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Por que o ministro deve ser homem?
Douglas Wilson
PIRATARIA É PECADO E TAMBÉM UM CRIME
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prejudicam o financiamento da produção de novas obras como esta. 
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Todos os direitos em língua portuguesa reservados por
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SCRN 712/713, Bloco B, Loja 28 — Ed. Francisco Morato Brasília, DF, Brasil — CEP 70.760-620
www.editoramonergismo.com.br
1.ª edição, 2022
Tradução: Márcio Santana Sobrinho
Editor: Felipe Sabino de Araújo Neto
Capa: Bárbara Lima Vasconcelos
Proibida a reprodução por quaisquer meios, salvo em breves citações, com indicação da fonte.
Todas as citações bíblicas foram extraídas da versão Almeida Revista Atualizada (ARA) salvo indicação em contrário.
Sumário
Sumário
Introdução
Começando com o pano de fundo
Ministério cristão
Febe e outras figuras interessantes
Como chegamos aqui
Portai-vos varonilmente
Apêndice I: Calvino sobre 1 Timóteo 2.11-12
Apêndice II: William Hendriksen sobre 1 Timóteo 2.11-12
Introdução
Este pequeno livro tem dois temas centrais. O primeiro é o argumento de que a Escritura exige
que os ministros da igreja sejam homens — isto é, do sexo masculino. O segundo trata da razão
pela qual isso chegou a ser um problema (quando os textos são tão claros) e irá defender que os
ministros da igreja não só devem ser do sexo masculino, eles precisam também ser homens de
fibra. O ministério demanda homens nos dois sentidos do termo.
Temos de começar com cuidado. Muitos pensam que a exclusão das mulheres do
ministério cristão se dá por simples razão de intolerância, como se diversos ministros
conservadores ordenados (sem qualquer motivo legítimo) agissem como garotos enfezados em
sua casa da árvore, pondo na porta a plaquinha de “menina não entra”.
Os problemas envolvidos nessa discussão são complexos e profundos — tão profundos e
complexos como a própria sexualidade humana. O fato de a intolerância superficial sempre se
restringir à superfície das coisas não significa que não existam problemas abaixo da superfície.
Veja a frase: “As mulheres não deveriam poder ______________”. Somente alguém muito tolo
defenderia que preconceito é o único resultado possível de qualquer palavra que se use para
preencher o espaço em branco na sentença. É relevante saber como vamos fechar a frase. Se
vamos completar a sentença com “ter bebês”, “dirigir carros”, “casar com outras mulheres”,
“vestir outra coisa além de burca” ou “se tornar ministros da Palavra e dos sacramentos” é o que
vai determinar se a frase é tola ou sábia. Uma sentença não é automaticamente tola por fazer
restrições às mulheres.
Antes de podermos discutir se as mulheres devem ou não ser ministros, precisamos
começar com uma definição básica. O que é um ministro? O que é essa vocação específica? No
que se segue, não irei falar de minhas definições pessoais, mas do que é o entendimento de
vocação ministerial. O que é esse ministério do qual as mulheres estão excluídas?
Deus nos convoca a cultuá-lo, semanalmente, e à medida que o fazemos, o povo de Deus
entra em uma renovação pactual. Deus se encontra conosco por meio do poder do Espírito Santo,
e o povo de Deus segue o padrão estabelecido nos sacrifícios do Antigo Testamento. Sempre que
as ofertas pela culpa, as ofertas queimadas e as ofertas pacíficas são mencionadas juntas, elas
ocorrem nessa ordem. De modo análogo, o culto de renovação pactual começa com a confissão
de pecados, segue para a consagração, e se encerra com a comunhão. Confessamos nossos
pecados em nome de Jesus, cantamos salmos e hinos, ouvimos a mensagem pregada, e
concluímos com a ceia do Senhor.
Essa renovação se dá em forma de conversação. Deus fala ao seu povo, e este responde. O
povo de Deus levanta a voz em confissão, petição, ou louvor e Deus lhes responde. Essa
conversação ocorre com o povo reunido como assembleia, e com o ministro fazendo o papel de
Cristo. Ele é aquele que dá a certeza do perdão, a bênção, as palavras de consagração na ceia, e o
sermão. Ele é auxiliado nessas responsabilidades pelos presbíteros da igreja, que levam a carga
da responsabilidade com ele. Por estar representando a posição litúrgica do noivo, ele deve ser
homem. Exceto no meio anglicano, nós não usamos a linguagem do sacerdócio na discussão
desse princípio, mas C. S. Lewis chegou a fazer uma afirmação ainda assim importante a esse
respeito: “Nós, homens, podemos, com frequência, ser maus sacerdotes. Isso é porque não somos
masculinos o suficiente. A solução não está em apelar àquelas que não são masculinas de forma
alguma”.[1]
Um dos mantras comuns em voga nos círculos evangélicos é que “uma mulher pode fazer
tudo o que um homem não ordenado faz”. Mas a razão deste apelo ter força sobre nós é que,
mergulhados em uma eclesiologia indigente durante vários séculos, achamos que homens não
ordenados podem fazer aquilo que nossos pais na fé reformada não permitiriam que fizessem
nem por dois minutos.
Quando esse mantra é repetido, é quase sempre com o objetivo de apelar para que as
mulheres possam fazer a leitura bíblica durante o culto ou, digamos, talvez ajudar a distribuir os
elementos da santa ceia. Mas ninguém para e diz: “Uau... sendo assim, então é melhor que
homens não ordenados não façam mais a leitura bíblica. Boa sacada!”. A inconsistência poderia
ser resolvida igualmente bem tanto nessa direção como na outra. Mas por que o movimento
óbvio sempre parece ser no sentido de incluir mulheres em mais e mais funções eclesiásticas?
Isso é como perguntar por que os veleiros se movem na direção que estão indo — a resposta é
que aquela é a direção em que o vento está soprando. O zeitgeist, o espírito da época, está
exigindo de nós certas coisas, e é fácil dizer que estamos resistindo às suas exigências; mas
resistir a tais pressões é algo que precisa ser demonstrado, não simplesmente afirmado.
Infelizmente, nessas discussões a questão real geralmente não é “o que a Bíblia ensina e
exige de nós?”. Embora as evasivas sejam comuns, as Escrituras ainda nos fornecem toda a
direção de que precisamos. Vamos ao exame de algumas das preocupações bíblicas mais
relevantes à questão.
Começando com o pano de fundo
Qualquer discussão sobre ordenação de mulheres, obviamente, irá girar em torno das afirmações
do apóstolo Paulo sobre esse assunto, e certamente é aí que gastaremos a maior parte do nosso
espaço. Contudo, as instruções de Paulo não foram dadas no vácuo, e quando ele recorre a algo
fora de seu contexto imediato, apela ao Antigo Testamento, baseando-se tanto na história
registrada ali como na lei que ali foi dada.
É lugar-comum a afirmação, por parte das feministas, de que a Bíblia é um livro patriarcal,
e isso é geralmente dito como uma coisa ruim. Juízos de valor à parte, é o que parece estar
correto. Os patriarcas de Israel são Abraão, Isaque e Jacó, todos eles homens. Jacó, rebatizado de
Israel, teve doze filhos que se tornaram os progenitores das doze tribos. Em toda a história da
nação de Israel, houve somente uma rainha que reinou sem um rei, e ela foi uma usurpadora e
tirana (2Rs 11.1). De Arão, o primeiro sumo-sacerdote de Israel, até o último sacerdote quando o
Templo foi destruído em 70 d.C., todos eram homens. Existiram algumas profetisas, que serão
discutidas em detalhe posteriormente; mas Débora foi a única que também reinou na esfera civil,
e parece ter feito isso enquanto profetisa (Jz 4.4). A pressuposição geral era que ter mulheres
governando era um sinal indicador de juízo (Is 3.12).
Quando Jesus veio para estabelecer o novo Israel, ele o fez juntando a si doze discípulos
(Lc 6.13), claramente declarando que estava reorganizando Israel, reconstruindo-o; e fez isso
nomeando doze homens. Não porque não houvesse mulheres disponíveis — ele tinha mulheres
influentes e talentosas para escolher, mas não quis (Lc 8.3). Se era hora de reformar Israel (e de
fato era), por que Jesusnão incluiu mulheres na companhia dos doze apóstolos?
Assim, quando Jesus se dispõe a estabelecer Israel novamente, reunindo um novo Israel e o
organizando em torno de si, ele escolhe doze apóstolos, todos eles homens. Tal como Moisés
tinha o Tabernáculo no centro do acampamento, com as doze tribos acampadas em volta, assim o
Senhor assumiu o lugar desse Tabernáculo e reuniu seus discípulos em volta. As novas doze
tribos tinham liderança masculina, tal como sempre tiveram. Se a Nova Aliança seria o tempo de
marcar uma ruptura decisiva com os modos antigos, caducos e patriarcais, essa seria uma boa
hora para fazê-lo. Mas Jesus não o fez — por quê?
O fato de que não havia sacerdotisa em Israel (e nenhuma mulher apóstolo) responde, a
propósito, ainda que de passagem, a uma objeção comum sobre este assunto. É muito fácil para
os opositores dizerem que a razão pela qual as mulheres cristãs não puderam se tornar ministras
religiosas lá nos “velhos tempos” foi porque a posição da mulher na sociedade daquela época
teria tornado a fé cristã questionável pelos de fora caso as mulheres pudessem atuar desse modo.
Dentro da igreja, a verdade da emancipação era reconhecida (Gl 3.27-29), mas com o fim de
evangelizar os de fora, foram feitos ajustes de acordo com a época. Agora que sabemos as coisas
com mais clareza, é seguro para os cristãos revelar o que realmente pensávamos o tempo todo.
O problema com esse argumento é que ele é simplesmente o oposto da verdade. A igreja
cristã não teve de excluir as mulheres a fim de se adequar. Excluir as mulheres do ministério era
a coisa estranha a se fazer. O mundo antigo estava repleto de sacerdotisas, e se os cristãos
tivessem admitido mulheres em seu ministério, ninguém iria levantar as sobrancelhas. A igreja
tomou a rota contracultural e agiu de modo que a fez destoar — que é, aliás, o que nós estamos
sendo chamados a fazer. Não é que a igreja primitiva tenha necessitado fazer uma acomodação a
qual nós, nos tempos modernos, já não temos mais de fazer. Antes, a igreja primitiva se recusou
a fazer a mesma acomodação que estamos sendo agora pressionados a fazer. Em suma, a igreja
primitiva não estava se misturando nesta questão, mas se destacando.
Falarei mais sobre isso, mas a nossa era neopagã está à vontade com a Grande Mãe, tal
como estava o antigo paganismo. E não há maneira de rejeitar esse paganismo emergente sem
rejeitar a principal forma que ele assume, que é a do ministério feminino. Camille Paglia tem
uma visão distorcida de uma série de coisas, mas há algumas que ela consegue ver muito
claramente. “O livro de Gênesis é uma declaração masculina de independência da antiga
adoração à Mãe. Seu desafio à natureza, tão sexista aos ouvidos modernos, assinala um dos
momentos cruciais na história ocidental... Os cultos à Mãe, ao reconciliarem o homem com a
natureza, o prenderam à matéria.”[2]
Se o antigo Israel tivesse sacerdotisas, não teria sido pedra de tropeço para outros. Se Jesus
tivesse selecionado algumas mulheres para as fileiras apostólicas, isso teria “ajudado” no
evangelismo, e o livraria de quaisquer impedimentos. Contudo, ele não agiu desse modo.
Quando o profeta Isaías predisse o dia em que o ministério levítico seria exercido na Nova
Aliança, ele assumiu a continuidade na limitação sexual. Os gentios se tornarão sacerdotes, mas
nenhuma mulher gentia se tornaria sacerdotisa.
Porei entre elas um sinal e alguns dos que foram salvos enviarei às nações, a Társis, Pul e Lude, que atiram com
o arco, a Tubal e Javã, até às terras do mar mais remotas, que jamais ouviram falar de mim, nem viram a minha
glória; eles anunciarão entre as nações a minha glória. Trarão todos os vossos irmãos, dentre todas as nações,
por oferta ao SENHOR, sobre cavalos, em liteiras e sobre mulas e dromedários, ao meu santo monte, a Jerusalém,
diz o SENHOR, como quando os filhos de Israel trazem as suas ofertas de manjares, em vasos puros à Casa do
SENHOR. Também deles tomarei a alguns para sacerdotes e para levitas, diz o SENHOR. (Is 66.19-21)
O pano de fundo específico do ensino de Paulo nos leva a concluir que as mulheres não
podem ser ministros. É possível arregimentar textos genéricos com o objetivo de fazer aplicações
específicas, mas ainda assim não será suficiente. Por exemplo, tome as tentativas comuns de
argumentação a partir da posição de igualdade que as mulheres possuem como membros plenos
do corpo de Cristo.
