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INSTITUTO FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO BACHARELADO EM ARQUITETURA E URBANISMO ALINE FABRIS COMÉRIO ARQUITETURA RURAL NO DISTRITO DE SÃO GABRIEL DE BAUNILHA, COLATINA/ES COLATINA 2022 ALINE FABRIS COMÉRIO ARQUITETURA RURAL NO DISTRITO DE SÃO GABRIEL DE BAUNILHA, COLATINA/ES Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Coordenadoria do Curso de Arquitetura e Urbanismo do Instituto Federal do Espírito Santo, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo. Orientador: Prof.: Ma. Aline Vargas da Silveira COLATINA 2022 (Biblioteca do Campus Colatina) CDD: 720 Bibliotecário/a: Débora do Carmo de Souza CRB6-ES nº 631 C732a Comério, Aline Fabris . Arquitetura rural no distrito de São Gabriel de Baunilha, Colatina/ES / Aline Fabris Comério. - 2023. 235 f. : il.. Orientador: Aline Vargas da Silveira TCC (Graduação) Instituto Federal do Espírito Santo, Campus Colatina, Arquitetura e Urbanismo, 2023. 1. Arquitetura Rural . 2. Imigração italina. 3. São Gabriel da Palha - Espirito Santo (ES). I. Silveira, Aline Vargas da . II.Título III. Instituto Federal do Espírito Santo. ALINE FABRIS COMÉRIO ARQUITETURA RURAL NO DISTRITO DE SÃO GABRIEL DE BAUNILHA, COLATINA/ES Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Coordenadoria do Curso de Arquitetura e Urbanismo do Instituto Federal do Espírito Santo como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo. Aprovado em 19 de dezembro de 2022 COMISSÃO EXAMINADORA Prof. Ma. Aline Vargas da Silveira Instituto Federal do Espírito Santo Orientadora Prof. Me. Maurício Soares do Vale Instituto Federal do Espírito Santo Membro Interno Arq. Ma. Natália Oliveira Lira da Silva Arquiteta autônoma Dedico este presente trabalho as minhas inspirações que me despertaram o querer pesquisar sobre este assunto tão complicado, as minhas avós Dona Matilde Guerra Comério, que foi um destaque na arte de ensinar em sala de aula, mudando a vida de várias pessoas, e Dona Maria Ronchetti Fabris, que se destacou na arte de me ensinar no dia a dia o amor pelo próximo e pelos livros, o respeito aos mais velhos e poder vê-los como uma fonte de conhecimento oral infindável. E dedico aos meus professores e orientadores, que me ensinaram este ofício que é a arquitetura e o urbanismo. AGRADECIMENTOS Sou imensamente grata as minhas avós Matilde e Maria, que me ensinaram, mesmo que de madeiras diferentes, a como ser uma mulher forte e poder obter minhas conquistas sem esquecer minhas origens. Aos meus pais, pelo amor que recebi deles e por não medirem esforços para que hoje eu conseguisse entregar este trabalho, e as minhas eternas companhias felinas, Salem, Nimbos e Ravena, por sempre estarem ao meu lado dando força moral e me ajudando a saber a hora de descansar. RESUMO O presente trabalho aborda a arquitetura rural do estado do Espírito Santo. Tem por objetivo estudar as residências edificadas entre o final do século XIX e início do século XX nos distritos de São Gabriel de Baunilha e Alto Baunilha, município de Colatina ES. Acredita-se que acontecimentos marcantes na história, como a crise do café em 1930, afetaram o desenvolvimento da arquitetura deste povoado. Para tanto, o presente estudo mostra o histórico capixaba, com seus processos de colonização tanto em suas fazes imigratórias quanto nas construtivas, bem como as influências recebidas de povos indígenas, portugueses e principalmente da população imigrante ao se adaptarem no local. Com base em comparações entre as fontes bibliográficas e a catalogação das edificações in loco, houve uma análise comparativa com a intenção de determinar aspectos que mostrem mudanças nas configurações construtivas e as características especificas da região analisada. Palavra-chave: Arquitetura Rural. Imigração Italiana. São Gabriel de Baunilha. ABSTRACT The present work approaches the rural architecture of the state of Espírito Santo. It aims to study the residences built between the end of the 19th century and the beginning of the 20th century in the districts of São Gabriel de Baunilha and Alto Baunilha, municipality of Colatina ES. It is believed that significant events in history, such as the coffee crisis in 1930, affected the development of the architecture of this town. Therefore, this study shows the history of Espírito Santo, with its colonization processes both in its immigrant phases and in its constructive ones, as well as the influences received from indigenous peoples, Portuguese and mainly from the immigrant population when they adapted in the place. Based on comparisons between bibliographic sources and the cataloging of buildings in loco, there was a comparative analysis with the intention of determining aspects that show changes in constructive configurations and the specific characteristics of the analyzed region. Keywords: Rural Architecture. Italian immigration. São Gabriel de Baunilha. LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 – Localização do estado ......................................................................... 20 Figura 2 – Temperaturas do Espírito Santo ......................................................... 21 Figura 3 – Chuvas no Espírito Santo .................................................................... 22 Figura 4 – Bacias hidrográficas do Espírito Santo ............................................... 23 Figura 5 – Relevo do Espírito Santo ..................................................................... 24 Figura 6 – Delimitação dos territórios em que se estabeleceram os trentinos .... 28 Figura 7 – Infográfico. ........................................................................................... 33 Figura 8 – Barracões de recepção ....................................................................... 35 Figura 9 – zona colonial central antiga ................................................................. 37 Figura 10 – Organização do lote .......................................................................... 46 Figura 11 – terreiro ............................................................................................... 53 Figura 12 – Exemplo de distribuição dos lotes ..................................................... 55 Figura 13 – Residência provisória construída no lote. ......................................... 57 Figura 14 – Residência característica do segundo período ................................. 59 Figura 15 – Residência característica do segundo período ................................. 60 Figura 16 – Residência característica do terceiro período ................................... 62 Figura 17 – Residência característica do quarto período ..................................... 64 Figura 18 - Influencia italiana na residência do quarto período ........................... 65 Figura 19 – Desenho esquemático da residência do quarto período .................. 65 Figura 20 – Residência na arquitetura rural atual ................................................ 67 Figura 21 – Venda em Santa Tereza, 1900 ......................................................... 69 Figura 22 – Campo de bocha pertencente ao bar e mercearia do Aloir Comério70 Figura 23 – Recomendações pau-a-pique ........................................................... 73 Figura 24 – Estrutura para receber a terra ........................................................... 73 Figura 25 – Parede de meia vez contra fiado ...................................................... 74 Figura 26 – Parede de uma vez ........................................................................... 75 Figura 27 – Variação de padrão - parede de uma vez. ........................................75 Figura 28 – Cobertura com telha tipo francês ...................................................... 76 Figura 29 – Exemplo de escada externa. ............................................................. 77 Figura 30 – Localização da área de estudo ......................................................... 78 Figura 31 – Bacia Hidrográfica da área de estudo ............................................... 79 Figura 32 – Vegetação atual da área de estudo – 2012 ...................................... 80 Figura 33 – Áreas cultiváveis e extração de pedra granítica – 2012 ................... 82 Figura 34 – Pedreiras existentes para a extração de pedra granítica ................. 83 Figura 35 – Pedreiras existentes para a extração de pedra granítica ................. 84 Figura 36 – Percentual de lavouras por hectare em Colatina ES ........................ 85 Figura 37 – Exportação do café no Espírito Santo 1845/1874 (Kg)..................... 86 Figura 38 – Quantidade de café produzido em Colatina ES 2004/2021 (tonelada) .............................................................................................................................. 86 Figura 39 – Quantidade de café produzido em Colatina ES ................................ 87 Figura 40 – Área colhida de café em Colatina ES (hectare) ................................ 87 Figura 41 – O valor da produção de café em Colatina ES (R$ x1000) ................ 88 Figura 42 – Rendimento médio da produção de café em Colatina ES (Kg/há) ... 88 Figura 43 – Percentual de matas ou florestas por hectare em relação a pastagem – Colatina ES ........................................................................................................ 89 Figura 44 – Percentual de pastagens por hectare – Colatina ES ........................ 90 Figura 45 – Percentual de pecuária por cabeça – Colatina ES ........................... 91 Figura 46 – Localização da área de estudo. ........................................................ 92 Figura 47 – Localização da casa da família Solto ................................................ 93 Figura 48 – Fachada 1 da casa da família Solto .................................................. 94 Figura 49 – Fachada 2 da casa da família Solto .................................................. 94 Figura 50 – Vista da fachada 1 ............................................................................. 95 Figura 51 – Vista da fachada 2 ............................................................................. 95 Figura 52 – Localização da casa da Família Baptista .......................................... 96 Figura 53 – Fachada principal da casa da Família Baptista ................................ 97 Figura 54 – Estado da estrada de acesso da casa da Família Baptista .............. 97 Figura 55 – Vista da igreja e do curral pela lateral esquerda da casa. ................ 98 Figura 56 – Parte da pedreira que se pode ver dos fundos da residência .......... 98 Figura 57 – Vista da fachada frontal e traseira ..................................................... 99 Figura 58 – Vista da janela da lateral esquerda e direita ..................................... 99 Figura 59 – Localização da casa da Família Pertel ........................................... 100 Figura 60 – Fachada principal da casa da Família Pertel .................................. 101 Figura 61 – Estado da estrada de acesso da casa da Família Pertel................ 101 Figura 62 – Vista frontal da casa da Família Pertel ........................................... 102 Figura 63 – Localização da casa em Ruínas ..................................................... 103 Figura 64 – Estado da estrada de acesso da casa em Ruínas ......................... 104 Figura 65 – Fachada principal da casa em ruínas. ............................................ 104 Figura 66 – Detalhe da estrada de acesso a residência .................................... 105 Figura 67 – Vista da fachada frontal e traseira ................................................... 105 Figura 68 – Vista da fachada esquerda .............................................................. 106 Figura 69 – Fachada 1 da casa da família Solto ................................................ 107 Figura 70 – Fachada 2 da casa da família Solto ................................................ 108 Figura 71 – Portas de acesso a edificação da casa da Família Solto ............... 108 Figura 72 – Planta baixa com legenda de cômodos da casa da Família Solto . 109 Figura 73 – Divisão residência x comércio da casa da Família Solto. ............... 109 Figura 74 – Graus de privacidade da casa da Família Solto. ............................ 110 Figura 75 – Quartos da casa, por ordem da planta baixa .................................. 111 Figura 76 – Área da cozinha em vista interna com detalhes ............................. 111 Figura 77 – Área do comércio em vista interna .................................................. 112 Figura 78 – Detalhe da estrutura ........................................................................ 112 Figura 79 – Portas de acesso a edificação da casa da Família Baptista .......... 113 Figura 80 – Planta baixa com legenda de cômodos da casa da Família Baptista ............................................................................................................................ 114 Figura 81 – Planta baixa com destaque da forma da casa da Família Baptista 114 Figura 82 – Divisão aposentos familiares x área da cozinha e de serviço da casa da Família Baptista ............................................................................................. 115 Figura 83 – Quarto mediano da casa da Família Baptista ................................. 115 Figura 84 – Sala de estar frontal da casa da Família Baptista........................... 116 Figura 85 – Sala de estar e jantar da casa da Família Baptista ........................ 116 Figura 86 – Banheiro da casa da Família Baptista ............................................ 117 Figura 87 – Portas de acesso a edificação – Térreo da casa da família Pertel . 118 Figura 88 – Planta baixa com legenda de cômodos da casa da família Pertel . 118 Figura 89 – Planta baixa com destaque da forma da casa da família Pertel ..... 119 Figura 90 – analise de graus de permeabilidade: segundo a história x segundo a realidade da construção ..................................................................................... 120 Figura 91 – Quarto do casal em vista interna da casa da família Pertel............ 120 Figura 92 – Quarto da filha em vista interna da casa da família Pertel ............. 121 Figura 93 – Área do terraço em construção ....................................................... 121 Figura 94 – Planta baixa com destaque da forma da casa da família Solto ...... 123 Figura 95 – Acréscimos feitos a construção da casa da família Solto ............... 123 Figura 96 – Portas de acesso a edificação da casa em Ruínas ........................ 123 Figura 97 – Planta baixa com legenda de cômodos da casa em Ruínas .......... 124 Figura 98 – Planta baixa com destaque da forma da casa em Ruínas ............. 124 Figura 99 – Divisão aposentos familiares x área da cozinha e de serviço da casa em Ruínas ........................................................................................................... 125 Figura 100 – Quarto da esquerda e central em estado atualizado .................... 125 Figura 101 – Salas em estado atual ................................................................... 126 Figura 102 – Acesso e cozinha/área de serviço no estado atual ....................... 127 Figura 103 – Fachada frontal e traseira da casa da Família Baptista ................ 129 Figura 104 – Fachada da lateral esquerda e direita da casa da Família Baptista ............................................................................................................................129 Figura 105 – Quarto principal ao lado do banheiro da casa da Família Baptista ............................................................................................................................ 130 Figura 106 – Banheiro interno da casa da Família Baptista .............................. 130 Figura 107 – Cozinha da casa da Família Baptista ............................................ 131 Figura 108 – Banheiro externo com área de serviço da casa da Família Baptista ............................................................................................................................ 131 Figura 109 – Planta de adições históricas da casa da Família Baptista. ........... 132 Figura 110 – Fachada frontal e traseira da casa em Ruínas. ............................ 133 Figura 111 – Fachada da lateral esquerda e direita da casa em Ruínas .......... 133 Figura 112 – Salas de estar e jantar da casa em Ruínas .................................. 134 Figura 113 – Quartos em ordem de planta da casa em Ruínas ........................ 134 Figura 114 – Estado de deterioração da fachada principal da casa em Ruínas 135 Figura 115 – Cozinha da casa em Ruínas ......................................................... 135 Figura 116 – Planta de adições históricas da casa em Ruína ........................... 136 Figura 117 – Fachadas 1 e 2 direcionadas a rua da casa da Família Solto ...... 137 Figura 118 – Fachada oposta a 2 da casa da Família Solto .............................. 137 Figura 119 – Atualização das fachadas 1 e 2 da edificação da casa da Família Solto .................................................................................................................... 137 Figura 120 – Planta de adições históricas da casa da Família Solto ................. 138 Figura 121 – Fachada principal da casa da Família Pertel ................................ 139 Figura 122 – Fachada esquerda e direita da casa da Família Pertel ................ 139 Figura 123 – Planta de adições históricas – Térreo/Terraço da casa da Família Pertel ................................................................................................................... 140 Figura 124 – Comparação de fachada no dia da catalogação X atualmente .... 140 LISTA DE SIGLAS ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística Ifes – Instituto Federal do Espírito Santo ES – Espírito Santo SGB – São Gabriel de Baunilha ASG – Alto São Gabriel SUMÁRIO LISTA DE ILUSTRAÇÕES ................................................................................ 8 1 INTRODUÇÃO .............................................................................................. 18 2 O ESPÍRITO SANTO: DA COLONIZAÇÃO À CRISE CAFEEIRA ............... 20 2.1 COLONIZAÇÃO IMIGRANTE ................................................................. 24 2.2 IMPORTÂNCIA DO CAFÉ PARA A REGIÃO .......................................... 40 2.3 ARQUITETURA DA IMIGRAÇÃO ITALIANA ........................................... 43 2.3.1 A organização do lote .................................................................... 45 2.3.2 Arquitetura Residencial ................................................................. 54 2.3.3 Arquitetura Comercial .................................................................... 67 2.3.4 Técnicas Construtivas ................................................................... 71 3 ARQUITETURA RURAL EM SÃO GABRIEL DE BAUNILHA ..................... 77 3.1 LOCALIZAÇÃO E IMPLANTAÇÃO DAS EDIFICAÇÕES ........................ 91 3.2 TIPOLOGIAS DE EDIFICAÇÕES ENCONTRADAS ............................. 106 3.2.1 Casa com comércio ..................................................................... 107 3.2.2 Casa de planta regular ................................................................. 113 3.2.3 Casa de planta irregular. ............................................................. 122 3.3 ESTADO ATUAL DE CONSERVAÇÃO ............................................... 127 3.3.1 Edificação pouco ou não descaracterizada ............................... 128 3.3.2 Edificação muito descaracterizada ............................................. 136 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................ 141 REFERÊNCIAS .............................................................................................. 143 APÊNDICE ..................................................................................................... 145 APÊNDICE A – FICHA CADASTRAL .......................................................... 145 Apêndice A.0 – Vazio ............................................................................ 145 Apêndice A.1 – Casa da Família Solto................................................. 150 Apêndice A.2 – Casa da Família Baptista ........................................... 162 Apêndice A.3 – Casa da Família Pertel................................................ 176 Apêndice A.4 – Casa em ruínas ........................................................... 186 APÊNDICE B – ENTREVISTA – PESSOA QUE MAIS TEMPO MOROU NA EDIFICAÇÃO .............................................................................................. 200 Apêndice B.0 – Vazio ............................................................................ 200 Apêndice B.1 – Dona Maria .................................................................. 201 Apêndice B.2 - Páscoa .......................................................................... 203 Apêndice B.3 – Neide ............................................................................ 205 Apêndice B.4 – Geraldo Cezano .......................................................... 207 APÊNDICE C – ENTREVISTA – MORADORES ANTIGOS ........................ 209 Apêndice C.0 – Vazia ............................................................................ 209 Apêndice C.1 – Dona Maria .................................................................. 211 Apêndice C.2 – Páscoa ......................................................................... 213 Apêndice C.3 – Orlando Caetano ......................................................... 218 Apêndice C.4 – Pedro Lima .................................................................. 222 Apêndice C.5 – Dona Nena ................................................................... 225 Apêndice C.6 – Aloir Comério .............................................................. 227 ANEXO .......................................................................................................... 232 ANEXO A – PARECER DO COMITÊ DE ÉTICA ......................................... 