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ASSÉDIO MORAL, SEXUAL E VIOLÊNCIA DE GÊNERO: AS FACES DO PODER 
MALÉVOLO NAS ORGANIZAÇÕES. 
 
MORAL, SEXUAL HARASSMENT AND GENDER VIOLENCE: THE FACES OF 
MALEVOLOUS POWER IN ORGANIZATIONS. 
 
 Bruna Istefany Novaes Rocha1 
 Valquíria de Araújo Zetóle2 
 
RESUMO: O presente artigo trata sobre o assédio moral, sexual, e a violência de 
gênero nas organizações. Tem por objetivo apresentar como essas condutas se 
manifestam perante a sociedade, e como as organizações políticas devem atuar para 
promover a eficácia das leis vigentes que asseguram as mulheres igualdade de 
gênero. Metodologicamente, utilizou-se a pesquisa bibliográfica mediante pesquisa 
em artigos, jurisprudência e livros para fundamentação do estudo. Ao final verificou-
se que a melhor medida a ser tomada pelas organizações governamentais não se 
limitam na punição, mas também na implementação de políticas públicas de 
prevenção e conscientização, visando descontruir uma cultura enraizada na 
sociedade em que o homem é colocado em posição superior e que as mulheres 
devem se submeter hierarquicamente. Ademais, a regulamentação da participação 
política das mulheres é uma forma de combater essa violência e garantir uma 
democracia mais representativa e igualitária. 
 
 
PALAVRAS-CHAVE: Assédio moral; Assédio sexual; Violência de gênero; Abuso de 
poder. 
 
ABSTRACT: This article deals with moral and sexual harassment and gender-based 
violence in organizations. It aims to present how these behaviors manifest 
themselves in society, and how political organizations should act to promote the 
effectiveness of current laws that guarantee gender equality for women. 
Methodologically, bibliographical research was used through research in articles, 
 
1 Acadêmicas do curso de Direito do Centro Universitário (UNIFG) da rede Ânima Educação. E-mail: 
brunaistefany0569@gmail.com. Artigo apresentado como requisito parcial para a conclusão do curso 
de Graduação em Direito do Centro Universitário (UNIFG) da rede Ânima Educação. 2023. Orientador: 
Prof.ª Ma. Fernanda Beatriz Nascimento Silva Xará. 
2 Acadêmica do curso de Direito do Centro Universitário (UNIFG) da rede Ânima Educação. E-mail: 
valquiriazetole07@hotmail.com. Artigo apresentado como requisito parcial para a conclusão do curso 
de Graduação em Direito do Centro Universitário (UNIFG) da rede Ânima Educação. 2023. Orientador: 
Prof.ª Ma. Fernanda Beatriz Nascimento Silva Xará. 
 
mailto:valquiriazetole07@hotmail.com.
2 
 
 
case law and books to support the study. In the end, it was found that the best 
measure to be taken by government bodies is not limited to punishment, but also to 
the implementation of public prevention and awareness policies, aiming to 
deconstruct a culture rooted in society in which men are placed in a situation superior 
position and that women must submit hierarchically. Furthermore, regulating 
women's political participation is a way to combat this violence and guarantee a more 
representative and egalitarian democracy. 
 
KEYWORDS: Moral harassment; Sexual harassment; Gender-based violence; Power 
abuse. 
 
 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
O presente estudo tem por objetivo discutir acerca do assédio moral, sexual, e 
a violência de gênero nas organizações. Inicialmente cumpre destacar que a violência 
de gênero é originada na hierarquia e disparidade entre os gêneros masculino e 
feminino. Sua existência não é meramente atribuível ao agressor, mas também 
decorre da cultura equivocada de autoridade masculina e submissão da mulher 
(TELES, 2012). 
Nesse contexto, a fim de compreender a temática proposta, foi necessário 
apresentar o conceito de violência de gênero, as suas formas de manifestações 
perante a sociedade, que mesmo após anos de luta a fim de diminuir a discrepância 
entre os gêneros, é notório a forma como a classe feminina ainda é, muitas vezes, 
tratada com inferioridade (KEYNES, 2010). 
A cada dia que passa, percebe-se que as mulheres vêm demonstrando 
exemplos de disciplina, desempenho e coragem para exercer atividades que antes 
eram exclusivas do público masculino. Entretanto, as grandes organizações, em sua 
maioria lideradas por homens não conseguem reconhecer tais habilidades (KEYNES, 
2010). 
Tendo em vista que a sociedade atual, em que pese todos os avanços 
adquiridos em prol da igualdade de gêneros, o qual encontra guarida na própria Carta 
Magna, ainda reflete condutas discriminatórias e desiguais (BRASIL, 2006). 
Submetendo inúmeras mulheres a constrangimentos e abusos das mais diversas 
modalidades, que podem ser agressões físicas, violência psicológica, moral ou até 
mesmo patrimonial, de acordo com a legislação pátria (BRASIL, 2006). 
3 
 