Todos quantos fostes batizados em Cristo de Cristo vos revestistes. Dessarte, não pode haver judeu nem grego;
nem escravo nem liberto; nem homem nem mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus. E, se sois de
Cristo, também sois descendentes de Abraão e herdeiros segundo a promessa. (Gl 3.27-29)
Essa afirmação gloriosa não está de forma alguma tratando da questão do governo da
igreja, ou das relações sociais dentro da igreja, ou do relacionamento conjugal, mas, sim, da
salvação em Cristo. Estamos falando de batismo, não de ordenação. Não há barreiras que
possam afastar um homem ou uma mulher de Cristo. Escravos podem vir e ser batizados, tal
como seus senhores. Judeus e gentios juntos se regozijam pelo muro de divisão ter sido desfeito.
Todos nós temos comunhão em Jesus Cristo, e somos herdeiros da promessa dada a Abraão, a
promessa de salvação. Assim, vemos que tomar essa passagem, como frequentemente se faz, e
fazê-la se aplicar à questão da ordenação de mulheres, é tentar provar mais do que o texto diz.
Não somente poderíamos ter mulheres pregando, mas também mulheres se casando com
mulheres e homens se casando com homens (conquanto estivessem em Cristo) porque em Cristo
todas essas distinções estão abolidas, e seríamos obrigados a ignorar tais distinções sempre que
alguém tentasse apresentá-las de alguma forma. Vivemos agora tempos difíceis, e hesito em
descrever um argumento absurdo destes por medo de que alguém acabe achando que esse é de
fato um belo argumento e acabe me usando como nota de rodapé. Então, antes que isso aconteça,
vamos seguir para deixar nossa posição absolutamente clara.
Ministério cristão
Isso nos traz ao advento do ministério na Nova Aliança, e aos textos que estabelecem tal
ministério. O que o Novo Testamento realmente ensina a respeito?
Quero, portanto, que os varões orem em todo lugar, levantando mãos santas, sem ira e sem animosidade. Da
mesma sorte, que as mulheres, em traje decente, se ataviem com modéstia e bom senso, não com cabeleira
frisada e com ouro, ou pérolas, ou vestuário dispendioso, porém com boas obras (como é próprio às mulheres
que professam ser piedosas). A mulher aprenda em silêncio, com toda a submissão. E não permito que a mulher
ensine, nem exerça autoridade de homem; esteja, porém, em silêncio. Porque, primeiro, foi formado Adão,
depois, Eva. E Adão não foi iludido, mas a mulher, sendo enganada, caiu em transgressão. Todavia, será
preservada através de sua missão de mãe, se ela permanecer em fé, e amor, e santificação, com bom senso.
(1Tm 2.8-15)
Homens cristãos devem ser homens de oração, levantando mãos santas ao Senhor (v. 8). Eles
devem ser homens que se refreiam dos sinais masculinos da ira e animosidade. As mãos que
levantam ao Senhor não devem ser mãos que ferem o próximo em ira injusta (v. 8). Quando
Paulo diz “da mesma sorte”, ele não está comparando os pecados em si, está indicando que
homens e mulheres pecam cada um de acordo com a sua natureza. Os homens não devem brigar,
as mulheres não devem se vestir de uma maneira que provoque briga. É dito às mulheres,
positivamente, que se adornem, com uma aparência respeitável. A questão não é de “adorno” x
“sem adorno”, mas de “adorno respeitável” x “adorno indecoroso” (v. 9). O que Paulo está
chamando aqui de modéstia, especificamente, não está diretamente relacionado ao decote, mas
tem a ver com qualquer forma de ostentação. Tudo o que ele menciona eram tipos de coisas que
as mulheres da alta sociedade romana faziam — prender joias no cabelo e borrifar pó de ouro
sobre ele. Pense em uma mulher extravagante se preparando para uma apariçãona corte de Luís
XIV em Versalhes. O apóstolo não está falando sobre ter uma presilha vermelha para segurar a
franja.
E nesse ponto os defensores da ordenação de mulheres irão apresentar aquilo que pensam
ser um argumento demolidor. “Veja”, eles podem dizer, “você está afirmando que as instruções
de Paulo aqui a respeito das joias e cabelo ataviado são culturalmente condicionadas. Então por
que você não faz a mesma concessão para os versos seguintes? Por que você é tão estrito sobre a
questão de mulheres ensinando homens, mas um verdadeiro liberal quando se trata de presilhas
vermelhas segurando franjas?” Essa é de fato uma pergunta plausível, e essa é uma área na qual é
muito fácil tropeçar. A pergunta sobre como aplicar as instruções apostólicas que são
“culturalmente condicionadas” vai ao cerne da questão inteira. Contudo, sabendo disso, devemos
também reconhecer que a confusão crescente em torno desse problema não é realmente
necessária. Fazer uma aplicação adequada é difícil o bastante para tornar essa questão necessária;
mas não tão difícil que tenhamos uma desculpa para tomar o caminho errado.
Temos de começar por distinguir o Éden de Babel. Certos aspectos de nossa humanidade nos
foram dados no Jardim, e outros aspectos comuns com diversas expressões são o resultado da
confusão de línguas que Deus enviou sobre nós na Torre. Em outras palavras, certas coisas são
para nós exatamente as mesmas que foram para Adão e Eva, e outras são mediadas por diferentes
expressões linguísticas.
Assim, por exemplo, quando Paulo nos diz para evitar a conversação torpe (Ef 5.4), é
razoável supor que ele poderia ter nos dado exemplos de palavras gregas que, no primeiro
século, representavam o tipo de conversação que ele disse ser inadequada para os cristãos. Ele
tinha algo em mente; mas quando aplicamos suas instruções em nossos dias, como de fato deve
ser feito, fazemos isso evitando palavras completamente diferentes daquelas que foram evitadas
pelos cristãos em Éfeso. Evitamos diferentes formas de expressão porque estamos obedecendo
ao mesmo mandamento. Somos ordenados a não dizer piadas sujas em nosso idioma, mesmo se
Paulo não pudesse entender uma palavra de tal piada, e mesmo se nós não pudéssemos
reconhecer qualquer das palavras que tornariam dignos de repreensão os cristãos do primeiro
século. Há condicionantes culturais aqui, é claro, mas isso não invalida a ordem. A ordem ainda
deve ser obedecida, embora diferentes cristãos em diferentes épocas evitem coisas diferentes.
Quando um homem cristão moderno se desvia de adulterar com a mulher do próximo, ele
está fazendo exatamente a mesma coisa que um homem cristão do primeiro século fazia quando
se esquivava do adultério. Adultério é adultério, e obediência à proibição sempre tem a mesma
aparência em todas as épocas. Fidelidade é fidelidade, e ela significa exatamente isso, mas o
flerte que conduz ao adultério quase certamente irá conter elementos que são completamente
diferentes de uma época para outra. Os maridos modernos enviam mensagens de texto
inadequadas a partir do celular, e os maridos do primeiro século jamais fizeram isso. A proibição
perene sempre exclui o flerte, mas o que vai se constituir flerte em uma época pode não se
constituir em outra. O que se constitui adultério em uma época, irá se constituir adultério em
qualquer outra.
Contudo, nessa passagem, o que Paulo exige de toda mulher cristã em qualquer área é “traje
honesto” (ACF). Isso é o que ele exige, e o que as mulheres cristãs devem apresentar sempre.
Mas o que se constitui “traje honesto” pode ser culturalmente condicionado, tal como a definição
das palavras pode variar de uma época para outra, ou de um idioma para outro. Porque a roupa é
uma forma de linguagem, devemos esperar nela algumas variações. Uma mulher hoje pode ser
inteiramente modesta e respeitável com uma saia que apenas cobre até seus joelhos, mas há
outros lugares em que tal saia só seria usada por uma mulher que estivesse completamente
abandonada. Dizendo de outra forma, no centro da instrução de Paulo está uma exigência por um
vestir feminino que não é de forma alguma culturalmente condicionado. Todas as mulheres
cristãs em todas as épocas devem sempre esforçar-se para ter um procedimento respeitável que
se mostre no modo como se vestem. Se Paulo tivesse dito que todos os soldados cristãos devem
sempre honrar seus oficiais superiores, nós saberíamos o que ele quis dizer, muito embora Paulo
não fosse especificar o tipo de continência que o exército inglês usa, ou a saudação dos soldados
americanos. Criar confusão sobre isso é como ter um soldado desrespeitoso que mostra a língua
para seu capitão e então se defende apelando a dois diferentes modos de saudação, alegando que
se confundiu com tudo aquilo.
Veja a questão ainda de outra forma. Se encontrássemos três mulheres violando o padrão
aqui estabelecido por Paulo — uma senhora romana do primeiro século, uma cortesã de
Versalhes, e uma top model parisiense — e fôssemos perguntar a todas elas que efeito estavam
tentando alcançar, não receberíamos a resposta de que se trata de “vestuário respeitável e nada
mais”. Aqueles que parecem extravagantes em cada época criam esse efeito tentando parecer
desse modo. Esse é o ponto central. E mulheres reconhecidamente cristãs que evitam dizer isso
com todas as letras fazem a mesma coisa deliberadamente.
Quando Paulo avança para sua próxima consideração (v. 11), a de que as mulheres devem ser
aprendizes com um comportamento submisso, devemos primeiro notar que ele não está mudando
de assunto. O assunto vem sendo homens e mulheres se comportando apropriadamente no culto
— os homens sendo amantes da paz, levantando mãos santas, e as mulheres se vestindo
modestamente e portando-se de tal modo a não causar confusão. Quando as mulheres se vestem
da maneira ostentadora aqui descrita, esse não é um ato isolado. É porque estão rivalizando a
atenção dos homens. E quando esse tipo de desfile sexual é tolerado, elas vão conseguir a
atenção, e quase sempre de mais de um homem. Quando Helena de Tróia começa a frequentar a
reunião de estudo bíblico, pode esperar por problemas.
As mulheres devem aprender, mas Paulo (muito claramente) não permite que elas exerçam
qualquer tipo de ensino autoritativo sobre os homens. Ao invés disso, elas devem aprender em
silêncio (v. 12). E aqui devemos retornar ao ponto firmado anteriormente. Isso não acontece
porque lá nos tempos antigos seria escandaloso para as mulheres exercerem autoridade religiosa.
Esse tipo de coisa acontecia o tempo todo, tal como era comum para as mulheres se mostrarem
do modo proibido por Paulo. Ele estava proibindo tal coisa porque havia uma pressão para que
fosse permitida. Assim, as mulheres geralmente recebiam permissão para exercer ofício
religioso, mas não de cristãos fiéis. As exortações bíblicas quanto a esse quesito foram dadas
para prover uma respeitabilidade cristã alternativa, não simplesmente ecoar aquilo que era tido
como aceitável entre os pagãos.
Paulo então dá a proibição que tem sido a causa de tanta controvérsia. Deve-se dizer que a
controvérsia existe não porque Paulo disse algo nebuloso, mas porque ele disse algo que é
inconveniente para nós, especialmente para aqueles que querem um ministério atraente e
sofisticado. Para tais homens, a saída honesta é dizer que Paulo estava simplesmente errado, mas
ainda há muitos evangélicos que precisam que ele estivesse certo, enquanto ao mesmo tempo se
eximem de fazer o que ele disse. “Não permito que a mulher ensine, nem exerça autoridade de
homem; esteja, porém, em silêncio.”
Compare isso com a exigência anterior sobre vestes ostentadoras. A exigência central era que
as mulheres tivessem um traje respeitável, e para esclarecer o significado disto ele mencionou
algumas decorações de cavalo de circo em uso corrente naqueles dias. Se o mero fato de uma
mulher ensinar um homem fosse algo “culturalmente condicionado”, que princípio central isso
estaria demonstrando? As joias da moda no cabelo são a vestimentarespeitável que as mulheres
que ensinam aos homens devem... Percebem? Tomar a passagem em seu sentido real nos livra
desse tipo de confusão. Paulo está preocupado em toda essa passagem com que homens e
mulheres mantenham um relacionamento sóbrio e digno uns com os outros, e isso inclui os
homens evitando a luta pelo troféu, as mulheres evitando tentar parecer o troféu, e as mulheres
evitando também usurpar a autoridade de ensino.
O último ponto a destacar sobre essa passagem é ver como Paulo baseia sua exigência. Qual
a razão de a mulher não dever ensinar? Qual a razão por que as mulheres não devem exercer
autoridade espiritual sobre os homens? A razão dada é dupla — a ordem da criação (v. 13), e o
modo como nossos primeiros pais caíram em pecado. As mulheres não devem ensinar ou exercer
autoridade espiritual sobre os homens porque, quatro mil anos antes de Paulo, Deus criou
primeiro Adão e depois Eva.
