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Análise de Risco e Crédito José Luís de Castro Neto Renata Sena Gomes Sérgio 2009 © 2009 – IESDE Brasil S.A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito dos autores e do detentor dos direitos autorais. Capa: IESDE Brasil S.A. Imagem da capa: Istock Photo e Jupiter Images/DPI Images IESDE Brasil S.A. Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel – Curitiba – PR 0800 708 88 88 – www.iesde.com.br Todos os direitos reservados. C355 Castro Neto, José Luís de; Sérgio, Renata Sena Gomes. / Aná- lise de Risco e Crédito. / José Luís de Castro Neto; Renata Sena Gomes Sérgio. — Curitiba : IESDE Brasil S.A., 2009. 212 p. ISBN: 978-85-387-0805-6 1. Crédito – Administração. 2. Administração de risco. 3. Cré- ditos. I. Título. CDD 658.88 Doutor em Controladoria e Contabilidade pela Universidade de São Paulo (USP), com formação com- plementar na University Of Illinois at Urbana Cham- paign, UIUC, Estados Unidos. Mestre em Controlado- ria e Contabilidade pela USP. Graduado em Ciências Contábeis pelo Centro Uniicado de Brasília (CEUB), em Brasília. Atualmente é professor assistente gra- duado da Faculdade Trevisan Ltda, e professor assis- tente associado da Universidade Presbiteriana Ma- ckenzie. Tem experiência na área de Contabilidade, com ênfase em Contabilidade Internacional, atuando principalmente nos seguintes temas: convergência as normas contábeis internacionais, diferenças culturais na prática da contabilidade, governança corporativa, evidenciação contábil e negócios internacionais. José Luís de Castro Neto Mestre em Ciências Contábeis com ênfase em gestão empresarial pela Fundação Visconde de Cairu (FVC). Especialista em Contabilidade Gerencial pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Especialis- ta em Controladoria pela FVC. Bacharel em Ciências Contábeis pela FVC. Atualmente é coordenadora pe- dagógica do curso de ciências contábeis na União Metropolitana de Ensino (Unime). Tem experiência na área de Ciências Contábeis, atuando principalmente nos seguintes temas: contabilidade inanceira, geren- cial, tributária, hospitalar, estratégias competitivas e microempresas. Renata Sena Gomes Sérgio Sumário Intermediação inanceira ...................................................................................13 Introdução ..................................................................................................................................................13 Moeda ..........................................................................................................................................................14 Intermediários inanceiros ....................................................................................................................14 Sistema Financeiro Nacional (SFN).....................................................................................................16 Conceito e relevância do crédito ........................................................................................................20 Introdução ao risco de crédito.............................................................................................................21 Os “4 Cs do crédito” (Caráter; Capacidade; Capital; Condições) ............31 Introdução ..................................................................................................................................................31 Caráter ..........................................................................................................................................................32 Capacidade .................................................................................................................................................33 Capital ..........................................................................................................................................................36 Condições ...................................................................................................................................................38 Considerações inais ................................................................................................................................42 Garantias ..................................................................................................................47 Introdução ..................................................................................................................................................47 Formalização ..............................................................................................................................................50 Garantias pessoais ...................................................................................................................................51 Garantias reais ...........................................................................................................................................55 Conclusão ....................................................................................................................................................59 Risco e crédito ........................................................................................................67 Introdução ..................................................................................................................................................67 Conceito e classiicação .........................................................................................................................68 Diversiicação de riscos ..........................................................................................................................73 Rating ............................................................................................................................................................76 Conclusão ....................................................................................................................................................77 Análise de crédito .................................................................................................85 Introdução ..................................................................................................................................................85 Análise subjetiva .......................................................................................................................................86 Indicadores econômico-inanceiros .................................................................................................93 Conclusão ....................................................................................................................................................96 Análise das demonstrações contábeis e inanceiras I ...........................103 Introdução ................................................................................................................................................103 Principais demonstrações contábeis, inanceiras e complementares ................................104 Relatório da administração .................................................................................................................104 Balanço Patrimonial ...............................................................................................................................105 Demonstração dos Resultados do Exercício (DRE).....................................................................111 Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido (DMPL) ...............................................112 Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC) .....................................................................................113 Demonstração do Valor Adicionado (DVA) ...................................................................................116 Notas explicativas ..................................................................................................................................118Parecer da auditoria ..............................................................................................................................118 Conclusão ..................................................................................................................................................119 Análise das demonstrações contábeis e inanceiras II..........................127 Introdução ................................................................................................................................................127 Análise horizontal e vertical ...............................................................................................................127 Análise através de índices econômico-inanceiros ....................................................................131 Conclusão ..................................................................................................................................................138 Análise de capital de giro ................................................................................145 Introdução ................................................................................................................................................145 Investimento Operacional em Giro (IOG) ou Necessidade Líquida de Capital de Giro (NLCDG) ................................................................147 Efeito tesoura ...........................................................................................................................................150 Capital Permanente Líquido (CPL) ...................................................................................................152 O ciclo inanceiro e o saldo em tesouraria ....................................................................................152 Conclusão ..................................................................................................................................................156 Controle e qualidade do crédito ...................................................................163 Introdução ................................................................................................................................................163 Monitoramento do crédito .................................................................................................................163 Deterioração dos créditos concedidos ...........................................................................................164 Causas de créditos problemáticos ...................................................................................................165 Meios legais para recuperação de crédito ....................................................................................170 Conclusão ..................................................................................................................................................174 Processo de cobrança .......................................................................................181 Introdução ................................................................................................................................................181 Alertas de risco ........................................................................................................................................182 Medidas preventivas .............................................................................................................................183 O processo de cobrança ......................................................................................................................183 Renegociação ..........................................................................................................................................184 Recuperação judicial .............................................................................................................................186 Recuperação extrajudicial ...................................................................................................................187 Falência ......................................................................................................................................................188 Conclusão ..................................................................................................................................................191 Gabarito .................................................................................................................199 Referências ...........................................................................................................205 Anotações .............................................................................................................211 Apresentação A disciplina “Análise de Risco de Crédito” tem o escopo de fornecer informações básicas e essenciais sobre as ativi- dades de análise do risco de crédito feitas pelas instituições inanceiras de seus clientes. Para isso, este livro está estru- turado em 10 capítulos, organizados de forma sequencial e lógica para que o aluno tenha bom aproveitamento. O capítulo 1 fala sobre a intermediação inanceira que mostra o cotidiano das instituições que manipulam e intermediam o papel-moeda, a moeda metálica e os títu- los inanceiros e de crédito. O assunto do capítulo 2 é os “4 (quatro) Cs do crédito”. Este capítulo pretende fornecer condições para a identi- icação de alguns critérios subjetivos e inanceiros, geral- mente adotados pelas instituições inanceiras, na análise do eventual tomador de empréstimos. O que se preten- de destacar são os diferentes critérios que são aplicados às propostas de negócio pelos gerentes das instituições inanceiras. O capítulo 3 trata das garantias, esse capítulo mostra que todo estabelecimento que concede crédito ao consu- midor exige uma garantia do seu cliente, como forma de minimizar o risco do não recebimento do valor empres- tado. As instituições inanceiras que concedem crédito a seus clientes exigem, igualmente, uma garantia para fazer face ao risco da operação. Caso o devedor não pague a obrigação, a instituição tem, na execução da garantia, um ressarcimento de parte ou do total do valor emprestado. O capítulo 4, sobre risco de crédito, explica que o conceito do risco está relacionado à possibilidade de perigo de não se receber o valor emprestado. No mundo empresarial, mais especiicamente em relação ao risco de crédito, o conceito está relacionado às incertezas e às pos- sibilidades de perda em determinadas operações. O capítulo 5, “Análise de crédito”, compreende a apli- cação de técnicas subjetivas, inanceiras e refere-se às medidas estatísticas comumente utilizadas para avaliar a capacidade de pagamento do tomador de recursos, que é o proponente ao crédito. Neste capítulo são abordados alguns critérios subjetivos, inanceiros e estatísticos geral- mente adotados pelas instituições inanceiras na análise de crédito. O capítulo 6, “Análise das demonstrações contábeis e inanceiras I”, mostra as demonstrações contábeis que são instrumentos comumente usados pelos analistas de crédito para investigar a saúde inanceira das empresas. As demonstrações referidas são: balanços patrimoniais, demonstrações do resultado do exercício, demonstração das mutações do patrimônio líquido, demonstração dos luxos de caixa e demonstração do valor adicionado. (De acordo com a Lei 11.638/07). O capítulo 7, “Análise das demonstrações contábeis e inanceiras II”, estuda, de um modo geral, a análise eco- nômico-inanceira, que tem como elementos básicos as demonstrações contábeis, particularmente o balanço pa- trimonial e a demonstração dos resultados do exercício. A partir dessas demonstrações é possível obter informações relevantes sobre o negócio e se há algum indício de risco nas operações contratadas pela empresa. O capítulo 8, “Análise do capital de giro”, estuda seuprincipal objetivo que é avaliar a capacidade da empresa em honrar os compromissos de curto prazo. Para tanto, o cálculo dos índices de liquidez não são suicientes “para ava- liar a capacidade da empresa de pagar seus compromissos imediatos”. Portanto, os analistas recorrem a outras técnicas para obter informações e, assim, ter uma visão mais precisa sobre a liquidez da empresa e sua estrutura de capital. O capítulo 9, “Controle e qualidade do crédito, mostra que as empresas necessitam de recursos para atenderem às suas necessidades de investimento e suprimento de ca- pital de giro. Cabe às instituições inanceiras inanciar esses recursos, desde que as empresas atendam às exigências normativas dos bancos. O crédito aparece para avaliar o risco e apoiar na decisão e formalização da operação. E por último, o capítulo 10, “Processo de cobran- ça”, mostra como ele deve ser precedido por ações que deixem a cobrança judicial para último caso, devido à len- tidão burocrática excessiva que costuma acompanhar os processos. Devem as instituições responderem aos alertas de risco de inadimplência do devedor com ações irmes, mas cordatas, rumo à renegociação para reaver o montan- te emprestado. 13 Intermediação inanceira Introdução No cotidiano de nossas vidas, necessitamos de instituições que nos ajudem a manipu- lar e a intermediar o papel-moeda, a moeda metálica e os títulos inanceiros e de crédito. Existem tipos de entidades que servem como intermediários inanceiros, colo- cando-se entre nós e o dinheiro. Essas entidades são úteis na Economia, pois fazem circular a riqueza. Para Silva (2000, p. 26), a satisfação das necessidades fundamentais como alimen- tação, saúde, habitação e segurança é facilitada pelos serviços inanceiros, e eles são proporcionados pelos intermediários que são os bancos e outras entidades que fazem parte do Sistema Financeiro Nacional. Fortuna (1999, p. 12) faz uma conceituação abrangente para o sistema inanceiro: “con- junto de instituições que se dedica, de alguma forma, ao trabalho de propiciar condições satisfatórias para a manutenção de um luxo de recursos entre poupadores e investidores”. A atividade principal das instituições inanceiras é a intermediação de recursos, pois é ela que viabiliza a captação de recursos de seus clientes, do mercado inanceiro e de capitais, repassando-os, posteriormente, sob a forma de empréstimos, na expec- tativa de auferirem ganhos. “Banco” é umas das instituições inanceiras componentes do Sistema Financeiro Nacional (SFN), organizada para intermediar recursos. Esses são expressos principal- mente sob forma de moeda e títulos, sendo a moeda o facilitador de trocas entre os agentes econômicos. Quando se pensa em moeda, imagina-se, logo, que o dinheiro seja em moeda- -papel (nota simples) ou em moedas-metálicas (frações de papel-moeda), mas quando fazemos depósitos em dinheiro na nossa conta em determinado banco, tais recursos nos habilitam a emitir cheques para pagar compras diversas, nessa situação, tais che- ques desempenham a mesma função do dinheiro. Assim, por uma questão de lógica, devemos incluir no conceito de moeda os depósitos à vista. Segundo a teoria econô- mica existem outros conceitos de moeda, mas não serão abordados neste curso. 14 Moeda A moeda é um bem de aceitação geral que tem várias funções, sendo as principais de servir de intermediário de trocas, medida de valor e reserva de valor. Como intermediária de trocas, a moeda superou a economia do escambo (simples troca, sem moeda) e passou, então, a ser utilizada para troca entre as pessoas, repre- sentando bens e mercadorias. Na fase do escambo e na ausência de moeda, os povos trocavam bens entre si, avaliando cada um pelo valor relativo que eles apresentavam para as partes. Como medida de valor, a moeda serve como padrão de medida. Assim, todos os bens e serviços que são avaliados por ela serve de denominador comum de preços. Como reserva de valor, a moeda constitui-se em reservatório de poder e de compra. Em diversos povos, a quantidade menor ou maior de moeda confere ao seu titular de- terminada posição na sociedade. No entanto, existem outros ativos que também de- sempenham o papel de reserva de valor como: ouro, diamantes, terras etc. Intermediários inanceiros O mercado inanceiro pode ser classiicado como elemento dinâmico no processo de crescimento econômico. Ele também é o responsável pelo controle das taxas de poupança e investimento. O mercado inanceiro opera através dos intermediários inanceiros e agentes eco- nômicos. Os intermediários inanceiros são instituições inanceiras, como os bancos, que negociam a moeda, emprestando-a ou tomando-a emprestado. São autorizados a emitir títulos contra si mesmos para obterem recursos (moeda) junto aos agentes econômicos (SILVA, 2000, p. 31). O intermediário inanceiro aproxima-se dos ofertadores e tomadores de recursos, cobrando spreads e taxas de prestação de serviço. Deinição corrente de mercado in- forma que spread é a [...] diferença entre a taxa média de juros que os bancos pagam ao captar recursos e aquela que recebem ao aplicá-los - seja emprestando ao governo ou ao setor privado (pessoas físicas e jurídicas). No entanto, o INEPAD (Instituto de Ensino e Pesquisa em Administração) considera nos cálculos do “spread” total também as taxas de serviços cobradas pelas instituições inanceiras. (BALBI, 2006) Os ofertadores de recursos são os agentes econômicos que acumularam poupan- ça, apresentando situação orçamentária de excesso de recursos. A n ál is e d e R is co e C ré d it o 15 In term ed iação in an ceira Os tomadores de recursos são os agentes econômicos que necessitam de volume determinado de moeda para realizar objetivo de interesse próprio, quer seja saldando dívidas, ou realizando investimentos lucrativos. Custo da intermediação inanceira Um aspecto relevante quando se trata de intermediação inanceira é o custo dessa atividade. Ela está diretamente ligada à taxa de juros praticada pela instituição inanceira e balizada pelo Banco Central. As instituições inanceiras e o mercado criaram mecanismo através do qual os recursos luem entre poupadores e investidores. O nível do luxo desses fundos pode afetar signiicativamente o crescimento econômico do país. A taxa de juros atua como um regulador que controla o luxo de recursos entre poupadores e investidores. Sobre o assunto, Gitman pondera: “[...] quanto mais baixas as taxas de juros, maior será o luxo de fundos e, consequentemente, maior será o crescimento econômico; quanto mais altas as taxas de juros, menor será o luxo de fundos e menor será o crescimento econômico”. (GITMAN, 2004, p. 41) Segundo o mesmo autor, a taxa de juros é a compensação paga pelo tomador dos fundos ao credor; do ponto de vista do tomador de fundos, é o custo de tomar emprestado os recursos. A taxa de juros (ou preço do capital emprestado) está baseada na escassez dos bens e destina-se, também, a remunerar o emprestador pelo risco assumido no caso de não receber as parcelas do empréstimo concedido na data acordada. A taxa de juros ou o retorno requerido representa o custo do dinheiro que é o alu- guel que um tomador de recursos deve pagar a um fornecedor pelo uso dos recursos no prazo acordado. Assim, podemos dizer que: Quando os fundos são emprestados, o custo de tomar os fundos é a taxa de juros; Quando os fundos são obtidos através da venda de um direito de propriedade – como na vendas de ações – o custo do emissor é normalmente chamado de retorno requerido, o qual relete o nível de retorno esperado pelo fornecedor de fundos. Outra conceituação atribuída ao juro é dada por Assaf Neto (2008, p. 98) “para quem o juro é a remuneração que o tomador (captador) de um empréstimo paga a um doador (aplicador) de recursos”. 16 A taxa de juros está ligada às operações de intermediação inanceira por repre- sentar o preço de troca dos ativos disponíveis em diferentes momentos ou períodosde tempo. Ela também relete o preço pago pelo sacrifício de poupar, ou seja, é a remune- ração de um agente econômico ao decidir postergar o próprio consumo, transferindo seus recursos a outro agente. Sistema Financeiro Nacional (SFN) O Sistema Financeiro Nacional (SFN) é formado por “um conjunto de instrumentos e instituições que funcionam como meio para realização da intermediação inanceira [...]” (SILVA, 2000, p. 42). Aproximando os agentes superavitários – ofertadores de recursos – dos agentes deicitários – tomadores de recursos –, o SFN viabiliza a realização dos objetivos de ambos os grupos, fazendo com que contribuam para a circulação da riqueza no país. As entidades que formam o SFN podem ser subdivididas em dois subsistemas: a) Normativo; e b) Operativo. O subsistema normativo é responsável pela normatização e controle das insti- tuições que operam no mercado. É formado pelo Conselho Monetário Nacional, Banco Central do Brasil, Banco do Brasil, Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social e pela Comissão de Valores Mobiliários (SILVA, 2000, p. 42). Essas instituições encontram-se descritas abaixo: Conselho Monetário Nacional (CMN) – órgão responsável pela ixação de diretrizes das políticas monetária, creditícia e cambial do país. Banco Central do Brasil (BACEN) – órgão encarregado de fazer cumprir as disposições que regulam o funcionamento do SFN e as normas expedidas pelo CMN. Outra função do Banco Central é a de controlar a oferta de dinheiro no mercado. Se o BACEN deseja estimular a economia, ele aumenta a oferta de dinheiro. Uma forma de fazer isso é reduzindo a taxa de juros. No entanto, a grande oferta de dinheiro pode levar a um aumento da taxa de inlação, cabendo ao próprio BACEN servir de balizador nesse processo. Além do CMN e do BACEN existem as autoridades de apoio ao SFN, que são: Comissão de Valores Mobiliários (CVM) – o órgão normativo do Sistema Financeiro Nacional, especiicamente voltado para o desenvolvimento, dis- ciplina e iscalização do mercado de valores mobiliários (títulos). Seu poder A n ál is e d e R is co e C ré d it o 17 In term ed iação in an ceira de normatizar abrange todas as matérias referentes ao mercado de valores mobiliários. Banco do Brasil – considerado um conglomerado inanceiro que atua como banco múltiplo tradicional, embora ainda opere como agente inanceiro do go- verno federal, sendo o principal executor da política inanceira do governo. Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) – res- ponsável pela política de investimentos de longo prazo do governo federal. Caixa Econômica Federal (CEF) – responsável pela operacionalização das po- líticas do governo federal para a habitação popular e saneamento básico. De modo geral, as instituições inanceiras são responsáveis pela transmissão e manutenção da política monetária nacional, além de manter a economia em plena ca- pacidade produtiva. A igura a seguir mostra um organograma que evidencia a relação do CMN com os principais órgãos do SFN. Conselho Monetário Nacional CMN Banco Central do Brasil BCB Sociedades Corretoras Bolsa de Valores Comissão de Valores Mobiliários CVM (B O V ES PA , 2 00 6. A d ap ta d o .) Figura 1 – Organograma dos principais órgãos vinculados ao Sistema Monetário Nacional (SMN). O subsistema operativo é formado pelas instituições inanceiras (bancárias e não bancárias) que operam diretamente na intermediação inanceira. As instituições que fazem parte desse subsistema são compostas por bancos comerciais, caixas econômi- cas estaduais, bancos de desenvolvimento, bancos de investimentos, sociedades de crédito, inanciamento e investimento (inanceiras), sociedades corretoras, sociedades distribuidoras, sociedades de arrendamento mercantil (leasing), sociedades de crédito imobiliário e bancos múltiplos. A descrição dessas instituições encontra-se abaixo: Bancos Comerciais – têm como objetivo proporcionar o suprimento opor- tuno e adequado dos recursos necessários para inanciar, a curto e médio prazos, o comércio, a indústria, as empresas prestadoras de serviços e as pes- soas físicas. Para tanto, os bancos comerciais podem descontar títulos, reali- zar operações de abertura de crédito simples ou em conta corrente (contas 18 garantidas), realizar operações especiais, inclusive crédito rural, de câmbio e comércio internacional, captar depósitos à vista e a prazo ixo, obter recursos junto às instituições oiciais para repasse aos clientes, obter recursos externos para repasse, efetuar prestação de serviços, inclusive mediante convênio com outras instituições e outros. Bancos de Investimento – têm como principal objetivo o aumento do prazo de operações de empréstimos e inanciamentos, sobretudo para fortalecer o processo de capitalização das empresas, através da compra de máquinas e da subscrição de debêntures e ações. Esses bancos estão impedidos, legalmen- te, de manter contas correntes em outras instituições inanceiras. Elas captam recursos pela emissão de Certiicados de Depósitos Bancários (CDB) e Reci- bos de Depósitos Bancários (RDB) através de captação e repasse de valores de origem interna ou externa, ou pela venda de cotas de fundos de investimento por eles administrados. Fortuna (2008, p. 33) sintetiza as operações ativas que podem ser praticadas pelos bancos de investimento: empréstimos a prazo mínimo de um ano para inanciamento de capital ixo; empréstimos a prazo mínimo de um ano para inanciamento de capital de giro; aquisição de ações, obrigações ou quaisquer outros títulos e valores mobiliários para investimento ou revenda no mercado de capitais (operações de underwriting); repasses de empréstimos obtidos no exterior; repasses de recursos obtidos no país; prestação de garantia de empréstimos no país e provenientes do exterior. Bancos de Desenvolvimento – são instituições responsáveis pela política de investimento de médio e longo prazo do Governo Federal, sendo o BNDES o seu principal representante para inanciar em médio e longo prazo os setores primário, secundário e terciário. Caixas Econômicas – sua atividade principal integra o Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo e o Sistema Financeiro de Habitação. Podem ser equi- paradas aos bancos comerciais por captar depósitos à vista, realizar operações ativas (empréstimos, inanciamentos etc.) e efetuar prestação de serviços, na maioria das vezes para pessoas físicas. Também realiza atividades de inancia- mento de bens de consumo, empréstimo sob garantia de penhor industrial e caução de títulos, e operações de empréstimo sob penhor de bens pessoais e A n ál is e d e R is co e C ré d it o 19 In term ed iação in an ceira sob consignação. Atua como centralizadora do recolhimento e aplicação dos recursos depositados no Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS). Sociedades de Crédito Imobiliário – foram criadas pelo Governo para inan- ciar o mercado imobiliário, utilizando os recursos da caderneta de poupança. Associações de Poupança e Empréstimo – são constituídas na forma de so- ciedades civis, restritas a determinadas regiões, sendo de propriedade comum de seus associados. Suas operações são semelhantes às sociedades de crédito imobiliário. Sociedades Corretoras – são sociedades típicas do mercado acionário e operam na compra, venda e distribuição de títulos e valores mobiliários (in- clusive ouro) por conta de terceiros. Elas operam nas bolsas de valores e de mercadorias, e efetuam lançamentos públicos de ações, administram carteiras e custodiam valores mobiliários, instituem, organizam e administram fundos de investimento, operam no mercado aberto e intermediam operações de câmbio. Sociedades de Arrendamento Mercantil – a operação de leasing asseme- lha-se a uma locação, tendo o cliente, ao inal do contrato, as opções de reno- vá-la, adquirir o equipamento pelo valor residual ixado em contrato, ou ainda devolvê-lo à empresa. As empresasde leasing geralmente captam recursos de longo prazo, como por exemplo, através da emissão de debêntures. A debêntu- re é um valor mobiliário emitido por sociedades anônimas, representativo de dívida que assegura o direito de crédito de seus detentores contra a compa- nhia emissora. Bancos Múltiplos – têm o objetivo de racionalizar a administração das insti- tuições inanceiras. De acordo com Fortuna (2008, p. 41), permite que institui- ções, empresas de um mesmo grupo, constituam-se em uma única instituição inanceira com personalidade jurídica própria e, portanto, com um balanço único, um único caixa e, consequentemente, signiicativa redução de custos. Em tese, mantêm as mesmas funções de cada instituição em separado, com as vantagens de contabilizar as operações como uma só instituição. Por normas legais, as carteiras de um banco múltiplo envolvem a carteira co- mercial (regulamentação do BACEN), carteira de investimento (regulamentação dos bancos de investimentos), carteira de crédito imobiliário (regulamentação das socie- dades de crédito imobiliário), carteira de aceite (regulamentação das sociedades de crédito, inanciamento e investimento) e carteira de desenvolvimento (regulamenta- ção dos bancos de desenvolvimento) e a carteira de leasing. 20 Conceito e relevância do crédito Schrickel (2000, p. 24) escreve que “crédito é todo ato de vontade ou disposição de alguém de destacar ou ceder, temporariamente, parte do seu patrimônio a um terceiro, com a expectativa de que esta parcela volte a sua posse integralmente após decorrido o tempo estipulado”. O patrimônio referido deve ser próprio e pode estar na forma de dinheiro (em- préstimo monetário) ou bens (empréstimo para uso, ou venda com pagamento parcelado). Silva (2000, p. 63) conceitua “crédito, em sentido restrito e especíico, como con- sistindo na entrega de um valor presente mediante uma promessa de pagamento”. Assim, em uma loja de produtos de informática, uma venda a crédito é caracterizada pela entrega da mercadoria (computador, por exemplo) ao cliente, mediante promes- sa de pagamento do comprador à loja, em uma ou mais parcelas, em um prazo futuro estabelecido de comum acordo entre as partes. Embora existam empréstimos gratuitos, não onerosos, no caso de operações entre pessoas físicas, entre membros de mesma família, por exemplo, normalmente o vendedor estipula uma taxa a ser paga pelo comprador pelo pagamento dos valores no futuro, e não à vista. No comércio e na indústria, o crédito geralmente assume o papel de facilitador da venda (SILVA, 2000, p. 64). O crédito possibilita que o cliente veja atendida sua necessi- dade, e que o comerciante aumente suas receitas de venda. O crédito deve ser visto como um “produto” para as instituições inanceiras. Assim, negociar “crédito” pressupõe um adequado sistema de cadastro com informações de- talhadas sobre seus clientes, e um sistema de avaliação do risco que, além de avaliá-los pelo risco de não devolverem os recursos emprestados no prazo acordado, calcule o limite de crédito máximo e mínimo para cada um. Enquanto que, em empresas comer- ciais e industriais, é possível vender à vista ou a prazo, em bancos não há como fazer empréstimo ou inanciamento à vista (SILVA, 2000, p. 65). Deve-se atentar para o fato de que, quando o banco está captando recursos (aco- lhendo depósitos ou aplicações), quem assume o risco de crédito é o cliente. O banco nessa condição, não costuma exigir cadastro de seus clientes, mas eles poderiam (se quisessem) exigir o “cadastro” do banco na forma de demonstrações contábeis e outras informações que o gerente pudesse fornecer para provar que a instituição é idônea. O crédito está inserido no contexto da intermediação inanceira, sendo parte re- levante da geração de receita do banco. A n ál is e d e R is co e C ré d it o 21 In term ed iação in an ceira O crédito cumpre relevante papel econômico e social, pois viabiliza a circulação da riqueza e o atendimento às necessidades dos agentes econômicos. Silva (2000, p. 68) escreve que o crédito a) possibilita que as empresas aumentem o seu nível de ati- vidade; b) estimula o consumo, inluenciando na demanda; c) ajuda as pessoas a ob- terem moradia, bens e alimentos; d) facilitam a execução de projetos para os quais as empresas não dispõem de recursos próprios suicientes. Introdução ao risco de crédito Intuitivamente, “risco” signiica “incerteza”, “imprevisibilidade”, um fato que pode acontecer e contrariar as expectativas iniciais. “Risco de crédito” pode ser deinido como a probabilidade de que o recebimento não ocorra, ou seja, é igual a 1 menos a probabilidade de recebimento. O risco está presente nas decisões de crédito e está vinculado à “saúde inanceira” do tomador de empréstimo. Para avaliar o risco do tomador de empréstimo, a instituição inanceira deverá possuir funcionários capacitados, além de softwares e aplicativos especíicos para estimar o risco de cada cliente. A importância da análise de risco nas decisões de crédito pode ser avaliada pela seguinte citação de Schrickel (2000, p. 36) “a imprevisibilidade quanto ao futuro e ao risco, deve ser adequada e suicientemente ponderada, a im de minimizar os riscos expostos do banco”. A gestão do risco de crédito é motivo de preocupação do sistema inanceiro inter- nacional, que criou o Comitê da Basileia para reestruturar a “indústria” bancária, geren- ciando e emitindo normas reguladoras do Sistema. O Comitê de Supervisão Bancária da Basileia congrega autoridades de supervisão bancária e foi estabelecido pelos presidentes dos Bancos Centrais dos países do então, “Grupo dos 10 (G-10)”, em 1975. É constituído por representantes de autoridades de supervisão bancária e pelo Banco Central, reunindo-se no Banco de Compensações Internacionais (BIS), na Basileia, Suíça, onde se localiza a sua secretaria permanente. Em 1997, o Comitê da Basileia declarou que os mais sérios problemas bancários conti- nuam se originando diretamente de problemas de administração de crédito. (CATTANI; STADUTO, 2003). O Banco Central do Brasil vem implementando relevantes medidas com o intuito de estimular as instituições inanceiras a melhorar seus procedimentos de avaliação e acompanhamento do risco de clientes, garantindo o funcionamento sem sobressaltos do SFN. 22 As instituições inanceiras tiveram de se adequar às novas normas que lhes foram dirigidas pelo Banco Central, em um cenário de baixa inlação e aumento das disponi- bilidades para empréstimos. A Resolução 2.682, de 21 de dezembro de 1999, do Banco Central do Brasil, com- plementadas por resoluções posteriores, estabelece os critérios que devem ser obser- vados pelas instituições inanceiras na avaliação do risco de seus clientes e operações, para ins do cálculo e constituição de provisão para risco de crédito. Silva (2000, p. 75) escreve que os riscos de crédito de um banco podem ser classi- icados em quatro grupos: a) risco do cliente ou risco intrínseco; b) risco da operação; c) risco de concentração; e d) risco da administração do crédito. a) Risco do cliente ou risco intrínseco Esse tipo de risco independe da vontade do cliente-tomador de empréstimos/i- nanciamentos do banco. Ele existe devido à possibilidade do não pagamento do valor ao banco devido a conjunto de fatores associados ao devedor. O crédito consiste em colocar à disposição do tomador determinado valor sob a forma de empréstimo ou inanciamento mediante promessa de pagamento. Essa pro- messa de pagamento, em forma de documento, obriga o devedor a devolver os recur- sos tomados. Silva (2000, p. 78-79) informa que os chamados “Cs do crédito” (Caráter, Capacidade, Condições, Capital e Conglomerado) contêm as variáveis relacionadas ao risco do cliente (intrínseco), as quais poderão fornecer a base para a classiicação do risco (rating). b) Risco da operação Silva (2000, p. 80) escreve que os principais elementos integrantes de uma ope- ração são: (I) produto; (II) montante;(III) prazo; (IV) forma de pagamento; (V) garan- tias; e (VI) preço. Segundo Silva, acima, cada um desses elementos apresenta um po- tencial de risco. Assim, a inadequação da especiicação do produto, ou em seu valor, pode levar o cliente-tomador a descumprir a promessa de pagamento, ocasionando a inadimplência. Se o montante emprestado for acima da capacidade de pagamento do cliente- -tomador, existe aí, também, risco de inadimplência. O mesmo raciocínio vale para o prazo no caso de ele ser muito longo, num contexto de crescente alta de juros, aumen- ta-se o risco do não pagamento do empréstimo/inanciamento concedido. A forma de pagamento, associado ao prazo, pode constituir-se em fonte de risco adicional, na medida em que diiculta o acesso do cliente-tomador aos recursos para fazer o pagamento. A n ál is e d e R is co e C ré d it o 23 In term ed iação in an ceira A garantia exigida do banco ao cliente-tomador tem inluência signiicativa no risco da operação. Assim, quanto maior for a garantia exigida, menor é o risco, pois pressupõe-se que a garantia é executável (seu valor recuperável por venda ou utiliza- ção) em valor suiciente para ressarcir o banco pelos recursos não devolvidos. c) Risco de concentração Silva (2000, p. 80) escreve que o risco de concentração decorre da composição da carteira de recebíveis do banco quanto ao maior ou menor volume de recursos aplica- dos em um só produto ou em uma mesma área geográica. Uma carteira de recebíveis é o volume de títulos a receber que o banco possui derivados de operações irmadas com clientes-tomadores e outras contas. A operação de endividamento de uma instituição dando como garantia títulos a receber de clientes que ela têm em sua carteira leva o nome de securitização de recebí- veis. As operações com recebíveis têm sua origem nos Estados Unidos e Europa. Essa operação visa captar recursos no mercado, via emissão de títulos próprios, dando-se como garantia as contas a receber que a instituição possui. Tais operações oferecem grandes vantagens tanto para o investidor quanto para o tomador de recursos inanceiros. A estruturação destas operações faz com que haja uma venda dos recebíveis a uma entidade neutra (Trust) que os usa como lastro para a emissão de endividamento de tal modo que o comprador destes títulos não ique exposto ao risco do gerador do seu lastro. O Trust, além de isolado do grupo comercial gerador dos recebíveis, tem seu luxo de caixa monitorado pelo Trustee (supervisor do “Trust”) o que assegura uma boa liquidação dos títulos independentemente da necessidade do acionamento jurídico das garantias constituídas. (PAVARINI, 2008) A concentração de operações em um só cliente aumenta o risco da empresa. Assim, quanto maior for a concentração de empréstimos para capital de giro a poucos clientes, maior será o risco do não recebimento de valores dessa carteira. Silva (2000, p. 80) acrescenta que o risco de uma carteira de crédito é diferente dos riscos de suas operações individuais, em razão das correlações que possa haver entre os diversos segmentos. Correlação é uma medida estatística padronizada da rela- ção entre duas variáveis. Seu valor varia de –1 a +1. A correlação nunca pode ser maior do que 1 ou menor do que menos 1. Uma correlação próxima a zero indica que as duas variáveis não estão relaciona- das. Sendo cada variável um segmento de negócio do banco (industrial, comercial, leasing etc.), uma correlação positiva indica que as duas variáveis (segmentos) movem juntas, e a relação ica forte quanto mais a correlação se aproxima de um. Uma corre- lação negativa indica que as duas variáveis movem-se em direções opostas, e que a relação também ica mais forte quanto mais próxima de menos 1. Duas variáveis que estão perfeitamente correlacionadas positivamente (r=1) movem-se essencialmente 24 em perfeita proporção na mesma direção, enquanto dois conjuntos que estão per- feitamente correlacionados negativamente movem-se em perfeita proporção em di- reções opostas. Exempliicando: suponha que o Banco Y conceda empréstimos para clientes do segmento industrial e de leasing em determinado período. Alguns desses clientes são os mesmos para as duas modalidades de operação e, por isso, as variáveis (empréstimos) deverão apresentar correlação positiva, próximo de 1 (um), estando po- sitivamente correlacionadas. O valor do índice de correlação é apurado através de uma planilha estatística (Excel, SPSS, SAS e outras). Silva (2000, p. 80) acrescenta: “[...] se um banco distribuir suas aplicações em seg- mentos econômicos que tenham alta correlação positiva, isto, do ponto de vista de risco, não representará diversiicação”, portanto apresentará maior risco. d) Risco de administração de crédito É o risco derivado da gestão indevida dos créditos concedidos. Os recursos huma- nos e materiais têm papel relevante nos índices de inadimplência apresentados pelo banco. Schrickel escreve sobre o assunto: “Se de um lado a incerteza quanto ao futuro torna a análise de crédito extremamente desaiadora e exige capacitação técnica especíica, de outro, tal atividade depende primordialmente do elemento humano, do proissional da instituição inanceira, que, mais que certamente, não poderá ser suicientemente substituído por qualquer instrumento cibernético, por mais avançado que seja [...]”