232 18 1 INTRODUÇÃO A arquitetura rural, apesar de pouco explorada, é muito valiosa e diversa. A edificação sintetiza o conhecimento construtivo fruto de características culturais, políticas, históricas, econômicas, sociais e técnicas próprias de um período. E, mantêm um laço estreito com a vida local e de seus moradores, demonstrando na prática toda a cultura empregada pelo seu construtor, bem como as influências externas, concedendo ao local atributos únicos (PEREIRA e FERREIRA, 2016; HAUTEQUESTT, 2011). Em razão disso, o presente trabalho visa contribuir com a elaboração de um acervo no que tange à produção de informações sobre a arquitetura rural capixaba dos descendentes de italianos, através do registro e documentação da arquitetura rural na região norte do Espírito Santo. Para tanto, parte-se de um recorte territorial no povoado de São Gabriel de Baunilha, distrito de Colatina/ES, tendo como recorte temporal a crise do café em 1930 até a contemporaneidade. Para atingir o objetivo geral, se faz necessário o cumprimento dos seguintes objetivos específicos: identificaras edificações maisantigas dos povoados de São Gabriel de Baunilha e Alto São Gabriel; realizar o levantamento cadastral das edificações selecionadas; analisar as edificações selecionadas segundo seu estado de conservação; elaborar ficha catalográfica sintetizando todas as informações relativas às edificações selecionadas e por final comparar as edificações selecionadas em relação a arquitetura rural típica da região central do Espírito Santo para se entender melhor as consequências da crise para esta localidade. Para atender tal objetivo, essa pesquisa teve o seguinte percurso metodológico: revisão bibliográfica sobre arquitetura rural brasileira, em especial a produzida pelos imigrantes no Espírito Santo; revisão 19 bibliográfica sobre a conformação territorial do local de estudo considerando questões históricas, geográficas e econômicas; atividades de campo no recorte territorial delimitado para realização do levantamento fotográfico, cadastral e entrevistas com moradores do local. É relevante ressaltar que a importância dessa pesquisa se justifica pelo valor histórico e geográfico da região rural do estado do Espírito Santo, mostrando a relevância da preservação cultural para as famílias que habitam ou habitavam o distrito, além de manter viva, e se necessário recuperar, os conhecimentos técnicos na história de edificações, como uma herança cultural edificada que corre o risco de ser perdido ao longo do tempo (HAUTEQUESTT, 2011). O presente trabalho contou com a dificuldade na obtenção de autores que discursassem sobre a arquitetura rural no estado do Espírito Santo, e por isso admito a importância dos seguintes autores: Júlio Posenato e Maria Izabel Perini Muniz que traçaram a base do referencial teórico. O autor Júlio Posenato escreveu a obra mais completa sobre o assunto que existe até o presente, com a obra “Arquitetura da Imigração Italiana no Espírito Santo” de 1997. Já Maria Izabel Perini Muniz conta com duas obras “Cultura e arquitetura: a casa rural do imigrante italiano no Espírito Santo” de 2008 e “Arquitetura Rural do Século XIX no Espírito Santo” de 1989, mesmo com tanto tempo de publicação ainda são referências na área da arquitetura rural no Espírito Santo. O livro mais difícil de se achar foi o “Aspectos geográficos da área de colonização antiga do estado do Espírito Santo” de 1962, que foi escrito por Pasquale Petrone para a Associação dos Geógrafos Brasileiros, pois não é mais publicado por nenhuma editora atualmente e ajudou a entender melhor o histórico social e geográfico do começo da imigração. 20 Visando o aporte teórico para o desenvolvimento deste trabalho, inicialmente foi feito um breve panorama geográfico e histórico da arquitetura rural no estado do Espírito Santo. Para facilitar a compreensão do leitor, também foram realizadas pesquisas aprofundadas acerca do recorte territorial definido – os distritos de São Gabriel de Baunilha e Alto São Gabriel localizados no município de Colatina, estado do Espírito Santo – Brasil. 2 O ESPÍRITO SANTO: da colonização à crise cafeeira Atualmente, o Estado do Espírito Santo possui uma área de 46.074 km² (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 2021), com 350 km de costa, cobrindo uma área que corresponde a 0,5% do território total do Brasil. Suas fronteiras (Figura 1) se dão ao norte, com o estado da Bahia, ao oeste com Minas Gerais e ao sul com o Rio de Janeiro (POSENATO, 1997). Figura 1 – Localização do estado Fonte: Elaborado pelo autor com dados extraídos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística 21 Apesar de possuir um clima predominantemente tropical, com médias variando 22ºC por todo o estado, nas proximidades da área estudada a temperatura média anual varia entre 23°C e 26°C, com meses quentes variando entre dezembro e fevereiro, possuindo médias que ultrapassam 27°C chegando até 35°C, os meses mais frios estão entre junho e agosto, onde as médias chegam a 20°C chegando atingir, em poucas ocasiões, temperaturas menores que 10°C (Figura 2). Figura 2 – Temperaturas do Espírito Santo Fonte: Elaborado pelo autor com dados extraídos do Sistema Integrado de Bases Geoespaciais do Estado do Espírito Santo (GEOBASES) A quantidade de chuvas não é muito elevada como pode-se ver na Figura 3, porém existe a clara divisão entre estações chuvosas, que variam entre outubro a março, e a estação seca, variando entre abril a setembro, apesar disso períodos de seca prolongada são comuns, gerando modificações no regime das chuvas (PETRONE, 1962). 22 Figura 3 – Chuvas no Espírito Santo Fonte: Elaborado pelo autor com dados extraídos do Sistema Integrado de Bases Geoespaciais do Estado do Espírito Santo (GEOBASES) Existem 13 rios principais, separados por cerca de 40 km, todos eles desaguando no Oceano Atlântico, o de maior destaque é o rio Doce (Figura 4), nascendo em Minas Gerais atravessando todo o estado e com inúmeros rios e riachos que o atravessam (POSENATO, 1997). 23 Figura 4 – Bacias hidrográficas do Espírito Santo Fonte: Elaborado pelo autor com dados extraídos do Sistema Integrado de Bases Geoespaciais do Estado do Espírito Santo (GEOBASES) O terreno originou-se da decomposição do granito gnaisse e micaxisto, sendo que a camada de areia da planície revelou o seu carácter sedimentar pela erosão das águas. Nos terrenos de maior altitude como se pode ver na Figura 5, domina a argila colorida com óxido de ferro e as planícies ficam cobertas de húmus da decomposição de entulho da Mata Atlântica (POSENATO, 1997). 24 Figura 5 – Relevo do Espírito Santo Fonte: Elaborado pelo autor com dados extraídos do Sistema Integrado de Bases Geoespaciais do Estado do Espírito Santo (GEOBASES) 2.1 COLONIZAÇÃO IMIGRANTE Em meados do século XIX o estado do Espírito Santo constituía uma das províncias mais atrasadas da região sudeste do Brasil. Para proteger o ouro da região das Minas Gerais o estado foi usado como barreira natural, sendo permitida apenas a ocupação da zona costeira, restringindo a navegação e proibindo a exploração do território. O litoral era ocupado por pescadores e apenas a região sul possuía fazendas dedicadas ao cultivo da cana-de- açúcar, tendo mais ligação com o Rio de Janeiro, a capital do império, do que a própria capital de sua província (POSENATO, 1997). Agravando o isolamento territorial existiam as barreiras geográficas, destacadas pela Serra do Caparaó e pelas margens do Rio Doce e, as barreiras sociais, com os índios “botocudos” (PEREIRA, 2012). 25 A mudança de mentalidade governamental quanto a povoação do território veio, com o declínio da extração do ouro na região de Minas Gerais, todos os movimentos econômicos causados pela produção de café, e principalmente o esgotamento das terras do Vale do Paraíba entre 1850 e 1860, indicando a necessidade de abrir novas fronteiras agrícolas e fortalecer ainda mais o processo de migração para abrir espaços no Espírito Santo (MUNIZ, 2009; HAUTEQUESTT, 2011). Um outro fator que acrescentou na mudança governamental foi que até o final do século XIX, o Brasil era o último país do Ocidente onde a escravidão ainda prevalecia, fazendo com que o Brasil sofresse preção internacional para que a abolição acontecesse o mais rápido possível. Os proprietários das plantações de café sabiam da inevitável abolição à escravatura, que levaria a produção de café colapsar. Na mesma época, a Europa enfrentava superpopulação, doenças endêmicas, fomes, guerras e desemprego em massa causado pela revolução industrial. Cerca de 60 milhões de europeus, incluindo 27 milhões de italianos, abandonaram o velho mundo em busca de uma vida melhor (POSENATO, 1997). Assim, o povoamento se iniciou com a abertura de estradas e incentivo para ocupação do território através de sesmarias, que durou de 1810 a 1822,pois os imigrantes atraídos, recebiam terrenos abandonados e/ou esgotados. Apesar de revogada as doações de terras continuaram por muito tempo com outros nomes, onde o imigrante precisava atualizar e transformar o local, ajudando assim a economia e a sociedade brasileira (PEREIRA, 2012). No período anterior à colonização imigrante na capitania do ES, existia baixa habitação que se concentrava em 5 vilas ao decorrer da costa, povoadas por índios catequizados e escravos negros. Nas regiões mais altas a população indígena genuína ocupava em maior quantidade (MUNIZ, 26 2009). Os povos indígenas composto por Crenaques, Nac-nuc, Minia-jirunas, Gutcraques, Nac-requés, Pancas, Manhangiréns, Incutcrás, entre outros. Os que habitavam a área do município de Colatina foram denominados de “botocudos”, nome esse devido a um adereço em formato de disco ou botão, chamado botoque, que utilizavam nos lábios, nariz ou orelhas. Em sua maioria possuíam altura mediana, eram fortes, com tórax largo, tronco alongado, mãos e pés pequenos, pernas finas e pescoço curto, possuíam um tom de pele que alternava entre os tons pardos, com cabelos negros e lisos, olhos pequenos, nariz curto e achatado (BRAGA, 2021). Por possuir o habito do canibalismo e por serem muito ferozes na defesa de seu território, o governo brasileiro, em 13 de maio de 1808, iniciou uma guerra social e política, contra um povo considerado “bárbaro”. Tinha por objetivo matar ou prender entre 10 anos, podendo ser prorrogada até que o preso perca sua ferocidade. Esta guerra terminou oficialmente em 27 de outubro de 1831, porém não impediu o derramamento de sangue de 140 indígenas em são Mateus um ano após esta data (BRAGA, 2021). Outros povos indígenas mais pacíficos também ocuparam áreas no entorno do município. Eram os Malalis, Cumanachos, Maconis, Machacalis, Penhames, Capuchos e Pataxós (BRAGA, 2021). Apesar da capitania possuir um destaque em sua capacidade portuária, a região ficou esquecida durante o ciclo econômico inicial no Brasil. Posteriormente, a partir da descoberta de jazidas de ouro em Minas, o estado que teve dificuldades em explorar e povoar o território como um todo, dividindo-se em 2 regiões: as minas e o litoral. A costa foi mantida sem mudanças como forma de bloqueio para as regiões interiores, para assim manter uma certa proteção ao território das minas contou-se com a 27 ajuda militar e proibição da navegação nos rios (MUNIZ, 2009). Esta situação só começa a mudar a partir de meados do século XIX, com a chegada dos primeiros imigrantes, se concentrando inicialmente na região serrana do Estado. Já nas proximidades de Baunilha, a ocupação do território inicialmente se baseou na vinda de imigrantes do sul do estado, em sua maioria da Itália. Porém, posteriormente muitos alemães, poloneses, austríacos, franceses, portugueses e espanhóis vieram se estabelecer nas proximidades do local (REVISTA NOSSA ESPECIAL, 1986). Em sua maioria, as famílias italianas que imigraram para o estado do Espírito Santo originaram das províncias de Trento e Veneto, localizadas ao norte da Itália e se estabeleceram, em sua maioria nas áreas mostradas na Figura 6 (MUNIZ, 2009). 28 Figura 6 – Delimitação dos territórios em que se estabeleceram os trentinos Fonte: PETRONE, 1962. A província de Trento possui um povoamento que remonta a pré-história onde povos mediterrâneos, em especial da Ligúria, outros grupos étnicos da Europa central como os celtas e gauleses até a civilização basilar latina. As interferências culturais são predominantemente dos povos germânicos, através de invasões barbaras no período medieval, os godos, longobardos e do domínio austríaco que existiu (MUNIZ, 2009). A província de Veneto possui um povoamento que remonta principalmente de Etruscos e Romanos e com isso a principal interferência cultural se deu com o Império Romano que desenhou o traçado básico e a trama de 29 ocupação do solo (MUNIZ, 2009). Porém, segundo Petrone (1962), apesar da maior parte da população italiana ser de venetos, seguindo por trentinos, existiam em menor quantidade os lombardos, istrianos e emilianos, juntamente com os germânicos e em menores grupos os piemonteses e sardos. A primeira geração de imigrantes era um povo conhecido por possuir natureza religiosa muito forte, possuindo uma visão de vida objetivada na salvação das almas e estar com Deus após a morte terrena. Tornando o homem totalmente dependente de Deus, princípio básico ao fim desejado, tornando-o subordinado e tornando sinônimo de povo católico e lavrador (POSENATO, 1997). A extraordinária obediência e paciência deste povo decorre em grande parte de suas profundas crenças religiosa, em que acima dos seres humanos há uma razão para tudo, o Pai Eterno, que não possui erro. Nesse sentido, a Igreja tem a função de aliviar a insatisfação que suas demandas exigiam e conforto e solidariedade com os que sofrem (POSENATO, 1997). A religiosidade cristã acarretou ao povo italiano a ver como identidade social, mesmo não possuindo padres e religiosos para a assistência dos fiéis (POSENATO, 1997). Como Arquitetura Religiosa se trata de um tema extremamente amplo e que poderá ser utilizado futuramente em outra temática de Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) não será abordada neste trabalho, porém todas as famílias têm em comum: amor ao trabalho, crenças religiosas, laços religiosos inseparáveis do casamento, amor à música e comunidades sagradas. 30 Como citado anteriormente, a contradição entre ser um estado particularmente costeiro e o fato de ser excluído por três séculos das iniciativas de povoamento, com exceção de pontos isolados no litoral e fronteiras com as regiões de Rio de Janeiro e Minas Gerais. Ocasionou o isolamento das regiões norte e central do estado o deixando praticamente intocados por luso-brasileiros até meados do século XIX e em muitas localizadas ao extremo norte só tiveram assentamento no início do século XX (PETRONE, 1962). No início do povoamento os rios eram um meio de penetração em territórios e povoados, podendo concentrar-se em algumas aldeias do litoral, esparsamente às margens dos rios, até chegar onde se começa sua primeira cachoeira fazendo uma limitação natural da navegação. As estradas só foram necessárias a partir daí, sendo dimensionadas para pedestres, cavaleiros e cocheiros, gradativamente foram-se abrindo nos vales desses rios e seus afluentes (MUNIZ, 2009). As estradas existentes, pavimentadas ou não, na maior parte do tempo seguem o traçado desses caminhos, e se ajustam mais ou menos de acordo com a superfície da estrada e a topografia local. Já as primeiras rotas de navegação fluvial formavam pequenas aldeias ao longo dos portos desses rios, sendo ponto de encontro do exército e dos cocheiros, que transportam os produtos da terra do interior e os transportam para os centros de consumo e exportação em canoa (MUNIZ, 2009). A organização dos assentamentos era em regime de propriedades pequenas, para que tivesse maior quantidade de habitantes na existência de uma sociedade econômica, cultural e em certo ponto política em meio aos moradores das principais localidades do estado. Os moradores que eram responsáveis por colonizar a terra, em sua maioria imigrantes europeus, era formado por comerciantes, artesãos e industriais, porem 31 existiam negros escravizados, portugueses e indígenas nativos que buscavam se integrar neste novo modo de colonização (POSENATO, 1997). O modo com que houve a demarcação fundiária e a organização dos colonos seguiu um padrão de diretrizes que funcionava em todo o país, principalmente o sul. Consistia na sede da colônia com um galpão para moradia temporária de novos colonos, a partir da sede se delimita as linhas dos lotes seguindodo fundo do vale, com frente à beira de um curso d’água seguindo até os morros (PETRONE, 1962) Os imigrantes e seus descendentes contribuíram para a mudança de paradigmas em relação ao trabalho, o tornando digno em preparação sociológica para a abolição da escravatura, na tentativa de igualar socialmente os ex escravizados de origem africana aos homens brancos livres. A imigração europeia significou a dignidade do trabalho manual, já que anteriormente, o valor de trabalho estava atrelado a escravidão. (POSENATO, 1997). O imigrante, quando em suas terras, derrubaram florestas, drenaram pântanos, escalaram montanhas, enfrentarão invasões indígenas e construirão suas casas, em prol de transformar estas áreas em terrenos agricultáveis (POSENATO, 1997). Os imigrantes introduziram no país novas técnicas, o arado utilizando força animal e a carroça com 4 rodas, ajudando o Brasil que contava com um sistema agrícola primitivo herdado dos povos indígenas. Outros imigrantes vindos do oriente trouxeram ao país uma nova diversidade de plantas que se adaptaram super bem ao clima. Em pouco tempo, o desenvolvimento de culturas como arroz, algodão e banana tornou-se responsável por 29% das exportações do país. (POSENATO, 1997). 32 Com a imigração, houve uma mistura de heranças culturais de inúmeras etnias, tornando um país único e miscigenado em épocas de intolerância racial que levaram a diversas guerras pelo mundo (POSENATO, 1997). Os descendentes que aqui nasceram, se instalar nas áreas mais acidentadas, desenvolvendo a agricultura e industrialização, originários do histórico trabalho braçal familiar, reforçando assim na mudança da visão sobre o valor de trabalho, o tornando digno (POSENATO, 1997). Em sua maioria, as despesas coloniais giravam em abertura de estradas internas e as primeiras vias para novas áreas. Em suma, o processo da imigração ocorreu para atender os grandes latifundiários e não a todo o país (POSENATO, 1997). As famílias foram estabelecidas em locais de pouco acesso e remotos das poucas cidades existentes, abandono das colônias e a desordem dos serviços básicos, alojamento em barracos insalubres e lotados com o atraso na divisão dos lotes. Analisando as condições em que se encontravam as famílias, pode-se entender que o governo pretendia que os ocupantes dessas terras desistissem e fossem em busca de trabalhos em grandes fazendas. A colônia somente progrediu pelo crescente desejo italiano de possuir um pedaço de terra, mesmo que inviável (POSENATO, 1997). Para as famílias mais determinadas que não desistiram de seus lotes, mesmo em situação ruim, sentiram o peso da realidade enganatória do governo (POSENATO, 1997). Conserva-se em Trento, um estado da Itália, informações de recrutamento enviada do Brasil, assegurando grandes vantagens, consideradas atualmente como falsas, que se pode ver no infográfico da imagem 7 a baixo (POSENATO, 1997; BERGAMIM, 2016). 33 Figura 7 – Infográfico. Fonte: POSENATO, 1997; BERGAMIM, 2016. 34 Segundo Posenato (1997) o legislador não previu: ● Que as famílias chegariam em uma época que atrapalharia a derrubada da mata nativa atrasando a agricultura; ● Que as primeiras colheitas são de pouca produção ou nenhuma; ● Na possibilidade de adoecimento da população; ● Que quanto mais pessoas na família mais necessidades elas precisam; ● Que a maior parte dos primeiros imigrantes seriam de mendigos e vagabundos pudesse acarretar em uma realidade diferente da planejada. Ocasionando na realidade nada se assemelhar na chegada do país, já no princípio existia uma realidade extremamente oposta ao compromisso formado em terra natal, em relatos existentes, não existiam mercadorias para todos. A terra existente, mesmo que a preço baixo se limitava a somente isso, todo o restante prometido foi desrespeitado, analisadas na Figura 7 acima (POSENATO, 1997). Quando alocados na colônia, a única construção que ressalta na paisagem é um barracão sem paredes laterais, não existindo ao menos abrigo para os animais, como mostrado na Figura 8. Em meio ao desconforto e podendo existir outras famílias dividindo o mesmo cômodo, aguentariam residir por bastante tempo até que seu lote fosse devidamente demarcado, o que resumiria a um pedaço de terra em seu estado original sem qualquer modificação e sofrendo ameaças por parte do governo (POSENATO, 1997). 35 Figura 8 – Barracões de recepção Fonte: GROSSELLI, 2008. Uma forma de manter sob controle os colonos foi o adiamento na entrega dos lotes para que pudessem contar somente com a ajuda do governo para a subsistência, somando a proibição de armas e o comércio inicialmente vetados (POSENATO, 1997). Por consequência da negligência feita pelo governo do Espírito Santo com os primeiros imigrantes, o governo italiano impediu novas imigrações mediante o decreto de 20 de julho de 1895, apesar disso, não encerrou completamente, acarretando na chegada de novas frentes de imigração (BERGAMIM, 2016). Levando em consideração os problemas, o Governo Imperial decretou novas normas para a imigração, passando assim a filtrar por qualificação, dando prioridade a carpinteiros, lavradores etc. (REVISTA NOSSA 36 ESPECIAL, 1986). A colonização do estado não aconteceu de maneira uniforme, na região sul a colonização teve início já na primeira metade do século XIX com a ampliação agrícola que houve no Rio de Janeiro e em Minas Gerais, quando fazendeiros foram em busca de novas terras para o cultivo do café, imitando a mesma estrutura de produção, os grandes latifúndios (BERGAMIM, 2016). A colonização da região central, mostrada na Figura 9, só foi acontecer a partir da segunda metade do século XIX, diferentemente dos parâmetros da região sul, o centro possuía uma organização socioespacial com poucos engenhos, grandes propriedades e mão-de-obra escrava, durante o período de mudança das culturas, quando se substituiu a cana-de-açúcar pelo café em 1850, aconteceu um processo de subdivisão dos latifúndios (BERGAMIM, 2016). 37 Figura 9 – zona colonial central antiga Fonte: PETRONE, 1962. Após 1872, se abre novas frentes para a imigração, em destaque a italiana, e as colônias mais antigas dão acesso a novos núcleos para colonização. Em 1884, 40% da produção cafeeira da província era oriunda da região central em destaque a colônia de Santa Leopoldina com 40% da produção na região central (BERGAMIM, 2016). 38 Muniz (2009) enfatiza que esta etapa se encerrou com a abolição da escravidão e a necessidade de uma nova mão-de-obra no país, iniciando assim a etapa seguinte. Nesse contexto, Posenato (1997) afirma que foram consolidados alguns núcleos de imigração no norte do ES, como o de Antônio Prado (1887), que posteriormente se dividiria em oito faixas territoriais: São Jacinto, Santa Maria, Mutum, Baunilha de Baixo, Baunilha de Cima, Córrego da Ponte e Colatina, Acioli Vasconcelos (1887): Pau Gigante (Acioli), Ubás, Triunfo, Esperança, Treviso, Café, Otelo e Alto Bérgamo e Costa Pereira (1889), onde a foi instalado em um aldeamento indígena Imperial Afonsinho, já extinto, que atualmente é a cidade de Cachoeiro de Itapemirim. A região norte abrange localizações após a margem norte do rio Doce até a divisa com a Bahia e Minas Gerais. Seu povoamento ocorreu por uma corrente migratória originária do próprio estado, assim como dos estados vizinhos (BERGAMIM, 2016). O que determinou o ritmo no desenvolvimento desta área em partes foi o isolamento geográfico associado a ausência de um sistema para o transporte da produção. O limite natural estabelecido entre o norte e o Sul era o rio Doce que separou as duas localidades por muito tempo, representando um obstáculo na ocupação destas terras do Norte (BERGAMIM, 2016). Na virada entre os séculos XIXe XX, o município de Colatina começou a receber imigrantes da região central. Além de ser uma região de transição para as novas zonas, aproveitou a construção da estrada de ferro Vitória a Minas, trilhos esses que chegaram em 1906, ligando o lugar à Vitória. Além disso, somente teve sua ocupação efetivada no final da década de 1920, com ajuda da construção da ponte sobre o rio Doce no município de 39 Colatina, em 1928 (BERGAMIM, 2016). Seguindo o mesmo padrão das outras regiões o Norte organizou a produção com o trabalho familiar, pequenas propriedades, falta de utilização de tecnologias e o cultivo do café (BERGAMIM, 2016). Oferecer aos imigrantes a possibilidade de obter terras, de forma gratuita, foi a tentativa, para atrair cada vez mais, famílias a este sistema migratório ao Espirito Santo (PEREIRA e FERREIRA, 2016). No município de Colatina, em 1932, os moradores imigrantes consistiam em 107 Italianos, 79 alemães, 26 portugueses, 18 espanhóis, 16 poloneses, 16 sírios e 12 russos, somando a 7.666 brasileiros se torna 7.940 pessoas com diferentes nacionalidades (TEIXEIRA, 1970). A expansão para novos territórios, não previstos, somente foi feita após a total ocupação dos lotes demarcados, e com intenção de achar áreas mais agricultáveis, promovendo assim novas terras para os descendentes das primeiras famílias, algo singular dos camponeses (POSENATO, 1997). Diante de um ambiente cultural completamente diferente, com suas doenças tropicais e matas virgens, receberam pouco apoio de sua pátria e quase foram abandonadas pelo governo brasileiro, mesmo com toda adversidade estes imigrantes modificaram as áreas disponíveis em comunidades economicamente prósperas, promovendo o desenvolvimento do estado. Seus herdeiros exploraram quase todo o interior do território, em que os Ítalos-Espírito-Santense representavam, em 1905, a quarta parcela dos moradores do estado, eles já representam mais da metade da população total do ES. Eles também participaram da ocupação de novos territórios em outros estados brasileiros por meio da imigração (POSENATO, 1997). 