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Os autores e publicadores assumem quaisquer responsabilidades e direitos quanto às obras por eles divulgadas. Mas permitem qualquer tipo de divulgação, com ou sem autorização. A verdade não é propriedade de homem algum, e, portanto, não deve ter a sua circulação restringida. “De graça recebestes, de graça dai”. Mateus 10.8 www.estanteconfessional.cf Controle de Natalidade Autor: Greg L. Price Editor: Maycon Ribeiro e Thiago Barros Tradução: Fernanda Maciel Revisão: Maycon Ribeiro Diagramação e capa: Thiago Barros Fevereiro de 2019 ÍNDICE INTRODUÇÃO ................................................................... 7 I. DECLARAÇÃO DA POSIÇÃO ..................................... 9 II. ABSTENÇÃO DA RELAÇÃO SEXUAL ................... 13 III. CONTRASTANDO RAZÕES LEGÍTIMAS COM RAZÕES ILEGÍTIMAS PARA ABSTENÇÃO ............... 25 IV. RISCOS DE VIDA PARA A MÃE OU PARA A CRIANÇA .......................................................................... 35 V. DERRAMANDO O SÊMEN ....................................... 43 CONCLUSÃO ................................................................... 59 INTRODUÇÃO A formulação desses pensamentos é baseada num conteúdo de uma carta que a Sessão da Igreja Reformada Puritana de Edmonton (de onde eu fui membro) man- dou para um jovem casal sobre o assunto de controle de natalidade. Entretanto, eu modi quei e adicionei muitas sessões também. Apesar de esse artigo não ter a intenção de ser exaustivo em responder a todas as perguntas rel- acionadas ao tema, mesmo assim, essas observações são oferecidas com a esperança de serem muito úteis para se chegar a uma conclusão bíblica em um tópico bem controverso. Rev. Greg L. Price INTRODUÇÃO DECLARAÇÃO DA POSIÇÃO I Como a procriação foi um dever dado por Deus para Adão e Eva na criação (“E Deus os abençoou e lhes disse: Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e sujeitai-a;” Gênesis 1.28), e uma obrigação repetida mesmo depois da queda do homem (Gênesis 9.1,7), e uma ordenança que Deus sempre associa com benção e não maldição (Gênesis 16.7; Levítico 26.9; Deuteronômio 7.13; Deuteronômio 28.11; Neemias 9.23; Salmo 107.38; Salmo 127.3-5; Salmo 128.3), e uma obrigação que Deus nunca revogou nem no Antigo nem no Novo Testamento, eu sustento que a procriação, para todos aqueles que legitimamente podem, continua um dever até o m do mundo (a não ser, claro, que possa ser demonstrado pelas Escrituras que não é um dever). Como é uma prerrogativa divina o abrir e fechar o ventre da mulher de acordo com Sua vontade (Gênesis 29.31; Gênesis 30.2,22; 1 Samuel 1.5), e como o uso de controle de natalidade com o propósito expresso de prevenir a concepção intenciona que uma criança não viva (contrário ao Sexto Mandamento), e como não há exemplo aprovado do uso de nenhum método contraceptivo visto nas Escrituras onde a concepção de uma criança foi intencionalmente prevenida, mas, ao contrário, um exemplo em que o uso intencional de controle de natalidade com o propósito I DECLARAÇÃO DA POSIÇÃO I. DECLARAÇÃO DA POSIÇÃO| 11 de prevenir a fecundação foi condenado (Gênesis 38.8- 10), eu também declaro que Deus condena o uso de métodos de controle de natalidade que são usados com o propósito expresso de se prevenir a concepção. Além disso, este artigo busca demonstrar que qualquer método usado com o propósito de intencionalmente prevenir a concepção de um bebê é um pecado contra o sexto mandamento. Isso inclui qualquer abstenção intencional do intercurso sexual para se prevenir a concepção (isto é, método rítmico 1), ou qualquer descarte intencional do sêmen com o propósito de se prevenir a concepção (isto é, várias formas de contracepção arti cial ou esterilização). Vamos considerar os dois métodos que são geralmente usados com a nalidade de se prevenir a gravidez (se abster da relação sexual e descartar o sêmen de alguma maneira) e determinar se eles são de acordo com os preceitos de Deus. ABSTENÇÃO DA RELAÇÃO SEXUAL II Antes de tudo, eu declaro que abstenção voluntária da relação sexual é aceitável de acordo com a Palavra de Deus pelas seguintes razões: piedade (isto é, oração e jejum), misericórdia (quando um dos cônjuges se abstém para não transmitir algum vírus contagioso, como HIV), modéstia (isto é, abstenção durante a menstruação), e necessidade (quando um chamado legal requer que o marido se aparte de sua esposa por um longo período de tempo, como o caso de um soldado numa circunstância de guerra ou de um ministro em tempos de perseguição e apostasia). Em todos esses casos, o propósito expresso para a abstenção sexual não é a prevenção da concepção de uma criança. Nota-se que uma distinção proposital está sendo feita entre a abstenção da relação conjugal por um propósito ilegítimo (a saber, prevenção de concepção) e abstenção por um propósito legítimo. As distinções entre os dois casos de abstenção residem na intenção pela qual a ação moral ou a omissão da ação moral é realizada. Todo ato moral deve ser julgado com base em três critérios: II ABSTENÇÃO DA RELAÇÃO SEXUAL II. ABSTENÇÃO DA RELAÇÃO SEXUAL | 15 1. O motivo justo (que é a fé e amor direcionados a Deus); 2. O padrão certo (que é o padrão supremo da Palavra de Deus); 3. O propósito certo (que não pode ser nada além de glori car a Deus). Apenas quando todos esses três critérios são observados, podemos esperar que ações morais sejam imparcial e consistentemente julgadas. Note no texto a seguir que todos os atos morais são classi cados como bons ou maus, e que a classi cação de ações como indiferentes não existe em relação ao tribunal de Cristo: “Porque importa que todos nós compareçamos perante o tribunal de Cristo, para que cada um receba segundo o bem ou o mal que tiver feito por meio do corpo.” 2 Coríntios 5.10 Assim, qualquer ato moral da humanidade é bom ou mau. Todo o ato moral ou procede de um amor por Deus ou não; toda ação é bíblica ou não; ou ela glori ca a Deus ou não. Não tem, de fato, nenhum ato da humanidade que é verdadeiramente indiferente quando julgado pelos padrões da Escritura. Dessa forma, é importante 16 | CONTROLE DE NATALIDADE entender de início que em qualquer escolha que façamos sobre nossos atos diante de Deus, não há, certamente, nada considerado moralmente neutro. Com isso em mente, vamos primeiro examinar o ato moral de voluntariamente se abster da relação sexual. 