 
O papel da sociedade para que ocorra um tratamento igualitário, tal como, o 
reconhecimento e respeito, influência nas decisões e autonomia da vida feminina, vez 
que, as mulheres estão cada vez mais aptas a desempenhar diversas atividades com 
maestria, podendo desenvolver intervenções e ideias para crescimento próprio e da 
equipe a qual estiver vinculada (VIGANO; LAFFIN, 2019). Deste modo, entre as 
medidas a serem tomadas para diminuir as desigualdades, citemos as políticas 
públicas, que desempenham uma função essencial no caminho contra a violência de 
gênero no Brasil (VIGANO; LAFFIN, 2019). 
Os diversos tipos de assédio são praticados, em sua grande maioria, por 
pessoas próximas a vítima, como colegas de trabalho, a exemplo, os colaboradores 
de uma organização; e, ainda, aquelas pessoas a qual a vítima tem uma estima de 
amizade e até os próprios familiares (TELES, 2012). 
O assédio sexual contra mulheres e a dificuldade de sua inclusão em postos 
de comando são situações veementemente corriqueiras. Com isso, devemos 
considerar e observar que essa ação é muito comum, principalmente no local de 
trabalho e o quanto isso afeta a autonomia do desempenho profissional (SANCHES, 
FRACHONE, 2019). 
Nessa perspectiva, entende-se como legítima a necessidade de serem 
inseridas dentro das organizações ações afirmativas para promover direitos 
fundamentais estabelecidos legalmente, tanto na Constituição Federal, quanto na 
legislação infra para prevenir e combater a violência de gênero (VIGANO; LAFFIN, 
2019). 
Sendo assim, o presente estudo, portanto, possui relevância social e jurídica, 
pois a partir dele, serão apresentados os entendimentos de decisões jurisprudenciais, 
bem como da literatura, que apresentam possíveis soluções para o combate e 
prevenção da violência de gênero, com a garantia dos demais direitos fundamentais 
regulamente previstos, para promoção de uma sociedade mais justa e igualitária. 
 
2 BREVE HISTÓRICO SOBRE VIOLÊNCIA DE GÊNERO 
A trajetória histórica da violência de gênero é marcada por uma evolução 
complexa, refletindo mudanças sociais, culturais e jurídicas ao longo do tempo. Antes 
do advento da Lei n° 11.340 de 2006, popularmente conhecida como Lei Maria da 
Penha, a violência contra as mulheres era frequentemente minimizada e, em muitos 
4 
 
 
casos, aceita como parte da ordem social estabelecida (SILVA; COELHO; CAPONI, 
2007). 
Tanto é verdade que na própria legislação pátria, ao tipificar algumas condutas 
delituosas, mesmo que essas condutas eram ilícitas, faziam parte do título 
denominado como Crimes Contra os Costumes (BRASIL, 1940). 
Entretanto, antes de adentrar nos marcos históricos da legislação pátria, se faz 
necessário apontarmos alguns diferentes momentos da história, em que as mulheres 
desempenharam um papel importante na luta pelo reconhecimento de direitos. 
Os primeiros registros de movimentos e ações feministas brasileiras no século 
XIX. Foi a partir desse período que as mulheres começaram a ter alguma consciência 
de que seus papéis sociais não deveriam se limitar à vida familiar e aos cuidados 
familiares. De acordo com Jesus e Furtado (2016) a rápida mudança estabeleceu um 
novo padrão de comportamento, neste caso, a lutadas mulheres por direitos iguais 
teve grandes significados. 
Seu papel na sociedade entre o século XIX até a virada do século XX, foi 
caracterizado por uma difícil combinação de mudança e persistência de valores 
antigos e tradicionais, que as consideram secundários em relação aos homens. A 
mudança mais significativa durante este período, nas cidades mais populosas, as 
mulheres começam a sair para as ruas e não ocupam mais seu tempo apenas no 
espaço limitado em casa (JESUS; FURTADO, 2016). 
As principais conquistas do movimento feministas de acordo com a Mestre em 
Ciências Jurídico-Políticas, Tié Lenzi (2019) foram: 1910: criação do Dia Internacional 
de Luta das Mulheres, lembrado no dia 8 de março de cada ano; 1932: a luta pela 
igualdade das mulheres foi a conquista do direito ao voto; 1951: a Organização 
Internacional do Trabalho (OIT) publicou a Convenção nº 100 que determinou a 
obrigatoriedade de igualdade salarial entre homens e mulheres 1953: publicação da 
Convenção sobre os Direitos Políticos da Mulher; 1962: o Código Civil retirou artigos 
que submetiam as mulheres casadas à autorização do marido para trabalhar fora de 
casa ou para viajar. 
Foi a partir da década de 60 que houveram grandes mudanças no Brasil com o 
surgimento da pílula anticoncepcional, a abertura da primeira delegacia especializada 
às mulheres em 1985 e a criação da Lei Maria da Penha em 2006. 
Contextualizando a violência de gênero, os estudos de Cavalcanti e Oliveira 
(2017, p. 196) aduzem que: 
5 
 
 
“Segundo Fontana e Santos (2001), a violência contra a mulher encontra 
justificativa em normas sociais baseadas nas relações de gênero, ou seja, em 
regras que reforçam uma valorização diferenciada para os papéis masculinos 
e femininos. Desta forma, a violência de gênero se caracteriza pela 
recorrência e pela naturalização, fato este que dificulta a denúncia do 
agressor. Sagot (2007) afirma que no interior da família as desigualdades 
produzidas por gênero são mais evidentes e constituem as principais 
determinantes das relações violentas contra a mulher. Saffioti (2004) afirma 
que a adoção da categoria de gênero implicou no reconhecimento de que as 
diferenças sexuais, mais do que biologicamente determinadas, são 
socialmente definidas, estando sujeitas a variações culturais na determinação 
dos papéis sociais de homens e mulheres. De acordo com Grossi (1998) no 
Brasil, o termo gênero começou a ser utilizado no final dos anos 70 e 
rapidamente difundiu-se devido os movimentos feministas contra homicídios 
de mulheres e impunidade dos agressores, em geral, por seus próprios 
companheiros em nome da defesa da honra. No início dos anos 80 esses 
movimentos se estenderam para a denúncia de agressões e maus tratos 
conjugais. Com isso o termo passou a ser usado como sinônimo de violência 
doméstica em função da maior incidência deste tipo de violência ocorrer no 
espaço doméstico e/ou familiar. Com o desenvolvimento dos estudos de 
gênero, a partir de 1990, alguns estudiosos passaram a utilizar o termo 
violência de gênero como um conceito mais amplo que violência contra a 
mulher. A violência de gênero não diz respeito apenas violência perpetrada 
pelo homem contra a mulher, mas também a violência praticada pela mulher 
contra o homem, a violência entre mulheres e a violência entre homens” 
 
