	do	seu	amor	por	ela.	Um	desses	títu-
los	tão	frequente	no	meio	do	povo	é	o	de	Santa,	o	que	vem	ao	en-
contro	da	doutrina	de	isenção	de	pecado	do	dogma	da	imaculada	
conceição	e	a	noção	de	panagia,	ou	santíssima,	da	tradição	orien-
tal	e	reconhecida	pela	Lumen Gentium.	O	culto	de	hiperdulia	surge	
da	consciência	da	dignidade	de	Maria	como	Mãe	de	Deus	e	da	ple-
nitude	de	graça	que	daí	deriva	e	que	possibilita	um	culto	especial	
a	Maria	comparado	a	outros	santos	que,	por	sua	vez,	recebem	o	
culto	de	dulia (OTT,	1997).	Esse	culto	especial	vem	justamente	da	
consciência	da	suma	santidade	de	Maria	pelo	povo	de	Deus.
Os	 santos	 são	amigos	de	Deus	e,	na	 comunhão	deles,	 são	
também	nossos	amigos,	protetores	e	intercessores	junto	a	Deus.	
Nesse	sentido,	Maria	é	uma	santa	especial,	que	tem	intercedido	
pelo	povo	e	que	tem	vindo	em	socorro	dos	que	a	ela	 recorrem.	
Uma	invocação	tão	comum	entre	o	povo	em	uma	hora	de	aflição	
é,	por	exemplo,	“valei‑me	Nossa	Senhora!”.	
Na	América	Latina,	Nossa	Senhora	de	Guadalupe	"tornou‑se	
o	grande	sinal	de	rosto	materno	e	misericordioso,	da	proximidade	
do	Pai	e	de	Cristo	com	quem	ela	nos	convida	a	entrar	em	comu-
nhão"	(DOCUMENTO	DE	PUEBLA,	282).	Guadalupe	é,	também,	um	
exemplo	de	como	Maria,	a	primeira	evangelizada,	se	tornou	evan-
gelizadora,	pois,	como	em	Caná	da	Galileia,	ela	continua	dizendo:	
"fazei	tudo	o	que	ele	vos	disser"	(Jo	2,	5).	A	ela	podemos	nos	diri-
gir	dizendo	que	"queremos	ver	Jesus	–	caminho,	verdade	e	vida",	
lema	do	Projeto	Nacional	de	Evangelização	(2004‑2007)	da	CNBB.	
Maria,	com	toda	a	propriedade,	é	aquela	que	nos	pode	mos-
trar	Jesus,	pois	ele	é	o	bendito	fruto	do	seu	ventre	(Lc	1,	42),	de	
modo	que,	com	toda	a	confiança,	podemos	ter	Maria	como	a	pa-
trona	desse	projeto	de	evangelização	tão	importante	para	a	Igreja	
do	Brasil,	sabendo	que	o	desejo	dela	é	que	o	seu	Filho	seja	conhe-
cido	por	todos	e	que	a	mensagem	do	Evangelho	chegue	a	todos	os	
corações.
115© O Culto a Maria
6. CULTO A MARIA HOJE
Cristo,	do	alto	da	cruz,	confiou,	na	pessoa	do	discípulo	ama-
do,	a	Igreja	e	toda	a	humanidade	salva	pela	sua	morte	e	ressurrei-
ção,	a	Maria,	sua	mãe,	dizendo‑lhe:	“Mulher,	eis	o	teu	filho!”	(Jo	
19,26.	Em	contrapartida,	entregou	Maria,	sua	mãe,	à	Igreja	e	à	hu-
manidade	represen	tada	na	pessoa	de	João:	“eis	a	tua	mãe!”,	como	
dom	precioso	de	seu	amor	redentor,	querendo,	por	certo,	que	ela	
tivesse	lugar	especial	no	culto	cristão,	dado	o	significado	soterio-
lógico	decorrente	do	seu	papel	importante	na	história	da	salvação,	
mas	também	porque	Maria	é	dom	precioso,	como	os	dogmas	ma-
rianos	nos	revelaram,	oferecida	como	graça	personificada	para	ser	
aceita	na	nossa	vida	e	nosso	coração.	