Em outras palavras, a primeira razão apresentada não tem nada a ver com a situação do
primeiro século. Ele baseia suas restrições na ordem da criação, o que significa que seu motivo
para a restrição está situado em uma cultura diferente daquela em que a restrição é dada. Não
podemos dizer que não há problema com mulheres no ministério no século 21 porque já se
passaram dois mil anos desde a restrição de Paulo no verso 12. A razão dada por ele não se
encontra no verso 12, mas no 13. Sua razão está a uma distância de seis mil anos. Se
considerarmos que aquilo que está no verso 12 valia no passado e vale ainda hoje, na situação
atual, muita gente vai nos enxotar; mas se dissermos, do verso 13, que ele valia no passado, pode
ocorrer a alguém que ele de fato valia no passado, quando Paulo primeiro escreveu suas palavras.
O engano de Eva tem seis mil anos para nós, e tinha quatro mil para Paulo. O que aconteceu nos
últimos dois mil anos para que alguma coisa mudasse? Os últimos dois mil anos não nos afastam
do período da criação. A raça humana já estava bem fora desse período quando Paulo apelou à
criação. Então, esse não é de modo algum um apelo à cultura circundante de seu tempo.
Sua segunda razão, encontrada no v. 14, é que Adão não foi enganado, mas que a mulher,
sendo de fato enganada, caiu em transgressão. Isso é mencionado como outra razão para não se
permitir que as mulheres ensinem os homens ou exerçam autoridade sobre eles, porém vamos
olhar para isto de forma cuidadosa. Seria fácil dizer que, enquanto classe de pessoas, as mulheres
são mais suscetíveis ao engano, o que estragaria toda a doutrina. Se esse fosse o sentido, então
por que o próprio Paulo quer que as mulheres mais velhas ensinem às mais novas (Tt 2.3-5)? A
questão não é se as mulheres têm mentes claras o suficiente para captar o que é ensinado na
Escritura. Se estivéssemos apenas falando sobre uma habilidade de captar e articular a verdade,
não há nada na Escritura que nos faça pensar que os homens são melhores estudantes do que as
mulheres. Considerando somente esse quesito, as mulheres são excelentes estudantes.
Lembre-se do contexto da razão apresentada. O que Eva fez no Jardim? Ela ensinou Adão, e
usurpou a autoridade sobre ele (Gn 3.6). Ela fez duas coisas que Paulo restringiu às filhas de
Eva. A serpente ensinou à mulher, e a mulher guiou o homem. O texto diz que “a mulher viu”
quão bom era o fruto daquela árvore; não é dito que Adão tenha feito o mesmo. Eva não havia
sido criada ainda quando Deus disse a Adão, em termos inconfundíveis, para ficar longe daquela
árvore. Eva foi enganada a respeito daquela negociação. Adão estava ali, e ele sabia exatamente
o que Deus lhe havia dito. Paulo disse que Adão seguiu Eva ao pecado; ele seguiu seu ensino,
sem ter sido enganado. Em outras palavras, Eva foi iludida e Adão pecou rebeldemente,
rejeitando a palavra de Deus de olhos bem abertos. O pecado de Adão não foi cronologicamente
o primeiro, mas Paulo insiste que foi a rebelião de Adão, não a de Eva, que trouxe o pecado ao
mundo como algo permanente (Rm 5.12).
O pecado envolvido em comer dessa árvore não era — como muitos presumem — um
pecado sexual, mas um instinto perspicaz levou Milton a descrever as consequências sexuais
desse ato:
Então ele, de escrúpulos despido,
Sabendo bem o que fazia, come
Não enganado mas... louco e vencido
Pelo poder dos feminis encantos.[3]
Então, o que fez Adão se rebelar de olhos bem abertos? Ele sabia que aquilo que Eva estava
dizendo era conversa da carochinha, mas a seguiu mesmo assim. Ele a seguiu em seu engano,
sabendo se tratar de engano, porque estava fascinado por ela e não queria perdê-la. Quando as
mulheres ensinam aos homens, e quando as mulheres mandam nos homens, há nisto um
componente sexual distorcido e em nada saudável. Quando os homens ensinam as mulheres, o
elemento sexual pode não ser saudável (1Tm 5.2); mas quando as mulheres ensinam aos homens,
a coisa toda está desarranjada.
Quando uma boa ordem está estabelecida, os homens às vezes são ímpios e abusam de sua
autoridade. Como Hofni e Fineias, eles abusam das mulheres no exercício de seu ministério
(1Sm 2.22). Entretanto, quando a ordem inteira é ímpia, quando as hierarquias são invertidas, a
imoralidade corre solta. Se alguém se dispuser a questionar comigo esse ponto específico,
poderia derrotar meu argumento fazendo uma lista de todas as denominações que começaram a
ordenar mulheres na última geração, e mostrar como isso deu início a uma explosão de castidade
moral, pureza e fidelidade. Buscar o florescimento da castidade em tais cenários é como caçar
numa selva. Apenas encare a questão diretamente. Aquelas denominações que laboraram na
controvérsia quanto à ordenação de mulheres uma geração atrás certamente se moveram. Suas
controvérsias agora dizem respeito a saber se os sodomitas devem usar sodomitras[4] na
procissão solene no corredor central.
Quando as mulheres se tornam pastores dos homens, ensinando-os e tendo domínio sobre
eles, e os homens o permitem, de forma consciente, o que vem a seguir? A próxima coisa é a
queda, e o Senhor nos descobrindo em nossa nudez. O próximo capítulo na história é de
denominações inteiras se escondendo nos arbustos. Quando os homens seguem um mestre como
Jezabel de Tiatira, não o fazem porque as razões doutrinárias que ela apresenta os compele a isso
e suas credenciais acadêmicas os impressiona, mas porque segui-la irá aumentar em muito suas
chances de dormir com ela (Ap 2.20). Se um profeta vem profetizando vinho e bebida forte (Mq
2.11), ele está certo de que terá seguidores. E se é uma profetisa, declarando que amor é graça e
graça é sexo, então, melhor ainda. E o fato de que muitos acham esse tipo de observação
insultante é a razão porque a coisa ainda funciona, mesmo após todos esses anos. Um dito
evangélico comum é que muitos perdem o céu por um palmo, que é a distância entre cabeça e
coração. Também precisamos lembrar de que muitos outros o perdem por três palmos.
O último elemento nessa passagem é aquela incômoda frase “será preservada através de
sua missão de mãe”. Sem gastar muito tempo nisto, gostaria de continuar a ler essa passagem
como uma explicação de Paulo do relato de Gênesis. Se pensarmos assim, e tomarmos a
linguagem em seu real sentido, evitamos as opções de dizer que as mulheres geralmente são
salvas engravidando e tendo filhos, ou que são preservadas (salvas) por meio do parto. Lembre-
se de que Paulo está defendendo aqui que todas as mulheres se encontram em Eva, e que Eva
representa todas as mulheres. Parafraseada com esse entendimento, a sentença poderia ser lida
assim: “Eva será salva por meio do nascimento de filhos, o nascimento do Messias — se as
mulheres permanecerem em fé, e amor, e santificação, com bom senso”.[5]
Tomando as duas coisas juntas, é difícil evitar a conclusão a que chegou James Hurley:
“Concluímos, portanto, que Paulo pretendia que as mulheres não deveriam ter autoridade de
ensino na igreja”.[6]
Questões similares são levantadas em outro conjunto de passagens de Paulo sobre o
relacionamento de homens e mulheres:
Quero, entretanto,que saibais ser Cristo o cabeça de todo homem, e o homem, o cabeça da mulher, e Deus, o
cabeça de Cristo. Todo homem que ora ou profetiza, tendo a cabeça coberta, desonra a sua própria cabeça. Toda
mulher, porém, que ora ou profetiza com a cabeça sem véu desonra a sua própria cabeça, porque é como se a
tivesse rapada. Portanto, se a mulher não usa véu, nesse caso, que rape o cabelo. Mas, se lhe é vergonhoso o
tosquiar-se ou rapar-se, cumpre-lhe usar véu. Porque, na verdade, o homem não deve cobrir a cabeça, por ser ele
imagem e glória de Deus, mas a mulher é glória do homem. Porque o homem não foi feito da mulher, e sim a
mulher, do homem. Porque também o homem não foi criado por causa da mulher, e sim a mulher, por causa do
homem. Portanto, deve a mulher, por causa dos anjos, trazer véu na cabeça, como sinal de autoridade. (1Co
11.3-10)
Assim como alguns descartam a instrução apostólica em Timóteo proibindo que as
mulheres ensinem por causa da instrução próxima sobre cabelo trançado e joias, assim também
outros descartam suas instruções aqui por causa da questão do comprimento do cabelo. Como o
comprimento do cabelo é, por óbvio, culturalmente arbitrado (assim dizemos, sendo arbitrários
em nossa análise), então o ensino sobre liderança deve ser culturalmente relativo. Tcharam!
Palmas para o gênio!
Deus não é de confusão, e sim de paz. Como em todas as igrejas dos santos, conservem-se as mulheres caladas
nas igrejas, porque não lhes é permitido falar; mas estejam submissas como também a lei o determina. Se,
porém, querem aprender alguma coisa, interroguem, em casa, a seu próprio marido; porque para a mulher é
vergonhoso falar na igreja. (1Co 14.33-35)
Vamos considerar essas duas passagens de Coríntios juntas. E à medida que o fazemos, é
importante notar que não teremos tempo ou espaço aqui para tratar da questão mais ampla da
natureza, duração e extensão dos dons espirituais discutida em Coríntios — dons como línguas,
interpretação, profecia e cura. Não trataremos dos prós e contras do debate cessacionista aqui —
isso é questão para outra hora. Nosso interesse em discutir esses dons irá simplesmente centrar-
se em relação ao comportamento das mulheres cristãs no primeiro século, e como isso se liga às
exigências bíblicas com respeito às mulheres falando ou ensinando na igreja da época e ainda
agora.
Antes de começarmos a explicar Paulo por meio de apelos à cultura que o circundava,
precisamos cuidadosamente notar ao que ele apela como base para suas afirmações. Antes de nós
dizermos que o tamanho do cabelo não é obrigatório para nós hoje, o que ele diz? Ele diz que a
natureza mesma nos ensina que o cabelo comprido é uma glória para a mulher e que é uma
desgraça para o homem. Ele não faz qualquer apelo à moda em voga em seus dias.
Antes que a discussão perca o rumo e se torne caricata, deixe-nos dizer que o árbitro
quanto a comprido e curto não deve ser um monitor de dormitório particularmente rígido em
uma faculdade bíblica fundamentalista. Paulo diz rapar, não “menos do que meio centímetro,
com laterais cor de rosa ao longo das orelhas”. Ele diz comprido, não “mais de meio metro”.
Longo e curto são termos relativos, comparativos. Uma caminhada curta poderia ter quinhentos
metros, e uma longa uns cinco mil quilômetros, mas se esses são termos comparativos, o que eles
estão comparando? A resposta óbvia é que eles se comparam um ao outro. Quando eu era garoto,
meu pai tinha cabelo curto (corte militar) e minha mãe tinha cabelo longo (na altura dos ombros).
Quando meus filhos eram pequenos, eu tinha cabelo curto (na altura dos ombros) e minha esposa
tinha cabelo longo (até a cintura). Os costumes podem ajustar essas coisas, mas os hábitos
culturais não podem aboli-las, invertê-las, ou fingir que elas nunca existiram. Tal como as
mulheres cristãs hoje não devem usar joias e adereços de um modo ostentador porque seguem
uma regra apostólica, assim também as mulheres cristãs modernas não devem cortar seu cabelo
como um garoto. E os homens não devem usar cabelo longo, naquele comprimento de jogador de
futebol que faz com que outros homens comecem a procurar por uma tesoura de jardinagem.
Dito isto, Paulo baseia suas afirmações no capítulo 11 na própria natureza, e no capítulo 14
as suas restrições sobre mulheres falando durante o culto são baseadas nos costumes das igrejas
da Nova Aliança e também na Lei. Não é permitido às mulheres falar, diz ele, mas devem estar
em submissão como a Lei também o diz. Isto, que parece ser uma regra apostólica nas igrejas,
tem o apoio adicional de ser uma exigência da Torá. Paulo não cita a lei explicitamente, mas ele
muito provavelmente tem em mente Números 30.3-16. O ensino daquela passagem é inequívoco,
e o último verso a torna claramente uma lei, não uma sugestão ou diretriz. “São estes os estatutos
que o SENHOR ordenou a Moisés, entre o marido e sua mulher, entre o pai e sua filha moça se ela
estiver em casa de seu pai” (Nm 30.16).