40 2.2 IMPORTÂNCIA DO CAFÉ PARA A REGIÃO De acordo com Posenato (1997) os primeiros grãos de café foram introduzidos no país em 1727, por intermédio do tenente Francisco de Mello Palheta. Estes grãos foram transportados da Guiana Francesa para serem cultivados nos estados, anteriormente conhecido como Grão Pará e Maranhão (HAUTEQUESTT, 2011), não havia nenhum destaque considerável a princípio. A introdução das primeiras mudas no estado foram entre 1812 e 1815 (POSENATO, 1997), a partir de 1840. Com o declínio da produção de açúcar, causado pelo bloqueio continental que impediu a exportação para a Europa, aliando ao declínio do ouro, e os gastos da Corte no Rio de Janeiro, usou o café como estratégia de saída econômica. Por exemplo, a produção de café era de 115.390 sacas em 1847 e 1.234.195 sacas no final do século (HAUTEQUESTT, 2011), porém somente em torno de 1850 houve a expansão das lavouras de café no estado (PEREIRA, 2012). O plantio dos pés de café no Espírito Santo foi incentivado quando foi necessária a expansão da cultura cafeeira para o norte do Rio de Janeiro. Com a abolição da escravatura e início da imigração europeia em massa, foram estabelecidos no Estado dois tipos de cultivos: propriedades menores se estabeleceram na área central do estado, que foram ocupadas por imigrantes; e, ao Sul, grandes propriedades influenciadas pelos latifúndios fluminenses (PEREIRA, 2012). Com a imigração de europeus, em especial os italianos, não somente evitou que se colapsasse, porém tornou real a grande prosperidade da cafeicultura brasileira e a industrialização no país, considerado como trabalhador “livre” foi utilizado para em primeira instância no preenchimento do vazio criado pela abolição da escravatura e posteriormente para 41 preencher as lacunas populacionais (POSENATO, 1997). Até possuir um status de monocultura, o café demorou menos de meio século, começou em latifúndios/fazendas luso-brasileiras e se espalhou também nos lotes dos imigrantes, com isso acarretou na paralisação de outras culturas e consequentemente no encarecimento de diversos gêneros de primeira necessidade, como os cereais (POSENATO, 1997). Com a valorização do preço do café no mercado externo, esta cultura resultou em riquezas para alguns grupos urbanos e bem-estar para a maioria da população rural do estado. E é com a economia cafeeira que se torna possível investir na província do Espírito Santo para se ter os frutos, como a conquista do território atual do estado, nascimento de várias cidades, começo das malhas ferroviárias e rodoviárias, a formação de cidades-chave e a polarização das áreas urbana e rural (HAUTEQUESTT, 2011). Passando a existir figuras que atuavam nas áreas rurais, como o colono que possuía um pequeno comércio, o comerciante itinerante, o médio comerciante e chegando nas grandes casas de comércio que exportavam e importavam produtos (BERGAMIM, 2016). Apesar disso houve épocas de entusiasmo e crise, fazendo com que muitas pessoas empobrecessem e se desesperasse, esse era o clima na virada do século, em 1929, quando o governo, na tentativa de conter essa crise, mandando queimar uma grande quantidade de estoques de café (POSENATO, 1997). As crises no preço do café afetaram colonos produtores e comerciantes de diferentes maneiras. Para o colono representou uma queda no poder aquisitivo, mas não prejudicial a sua capacidade de produção, já para os comerciantes locais significou a diminuição de lucros e um potencial 42 falência futura (BERGAMIM, 2016). Desde o final do século 19 acontece sucessivas crises que afetaram a exportação do café, se alternando entre bons e maus momentos devido a oscilação dos preços no mercado internacional. Apesar de ser praticamente o único produto comercial, a crise de 1929 não foi suficiente para abalar a estrutura produtora familiar no Espírito Santo, sendo superada no final da década de 1940, ocasionando no estímulo do plantio em novas áreas (BERGAMIM, 2016). Mais recentemente, em 1966, apesar da estrutura do café estar consolidada após um período de fartura, houve uma superprodução a qual levou a superlotação dos armazéns do IBC (Instituto Brasileiro do Café) e com os preços mundiais mais abaixo que o custo da produção, o governo federal acabou pagando um preço alto pela erradicação das plantações de café (POSENATO, 1997). Porém, mesmo com as crises frequentes, este insumo ainda se destaca na economia do estado. O café era o único artigo de exportação, até então, que se obtinha os recursos necessários para a compra de bens essenciais, como roupas, iluminação, máquinas de costura, instrumentos, armas, munições e outros produtos importados, e que poderia pagar consultas médicas e remédios, além de animais e fornecer o dote das filhas no casamento (POSENATO, 1997). Por consequência da exploração da madeira desenfreadamente, legislações foram criadas por governos estaduais, no século XX, para conter o desmatamento, e a pecuária que cresceu muito após os anos 1950, ocupando grandes áreas principalmente ao norte do estado, muitas delas oriundas de terras liberadas após a retirada de pés de café (BERGAMIM, 2016). 43 Como Petrone (1962) falou sobre apesar de ver novos cafezais se formando a impressão que passou foi de haver uma decadência neste tipo agrícola, por haver menor quantidade de chuvas, infestação por pragas somando a novas áreas de povoamento a margem do rio Doce, o autor também notou uma grande quantidade de casas abandonadas. 2.3 ARQUITETURA DA IMIGRAÇÃO ITALIANA A arquitetura tem um laço muito estreito com o local onde é inserida e mostra toda uma cultura empregada pelo seu construtor, seja pelas dimensões do terreno, o clima, os materiais dispostose a origem de sua população (PEREIRA e FERREIRA, 2016). Na arquitetura rural, outras características também influenciam na organização do espaço familiar. Os tipos de cultura e cultivo vão influenciar, na quantidade de pessoas que são necessárias, para que o sistema agrícola não colapse, já o relacionamento interpessoal, vai determinar as regras sociais que devem ser seguidas, para que o sistema social evolua. Os materiais existentes na implantação, aliado as condicionantes ditas anteriormente vão definir o sistema construtivo a ser utilizado em determinada edificação comunitária ou particular, levando em conta assim todo o contexto histórico envolvido neste trabalho realizado pelos construtores e moradores desta região. Geralmente a arquitetura é dividida em dois segmentos, a erudita, também conhecida como ‘oficial’ e a popular, conhecida como tradicional ou vernacular. Por ser pensada por profissionais formados em cursos específicos, a erudita possui características diferentes da popular, onde por ser produzida com conhecimentos repassados do artesão para o aprendiz é baseada na tradição (POSENATO, 1997). 44 Estas arquiteturas então em constante influência mútua, fruto da reunião de conhecimento, para a melhor adaptação ao clima (POSENATO, 1997). Apesar de tudo, novas técnicas são muito importantes, porém a conservação das antigas técnicas deve ser feita para que na prática seja escolhida a mais adequada para determinada edificação e/ou região adaptando e aperfeiçoando os conhecimentos adquiridos até então (POSENATO, 1997). Por possuir uma linguagem única, a edificação colonial de origem italiana empregava matéria-prima disponíveis nas localidades na procura de um conforto ambiental que mais usufruísse da ventilação natural, controlando a iluminação na busca de sombreamento ideal para o controle térmico da edificação, possuindo características distintas como (POSENATO, 1997): ● Predominância do trabalho manual, mesmo que os materiais industrializados existam em diferentes proporções ao longo do tempo; ● Apesar da diversidade de soluções existe uma tendência a estereotipação e inclui certas formas e sistemas estruturais; ● Disposição para se adaptar à cultura, assimilando a tecnologia locais de forma natural não causando reações ou conflitos com o próprio patrimônio cultural; ● Utilização de materiais locais, fornecidos pela natureza, para construção no próprio terreno; ● Uma das virtudes da arquitetura tradicional é o acúmulo de sabedoria passada de geração em geração para utilizar os recursos da natureza para obter conforto ambiental, como inércia térmica, controle da luz solar; ● Sombreamento e ventilação e interação com o entorno, para ser inserida harmoniosamente no cenário para agregação de beleza ao 45 entorno. Segundo Posenato (1997) os motivos para que a arquitetura da imigração italiana desse tanto certo no Brasil foram: ● Matéria-prima existente nos lotes nas colônias era o mesmo encontrado na terra natal. ● As tradições artesanais trazidas com os imigrantes como o: manejo de pedras, madeiras, solo, ferro e couro. ● A tradição no trabalho em obras a sabedoria em delegar funções. ● Vieram marceneiros, pedreiros, machadeiros onde se destacaram na construção de moinhos, engenhos de açúcar, monjolos, telhado com tabuas de madeira, fornos caseiros e na fabricação de calçados, bolsas, roupas etc. ● Habilidade em adaptar-se ao meio e a outras culturas, sabendo unir culturas e técnicas construtivas. ● Reconhecimento e amor ao trabalho manual, como forma de se orgulhar de suas origens. 2.3.1 A organização do lote O lote era organizado em função do trabalho agrícola e ao redor da residência sede da família, onde era construída, geralmente, próxima a água, fonte ou riacho que existisse no lote e ao redor ficavam distribuídas as edificações de serviço e armazenagem de produtos para a lavoura, fazendo uma visível divisão entre áreas de trabalho e as de residência, se diferenciando da organização dos antigos latifúndios, onde a sede se localizava em local alto em destaque (MUNIZ, 2009; 1989). 46 Figura 10 – Organização do lote Fonte: PETRONE, 1962. Como mostrado na Figura 10 a cima, a superfície agricultável do lote era dividida em três partes, o cafezal mais conhecido como lavoura permanente, a lavoura branca ou temporária e o pasto, porem deve-se adicionar áreas de matas parcialmente demolida e a capoeira, com o passar do tempo esta estrutura rígida deu lugar ao rodízio de cultura onde a princípio ficava entre 6 a 7 anos no mesmo lugar podendo diminuir o tempo de permanência ao decorrer dos anos, já as instalações domésticas como o paiol, galinheiro e etc. deveriam ficar perto da casa e do rio (PETRONE, 1962). 47 Como os imigrantes contavam apenas com a força de trabalho familiar no cultivo, não possuíam habitações para empregados, e em geral o ambiente de trabalho era construído separado da habitação, em lugares que mais julgar adequado, como: o moinho junto a queda de água; o curral junto ao pasto; galinheiro, pocilga e terreiro de secar grãos ao redor da casa e o paiol entre o terreiro e o moinho (MUNIZ, 2009). O início da utilização da propriedade era no fundo do vale, junto ao um curso d’água, a partir do corte das arvores e queima dos resíduos. A princípio a remoção era focada para a construção da casa temporária e plantio de culturas para consumo, passando para o cultivo da lavoura permanente, que no caso foi o café e no futuro a formação de pasto (PETRONE, 1962). A organização interna dos cômodos da casa, sofriam pequenas variações, se limitando aos quartos de dormir, que poderia variar de 3, 4 ou mais, apesar de não projetados para tal função podem também desempenhar o papel de depósitos para cereais ou café, o sótão, se existente, seria geralmente depósito e se muito necessário dormitório para as crianças e a sala para visitas, geralmente ampla que poderia variar entre 3,50m a 4,00m em sua largura e seu comprimento variando entre 7,50m a 8,00m, indicada a encontros, festas e bailes aos sábados (MUNIZ, 2009; POSENATO, 1997). O mobiliário dos quartos se resumia a grandes camas com colchão de palha de milho ou de edredom de penas de ganso, mesa de cabeceira e baús. Na sala, os móveis se resumiam em poucas cadeiras e uma mesa pequena, nas paredes, o calendário junto a imagens religiosas, fotos em ocasiões especiais e o relógio de parede (POSENATO, 1997). Em muitos casos, quando enriquecidos, grandes sobrados de até dois 48 pavimentos eram erguidos, onde o comércio se localizava no térreo e a residência no andar superior, seguindo características parecidas com a casa patronal veneta, simbolizando a conquista de uma vida melhor (MUNIZ, 2009). A organização dos vãos da residência era distribuída pelos quatro lados da edificação, sempre buscando a simetria, harmonia e a melhor relação entre espaços cheios e vazios. A simetria era levada em conta sempre em relação a estrutura, apesar da existência de uma sacada, varanda ou balcão em um dos lados sempre indicar a hierarquia das fachadas. Os materiais eram utilizados despretensiosamente, em maioria deixados à mostra, já que a madeira era trabalhada seguindo lembranças da terra de origem (MUNIZ, 2009). Petrone (1962) comenta que a casa era a peça central na paisagem recém modificada pelo homem, refletindo o estado do local, os materiais existentes, a organização de todo o espaço agrícola, a troca de informações, técnicas e culturas que diferentes povos possuíam até em que estado econômico estavam inseridos, tudo refletia no dia-a-dia dos colonos (PETRONE, 1962). A cozinha não fazia parte do corpo principal da casa e era destinada a ser um anexo que se ligava a ela através de um corredor coberto e semiaberto, do lado de fora, junto ao anexo da cozinha,ficava o forno, a bica junto ao tanque que possuíam suas edificações próprias e eram protegidos por uma pequena cobertura (MUNIZ, 2009). Até o período tardio da arquitetura residencial a cozinha, sempre se definiu como um volume, podendo ser totalmente separado do volume da casa ou podendo ser grudada a separando somente por diferentes níveis, contrariando a tradição italiana de ser o centro da vida familiar 49 (POSENATO, 1997). Por ser um segundo bloco, a cozinha era um anexo que se ligava a casa por um corredor que poderia ser semiaberto, em sua maioria, era utilizada para reuniões familiares, para refeições e para preparação do alimento a ser consumido (MUNIZ, 2009). Por muito tempo era associada a classe escrava e os afazeres domésticos, no entanto para o colono esse distanciamento do corpo da casa era motivado pelo clima da região e o sistema de cozimento utilizado, já que por ser a base de fogão a lenha, acabava enfumaçando e esquentando o ambiente interno da casa e poderia gerar incêndios (MUNIZ, 2009). Em alguns casos, junto a cozinha poderia existir o tanque com a bica d’água e a despenca, um recinto de apoio que poderia ser no mesmo nível da cozinha ou semienterrada, utilizada para guardar vinhos, queijos, salames e mais, muito similar as “cantinas” italianas (MUNIZ, 2009; POSENATO, 1997). Na cozinha possuía os seguintes mobiliário (POSENATO, 1997): ● Fogão de tijolos com chapa de ferro, e em poucas casas o fogão industrial de ferro; ● Seciaro ou lavador de louças: caixa de madeira inclinada que se afunilava para que a água pudesse escorrer para fora através de uma abertura na parede; ● Moscarol ou armário ventilado: para guardar alimentos perecíveis, como carne fresca e leite, era ventilado por uma tela ou por furos feitos na madeira para proteção de insetos e ratos; ● Mesa de bancos: utilizada para as refeições, já que as famílias eram muito grandes; 50 ● Credensa ou armário: armário com gavetas e portas para armazenagem de louças, toalhas e alimentos em caixas e enlatados; ● A guarda de mantimentos era feita em conservas de sal e outros materiais e era armazenado em um cômodo destinado anexado a cozinha, podendo ser queijos, farinhas, banha e carnes. A casa principal era cercada de outras instalações, em que raramente eram unidas ao corpo da residência e geralmente possuíam construções próprias que se organizava-se ao redor de um pequeno terreiro para café (PETRONE, 1962). Elas deveriam suprir as necessidades básicas da família no seu dia a dia. O abastecimento da água se dividia em dois tipos, o de consumo animal, que os rios já resolviam e o de consumo humano, que precisava ser de melhor qualidade, de preferência vindo de fontes, a qual sua localização era um fator determinante na escolha do local para construção das casas, já que a topografia e a gravidade tinham que ajudar a utilização. Caso não existindo fonte no lote, um poço era cavado e suas bordas protegidas para manter a água limpa, e para haver a retirada da água, poderia se usar de baldes ou bombas industriais (POSENATO, 1997). Para a lavagem da roupa recorria-se a utilização da água de um córrego próximo, esta lavagem poderia acontecer perto de barragem, porém geralmente existia um tanque apropriado nas proximidades da residência, podendo ser de madeira e possuindo cobertura (POSENATO, 1997). As instalações sanitárias, a princípio, eram inexistentes, não existindo latrinas e nem os banheiros que conhecemos hoje. Nos quartos era comum a utilização do urinol e para a lavagem do rosto existiam bacias e jarros d’água, os banheiros modernos demoraram ainda mais tempo para serem criados (POSENATO, 1997). 51 O forno era formado por uma abobada de tijolos ou de barro de altura confortável para utilização, funcionando a partir de fogo direto e do calor irradiado da brasa, para se evitar danos vindos da água, o forno possui uma cobertura de duas águas. Muito utilizado para cozinhar produtos vindo do trigo, como pão e macarrão que são importantes no cardápio da família italiana. O abrigo para o tacho de cobre, apesar de não comum, poderia existir, essencial para preparar doces (POSENATO, 1997). O mais comum nas casas era a iluminação dos cômodos com lampiões e lamparinas, foi somente após o apogeu que os geradores de energia elétrica movidos a roda d’água ou turbina passaram a ser mais conhecidos. A instalação elétrica em casas já construídas e em novas dava-se por fios de cobre isolados por algodão alcatroado, se restringia ao consumo doméstico da iluminação, ao rádio e os refrigeradores (POSENATO, 1997). As edificações complementares ficavam devidamente organizadas nas proximidades da residência protegendo e guardando animais e os diversos tipos de equipamentos, a tulha, também nomeada de paiol, era uma construção para a armazenagem da colheita, em especial o café e o milho, porem poderia abrigar outras ferramentas e utensílios agrícolas, como um tipo de depósito central, geralmente construída de tábuas de madeira e projetada para suportar o peso do grão empurrando as paredes (POSENATO, 1997). A utilização dos animais na vida cotidiana familiar era de extrema importância, pois servia de transporte de pessoas, sendo o mais utilizando cavalos e mulas, transporte de cargas com o burro, para a força motriz os bois e para a alimentação com a vaca e seu leite utilizado no dia a dia e a carne para festas, os porcos propiciava a carne de uso cotidiano através dos embutidos e de sua banha e as galinhas que provia ovos e carne. Em menor quantidade, existiam criadores de coelho, pombas e peixes que 52 poderia incrementar na carne do dia a dia e as abelhas para a produção do mel (POSENATO, 1997). Alguns exemplos de construções para animais eram: curral, chiqueiro, galinheiro, coelheira, pombal, apiário para abelhas e pesqueiro (POSENATO, 1997): Alguns animais como os bovinos, equinos e asininos ficavam nos pastos cercados por arame farpado que possuíam cancelas, bifurcações em V, e quando os veículos foram se popularizando porteiras e mata burros eram usados (POSENATO, 1997). Alguns equipamentos de elaboração de produtos necessitavam de abrigos próprios como o moinho de fubá, fecularia, destilaria de cachaça, a casa de açúcar, oficinas destinadas a consertos e fabricação de equipamentos e utensílios e a barcaça para secar o cacau, precisavam ser protegidos das intemperes e dos animais (POSENATO, 1997). Os equipamentos auxiliares eram equipamentos de pequeno porte que ajudavam no processamento dos produtos agrícolas, não possuindo edificação separada e muito menos cobertura (POSENATO, 1997): Terreiro ou pátio era responsável por proporcionar uma unidade a todas as construções pertencentes ao lote, ser palco de atividades sociais, área de em que galináceos passavam o dia e para secagem dos grãos, como mostrado na Figura 11 (POSENATO, 1997). 53 Figura 11 – terreiro Fonte: PETRONE, 1962. Após colhido, o café deveria passar pelo processo de secagem ao sol, que consistia em espalhar no terreiro, processo esse que apesar de aparentar simples poderia ser um grande problema, já que o grão não poderia entrar em contato com o solo, lajota e cimento não era possível, faziam utilização de esteiras de taquara (POSENATO, 1997). Este terreiro, geralmente, seguia a frente da casa na fachada frontal, o depósito para armazenagem geralmente ficava no pavimento térreo, fora 54 isso não foi encontrado restos de maquinário que deveriam fazer o beneficiamento, o que leva a crer que nas primeiras décadas o café deveria sair em formato de fruta com casca e tudo (MUNIZ, 1989). 2.3.2 Arquitetura Residencial Como pode-se ler anteriormente o governo do Brasil instalou os imigrantes europeus em pequenos lotes de mata virgem em que possuíam topografia acidentada, onde não se existiaestradas o suficiente e que os grandes latifundiários não possuíam menor interesse (POSENATO, 1997). No Espírito Santo, a topografia impossibilita o parcelamento do solo do modo tradicional que estavam fazendo em outras áreas, de forma que a testada do lote se encontrava nos cursos d’água, onde a terra é mais acessível e agricultáveis e os fundos voltados para as montanhas (POSENATO, 1997). Após a derrubada parcial da floresta, o imigrante possuía 6 meses para se edificar sua residência e fazer as primeiras plantações. Os terrenos, como mostrado na Figura 12 da página, possuíam, assim que possível, 302.500 m², 275 m de frente para algum rio ou riacho, e 1.100 m de profundidade e geralmente terminaria para terras devolutas, possuindo assim entre 15 a 30 hectares, porem a maioria estava entre 20 a 30 hectares. O dono da terra estava proibido de fazer comércio ou seguir a carreira de comerciante, a princípio, e deveria ser agricultor e viver do sustento de seu lote para quitar as dívidas (POSENATO, 1997). E é neste cenário que aconteceu a Arquitetura Residencial conforme mostrado na Figura 12 a seguir. 55 Figura 12 – Exemplo de distribuição dos lotes Fonte: PETRONE, 1962. 2.3.2.1 Períodos da Arquitetura Residencial Segundo Posenato (1997) a trajetória dos imigrantes italianos no Estado foi bem estruturada em fases: dificuldade em se ocupar uma floresta; estrutura de produção consolidada; períodos que variavam da valorização até a decadência do café, estabelecendo um padrão de vida simples na região rural e finalizando com a vida atual. 