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Disciplina Teorias de Língua e Segunda Língua Coordenador da Disciplina Profª. Sara de Paula 9ª Edição Copyright © 2010. Todos os direitos reservados desta edição ao Instituto UFC Virtual. Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida, transmitida e gravada por qualquer meio eletrônico, por fotocópia e outros, sem a prévia autorização, por escrito, dos autores. Créditos desta disciplina Realização Autor Profª. Andréia Turolo da Silva Profª. Lídia Amélia de Barros Cardoso Profª. Maria Cristina Micelli Fonseca Colaborador Prof. Antenor Teixeira Junior Profª. Cibele Bernardino Gadelha Prof. Damião Carlos Nobre Jucá Prof. João Tobias Lima Sumário Aula 01: Origem da Linguística ............................................................................................................... 01 Introdução ............................................................................................................................................... 01 Tópico 01: Origem da Linguística ......................................................................................................... 03 Tópico 02: Classificação das Línguas .................................................................................................... 08 Tópico 03: Aquisição de Língua Materna e Segunda Língua ................................................................ 11 Aula 02: O Estruturalismo ....................................................................................................................... 17 Tópico 01: Princípios básicos do estruturalismo .................................................................................... 17 Tópico 02: A Teoria do signo linguístico e a relação língua materna e segunda língua ........................ 21 Tópico 03: Desenvolvimento de linguísticas estruturais na Europa e na América ................................ 27 Aula 03: Gerativismo ................................................................................................................................ 35 Tópico 01: Princípios Básicos do Gerativismo ...................................................................................... 35 Tópico 02: A Gramática Gerativa .......................................................................................................... 40 Tópico 03: A teoria gerativa e a relação língua materna e língua estrangeira ....................................... 43 Aula 04: O Funcionalismo ........................................................................................................................ 47 Tópico 01: Princípios básicos do funcionalismo .................................................................................... 47 Tópico 02: A relação formalismo e funcionalismo ................................................................................ 51 Tópico 03: Funcionalismo e segunda língua – o modelo de Halliday ................................................... 57 Aula 05: Psicolinguística ........................................................................................................................... 62 Tópico 01: Linguística e processamento da linguagem ......................................................................... 62 Tópico 02: Métodos de pesquisa psicolinguística .................................................................................. 65 Tópico 03: A relação entre psicolinguística e aprendizagem de uma língua estrangeira ...................... 69 Aula 06: A Sociolinguística....................................................................................................................... 72 Tópico 01: Princípios básicos da Sociolinguística ................................................................................. 72 Tópico 02: A Sociolinguística Interacional ............................................................................................ 77 Tópico 03: Estudo da Interlíngua ........................................................................................................... 86 Teorias de Língua e Segunda Língua Aula 01: Origem da Linguística Introdução Aula 1 – Origem da Linguística Introdução Tópico 01: Origem da Linguística. Tópico 02: Classificação das línguas. Tópico 03: Aquisição de língua materna e segunda língua. Atividade de portfólio. Fórum. Aula 2 – Estruturalismo Tópico 01: Princípios básicos do estruturalismo. Tópico 02: Teoria do signo linguístico e a relação língua materna e segunda língua. Tópico 03: Desenvolvimento de linguísticas estruturais na Europa e na América. Atividade de portfólio. Fórum. Chat (tira-dúvidas). Aula 3 – Gerativismo Tópico 01: Princípios básicos do gerativismo. Tópico 02: A gramática gerativa. Tópico 03:A teoria gerativa e a relação língua materna e língua estrangeira. Atividade de portfólio. Fórum. Aula 4 – Funcionalismo Tópico 01: Princípios básicos do funcionalismo. Tópico 02: A relação formalismo e funcionalismo. Tópico 03: Funcionalismo e segunda língua – o modelo de Halliday. Atividade de portfólio. Fórum. Chat (tira-dúvidas). Tópico 01: Linguística e processamento da linguagem. Tópico 02: Métodos de pesquisa psicolinguística. Tópico 03: A relação entre psicolinguística e aprendizagem de uma língua estrangeira. Atividade de portfólio. Fórum. Aula 6 – Psicolinguística Tópico 01: Princípios básicos da sociolinguística. Tópico 02: A Sociolinguística Interacional. Tópico 03: Estudo da interlíngua. 1 Atividade de portfólio. Fórum. Chat (tira-dúvidas). Antes de entrar propriamente no tópico 1 do módulo de Teorias de língua e segunda língua, achamos importante ressaltar que este curso irá fornecer somente noções básicas sobre os tópicos listados na agenda do curso. Alguns dos tópicos abordados (como por exemplo, Psicolinguística e Sociolinguística) são ministrados na pós-graduação em caráter semestral. Isto significa dizer que no decorrer dos estudos de vocês, será possível perceber que vários dos tópicos abordados no modulo exigirão maior aprofundamento, demandando consequentemente, mais tempo, atenção e dedicação. Nossa intenção e que esse modulo abra caminhos, despertando a curiosidade de vocês por algumas das áreas de conhecimento aqui abordadas. Desejamos um feliz aprendizado, cheio de descobertas! 2 Teorias de Língua e Segunda Língua Aula 01: Origem da Linguística Tópico 01: Origem da Linguística VERSÃO TEXTUAL Caro(a) aluno(a), seja bem-vindo(a) ao tópico 1 da aula 1 do Módulo Teorias de Língua e Segunda Língua! É objetivo deste tópico reconhecer/identificar os conceitos básicos de linguagem, língua e linguística como ciência. Os objetivos específicos deste tópico referem-se ao reconhecimento dos seguintes aspectos: 11. Predisposição humana para utilizar a linguagem, 2.Todas as línguas são criativas, possuem uma gramática e sofrem mudanças com o tempo, 3.Todas as gramáticas, independente da língua materna falada, são semelhantes em seus fundamentos básicos, 4. Conhecimento gramatical é subconsciente para quaisquer falantes nativos da língua. O que é linguagem? "A linguagem é, assim, a forma propriamente humana da comunicação, da relação com o mundo e com o outros, da vida social e política, do pensamento e das artes". Marilena Chaui São inúmeros os textos e obras que se ocupam em esclarecer, definir e refletir sobre as questões da linguagem humana e sobre os fenômenos linguísticos. No entanto, atrelados a complexidade da linguagem e seus fenômenos, também podemos perceber o fascínio que ela exerce e que sempre exerceu sobre o homem. A variedade de possibilidades que a linguagem humana permite é assustadora. Não é de uma mera questão de nomear as coisas. A linguagem vai além. Através do uso da linguagem somos capazes de criar, transformar o universo no qual estamosinseridos, interagir com as pessoas e o mundo que nos circunda, viver em sociedade, falar sobre o passado e o presente, projetar os pensamentos para o plano futuro e exprimir nossa visão de mundo, por exemplo. Por tais razões, podemos afirmar com segurança que esse campo de estudo configura-se como vasto e abrangente. Não há quem discorde que aprender uma língua é fundamentalmente um grande feito. A curiosidade e os questionamentos que permeiam a linguagem e seu uso vêm em seus primórdios da filosofia. Foi a filosofia, que durante muito tempo, ocupou-se em questionar sobre a origem e as causas da linguagem. Chauí (2003) aponta que nos primórdios da Grécia, surge o questionamento: A linguagem é natural aos homens ou é uma convenção social? As visões daquela época baseiam-se nas obras de Aristóteles, Rousseau, Platão e Hjelmslev: 3 Aristóteles Fonte [1] Em sua obra Política, afirma que somente o homem e um animal político, isto é, social e cívico, porque somente ele é dotado da capacidade de comunicação através da linguagem. Os outros animais possuem voz, com as qual conseguem exprimir prazer e dor, no entanto, o homem possui a palavra (logos), com a qual pode exprimir o bom e o mau, o justo e o injusto (Chauí, 2003 p. 147). Rousseau Fonte [2] No primeiro capítulo do Ensaio sobra a origem das línguas, Rousseau apoia a afirmação de Aristóteles, assegurando que a palavra distingue os homens e os animais. A linguagem distingue as nações entre si. Não se sabe de onde é um homem até que ele tenha falado. (Chaui, 2003 p. 148). Ainda sobre a importância da linguagem, ele reitera que a linguagem nasce da profunda necessidade de comunicação. (Chaui, 2003 p. 147). Platão Fonte [3] No diálogo Fedro, dizia que a linguagem e um pharmakon (palavra grega, da qual vem o vocábulo farmácia, que em português se traduz por poção. Poção possui três sentidos centrais = remédio, veneno e cosmético). (Chaui, 2003 p. 147). Hjelmslev Fonte [4] Escrevendo sobre a teoria da linguagem, considera que a linguagem é inseparável homem, seguindo-o em todos os atos, sendo o instrumento graças ao qual o homem modela seu pensamento, seus sentimentos, suas emoções, seus esforços, sua vontade e seus atos, com o qual influencia e é influenciado, a base mais profunda da sociedade humana. (Chauí, 2003 p. 147). A partir daí, séculos mais tarde, chega-se à conclusão que a linguagem, entendida como capacidade de expressão inata aos seres humanos, é natural; mas as línguas, entendidas como a expressão humana, dadas determinadas características históricas, geográficas, econômicas, políticas e culturais, nas quais elas se circunscrevem, são convencionais. É importante ressaltar, no entanto, que uma vez uma língua seja constituída, ela passa a ser considerada e a funcionar como natural. De acordo com Martin (2003, p.55-56) a linguagem é o conjunto das condições que tornam possível a construção da língua. A linguagem apresenta as mesmas condições para qualquer língua, pois é inerente ao ser humano, ligada a espécie. Assim, toda criança que possua as capacidades mentais saudáveis é capaz de adquirir uma ou mais de uma língua, não importa qual seja. 4 Um problema fascinante é o da "origem" da linguagem: há quem defenda que a linguagem é inata, e outros que acreditam que a linguagem é adquirida socialmente. Este debate sempre nos leva a confrontar linguagem humana e linguagem animal. Sobre isso, Martin (op.cit.) diz que a linguagem animal pode ser simbólica, como é a linguagem humana, mas que não apresenta relação de signos, não apresenta predicação e nem conceitualização, que são características da linguagem humana. Ainda sobre a origem da linguagem, podemos acrescentar alguns aspectos: 1. A origem da linguagem seria a imitação dos sons naturais e animais 2. A linguagem nasce por imitação dos gestos 3. A linguagem nasce da necessidade 4. A linguagem nasce das emoções Precisamos notar que essas afirmações não são excludentes, isto é, a linguagem, muito provavelmente nasceu da combinação de todas as formas de expressão citadas anteriormente. O que é a linguística? Fonte [5] Somente a partir do século XX é que a linguística avança em direção aos principais fundamentos que a formam propriamente. Uma boa explicação sobre o conceito de linguística é encontrada em Martin (2003) que diz que esta é, antes de tudo, uma disciplina empírica: ela incide sobre um objeto – as línguas e a linguagem. O objeto de estudos da linguística preexiste ao seu estudo, diferentemente de outras ciências, como a matemática ou a lógica, pois a linguagem matemática ou lógica não existe sem o matemático ou o lógico. As línguas naturais, como o português, o espanhol, o francês, o inglês etc. não têm nenhuma necessidade do linguísta para existir. O primeiro objetivo do linguísta, assim, é descrever o que a realidade lhe propõe. Mas é preciso entender, como ponto de partida, que a língua (o português, o espanhol, o inglês) não é diretamente observável. O que podemos observar são produções linguísticas. Assim, a língua em si só pode ser objeto de uma construção teórica. Dessa maneira, a linguística é obrigatoriamente uma ciência teorizadora, no sentido de que é tarefa do linguista não somente descrever a língua, mas também explicá-la, dizer por que os fatos são como são. 5 Devemos entender também que uma explicação não pode escapar a uma teoria, que prediz o que é possível e exclui o que não é possível na língua estudada, e que explique as razões para isso. Vamos considerar os seguintes fundamentos: "O que é língua"? No caso dos brasileiros, há a imediata associação com o português. Não resta dúvida que o português é a língua usada por uma vasta gama de habitantes (por volta de 190 milhões) que atualmente vivem no país. Então, o português, no Brasil, é o sistema de comunicação mais usado por seus habitantes, ou seja, a língua dos brasileiros. Sabemos também que não é a única língua falada por nossos compatriotas, assim como reconhecemos as variações regionais. Um ponto geralmente aceito na linguística é o de que a complexidade dos objetos de estudo, a linguagem e as línguas, torna imperativa a necessidade de estabelecer uma seleção entre os fenômenos a serem descritos. Quem primeiramente reconheceu essa necessidade foi o próprio Saussure, na célebre afirmação de que "outras ciências trabalham com objetos dados previamente e que se podem considerar, em seguida, de vários pontos de vista; em nosso campo nada de semelhante ocorre. (...) Bem longe de dizer que o objeto precede o ponto de vista, (...) é o ponto de vista que cria o objeto" (Saussure, 1977, p. 15 apud Pezatti, 2005, p. 165). Na visão saussuriana, a linguagem, tem a característica específica de ser articulada, podendo ser desmembrada em unidades significativas menores. A língua é o resultado que vem a partir da capacidade humana de produzir signos e colocá-los em um sistema. Note-se que dessa forma, há a particularização do termo ao considerarmos a inserção do âmbito social. Assim, a língua é o objeto de estudo da linguística. A fala, por sua vez, é a execução solitária da significação do mundo, restringindo-se ao âmbito do falante, usuário, que com suas características e capacidades próprias exprime seu pensar. Nesse sentido, vamos, em termos de abrangência a partir do fenômeno linguístico, que conota a generalidade máxima, constituindo o termo linguagem; para a particularidade, compondo o termo língua; chegando a individualidade, que por sua vez, circunscreve o termo fala. PARADA OBRIGATÓRIA Clique a seguir e leia o texto de Ataliba T. de Castillo – O que se entende por língua e linguagem? [6] Ainda na exploração do questionamento acerca dos conceitos de língua e linguagem, VAMOS pensar na abrangência que ele possui. Recorram a consulta do dicionário, entrevistem brevemente 6 duas pessoas de faixa etária distinta (ex: um adolescente e um adulto nafaixa dos 50 anos) e anotem suas respostas (elas serão postadas na atividade de fórum). A partir das entrevistas e dos vários significados encontrados, elabore a amplitude das noções de língua. RESUMINDO A principal característica da linguagem humana é a criatividade. A linguagem é usada na medida em que seus usuários a veiculam objetivando a comunicação, expressão e o pensamento. A linguagem é um sistema de sinais com função indicativa, expressiva, comunicativa e conotativa e os falantes de uma língua tem acesso a uma gramática, que representa um sistema mental (sub- consciente) que permite com que frases e orações ora inéditas, ora familiares sejam formuladas e interpretadas. A gramática é responsável por regular a maneira como a língua é articulada e percebida, assim como pelos padrões de sons emitidos, pela formação de palavras e orações e pela interpretação que realizamos. Toda e qualquer língua é detentora de uma gramática que se faz semelhante quando consideramos sua capacidade potencial de expressão. Todo e qualquer falante de uma língua possui o conhecimento (subconsciente) da gramática em questão. A existência de tais sistemas linguísticos nos seres humanos é resultado da sua predisposição anatômica e cognitiva única. Estes aspectos não são encontrados em outras espécies. GRAMÁTICA O sentido de gramática ao qual nos referimos aqui é o intricado sistema de conhecimento que engloba sons, significados, forma e estrutura. Toda e qualquer língua é detentora de uma gramática que se faz semelhante quando consideramos sua capacidade potencial de expressão. Todo e qualquer falante de uma língua possui o conhecimento (subconsciente) da gramática em questão. A existência de tais sistemas linguísticos nos seres humanos é resultado da sua predisposição anatômica e cognitiva única. Estes aspectos não são encontrados em outras espécies. 7 Teorias de Língua e Segunda Língua Aula 01: Origem da Linguística Tópico 02: Classificação das Línguas Objetivos • Como línguas distintas podem ser classificadas de acordo com as semelhanças fonológicas, morfológicas e sintáticas. • Como as línguas se relacionam geneticamente. • A relação das línguas da família indo-europeia. Sabemos da existência de milhares de línguas e cada uma delas possui seus próprios sons, sintaxe e vocabulário. Porém, são os aspectos em comum dessas línguas que permitem com que os estudiosos da língua (linguístas) agrupem-nas com base nas semelhanças encontradas. Distinção entre língua e dialeto O teste básico para diferenciar língua de dialeto requer o reconhecimento do critério de inteligibilidade mútua. Por inteligibilidade mútua entendemos que as variações linguísticas empregadas por usuários de uma mesma língua são compreendidos por falantes das outras variações. Por exemplo: o português do Brasil e o português de Portugal são classificados como a mesma língua, embora com variações. Frequentemente são os fatores históricos, político-sociais, culturais e religiosos que passam a interferir ao abordarmos tais determinações linguísticas. Na linguística contemporânea, geralmente usamos três abordagens para classificar as línguas: Classificação genética Compreende classificar as línguas de acordo com sua descendência. Línguas que nasceram a partir da mesmo antecessor são agrupadas conjuntamente, por estarem geneticamente relacionadas. Tipologia linguística Compreende classificar as línguas sem considerar a sua composição genética, levando em consideração as características estruturais. Classificação aérea/geográfica Compreende a identificação das línguas de acordo com suas características em comum. Línguas em contato empregam com frequência palavras, morfemas, sons e ate características sintáticas umas das outras, o que faz com que elas se assemelhem, embora não façam parte da mesma composição genética. Clique aqui [7] e leia o texto da revista delta sobre tipologia das línguas, encontrado no endereço abaixo: 8 Quando o homem começou a falar, não se sabe ao certo... Cerca de 60 mil anos a.C. a hipótese de imitação dos sons da natureza é bastante aceita, como vimos anteriormente. Duarte, 2003, afirma que existem algumas teorias (Otto Jespersen) que exploram este aspecto: 1. Bow-wow: imitação dos sons de aves e animais 2. Pooh-pooh: sons nasceram como respostas naturais (instintivas) a dores, sustos, raiva, prazer e outras emoções 3. Ding-ding: surgimento por reações a estímulos externos 4. Yo-he-yo: pelo esforço físico no trabalho em conjunto, em ritmos, originando os cantos e depois a linguagem 5. La-la: impulsos românticos Como nasceu o Latim? Os Romanos viviam entre guerras e conquistas. É do conhecimento comum que desde a antiguidade eles tinham escolas e professores particulares, o que demonstra que compreendiam a importância da linguagem para a dominação de outros povos. O latim surgiu no centro da Itália, antiga região do Lácio. Era a língua dos camponeses, mercadores e soldados. O Latim pertence a família da línguas indo-europeias. Os primeiros registros escritos datam do século III A.C. O Latim deu origem a diversas línguas românicas (espanhol, português, francês, catalão, galego, romeno e italiano), influenciou línguas como o inglês e o alemão, ainda hoje servem de base para nomenclatura científica. Algumas curiosidades (Duarte, 2003. O guia dos curiosos): • Era composto de 4 mil palavras. • O alfabeto possuía 23 letras. O uso popular do latim terminou no império Bizantino dando lugar ao grego. O indo-europeu Não deixou registros escritos e por isso não se conhece a idade do idioma nem quais povos o utilizaram para se comunicar. Mesmo assim, seus rastros podem ser percebidos. Esse tronco linguístico pode ser percebido a partir dos pontos comuns entre diversas línguas europeias e asiáticas. Acredita-se que dele tenham sido originadas oito subfamílias: • Indo-iraniano (do qual o sânscrito foi originado) • Balto-eslávico • Germânico • Céltico • Itálico (que originou o latim) • Armênio 9 • Albanês • Grego Suas semelhanças lexicais e gramaticais implicam uma raiz comum: Etrusco Falado pelo povo que habitava a Etúria, antiga província italiana, atual região da Toscana. Os estudiosos asseguram que o latim sofreu sua influência. Grego clássico Falado pelo povo que habitava Atenas (entre 500 e 300 a.C.). Era a língua falada por pensadores de extrema importância e expressão como Platão e Demóstenes. O grego clássico é que deu origem ao grego comum, falado no período helenístico, do qual evoluiu o grego moderno. Sânscrito Origem na Índia, usado nas sagradas escrituras dos hindus, por isso é considerado uma língua sagrada e polida. Tupi Foi a língua mais falada no Brasil até o século XVIII, porém com a colonização portuguesa, e a repressão sofrida, sua disseminação foi ameaçada. Apesar de sua coibição pelo Marques de Pombal em 1758, muitos de seus termos ainda sobrevivem e são incorporados ao português que falamos atualmente. Leia aqui [8] (Visite a aula online para realizar download deste arquivo.) um texto sobre filologia e linguística. RESUMINDO Neste tópico procuramos nos centrar nos critérios usados pelos linguistas para classificar as línguas e ressaltar a enorme variedade de línguas encontradas no mundo. A tal diversidade linguística na qual nosso mundo atualmente se encontra vem sendo ameaçada. Entendemos inteligibilidade mútua como sendo as variações linguísticas empregadas por usuários de uma mesma língua que são compreendidos por falantes de variações distintas. Vimos também que alguns linguistas procuram classificar as línguas em termos das semelhanças e diferenças estruturais que elas apresentam, ou seja, em termos da tipologia linguística. Outro tipo principal de classificação se preocupa com a relação genética, ou seja, em estabelecer as famílias das línguas de acordo com sua descendência. Descobrimos também que a língua portuguesa nasce do latimvulgar tal como o galego e o castelhano, no período românico, mantendo até hoje uma gramática neolatina. 