Mas o que devemos fazer com o fato de que, no capítulo 11, Paulo parece estar permitindo
que as mulheres orem e profetizem, desde que o façam de um modo que mostre respeito por seu
marido, e então aqui, no contexto de sua discussão da profecia geral, onde se esperaria que as
mulheres pudessem seguir suas instruções anteriores, ele aparece excluindo-as explicitamente? A
questão é reconhecidamente difícil. Não penso que devemos dizer que Paulo mudou de ideia —
“pensando melhor...” Não acho que seja satisfatório argumentar que as profecias que as mulheres
traziam no capítulo 11 não eram na igreja, porque essa discussão inteira pressupõe a questão do
âmbito público. Se as mulheres estavam orando ou profetizam em casa em secreto (Mt 6.6),
então por que houve ali a necessidade de exortá-las a que não constrangessem o marido? Paulo
estava falando explicitamente sobre o costume das igrejas (1Co 11.16).
Então, se ele não mudou de ideia, e se ele está falando sobre o culto público da igreja em
ambas as passagens, como elas podem ser harmonizadas? Vamos considerar que as profetisas
tinham a permissão de falar suas profecias em público na igreja (1Co 11.4-5), e que as mulheres
podiam orar em público — desde que tivessem cabelo, dado a elas como mantilha, de modo que
honrassem e respeitassem o marido. Isso significa que absoluto silêncio não era uma exigência
para as mulheres em um serviço de culto, e que as passagens de 1 Timóteo e 1 Coríntios não
podem ser interpretadas para exigir esse tipo de silêncio absoluto. No entanto, elas significam
alguma coisa, e o que poderia ser isso?
Quando chegamos ao capítulo 14, Paulo está tentando estabelecer decoro entre os profetas
em geral — profetas de todo tipo. Ele lhes dá certos protocolos a seguir, e se trata de algo do
tipo: quando todos vocês estiverem juntos, vocês têm diferentes dons para oferecer (v. 26). Se for
falar em línguas, então que sejam dois ou no máximo três, sucessivamente, e com alguém que
interprete (v. 27). Se não há intérprete, então aquele que possui o dom deve manter-se em
silêncio, e falar com Deus somente (v. 28). A mesma regra vale para os profetas — dois ou no
máximo três devem falar (v. 29). Os outros profetas devem pesar e avaliar as profecias. A
palavra usada aqui é diakrinō, significando que os outros profetas sentam-se para julgar as
revelações que surgem. Se uma revelação chega a um profeta enquanto outro profeta está
falando, o primeiro deve ceder espaço (v. 30). Os profetas devem falar um de cada vez, a fim de
que todos possam aprender (manthanō) e ser encorajados (v. 31). O espírito de verdadeira
profecia não arrebata os profetas (v. 32) — não é um frenesi — e isso significa que é possível
que eles se controlem e sigam as instruções de Paulo. Deus não é um Deus de confusão (v. 33).
Assim, a coisa importante a perceber é que, nesse contexto, quando Paulo trata das mulheres, ele
não está mudando de assunto.
Quando alguém traz uma profecia, os outros devem ficar em silêncio (v. 30), e devem
aprender (v. 31). Isso é muito similar àquilo que Paulo diz às mulhereslogo depois, com uma
diferença. Elas também devem ficar em silêncio (v. 34), e se querem aprender (v. 35), elas
devem conversar com o marido em casa. Disto deduzo que as mulheres não foram excluídas de
falar profeticamente sob inspiração do Espírito, mas foram excluídas da análise judiciosa sobre
aquilo que outros profetas estavam proferindo. E por quê? Porque as mulheres não devem
ensinar ou exercer autoridade sobre os homens (1Tm 2.12). Longe de ser uma exceção em favor
dos igualitaristas, isso fornece um poderoso argumento contra mulheres pregando nas igrejas de
hoje. Se o apóstolo Paulo não permitiria que uma profetisa inspirada — cujas palavras vinham do
próprio Espírito — se juntasse para pesar e julgar a profecia proferida, então por que ele
permitiria que ela fizesse isso só porque tem um mestrado em teologia?
A pregação hoje dá continuidade a um aspecto do ofício profético, mas o faz continuando
o trabalho de escrutínio, discernimento, avaliação, exegese e proclamação. Os pregadores hoje
não são inspirados do mesmo modo que Isaías, Jeremias, Ágabo ou as filhas de Filipe o foram.
Uma vez que a graça da inspiração ou expressão diretas foi descontinuada, o que temos agora é o
registro escrito de expressões proféticas. A tarefa do pregador hoje é a de discernir, estudar, e
declarar os resultados com autoridade, e esse é um aspecto do ofício profético do qual as
mulheres foram excluídas, mesmo nos dias em que algumas delas eram de fato profetisas. Como
veremos com mais detalhes na seção seguinte, as mulheres realmente participaram na entrega de
revelação inspirada. Uma vez que os dias de tão abençoada expressão ainda não haviam cessado,
elas foram veículos da comunicação do Espírito à sua igreja. Elas participaram nessa graça,
juntamente com os homens. Todos sabiam que em razão de estarem lidando com a revelação
divina, era Deus quem os estava ensinando diretamente e o sexo do mensageiro não fazia
diferença. Deus também falou por meio da jumenta de Balaão, mas não se conclui daí que
jumentos devem ser enviados ao seminário — embora eu saiba que alguns seminários estariam
propensos a aceitar. Mesmo naqueles dias de inspiração, uma vez que o dom de revelação estava
completo, as mulheres não podiam fazer parte do governo da igreja ou ensinar aos homens.
Ao mesmo tempo, não devemos presumir que qualquer posição que exclua as feministas
deva ser bíblica. Não pode ser assim — seria fácil demais. Como em tantas outras questões,
temos de distinguir diferentes níveis e camadas. Se, como notei, nossos santos pais costumavam
ouvir mulheres sábias dos tempos antigos, isso não é argumento para que hoje em dia ouçamos
mulheres tolas. Eu posso não ter problema com a rainha Arwen sentada junto à fonte, cantando
uma canção de Valinor, e ainda ter muitos problemas com uma teóloga feminista escrevendo
com sobrancelhas franzidas sobre as hierarquias privilegiadas da cultura de estupro, com a
observação correlata de que qualquer coito é sempre inerentemente colonial, racista e abusivo,
especialmente se ambas as partes estiverem se divertindo.
Há três ofícios básicos para o povo de Deus, e todos eles encontram seu cumprimento
final no Senhor Jesus. Ele é nosso profeta, sacerdote e rei. Antes de sua encarnação, os ofícios
ocupados por seu povo aguardavam, todos eles, seu cumprimento tipológico, e, após sua
ascensão, nós agora desempenhamos nossos ofícios como representantes ministeriais, como
participantes de seus dons e ofício. Em tudo isso, devemos seguir suas instruções
cuidadosamente, sem qualquer comprometimento prévio que tenhamos feito com incrédulos, e
deixar que Deus cuide das consequências de nossa obediência.
Como demonstrado anteriormente, a fé bíblica nada conhece sobre sacerdotisas, mas
encontramos algumas profetisas, mulheres que foram inspiradas pelo Espírito a falar palavras de
Deus. Miriam era profetisa (Êx 15.20), bem como Débora (Jz 4.4). Hulda era profetisa (2Rs
22.14; 2Cr 43.22). A esposa de Isaías era provavelmente dotada de profecia a seu próprio modo
(Is 8.3). Isso não se limitou aos tempos do Antigo Testamento. No livro de Lucas, Ana é
identificada como profetisa (Lc 2.36), e Filipe o evangelista tinha quatro filhas virgens que eram
profetisas (Ap 2.20). Enquanto dava instruções aos corintos, Paulo pressupõe que certas
mulheres naquela igreja tinham o dom de profecia (1Co 11.4-5), e ele as instrui sobre como
desempenhar esse ofício em um culto cristão de modo que não desonrem ao marido. Um dos
destaques da Nova Aliança foi que o Espírito seria derramado muito mais abundantemente do
que fora no tempo do antigo pacto, e essa amplitude incluiria as mulheres. É dito que nossas
filhas irão profetizar (At 2.17), assim como nossas servas (At 2.18). Isabel não foi chamada de
profetisa, mas falou palavras que foram inspiradas pelo Espírito Santo, e que são parte da
Sagrada Escritura (Lc 1.41-45). E a mãe do nosso Senhor está na mesma posição — não é
chamada profetisa, mas certamente alguém que cumpriu esse ofício fielmente (Lc 1.46-55).
Qualquer teologia do papel do homem e da mulher na igreja que não lide com esse amplo
testemunho bíblico em sua totalidade é uma teologia deficiente. Nossa tarefa não é ser
tradicional, ou reacionário, mas bíblico. O ofício pastoral repousa fortemente sobre a tradição
profética, e por isso, se temos profetisas, então por que não pastoras? A resposta a essa questão
está ligada, de modo nada surpreendente, àquilo que temos de esperar dos homens no ministério.
Descobrimos que é muito fácil ficar numa situação em que apenas treinamos escribas que
tergiversam enquanto andam (Mt 7.29), e nos recusamos a ter qualquer coisa a ver com homens
que são realmente filhos do trovão. Então, tendo estabelecido um clube só para garotos que não
possui qualquer autoridade, tentamos manter as mulheres fora dele. Mas por quê? Quem se
importa?
A questão é profecia, não mulheres. O que a Escritura tão claramente descreve as
mulheres fazendo (declarando palavras inspiradas por Deus) é algo que também não
encontramos homens fazendo hoje. As mulheres não estão excluídas disto enquanto os homens
seguem adiante. As Escrituras agora estão completas, e aquilo que somente os homens podiam
fazer no primeiro século é aquilo que somente os homens podem fazer agora.
Certamente há espaço para discussão de alguns dos detalhes em torno de tudo isso.
Contudo, dado o cerne do que Paulo exige de nós aqui — mulheres sendo excluídas de exercer
qualquer papel autoritativo de ensino — devemos nos contentar com sua conclusão:
Porventura, a palavra de Deus se originou no meio de vós ou veio ela exclusivamente para vós outros? Se
alguém se considera profeta ou espiritual, reconheça ser mandamento do Senhor o que vos escrevo. E, se
alguém o ignorar, será ignorado. Portanto, meus irmãos, procurai com zelo o dom de profetizar e não proibais o
falar em outras línguas. Tudo, porém, seja feito com decência e ordem. (1Co 14.36-40)
Febe e outras figuras interessantes
A relação entre homens e mulheres no primeiro século era geralmente bem diferente daquilo que
temos hoje. Como consequência, geralmente perdemos ou passamos por cima de seções da
Escritura para as quais não temos categorias reais. Por exemplo, nas igrejas evangélicas é comum
ter apenas dois ofícios, presbítero e diácono, e nós então tentamos pôr tudo o que encontramos na
Bíblia com respeito aos ofícios na igreja em uma dessas duas categorias. Mas o que dizer sobre o
ofício de viúva na igreja?
