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TEXTO VIII VEGA-ALMEIDA, Rosa; FERNANDEZ-MOLINA, Juan-Carlos; LINARES, Radames. Coordenadas paradigmáticas, históricas y epistemológicas de la Ciencia de la Información: una sistematización. Information Research, v. 4, n. 2, p. 1-16, 2009. Disponível em: http://hdl.handle.net/10481/33033. Acesso em: 25 maio 2022. “La utilización de propuestas teórico-metodológicas extra e intradisciplinarias para el estudio de las transformaciones que se manifiestan en un área del conocimiento, constituye un aspecto esencial para una mejor interpretación de sus peculiaridades, así como de su comportamiento en relación con su contexto. Particularmente, la Ciencia de la Información no ha estado ajena a este fenómeno, por cuanto su posible cientificidad ha sido objeto de fuertes polémicas desde su nacimiento, y entre los objetivos cardinales de su comunidad ha estado siempre el desarrollo de sólidos fundamentos teóricos que permitan la reafirmación de su identidad como disciplina científica”. (p. 2). A Ciência da Informação carrega, desde seus primórdios, influências de grande número de disciplinas de áreas bastante diferentes. Em suas primeiras décadas houve forte influência das ciências exatas, manifestada no conjunto de seus primeiros estudiosos, provenientes de áreas como a engenharia, por exemplo. A teoria de Shannon e Weaver, de base matemática, estabeleceu os primeiros alicerces sobre os quais a CI começou a ser constituída, resultando em uma visão de mundo baseada no paradigma físico da informação, trazendo as características do positivismo: empirismo, determinismo, experimentação, entre outras. Como uma das bases da Ciência da Informação temos a ciência da computação. Nos dias atuais, várias das questões para as quais a CI tem aberto suas reflexões já são estudadas pelos cientistas da computação. Uma das outras disciplinas consideradas basilares para o campo é a Biblioteconomia, a qual se constitui em uma área cujas questões despertam, regularmente, reflexões nos cientistas da informação. Tal multiplicidade de relações com campos do conhecimento tão distintos fez com que a CI, especialmente em seus primeiros anos, envidasse esforços para se constituir como campo cientificamente aceito pela comunidade de cientistas. A interdisciplinaridade, portanto, uma das características intrínsecas ao campo, constitui-se, ao mesmo tempo, um diferencial para seu desenvolvimento e um ponto de questionamento e desconfiança contínuos. “La identificación de una etapa regida por un paradigma social en la Ciencia de la Información durante los éltimos años, conduce inevitablemente hacia el estudio de su proceso fundacional, y a la concatenación de factores influyentes de índole social e intelectual, pues, tal y como plantea Capurro (2003), lo que aparentemente surgió al final ya estaba presente en sus inicios, no como paradigma de la nueva disciplina, pero sí de sus predecesoras, y en particular de la Biblioteconomía y la Documentación.” (p. 5). Conforme comentado anteriormente, a Biblioteconomia tem forte influência nas questões sobre as quais a Ciência da Informação debruça-se e desenvolve suas linhas de investigação e ação. Assim ocorreu também com a Documentação, cuja atividade foi incorporada, em grande parte, pela Biblioteconomia. Ao mesmo tempo que fornece muitas das bases de estudo para a CI, a Biblioteconomia se vê, diariamente, sobretudo nos dias atuais, influenciada pelas reflexões da CI e, principalmente, renovada. Não à toa a prática bibliotecária caminha para se distanciar, a cada dia, do papel de protagonismo dado ao paradigma custodial. Ao longo das últimas décadas as unidades de informação perceberam a necessidade de priorizar o acesso à informação, a construção e disseminação de produtos e serviços informacionais, a satisfação das necessidades dos usuários desses produtos e serviços, colocando-os como protagonistas desses espaços e dos resultados das ações bibliotecárias. Não poderia deixar de ser diferente, afinal, com a massificação do acesso a diversas fontes de informação para além das abrigadas nos espaços das bibliotecas devido, sobretudo, à popularização dos dispositivos tecnológicos digitais, continuar priorizando a custódia dos documentos, ao invés do acesso a eles, colocaria as bibliotecas em um mundo à parte, deslocado da realidade que as cerca. “El planteamiento de Capurro, visto desde la perspectiva kuhniana, conlleva