10 Teorias de Língua e Segunda Língua Aula 01: Origem da Linguística Tópico 03: Aquisição de Língua Materna e Segunda Língua Objetivos • Como a aquisição da língua é estudada. • Que fatores influenciam a aquisição da língua materna e da segunda língua. Como vimos no tópico 1 um dos aspectos mais fascinantes no desenvolvimento dos humanos e a capacidade inata para aprender uma língua. Algumas teorias se ocupam em explicar como a língua é aprendida. Exploraremos aqui três visões teóricas centrais sobre aquisição de língua materna. Na visão behaviorista, acredita-se que aprender uma língua é uma mera questão de formação de hábito e imitação. É ao receber input do ambiente em que está inserido que os bebês passam a reconhecer, imitar e praticar os sons familiarizando-se com os modelos de fala, até que em um dado momento de seu desenvolvimento passem a reproduzi-los. A explicação prática da teoria behaviorista é que o aprendizado da língua é intuitivo. Sob o invólucro dessa visão, imitação e prática são os processos iniciais no desenvolvimento da aquisição da língua. Imitação refere-se a repetição palavra por palavra de toda ou parte de uma frase qualquer produzida por um falante. O termo prática aborda a manipulação repetitiva da forma produzida. Ao contrário dos papagaios que repetem regularmente as mesmas frases, os bebes humanos repetem o que ouvem de maneira seletiva, tendo como base o contexto no qual estão inseridos. “Mesmo quando uma criança imita o que ouve, a escolha feita daquilo que está sendo imitado baseia-se no que a criança já sabe, ou seja, em seu conhecimento prévio, e não simplesmente no que está “disponível” no ambiente ". (Spada e Lightbown, 1993 pag. 3). Tradução da autora Uma das premissas admitida pelo behaviorismo é a de overgeneralization, que supõe que uma regra adquirida, passe a ser aplicada em todas as situações. Como por exemplo, quando a criança aprende que a terminação - OR é usada para designar algumas profissões que ele conhece, no caso, ex: jogad-OR, profess-OR, ele aplica a mesma regra a todos os casos ex; dirigid-OR, usando-a incorretamente. Outra premissa é o uso criativo do vocabulário, essa ideia quer dizer que a criança, no processo de aquisição de vocabulário, brinca com sentido das palavras, testando e criando possibilidades até que descubra os verdadeiros sentidos/significados. Mais uma premissa é quando a criança faz uso errado de uma sentença, repetidas vezes. Ao usar uma construção básica enquanto deveria fazer o uso de uma construção mais elaborada. Isso normalmente acontece quando a construção mais elaborada ainda não foi completamente adquirida. 11 A visão inatista, proposta pelo conceituado linguista Noam Chomsky do MIT, postula que as crianças são biologicamente programadas para a linguagem e os estágios de desenvolvimento da aquisição da língua materna na criança são os mesmos das outras funções biológicas. De acordo com Chomsky a aquisição da língua materna assemelha-se ao aprender a andar. O ambiente no qual a criança se encontra é responsável pela parcela de contribuição básica enquanto que a criança com suas capacidades biológicas inatas se encarrega do resto, desenvolvendo suas habilidades e adquirindo a língua materna. A ideia central da visão inatista é que a predisposição biológica da criança é o fator determinante para a aquisição. A tal predisposição biológica é conhecida como Language Acquisition Device (LAD). O termo, cunhado por Chomsky, descreve a caixa negra imaginária localizada no cérebro humano, responsável por conter os princípios universais a todas as línguas. Basta que a criança seja exposta a uma língua para que o mecanismo seja ativado. Quando o mecanismo é ativado, a criança descobre as regras e a estrutura da língua, no decorrer do processo interativo com o ambiente que convive. Posteriormente o termo Universal Grammar (UG) passou a substituir o termo LAD. O termo UG consiste na série de princípios comuns a todas as línguas que os humanos possuem em suas mentes. Um dos principais conceitos a ser explorado sob essa visão é a hipótese do Critical Period. Esta hipótese é importante, pois esclarece que há um período específico e limitado para a aquisição da língua materna (sugere-se que seja até a puberdade), depois do qual a aquisição da língua se tornará incompleta. A visão interacionista postula o papel de importância do ambiente linguístico no processo interativo com as capacidades inatas da criança. A noção que os interacionistas estabelecem é que a língua progride e se desenvolve como resultado da interação complexa entre as características humanas únicas da criança e o ambiente no qual ela cresce e se desenvolve. Mencionaremos a seguir três grandes correntes teóricas de aprendizagem de segunda língua. A corrente behaviorista, a corrente cognitivista e a corrente interacionista. A teoria cognitivista-interacionista A visão behaviorista se concentra na observação do comportamento dos aprendizes como reação a estímulos variados. Os behavioristas tentaram explicar a aprendizagem como um processo de modificação de comportamento, não levando em consideração os processos mentais envolvidos na aprendizagem. A ênfase estava no comportamento observável e na maneira como os seres vivos adaptavam seus comportamentos aos estímulos recebidos. O behaviorismo exprime a ideia de que a aprendizagem acontece de forma passiva. Dois nomes se destacam como pioneiros e propagadores da escola do behaviorismo. Primeiro Ivan Petrovich Pavlov, com o famoso experimento da salivação do cachorro (que ao escutar o barulho do sino começava a salivar), e posteriormente Frederic Skinner, com o experimento dos pombos na chamada "caixa de Skinner". Ambos os experimentos se baseavam nos reflexos apresentados por estes seres vivos. Skinner se apoiou na formulação do condicionamento operante. Para entender melhor estas questões é preciso esclarecer que comportamento operante é aquele governado pelas suas consequências. O comportamento respondente, por outro lado, observa como as 12 variações do ambiente modificam o comportamento. É uma interação estímulo-resposta incondicional e que independe da aprendizagem. Foi a partir da definição de condicionamento operante que Skinner desenvolveu todo o seu estudo. Para a corrente behaviorista o aprendiz é visto como um ser que se adapta ao ambiente. A aprendizagem é tida como um processo passivo no qual o aprendiz responde aos estímulos do ambiente que o cerca e o conhecimento dado é tido como absoluto. REFLEXÃO Reflita um pouco sobre a afirmação "a aprendizagem é um processo passivo". O que você acha? Publique no fórum a sua opinião. Na visão dos behavioristas, todo aprendizado, quer seja verbal ou não verbal, acontece pelo mesmo processo subjacente de formação de hábito. Os aprendizes recebem informação (input) linguística dos falantes (interlocutores) em seus ambientes e respondem a este "input" através de repetições ou imitações. Os erros são vistos como hábitos da língua materna que interferem na aquisição dos hábitos da segunda língua. Esta teoria de aprendizagem psicológica é chamada de Contrastive Analysis Hypothesis- Hipótese da Análise Contrastiva (Lightbown e Spada 1993, p. 23). Em suma, a visão behaviorista está baseada na formação de hábitos que levam a mudanças de comportamento. A principal ênfase é no novo modelo de comportamento adquirido através de inúmeras repetições até que o comportamento venha a se tornar automático. A teoria cognitivista As teorias cognitivistas surgiram como uma alternativa à perspectiva reducionista do behaviorismo que via a aprendizagem de línguas como resultado de um processo mecânico de formação de hábitos. Os cognitivistas analisam a maneira como as pessoas solucionam difíceis tarefas mentais e constroemmodelos para demonstrar essas explicações. A ênfase é no processamento mental ativo por parte do aprendiz. Os questionamentos embrionários da teoria cognitivista procuravam compreender as capacidades, os processos, as estratégias e as representações mentais básicas subjacentes ao comportamento inteligente apresentados pelos indivíduos no desempenho de tarefas. Lightbown e Spada (1993, p. 25) afirmam que os psicólogos cognitivistas tendem a ver a aquisição de uma segunda língua como a construção de um sistema de conhecimentos que pode eventualmente ser acionado automaticamente na produção e na compreensão de uma língua. A aprendizagem é um processo gradual, que ocorre através da experiência, da prática e também da instrução formal, até que os aprendizes sejam capazes de usar o conhecimento automaticamente (McLaughling, 1987). Os cognitivistas investigaram também o fenômeno da Reestruturação (restructuring), que resulta da interação entre o conhecimento previamente adquirido e a aquisição do conhecimento novo, que se encaixa no sistema já existente e o reestrutura, mesmo que não tenha sido praticado exaustivamente. Resumidamente, a visão cognitivista baseia-se no processo mental que está por trás do comportamento. As mudanças de comportamento são observadas, mas como resultado dos processos mentais do aprendiz. 13 Enquanto a Análise Contrastiva enfatizava fortemente os efeitos negativos da língua materna sobre o processo de aprendizagem da segunda língua, as concepções cognitivistas da aprendizagem de LE consideravam a língua materna (L1) como uma das fontes para a construção de hipóteses sobre a língua estrangeira (L2). A teoria da Construção Criativa busca entender como ao interagir com seu meio, os aprendizes constroem o que parece ser um verdadeiro sistema da língua que é na verdade uma série de regras de estrutura. Estas regras, a seu tempo, trazem um tipo de ordem ao caos linguístico sobre o qual eles se debruçam. Embora existam pesquisas sobre os processos cognitivos na aquisição de segunda língua, ainda não há análise exaustiva que permita ampla compreensão da influência desses processos. No entanto, vários teóricos admitem o fato de existir um componente cognitivo no processo de aprendizagem de uma segunda língua. Dois campos de pesquisa surgiram deste posicionamento. A tentativa de construção de um arcabouço teórico que descrevesse a proficiência na língua e a tentativa de explicar as influências na aquisição da segunda língua. Em busca de uma compreensão dos processos cognitivos envolvidos na aquisição de segunda língua, McLaughling (1983) propõe um modelo de processamento da informação. Neste modelo, o aprendiz é um organizador ativo da informação explicitada. Embora possua capacidades e habilidades de processamento limitadas, o aprendiz impõe seu próprio esquema cognitivo de modo a tentar organizar a informação. Este modelo admite que os aprendizes podem adquirir fluência na língua tanto ao usar o sistema de processamento descendente (top-down) imposto a partir do esquema interno, quanto ao usar o processamento ascendente (bottom-up) acionado a partir da informação externa. O processamento cognitivo ocorre, portanto, tanto no modo descendente quanto no ascendente, embora o nível de envolvimento cognitivo seja determinado pela interação entre as exigências das tarefas, os processos mentais e o conhecimento usado pelo aprendiz. A teoria cognitivista-interacionista Para os cognitivistas interacionistas, a aprendizagem é um processo pelo qual se ganha ou muda de ideias, perspectivas, expectativas, ou linhas de pensamento. Ao discorrerem sobre o processo de aprendizagem dos alunos, eles preferem usar os termos pessoas, ambiente psicológico e interação ao invés de organismos, ambiente físico ou biológico e ação e reação. Consequentemente, um professor behaviorista deseja ver a mudança no comportamento observável do aluno, enquanto que o interacionista espera poder ajudar o aluno a perceber e formular sua própria compreensão de problemas e situações significativas. Sob o invólucro da visão interacionista, a aprendizagem é uma mudança constante do conhecimento, das capacidades e habilidades, atitudes, valores e comprometimentos, que pode ou não ser refletida nas mudanças de comportamento do indivíduo. Nesta perspectiva, para que ocorra aprendizado, o "fazer" deve estar acompanhado da percepção do indivíduo das consequências daquele ato. Em outras palavras, a aprendizagem ocorre pela e como resultado da experiência. O simples fazer não constitui a experiência. Para que uma atividade possa ser considerada uma experiência, ela deve estar inter-relacionada com a percepção das consequências que a seguem. (Bigge e Sheremis, 1998) Para Schmeck (1988) o termo aprendizagem abrange três perspectivas. A primeira perspectiva é a da experiência (fenomenológica). Nesta perspectiva, a aprendizagem pode ser caracterizada de várias maneiras, e cada aprendiz possui sua maneira própria. Sob a segunda perspectiva, a de comportamento, pode-se dizer que a aprendizagem é uma mudança observável na reação do indivíduo a uma situação de estímulo igualmente observável. Sob a terceira e última perspectiva, a neurológica, a aprendizagem é o processo pelo qual o sistema nervoso é transformado pela sua própria atividade. São os caminhos ou as 14 pistas deixadas pelo pensamento, isto é, a atividade neural muda os neurônios que são ativos e que por sua vez mudam a base estrutural da aprendizagem. Para concluir gostaríamos que vocês acessassem o site do museu da língua portuguesa, cliquem no ícone textos para ler o texto de José Carlos P. Almeida Filho: Ensino de português como língua não materna: concepções e contextos de ensino [9] (Visite a aula online para realizar download deste arquivo.), e reflitam sobre algumas semelhanças e diferenças entre o ensino de L1 e L2. FÓRUM 1. Vamos refletir sobre as afirmações abaixo: a. A linguagem se constitui de a língua e a fala. A língua entendida como instituição social e sistema; e a fala compreendida como a palavra, ou o ato individual do uso da língua. b. A língua é uma totalidade, composta por signos, significante e significado. c. O signo é o elemento material da língua, o significante é um grupo organizado de signos; e o significado são os sentidos veiculados pelos signos. d. A relação dos signos e significantes com as coisas é convencional, ou seja, o uso das palavras para expressar um significado é condição necessária a todos os falantes da língua em questão. e. A língua é um código de emissão/recepção de mensagens. f. A língua é realizada pelos falantes de maneira inconsciente e criativa. Agora, escolha pelo menos duas afirmações e escreva as suas reflexões neste fórum. Não se esqueça de comentar as reflexões de pelo menos um colega. 2. Após a leitura do tópico 3: Reflita um pouco sobre a afirmação: “A aprendizagem é um processo passivo”. Dê sua opinião e publique no fórum. ATIVIDADE DE PORTFÓLIO Escolha um dos questionamentos para responder e publicar como atividade referente ao portfólio. 1. O que pode ser dito sobre o Latim? É uma língua morta, ou simplesmente evoluiu? 2. Pesquisem sobre a variedade linguística da Espanha. Quantas ramificações podem ser percebidas? Em quais regiões são faladas? As ramificações são consideradas línguas oficiais? 3. Depois da leitura do Texto de JOSÉ CARLOS P. ALMEIDA FILHO, O ensino de Português como língua não materna: concepções e contextos de ensino (Visite a aula online para realizar download deste arquivo.), reflita sobre algumas semelhanças e diferenças que podem ser apontadas ao confrontarmos língua maternal (L1) e L2. 4. Como você se sente ao aprender o espanhol? Descreva seu contexto de aprendizagem, aponte algumas características e reflita sobre como você acha que seu aprendizado pode se tornar mais eficiente. REFERÊNCIAS ARCHIBALD, John et al. Contemporary Linguistics:an introduction. Bedford St. Martins, 5ª edição. Boston/New York, 2005. 15 BENTES, A.M.; MUSSALIM, F.(Orgs.) Introdução à Linguística. São Paulo: Cortez Editora, 2ª ed.2005. 3 v. BIGGE, Morris L. and Shermis, S.Samuel. Learning Theories for Teachers.Addison Wesley Longman, Inc, 1999. CHAUÍ, Marilena. Convite a Filosofia. Editora Ática, 13a edição, 4a impressão, 2005. DOUGHTY, Catherine and LONG, Michael H. The handbook of second language acquisition. Blackwell Publishing Ltd, 2003. DUARTE, Marcelo. O guia dos curiosos: Língua Portuguesa. Editora Panda. São Paulo, 2003. ELLIS, Rod. The Study of Second Language Acquisition. New York: Oxford University Press, 1997. __________. Second Language Acquisition New York: Oxford University Press, 5a impressão, 2000. LIGHTBOWN, Patsy M. e Nina Spada. How Languages are Learned. Oxford Univeristy Press, 7a impressão, 1997. MARTIN, Robert. Para entender a linguistica: epistemologia elementar de uma disciplina. Parábola Editorial, São Paulo, 2003. MIOTO, C. (et al). Novo Manual de Sintaxe. Florianópolis: Editora Insular, 2ª ed. 2005. PINTO, J. P. Pragmática. In: MUSSALIM, F.; BENTES, A.C. (orgs.) Introdução à lingüística 2: domínios e fronteiras. São Paulo: Cortez, 2001. p. 47-68. SCHEMECK, Ronald R. Learning Strategies and Learning Styles. Plenum Press, NY, 1988. Fontes das Imagens 1 - https://www.timetoast.com/timelines/taxonomia-5a3ad03f-e0bf-4c4d-ab4c-ec415fabccf9 2 - http://www.infoescola.com/wp-content/uploads/2010/09/jean-jacques-rousseau.jpg 3 - http://www.pucsp.br/pos/cesima/schenberg/cientistas/platao2.jpg 4 - https://avent.savoirslibres.ca/louis-hjelmslev/ 5 - http://4.bp.blogspot.com/_13pKMZejnhQ/SSbvzetCh-I/AAAAAAAAA6E/yzO4HhM-E74/s1600-h/thestilltravelersdj0.jpg 6 - http://docplayer.com.br/5105722-O-que-se-entende-por-lingua-e-linguagem.html 7 - http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=s0102-44502006000200005 8 - http://www2.videolivraria.com.br/pdfs/14284.pdf 9 - http://museudalinguaportuguesa.org.br/wp-content/uploads/2017/09/ENSINO-COMO-LINGUA-NAO-MATERNA.pdf 16 Teorias de Língua e Segunda Língua Aula 02: O Estruturalismo Tópico 01: Princípios básicos do Estruturalismo VERSÃO TEXTUAL Caro(a) aluno(a), seja bem vindo(a) ao tópico 1 da aula 2 do Módulo Teorias de Língua e Segunda Língua. É objetivo deste tópico reconhecer os princípios gerais da proposta de Saussure para o estudo da linguagem. Os objetivos específicos deste tópico são os de identificar e comparar as relações distintivas entre língua e fala, forma e substância, sincronia e diacronia. Tenha uma boa aprendizagem! REFLEXÃO "Toda revolução científica, toda orientação teórica inovadora parte de um pequeno conjunto de metáforas que produzem um modo novo de enfocar os fatos a serem explicados." Rodolfo Ilari (2005, p. 57) Fonte [1] Você já jogou xadrez? Mesmo que nunca tenha jogado, certamente conhece pelo menos um pouco deste jogo praticado mundialmente, não é? Então, imagine-se incumbido da tarefa de ensinar o jogo a um amigo. Qual seria o seu ponto de partida? Você convidaria seu amigo para iniciar um jogo e, na experiência interativa, buscaria construir com ele o conhecimento desejado, ou você primeiramente explicaria as regras do jogo? Em suas reflexões sobre os fenômenos da linguagem, Ferdinand de Saussure [2] lança mão da metáfora do "jogo de xadrez". Com esta metáfora, Saussure define os princípios básicos da Linguística Estruturalista e, apoiando-se na noção de "valor", propõe uma série de distinções básicas, como língua x fala, sincronia x diacronia, forma x substância, significante x significado. PARADA OBRIGATÓRIA 17 Você deve estar se perguntando como Saussure compara o jogo de xadrez ao estudo da linguagem. Para saber sobre isso, clique aqui (Visite a aula online para realizar download deste arquivo.). Louis Hjelmslev [3] elaborou a distinção feita por Saussure entre forma e substância, ao chamar de forma tudo aquilo que uma determinada língua institui como unidades linguísticas através da oposição. Assim como para Saussure, para Hjelmslev a forma é oposta à substância, definida como suporte físico da forma, que tem existência perceptiva, mas não necessariamente linguística (Mussalim; Bentes, 2005, p. 61). SAIBA MAIS Para entendermos melhor a distinção entre forma e substância, vamos observar as palavras 'caro' e 'carro': é possível identificar uma diferença de pronúncia, ou substância, que implica em diferença na forma, ou seja, o elemento linguístico 'caro' é distinto de 'carro'. Mas, de acordo com o autor, se tomarmos em português a pronúncia apical da palavra 'carro', no falar gaúcho, e a pronúncia velar de 'carro', no falar cearense, teremos apenas distinção na substância, mas não na forma, já que a representação conceitual será a mesma (automóvel de quatro rodas, movido a combustível etc.) e, dessa maneira, esta última distinção não seria considerada pela análise linguística estruturalista. Outra distinção considerada por Hjelmslev refere-se a expressão e conteúdo. Observe a tabela a seguir proposta pelo autor e a explicação desta tabela feita por Rodolfo Ilari: Forma Substância Expressão Forma da expressão (carro – caro) (1) Substância da expressão (falar gaúcho e cearense - 'carro') (2) Conteúdo Forma do conteúdo (carro – carroça) (3) Substância do conteúdo (pensamento – diferentes representações de carro) (4) Descrição da tabela: Expressão: Forma da expressão(carro – caro); Substância da expressão: (falar gaúcho e cearense - 'carro'). Conteúdo: Forma do conteúdo:(carro – carroça); Substância do conteúdo :(pensamento – diferentes representações de carro). Para o linguista estruturalista, os quatro campos identificados como (1), (2), (3) e (4) sempre existem quando há linguagem; mas apenas a parte cinza tem interesse linguístico; por exemplo, a substância da expressão (identificada com os sons da fala) é encarada sem hesitação como o assunto de uma disciplina não-linguística – a fonética – à qual se atribui, 18 no máximo, um caráter auxiliar. Por sua vez, a substância do conteúdo, identificada com o pensamento, é deixada aos cuidados de várias disciplinas científicas ou filosóficas, que tratarão de estudar a realidade empírica e a maneira como é conceitualizada; esse trabalho de conceitualização sempre existe, mas só se torna "visível" para o linguista quando se traduz em diferenças que possam ser capturadas por testes de pertinência. (Ilari, 2005, p. 61). EMPÍRICA É o conhecimento que adquirimos no decorrer do dia. É feito por meio de tentativas e erros num agrupamento de ideias. É caracterizada pelo senso comum, pela forma espontânea e direta de entendermos. Essa forma de conhecimento, é adquirida também por experiências que vivemos ou que presenciamos que, diante do fato obtemos conclusões. É uma forma de conhecimento superficial, sensitiva, subjetiva, acrítica e assistemática. O conhecimento empírico é aquele que não precisa ter comprovação científica e esta também não tem importância. O fato é que se sabe e pronto, não precisa ter um motivo de ser. Esta teoria é chamada Glossemática e parte do princípio de que a língua é uma estrutura, isto é, uma entidade de dependências internas, que se conforma numa rede abstrata de inter-relações, uma espécie de álgebra da linguagem. De acordo com Borba (1984), deste ponto de vista, a análise linguística é realizada por comutação, aplicável tanto ao plano da Expressão (Substância Fônica) como ao do Conteúdo (Substância Semântica) e admite-se que há o mesmo tipo de relações operando nesses dois planos, por meio de relações combinatórias, como você pode ver nos exemplos trazidos. DESAFIO Pense em outros exemplos, na língua estrangeira que você estuda, que contemplem a distinção de forma e substância, ou só de substância, conforme as definições de Hjelmslev! FÓRUM "... a língua é um sistema que conhece somente sua ordem própria.Uma comparação com o jogo de xadrez fará compreendê-lo melhor. Nesse jogo, é relativamente fácil distinguir o externo do interno; o fato de ele ter passado da Pérsia para a Europa é de ordem externa; interno, ao contrário, é tudo quanto concerne ao sistema e às regras. Se eu substituir as peças de madeira por peças de marfim, a troca será indiferente para o sistema; mas se eu reduzir ou aumentar o número de peças, essa mudança atingirá profundamente a 'gramática' do jogo." (Saussure, 1995, p. 31-32). A partir das leituras realizadas e suas próprias reflexões, discuta neste fórum as seguintes questões: 1. Qual é o ponto de partida de Saussure: a experiência interativa de jogar ou a explicação das regras do jogo? 19 2. Por que a "substância" é deixada de lado, dando-se o interesse somente pela forma? 