A fé cristã não nos encoraja a visões românticas ou sentimentais da natureza humana,
como a passagem a seguir amplamente demonstra. À medida que aprendemos a viver como Deus
deseja que vivamos, descobrimos que os resultados costumam ser notáveis:
Não repreendas ao homem idoso; antes, exorta-o como a pai; aos moços, como a irmãos; às mulheres idosas,
como a mães; às moças, como a irmãs, com toda a pureza. Honra as viúvas verdadeiramente viúvas. Mas, se
alguma viúva tem filhos ou netos, que estes aprendam primeiro a exercer piedade para com a própriacasa e a
recompensar a seus progenitores; pois isto é aceitável diante de Deus. Aquela, porém, que é verdadeiramente
viúva e não tem amparo espera em Deus e persevera em súplicas e orações, noite e dia; entretanto, a que se
entrega aos prazeres, mesmo viva, está morta. Prescreve, pois, estas coisas, para que sejam irrepreensíveis. Ora,
se alguém não tem cuidado dos seus e especialmente dos da própria casa, tem negado a fé e é pior do que o
descrente. Não seja inscrita senão viúva que conte ao menos sessenta anos de idade, tenha sido esposa de um só
marido, seja recomendada pelo testemunho de boas obras, tenha criado filhos, exercitado hospitalidade, lavado
os pés aos santos, socorrido a atribulados, se viveu na prática zelosa de toda boa obra. Mas rejeita viúvas mais
novas, porque, quando se tornam levianas contra Cristo, querem casar-se, tornando-se condenáveis por
anularem o seu primeiro compromisso. Além do mais, aprendem também a viver ociosas, andando de casa em
casa; e não somente ociosas, mas ainda tagarelas e intrigantes, falando o que não devem. Quero, portanto, que as
viúvas mais novas se casem, criem filhos, sejam boas donas de casa e não deem ao adversário ocasião favorável
de maledicência. Pois, com efeito, já algumas se desviaram, seguindo a Satanás. Se alguma crente tem viúvas
em sua família, socorra-as, e não fique sobrecarregada a igreja, para que esta possa socorrer as que são
verdadeiramente viúvas. (1Tm 5.1-16)
O apóstolo Paulo está concluindo suas exortações a Timóteo dizendo a ele que tipo de
relacionamento o pastor deve ter com os diferentes tipos de pessoas na igreja, e as linhas
divisórias que ele menciona são idade e sexo (v. 1-2). Timóteo deveria tomar especial cuidado
com sua pureza e reputação entre suas irmãs no Senhor (v. 2). As viúvas que são genuinamente
sozinhas e sem amparo devem ser ajudadas pela igreja (v. 3), mas é dos parentes a
responsabilidade primária de ajuda, não da igreja (v. 4). Uma verdadeira viúva é definida como
aquela que está sem amparo, crendo em Deus, e dedicada à oração contínua (v. 5). Isso contrasta
com uma mulher que se entrega aos prazeres — essa vive em morte (v. 6). Mesmo que o marido
tenha morrido, ela não é uma viúva conforme a descrição de Paulo aqui. Ela não tem os pré-
requisitos para se tornar uma viúva da igreja. A igreja deve aprender o padrão apostólico (v. 7).
Se os filhos ou netos não cuidam das viúvas de sua família, estão abaixo até mesmo do padrão
moral mantido pelos pagãos (v. 8).
Paulo então trabalha para evitar certo abuso, definindo qualificações que tinham de ser
satisfeitas por qualquer viúva que fosse inscrita para prestar serviço à igreja. Ela tinha de ter ao
menos sessenta anos, e tinha de ter sido uma esposa fiel ao longo dos anos (v. 9). Tinha de ter
uma reputação de boas obras — tenha criado filhos, exercido hospitalidade, lavado os pés aos
santos, socorrido os atribulados — em suma, ela tinha de ter sido o tipo de pessoa que se
dedicava a toda boa obra (v. 10).
As viúvas mais jovens estavam excluídas de tais inscrições porque seu desejo sexual
poderia conduzi-las para longe de Cristo (v. 11). Se isso acontecesse, incorreriam na condenação
e vergonha por deixarem sua antiga fé (v. 12). Apoiadas financeiramente pela igreja, mas sem
hábitos de vida reconhecidamente piedosos, elas voltariam aos problemas reais (v. 13). Ao invés
de serem inscritas pela igreja, diz Paulo, as mulheres mais jovens que perderam o marido
deveriam se casar novamente e se ocupar com a vocação doméstica (v. 14). Paulo fala daquilo
que já viu (v. 15). A título de síntese, ele diz que a família é quem primeiro deve cuidar das
viúvas, a fim de que a igreja possa honrar aquelas que são de fato viúvas (v. 16). Como a
conclusão a que ele chega pode ser ultrajante aos ouvidos modernos, devemos ter o cuidado de
preparar o caminho cuidadosamente.
Ainda não entramos neste capítulo, de modo que precisamos definir o cenário. A Bíblia
tem muito a dizer sobre nossas responsabilidades bíblicas para com as viúvas, então vamos
começar aí. Deus é o defensor das viúvas (Sl 68.5; Dt 10.18; Sl 146.9; Pv 15.25). Quando
homens ímpios se aproveitam das viúvas, a ira de Deus se acende contra eles (Êx 22.22ss). Os
magistrados que abusam das viúvas em sua vulnerabilidade serão julgados pelo Senhor (Dt
27.19; 24.17). A lei exigia que os fazendeiros fizessem provisão para as viúvas deixando colheita
para elas (Dt 14.28-29; 24.19ss; 26.12-13). Uma reclamação comum dos profetas era que a nação
abusava das viúvas ao invés de protegê-las como deveriam fazer (IS 1.17, 23; Jr 7.5ss; 22.3;
Ez22.7; Zc 7.10; Ml 3.5; Sl 94). A religião pura e sem mácula deve sempre ser medida em
termos de seu comportamento para com as viúvas e órfãos (Tg 1.27). Em suma, acertar quanto a
esse ponto não é uma questão de somenos.
Em 1 Timóteo 3, Paulo dá certas características exigidas para “as mulheres”. Isso ocorre
no contexto de suas instruções concernentes aos diáconos, e assim comentaristas e tradutores têm
com frequência discutido se essas mulheres aqui eram esposas de diáconos, ou se eram
diaconisas, exercendo legitimamente o ofício. E se fossem esposas de diáconos, é de se supor,
dada a descrição, que estavam envolvidas com a obra. Mas nenhuma dessas opções parece
adequada. Se interpretamos “mulheres” como esposas de diáconos, parece estranho que sejam
dadas exigências tão específicas para as esposas dos diáconos, e nenhuma exigência tenha sido
feita às esposas dos presbíteros. Mas se traduzirmos “mulheres” como diaconisas, isso nos traz
problemas com a questão das mulheres exercendo ofício na igreja. Os diáconos certamente têm
autoridade na igreja, e se as mulheres podem tomar assento na junta diaconal, como isso se
adequa à rejeição que Paulo faz, apenas alguns versos antes (1Tm 2.12), de mulheres exercendo
autoridade sobre homens? O problema básico foi mencionado anteriormente: nós tentamos
encaixar certos ofícios do primeiro século em nossos dois ofícios, e eles não se encaixam.
Aqui vão algumas considerações básicas. Primeiro, a classe de viúvas era definida pelo seu
serviço, não primariamente pela necessidade. O que ela recebia era “honra” (v. 3). A inscrição
era baseada em seu caráter, não na necessidade (v. 9-10), o critério de idade significava que a
necessidade não era o critério porque a necessidade não espera até os sessenta (v. 9), e
simplesmente estar fora da lista de auxílio dos diáconos em razão do casamento não é
deslealdade a Cristo (v. 11). Essas são claramente mulheres que foram “adotadas” pela igreja, e
se esperava que tivessem um estilo de vida aprovado que mostrasse que seriam uma bênção para
a igreja em seu novo chamado vocacional. Esse arranjo, uma vez feito, tinha caráter permanente
e era selado com um voto religioso.
Alguns dos pais da igreja primitiva pensavam que Paulo estava desencorajando aqui um
segundo casamento e exaltando o celibato ou virgindade. Esse é justamente o exato oposto — ele
estava aqui encorajando um segundo casamento, e desencorajando o celibato. Isso não contradiz
o que ele ensinou em outra parte (1Co 7.8, 40) porque as mulheres em questão aqui não tinham o
dom que Paulo assume como necessário para seguir uma vida de celibato. E a inscrição como
viúva era permitida somente para mulheres que haviam passado da menopausa (v. 9) e não
tinham família que pudesse cuidar delas (v. 16). Isso significa que mesmo se uma mulher fosse
espiritualmente qualificada para servir à igreja inscrita como viúva, era a família quem ainda
deveria cuidar dela.
O que as viúvas deveriam ter feito para estarem aptas a exercer esse ofício na igreja, e o
que era que as viúvas mais jovens deveriam fazer? As mulheres mais velhas confiavam em Deus
e eram dedicadas à oração (v. 5). Elas haviam sido esposas fiéis ao marido (v. 9). Tinham de ter
uma boa reputação de boas obras (v. 10), e essas boas obras incluíam criar filhos, demonstrar
hospitalidade, e ser dedicada à filantropia. Para as mulheres mais jovens, Paulo fortemente roga
que se casem novamente (v.14), criem filhos (v. 14), se tornem donas de casa (a palavra
significa, literalmente, “déspotas do lar”, v. 14), e não deem aos caluniadores de fora nada que
dizer sobre a igreja.
E, ao fazer tudo isso, o que essas mulheres estariam evitando? Obviamente, o contrário de
todas as coisas já mencionadas, mas há pecados específicos que também são citados. De acordo
com Paulo, viver em luxúria é o mesmo que viver na morte (v. 6). Mulheres que vivem do modo
ordenado pelo apóstolo estão evitando votos precipitados (v. 11). Receber a aceitação da igreja
sem um caráter aprovado é uma verdadeira pedra de tropeço. Mulheres em tal posição iriam
naturalmente aprender a viver ociosas, começar a zanzar inutilmente, e a falar de modo
descuidado, arrumando confusão e ocupadas com a vida alheia (v. 13).
 Pondo tudo isso junto, o que encontramos? A palavra em 1 Timóteo 3.11 é simplesmente
“mulheres”, com artigo definido (quanto a mulheres), sem pronome possessivo (suas mulheres).
Acontece que a palavra em grego para esposas e mulheres é a mesma (gunē), e assim a decisão
tem de ser feita por meio do contexto. Para os modernos, a ambiguidade neste verso faz com que
os intérpretes geralmente se dividam em dois lados. Os primeiros acreditam que essa passagem
define as qualificações da esposa do diácono. O segundo acredita que está se referindo às
mulheres que eram diaconisas ordenadas. Mas há outras opiniões.
A igreja antiga certamente tinha uma ordem de diaconisas, tal como Calvino em Genebra,
mas eles não tinham mulheres ordenadas ao diaconato; tinham diaconisas que não estavam de
forma alguma listadas entre os diáconos homens. Esse representava um ofício completamente
diferente do diaconato. O nome desse ofício era viúva. Isso é crucial para nosso entendimento,
por várias razões. Primeiro, Paulo acabou de nos dizer que as mulheres não podem exercer
autoridade sobre os homens na igreja (1Tm 2.12), e o ofício de diácono (embora conduzido por
homens para servir de coração) ainda envolve responsabilidade e autoridade. Segundo, a ideia de
que as mulheres podem partilhar o exercício do ofício de diácono juntamente com os homens foi
uma ideia que não surgiu na igreja antes do século 19, e que veio como uma concessão às
demandas do feminismo nascente. Como consequência, se entendermos que há mais de um
ofício de serviço em vista aqui, os problemas evaporam.
Assim, a diaconisa não era a esposa de um diácono específico. O ofício de diaconisa foi
compreendido pela igreja primitiva como sendo estabelecido em 1 Timóto 5.9-12 — passagem
que já examinamos. Há dois tipos de viúva ali: a que simplesmente perdeu o marido, e a que é
inscrita e fez um voto de celibato. O segundo tipo de mulher não é alguém que recebe aquilo que
poderíamos chamar de auxílio diaconal, mas é antes alguém que ajuda a “administrar” tal
auxílio.
Por toda a igreja primitiva, o ofício de diaconisa foi compreendido como estabelecido
nessa passagem de 1 Timóteo. Por exemplo, o Concílio da Calcedônia (451 d.C.) reduziu a
exigência de idade estabelecida por Paulo de sessenta para quarenta (o que não tinham o direito
de fazer). Se uma mulher se casasse após ser inscrita nesse ofício, ela e seu novo marido seriam
excomungados. Em 324 d.C., o Concílio de Niceia (Cânon 19) punha as diaconisas entre os
leigos, uma vez que elas não haviam sido ordenadas, mas, ao invés disso, simplesmente
“assumiram o hábito”.
Isso nos ajuda a entender as mulheres na igreja primitiva que trabalhavam na obra com os
homens, como Febe claramente o fez (Rm 16.1). O que temos aqui é uma espécie de freira,
dedicada a Cristo. Os protestantes podem ficar tristes por eu ter usado a palavra freira, mas meus
amigos católico-romanos ficarão ainda mais infelizes quando souberem quais realmente são as
qualificações para essa posição. Concordo totalmente com aqueles que insistem que a igreja está
desesperadamente em busca de tais dons, desempenhados como somente mulheres piedosas
poderiam desempenhá-los. Vamos fazer isso. Mas se quisermos retornar a uma visão bíblica
deste ofício, então devemos chamá-lo do que a Bíblia o chama, e devemos retornar às
qualificações e padrões estabelecidos na Bíblia para tal ofício. Reestabeleçamos por completo o
ofício de viúva, e estabeleçamos a idade mínima de 60 anos. Exijamos um voto de celibato, e
excomunguemos qualquer mulher nessa posição que se case novamente após assumir o ofício.
Afinal de contas, elas se tornaram levianos contra Cristo (1Tm 5.11) e condenáveis (v. 12).
Como chegamos aqui
Pode parecer estranho ouvir isso de alguém que está argumentando em prol da posição
conservadora, mas devemos discutir por que o ensino do texto é simplesmente irrelevante.