. (SCHRICkEL, 2000, p. 36) A instituição inanceira deve munir-se dos melhores recursos humanos disponíveis, assim como estrutura material e logística para reduzir o nível de risco de suas operações. Texto complementar Banco ica com parcela maior do “spread” (BALBI, 2006) Os cinco maiores bancos do país que já divulgaram os balanços de 2005, exibin- do lucros recordes, aumentando seu spread nos últimos cinco anos, segundo estudo realizado pelo Inepad (Instituto de Ensino e Pesquisa em Administração) com exclu- sividade para a Folha. Bradesco, Itaú, Unibanco, Banespa e o estatal Banco do Brasil obtiveram spread total de 12,2% no ano passado, enquanto em 2001 essa taxa era de 11%. Ao mesmo A n ál is e d e R is co e C ré d it o 25 In term ed iação in an ceira tempo cresceu a parcela do lucro na composição do spread nesse período. Em 2001, 15,6% do spread total eram destinados aos resultados (lucros); no ano passado, essa mesma parcela chegou a 21,9%. Em 2005, o Itaú foi o banco com o maior spread total, segundo o Inepad, segui- do pelo Banespa, o Unibanco e o Bradesco. O menor spread veriicado foi o do Banco do Brasil, que opera com crédito agrícola a taxas de juro mais baixas. Spread, na deinição corrente no mercado, é a diferença entre a taxa média de juros que os bancos pagam ao captar recursos e aquela que recebem ao aplicá-los – seja emprestando ao governo ou ao setor privado (pessoas físicas e jurídicas). No entanto, o Inepad considera nos cálculos do spread total também as taxas de servi- ços cobradas pelas instituições inanceiras. “No caso do Brasil, como há mais demanda por crédito do que oferta, os bancos condicionam a concessão de empréstimos à aquisição de outros produtos como seguros, títulos de capitalização ou planos de previdência. Assim, na taxa de juro paga pelo cliente está embutida também a prestação desses produtos. Portanto o spread deve incluir também as receitas de serviços dos bancos, airma Alberto Borges Matias, presidente do Inepad e professor da Faculdade de Economia da USP de Ribeirão Preto. O instituto reconhece que adota um conceito polêmico de spread. Por isso, também calculou o chamado spread inanceiro dessas instituições nos últimos cinco anos. Essa taxa é a diferença entre o juro pago na captação e o recebido na aplicação. Em 2001, a taxa média do spread inanceiro dos cinco maiores bancos era de 7,5% e, no ano passado, foi de 8,4%. Todos os cálculos foram feitos com base nos balanços das instituições inanceiras. Formação do spread Entram na formação do spread bancário, a taxa de inadimplência, as despesas estruturais –pessoal e administrativas –, os gastos com impostos e os resultados do banco, segundo informa o Instituto de Ensino e Pesquisa em Administração. Ao analisar esses quatro componentes, o Inepad concluiu que o crescimento do spread total dos bancos ocorreu para sustentar os resultados das instituições i- nanceiras e o aumento dos gastos com impostos, segundo informa Edson Carminat- ti, analista inanceiro do instituto e responsável pelo levantamento. 26 “Os bancos conseguiram aumentar o spread reduzindo os custos de captação, pois estão conseguindo levantar recursos a taxas mais baixas no mercado externo e aplicando aqui a taxas altas”, airma o analista. Em 2001, as instituições inanceiras captavam a uma taxa média de juros de 9% ao ano e, no ano passado, a 6,7%. Nesses cálculos estão incluídos desde a captação mais barata – que é a da caderneta de poupança e a parcela do saldo das contas correntes que ica no banco sem remuneração – até as taxas dos CDBs (Certiicados de Depósitos Bancários). “Os resultados dos bancos é um dos formadores do spread que mais cresceu. Só perde para o crescimento dos impostos”, observa Carminatti. Em 2001, eles representavam 15,6% dos spread total e pularam para 21,9% no ano passado. Já a parcela do spread total que ia para impostos subiu de 8,1% para 16,5% no mesmo período. “Isso é preocupante, pois o peso dos impostos cresceu muito”, airma Carminatti. Despesas A maior parte da formação do spread bancário, entretanto, ainda é decorrente das despesas estruturais – como a de pessoal e as administrativas. As despesas res- ponderam por 45,8% do spread total em 2005 – um forte recuo ante os 61,8% que representavam em 2001. Segundo Carminatti, os bancos ganharam eiciência conseguindo operar melhor com a mesma estrutura. Para Borges Matias, a redução das despesas é con- seqüência do aumento da escala na operação bancária. “Os bancos aumentaram suas carteiras de crédito e sua base de clientes, enxu- garam a estrutura e hoje conseguem ter lucros maiores e despesas menores”, airma o presidente do Inepad. Já a inadimplência – à qual sempre os bancos atribuem a responsabilidade pelos juros e spreads elevados – cresceu pouco no período analisado. Em 2001, ela representava 14,5% do spread e, no ano passado, chegou a 15,8%. “Como as operações de crédito cresceram muito, era de se esperar um aumen- to da inadimplência. Mas não foi ela que fez o spread crescer”, diz Carminatti. A n ál is e d e R is co e C ré d it o 27 In term ed iação in an ceira Atividades O que é risco de crédito?1. Para o autor Silva (2000) qual é a deinição de crédito em sentido estrito e es-2. pecíico? “São instituições responsáveis pela política de investimento de médio e longo 3. prazo do governo federal”. Esse conceito refere-se a qual alternativa abaixo? a) Bancos comerciais. b) Bancos de investimento. c) Caixas econômicas. d) Bancos de desenvolvimento. Qual dessas instituições permite que empresas de um mesmo grupo consti-4. tuam-se em uma única instituição com personalidade jurídica própria e balanço único? a) Sociedades corretoras. b) Sociedades de arrendamento mercantil. c) Bancos múltiplos. d) Associações de poupança e empréstimo. Ampliando conhecimentos SILVA, José P. Gestão e Análise de Risco de Crédito. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2000. O autor aborda todas as fases da gestão e análise de crédito, sendo leitura útil no acompanhamento dos capítulos. Sugere-se que o aluno consulte o livro quando tiver dúvidas sobre pontos abordados no capítulo. SCHRICkEL, kurt W. Análise de Crédito – concessão e gerência de emprésti- mos. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2000. 28 Obra clássica em Análise de Crédito. Sugere-se que o aluno a use complementar- mente à obra de Silva, acima. FORTUNA. Eduardo, Mercado Financeiro: produtos e serviços. Rio de Janeiro: Qualitymark, 1999. O autor aborda o funcionamento do mercado inanceiro como um todo e apre- senta um resumo dos principais órgãos responsáveis pela manutenção da política mo- netária nacional. ASSAF NETO, Alexandre. Mercado inanceiro. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2008. O autor apresenta o funcionamento e as funções do mercado inanceiro e trata de como a compreensão da economia permite que se estabeleçam relações entre os resultados agregados e o desempenho dos agentes econômicos (indivíduos, empresa e governo). Wall Street – Poder e Cobiça O ilme ambienta o espectador numa trama em que estão presente o dinheiro, a negociação, o poder conferido pelo dinheiro e a procura por prestígio. É um ilme útil para ambientar o aluno. A n ál is e d e R is co e C ré d it o 29Intermediação inanceira 31 Os “4 Cs do crédito” (Caráter; Capacidade; Capital; Condições) Introdução Existem diversas maneiras de analisar os riscos de crédito, dentre elas a aplicação de metodologias subjetivas e inanceiras, aparentemente simples, mas que deman- dam cautela e responsabilidade. Este capítulo pretende fornecer condições para a identiicação de alguns critérios subjetivos e inanceiros, geralmente adotados pelas instituições inanceiras na análise do eventual tomador de empréstimos. O que se pretende destacar são os diferentes critérios que são aplicados às propostas de negócio pelos gerentes das instituições inanceiras. “Creditar” consiste no ato da instituição inanceira colocar à disposição dos toma- dores de recursos determinados valores sob a forma de empréstimos, inanciamentos ou outra operação bancária mediante promessa de pagamento. As instituições inanceiras têm como costume realizar operações somente com pessoas que sejam seus clientes. Quando esses clientes necessitam de recursos, eles recorrem ao banco, que tem como norma elaborar uma análise minuciosa para a con- cessão do crédito pretendido, baseados primordialmente em critérios pessoais e inan- ceiros. O banco busca com isso colher indícios de insolvência de clientes, pois a preo- cupação é que a quantia emprestada não retorne mais com os respectivos encargos inanceiros, que são juros e correção monetária. Referindo-nos aos critérios geralmente utilizados para a concessão de crédito, as instituições inanceiras identiicaram quatro critérios básicos para análise dos clientes, iniciados com a letra “C”: Caráter, Capacidade (critérios subjetivos), Capital e Condi- ções (aspectos inanceiros). O autor Preisler airma que o método lógico utilizado para analisar cada situação é baseado nos ‘Cs’ de crédito. Embora este método não aborde todo o conjunto de instrumentos disponíveis para a avaliação de riscos e 32 crédito, na realidade ele se constitui numa das ferramentas mais modernas de análise de risco e crédito, voltados para situações concretas. (PREISLER, 2003, p. 48) Ao analisar uma proposta de crédito, a instituição financeira costuma fazer, no mínimo, dois tipos de análises: uma análise subjetiva composta por critérios não mensuráveis (caráter e capacidade), e uma análise objetiva composta por parâme- tros mensuráveis e concretos (capital e condições). Os quatro critérios referidos não esgotam todos aqueles aplicados pelas instituições financeiras, cada uma delas pode ter critérios próprios, subjetivos e objetivos para efetuar a análise global de seus clientes. Existem dois critérios adicionais, que também fariam parte desse grupo, mas cuja aceitação não é consenso entre os estudiosos, o Colateral, que signiica garantia, e o Conglomerado, que é o exame conjunto das empresas do grupo empresarial, ou das pessoas físicas do grupo que pleiteiam o crédito. Não basta apenas conhecer a situa- ção econômica e inanceira de uma empresa, é preciso que se conheça também todas as empresas do grupo empresarial para se formar um conceito único sobre a solidez do conglomerado. As palavras “caráter” e “capacidade” derivam do inglês, e compõem os critérios pessoais na análise de crédito (SCHRICkEL, 2000, p. 48). Aborda-se, abaixo, os quatro critérios de análise iniciados com a letra “C”. Caráter Gitman (1997)acredita que um dos critérios mais importantes na tomada de de- cisão de crédito é o julgamento subjetivo que o analista inanceiro faz para decidir se é válido ou não, assumir riscos com determinado cliente. Para Silva (2008, p. 60), o Caráter está relacionado com a intenção do devedor (ou mesmo do iador ou avalista) em cumprir a promessa de pagamento. O caráter do cliente está relacionado ao pagamento da dívida que tem com a instituição inanceira emprestadora. Assim, essas entidades devem fazer uma pesquisa minuciosa sobre a vida do cliente, seus antecedentes, informações normalmente colhi- das através da “icha cadastral”. Para Santi Filho (1997, p. 15) [...] o documento resultante do trabalho de levantamento de informações é a Ficha Cadastral do Cliente. Para o proissional do crédito e no que se refere especiicamente à avaliação do caráter do cliente, este documento é sua base mais importante. Na icha cadastral do cliente deve estar reletida a performance do eventual tomador de crédito, A n ál is e d e R is co e C ré d it o 33 O s “4 C s d o créd ito” (C aráter; C ap acid ad e; C ap ital; C o n d içõ es) destacando-se os seguintes aspectos: identiicação, pontualidade, existência de restrições, experiência em negócios e atuação na praça. A icha cadastral, entretanto, não esgota a pesquisa sobre a verdadeira intenção do tomador de recursos. Schrickel (2000, p. 49) escreve que a icha cadastral elaborada pela instituição inanceira possibilita o levantamento de informações do potencial to- mador de recursos do banco sobre a identiicação e qualiicação do indivíduo (nome, endereço, registros, proissão etc.) e sobre experiências de outras instituições com a pessoa (pontualidade de pagamentos, protestos, anotações diversas e outras). Schrickel (2000, p. 49) lembra que “o emprestador deve construir um conjunto de informações adicionais sobre o tomador [do empréstimo], alicerçado na sensibilidade de seus contatos diretos com o mesmo, e com o mercado ou segmento social em que o tomador atua”. Assim, as instituições inanceiras devem pesquisar os hábitos e a cultura do cliente, além de sua postura ética e honestidade. A inalidade é reunir o máximo de informações com o intuito de diminuir o risco do não recebimento da quantia emprestada. Um ponto importante, quando se analisa o caráter da pessoa, é analisar as restri- ções de empregabilidade, crédito junto a outras instituições e outros fatos cerceadores do livre arbítrio do tomador de empréstimos. Schrickel (2000, p. 49) acrescenta que “é no momento de aperto (desemprego ou vendas e lucros abaixo das expectativas ou necessidades) que o caráter é colocado à prova, não só em termos factuais – disponibi- lidade de recursos –, como também em termos de criatividade e pragmatismo”. O caráter é um conceito que transcende ao indivíduo, ensina Schrickel (2000, p. 49) ele alcança a camada social e econômica da qual o indivíduo faz parte, de modo que as decisões que envolvem crédito devem levar em conta a integridade ética do grupo social à qual pertence o cliente. Em um processo de análise de crédito, a análise do caráter do tomador do recurso é um fator dos mais relevantes. Assim, Preisler (2003, p. 61) escreve que “o caráter é fator eliminatório, insubstituível no processo de análise de risco e crédito”. Capacidade A capacidade está relacionada à habilidade do indivíduo ou grupo de gerir estra- tégica e operacionalmente os negócios da empresa. A pesquisa sobre o cliente cos- tuma ser feita através da análise do currículo de seus administradores para veriicar se eles conhecem o ramo de atividade em que atuam e das atribuições que exercem. Silva (2008, p. 67) entende que a capacidade “deve estar relacionada aos fatores que contribuem para a empresa ser competente e competitiva”. 34 Preisler (2003, p. 51) escreve que a [...] previsão da capacidade de pagar, ou seja, da competência empresarial do cliente, é a parte mais difícil da avaliação do risco. Embora ainda não sejam dispensadas utilizações de balanços, análises de luxo de caixa e qualidade das garantias prestadas, existem outros elementos a serem avaliados, por exemplo, a capacidade gerencial do administrador e o relacionamento que a empresa mantém com o banco são tão importantes quanto os demais itens, como airmam alguns autores. Para Santos (2000, p. 46), a capacidade refere-se ao julgamento subjetivo daquele que analisa a proposta de crédito sobre os critérios de habilidade dos clientes no ge- renciamento e conversão de seus negócios em renda ou receita. Schrickel (2000) diferencia caráter e capacidade, escrevendo que, se caráter diz respeito à vontade de pagar, a capacidade refere-se à habilidade de pagar. O conceito de capacidade não se confunde com o conceito de caráter, pois o cliente-tomador de empréstimos pode ser honesto e não ter a capacidade para pagar naquele momento em virtude de algum fato que desorganizou a sua vida pessoal, como a perda do emprego, um sinistro em seus bens ou outro fato da vida corrente. Para analisar a capacidade do tomador de empréstimos, a instituição inanceira emprestadora deverá, em termos práticos e objetivos, obter respostas claras às seguin- tes perguntas (SCRINCkEL 2000, p. 50): Qual é a sua idade? Qual é o seu grau de educação? Qual é a sua formação acadêmica, se for o caso? Qual é a sua experiência proissional? Como foi construída a sua carreira proissional? Ele é um indivíduo de sucesso? Já fez ou está fazendo sucesso? Qual? Como esse sucesso pode ser medido? Os membros de sua família sempre atuaram (ou já atuaram) no setor a que está se dedicando no momento? Qual é o seu posicionamento gerencial sobre os negócios? É conservador ou arrojado? É espe- culador? Sabe antecipar-se aos problemas? É inovador? É econômico ou perdulário? É centrali- zador ou adota a gerência colegiada (team work)? Os negócios são do tipo familiar? Existe linha sucessória deinida? Os sucessores são igualmente capacitados (assumindo que o indivíduo em análise o seja)? Qual é a idade, formação e experiência dos sucessores? Como se materializa o processo de decisão e sucessão nos negócios? Quando isto ocorrerá? Ele é mais ou menos capaz, comparativamente, a outros indivíduos de seu setor de atividade? Ele exerce algum tipo de liderança em seu setor de atuação? A n ál is e d e R is co e C ré d it o 35 O s “4 C s d o créd ito” (C aráter; C ap acid ad e; C ap ital; C o n d içõ es) Ele tem algum passatempo ou hobbie que, além de custoso, é perigoso? Será que ele utilizará o empréstimo na essência de seus negócios ou o aplicará em seu hobbie ou em outra área? Os ins do empréstimo são lícitos e/ou produtivos? Haverá retorno suiciente, ou existem meios de “produzir” recursos, de tal sorte a permitir o repagamento do crédito? Santi Filho (1997, p. 30 e 31) escreve que os pontos fundamentais a serem obser- vados na concessão do crédito são: estratégia empresarial – está condicionada à meta, assim, se a meta é aumentar a fatia do mercado, a estratégia é a necessidade de forte assistência inanceira; organização e funcionamento – a atenção deve estar voltada para a gerên- cia e para a gestão do negócio, alterações na administração, seja no controle acionário, ou nas pessoas-chave, devem ser vistas como fatores de risco do negócio; capacitação dos dirigentes – administradores/sócios-dirigentes têm forma- ção técnica/acadêmica e experiência compatíveis com área de atuação, têm melhores condições para conduzir o negócio de forma a reduzir seus riscos. A capacidade é a análise subjetiva das condições do devedor em retornar ao credor a quantia emprestada, no prazo acordado. O conceito de capacidade torna-se mais relevante para as instituições inanceiras a partir do momento em que o sistema econômico torna-se mais volátil, expondo crises originárias de desequilíbrios estrutu- rais do sistema globalizado, atingindo os tomadores de empréstimos e inanciamen-tos. Essas crises, de caráter global, costumam afetar a quantidade de crédito disponível, pois geralmente vêm acompanhadas da intervenção dos Bancos Centrais, reguladores do sistema inanceiro, ora aumentando juros, ora adotando medidas para restringir ou aumentar a quantidade de crédito disponível. Analisar a capacidade do cliente em condições de instabilidade econômica torna a tarefa mais difícil, por que aumenta o risco da operação, dado que as novas condi- ções pós-crise podem afetar a sua capacidade de pagamento. Não obstante os problemas que possam surgir ao se avaliar a capacidade do to- mador de empréstimos/inanciamentos, “a atenta observação de como o indivíduo ad- ministra suas inanças pessoais [...] é valiosa fonte de informação para a construção do conceito de qual seja sua Capacidade de Crédito” (SCRINCkEL, 2000, p. 51). Schrickel (2000, p. 51) lembra que a “análise do currículo proissional” do toma- dor é outro ângulo a ser considerado na diferenciação da capacidade entre indiví- duos. Assim, através da análise da estabilidade no emprego, assunção de cargos de mais alto nível e responsabilidade, atingimento de resultados relevantes ao longo de sua carreira proissional, o cliente demonstrará mais capacidade do que outro em situação inversa. 36 Sobre os critérios subjetivos de caráter e capacidade, Preisler (2003, p. 52) airma: “trata-se de dois atributos que se misturam ou se confundem a partir do momento em que se depara com uma situação do tipo ‘quero pagar, mas não posso’”. No que diz respeito ao caráter, por princípio não se questiona a vontade e disposição para pagar o devedor, porém essa vontade não se concretiza quando há incapacidade para fazê-lo. Capital O critério “capital” refere-se à situação econômico-inanceira do tomador de em- préstimos/inanciamento, ou seja, diz respeito à qualidade do montante de recursos que esse possui para saldar seus débitos. No capital, procura-se analisar as demonstra- ções contábeis para se obter informações sobre a solidez e o desempenho do cliente. O capital é critério próprio de análise de crédito de pessoas jurídicas, e não de pessoas físicas. Assim, é oportuno referir-se à capital quando se analisa o potencial de crédito de uma pessoa jurídica que deseja operar com um Banco. Com pessoas físicas, é mais conveniente referir-se às expressões “fonte de renda”, “ganhos mensais”, “salários percebidos”. A ideia de capital em análise de crédito tem duas acepções: 1) critério geral em- pregado na investigação da capacidade de pagamento do cliente; e 2) à rubrica do Balanço Patrimonial das empresas, que abriga os recursos dos sócios, e que compõe o grupo Patrimônio Líquido. Tratando-se de análise de crédito de pessoas jurídicas, Preisler (2003, p. 76) escreve que “a ideia de capital não deve restringir-se à mera rubri- ca [“Capital Social”] do Patrimônio Líquido do Balanço Patrimonial, mas transcendê-la, alcançando toda estrutura econômico-inanceira da empresa.” No Balanço das empre- sas, o patrimônio líquido é formado pelo grupo de contas que abriga os investimentos dos proprietários, ou sócios, (conta capital social), as Reservas, destinatárias dos lucros apurados, e os prejuízos (conta prejuízos acumulados). A pergunta subjacente à análise do critério pode ser formulada assim: será que o tomador potencial de crédito tem bastante capital para operar em níveis adequados de eiciência e retorno? “Eiciência” e “retorno” são variáveis relevantes na análise do cliente-tomador de empréstimos, pois as instituições inanceiras, quando emprestam, buscam eiciência na alocação de seus recursos disponíveis, e retorno dos valores em- prestados para voltarem a emprestar, auferindo ganhos na intermediação inanceira. O capital costuma ser o primeiro critério não subjetivo a ser analisado, pois ele lida com o montante de recursos a ser devolvido pelo cliente à instituição que os em- prestou. O critério começa a ser analisado após o cliente ter recebido aprovação nos critérios subjetivos anteriores. A n ál is e d e R is co e C ré d it o 37 O s “4 C s d o créd ito” (C aráter; C ap acid ad e; C ap ital; C o n d içõ es) Referindo-se ao critério de análise de capital, Silva (2008, p. 76) escreve que “o capital é medido por meio de análise de índices inanceiros, tendo, evidentemente, um signiicado muito mais amplo do que aquele que é dado à conta de capital na contabilidade”. Portanto, o “C” de capital equivale à situação econômica, inanceira e patrimonial do cliente. Schrickel (2001, p. 52) escreve que “o aspecto capital nas empresas tomadoras de empréstimos implica em uma análise global, as chamadas Análise de Balanço e Aná- lise Econômico-Financeira”, através das quais “será possível detectar, por exemplo, o quanto dos recursos próprios está investido em Ativos Fixos”. Sabe-se que o Ativo do Balanço Patrimonial das empresas abrigam seus bens e direitos. Localizam-se do lado esquerdo do Balanço, enquanto o Passivo e Patrimônio Líquido registram as obriga- ções e os recursos próprios da empresa, respectivamente. Schrickel escreve: Ato contínuo será necessário ponderar o quão adequados e eicientes são tais ativos: há espaço físico suiciente e adequado? As instalações são planejadas? As máquinas são modernas e comparáveis as dos concorrentes? Há seguros? Podem ser acomodadas novas expansões? Por outro lado, deve- se ponderar quanto dos recursos está aplicado em Ativos Circulantes e Semiixos, notadamente em Contas a Receber e Estoques: os produtos são vendáveis? O mercado está em expansão? A participação no mercado é expressiva ou relevante? Os clientes são de boa qualidade e têm pago pontualmente? Há diversiicação de clientes? Há contas incobráveis de valor expressivo? (Schrickel 2001, p. 52) O conceito do capital difere nas micro e pequenas empresas. Essas entidades ne- cessitam de cuidados especiais quando se analisa sua capacidade, devido à precarie- dade dos dados geralmente fornecidos às instituições inanceiras. Santi Filho (1997, p. 61), escreve: [...] Nas micros e, em boa parte, nas pequenas empresas, os relatórios contábeis fornecidos – base importante para a análise [...] – não estão em completo acordo com a respectiva realidade. Geralmente, são elaborados por escritórios de contabilidade externos à empresa e cumprem inalidades basicamente iscais. A avaliação de riscos relacionados ao “C” capital, neste caso, é feita mais em função dos números inerentes aos proprietários – patrimônio, etc. – do que a partir dos demonstrativos contábeis.[...] Não existe um só conceito de micro e pequenas empresas no Brasil, Idriunas (2008) informa que de acordo com “a Lei Geral para Micro e Pequenas Empresas, promulgada em dezembro de 2006, as micro empresas são as que possuem faturamento anual de, no máximo, R$ 240 mil por ano. As pequenas devem faturar entre R$ 240.000,01 e R$ 2,4 milhões anualmente para ser enquadradas. Para o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), as mi- cro-empresas são aquelas que empregam até nove pessoas no caso do comércio e serviços, ou até 19, no caso dos setor industrial ou de construção. Já as pequenas são deinidas como as que empregam de 10 a 49 pessoas, no caso de comércio e serviços, e 20 a 99 pessoas, no caso de indústria e empresas de construção (IDRIUNAS, 2008). 38 O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), organismo federal, enquadra a microempresa como sendo aquela que tem receita bruta anual de até R$ 1,2 milhão, enquanto as pequenas empresas devem tê-la superior a R$ 1,2 milhão e inferior a R$ 10,5 milhões (IDRIUNAS, 2008). Schrickel (1995, p. 82 e 83) escreve a respeito dos balanços das micro e pequenas empresas: [...] Quanto aos balanços das micros, pequenas e médias empresas, não raro ouve-se a alegação de que os balanços das empresas em geral não revelam, em absoluto, a sua realidade operacional ou factual [...]. Os demonstrativos destas empresas seriam, portanto, invariavelmenteajustados a im de poder esquivar-se da carga tributária, sem dúvida elevada, consoante as mais recentes discussões nos mais diferentes canais, o que conduziria, inclusive, a uma ampla reforma iscal num futuro próximo [...]. Embora a qualidade das fontes de pesquisa do capital dos tomadores de emprés- timos de instituições inanceiras fosse questionável até pouco tempo atrás (Santos, 2000, p. 46), ressalta-se que, existem no Brasil fontes de pesquisa disponíveis usadas pelas instituições inanceiras para investigar as condições de pagamento do cliente. São elas: a Centralização dos Serviços Bancários SA – SERASA –, empresa privada que permite a consulta em tempo real das condições do cliente, o Serviço de Proteção ao Crédito (SPC), mantido pelas Associações Comerciais, além dos bancos de dados das próprias instituições inanceiras. Condições Este é o quarto “C” inanceiro dos “Cs” de crédito estudados. Refere-se aos cenários micros e macroeconômicos em que o cliente está inserido. Tratam-se dos fatores externos e macroeconômicos que podem afetar o funcio- namento e a situação econômica e inanceira da empresa-cliente (SCHRICkEL, 2000, p. 53). A análise das condições visa avaliar o momento em que o crédito é solicitado (timing) e quando será eventualmente desembolsado. A análise de condições está associada ao estudo dos impactos sistemáticos e ex- ternos sobre a receita da empresa postulante ao crédito. A adequada avaliação do risco do cliente está ligada a esse critério, pois ele pode inluenciar as condições necessárias para a devolução da quantia emprestada. Um exemplo contemporâneo de avaliação das condições para a concessão de empréstimos diz respeito ao seguinte fato: em outubro de 2008, por ocasião da crise inanceira norte-americana, a expectativa de aprovação pelo Congresso dos Estados Unidos do aporte de US$850 bilhões ao mercado americano ocasionou oscilações A n ál is e d e R is co e C ré d it o 39 O s “4 C s d o créd ito” (C aráter; C ap acid ad e; C ap ital; C o n d içõ es) acentuadas nas cotações das ações “listadas” nas principais Bolsas de Valores de todo o mundo, além de impactos no mercado inanceiro como um todo (CALLIGARIS, 2008). Esse fato aumentou o risco de crédito dos tomadores de empréstimos e das institui- ções inanceiras emprestadoras, pois afetou a coniança no mercado e, em decorrên- cia, a quantidade de recursos disponível para se emprestar. Em outubro de 2008, os Estados Unidos passaram por uma crise inanceira ade- quadamente analisada por João Antônio Castillo Perea, executivo da Finabank Corre- tora de Câmbio, Títulos e Valores Mobiliários Ltda, localizada em São Paulo, através de um exemplo didático: Paul comprou um apartamento, no começo dos anos 1990, por 300.000 dólares inanciados em 30 anos. Em 2006 o apartamento do Paul passou a valer 1,1 milhão de dólares. Aí, um banco perguntou para Paul se ele não queria um dinheiro emprestado, algo como 800.000 dólares, dando seu apartamento como garantia. Ele aceitou o em- préstimo, fez uma nova hipoteca e pegou os 800.000 dólares. Com os 800.000 dólares, Paul, vendo que imóveis não paravam de valorizar, com- prou três casas em construção dando como entrada algo como 400.000 dólares. À di- ferença, 400.000 dólares que Paul recebeu do banco, ele se comprometeu: comprou carro novo (alemão) para ele, deu um carro (japonês) para cada ilho e com o resto do dinheiro comprou TV de plasma de 63 polegadas, 43 notebooks, 1 634 cuecas, tudo inanciado a crédito. Em agosto de 2007 começaram a correr boatos que os preços dos imóveis esta- vam caindo, as casas que Paul tinha dado entrada e estavam em construção caíram vertiginosamente de preço e não tinham mais liquidez. O negócio era reinanciar a própria casa, usar o dinheiro para comprar outras casas e revender com lucro. Parecia fácil, só que todo mundo teve a mesma ideia ao mesmo tempo, as taxas que o Paul pagava começaram a subir (as taxas eram pós-ixadas) e ele percebeu que seu investimento em imóveis se transformou em um desastre. Milhões tiveram a mesma ideia de Paul, tinha casa para vender como nunca. Paul foi aguentando as prestações da sua casa reinanciada, mais as das 3 casas que ele comprou, como milhões de compatriotas, para revender, mais as prestações dos carros, as das cuecas, dos notebooks, da TV de plasma e do cartão de crédito. Aí as casas que Paul comprou para revender icaram prontas e ele tinha que pagar uma grande parcela. Só que neste momento Paul achava que já teria revendido as três casas, mas não havia compradores, ou os que haviam só pagariam um preço muito menor que Paul havia pago. Então Paul começou a não pagar aos bancos as hipotecas da casa que ele morava e das três casas que ele havia comprado como investimento. Os bancos icaram sem receber de milhões de especuladores iguais a Paul. 40 Paul optou pela sobrevivência da família e tentou renegociar com os bancos que não quiseram acordo. Ele entregou aos bancos as três casas que comprou como inves- timento perdendo tudo que tinha investido. Paul quebrou, e ele e sua família pararam de consumir. Milhões de Pauls deixaram de pagar aos bancos os empréstimos que haviam feito baseado nos preços dos imóveis. Os bancos haviam transformado os empréstimos de mi- lhões de Pauls em títulos negociáveis. Esses títulos passaram a ser negociados com valor de face. Com a inadimplência dos Pauls esses títulos começaram a valer bem pouco. Bilhões e bilhões em títulos passaram a valer quase nada e esses títulos esta- vam disseminados por todo o mercado, principalmente nos bancos americanos, mas também em bancos europeus e asiáticos. Os imóveis eram as garantias dos empréstimos, mas esses empréstimos foram feitos baseados num preço de mercado desse imóvel. Com os preços despencando, um empréstimo que foi feito baseado num imóvel avaliado em 500.000 dólares de re- pente passou a valer 300.000 dólares e mesmo pelos 300.000 não havia compradores. Os preços dos imóveis eram uma bolha, um ciclo que não se sustentava, como os esquemas de pirâmide, era especulação pura. A inadimplência dos milhões de Pauls atingiu fortemente os bancos americanos que perderam centenas de bilhões de dólares. Com a inadimplência dos milhões de Pauls, os bancos pararam de emprestar por medo de não receber. Os Pauls pararam de consumir porque não tinham crédito, mesmo quem não devia dinheiro não conseguia crédito nos bancos e quem tinha cré- dito não queria dinheiro emprestado. O medo de perder o emprego fez a economia travar, a recessão é sentimento de medo. Mesmo quem pode, para de consumir. O FED1 começou a trabalhar de forma árdua, reduzindo fortemente as taxas de juros e as taxas de empréstimo interbancários. O FED também começou a injetar bi- lhões de dólares no mercado, provendo liquidez. O governo Bush lançou um plano de ajuda à economia sob forma de devolução de parte do imposto de renda pago, visando incrementar o consumo, porém essas ações levam meses para surtir efeitos práticos. Essas ações foram corretas e não é possível airmar que os EUA está tecnica- mente em recessão. O FED trabalhava e o mercado icava atento e as famílias esperançosas. Até que na semana passada o impensável aconteceu. O pior pesadelo para uma economia aconte- 1 FED: é o “Sistema Federal de Reservas” (ou Sistema Bancário Central), dos Estados Unidos, como a Wikipédia deine: “The Federal Reserve System (also the Federal Reserve; informally The Fed) is the central banking system of the United States”. A n ál is e d e R is co e C ré d it o 41 O s “4 C s d o créd ito” (C aráter; C ap acid ad e; C ap ital; C o n d içõ es) ceu: a crise bancária. Correntistas saíram correndo para sacar suas economias. Um dos grandes bancos da América, o Bear Stearns, amanheceu quebrado e insolvente. No domingo o FED, de forma inédita, fez um empréstimo ao Bear, apoiado pelo JP Morgan Chase, para que o banco não quebrasse. Depois disso o Bear foi vendido para o JPMorgan por 2 dólares por ação. Há um ano elas valiam 160 dólares. Durante esta semana dezenas de boatos voltaram a acontecer sobre quebra de bancos. O que começou com o Paul afeta o mundo inteiro. E dia 15 de setembro de 2008, o Lehman Brothers pediu falência, desempregando mais de 26 mil pessoas e provocan- do uma queda de mais de 500 (quinhentos) pontos no Indice Dow Jones, que mede o valor ponderado das ações das 30 maiores empresas negociadas na Bolsa de Valores de Nova York – a maior queda em um único dia, desde a quebra de 1929. Outro exemplo das alterações das condições de mercado, e que afetam o risco de operações de crédito, refere-se aos Planos de Ajustamento Econômico que foram apli- cados na economia brasileira no ano de 2007. Tais planos envolveram a alteração de padrão monetário e da relação entre os agentes econômicos – indivíduos e empresas, além do “congelamento” de recursos dos indivíduos nas instituições inanceiras, altera- ção da política cambial, modiicação da política monetária e outras providências. Os Planos de Ajustamento Econômico que ocorreram no Brasil, em 2007, altera- ram as condições micro e macroeconômicas do mercado, abalando a coniança dos agentes econômicos nas instituições e nos contratos assinados, pois tais planos cos- tumavam alterar as condições previamente acordadas entre credor e devedor, ocasio- nando mudança nas condições de risco dos tomadores de recursos. De 1942 a 2008, a moeda brasileira passou de réis para cruzeiros (1942), de cruzei- ro para cruzeiro novo (1967), de cruzeiro novo para cruzeiro (1970), de cruzeiro novo para cruzado (1986), de cruzado para cruzado novo (1989), de cruzado novo para cru- zeiro (1990), de cruzeiro para cruzeiro real (1993) e do cruzeiro real para real (1994). Schrickel (2000, p. 54) escreve que os fatores derivados dos Planos Econômicos, [...] associados ao momento peculiar em que foram adotadas as medidas e à realidade particular dos indivíduos e empresas em cada momento, introduziram profundas alterações nas condições gerais dos negócios, tomadores e empréstimos, da economia [...]. “As condições do empréstimo em si devem ser bem entabuladas. Se o ciclo operacional de uma empresa é de 180 dias, pouco provavelmente ela terá condições de saldar compromissos em 45 dias [...] se alguém tem um salário de $20 mil, não poderá assumir compromissos de $30 mil para pagar “no im do mês, a não ser que haja alguma outra fonte de recursos, que é preciso identiicar e avaliar clara e corretamente. 42 Considerações inais Essa aula teve o intuito de proporcionar as condições de identiicar os principais critérios subjetivos e inanceiros pelos quais a análise de crédito faz em grande parte das instituições inanceiras brasileiras. Os principais critérios utilizados pelos bancos para analisar o risco de crédito divi- dem-se em critérios subjetivos e critérios objetivos (inanceiros), que podem ser iden- tiicados como iniciando com a letra “C”. Assim, os critérios subjetivos são o caráter e a capacidade e os critérios objetivos são o capital e as condições. Tais critérios não esgotam a fonte de instrumentos que estão à disposição do ana- lista de crédito, mas constituem-se em parâmetros úteis na análise do risco de crédito. Texto complementar Mercado Financeiro e o Sistema de Risco (CATTANI; STADUTO, 2003) [...] Para que o crédito seja bem concedido é necessário o gerenciamento do risco. A adoção de um sistema eiciente de risco não é apenas para o provisionamen- to, mas, também, para o adequado julgamento das propostas de crédito. O provisio- namento funcionaria como um seguro contra eventuais problemas de perdas dos recursos emprestados. A atividade bancária é um setor que está sujeito ao risco sistêmico, além de serem alavancados valores inanceiros vultuosos; assim, buscam-se ferramentas mais eicazes para combater ou minimizar o risco. As instituições inanceiras analisavam o risco de seus clientes e das suas opera- ções de crédito com base em critérios variados, no entanto apresentavam-se alguns problemas que resultavam em muitas surpresas desagradáveis, os quais podiam culminar com o problema de insolvência. A contabilização era feita com base na Resolução 1.748 do Bacen, que previa o provisionamento para os créditos em liqui- dação duvidosa apenas para as operações que ultrapassassem 61 dias vencidos. A n ál is e d e R is co e C ré d it o 43 O s “4 C s d o créd ito” (C aráter; C ap acid ad e; C ap ital; C o n d içõ es) Em dezembro de 1999, o Bacen divulgou nova Resolução 2.682, que alterou os procedimentos para provisionamento do risco das operações de crédito. A partir dessa resolução, as operações passaram a ser provisionadas a partir do instante da concessão do crédito. Para tanto, foi criada uma escala de risco de AA até H, ponde- rando uma série de fatores relacionados ao cliente tomador, valor inanciado, prazo da operação, garantias oferecidas, dentre outros itens. Para cada letra da escala de AA até H estabeleceu-se um percentual de provisionamento de 0,0% até 100%. A Resolução 2.697, que complementa a 2.682, estabelece que, nas operações de crédito com o valor superior a R$50.000,00, a provisão deve ser feita, no mínimo, a cada seis meses. Dessa forma, no momento da concessão do crédito, é possível atribuir o risco do cliente e da operação e prever se é viável ou não ao agente inan- ceiro, inclusive monitorá-lo do ponto de vista do risco. A grande diferença entre a Resolução 1.748 (antiga) e a 2.682 (nova) reside no fato de que, na antiga, só se tomava conhecimento da gravidade de determinada operação de crédito depois de vencida, quando as ações para minimizar o risco do agente inanceiro já eram mais limitadas, ao passo que, pela resolução 2.682, o agente inanceiro atua com ações prévias, avaliando as operações desde o início, o que possibilita uma correção de possíveis distorções durante a vigência da mesma, evitando, assim, a inadimplência e possibilitando resultados mais coniáveis. O mercado inanceiro, tradicionalmente, costuma identiicar os cincos Cs do crédito, deinidos originalmente por Weston (apud SILVA, 1997). Silva (1997) acres- centa um sexto C (conglomerado), completando os componentes do risco de crédi- to, simpliicadamente expostos a seguir: caráter: refere-se à intenção de pagar; traduz-se pela identiicação do con- junto de boas ou más qualidades de um tomador em face do hábito de pa- gar suas contas; capacidade: refere-se à habilidade, à competência empresarial do indivíduo ou do grupo de indivíduos e ao potencial de produção, administração e co- mercialização da empresa; condições: tão importante quanto avaliar as condições internas à empresa é considerar os aspectos macroeconômicos que a envolvem e afetam; capital: refere-se à situação econômico-inanceira da empresa no que diz respeito aos seus bens e recursos possuídos para saldar seus débitos; 44 colateral: refere-se à capacidade do cliente em oferecer garantias comple- mentares; conglomerado: além dos tradicionais Cs apresentados, deve-se considerar o exame do conjunto, do conglomerado de empresas ou pessoas físicas re- lacionadas, que pleiteiam o crédito. Não basta conhecer a situação de uma empresa; é preciso que se conheça sua controladora (ou controladoras) e suas controladas e coligadas para se formar um conceito sobre a solidez do conglomerado. Com base nas variáveis de risco e sua interdependência e interação, podem-se classiicar os clientes, deinindo seu grau de risco, ou seja, a probabilidade de esses virem a não cumprir seus compromissos junto à instituição. O enquadramento de clientes/operações nos graus de risco deve ser realiza- do com base em fatores quantitativos ajustados por valores qualitativos. Os crité- rios devem estar tecnicamente ixados, buscando evitar julgamentos pessoais que possam não coincidir com a política de crédito da instituição. Atividades Quais são os critérios subjetivos de análise de créditogeralmente aplicados pe-1. las instituições inanceiras às propostas de operações feitas por clientes? Explique o critério “capital” de análise de crédito?2. Por que Schrickel (2000) airma “que é no momento de aperto (desemprego 3. ou vendas e lucros abaixo das expectativas ou necessidades) que o caráter é colocado à prova”? a) Porque no momento de aperto, o devedor endivida-se mais facilmente e, assim, tem recursos para pagar seus débitos. b) Porque no momento de aperto, as instituições inanceiras abaixam a taxa de juros e, assim, tornam mais fácil o pagamento da dívida. c) Porque no momento de aperto, o devedor paga suas dívidas como forma de cumprir o contrato pré-estabelecido. A n ál is e d e R is co e C ré d it o 45 O s “4 C s d o créd ito” (C aráter; C ap acid ad e; C ap ital; C o n d içõ es) d) Porque no momento de aperto, as instituições inanceiras consultam a icha cadastral do cliente e veriicam sua idoneidade. Os efeitos da crise inanceira norte-americana de 2008 é um exemplo de que 4. critério a ser analisado em propostas de crédito? a) Caráter. b) Capacidade. c) Capital. d) Condições. Ampliando conhecimentos SANTI FILHO, A. Avaliação de Riscos de Crédito – para gerentes de opera- ções. São Paulo: Atlas, 1997. Obra considerada clássica em “crédito”, o autor faz abordagem ampla sobre o ciclo de crédito completo. Sugere-se que o aluno consulte essa obra para solidiicar os con- ceitos expostos neste capítulo. SILVA, José P. Gestão e Análise de Risco de Crédito. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2008. O autor faz abordagem dos critérios de análise conhecidos como os “Cs do crédito”. Sugere-se que o aluno consulte essa obra complementarmente a cada “C” estu- dado neste livro. SCHRICkEL, kurt W. Análise de Crédito – concessão e gerência de emprésti- mos. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2000. Obra das mais relevantes sobre Análise de Crédito. Sugere-se que o aluno a use preferentemente para ixar conceitos expostos neste livro. PREISLER, Adriano M. Análise de Risco e Crédito para Micro e Pequenas Em- presas – uma proposta orientativa – Dissertação de Mestrado apresentada ao Departamento de Engenharia de Produção da Universidade Federal de Santa Catarina, 2003. Disponível em: <http://teses.eps.ufsc.br/defesa/pdf/8565.pdf>. Acesso em: 25 set. 2008. 47 Garantias Introdução Todo estabelecimento que concede crédito ao consumidor exige uma garantia do seu cliente, como forma de minimizar o risco do não recebimento do valor empres- tado. As instituições inanceiras que concedem crédito a seus clientes exigem, igual- mente, uma garantia para fazer face ao risco da operação. Caso o devedor não pague a obrigação, a instituição tem, na execução da garantia, um ressarcimento de parte ou do total do valor emprestado. “Garantia é deinida, em seu aspecto de risco como a vinculação de um bem ou de uma responsabilidade conversível em numerário que assegure a liquidação do em- préstimo” (SANTOS, 2000, p. 33). Já Silva (2008, p. 328) airma que a garantia “é uma espécie de segurança adicional e, em alguns casos, a concessão de crédito precisará dela para compensar as fraquezas decorrentes dos outros fatores de risco”. No entanto, vale ressaltar que a garantia, por si só, não é suiciente para a concessão do crédito. Outros fatores deverão ser avaliados para classiicar o cliente em um grau de risco apropriado ao limite de crédito pretendi- do como o caráter, capacidade, capital e condições de pagamento do tomador. O vocábulo “garantia” origina-se da palavra inglesa collateral, que deu origem ao vocábulo “colateral”. As palavras “colateral” e “garantia” são sinônimas. Em uma deci- são de conceder crédito, a garantia serve para atenuar os impactos desfavoráveis de- correntes da análise negativa dos outros “Cs” do crédito1, além do colateral. Schrickel (2000, p. 55) airma que o colateral serve para compensar essa elevação de risco. A função prática da garantia é a de gerar um comprometimento pessoal ou pa- trimonial/inanceiro do tomador de recursos, gerando uma relação de coniança do indivíduo com o estabelecimento que o emprestou. Escrevendo sobre a origem das garantias em operações de crédito, Brealey (2005) pondera que os bancos, antes de conceder crédito, costumam pedir aos devedores 1 “Cs” do crédito: caráter, capacidade, capital e condições. 