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A Decisão de Intubar na Emergência SUMÁRIO 1. Manejo das vias aéreas .......................................................................................3 2. A decisão de intubar na emergência ..................................................................17 3. Preditores de via aérea difícil ............................................................................20 Referências ....................................................................................................................... 22 A Decisão de Intubar na Emergência 3 1. MANEJO DAS VIAS AÉREAS Avaliação Clínica Inicial A avaliação inicial de um paciente grave tem como objetivo abordar as causas mais graves e que matam mais rápido os pacientes e inclui a aplicação do ABCD: • Airways. Vias aéreas; • Breathing. Ventilação; • Circulation. Circulação; • Disability. Disfunção neurológica. O manejo das vias aéreas, quando necessário, será realizado nos dois primeiros tópicos: vias aéreas e ventilação. Observe a seguir como deve ser feita a abordagem. A - Airways (vias aéreas) Deve-se: • Verificar se o paciente tem as vias aéreas pérvias: conversar com o paciente, para avaliar se chega oxigênio suficiente ao cérebro para efetuar uma resposta verbal, procurar por sinais de obstrução (estridor, respiração ruidosa, cianose, corpo estranho); • Verificar se tem capacidade de proteger vias aéreas: no trauma, escala de coma de Glasgow (feito do D) < 9 é indicação para realização de intubação orotra- queal (IOT), pois nesse caso o paciente tem um alto risco de não conseguir a proteção das vias aéreas. Além disso, deve-se avaliar se os reflexos protetores estão intactos (através da observação de deglutição espontânea ou voluntária e da presença de secreções na orofaringe posterior), buscando verificar o risco de aspiração; • Verificar se o paciente consegue manter uma oxigenação adequada. Caso alterações sejam observadas, deve-se realizar manobras de liberação de vias aéreas: • Chin-lift (figura 1) – é a manobra de desobstrução de vias aéreas de escolha, no entanto, não deve ser realizada em pacientes que sofreram traumatismo raquimedular. • Jaw-Thrust (figura 2) – essa manobra pode ser utilizada em pacientes que so- freram trauma raquimedular. Ademais, é essencial retirar corpos estranhos ou aspirar conteúdos que prejudi- quem a perviedade das vias aéreas. A Decisão de Intubar na Emergência 4 Figura 1. Manobra Chin-lift: elevação do mento. Fonte: Awasada Kalayanamit/Shutterstock.com. Figura 2. Manobra Jaw-Thrust: anteriorização da mandíbula. Fonte: Awasada Kalayanamit/Shutterstock.com. A Decisão de Intubar na Emergência 5 B - Breathing (ventilação) Deve-se avaliar simetria, expansibilidade, uso de musculatura acessória, padrão respiratório, ausculta respiratória e frequência respiratória. Havendo alterações patológicas é essencial o suporte de O2, seja ventilação não invasiva (VNI), IOT, ventilação mecânica ou outros dispositivos mais simples, a de- pender da gravidade do quadro clínico. Além disso, deverá ser feito o tratamento etiológico: curativo de três pontas, punção de alívio, drenagem de tórax, entre outros. Dispositivos Cateter nasal • Baixos fluxos, máximo 5 L/min; • Reservado para casos menos graves; • Cada L/min aumenta em 3 a 4% a FiO2; • A 5 L/min: FiO2 entre 36 a 41%; • Barato e de fácil utilização. Máscara simples (figura 4) • Fluxos entre 5 e 8 L/min; • Apresentam um reservatório de 100 a 200 mL de O2; • Permite obter uma FiO2 entre 40 e 60%. Figura 3. Cateter nasal de oxigênio. Fonte: Varissa/Shutterstock.com. A Decisão de Intubar na Emergência 6 Figura 4. Máscara simples. Fonte: Zooza/Shutterstock.com. Máscara de Venturi • Oferece mistura de oxigênio com ar; • Altos fluxos: 3 a 15 L/min; • FiO2 precisa (24 a 50%), a depender da cor da válvula utilizada; • Indicado para pacientes com DPOC ou insuficiência respiratória mista. Máscara não reinalante • Altos fluxos de O2; • FiO2 alto 60 a 90%; • Bolsa