A par disso, antes da década de 2000, as agressões físicas, verbais e 
psicológicas contra mulheres frequentemente ocorriam sem repercussões 
significativas. Havia uma cultura de silenciamento que perpetuava a impunidade dos 
agressores, dificultando que as vítimas denunciassem os abusos sofridos (SILVA; 
COELHO; CAPONI, 2007). As mulheres muitas vezes enfrentaram obstáculos ao 
buscar ajuda, encontrando respostas limitadas por parte das instituições jurídicas e 
sociais (SILVA; COELHO; CAPONI, 2007). 
A ausência de uma legislação específica para a proteção das mulheres permitia 
a continuidade do ciclo de violência, com poucos recursos disponíveis para o 
rompimento desse padrão. Neste sentido assevera a doutrina: 
 
“O Código Civil de 1916 dispunha que ao homem cabia o exercício do pátrio 
poder e que à mulher, ao tornar-se esposa, ficavam restritos diversos direitos 
civis, que dependiam da autorização do marido para serem por ela exercidos. 
A ausência, no Código Penal Brasileiro, da tipificação de estupro no interior 
do casamento e, por outro lado, a permanência da criminalização da mulher 
que comete aborto, são exemplificadores da faceta sexual deste pacto, que 
também controla os direitos reprodutivos da mulher” (SILVA; COELHO; 
CAPONI, 2007, p. 155.) 
 
O trecho mencionado, apresenta alguns dos modos em que a violência de 
gênero se exteriorizava no Brasil, sem que houvesse nenhum amparo legal, haja vista 
a cultura da sociedade da época (SILVA; COELHO; CAPONI, 2007). 
6 
 
 
A violência doméstica era frequentemente tratada como um assunto privado, 
relegada ao âmbito familiar, e as consequências para os agressores eram mínimas 
(SILVA; COELHO; CAPONI, 2007). 
Ao apresentar um estudo sobre o tema, Heleieth Saffioti (2015, p. 13) aduz: 
 
“Tomando-se apenas o ano de 2003, aqueles que vivem de salários sofreram 
uma perda real de cerca de 15% em seus rendimentos, ou seja, em seu poder 
aquisitivo. Este fato, num contexto de altas taxas de desemprego, que 
ultrapassa 20% da PEA (População Economicamente Ativa) do município de 
São Paulo, outrora a Meca dos habitantes de outras regiões, assume 
proporções insustentáveis. Se, de um lado, a taxa de desemprego é alta, de 
outro, um número decrescente de trabalhadores, com poder aquisitivo em 
queda, deve produzir o suficiente para sustentar aqueles que nem sequer no 
setor informal de trabalho conseguiram inserir-se. A rede familiar de 
solidariedade desempenha importante papel, evitando que cresçam, numa 
medida ainda mais cruel, os contingentes humanos sem teto, sem emprego, 
sem rendimento, isto é, em franco processo de desfiliação” 
 
A inserção da Lei Maria da Penha no ano de 2006 representou um marco 
transformador no cenário brasileiro. A lei, batizada em homenagem à farmacêutica 
cearense Maria da Penha Maia Fernandes, que foi vítima de violência doméstica, 
trouxe consigo uma mudança paradigmática no enfrentamento à violência de gênero 
(TELES, 2012). 
Apesar do marco legislativo ocorrido em 2006, a Constituição Federal, que 
também é conhecida como Constituição Cidadã, já apresentava em seu texto alguns 
trechos que buscava proporcionar as mulheres igualdade, senão vejamos: 
 
“Após décadas de luta, as mulheres conseguiram ampliar sua cidadania por 
meio da Constituição da República de 1988, que garantiu a igualdade de 
direitos e obrigações entre homens e mulheres (artigo 5°, inciso I), a proteção 
do mercado de trabalho da mulher (artigo 5°, inciso XX), a igualdade no 
exercício dos direitos e deveres referentes à sociedade conjugal (artigo 226, 
§ 5°) e a criação de mecanismos para coibir a violência no âmbito familiar 
(artigo 226, § 8°). Mas o ponto de partida da luta contra a violência de gênero, 
tem que ser, sem dúvida, a mudança cultural na educação daqueles que 
serão as mulheres e os homens do amanhã. A proteção legal 
desacompanhada de mudança cultural não atingirá sua finalidade precípua, 
que é dar efetividade ao princípio da igualdade entre homens e mulheres. No 
mesmo sentido é a ementa da Lei n° 11.340/2006, que afirma como sua 
finalidade criar “[...] mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar 
contra a mulher, nos termos do § 8° do art. 226 da Constituição da Federal, 
da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação 
contra as Mulheres e da Convenção Interamericana para prevenir, punir e 
erradicar a Violência contra a Mulher [...]. Para que o fato seja abrangido pela 
Lei 11.340/06, é necessário que a violência seja cometida no âmbito 
doméstico, familiar ou nas relações íntimas de afeto, nos termos do disposto 
no artigo 5º. Guilherme deSouza Nucci2 ensina que unidade doméstica é “o 
local onde há o convívio permanente de pessoas, em típico ambiente familiar, 
vale dizer, como se família fosse, embora não haja necessidade de existência 
de vínculo familiar, natural ou civil.” Assim, a empregada doméstica pode ser 
vítima de violência doméstica, assim como a filha de criação e as mulheres 
7 
 
 
que vivem relações homoafetivas. Também a relação de namoro ou de 
noivado, sem a coabitação, é tutelada pela Lei 11.340/06, que exige apenas 
relação íntima de afeto.” (TELES, 2012, p. 112) 
 
