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Empresarial III Prof.ª Dra. Carolina Lopes e-mail: carolin.oliveira@live.estacio.br AULA 01 2 Sugestões de Bibliografia: 1. Direito de Empresa como direito difuso Direito de empresa como direito difuso > “O Direito de Empresa cuida da atividade econômica organizada presente no cotidiano das pessoas, uma vez que, se todos somos consumidores, inegável que existem outros que se lançam à produção, à distribuição e à comercialização do que consumimos. (...) não se podendo deixar de destacar que a atividade empresarial não se restringe aos interesses imediatos e particularizados de consumidores e fornecedores, mas, em torno de tal atividade, como fato jurídico relevante, (...) pais e mães de família se sustentam, tributos são auferidos, a concorrência se estabelece, os negócios entre empresários incrementam-se, (...) e negócios jurídicos se concluem no mundo real e virtual, propiciando, por meio de uma rede de interesses sobrepostos, trabalho, emprego, renda e cidadania.” (CHAGAS) 4 5 Direito de empresa como direito difuso > “A conclusão a que se chega é a de que a empresa corresponde a vetor de interesses públicos e privados, subclassificação que, às vezes, é meramente teórica e superficial, já que, como se disse, os interesses sobrepõem- se. Melhor, então, será identificar a empresa como fato jurídico relevante, direito difuso, constitucionalmente protegido, nos termos do art. 170 da Constituição Federal (CF/88).” (CHAGAS) 6 A tradicional divisão entre Direito Público e Privado, com base na predominância do interesse (coletivo ou particular), funciona para especificar o fenômeno jurídico com fins acadêmicos e didáticos. Contudo, no cotidiano, uma relação jurídica privada - que envolva interesses entre particulares - poderá encerrar também uma relação de caráter público. Além disso, no positivismo da pós-modernidade o direito privado se constitucionalizou, já que as relações econômicas entre particulares devem ser orientadas pelo “princípio da dignidade da pessoa humana” (art. 1°, inc. III, CF/88). Logo, atualmente, pode-se reconhecer a existência de um direito civil-constitucional. 7 Sendo assim, a dignidade da pessoa humana, nos casos concretos, está também relacionada à aquisição e à utilização de bens e serviços. Portanto, o direito empresarial pode ser entendido como: “o direito que define, regula, organiza e interpreta a atividade econômica organizada, isto é, direito especializado, que merece microssistema próprio, não se podendo restringir ou se entender o direito de empresa como apenas um ‘livro’ da parte especial do Código Civil.” (CHAGAS) 2. Direito de Empresa ou Direito Comercial? 9 LIVRO II Do Direito de Empresa TÍTULO I Do Empresário CAPÍTULO I Da Caracterização e da Inscrição Art. 966. Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços. Direito de Empresa ou Direito Comercial? 10 > Logo, o direito comercial não se restringe à atividade própria do comerciante, mas também envolve o prestador de serviços, por exemplo, e, em escala mundial, outras atividades conexas à intermediação de bens e serviços pelos fornecedores diretos (os comerciantes). > O direito comercial é espécie do direito de empresa, gênero que, por isso, merece consideração da doutrina e da jurisprudência, ainda que, pela força do uso, utilizem-se as duas expressões como sinônimas. Direito de Empresa ou Direito Comercial? CHAGAS, 2017, p. 38: 11 3. História do Comércio e do Direito Comercial História do comércio e do Direito Comercial O Direito Comercial desenvolveu-se à margem do Direito Civil, de raízes romanas, na prática e no exercício do comércio ao longo dos séculos. Sua sistematização, contudo, ocorre posteriormente, provavelmente na Idade Média, mas os estudiosos do Direito Comercial não encontraram um ponto comum na identificação do seu período inicial. LINHA DO TEMPO 14 MARFEB PRIMEIRA FASE SEGUNDA FASE TERCEIRA FASE QUARTA FASE mercados e trocas mercantilismo e colonização liberalismo econômico DIREITO DE EMPRESA ATUALSÉCULO XIXSÉCULOS XVII E XVIIISÉCULOS XII A XVI Fonte: NEGRÃO, 2020, p. 31-39. 4. Fontes do Direito Empresarial PRIMÁRIAS 1. Constituição Federal 2. Código Civil 3. Código Comercial* 4. Leis Extravagantes 5. Tratados internacionais FONTES DO DIREITO EMPRESARIAL SECUNDÁRIAS 1. Costumes 2. Princípios Gerais do Direito 3. Doutrina 4. Jurisprudência 16 Havia dois projetos de lei destinados a instituir um novo Código Comercial, quais sejam: PL da Câmara dos Deputados nº 1.572/2011 e o PL do Senado nº 487/2013. O primeiro foi arquivado em 2019 e o segundo, consta parado na relatoria desde o mesmo ano de 2019. 17 1. Constituição Federal O Direito Empresarial deve ser interpretado à luz da CF, sempre. Há vários princípios na parte da Ordem Econômica. 