inflável que armazena O2 a 100% com válvula unidirecional, que impede a reinalação de CO2; • Indicado para hipoxemia grave. Figura 5. Máscara de Venturi. Fonte: Dario Lo Presti/Shutterstock.com. A Decisão de Intubar na Emergência 7 Figura 6. Máscara não reinalante. Fonte: Acervo Sanar. Dispositivo bolsa-válvula-máscara / AMBU • Oxigênio em alto fluxo; • Conectado a fonte de O2 a 100%; • Além de fornecer oxigênio, proporciona ventilação; • Indicado para pacientes com redução ou sem drive respiratório. Ventilação não invasiva • Exerce pressão positiva nas vias aéreas através de máscara facial: Bi-PAP, CPAP; • Circuito único, o que compensa vazamentos; • Indicado para pacientes com DPOC exacerbado, pois reduz taxa de intuba- ção e tempo de ventilação mecânica, insuficiência cardíaca congestiva, IR hipoxêmica; • Contra-indicações: agitação psicomotora intensa, alterações do nível de cons- ciência, arritmias graves, instabilidade hemodinâmica, choque, incapacidade de proteção das vias aéreas, baixa eficiência da tosse, hemorragia digestiva alta, grande quantidade de secreção, lesões faciais que impossibilitem uso da máscara. A Decisão de Intubar na Emergência 8 Figura 7. Dispositivo bolsa-válvula-máscara. Fonte: Igor Podgorny/Shutterstock.com. Figura 8. Ventilação não invasiva por meio de máscara facial. Fonte: Kiryl Lis/Shutterstock.com. A Decisão de Intubar na Emergência 9 MAPA MENTAL: MANEJO DE VIAS AÉREAS Alto fluxo Válvula unidirecional FiO2: 60 a 90% FiO2: 36 a 41% Até 5 L/min Máscara não reinalante MANEJO DE VIAS AÉREAS Ventilação não invasiva Cânula nasal Dispositivo bolsa-válvula-máscara Alto fluxo Oxigena e ventila: indicado para pacientes com redução ou sem drive respiratório FiO2 a 100% Indicado para DPOC e IR mista 3 a 15 L/min FiO2: 24 a 50% Máscara de Venturi FiO2: 40 a 60% 5 a 8 L/min Máscara simplesJaw-Thrust Chin-lift Manobras DPOC exacerbado, ICC, IR hipoxêmica Pressão positiva: BiPAP ou CPAP Fonte: Elaborado pelo autor. A Decisão de Intubar na Emergência 10 Intubação orotraqueal (IOT) Indicações • Incapacidade de manter as vias aéreas patentes; • Incapacidade de proteger a via aérea contra a aspiração; • Incapacidade de ventilar; • Incapacidade de oxigenar; • Antecipação de uma deterioração clínica iminente. Sequência rápida Em situações de urgência, a IOT é procedida de acordo com a sequência rápida, já que oferece maior proteção, maior taxa de sucesso e menores complicações. Para isso se aplica a técnica dos 7 P’s: 1. Preparação É essencial conversar com o paciente e explicar o procedimento que será reali- zado, bem como captar os recursos humanos e estruturais que serão necessários. Deve-se iniciar pela preparação da mesa, monitorizar o paciente, garantir acesso ve- noso, além de separar e testar todo o material necessário: • Ambu / máscara não reinalante + fonte de O2; • Laringoscópio com lâmina curva 3 ou 4 (checar luz e pilha); • Tubo orotraqueal do 6,5 ao 8,5 (para adultos 7,5 ou 8,0); • Carrinho de parada a postos; • Medicações: fentanil, etomidato, succinilcolina (mais utilizados); • Seringa; • Aspirador de ponta rígida; • Equipamentos de proteção individual: óculos, máscara, luvas. Faz parte também da preparação, a gradação da dificuldade da via aérea. Para is- so pode ser utilizado o mnemônico: LEMON. • L = Look Externally (olhe externamente): procure por características que levem a dificuldades na intubação ou na ventilação, como deformidades e assimetrias. • E = Evaluate (examine as distâncias com a regra do 3-3-2): para alinhar os ei- xos da faringe, da laringe e da boca para uma intubação simples, as seguintes relações devem ser observadas: • A distância entre os dentes incisivos deve ser de pelo menos 3 dedos; • A distância entre o osso hioide e o mento deve ser de pelo menos 3 dedos; • A distância entre a proeminência tireoidea e o assoalho da boca deve ser de pelo menos 2 dedos. A Decisão de Intubarna Emergência 11 • M = Mallampati: a hipofaringe deve ser visualizada de forma adequada. Um método