3. Você consegue encontrar pontos falhos nas propostas teóricas estudadas? Exemplifique os seus argumentos com dados dos textos lidos e não se esqueça de comentar as colocações de seus colegas. MULTIMÍDIA Sobre o conceito de vocábulo na obra de Mattoso Câmara [4] (por Margarida Basílio). Sobre Chomsky, estruturalismo e a fundação da linguística moderna [5] (por John Passmore). Sobre O estruturalismo e o ensino de línguas [6]. REFERÊNCIAS BORBA, F. S. Introdução aos estudos linguísticos. São Paulo: Ed. Nacional, 1984. CAMACHO, R.G. Algumas reflexões sobre as tendências atuais da linguística. In: Confluência. Assis: UNESP, 1994. ILARI, R. O Estruturalismo linguístico: alguns caminhos. In: MUSSALIM, F. BENTES, A.C. Introdução à Linguística: fundamentos epistemológicos. São Paulo: Editora Cortez, 2005, p. 53-92. MALMBERG, B. As Novas tendências da linguística: uma orientação à linguística moderna. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1974. SAUSSURE, F. Curso de linguística geral. São Paulo: Cultrix, 1995. 20 Teorias de Língua e Segunda Língua Aula 02: O Estruturalismo Tópico 02: A Teoria do signo linguístico e a relação língua materna e Segunda Língua Caro(a) aluno(a), seja bem vindo(a) ao tópico 2 da aula 2 Módulo Teorias de Língua e Segunda Língua! É objetivo deste tópico reconhecer a teoria do signo linguístico proposta por Saussure, e relacioná-la a questões de língua materna e estrangeira. Os objetivos específicos deste tópico são os de identificar a relação arbitrária e convencional entre significado e significante no signo linguístico, bem como sua natureza psíquica e social. Tenha uma boa aprendizagem! REFLEXÃO O que são "palavras"? Algumas definições populares giram em torno de vocábulo, ou uma unidade da língua falada ou escrita, ou o nome das coisas. Mas será que é isso mesmo? Será que a língua é uma nomenclatura? "Palavras", nas palavras de Marcelo Fromer e Sérgio Britto, podem ser entendidas como algo bem mais complexo do que as definições populares trazidas acima. Ouça a canção Palavras [7] gravada pelos Titãs, e reflita sobre o que é a "palavra". Clique aqui para ler a letra PALAVRAS Composição: Marcelo Fromer / Sérgio Britto Palavras não são más Palavras não são quentes Palavras são iguais Sendo diferentes Palavras não são frias Palavras não são boas Os números pra os dias E os nomes pra as pessoas Palavra eu preciso Preciso com urgência Palavras que se usem em caso de emergência Dizer o que se sente Cumprir uma sentença Palavras que se diz Se diz e não se pensa Palavras não têm cor Palavras não têm culpa Palavras de amor Pra pedir desculpas 21 Palavras doentias Páginas rasgadas Palavras não se curam Certas ou erradas Palavras são sombras As sombras viram jogos Palavras pra brincar Brinquedos quebram logo Palavras pra esquecer Versos que repito Palavras pra dizer De novo o que foi dito Todas as folhas em branco Todos os livros fechados Tudo com todas as letras Nada de novo debaixo do sol PARADA OBRIGATÓRIA Assim como os Titãs, Saussure de forma alguma acreditava que as palavras fossem uma nomenclatura, ou melhor, não acreditava que a língua fosse uma nomenclatura. Para evitar confusões, ele define o conceito de signo linguístico e o coloca como central nos estudos da linguagem. Leia aqui sobre O signo linguístico. (Visite a aula online para realizar download deste arquivo.) Descrição da imagem: Signo linguístico: significante + significado. 22 Você leu no texto anexo que Saussure definiu a língua como um sistema de signos. Agora vamos refletir sobre a natureza do signo e, então, da língua. Há três princípios básicos sobre a natureza dos signos: a arbitrariedade, a imutabilidade e a linearidade. Veja: Princípio da arbitrariedade Dizer que o signo linguístico é arbitrário significa dizer que ele é imotivado, ou seja, não há motivação ou laço natural na realidade que una o significante ao significado. Por este motivo, pode-se dizer simplesmente que não há relação intrínseca entre a sequência de sons e o conceito. O conceito ou significado de "árvore" não está ligado por uma relação alguma interior à sequência de sons /α:rvəri/, poderia muito bem ser representado igualmente por outra sequência de sons, desde que seu valor seja convencionado socialmente. Uma prova disso, trazida por Saussure (1995, p. 83) é o significado da palavra francesa bouef (boi), que tem por significante b-o-f de um lado da fronteira franco- germânica e o-k-s (ochs) do outro. O mesmo pode acontecer entre línguas diferentes, mesmo que sejam das mesmas famílias. Segundo o próprio Saussure, o contraditor ao princípio da arbitrariedade poderia se apoiar nas onomatopeias, como tic-tac ou au-au, por exemplo, que teria uma relação motivada, e não arbitrária. O linguista chega a considerar esta possibilidade, mas logo a descarta com argumentos de que são pouco numerosas e sua escolha é também, em certa medida, arbitrária, pois as onomatopeias para ele não passam de imitação aproximativa e já meio convencional de certos ruídos. Um exemplo da arbitrariedade das onomatopeias são as suas representações nas línguas diferentes, como o latido do cachorro no Brasil "au au" e nos Estados Unidos "woof woof". Princípio da imutabilidade Dizer que não há relação natural entre o significante e o significado num signo linguístico não significa dizer que ele poderá ser facilmente alterado. O indivíduo não tem o poder de mudar aquilo que o seu grupo linguístico aceitou. Isso significa dizer que o signo linguístico possui um valor socialmente convencionado e que não está sujeito a alterações individuais. Vemos assim, que noção de arbitrariedade se relaciona com a noção de imutabilidade que, por sua vez, se relaciona com a noção de valor linguístico: entende-se que cada língua organiza seus signos através de uma complexa rede de relações que não será reencontrada em nenhuma outra língua. Essa rede de relações se dá por oposição de traços numa relação negativa entre os signos de uma dada língua, ou seja, um signo se define pelo que os outros não são. Para entender melhor como um certo número de traços definem um signo por oposição veja o esquema pictórico abaixo: 23 Tomando o latim, "arbor" se define por meio de traços que não são encontrados em "equos", ou seja, a representação de um tipo de vegetal de uma ordem de determinada grandeza e com propriedades de forma determinadas, que permitem referir esta imagem a sequências sonoras bastantes diferenciadas das de "equos". Esta divisão é socialmente convencionada e arbitrária. Malberg (1974, p. 68) resume objetivamente esta questão dizendo que a combinação de um certo número de unidades acústicas com iguais "recortes" na "massa do pensamento"cria "um sistema de valores". Desse ponto de vista não há nada que impeça duas línguas, mesmo que da mesma família, como o português e o latim, de segmentar a realidade de modos diferentes, aplicando conjuntos diferentes de signos da mesma realidade objetiva. Princípio da linearidade Entendendo o caráter auditivo do signo, Saussuredefine o princípio de linearidade: o signo desenvolve-se no tempo, representa uma extensão que é mensurável numa só dimensão, ou seja, numa linha. Dessa forma, um signo linguístico se apresenta após o outro formando uma cadeia. Não há possibilidade de simultaneidade de dois elementos para o linguista. Essas cadeias, mais ou menos longas, nas quais vem inserir-se os elementos da língua, Saussure chama de sintagmas. Um elemento linguístico toma seu valor pelo fato de que está colocado em oposição ao elemento que o precede ou que o segue – ou com ambos – no sintagma. Na frase citada por Saussure: "se fizer bom tempo, sairemos", cada elemento recebe seu valor de ambivalência. Por exemplo, a relação com os demais elementos do sintagma, sobretudo com "fazer bom", que determina o valor do termo “tempo” como estado meteorológico, e não como duração temporal. Por outro lado, cada elemento linguístico suscita no falante ou no ouvinte a imagem de outros elementos. Todo elemento se encontra em relação com outros elementos do sistema linguístico. Saussure chama essas relações de associativas 24 ou paradigmáticas, por que todo elemento linguístico pode ser integrado num paradigma. Malberg (1974, p. 70) resume a teoria de Saussure sobre esse ponto dizendo que todo signo linguístico está em oposição a todos os outros, tanto no sintagma quanto no paradigma e recebe sua função em virtude desta oposição. Onde há a oposição, há identidade. CASO Relações de oposição e o valor linguístico no estudo da segunda língua. A língua é comparada a uma folha de papel, que vai sendo recortada por uma tesoura: é impossível recortar uma face do papel sem recortar simultaneamente a outra face (...) para se compreender cada uma das unidades que compõem uma língua, temos que relacioná-la (opô- la) a todas as demais unidades daquela mesma língua. Ilari, 2005, p. 62. Falar em valor linguístico do ponto de vista de Saussure é, antes de mais nada, ressaltar a natureza opositiva do signo. Porém, quanto a isso, Malberg (1974, p. 66) nos chama a atenção para um problema: se cada língua corresponde a um certo modo de mapear a experiência em estruturas verbais, devemos entender que nossas possibilidades expressivas ficam pré-determinadas pelo código que usamos? Alguns estruturalistas pensam que sim, outros dizem que tudo pode ser expresso em qualquer língua natural, e que a "tirania" que a língua exerce sobre nós não se manifesta pela impossibilidade de verbalizar o que quer que seja, mas pela obrigatoriedade de dizer certas coisas; por exemplo, quem quiser falar de um rio em Francês deve explicitar se trata-se de um fleuve ou de riviere. Rodolfo Ilari (2005, p. 61-65) também apontou esse problema com outros exemplos: "carne de boi ou de vaca", em português, pode significar o animal e o nome da carne. Em inglês, por um acidente histórico da conquista normanda da Inglaterra, os nomes dos animais, respectivamente "ox" e "cow", diferem-se de "beef", que não se aplica aos animais, mas serve para indicar de que animal procede a carne. O que Ilari quer dizer ao levantar este problema é que o senso comum ao qual Saussure se opôs é o de que "carne de vaca" equivale a "beef", porque ambos falam dos mesmos alimentos. Pela teoria saussuriana de valor, ao contrário, não há equivalência possível, pois a língua inglesa faz um recorte a mais ("ox", animal bovino x "beef", carne do animal bovino) que para o português não é pertinente. Ele reforça que o problema se agrava ao começarmos a pensar nos cortes da carne: picanha, maminha, chã de fora, etc. já que os cortes não são os mesmos. A crítica vem no sentido de que, ao falar em valor linguístico no sentido de Saussure, a relação significante e significado deve ser sempre considerada a luz do sistema linguístico em que o signo se insere, e não das situações práticas em que a língua intervém ou das realidades extralinguísticas de que permite falar. Esta é, no ponto de vista de Ilari, uma linguística que busca minimizar as relações que as línguas mantêm com o mundo - dá prioridade lógica às relações que se estabelecem no interior do sistema apenas. EXERCITANDO 25 Revisite a canção Palavras, dos Titãs, agora sob a luz da teoria do signo linguístico, de Saussure. Busque encontrar aproximações e distanciamentos entre o conceito "palavras", na canção, e "signo linguístico", na teoria de Saussure! LEITURA COMPLEMENTAR É importante que você visite o original: SAUSSURE, F. Curso de linguística geral. São Paulo: Cultrix, 1995. MULTIMÍDIA Vídeos Complementares Confira! Sobre Signos, em Português (por Samuel Lamberti) Semiótica - Peirce, Sausurre, Jakobson, Bakhtin e Lotman [8]. Sobre Teoria da Linguagem, em Inglês (por Manuel de Landa) Manuel De Landa. Theory of Language. 2009 [9] REFERÊNCIAS BORBA, F. S. Introdução aos estudos linguísticos. São Paulo: Ed. Nacional, 1984. CAMACHO, R.G. Algumas reflexões sobre as tendências atuais da linguística. In: Confluência. Assis: UNESP, 1994. ILARI, R. O Estruturalismo linguístico: alguns caminhos. In: MUSSALIM, F. BENTES, A.C. Introdução à Linguística: fundamentos epistemológicos. São Paulo: Editora Cortez, 2005, p. 53-92. MALMBERG, B. As Novas tendências da linguística: uma orientação à linguística moderna. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1974. SAUSSURE, F. Curso de linguística geral. São Paulo: Cultrix, 1995. 26 Teorias de Língua e Segunda Língua Aula 02: O Estruturalismo Tópico 03: Desenvolvimento de linguísticas estruturais na Europa e na América VERSÃO TEXTUAL Caro(a) aluno(a), seja bem vindo(a) ao tópico 3 da aula 2 do Módulo Teorias de Língua e Segunda Língua! É objetivo deste tópico reconhecer o desdobramento de linguísticas estruturais na Europa e na América. Os objetivos específicos deste tópico são os de identificar a escola de Praga, o funcionalismo de Martinet e Jakobson, e o estruturalismo americano, assim como apontar falhas nas propostas e encaminhamentos para novas práticas de pesquisa. Tenha uma boa aprendizagem! DESAFIO Vamos tentar resumir o que estudamos nos tópicos 1 e 2 a respeito dos fundamentos básicos da proposta saussuriana para o estudo da linguagem? O Estruturalismo Vimos que, para Saussure, o objetivo da Linguística é estudar a língua como um sistema de signos arbitrários, que tem natureza social, e não a fala, que tem natureza individual. SAUSSURE 27 A justificativa de Saussure ao eleger a língua como objeto de estudos é de que os fenômenos da língua se justificam pelo próprio sistema, diferentemente da fala, que é influenciada por fatores externos ao sistema. O que o pesquisador busca é estudar a língua cientificamente, em si mesma e por si mesma. A língua enquanto estrutura é entendida como uma entidade de dependências internas que se constrói numa rede abstrata de inter-relações, uma espécie de álgebra da linguagem, que seria um modelo para a descrição de línguas particulares. Como ponto de vista epistemológico, o estruturalismo parte da observação de que todo conceito num dado sistema é determinado por todos os outros conceitos do mesmo sistema e nada significa por si próprio, pois há sempre a necessidade das relações de oposição. No entanto, Saussure não deixou nenhum modelo acabado de análise linguística, ele propôs um programa de investigação que foi tomado como base por escolas que priorizaram a análise do sistema, lançando mão da concepção da língua enquanto forma (descarte a substância), e a preferência pela sincronia. Estas escolas se dividem basicamente em duas correntes: distribucionalista e funcionalista. A escola distribucionalista, mais reconhecida como estruturalismo americano, teve como principal pesquisador o linguista Bloomfield. Quanto às escolas europeias, destacam-se: o círculo linguístico de Praga e Roman Jakobson, a glossemática de Hjelmslev e o funcionalismo de Martinet. GLOSSEMÁTICA é a teoria da linguagem, elaborada pelolinguista dinamarquês Louis Hjelmslev, tendo por colaborador Hans Jorgen Uldall, segundo a qual a língua deve ser estudada com um fim em si mesma, livre de considerações fisiológicas, sociais, literárias etc. As demais teorias, até então, não fugiram a tais considerações, tratando, pois, a língua como um meio de algo, sem constituir um sistema autônomo. A teoria linguística de Hjelmslev foi estudada, sobretudo, pelo Círculo Linguístico de Copenhague. Trata-se da primeira teoria semiótica e acabada, responsável na formação da semiótica na França, segundo Greimas. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Glossem%C3%A1tica [10]. Para estas escolas, de uma maneira geral, a função principal da linguagem é a de instrumento de comunicação. Por isso, percebemos que a função informativa é a base da linguística estruturalista, como veremos a seguir. O Estruturalismo Americano Nos Estados Unidos, entre as décadas de 20 e 50, havia um projeto nacional dos linguistas de descrever as línguas indígenas do continente. Essa era uma preocupação antiga que carecia de um método para o estudo de todas as línguas ágrafas. O método foi construído a partir dos postulados de Saussure de que cada língua tem uma gramática própria, e as diferenças linguísticas determinam diferenças no modo como as várias culturas representam a realidade. Coerentemente com a proposta de Saussure, no estruturalismo americano as categorias gramaticais deveriam ser extraídas dos dados e não buscadas na tradição ou em experiências prévias de análise, assim reafirmava-se a tese saussuriana da arbitrariedade. 28 Fonte [11] Esta linguística foi representada principalmente por Leonard Bloomfield [12] que elaborou um sistema coerente de conceitos descritivos relacionados à descrição sincrônica de qualquer língua. Sua proposta era distribucionalista, no sentido de reunir um conjunto de enunciados para compor um corpus produzido pelos falantes e buscar descrever a organização do sistema, sua regularidade, sem questionar o seu significado. A exclusão do significado nas pesquisas estruturalistas americanas se justificava pela sua orientação indutiva, proposta por Bloomfield em sua obra mais influente "Language". Com isso, evitava-se que a intuição influenciasse a análise dos dados de maneira que algo não pudesse ser comprovado cientificamente. A intenção era produzir uma descrição exaustiva por meio da coleção de um corpus produzido por falantes, segmentá-lo e transformá-lo em sequências discretas de unidades. Na presença de um falante nativo da língua pesquisada, o linguista substituía aleatoriamente os trechos dessas sequências por outros trechos que mostrassem a mesma duração e, assim, o falante nativo o ajudava na avaliação da gramaticalidade das substituições em relação ao trecho inicial, independentemente do sentido. O foco da pesquisa estava na distribuição, pois o objetivo geral era verificar como uma unidade linguística se combina com as demais na cadeia falada. Assim eles identificaram as partes do discurso, e suas propriedades distribucionais em determinados ambientes sintáticos chegando às árvores sintagmáticas (Teixeira-Júnior, 2006). O círculo linguístico de Praga Os principais representantes desta escola são Troubetzkoy [13], Roman Jakobson [14] e Mathesius [15], que harmonizaram os pensamentos de Saussure e do psicólogo Karl Bühler [16], formulando uma concepção da comunicação mais rica que a de Saussure, conhecida como perspectiva funcional da sentença. Em Saussure, o que conta em sua concepção de comunicação é que os interlocutores tenham pleno controle sobre os elementos pertinentes dos signos linguísticos mediante os quais se comunicam. Espera- se que os falantes usem os signos linguísticos que compõem suas mensagens de modo tal que se reconheçam nesses signos todos os traços pertinentes que permitem identificá-los. Porém, este procedimento reduz de certo modo o processo de interpretação a uma questão de discriminação dos signos que se transmitem, e nada nos diz sobre o que acontece quando interpretamos. Mathesius indicou um caminho possível para entender o que acontece quando interpretamos ao lançar a ideia de que a comunicação afeta dinamicamente nossos conhecimentos e nossa consciência das situações, uma concepção dinâmica de comunicação, que se distribui de maneira desigual nos enunciados que efetivamente utilizamos para fins de comunicação: os enunciados comportam uma parte menos dinâmica - o tema, e uma parte mais dinâmica – o rema (Ilari, 2005, p. 69-70). 29 O autor também mostrou que estas duas funções comunicativas, o tema e o rema, são autônomas em relação à função sintática do sujeito e do predicado, e que em inglês e em checo são indicadas pela ordem das palavras e pela entoação. Compare os exemplos para entender melhor: 1. The duke [theme] gave my aunt that teaport [rheme]. 2. What the duke gave to my aunt [theme] was that teapot[rheme]. 