1. PARA ATOS DE PIEDADE É demonstrado por meio da Escritura que a abstenção voluntária de relações sexuais por um período de tempo não é ilegítimo em si. Isso é provado pelo fato de Paulo permitir a abstenção para se praticar jejum e oração – isto é, com o propósito de cumprir atos de piedade. “Não vos priveis um ao outro, salvo talvez por mútuo consentimento, por algum tempo, para vos dedicardes à oração e, novamente, vos ajuntardes, para que Satanás não vos tente por causa da incontinência”. 1 Coríntios 7.5 No mandamento permissivo citado acima, o Apóstolo Paulo considera a intenção de fervorosamente orar e jejuar como uma razão legítima para a abstenção da união sexual, apesar de ele alertar sobre as potenciais consequências pecaminosas se a abstenção for mantida II. ABSTENÇÃO DA RELAÇÃO SEXUAL | 17 por um longo período de tempo. 2. PARA ATOS DE MISERICÓRDIA Considere que aquelas pessoas que contraíram lepra eram ordenadas a serem isoladas (em quarentena) de todos os membros da família, incluindo maridos ou esposas, bem como de amigos (Levítico 13.46). Isolamento – e abstenção de toda intimidade sexual – era requerido em todos esses casos a m de se preservar da propagação da doença, não a m de se prevenir a concepção. Do mesmo modo, pode ser deduzido que a misericórdia requer que em casos em que o cônjuge esteja em uma situação tal de dor e sofrimento, que ele não esteja sob a obrigação de procriação (porque sua abstenção é, de novo, não com o expresso propósitode prevenção da concepção de uma criança). Além disso, quando a intenção especí ca de um procedimento médico não é para a prevenção da gravidez, mas sim a de remover algum tecido cancerígeno ou para corrigir alguma disfunção do corpo do pai ou da mãe, e neste procedimento médico, a habilidade do pai ou da mãe de procriação é impedida ou eliminada, então eu considero que esse processo não é pecaminoso. Porque o propósito expresso deste tipo de cirurgia é um ato de misericórdia para se preservar uma vida, não a crueldade de se prevenir uma. Nosso Deus se deleita 18 | CONTROLE DE NATALIDADE em mostrar misericórdia e nos chama a minimizar o sofrimento de outros – em circunstâncias legítimas – ao invés de aumentar o sofrimento deles (Mateus 12.7). Assim como o homem não foi feito pro Shabbath, mas o Shabbath feito para o homem, o homem não foi feito pra procriação, mas a procriação para o homem. 3. PARA ATOS DE MODÉSTIA Nós também sabemos pelas Escrituras que a abstinência temporária era (e ainda é) requerida por Deus também por uma questão de modéstia durante o ciclo menstrual da mulher. “Não te chegarás à mulher, para lhe descobrir a nudez, durante a sua menstruação”. Levítico 18.19 De novo, essa abstinência temporária da união sexual não é com o m de prevenir a concepção, mas para a prevenção da abominação pela qual o Senhor expulsou as nações pagãs das terras da Palestina (Levítico 18.24- 30). II. ABSTENÇÃO DA RELAÇÃO SEXUAL | 19 4. PARA ATOS DE NECESSIDADE As Escrituras reconhecem a abstenção temporária de união sexual como justi cável em casos de urgências tão necessárias em que um marido ou uma esposa são recrutados para exercerem seus chamados legítimos, e precisem car longe de seus cônjuges por um extenso período de tempo (por exemplo, um doutor que é recrutado para combater uma epidemia por vários meses, ou um soldado que é chamado para defender seu país em uma guerra legítima, ou um ministro chamado para pregar o evangelho para almas famintas espalhadas como ovelhas sobre montes devido à apostasia ou perseguição). A intenção em todos esses casos não é prevenir a concepção, mas, antes, cumprir um chamado necessário e legítimo. Para sustentar essa razão de abstenção, nós usamos como recurso o testemunho el de Urias, o Hitita, que recusou os privilégios legítimos do matrimônio com sua esposa porque seu chamado requeria certos sacrifícios dele: “Porém Urias se deitou à porta da casa real, com todos os servos do seu senhor, e não desceu para sua casa. Fizeram-no saber a Davi, dizendo: Urias não desceu a sua casa. Então, disse Davi a Urias: Não vens tu de uma jornada? Por que não desceste a tua casa? Respondeu 20 | CONTROLE DE NATALIDADE Urias a Davi: A arca, Israel e Judá cam em tendas; Joabe, meu senhor, e os servos de meu senhor estão acampados ao ar livre; e hei de eu entrar na minha casa, para comer e beber e para me deitar com minha mulher? Tão certo como tu vives e como vive a tua alma, não farei tal coisa”. 2 Samuel 11.9-11 No que diz respeito aos primeiros três casos citados acima, William Gouge, um ministro Presbiteriano e membro da Assembleia de Westminster, discutiu as falhas e os excessos a serem evitados quando se trata dos deveres do leito matrimonial. [Abstinência é aplicável] no período em que isso [isto é, relação sexual] é contra a piedade, misericórdia ou modéstia. 1. Contra piedade, quando nenhum dia, nem nenhum dever da religião, nem dias extraordinários, e deveres de humilhação faça com que eles renunciem [ter relações]. O profeta comanda que o noivo e a noiva saiam de seus aposentos no dia do jejum (Joel 2.16), e a exceção do Apóstolo para jejum e oração, onde ele II. ABSTENÇÃO DA RELAÇÃO SEXUAL | 21 ordena estes deveres para a benevolência (1 Coríntios 7.5), mostra que no período de jejum isto [isto é, a relação] deve ser evitado. 2. Contra a misericórdia, quando um dos cônjuges, estando fraco por doença, dor, labor, viagem, ou qualquer coisa semelhante, e por essa fraqueza, não for capaz de exercer esse dever, e o outro, apesar disso, quiser esse dever cumprido. Eu quero a misericórdia, e não o sacrifício, diz o Senhor. O sacrifício de Deus pode dar lugar à misericórdia e não poderia dar a luxúria do homem e da mulher? Pois eu poderia muito bem chamar isso de um desejo não razoável. Pergunta: E se um marido ou uma esposa car tanto tempo doente, ou fraco a ponto do outro não poder se conter? Resposta: Em casos assim de necessidade, o corpo precisa ser espancado, e orações diligentes e zelosas precisam ser feitas para o dom da contingência: porque, seguramente, o Senhor que trouxe essa necessidade dará graça su ciente. 