48 que forneçam garantias para os empréstimos, especialmente se eles estiverem preo- cupados com o risco de crédito. A garantia tem a função de evitar que fatores imprevisíveis, ocorridos após a concessão do crédito, impossibilitem seu pagamento. Esses fatores costumam ser de ordem externa, econômica e conjuntural. Podem ser resultantes de medidas gover- namentais (aumento da taxa de juros básica da economia, a taxa Selic, desvalorização da moeda nacional em relação à moeda estrangeira), ou ainda, alterações na política iscal, creditícia e outras. Tais fatores podem impactar a situação econômica e inancei- ra do devedor de tal forma a diicultar o pagamento da dívida. A garantia, então, exerce o papel de suavizar os efeitos de tais acontecimentos, a liquidação da garantia serve para pagar (amortizar) parte do valor devido. Galvão et al. (2006, p.106) airmam que “a utilização das garantias em empréstimo foi um mecanismo importante para incrementar a intermediação inanceira no mer- cado de crédito”, ou seja, foi o meio encontrado pelas instituições inanceiras para se resguardar contra a insolvência. Para Galvão et al. (2006), os empréstimos baseados em garantias são aqueles em que o credor busca proteção em ativos do tomador e de seus controladores, e o não cumprimento das obrigações pactuadas dá ao credor o direito sobre os ativos. Santos (2000, p. 33) informa que o Banco Central do Brasil considera a exigên- cia de garantias como uma das normas da boa técnica bancária e “estabelece que os bancos comerciais, na realização de operações de crédito, devem exigir dos clientes garantias adequadas e suicientes para assegurar o retorno do capital aplicado. Mais além, o Banco Central determina que a garantia seja adequada ao tipo, montante e ao prazo de crédito”. As garantias estão associadas com a análise da riqueza patrimonial das pessoas físicas e das empresas, que consideram a possibilidade futura de uma vinculação dos bens ao contrato de crédito, em casos de perda parcial ou total da fonte primária de pagamento. (SANTOS, 2000, p. 47) As instituições inanceiras, antes de conceder crédito, procuram certiicar-se das reais possibilidades de receberem os valores emprestados e atualizados de volta aos seus cofres. Para tanto, as garantias podem ser consideradas como uma forma de ob- tenção de maior segurança no cumprimento da obrigação por parte do devedor. Schrickel (2000, p. 147) escreve que “cada instituição pode eleger internamente os tipos de garantias que entenda como sendo mais ou menos valiosas para refor- çar sua segurança nos empréstimos concedidos”. Schrickel continua airmando que a instituição que empresta pode exigir garantias de acordo com as determinações do Código Civil e Comercial, além da legislação complementar, ou pode soisticar a clas- siicação da legislação “discriminando entre os chamados direitos reais de garantia, A n ál is e d e R is co e C ré d it o 49 G aran tias aqueles que internamente à sua organização para efeitos de concessão de alçadas de crédito, se entende como sendo mais “líquidos” que outros, considerando apenas estes casos como “garantidos”. (SCHRICkEL, 2000, p. 148). Ou seja, Schrickel quis dizer que ica a critério dos bancos emprestadores seguir as determinações dos Códigos Civil e Comercial, exigindo as garantias estabelecidas nesses normativos, ou ainda exigir outras garantias mais “líquidas” do que outras, no sentido de serem mais facilmente conversíveis em dinheiro. Entende-se por “alçada de crédito” o limite de competência de um sujeito (pes- -soa física ou instituição) para deferir crédito até um montanteprédeterminado pela instituição. Os limites referidos são geralmente determinados por um Comitê de Crédi- to interno ou instância equivalente. Exempliicando, supondo-se que as instâncias que deferem crédito sejam as men- cionadas abaixo, as alçadas de crédito de um banco nacional de grande porte podem ser as seguintes: comitê de crédito – R$1.000.000,00 superintendente – até R$500.000,00 gerente-executivo – até R$250.000,00 gerente de contas – R$100.000,00 comitê diretor – negociações de valores acima de R$1.000.000,00 As alçadas de crédito costumam variar segundo o porte das instituições inanceiras. As melhores garantias exigidas pelas instituições inanceiras são as que têm maior liquidez, isto é, a sua liquidação é mais facilmente transformada em dinheiro do que as outras. Mas, a simples existência de garantia não isenta o estabelecimento bancário de riscos. Schrickel (2000, p. 45) escreve que a qualidade da garantia é fator relevante a ser considerado pelos bancos, pois algumas garantias são mais líquidas que outras. Ou seja, a liquidez signiica a maior facilidade em converter o bem dado em garantia em dinheiro. Schrickel (2000, p. 45-46) acrescenta que “em disputas judiciais, algumas garantias têm uma exequibilidade mais simples e rápida que outras. Há garantias formalmente constituídas, mas que são simplesmente não executáveis consoantes a prática proces- sualista”. Isto quer dizer que, em contendas judiciais, um dos litigantes pode dar em garantia de uma dívida ora sendo questionado um bem de difícil execução, como uma caldeira de usina de cana-de-açúcar, de mercado restrito, ou uma perfuratriz, também de difícil alienação. 50 O risco de contratar uma operação de crédito sem conhecer detalhes da vida do cliente, acrescido de garantidas duvidosas pode elevar o risco da operação a um grau elevado. Assim, Schrickel (2000, p. 46) escreve que “o risco de um empréstimo concedi- do baseado sobre garantias questionáveis é verdadeiramente incalculável”. A exigência de garantias em operação de crédito não é sinônimo de bom negó- cio. Schrickel (2000, p. 46) acrescenta que “o risco de se emprestar, baseado inicial e principalmente nas garantias, é um mau empréstimo desde o início, o que signiica que “o banco empresta sob garantia e [...] não compra a garantia, notadamente se forem elefantes brancos”. Esclarece-se que e expressão “elefante branco” quer dizer, no caso, uma garantia imponente e grande, mas inexecutável, ou insuiciente. Assim, Schrickel (2000, p. 46) airma que “não existe crédito mal dado, o que existe é crédito mal julgado”. “As operações de empréstimos e inanciamentos não devem ser concedidas ex- clusivamente em função das garantias oferecidas” (SANTOS, 2000, p. 33). Pelo contrá- rio, a garantia deve servir somente para tranquilizar a instituição inanceira de que os recursos ora emprestados serão devolvidos independentemente das garantias asso- ciadas à operação. Formalização A liberação dos recursos envolvidos em operações de crédito dá-se após apresen- tação da proposta de crédito, com a formalização do instrumento de crédito. A proposta de crédito é um documento formal da instituição concedente, assi- nado por seus representantes e pelo eventual tomador de recursos, em que consta os montantes envolvidos, as modalidades de empréstimos, os prazos e as garantias. Schrickel (2000, p. 94) escreve que toda “proposta de crédito” é fundamentalmen- te construída por meio de informações, que, necessariamente devem ser coniáveis – logo, avaliadas previamente –, as quais serão levadas na devida conta pelo aprovador para a formulação de sua respectiva decisão no estrito campo proissional.” Schrickel (2000) adverte que podem existir situações em que o volume de informa- ções disponíveis sobre o eventual tomador de recursos é escasso. Esse pode ser o caso das micro e pequenas empresas, caso em que o emprestador deverá “adotar as medidas cautelatórias e apropriadas para assegurar a manutenção do controle sobre o risco que ele está assumindo ao conceder crédito nestas condições” (SCHRICkEL, 2000, p. 95). Na aceitação da garantia na proposta de crédito, alguns fatores importantes devem ser observados pela instituição emprestadora (SILVA, 2008): A n ál is e d e R is co e C ré d it o 51 G aran tias o risco representado pela empresa e pela operação; a praticidade de sua constituição; os custos incorridos para sua constituição; o valor da garantia em relação ao valor da dívida; a depreciabilidade do bem objeto da garantia; o controle do credor sobre a própria garantia; a liquidez. A avaliação das garantias é um aspecto relevante na formalização da proposta de crédito e para o adequado resultado do processo de análise das operações. Cabe ao avaliador identiicar o risco e as fragilidades do devedor e da operação, bem como indicar o tipo de garantia, considerando a liquidez e a segurança propiciada por ela. As garantias regulamentadas pelo novo Código Civil Brasileiro, em vigor a partir de 11 de janeiro de 2003 que classiica as garantias em duas categorias: garantias pes- soais e garantias reais. Garantias pessoais Schrickel (2000, p. 164) escreve que as garantias pessoais têm como principal ca- racterística a pressuposição de que existe uma relação estreita de coniança entre o emprestador e o tomador. Essa relação de coniança decorre, geralmente, do histórico de relacionamento entre ambos, relação reforçada pela boa fé que o credor (Banco) acredita haver no devedor (cliente). Para Silva (2008, p. 329) a garantia pessoal “ocorre quando se exige do devedor apenas a promessa de pagamento, contentando-se o credor com a garantia comum que lhe possa dar o patrimônio presente e futuro do devedor ou garantidor”. Ou seja, Silva quis dizer que a garantia pessoal é uma garantia comum em que o credor só tem o patrimônio de devedor ou avalista/iador como garantia do débito. A garantia pessoal não vincula qualquer bem especíico do cliente ou garantidor, mas recai sobre a totalidade dos bens que um ou outro possuir no momento da liqui- dação do empréstimo. Com isso, os bancos expõem-se a elevados riscos de crédito, em situações em que o valor de mercado do patrimônio do devedor for inferior ao valor da dívida (SANTOS 2000, p. 34). 52 As garantias pessoais são representadas pelo aval ou pela iança. Elas são presta- das por terceiros na qualidade de devedores solidários e principais pagadores de todas as obrigações decorrentes do contrato. Nas garantias pessoais, o devedor não vincula um bem especíico à dívida, apenas apresenta o devedor solidário, ou avalista, para garantir o pagamento da dívida. Aval A normatização do aval deu-se em 31 de dezembro de 1908, pelo Decreto-Lei 2.044. Trata-se de uma garantia fornecida por uma terceira pessoa, que se torna, a partir de então, um devedor solidário do devedor principal. O aval é representado pela assinatura do devedor solidário no corpo do docu- mento de crédito. Apesar do avalista ser um devedor solidário, sua “responsabilidade limita-se ao valor inserido no título de crédito, sendo-lhe indiferentes quaisquer outros compromissos eventualmente assumidos entre o emprestador e o tomador no tocan- te a juros, comissões e outros encargos” (SCHRICkEL 2000, p. 166). Schrickel (2000, p. 166) lembra que é por essa razão que os emprestadores costu- mam fazer “contratos de crédito” com os tomadores, em que esses se obrigam a pagar os encargos remuneratórios relativos ao valor tomado em empréstimo, vinculando tais encargos ao título de crédito assinado. Tais contratos se coniguram, na opinião de Schrikel em uma “iança disfarçada”, pois transforma o “mero avalista, que tem sua obri- gação limitada aos estritos dizeres do título de crédito em interveniente solidário”. Tais contratos de crédito também podem prever a emissão de notas promissórias ou letras de câmbio, à conveniência do emprestador. A nota promissória é um título de crédito emitido pelo devedor, sob aforma de promessa de pagamento, a determinada pessoa, de certa quantia em certa data. A nota promissória, portanto, é uma promessa direta e unilateral de pagamento, à vista ou a prazo, efetuada, em caráter solene, pelo promitente-devedor ao promissário-credor. (FORTES, 2004) Embora o aval seja uma garantia pessoal que não vincula qualquer bem especíico do garantidor, mas todo o seu patrimônio pessoal, as instituições credoras costumam exigir que o avalista tenha seu patrimônio livre, sem gravames de qualquer espécie, para que possam garantir o retorno do capital emprestado. Ou seja, o aval é uma garan- tia pessoal, em que não se tem um bem especíico vinculado à dívida, mas todo o patri- mônio do avalista deve estar livre de gravames para que a instituição aceite o avalista. O aval é utilizado em caso de títulos cambiais e é formalizado pela assinatura do avalista, ou de seu procurador com poderes especíicos, no anverso2 do respectivo 2 Anverso é a expressão que se usa no mercado bancário, signiica a frente do documento. A exigência da assinatura no documento no anverso do documento e no verso, se não houver espaço, é legal.A n ál is e d e R is co e C ré d it o 53 G aran tias título. Santos (2000, p. 35) escreve que, se não houver espaço suiciente na frente, pode ser feita no verso, após a expressão avalista ou por aval. Há a necessidade da assinatura do cônjuge, sob pena de invalidação da garantia outorgada. O aval costuma ser exigido de todas as operações de crédito por ser a forma mais usual de garantia e por minimizar a exposição ao risco em casos de inadimplência do cliente, ou de concordata ou falência da empresa devedora. Santos (2000, p. 35) lembra que o avalista é responsável pela amortização do em- préstimo, da mesma maneira que o devedor principal, não havendo prioridade de um ou de outro na exigência do valor devido. Santos (2000, p. 35) escreve que, “todavia, nunca poderá ser cobrado um valor superior ao do próprio título, salvo se o título for emitido com “pacto adjeto de correção”. Segundo o Guia do Cidadão o pacto adjeto ou pacto acessório, é uma “convenção acessória irmada, num contrato, junto a uma convenção principal. Apartada do con- trato ou convenção principal, a substância desta não é afetada. É também chamado pacto acessório, e dele temos, como exemplo, a cláusula de multa” (GUIA DO CIDADÃO, 2008). Silva (2008) considera o aval como uma obrigação autônoma em relação à obri- gação principal, que pode ter vários avalistas, e, caso o devedor principal não cumpra com o pagamento, é facultado ao credor cobrar a dívida de qualquer um dos avalistas, inclusive sem cobrar do devedor principal. Santos (2000, p. 35) relaciona alguns cuidados que devem ser tomados sobre ga- rantias em aval: o título de crédito deve estar bem formalizado (preenchimento, valores, ende- reços, dados corretos, ausência de rasuras); conferência das assinaturas, com a colocação do visto de conferência; conferência dos poderes de quem assinou (procuração e estatutos ou contra- to social); que o(s) avalista(s) seja(m) o(s) mesmo(s) citado(s) no contrato a que o título estiver vinculado, e que os dados sejam os mesmos citados no contrato; que o valor do título seja suiciente para cobrir o valor do crédito com os res- pectivos encargos; normalmente as promissórias tenham vencimento à vista, porque, em caso de vencimento antecipado do contrato, o título poderá ser protestado e cobrado, sem a necessidade de aguardar um vencimento posterior. 54 Fiança Fiança é uma garantia pessoal, mediante a qual uma pessoa (iador) garante, no todo ou em parte, o cumprimento de obrigação que outra pessoa (aiançado/devedor) assumiu com um concessor de inanciamento (beneiciário) (SANTOS 2000, p. 36). O novo Código Civil Brasileiro, através da lei 10.406 de 10/01/2002, artigo 818, assim conceitua o contrato de iança: “Pelo contrato de iança, uma pessoa garante satisfazer ao credor uma obrigação assumida pelo devedor, caso este não a cumpra. Na iança, o iador se compromete a satisfazer à obrigação de um terceiro para maior segurança do credor. Silva (2008) ressalta que, na iança, poderá haver o deno- minado “benefício de ordem”, ou seja, o credor poderá acionar primeiro e diretamente o devedor e, após, o iador, salvo se este renunciar ao benefício. Tanto a iança, como o aval, só tem validade se houver a concordância e assinatura do cônjuge, caso contrário a garantia assim prestada será considerada nula. A iança geralmente abarca, além do valor do principal garantido, os encargos inan- ceiros, como juros, despesas acessórias, comissão de permanência e outras despesas. Schrickel (2000, p. 168) escreve que, para ser eiciente perante terceiros, a iança deve ser materializada em documento individualizado. Já Santos (2000, p. 36) lembra que a execução do processo de iança é mais lenta do que o do aval, dado que o “iador, demandado pelo pagamento da dívida, tem o direito de exigir, até a constatação do processo, que primeiramente sejam penhorados os bens do devedor”. Mas, continua Santos (2000), caso o iador tenha concordado formalmente em renunciar ao “benefício de ordem” e obrigar-se como devedor solidário nos casos em que o devedor principal tornar-se insolvente ou falido, ele perderá essa oportunidade. Ou seja, a oportunidade é alegar o benefício de ordem nos casos em que o devedor principal icar insolvente ou falido, o que é impossível de ser feito, pois nesses casos o iador é tão responsável quanto o devedor principal. “A iança, para ser eiciente perante terceiros, deve estar materializada em um documento individualizado, ou integrando-se ao corpo do contrato principal para ser registrada no Cartório de Títulos e Documentos” (Schrickel 2000, p. 168). Schrickel (2000, p. 168) escreve que pelo Estatuto da Mulher Casada - Lei 4.121, de 27/08/62 - “a iança obriga a anuência da esposa do iador casado, em razão do princípio da outorga uxória, isto é, o consentimento do cônjuge para a assunção de uma obriga- ção que compromete potencialmente o patrimônio comum do casal”. Acrescenta ainda Schrickel (2000, p. 168) que, “pelo dispositivo legal, a execução da iança não poderá ferir o preceito da meação, ou seja, comprometer bens que ultrapassem a metade do patrimônio comum do casal, se apenas um dos cônjuges atuou como iador”. A n ál is e d e R is co e C ré d it o 55 G aran tias Santos (2000, p. 36) enumera alguns cuidados a serem tomados nas garantias por iança: veriicar se a iança foi prestada por escrito; se é suicientemente clara quanto à obrigação assumida pelo iador; se tem vencimento compatível com a obrigação garantida; se houve renúncia expressa aos benefícios de ordem; se quem assinou tinha poderes suicientes para assinar a obrigação; se a(s) assinatura(s) é(são) autêntica(s); se quem assinou é pessoa física casada – caso em que o outro cônjuge deve também assinar; se o limite garantido é corrigido ou não, e de que forma, para que a dívida esteja suicientemente coberta ao longo do tempo. Garantias reais São as aquelas que se constituem sobre a vinculação de bens tangíveis (corpóre- os) do tomador, como, por exemplo, veículos, imóveis, máquinas, equipamentos, mer- cadorias e duplicatas (SANTOS 2000, p. 37). Silva (2000, p. 331) escreve que “as garantias ocorrem quando, além da promessa de pagamento, o devedor confere ao credor o direito especial de garantia sobre uma coisa ou uma universalidade de coisas móveis ou imóveis”. No caso da garantia real, o garantidor destaca um bem de seu patrimônio, que seja aceito pela entidade empres- tadora, para servir como garantia de devolução dos recursos tomados. Assim, as exigências de garantias reais acontecem quando, além da promessa de pagamento, o devedor confere ao credor o direito especial de execução de um bem ou uma universalidade de coisas móveis ou imóveis. Silva (2008) airma que, no caso da garantia real, o garantido destaca um ou mais bens deseu patrimônio para assegurar o cumprimento da obrigação. [...] quando se constitui uma garantia sobre determinado bem, ele estará comprometido legalmente com o contrato de crédito ao qual se vincula. Caso o cliente não apresente condições inanceiras de amortizar o valor total do empréstimo, o bem estará à disposição do credor que, mediante processo, poderá recorrer à recuperação do empréstimo, via venda judicial. (SANTOS, 2000, p. 37) 56 As garantias reais são indivisíveis, no sentido de que elas não sofrerão alteração no decorrer do contrato de empréstimos do qual elas são garantia. Independentemen- te da amortização do contrato, as garantias reais prevalecerão por inteiro. As características das principais garantias exigidas pelas instituições inanceiras bra- sileiras em operações de crédito são: hipoteca, anticrese, alienação iduciária e penhor. Hipoteca É uma modalidade de garantia real, acessório de dívida, que incide sobre os bens imóveis. Nesta modalidade, o bem hipotecado permanece em poder do devedor ou de terceiro. Tanto no penhor como na hipoteca, o credor não tem a posse do bem, mas tem a preferência de compra, em venda judicial, visando à liquidação da dívida. Outra característica da hipoteca, segundo Silva (2008), é o fato de “conferir ao credor o direito de sequela, ou seja, a eventual venda do bem não afeta o gravame, podendo o credor executar judicialmente a garantia, mesmo que o bem já esteja na propriedade de terceiros”. Ou seja, se um bem hipotecado for vendido, ela leva consigo o gravame, não constituindo a venda uma extinção do ônus, podendo assim o credor executar a hipoteca. A hipoteca de um bem contempla, salvo cláusula em contrário, todas as suas ben- feitorias. Ou seja, a hipoteca incide sobre o bem e as benfeitorias nele feitas, e não sobre o bem sem elas. Anticrese É uma modalidade especíica de garantia real na qual a posse do bem imóvel é transferida ao credor que se beneicia dos rendimentos resultantes do objeto da ga- rantia até que a dívida seja paga. Assim, na anticrese o credor passa a usufruir do bem dado em garantia, usufruindo de eventuais rendimentos que ele possa produzir até a quitação da dívida. Esses rendimentos podem ser os aluguéis, se o bem dado em ga- rantia for um imóvel que se encontra alugado a terceiros. A anticrese difere do penhor pelo fato de versar sobre bem imóvel, enquanto os objetos de penhor devem ser bens móveis. A anticrese difere da hipoteca pelo fato de, nesta última, o devedor hipotecário icar com a posse do bem dado em garantia, enquanto na anticrese a posse do bem ica com o credor. A n ál is e d e R is co e C ré d it o 57 G aran tias Alienação iduciária Forma especial de garantia que tem por objeto bens móveis identiicáveis (má- quina, veículos, equipamentos etc.) e opera com a transferência da posse indireta (pro- priedade resolúvel) do bem para o credor, icando o devedor apenas com sua posse direta. O devedor alienante não é o proprietário do bem alienado, apenas faz uso dele. O devedor assume o papel de “iel depositário”, não podendo vendê-lo ou onerá-lo sem a prévia concordância do credor. Após a liquidação do inanciamento, a posse do bem retorna ao devedor, que passa a ser titular do domínio pleno do bem. De acordo com Silva (2008), existe, também, a alienação iduciária de imóvel, que é a garantia constituída por meio de negócio jurídico em que o devedor, ou iduciante, contrata a transferência ao credor da propriedade resolúvel de coisa imóvel. Penhor É a garantia real que recai sobre os bens móveis, suscetíveis de alienação, cuja posse, salvo no caso do penhor rural, industrial, mercantil e de veículos, será transferi- da ao credor. Este poderá efetuar a venda, judicial ou amigável do bem, para liquidar a dívida da qual o penhor é acessório. Assim, no penhor, os objetos de garantia devem ser bens móveis, suscetíveis de venda, que devem ser transferidas ao credor, salvo se a modalidade de garantia for penhor rural, industrial, mercantil e de veículos, casos em que os bens podem icar na posse do devedor. O penhor tem vasta abrangência, que pode englobar: bens móveis corpóreos ou incorpóreos (joias, quadros, mobílias valiosas, direi- tos e outros); os imóveis; os direitos; e títulos de crédito. O credor de operações de penhor é conhecido como “credor pignoratício”. Ele é apenas o depositário do bem que recebe. Se o devedor não pagar a dívida, pode o credor executar a venda, judicial, sendo-lhe vedado apropriar-se do bem. Silva (2000, p. 332) es- creve que “o penhor permite, no caso de falência, que o credor seja pago preferencialmen- te em relação aos demais credores e desde que respeitada a preferência dos créditos”. 58 Um exemplo clássico de penhor são os de joias e bens não-perecíveis que podem servir de garantia real para valores emprestados pela Caixa Econômica Federal. Silva (2000) lembra que o penhor em que o devedor entrega ao credor (depositá- rio) coisa móvel em garantia é chamado penhor comum. No penhor especial, que com- preende o penhor rural e o penhor industrial, não há transferência do bem ao credor, icando os próprios devedores como depositários. Quando o penhor incide sobre títu- los de crédito, ele recebe o nome de caução. Para Silva (2000) a caução é uma garantia real representada pelo penhor de bens intangíveis (incorpóreos). Esse autor relaciona os títulos e documentos viáveis de serem caucionados, em operações de crédito: Ações – fração do capital social de uma sociedade anônima, representado por títulos de propriedade negociável. Assim, ação é a parcela mínima do ca- pital, equivalente à escritura de um título de propriedade da parte ideal da empresa. Cédula hipotecária – título de crédito, nominativo, endossável, garantido por hipoteca. É um título que representa um direito (crédito) que caracteriza uma promessa de pagamento com uma garantia real de hipoteca. É um instrumen- to suiciente para a representação de créditos hipotecários. Certiicado de Depósito Bancário (CDB) – aplicação inanceira baseada em Títulos de Renda Fixa que permite ao investidor saber com antecedência quais serão os rendimentos oferecidos pela aplicação. É um investimento com baixo risco podendo ser transferido mediante endosso pelo depositante. Certiicado de Recebíveis Imobiliários (CRI) – título de crédito nominativo, de livre negociação, lastreado em créditos imobiliários, que constitui promes- sa de pagamento em dinheiro. Ao adquirir um CRI, o investidor está adquirin- do, na verdade, o luxo de recebimento de crédito concedido para a efetivação do empreendimento imobiliário. Os CRIs são emitidos exclusivamente pelas companhias securitizadoras que transformam em títulos (CRIs) os créditos (re- cebíveis) imobiliários descontados pelos incorporadores imobiliários, institui- ções inanceiras, imobiliárias etc. Debêntures – título de crédito representativo de empréstimo que uma com- panhia faz junto a terceiros e que confere direitos aos seus detentores, nas condições constantes da escritura de emissão. A n ál is e d e R is co e C ré d it o 59 G aran tias Duplicata – título de crédito formal, nominativo, emitido por empresário ou prestador de serviço e representativo de uma compra e venda de bens ou de prestação de serviços, destinado ao aceite e pagamento por parte do compra- dor, circulável por meio do endosso e sujeito à disciplina do direito cambiário. Letra de câmbio (cambial) – título de crédito formal e completo, nominativo, circulável por endosso, em que alguém (sacador) ordena a outrem (sacado) que pague a um terceiro (tomador) ou a si mesmo, em certo tempo e lugar, determinada quantia. Nota promissória – título de crédito formal que contém promessa direta de pa- gamento feita pelo emitente (devedor) a favor do beneiciário (credor), sendo nominativo e circulável mediante endosso, salvo cláusula em contrário. Título de dívida pública – títulos emitidos pelo Estado como, por exemplo,apólices, obrigações do tesouro e bônus. Warrants – documento de crédito que consubstancia um penhor de merca- dorias depositadas em armazém geral. Conclusão Em operações de crédito, a garantia é geralmente exigida por toda instituição inanceira como forma de mitigar o risco do eventual não recebimento dos valores emprestados ou inanciados. Existem duas categorias de garantia, as pessoais e as reais. As garantias pessoais são representadas pelo aval e a iança e ocorrem quando se exige do devedor apenas a promessa de pagamento, contentando-se o credor com a garantia que lhe possa dar o patrimônio presente e futuro do devedor ou do garantidor (avalista ou iador). As garantias reais ocorrem quando, além da promessa de pagamento, o devedor confere ao credor o direito especial de garantia sobre bens móveis ou imóveis. São exemplos de garantias reais: hipoteca, anticrese, alienação iduciária, penhor e caução. A qualidade da garantia atrelada na operação crédito é fator relevante a ser con- siderado pelas instituições inanceiras. Deve-se priorizar garantias mais líquidas que outras, que possam reverter em dinheiro mais rapidamente quando as instituições em- prestadoras enfrentarem determinada situação de inadimplência. 60 Sistema de garantia de crédito para micro e pequenas empresas no Brasil: proposta de um modelo (ZICA; MARTINS, 2008) Formas de garantia de crédito Segundo Neves (1997), no direito brasileiro a garantia pode ser deinida como “meio de assegurar ou acautelar o direito de outrem, contra qualquer lesão resul- tante da inexecução de uma obrigação”. A garantia, continua o autor, é a “proteção que a ordem jurídica dispensa à pessoa ou ao direito de cada um”. As regras sobre as exigências e cumprimento das garantias a um determinado empréstimo foram evoluindo, culminando em dois tipos vigentes de garantias pessoais, também cha- madas de idejussórias; e garantias reais. Conforme Souza (2002), nas garantias pes- soais, uma terceira pessoa se compromete, perante o credor, a pagar a obrigação acertada, caso o devedor não a concretize. Subdividem-se em iança e aval. Já as garantias reais são representadas por uma coisa (bem), que pertença ao devedor ou a algum terceiro e que possua valor suiciente para eventual ressarci- mento do credor, em caso de não pagamento da obrigação contratada. Subdivi- dem-se em penhor, caução, hipoteca, alienação iduciária e anticrese. O que as diferencia variará em função do direito de propriedade e da posse do bem ofertado em garantia, durante a vigência do contrato. Modelos gerais de sistemas de garantia de crédito Segundo Cassiolato, Britto e Vargas (2002), os mecanismos de garantia de cré- dito vêm sendo amplamente empregados em âmbito mundial. Para os autores, os esquemas de garantia de crédito ou esquemas de garantia mútua possibilitam a oportunidade de acesso ao sistema inanceiro nacional, àquelas empresas que não apresentam as condições necessárias para contratar inanciamento pela falta de ga- rantias e de informações sobre o desempenho passado. Texto complementar A n ál is e d e R is co e C ré d it o 61 G aran tias De acordo com Pombo e Herrero (2003), o objetivo dos sistemas de garantias de crédito é a integração das micro e pequenas empresas com o sistema inanceiro formal, sob melhores condições de juros e prazo. Além disso, esse sistema apresenta outras possibilidades de atuação, como o oferecimento de avais técnicos, comer- ciais e de serviços de assessoramento empresarial aos clientes. Os estudos realizados pelos autores identiicaram a existência de três modelos gerais que englobam todos os sistemas de garantias: fundos de garantia – esse tipo de fundo dispõe de recursos limitados e transitórios, oriundos de programas públicos (estatais), fundações, ONGs ou de alguma cooperação internacional, destinados a prestar garantias de crédito. As atividades operacionais de análise, concessão e recuperação icam delegadas às entidades inanceiras e o postulante solicita o crédito e geralmente paga pelo uso da garantia; programas de garantia – são programas voltados para a garantia do cré- dito, com articulação e administração, normalmente, por meio de uma agência de desenvolvimento estatal, do banco central do país envolvido ou por algum banco público. Seus recursos podem ser limitados e renováveis, procedentes do Estado ou de organismos de cooperação multilaterais e bilaterais; sociedades de garantia de crédito – são sociedades destinadas à prestação de garantias complementares a seus associados, conforme exigência do sistema inanceiro. Possuem também o ob- jetivo de prestação de avais técnicos e comerciais, bem como de serviços correlatos ao assessoramento inanceiro de seus sócios, micro, pequenas e médias empresas. Podem ser de âmbito local, regional ou estatal. A própria sociedade realiza os serviços de análise e de concessão das garantias pleiteadas, assumindo a inadimplência e eventuais falências, se encarregando dire- tamente da atividade de recuperação das perdas. Conforme Lloréns (1996), as sociedades de garantia de crédito subdividem-se em: mutualista, realizada por instituição privada, com dotação de recursos privados e públicos; e corporativa, onde os recursos são mistos, mas tem predominância de participação de entidades do setor público. Destacam-se como principais características do modelo de Sociedade de Ga- rantia de Crédito (SGC): possuir âmbito local, regional ou estatal; realizar serviços de análise e concessão de garantias complementares aos seus usuários; prestar avais técnicos e comerciais; realizar serviços de assessoramento inanceiro a seus sócios; garantia individual; relacionamento entre cliente e entidade gerador de idelização, visto que o cliente estabelece relação e pagamentos diretamente à Sociedade de Garantia de Crédito; assumir inadimplência, eventuais falências e se encarregar da recuperação das perdas; aumentar o poder de barganha com as instituições inan- ceiras por melhores condições das formas de inanciamento e potencializar a redu- ção da assimetria de informações entre a oferta e a demanda. 62 Como apontaram Pombo e Herrero (2003) e Llisterri (2006), baseando-se nas melhores práticas das experiências internacionais, existem certas vantagens na uti- lização das SGCs em relação aos fundos de avais. As SGCs podem ser mais interessantes que os fundos, se vistas pelos seguintes prismas: possibilidade de efetuar convênios com diversas instituições inanceiras, ampliando o leque de oportunidades para os associados; menor nível médio de inadimplência que os fundos, dada a redução do risco moral e da melhora da quali- dade das análises de outorga das garantias; possibilidade de aproximação entre os parceiros, gerando negócios entre si, complementaridade de atividades, prestígio e engajamento social-empresarial, aprendizado mútuo; os fundos têm participação pequena em relação à grande carência de crédito e sua relação com a deiciência de apresentação de garantias; estímulo do protagonismo local; possibilidade de atra- ção de novos negócios na região, e aumento do poder de barganha perante as insti- tuições inanceiras (podendo, eventualmente, ocorrer um “leilão reverso”). Segundo Llisterri (2006), o valor médio das garantias prestadas nos modelos das sociedades de garantia de crédito é bem superior ao dos valores médios garan- tidos pelos fundos de aval. Existem três fundos de aval em funcionamento no Brasil: o Fundo de Aval às Micro e Pequenas Empresas (Fampe), administrado pelo Sebrae; o Fundo de Aval para a Geração de Emprego e Renda (Funproger), administrado pelo Banco do Brasil; e o Fundo de Garantia para a Promoção da Competitividade (FGPC), criado e admi- nistrado pelo BNDES, todos de abrangência nacional. Entretanto, a partir das deinições de Pombo e Herrero (2003), compreendemos que os fundos existentes no país comportam-se mais dentro do conceito de “progra- mas de garantia” do que de “fundos de garantia”. De acordo com Baumgartner(2004), tal airmação se dá em função de que os fundos no Brasil não possuem característica de recursos transitórios, mas renováveis e perenes. Sob a sistemática de sociedade de garantia de crédito, existe um modelo em fun- cionamento no Brasil denominado Associação de Garantia de Crédito (AGC) da Serra Gaúcha, com atuação especíica naquela região e com características mutualistas. A n ál is e d e R is co e C ré d it o 63 G aran tias Atividades Em que situação especíica citada, a garantia pessoal, exigida pelas instituições 1. inanceiras na concessão de empréstimos, pode expô-las a elevados riscos nas operações de crédito? Qual o tipo de garantia que ocorre a transferência da propriedade resolúvel do 2. bem ao credor? a) Alienação iduciária. b) Penhor comum. c) Hipoteca. d) Aval. Segundo Galvão “[...] os objetos da garantia são bens móveis e imóveis. E deve 3. ser constituída por meio de uma escritura pública”. Qual é a alternativa correta sobre a garantia referida? a) Penhor. b) Hipoteca. c) Aval. d) Alienação iduciária. “É uma modalidade especíica de garantia real na qual a posse do bem imóvel 4. é transferida ao credor, que se beneicia dessa forma dos rendimentos resultan- tes do objeto da garantia até que a dívida seja paga”. Essa deinição correspon- de à qual garantia? a) Fiança. b) Penhor. c) Hipoteca. d) Anticrese. 64 Ampliando conhecimentos SANTOS, José O. Análise de Crédito – Empresas e Pessoas Físicas. São Paulo: Atlas, 2000. O autor sintetiza, de forma prática e interessante, as principais garantias pessoais e reais adotadas no mercado de crédito brasileiro. Sugere-se a consulta ao capítulo “garantias” para irmar os conceitos estudados. SILVA, José P. Gestão e Análise de Risco de Crédito. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2008. O autor apresenta um capítulo dedicado ao estudo das garantias e suas principais modalidades. Relaciona cada uma delas e apresenta as características e semelhanças entre as garantias. Sugere-se que o aluno consulte o livro quando tiver dúvidas sobre pontos abordados no capítulo. A n ál is e d e R is co e C ré d it o 65Garantias 67 Risco e crédito Introdução O conceito do risco está relacionado à possibilidade de perigo. No mundo empre- sarial, mais especiicamente em relação ao risco de crédito, o conceito está relacionado às incertezas e às possibilidades de perda em determinadas operações. Solomon e Pringle (1981) escrevem que “risco é o grau de incerteza a respeito de um evento”. No entanto, Silva (2008) pondera que, em Finanças, costuma-se diferenciar os conceitos de risco e incerteza. O autor traz as seguintes deinições: a) Risco: existe quando o tomador de decisões pode basear-se em probabilidades objetivas para estimar diferentes resultados, de modo que sua expectativa se baseia em dados históricos e, portanto, a decisão é tomada a partir de estimativas julgadas aceitáveis pelo tomador de decisões. b) Incerteza: ocorre quando não se dispõe de dados históricos acerca de um fato, o que poderá exigir que o tomador de decisões faça uma distribuição probabilística subjetiva, isto é, baseado em sua sensibilidade pessoal. (SILVA, 2008, p. 56) Do ponto de vista da instituição inanceira, o grau de incerteza do recebimento de um valor emprestado é medido através da probabilidade de ocorrência do evento. Assim, se o recebimento do empréstimo feito for um “evento certo”, isto é, se estiver sendo con- siderado como garantido, a probabilidade do evento será de 100%. Assim, para cada evento pode-se associar a uma probabilidade correspondente à sua ocorrência. O risco e a incerteza costumam estar presentes em grande número de decisões inanceiras dos executivos das empresas. Tais decisões podem levar ao sucesso ou ao fracasso da empresa. Assaf Neto (2008, p. 207) escreve que a ideia de risco “está diretamente associada às probabilidades de ocorrência de determinados resultados em relação a um valor médio esperado”. Tal conceito é voltado para o futuro, analisando uma possibilidade de perda. Securato (1996, p. 21) escreve que são conhecidas as histórias do mercado inan- ceiro, onde “operações praticamente sem riscos em determinado dia levam, no dia 68 seguinte, bancos e corretoras à liquidação, como o ocorrido em junho de 1989 (caso Nahas) nas bolsas de valores de São Paulo e Rio de Janeiro”. O autor continua, airman- do: “outro exemplo é o caso de carregamento de títulos públicos com ganhos pratica- mente seguros que se transformam em razoáveis prejuízos”. O caso do investidor libanês Naji Nahas, nascido no Egito, é o do escândalo inan- ceiro que abalou a Bolsa de Valores do Rio de Janeiro que estourou no dia 9 de junho de 1989, quando Nahas emitiu um cheque do Digibanco no valor de NCz$38.921.760,12 (cruzados novos), cerca de US$10 milhões, devolvido sem fundos pelo Banco de Cré- dito Nacional. Nahas foi proprietário de empreendimentos tão díspares quanto o Banco Sogeral e a boate Regine’s. Tudo parecia ir bem até que descobriu o mercado inanceiro. Nahas airma ter perdido com a crise da Bolsa carioca uma carteira de ações que valia US$ 480 milhões à época – hoje, mais de US$ 2 bilhões. Sempre considerou como virtudes suas estar bem informado e antecipar acontecimentos. ‘A genialidade é ser capaz de prever o que vai acontecer no futuro’, disse em março de 1988, um ano antes de a crise estourar. (ALMEIDA ; VIEIRA, 1997) Embora o estudo do risco seja um procedimento moderno e relevante para insti- tuições inanceiras, Securato faz a seguinte ressalva: Com todo o esforço realizado e por mais positiva que seja nossa avaliação com relação ao crédito a ser concedido, só conheceremos o resultado da operação no seu vencimento, quando recebermos ou não o valor pactuado pela operação de crédito. Essa falta de certeza quanto ao resultado do processo é que cria a condição de risco na operação de crédito! (SECURATO, 2002, p. 181) Conceito e classiicação Uma compreensão intuitiva de “risco de crédito” é dada por Securato (2002), que airma ser comum tratarmos o termo “risco de crédito” no sentido de operação que as vezes não se encerra da forma como gostaríamos, ou seja, de recebermos sem proble- ma o resultado da operação de crédito. O risco de crédito pressupõe a possibilidade da quantia emprestada não ser devolvida no valor e no tempo originalmente acordado. As operações de crédito são objeto de minuciosas investigações dos órgãos regu- ladores, geralmente atentos para adotar medidas de regularização do mercado inan- ceiro, se necessário. Nos últimos 30 anos, o mundo inanceiro presenciou grandes colapsos. Em princí- pios da década de 1970, houve excesso de liquidez na economia americana, resultado da entrada dos Estados Unidos aos petrodólares1 que, juntamente, com a pressão inlacio- nária interna, redundou na elevação da inlação e a taxa de juros no país. Tais aconteci- mentos, aliados ao aumento dos recursos disponíveis e do crescimento desordenado do crédito, ocasionou um aumento das taxas de inadimplência (SECURATO, 2002). 1 Petrodólares: são as divisas (em geral, dólares) originárias da exportação de petróleo. A n ál is e d e R is co e C ré d it o 69 R isco e créd ito No inal da década de 1990, a crise inanceira estourou nos países conhecidos como Tigres Asiáticos2. Essa crise icou conhecida como “crise asiática”, caracterizada principalmente pela fuga de capitais dos investidores estrangeiros. A liquidez do sis- tema bancário chegou a quase zero e expandiu-se para outros países que tinham rela- ções comerciais mais intensas com aqueles países: Tailândia, Indonésia, Brasil e Repú- blica Tcheca. A crise mexicana ocorreu em 1995. Ela ocasionou a desvalorização do peso me- xicano em 60%, em um espaço de 15 dias. Esse fato provocou uma fuga em massa de divisas do país, desencadeando uma onda de desconiança em todos os mercados inanceiros dos países em desenvolvimento, o chamado “efeito tequila”. Essa crise oca- sionou um “pacote” deajuda ao México, no valor de 47,5 bilhões de dólares, feita pelo governo norte-americano. Em 2007, a crise inanceira mundial eclodiu nos Estados Unidos. As inanceiras americanas coniaram excessivamente em clientes que não tinham boa icha cadastral, resultando no não pagamento de dívidas nos últimos anos. Com isso, as inanceiras reinanciaram clientes com má icha cadastral. Esses reinanciamentos são conhecidos como subprime (traduzido como “de segunda linha”). A crise americana iniciada em meados de 2007 é tida como a mais grave depois da crise inanceira de 1929, nos Estados Unidos. A crise de 2007 se originou quando os clientes deixaram de pagar a prestação de inanciamentos de seus imóveis, dado como garantia na operação, ocasionando uma crise no mercado imobiliário. Os preços dos imóveis caíram, reduzindo as garantias dos empréstimos. As instituições, temerosas, diicultaram novos empréstimos, fazendo cair o número de compradores de imóveis, agravando ainda mais a crise no setor, que começou a ser sentida em julho de 2007. Essa crise inanceira espalhou-se por todos os países do globo, devido ao fato de que os bancos transformaram os empréstimos hipotecários em papéis negociáveis (se- curitização), vendendo-os a diversas instituições inanceiras em todo o mundo. Essas, pelo fato das hipotecas não estarem sendo pagas nos Estados Unidos, acabaram so- frendo perdas inanceiras. O resultado da crise inanceira mundial, iniciada em 2007, deve afetar o nível de emprego e consumo de vários países, causando, provavelmente, recessão geral na economia de todos, ou em grande parte, dos países envolvidos. Devido às crises inanceiras referidas acima, que envolveram número elevado de países, o risco de se conceder crédito passou a ser melhor analisado pelas instituições inanceiras, porque em épocas de crise de liquidez e coniança na quantidade de 2 Tigres Asiáticos: Hong kong, Cingapura, Coreia do Sul e Taiwan. 