Usando a noção de soteriologia, estamos, com efeito, projetando 
sobre Maria um conceito cristológico. Ao falar em significado 
soteriológico de Maria, pensa-se no sentido salvíficode Maria, 
mas como decorrência e intimamente ligado à redenção operada 
unicamente pelo Cristo (MÜLLER, 1980).
O	culto	a	Maria	será,	então,	a	expressão	de	nossa	gratidão	
e	do	nosso	amor	a	Jesus	Cristo,	que	a	ofereceu	como	nossa	mãe.	
Entretanto,	a	dignidade	de	seu	culto	decorre	do	fato	de	ser	ela	a:	
[...]	mãe	do	Verbo	encarnado,	e	por	isto	mesmo,	Mãe	de	Deus,	de	
uma	pessoa	divina	que	assumiu	a	natureza	humana.	Em	vista	de	
dignidade	tão	sublime,	em	vista	dos	merecimentos	de	seu	Filho,	ela	
foi	concebida	sem	pecado,	recebeu	o	privilégio	da	virgindade	per-
pétua	e	da	assunção	à	glória	celeste	em	alma	e	corpo	logo	depois	
da	morte	(GRASSO,	1977,	n.p.).		
A	 sua	presença	no	mundo	e	na	 Igreja	é	 também	presença	
efetiva,	pois	“pela	sua	materni	dade	divina,	ela	é	também	mãe	es-
piritual	dos	homens”	(GRASSO,	1977,	n.p.).	
Proclamada	Mãe da Igreja por	Paulo	VI,	cooperou	de	manei-
ra	pessoal	na	obra	da	redenção	e	continua	ainda	a	cooperar	pela	
sua	solicitude	maternal	na	intercessão	e	na	distribuição	das	graças	
(cf.	RM	21‑23).	
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Como	se	vê,	o	culto	de	Maria	não	é	simplesmente	o	culto	de	
modelo	ou	de	exemplo	a	seguir,	pois	a	sua	presença	na	Igreja	e	na	
vida	de	cada	cristão	é	ativa,	de	modo	que	o	nosso	culto	à	sua	pes-
soa	é,	também,	culto	ativo	e	dinâmico,	o	que	pode	ser	constatado	
de	maneira	especial	na	religiosi	dade	popular,	em	que	a	presença	
de	Maria	é	vivida	como	presença	eficaz,	o	que	fez	com	que	o	seu	
culto	seja	também	tão	rico	em	sentido	e	expressões.	
A	 tendência	 a	 considerar	Maria	 um	 simples	modelo	 a	 ser	
contemplado,	sem	que	a	sua	participação	na	vida	da	 Igreja	e	de	
cada	cristão	seja	reconhecida,	é	uma	tendência	que	começou	com	
a	influência	do	racionalismo.	“Sob	a	influência	do	racionalismo,	a	
veneração	religiosa	de	Maria	se	atrofiou	e	caiu	em	uma	pura	apre-
ciação	humana	de	um	sublime	exemplo	moral"	(OTT,	1997).
O	Concílio	Vaticano	II,	na	sua	Constituição	dogmática	Lumen 
Gentium, legitimou	o	culto	de	Maria	nos	seguintes	termos:	
Informação Complementar –––––––––––––––––––––––––––––
“À Mãe de Deus Maria deve-se o culto de hiperdulia” (Sententia certa) (OTT, 1957). 