entonces a la hipótesis de que fue precisamente una situación revolucionaria, determinada por factores sociales e intelectuales, la que afectó a la Biblioteconomía y la Documentación -marcada por profundos y frecuentes debates sobre conceptos, métodos, instrumentos, problemas y soluciones para enfrentar la realidad informativa, lo cual no se reflejó en un aumento en profundidad de las disciplinas informativas existentes, sino en un crecimiento en anchura- y propició el nacimiento de una nueva disciplina científica informativa en la segunda mitad del siglo XX: la Ciencia de la Información.” (p. 5-6). Essa ausência de profundidade das disciplinas de Biblioteconomia e Documentação evidenciou-se pelo protagonismo dado ao suporte informacional: inicialmente os livros e, depois, os demais objetos com valor informacional. Além disso, com os espaços informacionais voltados para o uso de poucas pessoas, entender sua complexidade, suas motivações, suas formas de buscar a informação para resolver problemas, não era o que movia a atividade dos bibliotecários e dos documentalistas. Conforme a Ciência da Informação surgiu e foi exercendo sua influência bem como conforme a evolução da sociedade e o surgimento e disseminação em massa, ao longo das décadas, dos produtos informacionais, especialmente os tecnológicos, é que a Biblioteconomia e a Documentação passam a ser ressignificadas. “Desde un primer momento, la Ciencia de la Información ha tenido tres características básicas (Saracevic 1999): a) interdisciplinariedad, b) conexión con las tecnologías, c) participación activa en el desarrollo de la sociedad de la información.” (p. 6). A interdisciplinaridade pode ser vista, como mencionamos anteriormente, em disciplinas de vários campos. De início temos a Biblioteconomia e a Documentação com suas questões informacionais, as quais se, num primeiro momento, mostraram-se insuficientes, contribuindo para o próprio surgimento da Ciência da Informação, a influenciaram e foram por ela influenciadas, fazendo com que ambos os campos se desenvolvessem. A Ciência da Computação, também como já mencionado, é considerada uma das raízes da CI. Sua influência é perceptível, principalmente, nos estudos sobre recuperação da informação e na constituição do paradigma cognitivo do campo, no qual a mente do usuário que busca e utiliza a informação é comparada a um processador como os presentes em máquinas computacionais. Somam-se outras áreas como a Psicologia, a Matemática, especialmente no começo do campo. A conexão com as tecnologias é uma das responsáveis pelo próprio surgimento da CI. No contexto do pós-guerra, o surgimento e desenvolvimento de diversos dispositivos tecnológicos provocou uma explosão informacional, ensejando o surgimento de uma área preocupada com o fluxo da informação, do momento em que ela nasce até o momento em que é utilizada pelos indivíduos. Nos dias atuais, essa relação da CI com a tecnologia é ainda mais visível. A forma como produzimos e compartilhamos informação e conhecimento na sociedade contemporânea passa por questões cada vez mais instáveis e com reflexos sentidos como nunca nas esferas política, econômica, social e cultural. Naturalmente, a Ciência da Informação tem se preocupado com tais questões, uma vez que, no caso da realidade Ibero-Americana, por exemplo, há uma forte influência das ciências humanas e sociais. As investigações da CI são, portanto, organicamente incorporadas ao desenvolvimento da Sociedade da Informação, influenciando-a e sendo por ela influenciada. “La promoción y financiamiento de la investigación fundamental y militar, y la determinación de prioridades;al considerarse que las aplicaciones resultantes de la ciencia pura contribuirían en el futuro al desarrollo social. Este principio es consecuente con la idea de progreso, que tipifica a la ciencia moderna en su estrecho vínculo con la práctica de la producción material (Iovchuk et al. 1979). A su vez, la impregna de un objeto social y misión benéficos: garantizar la seguridad y la prosperidad de las naciones (Waast & Boukhari 1999).” (p. 7-8). A atividade científica, ainda que tenha como premissa o desenvolvimento da sociedade, muitas vezes, encontra-se distante desta ou, pelo menos, produzindo benesses acessíveis apenas a uma parte dessa sociedade. A ciência é fruto da sociedade; não está alheia a suas características. Dessa forma, especialmente nas formas de organização econômica regidas pelo