A legislação não apenas definia e tipificou formas de violência, mas também 
transmitiu medidas efetivas de prevenção e proteção para os agressores (TELES, 
2012). 
No entanto, mesmo com os avanços proporcionados pela Lei Maria da Penha, 
os desafios persistem. A efetividade da lei depende não apenas da sua existência, 
mas também da aplicação consistente e da conscientização contínua da sociedade 
(SILVA; COELHO; CAPONI, 2007). 
A cultura machista, que por anos normalizou a violência contra as mulheres, 
exige uma transformação profunda para que as mulheres se sintam seguras ao 
denunciar abusos e para que haja uma mudança estrutural na percepção da violência 
de gênero (TELES, 2012). 
A Lei Maria da Penha representa um divisor de águas no enfrentamento à 
violência de gênero no Brasil. Antes de sua promulgação, as mulheres enfrentaram 
barreiras significativas na busca por justiça e proteção (TELES, 2012). 
Com a legislação, houve avanços significativos, mas é essencial continuar o 
trabalho de conscientização e educação, criando uma sociedade onde a igualdade de 
gênero seja uma realidade, e a violência de gênero seja repudiada de maneira 
unânime (TELES, 2012). 
3 ASPECTOS GERAIS DA VIOLÊNCIA DE GÊNERO 
Conforme foi trazido no tópico anterior, a questão da violência de gênero é um 
problema complexo que transpassa as sociedades em todo o mundo. Esta influência 
transcende fronteiras geográficas, culturais e socioeconômicas, afetando pessoas de 
todas as idades, classes sociais e origens étnicas (TELES, 2012). 
Para compreendermos os aspectos gerais da violência de gênero, é 
fundamental analisarmos as múltiplas facetas desses comportamentos e suas raízes 
profundas na estrutura social. De acordo com os estudos de Teles (2012, p. 121): 
“A violência contra a mulher não atinge só sua dignidade, mas a de toda 
família, violando ainda, o direito ao ambiente familiar saudável que deve ser 
garantido à criança e ao adolescente. Nem se diga que a intervenção do 
Estado pode causar maior prejuízo à vítima, que não terá seu lar restaurado. 
As estatísticas mostram que após a retratação da representação, há, 
rotineiramente, a reincidência do agressor. Não há, pois, nenhuma 
restauração de lar, mas sim a perpetuidade da agressão e da violação da 
dignidade da mulher. A meu entender, a mulher vítima de violência doméstica 
8 
 
 
não possui capacidade de decidir com isenção sobre o prosseguimento da 
ação penal ou não. Como decidir sob tanta pressão? Pressão advinda da 
confusão de sentimentos; da vergonha; dos filhos; da situação financeira; dos 
sogros e demais familiares do agressor; da própria família; enfim, exigir a 
manutenção da representação é exigir ato heroico da mulher vítima de 
violência doméstica. A mudança comportamental e até mesmo cultural da 
sociedade só ocorrerá com a adoção de medidas firmes, que tutelem 
efetivamente a mulher, até mesmo quando esta, por estar privada da plena 
capacidade, não reconhecer a necessidade da tutela. O prosseguimento da 
ação penal, independentemente da vontade da vítima, com o passar do 
tempo e a efetividade das penas, vai incutir maior temor aos agressores, que 
tenderão a alterar seus comportamentos.” 
 
A priori, o conceito amplo de violência de gênero engloba qualquer ato que 
resulte ou possa resultar em dano físico, sexual, ou psicológico para indivíduos com 
base em normas socialmente construídas de gênero (CUNHA, 2014). Isso inclui, mas 
não se limita a, agressões físicas, abuso emocional, assédio sexual, discriminação no 
local de trabalho e a negação de direitos fundamentais com base no gênero (CUNHA, 
2014). 
A raiz da violência de gênero, muitas vezes, está ligada às desigualdades 
estruturais entre homens e mulheres. Essas desigualdades são perpetuadas por 
normas culturais, estereótipos de gênero arraigados e sistemas que favorecem um 
sexo sobre o outro (CAVALCANTI; OLIVEIRA, 2017). 
A própria sociedade reforça o comportamento diferenciadas para homens e 
mulheres, o que, consequentemente, contribui para a criação de um ambiente propício 
à violência de gênero (CAVALCANTI; OLIVEIRA, 2017). 
Além disso, é importante considerar que a violência do gênero não é 
exclusivamente um problema individual, mas sim um reflexo de falhas em níveis mais 
amplos da sociedade. A falta de legislação aplicável, sistemas judiciais ineficientes e 
uma cultura de silenciamento muitas vezes perpetuam a impunidade dos agressores 
e perpetuam o ciclo da violência (LUDERMIR; SOUZA, 2022). 
Entre os aspectos observados que condicionam a violência de gênero, tem 
relação a separação, senão vejamos: 
Os processos de separação e partilha de bens relatados pelas participantes 
foram marcados, por um lado, por homens retendo ou subtraindo bens 
comuns, ora tirando proveito do desconhecimento legal das mulheres, ora 
adotando mecanismos para ocultar patrimônio e evitar que as mulheres 
reivindicassem a meação. Um exemplo claro foi relatado por uma participante 
cujo ex-parceiro forjou um documento de compra e venda da residência 
conjugal no nome do irmão para tentar dificultar qualquer pleito dela em 
relação à casa comprada e construída com recursos do casal durante a união 
estável. Por outro lado, além de as mulheres perderem sua cota legítima de 
propriedade quando desconheciam seus direitos ou quando não conseguiam 
9 
 