Segundo Pinto de Oliveira, com a evolução do cristianismo, no desenvolvimento, 
sobretudo, da ideia da comunhão dos santos, cada vez mais a Igreja viu que 
Maria está em relação com os santos que estão na glória, e procurou também 
compreender uma certa hierarquia nesses santos. Por isso que há o primado 
dos Apóstolos, e, a partir daí, chegou-se à compreensão do lugar privilegiado 
de Maria. O culto de Maria desabrocha, então, dentro desse quadro de uma 
compreensão de comu nhão dos santos, do culto dos maiores santos, sobretudo 
daqueles que são fundadores da Igreja, os apóstolos; nesse momento, viu-se 
que a fundadora das fundadoras, aquela que está mais próxima do fundamento, 
é a Mãe de Deus. O culto a Maria é compreensível dentro dessa lógica interna da 
história da Igreja, de sua liturgia e da Tradição. O Concilio Vaticano II, por sua vez, 
mostra que o culto mariano não é facultativo, porque procede da verdadeira fé: 
“saibam os fiéis que a verdadeira devoção não consiste num estéril e transitório 
afeto, nem numa certa vã credulidade, mas procede da fé verdadeira pela qual 
somos levados a reconhecer a excelência da Mãe de Deus, excitados a um amor 
filial para com nossa Mãe e à imitação das suas virtudes” (LG 67) ( DE FIORES, 
S. Maria nel mistero di Cristo e della Chiesa. Roma, 1984, p. 147).
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
A	Vir	gem	Maria,	que	na	Anunciação	do	Anjo	recebeu	o	Verbo	de	
Deus	no	coração	e	no	corpo	e	trouxe	ao	mundo	a	Vida,	é	reconhe-
cida	e	honrada	como	verdadeira	Mãe	de	Deus	e	do	Redentor.	Em	
vista	dos	méritos	de	seu	Filho	foi	redimida	de	modo	mais	sublime	e	
117© O Culto a Maria
unida	a	ele	por	vínculo	estreito	e	indissolúvel,	é	dotada	com	a	mis-
são	sublime	e	a	dignidade	de	ser	Mãe	do	Filho	de	Deus,	e	por	isso	
filha	predileta	do	Pai	e	sacrário	do	Espírito	Santo	(LG	53).	
Continua	o	Concílio:	 “pelas	graças	que	ela	 recebeu	 supera	
de	muito	todas	as	outras	criaturas,	celestes	e	terres	tres”	(LG	53).	
Ela	é,	além	disso,	a	“Mãe	dos	membros	de	Cristo”,	“membro	su-
pereminente	e	de	todo	singular	da	Igreja,	como	seu	tipo	e	modelo	
excelente	na	fé	e	na	caridade”.	Em	vista	de	tudo	isso,	“a	Igreja	ca-
tólica,	instruída	pelo	Espírito	Santo,	honra‑a	com	afeto	de	piedade	
filial	como	mãe	santíssima”	(LG	53).	
O culto a Maria não se trata de um culto de adoração (cultus latriae) 
devido somente a Deus, e tampouco do culto de dulia devido aos 
santos, e sim do culto de hiperdulia (cultus hyperduliae), um culto 
intermediário entre o culto devido a Deus e aos santos (OTT, 1957).
Os	 fundamentos	 teológicos	 do	 culto	 de	Maria	 segundo	 o	
Concilio	são:	a	maternidade	divina,	que	confere	a	Maria	uma	digni-
dade	e	sobre‑eminência	especiais;	a	participação	nos	mistérios	de	
Cristo,	que	põe	Maria	em	relação	com	a	salvação	de	cada	membro	
do	povo	Deus;	e	a	sua	santidade	excelsa	e	glorificada	(DE	FIORES,	
1984).	
Segundo	 o	 Concílio,	 haveria,	 ainda,	 outro	 motivo:	 Maria	
exerce	 incessante	 intercessão	em	 favor	dos	homens	 (LG	66;	MC	
56),	e	a	sua	glória	nobilita	todo	o	gênero	humano,	pois	“Maria,	de	
fato,	é	da	nossa	estirpe,	verdadeira	filha	de	Eva,	se	bem	que	isenta	
da	mancha,	e	nossa	verdadeira	irmã,	que	compartilhou	plenamen-
te,	mulher	humilde	e	pobre	como	foi,	a	nossa	condição”	(MC	56).	
Enfim:
O	culto	da	bem‑aventurada	Virgem	Maria	tem	a	sua	razão	suprema	
de	ser	na	insondável	e	livre	vontade	de	Deus,	que,	sendo	a	eterna	
e	divina	Caridade	(Jo	4,7‑9.16),	realiza	todas	as	coisas	segundo	um	
plano	de	amor:	amou‑a	por	causa	de	si	mesmo	e	por	causa	de	nós	
e	deu‑a	a	si	mesmo	e	no‑la	deu	a	nós	(MC	56).
