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ENXAQUECA (MIGRÂNEA) CONCEITOS INICIAIS • 2ª cefaleia primária + comum (perde apenas p/ Tensional); • + comum em mulheres; • História familiar positiva é comum. QUADRO CLÍNICO • Cefaleia pulsátil, unilateral, de moderada a forte intensidade, com náuseas, fotofobia, fonofobia, durando de 4 a 72 horas. TRATAMENTO NA CRISE • Analgésicos simples AINES Triptanos; • NÃO prescrever opioides (Tramadol, Morfina…). TRATAMENTO PROFILÁTICO • Pelo menos 3 crises em 3 meses; • Topiramato: ótimo para pacientes com sobrepeso/obesidade; • Propranolol/beta-bloqueadores: não prescrever para pacientes com asma; • Amitriptilina / Nortriptilina: boa eficácia, mas aumentam peso e risco de constipação; • Anticorpos Monoclonais anti-CGRP (Fremanezumabe, Galcanezumabe, Erenumabe): ótima eficácia, via subcutânea, 1x/mês, porém alto custo. 1. EPIDEMIOLOGIA • A migrânea atinge até 15% da população, com predomínio em mulheres jovens (2:1): • O pico de prevalência é entre 30-50 anos, sendo a maior causa mundial de anos perdidos por incapacidade na população jovem; • Histórico familiar positivo é bastante frequente! 2. FISIOPATOLOGIA • Entender a fisiopatologia se faz essencial para entender o tratamento. Podemos dividir ela didaticamente em 3 pontos: • Cefaleia: ocorre pela ativação do trigeminovascular – as vias aferentes do gânglio terminal inervam a maioria das estruturas cranianas, por isso há dor; • CGRP (peptídeo relacionado ao gene da calcitonina): está envolvido na dilatação arterial, inflamação neurogênica, ativação de nociceptores meníngeos: • É a principal molécula inflamatória da dor na enxaqueca (ativação de nociceptores). • Aura: explicada pela depressão alastrante cortical, também chamada de depressão alastrante de Leão (neurofisiologista brasileiro que a descreveu). Ocorre uma despolarização das membranas celulares neuronais e gliais, seguida de inibição da atividade cortical por até 30 minutos. RAÍ DA ROSA VIANA - raidarosav@gmail.com - 03381885090 ENXAQUECA (MIGRÂNEA) 2 História familiar positiva é frequente! Herança genética nas cefaleias costuma ser poligênica, mas a enxaqueca hemiplégica familiar é a que está mais relacionada a um gene específico. Enxaqueca hemiplégica familiar (sigla FHM na imagem) está muito relacionada à herança genética, sendo que existem 4 tipos dessa doença, e o gene CACNA1A é o mais comumente associado à FHM 1, o subtipo mais frequente. Fonte: Grangeon L, et al. The Journal of Headache and Pain, 2023. RAÍ DA ROSA VIANA - raidarosav@gmail.com - 03381885090 NEUROLOGIA3 Tempo Intensidade Pré-cefaleia Leve Moderada Forte Pós-cefaleia Premonitórios Aura Alt. humor Fadiga Dist. cognitivos Mialgia Avidez por doces Alt. neurológicas. reversíveis: Visuais somato- sensitivas Cefaleia precoce Incômoda Congestão Nasal Mialgia Cefaleia Avançada Unilateral Pulsátil Náusea Fotofobia Fonofobia Osmofobia Pósdromo Fadiga Alt. cognitivas Mialgias • A – Espectro de fortificação; • B – Espectro de fortificação e escotoma; • C – Cintilações; • D – Espectro de fortificação. • A enxaqueca hemiplégica familiar é decorrente de mutações no gene CACNA1A, na qual o paciente pode cursar com hemiplegia e simular um acidente vascular cerebral. • A cefaleia propriamente dita pode ser dividida em 2 etapas: • Cefaleia precoce: incômoda, congestão nasal e mialgia; • Cefaleia avançada: unilateral, pulsátil, náusea, fotofobia, fonofobia e osmofobia: • A osmofobia não está relacionada aos critérios diagnósticos de enxaqueca, mas é algo bem relatado pelos pacientes. • Pósdromo: • Fadiga; • Alteração cognitiva; • Mialgia. • Podemos dividir a enxaqueca didaticamente em quatro grandes fases: Prodrômica → Aura → Cefaleia → Período ‘’pósdromo’’: • Sintomas premonitórios (pródromos): bocejos, fadiga, desejo por alimentos doces – iniciam em torno de 48 horas antes da cefaleia; • Aura: por definição é um déficit neurológico reversível, dentre elas a mais comum é a aura visual (a maioria sendo escotomas cintilantes e espectro de fortificação), mas podem ocorrer alterações sensitivas, de linguagem e motoras (+ raras). Pode preceder a cefaleia ou aparecer junto. Duração de 5 a 60 minutos; • Apenas 20% dos pacientes possuem aura: 3. QUADRO CLÍNICO RAÍ DA ROSA VIANA - raidarosav@gmail.com - 03381885090 ENXAQUECA (MIGRÂNEA) 4 4. DIAGNÓSTICO 5. CEFALEIA POR USO EXCESSIVO DE ANALGÉSICOS • Cefaleia por 15 dias ou mais no mês com cefaleia primária pré-existente (geralmente migrânea crônica), por 3 meses ou mais. • ≥ 15 dias: analgésicos comuns e AINES. • ≥ 10 dias: triptanos, ergotamínicos, barbitúricos, opioides e combinações de analgésicos. • Predomínio em mulheres (3:1). • Tratamento: orientar a redução dos analgésicos e associar uma profilaxia (por exemplo: Topiramato). 