3. What happened [theme] was that duke gave my aunt that teapor [rheme]. Fonte [17] Jakobson, a sua maneira, também foi funcionalista. Ele ampliou o modelo da teoria da informação, de Bühler, fazendo uma relação entre os elementos da comunicação e as funções envolvidas na comunicação verbal. Assim, Jakobson construiu o famoso quadro de funções da linguagem [18], atentando para o maior ou menor relevo dado aos vários fatores de uma mensagem típica (Teixeira-Junior, 2006). Mas o interesse maior de Jakobson foi a possibilidade de pensar num tipo de mensagem que retém a atenção dos interlocutores por suas próprias características, o que deu origem a uma linha de análise das mensagens literárias segundo a qual o texto poético não é aquele que nos interessa pelo assunto, mas sim aquele que nos atrai pelo tratamento da linguagem. Na poesia concreta, o linguista via uma forma de realização de ideias por meio de usos estéticos da linguagem. Por seu interesse pela poesia e a literatura, ficou conhecido como o "linguista dos poetas" (Ilari, 2005, p. 76). Além disso, Jakobson pesquisou a aquisição de fonemas em crianças e a perda da linguagem em pacientes com afasia. Assim, ele mostrou que, no nível dos traços e dos fonemas, funcionam alguns processos combinatórios que tiram partido de duas relações fundamentais: a contiguidade e a similaridade, as mesmas relações que, em outros níveis, garantem o funcionamento da gramática, e dão origem a figuras de linguagem fundamentais da metáfora e da metonímia. No campo da tradução, ao contrário do que postulava a teoria saussuriana, Jakobson afirma que tudo pode ser expresso em qualquer língua humana, e que as línguas não se distinguem por aquilo que podem dizer (pois todas podem dizer tudo), mas por aquilo que nos obrigam a dizer, quando queremos expressar algo. Para ilustrar isso, retomemos aquele mesmo exemplo já apresentado nos tópicos anteriores sobre o "rio" em Francês: deve-se explicitar se trata-se de um fleuve ou de um riviere. A glossemática 30 Fonte [19] Hjelmslev, já apresentado a você no tópico 1 desta aula, consolida uma forte tradição do estudo crítico da gramática. O linguista procurou aplicar a tese saussuriana de que as línguas se constituem como sistema de oposições: estudo das relações por meio das quais as línguas se estruturam. No entanto, segundo Ilari (2005), este autor é criticado por produzir textos abstratos e de difícil aplicação, fugindo à análise propriamente dita. Salvo as críticas, as contribuições do autor residem na sua explicação de como a forma e a substância se articulam com a expressão e o conteúdo, do par terminológico sintagma e paradigma e também a definição de conotação. A sua reflexão linguística é menos aderente ao significante, conseguiu dar enfoque estruturalista a significação, pois trata da significação por meio de matrizes de traços semânticos, um tipo de análise que enumera os componentes últimos da significação e por isso conhecida como análise componencial.Um exemplo disso é trazido por Ilari (2005, p. 71): um traço semântico (ou componente) pode anular a equivalência de dois signos, por exemplo, o traço semântico "brilho" relacionado à "cor negra" nas palavras latinas niger [+brilho] e ater [-brilho]. O funcionalismo de Martinet Fonte [20] O estruturalismo na França teve Andre Martinet [21] relacionando o termo 'função' a conceitos como: o caráter próprio da fala de ser instrumento de comunicação entre as pessoas; a possibilidade de fazer referência a objetos diferentes por meio de unidades linguísticas diferentes; e o tipo de relação gramatical que liga uma unidade sintática ao contexto sintático maior. Uma grande contribuição foi discutir com clareza a 'dupla articulação da linguagem', estabelecendo a existência, em toda língua natural, de dois níveis de oposição (e de combinatória): Aquele em que as unidades podem ser contrastadas de modo a fazer aparecer, simultaneamente, diferenças de forma e de sentido (esta é, para Martinet, a primeira articulação, 31 que corresponde muito aproximadamente às palavras), e aquele em que se podem pôr à mostra diferenças que apenas servem para distinguir unidades (esta é a segunda articulação, cujas unidades são os fonemas) (Ilari, 2005, p. 72). A primeira articulação consiste de unidades mínimas significativas, isto é, uma forma fônica dotada de um sentido. Por exemplo, em "eu" / "estar"/ "fome" / "com", cada palavra pode ser utilizada em outros contextos totalmente diversos com outros significados. Porém, ao utilizá-las como elementos mínimos da primeira articulação, podemos organizar nossos enunciados dentro das mais diversas situações de comunicação a partir de regras pré-estabelecidas de combinações (sintaxe). Pela segunda articulação podemos dividir cada morfema [22] em unidades ainda menores, desprovidas de sentido. Por exemplo, o morfema 'rat-' pode dividir-se nos fonemas /r/ /a/ etc. Neste plano, as unidades mínimas têm valor distintivo, pois quando as substituímos mudamos o sentido: /p/ /a/ /t/ 'pat-' diferente de 'rat-'. Martinet também contribuiu com a fonologia diacrônica propondo o conceito de economia: na cadeia da fala, os fonemas sofrem uma pressão no sentido de se assimilarem aos fonemas vizinhos, o que leva ao desgaste de algumas posições fonológicas, e a criação de algumas oposições fonológicas previamente inexistentes – há uma relação custo-benefício. Seu raciocínio mostrava que o que evolui na língua não são elementos isolados, mas sim as estruturas, e que é possível esperar ou predizer a evolução da estrutura analisando as propriedades que ela apresenta sincronicamente (Ilari, 2005, p. 72). OLHANDO DE PERTO O Estruturalismo no Brasil Segundo Ilari (2005), o estruturalismo chegou ao Brasil em torno de 1960 concomitante com o reconhecimento da disciplina como autônoma nos Cursos de Letras das principais universidades da época. Uma consequência disso foi a impressão de que a Linguística tem como objetivo autônomo a descrição da língua, identificada pura e simplesmente com a linguística estrutural, o que não é mais verdade. Hoje são poucos os linguistas brasileiros que se declaram publicamente como estruturalistas. Mas ficaram saldos positivos: o estruturalismo instaurou a crença de que a língua portuguesa tal como é falada no Brasil deveria ser tomada como objeto de descrição contrariando uma longa tradição normativa. Isso afetou os estudos do português padrão e variedades não padrão da língua passaram a ser consideradas como objetos legítimos de análise. Quando a orientação era normativa, acreditava-se que somente a variedade padrão era sistemática, e as variações eram consideradas "erro" ou "corrupção" da variedade padrão. Com a atitude descritiva da corrente Estruturalista, descobriu-se naturalmente que as variedades não padrão, como era considerado o português do Brasil, não era necessariamente uma estrutura pobre ou ineficiente, mas apenas uma estrutura diferente. Assim, variedades brasileiras da língua portuguesa e línguas indígenas ganham prestígio. Hoje o linguista brasileiro não precisa mais justificar seu espaço, apesar de não existir mais uma orientação hegemônica: outras orientações prestigiadas são o gerativismo, o funcionalismo e a análise do discurso. Sobre isso Ilari (op.cit.) nos lembra do projeto A Gramática do Português Falado, iniciativa de Ataliba Castilho, que contem mais de 40 pesquisadores em todo país com orientações variadas da linguística contemporânea. Mas há que se referenciar que o estágio da linguística brasileira hoje se deve ao Estruturalismo. 32 ATIVIDADE DE PORTFÓLIO Abaixo você verá críticas ao estruturalismo feitas por quatro grandes estudiosos da linguística. Busque nos textos lidos em toda aula 2 os pontos da linguística estruturalista que os linguistas abaixo estão criticando e resuma-os explicando o que você entendeu de cada ponto usando suas próprias palavras. Produza um texto de no máximo duas páginas, tomando o cuidado de fazer as referências de acordo com as normas da ABNT. O titulo da atividade deve ser “aula 2”. Consulte seu tutor para as orientações necessárias. 1. Uma grande crítica ao estruturalismo vem de Émile Benveniste (1902-1976), que diz que o estruturalismo teria negligenciado o papel essencial que o sujeito desempenha na língua. 2. Outra crítica ao estruturalismo foi acerca da oposição sincronia e diacronia. Eugenio Coriseu dizia que a possibilidade de delimitar a sincronia era uma ficção, pois a língua convive com mecanismos gramaticais e recursos lexicais que são fruto de diferentes momentos da história. O velho convive com o novo e isso caracteriza um estado de língua dado. 3. Michel Pêcheux criticou a linguística saussuriana porque ao retirar-se do campo da parole, a abordagem estruturalista teria transformado todos os fenômenos textuais e semânticos numa espécie de terra de ninguém. Ao descartar a fala como objeto de estudo científico, Saussure teria destruído simultaneamente a possibilidade de uma linguística textual, e a possibilidade de uma análise científica do sentido dos textos. 4. Outra crítica ao estruturalismo veio de Noam Chomsky, que diz que a linguística deveria se concentrar em algo que não é possível de se observar nem é perceptível aos sentidos. REFERÊNCIAS BORBA, F. S. Introdução aos estudos linguísticos. São Paulo: Ed. Nacional, 1984. CAMACHO, R.G. Algumas reflexões sobre as tendências atuais da linguística. In: Confluência. Assis: UNESP, 1994. ILARI, R. O Estruturalismo linguístico: alguns caminhos. In: MUSSALIM, F. BENTES, A.C. Introdução à Linguística: fundamentos epistemológicos. São Paulo: Editora Cortez, 2005, p. 53-92. SAUSSURE, F. Curso de linguística geral. São Paulo: Cultrix, 1995. TEIXEIRA-JUNIOR, A. Abordagens Linguísticas. Fortaleza: FGF, 2006. Fontes das Imagens 1 - http://blogdebrinquedo.com.br/wp-content/uploads/2008/05/xadrez-lego-knights_kingdom-01.jpg 2 - http://pt.wikipedia.org/wiki/Ferdinand_de_Saussure 3 - http://pt.wikipedia.org/wiki/Louis_Hjelmslev 4 - http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-44502004000300007&script=sci_arttext 5 - https://criticanarede.com/fil_chomsky.html 6 - http://e-revista.unioeste.br/index.php/linguaseletras/article/viewFile/1155/945 7 - http://www.youtube.com/watch?v=OQ3qJhap8Qw 8 - http://www.youtube.com/watch?v=BDXBqG60lLo&feature=related 9 - http://www.youtube.com/watch?v=kr11PhgyOOk 33 10 - http://pt.wikipedia.org/wiki/Glossem%C3%A1tica 11 - http://waiyu.bjfu.edu.cn/UserFiles/2006-9/28/200692831131661.jpg 12 - http://pt.wikipedia.org/wiki/Leonard_Bloomfield 13 - http://pt.wikipedia.org/wiki/Troubetzkoy 14 - http://pt.wikipedia.org/wiki/Roman_Jakobson 15 - http://en.wikipedia.org/wiki/Vil%C3%A9m_Mathesius 16 - http://pt.wikipedia.org/wiki/Karl_B%C3%BChler 17 - http://www.christianlehmann.eu/ling/gesch_sw/Roman_Jakobson_2_blu.jpg 18 - http://www.cyberartsweb.org/cpace/theory/luco/Hypersign/Jakobson.html19 - https://www.christianlehmann.eu/ling/gesch_sw/Hjelmslev/Hjelmslev_jung.jpg 20 - http://hablablah.habla.cl/imagenes/martinet.png 21 - http://en.wikipedia.org/wiki/Andr%C3%A9_Martinet 22 - http://pt.wikipedia.org/wiki/Morfema 34 Teorias de Língua e Segunda Língua Aula 03: Gerativismo Tópico 01: Princípios Básicos do Gerativismo VERSÃO TEXTUAL Caro(a) aluno(a), seja bem vindo(a) ao tópico 1 da aula 3 do Módulo Teorias de Língua e Segunda Língua. É objetivo deste tópico reconhecer os princípios gerais da teoria gerativista propostos por Noam Chomsky para o estudo da linguagem. Os objetivos específicos deste tópico são os de diferenciar o processo de aquisição da linguagem por crianças do ponto de vista behaviorista e do ponto de vista inatista, relacionar a gramática gerativa ao processo criativo de aquisição da linguagem e reconhecer a teoria inatista da gramática universal. Tenha uma boa aprendizagem! REFLEXÃO Você já observou como uma criança aprende a sua língua materna? Liste suas ideias iniciais a este respeito antes da leitura. A seguir, compare-as às propostas que seguem no texto deste tópico. Esta reflexão é o nosso ponto de partida para o estudo aqui proposto! O que se convencionou chamar de gramática gerativa é, na verdade, um Programa de Pesquisa que tem como objetivo maior responder o que Noam Chomsky [1] intitulou de o Problema de Platão, ou seja: como a criança sabe tanto sobre a sua língua sem ter jamais estudado sobre ela? E qualquer um de nós, que já tenha convivido com uma criança de 0 a 6 anos, já presenciou estes fenômenos sem ter se dado conta do que eles indicam. Vejamos. É comum, que a criança por volta dos 3 anos produza sentenças como a abaixo: (1) *Eu fazi tudo. Que conhecimentos linguísticos estão embutidos nesse "fazi"? Observe que a criança "quebra" o verbo fazer no lugar certo, separando o radical de fazer (faz-) da desinência verbal (-i). Ela sabe exatamente a morfologia da sua língua, pois este '-i' significa: Pretérito Perfeito Primeira Pessoa do Singular Ela reconhece nessa idade aquilo que os professores de português irão ensinar lá na 5ª ou 6ª série. Observe que a criança não produz sentenças como: 35 (2) *Eu fazeri tudo. (3) *Eles fazi tudo. (4) *Ele choveu. (5) *Com brinquei ele eu. Isso mostra que a criança tem um conhecimento linguístico que ninguém ensinou. Ela sabe que o verbo chover não leva sujeito, embora brincar, fazer, entre outros sim. Ela sabe qual é a ordem das palavras na sua língua, não produzindo jamais sentenças como a (4). O Programa Gerativo se propôs a investigar a razão pela qual a criança comete os mesmos erros sempre, na mesma idade, como se fosse um processo. Em seguida, rapidamente os corrige, porque crianças de 9 ou 10 anos não produzem mais erros desse tipo. Ademais, independentemente da classe social ou variedade do português que ela é exposta, o ‘fazi’, entre outras incorreções, aparecerá. Ao passo que, outras produções, como as elencadas acima, não ocorrerem. Alguns responderiam que ela reproduz o que ouve, uma afirmação sensata, mas com certeza ela não ouve ‘fazi’ e mesmo assim produz invariavelmente. Na época que Chomsky, um linguísta, lança sua proposta de pesquisa, os estudos de aquisição de primeira língua estavam altamente influenciados pela corrente da psicologia em voga: o behaviorismo e a corrente linguística da época, o estruturalismo. CHOMSKY Fonte [2] PRIMEIRA LÍNGUA 36 Segunda também, falaremos disso mais adiante. Essas correntes afirmavam que uma língua é simples comportamento, um hábito manipulável, um condicionamento, por repetição, ou seja, aprender uma língua era como aprender um hábito, observa-se e repete-se, repete-se até que se aprende, até se esteja condicionado. Chomsky lança então a pergunta, se isso é verdade, como a criança produz 'fazi'? Com certeza ela não ouve dos adultos com quem convive tal produção? E se a criança só repete o que ouve, ela nunca formará sentenças novas? Não há criatividade em linguística? Então a língua jamais mudaria? Há evidências da socio-linguística de que as línguas estão em permanente variação. Para explicar como a criança aprende tão rapidamente uma ou várias línguas a qual é exposta, Chomsky lança a hipótese de que haveria uma parte do nosso cérebro que é responsável pela aquisição da linguagem. Esse dispositivo ficou conhecido como DAL e seria o responsável pela aquisição rápida, regular e uniforme da linguagem nos seres humanos. O avanço dos estudos fez com Chomsky aprimorasse essa ideia, como veremos adiante. Tentando delimitar o escopo do seu trabalho, ele apresenta a dicotomia competência/performance. A competência seria o conhecimento que o falante- ouvinte possui da sua língua, ao passo que a performance seria o uso efetivo da língua em situações concretas. DAL Dispositivo de Aquisição da Linguagem. A competência é ligada ao conhecimento tácito da língua, àquela intuição que temos para julgar se uma sentença pertence ao conjunto das sentenças possíveis da nossa língua materna, julgamentos de gramaticalidade e interpretação de sentenças. Esse julgamento pode ser feito por qualquer falante, mesmo que jamais tenha sido exposto ao ensino formal da língua, na escola, por exemplo. A performance ficaria com a escolha de estruturas e vocabulário que fazemos de acordo com a situação em que estamos inseridos. Esse conhecimento, que todo falante nativo tem das possibilidades de construção sintática da sua língua, ficou conhecido como língua-I (I de Interno), I de Interno, mas que assuntos ligados a outras questões cognitivas e sociais dariam origem a língua-E (E de Externo). Essa língua-E, segundo Chomsky pode ser o reflexo imperfeito da língua-I. Nessa divisão, Chomsky faz um recorte no seu objeto de estudo. O empreendimento gerativo vai se ocupar em estudar o que é interno, biológico e psicológico, deixando o social para as demais áreas do conhecimento. Porém, como a ciência ainda não tem acesso à língua-i dentro do cérebro humano, os gerativistas farão uso da língua-E, que é aquela, que por ser externa, está à disposição para ser observada. Ao lançar a hipótese de que os seres humanos nascem com um dispositivo para adquirir qual(is)quer línguas a quer forem expostos implica dizer que há um mecanismo no cérebro que começada à exposição da criança a uma determinada língua, a estrutura sintática dessa língua começaria a se formar. Chomsky postula, então, o que ficará conhecido como a Gramática Universal (GU). O ser humano nasce com a gramática em estado inicial zero, Sº, ou seja, vazia, pronta para formar qual(is)quer língua(s) a que for 37 exposta, seja essa língua o português ou espanhol ou chinês. E seus falantes aprenderão da mesma forma e no mesmo tempo, independente da língua. Para uma criança, o chinês não é mais difícil do que o espanhol ou do que o português. Esse empreendimento gerativo deve, então, criar uma teoria de língua Sº, uma gramática que de conta de todas as línguas. Nessa gramática deverão caber as regras do mandarim, do português, do espanhol, ou de qualquer outra língua humana. Essa teoria tem que ser abrangente o suficiente para dar conta de todas as línguas humanas do mundo, mas ao mesmo tempo ser restritiva, pois as crianças a aprendem rapidamente. Fonte [3] Chomsky fala então, da faculdade da linguagem, que seria um componente biológico dentro do cérebro que é transmitido geneticamente, isto quer dizer, que qualquer ser humano nascerá dotado com essa faculdade, e a experiência linguística da criança nos primeiros anos de vida dará origem a gramática da língua particular, ou das línguas particulares, a qual a criança for exposta. Por isso, Chomsky postula que a linguagem é inata. Perceba que não é a língua que é inata, mas a faculdade da linguagem que permite que uma criança, filha de falantes do português, se mudar de país e for exposta a outra língua, falaráaquela língua, diferente da língua dos pais biológicos. LÍNGUA Portuguesa, espanhola ou inglesa. FÓRUM O que você sabe sobre o conceituado Noam Chomsky? Pesquise informações sobre o teórico na internet e publique no fórum. Procure relacionar em seu texto os conceitos linguísticos propostos por ele e não se esqueça de indicar sua fonte de pesquisa. MULTIMÍDIA Veja também uma Entrevista com Noam Chomsky para a BBC sobre suas ideias linguísticas [4]. EXERCITANDO 1. Numere as sentenças abaixo de acordo com as definições que seguem. 38 1. Língua-E 2. Competência 3. Língua-I 4. Gramática Universal 5. Performance a. intuição que temos para julgar se estruturas de uma língua são gramaticais. b. habilidade do falante de escolher estruturas e vocabulário adequados às situações comunicativas. c. conhecimento que o falante nativo tem sobre as possibilidades de construções gramaticais da sua língua. d. a língua em funcionamento nas atividades sociais. e. dispositivo no cérebro humano que faz com que as crianças adquiram qual(is)quer língua(s) a que venham a ser expostas. RESPOSTAS a) 2, b) 5, c) 3, d) 1, e) 4. 2. Preencha as lacunas com as expressões que melhor a completam. a. A criança nasce com a gramática em estado inicial zero, conhecido como . b. DAL significa: . RESPOSTAS a) S° b) Dispositivo de Aquisição da Linguagem 39 Teorias de Língua e Segunda Língua Aula 03: Gerativismo Tópico 02: A Gramática Gerativa VERSÃO TEXTUAL Caro(a) aluno(a) , seja bem vindo(a) ao tópico 2 da aula 3 do Módulo Teorias da Língua e Segunda Língua. É objetivo deste tópico conceituar a Gramática Gerativa proposta por Noam Chomsky. Os objetivos especifícos deste tópico são os de comparar e contrastar os conceitos de estrutura profunda e de superfície, e reconhecer a contribuição da Gramática Transformacional para os estudos de diferentes línguas. Tenha uma boa Aprendizagem! REFLEXÃO Será que o conceito de "gramática" é algo que se relaciona a cada língua de uma maneira específica, ou a "gramática" pode ser considerada inerente ao ser humano, relacionada a todas as línguas da mesma maneira? Esta reflexão é o ponto de partida para o estudo deste tópico. Como é a Gramática Universal (GU)? O lançamento dessa questão levou muitos linguístas no mundo todo a começar a descrever suas línguas dentro do modelo de regras que foi proposto por Chomsky ainda na década de 60. Esse modelo, conhecido como Gramática Transformacional, apresentava regras às quais as línguas se submetiam para dar origem a outras construções, ou seja, se transformavam em outra estrutura. Haveria uma estrutura profunda para todas as línguas, que através de regras de transformação gerais, fazia com que ela sofresse transformações e se apresentasse na forma de estruturas superficiais diferentes para cada língua particular. Estrutura Profunda → Transformações → Estrutura Superficial As sentenças seriam formadas a partir de constituintes sintáticos: sintagmas nominais (SN), verbais (SV), adjetivais (SAdj), e preposicionais (SP). Por exemplo, de forma simplificada, no português a sentença (5) representa a estrutura superficial de (6), estrutura profunda: (5) A menina come a banana madura. (6) menin- + comer + banana – madur- Esta Estrutura Profunda pode ser reescrita ainda como o esquema abaixo, que permite inúmeras sentenças: 40 SUJEITO + VERBO + C0MPLEMENTO SN + SV + SN-SAdj Aplicação das regras: Sujeito + Verbo + Complemento SN Det. SV SN- banana Det. A SAdj. menin- A com- -e substantivo Artigo madur- substantivo artigo radical do verbo desinência feminino feminino -a -a singular Singular Feminino feminino, singular feminino, singular Singular (7) A menina come a banana que amadureceu. Sujeito + Verbo + Complemento SN – Det. SV SN que - SV menina - a come banana que - amadureceu A sentença (5) permite uma transformação, onde o adjetivo madura pode dar lugar a uma outra sentença que amadureceu. Essa construção tem o mesmo valor que a palavra madura, descrever uma qualidade da banana, por isso que se chama esta sentença de oração adjetiva, pois desempenha o papel de um adjetivo. A descrição de tantas línguas humanas deu origem a uma lista enorme de regras transformacionais. No início da década de 70, Chomksy estudou a compilação de todas as regras de todas as línguas estudadas até então e percebeu que elas tinham um conjunto de regras que eram comuns, e outros que eram diferentes. O conjunto de regras comuns a todas as línguas naturais humanas, com as quais a gu da criança já vem equipada, ele chamou de princípios. Ao conjunto de regras particulares para cada língua, ele chamou de parâmetros. Os parâmetros são fixados pela criança ao aprender a língua materna. 41 DESAFIO Leia a sentença abaixo e responda as questões que seguem: O menino doente jogava bola na chuva. 1. Qual seria a Estrutura Profunda da sentença acima? 2. Quais sintagmas formam a oração acima? 3. Que encaixes poderiam ser feitos na oração acima, mantendo sua Estrutura Profunda? EXERCITANDO 1. Preencha as lacunas do parágrafo abaixo com os termos que se encontram na caixa, a fim de torná-lo coerente: Estruturas Superficiais Gramática Transformacional Estrutura Profunda (a) apresenta regras pelas quais as línguas se submeteriam dentro do módulo do nosso cérebro responsável pela gramática. Haveria uma (b) que através de transformações daria origem a (c) diferentes. RESPOSTAS a. Gramática Transformacional b. Estrutura Profunda c. Estruturas Superficiais 2. Complete as sentenças abaixo com os termos correspondentes a fim de tornar essas definições corretas. Parâmetros Princípios a) O conjunto de regras com o qual a criança já vem equipada na GU chama-se . b) O conjunto de possibilidades de regras que a criança aprenderá para a sua língua particular é conhecido como . RESPOSTAS a. Princípios b. Parâmetros 42 Teorias de Língua e Segunda Língua Aula 03: Gerativismo Tópico 03: A Teoria Gerativa e a relação Língua Materna e Língua Estrangeira VERSÃO TEXTUAL Caro(a) aluno(o) , seja bem vindo(a) ao tópico 3 da aula 3 do Módulo Teorias da Língua e Segunda Língua. É objetivo deste tópico conceituar a Gramática Gerativa proposta por Noam Chomsky. Os objetivos específicos deste tópico são os de comparar e contrastar os conceitos de princípios e parâmetros, e reconhecer a contribuição do Programa Minimalista para os estudos de diferentes línguas. Tenha uma boa Aprendizagem! REFLEXÃO Estudamos anteriormente o processo criativo da aquisição da língua materna. Vamos agora voltar nossas reflexões para o processo de aquisição da língua estrangeira, do ponto de vista da GU? O que você já pode antecipar a esse respeito? Esta reflexão é a base para o estudo deste tópico! Dada a velocidade com que a criança adquire a língua a que está exposta, Chomsky adianta que levaria muito tempo marcar todas aquelas regras, mesmo sendo através da faculdade da linguagem. Após estudar todas as regras apresentadas, ele postula que o conjunto de regras que era comum para todas as línguas seriam princípios, que já viriam prontos dentro da faculdade da linguagem, uma vez que são os mesmos para todas as línguas; e os haveria também os parâmetros, que seriam marcados pela criança de acordo com a língua de sua experiência. Esse avanço dentro da Teoria Gerativa vai dar impulso aos estudos de aquisição de primeira língua. Os estudiosos dessa questão investigaram de que forma se dava o processo de aquisição e observaram que há sim uma regularidade espantosa entre os estágios da aquisição, independentemente da língua sendo adquirida. Além disso, a ordem dos estágios em que os fenômenos acontecem é universal para todas as línguas. Os estudos em aquisição de primeira língua apontam que a criança começa aprendendo a melodia da sualíngua. Com poucos dias de vida, ela já é capaz de reconhecer a prosódia da língua dos pais. Em 43 seguida a criança aprende os fonemas do seu idioma, ou seja, até a idade de cerca de dez meses o bebê é capaz de distinguir qualquer fonema produzido por uma língua humana. Nesta fase esta característica da faculdade da linguagem começa a desaparecer e outra capacidade aparece a aquisição das palavras. Entre 10 e 24 meses há um crescimento muito grande de palavras, a criança começa a nomear os objetos a sua volta e por volta dos 2 anos já combina duas palavras. Essas palavras não apresentam uma combinação aleatória, elas já mostram um sistema governado por regras: a marcação de parâmetros para sua língua. Essa fase da teoria gerativa ficou conhecida como Modelo de Princípios e Parâmetros. Dentro desse modelo postulou-se que as línguas organizam-se através de uma estrutura X-barra formada de constituintes sintáticos: sintagmas nominais (SN), verbais (SV), adjetivais (SAdj), e preposicionais (SP), colocados de forma hierárquica. Essa estrutura sintática é regularmente representada através de esboços que apresentam galhos, as partes da estrutura X-barra, e ficaram conhecidos como árvores. Estes sintagmas se combinam hierarquicamente dando origem a uma sentença, um período, etc. Veja como fica a sentença (5) abaixo colocada em uma árvore. Observe como existe uma hierarquia, onde o verbo tem posição de destaque por decidir quais complementos ele precisa; sujeito, sim ou não, no português; objeto direto ou indireto, depende do verbo. A distribuição dos outros sintagmas se dá a partir do verbo comer para o caso da sentença (5). Esse modelo apresenta variações que serão marcadas entre as línguas: os parâmetros. Vários parâmetros foram postulados e todos com uma estrutura binária do tipo sim ou não, que a faculdade da linguagem acionaria quando da exposição da criança à língua. Um dos parâmetros mais famosos que envolveram o português, o espanhol, inglês e francês, entre outras línguas, foi o parâmetro do sujeito nulo. Esse parâmetro estudava como a criança aprende que sua língua obrigatoriamente tem um sujeito, ou não. O português, assim como o espanhol, pode ter sujeito nulo. O inglês e o francês têm que marcar a posição de sujeito, nem que seja com um sujeito sem valor semântico. Este fato remete a sentença (1) apresentada acima. A criança exposta ao português sabe que sua língua admite: (6) Choveu. (7) Comi. (8) Eu falei. Assim, como a criança, falante do inglês, sabe que sua língua admite: (9) It rained. 