3. Contra a modéstia, quando maridos requerem esse dever naquele período, que, pela Lei, foi chamado tempo da separação da mulher pela sua condição. “A mulher, quando tiver o uxo de sangue, se este for o uxo costumado do seu corpo, estará sete dias na sua 22 | CONTROLE DE NATALIDADE menstruação, e qualquer que a tocar será imundo até à tarde. Tudo sobre que ela se deitar durante a menstruação será imundo; e tudo sobre que se assentar será imundo.” (Levítico 15.19). E o que pode ser esperado de uma copulação tão poluída, senão uma geração leprosa e repugnante? Esse tipo de intemperança é expressamente proibido: “Não te chegarás à mulher, para lhe descobrir a nudez, durante a sua menstruação.” (Levítico 18.19), e uma punição capital é in igida por tamanha ofensa: “Se um homem se deitar com mulher no tempo da enfermidade dela e lhe descobrir a nudez, descobrindo a sua fonte, e ela descobrir a fonte do seu sangue, ambos serão eliminados do meio do seu povo.” (Levítico 20.18). Abstinência nesse período é colocada numa lista de itens que classi cam um homem como justo, “Porém, se alguma pessoa, tendo sobre si imundícia, comer a carne do sacrifício pací co, que é do SENHOR, será eliminada do seu povo.” (Levítico 7.20); e a intemperança contrária é colocada na lista de abominações que zeram Deus vomitar os Cananeus: “Não suceda que a terra vos vomite, havendo-a vós contaminado, como vomitou o povo que nela estava antes de vós.” (Levítico 18.28), e abandonar sua própria herança: “No teu meio, descobrem a vergonha de seu pai e abusam da mulher no prazo da sua menstruação.” (Ezequiel 22.10). 1 - Of Domestical Duties, Still Waters Revival Books, p.223 II. ABSTENÇÃO DA RELAÇÃO SEXUAL | 23 Por meio disto, vimos que, de acordo com a Palavra de Deus, existem razões moralmente aceitas para que um casal casado possa ou deva se abster de relação sexual, quais sejam, piedade, misericórdia, modéstia e necessidade. CONTRASTANDO RAZÕES LEGÍTIMAS COM RAZÕES ILEGÍTIMAS PARA ABSTENÇÃO III Vamos agora contrastar as razões legítimas acima para a abstenção sexual com razões ilegítimas para tal. Primeiro, é preciso se perguntar: podemos, em algum momento, sob determinada circunstância, justi car um ato moral ou omissão que intencionalmente previna a concepção de uma criança? De novo, eu entendo pelos argumentos anteriores que a abstenção não é, em si mesma, má e que boas consequências podem uir de tais atos debaixo de circunstâncias divinamente prescritas. Inegavelmente, a qualidade dessa ação moral está na intenção pela qual essa ação é feita. Sabemos pela Escritura que Deus julga os pensamentos e as intenções do nosso coração: “Porque a palavra de Deus é viva, e e caz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e propósitos do coração.” Hebreus 4.12 III CONTRASTANDO RAZÕES LEGÍTIMAS COM RAZÕES ILEGÍTIMAS PARA ABSTENÇÃO III. CONTRASTANDO RAZÕES LEGÍTIMAS COM RAZÕES ILEGÍTIMAS PARA ABSTENÇÃO | 27 Nós também entendemos que o nosso Senhor Jesus Cristo ensinou que ações imorais concebidas meramenteno interior (nas intenções do coração de um homem) eram tão condenáveis quanto se o ato fosse feito externamente à pessoa ou à propriedade de um outro: “Ouvistes que foi dito: Não adulterarás. Eu, porém, vos digo: qualquer que olhar para uma mulher com intenção impura, no coração, já adulterou com ela.” Mateus 5.27-28 “Ao contrário, cada um é tentado pela sua própria cobiça, quando esta o atrai e seduz. Então, a cobiça, depois de haver concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, uma vez consumado, gera a morte.” Tiago 1.14-15 Os pecados descritos nas citações acima começam com a intenção do coração, e daí se manifestam em atos externos. Assim, é certo que adultério, assassinato, roubo, etc, podem ser cometidos no coração, e que o 28 | CONTROLE DE NATALIDADE homem é culpado mesmo se tal pecado se manifestar apenas em suas intenções. Em essência, o coração que está irado sem uma causa justa é culpado de violar o Sexto Mandamento, mesmo que uma pessoa de verdade não seja morta. É o su ciente “intentar” matar uma pessoa de verdade para ser culpado do crime diante de Deus. De mesmo modo, isso se aplica a intencionalmente prevenir a vida de uma criança de verdade. Uma vida real não precisa ser tomada (como num aborto) para incorrer em culpa pelo pecado de tirar a vida do próximo. Só a intenção de destruir a vida (por meio da prevenção dela) já é su ciente para fazer alguém culpado de tirá-la de outrem. É su ciente que o intento de destruir uma vida (ou preveni-la) seja concebido no coração. À medida que examinamos este assunto realmente a fundo, veremos que não é a vida de uma pessoa ctícia que é prevenida com a intenção de se impedir a concepção, antes a vida de uma pessoa real. Além disso, considere a analogia a seguir. Assim como é claramente um mal moral intencionalmente prevenir a concepção de uma vida espiritual (isto é, um novo homem em Cristo) que Deus cria por meio da semente do evangelho, assim, de igual modo, eu argumentaria que é um mal moral a prevenção intencional de uma vida física (isto é, um novo homem em Adão) que Deus também criou, mas por meio da semente da copulação. Por um lado, assim como é uma violação do Sexto Mandamento III. CONTRASTANDO RAZÕES LEGÍTIMAS COM RAZÕES ILEGÍTIMAS PARA ABSTENÇÃO | 29 você reter a semente do evangelho intencionalmente e impedi-lo de ser pregado com o propósito expresso de prevenir o nascimento de um novo homem em Cristo (porque um novo homem é criação de Deus, renovado à imagem de Deus), assim, igualmente, é uma violação do Sexto Mandamento intencionalmente prevenir que o sêmen do homem seja unido com o óvulo da mulher com o propósito expresso de prevenção do nascimento de um novo homem em Adão (porque o homem é criação de Deus, feito à imagem de Deus). Por outro lado, assim como não é uma violação do Sexto Mandamento evitar a pregação da semente do evangelho com o propósito expresso de se cumprir outros deveres ordenados (pessoais, domésticos, e civis), assim não é uma violação do Sexto Mandamento evitar a transmissão sexual do sêmen do homem com o propósito expresso de se cumprir com outros deveres exigidos (piedade, modéstia, misericórdia e necessidade). A vida, seja física ou espiritual, é a grande criação de Deus. O homem que intencionalmente a previne por razões próprias usurpa as prerrogativas do Criador da vida. Considere o Catecismo Maior sobre essa questão (ênfases adicionadas): 136. Quais são os pecados proibidos no sexto mandamento? 