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63 MoviMentos de Massa de deslizamento preexistentes, enquanto, nos segundos, não é possível fazer uma distinção clara entre a massa que deslizou e a que ficou estável. O deslizamento translacional ocorre sobre uma superfície favorável preexistente e tem uma espessura similar em toda a sua extensão, sendo, por isso, também conhecido por deslizamento em forma de placa ou fo- lha. Trata-se, pois, da movimentação de uma massa com determinadas ca- racterísticas, sobre uma superfície com características distintas, como, por exemplo, o deslizamento de terra sobre o arenito ou outra rocha matriz (Figura 4.3a). Esse tipo de fenômeno ocorre quando a resistência ao cisa- lhamento entre as superfícies das duas massas é superada pela componente horizontal do peso da massa com tendência a deslizar. Além de apresentar profundidade constante, os deslizamentos sobre su- perfícies preexistentes caracterizam-se por ser movimentos de translação, isto é, toda a massa se desloca sobre a superfície, sem movimento rotativo, ao contrário do que ocorre na erosão superficial e formação de voçorocas (entalhamento). Já o deslizamento rotacional tem forma arredondada, embora seja cau- sado igualmente por água de infiltração. Após o deslizamento, verifica-se uma escavação em forma de concha, cujo centro, geralmente, é a parte mais profunda (Figura 4.3b). Figura 4.3 − Tipos de deslizamentos (WEBER, 1964): a) translacional, em forma de placa, b) rotacional, em forma de concha Diferentemente da movimentação em forma de placa (translacional), não há diferença marcante entre a massa que deslizou e a que permaneceu imó- vel. Não há, portanto, uma superfície de deslizamento preexistente: esta se forma apenas durante o acontecimento do fenômeno e corresponde à zona de maior tensão de cisalhamento. 64 Miguel Antão Durlo e FAbrício JAques sutili | bioengenhAriA Esse tipo de movimento tem uma dinâmica própria, compreendendo vários estágios, esquematizados na figura 4.4. Figura 4.4 − Estágios de um deslizamento de rotação O primeiro estágio é invisível e corresponde ao surgimento de tensão de compressão na parte inferior, de tração na parte superior e de cisalha- mento na área mediana do possível deslizamento. No segundo estágio, per- cebe-se uma ruptura, visível na parte superior. No terceiro estágio, há um nítido aumento da fenda na parte superior e elevação de massa na parte inferior. No quarto e quinto estágios, ocorre o deslizamento propriamente dito, que tem um sentido de rotação. No sexto estágio, acontecem diver- sos movimentos de acomodação, em que participam desmoronamentos e deslizamentos secundários. 4.2.3 – Desmoronamento Como desmoronamentos, são classificados desde a queda de rochas singulares até a queda de grandes massas de solo/rochas, como mostrado na figura 4.5. Desmoronamentos são movimentos predominantemente verticais, de diferentes magnitudes. Na literatura especializada, o termo “desmoronamen- to” pode aparecer sob a denominação de “tombamento” ou “basculamento”. Os desmoronamentos podem ter múltiplas causas, sendo as principais de natureza física, como a ocorrência de eventos tectônicos, a contração e dilatação de massas pelo calor, a pressão causada pelas raízes de plantas ou pela formação de gelo e outros cristais, em conjunto com a ação da gravidade. 65 MoviMentos de Massa Figura 4.5 − Desmoronamento de rochedos (a) e sedimentos finos (b) No item desmoronamento, pode-se acomodar também os movimentos conhecidos como subsidências, em todas as suas formas, que vão de pequenos assentamentos, subsidências propriamente ditas, recalques ou desabamentos. Trata-se de movimentos verticais do solo causados, em geral, devido à solução de sais, a escavações subterrâneas naturais pela água ou a escavações artificiais, como túneis, minas ou exploração de depósitos petrolíferos. Esse tipo de fenô- meno, em proporções que venham a causar maiores problemas, é relativamente raro no Brasil e mesmo de menor relação com a questão dos cursos de água. 4.2.4 – Movimentos complexos Por movimentos complexos entendem-se aqueles que resultam de uma combinação das diferentes formas de movimento, conforme visto anterior- mente. Os fenômenos são, ainda, causados pela ação de vários agentes em trabalho simultâneo, resultando em um processo dinâmico e contínuo de erosão, transporte e posterior sedimentação. É fácil verificar eventos de ocorrência comum combinarem várias formas de movimento e transporte de materiais erodidos, ou mesmo alterarem seu comportamento com o passar do tempo e com o desenvolvimento do pro- cesso. Um movimento que iniciou com uma erosão superficial do solo pode progredir para a formação de pequenos sulcos, que, por sua vez, podem se transformar em formas ainda mais intensas de erosão, onde movimentos de deslizamentos e desmoronamentos se sucedem e complementam-se, gerando os sedimentos que serão transportados. Em função da forma com que atuam, os movimentos complexos podem ser segregados em entalhamento e corrosão. 4.2.4.1 – Entalhamento O entalhamento corresponde à erosão em sulco, ocasionada pelo siste- ma fluvial. A erosão em profundidade torna os taludes cada vez mais altos, PREFÁCIO 4.2 – Classificação dos movimentos de massas 4.2.1 – Escoamento 4.2.3 – Desmoronamento 4.2.4 – Movimentos complexos 4.2.4.1 – Entalhamento