44 (10) He plays the guitar. Assim, o parâmetro do sujeito estaria por ser marcado, ou seja, escolhido em língua com ou sem sujeito nulo, pela faculdade da linguagem. Ao ser exposta, a criança marca essa possibilidade. Como esse, existem outros parâmetros, que a criança vai marcando ao ouvir, e essa sucessão de escolhas dará origem a um conjunto de parâmetros que formará a sintaxe da sua língua materna. Como podemos ver, nesses mais de 50 anos do Programa Gerativista, Noam Chomsky fez vários ajustes e até recortes nos dados que sua imensa equipe de linguístas espalhados pelos quatro cantos do mundo recolheu. Ele julgou que tal era necessário para poder permanecer fiel ao seu objeto de estudo. Em virtude desse rigor científico, em 1995, mais uma vez, ele ajusta o foco da pesquisa para responder a pergunta de Platão. Estes 50 anos têm sido dedicados a descobrir como é essa estrutura linguística inata, com a qual os seres humanos nascem, e ao preenchê-la com qualquer língua humana, nasce uma língua natural, que é o que conhecemos. Com base no conhecimento que se tem do corpo humano, postulou-se que a mente/cérebro humano é modular, ou seja, é composta por módulos, partes do cérebro que são responsáveis por diferentes atividades. Indo mais longe, a própria faculdade da linguagem deve ser modular e seus módulos responsáveis por áreas diferentes que se interconectam no momento de produzir uma sentença ou na hora de interpretá-la. Um destes módulos seria responsável pelo armazenamento do vocabulário, chamado de Lexicon, que acumularia todas as palavras que aprendemos. Existem evidências que fazem crer que o Lexicon guarda as palavras separando os radicais das desinências, da morfologia da língua, etc. Outro módulo seria a semântica que atribuiria o sentido às palavras, à própria morfologia, etc. Este movimento que tenta dar um novo enfoque à estrutura gramatical da GU, chama-se Programa Minimalista. Esta nova etapa dos estudos, tenta aliviar as operações da sintaxe dentro da GU, atribuindo a outros módulos, tarefas antes atribuídas à sintaxe, como a formação de palavras, ou seja, acrescentar aos radicais a morfologia, ou seja, colocar nos radicais as desinências de plural, feminino, masculino, tempo, entre muitos outros. Esta tarefa agora fica por conta do Lexicon, que já os manda prontos para a sintaxe. Cabe agora ao Programa Gerativista, dentro da perspectiva Minimalista, entender como se dá as interfaces entre módulos, como eles se comunicam. Os dados robustos obtidos através dos estudos da aquisição de primeira língua fizeram com que muitos estudiosos, desta vez de aquisição de segunda língua, se perguntassem se a Gramática Universal estava disponível no adulto que aprende língua estrangeira. Após vários anos de pesquisa durante a década de 90, os estudos acabaram por mostrar que a GU já não pode operar como o fez na aquisição da língua materna, pois já foi preenchida com os dados dessa língua. Assim, estudos mais recentes apontam que os princípios ainda estão operantes, mas não os parâmetros. Tal constatação explica porque é muito mais difícil para um adulto aprender língua estrangeira do que para uma criança aprender sua língua materna. O adulto vai então, apoiar-se, não nos parâmetros, mas na sua experiência linguística prévia, seja a língua materna ou qualquer outra língua estrangeira com a qual tenha tido contato. Assim, nos estágios iniciais, a língua estrangeira que está sendo adquirida apresentará uma forte interferência da língua materna. Essa mistura da língua materna e da língua estrangeira é conhecida como interlíngua. 45 Pesquisas recentes mostram que a criança tem recursos fonológicos que lhe permite quebrar as sentenças em palavras, e provavelmente estes sinais são os que seriam responsáveis pela marcação dos parâmetros. Como o ouvido humano adulto já tem dificuldade para reconhecer estes sons, esse seria um possível motivo para a não marcação de parâmetros. OLHANDO DE PERTO Ao fim desses três tópicos, pudemos compreender que a teoria gerativa tenta estudar a estrutura de uma língua interna, que está na faculdade da linguagem no cérebro humano, com a qual todos os seres humanos nascem equipados. Como não temos acesso a essa gramática dentro do cérebro, os gerativistas a estudam através da produção dos falantes. Essa produção, a fala, tem uma parte ligada a uma estrutura interna, a sintaxe da GU, e outra ligada aos fatores sociais externos. A gramática gerativa enfoca a sintaxe interna da língua, a GU, através da sua produção e interpretação. ATIVIDADE DE PORTFÓLIO Um aluno, falante do português do Brasil, nos estágios iniciais de aquisição de espanhol como língua estrangeira, muito provavelmente produzirá sentenças como: a) *Yo gusta de bailar. Baseado nas evidências acima, tal sentença foi produzida baseando-se na sintaxe do português ou do espanhol? Como seria esta sentença em espanhol? Quais as diferenças sintáticas existem entre os verbos gustar e gostar? REFERÊNCIAS BENTES, A. M. & MUSSALIM, F. Introdução à Linguística Vol. 3 .São Paulo: Cortez Editora, 2ª ed. 2005. CHOMSKY, N. Knowledge of Language: Its Nature, Origin and Use. Westpoint, Connecticut: Praeger Publishers 1986. MIOTO, C. et alli Novo Manual de Sintaxe. Florianópolis: Editora Insular, 2ª ed. 2005. Fontes das Imagens 1 - http://en.wikipedia.org/wiki/Noam_Chomsky2 - https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/b/bb/Noam_Chomsky%2C_2004.jpg/300px-Noam_Chomsky% 2C_2004.jpg 3 - http://mommyspeechtherapy.com/wp-content/uploads/2010/08/speech_development.jpg 4 - https://www.youtube.com/watch?v=3LqUA7W9wfg 46 Teorias de Língua e Segunda Língua Aula 04: O Funcionalismo Tópico 01: Princípios básicos do Funcionalismo VERSÃO TEXTUAL Caro(a) aluno(a), seja bem vindo(a) ao tópico 1 da aula 3 do Módulo Teorias de Língua e Segunda Língua. É objetivo deste tópico reconhecer os princípios gerais do Funcionalismo para o estudo da Linguagem. Os objetivos específicos deste tópico são os de relacionar a teoria funcionalista à pragmática e conceituar o termo função. Tenha uma boa aprendizagem! REFLEXÃO "outras ciências trabalham com objetos dados previamente e que se podem considerar, em seguida, de vários pontos de vista; em nosso campo nada de semelhante ocorre. (...) Bem longe de dizer que o objeto precede o ponto de vista, (...) é o ponto de vista que cria o objeto" (Saussure, 1995, p. 15). Vimos até agora que o objeto de estudos da Linguística é a língua, mas o que é “língua”? Até agora, em nosso curso, você pode perceber que não há uma resposta única que dê conta por si só do fenômeno da linguagem, ou da língua. Até mesmo o conceito “fenômeno” é fluído. O que se estuda então? Daí a reflexão colocada por Saussure, acima, se justifica: em estudos da linguagem, o que estudamos depende do nosso ponto de vista. Da maneira como olhamos e entendemos o que é “língua” e “linguagem”. As correntes funcionalistas de estudo da linguagem têm alguns princípios gerais: Linguagem é entendida como um instrumento de comunicação e de interação social; Para a delimitação do objeto de estudos parte-se do uso real e,assim, não se admite separações entre o sistema e o uso(ou fala e língua, ou competência e desempenho); Fenômeno linguístico é sempre explicado com base nas relações que, no contexto sócio- interacional, se estabelecem entre falante, ouvintes e a pressuposta informação sobre a situação interacional de ambos, ou seja, a informação pragmática. E o que é a interação verbal? 47 Segundo Dik (1989) a interação verbal é uma forma de atividade cooperativa estruturada, em torno de regras sociais, normas ou convenções. As regras propriamente linguísticas devem ser consideradas instrumentais em relação aos objetivos comunicativos da interação verbal (Pezatti, 2005, p.168). Reconhecemos o Funcionalismo por duas propostas bastante divulgadas e que, de certa forma, já pertencem a um domínio comum dos estudiosos da linguagem. Estas propostas têm base em Karl Bühler e em Jakobson. Vamos relembrá-las? Karl Bühler Fonte [1] A proposta de Karl Bühler é bastante conhecida no contexto escolar através da leitura de Mattoso Câmara (1959, apud Moura-Neves, 1994, p. 110). O autor indica três funções da linguagem que são hierarquicamente organizadas nos enunciados: a função de representação, a de exteriorização e a de apelo. Em cada evento comunicativo podemos reconhecer três elementos: uma pessoa informa outra pessoa de algo e é nessa atividade comunicativa que se manifestam as três funções, que não se excluem, ao contrário, coexistem no mesmo evento de comunicação. Roman Jakobson Fonte [2] A proposta de Roman Jakobson expande as três funções propostas por Karl Bühler, redefinindo seis funções da linguagem, cada uma delas mais diretamente ligada a um dos fatores que interagem no evento de comunicação: são elas a função referencial (relacionada ao contexto), a função emotiva (relacionada ao remetente), a função conativa (relacionada ao destinatário), a função fática (relacionada ao contato), a função metalinguística (relacionada ao código), e a função poética (relacionada à mensagem). Agora é importante que você entenda bem os conceitos de Sintaxe, Semântica e Pragmática. Estes termos nos acompanharão daqui por diante! Clique abaixo e leia sobre eles! 48 As relações funcionais se distribuem, de acordo com Pezatti (2005), por três níveis: o das funções semânticas, o das funções sintáticas e o das funções pragmáticas. No nível de funções semânticas, devemos levar em conta os papéis que os referentes exercem dentro do "estado de coisas" designado pela predicação em que ocorrem, tais como agente, meta, recipiente etc. No nível de funções sintáticas, leva-se em consideração a apresentação do estado de coisas na expressão linguística, como sujeito, objeto etc. Finalmente, no nível de funções pragmáticas, considera-se o estatuto informacional dos constituintes dentro do contexto comunicacional, como foco, tópico, processamento da informação. A gramática funcional se inclui numa teoria pragmática da linguagem, entendendo que a interação verbal é o objeto de análise, e que uma de suas tarefas é revelar as propriedades das expressões linguísticas em relação à descrição das regras que regem a interação verbal. Dessa maneira, a pragmática apresenta maior peso na teoria funcionalista, uma vez que uma gramática funcional deve ser sempre entendida como uma teoria integrada que se constrói a partir de um modelo de usuário da língua natural. As capacidades humanas que são levadas em consideração são: a capacidade linguística, epistêmica, lógica, perceptual e social. Sobre a análise linguística ancorada na convenção social, a perspectiva funcional envolve dois tipos de sistema de regras: - regras que governam a constituição das expressões linguísticas, que são as regras semânticas, sintáticas, morfológicas e fonológicas. - As regras que governam os padrões de interação verbal em que essas expressões linguísticas são usadas, que são as regras pragmáticas. PARADA OBRIGATÓRIA 49 Para saber sobre o conceito de função, clique aqui (Visite a aula online para realizar download deste arquivo.). Tendo definido os princípios básicos do Funcionalismo para o estudo da Linguagem, vamos agora sistematizar o conhecimento? A seguir leia as instruções para o fórum de discussão desta aula e bom trabalho! FÓRUM A partir das leituras realizadas e suas próprias reflexões, explique o que pode ser entendido por "língua" e "linguagem" do ponto de vista Funcionalista. Exemplifique os seus argumentos com informações dos textos lidos e os conceitos de sintaxe, semântica e pragmática, e não se esqueça de comentar as colocações de seus colegas! LEITURA COMPLEMENTAR Sobre Funcionalismo e Formalismo na Linguística [3] (por Alzenir Rabelo Mendes) REFERÊNCIAS HALLIDAY, M.A.K. An Introduction to Functional Grammar. London: Arnold, 2004. MOURA-NEVES, M.H. Uma visão geral da gramática funcional. In: Alfa. São Paulo, 38: 109-127, 1994. PEZATTI, E. G. O funcionalismo em linguística. In: MUSSALIM, F. BENTES, A.C. Introdução à Linguística: fundamentos epistemológicos. São Paulo: Editora Cortez, 2005 (p. 165-218). SAUSSURE, F. Curso de linguística geral. São Paulo: Cultrix, 1995 50 Teorias de Língua e Segunda Língua Aula 04: O Funcionalismo Tópico 02: A Relação Formalismo e Funcionalismo VERSÃO TEXTUAL Caro(a) aluno(a) , seja bem vindo(a) ao tópico 2 da aula 4 do Módulo Teorias da Língua e Segunda Língua. São objetivos deste tópico comparar e contrastar o Funcionalismo e o Formalismo. Os objetivos específicos deste tópico são os de identificar diferentes correntes funcionalistas e confrontar os princípios básicos do Formalismo e do Funcionalismo nos estudos da linguagem. Tenha uma boa Aprendizagem! REFLEXÃO "A experiência científica é um método de progresso literalmente ilimitado. De sorte que o homem passou a tudo ver em função dessa mobilidade. Tudo que ele faz é simples ensaio. Amanhã será diferente. Ele ganhou o hábito de mudar, de transformar-se, de progredir, como se diz. E essa mudança e esse progresso o homem moderno os sente: é ele que os faz." (Teixeira, 1975, p. 28 e 29). Para iniciarmos nossa reflexão neste tópico, propomos uma retomada dos princípiosbásicos da teoria saussuriana e chomskyana. Tanto Saussure quanto Chomsky foram adeptos irrestritos a uma idealização do que pode ser o sistema linguístico. O interesse destes autores estava na língua e na competência, respectivamente, focalizando o aspecto formal da língua. Cada um a sua maneira não considerava as condições de uso da língua, ou seja, a fala ou o desempenho, para os estudos da linguagem. A reação provocada pela desconsideração de questões discursivas, de uso da linguagem, desencadeou o surgimento de várias tendências, como a Sociolinguística, a Linguística Textual, a Análise do Discurso, a Análise da Conversação, e o Funcionalismo está entre elas. Porém, o Funcionalismo, como você já estudou, não é recente. Ostenta uma história quase tão longa quanto a do paradigma formal: Whitney Já em 1897, Whitney (apud Pezatti, 2005) dizia que o estudo da linguagem deve pressupor certas instrumentalidades mediante as quais o ser humano de forma consciente e intencional representa seus pensamentos com a finalidade principal de torná-los conhecidos por outros, ou seja, a função principal da linguagem, segundo Whitney é a comunicação. Jakobson 51 Também encontramos o funcionalismo na escola de Praga, em que Roman Jakobson propunha a noção de função da linguagem que leva em conta os participantes da interação, como a função emotiva, a conativa e a fática, e fatores da comunicação como a mensagem, na função poética, e o próprio código, na função metalinguística. Correntes mais recentes Além dos autores ao lado, há também uma visão funcionalista na tradição americana de Sapir (1921-1949) e a tagmêmica de Pike (1967), o trabalho etnográfico de Hymes, introduzindo a noção de competência comunicativa e na Inglaterra há Firth e Halliday. Também com orientação funcionalista há a tradição filosófica de Austin e Searle que conduziu a teoria dos atos de fala na Pragmática. Na Califórnia há Givon e Chafe, e em New York há uma corrente funcionalista denominada gramática do papel e da referência de Van Valin e em Berkeley uma tendência funcional-cognitiva com Lakoff. Enfim, o termo funcional tem sido vinculado a uma variedade tão grande de modelos teóricos, de acordo com Pezatti (2005, p. 167), que se torna impossível a existência de uma teoria monolítica compartilhada por todos que se dizem funcionalistas. Formalismo x Funcionalismo Fonte [4] O que podemos distinguir até o momento é que existem dois polos de atenção opostos no pensamento linguístico: o funcionalismo e o formalismo: O funcionalismo, no qual a função das formas linguísticas parece desempenhar um papel predominante, e o formalismo, no qual a análise da forma linguística parece ser primária, enquanto os interesses funcionais são apenas secundários. (Moura-Neves, 1994, p. 114). RESUMINDO De acordo com Pezatti (2005, p. 174), os defensores do Funcionalismo orientam-se e direção oposta ao Formalismo com base, principalmente, nos seguintes argumentos: 1. A forma linguística deriva de seu uso no processo real de comunicação. 2. A estrutura gramatical é dependente das regularidades das situações de fala, constituindo então objeto probabilístico. 3. A explicação da estrutura gramatical depende da comunicação. 4. O pesquisador deve fazer sua análise linguística "no" e não "do" discurso. 52 5. O enfoque funcional realiza um trabalho indutivo, do particular para o geral, sendo a recorrência de formas regulares o que permite fazer generalizações, ao invés de critérios de natureza formal. 6. Explicam-se fatos linguísticos por meio de fatores não linguísticos, entendidos como as exigências do processo de comunicação, que, por sua vez, produzem os parâmetros funcionais para a análise, identificados nos conceitos de figura/fundo, cadeia tópica, transitividade e fluxo de informação. A gramática formal trata a estrutura sistemática das formas da língua e a gramática funcional analisa a relação sistemática entre as formas e as funções em uma língua. Veja no quadro a seguir, proposto por Dik e adaptado por Moura-Neves, um resumo esquematizado sobre esta oposição: Como definir a língua Paradigma Formal Paradigma Funcional Conjunto de orações Instrumento de interação social Principal função da língua Paradigma Formal Paradigma Funcional Expressão dos pensamentos Comunicação Correlato psicológico Paradigma Formal Paradigma Funcional Competências: capacidade de produzir, interpretar e julgar orações Competência comunicativa: habilidade de interagir socialmente com a língua O sistema e seu uso Paradigma Formal Paradigma Funcional O estudo da competência tem prioridade sobre o da atuação O estudo do sistema deve fazer-se dentro do quadro do uso 53 Língua e contexto/situação Paradigma Formal Paradigma Funcional As orações da língua devem descrever-se independentemente do contexto/situação A descrição das expressões deve fornecer dados para a descrição de seu funcionamento num dado contexto Aquisição da linguagem Paradigma Formal Paradigma Funcional Faz-se com o uso de propriedades inatas, com base em um input restrito e não estruturado de dados Faz-se com a ajuda de um input extenso e estruturado de dados apresentado no contexto natural Universais linguísticos Paradigma Formal Paradigma Funcional Propriedades inatas ao organismo humano Explicados em função das restrições: comunicativas; biológicas ou psicológicas; contextuais Relação entre a sintaxe, a semântica e a pragmática Paradigma Formal Paradigma Funcional A sintaxe é autônoma em relação à semântica; as duas são autônomas em relação à pragmática; as prioridades vão da sintaxe à pragmática, via semântica A pragmática é o quadro dentro do qual a semântica e a sintaxe devem ser estudadas; as prioridades vão da pragmática à sintaxe, via semântica Para Halliday (1985), as gramáticas funcional e formal se distinguem da seguinte maneira: Gramática Formal 54 • Orientação primariamente sintagmática. • Interpretação da língua como um conjunto de estruturas entre as quais podem ser estabelecidas relações regulares. • Ênfase nos traços universais da língua (sintaxe como base: organização em torno da frase). Gramática Funcional • Orientação primariamente paradigmática. • Interpretação da língua como uma rede de relações: as estruturas como interpretação das relações. • Ênfase nas variações entre línguas diferentes (semântica como base: organização em torno do texto ou discurso). OLHANDO DE PERTO Estudar o sistema da língua, a ordem das palavras, por exemplo, o fato de uma determinada língua escolher a organização verbo-objeto, ou a organização objeto-verbo, parece ser secundário para o funcionalismo: muitos fenômenos de ordem de palavras (topicalização, extraposição, apassivação) podem ser relacionados a considerações funcionais, por exemplo, à avaliação que o falante faz do ouvinte. (Moura-Neves, 1994) Para finalizar, a discussão sobre a oposição entre Formalismo e Funcionalismo resultou atualmente numa visão “moderada”, que entende que estes são diferentes enfoques que tratam de diferentes fenômenos do mesmo objeto, igualmente importantes, não havendo o que se discutir se o Funcionalismo é melhor que o Formalismo. Para explicar esta visão moderada, Pezatti retoma uma analogia bastante ilustrativa trazida por Dillinger (1991, apud Pezatti, 2005, p. 175-176): Descrição da imagem: É, a propósito, bastante ilustrativa a analogia estabelecida por Dillinger (1991) entre o fazer científico e o relatório de avaliação de duas equipes da revista Quatro Rodas: uma 55 deve desmontar o motor, a direção, os freios, etc. Para determinar a estrutura de suas partes: já a outra deve levar o carro até a pista de provas para determinar suas características de aceleração, de frenagem, estabilidade etc. – sua interação com o contexto (a pista, o ar, etc.). As duas equipes estudam, assim, o mesmo objeto, elegendo, no entanto, diferentesfenômenos dele, com base em diferentes perspectivas. Ninguém suportaria que a leitura de um dos relatórios das duas equipes fosse alternativa em relação à da outra, pelo contrário, o melhor resultado a respeito da avaliação de um carro é a integração dos dois. Similarmente, como os enfoques funcionalista e formalista tratam de diferentes fenômenos do mesmo objeto, não há nenhuma necessidade de discutir se um é mais importante que o outro: as diferentes perspectivas para o estudo da linguagem são complementares e igualmente necessárias. Vemos que, de um ponto de vista moderado, estes são estudos complementares e igualmente necessários, e não estudos alternativos quando a escolha de uma orientação rejeitaria a outra. Há necessidade da coexistência de diferentes perspectivas teóricas para o estudo da linguagem. MULTIMÍDIA Sobre Funções da Linguagem, em português [5] e Funções da Linguagem (Destaque: Função Conativa) [6] REFERÊNCIAS HALLIDAY, M.A.K. An Introduction to Functional Grammar. London: Arnold, 2004. MOURA-NEVES, M.H. Uma visão geral da gramática funcional. In: Alfa. São Paulo, 38: 109-127, 1994. PEZATTI, E. G. O funcionalismo em linguística. In: MUSSALIM, F. BENTES, A.C. Introdução à Linguística: fundamentos epistemológicos. São Paulo: Editora Cortez, 2005 (p. 165-218). TEIXEIRA, Anísio. Pequena introdução à filosofia da educação. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1975. 56 Teorias de Língua e Segunda Língua Aula 04: O Funcionalismo Tópico 03: Funcionalismo e Segunda Língua – O Modelo de Halliday VERSÃO TEXTUAL Caro(a) aluno(a) , seja bem vindo(a) ao tópico 3 da aula 4 do Módulo Teorias da Língua e Segunda Língua. São objetivos deste tópico reconhecer a proposta funcionalista da Halliday. Os objetivos específicos deste tópico são os de reconhecer os principais de Halliday para o estudo da língua em uso e suas implicações para o estudo da segunda língua com base na análise textos. Tenha uma boa Aprendizagem! REFLEXÃO O que caracteriza a concepção de linguagem defendida pela gramática funcional é o seu caráter não apenas funcional como também dinâmico. Ela é funcional porque não separa o sistema linguístico e suas peças das funções que têm de preencher, e é dinâmica porque reconhece, na instabilidade da relação entre estrutura e função, a força dinâmica que está por detrás do constante desenvolvimento da linguagem. (Maria Helena de Moura Neves, 1994, p. 125-126) Você se lembra dos conceitos de paradigma e sintagma? Para entendermos a base da teoria funcionalista de Halliday, vamos ter que retomá-los, mas agora num novo sentido. PARADA OBRIGATÓRIA Clique aqui (Visite a aula online para realizar download deste arquivo.) para ler um resumo sobre a teoria funcional de Halliday. Agora que você leu sobre os princípios básicos da teoria sistêmico-funcional de Halliday (que diz que a língua é um sistema de escolhas paradigmáticas que se realizam em uma cadeia sintagmática; que as escolhas não são aleatórias, mas sim dependentes de um contexto e que realizam funções da linguagem; e que o texto é a unidade mínima significativa de qualquer língua, nada pode ser explicado fora dele), lançamos o seguinte desafio: DESAFIO Como uma língua estrangeira deve ser ensinada do ponto de vista da teoria sistêmico-funcional de Halliday? Coloque as suas contribuições no Fórum 4, referente a esta aula. 57 Temas relevantes da teoria funcional Os temas mais representativos nas diferentes correntes funcionalistas referem-se ao da Perspectiva Funcional da Sentença (PFS), cujo conceito principal é a articulação tema-rema. Outros temas relevantes da teoria funcionalista estão relacionados a PFS, como a distribuição da informação na sentença, a articulação dado-novo, tópico, ponto de vista, fluxo de atenção, dinamismo comunicativo, noção de estrutura argumental preferida etc. Sendo a PFS entendida como um termo guarda-chuva para os temas relevantes, vamos saber mais sobre ela? Clique sobre a expressão abaixo para abrir o texto: Perspectiva Funcional da Sentença (PFS) (Visite a aula online para realizar download deste arquivo.) Análise de textos O texto a seguir foi extraído de um estudo de Halliday sobre a relação "tema e rema". Veja como o texto é analisado: Goa Gajah is the “elephant cave” on the Road to Gianyar, a Hindu-Buddhist temple area… The atmosphere outside is peaceful… while inside the small cave it is surprisingly humid and dry (sic). Beyond the main complex is a lovely stream that bubbles under a wooden bridge, and further on are steep stone steps leading to another complex… For this popular tourist attraction, dress properly… Theme Rheme Goa Gajah is the "elephant cave" on the Road to Gianyar, a Hindu- Buddhist temple area… Goa Gajah is the "elephant cave" on the Road to Gianyar, a Hindu- Buddhist temple area… The atmosphere outside is peaceful… … while inside the small cave it is surprisingly humid and dry (sic). Beyond the main complex is a lovely stream that bubbles under a wooden bridge, and further on are steep stone steps leading to another complex… For this popular tourist attraction, dress properly… Descrição da tabela: 58 Theme: Goa Gajah Rheme: is the "elephant cave" on the Road to Gianyar, a Hindu-Buddhist temple area… Theme: Goa Gajah. Rheme: is the "elephant cave" on the Road to Gianyar, a Hindu-Buddhist temple area… Theme: The atmosphere outside. Rheme: is peaceful… Theme: … while inside the small cave. Rheme: it is surprisingly humid and dry (sic). Theme: Beyond the main complex. Rheme: is a lovely stream that bubbles under a wooden bridge, and further on are steep stone steps leading to another complex… Theme: For this popular tourist attraction, Rheme: dress properly… Fonte: Holly Smith et al. Indonesia. Travbugs Travel Guides. Singapore and London: Sun Tree Publishing Ltd. 1993, p. 317, apud Halliday, 2004, p. 65. O tema sempre inicia da sentença, é o que introduz a cena dentro da própria estrutura da oração e a posiciona em relação ao texto como um todo. No tema, o interlocutor é convidado a perceber e apreciar, no segundo, no rema, o interlocutor e preso firmemente ao tópico que está sendo descrito. Observemos agora um estudo do status informacional e as noções de dado e novo: Child: Shall I tell you why the North Star stays still? Parent: Yes, do. Child: Because that's where the magnet is, and it gets attracted by the earth. But the other stars don't; so they move around… Descrição da tabela: Child: Shall I tell you why the North Star stays still? Parent: Yes, do. Child: Because that's where the magnet is, and it gets attracted by the earth. But the other stars don't; so they move around… Vemos que a criança principia com o oferecimento de uma informação na qual tudo é novo, o foco não é marcado, e está no final. A oferta é aceita e a criança continua com explicações: Given New because that's Contrastive Where the magnet is Fresh and it gets attracted Fresh by the earth Fresh 59 Given New But the other Contrastive Stars don't Contrastive So They Contrastive move around Fresh Vimos resumidamente que o estudo da unidade mínima significativa da linguística funcional é o texto e estudá-la é perceber como ele se constrói, como ele se desdobra ao longo da comunicação, e isso pode ser estudado e explicado por meio da Perspectiva Funcional da Sentença. ATIVIDADE DE PORTFÓLIO Com base em tudo o que estudamos, você irá buscar um trecho de uma interação oral e real, que pode ser extraído de filme de sua escolha (cerca de 10 linhas). Transcreva o texto (use as legendas para ajudá-lo) e analise a perspectiva funcional das sentenças em relação ao status informacional dado e novo, e ao tema e rema, se são coincidentes ou não, e busque, na teoria estudada, as justificativas para isso. O seu trabalho não deve ultrapassar a duas laudas. Ao terminar, envie o seu trabalho para o seu portfólio de grupo. Tenha umbom trabalho! MULTIMÍDIA Sobre Halliday e sua teoria sistêmico-funcional [7], em espanhol: REFERÊNCIAS HALLIDAY, M.A.K. An Introduction to Functional Grammar. London: Arnold, 2004. MOURA-NEVES, M.H. Uma visão geral da gramática funcional. In: Alfa. São Paulo, 38: 109-127, 1994. PEZATTI, E. G. O funcionalismo em linguística. In: MUSSALIM, F. BENTES, A.C. Introdução à Linguística: fundamentos epistemológicos. São Paulo: Editora Cortez, 2005 (p. 165-218). TEIXEIRA, Pequena introdução à filosofia da educação. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1975. Fontes das Imagens 60 1 - http://austria-forum.org/attach/Biographien/B%C3%BChler%2C_Karl/B%C3%BChler_Karl.jpg 2 - https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn%3AANd9GcS63ia7DXBT3YIL0KI-pNxNCcIdjmHocniEG- Rg5odu3G3cB07k 3 - http://www.usinadeletras.com.br/exibelotexto.php?cod=43783&cat=Artigos&vinda=S 4 - http://3.bp.blogspot.com/_iqtIeHiVbJo/R77_v6t3KZI/AAAAAAAAAKw/tHJ78CdNspw/s320/mundo.gif 5 - http://www.youtube.com/watch?v=Ytu96T1qylo&feature=related 6 - http://www.youtube.com/watch?v=OcHPa4aTfWo&feature=fvsr 7 - http://www.youtube.com/watch?v=biPXRobZF_o 61 Teorias de Língua e Segunda Língua Aula 05: Psicolinguística Tópico 01: Linguística e Processamento da Linguagem Afinal, o que é Psicolinguística e qual é sua principal corrente? Acredito que a princípio seja pertinente dizer que a psicolonguística não é uma área de estudo que possa ser facilmente definida, pois apresenta como uma de suas principais características a interdisciplinaridade. Qualquer área de conhecimento interdisciplinar pressupõe em seu escopo a noção de abrangência no sentido em que não se limita a perspectivas de um único campo. A Psicolinguística situa-se e agrega conceitos e pressupostos advindos tanto da psicologia quanto da linguística. Isto significa dizer que a Psicolinguística apoia-se ora nos construtos linguísticos, ora nos pressupostos da psicologia. No início de seu desenvolvimento, a psicolinguística buscava responder questões comuns às duas disciplinas. Psicólogos Linguístas "Como o homem aprende?" "Por que o humano fala?" "Por que usamos a voz passiva ao invés da ativa em algumas situações?" "Aprendemos primeiro o sistema fonológico ou semântico de uma língua?" Descrição da tabela: Psicólogos: Como o homem aprende?" "Por que o humano fala? Linguístas "Por que usamos a voz passiva ao invés da ativa em algumas situações?" "Aprendemos primeiro o sistema fonológico ou semântico de uma língua? É importante ressaltar que ambas concepções, a princípio, não caminhavam conjuntamente. Embora tentassem a todo custo responder a questões comuns, a intenção majoritária de ambas era conseguir firmar-se de maneira autônoma. Psicologia + Linguística → Psicolinguística A atração dos dois campos de investigação gerou seus frutos iniciais impulsionada pelas noções do movimento estruturalista no âmbito da linguística e pelos construtos do behaviorismo na Psicologia. 62 Embora não houvesse esforço comum, na medida em que os dois paradigmas não se desenvolviam colaborativamente, era possível perceber que os avanços se davam em paralelo. ESTRUTURALISTA Sobre o qual vocês leram na aula 2. Vejamos como se deu sua evolução na breve descrição de seus períodos: Início e meados dos anos 50 No período formativo, início e meados da década de 50, a psicolinguística foi fundada e seus estudos revelavam "um amplo painel de pesquisas geradas no berço da psicologia, orientadas para a linguística; e de pesquisas desenvolvidas com o viés da linguística com a orientação dos construtos da psicologia" Baliero Jr. In Mussalim, F.; Bentes, A.C. Introdução a linguística – domínios e fronteiras 2. São Paulo: Editora Cortez, 2001 p. 176. Final dos anos 50 e início dos anos 60 No final da década de 50, o invólucro teórico que se apresentava era o gerativismo, tendo o teórico e linguista Chomsky como maior impulsionador (sobre o qual vocês leram anteriormente na aula 3); e o teórico behaviorista Skinner, crítico do operacionalismo, que intencionava criar uma abordagem racional e dedutiva, com base em dados e experimentos. O modelo gerativo, responsável por dar uma guinada nos estudos psicolinguísticos, propunha dentre outras coisas que houvesse uma clara distinção entre competência (o saber falar e ouvir de um nativo da sua língua materna) e performance (o ato comunicativo de falar e ouvir que acontece em contexto concreto). Meados dos anos 60 e anos 70 No período cognitivo, os fundamentos da teoria linguística permanecem sólidos, mas passam a não ser os únicos a contribuir ao desenvolvimento da ciência. Na visão do período cognitivista, postulava-se que os fatores cognitivos eram o conjunto maior e que a linguagem era um fator subjacente, estando subordinada aos princípios cognitivos. Em outras palavras, a centralidade e a independência da gramática foi rejeitada, considerando-se a existência e a importância de outros sistemas cognitivos e de comportamento que são acionados no processo de aquisição e uso da linguagem. A partir dos anos 80 O período atual, que integra as estruturas linguísticas com as ciências cognitivas e o modelo computacional, decorre do grande número de trabalhos caracterizados pela interdisciplinaridade. A principal preocupação está em demonstrar que problemas oriundos de um campo A, embora especificamente circunscrito, implicam em consequências encontradas em outros campos (B, C e D, por exemplo). Desta forma, atesta-se a correlacionalidade. Segundo Baliero Jr (2001), podemos considerar que os dois principais enfoques do período são (a) o 63 modularista que pressupõe que a mente é um sistema composto por módulos capazes de integração e de processamento de informação com caráter independente; ou (b) o não-modularista que assume que há troca de informações ativa entre os níveis de conhecimento linguístico, sem que haja uma delimitação definida de seus módulos. RESUMINDO O interesse comum das duas áreas (Linguística e Psicologia) está no relacionamento que existe entre a linguagem e o pensamento, ou seja, nos modelos de processamento que envolve questões biológicas da linguagem, incluindo os problemas causados por lesões cerebrais, questões do subsistema linguístico, no qual que se inserem os âmbitos da fonética, da sintaxe, da lexicologia e da semântica; os subsistemas psíquicos que abordam questões de memória, percepção, conhecimento de mundo; o processamento da linguagem propriamente dita (e.g. texto, discurso), incluindo, por fim, questões de aprendizagem no âmbito da leitura e da escrita. Psicolinguístas VERSÃO TEXTUAL Que processos mentais acontecem quando procuramos entender uma mensagem verbal? De que maneira a dislexia afeta a compreensão de textos escritos? Por que retemos mais certas informações do que outras? FÓRUM Para participar do Fórum 5, primeiro você precisa ler dois artigos. O primeiro, voltado para a aquisição da leitura e da escrita, O título e sua função estratégica na articulação do texto (Visite a aula online para realizar download deste arquivo.), de Renilson José Menegassi e Maria Izabel Afonso Chaves. O segundo é voltado para a aquisição da oralidade, Estratégias de comunicação em uma língua estrangeira - A perspectiva da sala de aula (Visite a aula online para realizar download deste arquivo.) de Cássio Rodrigues. A partir daí, liste os pressupostos da Psicolinguística que você encontrar nos artigos. Envie as suas reflexões para o Fórum 5 e discuta com seus colegas e professor-tutor sobre elas. Como as suas reflexões divergem das dos colegas? Quais são os pontos em comum entre as suas reflexões e as dos colegas? REFERÊNCIAS BALIERO Jr. In MUSSALIM, F.; Bentes, A.C. Introdução a linguística – domínios e fronteiras 2. São Paulo: Editora Cortez, 2001 p. 183. 64 Teorias de Língua e Segunda Língua Aula 05: Psicolinguística Tópico 02: Métodos de Pesquisa PsicolinguísticaFonte [1] Como vimos no tópico 1, o estudo da psicolinguística se concentra nos mecanismos e nas operações subjacentes ao processamento da linguagem. As questões de interesse de seus estudiosos dizem respeito a "como a linguagem é realizada". É possível encontrar em pesquisas psicolinguísticas análises que se debruçam sobre como as palavras complexas e as sentenças são compostas no ato da fala ou sobre a maneira como tais aspectos estão subdivididos em seus constituintes nos atos da leitura e da escuta, por exemplo. Precisamos levantar uma questão primordial nas pesquisas psicolinguísticas. Em sua metodologia, o fator que a norteia é que os usuários da linguagem não tem consciência dos detalhes do processamento da linguagem. Quando assumimos que tais processos são subconscientes, admitimos um desafio a ser enfrentado por seus pesquisadores. Já que a maioria de seus processos não podem ser observados a olho nu, por observação direta, o processamento mental da linguagem requer a inferência de eventos por parte dos pesquisadores. Por exemplo, a fim de entender os processos mentais que os leitores realizam na construção de sentidos de um texto, o pesquisador tem que recorrer a verbalização dos leitores sobre processos. MULTIMÍDIA Clique aqui [2] Para entender melhor os processos mentais envolvidos durante a leitura. O método de pesquisa mais utilizado em pesquisas psicolinguísticas é chamado de Método Experimental. O que é um método experimental? De maneira bem simplificada, o método experimental é um design de pesquisa que adota procedimentos específicos para sua execução. Uma pesquisa de caráter experimental consiste na elaboração de hipóteses que sugerem relações de causa/efeito entre variáveis que podem ser dependentes e independentes. A partir disso, o pesquisador conduz o experimento com o objetivo de confirmar a(s) hipótese(s) inicialmente levantadas, verificando se é possível confirmá-la(s) ou refutá-la(s). Veja abaixo algumas técnicas utilizadas em pesquisas psicolinguísticas. 65 1. Slips of tongue/ speec SLIPS OF TONGUE/ SPEEC Tropeços/ erros de fala. Consiste em procurar entender certo fenômeno da linguagem através da observação do erro. Por exemplo: A fim de entender como um aluno em processo de alfabetização aprende a relacionar grafemas (as letras que estão no papel) a fonemas, o pesquisador pode observar que tipo de erros (quando, na produção de que fonema, ou na percepção de que grafema) o alfabetizando comete ao ser solicitado a ler um pequeno texto em voz alta. Apesar de não ser um paradigma experimental, no sentido em que o pesquisador não tem papel ativo no controle das circunstâncias que o processamento da linguagem ocorre nem na maneira como o "sujeito" observado irá responder ao estímulo, foi um das primeiras técnicas de análise a ser observada na área da psicolinguística. 2. Palavras na mente O léxico, as decisões lexicais. DECISÕES LEXICAIS O efeito frequência/ efeito priming. Muitos psicolinguistas consideram que o léxico mental como o conjunto de unidades individuais. É como se o léxico se consistisse dos espaços nos quais diferentes tipos de informação estão localizados. As principais perguntas seriam como essas informações se conectam. Por exemplo, (1) como ocorre a ativação de duas palavras como Relógio + pulso, para a formação do termo "relógio de pulso"? (2) como as informações dos verbos OLHAR, ASSISIR e VER são acessadas? (3) como acessamos as terminações ao tentarmos conjugar os verbos (ex. –NDO)? (4) Que tipo de informação carrega cada unidade do léxico? No paradigma que analisa as decisões lexicais, o falante da língua nativa é convidado a responder um questionário, na frente de um computador e julgar, apertando a tecla SIM ou Não, se as palavras que aparecem na tela do computador são palavras que realmente existem em sua língua materna. O efeito frequência diz respeito ao tempo utilizado pela pessoa que responde ao questionário. Admite-se que palavras mais complexas exigem mais tempo para a resposta. O paradigma priming é uma extensão das decisões lexicais. Psicolinguistas afirmam com base em pesquisas já realizadas, que quando uma palavra como GATO é vista, a imagem é ativada na mente e tal ativação se conecta a outras palavras do léxico que estejam relacionadas a ela semanticamente. Tal paradigma procura responder a pergunta: "Como as palavras na mente se relacionam?". 66 3. Processamento de sentenças. PROCESSAMENTO DE SENTENÇAS. Experimentos de leitura com tempo marcado, estudos de movimento dos olhos. Essas pesquisas partem do pressuposto que quanto mais complicada for a sentença, mais tempo o leitor levará para processá-la. A leitura de sentenças engloba uma série de movimentos nos olhos chamados de saccades. Os detalhes da movimentação dos olhos durante a leitura de sentenças são estudados por procedimentos sofisticados. Nos estudos, os "sujeitos" que estão sendo analisados sentam-se na frente do computador e leem um texto. Um raio infravermelho de baixa intensidade acompanha e registra o movimento dos olhos. A imagem captada pelo vídeo é analisada pelo computador, que calcula com precisão para onde o leitor fixou os olhos, apontando especificamente as palavras. Um dos aspectos que essa técnica revela é o tempo de fixação dos olhos em palavras menos frequentes (mais complexas). Outro aspecto é que os pontos de fixação normalmente se concentram em palavras como verbos e substantivos, de maneira inversa, os resultados da técnica também apontam para a questão que a fixação é menor em conjunções, por exemplo. 4. Processamento da atividade cerebral PROCESSAMENTO DA ATIVIDADE CEREBRAL ERP = event related potentials. Esta técnica, embora tenha os mesmos procedimentos da técnica que analisa o movimento dos olhos, destaca-se como promissora. A técnica consiste em analisar um "sujeito" sentado na frente da tela do computador desempenhando a atividade de leitura. A avaliação, no entanto, concentra-se em observar a atividade elétrica do cérebro. Por exemplo, o computador registra o instante no qual o estímulo acontece e compara a flutuação da voltagem imediatamente depois da exposição ao estimulo. O processo é repetido várias vezes e a média é calculada. Um dos aspectos revelados através dessa técnica é que o processamento de sentenças é imediato e online. Ao ler uma sentença, não há espera pelo fim completo da leitura. Na verdade, o que ocorre é uma constante constução de interpretações na medida em que a leitura é desvendada. Sempre que o que lemos contradiz as nossas expectativas, o sinal de anomalia semântica tem um pico. O sinal de anomalia semântica é chamado de N400. N400 Pico negativo aos 400 milisegundos após a apresentação do estímulo. 67 5. Processamento da linguagem e linguística LINGUAGEM E LINGUÍSTICA Fonética e fonologia - processamento (bottom-up) ascendente e (top- down) descendente , fonemas, sílabas. É preciso ressaltar que o processamento da linguagem envolve a troca de informações que ocorrem simultaneamente em vários níveis de análise. Tomemos o exemplo "O cão mordeu o gato". Na oração ocorre uma análise fonética que tenta isolar os fonemas e também a tentativa de delimitar as palavras na tentativa de relacioná-las as representações no léxico mental. A análise indutiva realizada é chamada de processamento ascendente. Nós não esperamos pela análise dos morfemas antes de começar a compreender. Na verdade, a interpretação é espontânea e automática para qualquer que venha ser a oração disponibilizada. Por esta razão, quando chegamos em "mordeu" , não estamos utilizando só o processamento ascendente, ao mesmo tempo, empregamos o processamento descendente. No uso rotineiro da língua, sempre empregamos as duas atividades ao mesmo tempo. Até o presente escolhemos detalhar algumas das técnicas de análise dos estudos da psicolinguística. Em todo caso, não esgotamoso detalhamento de todas. Ainda restam técnicas de análise no âmbito do processamento morfológico , da sintaxe, bem como no âmbito do uso das metáforas. MORFOLÓGICO Que analisa a ativação de morfemas (decomposição pos-lexical e pre-lexical). SINTAXE Que fundamenta sua análise em técnicas como "garden path sentence" e ambiguidade de sentenças. METÁFORAS Que enfatiza as técnicas de análise nos modelos de processamento seriado, modelos de processamento em paralelo ou modelos de rota única e rota dupla. 