Estabelecer isto exegeticamente não estabelecerá coisa alguma, como várias décadas têm
demonstrado. Se há uma enorme pressão para seguir nessa direção, e de fato há, então
precisamos trazer o evangelho para suportar o que está causando a pressão. Tentar deter o
movimento para ordenação de mulheres por meio de argumentos meramente textuais é como
tentar impedir a erupção de um vulcão forrando uma lona sobre ele.
Dependendo da questão e do texto, os liberais às vezes são mais confiáveis em relação à
mensagem do texto do que os conservadores. Isso porque os liberais, diferente dos
conservadores, não estão presos aos resultados de sua exegese. Por confessar que o ensino do
texto é normativo, os conservadores têm de demonstrar estar fazendo aquilo que o texto ordena.
O liberal pode dizer que o apóstolo Paulo proibiu as mulheres de ensinar na igreja — bem, isso é
ridículo, mas — é o que ele disse. Ao menos temos um resumo acurado de qual era a posição de
Paulo. O conservador pode não chegar a dizer que Paulo estava errado, mas — porque, admitam
ou não, as igrejas conservadoras são também pressionadas pelo zeitgeist — ele não pode
simplesmente se dar ao luxo de agir como se Paulo estivesse completamente correto. O que
fazer? O que fazer? Hora de estudar grego!
O problema é que, desde muitos séculos, a masculinidade está fugindo do nosso alcance.
Muitos fatores têm contribuído para isso, mas o fato é que, por causa da tradição, os homens
continuam ocupando o ministério. Ao mesmo tempo, por causa do sentimentalismo e pietismo,
as definições de piedade se tornaram cada vez mais femininas. A definição do que constitui
piedade devota mudou-se para território feminino, e os ministros têm trabalhado para lidar com
expectativas diferentes. Ao mais doce e gentil garoto na igreja é que dizem, enquanto cresce, que
ele deve considerar o seminário. O garoto que acumula dezessete olhos roxos e três fraturas nos
braços cresce sem jamais ouvir o mesmo de ninguém. As razões para isso são muitas, mas elas
incluem a mudança medieval na utilização do imaginário do casamento usado pela Escritura para
referir-se ao povo de Deus enquanto corpo reunido, passando para um piedoso dever de cada
indivíduo cristão. “A transferência do papel de noiva da comunidade para a alma ajudou a criar o
individualismo piedoso que dissolveu a comunidade eclesiástica no Ocidente.”[7]
Ora, se as definições de “ministério piedoso” são essencialmente femininas, que sentido
faz manter aquelas que são de fato femininas fora desse posto? As mulheres podem fazer melhor
do que os homens aquilo que nós consideramos que é ser um ministro, porque as mulheres são
naturalmente melhores na piedade feminina do que os homens. Os tradicionalistas estão lutando
na retaguarda, tentando manter as mulheres fora de um posto para o qual elas são claramente
mais qualificadas do que os homens. Os sentimentos podem ter uma grande importância no
debate, mas a questão é essencialmente saber se apenas homens ou tanto homens como mulheres
devem ocupar o posto de um ofício essencialmente feminizado. Se alguém comete a temeridade
de sugerir que retornemos à antiga visão de um ofício genuinamente masculino, então ambos os
lados no debate contemporâneo olharão para ele com espanto. E isso permanecerá desse modo
enquanto homens complementaristas que parecem meninas persistiremem impedir mulheres
femininas de partilharem de uma ação efeminada. Em razão do modo como regredimos até este
ponto, os igualitaristas têm razão se disserem que a exclusão de mulheres do ofício ministerial é
arbitrária. Quando raciocinamos segundo os parâmetros do chamado ministerial moderno, essa
exclusão é arbitrária; mas se reconhecemos que a Palavra de Deus não somente impede as
mulheres de se tornarem ministros, mas também os ministros de agirem como mulheres,
estaremos no caminho da recuperação.
Ann Douglas destaca o modo como as coisas já foram. “O calvinismo americano possuía
nos séculos 17 e 18, e perdeu no 19, uma fibra, uma firmeza, um rigor intelectual que nossa
sociedade então e agora têm se acostumado a identificar, de um modo não totalmente impreciso
ou circular, como ‘masculinidade’....”.[8]
Considere também como chegamos a crer que as pessoas podem se mudar e transformar
para alguma outra coisa fora daquilo para o que Deus as criou, apenas porque têm o desejo de
“se reinventar”. Essa é uma suposição fundamental em muitas das controvérsias que hoje afligem
a igreja. Quando olhamos à volta, vemos nações e culturas em desordem. Há tantas coisas dando
errado que seria fácil cair em desespero. Por onde começar? Que batalhas devemos lutar, e quais
devemos deixar de lado?
Essa é, em si mesma, uma importante questão, como Martinho Lutero certa vez
sabiamente destacou:
Se eu professar, com a mais alta voz e a mais clara exposição, cada porção da verdade de Deus exceto
precisamente aquele pequeno ponto que o mundo e o diabo estão no momento atacando, eu não estou
confessando a Cristo, não importa o quão corajosamente eu possa estar professando a Cristo. Onde a batalha se
trava, ali a lealdade do soldado se prova, e ser firme em todas as outras frentes de batalha e recuar naquele ponto
é debandada e desgraça.
A razão porque chegamos a crer que homens e mulheres são intercambiáveis não é
apenas um equívoco em algum detalhe; é algo que cresce do fato de estarmos substituindo o
Deus vivo por ídolos. E estamos agora colhendo os resultados de tal substituição.
Prata e ouro são os ídolos deles, obra das mãos de homens. Têm boca e não falam; têm olhos e não veem; têm
ouvidos e não ouvem; têm nariz e não cheiram. Suas mãos não apalpam; seus pés não andam; som nenhum lhes
sai da garganta. Tornem-se semelhantes a eles os que os fazem e quantos neles confiam. (Sl 115.4-8)
E todos nós, com o rosto desvendado, contemplando, como por espelho, a glória do Senhor, somos
transformados, de glória em glória, na sua própria imagem, como pelo Senhor, o Espírito. (2Co 3.18)
Esse é um princípio ensinado repetidamente ao longo de toda a Escritura, e cuja ênfase
jamais será excessiva.[9] Estamos buscando entender a desintegração da cultura à nossa volta, e
para fazer isso corretamente devemos voltar a este princípio fundamental. O culto dirige e molda
toda a existência humana, e faz isso conforme este princípio: você se torna aquilo que adora.
Note esse princípio no texto acima. Os idólatras no salmo 115 estão cultuando ídolos que têm
boca, mas não a habilidade de falar (v. 5). Eles têm olhos, mas são cegos (v. 5). Têm ouvidos,
mas são moucos (v. 6). O nariz deles não tem a capacidade de sentir cheiro (v. 6). Suas mãos não
podem apalpar, e seus pés não caminham (v. 7). Os que fazem esses ídolos são exatamente como
tais ídolos (v. 8). Você se torna aquilo que adora.
A outro respeito, em se tratando da salvação genuína, vemos a mesma coisa. Quando
contemplamos a glória do Senhor (o que fazemos na adoração), somos transformados nessa
mesma imagem, de glória em glória. Tornamo-nos mais e mais como aquilo que adoramos (v.
18). Porque adoramos a Jesus Cristo, o verdadeiro e último homem, vamos crescendo para nossa
plena humanidade. A imagem de Deus está sendo restaurada em nós por estes meios. Na vinda
do Senhor, a pedra angular desse processo será posta no topo do templo vivo. Seremos como ele,
e por quê? Porque o veremos como ele é (1Jo 3.2).
Ora, o que isso significa para o materialismo ateu, ou para a nova era neopagã? O que
isso significa para aqueles que estão na corda-bamba do panteísmo da deusa-terra? Essas são
pessoas que creem que a realidade última é infinitamente maleável. O materialista crê que a
matéria é eterna e que, com o tempo necessário, qualquer coisa pode se transformar em qualquer
outra coisa. No começo havia uma enorme quantidade de hidrogênio, com bastante potencial. É a
isso que se resume a evolução. Qualquer coisa pode passar a ser outra qualquer. E para os
neopagãos (e os antigos também), o mesmo processo básico está ocorrendo, com um mecanismo
explicativo diferente. Para Ovídeo, o caos deu origem aos deuses, e eles por sua vez formaram
outras coisas. E pelo restante do seu livro Metamorfoses, modelar mudanças era a ordem do dia.
Isso é básico para a mente incrédula. E é a explicação teológica/religiosa para todas as formas de
alteração de gênero, dentro ou fora da igreja. Essa é a premissa oculta em todos os debates sobre
ordenação de mulheres. As pessoas hoje genuinamente creem que é possível se reinventar, mas
essa não é uma tentativa particular em relação à sua individualidade; é simplesmente uma
tentativa de refazer o mundo, tendo o eu como instrumento. “As afirmações da Bíblia sobre
sexualidade não podem ser isoladas de sua compreensão geral sobre a natureza da ordem criada,
da qual a sexualidade é um elemento fundamental.”[10]
Eis por que a questão da ordenação de mulheres não é, definitivamente, uma simples
questão de incluir mulheres no ministério cristão. Não é uma simples questão de trocar os móveis
de lugar. Diz respeito a redefinir a natureza do ministério cristão, a fim de torná-lo compatível
com uma religião completamente distinta. E é por isso que, uma vez que se chega à ordenação de
mulheres, nessa mesma geração, vemos que uma religião completamente diferente estaciona seu
carrinho na calçada e começa a descarregar todos os móveis.
Os limites sexuais necessariamente seguem esse tipo de padrão de culto. A revolta de
nossa atual geração contra o Deus triúno (que fez o céu e a terra) é uma revolta na direção de um
politeísmo pagão — múltiplos deuses, múltiplas vozes, múltiplas leis, e um clamor geral para
que seja possível selecionar o que quer que se encaixe para um indivíduo específico em um
momento específico. O nome político disto é pluralismo, e o nome filosófico e cultural é pós-
modernismo. Relativistas radicais (seja lá o que isso signifique) caíram do penhasco e não
podem escapar de fatalmente bater nas rochas íngremes abaixo — niilismo e desespero.
Enquanto caem, muitas pessoas têm a sensação temporária de absoluta liberdade, e
procuram usar essa liberdade na criação e busca de várias sexualidades. E é por isso que estamos
agora lidando com metrossexuais, sodomitas, catamitas, lésbicas, pervertidos virtuais, bissexuais,
e indivíduos transgênero — sem mencionar as variantes eclesiásticas, as lesbiterianas. Daqui a
dez anos, procure por mais variações interessantes empurrando a linha de frente, todas exigindo
respeitabilidade social — incluindo a pederastia e o bestialismo. Porque tudo isso é uma função
do pós-modernismo sexual, devemos simplesmente chamar isto tudo de “pomossexualidade”.
Você não pode crer que a realidade última é maleável em sentido último, e ainda não crer que o
mundo em que vivemos é igualmente maleável. E então se você está cansado de alguma coisa,
simplesmente rearranje. Cansado de mulheres excluídas do ministério cristão? Vote. Mude.
O Deus da Bíblia não nos permite ir por esse caminho. No princípio, Deus começou a
dividir todas as coisas. No mundo criado pelo Deus triúno da Escritura, os limites não são
borrados como em uma aquarela que estava na chuva. Deus divide, e ele ama chamar essas
divisões de boas. Deus criou céu e terra, o que criou a divisão fundamental entre aquilo que é
Deus e aquilo que não é Deus. O abismo aqui é infinito, e Deus ainda assim chamou aquilo que
estava do outro lado da divisa de bom. Tendo feito isto,Deus prosseguiu, e dividiu sol e lua, mar
e terra seca, terra e céu, e prosseguiu chamando tudo de bom (Gn 1.4, 10, 18). E então, no ápice
da criação, macho e fêmea os criou, à imagem de Deus os criou (Gn 1.27). Deus fez Adão em
dois, a fim de que pudesse fazer de novo Adão e Eva serem um — com uma união ainda mais
rica desta vez, uma união que pressupõe genuína divisão.
Quando adoramos ao Deus que fez tudo isso, descobriremos que o culto cristão molda a
cultura em direções cristãs. Se você quer ser saudável, deve fazer três refeições ao dia. Isso é
normalmente verdade. Mas se você aplicar essa regra quando estiver com uma virose, tudo o que
está fazendo é dando a si mesmo algo para vomitar. Em um mundo caído, as leis deveriam
rejeitar casamentos pomossexuais, concubinatos e uniões perversas? Claro que sim! Mas
devemos lutar a batalha ali onde o padrão geral de adoração é dado a partir de premissas pagãs?