capitalismo, vemos a ciência mergulhada em uma lógica mercantilista, de competição, de busca ao lucro, ficando o desenvolvimento social em segundo plano. Por outro lado, existe uma visão distorcida de grande parte da sociedade sobre o que é ciência. Associa-se ciência, geralmente, a produtos palpáveis, de aplicação eminentemente prática, que gerem uma alteração mínima na forma de funcionamento de uma atividade. Sob essa perspectiva são desvalorizados conhecimentos científicos que andam em uma velocidade menor, sem a preocupação primeira de gerar produtos tangíveis, mas de refletir sobre a condição do homem e de seus processos de interação com seus semelhantes e com o meio que o cerca. “La década finisecular y la primera mitad del siglo XXI también se presenta como un período crítico de incertidumbre e inestabilidad, que afecta todas las esferas sociales. Estas características son consecuencia inevitable del orden económico y político mundial, responsable de la falta de equidad en la distribución de los recursos, la globalización económica neoliberal y la tecnológica, los conflictos bélicos, la destrucción acelerada del entorno ecológico, y una cultura intelectual y ética marcada por el individualismo. Ante tales contradicciones, persistentes y agudizadas durante los éltimos años, resulta visible la revitalización de los movimientos sociales en la bésqueda de un proyecto humanista alternativo, y particularmente en la esfera científica, en el reconocimiento del ser humano como sujeto histórico en mutua interrelación con la naturaleza y la sociedad.” (p. 16). Essa instabilidade dos dias atuais se acentua em marcha rápida, ressignificando modos de vida apresentados a nós como, aparentemente, imutáveis. Nas relações de trabalho percebemos a disseminação de um discurso cada vez mais neoliberal, adotado inclusive pelas pessoas que mais são prejudicadas por ele. A precarização das relações de trabalho se intensifica, com direitos conquistados há várias décadas sendo retirados da classe trabalhadora. O fenômeno da “uberização” se espalha para vários ramos e atividades, colocando o sujeito e sua prática laboral no centro de um debate no qual ele não é empregado de ninguém, mas também não é autônomo. Ao passo em que são debatidas questões como o racismo, a homofobia e o machismo, um movimento contrário ganha força, calcado em um suposto direito à liberdade de expressão e em um relativismo, para continuar com discursos e práticas que não mais cabem nos tempos atuais. Esse movimento contrário ganha expressão na figura de pessoas famosas, influenciadores e até mesmo ocupantes de cargos de alto comando da nação. As ciências humanas e sociais veem suas atividades colocadas em xeque. Problemas que pareciam ter sido solucionados voltam com força total: vemos movimentos antivacina, ataques à democracia, influência perigosa da religião em questões de ordem civil e política. Tamanhas transformações nos convidam à reflexão sobre os instrumentos dos quais dispomos para tentar dirimir os impactos negativos dessas instabilidades. Elas nos afetam sobremaneira, sobretudo no que diz respeito ao nosso estado mental e emocional. Não à toa vivenciamos uma era em que transtornos relacionados à mente têm se tornado tão comuns. Diante desse cenário quase apocalíptico, somos tentados a nos conformar, a aceitar as coisas como elas são, a buscar rotas de fuga que nos façam esquecer, mesmo que por alguns instantes, da complexidade dos tempos atuais. “De esta manera, como campo de práctica profesional e investigación científica, la disciplina enfoca los problemas de comunicación efectiva de los registros del conocimiento entre humanos en el contexto de las organizaciones sociales, así como las necesidades y usos de la información por los individuos. Por tanto, es clave el problema de las necesidades de información y el uso de la información en su relación con el contexto (Saracevic 1999).” (p. 17-30). Como ciência social aplicada que é, a Ciência da Informação não pode ficar alheia às questões do mundo social no qual está inserida. A compreensão dos sujeitos e de suas necessidades informacionais não acontece isoladamente, focando apenas no uso e na forma como as pessoas processam essas informações. O contexto que nos cerca e os processos interativos pelos quais passamos dentro dele precisam ser levados em conta para que a CI dê respostas satisfatórias aos esforços de compreensão da realidade em suas diversas nuances.