68 Teorias de Língua e Segunda Língua Aula 05: Psicolinguística Tópico 03: A relação entre psicolinguística e aprendizagem de uma Língua Estrangeira McLaughing, ao escrever sobre as implicações dos estudos e das pesquisas na psicolinguística, aponta a existência de vantagens de tal abordagem para o estudo da aprendizagem de uma língua estrangeira. Porque os professores de língua estrangeiras partem do mesmo pressuposto básico dos psicólogos, as análises sobre a aprendizagem são consideradas correspondentes. Por exemplo: MCLAUGHING In HEALY, Alice F. and Lyle E. Bourne. Foreign Language Learning: psycholinguistics studies on training and retention. Lawrence Erlbaum Associates Inc, 1998. 1. Professores de língua estrangeira assumem que o aprendizado de uma língua é uma habilidade que só será adquirida através da prática. 2. Que aprendizes de língua materna distintas não farão os mesmos erros no desempenho de suas tarefas no aprendizado da língua alvo. 3. Que professores de línguas estrangeiras são conscientes da importância do papel que representam a atenção e o esforço cognitivo exigido na realização das tarefas na L2, e por isso são capazes de modificar a linguagem ao se dirigir a alunos não fluentes, ajustando a “complexidade” de seus discursos as necessidades do aprendiz.. Fonte [3] Long e Doughty (2003), sugerem, no mesmo sentido, que os avanços da ciência cognitiva que investiga os processos mentais, trazem respostas significativas ao processo de ensino e aprendizado de língua estrangeira. Eles se referem especificamente a aspectos que consideram o aprendizado da línguas estrangeiras como um processo que antes de mais nada é complexo, interno, individual, em parte especificamente inato, que pode ocorrer em contexto social, sendo influenciado pelas variações daquele contexto, de seus interlocutores; mas que caracteriza-se primordialmente por ocorrer na mente (cérebro), lugar que guarda seus segredos. De qualquer maneira, a visão apresentada acima não é a mesma que compartilham os teóricos adeptos da visão sociolinguística. A visão dos estudiosos que observam os fenômenos linguísticos com 69 a lente da ciência cognitiva, impõe a necessidade de investigação cujo enfoque aos processos mentais envolvidos nas realização de tarefas sejam considerados. SOCIOLINGUÍSTICA Sobre a qual vocês irão ler na útima aula. RESUMINDO Psicolinguística é o estudo do processamento da linguagem. A área de investigação é definida tanto pelas disciplinas que a fundamentam quanto pela metodologia utilizada em suas pesquisas. O que os estudiosos da psicolinguística procuram entender é como as pessoas realizam as funções de compreensão e produção da linguagem em uso. A procura é por respostas sobre a natureza das representações mentais que subjazem a tais operações, sobre a natureza dos processos cognitivos e sobre as operações e computações que são empregadas na medida em que as pessoas produzem e compreendem a linguagem. ATIVIDADE DE PORTFÓLIO Responda as questões abaixo e poste no portfólio da aula: 1. Como os métodos de investigação da psicolinguística se diferenciam dos métodos de investigação linguística? 2. Vamos imaginar que você seja um(a) psicolinguísta e tenha como objetivo analisar como as pessoas usam a língua. Que pesquisas você desenvolveria para responder as perguntas abaixo? a. Considere palavras abstratas e concretas (no sentido semântico). Qual dos dois grupos é processado com mais facilidade? b. As pessoas em geral leem as palavras do começo ao fim? c. Pessoas com níveis diferentes de formação acadêmica processam a linguagem de maneira fundamentalmente diferente? LEITURA COMPLEMENTAR Sobre o desenvolvimento da autonomia e os aspectos psicolinguísticos leia o artigo: Autonomia e Complexidade uma análise de narrativas de aprendizagem [4] de Vera Lúcia Menezes de Oliveira Paiva. REFERÊNCIAS ARCHIBALD, John et al. Contemporary Linguistics: an introduction. Bedford St. Martins, 5ª edição. Boston/New York, 2005. DOUGHTY, Catherine and LONG, Michael H. The handbook of second language acquisition. Blackwell Publishing Ltd, 2003. 70 SHEALY, Alice F. and Lyle E. Bourne. Foreign Language Learning: psycholinguistics studies on training and retention. Lawrence Erlbaum Associates Inc, 1998. Fontes das Imagens 1 - https://emp-scs-uat.img-osdw.pl/img-p/1/kipwn/d576082e/std/2bc-452/106033836o.jpg 2 - http://www.youtube.com/watch?v=YvmpjOg_7X4%20\ 3 - http://www2.fcsh.unl.pt/psicolinguistica/images/faces.jpg 4 - http://www.veramenezes.com/autocomplex.htm 71 Teorias de Língua e Segunda Língua Aula 06: A Sociolinguística Tópico 01: Princípios básicos da Sociolinguística VERSÃO TEXTUAL Caro(a) aluno(a), seja bem vindo(a) ao tópico 1 da aula 06 do Módulo Teorias de Língua e Segunda Língua. É objetivo deste tópico reconhecer os princípios gerais Sociolinguística para o estudo da linguagem. Os objetivos específicos deste tópico é o de relacionar a teoria sociolinguística aos estudos tradicionais em linguística. Tenha uma boa aprendizagem! REFLEXÃO Para Benveniste, é dentro da, e pela língua, que indivíduo e sociedade se determinam mutuamente, dado que ambos só ganham existência pela língua... a linguagem sempre se realiza dentro de uma língua, de uma estrutura linguística definida e particular, inseparável de uma sociedade definida e particular. Logo língua e sociedade não podem ser concebidas uma sem a outra. Alkmin, 2001, p. 26). MULTIMÍDIA Assista ao vídeo motivador: Preconceito Linguístico [1] Você percebeu que a relação entre linguagem e sociedade vem sempre sendo tratada de modo quase que inquestionável? No ponto mais extremo, percebemos que esta relação pode ser entendida como a base da constituição do ser humano, ou seja, que a história da humanidade está sempre permeada pelo sistema de comunicação oral, ou seja, a língua. Então porque falar em uma área específica da Linguística para tratar das relações entre linguagem e sociedade, ou seja, a Sociolinguística? PARA SABER MAIS 72 Fonte [2] As teorias da linguagem, do passado ou atuais, refletem as percepções particulares sobre o que é língua e linguagem e o seu papel na vida social de acordo com o contexto histórico daqueles que se propuseram a estudar a linguagem. Ou seja, os linguistas assumiram posições teóricas que eram coerentes com o que se entendia por ciência no momento em que estavam inseridos. Assim, podemos mencionar Schleicher e sua perspectiva naturalista evolucionista da língua, Saussure e sua perspectiva sincrônica que concebia a língua como um produto da faculdade social da linguagem, separando língua de fala, Chomsky e sua perspectiva inatista que concebia a língua da perspectiva do falante ideal, Halliday e sua perspectiva funcional da linguagem, entre outros. De acordo com Alkmin (2001), a história dos estudos da linguagem toma dois caminhos diferentes a partir da proposta de Saussure, que, mesmo entendendo a natureza social da língua, institucionalizou uma divisão entre uma linguística interna (fala) e uma linguística externa (língua), que foi amplamente aceita em seu tempo, mas que deixa a herança de visão da Linguística como um campo dividido entre uma perspectiva formalista (homogênea) e uma perspectiva contextualizada (heterogênea) nos estudos da linguagem. Com o passar do tempo, refutou-se o princípio da homogeneidade do código linguístico. Entendeu-se quetodo indivíduo participa de diferentes comunidades linguísticas e que o próprio código linguístico é multiforme, heterogêneo, e que é realizado conforme as escolhas que os falantes realizam na situação comunicativa. A retomada da perspectiva da linguagem como algo de fato social, em que língua, cultura e sociedade precisam ser estudadas em conjunto, e que as línguas não existem fora dos sujeitos que as falam, por isso não pode a língua ter uma existência autônoma, precisa, neste contexto, surgir com uma nova nomenclatura, então: Sociolinguística. Fonte [3] Em 1964, o termo Sociolinguística foi apresentado no texto introdutório dos anais de um congresso na Califórnia, do qual participaram estudiosos da Sociologia, Antropologia e Linguística, como William Bright, John Gumperz, William Labov, Dell Hymes, entre outros. A proposta era que a Sociolinguística consiste em uma área que deve: Demonstrar a covariação sistemática das variações linguística e social. Ou seja, relacionar as variações linguísticas observáveis em uma comunidade às diferenciações existentes na estrutura social desta mesma sociedade. 73 Definiu-se, assim, o objeto da Sociolinguística como: a diversidade linguística da língua falada, observada, descrita e analisada em seu contexto social, ou seja, em situações de uso real. Descrição da imagem: Fatores sociais que interferem na diversidade linguística: - Identidade social do emissor ou falante; - Identidade social do receptor ou ouvinte; - Contexto Social; - Julgamento social; O ponto de partida para os estudos da Sociolinguística é a Comunidade linguística. Ao estudarmos qualquer comunidade linguística, verificaremos que há diferentes maneiras de falar presentes nesta mesma comunidade. Estas diferentes maneiras de falar são chamadas de variedades Linguísticas. O conjunto de variedades linguísticas é chamado de repertório verbal. COMUNIDADE LINGUÍSTICA Um conjunto de pessoas que interagem verbalmente e que compartilham um conjunto de normas com respeito aos usos linguísticos. A comunidade linguística se caracteriza não só por pessoas que falam do mesmo modo, mas também por pessoas que se relacionam por meio de textos diversos e que orientam seu comportamento comunicativo por um mesmo conjunto de regras. VARIEDADES LINGUÍSTICAS Diferentes maneiras de falar encontradas em uma mesma comunidade linguística. REPERTÓRIO VERBAL Conjunto de variedades linguísticas presentes em uma mesma comunidade linguísticas, dentro do qual os indivíduos fazem escolhas. EXEMPLO 74 Um exemplo ilustrativo disso é trazido por Alkmin (2001, p. 33): os funcionários do governo em Bruxelas que são de origem flamenga, nem sempre usam o holandês entre si. Eles lançam mão de um repertório verbal que contém o holandês coloquial, o holandês padrão, o francês coloquial, uma variedade carregada de termos administrativos etc. Outro exemplo encontrado na cidade de Fortaleza é quando um mesmo falante pode escolher falar "jogar o lixo fora" ou, em outra ocasião, "rebolar o lixo no mato". Isso mostra que toda comunidade sempre dispõe de um repertório verbal que lhe permite fazer escolhas. Mais sobre a variação linguística Fonte [4] A língua pode variar no tempo e no espaço, de maneira horizontal e vertical. No tempo, ou seja, no plano diacrônico, as mudanças na língua são pesquisadas pela linguística histórica, pois trata-se da história das línguas. No espaço, vertical ou horizontal, entende-se um plano sincrônico em que é possível recortar diversos fatores que influenciam nas escolhas linguísticas: a origem geográfica, a idade, o sexo, etc. Para fins de estudos, recorta-se então a variação geográfica e a variação social. GEOGRÁFICA Chamada diatópica. SOCIAL Chamada diastrática. As variações linguísticas relacionadas aos contextos são chamadas de registros formal ou informal, coloquial ou familiar, ou pessoal. Os falantes podem escolher entre um ou outro conforme percebe a importância de adequação de sua fala ao contexto em que está inserido no momento da comunicação e o julgamento que faz de si próprio e dos seus interlocutores, ou seja, a imagem que deseja projetar de si mesmo. 75 Isso se explica pela relação de valor agregada as variedades linguísticas: estas podem refletir uma hierarquia dos grupos sociais de uma determinada comunidade e, por conseguinte, as relações de poder. Algumas variedades linguísticas são consideradas superiores e outras inferiores e, por isso, projetam a autoridade que elas tem nas relações econômicas e sociais. Na Sociolinguística, o nome que se dá as variedades consideradas superiores é "variedades de prestígio" e seu uso é requerido normalmente em situações de interação de alto grau de formalidade, dependendo do assunto tratado e o meio em que a interação ocorre. São também chamadas de "norma culta". Porém, linguisticamente, não há como provar que as variedades de prestígio, ou "norma culta", sejam mais puras, ou perfeitas, ou modos corretos de falar, em detrimento das outras variedades. Aprendemos a falar na interação com o meio e a comunidade em que nascemos. Herdamos os hábitos linguísticos de determinadas classes sociais localizadas em determinadas regiões da comunidade linguística. Neste sentido, é preciso ter claro que os grupos situados na base da escala social não adquirem a língua de modo imperfeito, não deturpam ou estragam a língua, portanto, sua variedade linguística não deve ser entendida como "erro". O julgamento de "valor" ou prestigio de determinada variedade linguística em detrimento de outra não tem outra explicação a não ser pela questão política e econômica da comunidade linguística. Porém, se há uma variedade considerada padrão, percebemos que há um esforço para que falantes de outras variedades busquem adotá-la, para que possa participar de interações mais simétricas com falantes de outras variedades em situações públicas de fala, de trabalho ou escolar. SIMÉTRICAS Interações simétricas são percebidas como equilibradas em relação ao status social de cada participante, ou seja, as relações de poder entre os participantes são mais equilibradas. FÓRUM Neste fórum de discussão você deverá trazer exemplos de variedades linguísticas na língua estrangeira alvo (inglês ou espanhol), que se justificam pelos fatores sociais descritos acima (identidade social do falante, do ouvinte, o contexto e o julgamento social em relação as variedades diastráticas e diatópicas). Explique os exemplos que trouxer e comente a participação de pelo menos um colega. Bom trabalho! LEITURA COMPLEMENTAR Sobre Sociolinguística (por Roberto Gomes Camacho): Uma retrospectiva crítica da sociolinguística variacionista [5] REFERÊNCIAS ALKMIN, T. M. Sociolinguística – Parte I. In: MUSSALIM, F. BENTES, A.C. Introdução à Linguística: caminhos e fronteiras 1. São Paulo: Editora Cortez, 2001 (p. 21-47). 76 Teorias de Língua e Segunda Língua Aula 06: A Sociolinguística Tópico 02: A Sociolinguística Interacional VERSÃO TEXTUAL Caro(a) aluno(a), seja bem vindo(a) ao tópico 2 da aula 6 do Módulo Teorias de Língua e Segunda Língua. É objetivo deste tópico reconhecer os princípios gerais da Sociolinguística Interacional. Os objetivos específicos deste tópico são os de identificar os fatores que influenciam nas escolhas linguísticas durante a interação. Tenha uma boa aprendizagem! REFLEXÃO Para Bakhtin, a verdadeira substância da língua não é constituída por um sistema abstrato de formas linguísticas, nem pela enunciação monológica isolada, nem pelo ato psicofisiológico de sua produção, mas pelo fenômeno social da interação verbal realizada através da enunciação ou das enunciações. A interação social constitui assim a realidade fundamental da língua (Alkmin, 2001, p. 25). Fonte [6] O que podemos entender da reflexão acima é que a fala, de acordo com Bakhtin, está indissoluvelmente ligada às condições da comunicação, que, por sua vez, estãosempre ligadas a estruturas sociais. Deste ponto de vista, a interação social se mostra como algo complexo, pois todos os atributos cognitivos e socioculturais dos participantes de uma interação influenciam sua atividade comunicativa. A Sociolinguística Interacional é uma área de investigação que se propõe estudar o uso da língua de grupos humanos particulares na interação social, ou seja, o estudo do discurso interacional. A abordagem do discurso aqui proposta refere-se à organização social do discurso oral em interação, levando-se em conta a natureza dialógica da comunicação humana e o intenso trabalho social e 77 linguístico envolvido na co-construção do significado, principalmente, no que se refere aos fenômenos de inferência conversacional e sua contextualização (Gumperz, 1992). Porém, a interação face a face possui suas próprias regras que não são de natureza simplesmente linguística: A interação face a face tem seus próprios regulamentos, tem seus próprios processos e sua própria estrutura, e estes não parecem ser de natureza intrinsecamente linguística, mesmo que frequentemente expressos por um meio linguístico (Goffman, 1998, p. 15). As regras que governam a interação face a face pressupõem colaboração e esforço entre interagentes para que a conversa se mantenha e atinja os seus objetivos. Deve haver organização para que aquele que fala mantenha o seu turno de fala, para que os turnos não se sobreponham e para que um turno de fala esteja sempre em andamento. Para isso, é necessário que haja pistas orientando as tomadas de turno sem que a conversa seja prejudicada e garantindo que o foco permaneça estável. Seguindo esse ponto de vista, uma teoria geral das estratégias do discurso deve iniciar por especificar o conhecimento linguístico e sociocultural necessário para a co-sustentação do envolvimento conversacional. Ao enunciar, o falante se apoia em seu conhecimento linguístico e de mundo, e pressupõe o conhecimento linguístico e de mundo de seu ouvinte para que haja co-construção de significados. O ouvinte infere as intenções do falante também a partir dessa pressuposição sobre o conhecimento linguístico e de mundo de seu interlocutor. Com base nesse conhecimento partilhado é que se realiza o fenômeno de inferência conversacional e, dessa forma, os significados são construídos e o objetivo comunicativo atingido. O conhecimento prévio que os interagentes possuem em comum, e no qual se embasam para poder inferir as intenções comunicativas de outros interagentes no processo de co-construção de significados durante a interação, são aspectos do contexto social, como as variações linguísticas e significados sociais, a situação social, enquadres, alinhamentos, pistas de contextualização e estruturas de participação. Vale dizer que estes aspectos não são totalmente isoláveis: poderemos ver que estão intrinsecamente relacionados. A estrutura linguística e o seu significado social Fonte [7] Como já estudamos no tópico 1 desta aula, o repertório linguístico de qualquer falante é composto por variáveis linguísticas relacionadas a fatores socioculturais que podem ser selecionadas de acordo com suas intenções comunicativas. A escolha que os interagentes fazem a partir do repertório linguístico da comunidade em que vivem influencia o seu comportamento verbal em 78 situações sociais específicas. Dessa forma, a comunicação eficaz requer que falante(s) e ouvinte(s), ou melhor, interagentes, estejam de acordo quanto aos significados dessas escolhas e quanto à sua importância social ou quanto aos valores a elas relacionados. Blom e Gumperz (1998), buscando a comprovação dessa hipótese, realizaram um estudo sobre a alternância de códigos em uma comunidade bilíngue (Hemnesberget – Noruega), cujo repertório linguístico compreendia dois dialetos: o local e o oficial. Conforme os autores puderam verificar, os moradores faziam uso dos dois dialetos intencionando significados de acordo com a situação social em que se encontravam e de acordo com as variáveis sociolinguísticas apresentadas nas situações. Os estudiosos explicam que os eventos interacionais como as saudações e perguntas pessoais sobre o estado da família eram realizados no dialeto local devido ao valor relacionado ao código pela comunidade (os habitantes se orgulham de ser de origem local, de possuir relações de amizade e ascendência comum, e identificam-se com valores locais, entre eles, o dialeto local). Já quanto à língua padrão, esta é a língua oficial do país que é aprendida na escola, utilizada em cultos religiosos, comunicações oficiais e comerciais, implicando certo distanciamento e comprovando que estruturas linguísticas possuem valor social convencionado localmente. A situação social Fonte [8] Segundo Goffman (1998), o esforço entre os participantes para manter a conversação é motivado de duas formas: correlacionalmente e indicativamente. No nível indicativo, as características semânticas, expressivas, paralinguísticas e sinestésicas dos interagentes são orientadas, além do corpo que as executa, pelo cenário material, pelo ambiente imediato. Blom e Gumperz (1998) se referem ao cenário como o ambiente ecológico extracorpóreo em que os interagentes se encontram e que pode exercer restrições quanto aos seus comportamentos. Por exemplo, tratando-se dos mesmos indivíduos, estes podem se comportar, tanto verbalmente, quanto gestualmente, de forma muito diferente, se encontrados em um festival de música rock ou em um concerto de música clássica. Do ponto de vista da motivação correlacional, quando duas pessoas estão conversando, valores agregados aos atributos sociais dos interagentes influenciam seus comportamentos comunicativos, na forma como são reconhecidos na situação imediata. Estamos falando agora da situação social, que envolve o conceito de cenário, bem como valores de atributos sociais dos indivíduos que estão presentes na interação. A situação social permite que se construa uma escala limitada de relações sociais dentro de uma hierarquia específica de status, distribuindo-se assim, direitos e deveres entre os participantes. Um bom exemplo para ilustrar o cenário é a sala de aula, onde se encontram professores e alunos. Dentro deste cenário, podemos nos referir a uma situação social de ensino formal e tradicional, quando normalmente é desejável o uso da variação "culta" da língua e ao professor é atribuído o valor de autoridade máxima da situação por ser o detentor do conhecimento a ser apreendido, cabendo aos alunos ouvi-lo com atenção. 79 Podemos, por outro lado, pensar sobre uma situação social de ensino contemporânea, quando é esperado que os alunos realizem questionamentos e participem mais ativamente das interações em sala de aula. Em situações sociais desse tipo, pode existir uma certa liberdade para que os alunos tomem o turno de fala com maior frequência e, até mesmo, escolham uma variação linguística local. A partir das colocações acima, podemos dizer que a situação social não preexiste à interação, mas é dinâmica e construída de momento a momento, pois as escolhas linguísticas que os participantes fazem são realizadas a partir do entendimento que possuem sobre os fatores contextuais emergentes no ato comunicativo e esse entendimento dos participantes sobre a situação não é algo puramente individual, mas sim, partilhado e co-construído durante a interação. Enquadre e Alinhamento Fonte [9] A partir da identificação da situação social em que se encontram, os interagentes podem orientar- se quanto à recepção da mensagem por meio de "molduras", ou enquadres, acerca de como devem entender o que está acontecendo no momento da interação, assim como uma moldura pode nos orientar acerca de como devemos olhar para um quadro. A noção de enquadre foi difundida pelo psicólogo Gregory Bateson (1998) que enfatizou que todo o enunciado possui metamensagens que nos orientam paraa interpretação de seus sentidos implícitos. Tomemos o exemplo citado por Goffman (1998, p. 74) para melhor ilustrar este conceito. Porém, trago, primeiramente, o excerto como um texto corrido: Agora ouçam todos. As 10:00, teremos uma reunião. Vamos sair juntos, ir ao auditório e vamos nos sentar nas duas primeiras fileiras. O Prof. Dock, nosso diretor, vai falar conosco. Quando ele entrar, fiquem sentados, quientos e ouçam com atenção. Não balance as pernas. Preste atenção no que estou dizendo. Esta interação entre professor e alunos parece uma fala contínua, sem grandes mudanças, mas somente o acesso às gravações audiovisuais da interação nos permitiria saber que ali ocorriam mudanças significativas. É por isso que o autor traz o trecho dividido em três momentos: VERSÃO TEXTUAL 1. Agora ouçam todos. 