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Prévia do material em texto

Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
CADERNO – RESPONSABILIDADE CIVIL/ LÉO VIEIRA – FBDG 
 
AULA 01 – APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA 
 
1. Apresentação da disciplina: 
 
 Terá uma aula importante sobre responsabilidade civil no Direito médico-hospitalar; 
 Trata-se de uma matéria importante para a prática, ainda mais para atingir o fim de 
pacificação social inerente ao Direito; 
 Avaliações: 29/09 e 01/12; 
 Duas provas individuais e subjetivas com base no conteúdo trabalhado em sala de 
aula, contendo cinco questões cada. O aluno tem o direito de descartar uma questão, 
ou seja, tem um direito-dever de responder a quatro perguntas (valendo 2,5 cada, 
totalizando 10,0 pontos). Ademais, há 100 minutos (1h e 40min – meia aula da 
disciplina) para finalizar o teste; 
 Na primeira avaliação poderá ser consultado o Código Civil impresso pelo professor, 
sendo vedado o uso do Vade Mecum; 
 Haverá 1,0 ponto extra para cada avaliação resultante de uma boa escrita nas 
respostas. Cada erro de português levará a perda de 0,1 ponto; 
 Serão disponibilizadas no ágata provas antigas e terá meia-aula de revisão na semana 
anterior à avaliação; 
 Leitura é fundamental e prestar atenção nos conteúdos trabalhados em sala 
também; 
 Não terá monitor este semestre; 
 Referências bibliográficas: 
 Leonardo Vieira (Ágata); 
 Cristiano Chaves, Nelson Rosenvald e Felipe Peixoto Braga Netto; 
 Rodolfo Pamplona e Pablo Stolze; 
 Carlos Roberto Gonçalves; 
 Código Civil Comentado (arts. 927 e seguintes, CC) – Ed. Forense; 
 
2. Noções introdutórias à responsabilidade civil: 
A responsabilidade civil tem como objetivo principal a reparação do dano. Daí a razão para 
que, em alguns países, esse instituto seja conhecido como Direito dos Danos. 
Para além da função reparatória, há a função punitiva e a educacional, entre outras que 
serão discutidas com maior riqueza de detalhes em momento posterior. 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
A norma de regência desse instituto é o art. 927 do Código Civil. 
Art. 927 – CC: Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica 
obrigado a repará-lo. 
Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos 
casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do 
dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem. 
 
O art. 927 expressamente menciona os artigos do Código Civil que discorrem sobre os atos 
ilícitos e o abuso de direito. Por conta disso, é de suma importância a revisão do conteúdo 
de “atos ilícitos”, trabalhados com o célebre Maurício Requião na disciplina “Introdução ao 
estudo do Direito Privado II” (Civil II). 
Art. 186 – CC: Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, 
violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. 
Art. 187 – CC: Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede 
manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos 
bons costumes. 
 
A responsabilidade civil vai definir: 
 Se um dano é indenizável ou não; 
 Quem deve pagar esse dano; 
 Se há nexo de causalidade entre a conduta – comissiva ou omissiva – de alguém e o 
dano; 
Em uma perspectiva bem simplista, responsabilidade civil é o instituto que busca solucionar 
um problema ocorrido que prejudicou alguém. Apresenta, pois, um caráter impositivo. 
Para Maria Helena Diniz, “poder-se-á definir a responsabilidade civil como a aplicação de 
medidas que obriguem a alguém a reparar dano moral ou patrimonial causado a terceiros, 
em razão de ato do próprio imputado, de pessoa por quem ele responde ou de fato, coisa ou 
animal sob sua guarda ou ainda de simples imposição legal”. 
Teçamos algumas críticas e comentários pertinentes: 
 O conceito da professora Maria Helena Diniz negligencia o dano estético, conforme 
entendimento de súmula do STJ; 
 Imputar significa apontar o dedo a alguém que é o responsável; 
 A conduta é pressuposto da responsabilidade civil. Essa pode ser direta (o próprio 
sujeito pratica uma conduta) ou indireta (por conduta do 
representado/assistido/tutelado/curatelado ou animal sob guarda do sujeito); 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
 A responsabilidade subjetiva exige a comprovação de dolo/culpa, já a 
responsabilidade objetiva, a qual é regra no Direito do Consumidor, se dá por 
determinação legal, independentemente da aferição de dolo/culpa; 
 