Estaremos apenas dando à cultura algo para vomitar. Isso não significa que não há Salvador para
a nossa cultura; significa simplesmente que nossa cultura não é esse salvador. Significa ainda
que nossa cultura é o mendigo bêbado que precisa ser salvo. E então, o que devemos fazer?
Adorar ao Pai por meio do poder do Espírito em nome do Filho.
Isso significa que para haver qualquer esperança para nossa cultura mais ampla, é
necessário que haja reforma dentro da igreja. E se deve haver reforma dentro da igreja, então
temos de voltar ao ponto onde abandonamos o padrão. Devemos retornar ao culto fiel ao Deus
triúno, com a plena expectativa de que seremos conformados à sua semelhança e imagem. Se em
algum momento estivermos confusos sobre como essa imagem deve ser, não devemos nos
desesperar. Ele nos deu bíblias.
Portai-vos varonilmente
Há duas questões básicas a considerar em tudo isto. A primeira é que devemos lidar com o claro
ensino da Escritura que insiste que os ministros devem ser homens, isto é, do sexo masculino. A
segunda é que o chamado é para certo tipo de homem. Para usar as categorias da filosofia, ser
homem é uma condição necessária para o ministério, mas não uma condição suficiente. O
homem em questão deve ser chamado e equipado por Deus para a tarefa, e uma das qualificações
centrais é que ele deve ter fibra. Um bravo ministro é o tipo de homem que estaria disposto a
enfrentar o inferno com um copo d’água. Porém, muito frequentemente, para modificar um
comentário certa vez feito por Theodore Roosevelt, quando se trata dos ministros
contemporâneos, nos pegamos pensando que até mesmo de uma banana seria possível extrair
ministros mais corajosos.
Enquanto ansiamos por reforma na igreja, devemos saber que isso traz consigo um desejo
por reforma no ministério. Como foi dito no começo, nós não precisamos de ministros que
simplesmente sejam do sexo masculino; precisamos de ministros que sejam homens. À medida
que oramos por isso, precisamos lembrar que o ministério bíblico envolve muito mais do que
uma reação ao feminismo, ou uma prática obstinada de certas formas de tradicionalismo
masculino. Queremos ser bíblicos antes de qualquer coisa, e isso significa tirar nossas sugestões
quanto ao tipo de ministério que é hoje necessário das páginas da Escritura... diretamente.
Algumas vezes iremos nos surpreender em um sentido, algumas vezes em outro.
Deus decidiu usar homens falíveis e pecadores para proclamar seu puro e infalível
evangelho. Ele poderia ter feito de outra forma, mas determinou fazer desse modo. Isso não
significa que a condição dos pregadores não tem importância; significa que essa deve ser uma
questão de especial atenção.
Porque vós, irmãos, sabeis, pessoalmente, que a nossa estada entre vós não se tornou infrutífera; mas, apesar de
maltratados e ultrajados em Filipos, como é do vosso conhecimento, tivemos ousada confiança em nosso Deus,
para vos anunciar o evangelho de Deus, em meio a muita luta. (1Ts 2.1-2)
Paulo começa relembrando os tessalonicenses das circunstâncias em torno do primeiro
anúncio do evangelho em Tessalônica. Para mais informações a esse respeito, você pode querer
ler Atos 16-17. Apesar de Paulo já ter sido perseguido por causa do evangelho, isso não o fez
hesitar quando chegou a Tessalônica. Isso lhe deu coragem para fazer o que fez. Um indicador
de nossa falha em entender o ministério real é que quando buscamos por candidatos ao
ministério, raramente colocamos a coragem no topo de nossa lista de qualificações.
O ensino do apóstolo não tinha fonte impura. “Pois a nossa exortação não procede de
engano, nem de impureza, nem se baseia em dolo” (1Ts 2.3). O evangelho apresentado aos
tessalonicenses era doutrinariamente sólido — não era errôneo, e nem havia nascido do erro. Os
motivos dos pregadores não eram tolos — eles não tinham outras coisas em mente. A palavra
usada aqui se refere a uma vida dissipadora, lasciva ou luxuriosa. Eles também não usavam
truques ou engano para chegar aonde queriam...
… pelo contrário, visto que fomos aprovados por Deus, a ponto de nos confiar ele o evangelho, assim falamos,
não para que agrademos a homens, e sim a Deus, que prova o nosso coração. (1Ts 2.4)
Aquele que os comissionou para desempenhar essa tarefa é o mesmo que pode ler os
corações. Consequentemente, o pregador da Palavra não deve responder aos seus ouvintes. Ele
responde àquele que o comissionou, isto é, a Cristo. É primariamente o ouvinte eterno, e não os
mortais, quem avalia se a mensagem está correta. Isso significa que precisamos de homens que
saibam se posicionar perante outros homens como quem há de responder a Deus.
Há também a questão da honestidade.
A verdade é que nunca usamos de linguagem de bajulação, como sabeis, nem de intuitos gananciosos. Deus
disto é testemunha. Também jamais andamos buscando glória de homens, nem de vós, nem de outros. (1Ts 2.5-
6)
Deus é aquele que vê os corações, e Paulo o invoca como prova. Paulo não usou o
evangelho para bajular, e nem tratou seus contatos na igreja como um meio para ganhar dinheiro.
Não houve máscaras para a avareza. Nem estava nisto por honra — ele evitou receber glória dos
homens, mesmo quando era legítimo recebê-la. Devemos ser cuidadosos aqui. Paulo evitou a
vanglória, e nós também devemos evitar. E se um homem quer entrar no ministério porque acha
encantador o modo como um pastor se veste, temos aí a descrição de um problema.
Embora pudéssemos, como enviados de Cristo, exigir de vós a nossa manutenção, todavia, nos tornamos
carinhosos entre vós, qual ama que acaricia os próprios filhos; assim, querendo-vos muito, estávamos prontos a
oferecer-vos não somente o evangelho de Deus, mas, igualmente, a própria vida; por isso que vos tornastes
muito amados de nós. (1Ts 2.7-8)
O caráter de um mensageiro do evangelho deve ser comparável ao de uma mãe que
amamenta um recém-nascido. Esse cuidado não só é visto no momento da amamentação, mas em
todo o sacrifício pessoal que envolve o doar-se em prol de uma criança, incluindo levantar no
meio da noite. Também aqui alguns podem ser surpreendidos. A liderança masculina não é a
mesma coisa que machismo. O apóstolo Paulo, aquele que exige que os ministros sejam homens,
masculinos, e que trabalhou para prover um modelo para tais homens em seu ministério,
comparou sua maneira de ministrar a uma mulher que amamenta. Gentileza em sua forma e local
adequados não é efeminação.
Entre outras coisas, o ministério é trabalho duro.
Porque, vos recordais, irmãos, do nosso labor e fadiga; e de como, noite e dia labutando para não vivermos à
custa de nenhum de vós, vos proclamamos o evangelho de Deus. (2Ts 2.9)
O ministério nunca é fácil, e os ministros que se esforçam por torná-lo fácil são
desprezíveis. Homens que querem estar no ministério porque é um trabalho interno sem ter de
pegar no pesado estão indo na direção errada. Há muito trabalho pesado a ser feito. Homens com
uma genuína ética de trabalho são um deleite, e os ministros devem estar na linha de frente para
estabelecer esse tipo de exemplo para outros homens na congregação.
O ministro apostólico é umvaso limpo.
Vós e Deus sois testemunhas do modo por que piedosa, justa e irrepreensivelmente procedemos em relação a
vós outros, que credes. E sabeis, ainda, de que maneira, como pai a seus filhos, a cada um de vós, exortamos,
consolamos e admoestamos, para viverdes por modo digno de Deus, que vos chama para o seu reino e glória.
(1Ts 2.10-12)
A exortação para recordar é dada às testemunhas terrenas na presença da Testemunha
celestial. Paulo não está reivindicando uma justiça absoluta quando em presença deles, mas antes
uma justiça familiar. Pouco antes ele tinha comparado o ministério a uma mãe amamentando.
Agora ele o compara a um pai consciente e cuidadoso, interagindo com seus filhos. Como age
um bom pai? Ele exorta, encoraja e admoesta.
Na próxima seção, Paulo continua sua discussão sobre como os tessalonicenses tinham
recebido a Palavra de Deus, e se refere diretamente a algumas das perseguições que tinham
recebido por dar ouvidos à mensagem cristã.
Outra razão ainda temos nós para, incessantemente, dar graças a Deus: é que, tendo vós recebido a palavra que
de nós ouvistes, que é de Deus, acolhestes não como palavra de homens, e sim como, em verdade é, a palavra de
Deus, a qual, com efeito, está operando eficazmente em vós, os que credes. (1Ts 2.13)
Considere nisto a soberania de Deus. Paulo diz que os tessalonicenses tinham ouvido a
palavra “de nós”. Ao mesmo tempo, ele os louva porque não a trataram como palavra de homens
— mas ela era de homens, não era? A premissa popular de que a soberania divina é inconsistente
com a genuína liberdade humana colide no todo com o entendimento evangélico da inspiração da
Escritura. Se Deus e o homem não podem “fazer” a mesma coisa, então o livro de Romanos ou é
a palavra de Paulo ou a Palavra de Deus, mas não de ambos.
Isso significa que um ministro não deve ser o tipo de pessoa que pede desculpas por
respirar. Cada homem chamado ao ministério partilha, por um lado, do sentimento de Paulo —
quem é suficiente para estas coisas? (2Co 2.16). Por outro lado, ele deve ser o tipo de homem
que faz calar tais sentimentos e se põe perante homens e mulheres com as palavras do próprio
Deus. “Se alguém fala, fale de acordo com os oráculos de Deus” (1Pe 4.11).
Além disso, a Palavra de Deus é distinta aqui por sua eficácia. Ela trabalha naqueles que
creem. Os homens que proclamam não são catalisadores que fazem a Palavra funcionar. A
Palavra é o catalisador que nos faz funcionar.
Tanto é assim, irmãos, que vos tornastes imitadores das igrejas de Deus existentes na Judeia em Cristo Jesus;
porque também padecestes, da parte dos vossos patrícios, as mesmas coisas que eles, por sua vez, sofreram dos
judeus. (1Ts 2.14)
A adesão ao evangelho resultou numa mesma resposta, fosse na Grécia ou em Israel.
Aqueles que vieram à fé em Cristo foram perseguidos por seus próprios compatriotas. A cruz
trouxe diferentes tipos de ofensa da parte dos judeus e dos gregos, mas as várias respostas eram
comparáveis. Novamente, perceba a necessidade de altos níveis de coragem. Se estamos
pregando de um modo que não exige de nós coragem, então o que estamos fazendo?
Note a hostilidade dos antigos judeus:
...os quais não somente mataram o Senhor Jesus e os profetas, como também nos perseguiram, e não agradam a
Deus, e são adversários de todos os homens, a ponto de nos impedirem de falar aos gentios para que estes sejam
salvos, a fim de irem enchendo sempre a medida de seus pecados. A ira, porém, sobreveio contra eles,
definitivamente. (1Ts 2.15-16)
A hostilidade deles para com Deus resultou em hostilidade para com os homens. Por
causa da primeira, eram culpados da segunda. Devemos ser cautelosos para não cair nessa
mesma armadilha. Paulo aqui afirma que a ira de Deus sobreveio contra eles, definitivamente.
Ao mesmo tempo, quando dizemos amém aos decretos de Deus, devemos ser cuidadosos com a
hipótese de não sabermos de que espírito somos (Lc 9.55).
Quando um ministro e sua congregação têm o tipo certo de relacionamento, a separação é
difícil.
Ora, nós, irmãos, orfanados, por breve tempo, de vossa presença, não, porém, do coração, com tanto mais
empenho diligenciamos, com grande desejo, ir ver-vos pessoalmente. (1Ts 2.17)
Paulo estava separado dos tessalonicenses, mas buscava com empenho estar com eles.
Devemos aprender disto a verdadeira natureza de um coração pastoral. Um ministro não é um
treinador profissional, um contratado. Tampouco deve pensar da “masculinidade” como algo que
o faz permanecer afastado e distante. Em um bom sentido, o ministro deve estar entrelaçado com
seu povo. O que ocorre a eles, ocorre ao ministro. Note que esse não é um ministério construído
sob emoções, mas se tais emoções não são parte daquilo que está edificado como verdadeiro
fundamento, que é Cristo, então esse é um ministério espúrio.
Por isso, quisemos ir até vós (pelo menos eu, Paulo, não somente uma vez, mas duas); contudo, Satanás nos
barrou o caminho. (1Ts 2.18)
Paulo, como um pai espiritual, queria estar com os tessalonicenses durante o período de
provação que eles enfrentavam. Ele foi impedido nisto pelo grande adversário Satanás. Nos
versos anteriores, ele afirma quanto queria estar com eles. Aqui ele mostra que havia tentado, por
diversas vezes, agir segundo esse desejo de reencontrá-los.