30 | CONTROLE DE NATALIDADE Os pecados proibidos no sexto mandamento são: o tirar a nossa vida ou a de outrem, exceto no caso de justiça pública, guerra legítima, ou defesa necessária; a negligência ou retirada dos meios lícitos ou necessários para a preservação da vida; a ira pecaminosa, o ódio, a inveja, o desejo de vingança; todas as paixões excessivas e cuidados demasiados; o uso imoderado de comida, bebida, trabalho e recreios; as palavras provocadoras; a opressão, a contenda, os espancamentos, os ferimentos e tudo o que tende à destruição da vida de alguém. Pode ser argumentado que a abstenção intencional com o propósito de prevenção da concepção de uma criança “tende” à destruição da vida de uma pessoa? Certamente. Isso diretamente “tende” e intenciona à destruição da vida de um ser humano particular que ainda não foi concebido (e toda a prosperidade desse ser humano) – não um ser humano imaginário e ctício, mas uma alma vivente e racional – não apenas uma pessoa, mas gerações inteiras que viriam dele ou dela. Vamos universalizar a prática de abstenção intencional ou o derramamento intencional do sêmen (para o propósito expresso de prevenção da concepção) para que nenhuma concepção ocorra no mundo inteiro por uma geração. O que aconteceria? Apenas uma geração humana ctícia seria destruída ou uma geração humana verdadeira III. CONTRASTANDO RAZÕES LEGÍTIMAS COM RAZÕES ILEGÍTIMAS PARA ABSTENÇÃO | 31 seria destruída? Nós literalmente destruiríamos seres humanos de verdade com a prevenção intencional da próxima geração de pessoas. Assim, eu diria que, de acordo com a nossa Con ssão de Fé e com a Palavra de Deus, a abstenção intencional do intercurso sexual e o derramamento/desperdício intencional do sêmen com o propósito expresso da prevenção da vida humana é uma violação do Sexto Mandamento. À parte das competências mencionadas acima (“justiça pública, guerra justa ou defesa necessária”), qualquer coisa que “tenda” à destruição da vida de alguém é uma violação do Sexto Mandamento. Assim, eu diria que qualquer coisa que “pretenda” destruir a vida de alguém – ou “pretenda” prevenir a vida de alguém – é também uma violação deste mandamento. Agora, pode ser argumentado pelo Catecismo Maior que a abstenção intencional da relação sexual ou o derramamento intencional do sêmen com o propósito expresso da prevenção da vida seja um caso de justiça pública, guerra justa ou defesa necessária (que são enumerados como motivos bíblicos para tirar a vida de outros, de acordo com a Pergunta 136 no Catecismo Maior)? Pelo contrário, eu diria que se abster intencionalmente da relação sexual ou derramar intencionalmente o sêmen com o propósito de se prevenir a vida é, na verdade, de acordo com o Catecismo Maior, “a negligência ou retirada (pecaminosas) dos meios 32 | CONTROLE DE NATALIDADE lícitos ou necessários para a preservação da vida” (a preservação de uma criança real que seria concebida). Alguém pode tentar argumentar que existe um caso justi cável em que uma mulher tem o direito de preservar sua própria vida pela prevenção da concepção de uma criança – consequentemente, um caso de autodefesa. É verdade que tirar a vida de alguém com o m de se preservar a própria ou a de outrem é algo legítimo, mas apenas com essas quali cações: desde que o agressor demonstre a intenção de causar danos corporais a outros. Quando alguém usa autodefesa contra um ladrão que invade sua casa à noite, ele está justi cado em fazer isso porque deve assumir que a intenção do ladrão não é o benefício do dono da casa: “Se um ladrão for achado arrombando uma casa e, sendo ferido, morrer, quem o feriu não será culpado do sangue.” Êxodo 22.2 Entretanto, se não pode ser provado que haja qualquer intenção da parte de uma pessoa de causar danos à outra, então a autodefesa não é justi cada. Se, por exemplo, um carro é guiado para um cruzamento onde uma criança está atravessando a rua, este não seria III. CONTRASTANDO RAZÕES LEGÍTIMAS COM RAZÕES ILEGÍTIMAS PARA ABSTENÇÃO | 33 um caso justi cado de autodefesa para o pai puxar uma arma e matar o motorista, que não é capaz de parar a tempo. Não existe um caso de autodefesa necessária em que não exista evidência que alguém pretenda machucar outra pessoa. Não só uma criança no ventre não intenciona provocar qualquer ataque agressivo à saúde da mãe, como ela passivamente existe e vive no ventre maternopara a declarativa glória de Deus e para a benção da humanidade (de acordo com as declarações expressas nas Escrituras, como no Salmo 125.3-5). Assim, o impedimento intencional de um ser humano real, que não tem a intenção de atacar a vida de alguém, é uma violação do Sexto Mandamento e não cai na categoria de autodefesa necessária. RISCOS DE VIDA PARA A MÃE OU PARA A CRIANÇA IV Alguns podem argumentar que quando certos riscos potenciais à saúde são possíveis no futuro tanto para a mãe quanto para o bebê, é garantido em tal circunstância buscar a prevenção intencional da concepção de uma criança. Entretanto, considere vários casos bíblicos em que tanto a vida da mãe quanto a da criança (ou ambas) estavam em grande perigo ou em sérios riscos e, ainda assim, nenhuma medida foi tomada pelo povo de Deus, nem sugeridas ou requeridas pelo próprio Deus para prevenir a concepção de crianças. Êxodo 1.7 constata que após a morte de José: “...os lhos de Israel foram fecundos, e aumentaram muito, e se multiplicaram, e grandemente se fortaleceram, de maneira que a terra se encheu deles.” A abundância de crianças que eram concebidas e geradas se tornou um problema para os egípcios, que temiam que Israel se unisse com um inimigo e os oprimissem. Assim, os egípcios tentaram, primeiramente, diminuir a população de Israel com o IV RISCOS DE VIDA PARA A MÃE OU PARA A CRIANÇA IV. RISCOS DE VIDA PARA A MÃE OU PARA A CRIANÇA | 37 aumento signi cativo da carga de trabalho dos Israelitas como escravos (Êxodo 1.11). Entretanto, as Escrituras lembram: “Mas, quanto mais os a igiam, tanto mais se multiplicavam e tanto mais se espalhavam” Êxodo 1.12 também ver Êxodo 1.13,14 Assim, circunstâncias econômicas difíceis e trabalho incansável não foram declarados como razões válidas para que os israelitas se refreassem de ter lhos. Ao contrário, os israelitas continuaram obedecendo ao mandamento de Deus (“Fruti cai e multiplicai-vos”) dado a Adão e Eva antes da queda (Gênesis 1.28) e a Noé e a seus lhos depois da queda (Gênesis 9.1,7). O Rei do Egito, então, procurou a ajuda das parteiras para assassinar todos os bebês israelitas homens, mas sem sucesso (Êxodo 1.15-21). Finalmente, Faraó declarou que todo bebê israelita do sexo masculino deveria ser jogado no rio (Êxodo 1.22). Se existisse algum período na história bíblica em que medidas de controle de natalidade