70 recursos disponíveis para operações de crédito costuma reduzir-se, elevando as taxas de juros incidente sobre elas. Gitman (2004) traz a seguinte deinição sobre risco de crédito, “o risco, em seu sentido fundamental, pode ser deinido como a possibilidade de prejuízo inanceiro”. Segundo o autor, observa-se que o termo “risco” é usado alternativamente para deno- tar “incerteza” quando trata da variabilidade de retorno associada a um ativo. O grau de risco é uma qualiicação atribuída em função de indicadores inanceiros, combinados com informações de caráter qualitativo, que indicam com que severidade o cliente deverá ser tratado, tanto no momento do estabelecimento do limite de crédi- to ou de aprovação de uma operação especíica, quanto no posterior gerenciamento de risco (SECURATO, 2002). Um aspecto relevante em relação ao risco é a forma como as empresas expõem-se a ele e até que ponto elas se arriscam em operações de crédito que representam varia- bilidade em relação ao retorno esperado. A depender da forma como as empresas acei- tam o risco, as preferências empresariais podem ser classiicadas da seguinte forma: Indiferentes ao risco – quando nenhuma mudança no retorno seria exigida em vista de um aumento de risco. É o exemplo do cliente que apresenta um risco elevado, mas a empresa resolve operar com ele, pois se trata de cliente tradicional que apresenta boas garantias. Aversos ao risco – quando um incremento de retorno seria exigido em vista de um aumento de risco. É o caso do cliente que apresenta certo grau de risco e a empresa ou instituição inanceira cobra um valor maior pelo risco maior detectado. Tendência ao risco – quando uma diminuição de retorno poderia ser aceita em vista de um aumento de risco. É o exemplo, geralmente não muito ob- servado, de uma empresa reduzir os encargos (juros e correção monetária) incidentes na operação realizada com um cliente de risco elevado. De um modo geral, os gestores de empresas e instituições inanceiras tendem a ser aversos aos riscos. Em cenários mais arriscados costumam exigir retornos maiores para as operações, incorporando o risco ao preço. A regra geral é que os emprestado- res aceitem o risco apenas até o ponto em que sentem seguros quanto à devolução da soma emprestada ou inanciada ao cliente. Existem diversos mecanismos, de natureza quantitativa e qualitativa, para se avaliar os riscos de operações de crédito. Descreve-se, abaixo, os julgados mais representativos. A n ál is e d e R is co e C ré d it o 71 R isco e créd ito Análise de sensibilidade – é um mecanismo utilizado para avaliar os riscos das operações. Para Gitman (2004, p. 2005), a análise de sensibilidade “usa inúmeras estimativas de retorno possíveis para obter a percepção da variabilidade entre os resultados”. Segundo ele, o método envolve a estimativa dos retornos pessi- mistas, dos mais prováveis e dos otimistas relacionados a determinado ativo. De acordo com esta análise, o risco é medido por uma faixa que é encontrada subtraindo os resultados pessimistas dos resultados otimistas. Segundo a análise de sensibilidade, quanto maior a faixa dada a um ativo, maior a variabilidade e o risco que ele representa. Para melhor ilustrar a análise de sensibilidade, apresenta-se, abaixo, um exemplo de duas operações com mesmo investimento ($50.000), porém com diferentes expec- tativas de retorno, vejamos: Tabela 1 – Exemplo de análise de sensibilidade Análise de sensibilidade Operação A Operação B (G IT M A N , 2 00 2) Investimento inicial 50.000 50.000 Taxa de retorno Pessimista 12% 6% Mais provável 15 % 15% Otimista 18 % 24 % Faixa 6% 18% O valor da faixa apresentado no exemplo foi obtido pela subtração das expectati- vas pessimistas das otimistas de retorno (8% - 2% = 6%) da operação A. O valor da faixa da operação B é calculada assim (18% = 24% - 6%). A variação apresentada pela opera- ção B representa um risco mais elevado, isso signiica que ela é uma operação com um maior risco para o investidor, pois 18% da operação B é maior que 6% da operação A. No Brasil, o Banco Central expediu a Resolução 2.682, de 21 de dezembro de 1999, que determinou as escalas de classiicação de riscos e ixou os percentuais de provisio- namento para os créditos de recebimento duvidoso, como demonstrado na tabela a seguir. O provisionamento é o registro contábil de constituição de uma provisão, em que se debita uma conta de “despesa”, de saldo devedor, e se credita a Provisão, conta de saldo credor. A Provisão para Créditos de Liquidação Duvidosa tem a função de contrabalancear os créditos incobráveis dos Bancos. 72 A tabela abaixo mostra as classiicações de risco para os empréstimos concedidos por instituições inanceiras: Classe de Risco AA A B C D E F G H Provisionamento 0,00% 0,50% 1% 3% 10% 30% 50% 70% 100% A tabela mostra que a classe AA apresenta o menor risco, não sendo necessária a constituição de provisão para crédito de liquidação duvidosa, já no caso da classe H, segundo orientação do Banco Central, há necessidade da provisão de 100% dos em- préstimos concedidos. A Resolução 2.682/99 considera que as operações devem considerar os fatores abaixo na classiicação dos clientes, de “AA” até “H”. Devedor/Garantidor situação econômico-inanceira; grau de endividamento; capacidade de geração de resultado; luxo de caixa; administração e qualidade dos controles; pontualidade e atrasos de pagamentos; contingências; setor de atividade econômica. Operação natureza e inalidade; suiciência e liquidez das garantias; valor. Referindo-se à Resolução 2.682/99, Silva escreve que a graduação de risco pres- crita na norma [...] serve como referencial para identiicar a chance de perda de uma determinada operação e, dessa forma, orientar na preciicação do empréstimo e inanciamento” e “atende às exigências das autoridades monetárias do país, que seguem uma tendência internacional de utilização de sistemas de classiicação de risco (rating) como forma de graduaro risco da carteira de crédito do A n ál is e d e R is co e C ré d it o 73 R isco e créd ito banco (portfolio risk) e, consequentemente, orientar o provisionamento dos créditos de liquidação duvidosa. (SILVA, 2000, p. 75) No mercado de crédito, de um modo geral, os riscos são classiicados em quatro grupos: Risco do cliente ou risco intrínseco (intrinsic risk) – está relacionado à aná- lise da situação econômico-inanceira da empresa, sua administração e con- trole, pontualidade em quitar operações de crédito, possíveis contingências e setor de atividade econômica que atua. Para Silva (2008, p. 58) este risco “é inerente ao tomador e decorre de suas características”. Segundo o autor, o não pagamento do empréstimo pelo de- vedor pode estar associado a fatores relacionados ao próprio devedor. Risco de operação (transaction risk) – está relacionado a aspectos e carac- terísticas inerentes à inalidade e à natureza das operações. São considerados componentes de uma operação de crédito: I) produto; II) montante; III) prazo; IV) forma de pagamento; V) as garantias; e VI) preço. Risco de concentração (concentration risk) – está relacionado à composição da carteira de recebíveis de uma instituição quanto ao volume de concentra- ção de operações que a mesma apresenta. O risco de uma carteira de crédito é diferente dos riscos de suas operações individuais, em razão das correla- ções3 que possam haver entre os diversos segmentos. Por outro lado se, por exemplo, um banco distribuir suas aplicações em segmentos econômicos que tenham alta correlação positiva, isto, do ponto de vista de risco, não represen- tará diversiicação. Em decorrência do risco de concentração, muitas institui- ções optam por diversiicar sua carteira de recebíveis (SILVA 2000, p. 80). Risco da administração do crédito – está relacionado às medidas adotadas pelas instituições inanceiras para mitigar os riscos envolvidos na gestão dos valores emprestados, tais como: diversiicação da carteira de crédito, treina- mento da equipe de proissionais, divisão lógica das tarefas envolvidas na gestão do crédito concedido, capacidade humana e tecnológica, estrutura ju- rídica, entre outros. Diversiicação de riscos As informações sobre a situação inanceira e patrimonial dos clientes das instituições e empresas inanceiras não são homogeneamente distribuídas no mercado de crédito (SANTOS 2000, p. 126). Tal acontecimento é conhecido como assimetria informacional. 3 Correlação é um indicador estatístico, também chamado de coeiciente de correlação, que indica a força e a direção do relacionamento linear entre duas variáveis. 74 O mercado de crédito abriga informações imperfeitas, onde os bancos costumam ter apenas ideias aproximadas do risco total de suas carteiras de crédito, ao contrá- rio dos tomadores de empréstimos que conseguem avaliar com alguma precisão, na maioria dos casos, suas condições de pagamento. Toda operação de empréstimos e inanciamentos concedidos (ativo da instituição inanceira) apresenta algum tipo de risco para as instituições credoras. Segundo a moderna teoria das carteiras, [...] a diversiicação de ativos em carteiras é indicada como ação redutora do risco ao considerar que o valor de um ativo deva ser visto, não de forma isolada, mas quanto à contribuição que proporciona ao risco total da carteira. (SANTOS 2000, p. 126) Diversiicar uma carteira de empréstimos ou de outros ativos pressupõe que a tarefa seja feita com critério e cautela. Assim, dentro da carteira podem-se ter ativos com maior ou menor retorno esperado, e com maior ou menor variabilidade. Enquanto o “risco” pode ser deinido como a possibilidade de prejuízo inanceiro ou volatilidade (variabilidade) de retorno associada a um ativo, o “retorno” pode ser conceituado como ganhos ou prejuízos dos proprietários decorrentes de um inves- timento durante determinado período de tempo. Demonstrando esse conceito de forma matemática, tem-se: k e = P t – P t – 1 + C P t – 1 Onde: k e = taxa de retorno exigida ou esperada P t = valor do ativo no tempo t P t-1 = valor do ativo no tempo t – 1 (anterior) C = luxo de caixa do investimento no período de t – 1 até t Assim, se em 2007 um investimento tinha um valor de mercado de R$30.000, gerando um luxo de caixa durante esse ano de R$2.500, e considerando-se que, em 19/11/2008, o valor de mercado do investimento é de R$35.000, a taxa de retorno do investimento é de 0,25, ou, 25%, calculada da seguinte forma: k e = 35.000 – 30.000 + 2.500 30.000 = 0,25 ou 25% Santos (2000, p. 126) cita Bennet e Sharpe (1984), Alexander e Bailey (1999) para airmar que mesmo se retornos isolados (um único ativo) estejam sujeitos a grande A n ál is e d e R is co e C ré d it o 75 R isco e créd ito variabilidade, os resultados podem ser positivos para a carteira, caso o ativo individual apresente correlação negativa com os outros ativos, ele contribuirá, assim, para a redu- ção do custo total, isto é, se o ativo individual estiver com força e sinais contrários dos outros ativos (coeiciente de correlação). O risco apresentado pelos ativos está relacionado à variabilidade dos retornos projetados em torno do retorno esperado. De acordo com Assaf Neto (2008), o risco está relacionado com o grau de dispersão dos retornos em relação à média. Para a mensuração do risco de um ativo, usualmente é utilizada a medida estatística conheci- da como “desvio-padrão”. O desvio-padrão é uma medida estatística de dispersão cal- culada pelo quadrado da distância entre o ponto e a média. A diversiicação é utilizada para a combinação de ativos de uma carteira (portfólio) de modo que se apure um risco menor que o risco calculado para cada um de seus componentes individualmente. No entanto, Assaf Neto (2008, p. 217) airma que “essa redução constatada em uma carteira diversiicada ocorre até certo limite, sendo impraticável a eliminação total do risco da carteira”. O autor constata que a diversiicação consegue minimizar o risco, e não eliminá-lo. Para entender melhor o risco diversiicável faz-se necessário apresentar duas clas- siicações de risco: a) Risco sistemático (ou não diversiicável) Assaf Neto (2008, p. 209) airma que esse risco é “inerente a todos os ativos negociados no mercado, sendo determinado por eventos de natureza política, econômica e social”. O risco sistemático está ligado às alterações do mercado, e cada ativo tem um comportamento diferente diante das mudanças do mercado. E como não há possibi- lidade de evitar totalmente o risco sistemático, a diversiicação acaba sendo utilizada como medida preventiva para a redução desses riscos. Segundo Leite, o risco sistemático “tem origem nas lutuações a que está sujeito o sistema econômico como um todo” (LEITE, 1994, p. 407). As principais fontes de alterações do risco sistemático são: variações nas taxas de juros da economia, o processo inlacionário, a situação política e o comportamento das cotações no mercado de títulos. b) Risco não sistemático (risco diversiicável) Esse risco está relacionado às características individuais de cada ativo. É um risco intrínseco, próprio de cada investimento realizado. Um exemplo disso é o fato das car- 76 teiras diversiicadas conterem títulos de renda ixa e renda variável, os quais são atingi- dos de maneira diferente diante de uma elevação na taxa de juros da economia. Outro exemplo citado por Assaf Neto (2008) são as ações de empresas cíclicas (montadoras de veículos, construção civil) de maior risco, que costumam compor car- teiras com negócios mais estáveis diante das alterações no mercado, como as indús- trias de alimentos. O denominado risco diversiicável ou não sistemático está diretamente relacio- nado à diversiicação dos riscos. Assim, o risco diversiicável é o que pode ser total ou parcialmente diluído pela diversiicação da carteira. Para Assaf Neto (2008), o risco diversiicável relaciona-se diretamente às características básicasdos títulos e do mer- cado em que é negociado. A diversiicação pode ser adotada em carteiras de naturezas diferentes, como: ações, projetos de investimentos, títulos de renda ixa, produtos comerciais etc. Rating Noção intuitiva de rating pode ser dada pela seguinte deinição: O rating é uma opinião sobre a capacidade de um país ou uma empresa saldar seus compromissos inanceiros. A avaliação é feita por empresas especializadas, as agências de classiicação de risco, que emitem notas, expressas na forma de letras e sinais aritméticos, que apontam para o maior ou menor risco de ocorrência de um “default”, isto é, de suspensão de pagamentos. (SECURATO, 2002, p. 183) As instituições inanceiras costumam classiicar seus clientes segundo a capa- cidade de cada um de saldar seus compromissos. Por outro lado, as instituições são também avaliadas por agências especializadas. O critério de classiicação costuma variar entre as instituições inanceiras e entre as agências, mas o parâmetro funda- mental é o fator “risco”. As agências de rating são empresas especializadas que “fornecem serviços de análise, operando sob os princípios de independência, objetividade, credibilidade e disclosure” (SECURATO 2002, p. 183). Entende-se disclosure por “transparência” das in- formações evidenciadas. Existem diversas agências internacionais de rating como, por exemplo, a Standard & Poor, Moody’s, Fitch IBCA, Duf & Phelps Credit Rating Co., dentre outras. Securato (2002, p. 183) escreve que a classiicação de risco de crédito, por instituições inanceiras, A n ál is e d e R is co e C ré d it o 77 R isco e créd ito apesar de estar sendo feita há décadas, somente tomou impulso após o Acordo da Ba- sileia. Esse acordo foi dividido em dois: o Acordo da Basileia I e Acordo de Basileia II. O Acordo de Basileia, denominado International Convergence of Capital Measure- ment and Capital Standards, também designado por Basileia I, foi um acordo irmado em 1988, na cidade de Basileia (Suíça), por iniciativa do Comitê da Basileia e ratiicado por mais de 100 países. Salienta-se que uma classiicação de risco é uma opinião sobre a capacidade futura, responsabilidade jurídica e sobre a disposição do cliente em efetuar o paga- mento do valor devido, dentro do prazo. Essa classiicação avalia a probabilidade de inadimplência do devedor, baseada em uma série de variáveis subjetivas e objetivas, seguindo metodologia própria de cada agência. Ressalta-se que, apesar dos controles existentes, os riscos de crédito não são eli- mináveis, mas mitigados através dos mecanismos de controle exigidos pelas normas próprias das instituições inanceiras, pelo Banco Central do Brasil e pelos Acordos de Basileia I e II. Tais controles pressupõem a estimação do risco da perda e a exigência de prê- mios pelos riscos incorridos. Assim, o rating é uma avaliação de risco. De acordo com o Banco Central, o rating é avaliado pelas instituições independentes referidas acima, especializadas na determinação e divulgação do risco das corporações, instituições i- nanceiras e países (neste último caso, o chamado risco soberano). Conclusão O conceito de risco está intrinsicamente relacionado às operações de crédito, em que existe a possibilidade do não recebimento do valor emprestado. O grau de incerte- za quanto ao recebimento de um valor emprestado é medido através da probabilidade de ocorrência do evento. Um evento certo, garantido, terá a probabilidade de 100% de recebimento. O risco está presente nas operações de crédito das instituições inanceiras, das empresas comerciais, industriais e de prestação de serviços, em que há um tomador e um emprestador de recursos. O risco nas operações de crédito pode ser mitigado, mas nunca extinto. 78 Textos complementares Entenda o que é rating ou risco de crédito (FOLHA, 2007) O rating é uma opinião sobre a capacidade de um país ou uma empresa saldar seus compromissos inanceiros. A avaliação é feita por empresas especializadas, as agências de classiicação de risco, que emitem notas, expressas na forma de letras e sinais aritméticos, que apontam para o maior ou menor risco de ocorrência de um default, isto é, de suspensão de pagamentos. Para publicar uma nota de risco de crédito, os especialistas dessas agências avaliam, além da situação inanceira de um país, as condições do mercado mundial e a opinião de especialistas da iniciativa privada, fontes oiciais e acadêmicas. O rating é sempre aplicado a títulos de dívida de algum emissor. Se uma em- presa quer captar recursos no mercado e oferece papéis que rendem juros a investi- dores, a agência prepara o rating desses títulos para que os potenciais compradores avaliem os riscos. As agências, portanto, classiicam debêntures, medium-term notes, títulos de dívida conversível, mas não ações. Grau de investimento A nota de países é preparada a partir da iniciativa do emissor ou da empresa de rating. As empresas de classiicação de risco alegam que, mesmo sob encomen- da, o rating é uma avaliação independente porque também há preocupação com a credibilidade da própria agência. O chamado rating global de um país, por exemplo, é sempre a avaliação que uma determinada agência tem sobre o risco dessa nação não pagar os títulos, de longo prazo, que lançou no mercado internacional. Esses países também são encaixados em categorias. Se a agência considera um país como “bom pagador”, ele é classiicado na categoria “grau de investimento”. Se é visto apenas como um pagador de risco razoável, ica na categoria “grau especula- tivo”, que também inclui nações que declararam moratória de suas dívidas. A n ál is e d e R is co e C ré d it o 79 R isco e créd ito As agências monitoram constantemente os países ou empresas. Dessa forma, quando lançam um rating, também avisam quais as chances dessa nota ser revisada no curto prazo. Se o panorama é positivo signiica que a nota tem maiores chances de ser me- lhorada. Se é negativo, as maiores chances são de que haja um downgrade (seja revisada para baixo, uma nota pior). Se é estável, há poucas chances de que seja mudada nos dois anos seguintes. Letras e sinais As três agências de classiicação de risco de maior visibilidade são a Standard & Poor’s, a Moody’s e a Fitch Ratings. As agências usam praticamente o mesmo sistema de letras e sinais. Assim, a melhor classiicação que um país pode obter é Aaa (Moody’s) ou AAA (Standard & Poor’s) que, conceitualmente, signiicam “capacidade extremamente forte de aten- der compromissos inanceiros”. Na ponta oposta, um título classiicado como “C”, para a S&P ou a Moody’s, tem altíssimo risco de não ser pago. “A taxa média de default (moratória) entre 1970-2000 para títulos (classiicados como) Aaa sobre um período de 10 anos foi de apenas 0,67”, airma a Moody’s. A Nova Sistemática de Risco de Crédito: Uma Avaliação da Cooperativa de Crédito Siscredi (CATTANI; STADUTO, 2003) Mercado Financeiro e o Sistema de Risco Segundo Rocha (1999), o SFN, ao contrário de outros países, sempre foi marca- do por estabilidade. No entanto, após a implantação do Plano Real, toda a sistemá- tica inanceira nacional teve de ser revista, já que o sistema não estava adaptado às novas políticas adotadas. 80 A partir dessa situação, o SFN teve de passar por uma nova avaliação e rever as medidas que vinham sendo adotadas para prevenir as crises e para proceder quando essas fossem inevitáveis. Essa avaliação considerou que a prevenção consiste em aperfeiçoar a regulamentação, tornando-a mais rígida e mais bem supervisionada. Uma das formas utilizadas para o controle foi a elaboração de uma nova classi- icação de risco feita pelo Bacen. Elas atuavam em duas direções. a) a primeira orien- tava a forma e a ordem na qual se devem classiicar as operações de crédito; deinir a forma de análise para se aceitar ou não o garantidor do crédito e a inalidade da operação; o prazo para a iscalização das operações e a sistemáticade iscalização; b) a segunda permitia ao Bacen maior controle, já que este tem buscado levar o SFN a patamares aceitos internacionalmente, visando, principalmente, manter a quali- dade e o adequado controle sobre o risco do sistema inanceiro nacional; estimular o crescimento ordenado da oferta de crédito, buscando evitar problemas de insol- vência e liquidez, e aumentar a atratividade ao capital externo, em especial para recursos voltados à expansão de crédito. Globalmente, foram veriicados os efeitos danosos que podem causar as econo- mias em crescimento desordenado nos volumes de crédito. Isso ica claro no parecer do Fundo Monetário Internacional sobre as crises bancárias dos chamados “Tigres Asiáticos: Taiwan, Coreia e Japão” – e nas ações do comitê da Basileia. Todas essas ações atingem não somente aos bancos, mas, também, as cooperativas de crédito, sendo bastante real a necessidade de se tornar cada vez mais técnica a concessão e administração das carteiras das instituições (BANSICREDI, 2000). Para que o crédito seja bem concedido é necessário o gerenciamento do risco. A adoção de um sistema eiciente de risco não é apenas para o provisionamento, mas, também, para o adequado julgamento das propostas de crédito. O provisio- namento funcionaria como um seguro contra eventuais problemas de perdas dos recursos emprestados. A atividade bancária é um setor que está sujeito ao risco sistêmico, além de serem alavancados valores inanceiros vultuosos; assim, buscam-se ferramentas mais eicazes para combater ou minimizar o risco. As instituições inanceiras analisavam o risco de seus clientes e das suas opera- ções de crédito com base em critérios variados, no entanto, apresentavam-se alguns problemas que resultavam em muitas surpresas desagradáveis para essas, os quais podiam culminar com o problema de insolvência. A contabilização era feita com base na resolução 1.748 do Bacen, que previa o provisionamento para os créditos em liquidação duvidosas apenas para as operações que ultrapassassem 61 dias ven- A n ál is e d e R is co e C ré d it o 81 R isco e créd ito cidos. Em dezembro de 1999, o Bacen divulgou nova Resolução 2.682, que alterou os procedimentos para provisionamento do risco das operações de crédito. A partir dessa resolução, as operações passaram a ser provisionadas a partir do instante da concessão do crédito. Para tanto, foi criada uma escala de risco de AA até H, ponde- rando uma série de fatores relacionados ao cliente tomador, valor inanciado, prazo da operação, garantias oferecidas, dentre outros itens. Para cada letra da escala de AA até H estabeleceu-se um percentual de provisionamento de 0,0% até 100%. A Resolução 2.697, que complementa a 2.682, estabelece que, nas operações de crédito com o valor superior a R$50.000,00, a provisão deve ser feita, no mínimo, a cada seis meses. Dessa forma, no momento da concessão do crédito, é possível atribuir o risco do cliente e da operação e prever se é viável ou não ao agente inan- ceiro, inclusive monitorá-lo do ponto de vista do risco. A grande diferença entre a Resolução 1.748 (antiga) e a 2.682 (nova) reside no fato de que, na antiga, só se tomava conhecimento da gravidade de determinada operação de crédito depois de vencida, quando as ações para minimizar o risco do agente inanceiro já eram mais limitadas, ao passo que, pela resolução 2.682, o agente inanceiro atua com ações prévias, avaliando as operações desde o início, o que possibilita uma correção de possíveis distorções durante a vigência da mesma, evitando, assim, a inadimplência e possibilitando resultados mais coniáveis. Atividades O que caracteriza o risco de crédito?1. a) As incertezas e as possibilidades de perda em determinadas operações. b) As possibilidades de certezas do mercado em operações de crédito. c) A possibilidade do investidor ter garantia do sucesso em determinada operação. d) A possibilidade do investidor conhecer o cenário do mercado. Qual o conceito de risco de crédito?2. a) A possibilidade de atitudes empresariais. 82 b) A visão dos empresários em relação ao mercado inanceiro. c) A possibilidade de prejuízo inanceiro. d) A possibilidade de conquistar novos mercados. Qual é a diferença entre risco e incerteza?3. Classiique as preferências empresariais em relação ao risco.4. Ampliando conhecimentos GOMES, Adriano. Gerenciamento do Crédito e Mensuração do Risco. São Paulo: Manole, 2002. A segunda parte do livro é de especial interesse, pois aborda a análise e mensura- ção do crédito. Discute com bastante ênfase as questões ligadas à inadimplência. Livro para consulta e reforço de conceito. SECURATO, José R. Decisões Financeiras em Condições de Risco. São Paulo: Atlas, 1996. O autor, de formação quantitativa, aborda de maneira peculiar os assuntos liga- dos ao risco de crédito, particularmente da análise de crédito das pessoas físicas e jurí- dicas e da classiicação dos riscos de crédito. Sugere-se a leitura dos dois capítulos para reforçar os conceitos expostos. SANTOS, José O. Análise de Crédito – Empresas e Pessoas Físicas. São Paulo: Atlas, 2000. O autor faz interessante abordagem sobre a diversiicação de riscos em cenário de informações imperfeitas. Sugere-se a leitura complementar do capítulo para reforço do assunto. A n ál is e d e R is co e C ré d it o 83Risco e crédito 85 Análise de crédito Introdução A análise de crédito compreende a aplicação de técnicas subjetivas, inanceiras e estatísticas para avaliar a capacidade de pagamento do tomador de recursos, que é o proponente ao crédito. Neste capítulo são abordados alguns critérios subjetivos, inanceiros e estatísticos geralmente adotados pelas instituições inanceiras na análise de crédito. Dentre os vários critérios subjetivos de análise de crédito existentes, utilizados pelas instituições inanceiras, os mais comuns são o caráter e a capacidade. Esses são dois dos quatro “Cs do crédito”, compostos de: Caráter, Capacidade, Capital e Condi- ções. Para Schrickel (2000) o caráter está relacionado com a vontade de pagar, já a capacidade refere-se à habilidade de pagar do devedor, dado ao modo como admi- nistra suas inanças pessoais. Assim, a capacidade refere-se à habilidade do tomador de recursos de gerir seus negócios de forma favorável a manter renda suiciente para pagar a dívida. A análise de crédito envolve, ainda, a análise das demonstrações contábeis que, segundo Matarazzo (1998, p. 29) tem a inalidade de “determinar quais os pontos crí- ticos e permitir, de imediato, apresentar um esboço das prioridades para a solução de seus problemas”. No crédito, o que se pretende com a análise das demonstrações contábeis é avaliar a qualidade do capital (outro C do crédito) do tomador, para que se tomem decisões com relação à concessão de empréstimos e inanciamentos, ou ainda, à concessão de garantias (avais, inanças, cartas de crédito). Também são aqui abordados aspectos relevantes de algumas técnicas de análise econômico-inanceira como a análise horizontal e análise vertical, indicadores econô- micos-inanceiros e técnicas estatísticas. 86 Análise subjetiva A análise de crédito por critérios subjetivos também faz parte do julgamento dos analistas na avaliação do risco de crédito de clientes. Abordar-se-ão, abaixo, os pontos principais de cada item. Silva (2008) escreve que tanto à habilidade administrativa ou técnica do pesso- al, pode ser feita por “uma análise do currículo de seus sócios e administradores, vi- sando identiicar se são conhecedores do ramo em que atuam e das atribuições que exercem”. O mesmo autor airma que a capacidade está relacionada aos fatores que contri- buem para a empresa ser competente e competitiva. Isto facilita a condição da empre- sa de pagar sua dívida. Daí a importância da análise inanceira para medir a capacidade da empresa. Dois dos quadro Cs do crédito, Caráter e Capacidade são critérios subjetivos de análise de crédito. Eles embasamos procedimentos de análises subjetivas de crédito, que são: análise documental, análise de idoneidade, análise do negócio, análise econô- mico-inanceira e análise cadastral. Análise documental É a análise que se faz dos documentos apresentados pelo proponente tomador dos recursos da instituição inanceira ou empresa. Compreende o levantamento da situação legal da empresa e de seus proprietários, baseando-se na veriicação do contrato social ou estatuto da empresa, da declaração do imposto de renda da empresa e dos sócios, dos comprovantes de identiicação dos sócios (RG e CPF) e das contas dos sócios e da empresa (água, luz, telefone, IPTU etc). (SANTOS, 2000, p. 64) A instituição credora deve manter pastas atualizadas de cada cliente, segundo determinações do Banco Central do Brasil. Análise de idoneidade A pesquisa sobre a idoneidade do cliente é uma das principais informações co- lhidas e analisadas no processo de concessão de crédito. Inexistindo informações res- tritivas (derivadas de empréstimos não pagos ou em atraso), as outras informações colhidas sobre a idoneidade do cliente servirão para compor o risco total do clien- te. Existindo informações restritivas, o procedimento normal é a recusa em conceder qualquer tipo de crédito ao cliente. A n ál is e d e R is co e C ré d it o 87 A n álise d e créd ito Segundo Santos (2000, p. 64), a idoneidade do cliente pode ser classiicada nas seguintes categorias: sem restrições, alerta, restritivo ou impeditivo. Antes de disponibilizar os recursos para os tomadores, as instituições inanceiras fazem um levantamento do histórico dos clientes, ou seja, pesquisam sobre os antece- dentes dos proponentes ao crédito. De acordo com Silva (2008) o caráter está relacionado com a intenção “do devedor (ou mesmo do garantidor) de cumprir a promessa de pagamento”. Para Gitman (2002, p. 696) o caráter envolve “o histórico do solicitante quanto ao cumprimento de suas obrigações inanceiras, contratuais e morais”. Por exemplo, pagamentos e causas judiciais pendentes e/ou concluídas contra o cliente seriam utili- zadas na avaliação de seu “caráter”. O resultado do trabalho de pesquisa das informações do solicitante é chamado de icha cadastral. Nessa icha, devem-se observar as características do cliente, tais como: identiicação, pontualidade, existência de restrições, experiência em negócios e atuação na praça. Geralmente, a icha cadastral elaborada pela instituição inanceira permite o le- vantamento de informações relevantes sobre a identiicação do tomador do crédito (nome, endereço, registros, proissão etc.) e sobre experiências de outras instituições com a pessoa (pontualidade de pagamentos, protestos, anotações diversas e outras). A icha cadastral contém informações da análise que se faz para apurar a con- duta e o grau de idoneidade do tomador de recursos no mercado de crédito. Assim, as entidades emprestadoras costumam levantar as informações de clientes em em- presas especializadas, como a Serasa, o Serviço de Proteção ao Crédito (SPC), Equifax e outros. Análise do negócio Ao empreender a análise de crédito da proposta do cliente, a entidade empresta- dora faz análise prévia sobre a quem pertence a empresa, qual é a capacidade admi- nistrativa e inanceira de seus dirigentes, o domínio da tecnologia e o conhecimento do mercado onde atua. A análise do risco do negócio veriica, primeiramente, se a empresa conseguirá gerar receitas suicientes para cobrir suas despesas operacionais. O conceito de cober- tura das despesas operacionais pelas receitas é conhecido como EBTIDA: Erning before interest, taxes, depreciation and amortization é a origem da sigla EBTIDA, que em português pode ser traduzida para LAJIDA, ou “lucro antes de juros, impostos, depreciação e 88 amortização”. É um termo importado dos balanços americanos. Passou a ser adotada a partir de 1997. Juntamente com outros indicadores, a sua formulação é útil aos analistas e investidores [...]. (LEAL, 2008) A análise do negócio constitui-se na análise da atividade operacional da empresa, considerando-se todos os fatores internos e externos de risco que podem afetar a ge- ração de caixa (SANTOS, 2000, p. 65). Os fatores internos de risco são aqueles originários da falta de experiência, incom- petência, desonestidade dos gestores no gerenciamento da atividade operacional da empresa, ou da pessoa física no trato de suas inanças pessoais. O autor salienta que os fatores internos são controláveis, porém dependente da formação educacional e técnica dos gestores do empreendimento, ou dos tomadores de recursos (SANTOS, 2000, p. 65). Os fatores externos de risco são os eventos não controláveis pela empresa e que afetam o sistema econômico onde ela está inserida. Exemplos de tais eventos são: crises econômicas, alterações relevantes no meio ambiente, ações tomadas pelo go- verno, como a ixação ou alteração da taxa básica de juros. Tais eventos podem alterar a capacidade econômica da empresa. Análise econômico-inanceira A análise das demonstrações contábeis, especialmente através de indicadores econômico-inanceiros (liquidez, endividamento e outros) é geralmente utilizada para avaliar a capacidade de pagamento do tomador do crédito. Os indicadores inanceiros serão estudados em um capítulo especíico. No crédito, o que se pretende com a elaboração da análise das demonstrações é avaliar a capacidade de pagamento do cliente. Não obstante esse aspecto quantitativo da análise de crédito, a capacidade é um aspecto subjetivo e nem sempre é fácil de ser avaliado. Está relacionado ao potencial de gestão e da visão estratégica para gerir os negócios. No que se refere à capacidade física, envolve aspectos como: instalações, métodos de trabalho, grau de tecnologia utilizado e outros. A análise inanceira é conceituada, segundo Silva (2008, p. 180), como sendo o exame das informações obtidas por meio das demonstrações inanceiras, com o intuito de compreender aspectos como: a) capacidade de pagamento da empresa por intermédio da geração de caixa; b) capacidade de remunerar os investidores gerando lucro em níveis compatíveis com suas expectativas; c) nível de endividamento, motivo e qualidade e endividamento; d) políticas operacionais e seus impactos na necessidade de capital de giro da empresa; e) diversos outros fatores que atendam ao propósito do objetivo da análise.A n ál is e d e R is co e C ré d it o 89 A n álise d e créd ito No entanto, a análise inanceira não se limita às demonstrações contábeis. Ela abrange outros aspectos que requerem do analista a compreensão de outras discipli- nas como: Economia, Administração, Marketing, Direito, Dentre outras. Alguns tipos de análises são usadas para avaliar a situação econômico-inancei- ra das empresas como a análise de balanços, que pode ser desenvolvida por meio de técnica de áreas como distintas como: Contabilidade, Matemática e Estatística. Para a análise das demonstrações contábeis, algumas técnicas serão apresentadas a seguir. Análise horizontal Identiica a evolução dos diversos elementos patrimoniais e de resultados ao longo de determinado período de tempo. É uma análise temporal do crescimento da empresa, que permite avaliar: evolução das vendas, custos e despesas, aumento dos investimentos realizados nos diversos itens ativos, evolução das dívidas etc. A Análise Horizontal (AH) permite o exame da evolução histórica de uma série de valores, ou seja, mostra a evolução de cada conta das demonstrações inanceiras. Segundo Matarazzo (1998, p. 257) pela comparação das contas entre si, é possível “tirar conclusões sobre a evolução da empresa”. Através da análise horizontal, pode-se identiicar alterações anormais nas de- monstrações contábeis de uma empresa ao longo do tempo, através da observação do comportamento histórico de cada item analisado. Assaf Neto (2001) resume o estudo comparativo da evolução horizontal em três segmentos: evolução dos ativos (investimento)e passivos (inanciamentos) de curto prazo – é possível avaliar a folga inanceira (liquidez de curto prazo) na even- tualidade dos ativos circulantes terem crescido com maior rapidez que os pas- sivos circulantes, ou de uma redução na liquidez, caso ocorra o inverso; evolução do ativo permanente produtivo – relete a capacidade de produ- ção/vendas de uma empresa, devendo corresponder um nível maior de inves- timento em bens ixos a um adequado crescimento de vendas; evolução na estrutura de capital – veriica-se como a empresa está inancian- do seus investimentos em ativos, isto é, se houve maior preferência por em- préstimos e inanciamentos em relação ao uso do capital próprio e se é visível algum desequilíbrio na estrutura de capital, notada pela presença de um maior volume de dívidas de curto prazo em relação a capitais de longo prazo etc. 90 Na demonstração de resultado, através da análise horizontal, é possível veriicar a evolução dos custos e despesas em relação ao volume de vendas e seus relexos sobre o resultado do exercício. Existem diferentes metodologias de análise horizontal, mas a mais utilizada, para ins de análise de crédito, é a variação anual por números-índices, ou a também co- nhecida como variações percentuais, que expressam o comportamento relativo de determinado item contábil em função de um período-base ou do período anterior. O índice geralmente aplicado segue a fórmula: índice (ano 2, ano 1) = Valor do item contábil no ano analisado x 100 Valor do item contábil no ano base Exemplo: suponha que nos anos de 2005 e 2006 os valores do item caixa tenha sido de 2005: $100.000 2006: $120.000 índice (2005, 2006) = 120.000 x 100 100.000 = 120% Veja-se o exemplo a seguir: Balanço Patrimonial da Empresa X (A SS A F N ET O , 2 00 1, p . 1 07 . A d ap ta d o .) ATIVO 31/12/2006 AH 31/12/2007 AH% 31/12/2008 AH% Ativo Circulante 100.000 — 110.000 110 95.000 86 Ativo Não circulante 460.000 — 574.000 125 192.000 33 Total 560.000 — 684.000 122 287.000 42 PASSIVO 31/12/2006 AH 31/12/2007 AH% 31/12/2008 AH% Passivo Circulante 70.000 — 90.300 129 16.400 18 Passivo Não circulante Exigível a Longo Prazo 150.000 — 200.000 133 35.000 18 Patrimônio Líquido 340.000 — 393.700 115 235.600 60 Total 560.000 — 684.000 122 287.000 42 A n ál is e d e R is co e C ré d it o 91 A n álise d e créd ito Demonstração do Resultado do Exercício da Empresa X (A SS A F N ET O , 2 00 1, p . 1 07 . A d ap ta d o .) Contas 31/12/2006 AH 31/12/2007 AH% 31/12/2008 AH% Receita de vendas 830.000 — 1.260.000 152 2.050.000 163 CMV -524.867 — 840.500 160 -1.594.600 190 Lucro Bruto 305.133 — 419.500 137 455.400 109 Despesas Operacionais -139.500 — 190.000 136 -277.500 146 Despesas Financeiras -88.000 — 140.000 159 -186.000 133 Resultado “Operacional” 77.633 — 89.500 114 -8.100 -9 Provisão para IR -31.333 — 35.800 114 0 0 Resultado Líquido 46.300 — 53.700 114 -8.100 -15 Das demonstrações contábeis apresentadas anteriormente é possível perceber que, ao longo dos três anos houver: uma sensível redução na liquidez e lucratividade; redução na capacidade de pagamento a curto prazo e o aumento de suas obrigações (Passivo Circulante) em relação às suas disponibilidades; aumento da participação de capital de terceiros e a redução da participação dos recursos próprios no inanciamento da empresa; aumento nos custos maior que o crescimento das receitas resulta na redução do lucro bruto. Análise vertical Na análise vertical, as contas de uma demonstração são padronizadas como per- centuais de uma mesma base. Aplicada ao balanço patrimonial, essa análise propicia uma visão imediata dos itens que demandam maior volume de recursos, a cada exercí- cio ou a cada período (SECURATO, 2000, p. 72-73). De maneira idêntica à análise horizontal, a análise vertical objetiva basicamente o estudo das tendências da empresa. Complementando as informações da análise ho- rizontal, a análise dos indicadores econômico-inanceiros na perspectiva vertical per- mite conhecer a estrutura econômico-inanceira da empresa, ou seja, a participação relativa de cada elemento patrimonial e de resultados em relação ao total do grupo. Por exemplo, a análise vertical permite responder à questão: qual é a porcentagem das vendas que representa o lucro líquido, ou o total de suas obrigações (passivo) quanto a empresa deve a curto e longo prazos etc. 92 Apesar da relevância das duas técnicas acima, suas aplicações práticas têm so- frido alguns desgastes em razão, principalmente pelas características do sistema de apuração do lucro no Brasil, do tratamento adotado pela contabilidade legal em am- bientes inlacionários e das bruscas e constantes modiicações veriicadas na econo- mia brasileira. O objetivo da análise vertical é demonstrar a participação relativa de cada conta de uma demonstração contábil em relação a determinado referencial. No balanço, por exemplo, é comum determinarmos a percentagem que representa cada rubrica (e grupo de rubricas) em relação ao ativo total. Para o cálculo dos percentuais da coluna da Análise Vertical (AV) divide-se o saldo da conta que se deseja calcular pelo valor-base, multiplicando-se o resultado por 100. O valor-base no balanço patrimonial é o ativo total e o passivo total, e na demonstra- ção de resultados do exercício, a receita líquida de vendas. A fórmula respectiva é: Participação da conta = Saldo da conta no balanço x 100 Saldo do ativo total Exemplo: Saldo da conta “Caixa”, em 31/12/2008: $30.000 Saldo do grupo “Ativo Circulante” (da qual faz parte a conta “Caixa”): $100.000 Participação da conta “Caixa”: 30% PC = 30.000 x 100 100.000 = 30% Abaixo, apresenta-se exemplo adaptado de Assaf Neto (2008): ATIVO 31/12/2006 AV% 31/12/2007 AV% 31/12/2008 AV% (A SS A F N ET O , 2 00 1, p . 1 09 . A d ap ta d o .) Ativo Circulante 100.000 18 184.000 30 95.000 10 Ativo Não circulante 460.000 82 500.000 70 637.000 90 Total 560.000 100 684.000 100 732.000 100 PASSIVO 31/12/2006 AV 31/12/2007 AV 31/12/2008 AV Passivo Circulante 70.000 13 90.300 13 106.400 14,5 Passivo Não circulante 490.000 87 593.700 87 625.600 85,5 Total 560.000 100 684.000 100 732.000 100 A n ál is e d e R is co e C ré d it o 93 A n álise d e créd ito DRE 31/12/2006 AV% 31/12/2007 AV 31/12/2008 AV% (A SS A F N ET O , 2 00 1, p . 