tradicional é o uso da Classificação de Mallampati (figura 9). Quando possível, solicita-se ao doente que se sente, abra totalmente a boca e realize a protrusão máxima da língua. O examinador irá avaliar o grau de visualização da hipofaringe com o auxílio de uma lanterna. Nos doentes em decúbito dorsal, o escore de Mallampati pode ser estimado ao solicitar que o doente abra a boca completamente e faça a protrusão da língua. A luz do laringoscópio é direciona- da de cima para a hipofaringe. • O = Obstruction (obstrução): qualquer condição que leve à obstrução da via aé- rea tornará a laringoscopia e ventilação difíceis. Essas situações incluem obesi- dade, epiglotite, abscesso peritonsilar e trauma. • N = Neck Mobility (Mobilidade Cervical – No peito encoste o queixo): a mobili- dade do pescoço é importante para o sucesso da intubação. Ela é avaliada ao solicitar ao doente para flexionar o queixo no peito e, em seguida, estender co- mo se fosse olhar para o teto. Os doentes com colar cervical, obviamente, não podem movimentar o pescoço e são, portanto, mais difíceis de intubar. Classe I Palato mole Úvula Pilares Classe II Palato mole Úvula Classe III Palato mole Base da úvula Classe IV Palato mole não é visível Figura 9. Classificação de Mallampati com as estruturas que são visualizadas em cada classe. Fonte: Elaborado pelo autor. 2. Pré-oxigenação Oferecer oxigênio 100% por 3 a 5 minutos com máscara não reinalante ou ambu com o intuito de desnitrogenar o pulmão e prevenir a hipoxemia. Isso é importante para obter tempo de segurança para realizar a laringoscopia, já que com a pré-oxige- nação o paciente pode ficar de 2 a 10 minutos em apneia, sem nenhum prejuízo. Vale ressaltar que não é necessário a ventilação do paciente caso haja drive respiratório. A Decisão de Intubar na Emergência 12 3. Pré-tratamento Tem o objetivo de reduzir os efeitos deletérios da laringoscopia, gerados por res- posta adrenérgica do organismo: taquicardia, taquiarritmias, estresse do SNC, bron- coespasmo, aumento da PIC. A principal droga utilizada é o fentanil, mas a lidocaína também pode ser aplicada. SAIBA MAIS! Nos últimos 5 anos, o pré-tratamento tem sido questionado pela ciência. Isso porque o fentanil possui vários efeitos adversos associados a intercorrências no momento da intubação e complicações como hipotensão pós-tubo, trismo, bradipneia, apneia, bradicardia e rigidez torácica, levando ao aumento da mortalidade intra-hospitalar. A lidocaína, enquanto isso, possui evidência mínima quanto ao seu benefício e uso controverso. Portanto, o pré-tratamento deixou de ser orientado, exceto em duas situações: emergências hipertensivas e hipertensão intracraniana, quando o fentanil pode ser utilizado como pré-sedativo na intubação orotra- queal por trazer benefícios ao paciente. 4. Paralisia com indução Primeiro se faz a indução, ou seja, a sedação (rebaixamento do nível de consciên- cia) com etomidato, quetamina, propofol ou midazolam. Depois se efetua a paralisia por meio de bloqueador neuromuscular (succinilcolina ou rocurônio). O etomidato é o mais utilizado como indutor, principalmente porque pode ser utili- zado em pacientes instáveis. A quetamina gera dois efeitos, promove vasodilatação (culminando em hipotensão), mas por outro lado estimula as suprarrenais a libera- rem as catecolaminas (vasopressores), podendo levar à insuficiência da suprarrenal. O propofol leva a uma franca hipotensão, mas é a droga mais indicada para grávidas que precisam ser intubadas. O midazolam, por sua vez, além de promover vasodilata- ção, é cardiodepressor, sendo, portanto, proscrito para pacientes instáveis. Observe na tabela a seguir as doses habituais das drogas utilizadas na intubação orotraqueal. A succnilcolina é o bloqueador neuromuscular de escolha, pois tem a meia vida mais curta, cerca de 6 a 10 minutos e tempo de início de ação mais rápido, cerca de 15 a 45 segundos. Já o rocurônio possui meia vida de 30 a 60 minutos e início de ação de 30 a 60 segundos. Importante lembrar que todos os pacientes que necessitarem de IOT, esteja ele pa- rado ou não, será imprescindível a administração de um bloqueador neuromuscular. A Decisão de Intubar na Emergência 13 PRÉ-SEDATIVO Fentanil 3,0 μg/Kg SEDATIVO Midazolam 0,3 mg/Kg Etomidato 0,3 mg/Kg Quetamina 2 mg/Kg Propofol 2 mg/Kg BLOQUEADORES Succinilcolina 1,5 mg/Kg Rocurônio 1,0 mg/Kg Tabela 1. Doses das drogas utilizadas na IOT. Fonte: Elaborado pelo autor. 