56 As colônias italianas não começaram na mesma época pois eram criadas a partir da demanda, podendo ser oficiais, feitas pelo governo, ou privadas, o que fez com que as etapas não acontecessem em uma sequência de tempo linear e com rígidas demarcações. Além disso, diferentes estágios evolutivos coexistiram no mesmo território podendo existir recém chegados perto de moradores mais antigos, o que dependia da distância do local ao núcleo urbano mais próximo (POSENATO, 1997). Posenato (1997) aponta que, embora toda a colônia esteja em um certo nível de desenvolvimento parecido, as áreas mais remotas com mais obstáculos para locomoção eram mais afetadas em seu desenvolvimento. Posteriormente, quando as primeiras colônias consolidaram sua organização e possuíam certo grau de progresso e conforto, uma nova frente era aberta em meio a selva. Lá, os descendentes tinham que recomeçar do estágio inicial, retomando assim o ciclo. Nas novas frentes, devido ao progresso tecnológico, aliando as experiências adquiridas, o adensamento populacional em outras áreas e a existência de um mercado para a venda da produção acarretava intervalos menores de evolução. Em geral as construções provisórias aconteciam na primeira década de chegada, o período primitivo acontecia após a segunda década de chegada podendo ir até o fim do século 19, o Apogeu aconteceu no início do século 20 até a década de 40 e o Tardio da década de 40 até o fim de 70 chegando ao Contemporâneo que iniciou após dos anos 80 (POSENATO, 1997). É de estrema importância saber as características de cada período, sabendo determinar qual foi as heranças italianas que tiveram suas adaptações ao meio e como o alastramento de técnicas tornou a arquitetura Espírito-Santense e a dos descendentes de imigrantes única (POSENATO, 1997). 57 – 1º período – construções provisórias: No princípio, não se havia uma comunidade estruturada, faltando igrejas, médicos e hospitais, quando recém recebido o lote, o trabalho principal era a limpeza de determinadas áreas para a criação de pasto, onde colocaria as criações de vacas de leite, um burro ou mula para o transporte e um cavalo de sela para passeios, plantio do café, plantio de cereais e perto da casa principal a horta para as verduras do dia a dia (POSENATO, 1997). Este período é marcado pelo foco na produção agrícola, onde o trabalho estava em primeiro plano e a edificação familiar recebe uma secundaria preocupação, se tornando assim cabanas construídas com taipa de mão ou madeira verde com cobertura quase sempre em palha (POSENATO, 1997). Figura 13 – Residência provisória construída no lote. Fonte: POSENATO, 1997. Por ser uma fase marcada pela ocupação e limpeza do território, esforço em fazer as primeiras produções agrícolas, a arquitetura só se desenvolveu após esse ciclo, por isso a primeira moradia possuía estrutura de madeira, paredes de estuque e com cobertura de palha, podendo ser escavadas no 58 solo, por não haver produção de tijolos, as paredes eram feitas de pau-a- pique que após secas eram caiadas (POSENATO, 1997; MUNIZ, 2009). Com a baixa disponibilidade de ferramentas para todos a derrubada poderia demorar acontecer, tinha que esperar o mato secar e a queima acontecer, neste meio tempo os colonos empenhavam-se na melhoria de seus ranchos (POSENATO, 1997). O período em que aconteceu esta edificação foi, possivelmente, um dos mais difíceis para os imigrantes europeus recém chegados ao Brasil, onde por semanas e até meses, em que foram obrigados a viver em barracões e trabalhar na derrubada da floresta para se criar algum espaço para se viver (POSENATO, 1997). – 2º período – primitivo: As casas do período primitivo caracterizavam-se por serem, em sua maioria, térreas, com sala e dormitórios, a fundação era mais alta e a cozinha afastada do corpo principal da edificação, como mostrado na Figura 14 (POSENATO, 1997). 59 Figura 14 – Residência característica do segundo período Fonte: POSENATO, 1997. Após as plantações estarem consolidadas e com abundância em alimentação, mesmo que não comercial, é que se começa a construção das casas permanentes, em que se estima-se que duraram entre 10 a 20 anos. São casas fabricadas em pedra bruta e taipa simplificada e cobertas por tábuas de madeira rachadas, a área da cozinha fica mais próximo ao chão e os quartos em áreas mais altas, para haver uma proteção maior contra possíveis invasores, como visto na Figura 15 (POSENATO, 1997). 60 Figura 15 – Residência característica do segundo período Fonte: POSENATO, 1997. Com o crescimento das famílias de forma constante, obrigou a melhorias nas acomodações e na cultura, foi marcado pela construção de casas, ampliação no plantio do café, melhoria nas áreas de pastagem, além da chegada de vacas e animais de carga (POSENATO, 1997). Com ajuda de machadinhas, serras, formão, martelo e pregos, a madeira, encontrada em grande quantidade nas florestas, foi a peça chave na construção das residências, indo desde as colunas de sustentação até a cobertura (POSENATO, 1997). A casa possuía de 8 m por 4 m e formava assim dois ambientes quadrados simples que eram cobertos posteriormente e apoiados em tabuas serradas, possuindo paredes de 16 a 17 cm de espessura e portas de 90 cm de largura por 1,80 m de altura e janelas simples e pequenas de 75 cm de largura e 1,10 m de altura, não possuindo vidros e nem fechaduras eram fechadas mais para afastar do frio do que por seguranças, já que eram em sua maioria pobres (POSENATO, 1997). 61 – 3º período – apogeu: O padrão estilístico de construção residencial deste período se desenvolveu quando as terras dos colonos pioneiros, agora mais velhos e já com filhos grandes para ajudar na lavoura, gerava lucro o suficiente para possibilitar manter um estilo de vida mais confortável (PETRONE, 1962). Contando com a mão-de-obra dos filhos adultos o patriarca era obrigado a providenciar uma casa de acordo com o tamanho da família e seguindo, de certa forma, as tradições norte-italianas, podendo acontecer durante o início da primeira metade do século 20 (POSENATO, 1997). Neste tempo as residências do período primitivo estavam em ruinas, necessitando a construçãode novas. Por se passar no mesmo período da prosperidade da cultura cafeeira, os pioneiros já conseguiam possuir cassas de 2 pavimentos, em alicerce de pedra ou madeira pouco afastado do solo, de esteios ou tijolos e com telhado em folhas de zinco (POSENATO, 1997). Com maior força, as influências culturais se intensificaram e tornaram as construções cada vez mais parecidas com as do norte da Itália, com prédios de maior porte e imponentes de todo o ciclo. Possuindo determinadas características mostradas na Figura 16 a baixo (POSENATO,1997). 62 Figura 16 – Residência característica do terceiro período Fonte: POSENATO, 1997. 63 Petrone (1962) quando fala das características das residências cita casarões grandes que chegava ter dois pavimentos, onde a residência se localizaria no primeiro pavimento, sendo acessada ou por escada externa que dava em um balcão ou interna a partir do porão, e o térreo poderia ser utilizado como depósito, estabulo e outras partes da casa. O telhado variava entre duas a quatro águas, reafirma a possibilidade de se ter um porão que poderia ser aberto ou fechado e utilizado como celeiro e o sótão, falado como sendo o verdadeiro segundo pavimento, poderia abrigar quartos ou um depósito dependendo da quantidade de pessoas que morassem nesta casa, fala da influência que a terra natal tinha no modo de construção (PETRONE, 1962). Com a passagem das fases com miséria e dificuldades do início, deu-se lugar a fartura e prosperidade. Com isso a casa passa a sérum monumento sinônimo, mesmo que inconsciente, da autoconfiança mostrando semelhanças com as tradições da terra natal, simbolizando assim a emoção da propriedade da terra e o orgulho da liberdade, vivida ao seu máximo (POSENATO, 1997). – 4º período – tardio: Este período, que se passa na metade do século 20, se caracterizou pelas construções dos descendentes nascidos em solo brasileiro, que possuindo como sua única realidade pessoal a experiencia de viver no Brasil, já para os mais velhos, quanto maior e mais imponente a casa fosse mais provava que o passado de pobrezas se devia a diversidade ambiental encontrada e não a falta de valor pessoal. Entretanto a sede de provar o sucesso pessoal já havia deixada para trás (POSENATO, 1997). 64 O período tardio foi marcado pela queda arquitetônica do estilo italiano enfrentado em seu apogeu, passando a construir casas menores com técnicas de construção menos diversas e refinadas (POSENATO, 1997). Após a empolgação do cultivo do café ser bem sucedida em seguida é marcado por uma crise, e com a escassez de recursos passa a não valer a pena utilizar-se de materiais industrializados que precisavam ser pagos, se dando valor assim as soluções manuais. Neste período, o prego se torna o único material industrializado a ser obrigatório, revelando a base agrícola dessas construções e a falta de industrialização presente no estado (POSENATO, 1997). A casa do período tardio que foi mais usada pelas comunidades rurais do estado, em várias etnias, possuía pilotis até mesmo na italiana, se podia notar a semelhança sendo marca desta época. Mesmo que completamente manual, era caracterizada mostradas nas Figuras 17, 18 e 19 abaixo (POSENATO, 1997). Figura 17 – Residência característica do quarto período Fonte: POSENATO, 1997. 65 Figura 18 – Influência italiana na residência do quarto período Fonte: POSENATO, 1997. Figura 19 – Desenho esquemático da residência do quarto período Fonte: POSENATO, 1997. 66 Esta casa cumpre uma função somente de ser uma residência, mesmo que alguns cômodos possam a ser depósito e mudar de finalidade de quarto no futuro, não existindo espaços internos planejados especificamente para elaboração de produtos ou armazenagem, quando não possuindo sótão, podia-se existir um forro e sempre se deixa o espaço do telhado sem interferência (POSENATO, 1997). – A arquitetura rural atual: A arquitetura rural contemporânea dos sucessores de imigrantes italianos, começou no final do século 20 e persiste até os dias atuais, reforça o uso de materiais industrializados, apesar de serem novos, a influência organizacional interna e forma externa segue as características formais das gerações anteriores. São casas tradicionais com telhado que se incorporaram a moda de multiplicar a quantidade de águas e se tem a integração da cozinha com o corpo da casa (POSENATO, 1997). A casa com terraço se tornou um novo estereótipo, seguindo um estilo caixotinho, se destaca com a concepção espacial diferente, com características únicas mostradas na Figura 20 abaixo (POSENATO, 1997). 67 Figura 20 – Residência na arquitetura rural atual Fonte: POSENATO, 1997, com imagem de arquivo pessoal, 2021. Esta edificação se popularizou por ter um melhor aproveitamento do espaço aliado a um melhor conforto térmico (POSENATO, 1997) 2.3.3 Arquitetura Comercial Através das características peculiares da estrutura produtiva da área possuía, a capacidade produtiva possuía uma relação estreita entre o potencial trabalhador da unidade familiar, acarretando uma colheita menor gerando um lucro para subsistência familiar e sem geração de um acúmulo do capital (BERGAMIM, 2016). Os únicos com alguma chance de enriquecer a partir do acúmulo do capital, em meio as colônias, era os comerciantes, pois todo fruto do trabalho tinha o destino a esses estabelecimentos, indo em busca de sanar suas necessidades a preços de monopólio (POSENATO, 1997). 68 As vendas se integravam em uma rede de casas comerciais, que possuíam a função de comprar o café dos produtores para gerar créditos ao colono que gastava em mercadorias do local. Estes locais comercializavam em troca de produtos com casas maiores, que consecutivamente vendiam as grandes comerciantes da capital que lidavam com o comércio internacional em troca de produtos necessários para a economia da capitania (BERGAMIM, 2016). Em resumo a sociedade econômica possuía figuras como: o colono que possuía uma pequena venda local, o negociante ambulante, o comerciante de médio porte que intermediava a comunicação e o de grande porte que ficava encarregado das transações internacionais (BERGAMIM, 2016). Trabalhando na forma da troca, o agricultor utilizava sua produção para aquisição de mercadorias, podendo endividar a colheita de anos para poder quitar as cadernetas de crédito/débito. Muitos comerciantes pagavam menos do que valia na compra da produção e quando ia vender algum produto se elevava os preços causando uma injusta desproporção entre o valor real do produto e o praticado no dia a dia (POSENATO, 1997). De forma resumida, as vendas eram edificações comerciais, de preferência em perímetro rural, onde na maioria das vezes, poderia ter seu uso misturado com a residência do dono do comércio. As atividades comerciais se localizam na parte frontal do térreo e consecutivamente a zona privada familiar, a cozinha neste caso tinha que atender às duas atividades (POSENATO, 1997). Além de ser bar com restaurante, oferece também todos os itens que fosse necessário como: sorveteria, café, padaria, assim como tecidos, calçados, chapéus, ferragem, armarinho, bebidas e remédios, podendo se haver especialização em um ramo exclusivo, como as farmácias. Em locais que 69 poderia receber pessoas de localidades distantes, estas vendas possuíam hospedaria e espaço para os animais (POSENATO, 1997). As vendas se distinguiam na paisagem residencial pela existência de mais de uma porta em sua fachada, possuindo estreitas aberturas, em madeira e com fechamento rústico através de uma ripa de madeira fixada na parte internada construção, o elevado grau de sofisticação em sua edificação, indicava o nível econômico mais alto em comparação dos pequenos comerciantes nas comunidadesde imigrantes, como mostrado na Figura 21. (POSENATO, 1997). Quanto maior o seu porte, cada vez maior é a tendência de se distanciar das características herdadas dos imigrantes e mais se parecer com os padrões encontrados no perímetro urbano (POSENATO, 1997). Figura 21 – Venda em Santa Tereza, 1900 Fonte: GROSSELLI, 2008. 70 O dono do estabelecimento, geralmente, possuía sua propriedade com localização privilegiada, se comparada as vizinhas, podendo ser em encruzilhadas, ter fácil acesso e ou ser instalada em um povoado pequeno (PETRONE, 1962). Em sua maioria eram possuidores de máquinas beneficiadoras de café que ficavam com parte da produção em troca da torra do grão, coisa que ainda acontece atualmente, o comerciante naquela época poderia atender colônias até quatro horas de marcha de tropa e cada asno poderia carregar até três sacos e meio podendo oferecer atividades de “pilação” e frete que as vezes não possuíam o destino a venda do grão (PETRONE, 1962). Outra edificação importante para a socialização dos imigrantes, embora geralmente pertencesse a particulares ou donos de vendas, era a cancha, local onde se jogava a bocha. Muitos comerciantes procuravam construir ao lado de sua edificação como incentivo a permanência dos clientes, mas, também poderiam ser construídas no entorno de igrejas possuíam um telhado simples sem fechamento vertical, podendo ser de telha cerâmica e possuir teto baixo e geralmente não seguindo nenhuma regra oficial da federação para a sua construção (POSENATO, 1997). Figura 22 – Campo de bocha pertencente ao bar e mercearia do Aloir Comério Fonte: Arquivo pessoal, 2022. 71 2.3.4 Técnicas Construtivas Como dito anteriormente, a capacidade da adaptabilidade ao meio é a característica mais notável dos italianos, sua criatividade na utilização dos recursos a disposição gerando soluções não se limitava em copiar um padrão básico, buscando assim em agregar novos materiais, ensinamentos, conceitos, tecnologias e arranjos espaciais (POSENATO, 1997). A arquitetura ítalo-espírito-santense sofreu algumas influências externas na cultura italiana, como a luso-brasileira que foi estabelecida em terras adjacentes com o pau-a-pique, a caiação e as varandas, e dos estilos históricos que se limitaram a arquitetura religiosa, com a renascença e o barroco, categorizados os mais notáveis no patrimônio arquitetônico religioso italiano atras do românico, o barroco lusitano e o gótico que se limitou aos arcos ogivais (POSENATO, 1997). As casas têm uma trajetória na utilização dos materiais, as primeiras eram feitas quase totalmente em madeira como consequência da grande área florestal encontrada quando chegaram, após a integração com os luso- brasileiros ao passar do tempo passaram a integrar o pau-a-pique nas edificações, o tijolo só foi utilizado no processo construtivo quando as primeiras olarias se instalaram na redondeza, a madeira e o pau-a-pique passaram a ficar somente nas edificações anexas (PETRONE, 1962). Da Mata Atlântica era possível encontrar a matéria-prima básica para a construção, a “madeira de lei” era utilizada na parte estrutural, pisos e esquadrias, quando fossem finos e roliços seriam utilizados no gradeado que sustente o pau-a-pique, os cipós eram para amarrar o gradeado, nos abrigos temporários era utilizada as folhas de palmeiras que logo foram substituídas por telhas de madeira (MUNIZ, 2009). 72 As alvenarias poderiam ser feitas de pau-a-pique ou taipa de mão, e de tijolos maciços. Também conhecida como taipa de sopapo, taipa de sebe ou estuque, o pau-a-pique pode-se definir como um tipo de vedação em que madeiras roliças e finas de cerne compacto são posicionadas na vertical, como os barrotes, e horizontais, como as ripas que são fixadas com cipós (MUNIZ, 1989). Esta técnica que foi utilizada pelos imigrantes italianos por influência da população luso-brasileira local, a qual foi assimilada da tradição africana, assim como outras diversas aquisições (POSENATO, 1997). Era utilizada na vedação internas e externas das residências mais modestas e térreas que possuíam teto baixo, piso de terra e cobertura em palha (MUNIZ, 2009). Após o processo de fabricação da estrutura se atira o barro dos dois lados ao mesmo tempo para sua melhor fixação, assim como as paredes de pedra, devem ser revestidas de argamassa feita de barro, areia e cal em que são finalizadas com tinta à base de cal (MUNIZ, 1989). Antes da construção deste tipo de fechamento vertical deve-se preparar uma fundação que poderá ser ou em tijolos ou de pedra, porém os dois tipos devem ter no mínimo 30 cm de altura, como visto no número 1 da Figura 23 abaixo, as juntas existentes devem ser impermeabilizadas, número 2 da Figura abaixo, e as quinas e coroamentos devem possuir reforço de madeira ou bambu, número 3 da Figura (LENGEN, 2009). 73 Figura 23 – Recomendações pau-a-pique Fonte: LENGEN, 2009. A trama é feita com varas, taquaras, bambus inteiros ou partidos e aplicava- se terra nesta estrutura, como se vê na Figura 24 a seguir (LENGEN, 2009). Figura 24 – Estrutura para receber a terra Fonte: LENGEN, 2009. Para a fabricação dos tijolos usados nas construções, geralmente, utilizava- se o barro originário do próprio terreno, sendo assim havia a necessidade de certa cautela na escolha para que o produto final obtivesse uma certa qualidade. Segundo Lengen (2014), o material poderia ser catalogado como pobre ou rico conforme a proporção de argila e areia. Quanto mais rica em argila mais areia deveria ser incorporada para o balanceamento. Quando é denominado pobre, incorporava-se mais argila à mistura (LENGEN, 2014). 74 Após ser escolhida, a terra passava por testes de: cor, em que as melhores possuíam coloração de vermelha/castanha a amarelo-claro; odor, terra cheirando a mofo possui traço de vegetação; mordedura, não rangendo é argilosa, rangendo pouco é limosa e muito é arenosa; sedimentação; contração e da tira (LENGEN, 2014). Antes de ser levado as formas, a mistura deveria ser amassada, molhada e deixada em descanso por três dias. Após esse tempo acrescenta-se mais água, para que fique flexível e assim seja colocado nos moldes de madeira impermeabilizada ou metal, apertadas e desenformadas com cautela. A parte da secagem deveria acontecer de um a dois dias, sempre a sombra, e o tempo de cozimento variava de acordo com o clima do local. Quanto à configuração estrutural das paredes, Lengen (2014) descreve as seguintes formas: meia vez e uma vez, de acordo com a posição que os tijolos são colocados. – Parede de meia vez: Esta tipologia segue uma forma simplificada onde a largura do tijolo é a espessura da parede e sua finalidade é ser mais estreita, podendo seguir o padrão contra fiado. Figura 25 – Parede de meia vez contra fiado Fonte: LENGEN, 2014. 75 – Parede de uma vez: Esta tipologia possui paredes mais grossas, onde o comprimento do tijolo que define a espessura da parede, geralmente utilizada em partes que terão acesso direto com o exterior e pode ter diversos padrões. Figura 26 – Parede de uma vez Fonte: LENGEN, 2014. Figura 27 – Variação de padrão - parede de uma vez. Fonte: LENGEN, 2014. No que diz respeito ao acabamento das alvenarias, Muniz (1989) enfatiza que elas eram pintadas com tinta à base de cal tanto no interior quanto ao exterior. E, em determinadas construções ainda existem vestígios de que poderia possuir diversas cores além do branco (MUNIZ, 1989). 76 Com relação a cobertura, poderia ser de duas ou quatro águas. Seu material variava, podendo ser de zinco, madeira, mais especificamente a braúna, ou tipo francês que poderia ser em argila ou cimento (PETRONE, 1962). A parte estrutural, em sua maioria consistia em madeira que eram posicionadas em tesouras, que variavamdo simples ao mais complexo, já na cobertura telhas de barro em estilo capa e canal eram as mais comuns em determinadas áreas, porém em outras à tipo francês era mais utilizada, como se pode ver na Figura 28 da página seguinte, como o modo de fabricação era todo artesanal as telhas poderiam variar de uma para outra, mudando sua curvatura (MUNIZ, 1989). Figura 28 – Cobertura com telha tipo francês Fonte: Arquivo pessoal, 2021. Em algumas edificações poderiam ser encontradas escadas externas, geralmente, construídas com estrutura em pedra, podendo receber concreto no passar do tempo, como na Figura 29. Seus degraus poderiam variar de 19 a 21 cm em sua altura, seu guarda corpo eram em paredes laterais, somente os mais ricos poderiam investir em gradil de ferro (MUNIZ, 1989). 77 Figura 29 – Exemplo de escada externa. Fonte: Arquivo pessoal, 2022. As escadas internas, em sua maioria, eram em madeira, desde a estrutura até o acabamento dos degraus, porém eram mais raros de serem encontrados (MUNIZ, 1989). 3 ARQUITETURA RURAL EM SÃO GABRIEL DE BAUNILHA Ressaltando que o presente trabalho contou com a dificuldade na obtenção de autores que discursassem sobre a arquitetura rural no estado do Espírito Santo, e por isso admito a importância dos seguintes autores: Júlio Posenato e Maria Izabel Perini Muniz que traçaram a base do referencial teórico deste trabalho de conclusão de curso. Em consequência disso a ficha catalográfica baseou-se estritamente no livro “Arquitetura Rural do Século XIX no Espírito Santo”, de Izabel Perini Muniz. O território objeto desta pesquisa está situado ao sul do Município de Colatina (Figura 30), norte do Espírito Santo. E, conforme divisão administrativa, compreende as regiões de São Gabriel de Baunilha e Alto São Gabriel. Ambos os povoados possuem conexões entre seus costumes, famílias e histórias, o que os fazem ser considerados um único lugar. Desta 78 forma, neste trabalho, a região demarcada na Figura 30, será designada simplesmente por São Gabriel de Baunilha. Figura 30 – Localização da área de estudo Fonte: Elaborado pelo autor com dados extraídos da Prefeitura Municipal de Colatina ES. O estado é banhado por três bacias hidrográficas principais: a do Doce, litorâneas do Espírito Santo e de São Mateus e outros. O município de Colatina se encontra localizado em sua totalidade na bacia do Rio Doce, sendo cortado ao meio pelo próprio rio que leva este nome. A área de estudo é banhada por somente por uma pequena porção de um rio, como pode-se ver na Figura 31 abaixo, denominado Rio Pau Gigante e por diversos córregos catalogados, em destaque para o córrego São Gabriel que corta tora a região de estudo e dá o nome ao lugar, e pelo Palmital, Bom Jesus e Baixa Grande e outros que não tiveram seu nome categorizado. 