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1 Cefaleias – Joanna Pedrolongo CEFALEIAS CLASSIFICAÇÃO PRIMÁRIAS Dor NÃO DECORRE DE OUTRA DOENÇA SUBJACENTE (ex.: sinusite, dengue, tumores). As mais importantes são: • Enxaqueca ou migrânea • Cefaleia tipo tensão • Cefaleia em salvas SECUNDÁRIAS Decorrem de alguma CONDIÇÃO CLÍNICA (maioria simples). São situações nas quais dor de cabeça faz parte dos sintomas, mas não é a única consequência. Exemplos: sinusites, distúrbios da ATM, IVAs, meningites, TCE, malformação arteriovenosa etc. ANAMNESE Mais de um tipo de cefaleia pode estar presente, detalhar cada tipo e focar na que apresenta maior impacto na vida da pessoa. RELACIONADAS AO TEMPO • Por que BUSCOU ATENDIMENTO agora? • O INÍCIO é recente? Quão recente? • Início SÚBITO ou INSIDIOSO • IDADE da primeira crise • PERIODICIDADE (número de crises por mês, por semana): Contínua? Episódica? • Tempo de DURAÇÃO da crise (minutos, horas, dias) RELACIONAS A CARACTERÍSTICAS • INTENSIDADE da dor Leve: não atrapalh0a as atividades rotineiras Moderada: dor mais intensa, que atrapalha as atividades rotineiras, mas não impede sua realização Forte: dor que impede o indivíduo de prosseguir com atividades rotineiras, muito forte ou excruciante • TIPO da dor (latejante, pulsátil, aperto, pontada, pressão) • LOCALIZAÇÃO e IRRADIAÇÃO da dor (holocraniana, hemicraniana, bitemporal, nucal). Localização exata na cabeça e se é sempre no mesmo lugar ou muda conforme a crise • SINTOMAS ASSOCIADOS (náusea, vômitos, fonofobia, fotofobia, sintomas prodrômicos, sintomas de aura) • RELACIONADAS A CAUSAS • Fatores PREDISPONENTES ou DESENCADEANTES? o Estresse o Privação de sono o Jejum prolongado o Álcool o Cafeína o Período menstrual o Uso de medicamentos o Tipos de alimentos ou outros • Fatores de MELHORA e de PIORA (perguntar, principalmente, sobre atividades rotineiras, como andar) • HISTÓRIA FAMILIAR de cefaleia similar RELACIONADAS À RESPOSTA • O que o indivíduo faz DURANTE A CRISE • IMPACTO nas atividades de vida (trabalho, lazer, vida familiar) • Quais MEDICAÇÕES a pessoa usa e já usou? Com qual frequência? RELACIONADAS AO ESTADO DE SAÚDE ENTRE AS CRISES • Apresenta-se bem entre as crises ou apresenta SINTOMAS RESIDUAIS OU PERSISTENTES (diários)? • Quais IDEIAS, SENTIMENTOS, EXPECTATIVAS E MEDOS em relação às crises de cefaleia e suas causas? GABRIELA BERTOLETTI OLMI - gbolmi@ucs.br - IP: 177.75.149.198 2 Cefaleias – Joanna Pedrolongo EXAME CLÍNICO Objetivo principal: exclusão de causas secundárias. • INSPEÇÃO DE FACE, ORELHAS E CRÂNIO: afastar herpes-zóster no couro cabeludo, na face ou na orelha externa • HIPEREMIA OCULAR: glaucoma ou cefaleias em salvas • OROSCOPIA: IVAs, amigdalites purulentas ou secreção retrofaríngea sugestiva de sinusite • PALPAÇÃO DOLOROSA DA REGIÃO TEMPORAL: arterite temporal (artérias dolorosas), cefaleia tipo tensão com dor pericraniana • PONTOS-GATILHO OU CONTRATURAS MUSCULARES LOCALIZADAS: síndromes miofasciais do pescoço ou ombros (podem causar cefaleia, em geral, nucal) • Se sinais de FEBRE OU COMPROMETIMENTO SISTÊMICO, testar a rigidez de nunca e inspecionar a pele à procura de petéquias. EXAME NEUROLÓGICO: busca de déficits focais • ESTADO MENTAL: nível de consciência normal, deprimida ou hiperalerta • Exames dos PARES CRANIANOS o I: olfatório o II: Óptico – acuidade e campo visual o III e IV: Reflexo