 
prová-los e reivindicá-los, outras tantas renunciaram a seus direitos para fugir 
da crescente violência e até mesmo para escapar de estereótipos de gênero. 
Na voz de uma das participantes, “eles [familiares do ex-parceiro] ficavam me 
chamando de interesseira, até que eu decidi que não queria nada que era 
deles”. Casos como esse revelam uma conexão importante entre violência 
psicológica e patrimonial, fazendo mulheres desacreditarem e questionarem 
os próprios direitos. Outras formas de violência patrimonial relatadas pelas 
participantes relacionavam-se à retenção ou à destruição de objetos como 
telefones celulares, roupas, objetos de valor sentimental, assim como de 
documentos civis, o que poderia dificultar que as mulheres prestassem queixa 
da violência sofrida ou dessem entrada em de pedidos de pensão. 
Documentos de propriedade também se tornavam elemento de ameaça, 
conforme relatou uma das participantes (LUDERMIR; SOUZA, 2022, p. 14). 
Neste estudo, os autores observaram que além do patriarcado que é um dos 
principais fatores que consolidam a violência de gênero, a separação e partilha de 
bens também contribui para continuidade desse tipo de conduta (LUDERMIR; 
SOUZA, 2022). 
A legislação pátria contra a violência de gênero evoluiu bastante no decorrer 
dos anos no Brasil, no entanto, mesmo diante dos avanços significativos, a 
erradicação completa da violência de gênero permanece um desafio complexo 
(TELES, 2012). 
É necessário um esforço contínuo de governos, organizações da sociedade 
civil e indivíduos para criar uma sociedade onde a igualdade de gênero seja a norma 
e a violência de gênero seja repudiada por todos (TELES, 2012). 
Deste modo, a compreensão dos aspectos gerais da violência de gênero requer 
uma abordagem integral que considere as origens sociais, culturais e estruturais 
dessas características (TELES, 2012). A promoção da igualdade de gênero, o 
combate aos estereótipos específicos e a implementação de medidas práticas são 
passos a serem seguidos para aconstrução de uma sociedade mais justa e segura 
para todos, independentemente do gênero (LUDERMIR; SOUZA, 2022). 
4 TIPOS DE ABUSOS SOFRIDOS PELA MULHER EM RAZÃO DO GÊNERO 
Visando coibir e prevenir a violência doméstica e familiar, a Lei Maria da Penha 
estabeleceu, de forma taxativa, quais tipos de violência que podem acometer as 
mulheres, são eles: 
Art. 7º São formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, entre 
outras: 
I - a violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda sua 
integridade ou saúde corporal; 
10 
 
 
II - a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause 
dano emocional e diminuição da autoestima ou que lhe prejudique e perturbe 
o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, 
comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, 
humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição 
contumaz, insulto, chantagem, violação de sua intimidade, ridicularização, 
exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe 
cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação; 
II - a violência sexual, entendida como qualquer conduta que a constranja a 
presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada, 
mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a induza a 
comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a 
impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que a force ao matrimônio, 
à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação, chantagem, 
suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o exercício de seus direitos 
sexuais e reprodutivos; 
IV - a violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que configure 
retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos 
de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos 
econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades; 
V - a violência moral, entendida como qualquer conduta que configure 
calúnia, difamação ou injúria (BRASIL, 2006). 
 
O abuso físico, tipificado logo no inciso inicial, é uma das expressões mais 
visíveis e chocantes, envolvendo agressões que podem causar danos físicos graves 
ou até mesmo perda de vidas. No entanto, a violência não se restringe ao aspecto 
físico e se manifesta de maneiras mais sutis e insidiosas (ZANCAN; WASSERMANN; 
LIMA, 2013). 
A violência psicológica, por sua vez, é uma forma de violência que deixa 
cicatrizes profundas, muitas vezes invisíveis. Compostas por uma série de situações 
humilhantes, ameaças, controle excessivo e manipulação emocional, consideradas 
táticas utilizadas por agressores para minar a autoestima e a autonomia das mulheres, 
perpetuando um ciclo de submissão e dependência (ZANCAN; WASSERMANN; 
LIMA, 2013). 
O abuso sexual também é uma faceta alarmante da violência de gênero. Além 
das agressões físicas, muitas mulheres são vítimas de coerção sexual, estupro 
conjugal e outras formas de violência sexual que afetam não apenas o corpo, mas 
também a integridade psicológica das vítimas (ZANCAN; WASSERMANN; LIMA, 
2013). 
No âmbito da Lei Maria da Penha, a violência patrimonial é reconhecida como 
mais uma forma de abuso. Muitas mulheres enfrentam o confisco de seus bens, o 
controle econômico e até mesmo a destruição de propriedades como uma forma de 
mantê-las em situação de vulnerabilidade, dificultando a ruptura do ciclo de violência 
(MENDES; DE FREITAS JÚNIOR, 2021). 
11 
 
 
Sobre essa modalidade de violência de gênero, Mendes. De Freitas Júnior 
(2021, p. 105) discorre: 
 
“Via de regra, o crime de dano só irá proceder mediante a queixa da vítima, 
sendo, portanto, ação penal privada. No caso acima, se possuir violência ou 
grave ameaça, com emprego de substância inflamável ou explosiva, a ação 
penal passa a ser a pública incondicionada. Desse modo, temos a conduta 
de reter bens, e até mesmo valores, dependendo da sua natureza típica do 
seu tipo penal correspondente, qual sendo a apropriação indébita, prevista 
no artigo 168 do Código Penal. Pode-se conceituar esta ação como a 
retenção de bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os 
destinados a satisfazer as necessidades do cônjuge ou companheiro, sendo 
assim condutas criminosas. Pode-se dar o exemplo do cônjuge que recebe 
integralmente o valor do aluguel de um imóvel que pertence à sua esposa, o 
cônjuge ou companheiro alimentante, mesmo dispondo de recursos 
econômicos, acaba adotando subterfúgios para não pagar ou retardar 
pagamento de verba alimentar, retendo ou se apropriando de valores que 
pertencem à mulher. A forma patrimonial da violência doméstica, é 
encontrada no Código Penal, nas formas de crimes contra o patrimônio, 
como: furto, roubo, dano, dentre outros.” 
 