79 Figura 31 – Bacia Hidrográfica da área de estudo Fonte: Elaborado pelo autor com dados extraídos do Sistema Integrado de Bases Geoespaciais do Estado do Espírito Santo (GEOBASES) Como pode-se ver na Figura 32 na página seguinte, atualmente a área de estudo conta com um grande trecho coberto por pastagem que foram abertas em plena Mata Atlântica e pequenas zonas de cobertura vegetal que se caracterizam por ter a sua maior parte em estado de regeneração, mostrando o grau de desmatamento presente neste local até o ano de 2012. 80 Figura 32 – Vegetação atual da área de estudo – 2012 Fonte: Elaborado pelo autor com dados extraídos do Sistema Integrado de Bases Geoespaciais do Estado do Espírito Santo (GEOBASES) Segundo Moraes (1954), o município de Colatina teve sua formação marcada pelo modelo “cidade-cruzamento”. Este modelo é marcado pelo cruzamento de duas ou mais vias de transporte, em que a sede é formada em volta da mudança de via de locomoção, podendo ser de mercadorias e pessoas. Na prática os trilhos da estrada de ferro Vitória-Minas aceleraram o desenvolvimento do antigo “Barracão de Santa Maria” atual município de Colatina, interligado a estrada férrea as estradas rodoviárias. A região estudada recebeu, em parte, incentivo vindo da ferrovia Vitória-Minas durante a época em que a maria fumaça cortava a localidade. 81 Na busca por contar a história da região compreendida entre São Gabriel de Baunilha e Alto São Gabriel, deparei-me com a dificuldade em encontrar informações sobre a história do local. Esse fato se deve à falta de documentos escritos e publicados que falavam da localidade, se limitando a pequenas falas redigidas em uma revista, que tratava da região de Baunilha como um todo. Segundo publicado na Revista Nossa Especial de 1986, o começo do povoamento de Baunilha se baseava na chegada de imigrantes vindo do sul do estado, que em maior número se destacava por Italianos, porém também vieram alemães, poloneses, austríacos, franceses, portugueses e espanhóis. Dando um salto temporal, a Revista Nossa Especial (1986), em ou8utra matéria, fala que Baunilha parou no tempo, culpando assim, seguindo a opinião popular, a erradicação dos cafezais ultrapassados, na ótica governamental, por um tipo de plantio mais moderno que fosse mais produtivo, que acarretou um pessimismo sobre o futuro do local. Com isso, próximo a década de 50, houve um movimento migratório, onde poucas famílias persistiram, restando memórias desse tempo. O valor histórico e geográfico das localidades rurais se perde ao passo em que os mais idosos moradores do lugarejo envelhecem e morrem, deixa-se para traz a cultura e os conhecimentos técnicos na história das edificações rurais que gerações futuras nunca saberiam sem sua catalogação efetiva e a sensibilização dos moradores locais quanto a história viva existente nas residências antigas. Atualmente o território de São Gabriel de Baunilha conta com três locais de extração de pedra granítica, como mostra a Figura 33 que possui dados de 2012, e com a maior parte do cultivo dedicado ao café apesar da grande parte da área ser dedicada a pastagem, como mostra a Figura 32 mostrada 82 anteriormente. Figura 33 – Áreas cultiváveis e extração de pedra granítica – 2012 Fonte: Elaborado pelo autor com dados extraídos do Sistema Integrado de Bases Geoespaciais do Estado do Espírito Santo (GEOBASES) As pedreiras existentes são: Marbrasa, Granfort e Pedra preta, como mostra a Figura 34 a seguir. 83 Figura 34 – Pedreiras existentes para a extração de pedra granítica Fonte: Feito pelo autor com dados provenientes do Google Earth. Segundo dados provenientes do Sistema de Informações Geográficas da Mineração SIGMINE/2021, mostrados na Figura 35 a seguir, novas áreas de extração foram requeridas transformando assim a área de estudo terra fértil para novas frentes de extração granítica surgirem. 84 Figura 35 – Pedreiras existentes para a extração de pedra granítica Fonte: Elaborado pelo autor com dados extraídos do Sistema de Informações Geográficas da Mineração SIGMINE/2021 Atualmente, como pode-se ver na Figura 36 a seguir, o percentual de lavouras permanentes no município de Colatina é muito maior ao de temporárias, fazendo com que o agricultor deste local dependa mais da compra de produtos para suprir suas necessidades básicas em comércios. 85 Figura 36 – Percentual de lavouras por hectare em Colatina ES Fonte: Elaborado pelo autor com dados extraídos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) 2017 Comparando o município de Colatina aos demais, na Figura 39 a seguir, pode-se considerar que está localidade se encontra entre os maiores produtores de café atualmente no estado, ultrapassando a marca de 18.000 toneladas de café produzido em 2021, formando um cinturão de produtores na região central–norte do estado. Olhando o histórico cafeeiro na Figura 39 a seguir, que durante o período analisado,entre 2004 a 2021 a quantidade de café produzido só tendeu a crescer, apesar do declínio em 2016/2017, comparando com a Figura 37 a seguir, que fala de todo o estado, houve um expressivo aumento na exportação em comparação aos primeiros anos de colonização do estado. 86 Figura 37 – Exportação do café no Espírito Santo 1845/1874 (Kg) Fonte: GROSSELLI, 2008. A Figura 38 e 40 a seguir, somente confirma o fato que os produtores estão voltando a investir no cultivo, pois a quantidade de hectares plantada seguiu a mesma tendencia da Figura 39 a seguir. Figura 38 – Quantidade de café produzido em Colatina ES 2004/2021 (tonelada) Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 2021 87 Figura 39 – Quantidade de café produzido em Colatina ES Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 2021 Figura 40 – Área colhida de café em Colatina ES (hectare) Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 2021 88 Os gráficos das Figuras 41 e 42 abaixo, se complementam ao falar que houve um aumento na qualidade da produção e no rendimento médio da produção de café em relação a Kg/ha pois na Figura 41 a seguir, confirma um aumento no valor desta produção no passar do tempo, e com tendencia somente a aumentar. Figura 41 – O valor da produção de café em Colatina ES (R$ x1000) Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 2021 Figura 42 – Rendimento médio da produção de café em Colatina ES (Kg/ha) Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 2021 89 Analisando os dados acima pode-se perceber um árduo trabalho na melhoria genética e das técnicas de cultivo do café por empresas como a EMBRAPA Café, que já está surtindo efeito atualmente no cotidiano do produtor, a um passo que se continuar a tendencia é somente a melhora do valor da produção e levando a mais produtores investirem no plantio desta cultura. Analisando a Figura 43 a seguir, se pode ter um parâmetro mais atualizado da relação de quantidade de florestas naturais, naturais de Área de Proteção Permanente e de florestas plantadas com a quantidade de pastagem desmatada, pois nesta região não possui este tipo de áreas de forma natural. Figura 43 – Percentual de matas ou florestas por hectare em relação a pastagem – Colatina ES Fonte: Elaborado pelo autor com dados extraídos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 2017 A relação entre mata e pastagem segue uma linha tênue, pois se não fosse a existência da obrigação de áreas de reserva permanente legal toda a mata atlântica já estaria erradicada em certos municípios, levando em conta 90 que nesta área não necessariamente haverá mata, que segundo a lei deve ser protegida. Deveria existir algum incentivo governamental para que mais áreas sejam destinadas ao plantio de florestas. Segundo o gráfico da Figura 44 a seguir, dentro deste percentual de pastagens 89% se encontram em boas condições, 11% em más condições e 0% são definidas como naturais deste município. Ou seja, segundo a Figura 43 a seguir vista anteriormente, estes 71% de pastagem era de mata nativa que foi extraída. Figura 44 – Percentual de pastagens por hectare – Colatina ES Fonte: Elaborado pelo autor com dados extraídos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 2017 O gráfico da Figura 45 a seguir mostra a relação de porcentagem na pecuária no município de Colatina. A produção que mais se destaca, até 2017, é de bovinos e galináceos, seguindo por suínos e equinos. 91 Figura 45 – Percentual de pecuária por cabeça – Colatina ES Fonte: Elaborado pelo autor com dados extraídos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 2017 3.1 LOCALIZAÇÃO E IMPLANTAÇÃO DAS EDIFICAÇÕES O local em que é inserida a edificação vai ditar os materiais e as características que a mesma deve ter, por isso cada edificação construída carrega marcas do período histórico, da sociedade e economia em que foi inserida. Sendo assim a integração com o entorno fala a perspectiva que a família teve, como: ostentar riquezas, se camuflar, ser vista de longe, entre outras. Este estudo tenta entender as motivações dos padrões encontrados nas edificações selecionadas (Figura 46) como, a direção das aberturas e seus tamanhos aliado a vivência cotidiana de possíveis moradores ao redor. 92 Figura 46 – Localização da área de estudo. Fonte: Elaborado pelo autor com dados extraídos do Google Earth e da Prefeitura Municipal de Colatina ES, 2022 – Casa da Família Solto A Figura 47 a seguir, mostra a localização do lote perante o seu redor e com pontos de referência existentes atualmente. As vias de acesso são formadas pelo encontro de duas importantes estradas, que não possuem nome, são pavimentadas com bloqueie sextavado em certo trecho. 93 Figura 47 – Localização da casa da família Solto Fonte: Elaborado pelo autor com dados extraídos do Google Earth. A fachada oeste, mostrado na Figura 49, dá para um bar e mercearia, e está em uma rua muito importante que corta todo o território analisado, a fachada norte, mostrada na Figura 48, tem visão a um campo de bocha que tem como proprietário o comerciante do estabelecimento citado anteriormente. 94 Esta residência tem o histórico de abrigar uma venda em parte de sua construção, porém atualmente não se existe nenhum tipo de comércio nesta edificação. Figura 48 – Fachada 1 da casa da família Solto Fonte: Arquivo pessoal, 2021. Figura 49 – Fachada 2 da casa da família Solto Fonte: Arquivo pessoal, 2021. O modo de vida desta comunidade está associado as interações que acontecem neste pequeno centro, em que as pessoas socializam entre si nos bares existentes e no campo de bocha, como visto na Figuras 50 e 51. A residência possui muitos vizinhos perto e se localiza bem no centro de maior movimento de pessoas e carros desta região, como pode-se ver na Figura 47 anteriormente. 95 Figura 50 – Vista da fachada 1 Fonte: Arquivo pessoal, 2022. Figura 51 – Vista da fachada 2 Fonte: Arquivo pessoal, 2022. 96 – Casa da Família Baptista A Figura 52 a seguir mostra a localização do lote perante ao seu redor e com pontos de referência existentes atualmente. A fachada principal, mostrada na Figura 53 a seguir, dá para uma estrada de terra batida sendo a via de acesso principal e de pouco movimento que liga ao centro de maior população atual da área de estudo, mostrado na Figura 54. Figura 52 – Localização da casa da Família Baptista Fonte: Elaborado pelo autor com dados extraídos do Google Earth 97 Figura 53 – Fachada principal da casa da Família Baptista Fonte: Arquivo pessoal, 2021. Figura 54 – Estado da estrada de acesso da casa da Família Baptista Fonte: Arquivo pessoal, 2021. Na redondeza possui uma igreja de São João Batista que contempla a comunidade de São Gabriel de Baunilha somente e ruinas de um antigo curral desativado, mostrada na Figura 55, seguindo esta estrada na direção leste se encontra o centro de comércio citado no tópico anterior e ao norte uma pedreira chamada Marbrasa, mostrada na Figura 56, que fica no 98 terreno dos donos desta residência. Figura 55 – Vista da igreja e do curral pela lateral esquerda da casa. Fonte: Arquivo pessoal, 2021. Figura 56 – Parte da pedreira que se pode ver dos fundos da residência Fonte: Arquivo pessoal, 2022. O modo de vida dos moradores desta casa á mais pacato, talvez influenciado pelas vistas existentes, mostradas nas Figuras 57 e 58, ou por atualmente, se tratar de duas senhoras idosas, em que nas poucas saídas que fazem é em relação a celebrações que acontecem na própria igrejinha 99 citada anteriormente.Os vizinhos mais próximos se localizam no pequeno centro de comércio citado anteriormente, não sendo muito próximo a edificação. Figura 57 – Vista da fachada frontal e traseira Fonte: Arquivo pessoal, 2022. Figura 58 – Vista da janela da lateral esquerda e direita Fonte: Arquivo pessoal, 2022. 100 – Casa da Família Pertel A Figura 59 mostra a localização do lote perante o seu redor e com pontos de referência existentes atualmente. Localizada muito próximo a residência da família Solto (Figura 60), sendo até consideradas vizinhas, de certa forma. Construída no centro de maior população atual da área de estudo é acessada por uma rua sem nome, exposta na Figura 61, que corta todo o território estudado e é a principal via de acesso ao interior da região, a via de acesso é pavimentada com bloqueie sextavado em certo trecho. Figura 59 – Localização da casa da Família Pertel Fonte: Elaborado pelo autor com dados extraídos do Google Earth 101 Figura 60 – Fachada principal da casa da Família Pertel Fonte: Arquivo pessoal, 2021. Figura 61 – Estado da estrada de acesso da casa da Família Pertel Fonte: Arquivo pessoal, 2021. A fachada principal (Figura 60) se vira para outra residência, uma pequena rua não nomeada e uma construção que geralmente abriga algumas festas particulares ou da comunidade, como mostrada na Figura 62. O modo de vida dos moradores está relacionado a movimentação dos bares ao redor, sendo um deles vizinho à direita do lote, e na observação do cotidiano através da varanda frontal com vista para a rua (Figura 62). 102 Por possuir vizinhos muito próximo, a interação é inevitável fazendo com que laços familiares e de amizade se formem. Figura 62 – Vista frontal da casa da Família Pertel Fonte: Arquivo pessoal, 2022. – Casa em Ruínas A Figura 63 mostra a localização do lote perante ao seu redor e com pontos de referência existentes atualmente. A residência (Figura 65) localizada na parte territorial considerada pelo município de Alto São Gabriel, em sua proximidade existe um curral que se distancia da residência por uma estrada, de terra batida, muito importante que corta toda a região estudada, a qual começa no pequeno centro em São Gabriel de Baunilha, que é nomeado “patrimônio” pelos moradores. 103 Figura 63 – Localização da casa em Ruínas Fonte: Elaborado pelo autor com dados extraídos do Google Earth Localizada na parte territorial considerada pelo município de Alto São Gabriel, tem como acesso principal uma estrada de terra batida, mostrada na Figura 64, não catalogada, que corta todo o território. 104 Figura 64 – Estado da estrada de acesso da casa em Ruínas Fonte: Arquivo pessoal, 2022. A fachada principal (Figura 65), está virada a esta estrada, porém o acesso é feito por uma porteira localizada ao sul do lote destacado na Figura 66. Figura 65 – Fachada principal da casa em ruínas. Fonte: Arquivo pessoal, 2022. Por não existir moradores residentes nesta edificação, dado o estado de abandono da residência nas Figuras 66, 67 e 68, não dá para identificar um modo de vida padrão dos possíveis moradores desta edificação. Porém 105 após analisar outros moradores do Alto São Gabriel pode tem uma perspectiva do trabalho na terra como forma de subsistência e outros produtos são comprados no “patrimônio” ou no centro de Colatina. Figura 66 – Detalhe da estrada de acesso a residência Fonte: Arquivo pessoal, 2021. Figura 67 – Vista da fachada frontal e traseira Fonte: Arquivo pessoal, 2022. 106 Figura 68 – Vista da fachada esquerda Fonte: Arquivo pessoal, 2022. Os vizinhos mais próximos se localizam a um raio de 1 km ao sul perto da igreja de São Gabriel Arcanjo, conhecida por ser a “igreja do Alto” e 0,5 Km de raio a capelinha de Santa Luzia, seguindo a direção da BR 259, sendo assim uma construção mais reclusa e sem vizinhos diretos. 3.2 TIPOLOGIAS DE EDIFICAÇÕES ENCONTRADAS As edificações são compostas basicamente de volumes geométricos que podem ou não se cruzar. O volume possui três principais características principais o comprimento, largura e profundidade A análise descrita é feita com base no levantamento in loco o qual gerou as plantas baixas residenciais descritas posteriormente. levando em conta um volume único a construção analisada. Para a melhor compreensão, a análise é dividida em: casa comércio; casa em planta quadrada e casa de planta em “L”, avaliando sua configuração inicial de planta baixa e disposição dos cômodos. Será excluída possíveis adições feitas durante os anos que possa descaracterizar o contexto da geometria geral do modelo em planta. 107 Dentro dos tópicos citados acima existe uma divisão em que se explica cada edificação catalogada que se adeque aos parâmetros exigidos ao tópico que pertence. 3.2.1 Casa com comércio Esta região analisada se destaca com as casas de comércio, onde o dono dividia a construção em área residência e comercial, onde a cozinha deveria atender a ambas as utilizações. O comércio em sua maioria contém bar e mercearia, onde vende todos os itens que o proprietário achasse necessário disponibilizar a venda, variando desde sorveteria, passando por farmácia e indo até venda de tecidos e calçados – Casa da Família Solto A área residencial era acessada pelo quintal traseiro, Figura 69, ou por uma porta que acessava a rua lateral ao campo de bocha na Figura 70, a área comercial era acessada pela rua frontal e da visão ao campo de bocha (Figuras 69 e 71), e com duas portas de acesso e na rua lateral (Figuras 70 e 71), com mais duas portas que davam acesso. Figura 69 – Fachada 1 da casa da família Solto Fonte: Arquivo pessoal, 2021. 108 Figura 70 – Fachada 2 da casa da família Solto Fonte: Arquivo pessoal, 2021. Figura 71 – Portas de acesso a edificação da casa da Família Solto Fonte: Elaborado pelo autor com dados extraídos no local, 2021. A planta baixa da Figura 72 abaixo, possui na data de coleta dos dados, aproximadamente 90,63 m² e mostra como poderia ser a demarcação dos cômodos da edificação em sua época de uso. 109 Figura 72 – Planta baixa com legenda de cômodos da casa da Família Solto Fonte: Elaborado pelo autor com dados extraídos no local, 2021. Nesta edificação analisada existe uma separação física da residência e o comércio (Figura 70) mostrada na Figura 73, realça a importância do pilar pintado de branco (Figura 70), demarca visualmente ao transeunte onde começa e termina o comércio e a residência, pilar este que se repete no outro lado da edificação como mostra a Figura 73. As duas áreas se comunicavam por duas portas que acessavam as salas de estar e jantar da área residencial. Figura 73 – Divisão residência x comércio da casa da Família Solto. Fonte: Elaborado pelo autor com dados extraídos no local, 2021. 110 A Figura 74 explica que os cômodos destinados ao descanso e que precisavam de uma privacidade maior, como os quartos, ficavam após as salas e o salão de comércio. Já a Figura 75 mostra os quartos por dentro, a 76 a cozinha e a 77 a área do comércio. Figura 74 – Graus de privacidade da casa da Família Solto. Fonte: Elaborado pelo autor com dados extraídos no local, 2021. 111 Figura 75 – Quartos da casa, por ordem da planta baixa Fonte: Arquivo pessoal, 2021. Figura 76 – Área da cozinha em vista interna com detalhes Fonte: Arquivo pessoal, 2021. 112 Figura 77 – Área do comércio em vista interna Fonte: Arquivo pessoal, 2021. Esta edificação possui a estrutura em vigas de madeiras, fechamento em tijolo maciço em fiada simples com portas e janelas feitas em madeira com fechamento em travessão,como mostra a Figura 78. Figura 78 – Detalhe da estrutura Fonte: Arquivo pessoal, 2021 113 3.2.2 Casa de planta regular Para ser considerada uma casa de planta regular o volume único necessita possuir quatro lados principais, onde todas as necessidades são supridas sem levar em conta as adições feitas no decorrer do tempo. As residências analisadas neste tópico possuem características e períodos históricos divergentes, onde a residência Baptista é datada mais para o início do século 20 e a residência Pertel para o final deste mesmo século. Se diferindo tanto nos materiais empregados quanto nas técnicas utilizadas. – Casa da Família Baptista A residência possui três acessos ao todo, como mostrado na Figura 79, onde um era para visitas em que se acessava a sala de estar frontal e as outras duas eram de acesso pelos fundos da residência localizadas em ambos os lados da construção. Figura 79 – Portas de acesso a edificação da casa da Família Baptista Fonte: Elaborado pelo autor com dados extraídos no local, 2021. A planta baixa da Figura 80, possui na data de coleta dos dados, aproximadamente 163,91 m² sendo a maior construção catalogada dentre as escolhidas e mostra como poderia ser a demarcação dos cômodos da 114 edificação em uso. A agregação mais marcante se destaca pela construção de uma área de serviço e banheiro externo para funcionários (Figura 80), que por possuir materiais mais modernos e diferente dos utilizados anteriormente, destoa com a edificação principal mostrando uma quebra de rigidez da forma retangular destacada em sua planta baixa, como mostra a Figura 81. Figura 80 – Planta baixa com legenda de cômodos da casa da Família Baptista Fonte: Elaborado pelo autor com dados extraídos no local, 2021. Figura 81 – Planta baixa com destaque da forma da casa da Família Baptista Fonte: Elaborado pelo autor com dados extraídos no local, 2021. 115 A residência possui uma divisão rígida demarcada pela espessura das paredes onde se demarca a área destinada aos aposentos privados familiares e a área destinada a cozinha e a serviços domésticos, mostrados na Figura 82. Figura 82 – Divisão aposentos familiares x área da cozinha e de serviço da casa da Família Baptista Fonte: Elaborado pelo autor com dados extraídos no local, 2021. Os quartos eram divididos em um maior, destinado aos pais, outros dois medianos (Figura 83) e um pequeno, onde eram acomodados os filhos, geralmente de dois em dois em cada quarto, demostrado pela mobília existente nos mesmos, o assoalho é em madeira original de construção. Figura 83 – Quarto mediano da casa da Família Baptista Fonte: Arquivo pessoal, 2021. 116 A sala de estar frontal (Figura 84) é destinada a visitas e a sala de jantar com estar (Figura 85) era destinada a reuniões dos moradores Figura 84 – Sala de estar frontal da casa da Família Baptista Fonte: Arquivo pessoal, 2021. Figura 85 – Sala de estar e jantar da casa da Família Baptista Fonte: Arquivo pessoal, 2021. 117 O banheiro compartimentado, visto na Figura 86, para que pudesse ser acessado por mais pessoas por vez é dividido por uma parede em área do chuveiro e área da bacia sanitária e pia. Figura 86 – Banheiro da casa da Família Baptista Fonte: Arquivo pessoal, 2021– Casa da Família Pertel A residência possui dois tipos de acessos (Figura 87) o principal, com acesso a sala de estar/TV e jantar integrada e o de acesso direto a cozinha da morada, onde anteriormente se passa pela área de serviço. 