2. Código Civil Arts. 966 a 1.195: normas que conceituam empresário, estabelecem requisitos para o exercício do direito de empresa individualmente, regem as sociedades empresárias, etc. 3. Código Comercial Para o Direito Marítimo. FONTES PRIMÁRIAS 4. Leis Extravagantes Explos.: Lei de Falência, Lei das Duplicatas, Lei do Cheque, etc. 5. Tratados internacionais Fonte primária de suma importância, a exemplo da Convenção da União de Paris e os Acordos TRIPS, que orientam a nossa Lei de Propriedade Industrial, bem como a Lei Uniforme de Genebra. 18 1. Costumes Devem ser uniformes, constantes, utilizados de acordo com a boa-fé ́. Ex.: Cheque pós-datado. A Lei nº 8934/94 estabelece que o costume pode ser assentado na Junta Comercial, podendo ser provado através de certidão emitida pela Junta. 2. Princípios Gerais do Direito Necessário seguir uma ordem de preferência, prevista no art. 4º da LINDB. Obs.: Tartuce afirma que não se aplica. FONTES SECUNDÁRIAS 3. Doutrina Há divergência doutrinária sobre esta ser considerada fonte secundária. 4. Jurisprudência Com o CPC/15, que consagra os precedentes, ganhou força o entendimento de que é fonte secundária e não apenas as súmulas vinculantes. CESPE - DPE/ES - Questão: Cabe à junta comercial, de ofício ou por provocação da sua procuradoria ou de entidade de classe, reunir ou assentar em livro próprio os usos e práticas decorrentes em sua jurisdição? Sim! Correto! ”usos e práticas decorrentes”= costumes 19 Art. 8º, Lei 8.934/94: “Às Juntas Comerciais incumbe: VI - O assentamento dos usos e práticas mercantis; (...).” 5. Princípios do Direito Empresarial 1) Princípio da Livre Iniciativa > Norteia o Direito Empresarial. > De acordo com Fábio Ulhôa, se desdobra em quatro condições fundamentais para o funcionamento eficiente do modo de produção capitalista: a) imprescindibilidade da empresa privada para que a sociedade tenha acesso aos bens e serviços de que necessita; b) busca do lucro como principal motivação dos empresários; c) necessidade jurídica de proteção do investimento privado; d) reconhecimento da empresa privada como polo gerador de empregos e de riquezas para a sociedade. > É um dos fundamentos da República e está prevista na ordem econômica. No entanto, não é absoluta, há cláusulas de não concorrência. > Segundo Eros Grau, gera uma obrigação de fazer para empresa e uma obrigação de não fazer (não causar danos a terceiros). 21 PRINCÍPIOS DO DIREITO EMPRESARIAL 2) Função Social da Empresa > Previsto na Lei de S/A. > A empresa não deve apenas atender aos interesses individuais do empresário individual, a SLU ou dos sócios da sociedade empresária, mas também os interesses difusos e coletivos de todos aqueles que são afetados pelo exercício dela (trabalhadores, contribuintes, vizinhos, concorrentes, consumidores). 22 PRINCÍPIOS DO DIREITO EMPRESARIAL Art. 116, Parágrafo único. O acionista controlador deve usar o poder com o fim de fazer a companhia realizar o seu objeto e cumprir sua função social, e tem deveres e responsabilidades para com os demais acionistas da empresa, os que nelatrabalham e para com a comunidade em que atua, cujos direitos e interesses deve lealmente respeitar e atender. Art. 154. O administrador deve exercer as atribuições que a lei e o estatuto lhe conferem para lograr os fins e no interesse da companhia, satisfeitas as exigências do bem público e da função social da empresa. 3) Liberdade de competição > Está relacionado ao princípio da livre iniciativa, concretiza o primeiro princípio. 4) Liberdade de associação > Compreende a liberdade de associar-se e de não se associar, bem como o direito de retirada para os sócios que assim queiram. 5) Maximização dos Ativos do Falido > Previsto no art. 75 e 117 da Lei de Falências. Além disso, ampara o art. 141, II. > Utilizar o ativo para reduzir o passivo. 23 PRINCÍPIOS DO DIREITO EMPRESARIAL 6) Preservação da Empresa > Tem sido amplamente difundido, seja pela legislação (a exemplo da Lei de Falências) seja fundamentando inúmeras decisões judiciais em matéria de dissolução de sociedades, de falências, de recuperação judicial. 7) Autonomia da Vontade > Relacionado aos contratos empresariais, ver enunciados da I Jornada. 8) Cambiários > Analisados no estudo do Direito Cambiário. 24 PRINCÍPIOS DO DIREITO EMPRESARIAL 6. COMERCIANTE E ATOS DE COMÉRCIO: da teoria dos atos de comércio à teoria da empresa 26 TEORIA DOS ATOS DE COMÉRCIO BRASIL, Código Comercial 1850: “Art. 4 - Ninguém é reputado comerciante para efeito de gozar da proteção que este Código liberaliza em favor do comércio, sem que se tenha matriculado em algum dos Tribunais do Comércio do Império, e faça da mercancia profissão habitual.” 