pupilar o V: Trigêmio: sensibilidade facial, reflexo corneano, teste motor facial e simetria facial • EXAME MOTOR: prova dedo-nariz, rebote • EXAME SENSORIAL: Romberg • REFLEXOS: Babinski • SINAIS DE IRRITAÇÃO MENÍNGEA : a rigidez de nuca pode estar associada à meningite ou hemorragia subaracnóidea EXAMES COMPLEMENTARES Não é necessário exame de imagem em cefaleias primárias com exame neurológico normal (B). No geral, A NEUROIMAGEM NECESSÁRIA se: • Alteração ao exame neurológico (B) • Cefaleia aguda de intensidade muito forte • Mudanças no padrão de cefaleia preexistente, com ↑ frequência e intensidade • Piora com manobra de Valsalva, despertar noturno, cefaleia de início recente em idosos ou piora progressiva (C) Sem evidências para superioridade da RM à TC de crânio como investigação inicial SINAIS DE ALERTA E CARACTERÍSTICAS ASSOCIADAS A CAUSAS SECUNDÁRIAS Podem apontar para a necessidade de INVESTIGAÇÃO LABORATORIAL E DE IMAGEM NA EMERGÊNCIA HEMORRAGIA SUBARACNÓIDEA: INÍCIO AGUDO OU SÚBITO, PRIMEIRA CEFALEIA OU A PIOR “DA VIDA” DISSECÇÃO DE CARÓTIDAS: INÍCIO SÚBITO, ASSOCIADO A DOR CERVICAL E A ALTERAÇÕES NEUROLÓGICAS MENINGITE E/OU ENCEFALITE E OUTRAS DOENÇAS INFECCIOSAS: FEBRE, MIALGIAS, PETÉQUIAS, CONFUSÃO MENTAL, RIGIDEZ DE NUCA. INTENSIDADE MUITO FORTE EM POUCO TEMPO APÓS O SEU INÍCIO, EVOLUÇÃO INSIDIOSA E PROGRESSIVA, COM ÁPICE EM POUCOS DIAS ESTADO DE MAL MIGRANOSO: CRISE DE MIGRÂNEA COM > 72 HORAS, REFRATÁRIA AO TRATAMENTO HATOMAS SUBDURAIS OU EXTRADURAIS: INÍCIO APÓS TRAUMA DE CRÂNIO RECENTE PACIENTE COM HIV/AIDS COM PADRÃO NOVO DE CEFALEIA OU ALTERAÇÃO EM EXAME DE IMAGEM COM LESÃO EXPANSIVA COMPATÍVEL COM TOXOPLASMOSE PADRÃO NOVO DE CEFALEIA EM PACIENTE COM HISTÓRIA RECENTE/ATUAL DE NEOPLASIA OU DISCRASIAS SANGUÍNEAS ARTERITE TEMPORAL: PADRÃO NOVO DE CEFALEIA INICIADA EM PACIENTE COM > 50 ANOS, COM DOR A PALPAÇÃO E EDEMA DA ARTÉRIA TEMPORAL SUPERFICIAL, MIALGIAS E/OU ↑ VSG EDEMA DE PAPILA NO EXAME OFTALMOSCÓPIO GABRIELA BERTOLETTI OLMI - gbolmi@ucs.br - IP: 177.75.149.198 3 Cefaleias – Joanna Pedrolongo SINAIS E SINTOMAS DE ALERTA QUE NECESSITAM DE EXAME DE NEUROIMAGEM RNM OU TC DE CRÂNIO SEM CONTRASTE , quando disponível na APS CEFALEIA DO TRIGÊMEO AUTONÔMICA • Intensidade forte ou muito forte • Curta duração • Unilateral • Em geral periorbitária ou temporal associada a pelo menos 1 dos seguintes o Hiperemia conjuntival e/ou lacrimejamento ipsilateral o Congestão nasal e/ou rinorreia ipsilateral o Edema palpebral ipsilateral o Sudorese frontal e facial ipsilateral o Miose e/ou ptose ipsilateral o Sensação de inquietude ou agitação • Idealmente avaliada em conjunto com o neurologista ENXAQUECA X CEFALEIA TENSIONAL ENXAQUECA OU MIGRÂNEA o 6ª condição crônica mais prevalente a 2ª maior causa de incapacidade. o ¾ dos casos acometem mulheres, pp entre 30 a 50 anos. ESTÁGIOS Crise de enxaqueca se apresenta em até 5 estágios PRÓDROMO (OU SINTOMAS PREMONITÓRIOS) •ATÉ 24H ANTES DO INÍCIO • INCLUEM: ALTERAÇÕES DE HUMOR, IRRITABILIDADE, ANOREXIA, NÁUSEAS, BOCEJO, COMPULSÃO POR ALIMENTOS, DIFICULDADE DE CONCENTRAÇÃO E/OU RACIOCÍNIO, RETENÇÃO HÍDRICA AURA •SINTOMA NEUROLÓGICO QUE PRECEDE A CEFALEIA •APRESENTA-SE COM ALTERAÇÕES VISUAIS, COMO PRESENÇA DE FOSFENAS E ESCOTOMAS •PODE CURSAR COM ALTERAÇÕES SENSITIVAS E, MAIS RARAMENTE, MOTORAS •DESENVOLVIMENTO GRADUAL NO DECORRER 5-20 MINUTOS •DURA ATÉ 1 HORA •NORMAL