1 09 . A d ap ta d o .) Receita de Vendas 830.000 100 1.260.000 100 2.050.000 100 CMV -524.167 60 -840.500 66,7 -1.594.600 77,8 Lucro Bruto 305.833 40 419.500 33,3 455.400 22,2 Despesas Operacionais -139.500 20 -190.000 15 -277.500 13,5 Despesas Financeiras -88.000 10 -140.000 11 -186.000 9,1 Resultado Operacional 78.333 10 89.500 7 -8.100 -0,4 Provisão para IR -31.333 4 -35.800 2,8 0 0,0 Resultado Líquido 47.000 6 53.700 4,2 -8.100 -0,4 Da análise vertical, considerando-se a proporção relativa calculada de grandes grupos, é possível inferir que: houve redução na proporção de direitos de longo prazo do ano de 2006 para 2007 e um aumento no ano de 2008 (ativo não circulante); ocorreu aumento na proporção das dívidas de curto prazo (passivo circulante) no período analisado; houve aumento de recursos de longo prazo no período estudado (passivo não circulante). Salienta-se que, quanto mais “abertas” (discriminadas) estiverem as demonstra- ções contábeis, maiores serão as possibilidades de investigação da situação inanceira da empresa. De acordo com Matarazzo (1998, p. 255), a análise vertical “mostra a importância de cada conta em relação à demonstração inanceira a que pertence” e, através de compa- ração com anos anteriores, que permite inferir se há itens fora das proporções normais. Indicadores econômico-inanceiros A análise por índices compreende o cálculo de quocientes resultado do inter-re- lacionamento dos saldos de diversas contas das demonstrações contábeis. Por meio de quocientes calculados, denotados na forma decimal ou percentual,associados a outras técnicas de análise, além de informações setoriais e conjunturais, o analista pro- curará interpretar os números obtidos e vislumbrar qual a perspectiva de desempenho futuro da empresa (SECURATO, 2000, p. 76). 94 Através dos indicadores referidos, procura-se relacionar elementos das demons- trações contábeis entre si, de forma a melhor extrair conclusões sobre a situação eco- nômico-inanceira da empresa. Existem diversos índices úteis para o processo de análise, sendo que uma de suas divisões metodológicas em grupos é a seguinte: liquidez, imobilização, endividamen- to, lucratividade, rentabilidade, cobertura, estrutura e análise de ações. Comparações De acordo com Assaf Neto (2001, p. 55), a análise de balanços “é fundamentalmen- te comparativa”, e quando determinado índice é avaliado isoladamente, não produz in- formações suicientes para uma correta conclusão. Torna-se indispensável a compara- ção do comportamento e evolução dos resultados das empresa e de seus concorrentes nos últimos anos, para extrair uma conclusão mais acurada sobre o desempenho da empresa no período considerado. Segundo o autor, a comparação advinda da análise de balanços apresenta duas formas: Temporal – envolve resultados de períodos anteriores, através da observação de, no mínimo, dois exercícios sociais para se avaliar a tendência apresentada pelos indicadores de desempenho. Interempresarial – relaciona-se ao desempenho de uma empresa com o setor de atividade e o mercado em geral. Assaf Neto (2008, p. 182) escreve: “os métodos de análise vertical e horizontal prestam valiosas contribuições na interpretação da estrutura e da tendência dos nú- meros de uma empresa”. Análise baseada em métodos estatísticos Securato (2000, p. 170) escreve que o risco em análise de crédito e inanças pode ser deinido como a incerteza de resultados futuros, ou também como a possibilidade de perda. No caso de uma decisão de crédito, esse risco está relacionado, dentre outros, a: não recebimentos; recebimentos com atrasos; elevação da taxa de captação. A n ál is e d e R is co e C ré d it o 95 A n álise d e créd ito Assaf Neto (2008, p. 86) conceitua a estatística como “um método cientíico que permite que seus usuários tomem as melhores decisões em condições de incertezas”. As medidas estatísticas vêm se aperfeiçoando e alargando o campo de atuação. No mercado inanceiro, as técnicas estatísticas são utilizadas no processo de avaliação de ativos e nos riscos das decisões. Serão apresentadas algumas medidas estatísticas uti- lizadas no cenário inanceiro: medidas de posição – essas medidas visam identiicar as características de concentração dos elementos de uma amostra. Esses valores são conhecidos como medidas de tendência central por estarem, geralmente, agrupados em torno da posição central da distribuição. Essas medidas são a média, mediana, moda, quartis e decis. média – por sua vez, desdobra-se em alguns tipos como: aritmética sim- ples, aritmética ponderada, média harmônica e média geométrica. a média aritmética simples – é calculada pela divisão da soma do con- junto de informações (valores de uma distribuição) pelo número de va- lores contidos nesse conjunto. a média aritmética ponderada – é usada quando são atribuídos dife- rentes pesos a cada um dos elementos do conjunto de informação. a média harmônica – é obtida por meio do inverso da média aritméti- ca dos inversos dos valores considerados. mediana – é expressa pela divisão de um conjunto de valores pela metade, ou seja, exatamente em duas partes iguais. medidas de dispersão – indicam como os valores de um conjunto distribuem- -se (dispersam-se) em relação a um ponto central (média). Assaf Neto (2008, p. 89) escreve: “quanto maior se apresentar o intervalo entre os valores extremos de um conjunto, menor a representatividade estatística da média, pois os va- lores em observação distanciam-se desta medida central”. As principais medidas de dispersão são o desvio-padrão, a variância e o coeicien- te de variação. Um entendimento intuitivo e não-formal dessas medidas estatísticas pode ser obtido se consideramos o desvio-padrão como sendo a raiz quadrada da va- riância, que é a distância entre o ponto considerado e a média aritmética que o inclui. O coeiciente de variação é o resultado da divisão do desvio-padrão sobre a média. É uma medida útil para se comparar resultados de distribuições diferentes. Exemplii- cando, uma distribuição com média aritmética igual a 40 e desvio-padrão igual a 4, não é comparável a uma outra distribuição com média aritmética igual a 5 e um desvio- -padrão igual a 4. Mas, calculando-se o coeiciente de variação 0,1 (4/40) com 0,8 os resultados tornam-se comparáveis. 96 Conclusão No crédito, o que se pretende com a análise das demonstrações é avaliar a capa- cidade de pagamento do cliente. O trabalho de analisar crédito envolve a aplicação de técnicas subjetivas, inanceiras e estatísticas. Envolve, ainda, o exame e estudo das de- monstrações contábeis e dos demais relatórios que deverão apontar e determinar os pontos críticos a serem investigados em maior profundidade para se ter informações hábeis a tomada de decisão dos gestores das instituições. Ao analisar as demonstrações contábeis de empresas, as entidades emprestadoras de recursos costumam fazer uso de diferentes técnicas, dentre elas, utilizam a análise horizontal, a análise vertical, o cálculo e avaliação dos índices econômicos-inanceiros. Ao se perpetrar a análise econômico-inanceira das empresas, normalmente são empregados técnicas de áreas diferenciadas do conhecimento, como: Contabilidade, Matemática e Estatística. A Estatística está sendo cada vez mais usada na prospecção do risco de cada ope- ração efetuada pelas instituições. Esse risco está relacionado, dentre outros, ao não recebimento, aos recebimentos com atrasos e à elevação da taxa de captação das en- tidades emprestadoras. Texto complementar Reconhecimento de padrões na análise econômico-inanceira de empresas (BARBOZA; SAMPAIO; ADAMOWICZ, 2002) Introdução O crédito é hoje um instrumento tão importante na vida das pessoas e das em- presas, de modo que o uso inadequado do crédito em escalas elevadas poderá levar uma empresa à quebra ou um indivíduo à insolvência (SILVA, 1993). Os efeitos da crise inanceira de origem externa que surgiram principalmente com a globalização da economia mundial, também atingiu o Brasil, espalhando-se A n ál is e d e R is co e C ré d it o 97 A n álise d e créd ito para outros países da América Latina em 1998, fez com que os maiores bancos deste continente repensassem a sua política de concessão de crédito. Os bancos tiveram que contentar-se com lucros mais baixos, uma vez que esta- vam acostumados a lucrar com cada crise pela qual o país atravessasse através dos efeitos inlacionários. E para que os índices de rentabilidade não fossem menores ainda, houve a necessidade de enfrentar a inadimplência dos clientes reforçando os cuidados com a análise de crédito. A soma dos lucros líquidos dos 200 maiores bancos que operam na América Latina caiu nada menos que 23,5% em relação a 1997, levando a grande maioria a registrar índices de rentabilidade bem inferiores ao do ano interior e à moderação no modo de atuar no mercado. A instabilidade que se seguiu à maxidesvalorização do real levou os bancos a colocarem o pé no freio e reduzirem a alavancagem no primeiro semestre de 1999. Isto pode ser um sinal de que os bancos decidiram ser mais conservadores, reduzin- do o volume de crédito com medo do aumento da inadimplência. Isto quer dizer que os bancos estão apostando numa melhor análise de crédi- to, evitando trabalhar com empresas que ofereçam risco, diminuindo o índice de inadimplência. Esse cuidado em relação ao crédito vem a ser uma vantagem para os bancos, visto que com a diminuição da inadimplência, obtém-se um lucro maior, uma vez que metade dos ativos dosbancos são operações de crédito. Veriica-se então, a necessidade de uma atenção maior à análise e concessão de crédito. Os bancos estão utilizando, além da experiência do analista, métodos e técnicas que auxiliam na tarefa de decidir se uma empresa é merecedora de crédito ou não, visto que a correta decisão de crédito é essencial para a sobrevivência dos bancos. O que é crédito? Crédito é todo ato de vontade ou disposição de alguém de destacar ou ceder, tem- porariamente, parte do seu patrimônio a um terceiro, com a expectativa de que esta par- cela volte a sua posse integralmente após decorrido o tempo previamente estipulado. Sendo um ato de vontade, sempre caberá ao cedente do patrimônio, seu titular ou, popularmente, seu dono, a decisão de cedê-lo ou não (SCHRICkEL, 1998). 98 Em inanças, o vocábulo crédito deine um instrumento de política inanceira a ser utilizado por uma empresa comercial ou industrial na venda a prazo de seus produtos ou por um banco comercial, por exemplo, na concessão de empréstimo, inanciamento ou iança. Para um banco comercial, as operações de crédito se constituem em seu pró- prio negócio. Dessa forma, o banco empresta dinheiro ou inancia bens aos seus clientes, funcionando como uma espécie de “intermediário inanceiro”, pois os re- cursos que aplica são captados no mercado através dos depósitos efetuados por milhares de clientes depositantes. A função do “intermediário inanceiro” é a de atuar como receptor de recur- sos com o objetivo de canalizá-los para fontes produtivas (SILVA, 1993). Essa função torna o crédito um dos fatores de maior importância num banco comercial. Além das operações de empréstimo, existem outras operações de crédito, como inancia- mentos de bens para os clientes, concessão de ianças, desconto de duplicatas etc. O crédito pode aumentar o nível de atividade de uma empresa, estimular o consumo inluenciando na demanda, ou, por outro lado, pode tornar empresas ou pessoa físicas altamente endividadas, bem como forte componente de um processo inlacionário (SILVA, 1993). Objetivo da análise de crédito Numa instituição inanceira (como para qualquer emprestador) o principal ob- jetivo da análise de crédito é o de identiicar os riscos nas situações de emprésti- mo, evidenciando conclusões quanto à capacidade de repagamento do tomador e fazendo recomendações relativas à melhor estruturação e tipo de empréstimo a conceder, à luz das necessidades inanceiras do solicitante, dos riscos identiicados e mantendo, adicionalmente, sob perspectiva, a maximização do lucro da instituição (SCHRICkEL, 1998). Análise econômico-inanceira No mundo dos negócios os termos “econômico” e “inanceiro” são diariamente empregados. É preciso deini-los bem, para não se chegar a falsas conclusões: análise econômica – é o estudo do patrimônio líquido e do lucro ou prejuízo; análise inanceira – é o estudo das disponibilidades como forma de saldar suas dívidas. Estuda a capacidade de pagamento da empresa. A n ál is e d e R is co e C ré d it o 99 A n álise d e créd ito Indicadores econômico-inanceiros Para o exame da situação econômico-inanceira de uma empresa, com vistas à avaliação de sua capacidade, em termos de segurança, liquidez e rentabilidade, o analista deve valer-se de Demonstrativos Financeiros de pelo menos três exercícios sucessivos, e extrair deles os diversos indicadores que lhe forneçam as informações desejadas. Índices de Estrutura – avaliam a segurança oferecida pela empresa aos ca- pitais alheios e revelam sua política de obtenção de recursos, bem como a sua alocação nos diversos itens do Ativo. Índices de Liquidez – medem a posição inanceira da empresa, em termos de capacidade de pagamento. Índices de Rentabilidade – avaliam o desempenho global da empresa, em termos de capacidade de gerar lucros. Análise de balanço através de índices Existe um número muito grande de informações que podem ser extraídas das demonstrações inanceiras. Estas informações são traduzidas através dos índices que relacionam números do balanço e da demonstração de resultado. Tais índices avaliam aspectos genéricos e globais da empresa. Estudar os índices é a técnica de análise mais empregada, que tem como carac- terística fundamental prover uma visão ampla da situação econômica ou inanceira da empresa, pois servem de medida dos diversos aspectos econômicos e inanceiros das empresas. Atividades Quais são os procedimentos geralmente utilizados na análise subjetiva do crédito?1. Conceitue a análise horizontal e vertical.2. A visão estratégica, o potencial de administração, produção e comercialização 3. da empresa fazem parte de qual característica subjetiva? 100 a) Capacidade. b) Condições. c) Caráter. d) Capital. Na análise de balanços, qual é o objetivo da análise de crédito vertical?4. Ampliando conhecimento SILVA, José P. Gestão e Análise de Risco de Crédito. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2008. O autor faz abordagem dos critérios de análise das demonstrações inanceiras e dos aspectos subjetivos de análise de crédito. Sugere-se que o aluno consulte essa obra para a compreensão do assunto. ASSAF NETO, Alexandre. Estrutura e Análise de Balanços: um enfoque eco- nômico-inanceiro. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2001. O auto dedica um capítulo ao estudo dos intermediários de análise onde são apresenta e as características da análise horizontal e vertical SECURATO, José R. Crédito. Análise e Avaliação do Risco – Pessoas Físicas e Jurídicas. São Paulo: Saint Paul Institute of Finance, 2002. A n ál is e d e R is co e C ré d it o 10 1Análise de crédito 103 Análise das demonstrações contábeis e inanceiras I Introdução Um dos instrumentos comumente usados pelos analistas de crédito para investi- gar a saúde inanceira das empresas são as demonstrações contábeis compostas pelos balanços patrimoniais, demonstrações do resultado do exercício e a demonstração das mutações do patrimônio líquido. A partir do exercício social indo em 31 de dezembro de 2008, por força da Lei 11.638/2007, as demonstrações contábeis serão acrescidas da Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC) e da Demonstração do Valor Adicionado (DVA). Salienta-se que a Lei 11.638/2007 substituiu a Demonstração das Origens e Apli- cações de Recursos (DOAR) pela Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC). As demonstrações contábeis são compostas pelos seguintes documentos: balan- ço patrimonial, demonstração dos resultados do exercício, demonstração dos luxos de caixa e demonstração do valor adicionado. As duas últimas foram introduzidas pela Lei 11.638/2007, que reformou a Lei 6.404/76. Silva (2008, p. 150) considera o fato de que as demonstrações contábeis e inanceiras constituem-se “numa das grandes fontes de informações para decisão de crédito”. Doravante, os documentos acima serão de- nominados “demonstrações contábeis e inanceiras”, embora se saiba que qualquer explanação escrita pelo corpo técnico de uma empresa que envolva valores, como o orçamento, por exemplo, é considerada uma demonstração inanceira. Por determinação legal, no im de cada exercício social, a empresa fará com base na escrituração da empresa as demonstrações contábeis. É através delas que se faz a análise da situação econômico-inanceira da empresa. 104 Principais demonstrações contábeis, inanceiras e complementares Periodicamente, as sociedades anônimas costumam publicar um conjunto de in- formações que compreendem as seguintes peças: relatório da administração; demonstrações contábeis e inanceiras, que compreendem: Balanço Patrimonial; demonstração dos resultados do exercício; demonstração das mutações do patrimônio líquido; demonstração do Fluxo de Caixa; demonstração do Valor Adicionado; notas explicativas; parecer dos auditores. Geralmente, as informações publicadas pelas sociedades de capital aberto (anô- nimas) são apresentadas de forma comparada com as dos dois últimos exercícios. Isso permite aos usuários umaavaliação mais adequada do desempenho da empresa no período estudado. Além das demonstrações contábeis e inanceiras relacionadas acima, tem-se o re- latório de administração, que é o reporte da avaliação dos gestores da empresa sobre o período considerado. As notas explicativas são observações complementares ao Ba- lanço Patrimonial, que auxiliam na interpretação das demonstrações contábeis e inan- ceiras. O parecer dos auditores constitui-se na opinião sobre a qualidade dos relatórios apresentados, veriicando se eles retratam ielmente a situação econômico-inanceira da companhia. Relatório da administração O relatório da administração varia de empresa para empresa e funciona como uma prestação de contas dos gestores da empresa para os acionistas. A n ál is e d e R is co e C ré d it o 105 A n álise d as d em o n straçõ es co n táb eis e in an ceiras I Em linhas gerais, as principais informações contidas nesse relatório são: histórico da empresa, estratégias, planos futuros, políticas de recursos humanos e investimentos em pesquisa e desenvolvimento. Balanço Patrimonial O Balanço Patrimonial retrata a posição patrimonial da entidade em determinado momento e é composto pelos bens, direitos e obrigações possuídos pela empresa em uma data especíica. O Ativo retrata o lugar onde estão aplicados os recursos da empresa, ou seja, os bens e direitos que a empresa adquiriu com os recursos captados por ela, e que estão evidenciados no Passivo do balanço. O Passivo retrata a origem de recursos, sejam eles de terceiros ou próprios. Quadro 1 – Composição do ativo e passivo Ativo Passivo O s au to re s. Indica onde a empresa APLICA os recursos de que dispõe. São os BENS e DIREITOS. Indica a FONTE que os fornecem. Terceiros e Próprios: dos sócios e dos lucros. Apresenta-se, a seguir, a estrutura básica do Balanço Patrimonial, de acordo com as novas orientações da Lei 11.638, de 27 de dezembro de 2008. Quadro 2 – Estrutura básica do balanço patrimonial Ativo Passivo (S IL VA , 2 00 8, p . 1 62 . A d ap ta d o .) Circulante Circulante Disponibilidades: Caixa e bancos; Aplicações de liquidez imediata; Direitos realizáveis no exercício social subsequente: Contas a receber de clientes: (-) Duplicatas descontadas; (-) Provisão para devedores duvidosos. Estoques: Adiantamentos a fornecedores; Aplicações de liquidez não imediata; Outros valores a receber. Despesas do exercício seguinte: Seguros antecipados. Fornecedores. Salários e encargos sociais. Impostos e taxas. Dividendos a pagar. Imposto de renda a recolher. Instituições de crédito. Não circulante exigível a longo prazo: Financiamentos; Debêntures; Impostos parcelados. 106 Ativo Passivo (S IL VA , 2 00 8, p . 1 62 . A d ap ta d o .) Circulante Circulante Não circulante Realizável a longo prazo Direitos realizáveis após o término do exercício subsequente: Débitos judiciais; Impostos a recuperar; Valores a receber de controladas; Valores a receber de acionistas. Investimentos Aplicações permanentes em outras sociedades: Controladas e coligadas; Outras participações. Imobilizado: Imóveis e terrenos; Máquinas e equipamentos; Veículos; Móveis, utensílios e instalações. Intangível: Marcas e patentes. Ágio por expectativa de rentabilidade futura (goodwill). (*) Diferido Gastos pré-operacionais: * Em processo de extinção. Não circulante Exigível a longo prazo Resultado de exercícios futuros Patrimônio líquido Capital Social: (-) Capital a integralizar. Reservas de capital: Ágio na emissão de ações; Produto da alienação de partes bene- iciárias; Doações de bens. Reservas de lucro: Reserva legal; Reservas estatutárias; Reservas para contingências; Reservas de lucro a realizar; Reservas de incentivos iscais. Ações em tesouraria: (-) Ajustes de avaliação patrimonial. Prejuízos acumulados Os principais grupos de contas do Balanço Patrimonial estão assim dispostos: Ativo As contas do Ativo estão dispostas de acordo com a ordem liquidez, ou seja, as contas mais líquidas (aquelas mais rapidamente conversíveis em dinheiro) aparecem na parte superior do ativo seguidas daquelas de menor liquidez, na parte inferior. A n ál is e d e R is co e C ré d it o 107 A n álise d as d em o n straçõ es co n táb eis e in an ceiras I Ativo circulante Compreendem as disponibilidades, os direitos realizáveis no exercício subsequen- te e as aplicações de recursos em despesas de exercício seguinte. Caixa Representa o dinheiro em espécie ou cheques recebidos de clientes. Bancos Compreendem os saldos bancários mantidos em conta corrente de instituições inanceiras, na data do balanço. Aplicações de liquidez imediata São aplicações inanceiras, facilmente convertidas em dinheiro. Contas a receber de clientes Valores a receber dos clientes em decorrência da venda de produtos, mercadorias ou serviços. Duplicatas descontadas Trata-se de duplicatas já descontadas (portanto, não são mais direitos da em- presa) e aparecem no balanço como rubrica redutora das duplicatas a receber que, uma vez negociadas, não podem constar como ativo da empresa e, sim, ser redutora desse ativo. Estoques Nesta conta, estão inscritas as mercadorias adquiridas para revenda a clientes. Adiantamento a fornecedores Adiantamentos concedidos aos fornecedores de bens, mercadorias e serviços, por conta de entrega futura de matéria-prima, mercadorias (ou qualquer tipo de produto) pelos fornecedores. 108 Despesas do exercício seguinte Despesas pagas, mas que se referem a exercícios seguintes. Ativo não circulante Compreendem as contas realizáveis com prazo superior a um ano, e não classiicá- veis como capital circulante da empresa. Abrigam aplicações feitas em bens e direitos com características permanentes, que se classiicam em Investimentos, Imobilizado, Intangível e Diferido. O subgrupo “Diferido” encontra-se em fase de extinção. Realizável a longo prazo Contas com prazo de realização superior ao término do exercício seguinte ao do balanço. O artigo 179, inciso II, da Lei 6.404/76 estabelece que não só os direitos reali- záveis após o término do exercício seguinte, assim como os derivados de vendas, adiantamentos ou empréstimos a sociedades coligadas ou controladas, diretores, acionistas ou participantes no lucro da companhia, que não constituírem negócios usuais na exploração do objeto da companhia, devem ser classiicado no Realizável a Longo Prazo. Investimentos Conforme o artigo 179, inciso III da Lei 6.404/76, os investimentos compreendem “[...] as participações permanentes em outras sociedades e os direitos de qualquer na- tureza, não classiicados no ativo circulante, e que não destinem à manutenção da ati- vidade da companhia ou da empresa”. Imobilizado Também de acordo com a Lei 6.404, artigo 179 inciso IV, o imobilizado compre- ende os direitos que tenham por objeto bens corpóreos destinados à manutenção das atividades da companhia, ou da empresa, ou exercidos com essa inalidade, inclusive os decorrentes de operações que transiram à companhia os benefícios, riscos e con- trole desses bens. O imobilizado é representado por bens tangíveis com as seguintes características básicas: A n ál is e d e R is co e C ré d it o 109 A n álise d as d em o n straçõ es co n táb eis e in an ceiras I utilizados na atividade da empresa; não estão destinados à venda; apresentam vida útil superior a um ano; têm valor relevante. Intangível São aqui classiicados os direitos e bens incorpóreos destinados à manutenção da companhia ou exercidos com essa inalidade. Diferido São classiicadas, aqui, as despesas pré-operacionais e os gastos de reestrutura- ção da empresa que contribuirão efetivamente para o aumento do resultado de mais de um exercício social. Passivo Representa as fontes de recursos utilizadas pela empresa, que podem ser prove- nientes deterceiros que emprestam recursos, ou dos sócios que aportam capital, ou de lucro gerado pela própria empresa. Passivo circulante Compreende obrigações vencíveis no exercício social seguinte, compostas geral- mente pelas seguintes rubricas contábeis: Fornecedores Representa as compras a prazo feitas pela empresa. Salários e encargos sociais Compreende os salários e obrigações relativas a cada mês e que são pagas no início do mês subsequente. 110 Instituições inanceiras São os empréstimos obtidos pela empresa junto aos bancos. Passivo não circulante Compreende obrigações vencíveis após o exercício social seguinte e não classii- cáveis no passivo circulante. Exigível a longo prazo Composto pelas obrigações cujos vencimentos ocorrem após o término do exer- cício seguinte. Financiamentos Compreende recursos obtidos pela empresas para inanciar, geralmente, bens do ativo permanente. Resultado de exercícios futuros Composto pelas receitas de exercícios futuros, deduzidos dos custos e despesas a elas correspondentes. Patrimônio líquido Demonstra os recursos pertencentes aos proprietários – é composto por capital social, capital a integralizar, reservas de capital, reservas de lucros e pre- juízos acumulados. Capital social – é a parcela do patrimônio líquido de uma entidade, que re- presenta investimento de acionistas ou proprietários na forma de ações ou quotas de responsabilidade limitada. O valor da ação ou da quota é previa- mente estabelecida na ata da constituição da empresa, ou no contrato social. A integralização pode ser feita em dinheiro ou em bens. A n ál is e d e R is co e C ré d it o 111 A n álise d as d em o n straçõ es co n táb eis e in an ceiras I Capital a integralizar – corresponde à parcela de capital subscrito e ainda não integralizado pelos proprietários da empresa e é uma conta redutora do capital social subscrito. Reservas de Capital – Iudícibus, Martins e Gelbke (2003, p. 295) escrevem que estas reservas “são constituídas com valores recebidos pela companhia e que não transitam pelo Resultado como Receitas, por se referirem a valores destinados a reforço do seu capital, sem terem como contrapartidas qual- quer esforço da empresa em termos de entrega de bens ou de prestação de serviços”. Reservas de lucros – são reservas constituídas a partir do lucro da empresa: reserva legal; reserva estatutária; reserva para contingência; reserva de lucros a realizar; reserva de incentivos iscais. Observa-se que a lei 11.638/2007 estabelece que os valores dos lucros obtidos pela empresa e não distribuídos aos sócios devem ser distribuídos pelas reservas que as empresas possuem dentro das referidas acima. Outro aspecto importante sobre esta rubrica é o fato de não poder exceder o valor do capital social. Prejuízos acumulados – são registrados, aqui, os resultados negativos apura- dos pela empresa decorrentes de suas atividades. Demonstração dos Resultados do Exercício (DRE) A Demonstração dos Resultados do Exercício (DRE) evidencia os resultados da empresa em determinado período, que geralmente equivale ao exercício social. A DRE representa o acúmulo das receitas, dos custos e das despesas, possibili- tando a apuração do lucro ou prejuízo no período. A seguir, apresenta-se a estrutura básica de uma DRE: 112 Quadro 3 – Demonstração dos Resultados do Exercício Demonstração dos Resultados do Exercício (S IL VA , 2 00 8, p . 1 73 ) Receita Operacional Bruta (-) Vendas canceladas (-) Abatimentos sobre vendas (-) Impostos sobre vendas Receita Operacional Líquida (-) Custo dos produtos, mercadorias ou serviços vendidos Lucro Bruto (-) Despesas com vendas (-) Despesas administrativas (-) Despesas inanceiras, líquida das receitas (-) Outras despesas operacionais (+/-) Resultado da equivalência patrimonial Lucro Operacional (+) Receitas não operacionais (-) Despesas não operacionais Lucro antes dos Impostos, Contribuições e Participações (-) Provisão para imposto de renda (-) Provisão para contribuição social (-) Participações Lucro Líquido do Exercício Lucro Líquido por Ação Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido (DMPL) Esta demonstração evidencia todos os eventos que modiicaram o patrimônio líquido de um período para o outro, denotado pelas movimentações das contas do Patrimônio Líquido. Exemplos desses eventos são: lucro, o aumento de capital com integralização pelos sócios ou distribuições de dividendos. Apresenta-se, abaixo, um modelo de Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido (DMPL): A n ál is e d e R is co e C ré d it o 113 A n álise d as d em o n straçõ es co n táb eis e in an ceiras I Quadro 4 – Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido Demonstração das mutações do PL X2 X1 (G EL B C k E; M A R TI N S; IU D ÍC IB U S, 2 00 7, p . 4 99 ) Patrimônio líquido inicial Ajuste de exercícios anteriores Saldo conforme esta publicação Aumento de capital com novas integralizações Aquisição de ações próprias Lucro líquido do exercício Dividendos propostos Patrimônio Líquido inal Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC) Com a entrada em vigor da Lei 11.638/2007, houve a exigência adicional obri- gatória da apresentação da Demonstração dos Fluxos de Caixa, que substituiu a De- monstração das Origens e Aplicações de Recursos (DOAR) e da Demonstração do Valor Adicionado. Azevedo (2008, p. 40) considera que a Demonstração dos Fluxos de Caixa e a De- monstração do Valor Adicionado permitem “aos investidores conhecerem melhor o luxo de dinheiro da empresa e o quanto ela produz de riqueza ao longo do ano”. A lei 11.638, artigo 188, estabelece: As demonstrações referidas nos incisos IV e V do caput do art. 176 desta Lei indicarão, no mínimo: I – demonstração dos luxos de caixa – as alterações ocorridas, durante o exercício, no saldo de caixa e equivalentes de caixa, segregando-se essas alterações em, no mínimo, 3 (três) luxos: a) das operações; b) dos inanciamentos; e c) dos investimentos. Os três luxos da DFC podem ser organizados de duas maneiras diferenciadas, que dão origem a dois métodos distintos de elaboração da demonstração: 114 Método Direto – são demonstrados os recebimentos e pagamentos origina- dos das atividades da empresa e os luxos que geram ou consomem caixa das operações. Demonstra-se diretamente as alterações ocorridas no caixa (entra- das e saídas), e sua principal vantagem é a simplicidade. Segue o modelo da demonstração do luxo de caixa pelo método direto: Quadro 5 – Demonstração do luxo de caixa pelo método direto Atividades Operacionais X2 X1 (G EL B C k E; M A R TI N S; IU D ÍC IB U S, 2 00 7, p . 4 96 ) Recebimento de clientes Pagamento de fornecedores Recebimentos de outros ativos circulantes Pagamento de salários Pagamento de despesas a pagar Pagamento de despesas antecipadas Recebimento de juros Pagamento de juros Recebimento de dividendos Outros recebimentos Outros pagamentos Caixa Líquido Gerado (consumido) pelas atividades operacionais Atividades de investimento Investimento no realizável a longo prazo Outros investimentos de longo prazo Investimento no imobilizado Investimento no diferido Investimentos em participações societárias Outros investimentos permanentes Caixa Líquido Gerado (consumido) pelas atividades de investimento Atividades de inanciamento Aumento de capital Captações de longo prazo Pagamentos de empréstimos Pagamentos de dividendos Caixa Líquido Gerado (consumido) pelas atividades de inanciamento Variação Líquida do Caixa Caixa mais equivalentes de caixa iniciais Caixa mais equivalentes de caixa inais A n ál is e d e R is co e C ré d it o 115 A n álise d as d em o n straçõ es co n táb eis e in an ceiras I Método Indireto – origina-se do resultado líquido do exercício até chegar ao luxo de caixa, ou seja, apura o luxo dos recursos provenientes das atividades operacionais, apresentadosa partir do lucro líquido, ajustados pelos itens que não afetaram o caixa da empresa. A diiculdade de se aplicar esse método é a necessidade de se converter o resulta- do do exercício de “Competência” para “Caixa”. Segue o modelo da demonstração do luxo de caixa pelo método indireto: Quadro 6 – Demonstração do luxo de caixa pelo método indireto Atividades Operacionais X2 X1 (G EL B C k E; M A R TI N S; IU D ÍC IB U S, 2 00 7 p . 4 95 ) Lucro líquido Ajustes ao lucro Depreciação Lucro da venda do imobilizado Despesas inanceiras de longo prazo Resultado de equivalência patrimonial Investimentos de curto prazo Variação das contas a receber Variação da PCLD Variação dos estoques Variação das despesas antecipadas Variação de outros ativos circulantes Variação de fornecedores Variação de despesas a pagar Variação da provisão para IR e CS Variação de outros passivos circulantes Caixa Líquido Gerado (consumido) pelas atividades operacionais Atividades de Investimento Investimento no realizável a longo prazo Outros investimentos de longo prazo Investimento no imobilizado Investimento no diferido Investimentos em participações societárias Outros investimentos permanentes Caixa Líquido Gerado (consumido) pelas atividades de investimento Atividades de Financiamento Aumento de capital Captações de longo prazo Pagamentos de empréstimos Pagamentos de dividendos 116 Caixa Líquido Gerado (consumido) pelas atividades de inanciamento Variação Líquida do Caixa Caixa mais equivalentes de caixa iniciais Caixa mais equivalentes de caixa inais Azevedo (2008 p. 41) airma que o objetivo da DFC “é prover informações rele- vantes sobre os pagamentos e recebimentos (dinheiro à mão, conta corrente bancária e aplicações de sobras de caixa) de uma empresa, ocorridos durante um determinado período”. Em geral, esta demonstração indica a origem de todo dinheiro que entrou no caixa em determinado período, bem como o resultado do luxo inanceiro, permitindo ao administrador melhorar o planejamento inanceiro da entidade. Estão obrigadas à elaboração do luxo de caixa: companhia de capital aberto ou sociedade anônima. companhia de capital fechado. No entanto pode icar dispensada dessa ela- boração e publicação quando o seu patrimônio for inferior a R$ 2.000.000,00 (dois milhões de reais). sociedade de grande porte quando a sociedade (Ltda, Cia fechado). Pela norma, podem ser classiicadas como tal empresas que tiverem ativo total su- perior a R$ 240 milhões ou receita bruta anual maior que R$ 300 milhões. Demonstração do Valor Adicionado (DVA) Para Azevedo (2008, p. 45) “a demonstração do valor adicionado surgiu para evi- denciar o quanto de valor adicionado a empresa adiciona aos insumos que adquire, bem como sua distribuição aos elementos que contribuíram para essa adição”. Sobre a Demonstração do Valor Adicionado (DVA), a Lei 11.638/2007, art. 188 es- tabelece que essa demonstração corresponde ao “valor da riqueza gerada pela com- panhia, a sua distribuição entre os elementos que contribuíram para a geração dessa riqueza, tais como empregados, inanciadores, acionistas, governo e outros, bem como a parcela da riqueza não distribuída”. Da receita gerada pela empresa, são subtraídos os consumos intermediários (in- sumos), e o que ica é o valor adicionado, sendo necessário indicar como tal valor adi- cionado foi distribuído. A n ál is e d e R is co e C ré d it o 117 A n álise d as d em o n straçõ es co n táb eis e in an ceiras I Para Azevedo (2008, p. 45), trata-se de identiicar “os agentes econômicos que receberam pagamentos, obtendo, portanto, renda e que contribuíram para aquela adição de valor à entidade”. Esses agentes são os empregados, os capitais de terceiros, os governos e os sócios/acionistas e o valor retido para o crescimento da empresa. A seguir, apresenta-se o modelo simpliicado elaborado pela Fundação de Pesqui- sas contábeis, Atuariais e Financeiras da USP (Fipecai): Quadro 7 – Demonstração do Valor Adicionado Descrição Mil (G EL B C k E; M A R TI N S; IU D ÍC IB U S, 2 00 7, p . 5 01 ) 1. Receitas 1.1 Vendas de mercadorias, produtos e serviços 1.2 Provisão para devedores duvidosos 1.3 Não operacionais 2. Insumos adquiridos de terceiros (inclui ICMS, PIS, Coins) 2.1 Matérias-primas consumidas 2.2 Custo das mercadorias e serviços vendidos 2.3 Materiais, energia, serviços de terceiros 2.4 Perdas/recuperação de valores ativos 3. Valor adicionado bruto 4. Retenções 4.1 Depreciação, amortização e exaustão 5. Valor adicionado líquido produzido pela entidade 6. Valor adicionado recebido em transferência 6.1 Resultado da equivalência patrimonial 6.2 Receitas inanceiras 7. Valor adicionado total a distribuir 8. Distribuição do valor adicionado 8.1 Pessoal e encargos 8.2 Impostos, taxas e contribuições 8.3 Juros e aluguéis 8.4 Juros de capital próprio e dividendos 8.5 Lucros retidos/prejuízo do exercício Em síntese, a elaboração da DVA apresenta a riqueza gerada pela empresa, di- vidida pelos elementos que a geram (empregados, inanciadores, acionistas) e a sua distribuição. O objetivo é mostrar como o resultado da empresa é obtido através da contribui- ção de cada parte envolvida para a produção de riqueza e como foi distribuída. Estão obrigadas à elaboração da DVA: Cia. aberta; 118 sociedade de grande porte quando a sociedade (Ltda. Cia. fechado), desde que a regulamentação societária venha a conirmar essa obrigatoriedade, uma vez que se prevalecer a interpretação gramatical do inciso V do art. 176, a Sociedade de Grande Porte icará dispensada. Notas explicativas As notas explicativas apresentam informações complementares às demonstra- ções contábeis, além de quadros analíticos sobre a situação patrimonial da empresas. De acordo com Silva (2008, p. 160), “as notas explicativas dão informações gerais sobre o contexto operacional da empresa, mostrando as principais atividades”. A Lei 6.404/76 no artigo 176 estabelece: §5.º - As notas deverão indicar: a) os principais critérios de avaliação dos elementos patrimoniais, especialmente estoques, dos cálculos de depreciação, amortização e exaustão, de constituição de provisões para encargos ou riscos e dos ajustes para atender a perdas prováveis na realização de elementos do ativo; b) os investimentos em outras sociedades, quando relevantes (art. 247, parágrafo único); c) o aumento de valor de elementos do ativo resultante de novas avaliações (art. 182, §3.º); d) os ônus reais constituídos sobre elementos do ativo, as garantias prestadas a terceiros e outras responsabilidades eventuais ou contingentes; e) a taxa de juros, as datas de vencimento e as garantias das obrigações a longo prazo; f ) o número, espécies e classes das ações do capital social; g) as opções de compra de ações outorgadas e exercidas no exercício; h) os ajustes de exercícios anteriores (art. 186, §1.º); i) os eventos subsequentes à data de encerramento do exercício que tenham, ou possa vir a ter, efeito relevante sobre a situação inanceira e os resultados futuros da companhia. Parecer da auditoria As companhias abertas são obrigadas a apresentar suas demonstrações contá- beis auditadas por auditores independentes devidamente registrados na Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Segundo Attie (1998, p. 67) o “objetivo da auditoria independente é expressar opinião sobre a propriedade das demonstrações inanceiras e se estas representam, efetivamente, a situação patrimonial e inanceira e o resultado da empresa auditada”. A n ál is e d e R is co e C ré d it o 119 A n álise d as d em o n straçõ es co n táb eis e in an ceiras I Lei 11.638, de 28 de dezembro de 2007 Mensagem de veto Altera e revoga dispositivos da Lei 6.404, de 15 de dezembro de 1976, e da Lei 6.385, de 7 de dezembro de 1976, e estende às sociedades de grande porte dis- posições relativas à elaboração e divulgação de demonstrações inanceiras. O PRESIDENTEDA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: Art. 1.º Os arts. 176 a 179, 181 a 184, 187, 188, 197, 199, 226 e 248 da Lei 6.404, de 15 de dezembro de 1976, passam a vigorar com a seguinte redação: Art. 176 (...) IV - demonstração dos luxos de caixa; e V – se companhia aberta, demonstração do valor adicionado. [...] O instrumento utilizado para expressar a opinião dos auditores é justamente o parecer de auditoria. Conclusão Os instrumentos comumente mais utilizados pelos analistas de crédito para in- vestigar a saúde inanceira das empresas são as demonstrações contábeis-inanceiras, compostas pelos balanços patrimoniais, demonstrações do resultado do exercício, de- monstração das mutações do patrimônio líquido, demonstração dos luxos de caixa, demonstração do valor adicionado, notas explicativas e parecer dos auditories. Elas servem de base para que os usuários das informações tenham visão geral sobre a posi- ção da entidade no mercado, possibilitando uma tomada de decisão mais embasada. Para se perpetrar uma análise de risco adequada, um dos requisitos relevantes é conhecer as demonstrações contábeis-inanceiras. Texto complementar 120 §6.º A companhia fechada com patrimônio líquido, na data do balanço, inferior a R$2.000.000,00 (dois milhões de reais) não será obrigada à elaboração e publica- ção da demonstração dos luxos de caixa. (NR) Art. 177 [...] §2.º As disposições da lei tributária ou de legislação especial sobre atividade que constitui o objeto da companhia que conduzam à utilização de métodos ou critérios contábeis diferentes ou à elaboração de outras demonstrações não elidem a obrigação de elaborar, para todos os ins desta Lei, demonstrações inanceiras em consonância com o disposto no caput deste artigo e deverão ser alternativamente observadas mediante registro: I – em livros auxiliares, sem modiicação da escrituração mercantil; ou II – no caso da elaboração das demonstrações para ins tributários, na escritu- ração mercantil, desde que sejam efetuados em seguida lançamentos con- tábeis adicionais que assegurem a preparação e a divulgação de demons- trações inanceiras com observância do disposto no caput deste artigo, devendo ser essas demonstrações auditadas por auditor independente re- gistrado na Comissão de Valores Mobiliários. [...] §5.º As normas expedidas pela Comissão de Valores Mobiliários a que se refere o §3.º deste artigo deverão ser elaboradas em consonância com os padrões interna- cionais de contabilidade adotados nos principais mercados de valores mobiliários. §6.º As companhias fechadas poderão optar por observar as normas sobre de- monstrações inanceiras expedidas pela Comissão de Valores Mobiliários para as companhias abertas. §7.º Os lançamentos de ajuste efetuados exclusivamente para harmonização de normas contábeis, nos termos do §2.º deste artigo, e as demonstrações e apura- ções com eles elaboradas não poderão ser base de incidência de impostos e contri- buições nem ter quaisquer outros efeitos tributários. (NR) Art. 178 c) ativo permanente, dividido em investimentos, imobilizado, intangível e diferido. §2.º [...] A n ál is e d e R is co e C ré d it o 121 A n álise d as d em o n straçõ es co n táb eis e in an ceiras I d) patrimônio líquido, dividido em capital social, reservas de capital, ajustes de avaliação patrimonial, reservas de lucros, ações em tesouraria e prejuízos acumulados. [...] ” (NR) Art. 179 [...] IV – no ativo imobilizado: os direitos que tenham por objeto bens corpóreos destinados à manutenção das atividades da companhia ou da empresa ou exercidos com essa inalidade, inclusive os decorrentes de operações que transiram à companhia os benefícios, riscos e controle desses bens; V – no diferido: as despesas pré-operacionais e os gastos de reestruturação que contribuirão, efetivamente, para o aumento do resultado de mais de um exercício social e que não conigurem tão-somente uma redução de custos ou acréscimo na eiciência operacional; VI – no intangível: os direitos que tenham por objeto bens incorpóreos destina- dos à manutenção da companhia ou exercidos com essa inalidade, inclusi- ve o fundo de comércio adquirido. [...] (NR) Patrimônio Líquido Art. 182 [...] §3.º Serão classiicadas como ajustes de avaliação patrimonial, enquanto não computadas no resultado do exercício em obediência ao regime de competência, as contrapartidas de aumentos ou diminuições de valor atribuído a elementos do ativo (§5.º do art. 177, inciso I do caput do art. 183 e §3.º do art. 226 desta Lei) e do passivo, em decorrência da sua avaliação a preço de mercado. (...) (NR) Critérios de Avaliação do Ativo Art. 183 [...] I – as aplicações em instrumentos inanceiros, inclusive derivativos, e em direi- tos e títulos de créditos, classiicados no ativo circulante ou no realizável a longo prazo: a) pelo seu valor de mercado ou valor equivalente, quando se tratar de aplica- ções destinadas à negociação ou disponíveis para venda; e 122 b) pelo valor de custo de aquisição ou valor de emissão, atualizado conforme disposições legais ou contratuais, ajustado ao valor provável de realização, quando este for inferior, no caso das demais aplicações e os direitos e títulos de crédito; [...] VII – os direitos classiicados no intangível, pelo custo incorrido na aquisição deduzido do saldo da respectiva conta de amortização; VIII – os elementos do ativo decorrentes de operações de longo prazo serão ajustados a valor presente, sendo os demais ajustados quando houver efeito relevante. §1.