fossem permitidas a m de poupar a vida da mãe ou da criança, teria sido neste. No entanto, nenhuma palavra foi proferida por Deus com o propósito de ordenar 38 | CONTROLE DE NATALIDADE que pais e mães tomassem medidas para prevenir a concepção de crianças, mesmo que fosse possível – e até provável – que o nascimento do bebê resultasse na morte tanto da mãe quanto do lho, se Faraó descobrisse. Pelo contrário, um pai e uma mãe éis de Israel colocaram sua con ança em Deus e obedeceram Seu mandamento (“Fruti cai e multiplicai-vos”), e a criança que nasceu se tornou o libertador do povo de Deus da escravidão do Egito: Moisés. Se buscar intencionalmente a prevenção da concepção de uma criança – devido a algum risco que pode ocorrer à mãe ou à criança – é um ato justo, então os pais de Moisés não se aproveitaram do que era justo – e até mesmo necessário – em um contexto de ameaça muito grande para a vida do lho e, possivelmente, da mãe também. Não pode ser razoavelmente argumentado que os pais de Moisés não usaram métodos de controle de natalidade porque ‘tais métodos não estavam disponíveis a eles’. A História é repleta de vários métodos de controle de natalidade que eram usados em tempos antigos. Kathleen O’Grady escreveu sobre hieróglifos Egípcios que descrevem um tampão que era usado para a contracepção por volta de 1550 a.C (“Contracepção e Religião - Uma Breve História”). Em um trabalho intitulado ‘Sementes de Albion’ (tradução livre, p.92,93), David Fisher, que não se intitula um cristão, contrasta a visão de culturas primitivas com a cultura Puritana em IV. RISCOS DE VIDA PARA A MÃE OU PARA A CRIANÇA | 39 New England no que diz respeito à questão de métodos intencionais de contracepção que envolvem derramar o sêmen do homem: “A maioria das culturas primitivas praticava alguma forma de contracepção, geralmente com alto sucesso. Mulheres índias iroquesas faziam diafragmas de casca de bétula. Escravos africanos usavam pessários (isto é, supositórios) de esterco de elefante para prevenir a gravidez. Mulheres europeias usavam discos de cera de abelha, folhas de repolho, espermicidas de chumbo, cal e alcatrão. Durante o século dezessete e o início do século dezoito, coito interrompido (retirada e derramamento do sêmen) e o uso de camisinhas de intestino de carneiro se espalharam pela Europa. Mas os puritanos não mantinham nenhuma dessas 10 práticas não naturais. Eles acharam uma regra clara em Gênesis 38, onde Onã ‘derramou seu sêmen no chão‘ em uma tentativa de prevenir a concepção, e o Senhor o matou. Em Massachusetts, derramar o sêmen, em geral, era conhecido como o “hediondo pecado de Onanismo”. Um puritano não podia praticar o coito interrompido e continuar com sua fé”. Kathleen London em um curso dado no Instituto de professores de Yale – New Haven declara: 40 | CONTROLE DE NATALIDADE “Douching era usada em tempos antigos, mas não era muito efetivo. O médico Grego A’tious sabia as propriedades do vinagre, mas recomendava que fosse aplicado ao pênis em vez de ser usado como douche 1 (...) Pessário é um supositório vaginal, usado para matar o esperma e/ou bloquear a sua passagem pelo cérvix. O pessário era o dispositivo contraceptivo mais efetivo usado nos tempos antigos e inúmeras receitas deste método de épocas remotas são conhecidas. Ingredientes de pessários incluíam: uma base de esterco de crocodilo (esterco era frequentemente a base), uma mistura de mel e carbonato de sódio natural formando uma espécie de goma. Todos eram de uma consistência que derretia com a temperatura corporal e formavam um revestimento impenetrável no cérvix. O uso de óleo também foi sugerido por Aristóteles e defendido em 1931 pela defensora de controle de natalidade Marie Stopes (A História do controle de natalidade, Kathleen London)”. Além do relato de Êxodo 1, é possível observar falas do Senhor por meio de seus profetas em que Ele faz Douching IV. RISCOS DE VIDA PARA A MÃE OU PARA A CRIANÇA | 41 conhecido que mães com crianças seriam cruelmente rasgadas ou quebradas contra os rochedos por inimigos ferozes (sem dúvida matando a mãe e a criança). Por exemplo, o profeta Elias lamenta quando é dado a ele conhecimento sobrenatural do que Hazael faria às crianças de Israel num futuro próximo. “Então, disse Hazael: Por que chora o meu senhor? Ele respondeu: Porque sei o mal que hás de fazer aos lhos de Israel; deitarás fogo às suas fortalezas, matarás à espada os seus jovens, esmagarás os seus pequeninos e rasgarás o ventre de suas mulheres grávidas.” 2 Reis 8.12 De modo semelhante, o profeta Oséias prediz que Samaria logo enfrentaria o mesmo tratamento brutal nas mãos dos Assírios (Oséias 10.14,15; Oséias 13.16). Agora, se métodos de controle de natalidade foram sancionados por Deus como justos e necessários para mães ou crianças em risco, nós certamente teríamos esperado ouvir de Deus sobre tal opção para pais em situações como as descritas acima. Pelo contrário, não existe nenhuma opção mencionada por Deus em Sua Palavra em que pais pudessem (mesmo nas circunstâncias mais desesperadoras) intencionalmente escolher evitar a 42 | CONTROLE DE NATALIDADE concepção de uma criança. Não é como se o povo de Deus não tivesse enfrentado muitos acontecimentos perigosos que ameaçassem a vida da mãe ou da criança dentro do ventre. Não é como se métodos de controle de natalidade não estivessem disponíveis ao marido e esposa nesse tempo. Contudo,tais métodos nunca foram mencionados por Deus como uma possibilidade ou opção. DERRAMANDO O SÊMEN V A seguir, examinaremos brevemente a prática de intencionalmente derramar a semente da copulação (seja dentro de uma camisinha, espermicida, diafragma, DIU, no chão, etc) para o propósito expresso de impedir uma vida. Ao passo que temos testemunhos explícitos – e consequências boas e necessárias – relativos à abstenção da relação sexual em certas circunstâncias estabelecidas na Palavra de Deus (piedade, misericórdia, modéstia e necessidade), não temos nenhuma testemunha em toda Escritura a respeito do uso de métodos que previnam a concepção e envolvam o derramamento intencional da semente da copulação. Mesmo que alguém argumente que ele está derramando o sêmen pelo motivo correto (amor por Deus) e pelo propósito certo (bem-estar da sua mulher), mesmo assim, ele ainda precisa considerar se o ato em si é sancionado pela Palavra de Deus. Eu digo que o derramamento intencional do sêmen de alguém com o m de impedir uma vida