QUE CESSEM COM O APARECIMENTO DA CEFALEIA CEFALEIA PROPRIAMENTE DITA •CRISES DE 4-72 HORAS •FREQUENTEMENTE UNILATERAL •DOR MODERADA OU INTENSA •PULSÁTIL OU LATEJANTE •ACOMPANHADA DE NÁUSEAS, VÔMITOS, FOTOFOBIA E FONOFOBIA •PIORA COM ATIVIDADES HABITUAIS, COMO CAMINHAR E SUBIR ESCADAS PERÍODO DE RESOLUÇÃO •APÓS PICO DE INTENSIDADE MÁXIMA •PESSOA PODE VOMITAR E/OU DORMIR SINTOMAS RESIDUAIS •PODEM INCLUIR FADIGA, FRAQUEZA, DIFICULDADE DE CONCENTRAÇÃO E CONFUSÃO MENTAL MAVS E ANEURISMAS INTRACRANIANOS: OCORRÊNCIA NO EXERCÍCIO, TOSSE, ESPIRRO, RELACIONADO À ATIVIDADE SEXUAL OU MANOBRA DE VALSALVA. INÍCIO EM > 50 ANOS EVOLUÇÃO INSIDIOSA E PROGRESSIVA, COM ÁPICE EM POUCAS SEMANAS OU MESES (NEOPLASIAS E OUTRAS LESÕES COM EFEITO DE MASSA) DOR QUE ACORDA DURANTE O SONO RELACIONADO À MUDANÇA POSTURAL PRESENÇA DE CONDIÇÕES SUBJACENTES QUE LEVEM A SUSPEITA DE TROMBOSE: NEOPLASIAS EM TRATAMENTO OU PRÉVIA, GESTAÇÃO E PÓS PARTO,USO DE ANTICOAGULANTES, USO DE ANTICONCEPCIONAL INTRATÁVEL AO ACORDAR EM CRIANÇAS, SEM CARACTERÍSTICAS DE ENXAQUECA IRRADIAÇÃO PARA PESCOÇO IMUNOCOMPROMETIDOS CARACTERÍSTICA “EM TROVÃO” – DE CURTA DURAÇÃO E DE FORTE INTENSIDADE GABRIELA BERTOLETTI OLMI - gbolmi@ucs.br - IP: 177.75.149.198 4 Cefaleias – Joanna Pedrolongo CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS Com base na presença ou ausência de aura, os quadros de enxaqueca são classificados em: • Migrânea clássica (ou enxaqueca com aura) • Migrânea comum (ou enxaqueca sem aura) • Migrânea complicada (quando a aura não desaparece ao iniciar da dor) MIGRÂNEA SEM AURA ≥ 5 CRISES com 4-72H DE DURAÇÃO (quando não tratadas ou tratadas sem sucesso), não atribuível a outras causas ou tipos de cefaleias. • ≥ 2 características: o Unilateral o Pulsátil o Intensidade moderada-grave o Intensificada por esforço rotineiro (andar ou subir escada) ou gera evitação das atividades • ≥ 1 durante a cefaleia: o Náuseas e/ou vômitos o Fotofobia e fonofobia MIGRÂNEA COM AURA ≥ 2 crises com os seguintes critérios: • SINTOMAS DE AURA TOTALMENTE REVERSÍVEL, definida por ≥ 1 dos seguintes critérios: o Sintomas visuais, incluindo presença de sinais positivos (luzes, pontos ou linhas brilhantes) e/ou negativos (perda de visão) bilateralmente o Sintomas sensoriais, incluindo achados positivos (picadas, agulhadas) e/ou negativos (parestesias) o Distúrbios de fala ou linguagem o Sintomas motores (muito raro) o Sintomas de tronco cerebral (disartria, vertigem, zumbido, hipoacusia, diplopia, ataxia, redução do nível de consciência) o Sintomas retinianos (são unilaterais) • ≥ 3 características o 1 dos sintomas de aura se instala gradualmente (≥ 5 minutos) o ≥ 2 sintomas ocorrem em sucessão o Cada um dos sintomas de aura dura 5-60 minutos o ≥ 1 sintoma é unilateral (afasia sempre é considerado unilateral) o 1 dos sintomas é positivo (luzes, pontos ou linhas brilhantes são sintomas positivos) o A cefaleia segue-se à aura dentro de ≤ 60 minutos Não é atribuível a outras causas ou tipos de cefaleias + houve exclusão de AIT MIGRÂNEA CRÔNICA ≥ 15 DIAS DE DOR POR MÊS HÁ > 3 MESES , preenchendo características de enxaqueca por ≥ 8 dias/mês. Não é atribuível a outras causas. Fatores de risco para cronicidade: • Obesidade • Crises frequentes • Uso excessivo de opióides • Abuso de analgésicos (> 15 dia/mês nos últimos 3 meses) ou derivados de ergot, triptanos ou medicação combinada