º [...] d) dos instrumentos inanceiros, o valor que pode se obter em um mercado ativo, decorrente de transação não compulsória realizada entre partes in- dependentes; e, na ausência de um mercado ativo para um determinado instrumento inanceiro: 1) o valor que se pode obter em um mercado ativo com a negociação de outro instrumento inanceiro de natureza, prazo e risco similares; 2) o valor presente líquido dos luxos de caixa futuros para instrumentos inan- ceiros de natureza, prazo e risco similares; ou 3) o valor obtido por meio de modelos matemático-estatísticos de preciica- ção de instrumentos inanceiros. §2.º A diminuição do valor dos elementos dos ativos imobilizado, intangível e diferido será registrada periodicamente nas contas de: [...] §3.º A companhia deverá efetuar, periodicamente, análise sobre a recuperação dos valores registrados no imobilizado, no intangível e no diferido, a im de que sejam: I – registradas as perdas de valor do capital aplicado quando houver decisão de interromper os empreendimentos ou atividades a que se destinavam ou quando comprovado que não poderão produzir resultados suicientes para recuperação desse valor; ou A n ál is e d e R is co e C ré d it o 123 A n álise d as d em o n straçõ es co n táb eis e in an ceiras I II – revisados e ajustados os critérios utilizados para determinação da vida útil econômica estimada e para cálculo da depreciação, exaustão e amortiza- ção. [...] (NR) [...] Atividades Qual a importância das demonstrações contábeis para a análise de risco de 1. crédito? A Lei 11.638/2007 instituiu um novo subgrupo ao Ativo Não circulante que 2. abrange “os direitos que tenham por objeto bens incorpóreos destinados à ma- nutenção da companhia ou exercidos com essa inalidade, inclusive o fundo de comércio adquirido”. A qual subgrupo o trecho se refere? a) Imobilizado. b) Investimento. c) Diferido. d) Intangível. Qual demonstração abaixo demonstra a riqueza gerada pela empresa e sua dis-3. tribuição? a) Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC). b) Demonstração do Valor Adicionado (DVA). c) Demonstração das Origens e Aplicações de Recursos (DOAR). d) Demonstração de Resultado do Exercício (DRE). Qual é a demonstração inanceira que melhor demonstra o resultado obtido 4. pela empresa no exercício e por quê? 124 Ampliando conhecimentos SILVA, José P. Gestão e Análisede Risco de Crédito. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2008. O autor aborda os critérios de análise das demonstrações contábeis e os aspectos subjetivos de análise de crédito. Sugere-se que o aluno consulte essa obra para plena compreensão do assunto. AZEVEDO, Osmar Reis. Comentários às Novas Regras Contábeis Brasileiras. São Paulo: IOB, 2008. Este livro é o estudo das principais alterações nas demonstrações inanceiras após a promulgação da Lei 11.638, que altera a Lei 6.404/76. IUDÍCIBUS, Sérgio de; MARTINS, Eliseu; GELBCkE, Ernesto Rubens. Manual de Contabilidade das Sociedades por Ações. São Paulo: Atlas, 2007. Esta obra é indispensável aos que querem se aprofundar nos componentes das principais demonstrações inanceiras e nas práticas contábeis adotadas no Brasil. Deve ser consultado ao longo deste capítulo. A n ál is e d e R is co e C ré d it o 12 5Análise das demonstrações contábeis e inanceiras I 127 Análise das demonstrações contábeis e inanceiras II Introdução De um modo geral, a análise econômico-inanceira tem como elementos básicos as demonstrações contábeis, particularmente o balanço patrimonial e a demonstração dos resultados do exercício. A partir dessas demonstrações é possível obter informa- ções relevantes sobre o negócio e se há algum indício de risco na empresa. Para Gitman (2002), os índices servem para “comparar o desempenho e a situação de uma empresa com outras empresas ou consigo mesma ao longo do tempo”. Ou seja, funcionam como sinais para os problemas potenciais que podem ocorrer. No entanto, é importante lembrar que a análise por meio de índices não é suiciente para veriicar o desempenho econômico-inanceiro da empresa, pois pode fornecer um re- trato distorcido em alguns casos. Portanto, a análise deve ser feita em conjunto com outras ferramentas de análise para se chegar ao conhecimento mais profundo dos negócios. Os gestores utilizam, além da análise através dos índices econômico-inanceiros, a análise horizontal e vertical. Sobre o assunto Silva (2008, p. 182) esclarece que “os mé- todos de análise vertical e horizontal prestam valiosas contribuições na interpretação da estrutura e da tendência dos números de uma empresa”. É possível perceber que, para uma completa análise inanceira, essas ferramentas se complementam e auxiliam gestores, credores e acionistas. Análise horizontal e vertical Análise vertical O principal objetivo da análise vertical é mostrar a participação relativa de cada conta de uma demonstração inanceira em relação a determinado referencial. 128 Geralmente, utiliza-se a percentagem do valor de cada conta em relação ao ativo total, passivo total ou resultado líquido. Para Assaf Neto (1998, p. 108), a análise vertical é “processo comparativo, expresso em porcentagem, que se aplica ao se relacionar uma conta ou um grupo de contas com um valor aim ou relacionável, identiicado no mesmo demonstrativo”. Para o cálculo dos percentuais da coluna da análise vertical (AV), divide-se o valor da rubrica que se deseja calcular pelo valor-base, multiplicando o valor encontrado por cem. O valor-base no balanço patrimonial é o ativo total, e na demonstração de resul- tado é a receita líquida de vendas. Alguns autores propõem a seguinte fórmula abaixo. Exemplo de cálculo encontra-se abaixo. AV n = Rubrica x 100 Base Exemplo: sobre os resultados obtidos através da análise vertical, Silva (2008, p. 184) esclarece que “a simples representatividade de um item do ativo ou do passivo em relação a determinado referencial pode não ser suiciente para possibilitar ao analista tirar conclusão sobre a situação da empresa”. Por essa razão, os analistas costumam observar a tendência do comportamento do valor de um item ao longo de mais de um exercício. Isso permite a observação de mudanças expressivas na estrutura da demonstração analisada. Para Matarazzo (1998, p. 255), a análise vertical “mostra a importância de cada conta em relação à demonstração inanceira a que pertence” e, através das compa- rações com a própria empresa em anos anteriores, permite inferir se há itens fora das proporções normais. Análise horizontal A análise horizontal, segundo Assaf Neto (2008, p. 101) “é a comparação que se faz entre os valores de uma mesma conta ou grupo de contas, em diferentes exercícios sociais”. Na análise horizontal é possível veriicar a evolução histórica de uma série de va- lores, ou seja, a evolução de cada conta das demonstrações inanceiras. Segundo Matarazzo (1998, p. 57), pela comparação das contas entre si é possível “tirar conclusões sobre a evolução da empresa”. A n ál is e d e R is co e C ré d it o 129 A n álise d as d em o n straçõ es co n táb eis e in an ceiras II Assaf Neto (2001) resume o estudo comparativo da evolução horizontal em três segmentos: Evolução dos ativos (investimento) e passivos (inanciamentos) de curto prazo – é possível avaliar a folga inanceira (liquidez de curto prazo) na even- tualidade dos ativos circulantes terem crescido com maior rapidez que os pas- sivos circulantes, ou de uma redução na liquidez, caso ocorra o inverso. Evolução do ativo permanente produtivo – relete a capacidade de produ- ção/vendas de uma empresa, devendo corresponder a um nível maior de in- vestimentos em bens ixos a um adequado crescimento de vendas. Evolução na estrutura de capital – veriica-se como a empresa está inan- ciando seus investimentos em ativos, isto é, se houve maior preferência por empréstimos e inanciamentos em relação ao uso de capital próprio e se é vi- sível algum desequilíbrio na estrutura de capital, notadamente pela presença de um maior volume de dívidas de curto prazo em relação a capitais de longo prazo etc. Exemplo de análise vertical e horizontal Tabela 1 - Exemplo hipotético de análises vertical e horizontal ATIVO 31/12/X1 AV% AH% 31/12/X2 AV% AH% 31/12/X3 AV% AH% O s au to re s. Circulante Caixa e bancos 20.000 3,6 100 15.000 2,19 75,0 25.000 3,28 125,0 Clientes 30.000 5,4 100 35.000 5,12 116,7 75.000 9,84 250,0 Estoques 50.000 8,9 100 60.000 8,77 120,0 25.000 3,28 50,0 Total do circulante 100.000 17,9 100 110.000 16,1 110,0 125.000 16,4 125,0 Não circulante realizável a longo prazo Empresas controladas 160.000 28,6 100 184.000 26,9 115,0 192.000 25,2 120,0 Total realizável a longo prazo 160.000 28,6 100 184.000 26,9 115,0 192.000 25,2 120,0 Investimentos 80.000 14,3 100 92.000 13,5 115,0 96.000 12,6 120,0 Imobilizado 150.000 26,8 100 248.000 36,3 165,3 299.000 39,4 199,3 Intangível 20.000 3,6 100 20.000 2,9 100 30.000 3,9 150,0 Diferido 50.000 8,9 100 30.000 4,4 60,0 20.000 2,6 40,0 Total do não circulante 460.000 82,1 100 574.000 83,9 124,8 637.000 83,6 138,5 Total 560.000 100 684.000 100 762.000 130 PASSIVO 31/12/X1 AV AH 684.000 AV AH 31/12/X3 AV AH O s au to re s Circulante Fornecedores 35.000 6,3 100 67.500 9,9 192,9 46.400 6,1 132,6 Salários e encargos 15.000 2,7 100 25.000 3,7 166,7 39.000 5,1 260,0 Impostos e contribuições 20.000 3,6 100 30.000 4,4 150,0 21.000 2,8 105,0 Total do circulante 70.000 12,5 100 122.500 17,9 175,0 106.400 14,0 152,0 Não circulante Exigível a longo prazo Empresas controladas 85.000 15,2 100 75.000 11,0 88,2 89.000 11,7 104,7 Financiamentos 65.000 11,6 100 92.800 13,6 142,8 176.000 23,1 270,8 Total do exigível a longo 150.000 26,8 100 167.800 24,5 111,9 265.000 34,8 176,7 Total do não circulante 150.000 26,8 100 167.800 24,5 111,9 265.000 34,8 176,7 Patrimônio Líquido Capital 200.000 35,7 100 200.000 29,2 100,0 200.000 26,2 100,0 Reservas de capital 60.000 10,7 100 60.000 8,8 100,0 60.000 7,9 100,0 Reservas de lucros 80.000 14,3 100 133.700 19,5 167,1 130.600 17,1 163,6 Total Patrimônio Líquido 340.000 60,7 100 393.700 57,6 115,8 390.600 51,3 114,9 Total 560.000 100 684.000 100 762.000 100 136,1 Na demonstração de resultado, através da análise horizontal, é possível veriicar a evolução dos custos e despesas em relação ao volume de vendas e seusrelexos sobre o resultado do exercício. DRE 31/12/X1 AV% AH% 31/12/X2 AV% AH 31/12/X3 AV% AH% O s au to re s. Receita de Vendas 830.000 100 100 1.260.000 100 151,8 2.050.000 100,0 247,0 CMV -524.167 63,2 100 -840.500 66,7 160,3 -1.594.600 77,8 304,2 Lucro Bruto 305.833 36,8 100 419.500 33,3 137,2 455.400 22,2 148,9 Despesas Operacionais -139.500 16,8 100 -190.000 15,1 136,2 -277.500 13,5 198,9 Despesas Financeiras -88.000 10,6 100 -140.000 11,1 159,1 -186.000 9,1 211,4 Resultado “Operacional” 78.333 9,4 100 89.500 7,1 114,3 -8.100 0,4 -10,3 Provisão para IR -31.333 3,8 100 -35.800 2,8 114,3 0 0,0 0 Resultado Líquido 47.000 5,6 100 53.700 4,3 114,3 -8.100 0,4 -17,2 Quanto à análise vertical das demonstrações apresentadas acima, é possível in- ferir que: A n ál is e d e R is co e C ré d it o 131 A n álise d as d em o n straçõ es co n táb eis e in an ceiras II houve uma pequena redução nos investimentos no período estudado; ocorreu um aumento elevado das dívidas de curto prazo; houve um aumento na participação de terceiros para inanciamento do capi- tal circulante. Quanto à análise horizontal é possível perceber: sensível redução na liquidez e lucratividade; redução na capacidade de pagamento a curto prazo e o aumento de suas obrigações (passivo circulante) em relação às suas disponibilidades; aumento da participação de capital de terceiros e a redução da participação dos recursos próprios no inanciamento da empresa; aumento nos custos maior que o crescimento das receitas, o que resulta na redução do lucro bruto. Análise através de índices econômico-inanceiros A análise através de índices envolve métodos de cálculo e interpretação dos resul- tados para avaliar o desempenho e a situação da empresa. Essa análise utiliza os saldos das rubricas da demonstração de resultado e do balanço patrimonial referentes aos períodos examinados. Esta análise é importante para credores, acionistas e à própria administração da empresa. Os credores geralmente querem saber se a empresa pode liquidar suas obri- gações em curto prazo. Os acionistas necessitam avaliar se a empresa é sólida, se os riscos potenciais estão sob controle e qual é o retorno sobre o investimento efetua- do. Os administradores precisam veriicar a eiciência operacional e o desempenho da empresa. Considerado assim, a análise dos índices é instrumento relevante na avaliação sobre o desempenho da empresa. Aos usuários das informações provenientes da aná- lise requisita-se preparo para interpretar corretamente essas informações e dar à elas a correta dimensão de sua representatividade no patrimônio da empresa. Sobre a conceituação de índices inanceiros, Silva (2008, p. 188) apresenta a se- guinte deinição: “os índices inanceiros são relações entre as contas das demonstra- ções inanceiras que têm como objetivo fornecer-nos informações que não são fáceis de serem visualizadas de forma direta nas demonstrações inanceiras”. 132 Por se tratar de medidas de grandeza, os índices podem ser comparados ano a ano para veriicação de suas tendências e comportamento. Gitman (2002) subdivide os índices em quatro grupos ou categorias: 1. Índi- ces de liquidez; 2. Índices de atividade; 3. Índices de endividamento; e 4. Índices de lucratividade. Índices de liquidez – de acordo com Gitman (2002), é medida pela capaci- dade da empresa de satisfazer no vencimento às obrigações de curto prazo e refere-se à solvência da empresa e à facilidade com a qual ela pode pagar suas contas. Índice de liquidez corrente – mede a capacidade da empresa em quitar suas obrigações de curto prazo. Para Gitman (2002, p. 110) é “uma medida de liquidez calculada que divide o ativo circulante pelo passivo circulante da empresa”. índice de liquidez corrente = ativo circulante passivo circulante Entende-se que o capital circulante líquido de uma empresa é o resultado da equação “Ativo Circulante – Passivo Circulante”. Se o índice for igual a 1,0, o capital circulante líquido será igual a zero, isto porque o ativo circulante e o passivo circulante têm o mesmo valor. Se o índice for menor que 1,0, o capital circulante líquido será ne- gativo. Caso o índice seja maior que 1,0, o capital circulante líquido é positivo. Exemplo: a empresa Chateau de Chapon, localizada em Estraburgo, França, apre- sentou para o exercício indo em 2007 um balanço patrimonial em que as contas de seu Ativo Circulante totalizaram R$700 mil. As obrigações de curto prazo somaram R$350 mil no mesmo período. Aplicando-se a fórmula acima, o índice de liquidez cor- rente do Chateau para o período é igual a 2. Índice de liquidez corrente = 700.000 350.000 = 2 Índice de liquidez seco – guarda semelhança com o índice de liquidez cor- rente. Difere-se apenas por excluir os estoques do ativo circulante. índice de liquidez seco = ativo circulante – estoques passivo circulante Exemplo: a empresa Chateau de Chapon, acima, apresentou para o exercício indo em 2006 um balanço patrimonial em que as contas de seu Passivo Circulante A n ál is e d e R is co e C ré d it o 133 A n álise d as d em o n straçõ es co n táb eis e in an ceiras II totalizaram R$800 mil. Seu Ativo Circulante totalizou R$1.200 mil, incluindo o saldo de Estoques de R$200 mil. Aplicando-se a fórmula acima, o índice de liquidez seco do Chateau para o período é igual a 1,25. Índice de liquidez corrente seco = 1.200.000 – 200.000 800.000 = 1,25 A literatura sobre o assunto recomenda que as empresas mantenham esse índice em número acima de 1,0, observando-se que quanto maior for o índice, mais “líquida” será a empresa. Índices de atividade – estes índices são usados para medir a rapidez com que várias contas são convertidas em dinheiro, ou vendas. Giro dos estoques – é utilizado para medir a velocidade da atividade da empresa, ou a velocidade da liquidez da venda e compra de seus estoques. É calculado pela fórmula: giro de estoques = custo dos produtos vendidos estoques Exemplo: a empresa Chateau de Chapon apresentou para o exercício indo em 2008 uma demonstração de resultados do exercício, em que os custos das mercadorias vendidas totalizaram R$600 mil. Considerando que os estoques da empresa somaram R$300 mil, o giro dos estoques do Chateau para o período é igual 2. Giro de estoques = 600.000 300.000 = 2 Prazo médio de cobrança – O período médio de cobrança é útil na avaliação das políticas de crédito e cobrança da empresa. É calculado pela fórmula: período médio de cobrança = duplicatas a receber vendas médias por dia Exemplo: a empresa Chateau de Chapon apresentou para o exercício indo em 2005 um balanço patrimonial em que as duplicatas a receber emitidas contra clientes totalizaram R$500 mil. As vendas médias por dia somaram R$25 mil. Aplicando-se a fórmula acima, tem-se que o período médio de cobrança é de 20 dias. Período médio de cobrança = 500.000 25.000 = 20 Prazo médio de pagamento – o período médio de pagamento é obtido atra- vés da seguinte fórmula: 134 prazo médio de pagamento = duplicatas a pagar compras médias por dia = duplicatas a pagar compras anuais Exemplo: a empresa kohler, empresa familiar fabricante de papel na Alema- nha, apresentou em seu balanço patrimonial de 2006 duplicatas a pagar no valor de R$300 mil. Considerando que o valor médio das compras diárias efetuadas no ano foi de R$5 mil, o prazo médio de pagamento da empresa é de 60 dias (300.000/5.000). Prazo médio de pagamento = 300.000 5.000 = 60 Giro do ativo não circulante – avalia a eiciência com a qual a empresa utiliza os ativos não circulantes. É calculado através da seguinte fórmula: giro do ativo permanente = vendas ativo não circulante líquido Exemplo: o Supermercado Monotrix, em Colmar, região da Alsácia, França, apre- sentou em sua demonstracão de resultados vendas no valor de R$2 milhões, em 2006. O ativo não circulante da empresa no inal desse ano era de R$1 milhão. O giro do ativo não circulantelíquido é de 2,0 (2.000.000/1.000.000). Prazo médio de pagamento = 2.000.000 1.000.000 = 2 Giro do ativo total – indica a eiciência com a qual a empresa utiliza os ativos para gerar vendas. Geralmente, quanto maior o giro total da empresa, mais eiciente foram usados os ativos. É calculado através da seguinte fórmula: giro do ativo total = vendas ativos totais Exemplo: o Supermercado Monotrix, em Colmar, apresentou em sua demonstra- cão de resultados vendas no valor de R$2 milhões, em 2006, e em seu balanço, o ativo total somou R$1,5 milhão. O giro do ativo total do Monotrix para o ano de 2006 é de 1,33 (2.000.000/1.500.000). Prazo médio de pagamento = 2.000.000 1.500.000 = 1,33 Índices de endividamento – os índices de endividamento medem o montan- te de recursos de terceiros que estão sendo usados para gerar lucros. Índice de endividamento geral – de acordo com Gitman (2002, p. 117), ”o índice de endividamento geral mede a proporção dos ativos totais A n ál is e d e R is co e C ré d it o 135 A n álise d as d em o n straçõ es co n táb eis e in an ceiras II inanciadas pelos credores”. Quanto maior for o resultado, maior será o montante do capital de terceiros que vem sendo utilizado para gerar lucros. índice de endividamento geral = exigível total ativo total Exemplo: o Supermercado ATAC, localizado em Robert Sau, localizado na Franca, região fronteiriça com Alemanha, apresentou em seu balanço patrimonial de 2007 um exigibilidades totais no valor de R$3 milhões. Seu ativo total nesse ano era de R$5 mi- lhões. Aplicando a fórmula acima, o índice de endividamento do ATAC é de 0,6 ou, se multiplicarmos por 100, de 60%. Índice de endividamento geral = 3.000.000 5.000.000 = 0,6 Índices de lucratividade – existem várias formas de medir a lucratividade de um negócio e elas estão relacionadas aos retornos da empresa em suas vendas, seus ativos, ao patrimônio, ou valor das ações. Margem bruta – a margem bruta mede a percentagem de cada unidade mo- netária de venda que icou para a empresa após o pagamento dos custos dos produtos. Quanto maior a margem bruta, melhor o resultado da empresa. margem bruta = vendas – custo dos produtos vendidos vendas = lucro bruto vendas Exemplo: o Supermercado ATAC apresentou em sua demonstração de resul- tados de 2007 vendas no valor de R$3 milhões. Os custos dessa venda totalizaram R$1.5 milhão. Aplicando-se a fórmula acima, a margem de bruta das vendas foi de 0,5, ou, 50% . Margem bruta = 3.000.000 – 1.500.000 3.000.000 = 0,5 Margem operacional – a margem operacional representa o lucro da empresa sem considerar as despesas inanceiras, os juros ou obrigações iscais como o imposto de renda. Margem operacional = lucro operacional vendas Exemplo: o County Market, localizado em Urbana, Illinois, Estados Unidos, apre- sentou a demonstração de resultados do exercício de 2007 com um lucro operacional 136 de US$48 milhões. O volume de vendas da empresa neste ano foi de US$120 milhões. A margem operacional do County Market em 2007 foi de 0,4, ou de 40%, se multipli- carmos o resultado por 100. Margem operacional = 48.000.000 120.000.000 = 0,4 Margem líquida – mede o percentual obtido com as vendas, após abatidas todas as despesas. Geralmente, quanto maior for a margem líquida da empre- sa, mais resultado líquido ela estará obtendo com suas vendas. Margem líquida = lucro líquido após o imposto de renda vendas Exemplo: o County Market, acima, apresentou a demonstração de resultados do exercício de 2007 com um lucro líquido, após o provisionamento do imposto de renda, de US$30 milhões. O volume de vendas da empresa neste ano foi de US$120 milhões. A margem líquida do County Market em 2007 foi de 0,25 ou de 25%, se multiplicarmos o resultado por 100 (30.000.000/120.000.000). Margem operacional = 30.000.000 120.000.000 = 0,25 Taxa de Retorno sobre o Ativo Total (ROA) (return on total assets) – é utili- zado para medir a eiciência global da administração de lucros com os ativos disponíveis. Quanto maior a taxa, melhor. É assim calculada: Taxa de retorno sobre o ativo total = lucro líquido depois do imposto de renda ativo total Exemplo: o County Market, acima, apresentou a demonstração de resultados do exercício de 2007 com um lucro líquido, após o provisionamento do imposto de renda, de US$30 milhões. O volume de vendas da empresa neste ano foi de US$120 milhões. A margem líquida do County Market em 2007 foi de 0,25 ou de 25%, se multiplicarmos o resultado por 100. Taxa de retorno sobre o ativo total = 30.000.000 120.000.000 = 0,25 Taxa de retorno sobre o Patrimônio Líquido (ROE) (return on equity) – é utilizado para medir o retorno obtido sobre os capitais próprios (ações prefe- renciais e ordinárias). Geralmente, quanto maior for a taxa de retorno, melhor para os acionistas. É assim calculada: A n ál is e d e R is co e C ré d it o 137 A n álise d as d em o n straçõ es co n táb eis e in an ceiras II Taxa de retorno sobre o Patrimônio Líquido = lucro líquido depois do imposto de renda patrimônio líquido Exemplo: as Lojas kehl, produtora e revendedora de gravatas em Stuttgart, Ale- manha, apresentou um lucro líquido (após o imposto de renda) em 2005 de R$700 mil. O Balanço Patrimonial da empresa nesse ano acusou um Patrimônio Líquido de R$1 milhão. A taxa de retorno da empresa para o ano de 2005 foi de 0,7 ou de 70%, se multiplicarmos o resultado por 100. Taxa de retorno sobre o ativo total = 700.000 1.000.000 = 0,7 Lucro por ação (LPA) – O lucro por ação representa o valor auferido sobre cada ação ordinária emitida. Lucro por ação = lucro disponível aos acionistas ordinários número de ações ordinárias emitidas Exemplo: a empresa Mantisse, produtora e vendedora de gravatas em Lyon, Franca, apresentou um lucro líquido disponível para os acionistas de R$3 milhões, em 2006. O número de ações da empresa era de 500.000 ações naquela data. O lucro por ação da Matisse, em 2006, foi de R$6. Taxa de retorno sobre o ativo total = 3.000.000 500.000 = 6 Exemplos de índices Índices extraídos das demonstrações apresentadas anteriormente. Índices Fórmula 31/12/X1 31/12/X2 31/12/X3 Interpretação O s au to re s. Liquidez geral LG = AC + RLP/PC + ELP 1,18 1,01 0,85 Quanto maior, melhor Liquidez corrente LC = AC/ PC 1,43 0,90 1,17 Quanto maior, melhor Liquidez seca LS = AC-Estoque/PC 0,71 0,41 0,94 Quanto maior, melhor Giro do estoque G EST = CPV/EST -10,48 -14,01 -63,78 Quanto maior, melhor Giro do ativo permanente GAP = V /APL 2,77 3,23 4,61 Quanto maior, melhor Giro do ativo total GA = VL/AT 1,48 1,84 2,69 Quanto maior, melhor Endividamento geral EG = EX /AT 0,39 0,42 0,49 Quanto menor, melhor Margem bruta MB = LB/V 0,37 0,33 0,22 Quanto maior, melhor Margem operacional MO = LO/V 0,09 0,07 0,00 Quanto maior, melhor 138 Índices Fórmula 31/12/X1 31/12/X2 31/12/X3 Interpretação Margem líquida ML = LL/V 0,06 0,04 0,00 Quanto maior, melhor Retorno sobre o ativo RSA = LL/AT 0,08 0,08 -0,01 Quanto maior, melhor Retorno sobre o PL RPL= LL/PL 0,14 0,14 -0,02 Quanto maior, melhor Índices-padrão De acordo com a conceituação de Silva (2008, p. 207), o índice-padrão “é um refe- rencial de comparação”, ou seja, deve-se comparar o índice calculado com o índice-pa- drão e daí tirar-se conclusões válidas do indicador calculado. Ainda segundo o mesmo autor, é possível veriicar dois padrões básicos: I. Padrão interno, deinido pela direção da empresa como sendo uma meta a ser atingida. Por exemplo, em termos de estruturas de capitais (relação da dívida total com o patrimônio líquido), a direção deine que para cada unidade monetária ($) de capital próprio, utilizará igual montante de recursos de terceiros. Esse tipo de padrão funciona como uma meta a ser perseguida e mantida. II. Padrão externo, como sendo um referencial constituído a partir de um conjunto de empresas que sejam representativas das características que julgamosrelevantes para a formação do padrão. Há três fatores que precisam ser considerados na elaboração de um padrão: (a) região geográica; (b) segmento de atuação; e (c) porte. (SILVA, 2008, p. 207) Os índices-padrão são utilizados como referência de determinados setores da economia, e são normalmente publicados por revistas especializadas em negócios empresariais. Conclusão A análise econômico-inanceira de empresas é um procedimento utilizado na avaliação do risco de crédito. Ela tem como elementos básicos as demonstrações con- tábeis, que são utilizadas na detecção de problemas que o tomador de recursos pode apresentar através daqueles relatórios. Para a análise referida, geralmente se utiliza o cálculo de índices e as análises hori- zontal e vertical para se capturar tendências sobre os negócios da empresa. Existem diversos indicadores que podem investigar a situação econômico-inan- ceira das empresas tomadoras de recursos das instituições inanceiras. Neste capítulo, abordou-se alguns indicadores considerados relevantes: liquidez, eiciência, endivida- mento, lucratividade, rentabilidade, além dos retornos sobre o ativo e patrimônio líqui- do. Abordou-se, por último, o cálculo do lucro por ação. Acredita-se que os indicadores A n ál is e d e R is co e C ré d it o 139 A n álise d as d em o n straçõ es co n táb eis e in an ceiras II citados fornecem as informações necessárias e suicientes para amparar uma decisão adequada e segura. Importante ressaltar que uma grande quantidade de indicadores não é garantia de boa análise econômico-inanceira. Ela depende, também, de outro tipo de análise: a subjetiva. Texto complementar Análise econômica e inanceira de empresas (DEUS, 2009) [...] Comparação com padrões Os índices extraídos das demonstrações inanceiras de uma determinada em- presa só adquirem consistência e objetividade quando comparados com padrões, pois do contrário, as conclusões se sujeitam à opinião do analista. A reação imediata de quem se defronta com as demonstrações e querer delas tirar algumas informações é fazer comparações. Os índices de balanços expressam relações entre partes das demonstrações inanceiras e a análise de balanços está toda baseada neles. A pergunta que o analista deve fazer é: Como avaliar esses índices? Basicamente, deve-se comparar um índice com índices de outras empresas. Assim as coisas se encadeiam logicamente. O principal problema para se comparar o índice de uma empresa com os de outras é exatamente com que empresas comparam. Como comparar os diversos índices de diversas empresas com os índices da empresa objeto da análise? A estatística possui mecanismos para se extrair algumas medidas de determi- nado universo de elementos. Estas medidas são: 140 Média: é a medida utilizada para indicar algo que é característico do universo. Moda: é a medida que objetiva mostra aquilo que é mais comum em determi- nado universo. Mediana: é a medida que busca um valor tal que, colocados os elementos do universo em ordem crescente, 50% dos elementos icam abaixo de si e 50% acima. O papel da mediana é possibilitar a comparação de um elemento do universo com os demais a im de conhecer sua posição relativa na ordem de grandeza do universo. Podemos observar que a mediana é uma medida mais consistente, que possui características que visam corrigir maiores distorções em um determinado universo analisado. Exemplo: 20 empresas de um determinado ramo de atividade, classiicada como porte médio, índices de liquidez corrente. 1,7 - 1,58 - 1,70 - 1,65 - 1,45 - 1,60 - 0,52 - 0,65 - 0,80 - 1,80 - 0,50 - 1,75 - 1,70 - 1,30 - 1,40 - 1,60 - 0,72 - 1,45 - 1,18 - 1,22 1.º Passo: ordenar a amostra em ordem crescente. 0,50 - 0,52 - 0,60 - 0,65 - 0,72 - 0,80 - 1,18 - 1,22 - 1,30 - 1,40 1,45 - 1,45 - 1,47 - 1,58 - 1,60 - 1,65 - 1,70 - 1,70 - 1,75 - 1,80 2.º Passo: aplicação de deinição de mediana. “Valor tal que colocados os elementos em ordem crescente 50% icam acima de 57 e 50% abaixo”. Portanto tomam-se os elementos 10 e 11 do universo, tira-se a média e obtem-se a mediana: 1,40 + 1,45 2 = 2,85 2 = 1,43 A média é a somatória dos elementos dividido pelo número de elementos. 25,04 20 = 1,43 Fica claro, neste exemplo, que a média não é uma boa medida para compara- ção como padrão, pois notamos uma diferença de 0,18 entre a média e a mediana. Podemos classiicar esta diferença como sendo relevante no estudo da análise. Após extrairmos os índices das demonstrações inanceiras da empresa em aná- lise, e de posse da mediana dos índices das empresas do seu ramo e porte, devemos tabular as informações com segue:A n ál is e d e R is co e C ré d it o 141 A n álise d as d em o n straçõ es co n táb eis e in an ceiras II Índices Empresa Ramo/setor 19 x1 19 x 2 19 x 3 mediana x 3 CT/PL 146% PC/CT 86% AP/PL 57% AP/PL +ELP 47% LG 1,23 LC 1,54 LS 0,98 VL/ATM 1,53 LL/VL 3,40 LL/ x ATM 5,80 LL/ PLM 18% O quadro fornece uma visão global dos três últimos exercícios em análise, bem como a comparação do último exercício com os índices-padrão das empresas do ramo e será de grande utilidade para a emissão do relatório de análise. Atividades Qual é a importância dos índices econômico-inanceiros na análise e interpre-1. tação das demonstrações contábeis? Assaf Neto (2001, p. 101) enfatiza que “as duas principais características da aná-2. lise de uma empresa são a comparação dos valores obtidos em determinado período com aqueles levantados em períodos anteriores e o relacionamento desses valores com outros ains”. Qual é o instrumento de análise que utiliza a comparação de diferentes exercícios tomando deles como base? a) Análise vertical. b) Análise horizontal. c) Análise de índices de liquidez. d) Análise de endividamento. 142 Sobre a análise vertical é correto airmar:3. a) A análise vertical é mais informativa que a análise horizontal e só pode ser utilizada para avaliar o balanço patrimonial. b) A análise vertical possibilita identiicar a representatividade de um item em relação a um referencial. No balanço patrimonial, esse referencial, normal- mente, é o valor do ativo, passivo e patrimônio líquido, enquanto na de- monstração de resultado é o resultado líquido. c) A análise vertical é conlitante com a análise horizontal, e por esse fato con- vém utilizar somente a última para calcular a evolução das vendas. Para os demais itens da DRE e do Balanço Patrimonial é usada a análise vertical. d) A análise vertical demonstra o crescimento do ativo em exercícios sucessi- vos através da comparação dos mesmos. De acordo com Silva (2008) “uma grande quantidade de índices pode chegar a 4. confundir o analista e uma quantidade pequena pode não ser suiciente para tirarmos conclusões acerca da saúde inanceira da empresa”. Sendo assim, qual o papel do analista neste contexto? Ampliando conhecimento SILVA, José P. Gestão e Análise de Risco de Crédito. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2008. O autor aborda os critérios de análise das demonstrações inanceiras e dos ins- trumentos utilizados para esta análise. O aluno deve consultar os capítulos desse livro para irmar os conceitos expostos neste capítulo. ASSAF NETO, Alexandre. Estrutura e Análise de Balanços: um enfoque eco- nômico-inanceiro. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2001. Neste livro também é abordada a utilização dos índices econômico-inanceiros para a análise de crédito. O autor apresenta os principais índices utilizados na análise inanceira, enfatizando a maneira de interpretar os indicadores. Esta obra deve ser con- sultada como reforço de aprendizado. A n ál is e d e R is co e C ré d it o 14 3Análise das demonstrações contábeis e inanceiras II 145 Análise de capital de giro Introdução O principal objetivo da análise de capital de giro é avaliar a capacidade da em- presa em honrar os compromissos de curto prazo. Para tanto, segundo Silva (2008, p. 235), o cálculo dos índices de liquidez não são suicientes “paraavaliar a capacidade da empresa de pagar seus compromissos imediatos”. Portanto, os analistas recorrem a outras técnicas para obter informações e, assim, ter uma visão mais precisa sobre a liquidez da empresa e sua estrutura de capital. A análise de capital de giro surge como mecanismo capaz de acrescentar informa- ções relevantes para melhor compreender e veriicar a capacidade da empresa para pagar seus débitos. Tal análise é conhecida como “modelo dinâmico de análise inanceira”. Gimenes e Gimenes escrevem (2006) que para utilizar o modelo dinâmico de análise inanceira é necessário reclassiicar as contas do Balanço Patrimonial em ativos circulantes e não circulantes e o grupo dos ativos circulantes em ativos circulantes ope- racionais (cíclicos) e ativos circulantes inanceiros (erráticos). Gimenes e Gimenes (2006) continuam airmando que o grupo dos ativos não- -circulantes é composto pelos ativos realizáveis a longo prazo e pelos investimentos, imobilizado, diferido e intangível. O grupo dos passivos não circulantes é composto pelos passivos exigíveis a longo prazo, pelos resultados de exercícios futuros e pelo patrimônio líquido da empresa. Gimenes e Gimenes (2006) acrescentam que o ativo circulante operacional é o inves- timento que resulta das atividades operacionais da empresa (compra, produção, estoca- gem e venda), enquanto o passivo circulante operacional é a fonte denominada passivo de funcionamento, ou seja, a que decorre das atividades operacionais (Matarazzo, 1998). Gitman (2002, p. 619) escreve que o capital de giro representa “a parcela do inves- timento que circula de uma forma a outra, durante a condução normal dos negócios”, esse conceito está relacionado com o ciclo operacional da empresa. Compreende, pois, a transferência periódica de recursos do caixa para estoques, depois para duplicatas a receber e, em seguida, de volta para o caixa. 146 O capital de giro é obtido pela subtração do passivo circulante do ativo circulante. Capital de giro ou capital circulante líquido = Passivo circulante – Ativo circulante Exemplo: a Marinalva Ltda., empresa de prestação de serviços, apresenta em seu balanço de inal de ano valores do Ativo ciculante igual a R$840.000. Seus compromis- sos de curso prazo (Passivo circulante) totaliza R$380.000 no mesmo período. O capital circulante líquido da empresa no mesmo período é igual a R$460.000. Capital de giro = 840.000 – 380.000 = 460.000 O capital de giro, ou capital circulante líquido, pode ser positivo ou negativo. Quando os ativos circulantes superam os passivos circulantes, a empresa apresenta capital de giro positivo. Quando os ativos circulantes são menores que os passivos cir- culantes, a empresa apresenta capital de giro negativo. São esses resultados que dão indícios sobre a situação dos recursos disponíveis da empresa. Gitman (2002, p. 619) escreve que “quanto maior a margem pela qual os ativos cir- culantes de uma empresa cobrem suas obrigações a curto prazo (passivos circulantes), mais apta ela estará para pagar suas contas no seu vencimento. Para Assaf Neto (2008), o capital de giro pode ser considerado como elemento básico da avaliação do equilíbrio inanceiro de uma empresa, pois pela análise de seus elementos patrimoniais são identiicados os prazos operacionais, o volume de recur- sos permanentes (longo prazo) que inanciam o giro e as necessidades de investimen- to operacional. Assaf Neto acrescenta: O comportamento do capital de giro é extremamente dinâmico, exigindo modelos eicientes e rápidos de avaliação da situação inanceira da empresa. Uma necessidade mal dimensionada é certamente uma fonte de comprometimento da solvência da empresa, com relexos sobre sua posição econômica de rentabilidade. (ASSAF NETO, 2008, p. 211) A boa gestão dos negócios recomenda que os administradores das empresas devem atentar para o adequado controle do volume de capital de giro necessário para manter a “saúde” do negócio, ou seja, deter capital suiciente para pagar as contas de curtíssimo prazo e movimentar os negócios sem que haja solução de continuidade. Para tanto, internamente, os gestores podem tomar medidas que facilitem a manuten- ção do capital de giro. Sobre as medidas mencionadas, Marion (2008, p.127) escreve: [...] ampliar prazos, negociar com fornecedores são iniciativas louváveis, já que é praticamente impossível negociar prazo com funcionários (salários), governo (impostos) etc. O autor continua A n ál is e d e R is co e C ré d it o 147 A n álise d e cap ital d e g iro ponderando que é saudável a redução do prazo do giro do estoque, como também uma redução do prazo de recebimento das duplicatas (política de crédito mais adequada, cobrança mais eiciente). Outro conceito de capital de giro é apresentado por Padoveze e Benedicto: A terminologia “capital de giro” vem da visão circular do processo operacional de geração de lucros, ou seja, comprar estoques, produzir, vender e receber, voltar a comprar estoques, produzir e vender/receber. Em termos contábeis, o capital de giro é representado pelo total do ativo circulante, também denominado capital de giro bruto. (PADOVEZE; BENEDICTO, 2007, p. 247) Padoveze e Benedicto (2007) ainda trazem outro conceito de capital de giro, que é o Capital de Giro Próprio (CGP) que é determinado pela diferença entre ativo circu- lante e passivo circulante. São considerados elementos do capital de giro próprio: disponibilidade – caixa, bancos e aplicações inanceiras; contas a receber de clientes – duplicatas a receber; estoques – materiais em processo e acabados; contas a pagar a fornecedores – duplicatas a pagar; outras contas a pagar – despesas provisionadas; salários e encargos a pagar; impostos a recolher sobre mercadorias. As contas do balanço ligados ao capital de giro que devem merecer estudo apro- fundado são: estoques, clientes e fornecedores que formam a espinha dorsal do con- ceito de capital de giro próprio. Investimento Operacional em Giro (IOG) ou Necessidade Líquida de Capital de Giro (NLCDG) Silva (2007, p. 414) escreve que “Investimento Operacional em Giro”, ou simples- mente IOG, “é uma metodologia de análise de grande utilidade no auxílio da determi- nação da saúde inanceira de uma empresa, fornecendo uma visão sistêmica do im- pacto das diversas áreas de decisão na empresa e de suas interações”. O termo “Investimento Operacional” é o desdobramento do conceito de Capital Circulante Líquido. Vejamos a fórmula proposta por Silva (2007). CCL = AC – PC 148 Onde: CCL – capital circulante líquido AC – ativo circulante PC – passivo circulante De acordo com Silva (2007, p. 415) “o desdobramento conceitual do CCL nos dará outros conceitos como o Investimento Operacional em Giro (IOG) e o saldo de Tesouraria (T). Para Silva (2008), o investimento operacional em giro (IOG) é composto por contas de caráter operacional que normalmente são classiicadas dentro do ativo e do passi- vo circulantes e estão relacionadas ao ciclo operacional das empresas. Já o “Saldo em Tesouraria” é composto por rubricas de caráter inanceiro como disponibilidades, apli- cações inanceiras e empréstimos de curto prazo. Silva (2007) ainda apresenta a diferenciação entre o Capital Circulante Líquido (CCL) e o Capital de Giro Próprio (CGP). Para ele, o CCL baseia-se na diferença entre os ativos e passivos circulantes; já o CGP é a parcela do ativo circulante inanciada pelos recursos próprios da entidade, ou seja, o que sobra do patrimônio líquido após o com- prometimento dos recursos próprios com o ativo permanente e o realizável a longo prazo. A seguir, apresenta-se balanço estruturado para ins de estruturação do IOG. Quadro 1 – Balanço Patrimonial reestruturado para apresentação do Investimento Operacional em Giro (IOG) Ativo Passivo e patrimônio líquido (S IL VA , 2 00 8. A d ap ta d o .) Ativo circulante inanceiro (ACF) Passivo circulante inanceiro (PCF) C * Caixa e bancos *Instituições de créditoC I * Aplicações de liquidez imediata *Duplicatas/títulos descontados I R * Aplicações de liquidez não-imediata *Dividendos a pagar R C C U Ativo circulante cíclico (ACC) Passivo circulante cíclico (ACC) U L *Contas a receber de clientes * Fornecedores L A * Estoques * Salários e encargos sociais A N * Adiantamentos a fornecedores * Impostos e taxas N T * Outros valores a receber T E * Despesas do exercício seguinte E A n ál is e d e R is co e C ré d it o 149 A n álise d e cap ital d e g iro Ativo Passivo e patrimônio líquido N Realizável a longo prazo (RLP) Exigível a longo prazo (ELP) N à Direitos realizáveis após o término do exercício *Financiamentos à O Valores a receber de controladas *Debêntures O – *Impostos parcelados – C C I Investimentos Resultado de exercícios futuros (REF) I R Imobilizado R C Intangível Patrimônio líquido C U * Diferido * Capital Social U L * Reservas * Ajustes a valor de mercado L A * Prejuízos acumulados A N N T T E E *Em extinção Ativo total Passivo total Para essa reestruturação do balanço, o ativo e o passivo circulantes foram divididos em duas partes: uma cíclica e a outra inanceira. Silva (2008, p. 230) assim esclarece: Ativo circulante uma parte cíclica que contém os itens relacionados de forma direta com o ciclo operacional da empresa, o Ativo Circulante Cíclico (ACC); e outra de cunho inanceiro, isto é, a parte que chamamos de ativo inanceiro, o Ativo Circulante Financeiro (ACF). Passivo circulante uma parte diretamente relacionada ao ciclo operacional da empresa (exceto no que se refere a empréstimos bancários), o Passivo Circulante Cíclico (PCC); outra de natureza inanceira, que compreende os empréstimos bancários, descontos de títulos e outras operações que não decorrem de forma direta do ciclo operacional da empresa (PCF). 