2. As 10:00, teremos uma reunião. Vamos sair junto, ir para o auditório e vamos nos sentar nas duas primeiras fileiras. O Prof. Dock, nosso diretor, vai falar conosco. Quando ele entrar, fiquem sentados, queitos e ouçam com atenção. 3. Não balance as pernas.Preste atenção no que eu estou dizendo(Goffman, 1998,p.74) 80 No primeiro momento, a professora, ao chamar a atenção dos alunos, pode estar sinalizando o tipo de enquadre que canalizará a interpretação de sua mensagem conforme suas intenções comunicativas. No segundo momento, então, as crianças, a partir da atitude da professora, podem compreender que a mensagem é séria e devem ouvi-la em silêncio. No terceiro momento, a professora se dirige a um aluno específico chamando-lhe a atenção, o enquadre sinalizado então pode ser entendido como uma repreensão. Para sinalizar o enquadre, a professora pode ter usado recursos como sua postura corporal em relação aos alunos, expressões faciais, tom de voz ou outros tipos de comportamentos que podem estar relacionados a valores agregados à sua posição na estrutura social como professora. Esse dinamismo interacional é o que Goffman denominou "footing"(ou alinhamento), englobando os significados de postura, posição e projeção do "eu" de um participante em relação ao outro, consigo próprio e com o discurso em construção. A mudança de um alinhamento, dessa forma, pode sinalizar a mudança de um enquadre interpretativo e, consequentemente, mudanças de eventos sociais no discurso interacional, não só da parte de quem fala, mas também de quem escuta. Pistas de contextualização Fonte [10] Antes de tentarmos fazer qualquer tentativa de conceitualização, faz-se necessário voltarmos ao conceito de enquadre definido por Bateson (1998), o qual Gumperz (1992) preferiu chamar de "atividade". Assim como Bateson, Gumperz entende a natureza dinâmica de um enquadre, ou atividade, e a necessidade de ser um tipo de conhecimento partilhado entre interagentes para que este seja identificável e os objetivos comunicativos atingidos. Ambos os autores, porém, negam que os enquadres sejam determinantes dos significados a serem construídos durante a interação, mas apenas restringem as interpretações, canalizando as inferências ao direcionar a atenção dos interagentes para aspectos mais relevantes do objetivo interacional. A canalização de interpretações se realiza devido a pistas de contextualização que os falantes sinalizam no momento em que realizam uma enunciação. Gumperz (1998, p. 100) diz que é: Através de traços presentes na estrutura de superfície das mensagens que os falantes sinalizam e os ouvintes interpretam qual é a atividade que está ocorrendo, como o conteúdo semântico deve ser entendido e como cada oração se relaciona ao que a precede ou segue. Visando a compreensão do que seria estrutura de superfície de uma mensagem e pistas contextuais sinalizadas por meio de traços ali presentes, faz-se necessária a referência à teoria dos atos de fala de Austin e Searle. 81 ATOS DE FALA Segundo essa perspectiva teórica, quando um falante enuncia uma mensagem, ele age em três níveis, concomitantemente. O primeiro é o nível locucionário, o nível superficial da mensagem, que se realiza por meio de um conjunto de sons organizados a fim de efetivar um significado referencial e predicativo, ou seja, uma proposição. O segundo nível é o ato ilocucionário, ação essa que produz uma força a partir do enunciado que pode significar pergunta, afirmação, promessa etc., e isso depende da posição do locutor em relação ao que ele quer dizer. No último nível, o falante realiza o ato perlocucionário, que é o efeito produzido na pessoa que ouve o enunciado, podendo este ser, por exemplo, de agrado, ou de ameaça. Dessa forma, para que uma proposição possa atingir os três níveis de fala, o falante sinaliza a sua intenção comunicativa por meio de pistas contextualizadoras (Pinto, 2001). As pistas de contextualização podem ser tanto verbais quanto não verbais. Entre os tipos de pistas de contextualização mais comumente diagnosticados encontram-se: PROSÓDICAS Entoação, acento ou tom de voz. PARALINGUISTICA Pausas, tempo de fala ou hesitações. LINGUISTICAS Alternância de código, de dialeto ou de estilo, expressões formulaicas. NÃO VERBAIS Variam entre gestos, direcionamento do olhar e postura corporal (alinhamentos). 82 Para que o ouvinte possa interpretar as mensagens conforme as expectativas do falante, há necessidade de que ambos os interagentes compartilhem dos mesmos esquemas de conhecimento, baseados em suas experiências em situações semelhantes, bem como o conhecimento gramatical e lexical. A partir desses esquemas de conhecimento dos indivíduos, formam-se as suas expectativas em relação ao discurso, orientado, assim, o seu comportamento comunicativo. Esse conhecimento prévio é construído por meio de um contato intenso entre os membros de uma comunidade específica que convencionará as pistas de contextualização localmente. As pistas são tão cotidianamente utilizadas que podem passar despercebidas no momento da interação, sendo compreendidas, muitas vezes, sem esforço consciente dos interagentes. Dessa forma, podemos dizer que o significado das pistas de contextualização é implícito e altamente dependente do contexto, tornando-se muito difícil referirmo-nos a elas de forma descontextualizada. Estruturas de participação Fonte [11] Pela observação de qualquer um dos participantes de uma interação, e sua relação com os outros e com o discurso da interação, somos capazes de definir o seu status de participação na interação, bem como o dos outros participantes. A partir da relação entre as pessoas e o discurso, as estruturas de participação são construídas, orientando seus comportamentos e falas. Philips (1972) em seu famoso estudo sobre o desempenho interacional das crianças da comunidade indígena "Warm Spring", no estado norte-americano de Oregon, definiu estruturas de participação como arranjos estruturais da interação, referindo-se ao modo como a interação verbal se organiza. A pesquisadora distinguiu quatro estruturas de participação nas interações que ocorriam tipicamente nas salas de aula que investigou, para que pudesse estudar o desempenho interacional das crianças indígenas e anglo-americanas. Esses possíveis arranjos estruturais são guiados pelos papéis sociais de cada indivíduo dentro da estrutura social, pelos direitos e obrigações a eles conferidos, e pelos alinhamentos que assumem uns em relação aos outros. O conjunto de comportamentos comunicativos resulta do papel social dos interagentes, o que é esperado de cada um de acordo com seu status social, e dos alinhamentos que assumem uns em relação aos outros. Podemos dizer, então, que as estruturas de participação estão sujeitas a modificações a todo o momento, pois os papéis sociais dos participantes podem mudar de um momento para o outro durante a interação e resultar na mudança de seus papéis discursivos, bem como dos alinhamentos que assumem entre si, que também são de natureza dinâmica. Os papéis discursivos de falantese ouvintes que os interagentes assumem se relacionam aos valores agregados a suas identidades na situação social em que se encontram. 83 O papel do falante na comunicação sempre teve seu lugar na investigação sociolinguística. Podemos diferenciar três tipos de papéis discursivos de falante: o Animador; o autor; e o principal. ANIMADOR Responsável pela atividade física, acústica da fala. AUTOR Dono do script e responsável pelo conteúdo e implicações da fala. PRINCIPAL Indivíduo revestido de uma posição estabelecida pela fala que produz. Porém, de acordo com Philips (1972), o papel do ouvinte foi por muito tempo negligenciado. A autora foi uma das pioneiras em chamar a atenção dos pesquisadores para a importância do ouvinte na sustentação da conversação e de sua contribuição com o falante, mesmo que seja de forma somente não verbal. A autora aponta a distinção a ser feita sobre os tipos de ouvintes, já que os mesmos podem se diferenciar quanto ao endereçamento da palavra: numa interação composta por três participantes ou mais, há aqueles ouvintes para os quais a palavra está sendo diretamente dirigida, chamados de "interlocutores ratificados", e aqueles ouvintes para quem o falante não está dirigindo a palavra, ainda que momentaneamente, os "interlocutores não ratificados". Os interlocutores ratificados podem ser nomeados verbalmente e/ou de maneira não verbal, quando recebem o olhar do falante mais frequentemente do que os interlocutores não ratificados. Além do olhar, o falante tende a orientar o seu alinhamento para o ouvinte ratificado, que, provavelmente, será o próximo interagente a tomar o turno de fala. Todavia, a ordenação de turnos não é algo pré-estabelecido quanto ao seu sequenciamento e duração, mas é sim algo construído durante a interação e revelado pelas estruturas de participação. Apesar de haver algumas características básicas de uma conversa, como, por exemplo, repetidas trocas de turno entre participantes, tendência em evitar sobreposição de turnos ou intervalos entre eles, técnicas de atribuição de turnos etc., estas características podem variar de cultura para cultura e também de acordo com a situação social em que os interagentes se encontram. Para ilustrar, durante seminários de cursos de pós-graduação, existem normas convencionadas localmente a respeito da ordenação da fala e das estruturas de participação: o apresentador do trabalho deve se posicionar de pé, ou sentado, em frente à plateia e não deve ser interrompido em situações de sala de aula em uma universidade do Brasil. Porém, é totalmente aceitável que haja certas interrupções com fins de clarificação ou questionamento. Já em universidades dos Estados Unidos, uma interrupção seria considerada totalmente descabida e acarretaria julgamentos acerca da falta de polidez daquele que toma o turno do apresentador. 84 Esse exemplo esclarece a importância de sabermos os papéis dos participantes de uma interação no que se refere à ordenação da fala para analisarmos o discurso da interação social, por meio das estruturas de participação. DESAFIO Assista a um filme na língua estrangeira alvo (inglês ou espanhol) e selecione um trecho para análise: busque identificar os fatores contextuais presentes na interação que influenciam as escolhas e os comportamentos comunicativos dos interagentes: a situação social, os enquadres e os alinhamentos, e as pistas de contextualização. REFERÊNCIAS ALKMIN, T. M. Sociolinguística – Parte I. In: MUSSALIM, F. BENTES, A.C. Introdução à Linguística: caminhos e fronteiras 1. São Paulo: Editora Cortez, 2001 (p. 21-47). BATESON, G. Uma teoria sobre brincadeira e fantasia. In: RIBEIRO, B. T. e GARCEZ, P. M. (orgs.) Sociolingüística interacional: antropologia, lingüística e sociologia em análise do discurso. Porto Alegre: AGE, 1998, p. 57-69. BLOM, J-P.; GUMPERZ, J. J. O significado social na estrutura lingüística: alternância de códigos na Noruega. In: RIBEIRO, B. T. e GARCEZ, P. M. (orgs.) Sociolingüística interacional: antropologia, lingüística e sociologia em análise do discurso. Porto Alegre: AGE, 1998. GOFFMAN, E. A situação negligenciada. In: RIBEIRO, B. T. e GARCEZ, P. M. (Orgs.) Sociolingüística interacional: antropologia, lingüística e sociologia em análise do discurso. Porto Alegre: AGE, 1998 (a). GUMPERZ. J. J. Discourse Strategies. Cambridge: CUP, 1992. ______. Convenções de contextualização. In: RIBEIRO, B. T. e GARCEZ, P. M. (orgs.) Sociolingüística interacional: antropologia, lingüística e sociologia em análise do discurso. Porto Alegre: AGE, 1998. PHILIPS, S. U. Participant Structure and Communicative Competence: Warm Springs Children in Community and Classroom. In: CAZDEN, C. B.; HYMES, D. Functions of Language in the Classroom. New York: Teachers College Press, 1972. PINTO, J. P. Pragmática. In: MUSSALIM, F.; BENTES, A.C. (orgs.) Introdução à lingüística 2: domínios e fronteiras. São Paulo: Cortez, 2001. p. 47-68. 85 Teorias de Língua e Segunda Língua Aula 06: A Sociolinguística Tópico 03: Estudo da Interlíngua VERSÃO TEXTUAL Caro(a) aluno(a), seja bem vindo(a) ao tópico 3 da aula 6 do Módulo Teorias de Língua e Segunda Língua. É objetivo deste tópico reconhecer a definição de interlíngua nos estudos da Sociolinguística. Os objetivos específicos deste tópico são os de identificar os fatores que influenciam a interlíngua no processo de aprendizagem de segunda língua ou língua estrangeira. Tenha uma boa aprendizagem! REFLEXÃO Para Benveniste, a língua permite que o homem se situe na natureza e na sociedade, o homem se situa necessariamente em uma classe, seja uma classe de autoridade ou uma classe de produção. Por isso, revela o uso particular que grupos ou classes de homens fazem dela e as diferenciações que daí resultam no interior de uma língua comum. (Alkmin, 2001, p. 27) Ao estudar uma segunda língua ou língua estrangeira (doravante L2 e LE), buscamos sempre entender um "núcleo duro" que chamamos de inglês ou espanhol. Porém, já sabemos que há diferentes variedades linguísticas na língua que estudamos que se definem por diversos fatores sociais e interacionais. No inglês, por exemplo, a variação linguística mais notada é a regional, devido a fonologia. Nós normalmente reconhecemos diferentes dialetos pela pronúncia ou sotaque, antes mesmo que percebamos escolhas vocabulares (léxico) ou gramaticais (morfossintaxe). Um nativo de Lancashire pode ser reconhecido por um nativo de Yorkshire devido a pronúncia do /r/ retroflexo depois de vogais como em stir, ou hurt. Escolhas vocabulares são percebidas por exemplo no australiano "middy"para cerveja. Na gramática, ao invés de dizer "I saw it", um indivíduo de Nova York poderia dizer "I see it", enquanto que um indivíduo da Pensilvania diria "I seen it"e na Virginia "I seen it" ou "I seed it", ao usar o dialeto local. Segundo Quirk (1992), é perda de tempo nos perguntarmos quantos dialetos há em inglês. É o grau de familiaridade com os dialetos regionais que nos permite identificá-los. Por exemplo, no Brasil, percebemos a variação nordestina ou sulista como algo homogêneo, mas para um indivíduo pertencente à comunidade nordestina poderá perceber diferenças entre os dialetos regionais do Ceará e da Paraíba. Mais ainda, no estado do Ceará, um indivíduo poderá perceber diferentes variações na capital e no interior, podendo até identificar o município ou comunidade a qual pertence o indivíduo. Quanto maior a experiência que temos nas interações com comunidades linguísticas diferentes, mais seremos capazes de diferenciar dialetos regionais. Não somente regionais, há também, como já vimos, 86 variações relacionadas aos grupos sociais, quanto ao nível de escolaridade, sexo, idade e a situação interacional. Precisamos lembrar que há as variações de acordo com a atitude do falante, e que isso pode também ser um aspecto cultural, por isso, precisamos evitar julgamentos ao se aprenderL2 ou LE, tratando variações como diferenças. Por exemplo: grau de formalidade, frieza, impessoalidade, relaxamento, informalidade, amistosidade, etc. Você mesmo pode questionar que quando consideramos as frases isoladamente, não podemos afirmar quais fatores de fato estão interagindo com as escolhas dos falantes, se a questão é o julgamento, se é a situação social, se é a idade ou a classe profissional, etc. Por isso a necessidade de estudarmos as línguas, seja língua materna (l1), l2 ou lê, em contexto! Interlíngua [12] Perspectivas Sociolinguísticas para Aquisição/Aprendizagem de L2 Fonte [13] Se perguntados, aprendizes de uma L2 poderão dar respostas bem diferentes sobre seus objetivos de aprender uma L2. No entanto, uma coisa há em comum: o desenvolvimento da competência comunicativa na língua alvo para interagir na comunidade linguística alvo. Além dos fatores sociais e interacionais apontados pela Sociolinguística variacionista e interacionista já estudadas, que certamente irão influenciar a sua competência comunicativa, outros fatores investigados por Mitchell e Myles (1998) também podem interagir com estes já estudados COMPETÊNCIA COMUNICATIVA A competência comunicativa vem sendo definida a partir da proposta de Hymes (1972) que consiste, de maneira bem geral, de saberes sobre a língua, a cultura, a sociedade, os gêneros praticados e a ativação das quatro habilidades linguísticas. Estes fatores também estão relacionados a Interlíngua,pois se relacionam a "transferência" de conhecimentos ou comportamentos comunicativos da L1 para a L2 ou LE: Relações de poder Na sala de aula, sabemos que há relações de poder diferenciadas entre professor e alunos, mas além disso, na interação social de estrangeiros com nativos podemos também encontrar relações de poder desequilibradas que são fruto de preconceito ou discriminação racial. Isso pode influenciar o entendimento mútuo sobre a atividade comunicativa em andamento e levar ao fracasso. Um 87 exemplo disso pode ser a interação abaixo que mostra que o falante estrangeiro acreditava que o agente de viagem tinha o direito de lhe fazer perguntas pessoais, e confunde "how" com "why", por interferência de sua língua materna: "par quoi", para "how", e "pourquoi", para "why": Moroccan: I am leaving for Casablanca, Morocco. Agent: How do you wish to go? Moroccan: A lot of problems there father is ill. Agent: I don't understand that what do you want where do you want to go. A expectativa da relação desigual de poder na interação da parte do estrangeiro interferiu em seu desempenho comunicativo. Estes desencontros podem levar o falante estrangeiro a perder a vontade de interagir consequente de possíveis tomadas de decisões não apropriadas, desencontros da interpretação do que lhe é dito e escolhas não apropriadas conforme os objetivos da interação. Desencontros nas expectativas culturais Falantes nativos e estrangeiros podem trazer diferentes expectativas sobre o que deve acontecer na interação conforme os seus comportamentos comunicativos na língua materna. Um exemplo trazido por Mitchell e Myles (1998) é o do mesmo falante marroquino que não reconhece uma pergunta hipotética sobre preferências em uma entrevista de trabalho, o que ele esperaria em uma situação semelhante em sua comunidade linguística, e a reinterpreta como uma pergunta fatual sobre a sua profissão: Native: Hmmm, all right then, good, and now what kind of job would you like to do there? Moroccan: as a job? Native: Mmm Moroccan: ah, because don't work, unemployment Native: There. You are unemployed, but if you have a job, what kind of job you are looking for, would you accept?? Isso mostra que um grau mínimo de conhecimento partilhado sobre conhecimento cultural é necessário para interagir na língua alvo, assim a interação poderia prosseguir cooperativamente. Identidade e autoestima Considera-se aqui a imagem que o indivíduo tem de si mesmo, que deriva de seu conhecimento enquanto membro de um grupo social, associado ao fator emocional relacionado a este grupo. A identidade social pode ser entendida como o sentimento de "pertencer" a um grupo social particular, seja definido pela etnia, pela língua ou de outras maneiras, mas que é importante considerar pois interfere no esforço do estrangeiro em buscar oportunidades de interação na língua alvo. Um exemplo que Mitchell e Myles traz é o da tcheca, Martina, que, enquanto empregada doméstica não respondia ou reclamava das situações imposta pelos seus patrões. Mas enquanto funcionária de uma lanchonete, em que seu chefe era adolescente, logo assumiu um status de autoridade perante a jovem e buscou seus direitos de fala: "In restaurant was working a lot of children, but the children always thought that I am – I don't know – maybe some broom or something. They always said "Go and clean the living room". And I was washing the dishes and they didn't do nothing. They talked to each other and they thought that I had to do everything. And I said "no". The girl is only 12 years old. She is younger than my son. I said "No, you are doing nothing, you can go and clean the tables or something." 88 Afetividade e fatores emocionais O impacto da afetividade e da emoção na comunicação vem sendo bastante investigado nos estudos da interlíngua por interferirem diretamente no comportamento comunicativo dos estrangeiros durante interações, principalmente, quando há relações desiguais de poder. Um exemplo disso é uma mãe estrangeira que, no hospital desejava saber sobre sua filha acidentada, não foi atendida pelo médico de plantão, que pediu que ela voltasse na manhã seguinte para saber as informações desejadas. Furiosa, ela enfrentou o médico para dar-lhe a devida atenção, mas com a emoção, não conseguiu dizer o que desejava: "He told me that I leave at once from, from the hospital because well, I think it is the time, because it is nine twenty, twenty-one, twenty-one (..) and it is what I said, because I was very angry with him well I got angry with him and (…) I told him a lot of things but I forgot a lot of words, I didn't find the words to say the things I tell him because it is not good manners and he said goodbye to me..." Em outros estudos em que a afetividade e fatores emocionais são favoráveis, como a identificação do falante estrangeiro com a cultura alvo e relações de poder mais simétricas, poderíamos encontrar interações muito diferentes, consideradas mais bem sucedidas. ATIVIDADE DE PORTFÓLIO Para o portfólio 6, siga as seguintes instruções: Leia o texto anexado aqui (Visite a aula online para realizar download deste arquivo.), como um modelo de resumo crítico de toda as teorias estudadas neste módulo. A partir daí, faça também um resumo crítico sobre as teorias da Sociolinguística estudadas nesta aula. Você pode intitular o texto como: Um panorama sobre os estudos sociolinguísticos. Use as normas da ABNT e inclua a bibliografia. O seu texto não deve conter mais de duas laudas. Tenha um bom trabalho! REFERÊNCIAS ALKMIN, T. M. Sociolinguística – Parte I. In: MUSSALIM, F. BENTES, A.C. Introdução à Linguística: caminhos e fronteiras 1. São Paulo: Editora Cortez, 2001 (p. 21-47). QUIRK. R. et. Al. A Grammar of Contemporary English. Harlow: Longman, 1992. MITHELL, R.; MYLES, R. Second Language Learning Theories. London: Arnold, 1998. Fontes das Imagens 1 - https://www.youtube.com/watch?v=EbBJ_XUW1Dc&t=18s 2 - http://4.bp.blogspot.com/_GjtXAWPwsmI/RxZ2xS4KV9I/AAAAAAAAAD0/wzgL_zeEQIc/s200/FALAR.gif 3 - http://1.bp.blogspot.com/_lRx7-ylrguQ/SX9V1UzydNI/AAAAAAAAA5M/epTJqbrqjg0/s200/conversation.jpg 4 - http://revistadeletras.files.wordpress.com/2009/07/13599323.jpg 5 - http://www.gel.org.br/estudoslinguisticos/volumes/31/htm/mesaredo/MR03.htm 89 6 - http://www.messa.com.br/eric/ecode/uploaded_images/redepessoas-778135.jpg 7 - http://3.bp.blogspot.com/_WlkvrUXsSL8/TCnHxFCXLQI/AAAAAAAAAH4/gI5oYU-M5Tc/S749/logo_bonecos1.jpg8 - http://3.bp.blogspot.com/_WmIyaZPESuQ/SCnlP7tInDI/AAAAAAAAA88/pRtA5uqlrtM/s400/todas-as-criancas-do- brasil06.jpg 9 - http://4.bp.blogspot.com/-chD2bu1jNl4/UqJmrHoo2OI/AAAAAAAAG2o/OdKrhTwQ_bc/s320/dialogo.JPG 10 - http://pbs.twimg.com/media/C5-G7-iUsAIW3BJ.jpg:medium 11 - http://1.bp.blogspot.com/_8jj2tXjYB0k/ScKoaWST4CI/AAAAAAAAAEE/IpJzSpyqU28/S220/conversation1-300x2311.jpg 12 - http://cvc.cervantes.es/ensenanza/biblioteca_ele/diccio_ele/diccionario/interlengua.htm 13 - http://www.fetecpr.org.br/wp-content/uploads/2016/07/bla_bla.jpg 90 LLESP_Capa_Creditos_Sumario Combinarenumerar TeoriasdeLinguaeSegundaLingua_aula_01 TeoriasdeLinguaeSegundaLingua_aula_02 TeoriasdeLinguaeSegundaLingua_aula_03 TeoriasdeLinguaeSegundaLingua_aula_04 TeoriasdeLinguaeSegundaLingua_aula_05 TeoriasdeLinguaeSegundaLingua_aula_06 LLESP_Contracapa