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Profª. Melissa Schwanz Universidade de Caxias do Sul Área do conhecimento de Ciências da Vida Disciplina de Farmacologia – FBV 4008 1 Dor • Experiência sensorial e emocional desagradável, relacionada com lesão tecidual real ou potencial. •O tratamento da dor não deve estar limitado a eliminar a causa da sensação dolorosa, mas sim, dar alívio ao paciente que apresenta dor. 2 SENSAÇÃO SUBJETIVA SINAL VITAL Componentes da dor •Nocicepção: percepção de estímulos nocivos pelo SNC – sensação dolorosa. •Reatividade emocional: interpretação afetiva de caráter individual que modula ou distorce a sensação dolorosa. 3 4 Fisiologia da dor 5 Fisiologia da dor A nocicepção se refere à atividade do sistema nervoso aferente, induzida por estímulos nocivos, que podem ser exógenos (mecânicos, químicos, físicos e biológicos) e endógenos (inflamação, exposição de dentina, isquemia tecidual). Sua recepção em nível periférico se dá em estruturas específicas, situadas nas terminações nervosas livres e denominadas NOCICEPTORES. 6 Transdução Um evento sensorial térmico, químico ou mecânico ativa um receptor periférico específico, resultando em influxo de íons e despolarização da terminação nervosa periférica. Canais iônicos sensíveis a ácido (CISA) Receptores de Potencial Transitório (TRP) 7 Transdução Os estímulos térmicos ativam o receptor vaniloide 1 (TRPV1) de potencial receptor transitório (TRP) ou a proteína semelhante ao receptor TRP vaniloide 1 (TRPV2); ambos são canais catiônicos sensíveis ao calor. TRPV1 = um pH extracelular baixo, a ligantes químicos vaniloides, como a capsaicina, ou ao calor acima de 42°C. TRPV2 = calor acima de 50°C. 8 9 Transdução Uma subpopulação específica de terminações nervosas aferentes primárias (os mecanonociceptores de alto limiar) é excitada por estímulos mecânicos relativamente intensos. O transdutor para a mecanotransdução nociva ainda não foi identificado. 10 11 Transdução Os estímulos químicos podem ativar canais iônicos sensíveis a ácido (CISA), canais P2X ou P2Y sensíveis a ATP, ou receptores B1 ou B2 sensíveis a cininas. 12 produz um influxo de cátions despolarizantes pelo TRPV1 e dos canais iônicos sensíveis a ácido (CISA). 13 Transdução Transmissão Os axônios dos neurônios aferentes primários conduzem a informação das terminações periféricas para o SNC. 14 Esses neurônios podem ser classificados em três grupos principais de acordo com a sua velocidade de condução e calibre. Aβ = fibras de condução rápida, que respondem com baixo limiar de estímulo a estímulos mecânicos e são ativadas por toque leve, vibração ou movimento de pelos. Aδ = fibras que conduzem com velocidade intermediária e respondem a estímulos de frio, calor e mecânicos de alta intensidade. Fibras C = conduzem lentamente, fazem sinapse na medula espinal e, em geral, respondem de modo multimodal; são capazes de produzir potenciais de ação em resposta a calor, temperatura morna, estímulos mecânicos intensos ou irritantes químicos (nociceptores polimodais). 15 1º = sente a informação do seu pé batendo. Isto acontece porque as informações relacionadas com o tato são conduzidas pelas fibras A-Beta, que tem um grande diâmetro e conduzem informações com muita rapidez, portanto estas informações chegam ao seu cérebro primeiro. 2º = Pouco tempo depois você começa à sentir a dor, causada pelo dano ao tecido do seu pé, que é conduzida pelas Fibras do tipo A-Delta e C, que são mais lentas. 