não é um ato sancionado pela Palavra de Deus. A passagem clássica que a Igreja usou por centenas de anos para demonstrar a pecaminosidade do derramamento intencional do sêmen com a nalidade de impedir a vida é Gênesis 38.9. Essa é a única passagem em toda Escritura que especi camente fala sobre o uso V DERRAMANDO O SÊMEN V. DERRAMANDO O SÊMEN | 45 de algum método de controle de natalidade. E, como eu espero provar, Deus não apenas não sanciona o uso intencional do desperdício do sêmen a m de evitar a concepção, como, na verdade, condena a prática. Pelo relato de Onã, vamos examinar o seguinte: As circunstâncias que levaram ao pecado dele; O pecado em si; O julgamento divino sobre Onã e o testemunho da história sobre o pecado de Onã. AS CIRCUNSTÂNCIAS QUE LEVARAM AO PECADO DE ONÃ Somos informados que o irmão de Onã, Er, casou- se com uma mulher chamada Tamar (Gênesis 38.6), mas devido a alguma maldade cometida por Er, Deus o matou (Gênesis 38.7). Como resultado de sua morte, Judá, o pai de Er e Onã, disse a Onã para se casar com Tamar e suscitar uma “semente” (ou criança) para ser descendência legal de Er. É importante notar que não havia uma Lei Divina explicitamente declarada autorizando essa relação marital até o tempo da lei mosaica cerca 300 anos depois (Deuteronômio 25.5,6). Onã obedeceu ao seu pai e tomou Tamar como sua esposa, mas ao invés de copular com vista a trazer à vida uma criança, ele intencionalmente “derramou” seu sêmen no chão a m de não suscitar descendência a seu irmão. 46 | CONTROLE DE NATALIDADE O PECADO DE ONÃ Até o século 20, a visão universal de comentaristas cristãos e judeus era de que Onã foi morto particularmente pelo pecado de intencionalmente derramar seu sêmen no chão a m de evitar a concepção de uma criança. Desde o início do século 20, vários métodos de contracepção começaram gradativamente a ser tolerados, e depois aceitos, e nalmente promovidos dentro da Igreja de Cristo. E junto com essa tendência dentro do cristianismo, também veio outra interpretação do pecado de Onã: A saber, ele foi morto por ter se recusado a suscitar descendência para o seu irmão. Ninguém está negando que Onã jogou fora seu sêmen a m de que seu irmão não tivesse um herdeiro legal. Ninguém está sugerindo que ele não foi motivado por egoísmo e cobiça. Mas a questão que deve ser respondida é essa: Deus teria matado Onã se ele não estivesse intencionalmente derramado seu sêmen, mas simplesmente tivesse se recusado a suscitar descendência para seu irmão? Interessantemente, essa questão é respondida a nós em Deuteronômio 25.7-10, onde a penalidade pela recusa a suscitar descendência para um irmão morto não é a morte, e sim, vergonha. Então, como explicamos a severidade da punição recebida? Eu digo, o pecado de Onã foi agravado pelo ato especí co que ele cometeu. O ato especí co não V. DERRAMANDO O SÊMEN | 47 foi inconsequente à punição que ele recebeu. O texto constata: “Isso, porém, que fazia, era mau perante o SENHOR, pelo que também a este fez morrer.” Gênesis 38.10 A coisa que ele fazia era que ele intencionalmente derramava seu sêmen no chão. E ele fazia isso a m de impedir a concepção. Assim, o que é expressamente abominável no pecado de Onã era sua prática intencional de uma forma de copulação (coito interrompido) a m de evitar a concepção. Da mesma forma, essencialmente, qualquer forma de contracepção que intencionalmente desperdice a semente da copulação com a nalidade de impedir a concepção (pode ser numa camisinha, pílulas anticoncepcionais, diafragma, DIU, espermicida, ligamento tubário, vasectomia, etc) é condenado aqui por Deus como uma maneira de tomar a vida de uma pessoa real – mesmo que essa pessoa não exista ainda. Isso é usurpar o lugar de Deus que diz que Ele sozinho é quem dá vida e a tira (Deuteronômio 32.39; 1 Samuel 2.6), que abre o ventre e o fecha (Gênesis 29.31; Gênesis 30.2,22; 1 Samuel 1.5,6). Não é sem razão que a Escritura usa a mesma palavra 48 | CONTROLE DE NATALIDADE hebraica para “semente” (zerah) tanto para se referir ao sêmen (Levítico 15.16,18,32) quanto para se referir a uma criança que já foi concebida ou que já nasceu (Levítico 12.2, Levítico 18.21). Em Gênesis 38 existe uma conexão notável entre a semente da copulação e a semente da concepção/nascimento. No verso 8 deste capítulo, Onã é ordenado pelo seu pai, Judá, a suscitar a “semente” da concepção/nascimento (isto é, um herdeiro homem) para o seu irmão morto. No verso seguinte, ele sabia que a semente da concepção/nascimento (isto é, um bebê homem) não seria seu herdeiro legal, mas de seu irmão, então, ele “a“ derrama (isto é, a semente da copulação) sobre o chão para que não haja a semente da concepção/ nascimento – na forma de um herdeiro do sexo masculino – para seu irmão. Agora o ponto não é se a semente da copulação é uma pessoa como a semente da concepção/ nascimento, mas sim que o Senhor faz uma conexão íntima entre a semente da concepção ou nascimento e a semente da copulação. Em outras palavras, é a semente da copulação que se torna a semente da concepção. Assim, destruir intencionalmente a semente da copulação é intencionalmente destruir a semente da concepção. Deus intencionalmente juntou no mesmo verso a semente da copulação (mesmo que declarada implicitamente) com a semente da concepção e com a semente do nascimento (embora declarado explicitamente) usando a mesma palavra hebraica (zerah). Porque existem vários estágios V. DERRAMANDO O SÊMEN | 49 para a semente da humanidade. Não existe, assim, nenhum ato insigni cante no que diz respeito a destruir intencionalmente a semente humana de copulação a m de prevenir a concepção. É uma violação do Sexto Mandamento (“Não matarás”), que nos dá a única razão sólida para Deus ter julgado Onã com uma penalidade tão severa: a morte. Onã tirou a vida, portanto, sua própria vida foi tirada de igual modo. Note cuidadosamente que mesmo quando um homem acidentalmente derramava seu sêmen, como, por exemplo, durante o sono, ele era tratado por Deus como “imundo” pela lei levítica, o que requeria separação, limpeza e expiação (Levítico 15.16-18,30-32). Agora, se a semente da copulação é vista por Deus com tanto signi cado – porque ela carrega Sua vida – que derramá-la acidentalmente requeria separação, limpeza e expiação, quanto mais seriamente Deus leva em conta derramar intencionalmente a semente da copulação a m de evitar a concepção? O julgamento que caiu sobre Onã nos diz quão