por > 10 dias/mês • Cafeína • Barbitúricos • Eventos estressantes de vida • Depressão • Distúrbios do sono • Alodinia cutânea CEFALEIA TENSIONAL A cefaleia primária mais frequente. FISIOPATOLOGIA incerta. Relatos de que a ação muscular seja um fator etiológico importante, com sensibilização periférica de nociceptores miofasciais na cefaleia tipo tensão. Evolução para quadros de maior frequência ou cronificação podem envolver a sensibilização central para a dor. PRESENÇA DE DESENCADEANTES é menos evidente que nos quadros de enxaqueca. Exemplos: • Estresse • Má postura • Tensão muscular • Esforço visual • Alterações do sono – aumentam risco de cronificação. CARACTERÍSTICAS • Intensidade leve a moderada • Duração de 30 minutos a vários dias • Aperto ou peso • Bilateral ou occipital • Pode ser descrita como “em faixa” ao redor da cabeça • Pode irradiar para região cervical • Geralmente não está associada a náuseas e vômitos, foto ou fonofobia. • Não piora com esforço físico habitual. • Pode apresentar dor pericraniana (em região temporal) à palpação GABRIELA BERTOLETTI OLMI - gbolmi@ucs.br - IP: 177.75.149.198 5 Cefaleias – Joanna Pedrolongo CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS ≥ 10 crises com duração de 30 minutos a 7 dias com: • ≥ 2 características o Localização bilateral o Em aperto ou opressão (não pulsátil) o Intensidade leve a moderada o Não agravada por atividade física de rotina (andar ou subir escadas) • Com as 2 características seguintes o Sem náuseas ou vômitos (pode ocorrer anorexia) o Não mais do que um dos seguintes: fotofobia ou fonofobia • Não ser atribuível a outras causas Quanto à FREQUÊNCIA, pode ser: • Episódica infrequente: < 1 x/mês (< 12 dias por ano) • Episódica frequente: ≥ 10 crises, com frequência > 1 x/mês, mas < 15 dias/mês, • Crônica: ≥ 15 dias/mês há > 3 meses (≥ 180 dias/ano) AFASTAR DOENÇAS SUBJACENTES. Cefaleia tensional geralmente não apresenta: • Distúrbios visuais • Dor generalizada • Febre • Rigidez de nuca • Trauma recente • Bruxismo EXAME CLÍNICO Geralmente normal, pode apresentar CONTRAÇÃO MUSCULAR na região occipital, nucal ou bitemporal. Avaliar exame neurológico, principalmente: • Papiledema • Rigidez de nuca • Confusão mental • Alterações de pares cranianos • Disfunção cerebelar, visual e/ou motora • Forte indício de doença neurológica subjacente CEFALEIA CRÔNICA > 15 dias/mês com dor, por ≥ 3 meses Investigar abuso de medicações, pp opioides, derivados de ergot, triptanos. FATORES DE RISCO • Mulher de meia idade • Menor nível socioeconômico • Maior frequência dos episódios de crises agudas • Obesidade • Comorbidades psiquiátricas • Doenças com dor crônica • Distúrbios de sono – pp apneia obstrutiva do sono (AOS) • Consumo excessivo de café • Baixa eficácia dos tratamentos prévios • Altos níveis de estresse TRATAMENTO DA ENXAQUECA NÃO FARMACOLÓGICO Tranquilizar o paciente quanto à dor não estar relacionada a outras doenças neurológicas. DIÁRIO DA DOR Útil para identificar e evitar fatores desencadeantes. • Dia da crise • Intensidade • Duração • Uso de medicamentos • Dados sobre a vida no dia da dor e no dia anterior à crise: alimentação, sono (quantidade e qualidade), fatores estressantes psíquicos, atividade física). Se desencadeante alimentar específico, restringir o consumo desse alimento – restrições alimentares gerais não contribuem para o controle do