16 17 Transdução Transmissão 18 Um potencial de ação que se inicia da periferia ativa os canais de cálcio pré-sinápticos sensíveis à voltagem, resultando em influxo de cálcio e liberação subsequente das vesículas sinápticas. A seguir, os neurotransmissores liberados (i. e., glutamato e neuropeptídios, e a substância P) atuam sobre receptores pós- sinápticos. A estimulação dos receptores de glutamato ionotrópicos leva a uma despolarização pós-sináptica rápida, enquanto a ativação de outros receptores moduladores medeia uma despolarização mais lenta. A despolarização pós-sináptica, quando suficiente, leva à produção de potencial de ação (geração de sinal) no neurônio transmissor secundário. 19 Modulação A transmissão sináptica na medula espinal é modulada pelas ações de interneurônios inibitórios locais. Os principais neurotransmissores inibitórios no corno dorsal da medula espinal são os peptídeos opioides, a norepinefrina, a serotonina (5-HT), a glicina e o GABA. 20 Percepção O impulso será integrado e reconhecido como DOR. Tipos de dor A. Dor aguda (nociceptiva): estímulo nocivo excessivo, originando sensação intensa e desagradável. • Agulhada na ponta do dedo, dor pós-operatória. B. Dor crônica: dor que dura por mais tempo que a lesão tecidual desencadeante. • Dor oncológica. C. Hiperalgesia: maior intensidade de dor associada a um estímulo nocivo leve. • Ingestão de líquidos/alimentos com a mucosa estomacal inflamada. D. Dor neuropática: dor crônica provocada por danos nos neurônios nociceptivos (derrame, esclerose múltipla). • Neuralgia do nervo trigêmeo. 21 22 Princípios gerais do tratamento Identificar a origem da dor e intensidade. Eliminação tratamento específico – condição indutora. Tratamento sintomático: analgésicos menos potentes e com menores efeitos adversos. Não adiar o uso de analgésicos potentes em quadros dolorosos intensos. • Dor leve e moderada - AINEs • cefaleia, dismenorreia, dor articular e/ou muscular... • Dor aguda intensa: opioides • queimaduras, pós-operatórias, fraturas ósseas, câncer... • Dor neuropática crônica: fármacos antidepressivos (especialmente tricíclicos) e anticonvulsivantes. • Bloqueio reversível da condução nervosa: anestésicos locais. 23 Tratamentos disponíveis 24 25 26 MECANISMO DE AÇÃO – analgésico 1. Ao reduzir a síntese de prostaglandinas, os AINE diminuem a hiperalgesia inflamatória e a alodinia. 2. Os AINE diminuem o recrutamento dos leucócitos e, consequentemente, a produção de mediadores inflamatórios derivados dos leucócitos. 3. Os AINE que atravessam a barreira hematoencefálica impedem a produção de prostaglandinas que atuam como neuromoduladores produtores de dor no corno dorsal da medula espinhal. 27 28 DEFINIÇÃO •Opiáceos - ÓPIO (Papaver somniferum L.) •Analgésicos opioides são fármacos que mimetizam a ação de substâncias produzidas naturalmente pelo organismo: peptídeos opioides endógenos. •Sistema endógeno: • Endorfinas • Encefalinas • Dinorfinas Encontrados em regiões do sistema nervoso envolvidos com a transmissão, organização e sensação da dor. Cérebro e periferia. •Receptores opioides: • µ (mu) • К (kappa) • δ (delta) Relacionados a transmissão medular da dor. 32 A ativação dos receptores opioides µ tanto pré-sinápticos quanto pós-sinápticos por neurônios inibitórios descendentes e de circuito local inibe a transmissão central de estímulos nociceptivos. Na terminação pré-sináptica, a ativação do receptor opioide µ diminui o influxo de Ca2+ em resposta a um potencial de ação. A ativação dos receptores opioides µ pós-sinápticos aumenta a condutância do K+ e diminui, portanto, a resposta pós-sináptica à neurotransmissão excitatória. MECANISMO DE AÇÃO •Mimetizar o efeito dos peptídeos opioides endógenos: • Por meio de ligação com receptores µ (mu), К (kappa) e δ (delta). • A ligação de cada opioide varia de acordo com o grau de afinidade aos receptores. Morfina Endorfina 34 35 CLASSIFICAÇÃO • AGONISTAS DE RECEPTORES • Morfina • Codeína • Tramadol • Heroína • Hidromorfona • Oximorfona • Oxicodona • Etorfina • Levorfanol • Meperidina (ou