5. Posicionamento Colocar o paciente na posição do “cheirador” (figura 10): anteriorização do pesco- ço e extensão da cabeça com o auxílio do coxim occipital, a fim de alinhar a boca, a laringe e a faringe. Em pacientes obesos, pode ser necessário também o uso de um coxim na região dorsal para conseguir um melhor alinhamento entre esses 3 eixos. Uma técnica que pode ser utilizada para avaliar um bom posicionamento do pa- ciente é verificando se o trago está alinhado com o esterno. A Decisão de Intubar na Emergência 14 Figura 10. Posicionamento adequado da cabeça: posição do “cheirador”. Fonte: Elaborado pelo autor. 6. Passagem do tubo com confirmação A laringoscopia deve ser realizada com a mão esquerda (a mão direita segura a cabeça do paciente), a lâmina deve entrar pelo canto direito da boca do paciente de forma a rebater a língua para a esquerda. Ao se visualizar a epiglote, a lâmina deve ser inserida na valécula epiglótica e deve- se tracionar o laringoscópio para a frente, para cima e para a esquerda, tomando cuidado para não retirar o olhar das vias aére- as e também não fazer o movimento de basculação e quebrar o dente do paciente. Feito isso, a via aérea deve ser visualizada. A gradação de Cormack Lehane men- sura o quanto da laringe pode ser visualizado, por meio de 4 classes (figura 11). Nas classes III e IV, é bem provável que o tubo seja inserido no esôfago. A Decisão de Intubar na Emergência 15 Figura 11. Gradação de Cormack-Lehane. Fonte: https://rebelem.com/rebel-cast-episode-65-optimal-order-of-drug-administration-in-rapid- sequence-intubation/cormack-lehane-1/. Passado o tubo orotraqueal, deve-se inseri-lo até esconder o balonete abaixo das cordas vocais, outra medida utilizada é a de 22 cm na altura dos incisivos. Por fim, infla-se o balonete e confirma-se o posicionamento do tubo, que pode ser através de: • Observação da expansibilidade torácica bilateral e simétrica; • Ausculta (epigástrio, pulmão esquerdo, pulmão direito); • Radiografia de tórax – a ponta do tubo deve estar de 3 a 5 cm da carina; • Fog (embaçamento pelo vapor d’água) no tubo; • Capnografia (PaCO2 entre 35 a 45 mmHg) 6. Pós- intubação Fixar o tubo, ajustar a ventilação mecânica, encaminhar para a UTI e planejar as drogas de manutenção. A Decisão de Intubar na Emergência 16 MAPA MENTAL: INTUBAÇÃO OROTRAQUEAL (IOT) – SEQUÊNCIA RÁPIDA Coxim occipital Posição do “cheirador”: anteriorização do pescoço e extensão da cabeça Oxigênio a 100% por 3 a 5 minutos Posicionamento INTUBAÇÃO OROTRAQUEAL 7P’s Pós-intubação Pré-oxigenação Passagem do tubo com confirmação Ausculta (epigástrio, pulmão E, pulmão D); Radiografia; Fog no tubo; Capnografia Classificação Cormack Lehane Etomidato, quetamina, propofol ou midazolam Succinilcolina ou rocurônio Paralisia com indução Fentanil ou lidocaínaPré-tratamentoAvaliar dificuldade da via aérea: LEMON Materiais, medicações, EPI’s Preparação Encaminhar para a UTI e planejar drogas de manutenção Fixar o tubo, ajustar a ventilação mecânica Fonte: Elaborado pelo autor. A Decisão de Intubar na Emergência 17 2. A DECISÃO DE INTUBAR NA EMERGÊNCIA Como já citamos acima, há cinco indicações de intubação orotraqueal. Relembre-as: • Incapacidade de manter as vias aéreas patentes; • Incapacidade de proteger a via aérea contra a aspiração; • Incapacidadede ventilar; • Incapacidade de oxigenar; • Antecipação de uma deterioração clínica iminente. Dessa forma, para tomar a decisão sobre a intubação orotraqueal, três perguntas devem ser respondidas: Há incapacidade de manter ou proteger a via