Há quatro pressupostos cumulativos (concomitantes) da responsabilidade civil a luz de uma 
Teoria Clássica: 
 Conduta: Ação ou omissão; 
 Dano: Prejuízo relevante; 
 Nexo causal: Relação de causa e efeito entre conduta e dano; 
 Nexo de imputação: Provar que o sujeito agiu dolosa/culposamente (a regra no 
Direito Civil é a responsabilidade subjetiva) e é responsável – direta ou 
indiretamente; 
Como já mencionado, os quatro requisitos são cumulativos, de modo que a falta de um 
impede a responsabilidade civil. 
O transporte de produtos químicos é uma atividade de risco para a sociedade. Nesse caso, o 
nexo de imputação é a atividade de risco e não a culpa do agente. A responsabilidade, 
portanto, é objetiva. O nexo de imputação engloba diversos fatores do dever de indenizar: o 
risco, equidade ou a simples disposição legal. 
Quando o sujeito age em descompasso com o Direito, este tem que arcar com a 
responsabilidade jurídica, a qual se divide em responsabilidade civil, responsabilidade penal, 
responsabilidade ético-profissional e a responsabilidade administrativa. Há, destarte, quatro 
espécies distintas. O foco da disciplina é a responsabilidade civil, a qual atinge o bolso. 
RESPONSABILIDADE JURÍDICA 
CIVIL PENAL ÉTICO-PROFISSIONAL ADMINISTRATIVA 
Atinge o bolso – o 
patrimônio do 
indivíduo. 
A responsabilidade 
penal atinge a 
liberdade (o direito 
de ir e vir – penas 
privativas de 
liberdade) e, às 
vezes, o patrimônio 
(pena de multa). 
Relacionada ao 
exercício da 
profissão. Pode 
apresentar sanções, 
tais como a censura 
sigilosa, censura 
pública, suspensão 
do exercício 
profissional e a 
cassação do registro 
profissional (esta a 
mais gravosa). 
Abrange os atos dos 
servidores públicos, 
os quais poderão 
responder a um PAD. 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
A responsabilidade ambiental não é uma espécie isolada, ora se enquadrando em uma ou 
mais das esferas acima. 
A sanção da responsabilidade civil é reparatória e preventiva, já que busca reparar o dano e 
desestimular a repetição de condutas semelhantes. Como regra, a responsabilidade civil é 
uma sanção. 
As esferas da responsabilidade jurídica são autônomas. Há uma exceção: se há condenação 
na esfera criminal por um crime que também gerou danos a terceiros, repercutirá no 
processo civil e, por conseguinte, na esfera da responsabilidade civil. Caso haja a absolvição 
por inexistência material do fato no âmbito criminal (o fato sequer existiu, 
independentemente de ser ou não crime), não há que se falar em reparação civil (art. 66, 
CPP). 
 
3. Desenvolvimento histórico da responsabilidade civil: 
A responsabilidade subjetiva é mais favorável ao sujeito, já a responsabilidade objetiva é 
mais interessante para aquele que almeja à responsabilidade civil (a vítima). 
 
Art. 373 – NCPC: O ônus da prova incumbe: 
I - ao autor, quanto ao fato constitutivo de seu direito; 
II - ao réu, quanto à existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do 
autor. 
§ 1º Nos casos previstos em lei ou diante de peculiaridades da causa relacionadas à 
impossibilidade ou à excessiva dificuldade de cumprir o encargo nos termos do caput ou à 
maior facilidade de obtenção da prova do fato contrário, poderá o juiz atribuir o ônus da 
prova de modo diverso, desde que o faça por decisão fundamentada, caso em que deverá 
dar à parte a oportunidadede se desincumbir do ônus que lhe foi atribuído. 
§ 2º A decisão prevista no § 1º deste artigo não pode gerar situação em que a 
desincumbência do encargo pela parte seja impossível ou excessivamente difícil. 
§ 3º A distribuição diversa do ônus da prova também pode ocorrer por convenção das 
partes, salvo quando: 
I - recair sobre direito indisponível da parte; 
II - tornar excessivamente difícil a uma parte o exercício do direito. 
§ 4º A convenção de que trata o § 3º pode ser celebrada antes ou durante o processo. 
Em razão da vedação ao non liquet (art. 140, CPC), o juiz não pode se negar a decidir, ainda 
que haja lacuna ou obscuridade no ordenamento jurídico. 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
Como regra, quem deve provar o dano é a vítima do dano, a qual está exigindo a reparação 
civil. A inversão do ônus da prova pode ser aplicada em algumas situações, destacando-se o 
Direito do Consumidor. 
 