A Lei Maria da Penha não apenas criminaliza esses comportamentos abusivos, 
mas também estabelece mecanismos para proteger as vítimas e prevenir a 
reincidência (BRASIL, 2006). 
As medidas protetivas incluem o afastamento do agressor do lar, a exclusão de 
se aproximar da vítima e a garantia de acompanhamento psicossocial. Essas medidas 
visam criar um ambiente seguro para as mulheres reconstruírem suas vidas longas 
do ciclo de violência (BRASIL, 2006). 
Em grandes democracias, a doutrina ainda assevera: 
Lei Maria da Penha é reconhecida internacionalmente pela Organização das 
Nações Unidas como a terceira melhor lei do mundo no combate à violência 
doméstica, perdendo apenas para a Espanha e o Chile. A legislação 
Espanhola, em sua Lei Orgânica 1/2004 determina várias medidas de 
proteção contra a violência de gênero, como violência física e psicológica, 
incluídos neste rol a crimes contra a liberdade sexual, ameaças, coerção ou 
privação arbitrária de liberdade. A forma com que a Espanha tratou o tema é 
um modelo a ser seguido por todos. A mencionada Lei criou mecanismos de 
formação por meio do sistema de ensino integrado, tratando da questão no 
ensino fundamental, médio e até no ensino superior, com matérias que 
abordam sobre o respeito e igualdade entre homens e mulheres. Posto isso, 
pode-se afirmar que o modelo espanhol tratou do tema com maestria, não 
esperando acontecer a violência para poder fazer algo, como prender o 
agressor ou aplicar medidas protetivas, mas sim, educando seus cidadãos 
para que tal ato não aconteça. Em segundo lugar, o Chile aprovou em 2005 
a “Ley de Violencia Intrafamiliar” nº 20.066, que posteriormente em 2010 
sofreu alguns ajustes. Essa Lei, visa punir, sancionar e erradicar esse tipo de 
violência. Casos de violência doméstica são tratados pelos chamados 
juizados de família, assim as vítimas poderão receber medidas de proteção 
ou cautelares, dependendo do caso. Dentre as penas previstas, pode-se citar 
a compensação dos prejuízos patrimoniais causados pelo agressor e o 
comparecimento frequente à unidade policial (MENDES; DE FREITAS 
JÚNIOR, 2021, p. 109). 
12 
 
 
 
A efetividade da lei depende, em grande parte, da conscientização social, do 
fortalecimento das instituições de apoio e da desconstrução de padrões culturais que 
perpetuam a desigualdade de gênero. A educação é uma ferramenta fundamental 
para mudar mentalidades e construir uma sociedade onde a violência de gênero seja 
repudiada de maneira unânime (SANTANA, 2022). 
 
5 TIPOS VIOLÊNCIA DE GÊNERO E DESIGUALDADE NAS ORGANIZAÇÕES 
 
A violência de gênero, longe de se restringir às manifestações explícitas, pode 
se manifestar em diversos aspectos do ambiente organizacional. A disparidade 
salarial entre gêneros, a sub-representação de mulheres em cargos de liderança e a 
escassez de oportunidades equitativas são elementos que, quando analisados em 
conjunto, evidenciam a presença de práticas discriminatórias (ARAÚJO, 2008). 
A perpetuação da violência de gênero ocorre nos complexos entrelaçamentos 
das categorias de gênero, classe e raça/etnia, manifestando-se como uma forma 
específicade violência global mediada pela estrutura patriarcal. Essa estrutura 
concede aos homens o direito de dominar e controlar as mulheres, muitas vezes 
recorrendo à violência (ARAÚJO, 2008). 
Sob essa perspectiva, a ordem patriarcal é reconhecida como um elemento 
preponderante na geração da violência de gênero, fundamentando as representações 
de gênero que legitimam a internalização das desigualdades e a dominação masculina 
tanto por homens quanto por mulheres (ARAÚJO, 2008). 
Bourdieu (1999) argumenta que a dominação masculina exerce uma 
"dominação simbólica" que permeia todos os aspectos da sociedade, influenciando 
corpos, mentes, discursos e práticas sociais e institucionais. Esta dominação, de 
acordo com Bourdieu, molda a percepção e a organização concreta e simbólica de 
toda a vida social. 
O entendimento teórico que conecta a opressão das mulheres ao sistema 
patriarcal foi, por muito tempo, uma ferramenta central nas análises feministas sobre 
a relação de dominação-submissão feminina (ARAÚJO, 2008). 
Contudo, nos estudos de gênero contemporâneos, essa abordagem é 
criticada por sua propensão à universalização. A dominação masculina não pode ser 
13 
 
 
considerada como uma característica estanque, reproduzindo-se de maneira 
uniforme. Existem variações na forma como o poder patriarcal se estabelece e 
legitima, assim como nas estratégias de resistência que as mulheres desenvolvem em 
contextos diversos (ARAÚJO, 2008). 
Ao explorar a complexidade da desigualdade de gênero nas organizações, 
torna-se imperativo considerar a influência de estereótipos e preconceitos arraigados 
na cultura corporativa (CAVALCANTI; OLIVEIRA, 2017). 
A desconstrução desses paradigmas exige uma compreensão profunda das 
origens históricas que moldaram as dinâmicas de poder dentro das organizações. 
Nesse contexto, o papel das políticas organizacionais também é fundamental, uma 
vez que podem inadvertidamente perpetuar ou desafiar práticas discriminatórias 
(CAVALCANTI; OLIVEIRA, 2017). 
 Em relação à violência de gênero, Cavalcanti (2017, p. 199) ainda assevera 
que: 
 
“O direito fundamental à igualdade entre homens e mulheres pressupõe, 
inicialmente, que a dignidade da pessoa humana pertence tanto ao gênero 
masculino, como ao gênero feminino. Assim, apesar das inúmeras diferenças 
biológicas e culturais, todos os seres humanos merecem igual respeito.” 
 