118 Figura 87 – Portas de acesso a edificação – Térreo da casa da família Pertel Fonte: Elaborado pelo autor com dados extraídos no local, 2021. As plantas baixas (Figura 88) possuem até a data de catalogação, área construída aproximada em 147,58 m² distribuída em dois pavimentos, sendo o segundo o terraço que dá nome a este tipo de construção como “casa com terraço”. Estas imagens citadas anteriormente mostram como poderia ser a demarcação dos cômodos da edificação em uso. Figura 88 – Planta baixa com legenda de cômodos da casa da família Pertel Fonte: Elaborado pelo autor com dados extraídos no local, 2021. 119 A rigidez é mantida, como pode-se ver na Figura 89, mesmo com as mudanças do tempo através do desenho da planta baixa onde as quatro paredes principais se mantem determinando a forma rígida. Figura 89 – Planta baixa com destaque da forma da casa da família Pertel Fonte: Elaborado pelo autor com dados extraídos no local, 2021. A organização interna da construção se difere das analisadas com mais tempo de construção, onde na Figura 90 pode-se entender melhor os graus de permeabilidade discrepantes. As construções mais antigas tinham uma relação mais privativa com a salas de estar e jantar, já que as cozinhas, por serem grandes e abertas, eram o centro de convivência do externo com o interno e acabavam possuindo uma relação semiprivada. No tempo em que está tipologia residencial nasceu a cozinha tinha um laço mais estreito com o corpo da construção, já que os materiais empregados corriam menor chance de combustão, e as salas de estar e jantar um grau de grau de privacidade menor, o fazendo um local de acolhimento a pessoa externa a residência. A varanda é mantida em um grau público de acolhimento passageiro, onde acontecimentos externos ao lote chegam ao morador. 120 Figura 90 – Análise de graus de permeabilidade: segundo a história x segundo a realidade da construção Fonte: Elaborado pelo autor com dados extraídos no local, 2021. Os quartos são divididos em um maior direcionado aos pais, Figura 91, e um menor, onde a filha única do casal reside, Figura 92. Figura 91 – Quarto do casal em vista interna da casa da família Pertel Fonte: Arquivo pessoal, 2021. 121 Figura 92 – Quarto da filha em vista interna da casa da família Pertel Fonte: Arquivo pessoal, 2021. O banheiro (Figura 88) foi posicionado para atender as demandas tanto internas quanto externas a moradia, como em caso de festa. A área direcionada ao terraço era utilizada como área de serviço com varal, porém a filha do casal está construindo sua residência neste local. Figura 93 – Área do terraço em construção 122 Fonte: Arquivo pessoal, 2021. 3.2.3 Casa de planta irregular. Este tipo de planta para ser considerada irregular necessita de dois retângulos grandes que se encostados possam configurar a planta em “L” ou em outra formação não convencional, porém necessita que adições sejam feitas com pequenos retângulos se ressaltando para que seja considerada uma planta irregular. Este volume necessita ser único e todas as necessidades dos moradores devem ser supridas nesta construção. – Casa da Família Solto – Casa com planta em “L” A planta baixa em questão possui um formato em “L” formado após a construção da copa/cozinha e a escada, a quebra do padrão retangular da forma veio com os acréscimos feitos com o passar do tempo na construção do banheiro externo, para atender as necessidades dos residentes. Na Figura 94 abaixo pode-se ter uma maior noção desta ruptura feita na forma padrão que original construída. 123 Figura 94 – Planta baixa com destaque da forma da casa da família Solto Fonte: Elaborado pelo autor com dados extraídos no local, 2021. Figura 95 – Acréscimos feitos a construção da casa da família Solto Fonte: Arquivo pessoal, 2021. – Casa em Ruínas A residência conta com duas portas de acesso ao interior da construção, como pode-se ver na Figura 96, uma dando para a sala e outra que dá acesso a cozinha e um possível depósito. Figura 96 – Portas de acesso a edificação da casa em Ruínas 124 Fonte: Elaborado pelo autor com dados extraídos no loca, 2021. A planta baixa (Figura 97) possuina data de coleta dos dados, aproximadamente 68,39 m², sendo a menor construção que foi catalogada até então, e mostra como poderia ser a demarcação dos cômodos da edificação em uso, levando em conta a demarcação de outras construções catalogadas. Figura 97 – Planta baixa com legenda de cômodos da casa em Ruínas Fonte: Elaborado pelo autor com dados extraídos no local, 2021. Como mostrado na Figura 98, a forma da planta baixa segue os padrões irregulares, com as escadas localizadas na fachada que se tornam os pequenos retângulos ressaltados, dito anteriormente, juntamente com as duas formas regulares que se encostam e delimitam o volume privado dos residentes e o semiprivado da cozinha/área de serviço. Figura 98 – Planta baixa com destaque da forma da casa em Ruínas 125 Fonte: Elaborado pelo autor com dados extraídos no local, 2021. Assim como as outras residências descritas anteriormente está em específico segue um padrão na divisão dos cômodos com sua rígida separação através de paredes grossas que mostram onde se inicia e termina os aposentos privados para os familiares e a área destinada a cozinha e a serviços domésticos mostrados na Figura 99. Figura 99 – Divisão aposentos familiares x área da cozinha e de serviço da casa em Ruínas Fonte: Elaborado pelo autor com dados extraídos no local, 2021. Como mostrado na planta baixa, os quartos (Figura 100), eram todos do mesmo tamanho sem distinção nas medidas que poderiam facilitar ao determinar qual eram os aposentos do casal para com os filhos. Figura 100 – Quarto da esquerda e central em estado atualizado 126 Fonte: Arquivo pessoal, 2021. As salas (Figura 101), possuíam praticamente o mesmo tamanho dificultando determinar em qual área de estar e jantar. Figura 101 – Salas em estado atual Fonte: Arquivo pessoal, 2021. A área da cozinha/serviço (Figura 102), os dois cômodos possuíam praticamente o mesmo tamanho que se comunicavam através de um portal em parede simples que não possuía fogão a lenha. 127 Figura 102 – Acesso e cozinha/área de serviço no estado atual Fonte: Arquivo pessoal, 2021. Por serem cômodos de tamanhos parecidos está residência foi construída em um padrão que facilitasse o construtor no cálculo da estrutura, assim com tamanhos parecidos corria menor risco de a residência colapsar com o tempo. 3.3 ESTADO ATUAL DE CONSERVAÇÃO A partir das entrevistas pode-se entender melhor as mudanças físicas e sociais que houve no decorrer dos anos, e que modificaram a arquitetura local para o que possuímos hoje na área estudada. Com a catalogação das memórias dos moradores antigos, juntamente com a fala dos donos das edificações, podemos transmitir a gerações futuras conhecimentos que seriam perdidos a partir do momento em que a geração mais antiga se fosse. 128 Para a análise, utilizou-se critérios baseados no projeto de graduação intitulado “Os casarões de Ibatiba: um encontro com a arquitetura rural capixaba” de Aline Vargas da Silveira. Os tópicos que serão descritos compreendem a edificação pouco ou não descaracterizada; Edificação muito descaracterizada. Uma vez que não haverá o julgamento da qualidade, se levará em conta o grau de originalidade e preservação da obra. 3.3.1 Edificação pouco ou não descaracterizada Neste item integra edificações que possuem pouca ou nenhuma descaracterização. O pouco grau de descaracterização se dá quando os anexos agregados a edificação original intervêm na alternância quanto a altura do volume, enquanto ou sua forma Já a não descaracterização entra na relação que o anexo não intervém na volumetria original, onde geralmente comporta-se como pequenas edificações que se aproximam ao volume principal. – Casa da Família Baptista A residência em sua data de catalogação possuía um alto grau de preservação (Figuras 103 e 104), exceto em pequenas partes como, o piso do quarto principal ao lado do banheiro (Figuras 105 e 106), que está com cerâmica, uma possível parede que foi adicionada a área da cozinha (Figura 107) e o banheiro com área de serviço que foi anexada por fora da edificação principal (Figura108). 129 Figura 103 – Fachada frontal e traseira da casa da Família Baptista Fonte: Arquivo pessoal, 2022. Figura 104 – Fachada da lateral esquerda e direita da casa da Família Baptista Fonte: Arquivo pessoal, 2022. 130 Figura 105 – Quarto principal ao lado do banheiro da casa da Família Baptista Fonte: Arquivo pessoal, 2021. Figura 106 – Banheiro interno da casa da Família Baptista Fonte: Arquivo pessoal, 2021. 131 Figura 107 – Cozinha da casa da Família Baptista Fonte: Arquivo pessoal, 2021. Figura 108 – Banheiro externo com área de serviço da casa da Família Baptista Fonte: Arquivo pessoal, 2022. 132 Detalhes como esse, ditos anteriormente, que a fazem determinar como não descaracterizada, já que a troca do piso do quarto foi feita pelo fato que as tábuas estavam com frestas grandes que faziam subir a poeira da fundação. Desde a catalogação até recentemente não se houve mudanças nesta edificação, sendo a mais bem preservada atualmente dentre as catalogadas. Figura 109 – Planta de adições históricas da casa da Família Baptista. Fonte: Elaborado pelo autor com dados extraídos no local, 2021. – Casa em Ruína A residência em sua data de catalogação possuía um alto grau de abandono, e com a retirada das madeiras do assoalho, dificultou a locomoção dentro para o levantamento cadastral, como pode-se verificar nas Figuras de 110 a 115. 133 Figura 110 – Fachada frontal e traseira da casa em Ruínas. Fonte: Arquivo pessoal, 2022. Figura 111 – Fachada da lateral esquerda e direita da casa em Ruínas Fonte: Arquivo pessoal, 2022. 134 Figura 112 – Salas de estar e jantar da casa em Ruínas Fonte: Arquivo pessoal, 2021. Figura 113 – Quartos em ordem de planta da casa em Ruínas Fonte: Arquivo pessoal, 2021. 135 Figura 114 – Estado de deterioração da fachada principal da casa em Ruínas Fonte: Arquivo pessoal, 2022. Figura 115 – Cozinha da casa em Ruínas Fonte: Arquivo pessoal, 2021. 136 Desde a catalogação até recentemente não se houve grandes mudanças no estado de abandono desta edificação, sendo um tesouro a ser preservado em uma capsula do tempo, praticamente, intocada. A Figura 116, mostra possíveis dições que puderam acontecer no decorrer do tempo, levando em consideração a espessura das paredes externas que eram autoportantes. Figura 116 – Planta de adições históricas da casa em Ruína Fonte: Elaborado pelo autor com dados extraídos no local, 2021. 3.3.2 Edificação muito descaracterizada Neste tópico o alto grau de descaracterização se dará quando, os anexos que forem integrados a edificação original modificam o volume quanto a solidez que é proposta originalmente. – Casa da Família Solto Na época em que foi catalogada possuía um alto grau de preservação (Figuras 117 e 118), porém, estava com data marcada para a demolição da edificação que seria bem próxima. Atualmente (Figura 119), o lote da 137 residência se encontra em obras, com um novo empreendimento no local, de uso misto com dois pavimentos, fazendo assim ser considerada uma edificação com muita descaracterização. Figura 117 – Fachadas 1 e 2 direcionadas a rua da casa da Família Solto Fonte: Arquivo pessoal, 2021. Figura 118 – Fachada oposta a 2 da casa da Família Solto Fonte: Arquivo pessoal, 2021. Figura 119 – Atualização das fachadas 1 e 2 da edificação da casa da Família Solto Fonte: Arquivo pessoal, 2022. 138 Durante o processo de catalogação do trabalho ela possuía somente duas adições feitas, uma mais recenteque contempla a área do banheiro externo, marcado pelo desnível no pavimento, mostrada em vermelho na Figura 120, e a área da cozinha em laranja. Figura 120 – Planta de adições históricas da casa da Família Solto Fonte: Elaborado pelo autor com dados extraídos no local, 2021. – Casa da Família Pertel A edificação na data em que foi catalogada possuía adições feitas ao longo do tempo, como toda a área da varanda externa, que contempla o depósito (Figura 123) e constava com uma obra inacabada na área do terraço (Figuras 121 e 122). 139 Figura 121 – Fachada principal da casa da Família Pertel Fonte: Arquivo pessoal, 2021. Figura 122 – Fachada esquerda e direita da casa da Família Pertel Fonte: Arquivo pessoal, 2021. 140 Figura 123 – Planta de adições históricas – Térreo/Terraço da casa da Família Pertel Fonte: Elaborado pelo autor com dados extraídos no local, 2021. Atualmente a residência conta com a área do terraço se configurando como uma nova residência e um anexo à lateral esquerda com escada independente para o pavimento superior (Figura 124). Figura 124 – Comparação de fachada no dia da catalogação X atualmente Fonte: Arquivo pessoal, 2021 e 2022. 141 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS Desde quando o ser humano decidiu se fixar a um terreno para sobreviver criou-se uma profunda relação entre a habitação, o habitante e o local escolhido. Uma manifestação cultural comum em diversas culturas, de prover um refúgio a acontecimentos externos. O local de residência está repleto de memórias, experiências e relatos do processo de ocupação, onde a distribuição das atividades cotidianas no espaço é capaz de atender toda uma população. Isto posto, este trabalho buscou apresentar acontecimentos marcantes que afetaram a arquitetura do povoado de São Gabriel de Baunilha no município de Colatina/ES. Ao todo foram cadastradas quatro construções, tomando por base a melhor amostragem histórica possível A casa da família Solto, foi a primeira catalogada pelo seu caráter emergencial, pois foi demolida duas semanas após a sua catalogação, estava em bom estado de preservação, apesar de necessitar de reforço em sua fundação. O imóvel contemplava a parcela de edificações de uso misto, moradia e comércio, além de ser a única com fundação e pilares 100% em madeira existente nesta região. A casa da família Baptista, segunda na ordem de catalogação, se mostrou a mais bem preservada. Em seguida, a casa da família Pertel, mostrou a adaptação de uma construção tradicional, através da inserção de novos elementos e materiais industrializados. Por fim, a ‘casa em ruína’, se mostrou como exemplo do descaso com o patrimônio rural. Neste trabalho foi realizado uma extensa pesquisa bibliográfica no que se refere a história do estado do Espírito Santo, começando no período da colonização imigrante e seus desafios de estabelecimento na terra, passando pelos períodos da arquitetura rural residencial e os acontecimentos que levaram a ser da maneira que foi até o estado atual 142 encontrado das construções catalogadas. Construções estas que foram escolhidas para mostrar os diversos estados que se pode encontrar atualmente edificações históricas que são dignas de preservação. Atualmente, muitas edificações esquecem o contexto local a qual está inserido e reproduz uma tipologia ‘importada da cidade’, que muitas vezes não conversa com o entorno em que foi inserida. Esse fato acarreta a destruição e menosprezo por um passado único, causando consequências irreparáveis no futuro tanto das cidades quanto nos interiores., Estudar o passado arquitetônico e histórico de nossa sociedade ajuda a projetar futuras edificações e cuidar das existentes com respeito pela memória do lugar assim, o presente trabalho mostra sua relevância no contexto da preservação da cultura local, além de fornecer dados históricos e técnicos para a preservação das edificações catalogadas e das semelhantes que existem no distrito. Dessa forma, esse trabalho visa contribuir com um acervo que pretende documentar o patrimônio cultural de uma localidade que não possuía bibliografia alguma para que gerações futuras possam ter mais fonte de pesquisa e proporcionar uma nova perspectiva para os moradores desta localidade. 143 REFERÊNCIAS BRAGA, Olney. Colatina: ontem, hoje e sempre, no meu coração. 1. ed. Colatina: Gráfica Comercial, 2021. 462 p. ISBN 978-65-991770-2-6. 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Arquitetura Rural do Século XIX no Espírito Santo. 1. ed. Vitória ES: Aracruz Celulose/Fundação Jônice Tristão/Rede Gazeta/Xerox do Brasil, 1989. 239 p. v. único. CDU 72.02:981.52. MUNIZ, Maria Izabel Perini. Cultura e Arquitetura: a casa rural do imigrante italiano no Espírito Santo. MARVILLA, Miguel (ed.). 2. ed. Vitória ES: Kroma Gráfica e Editora Ltda., 2009. 252 p. v. único. ISBN 978-85-88909-78-6. PEREIRA, Ana Aparecida. Patrimônio rural no Espírito Santo: Estudos para sua preservação. Orientador: Prof.ª Dr.ª Maria Ângela P.C.S. Bortolucci. 2012. 192 p. Tese (Doutorado) - Instituto de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, [S. l.], 2012. Disponível em: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/102/102132/tde-27092012- 144653/en.php. Acesso em: 29 jul. 2021. PEREIRA, Ana Aparecida Barbosa; FERREIRA, Darlene Ap. de O. Aspectos da estrutura fundiária e sua importância na arquitetura rural do sul do Espírito Santo. Revista de Geografia UFJF, [S. l.], v. 5, p. 157-167, 5 ago. 2021. Disponível em: https://periodicos.ufjf.br/index.php/geografia/article/view/18002. Acesso em: 19 jul. 2021. 144 PETRONE, Pasquale. Aspectos geográficos da área de colonização antiga do estado do Espírito Santo. São Paulo SP: Associação dos Geógrafos Brasileiros; USP, 1962. 109 p. v. único. POSENATO, Júlio. Arquitetura da Imigração Italiana no Espírito Santo. único. ed. Posenato Arte & Cultura: Evangraf LTDA, 1997. 560 p. v. único. ISBN 85-241-0484-8. REVISTA NOSSA ESPECIAL: Conheça a história viva dos distritos de Colatina. Colatina ES: Revista Nossa, 1986- . Mensal. SILVEIRA, Aline Vargas. Os casarões de Ibatiba: um encontro com a arquitetura rural capixaba. Projeto de graduação, arquitetura e urbanismo, Centro de Artes, Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória. 2009. TEIXEIRA, Fausto. COLATINA ONTEM E HOJE. [S. l.: s. n.], 1970. WEIMER, Günter. Inter-relações arquitetônicas Brasil-África. In: Artigos, Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul. 2008. Disponível em: https://www.ihgrgs.org.br/artigos/membros/G%C3%BCnter%20Weimer%20- %20Inter-rela%C3%A7oes%20Arquitetonicas%20Brasil-Africa.pdf 145 APÊNDICE APÊNDICE A – FICHA CADASTRAL A ficha catalográfica a seguir, baseou-se estritamente no livro “Arquitetura Rural do Século XIX no Espírito Santo”, de Izabel Perini Muniz. Apêndice A.0 – Vazio FICHA CADASTRAL – CASA 00 (nome da residência)FICHA: 00/00 INFORMAÇÕES GERAIS Endereço e ponto de referência: Coordenadas: Proprietário atual: Histórico da Edificação: Descrição do entorno: (falar como é a rua – pavimentação; largura - como são as edificações vizinhas, o traçado viário, os visuais, a localização em relação a comunidade ...) Implantação: (como é a implantação em relação ao lote, os afastamentos, a disposição da edificação, os volumes, se tem quintal, pátio, altura em relação a rua, como é feito o acesso...) (desejável inserir um esboço as dimensões aproximadas do lote e a implantação da edificação) 146 (se tem jardim, descrever) Tipologia: ( ) Residencial ( ) Comercial ( ) Institucional ( ) Outros Observação: Número de pavimentos: Está em uso: ( ) sim ( ) não Banheiro tipologia original: ( ) dentro ( ) fora da edificação Obs: Banheiro atualmente: ( ) dentro ( ) fora da edificação Obs: CONDIÇÕES FÍSICAS Paredes exteriores (fotos) Materiais principais: Descrição do estado atual/danos: Outras observações: Cobertura (fotos) Materiais principais: 147 Descrição do estado atual/danos: Outras observações: Esquadrias (fotos) Materiais principais: Descrição do estado atual/danos: Outras observações: Divisórias internas (fotos) Materiais principais: Descrição do estado atual/danos: Outras observações: Piso (fotos) Materiais principais: Descrição do estado atual/danos: Outras observações: 148 Descritivos dos cômodos/compartimentação da edificação Demolições ou acréscimos na edificação original (fotos) Materiais principais: Outras observações: Análise formal PLANTA BAIXA – ESBOÇO LEVANTATAMENTO FOTOGRÁFICO Fachada 1 Fachada 2 Fachada 3 149 Fachada 4 Interior Levantamento Iconográfico Outras informações: 150 Apêndice A.1 – Casa da Família Solto FICHA CADASTRAL – CASA 01 FAMÍLIA SOLTO FICHA: 01/04 INFORMAÇÕES GERAIS Endereço e ponto de referência: Bairro: São Gabriel de Baunilha, Colatina ES Ao lado da venda do Aloir Comério e perto do campo de bola de massa. Coordenadas: Lat.: 19°37’2.29” S Long.: 40°30’7.96” O Proprietário atual: Aloízio Ângelo Comério Histórico da Edificação: Edificação de uso misto, com aproximadamente 100 anos, em que os moradores mais antigos não conseguiram identificar sua data de construção exata. Descrição do entorno: As ruas possuem pavimentação por bloquete sextavado de concreto, com uma largura estreita. As edificações ao lado direito e nos fundos do lote são em sua maioria residenciais, a esquerda há um comercio e um campo de bocha a frente. O lote da edificação se encontra no centro de comercio da localidade. Implantação: 151 A edificação foi implantada no canto esquerdo superior ao lote, bem próximo a curva, os afastamentos possuem até 1 m de distância da edificação, quando virados a fachada oeste, já na fachada principal norte o afastamento abriga uma garagem e volta a ser extremamente estreito. A edificação é comporta por 2 volumes, o da construção principal em L e o do banheiro externo, possui quintal lateral onde a porta que tranca toda a edificação é virada, porém o acesso principal de visitas é virado para a rua da fachada oeste que tem o mesmo nível da rua. O quintal não possui jardim, pois é todo coberto por grama, mas a fachada norte conta com 3 pinheiros plantados no recuo da rua, na parte estreita. 152 Tipologia: (X) Residencial (X) Comercial ( ) Institucional ( ) Outros Observação: Edificação de uso misto Número de pavimentos: 1 Está em uso: ( ) sim (X) não Banheiro tipologia original: ( ) dentro ( X ) fora da edificação Obs: Demolido para a construção de outro Banheiro atualmente: ( ) dentro ( X ) fora da edificação Obs: Com mudança total em sua estrutura CONDIÇÕES FÍSICAS Paredes exteriores 153 Materiais principais: Fechamento em tijolinho maciço e alvenaria de barro. Descrição do estado atual/danos: na data da catalogação precisava de reforço estrutural na área dita como “comércio”. Outras observações: Foto retirada durante a demolição da edificação. Cobertura 154 Materiais principais: Telha cerâmica e estrutura de madeira Descrição do estado atual/danos: Precisava de uma reforma, telhas muito antigas que estavam se desfazendo. Outras observações: A residência foi demolida um tempo depois da catalogação. Esquadrias Materiais principais: Madeira Descrição do estado atual/danos: Em ótimo estado de preservação. Outras observações: A residência foi demolida um tempo depois da catalogação. Divisórias internas 155 Materiais principais: Fechamento em tijolinho maciço e alvenaria de barro. Descrição do estado atual/danos: na data da catalogação precisava de reforço estrutural na área dita como “comércio”. Outras observações: Foto retirada durante a demolição da edificação. Piso 156 Materiais principais: Tábuas de madeira Descrição do estado atual/danos: Piso em bom estado de preservação Outras observações: A residência foi demolida um tempo depois da catalogação Descritivos dos cômodos/compartimentação da edificação 157 Demolições ou acréscimos na edificação original Materiais principais: Em amarelo foi a mais antiga já feita, com os mesmos materiais da edificação original, vigas e piso em madeira, fechamento de tijolo com fiada simples. 