Façamos um recorte histórico da responsabilidade civil: 
 Térreo (degrau zero): Na época da barbárie, vigorava a supremacia da vingança 
privada (a guerra de todos contra todos). A vítima podia, destarte, fazer tudo o que 
quisesse e achasse que o autor do dano merecia; 
 1º degrau: Passa-se a disciplinar minimamente a vingança privada. A 
responsabilidade se torna individual – somente o indivíduo e não a sua família pode 
ser responsabilizado. Tem-se certo avanço em relação à vingança privada, ao admitir 
o “olho por olho, dente por dente” (proporcionalidade na vingança privada). Se A 
fura o olho de B, B está limitado a furar o olho de A, não tendo o direito de matar A 
ou lesar os seus familiares. A responsabilidade é objetiva; 
 2º degrau: O poder político se torna suficientemente forte para não admitir a 
vingança privada. Se A fura o olho de B e B fura o olho de A, o resultado é a presença 
de dois indivíduos cegos e, consequentemente, com aptidões limitadas (inclusive 
laboral) – logo, se consolida a visão de que a vingança privada deve ser repudiada. 
Vítima e autor do dano lesivo devem se resolver estabelecendo como o autor do ato 
lesivo vai compensar/indenizar a vítima. A limitação se dá, justamente, na utopia em 
acreditar que o consenso é sempre possível; 
 3º degrau: Noção da composição tarifada. O poder central, de forma casuística, 
impõe valores e regras que devem ser levadas em consideração em determinadas 
situações (in abstrato). A limitação se dá na insuficiência de se prever todos os 
fenômenos sociais com antecedência; 
 4º degrau: A noção de culpa tem raízes remotas no Direito Romano. A culpa passa a 
ser discutida, mas ainda não se consolida; 
 5º degrau: Código Napoleônico elaborado em 1804. Com o seu art. 1382, lançou as 
bases da Teoria Clássica da Responsabilidade Civil, pautada em uma responsabilidade 
subjetiva. A culpa emerge e reina por mais de 100 anos como um fator para indenizar 
(anos oitocentistas – século XIX). O Código Napoleônico é um marco histórico, já que 
influencia de forma inequívoca os códigos civis do mundo ocidental, incluindo o 
brasileiro; 
 6º degrau: Final do século XIX e início do século XX, quando emergem as teorias 
objetivistas da responsabilidade civil. Essas teorias, tendo Joserrand e Saleilles como 
principais expoentes, reagem à hegemonia da teoria subjetiva. No cenário de 
revolução industrial, as pessoas adoeciam e sofriam acidentes de trabalho 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
constantes, o que chamou a atenção dos autores franceses. Os trabalhadores já 
estão em uma condição de vulnerabilidade perante o empregador. Por conta disso, 
nos danos gerados no ambiente de trabalho, o empregado deve ser indenizado 
independentemente de culpa do empregador (dono da fábrica); 
 7º degrau: Socialização da responsabilidade civil e a técnica do seguro. Há quem 
defina que a técnica do seguro será aperfeiçoada de tal modo que a responsabilidade 
civil se torne desnecessária, entretanto ainda não atingimos esse patamar. Construir 
um fundo que dê conta de indenizar todo e qualquer dano social, por menor que seja 
o Estado, nos dias de hoje, é uma utopia (a experiência neozelandesa fracassou). 
Ainda que fosse possível a criação de tal fundo social e a extinção do instituto da 
responsabilidade civil, a função preventiva entraria em colapso. Ora, se o sujeito não 
responde pelos seus atos, já que a responsabilidade é do seguro, esse tenderia a ser 
inconsequente para com as suas condutas; 
 
4. A evolução histórica da responsabilidade civil no Brasil: 
 
 1º degrau: Brasil Colônia. A responsabilidade civil era regulada pelas ordenações 
portuguesas, com a aplicação subsidiária do Direito Romano; 
 2º degrau: Código Criminal de 1830. Se um crime causa dano, há o dever de 
indenizar; 
 3º degrau: Decreto 2681/1912 – regula a responsabilidade civil nas estradas de ferro 
(o trem era o principal meio de transporte). Estabeleceu a responsabilidade objetiva 
de forma pioneira no Direito Brasileiro; 
 4º degrau: Código Civil de 1916 (Código Beviláqua): Teoria Clássica Napoleônica 
trazida ao Brasil – a responsabilidade, como regra, é subjetiva; 
 5º degrau: Constituição Federal de 1988 impôs alguns casos de responsabilidade 
objetiva (atividades de risco, tais como as usinas radioativas) e passou a admitir a 
possibilidade de danos morais; 
 6º degrau: Código de Defesa do Consumidor (Lei 8.078/90) – primeiro diploma que 
traz como regra a responsabilidade objetiva (do fornecedor); 
 7º degrau: Código Civil de 2002. A responsabilidade, como regra, subjetiva, 
admitindo-se alguns casos de responsabilidade objetiva e cláusulas gerais; 
 