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Historicamente,	as	testemunhas	sobre	o	culto	mariano	nos	
três	 primeiros	 séculos	 são	 um	 tanto	 fragmentárias	 (DE	 FIORES,	
1984).	Nesse	período,	o	culto	de	Maria	esteve	intimamente	ligado	
com	o	culto	devido	a	Cristo	(OTT,	1957).	O	mais	antigo	testemunho	
escrito	é	o	texto	de	uma	oração:	Sub tuum praesidium,	em	um	pa-
piro	egípcio	do	final	do	século	3°	(DE	FIORES,	1984).	
Houve	 grande	 desenvolvimento	 do	 culto	 marial	 por	 meio	
da	festiva	legitimação	da	maternidade	divina,	defendida	por	Cle-
mente	de	Alexandria	no	Concílio	de	Éfeso.	Depois	disso,	Maria	é	
glorificada	 em	numerosas	 pregações	 e	 hinos;	 para	 a	 sua	 honra,	
constroem‑se	igrejas	e	introduzem‑	se	festividades	(OTT,	1957).	
No	curso	da	história,	o	culto	marial	conheceu	altos	e	baixos,	
mas	é	inegável	que	o	seu	culto	apareça	como	“fenômeno	irresistí-
vel	que	domina	toda	a	história	da	Igreja”	(SEMMELROTH	apud	DE	
FIORES,	1984).	Esse	desenvolvi	mento	é,	no	fundo,	orientado	pelo	
Espírito	Santo,	que	dirige	a	 Igreja	e	que	anunciou	na	Escritura	a	
convergência	dos	homens	em	tributar	o	louvor	a	Maria.	De	fato,	a	
Escritura	inspirada	põe	nos	lábios	de	Maria	as	palavras	proféticas:	
“Doravante	as	gerações	todas	me	chamarão	bem‑aventurada”	(Lc	
1,48).	“A	verdadeira	fé,	a	história	da	Igreja	e	a	profecia	da	Escritura	
dão	ao	culto	mariano	o	selo	da	autenticidade”	(DE	FIORES,	1984,	
n.p.).	
Esse	culto	marial	manifesta‑se	hoje	na	 Igreja	na	veneração	
cultual	 e	 existencial	 (BEINERT,	 1980).	 As	 diretrizes	 traçadas	 por	
Paulo	VI	na	Marialis Cultus, a	fim	de	promover	uma	genuína	refor-
ma	do	culto	mariano,	procura	situar	esse	mesmo	culto	no	contexto	
do	mundo	contemporâneo,	pois,	como	todo	fenômeno,	o	culto	de	
Maria	consta	de	expressões	ditadas	pelas	circunstâncias	históricas,	
pela	sensibilidade	e	pela	psicologia	dos	fiéis	e	pelas	diferentes	tra-
dições	culturais	dos	povos	(NUOVO	DIZIONARIO	DI	MARIOLOGIA).	
Paulo	VI	ilustra,	então,	quatro	notas	que	devem	distinguir	a	
devoção	válida	a	Maria	na	Igreja	de	hoje:	a	nota	trinitária	(MC	25);	
a	nota	cristológica	(MC	25;	cf.	LG	66);	a	nota	pneumatológica	(MC	
26);	e	a	nota	eclesial	(MC	28).	
119© O Culto a Maria
Para	reforçar	essas	orientaçõesfunda	mentais,	Paulo	VI	tra-
ça,	ainda,	outras	orientações	que	a	renovação	do	culto	marial	deve	
assumir.	Segundo	essas	orientações,	o	culto	marial	deve	viver	do	
espírito	da	Sagrada	Escritura	 (MC	30);	deve	orientar‑se	 segundo	
a	 liturgia	 da	 Igreja	 (MC	 31);	 deve	 ser	 animado	 pela	 vontade	 de	
alcançar	acordo	ecumênico	 (MC	32s);	e,	 finalmente,	em	sentido	
antro	pológico,	deve	focalizar	a	humanidade	genuína	que	a	figura	
de	Maria	manifesta.	Nesse	sentido,	Paulo	VI	diz:	
No	 culto	à	 Santíssima	Virgem,	devem	ser	 tidos	em	consideração	
também	as	aquisições	seguras	e	comprovadas	das	ciências	huma-
nas;	 isso	concorrerá,	efetivamente,	para	que	seja	eliminada	uma	
das	causas	de	perturbação	que	se	nota	nesse	mesmo	campo	do	
culto	à	mãe	do	Senhor;	quer	dizer,	aquele	desconcerto	entre	certos	
dados	deste	 culto	e	as	hodiernas	 concepções	antropológicas	e	a	
realidade	psicossociológica,	profundamente	mu	dadas,	em	que	os	
homens	do	nosso	tempo	vivem	e	operam	(MC	34).