158 Em laranja foi feita posteriormente, porém na mesma época. E em vermelho, a mais atual, a reconstrução do banheiro externo em tijolo cerâmico com alvenaria de cimento. Outras observações: A residência foi demolida um tempo depois da catalogação Análise formal PLANTA BAIXA – ESBOÇO LEVANTATAMENTO FOTOGRÁFICO Fachada 1 159 Fachada 2 Fachada 3 160 Fachada 4 Não possui imagem Interior Cozinha Salão do comércio Sala do meio Quartos 161 Levantamento Iconográfico Outras informações: 162 Apêndice A.2 – Casa da Família Baptista FICHA CADASTRAL – CASA 02 FAMÍLIA BAPTISTA FICHA: 02/04 INFORMAÇÕES GERAIS Endereço e ponto de referência: Bairro: São Gabriel de Baunilha, Colatina ES Entrando na rua da igreja de São João Batista Coordenadas: Lat.: 19°36’55.09” S Long.: 40°29’59.66” O Proprietário atual: Páscoa Baptista Histórico da Edificação: Esta residência foi construída em 1939 por Gentil Rui, um construtor que residia em Acioli para a família de Roberto Baptista, pai da atual residente, Páscoa Baptista. A construção teve algumas modificações realizadas no decorrer dos anos, porém sem interferir no caráter histórico, pois a atual proprietária faz questão da preservação. Histórico da Edificação: Esta residência foi construída em 1939 por Gentil Rui, um construtor que residia em Acioli para a família de Roberto Baptista, pai da atual residente, Páscoa Baptista. A construção teve algumas modificações realizadas no decorrer dos anos, porém sem interferir no caráter histórico, pois a atual proprietária faz questão da preservação. 163 Descrição do entorno: A estrada que dá acesso a edificação é de terra batida, sem nenhum tipo de pavimentação, tem uma estreita largura, porém com áreas de escape para a passagem de mais de um veículo. A edificação mais próxima é a Igreja de São João Batista, localizada no terreno da propriedade. A residência possui vista aos fundos para a pedreira Marbrasa, a fachada oeste para a Igreja e as demais para pastagem e os jardins próximos da construção. Possuindo um raio aproximado de 180 m de distância da área de maior povoamento de São Gabriel de Baunilha. A construção se encontra próximo da estrada, tendo a fachada principal virada a mesma e centralizada na delimitação da área do quintal, com isso o afastamento e o quintal se mesclam formandoum só, tendo aproximadamente 3 metros de comprimento na fachada principal sul, oeste e leste. 164 A edificação principal conta com três volumes, sendo o maior a área privada dos quartos com as salas, o do meio a copa, cozinha e varanda e o menor de todos, a área de serviço com o banheiro externo, não possuindo pátio, pois era algo reservado a casa dos meeiros. O acesso de visitas era feito pela sala de estar frontal, localizada mais próximo a rua e outros dois acessos mais cotidianos pelos fundos. Rua Jardim simples composto por grama, arvores arbustivas de frutos e flores. Tipologia: (X) Residencial ( ) Comercial ( ) Institucional ( ) Outros Observação: Número de pavimentos: Está em uso: (X) sim ( ) não 165 Banheiro tipologia original: (X) dentro ( ) fora da edificação Obs: Banheiro atualmente: (X) dentro (X) fora da edificação Obs: CONDIÇÕES FÍSICAS Paredes exteriores Materiais principais: Fechamento em tijolo maciço dobrado com argamassa de barro. Descrição do estado atual/danos: Em bom estado de preservação, visando que está construído ao lado de uma pedreira. Outras observações: área sísmica de pedreiras. 166 Cobertura Materiais principais: Telha cerâmica em estrutura de madeira Descrição do estado atual/danos: em bom estado de preservação, visando que está construído ao lado de uma pedreira. Outras observações: área sísmica de pedreiras. Esquadrias 167 Materiais principais: Madeira e vidro Descrição do estado atual/danos: em ótimo estado de preservação Outras observações: área sísmica de pedreiras. Divisórias internas Materiais principais: Fechamento em tijolo maciço e fiada única com argamassa de barro. Descrição do estado atual/danos: Em bom estado de preservação, visando que está construído ao lado de uma pedreira. Outras observações: área sísmica de pedreiras. Piso 168 Materiais principais: nos quartos a utilização do piso de madeira e no restante da casa o revestimento cerâmico se destaca. Descrição do estado atual/danos: em ótimo estado de preservação. Outras observações: Descritivos dos cômodos/compartimentação da edificação 169 Demolições ou acréscimos na edificação original Materiais principais: Alvenaria de tijolo e cimento Outras observações: o piso do quarto ao lado do banheiro foi atualizado pois o anterior estava com fissuras que subiam poeira da fundação. Análise formal PLANTA BAIXA – ESBOÇO 170 LEVANTATAMENTO FOTOGRÁFICO Fachada 1 Fachada 2 – Esquerda 171 Fachada 3 – Direita Fachada 4 172 Interior Varanda Sala de estar/Jantar e o corredor 173 Sala da Frente Quarto medianos Quarto menor 174 Quarto do casal Levantamento Iconográfico 175 Outras informações: 176 Apêndice A.3 – Casa da Família Pertel FICHA CADASTRAL – CASA 03 FAMÍLIA PERTEL FICHA: 03/04 INFORMAÇÕES GERAIS Endereço e ponto de referência: Bairro: São Gabriel de Baunilha, Colatina ES Coordenadas: Lat.: 19°37’2.66” S Long.: 40°30’9.00” O Proprietário atual: Neidemar Lopes Leite Pertel Histórico da Edificação: Construída entre 92 e 97 por Jonas Pertel para a moradia da família de Neidemar Lopes Leite Pertel, sendo assim os únicos moradores desta residência. A construção teve algumas modificações realizadas no decorrer dos anos a mais expressiva recentemente feita pela filha, na área em que ficava o terraço, foi a obra de sua casa em que as mudanças ficaram mais evidentes, porém previstas na faze de concepção pela proprietária. Descrição do entorno: 177 As ruas possuem pavimentação por bloquete sextavado de concreto, com uma largura estreita. A maior parte das edificações que fazem fronteira são de função residencial, porém na fachada norte, também conhecida como lateral direita é um bar/mercearia do Aloir Comério e ao sul um local de festas. O lote da edificação se encontra no centro de comercio da localidade. Implantação: A edificação foi posicionada bem ao centro do lote, mantem um afastamento frontal nulo e sem calçada. O volume principal se destaca ao centro, pela casa e outro menor, sendo a área de churrasco a direita da edificação com o quintal/pátio a frente. O acesso ao lote é feito por um portão localizado a extrema direita em relação a casa e o da residência é feito pela lateral direita e aos fundos. 178 O jardim se encontra a frente da edificação, dispondo vasos de plantas e estatuetas de gesso. Tipologia: (X) Residencial ( ) Comercial ( ) Institucional ( ) Outros Observação: Número de pavimentos: Está em uso: (X) sim ( ) não Banheiro tipologia original: (X) dentro ( ) fora da edificação Obs: 179 Banheiro atualmente: (X) dentro ( ) fora da edificação Obs: CONDIÇÕES FÍSICAS Paredes exteriores Materiais principais: Alvenaria de tijolo e cimento Descrição do estado atual/danos: Em bom estado de preservação Outras observações: área sísmica de pedreiras. Cobertura 180 Materiais principais: Telhado da casa é em telha fibrocimento e da varanda cerâmica. Descrição do estado atual/danos: em bom estado de preservação. Outras observações: Esquadrias Materiais principais: Metal e vidro Descrição do estado atual/danos: em ótimo estado de preservação. Outras observações: Divisórias internas 181 Materiais principais: Alvenaria de tijolo e cimento Descrição do estado atual/danos: Em bom estado de preservação Outras observações: área sísmica de pedreiras. Piso Materiais principais: tanto na área externa quanto interna o piso é de porcelanato. Descrição do estado atual/danos: em bom estado de preservação. Outras observações: Descritivos dos cômodos/compartimentação da edificação 182 Demolições ou acréscimos na edificação original Térreo 1 pavimento Materiais principais: Alvenaria de tijolo e cimento. Outras observações: 183 Análise formal PLANTA BAIXA – ESBOÇO LEVANTATAMENTO FOTOGRÁFICO Fachada 1 Fachada 2 184 Fachada 3 Fachada 4 Não deu acesso para tirar a foto desta fachada. Interior 185 Quarto do casal Quarto da filha Levantamento Iconográfico Outras informações: 186 Apêndice A.4 – Casa em ruínas FICHA CADASTRAL – CASA 04 EM RUÍNAS FICHA: 04/04 INFORMAÇÕES GERAIS Endereço e ponto de referência: Bairro: Alto São Gabriel, Colatina ES Coordenadas: Lat.: 19°38’15.80” S Long.: 40°31’15.95” O Proprietário atual: Histórico da Edificação: Foi construída no local onde existia outra edificação, sendo está possuindo dois pavimentos com estrutura de madeira e comercio no térreo, com a derrubada, o avô por parte de pai de Geraldo Cezano construiu esta edificação para meeiros morar. Perto da residência existia um torrefador de café movido a roda d’água que movimentava um certo comercio nesta região. Com a venda do terreno ao atual proprietário a edificação foi abandonada, e desde então foi esquecida no tempo e o piso foi parcialmente retirado para outras construções. 187 Descrição do entorno: A estrada que dá acesso a edificação é de terra batida, sem nenhum tipo de pavimentação, tem uma estreita largura, porém com áreas de escape para a passagem de mais de um veículo. A edificação mais próxima é a Capela de Santa Luzia e está em um raio de aproximadamente 450 m de distância. A residência possui vistas para as montanhas no entorno e um raio aproximado de 2,75 Km de distância do povoado de São Gabriel de Baunilha que é o único com comercio pelas proximidades. Implantação: 188 A edificação se encontra próximo a estrada, tendo a fachada principal virada a mesma e se localiza no canto direito superior do local demarcado por cercas, onde o afastamento se mescla com o quintal frontal.A residência é composta por dois volumes anexados elevados em relação a rua por uma fundação, o maior contempla os quartos e salas, e o menor cozinha e deposito, possuindo um quintal em sua fachada frontal e um pátio nos fundos. O acesso era feito pela fachada frontal e dividido em duas entradas, uma pela sala e outra na parte da cozinha. 189 O ‘jardim’ é resumido por pastagem e uma sequência de arvores na fachada norte. Tipologia: (X) Residencial ( ) Comercial ( ) Institucional ( ) Outros Observação: Número de pavimentos: Está em uso: ( ) sim (X) não Banheiro tipologia original: ( ) dentro (X) fora da edificação Obs: Banheiro atualmente: ( ) dentro ( ) fora da edificação Obs: Não possui banheiro. CONDIÇÕES FÍSICAS Paredes exteriores 190 Materiais principais: Alvenaria de tijolo maciço dobrado com barro. Descrição do estado atual/danos: em péssimo estado de conservação. Outras observações: Cobertura 191 Materiais principais: Telha cerâmica com estrutura em madeira Descrição do estado atual/danos: em ruim estado de conservação. Outras observações: Esquadrias 192 Materiais principais: Madeira Descrição do estado atual/danos: em péssimo estado de preservação Outras observações: Divisórias internas Materiais principais: Alvenaria de tijolo maciço em uma fiada com acabamento em barro. Descrição do estado atual/danos: em péssimo estado de conservação. Outras observações: Piso 193 Materiais principais: Madeira Descrição do estado atual/danos: está em péssimo estado de preservação os poucos vãos de passagem que possui, já que a maioria foi retirado da construção. Outras observações: Descritivos dos cômodos/compartimentação da edificação 194 Demolições ou acréscimos na edificação original Os pisos de madeira retirado de quase toda a casa. Em amarelo, destaca-se um possível acréscimo feito poucos anos após a construção principal Materiais principais: Madeira e tijolos maciços Outras observações: Análise formal 195 PLANTA BAIXA - ESBOÇO LEVANTATAMENTO FOTOGRÁFICO Fachada 1 Fachada 2 196 Fachada 3 Fachada 4 197 Interior Salas de estar e jantar 198 Quartos em ordem de planta Cozinha 199 Levantamento Iconográfico Outras informações: 200 APÊNDICE B – ENTREVISTA – PESSOA QUE MAIS TEMPO MOROU NA EDIFICAÇÃO Apêndice B.0 – Vazio ENTREVISTA – DONO DE EDIFICAÇÃO FICHA: 00/00 INFORMAÇÕES GERAIS Nome completo: Data de nascimento: Tempo de moradia no distrito: Tempo de moradia na residência: Quantas pessoas moram: Parentesco com o construtor: Termo de consentimento: ( ) assinado Perguntas: - Quando a edificação foi construída? - Possuía outro morador anteriormente? - Quem construiu a edificação? - Como era a casa funcionava e onde fica os principais cômodos, como quartos, cozinha e banheiro por exemplo? - Como a colonização italiana e o incentivo da cafeicultura influenciaram o desenvolvimento do distrito? - Como a crise do café influenciou a região? 201 Apêndice B.1 – Dona Maria ENTREVISTA – DONO DE EDIFICAÇÃO FICHA: 01/04 INFORMAÇÕES GERAIS Nome completo: Data de nascimento: Tempo de moradia no distrito: Tempo de moradia na residência: Quantas pessoas moram: Parentesco com o construtor: Nenhum Termo de consentimento: ( ) assinado Perguntas: - Quando a edificação foi construída? Não tenho noção de quem construiu, a casa foi doada para eles quando os patrões entraram em falência, na época do Fernando Color com o congelamento da poupança, e como não tinham dinheiro para pagar a eles a casa foi dada como forma de pagar o trabalho. - Possuía outro morador anteriormente? A casa antes era da Dona Rosinha que era parteira e foi até a minha. - Quem construiu a edificação? Não sei - Como era a casa funcionava e onde fica os principais cômodos, como 202 quartos, cozinha e banheiro por exemplo? O banheiro ficava do lado de fora da casa, os quartos eram do lado da sala e a sala grande (cômodo para comércio) ninguém usava. Tinha a sala, a sala do meio, a cozinha e tinha os quartos para lá. Nos usava somente a parte da casa, não tinha mais a venda nem nada - Como a colonização italiana e o incentivo da cafeicultura influenciaram o desenvolvimento do distrito? - Como a crise do café influenciou a região? Teve gente que foi embora, mas nós não abandonamos não. Eu e meu marido, nós trabalhar a meia para os Batista é nós trabalhamos para ele toda a vida, depois meu marido trabalhou com Clarino e era vaqueiro dele, tirava leite. Depois eu vim para acompanhar meu marido na “pega” do café 203 Apêndice B.2 - Páscoa ENTREVISTA – DONO DE EDIFICAÇÃO FICHA: 02/04 INFORMAÇÕES GERAIS Nome completo: Páscoa Baptista Data de nascimento: Tempo de moradia no distrito: a vida toda Tempo de moradia na residência: Quantas pessoas moram: Parentesco com o construtor: Termo de consentimento: ( ) assinado Perguntas: - Quando a edificação foi construída? Ela foi construída no ano de 1939. - Possuía outro morador anteriormente? Não, foi construída para gente. - Quem construiu a edificação? O construtor foi o Gentil Rui que morava em Acioli. - Como era a casa funcionava e onde fica os principais cômodos, como quartos, cozinha e banheiro por exemplo? Mostrou na apresentação da casa esta resposta. - Como a colonização italiana e o incentivo da cafeicultura influenciaram o 204 desenvolvimento do distrito? Tinha muita família morando nesta região. Quando o café tinha valor todo mundo se dedicava, mas depois veio aquela foi a baixa do café, então pessoal a maioria dos moradores aqui se foram para Colatina venderam a certo foram para Colatina e dizer que venderam a outros proprietários que já tinham terreno por isso que ficaram assim é proprietários bem fortes aqui nessa comunidade. - Como a crise do café influenciou a região? Respondeu anteriormente. 205 Apêndice B.3 – Neide ENTREVISTA – DONO DE EDIFICAÇÃO FICHA: 03/04 INFORMAÇÕES GERAIS Nome completo: Neidemar Lopes Leite Pertel Data de nascimento: Tempo de moradia no distrito: 30 Tempo de moradia na residência: 25 anos e ainda residindo Quantas pessoas moram: 3 Parentesco com o construtor: Somente por parte do marido Termo de consentimento: ( ) assinado Perguntas: - Quando a edificação foi construída? Eu me casei em 96 e começamos a construir em 92 e terminamos 5 anos depois em 97. - Possuía outro morador anteriormente? Não, aqui é primeiro morador. - Quem construiu a edificação? Jonas Pertel, é a primeira casa que ele fez de laje tambem. - Como era a casa funcionava e onde fica os principais cômodos, como 206 quartos, cozinha e banheiro por exemplo? A sala fica do lado direito e os quartos do esquerdo. - Como a colonização italiana e o incentivo da cafeicultura influenciaram o desenvolvimento do distrito? Eu quando eu cheguei para cá, já que eu não sou daqui, sou de Colatina e trabalhava no comércio, aí eu vi isso aqui tinha muita produção de café, como a gente vê não é café do Dera, da Marly, aí até eu comecei foi uns grãozinhos, aí e fiquei alegre assim porque eu nunca te peço café na minha vida aí fui as minhas colegas lá de Colatina nem acreditar, mas foi bom, o crescimento aqui foi para ter vida sua lavoura de café, depois veio a Marbrasa, quando eu casei nem sabia que tinha essa empresa. - Como a crise do café influenciou a região? Quando eu vim morar aqui já tinha um pessoal daqui mesmo, pouca gente, só os moradores antigos daqui e tinha um campo de futebol. O pessoal era muito animado, aqui já tinha duas vendinhas, tinha campo de futebol, era muito animado e poucas pessoas que morava aqui, aí depois foi crescendo já que foi abrindo mais empresas. Por um tempo teve 3vendinhas: a do Seu Jair, do Alves e do Zé Vander, mais para baixo, onde é hoje a casa da Bernadete. 207 Apêndice B.4 – Geraldo Cezano ENTREVISTA – DONO DE EDIFICAÇÃO FICHA: 04/04 INFORMAÇÕES GERAIS Nome completo: Data de nascimento: Tempo de moradia no distrito: Tempo de moradia na residência: Quantas pessoas moram: Parentesco com o construtor: Nenhum Termo de consentimento: ( X ) assinado Perguntas: - Quando a edificação foi construída? Não tenho muita noção. Eu nasci em 1954 só que não mais ali. - Possuía outro morador anteriormente? Antes dessa casa, existia outra no lugar que possuía dois andares e o comércio era no térreo e depois foi feita aquela casa ali Meu pai era casado com a filha do dono da Igrejinha de Santa Luzia, meu pai é Cezano só que minha mãe era Pertel. - Quem construiu a edificação? Acredito que foi construído pelo meu avô, pai do meu pai. - Como era a casa funcionava e onde fica os principais cômodos, como 208 quartos, cozinha e banheiro por exemplo? Perto da casa ficava uma máquina de torrar café e o comércio era constante, talvez meu irmão Ailton se lembre mais daquela casa. Nesta casa (casa ao lado da igreja de Santa Luzia) teve telegrafo e o primeiro telefone, em 1950. Ele ficava na parede da casa do meu avô, tinha que ligar para a telefonista e depois ela ligava de novo, ele preto com um gancho. - Como a colonização italiana e o incentivo da cafeicultura influenciaram o desenvolvimento do distrito? - Como a crise do café influenciou a região? Os antigos contavam, mas eu não lembro direito as histórias. Pergunta adicionada a entrevista por ser descendente direto dos donos da Capela de Santa Luzia. - A capela de Santa Luzia foi construída para qual finalidade? O vovô fez para pagar uma promessa que fez para um Tio da gente, ele tinha problema de vista, aí depois de construída meu tio ficou bom. Esse tio era Pertel. 209 APÊNDICE C – ENTREVISTA – MORADORES ANTIGOS Apêndice C.0 – Vazia ENTREVISTA – MORADORES ANTIGOS FICHA: 00/00 INFORMAÇÕES GERAIS Nome completo: Data de nascimento: Tempo de moradia no distrito: Tempo de moradia na residência: Quantas pessoas moram: Parentesco com o construtor: Termo de consentimento: ( ) assinado Perguntas: - Quais histórias possui com as igrejas do povoado? - Quais histórias possui com as escolas que funcionavam do povoado? - Quais são as casas mais antigas do povoado? - A capela de Santa Luzia foi construída para qual finalidade? - Lembra-se das divisões de terras que existiam quando mais novo? - Por onde passava a maria fumaça? - Qual edificação possui mais afinidade? Justifique. - Como era o funcionamento das escolas rurais? - As igrejas sofreram alguma reforma que mudou alguma coisa? - Como a colonização italiana e o incentivo da cafeicultura influenciaram o distrito? - Como a crise do café influenciou a região? 210 211 Apêndice C.1 – Dona Maria ENTREVISTA – MORADORES ANTIGOS FICHA: 01/06 INFORMAÇÕES GERAIS Nome completo: Data de nascimento: Tempo de moradia no distrito: desde que se casou, quando nova, até ficar viúva recentemente Termo de consentimento: ( ) assinado Perguntas: - Quais histórias possui com as igrejas do povoado? Nenhuma - Quais histórias possui com as escolas que funcionavam do povoado? Nunca eu fui à escola, tinha uma que era longe aí meu pai não me botou pra estudar, botou foi na roça. - Quais são as casas mais antigas do povoado? Casa do Batista ali da Páscoa, aqui eu morei, casa de escola, casa de escola da vala (Alto São Gabriel), a casa que era morava Dona “Tuninha” morava, que morava perto e a venda do Jair - A capela de Santa Luzia foi construída para qual finalidade? Não sabe 212 - Lembra-se das divisões de terras que existiam quando mais novo? Não lembro ao certo. Os Baptista moravam bem perto de onde eu morava - Por onde passava a maria fumaça? A máquina a lembro, passava perto de onde eu morava, tinha um túnel lá fora e fazia muito barulho. - Qual edificação possui mais afinidade? Justifique. Não respondeu - Como era o funcionamento das escolas rurais? Não soube responder - As igrejas sofreram alguma reforma que mudou alguma coisa? Mudou bem, era uma igrejinha, depois acabou e fizeram outra. - Como a colonização italiana e o incentivo da cafeicultura influenciaram o distrito? Quando eu cheguei tinha pouca gente morando ali, agora não, agora encheu de casa, virou até um patrimônio. - Como a crise do café influenciou a região? Teve gente que desistiu de ter café, nós fomos um que entregamos todo o café, porque o café era barato, agora está num preço bom né. 213 Apêndice C.2 – Páscoa ENTREVISTA – MORADORES ANTIGOS FICHA: 02/06 INFORMAÇÕES GERAIS Nome completo: Páscoa Baptista Data de nascimento: Tempo de moradia no distrito: A vida toda Termo de consentimento: ( ) assinado Perguntas: Entrevista realizada em sua residência. - Quais histórias possui com as igrejas do povoado? A igreja foi construída no terreno da minha família no ano de 1926, por várias pessoas e meu pai também fazia parte. Então eles diziam que já tinha tirado 7000 reais e precisava para construção precisar 12000, e eles queriam escolher a casa a casa que hoje fica ficava perto da casa Elzinha para lá, queria fazer a igreja ali, já que o terreno era da prefeitura. Então o papai falou “ó se vocês fizerem no meu terreno eu ajudo e completo com o valor” então fizeram um terreno aqui do papai o Roberto Batista. - Quais histórias possui com as escolas que funcionavam do povoado? As escolas eram muito unidas, principalmente Auto São Gabriel e São Gabriel por causa da ajuda da Matilde e nós éramos muito unidas, mesmo assim, com as outros professores, nós sempre tínhamos reunião em Baunilha com a orientadora. A gente funcionava bem, apesar de muita pobreza, já que as crianças iam para a escola descalço, principalmente no meu tempo, eles não tinham caderno, eu tinha que arranjar papel de caderno todo, eu fazia o que 214 eu podia fazer por eles né, mas graças a Deus e as escolas funcionavam. Na época que eu peguei 4 séries na classe, numa mesa na sala da classe, depois a escola foi desdobrada bem mais depois dos professores, e quando eu aposentei ficou uma, e logo depois as escolas todas do distrito passaram para a escola Luiza Crema que é em baunilha. Não é a eu acho, assim, que não foi bom, muitas pessoas acham que realmente não foi bom, porque as crianças elas se não viveram aqui na comunidade sabe, elas perderam a identidade, a vida delas é maior ficar em ônibus para chegar na escola, vai muito cedo, dizem que elas brigam, perdem muito tempo deslocando, apesar de que a escola é muito boa sim. - Quais são as casas mais antigas do povoado? A casa do “Nito”, que era muito antiga, a casa dos Vidal, da Neusa, muitas casas aí que eram antigas, a do Pedro Sigrini, ficaram