Para a próxima aula: Revisar atos ilícitos e a responsabilidade civil na LGPD. 
 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
AULA 02 – A CONSTITUCIONALIZAÇÃO DA RESPONSABILIDADE CIVIL 
 
1. A constitucionalização da responsabilidade civil: 
Nos anos oitocentistas, a responsabilidade civil foi concebida como um instituto previsto 
para relações individualistas (a relação entre A e B), as quais envolvem um número limitado 
de pessoas. 
A constitucionalização da responsabilidade civil começa a sofrer impacto da 
constitucionalização do Direito Civil, sobretudo a partir dos anos 2000. Passa-se a analisar o 
Direito Civil com uma maior carga valorativa, tendo em vista os princípios. 
Posteriormente se passou a pensar em um Direito Civil e, portanto, em uma 
responsabilidade civil que abrangesse os interesses difusos e individuais homogêneos. 
Destarte, em períodos de crise, não podem os fornecedores aumentarem os preços dos 
produtos de maneira exorbitante, a fim de se aproveitar da situação (elevar o preço da 
gasolina ou da água em momentos de greve e escassez, por exemplo). 
FLASHBACK ACADÊMICO – CADERNO DIREITOS FUNDAMENTAIS/GEOVANE PEIXOTO 
(2021.2) 
DIREITOS DIFUSOS DIREITOS COLETIVOS DIREITOS INDIVIDUAIS 
HOMOGÊNEOS 
Pessoas unidas por um 
mesmo fato. 
Sujeitos indeterminados e 
direitos indivisíveis. 
Ex: Direito ao Meio 
Ambiente. 
Pessoas unidas por um 
mesmo interesse jurídico. 
Sujeitos determinados e 
direitos indivisíveis. 
Ex: Sindicato dos 
professores. 
Direitos divisíveis e titulares 
determinados. Pessoas 
unidas por uma origem em 
comum (acidentalmente 
coletivos). 
Ex: Consumidores que 
adquiriram um modelo de 
celular que veio defeituoso 
da fábrica. 
 
Depois o Direito Civil e a responsabilidade civil evoluem em direção à garantia do mínimo 
existencial. Há um limite à responsabilidade civil dos cidadãos: o patrimônio do causador do 
dano não pode ser reduzido ao ponto de comprometer o mínimo existencial. Desse modo, 
não se pode penhorar bens essenciais de família (como geladeira e televisão), apartamento, 
alimentos, instrumentos de profissão, entre outros. Nesses casos a vítima do dano terá que 
arcar com o prejuízo sofrido. 
A Constituição Federal positivou o dano moral – marco importante. Encerrou, nessa 
perspectiva, o debate existente acerca do cabimento doJudiciário estabelecer um valor em 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
dinheiro para fins de compensação de uma pessoa que tenha a saúde mental, a honra, a 
boa-fé, a dignidade comprometida. 
 
 
Art. 373 – NCPC: O ônus da prova incumbe: 
I - ao autor, quanto ao fato constitutivo de seu direito; 
II - ao réu, quanto à existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do 
autor. 
Como regra geral, cabe ao autor da ação provar os danos morais. Entretanto, há exceções. 
No Direito do Consumidor, por exemplo, os danos morais são in re ipsa, sendo presumidos 
em favor do hipossuficiente – o consumidor. Basta que o consumidor, assim, prove o ato 
ilícito e o nexo de causalidade. 
O art. 7º da CF lista, de forma exemplificativa, os direitos dos trabalhadores urbanos e rurais. 
Entre esses se encontra a responsabilidade subjetiva do empregador (art. 7º, XXVIII, CF). 
Art. 7º, XXVIII – CF: seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do empregador, sem 
excluir a indenização a que este está obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa; 
 
Com o advento do Código Civil, a responsabilidade passa a ser objetiva, inclusive para as 
atividades de risco. 
Art. 927, Parágrafo único – CC: Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de 
culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida 
pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem. 
Tornou-se nítido um descompasso entre os dispositivos da Constituição Federal e do Código 
Civil. Consolidou o entendimento superveniente de que o parágrafo único do art. 927 do 
Código Civil se aplica ao seguro contra acidentes de trabalho, uma vez que o caput do art. 7º 
da CF menciona “são direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem 
à melhoria da sua condição social”, logo, o seu rol é exemplificativo. Assim, a 
responsabilidade dos empregadores por acidentes de trabalho é objetiva (norma mais 
benéfica e protetiva ao trabalhador). 
 