Pois quem é a nossa esperança, ou alegria, ou coroa em que exultamos, na presença de nosso Senhor Jesus em
sua vinda? Não sois vós? Sim, vós sois realmente a nossa glória e a nossa alegria! (1Ts 2.19-20)
Quando o Senhor despende recompensas, ou coroas, vemos que não se trata, de modo
algum, de uma relação de troca. Ninguém no céu será recompensado com um peito cheio de
dobrões. Então qual deve ser a esperança, alegria, e coroa de um ministro? Para Paulo seriam os
tessalonicenses, entre muitas outras igrejas. Seu investimento era em pessoas. Onde é o seu
investimento?
Temos captado um bom vislumbre da teologia de Paulo e prática de ministério. O
ministério da Palavra não é de forma alguma “profissional” — não deve ser frio ou distanciado.
Ele é cheio de paixão, vida, doutrina, assombro, preocupação, fé e amor.
Agora, porém, com o regresso de Timóteo, vindo do vosso meio, trazendo-nos boas notícias da vossa fé e do
vosso amor, e, ainda, de que sempre guardais grata lembrança de nós, desejando muito ver-nos, como, aliás,
também nós a vós outros, sim, irmãos, por isso, fomos consolados acerca de vós, pela vossa fé, apesar de todas
as nossas privações e tribulação. (1Tm 3.6-7)
Timóteo trouxe boas notícias em duas áreas. A primeira é que os tessalonicenses estavam
andando em fé e amor. Essas duas palavras geralmente andam juntas no Novo Testamento, e
devem andar juntas em nosso ministério e convívio. A segunda boa notícia é que eles também
tinham boas memórias de Paulo, e queriam vê-lo da mesma forma que Paulo os queria ver. Paulo
estava envolvido na vida deles da mesma forma que eles na de Paulo. Ele estava, portanto,
confortado em suas tribulações por causa da fé demonstrada pelos tessalonicenses em suas
próprias tribulações.
Porque, agora, vivemos, se é que estais firmados no Senhor. Pois que ações de graças podemos tributar a Deus
no tocante a vós outros, por toda a alegria com que nos regozijamos por vossa causa, diante do nosso Deus. (1Ts
3.8-9)
Aqui vemos a intensidade da preocupação de Paulo por eles. Ele compara as boas novas
trazidas por Timóteo à ressurreição — vida que se extrai da morte. Ele está sem palavras no que
diz respeito à gratidão para com Deus pela firmeza dos tessalonicenses. Sua gratidão era coram
Deo — “diante do nosso Deus”. Isso é viver na presença de Deus, mas com uma mente em suas
contínuas responsabilidades ministeriais, as quais podemos ver em seu próximo suspiro:
...orando noite e dia, com máximo empenho, para vos ver pessoalmente e reparar as deficiências da vossa fé?
(1Ts 3.10)
Imediatamente vemos o papel pastoral que Paulo dedica à oração. Ele ora pelos
tessalonicenses noite e dia, e o faz com máximo empenho. Por quê? Paulo diz que seu objetivo
era aperfeiçoaraquilo que faltava à fé daquela igreja. Isso é fundamental. A meta do ministério é
para a vida inteira — ela constantemente acompanha o processo de santificação com um intenso
desejo de levá-lo à completude. Paulo tinha o mesmo objetivo em todo o seu ministério —
relembre o quanto ele trabalhou pelos colossenses (Cl 1.28-29). Perceba que o processo de
santificação não é uma espécie de proposição do tipo “cada um cuida de si”. O progresso de cada
membro da igreja é uma preocupação do pastor.
Ora, o nosso mesmo Deus e Pai, e Jesus, nosso Senhor, dirijam-nos o caminho até vós. (1Ts 3.11)
O ministro não deve ser megalomaníaco. Seu ministério é ministerial e delegado. Mesmo
se Paulo fosse impedido de ir até eles, Cristo ainda é o Cabeça da igreja. E Deus é sempre aquele
que dá o crescimento:
...e o Senhor vos faça crescer e aumentar no amor uns para com os outros e para com todos, como também nós
para convosco. (1Ts 3.12)
É o Senhor quem faz os crentes crescerem e abundarem em amor. Paulo ora não somente
pelo amor dos crentes uns para com os outros, mas também pelo amor dos tessalonicenses pelos
de fora, por toda a humanidade. E qual é o resultado final da obra de Deus na igreja?
...a fim de que seja o vosso coração confirmado em santidade, isento de culpa, na presença de nosso Deus e Pai,
na vinda de nosso Senhor Jesus, com todos os seus santos. (1Ts 3.13)
Deus estabelece o coração de seus santos. Ele os confirma em santidade. Novamente, isso
ocorre na presença de nosso Deus. Isso será cumprido no dia final quando o Senhor Jesus vir
com todos os seus santos. Essa é a teleologia do ministério evangélico. O objetivo do pastorado é
apresentar todo homem perfeito em Cristo. O ministério sempre deve ser conduzido à luz da
eternidade.
Os homens não merecem ter essa responsabilidade que lhes foi dada, mas, apesar disso,
eles a receberam. Dado esse fato, a responsabilidade que os homens têm quanto ao ministério é
dupla. Primeiro, não devem adequar o trabalho ao seu nível pessoal, mas antes buscar a graça de
Deus para subir ao nível de sua pesada vocação. Não encontraremos qualquer refúgio em
redefinições. Segundo, não devem tentar terceirizar parte das suas responsabilidades para as
mulheres. Se os homens no ministério fossem o tipo de homem que precisavam ser, nós não
estaríamos tendo esse debate. Quando os homens finalmente vestirem de novo o manto da plena
responsabilidade no ministério, então descobrirão que tremendo auxílio as mulheres representam
— mas não antes disso.
Apêndice I: Calvino sobre 1 Timóteo 2.11-12[11]
11. A mulher aprenda em quietude com toda sujeição. 12. Não permito, porém, que uma mulher
ensine, nem que exerça autoridade sobre o homem; esteja, porém, quieta.
11. A mulher aprenda em quietude. Havendo tratado do vestuário, ele agora passa a falar da
modéstia que as mulheres devem demonstrar nas santas assembleias. E, antes de tudo, ele as
convida a aprenderem em quietude; pois o termo quietude significa silêncio, para que não
presumissem falar em público, ideia que imediatamente torna mais explícita, proibindo-as de
ensinar.
12. Não permito, porém, que uma mulher ensine. Paulo não está falando das mulheres em seu
dever de instruir sua família; está apenas excluindo-as do ofício do sacro magistério, o qual Deus
confiou exclusivamente aos homens. Esse é um tema que já introduzimos em relação a 1
Coríntios. Se porventura alguém desafiar esta disposição, citando o caso de Débora [Jz 4.4] e de
outras mulheres sobre quem lemos que Deus, em determinado tempo, as designou para governar
o povo, a resposta óbvia é que os atos extraordinários de Deus não anulam as regras ordinárias,
às quais ele quer que nos sujeitemos. Por conseguinte, em determinado tempo as mulheres
exerceram o ofício de profetisas e mestras, e foram levadas a agir assim pelo Espírito de Deus,
Aquele que está acima da lei pode proceder assim; sendo, porém, um caso extraordinário, não se
conflita com a norma constante e costumeira.
Ele prossegue mencionando algo estritamente relacionado com o ofício do magistério sagrado ―
nem que exerça autoridade sobre o homem. A razão por que as mulheres são impedidas de
ensinar consiste em que tal coisa não é compatível com o seu status, que é serem elas submissas
aos homens, quando a função de ensinar subentende autoridade e status superior. É possível que
o argumento não aparente força, visto que, pode-se objetar, que mesmo os profetas e mestres são
sujeitos aos reis e aos magistrados. Minha resposta é que não há absurdo algum no fato de um
homem mandar e ser mandado ao mesmo tempo em relações distintas. Mas isso não se aplica no
caso das mulheres que, por natureza (isto é, pela lei ordinária de Deus), nascem para a
obediência, porquanto todos os homens sábios sempre rejeitaram o governo feminino, como
sendo uma monstruosidade contrária à ordem natural. E assim, para uma mulher usurpar o direito
de ensinar seria o mesmo que confundir a terra e o céu. É por isso que ele lhes ordena a
permanecerem dentro dos limites de sua condição humana.
Apêndice II: William Hendriksen sobre 1 Timóteo 2.11-12[12]
11, 12. Em seguida o apóstolo ministra algumas diretrizes acerca da relação das mulheres com o
recebimento e comunicação de conhecimento (aprendizagem e ensino), uma vez mais com
referência especial ao culto público. Ele escreve:
Que a mulher aprenda em silêncio em total submissão. Eu, porém, não permito que uma
mulher ensine, nem que exerça autoridade sobre o homem, mas que permaneça em
silêncio.
Embora estas palavras e as paralelas de 1 Coríntios 14.33-35 possam soar como pouco amistosas,
na verdade são precisamente o oposto. Aliás, expressam o sentimento de terna simpatia e de
compreensão básica. Significam que a mulher não deve entrar na esfera de atividade para a qual
a força de sua própria criação não é apta. Que a ave não tente viver debaixo d’água. Que o peixe
não tente viver em terra seca. Que a mulher não queira exercer autoridade sobre o homem,
instruindo-o nos cultos públicos. Por amor a ela e para o bem-estar espiritual da igreja, proíbe-se
essa pecaminosa intromissão na autoridade divina.
No serviço da Palavra, no dia do Senhor, a mulher deve aprender, não ensinar. Deve
permanecer em silêncio, permanecer quieta (ver 1Ts 4.11 e 2Ts 3.12). Não deve fazer com que
sua voz seja ouvida. Além do mais, essa aprendizagem em silêncio não deve ser com uma atitude
de rebeldia no coração, mas “em total submissão” (cf. 2Co 9.13; Gl 2.5; 1Tm 3.4). Deve de bom
grado refugiar-se sob a lei de Deus para sua vida. Sua plena igualdade espiritual com o homem
como participante em todas as bênçãos da salvação (Gl 3.28: “não há homem nem mulher”) não
implica nenhuma mudança básica em sua natureza como mulher ou na tarefa correspondente que,
como mulher, foi chamada a cumprir. Que a mulher continue sendo mulher. Paulo não pode
permitir outra coisa. Ele não pode permiti-lo, porque a santa lei de Deus não o permite (1Co
14.34). Essa santa lei é sua vontade expressa no Pentateuco, particularmente na história da
criação da mulher e de sua queda (ver especialmente Gn 2.18-25; 3.16). Daí, ensinar, isto é,
pregar de um modo oficial e, desse modo, exercer autoridade sobre o homem pela proclamação
da Palavra no culto público, dominá-lo, é algo impróprio para a mulher. Ela não deve assumir o
papel de mestre.
[1] C. S. Lewis, God in the Dock (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1970), p. 239.
[2] Camille Paglia, Sexual Personae (Nova York: Vintage, 1991), p. 40. Paglia é, por certo, uma pagã lunática, e sua leitura é
extremamente útil.
[3] Paraíso perdido, tradução de António José de Lima Leitão (W.M. Jackson Inc.: Rio de Janeiro, 1956), p. 373.
[4] O autor, aqui, está fazendo um trocadilho com a mitra, insígnia eclesiástica usada pelo papa, cardeais, arcebispos e bispos em
certas cerimônias. [N. do R.]
[5] Para mais informação a respeito, vide Jeff Meyers em http://www.biblicalhorizons.com/biblical-horizons/no-134-how-are-
women-saved/
[6] James Hurley, Man and Woman in Biblical Perspective (Grand Rapids,MI: Zondervan, 1981), p. 201.
[7] Leon Podles, The Church Impotent (Dallas: Spence Publishing, 1999), p. 118.
http://www.biblicalhorizons.com/biblical-horizons/no-134-how-are-women-saved/
[8] Ann Douglas, The Feminization of American Culture (Nova York: Alfred A. Knopf, 1977), p. 18.
[9] G. K. Beale, Você se torna aquilo que adora (São Paulo: Vida Nova, 2014).
[10] Peter Jones, The God of Sex (Colorado Springs, CO: Victor, 2006), p. 127.
[11] Tradução: Valter Graciano Martins.
[12] Tradução: Valter Graciano Martins.
	Sumário
	Introdução
	Começando com o pano de fundo
	Ministério cristão
	Febe e outras figuras interessantes
	Como chegamos aqui
	Portai-vos varonilmente
	Apêndice I: Calvino sobre 1 Timóteo 2.11-12
	Apêndice II: William Hendriksen sobre 1 Timóteo 2.11-12

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