150 As contas não circulantes foram divididas em: Ativo Não circulante (ANC), com- posto pelo realizável a longo prazo, investimentos, imobilizado, diferido e intangível, e Passivo Não circulante (PNC), composto pelo exigível a longo prazo, o resultado de exercícios futuros e o patrimônio líquido. No estudo do IOG, as contas do ACC, como qualquer grupo do ativo, retratam aplicações de recursos e as contas do PCC indicam as fontes dos recursos utilizados. Ambos são o relexo da atividade operacional da empresa. O IOG é obtido através da fórmula: IOG = ACC – PCC Pela equação imediatamente acima, o IOG é o resultado de: (contas a receber de clien- tes, estoque, adiantamentos, outros valores) – (fornecedores, salários, impostos e taxas). Nas situações em que o resultado dessa equação é positivo, costuma-se inter- pretar como se a empresa estivesse com boa liquidez inanceira, estando aplicando as folgas de recursos nas atividades operacionais. Assim, em situações favoráveis, a em- presa apresenta IOG positivo. No entanto, o resultado pode ser negativo, o que indica que ao invés de ocorrer investimento das atividades operacionais, está ocorrendo i- nanciamento das atividades em volume superior aos investimentos operacionais. IOG positivo = investimento operacional de giro; IOG negativo = inanciamento operacional de giro. Gimenes e Gimenes (2006) escrevem que mudanças nas políticas de compras, estocagem e crédito podem produzir efeitos imediatos sobre o luxo de caixa e no IOG (chamado por aqueles autores de NLCDG), ressaltando-se a importância deste tipo de análise para se caracterizar o equilíbrio inanceiro de curto prazo das empresas. Efeito tesoura As empresas necessitam acompanhar de maneira eiciente o incremento de suas atividades operacionais para realizar um crescimento ajustado que não comprometa suas inanças. Mas, nem sempre as organizações estão preparadas para o aumento das suas ati- vidades e, consequentemente, para o aumento da necessidade de capital de giro. Assaf Neto (2008, p. 219) escreve que “o acompanhamento da evolução da Necessidade de A n ál is e d e R is co e C ré d it o 151 A n álise d e cap ital d e g iro Investimento em Giro (NIG) e do Capital Circulante Líquido (CCL) é fundamental para uma melhor avaliação da saúde inanceira da empresa”. A avaliação da NIG é tarefa normalmente incorporada à rotina das empresas. Sem essa avaliação pode haver um comprometimento da estrutura inanceira da entidade, pois à medida que se deixa de prever os futuros desembolsos dadas as entradas de recursos previstas, o capital circulante líquido pode não ser suiciente para cobrir os recursos aplicados. Assaf Neto (2008) argumenta que o desempenho pode ocorrer de maneira de- sequilibrada, com um crescimento da atividade empresarial acima da capacidade de inanciamento. Ou seja, a expansão da atividade exige uma aplicação de recursos no capital de giro, ultrapassando o nível do capital circulante líquido. Caso a empresa apresente, em vários exercícios seguidos, um crescimento da NIG superior ao do CCL, em administração inanceira airma-se que ela está sofrendo o “efeito tesoura” que é caracterizado por um crescente saldo de disponível negativo. Segundo Assaf Neto (2008, p. 219), “a medida que as necessidades cíclicas de giro são inanciadas por dívidas de curto prazo, há aumento na diferença entre o NIG e o CCL, agravando o “efeito tesoura”. Ainda segundo o mesmo autor, o saldo disponível negativo, que é uma caracte- rística do “efeito tesoura”, demonstra a incapacidade da empresa de inanciar adequa- damente seus investimentos operacionais em giro, operando com recursos incompatí- veis com as suas efetivas necessidades inanceiras. O “efeito tesoura” pode acontecer por diversas razões, entre elas: crescimento elevado do nível de atividade empresarial (overtrade); desvio de recursos do capital de giro para imobilizações; inlação. Para Silva (2008, p. 245) “a palavra overtrade signiica o ato de uma empresa fazer negócios superiores aos seus recursos inanceiros”. O overtrade quer dizer que a empre- sa efetua volume elevado de negócios sem dispor de recursos suicientes para inan- ciar suas necessidades de capital de giro. Santi Filho e Olinquevitch (1995) escrevem que toda empresa convive com o “efeito tesoura” quando ela apresenta por vários exercícios seguidos a Necessidade de Capital de Giro superior ao Capital de Giro liquido. Tal efeito evidencia que a empresa é incapaz de inanciar adequadamente as suas dívidas. 152 Capital Permanente Líquido (CPL) Como já foi estudado, o investimento operacional em giro é conhecido como aplicação de recursos decorrentes da própria atividade da empresa. De acordo com Silva (2008), a efetiva avaliação da saúde da empresa é o resultado de como a empresa inancia tal aplicação. Para Silva (2008, p. 237) “enquanto o IOG caracteriza uma necessidade, o CPL será a fonte a inanciá-lo”. O capital circulante líquido está relacionado às contas não circulantes e obtido através da fórmula: CPL = PNC – ANC Onde: CPL – Capital Permanente Líquido PNC – Passivo Não circulante ANC – Ativo Não circulante Ressalta-se que o valor do Capital Permanente Líquido (CPL) é exatamente igual ao valor do Capital Circulante Líquido (CCL), isto porque o ativo é composto dos itens circulantes e itens não circulantes. Se considerar que o CCL é composto somente de itens circulantes (AC – PC) e o capital permanente líquido é composto somente de itens não circulantes, temos que o ativo é igual ao CCL e CPL. Se o ativo é igual ao CCL e CPL em proporções iguais, CCL = CPL. O ciclo inanceiro e o saldo em tesouraria Santi Filho e Olinquevitch (1995) escrevem que o ciclo inanceiro é o período com- preendido entre o pagamento de fornecedores e o recebimento de clientes incluindo no intervalo de vários desembolsos referentes a salários, impostos, encargos etc. O ciclo operacional inanceiro possui todos os componentes da necessidade de capital de giro como duplicatas a receber, estoques, fornecedores, impostos etc. A diferença entre Ativo Circulante Financeiro (ACF) e o Passivo CirculanteFinan- ceiro (PCF) também é conhecido como saldo em Tesouraria (T). A n ál is e d e R is co e C ré d it o 153 A n álise d e cap ital d e g iro O saldo em tesouraria é obtido através da fórmula: T = ACF – PCF O saldo em tesouraria (T) pode ser maior ou menor que zero. Se for maior do que zero, signiica que a empresa possui mais aplicações em moeda do que deve. Caso esse saldo seja menor que zero, signiica que a empresa tem obrigações de curto prazo, não relacionadas ao ciclo operacional, superiores aos recursos inanceiros de curto prazo. De acordo com Silva (2008), ao longo de um exercício social podem ocorrer varia- ções que provocam mudanças na saúde inanceira da empresa. Veja o exemplo: A Empresa Gigolek S.A. apresentou seu balanço patrimonial de 2005 e 2006 as seguintes conigurações: Tabela 1 – Balanço patrimonial de 2005 – Em $ milhões 2005 O s au to re s. Ativo Passivo Circulante Circulante Caixa 30 Instituições de crédito 50 Aplicações inanceiras de curto prazo 40 Fornecedores 30 Não circulante Duplicatas a receber 30 Financiamentos a longo prazo 30 Estoques 20 Patrimônio Líquido 190 Adiantamentos a fornecedores 65 Não circulante Aplicações inanceiras de longo prazo 15 Imobilizado 100 Total Ativo 300 Total Passivo + PL 300 Tabela 2 – Balanço patrimonial de 2006 2006 O s au to re s. Ativo Passivo Circulante Circulante Caixa 10 Instituições de crédito 60 Aplicações inanceiras de curto prazo 30 Fornecedores 30 154 2006 O s au to re s Não circulante Duplicatas a receber 45 Financiamentos a longo prazo 50 Estoques 25 Patrimônio Líquido 170 Adiantamentos a fornecedores 70 Não circulante Aplicações inanceiras de longo prazo 30 Imobilizado 100 Total Ativo 310 Total Passivo + PL 310 O IOG é, então, calculado segundo a fórmula imediatamente abaixo: IOG = ACC – PCC Onde, IOG: Investimento Operacional em Giro ACC: Ativo Circulante Cíclico PCC: Passivo Circulante Cíclico T = ACF – PCF Onde, T= Tesouraria ACF = Ativo Circulante Financeiro PCF = Passivo Circulante Financeiro Pelos balanços e fórmulas acima, tem-se: CCL = AC – PC Onde, CCL = Capital Circulante Líquido AC = Ativo Circulante PC = Passivo Circulante CCL = AC – PC CCL (2005) = (30+40+30+20+65) – (50 + 30) CCL (2005) = 185 – 80 CCL (2005) = 105 A n ál is e d e R is co e C ré d it o 155 A n álise d e cap ital d e g iro CCL (2006) = (10 + 30 +45 +25 + 70) – (60+30) CCL (2006) = 180 – 90 CCL (2006) = 90 Δ = Variação. Corresponde à diferença de saldos entre 2006 e 2005. Δ CCL = (15) ACC 2005 = (30+20+65) ACC 2005 = 115 ACC 2006 = (45+25+70) ACC 2006 = 140 Δ ACC = 25. Corresponde à diferença de saldos entre 2006 e 2005. PCC 2005 = 30 PCC 2006 = 30 Δ PCC 2005 = 0 Obs: A única conta do PCC é fornecedores nos dois anos, com os saldos sem variação. ANC 2005 = 115 ANC 2006 = 130 Δ ANC = 15. Corresponde à diferença de saldos entre 2006 e 2005. PNC 2005 = 220 PNC 2006 = 220 Δ = 0 Obs: Os passivos não circulantes não se alteram nos dois anos. IOG = ACC - PCC IOG 2005 = 115 – 30 = 85 IOG 2006 = 140 – 30 = 110 Δ IOG = 25. Corresponde à diferença de saldos entre 2006 e 2005. T = ACF - PCF T 2005 = 85 – 80 = 5 T 2006 = 70 – 110 = (40) Δ T = (45). Corresponde à diferença de saldos entre 2006 e 2005. 156 CPL 2005 = 220 – 115 = 105 CPL 2006 = 220 – 130 = 90 Δ CPL = (15). Corresponde à diferença de saldos entre 2006 e 2005. Variação do saldo em tesouraria (ΔT) Δ CPL1 > Δ IOG » T cresce Δ CPL < Δ IOG » T diminui Pelo exemplo dos balanços acima, o Δ CPL = (15), e o Δ IOG = 25. Como o Δ CPL < Δ IOG, temos que o saldo em tesouraria, T diminuiu de 5 para -40. Variação no IOG (Δ IOG) Δ ACC > Δ PCC » IOG cresce. Pelos dados da Tabela 1, segue-se que o Δ ACC = 25 (140 – 115), e o Δ PCC = 0 (30 – 30). Observa-se que o IOG cresceu de 2005 para 2006, de 85 para 110. Δ ACC < Δ PCC » IOG diminui O raciocínio desta coniguração segue o do exemplo acima. Variação no IOG (Δ IOG) Δ PNC > Δ ANC » CPL cresce Δ PNC < Δ ANC » CPL diminui Na situação proposta, as variações do ANC e do PNC são iguais a 15 e 0. Portanto, o Δ do ANC é maior que o Δ do PNC. Por sua vez, a variação (Δ) do CPL diminuiu de 105 para 90, comprovando a segunda das alternativas acima da variação do IOG. Santi Filho e Olinquevitch (1995, p. 25) escrevem que “a variável Tesouraria, é, sem dúvida, aquela que melhor expressa a situação inanceira de curto prazo das empresas. O seu saldo positivo indica uma situação inanceira folgada; se o saldo for negativo, indica a utilização de recursos de terceiros para inanciar as atividades operacionais da empresa. Conclusão Os analistas de crédito costumam recorrer ao estudo do capital de giro do cliente para avaliar a capacidade de pagamento desses tomadores de recursos. Essa análise é feita conjuntamente com a análise de quocientes, análise de estatísticas, análise 1 CPL: Capital Permanente Líquido.A n ál is e d e R is co e C ré d it o 157 A n álise d e cap ital d e g iro subjetiva e outras. A intenção dos gestores das instituições credoras é mitigar o risco do não recebimento dos valores concedidos quando das operações realizadas. O capital de giro é elemento básico da avaliação do equilíbrio inanceiro de qual- quer empresa. Para analisar o capital de giro de uma cliente, faz-se necessário reclassi- icar as contas do balanço patrimonial em ativos e passivos cíclicos e inanceiros, além de ativos e passivos circulantes e não circulantes. Ao se analisar o capital de giro de uma empresa, a adequada mensuração do in- vestimento operacional em giro, ou necessidade líquida de capital de giro, do saldo em tesouraria e dos ativos e passivos não circulantes é relevante para se avaliar se os gestores estão conduzindo a empresa de forma equilibrada. Texto complementar Gestão do capital de giro (GENTIL, 2005) As contas circulantes da empresa, ativos e passivos circulantes, fazem parte da administração do capital de giro. Portanto, o objetivo da administração de capital de giro é administrar as contas circulantes para que possa garantir um nível aceitável de capital circulante líquido. É interessante ressaltar que toda empresa deve manter um mínimo possível de capital de giro, pois os ativos circulantes têm que ser capazes de cobrir os passivos circulantes e, é claro, com alguma margem de segurança. Os ativos circulantes que têm mais destaque são: caixa, títulos negociáveis, duplicatas a receber e estoques. Cada um desses ativos circulantes deve ser bem administrado para que se possa garantir a liquidez da empresa. Em se tratando dos passivos circulantes, os mais im- portantes são: duplicatas a pagar, títulos a pagar e despesas provisionadas. É preciso que seja bem administrado para garantir que cada uma das fontes de inanciamento a curto prazo seja utilizada da melhor maneira possível. A administração do capital de giro é a atividade mais conhecida da Administra- ção Financeira. A maior parte do tempo do administrador inanceiro é tomado pela administração dos ativos correntes: o capital. 158 O capital constitui o recurso inanceiro básico de qualquer empresa. Existem dois tipos de capital: capital próprio – é o capital que pertence aos proprietários ou acionistas da empresa (não-exigível); capital de terceiros – são os empréstimos, debêntures e ações preferenciais (exigibilidades da empresa). Sempre que algum acionista da empresa entra com algum capital, espera sempre ter um retorno e corre um determinado risco. “Retorno” signiica um rendimento maior e “risco” é uma pos- sibilidade de perda. Existem dois tipos de riscos: econômico e inanceiro. “Risco econômico” é o risco inerente ao negócio da empresa e o “risco inancei- ro” é o risco de não obter remuneração do investimento. Ainda se falando um pouco sobre capital, podemos ainda classiicá-lo em capital ixo ou capital de giro. O capital ixo é formado pelos ativos imobilizados e o capital de giro pelosativos circulantes. O capital de giro pode ser bruto (ativo circulante) ou líquido (ativo circulante – passivo circulante). O que temos que ressaltar é que o capital de giro funciona no curto prazo. A administração do capital de giro tem que levar em conta três dilemas: Os ativos devem ter uma liquidez compatível; O dilema entre liquidez e rentabilida- de; A administração dos ativos circulantes. Os ativos circulantes formam o capital da empresa que gira até transformar-se em dinheiro dentro do chamado ciclo de operações ou ciclo de caixa. Ciclo de caixa nada mais é do que o tempo que o capital que saiu do caixa leva para voltar ao caixa. Previsão e controle de gastos: luxo de caixa. O luxo de caixa é o movimento de todas as entradas e saídas de recursos i- nanceiros do caixa, ou seja, das origens de caixa (fatores que aumentam o caixa da empresa) e das aplicações de caixa (reduzem o caixa da empresa). O planejamento inanceiro de curto prazo é denominado de planejamento de caixa ou orçamento de caixa. Com este orçamento de caixa permite planejar as necessidades de caixa a curto prazo, pois proporciona uma visão dos recebimentos e dos pagamentos pre- vistos que ocorrerão durante um certo período de tempo. A administração de caixa deve trabalhar num nível ótimo de caixa para a empresa. 1. Quando as entradas (recebimentos) > saídas (pagamentos) – Liquidez alta – Rentabilidade baixa 2: Quando as entradas (recebimentos) < saídas (pagamen- tos) – Liquidez baixa – Rentabilidade alta. A administração do caixa requer alguns princípios básicos: – retardar ao máximo o pagamento de duplicatas a pagar; – aproveitar ao máximo quaisquer desconto inanceiro nos pagamentos; – girar os estoques com maior liquidez possível; – obter as duplicatas a receber no menor tempo possível. O luxo de caixa é o termômetro do cotidiano da empresa, isto é, A n ál is e d e R is co e C ré d it o 159 A n álise d e cap ital d e g iro como a empresa está se comportando quantos aos pagamentos e recebimentos das suas operações diárias. Administração de ativos circulantes Os principais ativos circulantes mantidos pela maioria das empresas são as contas a receber e estoque, ambos formam 80% de todos os ativos circulantes da maioria das empresas industriais de porte médio. Por isso, é fundamental a administração dos ativos circulantes da empresa. Administração de contas a receber: as contas a receber representam a concessão de créditos em conta corrente aos clientes. Na verdade, contas a receber existem para conservar atuais clientes e atrair novos clientes. A administração de contas a receber tem como papel minimizar o in- vestimento e, em contrapartida, manter um nível de serviço adequado aos clientes. Existem três aspectos importantes a ressaltar: política de crédito; condições de cré- dito; políticas de cobrança. Estes três aspectos devem ser adequados às necessida- des da empresa pela administração de contas a receber. Administração inanceira de estoques: estoque nada mais é do que a composição física de materiais (matérias- primas, materiais em processo, materiais semiacabados, materiais acabados, produ- tos acabados etc.) que não é utilizada em determinado momento na empresa, mas que será utilizada futuramente. Quanto mais complexo ou diversiicado for o produto inal, tanto maior será a diversidade de itens estocados e mais complicada será a administração dos es- toques. Os estoques representam um meio de investimento de recursos e podem alcançar uma proporção enorme dos ativos totais. A administração de estoques tem que estar relacionada com os órgãos da em- presa que cuidam do estoque (produção, almoxarifado ou as vendas) e com o órgão de Administração Financeira. Existem três tipos de estoque: Estoque de matérias- -primas (MP); Estoque de materiais em processamento; Estoque de produtos acaba- dos (PA). As principais técnicas utilizadas na administração de estoques são: Sistema ABC (Curva de Pareto) – baseia-se no princípio de que maior parte do investimento está concentrada em um pequeno número de itens; Modelo do lote econômico – serve para determinar a quantidade ótima de estoque para cada item. Existem três grupos de custos relacionados com a estocagem de produtos: custo da emissão de pedidos; custo de manter estoque; custos totais. 160 Atividades Qual é o requisito básico para a utilização do modelo básico de análise inancei-1. ra segundo os autores Gimenes e Gimenes? O que signiica a obtenção de um Capital Circulante Líquido positivo por parte 2. de uma empresa? Sobre o saldo em tesouraria é correto airmar:3. É obtido pela diferença entre ativos circulantes e passivos não circulantes.a) É o resultado da diferença entre ativos circulantes inanceiros e passivos cir-b) culantes cíclicos. Quando a variação do CPL é maior que o IOG ocorre um aumento no saldo c) em tesouraria. É favorável quando seu resultado é maior que zero. Nessa situação, a empre-d) sa possui recursos para pagar dívidas de curto prazo. Sobre o 4. overtrade é correto airmar: Situação favorável, pois indica crescimento da empresa.a) Situação desfavorável por indicar necessidade de capital de giro superior ao b) que a empresa é capaz de cobrir. Situação favorável, apesar de a empresa possuir capital inferior a sua neces-c) sidade de capital de giro. Situação desfavorável na qual a empresa possui necessidade de capital infe-d) rior aos recursos disponíveis. A n ál is e d e R is co e C ré d it o 161 A n álise d e cap ital d e g iro Ampliando conhecimento ASSAF NETO, Alexandre. Estrutura e Análise de Balanços: um enfoque eco- nômico-inanceiro. 8. ed. 3. reimp. – São Paulo: Atlas, 2008. O autor apresenta os conceitos de capital de giro, capital circulante líquido e saldo em tesouraria, possibilitando ao aluno uma maior compreensão desses termos e a sua importância para a análise de risco de crédito. SILVA, José Pereira. Análise Financeira das Empresas. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2008. O autor dedica um capítulo desta obra para a iniciação do estudo do capital de giro. Além desse conceito, o aluno também encontrará tópicos relevantes sobre a aná- lise inanceira das empresas. 163 Controle e qualidade do crédito Introdução As empresas necessitam de recursos para atenderem às suas necessidades de in- vestimento e suprimento de capital de giro. Cabe às instituições inanceiras inanciar esses recursos, desde que aquelas empresas atendam às exigências normativas dos bancos. O crédito aparece para avaliar o risco e apoiar na decisão e formalização da operação (SILVA, 2003, p. 21). A primeira etapa de uma análise de crédito é o estudo da viabilidade da operação. No entanto, é importante que todas as fases do processo do crédito sejam acompa- nhadas cuidadosamente até a sua liquidação para evitar problemas como o não rece- bimento dos recursos emprestados. O analista inanceiro deve ter a sensibilidade para avaliar fatores internos e externos que poderão comprometer a saúde inanceira do tomador de crédito. Ao longo deste capítulo, veremos os vários sinais que podem ser percebidos por esses analistas para que não efetuem operações cujo recebimento pode se tornar inviável ao longo do tempo. Ressalta-se que existem no mercado programas de computador (softwares) que monitoram os créditos concedidos com eiciência, emitindo sinais de anormalidades, quando acontecem. Monitoramento do crédito As instituições que concedem crédito aos clientes costumam estabelecer políti- cas para avaliar o risco da operação. De acordo com Silva (2008, p. 402), essas políticas deinem “os critérios de classiicação do risco, as formas de acompanhamento e revi- são de crédito, as alçadas de decisão para transferência de operações para crédito em liquidação”. O monitoramento do crédito é fator relevante tanto para a concessão como para o recebimento dos recursos emprestados e deve acompanhar a operação do início ao 164 im. Silva (2008)acrescenta que o monitoramento só será eicaz na medida em que houver uma cultura e uma consciência de que o controle e o acompanhamento do crédito devem fazer parte de um processo contínuo e de responsabilidade de todas as pessoas envolvidas na operação. As instituições inanceiras adotam mecanismos para o controle dos créditos e os sistemas de informações exercem papel relevante nesse processo, ajudando a minimi- zar fraudes e evitar operações de maior risco. Os sistemas podem sinalizar operações cujos processos não estejam de acordo com as normas da instituição. Além de contar com a ajuda dos sistemas de informações, os bancos costumam manter os serviços de auditoria e revisão de crédito, que auxiliam no controle e na qualidade do crédito. Serviços de auditoria de crédito e de revisão de crédito Silva (2003, p. 402) escreve que muitos bancos implantaram os serviços de au- ditoria interna de crédito, auditoria essa composta por especialistas em assuntos de crédito. Os auditores analisam as operações de crédito, quanto aos aspectos formais e quanto as políticas de crédito, emitindo um relatório de trabalho. Essa auditoria segue as orientações das normas e políticas de crédito da instituição, bem como as normas estabelecidas pelas autoridades do país. A revisão dos créditos ocorre com um dos serviços ligados ao acompanhamento da operação. O prazo para esse procedimento varia de acordo com a classiicação de risco atribuída ao cliente. Quanto melhor a classiicação do cliente, maior será o prazo para revisão de crédito. Silva (2008, p. 403) airma que “o acompanhamento de crédito é um processo con- tínuo e de responsabilidade de todas as pessoas ligadas ao crédito e aos negócios, que alimentam os registros para que o banco disponha de informações atualizadas”. Deterioração dos créditos concedidos As medidas de monitoramento do crédito visam manter a carteira de recebíveis saudável, embora longe da meta de inadimplência zero, pois se operassem com essa meta, não poderiam emprestar recursos. Elas tentam minimizar da melhor maneira o risco das operações de crédito e manter a inadimplência dentro de uma margem espe- rada ou aceitável pela instituição. A n ál is e d e R is co e C ré d it o 165 C o n tro le e q u alid ad e d o créd ito “Créditos problemáticos são aqueles que apresentam diiculdades de serem rece- bidos e consequentes perdas para o credor” (SILVA 2008, p. 403). O monitoramento dos créditos concedidos é um procedimento para evitar os cré- ditos problemáticos, ou minimizar os seus efeitos. Mas, mesmo com as medidas ado- tadas para o controle e monitoramento desses créditos, algumas operações acabam saindo do padrão estabelecido. Causas de créditos problemáticos O estudo dos Cs do crédito (caráter, capacidade, condições e capital) funciona como ferramenta para evitar a concessão de créditos que passem a ser problemáticos. A inobservância dos Cs do crédito pode ser considerada como uma das causas de cré- ditos problemáticos. Georg E. Ruth apud Silva (2008) agrupou as causas de créditos problemáticos em três categorias: erros por parte do credor, “práticas fracas” de negócios, e eventos adversos. Erros por parte do credor – os erros que podem ser cometidos pelo credor e causando créditos problemáticos como: fraca entrevista de empréstimo – quando o credor não é hábil em tirar informações importantes do cliente; análise inanceira inadequada – pode ocorrer por falta de conhecimento de muitos analistas nesse tipo de análise; estruturação inadequada do empréstimo – ocorre no momento em que se aprova uma linha de crédito em desacordo com a capacidade de paga- mento do cliente, tal aprovação pode levar à inadimplência; suporte inadequado ao empréstimo – quando não há análise suiciente e investigação necessária para a aceitação de garantias; gerenciamento inadequado – acontece quando não são feitas visitas e aná- lises periódicas nas demonstrações contábeis dos tomadores de recursos. Práticas fracas de negócios – nesse grupo estão estendidos procedimentos e políticas adotadas pelo devedor como: mau gerenciamento do negócio – sem um estabelecimento de cargos es- pecíicos e sem a clara sucessão sobre a direção e o comando dos negócios; 166 deterioração de produtos – pela inadequação dos preços utilizados em relação àqueles praticados pela concorrência; políticas fracas de marketing – sem a presença de planos bem deinidos para anunciar, vender e distribuir os produtos. controles inanceiros fracos – sem conhecimento das importantes rubricas para a liquidez dos negócios, entre elas: contas a receber, estoques, despesas. Eventos externos adversos – o último tópico apresentado pelos autores diz respeito à necessidade de uma visão estratégica dos negócios para perceber novas perspectivas ou ameaças que podem ocorrer como aquelas que costu- mam fugir do controle do alcance humano, tais como: fatores ambientais – secas, inundações e sustentabilidade ambiental, ecolo- gia e etc. também precisam fazer parte da atenção dos analistas de crédito; fatores econômicos do mercado em geral – podem afetar a estrutura de custos e elasticidade da demanda; fatores competitivos – também afetam as empresas que não estejam pre- paradas para a economia de mercado; fatores reguladores – como política salarial, impostos, taxas de juros e prazos de inanciamentos decorrentes da política econômica também afetam diretamente as empresas; fatores tecnológicos – estão relacionados ao grau de tecnologia das em- presas com o objetivo de torná-las competentes e competitivas. É importante que os analistas de crédito observem esses fatores com o intuito de evitar a liberação de créditos que venham a se tornar créditos problemáticos e de difícil recebimento. Análise das demonstrações contábeis A análise das demonstrações contábeis merece destaque quando se trata da aná- lise de riscos de crédito. Suas informações favorecem a observação da situação eco- nômico-inanceira da empresa, e podem inclusive indicar quando os créditos podem não ser recebidos. Silva (2008, p. 407) relaciona alguns sinais de alarme que podem ser observados a partir das demonstrações inanceiras: A n ál is e d e R is co e C ré d it o 167 C o n tro le e q u alid ad e d o créd ito inadequada pontualidade e frequência na publicação ou na entrega das de- monstrações contábeis pelas empresas; variações expressivas no volume e valor das vendas; modiicações na representatividade dos custos dos produtos, mercadorias ou serviços em relação às vendas; modiicações expressivas na representatividade das despesas operacionais (administrativas, vendas e gerais), em relação às vendas; modiicações na representatividade das despesas e receitas inanceiras, em relação às vendas, às dívidas e às aplicações inanceiras; resultado não operacional expressivo; equivalência patrimonial negativa; provisão para contingências; distribuição de dividendos, ou resultados, em volumes incomparáveis com os lucros gerados; mudanças signiicativas nos volumes e prazos de duplicatas a receber; mudanças signiicativas nos volumes e prazos de rotação dos estoques; mudanças signiicativas nos volumes e prazos de pagamento aos fornecedores; participação expressiva de contas com rubricas genéricas do tipo “outros valo- res a receber”, “outros créditos”, “outros valores a pagar”; crescimento e representatividade do ativo intangível; crescimento de valores a pagar relativo a impostos, tributos, salários e encar- gos sociais; ausência de valores a pagar relativos a impostos, tributos, salários e encargos; realizável a longo prazo expressivo e valores a receber de partes relacionadas; modiicações na representatividade das contas do ativo não circulante; modiicações na representatividade do patrimônio líquido; modiicações na representatividade e na composição do passivo não circulante. 168 Análise dos clientes Além da análise das demonstraçõescontábeis, é relevante também a análise dos clientes para se observar características ou comportamentos que podem comprome- ter os recebimentos dos créditos. Silva (2008, p. 408) apresenta alguns sinais de alarme provenientes dos clientes: hábitos relacionados a vícios – que ponham em risco o patrimônio ou a vida do cliente, bem como jogos e outras práticas perigosas; hábitos e vida social – incompatíveis com a condição inanceira do cliente; mudanças no comportamento ou nos hábitos – das pessoas-chave na vida do tomador de empréstimos; problemas conjugais e familiares – que ponham em risco ou gerem instabi- lidade no gerenciamento dos negócios; mudanças bruscas de atitude – com relação ao credor ou aos proissio- nais da empresa credora, demonstrada por meio do excesso ou da falta de cooperação; problemas inanceiros – demonstrados pelos sócios; conduta que põe em dúvida – o caráter dos sócios ou administradores; mudanças de controle – do capital da empresa ou de sua direção, bem como troca de contador; ausência de uma estrutura – que independa de uma única pessoa ou morte de algum membro da equipe-chave; estrutura organizacional frágil – quanto às pessoas, recursos materiais e ins- trumentos de administração, especialmente em situações de crescimento da empresa; fábrica, equipamentos e espaços – inadequados ou mal conservados e pes- soas deprimidas e desmotivadas; inexistência de um sistema – de informação gerencial e de planejamento, com consequentes informações inanceiras fracas e desatualizadas; inexistência de uma estrutura – que identiique de forma clara as atribuições e responsabilidades dos sócios diretores; A n ál is e d e R is co e C ré d it o 169 C o n tro le e q u alid ad e d o créd ito falta de visão estratégica e de competência – para avaliar as oportunidades de negócios e prever os riscos decorrentes; falta de formação – acadêmica e de vivência prática para o desempenho das funções; falta de visão mercadológica – quanto às linhas de produtos, ao mercado e aos clientes; pendências – iscais, trabalhistas e processos movidos por consumidores; perda – de clientes importantes, de linhas e produtos-chave, franquias, direi- tos de distribuição ou fontes de suprimento; aceitação de encomendas ou contratos – que possam ir muito além da ca- pacidade de produção existente; postura especulativa – com bolsa de valores ou de mercadorias, com esto- que ou com outras atividades fora dos objetivos da empresa; baixa qualidade – dos estoques da empresa e de sua carteira de duplicatas a receber; declaração pública – do cliente quanto a sua incapacidade de pagamento. Análise de informações obtidas através de terceiros O analista ainda pode fazer uso de informações obtidas de outras pessoas jurídi- cas que tenham ligação direta com o credor para avaliar o comportamento das ope- rações realizadas. Os sinais de alarme proveniente de terceiros, segundo Silva (2008, p. 409), são: pedido de informação por fornecedores atuais ou novos para avaliar forneci- mento de mercadorias ou produtos; a existência, por parte de fornecedores, para pagamento antecipado, à vista ou contra a apresentação, para ins de fornecimento de mercadorias ou produtos; a evidência de atraso no pagamento a fornecedores, bem como solicitação de aumento de prazos; modiicação ou ampliação dos credores e bancos, especialmente com exigên- cia adicional de garantia real; 170 cancelamento de apólices de seguros, de contratos de assistência médica ou de fornecimento de vale-refeição por não pagamento; ações judiciais de qualquer tipo, especialmente por desrespeito ao cliente, por questões trabalhistas ou pelo não cumprimento de obrigações contratuais; atraso no pagamento a funcionários ou pagamento com cheques sem fundos. Análise do credor Por último, mas não menos importante, está é a análise do credor e suas opera- ções com o mercado para se veriicar a recorrência a empréstimo e a capital de terceiros para manter as atividades operacionais da empresa solicitante de crédito. O resultado dessas informações também dão subsídios importantes aos analistas inanceiros. Silva (2008, p. 409) cita itens comumente observados nesse tipo de análise: compras frequentes de cheques administrativos; declínio dos saldos bancários ou aumento no uso de contas garantidas; renovações sucessivas de empréstimos de curto prazo; pagamento no caixa de duplicata descontada de clientes; antecipação quanto à ocasião da solicitação de empréstimos sazonais; evidências de que foram dados cheques sem fundos. Meios legais para recuperação de crédito O primeiro passo para reaver os créditos problemáticos é a negociação. Caso não haja acordo com o devedor, existem providências legais a serem tomadas pelo bancos, como a execução das garantias ou dos garantidores. E se ainda assim o crédito conti- nuar pendente existem as ações legais que podem ser tomadas como: protesto, recu- peração e falência. Protesto Para Silva (2008, p. 413), o principal efeito do protesto “é que ele prova a impon- tualidade (inadimplência) do devedor” e, em alguns casos, possibilita o pedido de fa- lência do mesmo. A n ál is e d e R is co e C ré d it o 171 C o n tro le e q u alid ad e d o créd ito No entanto, é necessária a observação de alguns prazos para garantir o direito de cobrar a dívida dos “devedores de regresso” (sacador, endossante e respectivos avalis- tas). Esses prazos podem variar de acordo com a natureza dos títulos (notas promis- sórias, cheques, duplicatas). Silva (2003, p. 414) acrescenta que o protesto tem outro efeito, o de impedir o pedido de concordata preventiva, que é uma moratória solicitada por empresários que se encontrem em diiculdades inanceiras, visando evitar que eles cheguem à falência. Recuperação A Lei 11.101, de 9 de fevereiro de 2005, implantou a igura da recuperação judicial e extrajudicial como forma de manter as unidades produtivas e de seus benefícios para geração de riqueza, emprego e renda para a sociedade. O artigo 47 desta lei deine que Art. 47. A recuperação judicial tem por objetivo viabilizar a superação da situação de crise econômico-inanceira do devedor, a im de permitir a manutenção da fonte produtora, do emprego dos trabalhadores e dos interesses dos credores, promovendo, assim, a preservação da empresa, sua função social e o estímulo à atividade econômica. Sobre o assunto, Silva (2008, p. 415) airma que o devedor poderá requerer a re- cuperação judicial desde que “no momento do pedido exerça sua atividade há mais de dois anos e atenda a algumas condições como: não ser falido e não ter menos de cinco anos obtido concessão de recuperação judicial, entre outras. De acordo com a Lei 11.101, no artigo 50. Art. 50. Constituem meios de recuperação judicial, observada a legislação pertinente a cada caso, dentre outros: I – concessão de prazos e condições especiais para pagamento das obrigações vencidas ou vincendas; II – cisão, incorporação, fusão ou transformação de sociedade, constituição de subsidiária integral, ou cessão de cotas ou ações, respeitados os direitos dos sócios, nos termos da legislação vigente; III – alteração do controle societário; IV – substituição total ou parcial dos administradores do devedor ou modiicação de seus órgãos administrativos; V – concessão aos credores de direito de eleição em separado de administradores e de poder de veto em relação às matérias que o plano especiicar; VI – aumento de capital social; VII – trespasse ou arrendamento de estabelecimento, inclusive à sociedade constituída pelos próprios empregados; 172 VIII – redução salarial, compensação de horários e redução da jornada, mediante acordo ou convenção coletiva; IX – dação em pagamento ou novação de dívidas do passivo, com ou sem constituição de garantia própria ou de terceiro; X – constituição de sociedade de credores; XI – venda parcial dos bens; XII – equalização de encargosinanceiros relativos a débitos de qualquer natureza, tendo como termo inicial a data da distribuição do pedido de recuperação judicial, aplicando-se inclusive aos contratos de crédito rural, sem prejuízo do disposto em legislação especíica; XIII – usufruto da empresa; XIV – administração compartilhada; XV – emissão de valores mobiliários; XVI – constituição de sociedade de propósito especíico para adjudicar, em pagamento dos créditos, os ativos do devedor. §1.º Na alienação de bem objeto de garantia real, a supressão da garantia ou sua substituição somente serão admitidas mediante aprovação expressa do credor titular da respectiva garantia. §2.º Nos créditos em moeda estrangeira, a variação cambial será conservada como parâmetro de indexação da correspondente obrigação e só poderá ser afastada se o credor titular do respectivo crédito aprovar expressamente previsão diversa no plano de recuperação judicial. De acordo com Silva (2008, p. 415) “estão sujeitos a recuperação judicial todos os créditos existentes na data do pedido, ainda que não vencidos, conservando os mesmos seus direitos e privilégios contra coobrigados, iadores e obrigados de regresso”. O pedido de recuperação judicial é feito mediante a exposição das causas concre- tas da situação patrimonial do devedor e das razões de ordem econômico-inanceira, bem como da apresentação de suas demonstrações contábeis relativas aos três últi- mos exercícios e das demonstrações levantadas para instituir o pedido. Por sua vez, o plano de recuperação judicial deve conter a discriminação dos meios que a entidade vai utilizar em seu processo de recuperação, viabilidade e laudo de avaliação dos bens e ativos do devedor. O plano deverá ser apresentado pelo deve- dor no prazo de 60 dias da publicação da decisão que deferi no processo de recupera- ção judicial. Caso contrário, poderá haver a transformação em falência. O plano de recuperação não poderá prever um prazo superior a um ano no caso dos créditos relativos a legislação do trabalho. No caso dos valores até cinco salários mínimos, por empregado, referentes a créditos de salários e vencidos nos três meses anteriores ao pedido de recuperação judicial, esse prazo não poderá ser superior a 30 dias. A n ál is e d e R is co e C ré d it o 173 C o n tro le e q u alid ad e d o créd ito Falência A falência ocorre quando a organização está com as inanças bastante compro- metidas e diicilmente os gestores conseguiriam reorganizá-la. Geralmente, é iniciado o processo de falência quando a entidade se encontra inanceiramente debilitada e não pode cumprir as obrigações. Sobre a falência Brigham, Gapenski, Ehrhardt (2001, p. 926) fazem as seguintes considerações: Se uma empresa está “muito comprometida” para ser reorganizada, então ela deve ser liquidada. A liquidação deve ocorrer quando a empresa vale mais morta do que viva, ou quando a possibilidade de restabelecimento de sua saúde inanceira é remota e os credores estão expostos a um alto risco de maior perda se as operações continuarem. A nossa atual lei de falência, Lei 11.101, de 9 de fevereiro de 2005 que, em seu artigo 75, discorre sobre o objetivo da falência: Art. 75. A falência, ao promover o afastamento do devedor de suas atividades, visa a preservar e otimizar a utilização produtiva dos bens, ativos e recursos produtivos, inclusive os intangíveis, da empresa. A utilização desses bens é justamente para liquidar as obrigações dos credores da empresa em processo de falência. A mesma lei estabelece a ordem de prioridades desses credores para a quitação das obrigações: Art. 83. A classiicação dos créditos na falência obedece à seguinte ordem: I – os créditos derivados da legislação do trabalho, limitados a 150 (cento e cinquenta) salários- -mínimos por credor, e os decorrentes de acidentes de trabalho; II – créditos com garantia real até o limite do valor do bem gravado; III – créditos tributários, independentemente da sua natureza e tempo de constituição, excetuadas as multas tributárias; IV – créditos com privilégio especial, a saber: a) os previstos no art. 964 da Lei 10.406, de 10 de janeiro de 2002; b) os assim deinidos em outras leis civis e comerciais, salvo disposição contrária desta Lei; c) aqueles a cujos titulares a lei conira o direito de retenção sobre a coisa dada em garantia; V – créditos com privilégio geral, a saber: a) os previstos no art. 965 da Lei 10.406, de 10 de janeiro de 2002; b) os previstos no parágrafo único do art. 67 desta Lei; c) os assim deinidos em outras leis civis e comerciais, salvo disposição contrária desta Lei; 174 VI – créditos quirografários, a saber: a) aqueles não previstos nos demais incisos deste artigo; b) os saldos dos créditos não cobertos pelo produto da alienação dos bens vinculados ao seu pagamento; c) os saldos dos créditos derivados da legislação do trabalho que excederem o limite estabelecido no inciso I do caput deste artigo; VII – as multas contratuais e as penas pecuniárias por infração das leis penais ou administrativas, inclusive as multas tributárias; VIII – créditos subordinados, a saber: a) os assim previstos em lei ou em contrato; b) os créditos dos sócios e dos administradores sem vínculo empregatício. §1.º Para os ins do inciso II do caput deste artigo, será considerado como valor do bem objeto de garantia real a importância efetivamente arrecadada com sua venda, ou, no caso de alienação em bloco, o valor de avaliação do bem individualmente considerado. §2.º Não são oponíveis à massa os valores decorrentes de direito de sócio ao recebimento de sua parcela do capital social na liquidação da sociedade. §3.º As cláusulas penais dos contratos unilaterais não serão atendidas se as obrigações neles estipuladas se vencerem em virtude da falência. §4.