petidina) e congêneres (difenoxilato e loperamida) • Fentanila e congêneres (alfentanila, sufentanila e remifentanila) • Metadona e congêneres (propoxifeno e levometadil) • AGONISTAS PARCIAIS • Nalbufina • Nalorfina • Butorfanol • Pentazocina • Buprenorfina • Meptazinol • Dezocina • ANTAGONISTAS • Levalorfano• Nalmefeno • Naloxona • Naltrexona FARMACOCINÉTICA •ABSORÇÃO: • Bem absorvidos quando administrados por via subcutânea, intramuscular e oral. • Devido ao efeito de primeira passagem, pode ser necessário que a dose oral do opioide (p. ex., morfina) seja muito mais alta do que a dose parenteral para produzir o efeito terapêutico. •DISTRIBUIÇÃO: • Os opioides se ligam às proteínas plasmáticas com afinidade variável; • Abandonam rapidamente o compartimento sanguíneo e localizam-se em concentrações mais altas em tecidos com rica perfusão, como o cérebro, os pulmões, o fígado, os rins e o baço. FARMACOCINÉTICA METABOLIZAÇÃO: • Via oral: metabolismo de 1ª passagem. EXCREÇÃO: • Os metabólitos polares, inclusive conjugados de glicuronídeos dos analgésicos opioides, são excretados principalmente na urina. •Além disso, são encontrados conjugados a glicuronídeo na bile, porém a circulação êntero-hepática representa apenas uma pequena parte do processo excretor desses metabólitos polares. 39 MORFINA • Considerada o opioide de referência, com o qual outros opioides são comparados. • Agonista opiáceo forte*. • Oral: não utilizada em animais devido ao efeito de 1ª passagem. • Injetável (IM, SC ou IV): preferida. * características analgésicas, suscetibilidade de abuso e tendência a causar depressão respiratória. Farmacocinética • ABSORÇÃO: • Oral: lenta • Injetável: rápida e confiável (metabolização) • DISTRIBUIÇÃO: • Todos os tecidos (fetos) • Pequena porcentagem atravessa a barreira HEC • METABOLIZAÇÃO: • Oral: metabolismo de 1ª passagem – glicuronizada • EXCREÇÃO: • Urina • Bile (pequenas quantidades) 42 Composto com potência analgésica 4 a 6 x maior. • Usos clínicos: • Dores moderadas a intensas – humanos e animais. • Analgesia para o paciente com ventilação mecânica. • Efeitos adversos: • Graves: depressão respiratória, hipotensão, confusão, potencial de uso abusivo. • Comuns: constipação intestinal, náuseas, vômitos, tontura, cefaleia, sedação, retenção urinária, prurido. • Contraindicações: • Asma grave. • Íleo paralítico. • Depressão respiratória/hipoventilação. • Obstrução das vias respiratórias superiores. HIDROMORFONA • Agonista opiáceo forte. • Efeito analgésico 6 a 7 vezes maior que a morfina. • Estimula o centro do vômito em um grau bem menor. • Além disto, produz pouca liberação de histamina, portanto, há pouca probabilidade de este opioide causar hipotensão. • Usos clínicos: • Dores moderadas a intensas – humanos. • Analgesia, sedação e como adjunto na anestesia em cães e gatos. CODEÍNA • Usos clínicos: • Controle da dor leve a moderada – humanos. • Antitussígeno – animais (cães). • Agonista opiáceo moderado. • Efeito analgésico 6 a 7 vezes menor que a morfina. • Estimula o centro do vômito em um grau bem menor. • Além disto, produz pouca liberação de histamina, portanto, há pouca probabilidade de este opioide causar hipotensão. • Meia-vida é mais curta (2–4 horas) e apresenta 1/10 da potência da morfina. • Em doses equipotentes, produz mais sedação, euforia, náuseas, vômitos e depressão respiratória que morfina. • Tem ação antimuscarínica adicional, causando xerostomia e visão turva. • Com administrações prolongadas, uso de altas doses ou presença de insuficiência renal, há acúmulo do metabólito normeperidina, que causa excitabilidade de sistema nervoso central, caracterizada por tremores, abalos musculares e convulsões. • Embora com menores efeitos sobre sistemas cardiovascular e gastrintestinal. MEPERIDINA • Usos clínicos: • Controle da dor moderada a intensa – humanos. • medicação pré-anestésica ou como analgésico, particularmente no pós-operatório imediato – animais. • Agonista de receptores µ que também inibe recaptação de norepinefrina e serotonina. • Efeitos analgésicos superiores aos de agentes não-opioides e efeitos adversos inferiores aos de opioides. • Perfil de efeitos adversos similar ao de opioides (tolerância, dependência e reações anafilactoides), ao qual se acrescentam convulsões, o que motivou alerta da Food and Drug Administration (FDA) nos Estados Unidos. TRAMADOL • Usos clínicos: • Controle da dor moderada a intensa – humanos. • Dor de dente – humanos. • Dores de leves a moderadas - animais. 48 EFEITOS ADVERSOS TOLERÂNCIA • Uso repetido de uma dose constante do fármaco resulta em diminuição do efeito terapêutico. • Os mecanismos moleculares responsáveis pela tolerância continuam sendo objeto de controvérsia e podem envolver uma combinação de regulação gênica e modificação pós-translacional da atividade dos receptores opioides. • Mudança de analgésico ou um aumento em dose ou frequência de administração para manter a analgesia. • Também pode ocorrer dependência física, de modo que a interrupção abrupta do tratamento resulta no desenvolvimento de uma síndrome de abstinência característica: ADICÇÃO, em que a dependência física é acompanhada de uso abusivo da substância ou de comportamento de busca da substância, constitui um efeito adverso potencial da administração de opioides. 54 O remédio mais perigoso do mundo | Super (abril.com.br) https://super.abril.com.br/especiais/o-remedio-mais-perigoso-do-mundo/ 55 https://oglobo.globo.com/saude/noticia/2023/03/fentanil-droga-que-mata-70- mil-americanos-ao-ano-chega-ao-brasil-saiba-o-que-e-e-os-riscos.ghtml 56 57 MECANISMO DE AÇÃO – analgésico 1. Bloqueio dos canais de sódio e aumento da atividade das projeções noradrenérgicas e serotoninérgicas antinociceptivas que descem do cérebro para a medula espinal. A venlafaxina e a duloxetina são inibidores duais da recaptação de norepinefrina/serotonina, exercendo ações como antidepressivos e analgésicos. Esses agentes são utilizados no tratamento de dor neuropática e fibromialgia. A duloxetina tem uma ação balanceada sobre a recaptação de NE e de 5-HT e uma ação fraca sobre a recaptação de dopamina. Embora os ISRS tenham ação analgésica mínima, a inibição do transportador de recaptação da serotonina parece produzir algum efeito analgésico quando a recaptação de NE também é bloqueada. Maior discussão: aula sobre SNC 58 59 MECANISMO DE AÇÃO – analgésico 1. Bloqueio dos canais de sódio Maior discussão: aula sobre SNC 60 61 MECANISMO DE AÇÃO – analgésico Dado o crítico papel desempenhado pelos receptores NMDA em indução e manutenção da sensibilização central, os antagonistas dos receptores NMDA estão atualmente em fase de pesquisa para uso no tratamento da dor. O anestésico cetamina e o antitussígeno dextrometorfano – reduzem efetivamente os sintomas de dor crônica e a dor pós- operatória. O uso da cetamina é seriamente limitado por seus efeitos psicomiméticos. O dextrometorfano, quando administrado nas doses relativamente altas necessárias para obter analgesia, também produz tontura, fadiga, confusão e efeitos psicomiméticos. A cetamina tem utilidade particular no controle da dor intensa aguda, em circunstâncias nas quais é importante minimizar o risco de depressão respiratória. 62 Um homem de 60 anos com história de doença pulmonar obstrutiva crônica moderada chega ao serviço de emergência com fratura de quadril sofrida em um acidente automobilístico. O paciente queixa-se de dor intensa. Qual é o tratamento imediato mais apropriado para essa dor? Existe a necessidade de qualquer precaução especial?