seriamente Deus vê o pecado de intencionalmente derramar o sêmen para evitar a concepção. O JULGAMENTO DIVINO SOBRE ONÃ Finalmente, vamos considerar o julgamento divino que caiu sobre Onã pelo seu pecado. Nós aprendemos 50 | CONTROLE DE NATALIDADE que como resultado de seu pecado Deus “o matou” (Gênesis 38.10). Que lei ele violou para que fosse julgadotão severamente? Onã violou alguma Lei Divina em relação ao casamento de levirato, em que um irmão era ordenado a casar-se com a viúva de seu irmão morto a m de suscitar um herdeiro legal para seu irmão? Se sim, esta era uma lei que não havia sido sistematizada, porque ela só viria a existir nas Escrituras no tempo de Moisés, cerca 300 anos depois (Deuteronômio 25.5-10). A Lei de Deus pode ser dividida em 3 categorias: moral, cerimonial e judicial. A Lei moral é uma regra perfeita de retidão que obriga a todos os homens em todas as épocas e está resumida nos 10 mandamentos. A Lei cerimonial é aquela que foi dada a Israel como uma sociedade eclesiástica contendo várias cerimônias, objetos e ofícios típicos (como sacrifícios, templo, sacerdócio) que pre guravam Cristo e Seus benefícios. Esse aspecto da Lei foi revogado na sua forma exterior na cruci cação de Cristo, exceto pelos princípios morais que estão por trás dela, que continuam obrigando a todos os homens e igrejas em todas as épocas. A Lei judicial é aquela que foi dada a Israel como uma sociedade civil contendo várias ordenanças para regular as pessoas dentro da Terra Prometida. Esse aspecto da lei expirou quando o estado de Israel cessou com a destruição de Israel em 70 d.C, exceto pelos princípios morais que estão por trás das leis que ainda obrigam a todas as pessoas e V. DERRAMANDO O SÊMEN | 51 nações em todas as épocas. Agora, se Onã foi ordenado pela Lei de Deus a casar- se com a viúva de seu irmão morto e lhe suscitar uma descendência, qual das três categorias, listadas acima, da Lei Divina ele violou quando se recusou a suscitar descendência a seu irmão? Em outras palavras, sob qual categoria da Lei de Deus estava compreendido o casamento de levirato e seus deveres no tempo de Onã? Na época dele, o levirato certamente não estava compreendido na Lei judicial, porque ela ainda não havia sido dada a Israel através de Moisés. O levirato nunca esteve compreendido na Lei cerimonial (nem antes, nem depois de Moisés), porque o casamento de levirato não era um tipo de Cristo e de Seus benefícios, nem tinha algo a ver com a adoração formal. A lei do levirato também não poderia estar compreendida na Lei moral, porque não obriga a todos os homens em todas as épocas. Quando o levirato foi institucionalizado como uma Lei judicial dentro de Israel, no tempo de Moisés, tinha-se em mente manter a hereditariedade das tribos puras para que famílias e tribos dentro de Israel não perdessem seus bens para estrangeiros. Isso prevenia que estranhos de fora de Israel con scassem a herança dos israelitas. Ela era, portanto, uma lei que pertencia a Israel na Terra Santa. Assim, como o casamento de levirato de Onã não era um aspecto da Lei judicial, cerimonial ou moral, não era uma lei divina. Eu diria que o casamento 52 | CONTROLE DE NATALIDADE de levirato na época de Onã era uma prática cultural (não uma lei moral). Sendo este o caso, é provável que Deus o tenha matado por violar uma prática meramente cultural? Eu acho que isso é bem improvável. Qual, então, foi a razão para o julgamento severo de Deus contra Onã? Eu digo que foi por causa do derramamento intencional da semente da copulação por Onã para impedir a concepção de uma criança. Isso era uma abominação para Deus. Era praticar o mesmo tipo de relação sexual (não-procriativa) que os sodomitas praticavam, o que era também uma abominação para o Senhor (Levítico 18.22). O TESTEMUNHO DA HISTÓRIA SOBRE O PECADO DE ONÃ Porque sempre existiram vários métodos contraceptivos que envolvem o desperdício intencional da semente da copulação com a nalidade de prevenir a concepção de uma criança, Igrejas e ministros éis aproveitaram a ocasião para falarem contra o ato de Onã como um pecado grave e proibido pela Palavra de Deus. Eu estou em débito com Charles Provan pelo que seu trabalho histórico tem provido nesse tratamento dado ao assunto, “A Bíblia e o Controle de Natalidade” (tradução livre, disponível através de Still Waters Revival Books). V. DERRAMANDO O SÊMEN | 53 Agostinho é claro em sua denúncia do pecado de Onã: “Porque é ilícito e vergonhoso para um homem mentir até mesmo para sua mulher el de modo a prevenir a concepção de uma prole. Foi isso que Onã, lho de Judá, costumava fazer. E por isso, Deus o executou”1 João Calvino, considerando o caso de Onã, vincula ao aborto o desperdício intencional do sêmen do homem a m de evitar a concepção: “O derramar voluntário de sêmen fora da relação sexual entre homem e mulher é algo monstruoso. Deliberadamente retirar-se do coito para que o sêmen caia no chão é duplamente monstruoso. O motivo é que isso é extinguir a esperança da raça humana e matar antes que venha a nascer a prole esperada. Essa impiedade é especialmente condenada pelo Espírito, através da boca de Moisés, agora que Onã, por assim dizer, como por um aborto violento, cruelmente atira no chão sujo o descendente de seu irmão, arrancando-o De adulterinis coniugiis ad Pollentium 54 | CONTROLE DE NATALIDADE do ventre materno. Além disso, ele tentou, na medida em que lhe era possível, aniquilar uma parte da raça humana. Se alguma mulher expulsa um feto de seu útero por drogas, isto é considerado um crime sem possibilidade de expiação e, com total merecimento, Onã deveria incorrer no mesmo tipo de castigo, infectando a Terra pelo seu sêmen, para que Tamar não concebesse um futuro ser humano como habitante da terra”.2 O Sínodo de Dort, em 1618, comissionou anotações a serem escritas para toda a Bíblia (que foram completadas e publicadas pela autoridade da Igreja Reformada da Holanda em 1637). Nas anotações Holandesas sobre a bíblia toda, notamos o comentário a seguir sobre o incidente de Onã em que seu pecado foi relacionado a assassinato premeditado: “Isso foi tanto quanto como se ele tivesse (de alguma forma) retirado o fruto da barriga da mãe e o destruído”. V. DERRAMANDO O SÊMEN | 55 Andrew Willet (um ministro na Inglaterra) escreveu um comentário massivo sobre o livro de Gênesis, Hexapla in Gênesis, publicado em 1632. Ele a rma que o pecado de intencionalmente derramar o sêmen em Gênesis 38 consistia nos diversos pecados abaixo: “(Isso era) contra a ordem natural, usando o ato da geração para prazer apenas, não para gerar; era contra Deus, cuja instituição ele quebrou; contra sua esposa, a quem ele defraudou do fruto de seu ventre; contra ele mesmo, em prevenir seu lho; contra a humanidade, que deveria ter crescido e sido propagada (…) esse pecado de inveja (foi) contra seu irmão, a quem ele deveria ter dado uma descendência”. William Gouge, ministro presbiteriano e membro da Assembleia de Westminster, discursou sobre a benevolência devida que um marido e uma esposa devem um ao outro (de acordo com Paulo em 1 Coríntios 7.3), mencionando que o pecado de Onã não deveria estar presente no casamento: “Negar esse dever justamente exigido é negar uma dívida devida e dar a Satanás grande vantagem. 