quadro. OUTROS • Técnicas de relaxamento, controle de estresse, psicoterapia, fisioterapia: úteis para prevenção, mas não durante a crise. • Cessação do tabagismo GABRIELA BERTOLETTI OLMI - gbolmi@ucs.br - IP: 177.75.149.198 6 Cefaleias – Joanna Pedrolongo TRATAMENTO PROFILÁTICO Objetivo: ↓ frequência e intensidade das crises INDICAÇÕES • ≥ 3 crises ao mês • Incapacidade importante (mesmo se poucas crises) • Falência, contraindicação ou efeitos adversos intoleráveis das medicações de resgate • Subtipos especiais de enxaqueca: basilar, com aura prolongada, auras frequentes e atípicas e infarto enxaquecoso • Ineficácia da profilaxia não farmacológica quando esta tiver sido a opção inicial da pessoa • Preferência do paciente SEGUIMENTO DA PESSOA EM TRATAMENTO PROFILÁTICO • Reavaliar paciente após 30 dias, o Sem melhora substancial: tentar outra classe de medicamentos o Melhora substancial: manter por cerca de 3 meses até tentar nova medicação • Nem sempre se obtém a cessação completa • Processo demorado até identificar o fármaco adequado • Não resposta a um medicamento não significa falta de resposta a todos • ↑ dose a cada 2-3 semanas até dose máxima ou impossibilidade de progressão devido efeitos adversos. Nesse momento, associar outra medicação. • Às vezes, mesmo que não alcance dose máxima, pode-se associar um novo medicamento, mantendo os dois em dose menor e mais tolerável pelo paciente • Manutenção por ≥ 6 meses seguida de retirada lenta e observando a resposta. 3 situações podem ocorrer: o Dor não volta o Dor volta com ↓ intensidade o Dor volta com mesma intensidade o Se dor voltar, reintroduzir o medicamento e manter por período maior (ex.: 2 anos) Algumas pessoas necessitam do remédio pelo resto da vida GRUPO 1 – BETABLOQUEADORES B-ADRENÉRGICOS (A) Mecanismo de ação poucoesclarecido. Os que possuem eficácia são: • Propanolol 40-240 mg/dia, divididos em 2-3 tomadas • Atenolol 25-150 mg/dia, divididos em 1-2 tomadas • Metoprolol 100-200 mg/dia, divididos em 1-2 tomadas. É o preferível em pessoas com IC e a introdução deve respeitar as diretrizes gerais do uso dessa classe nessa comorbidade. GABRIELA BERTOLETTI OLMI - gbolmi@ucs.br - IP: 177.75.149.198 7 Cefaleias – Joanna Pedrolongo EFEITOS ADVERSOS: hipotensão arterial, bradicardia, insônia, impotência, depressão, broncoespasmo e astenia. CONTRAINDICAÇÕES: • Bloqueios atrioventriculares o 1º grau, com intervalo PR > 0,24 segundos o 2º e 3º graus • Asma brônquica • DPOC (contraindicação relativa) GRUPO 2 – ANTIDEPRESSIVOS TRICÍCLICOS (A) Inibição da recaptação da serotonina e norepinefrina. Ação antimigranosa independe da ação antidepressiva. Úteis na enxaqueca associada a sintomas depressivos, insônia, abuso de analgésicos e ergóticos, alta frequência de crises e associação com cefaleia tipo tensão crônica. DOSE • Amitriptilina: 12,5-75 mg/dia • Nortriptilina: 10-75 mg/dia • Geralmente em tomada única à noite (induzem o sono) • Imipramina e cloipramina (25-75 mg, 1-3x/dia) podem ser utilizados, com menor eficácia. EFEITOS ADVERSOS • Ganho de peso • Sono • Taquicardia • Intestino preso • Alteração da libido • Secura de mucosas • Hipotensão ortostática (pp em idosos) CONTRAINDICAÇÕES • Bloqueio de ramo esquerdo • IAM recente (2 meses) • Intervalo QT prolongado • Uso concomitante ou recente de IMAOs • Prostatismo ou retenção urinária GRUPO 3 – MEDICAMENTOS