27 TEORIA DOS ATOS DE COMÉRCIO BRASIL, Decreto 737/1850: Art. 19. Considera-se mercancia: §1º A compra e venda ou troca de efeitos moveis ou semoventes para os vender por grosso ou a retalho, na mesma espécie ou manufaturados, ou para alugar o seu uso. §2º As operações de cambio, banco e corretagem. §3º As empresas de fabricas; de com missões; de depósitos; de expedição, consignação e transporte de mercadorias; de espetáculos públicos. (Vide Decreto nº 1.102, de 1903) §4º Os seguros, fretamentos, risco, e quaisquer contratos relativos ao comércio marítimo. §5º A armação e expedição de navios. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/historicos/DPL/DPL1102.htm 28 Fonte: Cadernos sistematizados. 29 TEORIA DA EMPRESA > Agora tem-se: - Empresário individual (pessoa física) - Sociedade empresária (pessoa jurídica) Aqui fazemos uma análise subjetiva, ou seja, uma análise da estrutura. > Com a entrada em vigor do CC/02 foi revogada expressamente a Parte I do Código Comercial (Parte II é mantida e a III já havia sido revogada), abandonando a Teoria Francesa dos Atos de Comércio e passando a adotar a chamada TEORIA DA EMPRESA. > Essa teoria surgiu na Itália fascista de Mussolini, em meados de 1942, tendo como objetivo o alargamento do âmbito de incidência do Direito Comercial (caráter ideológico + natureza político-econômica advindas da experiência fascista). 30 TEORIA DA EMPRESA > Fala-se agora em empresário, sendo este o que exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou serviços. > A Teoria da Empresa faz com que o direito comercial não se ocupe apenas com alguns atos, mas com uma forma específica de exercer uma atividade econômica: a forma empresarial. Art. 966, CC: Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços. 31 TEORIA DA EMPRESA > O empresário individual tem CNPJ apenas para ter o mesmo tratamento tributário que a sociedade empresária e não violar a igualdade, pois a pessoa física não conseguiria concorrer com a sociedade empresária. > Em 2011, foi inserida a EIRELI (Empresa Individual de Responsabilidade Limitada) no nosso sistema. Tratava-se de uma “sociedade” de um só indivíduo e servia para que o empresário blindasse o seu patrimônio particular, separando-o do empresarial, ao responder pelas dívidas da atividade empresária, como veremos. Questão: Há desconsideração da pessoa jurídica para EMPRESÁRIO INDIVIDUAL? Não! Não há que se falar em desconsideração da PJ, visto que não há pessoa jurídica. Não se desconsidera o que não existe. O caso é diferente, em se tratando de SLU. 32 EVOLUÇÃO DO DIREITO COMERCIAL NO MUNDO 33 ➔ Idade Média: renascimento mercantil e ressurgimento das cidades ➔ Monopólio da jurisdição mercantil a cargo das Corporações de Ofício ➔ Aplicação dos usos e costumes mercantis pelos tribunais consulares ➔ “Codificação Privada” do direito comercial; normas “pseudo sistematizadas” ➔ Caráter subjetivista: mercantilidade da relação jurídica definida pelos seus sujeitos ➔ “Direito dos Comerciantes” PRIMEIRA FASE SEGUNDA FASE TERCEIRA FASE ➔ Idade Moderna: formação dos Estados Nacionais monárquicos ➔ Monopólio da Jurisdição mercantil a cargo dos Estados ➔ Codificação Napoleônica ➔ Bipartição do direito privado ➔ “Teoria dos atos de comércio” como critério delimitador do âmbito de incidência do regime jurídico comercial ➔ Objetivação do direito comercial: mercantilidade da relação jurídica definida pelo seu objeto ➔ CC Italiano 1942 ➔ Unificação formal do direito privado ➔ “Teoria da Empresa” como critério delimitador do âmbito de incidência do regime jurídico empresarial ➔ A empresa vista como atividade econômica organizada EVOLUÇÃO DO DIREITO COMERCIAL NO BRASIL 34 AS ORDENAÇÕES DO REINO CÓDIGO COMERCIAL DE 1850 CÓDIGO CIVIL DE 2002 ➔ Aplicação das leis de Portugal ➔ Inspiração do direito estatutário italiano CCom/1850 ➔ Inspiração do Code de Commerce napoleônico ➔ Adoção da Teoria dos Atos de Comércio ➔ Regulamento nº 737: rol dos atos de comércio ➔ Transição da Teoria dos Atos de Comércio para a Teoria de Empresa ➔ Tentativa de unificação formal do direito privado ➔ Definição do empresário como aquele que exerce profissionalmente atividade econômica organizada 35 BIBLIOGRAFIA > CAVALLI, Cássio M. O Direito da Empresa no novo Código Civil. Revista dos Tribunais, vol. 828, p. 43, Out/2004. > NEGRÃO, Ricardo. Manual de Direito Empresarial - 11ª Edição 2021. Saraiva Jur. Edição Kindle. > PEREIRA, Fábio Q. As origens do Direito Comercial e a sua formação enquanto espaço de exceção. Rev. Fac. Direito UFMG, Belo Horizonte, n. 65, pp. 199 - 217, jul./dez. 2014. > RAMOS, André Luiz Santa Cruz. Direito Empresarial: Volume Único. 10. ed.. Rio de Janeiro: Forense, 2020.