Em	harmonia	 com	a	orientação	antropológica	preconizada	
por	Paulo	VI	é	que	o	culto	marial	pode	ser	analisado	também	sob	
o	enfoque	psicológico,	descobrindo,	na	figura	de	Maria,	a	possibi-
lidade	de	um	encontro	com	o	feminino	e	a	sua	integração,	abrindo	
a	via	para	a	dimensão	existencial	do	culto	marial.	
Se	a	veneração	cultual	se	exprime	na	Igreja	pelo	culto	litúr-
gico	 (MC	1‑15),	 nos	 exercícios	 de	piedade	 (tais	 como	o	Angelus 
Domini	e	o	Santo	Rosário)	(MC	40‑45)	e	no	culto	das	imagens	(SC	
125),	a	veneração	existencial	visa,	por	sua	vez,	ao	relacionamen-
to	pessoal	com	a	Virgem	Maria,	para	aprender	de	sua	vida	de	fé,	
porque	ela	é	nossa	mãe	e	irmã	na	fé;	da	sua	disponibilidade	e	hu-
mildade,	de	modo	que	o	comportamento	do	cristão	possa	mani-
festar‑se	no	abandono	 incondi	cional	e	 radical	à	palavra	de	Deus	
e	à	sua	ação,	acompanhado	da	esperança	na	sua	fidelidade	e	no	
seu	amor.	Além	disso,	Maria	representa	a	plenitude	do	feminino,	
o	feminino	totalmente	redimido,	de	modo	que	o	seu	impacto	exis-
tencial	como	símbolo	na	convivência	entre	homens	e	mulheres	e	
na	psique	humana	em	geral	é	vital.
© Mariologia120
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Um	dado	muito	importante	que	é	possível	constatar	na	his-
tória	do	desenvolvimento	do	dogma	marial	é	o	fato	de	que	o	culto,	
os	símbolos,	a	vivência	e	a	experiência	precederam	as	proclama-
ções	dogmáticas	oficiais.	Em	outras	palavras,	na	fase	da	fé	implíci-
ta,	o	cultual,	o	vivencial	e	o	simbólico,	como	a	linguagem	simbólica	
dos	padres,	é	que	dominaram.	Essa	fé	implícita	tornou‑se	explícita	
pela	conceitualização	dos	conteúdos	vividos	nas	formulações	dog-
máticas.	 Isso	 não	quer	 dizer	 que	o	 dogma	não	 estivesse	 já	 pre-
sente	na	fase	da	fé	implícita.	Mas	o	fato	é	que	somente	depois	se	
passou	do	símbolo,	do	vivencial	e	do	cultual	ao	nível	de	noções	e	
de	formulações	teológicas,	estéticas	ou	dogmáticas.
Com	o	passar	do	tempo,	o	perigo	é	que	se	dê	mais	atenção	
e	importância	às	formulações	nocionais	e	se	esqueça	daquilo	que	
as	precedeu.	Há,	também,	o	perigo	de	que	se	esqueça	de	toda	a	
gama	de	experiência	da	 fé	na	presença	viva	e	eficaz	da	Mãe	de	
Deus	no	meio	do	Povo	de	Deus	(sensus fidelium), e,	ainda,	o	capi-
tal	imenso	de	senti	mentos	religiosos	que	jorram	desse	contato	do	
povo	e	de	cada	cristão	com	ela.	