º Os créditos trabalhistas cedidos a terceiros serão considerados quirografários. Conclusão Existe uma relação negocial necessária entre as empresas e as instituições inan- ceiras. Aquelas necessitam de recursos, disponíveis nos bancos, para atenderem às suas necessidades de investimento e capital de giro. Ao postularem créditos, na forma de empréstimos ou inanciamentos, as empresas são avaliadas quanto ao risco do não pagamento dos recursos emprestados. As instituições que concedem crédito aos clientes costumam estabelecer políti- cas para avaliar o risco da operação. De acordo com Silva (2008, p. 402), essas políticas deinem “os critérios de classiicação do risco, as formas de acompanhamento e revi- são de crédito, as alçadas de decisão para transferência de operações para crédito em liquidação”. O monitoramento do crédito deve ser um procedimento necessário em todo o processo de concessão de crédito, pois o monitoramento da operação é para tentar detectar eventual falha não percebida no ato da concessão do crédito. A n ál is e d e R is co e C ré d it o 175 C o n tro le e q u alid ad e d o créd ito Para perpetrar o monitoramento do crédito, as instituições costumam adotar pro- vidências, tais como formar auditores internos de crédito para detecção de sinais de deterioramento dos créditos concedidos, identiicando suas causas. Caso se detecte crédito problemático e se identiique suas causas, o primeiro passo para reaver os créditos problemáticos é a negociação com o devedor. Caso não haja acordo com o devedor, existem meios legais, como a execução das garantias ou dos respectivos garantidores. E, se ainda assim o crédito continuar pendente, existem as ações legais, como o protesto, recuperação e falência. Texto complementar O processo de concessão de crédito no varejo de eletroeletrônicos na cidade de Caxias do Sul (ROVEDA, 2002) Aspectos pós-concessão de crédito A política de crédito não se restringe à aprovação de limites e/ou à concessão de crédito aos consumidores, mas emprega as formas de monitoramento do desem- penho dos clientes na liquidação dos compromissos, e os instrumentos ou técnicas utilizadaspara a recuperação de valores a receber em atraso. Monitoramento do crédito Um ingrediente básico para o analista de crédito é monitorar permanentemen- te o seu cliente, mesmo depois de concedido o crédito. Certo número de créditos deve ser selecionado para ser monitorado periodicamente. A quantidade de crédi- tos a serem monitorados deve ser a maior possível, dentro da capacidade de revisão do credor. A adoção de estratégias de monitoramento dos valores a receber acontece principalmente em razão de falhas que podem ocorrer nas premissas da concessão de crédito. Uma empresa que vende a prazo assume que parte dessas dívidas não será recebida imediatamente, contudo, se durante o processo de recebimento essas 176 previsões não se materializarem, os gestores devem agir de forma pró-ativa para ajustar o nível de inadimplência aos valores iniciais cobrados. A administração deveria monitorar constantemente o prazo médio de recebimento e o cronograma de vencimentos para detectar tendências ver como a experiência de cobrança da empresa se equipara, com seus termos de crédito e com que eiciência o departamento de crédito está operando em comparação a outras empresas do setor. (WESTON e BRIGHAM, 2000, p. 436) Processo de cobrança As políticas de cobrança e recuperação de crédito inadimplente de uma em- presa indicam os processos adotados para recebimento das dívidas vencidas. A eiciência dessa política pode ser medida observando-se a quantidade de clientes inadimplentes ou insolventes da carteira. Existem vários procedimentos que podem ser aplicados ao processo de cobrança quando um valor não é liquidado até a data do vencimento. Os principais são: carta – alguns poucos dias após o vencimento da duplicata a empresa cre- dora costuma enviar um comunicado na forma de lembrete. A partir da pri- meira carta, outras serão enviadas até acontecer a liquidação do valor por parte do cliente devedor. A carta representa a primeira forma de cobrança; telefonema – enviadas algumas cartas a empresa passa a procurar clientes inadimplentes por meio de telefonemas, aconselhando-os a liquidarem as dívidas. Mediante esses contatos, e em função da demonstração do desejo de acordo, é possível realizar a renegociação da dívida com os clientes dire- tamente pelo telefone de maneira mais rápida e eiciente; visita pessoal – a visita pessoal ocorre sempre que se esgotarem as possibi- lidades de acordo prévio. Normalmente, na visita, são levantados os princi- pais problemas de caixa do cliente; então, procura-se elaborar uma solução que agrade tanto o credor como o devedor; protesto judicial – este é o último expediente de que a empresa deve lançar mão, pois implica acionar o poder judiciário, o que gera custos adicionais e poderá garantir o recebimento do valor somente no inal do processo. Uma intensiicação dos esforços de cobrança deve reduzir tanto o investimen- to em duplicatas a receber como as perdas com débitos incobráveis, elevando o lucro. Contudo, o custo desta estratégia pode incluir a perda de vendas, em razão A n ál is e d e R is co e C ré d it o 177 C o n tro le e q u alid ad e d o créd ito da quebra da relação empresa-cliente, e do aumento nos gastos com a cobrança de devedores. Uma decisão na alteração da política de cobrança deve considerar todos esses efeitos e ser tomada sempre que o valor presente líquido da decisão seja positivo. Indicadores de inadimplência Para se ter um bom acompanhamento dos créditos de uma organização é ne- cessário à implantação de indicadores que venham a subsidiar o processo de tomada de decisão. O indicador de inadimplência é um instrumento importante para as em- presas que querem avaliar o risco que estão correndo Inicialmente, é necessário fazer uma distinção entre inadimplência e solvên- cia. Enquanto a insolvência tem um caráter de incapacidade de uma pessoa liquidar suas obrigações, traduzido pelo evento de falência da pessoa física, a inadimplência é entendida como um conjunto de eventos, considerados graves, que podem levar uma pessoa à situação de insolvência (ASSAF NETO; SILVA, 1997). Esse conjunto de eventos abrange desde apontamentos negativos como siste- mas de proteção ao crédito (SPC), cheques sem fundos, ações judiciais, até a situa- ção de dívida atrasada por um determinado período de tempo. No desenvolvimento de um modelo, é importante deinir claramente o que se entende por inadimplente. Essa etapa é importante, pois deine o objetivo do modelo, estabelecendo o evento que será o objeto de mensuração da probabili- dade de ocorrência. É na deinição do conceito de inadimplência que começam as diferenças entre os modelos. Se uma determinada empresa, ao desenvolver seu modelo, deinir que inadim- plente é a pessoa que não paga o crédito que tomou na data do vencimento, e outra empresa deinir que inadimplente é a pessoa que atrasa o pagamento por mais de trinta dias. Por exemplo, uma empresa que possui um crédito atrasado há dez dias para um modelo será considerada inadimplente, pois não quitou a operação na data do vencimento, porém, para o outro modelo, não será considerada inadimplente, pois ainda não atingiu trinta dias de atraso. Outro aspecto importante a ser observado é que inadimplência mede-se levan- do em consideração o volume de recursos envolvidos. Vários indicadores do merca- 178 do estão relacionando o volume de registro, por exemplo, o aumento do registro de cheques sem fundos pode não ser um indicador de inadimplência. Pode- se em determinado momento aumentar o número de registro de cheques sem fundos, mas ter-se uma redução da inadimplência em volumes de recursos. Normalmente, a inadimplência é calculada como o modelo abaixo segue: Índice de inadimplência = Devedores em atraso/Vendas totais (ASSAF NETO e SILVA, 1997, p. 131) Para Assaf Neto e Silva (1997, p. 131), “idealmente, o índice de inadimplência deve ser apurado relacionando os devedores duvidosos com as vendas de compe- tência do período que lhe derem origem, e não com as vendas do mês que foram levantados os problemas.” No cálculo do índice de inadimplência as organizações devem ter alguns cuida- dos para não distorcerem os resultados. Um dos cuidados principais é não relacionar créditos não recebidos com vendas de períodos diferentes daqueles que lhe deram origem. A deinição de inadimplência e os critérios de classiicação são as fases mais importantes na formulação de um indicador de inadimplência. Para o varejo as em- presas deveriam acompanhar as vendas através da cronologia de vendas e levantar indicadores para cada período. Atividades O objetivo principal do controle de crédito estabelecido pelas instituições i-1. nanceiras é: Evitar operações de alto risco.a) Revisar as operações de crédito periodicamente para garantir o recebimen-b) to do mesmo. Veriicar os aspectos formais do crédito e sua adequação as normas estabe-c) lecidas. Manter em zero o nível de inadimplência.d) A n ál is e d e R is co e C ré d it o 179 C o n tro le e q u alid ad e d o créd ito Deina o que é um crédito problemático.2. De onde vêm os principais sinais que indicam “créditos problemáticos”?3. Quais, dentre os sinais de créditos problemáticos abaixo, podem ser veriicados 4. nas demonstrações contábeis? Problemas inanceiros demonstrados pelos sócios.a) Atrasos nos pagamentos dos funcionários.b) Renovações sucessivas de empréstimos de curto prazo.c) Modiicações expressivas no volume de venda.d) Ampliando conhecimento SILVA, José P. Gestão e Análise de Risco de Crédito. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2008. Nessa obra, o autor traz um capítulo dedicado ao controle e qualidade de cré- ditos. Apresenta, de maneira clara, a importância do analista estar atento às variáveis que envolvem aspectos formais e subjetivos dos créditos para se evitar a inadimplên- cia dos mesmos. 181 Processo de cobrança Introdução As concessões de crédito estão cada vez mais presentes nas relaçõesnegociais, nas quais é possível inanciar quase tudo o que se queira adquirir. Silva (2007) continua, informando que a relação entre o estoque de crédito concedido no Brasil e o Produto Interno Bruto (PIB) é de 32%, baixo mesmo se comparado aos países em desenvolvi- mento e aos países desenvolvidos. No Japão e Portugal, aquela relação apresenta os percentuais de 111% e 100%, respectivamente (SILVA, 2007). Pode-se airmar que os indivíduos e empresas de todos os lugares do mundo en- frentam “descasamentos” em seu luxo de caixa. Isso signiica que, em determinado período, as entradas de caixa icam desbalanceadas em relação às saídas de caixa, oca- sionando as diiculdades inanceiras. As empresas brasileiras podem passar por situações de diiculdades inanceiras, que as impedem de cumprir com suas obrigações pecuniárias, ou ainda, não conseguem au- ferir luxos de caixa operacionais suicientes para atender os compromissos inanceiros nas datas de vencimento. Diiculdades inanceiras geralmente fazem com que o valor dos ativos da empresa seja insuiciente para cobrir seus débitos junto a credores. Nas organizações, de acordo com Securato (2007, p. 50), “o risco inanceiro é en- tendido como a falta de liquidez da empresa para saldar seus compromissos e está intimamente ligado à questão do endividamento da empresa, do controle de custos, da variabilidade das vendas”. Quando as empresas estão passando pelo processo de diiculdades inanceiras, elas costumam deixar de honrar seus compromissos, fazendo com que as instituições emprestadoras considerem esses créditos como “problemáticos”. Após a veriicação de que o crédito tornou-se problemático, as instituições em- prestadoras adotam estratégias diversas para reaver o crédito. Esse é o momento que delagra o processo de cobrança. Através desse processo, os cedentes do crédito visam manter o nível esperado de resultado, diminuindo a inadimplência e mantendo o bom relacionamento com o tomador do crédito. 182 Para Silva (2008, p. 411), a política de crédito do banco, ou da empresa fornecedo- ra de crédito, juntamente com o contexto macroeconômico do momento da operação, dão as diretrizes para a adoção da ação mais adequada para se negociar com o toma- dor inadimplente. Preventivamente, é usual fazer-se o acompanhamento do crédito para evitar os passos extremos do processo de cobrança. De acordo com Silva (2008, p. 411), “quando a operação não é paga, o credor vai fechando o cerco, às vezes reduzindo o nível de cordialidade na cobrança e podendo até chegar ao envio do título para cartório, à exe- cução das garantias ou ao pedido de falência do devedor”. É do interesse das instituições resolverem a questão através das negociações e muitas vezes evitam as execuções mais drásticas. Só depois de esgotadas todas as ten- tativas de negociações passam-se à recuperação judicial e ao pedido de falência. O processo de cobrança judicial no Brasil costuma ser lento e burocrático. A co- brança de uma dívida, através da justiça, pode levar até oito anos para ser resolvida. Alertas de risco As empresas cedentes de crédito precisam estar atentas ao andamento dos crédi- tos concedidos, monitorando-os adequadamente para detectar possíveis sinais. Vários sinais podem ser percebidos pelos analistas de crédito que indicam as possibilidades dos créditos tornarem de difícil recebimento. Entre esses sinais podemos citar: Alerta das demonstrações contábeis O analista de crédito necessita estar atento ao desempenho econômico-inan- ceiro dos clientes devedores para veriicar se existem sinais de risco de inadimplência. Através de análises de indicadores econômico-inanceiros, das informações produzi- das pela análise horizontal e vertical, das notas explicativas e pareceres de auditoria, o proissional especializado procurará sinais que detectem possibilidades de perda futura, que possam indicar diiculdades da empresa em liquidar suas obrigações. Um exemplo desses sinais de risco pode ser resultados negativos crescentes apresentados pela empresa. Nesse caso, além de outros indícios, observa-se uma notável diminuição nos índices de liquidez. Alerta dos clientes Além das informações objetivas quanto ao desempenho e compromisso em quitar débitos, também se faz necessário que o analista de crédito veriique os fatores subjetivos relacionados à postura do tomador do crédito. Embora sejam subjetivos, portanto mais passíveis de erros, alguns peris de devedores podem indicar proble-A n ál is e d e R is co e C ré d it o 183 Pro cesso d e co b ran ça mas no futuro. Por exemplo, o tomador de crédito tem um estilo arrojado de operar, investindo os recursos disponíveis no mercado inanceiro. Em momento de crise, suas inanças poderão icar comprometidas. Alerta de terceiros As informações obtidas junto a terceiros sobre as operações realizadas pelos to- madores de crédito também podem indicar o grau de comprometimento das dispo- nibilidades desses últimos para quitar débitos de curto prazo, além de colher indícios sobre a assiduidade do cliente em cumprir suas obrigações. Por exemplo, um propo- nente tomador de crédito possui vários contratos junto a outras instituições inancei- ras, que também podem comprometer sua capacidade de honrar seus débitos. Medidas preventivas As principais medidas preventivas a serem tomadas pelas empresas cedentes de crédito dizem respeito à fase que antecede a cessão do crédito que é a análise prelimi- nar do cliente e de sua real situação econômico-inanceira. Mesmo após a cessão do crédito há a necessidade de acompanhamento e moni- toramento do tomador do crédito para detectar possíveis diiculdades. É nesse aspec- to que a análise de desempenho inanceiro, através de índices e das próprias demons- trações contábeis, torna-se bastante relevante. Além disso, o cedente deverá, para sua segurança, manter auditoria constante nesses créditos para se certiicar sobre seu desempenho. Hoje em dia, os sistemas computadorizados e integrados podem facilitar o traba- lho dos analistas de crédito, fornecendo informações seguras sobre clientes e créditos, indicando mais facilmente os que representam risco de recebimento na empresa. Silva (2007, p. 22) adverte que [...] se o concedente de crédito mudasse o foco [da inadimplência] para a causa ao invés da consequência, não se teriam, talvez, elevados índices de inadimplência. É preciso manter o foco na avaliação creditícia e na formalização das operações, pois o sucesso da cobrança dependerá muito de como o crédito foi concedido. O processo de cobrança Silva (2007, p. 175) deine política de cobrança como “um conjunto de fatores, normas, métodos e diretrizes criadas pelos gestores da empresa e que normatiza as 184 ações e procedimentos de recuperação de créditos”. Continua o autor, airmando que na deinição de política serão determinados as ações e procedimentos a serem adota- dos no processo de cobrança. De acordo com o dicionário de inanças Bovespa (2008), a cobrança pode ser con- ceituada como: arrecadação de quantias; ato de receber; ato de fazer com que seja pago; ato de exigir cumprimento de compromisso ou obrigação. A cobrança pode ser satisfeita até a data de vencimento do compromisso ou obri- gação, ou em data posterior a essa. Ainda de acordo com o dicionário inanceiro Bo- vespa (2008), quando há exigência do cumprimento do compromisso, ou obrigação, a cobrança pode ser: amigável – quando procedimentos administrativos denominados ação de co- brança concluem pela quitação do compromisso; judicial – quando o credor aciona a justiça para haver o que lhe é devido. De um modo geral, a negociação e a renegociação são considerados processos amigáveis de cobrança. Por sua vez, a recuperação judicial e a falência correspondem ao procedimento jurídico para recebimento do crédito. Renegociação Silva (2007) elege 10 mandamentos da negociação em geral, que são: se vai realizar um negócio somente com o oponente, seja competitivo; se querrealizar vários negócios, seja cooperativo; planeje a negociação; deina metas; aprimore seus “atributos artísticos” (saber controlar suas emoções, por exemplo); busque icar com a “gordura”, que icará com quem negociar melhor; não faça a primeira oferta; A n ál is e d e R is co e C ré d it o 185 Pro cesso d e co b ran ça não aceite a primeira oferta; peça alto, ofereça baixo; evite “rachar a diferença”. Silva (2007) também relaciona as oito táticas e antídotos da negociação, que são: intimidação; insultos; blefe; jogos emocionais; desrespeito aos termos; perguntas diretas; caldeirão; choro. Silva (2008, p. 412) airma que “além da avaliação inanceira e jurídica, é necessário ao negociador sensibilidade para captar as sutilezas de cada contexto de negociação”. A fase que antecede a cobrança do crédito pode indicar ao credor o peril e o desem- penho dos devedores. Com base nessas informações, essas instituições estabelecem a forma e os meios para cobrar os créditos. Geralmente, no contexto da renegociação, Silva (2008) destaca alguns pontos: negociação de taxas; prorrogação de prazos; substituição de garantias; redução de multas e juros; conceder descontos; estabelecer cronograma compatível com o luxo de caixa do cliente. A negociação e a renegociação são muito importantes para deinir a forma pela qual o crédito será quitado. Uma avaliação coerente sobre a situação do crédito permi- te ao analista avaliar a real possibilidade de reaver o crédito. De acordo com o dicionário inanceiro da Bovespa (2008), a cobrança judicial é um processo de cobrança de débito feita perante a justiça e controlada por ela. Ela é feita 186 em duas etapas chamadas “fase do conhecimento”, quando o juiz reconhece o débito, e a “fase da execução”, quando se localiza o devedor para o pagamento da dívida. Recuperação judicial É o instrumento utilizado pelo credor para tentar reaver seu crédito judicialmente. Seu objetivo é viabilizar a superação das diiculdades enfrentadas pelo credor. Vejamos o que diz a Lei 11.101/2005, no artigo 47: Art. 47. A recuperação judicial tem por objetivo viabilizar a superação da situação de crise econômico-inanceira do devedor, a im de permitir a manutenção da fonte produtora, do emprego dos trabalhadores e dos interesses dos credores, promovendo, assim, a preservação da empresa, sua função social e o estímulo à atividade econômica. Sobre quem pode requerer a recuperação judicial, a mesma lei assim estabelece: Art. 48. Poderá requerer recuperação judicial o devedor que, no momento do pedido, exerça regularmente suas atividades há mais de 2 (dois) anos e que atenda aos seguintes requisitos, cumulativamente: I – não ser falido e, se o foi, estejam declaradas extintas, por sentença transitada em julgado, as responsabilidades daí decorrentes; II – não ter, há menos de 5 (cinco) anos, obtido concessão de recuperação judicial; III – não ter, há menos de 8 (oito) anos, obtido concessão de recuperação judicial com base no plano especial de que trata a Seção V deste Capítulo; IV – não ter sido condenado ou não ter, como administrador ou sócio controlador, pessoa condenada por qualquer dos crimes previstos nesta Lei. Parágrafo único. A recuperação judicial também poderá ser requerida pelo cônjuge sobrevivente, herdeiros do devedor, inventariante ou sócio remanescente. De acordo com o texto legal, os meios para a recuperação judicial são os seguintes: Art. 50. Constituem meios de recuperação judicial, observada a legislação pertinente a cada caso, dentre outros: I – concessão de prazos e condições especiais para pagamento das obrigações vencidas ou vincendas; II – cisão, incorporação, fusão ou transformação de sociedade, constituição de subsidiária integral, ou cessão de cotas ou ações, respeitados os direitos dos sócios, nos termos da legislação vigente; III – alteração do controle societário; IV – substituição total ou parcial dos administradores do devedor ou modiicação de seus órgãos administrativos; A n ál is e d e R is co e C ré d it o 187 Pro cesso d e co b ran ça V – concessão aos credores de direito de eleição em separado de administradores e de poder de veto em relação às matérias que o plano especiicar; VI – aumento de capital social; VII – trespasse ou arrendamento de estabelecimento, inclusive à sociedade constituída pelos próprios empregados; VIII – redução salarial, compensação de horários e redução da jornada, mediante acordo ou convenção coletiva; IX – dação em pagamento ou novação de dívidas do passivo, com ou sem constituição de garantia própria ou de terceiro; X – constituição de sociedade de credores; XI – venda parcial dos bens; XII – equalização de encargos inanceiros relativos a débitos de qualquer natureza, tendo como termo inicial a data da distribuição do pedido de recuperação judicial, aplicando-se inclusive aos contratos de crédito rural, sem prejuízo do disposto em legislação especíica; XIII – usufruto da empresa; XIV – administração compartilhada; XV – emissão de valores mobiliários; XVI – constituição de sociedade de propósito especíico para adjudicar, em pagamento dos créditos, os ativos do devedor. §1.º Na alienação de bem objeto de garantia real, a supressão da garantia ou sua substituição somente serão admitidas mediante aprovação expressa do credor titular da respectiva garantia. §2.º Nos créditos em moeda estrangeira, a variação cambial será conservada como parâmetro de indexação da correspondente obrigação e só poderá ser afastada se o credor titular do respectivo crédito aprovar expressamente previsão diversa no plano de recuperação judicial. A respeito dos benefícios da recuperação judicial, Silva (2008) destaca que a ma- nutenção da fonte produtora e o empenho em manter o emprego do devedor e salva- guardar o interesse do credor. Recuperação extrajudicial A recuperação extrajudicial tem por objetivos permitir ao devedor negociar fora dos tribunais com seus principais credores e aprovar um plano de pagamento para suas dívidas, dentro de suas reais possibilidades. Essa recuperação não inclui os débi- tos de natureza tributária nem trabalhista e também não prevê o pagamento anteci- pado de dívidas. 188 Segundo Silva (2008, p. 418), “a recuperação extrajudicial pode ser um caminho para empresa que passa por diiculdades transitórias, porém que sejam viáveis”. Essa modalidade de recuperação é viável para empresas que possuam um peque- no número de credores, tornando relativamente fácil a sua negociação. Falência Para Lemes Júnior et al. (2005, p. 470) escrevem que “a falência é um processo ju- rídico que, ao promover o afastamento do devedor de suas atividades, visa preservar e aperfeiçoar a utilização produtora dos bens, ativos e recursos produtivos, inclusive os intangíveis da empresa”. A empresa passa a ser considerada falida quando suas dívidas de curto prazo e longo prazo são maiores que seu ativo, ou seja, quando apresenta um patrimônio líqui- do negativo, ou passivo a descoberto. O pedido de falência pode ser solicitado tanto pelo próprio devedor como também pelos credores. O art. 97 da Lei 11.101/2005 assim estabelece: Art. 97. Podem requerer a falência do devedor: I – o próprio devedor, na forma do disposto nos arts. 105 a 107 desta Lei; II – o cônjuge sobrevivente, qualquer herdeiro do devedor ou o inventariante; III – o cotista ou o acionista do devedor na forma da lei ou do ato constitutivo da sociedade; IV – qualquer credor. §1.º O credor empresário apresentará certidão do Registro Público de Empresas que comprove a regularidade de suas atividades. §2.º O credor que não tiver domicílio no Brasil deverá prestar caução relativa às custas e ao pagamento da indenização de que trata o art. 101 desta Lei. Para ser o administrador judicial em caso de falência, a lei estabelece em seu artigo 21 que “o administrador judicial será proissional idôneo, preferencialmente advogado, economista,administrador de empresas ou contador, ou pessoa jurídica especializada”. A Lei 11.101/2005, em seu artigo 3.º, estabelece que “é competente para homo- logar o plano de recuperação extrajudicial, deferir a recuperação judicial ou decretar a falência o juízo do local do principal estabelecimento do devedor ou da ilial de empre- sa que tenha sede fora do Brasil”. A n ál is e d e R is co e C ré d it o 189 Pro cesso d e co b ran ça Em caso de falência, é formado um comitê de credores que, segundo Silva (2008, p. 414), apresenta a seguinte composição: a) um representante indicado pela classe de credores trabalhistas, com dois suplentes; b) um representante indicado pela classe dos credores com direitos reais de garantias ou privilégios especiais, com dois suplentes; e c) um representante indicado pela classe dos credores quirografários ou com privilégios gerais, com dois suplentes. Ainda de acordo com Silva (2008, p. 414), a assembleia geral de credores, em caso de decretação de falência, será composta pelos seguintes credores: a) titulares de créditos trabalhistas ou decorrentes de acidente do trabalho; b) titulares de crédito com garantia real; e c) titulares de créditos quirografários, com privilégio especial, privilégio geral ou subordinados. Para veriicarmos detalhadamente a classiicação dos credores, vejamos a ordem estabelecida pelo art. 83 da Lei 11.101: Art. 83. A classiicação dos créditos na falência obedece à seguinte ordem: I – os créditos derivados da legislação do trabalho, limitados a 150 (cento e cinquenta) salários- -mínimos por credor, e os decorrentes de acidentes de trabalho; II - créditos com garantia real até o limite do valor do bem gravado; III – créditos tributários, independentemente da sua natureza e tempo de constituição, excetuadas as multas tributárias; IV – créditos com privilégio especial, a saber: a) os previstos no art. 964 da Lei 10.406, de janeiro de 2002; b) os assim deinidos em outras leis civis e comerciais, salvo disposição contrária desta Lei; c) aqueles a cujos titulares a lei conira o direito de retenção sobre a coisa dada em garantia; V – créditos com privilégio geral, a saber: a) os previstos no art. 965 da Lei 10.406, de 10 de janeiro de 2002; b) os previstos no parágrafo único do art. 67 desta Lei; c) os assim deinidos em outras leis civis e comerciais, salvo disposição contrária desta Lei; VI – créditos quirografários, a saber: a) aqueles não previstos nos demais incisos deste artigo; 190 b) os saldos dos créditos não cobertos pelo produto da alienação dos bens vinculados ao seu pagamento; c) os saldos dos créditos derivados da legislação do trabalho que excederem o limite estabelecido no inciso I do caput deste artigo; VII – as multas contratuais e as penas pecuniárias por infração das leis penais ou administrativas, inclusive as multas tributárias; VIII – créditos subordinados, a saber: a) os assim previstos em lei ou em contrato; b) os créditos dos sócios e dos administradores sem vínculo empregatício. §1.º Para os ins do inciso II do caput deste artigo, será considerado como valor do bem objeto de garantia real a importância efetivamente arrecadada com sua venda, ou, no caso de alienação em bloco, o valor de avaliação do bem individualmente considerado. §2.º Não são oponíveis à massa os valores decorrentes de direito de sócio ao recebimento de sua parcela do capital social na liquidação da sociedade. §3.º As cláusulas penais dos contratos unilaterais não serão atendidas se as obrigações neles estipuladas se vencerem em virtude da falência. §4.º Os créditos trabalhistas cedidos a terceiros serão considerados quirografários. A mesma lei discorre sobre o pedido de falência assim estabelece: Art. 94. Será decretada a falência do devedor que: I – sem relevante razão de direito, não paga, no vencimento, obrigação líquida materializada em título ou títulos executivos protestados cuja soma ultrapasse o equivalente a 40 (quarenta) salários- -mínimos na data do pedido de falência; II – executado por qualquer quantia líquida, não paga, não deposita e não nomeia à penhora bens suicientes dentro do prazo legal; III – pratica qualquer dos seguintes atos, exceto se izer parte de plano de recuperação judicial: a) procede à liquidação precipitada de seus ativos ou lança mão de meio ruinoso ou fraudulento para realizar pagamentos; b) realiza ou, por atos inequívocos, tenta realizar, com o objetivo de retardar pagamentos ou fraudar credores, negócio simulado ou alienação de parte ou da totalidade de seu ativo a terceiro, credor ou não; c) transfere estabelecimento a terceiros, credor ou não, sem o consentimento de todos os credores e sem icar com bens suicientes para solver seu passivo; d) simula a transferência de seu principal estabelecimento com o objetivo de burlar a legislação ou a iscalização ou para prejudicar credor; A n ál is e d e R is co e C ré d it o 191 Pro cesso d e co b ran ça e) dá ou reforça garantia a credor por dívida contraída anteriormente sem icar com bens livres e desembaraçados suicientes para saldar seu passivo; f ) ausenta-se sem deixar representante habilitado e com recursos suicientes para pagar os credores, abandona estabelecimento ou tenta ocultar-se de seu domicílio, do local de sua sede ou de seu principal estabelecimento; g) deixa de cumprir, no prazo estabelecido, obrigação assumida no plano de recuperação judicial. §1.º Credores podem reunir-se em litisconsórcio a im de perfazer o limite mínimo para o pedido de falência com base no inciso I do caput deste artigo. §2.º Ainda que líquidos, não legitimam o pedido de falência os créditos que nela não se possam reclamar. §3.º Na hipótese do inciso I do caput deste artigo, o pedido de falência será instruído com os títulos executivos na forma do parágrafo único do art. 9.º desta Lei, acompanhados, em qualquer caso, dos respectivos instrumentos de protesto para im falimentar nos termos da legislação especíica. §4.º Na hipótese do inciso II do caput deste artigo, o pedido de falência será instruído com certidão expedida pelo juízo em que se processa a execução. §5.º Na hipótese do inciso III do caput deste artigo, o pedido de falência descreverá os fatos que a caracterizam, juntando-se as provas que houver e especiicando-se as que serão produzidas. Conclusão O monitoramento do crédito concedido é um procedimento que faz parte do processo de crédito. As diiculdades inanceiras que acometem indivíduos e empresas são o resultado de inúmeros fatores que ocasionam um desbalanceamento no luxo de caixa da empresa, inviabilizando o pagamento dos recursos tomados emprestados, aumentando sobremaneira o risco inanceiro do devedor. Quando as empresas estão passando pelo processo de diiculdades inanceiras, elas costumam deixar de honrar seus compromissos fazendo com que as instituições emprestadoras considerem esses créditos como “problemáticos”. Após a veriicação de que o crédito tornou-se problemático, as instituições em- prestadoras adotam estratégias diversas para reaver o crédito. Esse é o momento que delagra o processo de cobrança. O processo de cobrança deve ser precedido por ações que deixem a cobrança ju- dicial para último caso, devido à lentidão burocrática excessiva que costuma acompa- nhar os processos. Devem as instituições responderem aos alertas de risco de inadim- plência do devedor com ações irmes, mas cordatas, rumo à renegociação para reaver o montante emprestado. 192 Textos complementares Nova Lei de Execução Civil vai agilizar processos de cobrança (MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, 2006) Entrou em vigor na sexta-feira (23), a nova Lei de Execução Civil (11.232/2005) que deine novos procedimentos a im de agilizar a tramitação das ações de cobran- ça, uma das maiores responsáveis pelo congestionamento dos tribunais brasileiros. Uma das determinações da nova lei une as fases de conhecimento e de execução do processo judicial e simpliica essa últimafase uma vez que dispensa nova citação pessoal do devedor para executar a dívida. Antes, o credor era obrigado a entrar com uma ação para ter o seu crédito reco- nhecido por uma sentença e depois outra para forçar o devedor a pagá-lo. A sepa- ração desses dois processos tornava o procedimento judicial excessivamente lento, já que a maioria dos atos realizados no primeiro processo deveria ser repetida no processo execução. “Essa medida tornará mais ágil e efetivo o cumprimento da sentença dos juízes. É mais um passo importante para terminar com a morosidade nesta etapa, pois o réu poderá ser notiicado apenas pelo seu advogado”, airma o secretário da Refor- ma do Judiciário, Pierpaolo Bottini. Com a nova lei, após a sentença do juiz, o réu será intimado a pagar o valor devido no prazo de 15 dias. No caso de não-pagamento, será aplicada multa no valor de 10% do valor devido. O devedor também não poderá mais oferecer bens à penhora para saldar as dívidas, o que evitará discussões sobre a idoneidade e valor dos bens. Estudos do Banco Central demonstram que um crédito cobrado na Justiça pode perder até 70% do seu valor. Segundo Pierpaolo Bottini, o mau funcionamen- to da Justiça também afeta o sistema de crédito no país devido à diiculdade para se recuperar valores emprestados pela via judicial. “Em muitos casos, é mais vantajoso fazer um acordo, mesmo com deságio, do que levar a causa aos tribunais. Esse fato deslegitima o judiciário como instituição formal de resolução de litígios”, completa. A nova lei também acaba com o efeito suspensivo dos recursos interpostos contra a execução da sentença, de modo a evitar que o sistema judiciário seja utilizado A n ál is e d e R is co e C ré d it o 193 Pro cesso d e co b ran ça para protelar o pagamento de dívidas. Dessa forma, o processo de execução trami- tará normalmente, ainda que existam recursos pendentes. Essa modiicação deverá desestimular a interposição de recursos infundados, os quais não terão mais vanta- gens para o devedor. A Lei de Execução Civil (Lei 11.232/2005 (PL 52/04)) foi sancionada no dia 22 de dezembro de 2005 e é um dos projetos mais importantes da reforma infracons- titucional que tem como objetivo agilizar a tramitação de processos, racionalizar a sistemática de recursos judiciais e inibir a utilização da Justiça com ins meramente protelatórios. A reforma infraconstitucional foi elaborada pela Secretaria de Reforma do Judiciário do Ministério da Justiça em conjunto com o Supremo Tribunal Federal, o Instituto Brasileiro de Direito Processual e entidades de magistrados, promotores e advogados. Esse trabalho resultou no encaminhamento de 26 projetos de lei com propostas para a alteração das leis processuais civil, trabalhista e penal. Com a nova Lei de Execução Civil, são cinco os projetos apresentados que entraram em vigor. Dos crimes em espécie – fraude a credores Art. 168. Praticar, antes ou depois da sentença que decretar a falência, conceder a recuperação judicial ou homologar a recuperação extrajudicial, ato fraudulento de que resulte ou possa resultar prejuízo aos credores, com o im de obter ou assegurar vantagem indevida para si ou para outrem. Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos e multa. Aumento da pena §1.º A pena aumenta-se de 1/6 (um sexto) a 1/3 (um terço), se o agente: I – elabora escrituração contábil ou balanço com dados inexatos; II – omite, na escrituração contábil ou no balanço, lançamento que deles deve- ria constar, ou altera escrituração ou balanço verdadeiros; III – destrói, apaga ou corrompe dados contábeis ou negociais armazenados em computador ou sistema informatizado; IV – simula a composição do capital social; 194 V – destrói, oculta ou inutiliza, total ou parcialmente, os documentos de escri- turação contábil obrigatórios. Contabilidade paralela §2.º A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até metade se o devedor manteve ou movimentou recursos ou valores paralelamente à contabilidade exigida pela legislação. Concurso de pessoas §3.º Nas mesmas penas incidem os contadores, técnicos contábeis, auditores e outros proissionais que, de qualquer modo, concorrerem para as condutas crimino- sas descritas neste artigo, na medida de sua culpabilidade. Redução ou substituição da pena §4.º Tratando-se de falência de microempresa ou de empresa de pequeno porte, e não se constatando prática habitual de condutas fraudulentas por parte do falido, poderá o juiz reduzir a pena de reclusão de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços) ou substituí-la pelas penas restritivas de direitos, pelas de perda de bens e valores ou pelas de prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas. Violação de sigilo empresarial Art. 169. Violar, explorar ou divulgar, sem justa causa, sigilo empresarial ou dados conidenciais sobre operações ou serviços, contribuindo para a condução do devedor a estado de inviabilidade econômica ou inanceira: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos e multa. Divulgação de informações falsas Art. 170. Divulgar ou propalar, por qualquer meio, informação falsa sobre deve- dor em recuperação judicial, com o im de levá-lo à falência ou de obter vantagem: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos e multa. Indução a erro Art. 171. Sonegar ou omitir informações ou prestar informações falsas no pro- cesso de falência, de recuperação judicial ou de recuperação extrajudicial, com o A n ál is e d e R is co e C ré d it o 195 Pro cesso d e co b ran ça im de induzir ao erro o juiz, o Ministério Público, os credores, a assembleia-geral de credores, o comitê ou o administrador judicial: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos e multa. Favorecimento de credores Art. 172. Praticar, antes ou depois da sentença que decretar a falência, conce- der a recuperação judicial ou homologar plano de recuperação extrajudicial, ato de disposição ou oneração patrimonial ou gerador de obrigação, destinado a favorecer um ou mais credores em prejuízo dos demais: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre o credor que, em conluio, possa beneiciar-se de ato previsto no caput deste artigo. Desvio, ocultação ou apropriação de bens Art. 173. Apropriar-se, desviar ou ocultar bens pertencentes ao devedor sob re- cuperação judicial ou à massa falida, inclusive por meio da aquisição por interposta pessoa: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos e multa. Aquisição, recebimento ou uso ilegal de bens Art. 174. Adquirir, receber, usar, ilicitamente, bem que sabe pertencer à massa falida ou inluir para que terceiro, de boa-fé, o adquira, receba ou use: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos e multa. Habilitação ilegal de crédito Art. 175. Apresentar, em falência, recuperação judicial ou recuperação extraju- dicial, relação de créditos, habilitação de créditos ou reclamação falsas, ou juntar a elas título falso ou simulado: 196 Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos e multa. Exercício ilegal de atividade Art. 176. Exercer atividade para a qual foi inabilitado ou incapacitado por deci- são judicial, nos termos desta Lei: Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos e multa. Violação de impedimento Art. 177. Adquirir o juiz, o representante do Ministério Público, o administrador judicial, o gestor judicial, o perito, o avaliador, o escrivão, o oicial de justiça ou o leiloeiro, por si ou por interposta pessoa, bens de massa falida ou de devedor em recuperação judicial, ou, em relação a estes, entrar em alguma especulação de lucro, quando tenham atuado nos respectivos processos: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos e multa. Omissão dos documentos contábeis obrigatórios Art. 178. Deixar de elaborar, escriturar ou autenticar, antes ou depois da senten- ça que decretar a falência, conceder a recuperação judicial ou homologar o plano de recuperação extrajudicial, os documentos de escrituração contábil obrigatórios:Pena – detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos e multa, se o fato não constitui crime mais grave. Atividades Quais medidas devem ser adotadas antes de se iniciar o processo de cobrança?1. O que pode levar os credores a terem diiculdades de reaver os créditos?2. Fazem parte dos componentes da recuperação judicial:3. A n ál is e d e R is co e C ré d it o 197 Pro cesso d e co b ran ça execução de garantias.a) plano de recuperação judicial.b) pedido de falência.c) protesto.d) Qual é a característica conjuntural marcante do processo de cobrança no Brasil?4. Ampliando conhecimentos A Lei 11.101, de 9 de fevereiro de 2005. Esta lei trata especiicamente as questões relacionadas ao processo de cobrança e pode favorecer ao aluno a compreensão do trâmite legal referente à cobrança de créditos. BRASIL. Lei 11.101, de 9 de fevereiro de 2005. Regula a recuperação judicial, a extrajudicial e a falência do empresário e da sociedade empresária. Diário Oicial da República Federativa do Brasil, 9 de maio de 2005. Disponível em: <www.planalto.gov.br>. Acesso em: 20 jan. 2009. 199 Gabarito Intermediação inanceira Risco de crédito é a probabilidade de que o recebimento dos recursos empres-1. tados não ocorra, ou seja, é igual a 1 menos a probabilidade de recebimento. Por isso, é importante a análise do risco nas decisões de crédito. Para Silva a deinição de crédito é a entrega de um valor presente mediante 2. uma promessa de pagamento. D3. C4. Os “4 Cs do crédito” (Caráter; Capacidade; Capital; Condições) Os critérios são o caráter e a capacidade. O caráter julga subjetivamente o que o 1. analista inanceiro faz para decidir se é valido ou não assumir riscos com deter- minado cliente; já a capacidade está relacionada à habilidade do indivíduo ou grupo de gerir estrategicamente e operacionalmente os negócios da empresa. O capital refere-se à situação econômico-inanceira do tomador de emprésti-2. mos/inanciamento, ou seja, diz respeito à qualidade do montante de recursos que esse possui para saldar seus débitos. Em outras palavras é a entrega de um valor presente mediante uma promessa de pagamento. D3. C4. 200 Garantias Nas situações em que o valor de mercado do patrimônio do devedor for inferior 1. ao valor da dívida. A2. B3. D4. Risco e crédito A1. C2. O risco existe quando o tomador de decisões pode basear-se em possibilidades 3. objetivas para estimar diferentes resultados, de modo que sua expectativa se baseia em dados históricos e, portanto, a decisão é tomada a partir de estima- tivas julgadas aceitáveis pelo tomador de decisões. Já as incertezas ocorrem quando não se dispõe de dados históricos acerca de um fato, o que poderá exi- gir que o tomador de decisões faça uma distribuição probabilística subjetiva, isto é, baseado em sua sensibilidade pessoal. Indiferentes aos riscos (quando nenhuma mudança no retorno seria exigida 4. em vista de um aumento no risco). Aversos aos riscos (quando um incremento de retorno seria exigido em vista de um aumento no risco). Tendência ao risco (quando uma diminuição de retorno poderia ser aceita em vista de um aumen- to de risco). Análise de crédito Análise documental, análise de idoneidade, análise do negócio, análise econô-1. mico-inanceira e análise cadastral.A n ál is e d e R is co e C ré d it o 201 G ab arito A análise vertical mostra a participação relativa de cada item de uma demons-2. tração contábil em relação a determinado referencial. Por exemplo, quantos por cento representa cada rubrica contábil em relação ao ativo total. Por sua vez, a análise horizontal permite o exame da evolução histórica de uma série de valores, ou seja, o comportamento das contas em mais de um exercício. A3. O objetivo da análise vertical é demonstrar a participação relativa de cada con-4. ta de uma demonstração contábil em relação a um determinado referencial. Análise das demonstrações contábeis e inanceiras I A importância da Demonstração dos Resultados do Exercício é que ela repre-1. senta o resultado do confronto ente as receitas geradas pela entidade e todos os custos e despesas decorrentes do ciclo operacional. B2. D3. A demonstração inanceira que demonstra o resultado obtido é a análise das 4. demonstrações contábeis, que é possível veriicar o desempenho da empresa e a sua capacidade para quitar seus débitos. Análise das demonstrações contábeis e inanceiras II A importância é que eles funcionam como ferramenta de análise, extraindo da-1. dos das demonstrações contábeis que permitem compreender e avaliar aspectos relevantes da empresa como capacidade de pagamento de curto prazo, liquidez, capacidade de remunerar investidores e seu nível de endividamento e outros. B2. B3. 202 O analista precisa atentar para os aspectos que são mais importantes na análise 4. e veriicar quais os pontos que demonstram maior vulnerabilidade da empresa. Análise de capital de giro O requisito é reclassiicar as contas do balanço patrimonial em ativos circulan-1. tes e não circulantes e o grupo dos ativos circulantes em ativos circulantes ope- racionais (cíclicos) e ativos circulantes inanceiros (erráticos). Signiica que um valor de ativo circulante superior ao passivo circulante pode 2. ser entendido como uma folga inanceira da empresa. Logo, toda empresa que tem ativo circulante maior que o passivo circulante é uma empresa inanceira- mente sólida e de boa liquidez que não terá diiculdade para pagar suas obri- gações. D3. B4. Controle e qualidade do crédito A1. Os créditos são considerados problemáticos quando passam a indicar diicul-2. dades para sua liquidação. Dentre os sinais que indicam os créditos problemáticos podemos citar os sinais 3. vindos das demonstrações contábeis, dos clientes, dos próprios credores e ain- da de terceiros. D4. A n ál is e d e R is co e C ré d it o 203 G ab arito Processo de cobrança As instituições cedentes devem monitorar os tomadores do crédito para evitar 1. que eles se tornem irrecuperáveis. Os tomadores de crédito podem enfrentar diiculdades inanceiras que com-2. prometam sua liquidez e sua capacidade de quitar seus débitos. B3. De modo geral, o processo de cobrança no Brasil é lento e burocrático e o go-4. verno tem tomado medidas para agilizar o processo e não prejudicar ainda mais os cedentes de créditos e as instituições inanceiras. 205 Referências ALMEIDA, Álvaro; VIEIRA, André. O Condenado Vai à Ópera. Publicado em: 23 out. 1997. Disponível em: <www.terra.com.br/istoe/economia/146430.htm>. Acesso em: 14 nov. 2008. ADAMOWICZ, Elizabeth C; SAMPAIO, Maria Eugênia C. S.; Barboza, Angela O. Reconhe- cimento de Padrões na Análise Econômico-Financeira de Empresas. Trabalho apre- sentado no XXII Encontro Nacional de Engenharia de Produção. Curitiba, 23 a 25 out. 2002. ASSAF NETO, Alexandre. Mercado Financeiro. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2008. ATTIE, William. Auditoria: conceitos e aplicações. 3. ed. São Paulo: Atlas, 1998. AZEVEDO, Osmar Reis. Comentários às Novas Regras Contábeis Brasileiras. São Paulo: Atlas, 2008. BRASIL. Lei 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Dispõe sobre as Sociedades por Ações. 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