ANTIEPILÉTICOS (A) ÁCIDO VALPROICO • 500-1500 mg/dia, divididos em 2/3 tomadas • Efeitos adversos o Sonolência o Ganho de peso o Tremor o Alopecia DIVALPROATO DE SÓDIO • 500-1500 mg/dia, divididos em 1-2 tomadas • Efeitos adversos o Ataxia o Náuseas o Hepatopatia GRUPO 4 – BLOQUEADORES DO CANAL DE CÁLCIO (D) GABRIELA BERTOLETTI OLMI - gbolmi@ucs.br - IP: 177.75.149.198 8 Cefaleias – Joanna Pedrolongo Somente flunarizina (5-10 mg MID) tem atividade profilática antienxaquecosa comprovada, com efeito inferior aos medicamentos já citados EFEITOS ADVERSOS • Sonolência • Ganho de peso • Depressão • Parestesias • Astenia • Síndromes extrapiramidais GRUPO 5 – ASSOCIAÇÕES Betabloqueadores + ADTs: ↑ Eficácia e ↓ Efeitos colaterais. Útil em sintomas de grande intensidade e migrânea crônica MIGRÂNEA SEM AURA MENSTRUAL PURA • Ocorre exclusivamente na menstruação • Pode ser optado por profilaxia com contraceptivo oral combinado de baixa dosagem se mulher < 35 anos • Migranea sem aura em mulher com ≥ 35 anos OU migrânea com aura em qualquer idade = contraindicado ACO com estrógenos pois aumenta risco de AVC ABUSO DE ANALGÉSICOS • Suspender de maneira abrupta do uso da medicação (usualmente por 1 semana) + iniciar profilático • Durante esse período é possível deixar AINE de maneira fixa (ex.: Ibuprofeno 500 mg 8/8h por 7 dias) • Se cefaleia de intensidade muito forte pode ser necessário o uso de corticoide nesse período de suspensão abrupta – ex.: prednisona 60 mg/dia por 7 dias GABRIELA BERTOLETTI OLMI - gbolmi@ucs.br - IP: 177.75.149.198 9 Cefaleias – Joanna Pedrolongo TRATAMENTO AGUDO DA CRISE ENXAQUECA SEM AURA CRISES LEVES Medidas gerais: • Repouso em quarto escuro • Evitar barulho • Conciliar o sono Se refratariedade às medidas gerais: • Dipirona: Estudos recentes mostram maior eficácia em relação ao AAS e ao paracetamol. Perfil de efeitos colaterais seguro • Associar analgésicos não é recomendado. • Associação de dipirona + dexametasona + metoclopramida IV é utilizada na emergência com grande eficácia, mas não há estudos comparando com outros medicamentos GABRIELA BERTOLETTI OLMI - gbolmi@ucs.br - IP: 177.75.149.198 10 Cefaleias – Joanna Pedrolongo CRISES MODERADAS Triptanos (A): • Indicados se refratariedade a analgésicos comuns • Mais eficiente quando usado precocemente • Cautela se o Cardiopatia o Insuficiência renal o Insuficiência hepática • Taxa de alívio da cefaleia em 2h o Eletriptano (60%) o Zolmitriptano (50%) o Sumatriptano (49,7%) o Naratriptano (44,5%) • Taxa de remissão completa da dor em 2h o Eletriptano (39,2%) o Sumatriptano (27,7%) o Zolmitriptano (27,1%) o Naratriptano (17,5%) • Respostas melhores com doses mais altas • Spray nasal: Respostas são similares, mas apresenta benefício em pacientes com náuseas importantes e vômitos Derivados do Ergot: • Não tem efeito se aplicadas tardiamente • Potencial indicação para seguimento em serviços de atenção secundária, se isso for um determinante de acesso à medicação CRISE INTENSA • Triptanos • Indometacina • Clorpromazina • Dexametasona • Haloperidol • Associar os antiinflamatórios em caso de recorrência ENXAQUECA COM AURA • Sem consenso na literatura sobre o tratamento da aura migranosa – Nifedipina além de ineficaz piora a cefaleia • Tratamento da fase da dor é semelhante ao da enxaqueca sem aura. • Recomendação principal: não utilizar sumatriptano subcutâneo durante