 No contexto temporal que vivemos atualmente, esse direito fundamental de 
igualdade, ainda precisa defendido, pois, em pleno século XXI, com toda evolução 
social, a violência de gênero se manifesta. 
 
6 O PAPEL DAS ORGANIZAÇÕES NA PREVENÇÃO E COMBATE 
 
Inicialmente, a análise do papel das organizações na prevenção e combate 
às diversas formas de assédio, violência de gênero e discriminação é de suma 
importância no contexto contemporâneo, tendo em vista a ocorrência nos diversos 
ambientes, até mesmo no trabalho, senão vejamos o que os autores explicam sobre 
o assédio moral: 
Apesar de em grande parte a literatura analisada apresentar alguns tipos de 
assédio moral, o presente trabalho buscará abordar pelo menos três (3) tipos 
dele: – o assédio descendente (praticado por um superior hierárquico contra 
um subordinado); o assédio horizontal (praticado entre pessoas de um 
mesmo nível ou grau hierárquico) e, caso haja relatos da existência, o assédio 
moral ascendente (quando o assédio é praticado pelos subordinados contra 
o seu superior hierárquico), no entanto, para um melhor conhecimento por 
parte do leitor, serão abordados os quatro tipos mais apresentados de 
assédio moral (BEZERRA DOS SANTOS; GOMES DE MOURA, 2023, p. 
334). 
 
14 
 
 
Esta exposição indica que, em que pese o assédio moral ocorrer entre 
superiores hierárquico, ainda se subdivide em assédio descendente, entre colegas do 
mesmo nível hierárquico, e assédio horizontal nos casos em que os subordinados 
desempenham um papel ativo na prática do assédio em relação aos seus superiores 
(BEZERRA DOS SANTOS; GOMES DE MOURA, 2023). 
Para auxiliar na prevenção e combate aos diversos tipos de violência, as 
organizações, sejam elas no meio político, no trabalho, devem estabelecer políticas 
organizacionais claras que proíbam explicitamente o assédio, comunicando de forma 
eficaz a todos os colaboradores (BEZERRA DOS SANTOS; GOMES DE MOURA, 
2023). 
Destaque-se que, a mudança comportamental e até mesmo cultural da 
sociedade depende da adoção de medidas firmes, que tutelem efetivamente a mulher, 
até mesmo quando esta, por estar privada da plena capacidade, não reconhecer a 
necessidade da tutela (TELES, 2012). 
Tais políticas devem estabelecer diretrizes explícitas contra assédio moral, 
sexual e qualquer forma de discriminação, além de definir protocolos para lidar com 
denúncias e casos concretos. A redação precisa e abrangente dessas políticas é 
fundamental para evitar ambiguidades e garantir uma compreensão clara por parte 
dos colaboradores (CAVALCANTI; OLIVEIRA, 2017). 
No que tange aos treinamentos, estratégias de conscientização e treinamento 
contínuo desempenham um papel fundamental. Os programas de capacitação devem 
abordar não apenas as definições legais de assédio e discriminação, mas também 
promover uma cultura de respeito e igualdade (BASTOS, 2011). 
Esses treinamentos devem ser adaptados às necessidades específicas da 
organização, considerando sua cultura, setor de atuação e particularidades do quadro 
de funcionários (BASTOS, 2011). 
A promoção de uma cultura organizacional que valoriza a diversidade e a 
inclusão é central para a prevenção de práticas nocivas. Líderes e gestores 
desempenham um papel fundamental nesse processo, pois servem como modelos de 
comportamento e têm a responsabilidade de criar um ambiente onde todos se sintam 
respeitados e representados (BASTOS, 2011). 
Iniciativas que buscam diversificar o quadro de liderança e garantir 
oportunidades equitativas indicadas para a construção de organizações mais justas e 
inclusivas (BASTOS, 2011). 
15 
 
 
A criação de canais de comunicação eficazes para denúncias é um aspecto 
crítico no combate ao assédio e à discriminação. Estes canais devem ser seguros, 
acessíveis e isentos de retaliação, proporcionando aos colaboradores um meio seguro 
para relatar incidentes. A pronta investigação e a aplicação de medidas corretivas 
adequadas, quando necessário, demonstram o comprometimento da organização em 
práticas de proteção (CAVALCANTI; OLIVEIRA, 2017). 
Além disso, as organizações podem se beneficiar de parcerias com 
especialistas externos, como consultores em diversidade e inclusão, para avaliar e 
aprimorar continuamente suas práticas e políticas. Essa abordagem externa oferece 
uma perspectiva imparcial e especializada, contribuindo para a eficácia das iniciativas 
internacionais (BARSTED, 2007). 
Nesse sentido: 
Desse modo, diante da violência contra mulher, as políticas públicas 
tornaram-se necessárias no sentido de respeitar a igualdade nas relações de 
gênero e consolidar a cidadania feminina, com ações que assegurem um 
espaço de denúncia, proteção e apoio à mulher vítima de violência. A atuação 
deve ser em conjunta para o enfrentamento, prevenção, combate, assistência 
e garantia de direitos do problema pelas diversas esferas envolvidas, como: 
saúde, educação, assistência social, segurança pública, cultura, justiça, para 
dar conta da complexidade da violência contra as mulheres (CAVALCANTI; 
OLIVEIRA, 2017, p. 203). 
 