56 | CONTROLE DE NATALIDADE A punição in igida a Onã (Gn 38.9,10) mostra quão grande erro isso é. Por essa punição, os Hebreus apreendem que esse pecado é um tipo de assassinato. É muito mais odioso quando o ódio, a corpulência, bondade, medo de ter muitos lhos, ou qualquer coisa semelhante são a causa disso”.3 Vários ministros em Londres, em 1657, completaram anotações sobre todo o Antigo e Novo Testamentos. Os comentários de Gênesis 38.9 são como segue: “Verso 9: A lascívia desse fato era composta de luxúria, de inveja e assassinato; O primeiro aparece, em que ele foi precipitadamente até isso, parece que ele não esperou até a noite, para o tempo de privacidade para tal propósito, senão a cama teria sido mencionada, ao invés do chão; O segundo é facilmente deduzida do texto, ele invejou a honra de seu irmão morto, pois ele não seria pai de nenhum lho, que deveria ser consideradodo seu irmão, e não dele próprio; o terceiro, que existe uma virtude seminal vital, que perece quando a semente é derramada, e fazer isso para impedir o nascimento de uma criança vivente é o primeiro grau de assassinato que pode ser cometido, e o V. DERRAMANDO O SÊMEN | 57 próximo é o estrago da concepção, que, quando é feita, causa o aborto: agora tais atos são notados na Escritura como crimes horríveis, porque, de outra forma, muitos poderiam cometê-los e não saber o mal deles”. As observações de Matthew Poole de igual modo coincidem com os ensinamentos da Igreja, apresentados acima, sobre esse texto da Escritura: “Duas coisas são vistas aqui: 1. O pecado por si mesmo, que aqui é particularmente descrito pelo Santo Espírito, para que os homens sejam instruídos a respeito da natureza e do grande mal desse pecado de auto poluição, que é tal que trouxe sobre o autor dele a vingança extraordinária de Deus, e que é condenado não só pela Escritura, mas também pela luz da natureza e pelo juízo dos pagãos, que expressamente censuraram esse ato como um grande pecado, e como uma espécie de assassinato. Dos quais, ver minha sinopse latina. De modo que podemos compreender su cientemente quão perversa e abominável é esta prática entre os cristãos, e à luz do evangelho, que nos impõe obrigações maiores e mais severas sobre pureza, e proíbe severamente toda a poluição da carne e do espírito. 2. A causa dessa maldade; Que parece ter sido ódio de seu irmão, ou 58 | CONTROLE DE NATALIDADE inveja do nome e da honra de seu irmão, brotando do orgulho de seu próprio coração”. Nas atas do Encontro Geral da Igreja Presbiteriana Reformada (que ocorreu em 1888, o ano depois da morte de David Steele), o seguinte é listado como uma das causas do jejum: “Nós acreditamos que a impureza, em todas as suas formas poluentes e degradantes, está aumentando. Nós tememos que muitos que são membros da Igreja utilizam meios de prevenção da prole, usando o leito matrimonial para satisfazer suas luxúrias, destruindo suas próprias vidas e trazendo sobre si mesmos a ira de um Deus Santo”. CONCLUSÃO A Escritura é nossa única regra infalível de fé e prática. Em matéria de controle de natalidade, nós devemos olhar para a Bíblia com con ança sabendo que Deus revela Sua vontade sobre assuntos tão signi cativos, porque as questões éticas em torno de controle de natalidade se relacionam a questões não menos importantes que vida e morte. Eu procurei demonstrar que o uso intencional de controle de natalidade para evitar a concepção de uma criança é contrário ao padrão supremo da Palavra infalível de Deus pelas seguintes razões enumeradas: 1. É prerrogativa divina dar a vida e tirar a vida, e abrir e fechar o ventre. 2. Antes da queda do homem no pecado, Deus ordenou que homem e mulher fruti cassem e se multiplicassem (e repetiu o mesmo mandamento de novo, depois da queda, para Noé e seus descendentes). 3. Deus nunca revogou o mandamento de fruti car e se multiplicar nem no Antigo, nem no Novo Testamento. 4. Deus nos ordenou que não matássemos (O Sexto Mandamento), e intencionalmente impedir a concepção de uma criança é intencionalmente tirar a vida futura de um ser humano real. 5. Deus declarou que lhos são herança dEle e que o homem que tem sua aljava cheia deles é grandemente CONCLUSÃO CONCLUSÃO | 61 abençoado (e não amaldiçoado). 6. Deus nunca autorizou (por preceito, exemplo aprovado ou inferência boa e necessária) a abstenção de relações sexuais ou desperdício da semente com o propósito expresso de impedir a concepção, mas, pelo contrário, Deus exalta os pais (como os pais de Moisés) que viam o mandamento de Deus (“Fruti cai e multiplicai-vos”) como mais importante até mesmo que os futuros riscos para suas próprias vidas ou para a vida do seu bebê, e Deus executa Onã por, intencionalmente, desperdiçar seu sêmen com o m de prevenir a concepção de uma criança. 7. O testemunho universal da Igreja até o século 20 também via a prática de controle de natalidade para a prevenção intencional da concepção como contrária à luz da natureza e contrária à vontade de Deus nas Escrituras. Assim, eu declaro, concluindo essa breve visão geral, que o peso esmagador de evidências sustenta a prática virtuosa de deixar nosso soberano, bom e sábio Deus determinar o número de lhos que cada família deve ter. Não devemos fazer nada intencionalmente de nossa parte para evitar a concepção de um bebê. Esse mandamento divino refere-se a todos nós – seja homem ou mulher, seja novo ou velho, seja rico ou pobre, se estamos em risco ou se não estamos em risco de um 62 | CONTROLE DE NATALIDADE perigo potencial, seja judeu ou gentio (ou seja, cristão ou não cristão). Porque isso esta é uma Lei moral de Deus.