aérea? Essa pergunta deve ser respondida na avaliação inicial, no A (vias aéreas), sendo fundamental conversar com paciente, verificando se sua voz é clara ou se há sinais de obstrução (estridor, voz abafada ou distorcida, respiração ruidosa). Além disso, deve-se verificar se o neurológico está preservado e observar de há deglutição espontânea ou voluntária, bem como a presença de secreções na orofa- ringe posterior, que podem evidenciar a vigência ou não dos reflexos protetores. Por fim, verifica-se a presença de sangramentos, deformidades, assimetrias e cre- pitação de ossos. Há incapacidade de ventilar ou oxigenar? Essa pergunta também deve ser respondida na avaliação inicial, mas no B (venti- lação). É essencial verificar se a expansão torácica é simétrica, bem como se na aus- culta há sinais de pneumotórax, hemotórax ou derrame pleural. A oxigenação pode ser avaliada clinicamente, através do estado mental, fadiga, cianose ou gravidade do caso. Entretanto, pode-se lançar mão da oximetria de pulso e da gasometria arterial. Qual a evolução clínica ou desfecho esperados? Em condições em que se espera que o paciente piore nos próximos minutos ou horas, como em hematomas cervicais, politraumas com hipotensão, múltiplas lesões graves, incluindo trauma torácico ou quando há necessidade de transporte ou proce- dimento prolongado, deve ser procedida a intubação como forma de antecipação de uma deterioração clínica iminente. A Decisão de Intubar na Emergência 18 SE LIGA! Há algumas armadilhas que envolvem o processo de deci- são da intubação. Entenda e não caia nelas: A orientação de que o reflexo do vômito é um método confiável de avaliar os reflexos protetores de via aérea é inadequada, já que esse conceito nunca foi submetido a uma análise científica adequada, e a ausência do reflexo do vômi- to não é sensível nem específica como indicador da perda dos reflexos prote- tores. Também não foi demonstrado que a presença desse reflexo assegure a presença de proteção da via aérea. Além disso, testar o reflexo do vômito em um paciente torporoso em posição supina pode resultar em vômito, aspiração e, consequentemente, pneumonite química. Assim, o reflexo do vômito não tem valor clínico e, na verdade, sua avaliação pode ser perigosa ao determinar a ne- cessidade de intubação, não devendo ser usado com esse propósito. A escala de coma de Glasgow < 9 só deve ser usada como critério em casos de trauma e de overdose. Estridor, saturação que não se sustenta acima de 80%, frequência respiratória acima de 30 ou pCO2 maior ou igual a 100 são indicadores de prognóstico ruim, devendo ser realizada a IOT. Em casos de doença pulmonar obstrutiva crônica ou edema agudo de pulmão, deve-se tentar sempre manejar a via aérea com VNI antes da IOT. A Decisão de Intubar na Emergência 19 Condições em que se espera que o paciente piore nos próximos minutos ou horas, como em hematomas cervicais, politraumas com hipotensão, múltiplas lesões graves, incluindo trauma torácico ou quando há necessidade de transporte ou procedimento prolongado Clínica: fadiga, estado mental, cianose, gravidade do caso Antecipação de uma deterioração clínica iminente Incapacidade de oxigenar MAPA MENTAL: A DECISÃO DE INTUBAR NA EMERGÊNCIA Comprometimento dos reflexos protetores: presença de secreção na orofaringe posterior e ausência de deglutição espontânea ou voluntária Incapacidade de ventilar Comprometimento da ausculta e da expansibilidade Incapacidade de manter as vias aéreas patentes Obstrução de vias aéreas: estridor, voz abafada ou distorcida, respiração ruidosa A DECISÃO DE INTUBAR NA EMERGÊNCIA: INDICAÇÕES Incapacidade de proteger a via aérea contra a aspiração Rebaixamento neurológico (trauma e overdose) Oximetria de pulso e gasometria arterial Fonte: Elaborado pelo autor. A Decisão de Intubar na Emergência 20 3. PREDITORES DE VIA AÉREA DIFÍCIL Como já exposto acima, para avaliar a dificuldade da laringoscopia na intubação orotraqueal pode-se usar o mnemônico LEMON. Quando esta