A mensuração e avaliação periódica dos esforços empreendidos são 
essenciais para a eficácia das estratégias adotadas. A coleta de dados sobre 
denúncias, a análise de indicadores de diversidade e a realização de pesquisas de 
clima organizacional são meios valiosos para avaliar o progresso e identificar áreas 
de melhoria (CUNHA, 2014). 
O compromisso das organizações na prevenção e combate às práticas 
prejudiciais exige uma abordagem multifacetada, que engloba políticasrobustas, 
treinamentos práticos, uma cultura organizacional inclusiva e ações concretas diante 
de denúncias (BASTOS, 2011). 
As ações afirmativas, por sua vez, derivam de demandas apresentadas por 
movimentos sociais que instaram o Estado a enfrentar questões sociais prementes. 
Essas medidas específicas, estratégias que visam, por meio da promoção da inclusão 
social, priorizar o atendimento a grupos específicos e garantir direitos equitativos a 
comunidades que ao longo da história foram privadas de seus direitos, e deve ser 
utilizadas no combate e prevenção da violência de gênero por todas as organizações 
que buscam concretizar direitos fundamentais das mulheres (VIGANO; LAFFIN, 
16 
 
 
2019). Em outras palavras, essas políticas públicas sociais buscam efetivar a 
igualdade substancial ou material (VIGANO; LAFFIN, 2019). 
Ainda sobre as ações afirmativas, é de importante destacar: 
As ações afirmativas constituem em um tipo de um remédio de razoável 
eficácia para esses males, eliminando ou reduzindo as desigualdades sociais 
que operam em detrimento das minorias. 
Consistem em políticas públicas (e também privadas) voltadas à 
concretização do princípio constitucional da igualdade material e à 
neutralização dos efeitos da discriminação racial, de gênero, de idade, de 
origem nacional, de compleição física e situação socioeconômica (adição 
nossa). Impostas ou sugeridas pelo Estado, por seus entes vinculados e até 
mesmo por entidades puramente privadas, elas visam a combater não 
somente as manifestações flagrantes de discriminação, como também a 
discriminação de fundo cultural, estrutural, enraizada na sociedade. De cunho 
pedagógico e não raramente impregnadas de um caráter de exemplaridade, 
têm como meta, também, o engendramento de transformações culturais e 
sociais relevantes, inculcando nos atores sociais a utilidade e a necessidade 
de observância dos princípios do pluralismo e da diversidade nas mais 
diversas esferas do convívio humano. 
As mulheres, como grupo social, foram historicamente destituídas de direitos 
e excluídas por aspectos vinculados ao gênero. Denominadas 
frequentemente como “sexo frágil”, proibidas de gerenciar suas vidas e seus 
corpos, as mulheres uniram-se por meio de movimentos sociais, a fim de 
fazer uma interlocução com o estado, buscando garantir os seus direitos, 
demonstrando que as discriminações e desigualdades nas relações de 
gênero constituem-se dentre várias nuances (VIGANO; LAFFIN, 2019, p. 08). 
 
Deste modo, a criação de ambientes de trabalho seguros e respeitosos não 
beneficia apenas os colaboradores individualmente, mas também fortalece a 
confiança e a sustentabilidade das organizações no longo prazo (CUNHA, 2014). 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
Em síntese, as considerações finais deste estudo ressaltam a complexidade 
e a urgência de abordar as questões relacionadas ao assédio moral, sexual e à 
violência de gênero nas organizações. Os resultados da análise revelaram não 
apenas a extensão dessas manifestações, mas também a necessidade de ações 
concretas por parte das organizações para prevenir e combater tais práticas. 
Fica evidente que a violência de gênero, ao entrelaçar-se com as dinâmicas 
de poder relacionadas a gênero, classe e raça/etnia, representa um desafio estrutural 
que exige uma abordagem holística. A ordem patriarcal, que legitima a desigualdade 
e a dominação masculina, emerge como um fator preponderante na produção dessas 
17 
 
 
formas de violência, destacando a importância de questionar e transformar essas 
estruturas arraigadas. 
A crítica contemporânea à perspectiva teórica que vincula a opressão das 
mulheres ao sistema patriarcal ressalta a importância de considerar a diversidade nas 
formas como a dominação masculina se manifesta e é resistida. Não se trata de uma 
característica uniforme; há nuances e variações significativas nos contextos e nas 
estratégias de resistência impostas pelas mulheres. 
As organizações desempenham um papel fundamental na mudança dessas 
dinâmicas específicas. A implementação de políticas claras, treinamento adequado e 
promoção de uma cultura organizacional inclusiva são passos essenciais para criar 
ambientes de trabalho seguros e respeitosos. No entanto, ponderar a necessidade de 
avaliação constante e adaptação dessas iniciativas é fundamental para garantir a sua 
eficácia ao longo do tempo. 
Dessa forma, através do estudo proposto, conclui-se que uma transformação 
real requer um compromisso contínuo, tanto das organizações quanto da sociedade 
em geral, para desafiar e superar as estruturas de poder que perpetuam o assédio, a 
violência de gênero e a desigualdade mediante as ações afirmativas perante as 
organizações. Como restou demonstrado, a busca por ambientes de trabalho 
verdadeiramente equitativos e inclusivos é um imperativo moral e social que demanda 
esforços coletivos persistentes, ou seja, as políticas públicas devem intervir, e de 
forma efetiva tendo sua aplicabilidade demonstrada, e fiscalizada, nas relações para 
proporcionar a prevenção e o combate da violência de gênero. 
 
18 
 
 
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