muito poucas, quase nenhuma. - A capela de Santa Luzia foi construída para qual finalidade? Segundo que eu ouvia falar é que seu primo Peter tinha um filho que não enxergava, e a mulher dele fez promessa de fazer uma promessa a Santa Luzia de fazer uma Capelinha ali e então ele fez - Lembra-se das divisões de terras que existiam quando mais novo? Dessa parte de cá do morro era tudo nosso, para lá era da prefeitura, então foi o pessoal foi chegando comprando as casas né, então só sim eu lembro disso, que as pessoas foram morando ali, agora tem muitos moradores de fora, só primeiro era só pessoal daqui. Agora tem casas boas depois que a Pedreira chegou, pessoal passou a ter mais condições de comprar e de 215 construir. - Por onde passava a maria fumaça? Entrava no “Gim”, lá embaixo curral, perto da rotatória que entra para São Gabriel, tinha uma estação pequena que depois fizeram uma casa de madeira para o telegrafo, não existia estrada que temhoje, passava em frente da venda, da casa do João Luiz fazia a volta no morro saíam na abaixa ao lado do morro do desvio, um tempo depois passou a ter ônibus. A estação tinha que ser mais longe do povoado para poder pegar força para subir o morro, e quando não tinha força elas voltavam e até lá para baixo para voltar vim umas 3 vezes até que ele subiu. As crianças pegavam sebo é tudo que era de gordura boa tacava estrada só para ver o trem o escorregar, com isso meu pai ficou sendo amigo de muitos maquinistas, já que ele tinha comércio, eles paravam para apanhar cachaça e traziam peixe para nós. O comércio do meu pai ficava no lugar da escola que tem hoje, era uma casa grande e boa, onde a casa era no primeiro andar e a “Venda dos Irmãos Baptista” era no térreo. Vendia de tudo, chapéu, tecido de cetim, sapato de homem e mulher, bacalhau, chocolate, até que o papai vendeu. - Qual edificação possui mais afinidade? Justifique. Foi essa casa que eu cresci e vivi a vida toda aqui dentro está só saí para estudar, mas sabe eu amo a minha casa ela é muito linda, sei lá, não sei nem o que que eu vou fazer quando eu for embora daqui. O morro do cemitério começou, então quando logo que vieram para cá os primeiros nordestinos que vieram para cá porque por causa da seca, e a alegavam também, tinha uma mulher que vinha trabalhar aqui em casa que já era velhinha e falava eles saíram de lá também o medo de Lampião, a fúria 216 de Lampião afastou muita gente, porque ele era muito mal, ele chegava fazia o que ele queria ir tinha jeito, eles pegaram essa estrada de ferro para trabalhar e vieram se localizar aqui com barraquinha, é depois fizeram casa, outras pessoas foram embora depois foi mudando. - Como era o funcionamento das escolas rurais? As escolas rurais eram estaduais né e recebiam merenda no começo eram 1 professora não é que você falou depois passou a ser ter 2 é depois passou 3 depois é depois passou 2. Quando eu comecei um tinha mais de 60 na minha segunda, terceira e quarta Eu tinha 15 anos, então o que aconteceu comigo é que eu fui estudar, mas não gostava de ficar fora de casa de jeito nenhum, chorava queria vim embora, então um dia que eu estava na véspera de voltar pro colégio o papai viu perguntou “por que que está chorando” ai eu respondi “porque não quero estudar em Colatina não” pai fala “você não quer ir não então não vai Nina”, foi uma porta que abriu para mim, porque daí uns dias eu estava varrendo aí chegaram uns homens e chamaram papai para conversar, e depois da conversa deles, papai chegou perguntou “esses pais vieram ver se você quem ensinar os meninos a escrever já que não tem ninguém que ensina” eu falei “eu vou ensinar” Eu entrei com muito ânimo, com muita Alegria e sempre venci graças a Deus, na escola eu tive muita ajuda da Matilde Guerra Comério, está foi uma pessoa que me deu muito muita força eu tenho muito medo esquece dela um dia. Eu e a outra professora do Auto, Matilde Guerra, fazia o dia da Criança, tinha muita coisa gente brincadeiras e muitas muita peça para elas, no Dia do Índio, a gente saia com as crianças, eles já vinham indicados vestido de índio a 217 gente aí no Mato sabe, andava por aí para dizer como é que viviam os índios. Teve um professor particular o José Odorífico, ele formou a banda de música da barra do triunfo é ai depois, ele veio morar aqui e formou uma banda no alto São Gabriel, ele morava aqui mas a banda foi feita lá no Alto porque lá tinha mais gente que morava, só que acabou por causa da época do café que todo mundo foi embora. - As igrejas sofreram alguma reforma que mudou alguma coisa? Olha a igreja na época, é parece que os italianos se pareciam mais católicos, eles tinham mais responsabilidade na igreja, então naquela época eu acho que tinha mais as pessoas iam, agora foi mudando. Na arquitetura mudou nada não, só botou uma partezinha do lado de fora. - Como a colonização italiana e o incentivo da cafeicultura influenciaram o distrito? Resposta no B2 - Como a crise do café influenciou a região? Resposta no B2 218 Apêndice C.3 – Orlando Caetano ENTREVISTA – MORADORES ANTIGOS FICHA: 03/06 INFORMAÇÕES GERAIS Nome completo: Orlando Caetano Data de nascimento: 28/02/1932 Tempo de moradia no distrito: a vida toda Termo de consentimento: ( ) assinado Perguntas: - Quais histórias possui com as igrejas do povoado? Ela mudou muito, antigamente era todos os anos, tinha festa de São João que era a festa do padroeiro, São Francisco, se faziam várias festas durante o ano, é que depois acabou. Antigamente era festinha, com um leilãozinho pouco, todos os anos vinha banda de música da Barra do Triunfo. - Quais histórias possui com as escolas que funcionavam do povoado? Eu fui na escola como falei com você, estudei até o terceiro ano, hoje o estudo é diferente, hoje o estudo é tudo diferente, o menino do Luís uma vez veio para eu ensinar o dever e eu não consegui ensinar não. Antigamente era conta de somar, as contas eram mais básicas né. - Quais são as casas mais antigas do povoado? Antes da escolinha ser onde sua estrutura está ela era no terreno da igreja, antes dela existir, era uma casa de morada com dois quartos e tinha uma 219 salona grande, e era de madeira. - A capela de Santa Luzia foi construída para qual finalidade? Não soube responder - Lembra-se das divisões de terras que existiam quando mais novo? Nossa morava muita família por aqui, porque todo mundo trabalha na roça, desde meeiros trabalhava a dia com o pessoal do Baptista tinha uma porção de gente. A estrutura era de terreno de colônia, hoje não tem mais ninguém aqui que tem meeiro, para tocar o café a meia praticamente. - Por onde passava a maria fumaça? Passava na frente daqui e tinha uma parada ali onde é o “Betinho”, onde embarcava ali, porque ele tinha que pegar força para subir a Maria Fumaça. A caldeira era de água e lenha. - Qual edificação possui mais afinidade? Justifique. Antigamente tinha venda lá em cima que vai para cima no Alto um pouco antes, logo pertinho do Pedro Lima, ali tinha uma venda era do Juninho Campustrini ele tinha uma venda e hoje onde a “Tilinha” mora (antiga escola do “Patrimônio”) tinha uma venda grande que era do Baptista, em uma casa bem grande, tinha calçada em que subia uma escada com três degraus, e a venda era tudo de porta de vidro e mexiam com tecido, diferente de hoje que compra toda a roupa feita, antes mandava tudo costurar. A escola os meninos iam de bermudinha, e a mulher era de saia vermelha e blusa branca e o home de bermuda azul e blusa branca, e tinha a gravata azul na mesma cor da bermuda, que de acordo com o ano tinha as listras brancas 220 contando o número do ano que estava. As bolsas eu nos carregava era um bornal e as meninas era uma bolsinha de alça. - Como era o funcionamento das escolas rurais? Já estudei com a professora que era parente desse Batista, ela deu aula para mais de 50 alunos, era primeiro ano A, B e C, segundo ano, terceiro ano. A escola era pequena, antigamente era diferente, a professora fez uma mesona, aí mandou fazer uma bancada, os meninos se sentavam naquela mesa e ela dava aula para quase 40 alunos com todos os anos em uma sala só. Antigamente a escola era no lugar que hoje é a Igreja, a escola foi instalada numa casa que tinha lá, as professoras que vinham para dar aula que fosse solteira ficavam na casa do senhor Roberto Batista. Até onde eu me lembro era a professora Rosalina Costa Longa, Leopoldina Genodora, depois entrou a professora Emilia de Oliveira, depois entrou a parente do senhor Roberto, a Selita Nascimento, depois foi a Maria alguma coisa, depois dessa que a Páscoa entrou. Meus meninos estudaram tudo com a Páscoa Baptista. - As igrejas sofreram alguma reforma que mudou alguma coisa? Ela mudou muito, antigamente era todos os anos,tinha festa de São João que era a festa do padroeiro, São Francisco, se faziam várias festas durante o ano, é que depois acabou. Antigamente era festinha, com um leilãozinho pouco, todos os anos vinha banda de música da Barra do Triunfo. Não, a maior reforma que eles fizeram nesta igreja foi agora, antigamente nem tinha um banco pra se sentar na igreja também, depois vieram aqueles que era aquele banquinho depois dessa reforma. Na porta da igreja tinha um lugar que chamava “o couro” de subir lá em cima para ver a missa de vez em quando, hoje e os cantor que fica lá de cima. Ali 221 por cima da porta tinha uma escadinha e uma sobreloja fora a fora tinha uma escala e uma varandinha, então tanto pessoas via a missa lá de baixo como subir ficar lá em cima, e na época de festa o coro principal da igreja ficava na parte de cima, depois de um tempo desmancharam. - Como a colonização italiana e o incentivo da cafeicultura influenciaram o distrito? Como eu falei com você, tinha muito morador por aqui, por essa região. Era tudo dividido em colônia, e cada propriedade tinha 6 colônias, e cada propriedade poderia ter até 3 meeiros morando na terra com suas famílias, então eram muitos moradores, tanto que uma escolhida do Alto São Gabriel chegou a ter 65 alunos de uma vez só. - Como a crise do café influenciou a região? Aí passou a ter o êxodo rural porque o café passou a não valer nada, alguns proprietários queimaram os cafezais, porque o governo incentivou, os meeiros sem trabalho na roça foram para a cidade. 222 Apêndice C.4 – Pedro Lima ENTREVISTA – MORADORES ANTIGOS FICHA: 04/06 INFORMAÇÕES GERAIS Nome completo: Pedro Lima Data de nascimento: 1946 / 75 anos Tempo de moradia no distrito: a vida toda Termo de consentimento: ( ) assinado Perguntas: - Quais histórias possui com as igrejas do povoado? aqui fui batizado e tinha muita festa e não é igual hoje, antigamente se colocava (doava) alimentos na feira para vender. - Quais histórias possui com as escolas que funcionavam do povoado? Tinha muita gente, tinha classe do primeiro ano, segundo ano, terceiro, ano quarto ano. Só se estudava o era o básico. - Quais são as casas mais antigas do povoado? Tinha uma venda aqui, funcionava uma venda na parte da frente e a moradia a tras. Na escolinha ali, tinha uma venda - A capela de Santa Luzia foi construída para qual finalidade? 223 Não respondeu - Lembra-se das divisões de terras que existiam quando mais novo? É tipo assim, tinha uma família tinha que tinha um meeiro o pátio onde os empregados trabalham. - Por onde passava a maria fumaça? A Maria Fumaça passava aqui na frente da venda, passava aí na frente - Qual edificação possui mais afinidade? Justifique. Tinha uma casa de estrei (pau a pique) né não é não é e de tijolinho não era de igual hoje lá de outro item era de Barro né Barro é barreado né, era de madeira - Como era o funcionamento das escolas rurais? só numa sala só, tudo numa sala só, fiquei muito cadeira de pau a dona só fazia as classes né dividir as classes. - As igrejas sofreram alguma reforma que mudou alguma coisa? Depois dessa reforma recente, só se pintava a parede. No coreto que tinha é que os leilões aconteciam. - Como a colonização italiana e o incentivo da cafeicultura influenciaram o distrito? Não respondeu. - Como a crise do café influenciou a região? 224 A crise do café é atingiu aqui quando teve aquela queda abrupta do preço do café, deu muita bronca no café o governo mandou um arrancar o café tudo e vender. O café já não tinha mais nada, estava só o pó e o governo acabou com o café tudo e teve uma crise que pois todo mundo embora para o norte, ele deu algum incentivo para que queima do café. A maior parte delas foi para Colatina. O patrão deu o dinheiro para a gente, o resto o patrão passava no papo. 225 Apêndice C.5 – Dona Nena ENTREVISTA – MORADORES ANTIGOS FICHA: 05/06 INFORMAÇÕES GERAIS Nome completo: Palmerinda da Conceição Solto Data de nascimento: (95 anos em 2021) Tempo de moradia no distrito: 90 anos Termo de consentimento: ( ) assinado Perguntas: - Quais histórias possui com as igrejas do povoado? Nascida, criada e batizada na localidade, com todos os nove irmãos e três irmãs também batizados lá somando doze ao todo. Foi casada em baunilha - Quais histórias possui com as escolas que funcionavam do povoado? Os filhos foram estudar na escola do Alto São Gabriel, que tinha a Matilde Guerra Comério como professora, com os filhos da professora na mesma dala que os dela. Nunca chegou a estudar e trabalhou desde cedo - Quais são as casas mais antigas do povoado? Não soube responder. - A capela de Santa Luzia foi construída para qual finalidade? Não sei. 226 - Lembra-se das divisões de terras que existiam quando mais novo? A divisão da Terra era feita por colônia, eram famílias. - Por onde passava a maria fumaça? Já embarquei nela fui em coladinho ela tinha uma estação ali perto da entrada sim eu enverguei uma vez eu lembro do barulho que ela fazia assim, mas é bom quando ela passar ali. - Qual edificação possui mais afinidade? Justifique. A casa que morei nos Pifer por 30 anos. - Como era o funcionamento das escolas rurais? - As igrejas sofreram alguma reforma que mudou alguma coisa? - Como a colonização italiana e o incentivo da cafeicultura influenciaram o distrito? Ali para dentro era pura casa e agora não tem nada mais antigamente tinha mais família morando aí tinha muita gente - Como a crise do café influenciou a região? O meu pai teve que vender pois estava devendo muito, depois de casada eu fui morar com os sogros que estava ruim de vida. Tinha muita gente morava, mas depois sumiram tudo, foram para Colatina, agora eu nunca saí da roça, eu já fui morar na cidade em uma casa alugada, porque eu fiquei sem casa, eu fui para João Neiva aí fiquei 3 anos, depois de aposentada comprei essa casa e é isso. 227 Apêndice C.6 – Aloir Comério ENTREVISTA – MORADORES ANTIGOS FICHA: 06/06 INFORMAÇÕES GERAIS Nome completo: Aloir Adirceu Comério Data de nascimento: 06/06/1959 Tempo de moradia no distrito: Termo de consentimento: (X) assinado Perguntas: - Quais histórias possui com as igrejas do povoado? As principais histórias que eu conheço, e que foi uma comunidade originária de famílias italianas, de pessoas muito católica que tinha o prazer de desenvolver a religião católica na comunidade. - Quais histórias possui com as escolas que funcionavam do povoado? As escolas eram precárias, mas com o objetivo fundamental, de realmente um aluno sair sabendo português, matemática, o dia a dia básico e a história, sendo o básico do desenvolvimento intelectual. Sou filho de uma professora, que naquela época, começou dar aula com 15 anos de idade, depois de muito tempo, de casar na comunidade, de criar 8 filhos, resolveu continuar os estudos. Na época que ela fez um ginásio rápido, veio para Colatina fazer o normal, fez faculdade, fez pós graduação e trabalhou em todos os principais pilares da educação do município de Colatina. E também gostaria de orientar que, no começo dela em São Gabriel, ela veio nova e contratada para poder dar aula no interior e somente depois se casou. Com veio nova morou numa família que não conhecia, mas que era a família tradicional, bem centralizada em termos do Auto São Gabriel de Baunilha, Bom Jesus, Córrego São João ficava próximo da igreja, a moradia ficava mais ou menos centralizada, onde 228 ela, com muita competência, desenvolveu um trabalho de respeito, tanto que tem uma escola com o nome dela hoje. - Quais são as casas mais antigas do povoado? Ficava de preferência no povoado. - A capela de Santa Luzia foi construída para qual finalidade? É segundo as informações, e se não falha a memória, foi um problema de vista de umitaliano teve, um problema sério de vista na verdade, e que ele fez uma promessa que se ele ficasse bom da visão ele retribuiria a Santa Luzia através de um de um memorial que seria essa capelinha que existe até hoje, uma capelinha devocionário. - Lembra-se das divisões de terras que existiam quando mais novo? O vale foi desbravado por glebas de terra, essas glebas eram 6 alqueires cada propriedade, ou melhor, 30 hectares para cada divisão. Todas as divisões de Terra vinham de um lado do córrego e do outro lado do córrego, de um lado morava um produtor, do outro lado outro produtor e esse córrego foi desbravado por famílias tradicionais italianas, assim como: Trevisani, Massolin Varnier, Vicentini, Comério, Piffer e Pertel entre outros que no momento não lembro. Existiam algumas glebas de origem indígena, assim como, Silva, pelo que eu conheço e outras mais. As casas dessas antigas, as primeiras casas, que depois foram demolidas, elas eram de feitas de madeira que era o que mais tinha de abundância, então essas casas era todas feitas com a estrutura em madeira fraquejada, na base do machado principalmente, madeiras como a Braúna, que era mais resistente, o Guarabu, outras mais. 229 As casas eram de tijolo, eram de “entulho”, que hoje se chama taipa de mão, onde jogava o barro um contra o outro e alisava esse Barro era seguro por chamado de entulho, esses entulhos eram jogados em esteira de madeira que enrolava com Cipó ou com a própria madeira as taliscas, de um lado do outro onde o barro ficava e daí fazia um reboco, ou alguma coisa assim para melhorar a aparência. Aí depois com o tempo, essas casas foram demolidas para criar novas e tal, elas foram a partir do momento que essas famílias saiam, é por alguns motivos não tinha muito espaço para aumentar o tamanho da propriedade, e aí a foram para novos locais de desbravação, que seria São Domingos, Marilândia, patrimônio do rádio, córrego São José e outros mais deixando a nossa localidade, aqueles que permaneceram foram comprando essas glebas que hoje é de poucos produtores. - Por onde passava a maria fumaça? A Maria Fumaça fazia o percurso de Vitória a Belo Horizonte que passava por, João Neiva, Acioli, São Gabriel de Baunilha e Colatina. Ela passava ali onde tem um campo de bocha hoje, o que seria os trilhos da Maria Fumaça hoje, se encontra um posto de saúde em um campo de bola de massa. - Qual edificação possui mais afinidade? Justifique. De edificação tradicional que permaneceu até hoje, eu considero a igreja do Alto São Gabriel, a Capelinha de Santa Luzia e algumas outras edificações que estão abandonadas, mas que traduz o que era a família da época e basicamente qual era a sua função na comunidade. - Como era o funcionamento das escolas rurais? As escolas rurais ela principalmente tinha a prioridade de desenvolver uma educação com erradicar o analfabetismo, mas com qualidade, o saber do adulto era respeitado pelas crianças, o professor era extremamente respeitado pelos alunos, 230 o idoso ele era ponto de referência para as crianças, existindo um respeito muito grande. Na escolinha que estudei eram, primeiro, segundo, terceiro, quarto e quinto ano em um único salão, onde a carreira de carteiras diferenciava o estudo de cada ano e cada carreira de carteira tinha um quadro específico na frente. O aluno, por exemplo, do quarto ano não podia se intrometer no aluno de terceiro, e do segundo de primeira série. Tinha uma divisão de uniforme, que era uma gravata, e essa gravata passava por pequenas asinhas, onde o primeiro ano era uma cinta, o segundo duas cintas e por aí sucessivamente. Tinha horário, tinha almoço, tinha lanche, o horário era de 7 às 11, tinha um intervalo no Recreio que antigamente, no início, cada um levava sua farofinha, levava uma fruta, mas que depois, através do governo federal, foi implantado a merenda escolar. Essa merenda escolar, por incrível que pareça, era feita pelos próprios alunos, eram grupos de alunos que cada dia da semana, normalmente eram os alunos maiores, um grupo de 5 alunos era responsável para fazer a merenda sobre sob a supervisão da professora, que além de dar aula ela supervisionava, o aluno saía sabendo inclusive cozinhar, lavar as vasilhas, fazia limpeza, era um trabalho de inclusive buscar lenha no meio do mato para fazer a própria merenda, era uma aprendizado de vida extensivo ao futuro de cada família. - As igrejas sofreram alguma reforma que mudou alguma coisa? Houve algumas mudanças com referência ao altar, foram feitas algumas modificações, e normalmente foram feitas áreas de festas mais amplas, porque antigamente era mais voltado especificamente para a religião, onde haviam os pequenos leilões onde os participantes levavam os mantimentos que colhia, as frutas e fazia pequenos leilões para manter a igreja, manter o catolicismo. Eu me lembro que a minha avó plantou vários pés de laranja e que estava na hora 231 de colher eu falei, vó você não vai colher essa laranja não, eu vou não meu filho, deixa vir aí a festa da igreja eu vou levar um saco cheio de laranja para fazer o leilão e depois eu começo usufruir, primeiro é para pagar a promessa dos pés de laranja desenvolverem muito bonitos. - Como a colonização italiana e o incentivo da cafeicultura influenciaram o distrito? Eu me lembro que a mãe minha mãe era professora e muito estudiosa, lia muito apesar da precariedade, ouvia as reportagens, ela tinha contato com a Secretaria educação, mesmo morando lá na no interior, e me lembro perfeitamente que teve uma vez que ela comunicou que de acordo com a pesquisa efetuada pelos Estados Unidos, o vale do Alto São Gabriel de Baunilha foi tido como o vale de maior produtividade de café do mundo, e eram pequenas propriedades com o proprietário morando em cima com 2 ou até 3 meeiros, que desbravava a área toda e plantava café em tudo, com terra muito boa, muito fértil onde produzia muita quantidade de café. - Como a crise do café influenciou a região? A crise do café veio com uma interferência governamental, e dando uma bonificação para o produtor que é radicasse essa cultura, e uma vez que o preço estava muito baixo que não compensando, com isso aconteceu que faltou espaço para os meeiros trabalhar e tiveram uma única alternativa, mudar para a cidade, aí veio as favelas. veio os bolsões de pobreza, até porque é esses mesmos eram trabalhadores rurais e na cidade não tinha é espaço para tanto trabalhador rural, depois eles que tinham uma escolaridade menor ou básica, não tinha curso de profissionalização, curso técnico, não tinha nada de qualificação profissional para nova atividade que eles iam exercer, até porque esses meeiros não eram proprietários de terra e quando eles saem de um certo local eles não têm tanto dinheiro assim para poder consegui outro. 232 ANEXO ANEXO A – PARECER DO COMITÊ DE ÉTICA 233 234 235 ce6bd2582c833857ec520eb9548365e6f4dd97d8ac904e78d8968e333ecba03a.pdf 5c81fc754f283c0e7c6442627b81c199b93fa0ae3a13f018feb83865be8a6b26.pdf c7e8aaf67c05859e7c04b91a11a66c2df2d893220ec4b009d71e37993f29d441.pdf ce6bd2582c833857ec520eb9548365e6f4dd97d8ac904e78d8968e333ecba03a.pdf ce6bd2582c833857ec520eb9548365e6f4dd97d8ac904e78d8968e333ecba03a.pdf 5c81fc754f283c0e7c6442627b81c199b93fa0ae3a13f018feb83865be8a6b26.pdf 5c81fc754f283c0e7c6442627b81c199b93fa0ae3a13f018feb83865be8a6b26.pdf c7e8aaf67c05859e7c04b91a11a66c2df2d893220ec4b009d71e37993f29d441.pdf