avaliação detecta possível dificuldade de laringoscopia, pode-se optar por não usar o bloqueador neu- romuscular e deve-se ter em mente outras alternativas em caso de falência do pro- cedimento: bougie, cricotireoidostomia, intubação com máscara, endoscopia flexível e videolaringoscopia. A escolha dependerá principalmente da disponibilidade destes dispositivos no local. Há também outras escalas que predizem a dificuldade de outros tipos de manejo da via aérea. O ROMAN, por exemplo, é preditor da dificuldade de ventilação bolsa- -válvula-máscara, sendo: • Restrição / radiação • Obstrução / obesidade / apneia obstrutiva do sono • Mask seil (vedação da máscara) / Mallampati / men (sexo masculino) • Age (idade > 55 anos) • No teeth (nenhum dente) O RODS é preditor de dificuldade de uso do dispositivo supraglótico, sendo: • Restrição • Obstrução / obesidade • Distorção ou rompimento da via aérea • Short (distância tireomentoniana curta) Já o SMART prediz a dificuldade da cricotireoidostomia, sendo os critérios: • Surgery (cirurgia prévia) • Massa • Acesso / anatomia • Radiação • Tumor A Decisão de Intubar na Emergência 21 FLUXOGRAMA. TIPOS DE MIELOPATIA RODS: Restrição Obstrução / obesidade Distorção ou rompimento da via aérea Short (distância tireomentoniana curta) PREDITORES DE VIA AÉREA DIFÍCIL Dispositivo supraglótico Cricotireoidostomia SMART: Surgery (cirurgia prévia) Massa Acesso / anatomia Radiação Tumor Cricotireoidostomia Ventilação bolsa-válvula-máscara ROMAN: Restrição / radiação Obstrução / obesidade / apneia obstrutiva do sono Mask seil (vedação da máscara) / Mallampati / men (sexo masculino) Age (idade > 55 anos) No teeth (nenhum dente) Dispositivo supraglótico LEMON: Look externally (olhe externamente) Evaluate (regra 3-3-2) Mallampati Obstrução / Obesidade Neck mobility (mobilidade cervical) Fonte: Elaborado pelo autor. A Decisão de Intubar na Emergência 22 REFERÊNCIAS Brown, CA. et al. Manual de Walls para o manejo da via aérea na emergência. 5ª edição. Porto Alegre: Artmed, 2019. Marx, J. et al. Rosen’s emergency medicine: Concepts and Clinical Practice. 8ª ed. Philadelphia, PA: Elsevier/Saunders, 2014. Besen, B. et al. Medicina Intensiva. Revisão rápida. Ed. Manole. 1ª edição, 2018. Martins, HS. et al. Emergências clínicas: abordagem prática. Editora Manole, 11ª edição, 2016. Imagem utilizada sob licença da Shutterstock.com, disponível em: < https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/nasal-oxygen-cannulas-use-patient- on-1280838115 >. Acesso em: 08 de Fevereiro de 2023. Imagem utilizada sob licença da Shutterstock.com, disponível em: < https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/adult-simple-oxygen-mask- isolated-1518409244 >. Acesso em: 08 de Fevereiro de 2023. Imagem utilizada sob licença da Shutterstock.com, disponível em: < https://www. shutterstock.com/pt/image-photo/venturi-mask-known-airentrainment-medical- device-220331050 > cesso em: 08 de Fevereiro de 2023. Imagem utilizada sob licença da Shutterstock.com, disponível em: < https:/https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/ambu-bag-face-mask-first- aid-2044267058 >cesso em: 08 de Fevereiro de 2023. Imagem utilizada sob licença da Shutterstock.com, disponível em: < https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/20180531-belarus-grodno-regional- cardiac-centre-1117584728 >cesso em: 08 de Fevereiro de 2023. Imagem utilizada sob licença da Shutterstock.com, disponível em: < https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/head-tiltchin-lift-maneuver-basic- method-483204577 >. Acesso em: 09 de Fevereiro de 2023. Imagem utilizada sob licença da Shutterstock.com, disponível em: < https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/head-tiltchin-lift-maneuver-basic-method-483204577 >. Acesso em: 09 de Fevereiro de 2023. A Decisão de Intubar na Emergência 23 sanarflix.com.br Copyright © SanarFlix. Todos os direitos reservados. Sanar Rua Alceu Amoroso Lima, 172, 3º andar, Salvador-BA, 41820-770