a fase de aura Alguns medicamentos agem como vasoconstritores, sendo importante afastar fatores de risco para complicações vasculares • HAS • DM • Dislipidemias • Doença vascular periférica ou coronariana • Uso de anticoncepcionais orais • Tabagismo TRATAMENTO DA CEFALEIA TIPO TENSÃO NÃO FARMACOLÓGICO Orientar sobre prognóstico benigno. Buscar POTENCIAIS DESENCADEANTES e encará-los como objetivos terapêuticos • Sintomas depressivos e/ou ansiosos • Estresse físico ou mental • Alimentação irregular ou inapropriada • Retirada ou ingesta elevada de café • Distúrbios do sono • Privação ou excesso de sono • ↓ ou níveis inapropriados de atividade física • Distúrbios menstruais Evidências para tratamento não farmacológico são escassas • Biofeedback eletromiográfico (A) o Captação da tensão muscular, através de eletrodos adesivos colocados na musculatura que está alterada o ↓ dor através do controle consciente da tensão muscular • Terapia cognitivo-comportamental (C) • Treinamento de relaxamento (C) • Fisioterapia (C) • Acupuntura (C) PROFILAXIA Duração 6-12 meses. Tentar retirada após esse período. • 1ª escolha: Amitritpilina 30-75 mg/dia (A) • 2ª escolha (B) o Venlafaxina 150 mg/dia o Mirtazapina 30 mg/dia • 3ª escolha (B) o Maprotilina 75 mg/dia o Clomipramina 75-150 mg/dia • Sertralina e citalopram não foram superiores ao placebo TRATAMENTO AGUDO GABRIELA BERTOLETTI OLMI - gbolmi@ucs.br - IP: 177.75.149.198 11 Cefaleias – Joanna Pedrolongo ANALGÉSICOS COMUNS E AINES geralmente são suficientes (A) • Diclofenaco, naproxeno, cetoprofeno, ibuprofeno – escolha o Ibuprofeno apresenta o melhor perfil de efeitos adversos • Paracetamol (1 g) • AAS CAFEÍNA: Não é recomendada associada ou não com outros medicamentos, pois ↑ risco de cefaleia na retirada OPIOIDES, TRIPTANOS E RELAXANTES MUSCULARES também não são recomendados. Uso de opioide pode estar relacionado ao surgimento de cefaleia por abuso de medicações. CEFALEIA TENSIONAL CRÔNICA • Analgésicos comuns são menos eficientes • Analgésicos ≥ 14 dias/mês ou triptanos/medicamentos controlados ≥ 9 dias ao mês ➔ relacionados ao surgimento de cefaleia por abuso de medicamentos o Suspender as medicações de abuso e buscar estratégias alternativas como parte do tratamento QUANDO REFERENCIAR NEUROLOGISTA • Controle inadequado com os recursos disponíveis na APS – tentativa de profilaxia com 2 classes de medicamento diferentes para migrânea ou com tricíclico para cefaleia tipo tensão por um período mínimo de 3 meses • Cefaleias secundárias que não necessitem de avaliação de urgência• Necessidade de investigação com exame de imagem, quando este não for disponível na APS NEUROCIRURGIA • Cefaleia e exame de imagem (TC ou RNM) com alteração sugestiva de potencial indicação cirúrgica • Lesão com efeito expansivo – tumores, cistos ou malformações • Lesão sugestiva de tumor cerebral, independentemente do tamanho • Aneurisma cerebral ou outra malformação vascular • Hidrocefalia, independente da causa • Presença de malformação de Chiari URGÊNCIA E EMERGÊNCIA • Suspeita de meningite ou encefalite • TCE recente • Suspeita de HSA • Doenças ou condições graves subjacentes – neoplasias atuais ou prévias, gestação, uso de anticoagulantes... • Confusão mental • Suspeita de glaucoma agudo Fontes: tratado de MFC, resumo clínico telessaúders GABRIELA BERTOLETTI OLMI - gbolmi@ucs.br - IP: 177.75.149.198