Assim,	para	que	o	dogma	mantenha	a	sua	vitalidade	como	
símbolo	da	fé	e,	também,	como	arquétipo,	impõe‑se	que	não	se	
perca	o	contato	com	essa	experiência	viva	da	fé,	pois,	caso	contrá-
rio,	corre	o	risco	de	se	tornar	fórmulas	rígidas,	endurecidas,	sem	
nenhuma	sintonia	com	a	vida	e	com	as	disposições	arquetípicas	
(JUNG).	
É	preciso	lembrar,	segundo	Pinto	de	Oliveira,	que	o	vivido,	ou	
seja,	o	implícito,	é	muito	mais	vasto	do	que	aquilo	que	o	formulado	
conceitualmente	possa	explicitar.	Os	dogmas	são	evidentemente	
necessários	como	pontos	de	referência	para	que	não	haja	desvio	
da	fé	genuína,	e	para	que	não	se	perca	no	mundo	das	experiências	
subjetivas	e	do	vivido.
Seria	 necessário,	 então,	 estabelecer	 o	 contato	 do	 dogma	
com	a	 experiência	 vivida,	 sobretudo	 da	 experiência	 arquetípica,	
mediante	a	análise	da	relação	que	existe	entre	essa	experiência	e	o	
121© O Culto a Maria
“sensus fidelium”,	pois	o	arquétipo	Maria	constela	em	si	experiên-
cias	vitais,	tal	como	a	experiência	da	mãe	–	o	arquétipo	de	maior	
carga	emocional.
7. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
Confira,	a	seguir,	as	questões	propostas	para	verificar	o	seu	
desempenho	no	estudo	desta	unidade:
1)	 O	Novo	Testamento	reconhece	a	importância	de	Maria,	colocando‑a	no	cen-
tro	da	história	juntamente	com	o	seu	filho	Jesus	Cristo.	Explicite	a	importân-
cia	dessa	relação	e	os	seus	fundamentos	bíblicos	e	dogmáticos.
2)	 O	culto	a	Maria	 tem	fundamentos	claros	no	Novo	Testamento.	Mostre	os	
pontos	 principais	 dessa	 fundamentação,	 principalmente	 no	 Evangelho	 de	
Lucas.
3)	 O	Concílio	Vaticano	II	legitimou	o	culto	a	Maria.	Quais	os	pontos	principais	
dessa	legitimação?
8. CONSIDERAÇÕES
Nesta	unidade,	estudamos	o	culto	a	Maria,	sua	importância	
e	sua	presença	na	vida	da	Igreja.	
Com	tais	conhecimentos,	estamos	aptos	a	estudar,	na	próxi-
ma	unidade,	Maria	na	devoção	popular.	
Até	lá!
9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BEINERT,	W.	Perspectivas	 teológicas	da	piedade	mariana.	 In:	______.	O culto a Maria 
hoje.	São	Paulo,	1980.
DILLENSCHNEIDER,	 C.	 Le sens de la foi et le progrès dogmatique du mystère marial.	
Roma,	1954.	
DOCUMENTOS	DA	CNBB,	72.	Projeto	Nacional	de	Evangelização	(2004‑2007).	Queremos 
ver Jesus – Caminho, Verdade e Vida.	São	Paulo:	Paulinas,	2004.	
GRASSO,	D.	A mensagem de Cristo: síntese	de	 Teologia	 na	perspectiva	 da	história	 da	
salvação.	São	Paulo:	s.d.,	1977.
© Mariologia122
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JUNG,	C.	G.	GW	(Gesammelte Werke:	Obras	Completas	em	alemão)	11,	217	(294).
TILLARD,	 J.	 M.	 R.	 Le	 sensus	 fidelium.	 Réflexion	 théologique.	 In:	 Foi populaire et foi 
savante.	Paris,	1976.			
MÜLLER,	A.	Glaubensrede über die Mutter Jesu:	Versuch	ainer	Mariologie	 in	heutiger	
Perspektive.	Mainz,	1980.	
OTT,	L.	Manual de Teología Dogmática.	Barcelona:	Herder,	1997.
______.	L.	Grundriss der Katholischen Dogmatik.	1957.

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