6.1. Princípios gerais da profilaxia: • Avaliar se existe indicação (número de crises/mês); • Checar as comorbidades dos pacientes (asma, obesidade, glaucoma, hipertensão arterial sistêmica...); • Checar possíveis benefícios adicionais (por exemplo: topiramato em paciente com obesidade); • Aguardar pelo menos 4 a 6 semanas de tratamento antes de dizer que houve falha. 6.2. Classes medicamentosas do tratamento profilático: • Betabloqueadores: • Propranolol, metoprolol e timolol – nível A de evidência: • Uma alternativa pode ser o atenolol, com nível C de evidência. • Não prescrever para asmáticos e cuidado com cardiopatas. • Bloqueadores do canal de cálcio: • Flunarizina – 3 a 10mg/dia: • Efeitos colaterais: ganho de peso, parkinsonismo secundário e depressão. • Anticonvulsivantes: • Topiramato: • Ótima opção para pacientes com obesidade. Posologia: 25 a 100mg/dia; • Cuidado com história de nefrolitíase e glaucoma. • Devemos lembrar que temos o tratamento abortivo e o profilático. Primeiro precisamos identificar quem “merece” ganhar o tratamento profilático: • Os pacientes que apresentam 3 ou mais crises de enxaqueca ao mês, por mais de 3 meses; • Episódios muito incapacitantes, com prejuízo na vida do paciente. • Refratariedade às medicações abortivas (ou com efeitos adversos significativos). Medidas não farmacológicas no manejo da enxaqueca M Manejo do ESTRESSE Estimular meditação, relaxamento e avaliar o nível de estresse regularmente E EXERCÍCIO físico 30-60 minutos por 3 a 5x/semana D DIÁRIO de crises Estimular uso regular - digital ou impresso U Uso TABACO/ÁLCOOL Não usar tabaco e baixo consumo de álcool (máximo 1 dose padrão/d homens e 2 doses/d mulheres) S SONO Higiene otimizada para qualidade e quantidade A ALIMENTAÇÃO Beber média 2 litros de água/dia, evitar jejum e excesso cafeína (200 mg/dia), refeições regulares e saudáveis qualitativamente Mnemônico MEDUSA 6. TRATAMENTO PROFILÁTICO RAÍ DA ROSA VIANA - raidarosav@gmail.com - 03381885090 NEUROLOGIA5 • Representantes: • Sumatriptano: 25, 50 e 100mg VO; 6mg SC e 20mg IN; • Rizatriptano – 10 mg VO; • Zolmitriptano – 2,5 mg VO; • Naratriptano - 2,5 mg VO: • O naratriptano é o mais antigo e mais barato, mas com menor eficácia, pois demora mais tempo para agir. • GEPANTS: • Mecanismo de ação: antagonistas do CGRP; • Representantes: UBROGEPANT e RIMEGEPANT: • Apresentações de 50 mg e 100 mg. • Indicado para pacientes que têm contraindicação aos triptanos ou resposta ruim a esse grupo. • LASMIDITAN: • Mecanismo de ação: agonista seletivo dos receptores 5HT-1F; • Indicado para pacientes que respondem bem aos triptanos, mas que tiveram efeitos colaterais cardiovasculares; • Apresentação de 50 mg, 100 mg e 200 mg (1 comprimido/dia). TRATAMENTO ABORTIVO DA CRISE ENXAQUECOSA Analgésicos comuns preferencialmente via EV/IM (Dipirona, AAS, Paracetamol) Anti-inflamatórios não esteroidais (Cetoprofeno, naproxeno, ibuprofeno) Triptanos (Sumatriptano, Naratriptano, Rizatriptano, Zolmitriptano) Corticoides (dexametasona): serve parareduzir a recorrência da cefaleia. Sem ação analgésica!!! Menor nível de evidência e mais efeitos colaterais: clorpromazina EV, haloperidol GEPANTS e LASMIDITAN OBS.: NÃO FAZER OPIOIDES (CODEÍNA/TRAMADOL/ MORFINA)!!! Sem eficácia comprovada, risco de dependência. • Sempre tratar em degraus, começar com uma classe medicamentosa e ir aumentando conforme resposta; • Comentando um pouco sobre algumas classes. • Triptanos: • Mecanismo de ação: são agonistas dos receptores 5HT-1B e 5HT-1D, relacionados à serotonina; • Contraindicações: história de AVC ou IAM, doença arterial obstrutiva periférica e HAS sem controle – devido à sua ação vasoconstritora. 7. TRATAMENTO DE CRISES • Efeitos colaterais: parestesias e déficits cognitivos. • Valproato de sódio: • Posologia de 250 a 1.000mg/dia; • Evitar usar em mulheres jovens. Efeito colateral: teratogênica, aumento de peso e pelos; • Riscos: trombocitopenia e hepatotoxicidade. • Levetiracetam: • Posologia: 250 a 1.500mg/dia. • Sem benefícios: Lamotrigina, carbamazepina, oxcarbazepina, clonazepam. • Anti-hipertensivos BRA e IECA; Candesartana: 8-16 mg: • Lisinopril 10-40mg. • Antidepressivos: • Amitriptilina: 12,5 – 75mg/dia – nível A de evidência: • Cuidado com pacientes obesos e/ou idosos. • Venlafaxina: 75 a 150mg/dia – nível A de evidência; • Nortriptilina: 10 a 75mg/dia – nível C de evidência. • Anticorpos monoclonais antipeptídeo relacionado ao gene da calcitonina (anti-CGRP): • Vantagens: bem tolerados, com rápido início de ação (em torno de 1 semana); • Nível A de evidência; • Não são permitidos ainda em gestantes; • Galcanezumabe; • Fremanezumabe; • Erenumab; • Eptinezumabe. 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