A Constituição Federal serviu e serve de estímulo para maior objetivação da 
responsabilidade civil. O eixo do instituto com base nos moldes oitocentistas era a proteção 
do patrimônio. Com a constitucionalização do Direito Civil, a patrimonialização é substituída 
pela proteção da pessoa humana e da sua dignidade. O eixo da responsabilidade civil 
também se altera e, com isso, há, cada vez mais, a objetivação da responsabilidade civil. 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
 
Há, também, uma variedade princípios que incidem na responsabilidade civil, os quais serão 
vistos com mais detalhes ao longo do curso. 
 
2. Ato ilícito e responsabilidade civil: 
 
Art. 186 – CC: Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, 
violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. 
 
FLASHBACK ACADÊMICO – CADERNO IED PRIVADO II/MAURÍCIO REQUIÃO (2022.1) 
ATO ILÍCITO: Ação ou omissão, dolosa ou culposa, que viola direito e causa dano a outrem, 
ainda que exclusivamente moral ou que excede os limites do exercício regular de um 
direito. 
INDENIZANTE CADUCIFICANTE INVALIDANTE AUTORIZANTE 
Há obrigação de 
reparar. 
Há a perda de um 
direito. 
Ex: A perda da 
guarda do filho 
Há a invalidação de 
um negócio jurídico. 
Há a autorização 
para o exercício de 
um direito. 
 
Exige-se, portanto, para a responsabilidade civil por ato ilícito a aferição de dolo/culpa. 
A obrigação de reparar está expressa no art. 927 e não no art. 186 do Código Civil. Vale 
lembrar que o art. 927 menciona expressamente os arts. 186 e 187 do Código Civil. 
Consolidava-se a visão de que o ato ilícito é pressuposto para a responsabilidade civil. 
Todavia, hoje, entende-se que é possível responsabilidade civil, ainda que haja a prática de 
um ato lícito. Desse modo, pode ocorrer a obrigação de reparar ainda que não haja ato 
ilícito: o pressuposto da responsabilidade é a conduta. 
o Ex: Uma pessoa não está pagando a conta de luz e tem o corte de energia. 
Ocorrendo um acidente no escuro com os membros da casa, pode ensejar a 
responsabilidade da empresa responsável pelo corte de energia; 
 
Para que a excludente de ilicitude seja, também, uma excludente de responsabilidade civil, é 
necessário que a(s) vítima(s) do dano seja(m) o(s) responsável(is) da criação do estado de 
perigo. 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
 
o Ex: Um sujeito, visando a escapar de uma troca de tiros ou para salvar a vida de 
outrem, invade a residência do vizinho quebrando a porta. Ora, ele age em estado 
de necessidade, mas isso não o isenta de reparar o dano. Como não foi o vizinho 
que criou o perigo, uma vez que não estava envolvido na troca de tiros, o 
causador do dano tem a obrigação de repará-lo em razão do seu ato lícito. 
 
Consideremos, agora, o seguinte exemplo: Luca, para salvar uma criança com risco de queda 
e que estava próxima à janela sem tela, arromba a porta do vizinho e destrói alguns móveis 
valiosos. Luca age em estado de necessidade de terceiro. 
 Se o apartamento pertence aos pais da criança (responsáveis legais), há a excludente 
de responsabilidade civil de Luca; 
 Se o apartamento não pertence aos pais da criança, o ato lícito de Luca ensejará a 
sua responsabilidade civil, nada obstando uma ação de regresso em face dos pais da 
criança; 
Em suma, o ato ilícito não é conditio sine qua non da responsabilidade civil. 
 
3. A responsabilidade civil por abuso de direito: 
O abuso de direito é uma espécie de ato ilícito, expressa no art. 187 do Código Civil. 
Art. 187 – CC: Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede 
manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos 
bons costumes. 
O abuso de direito se configura quando o titular de um direito ultrapassa os limites do seu 
exercício regular, violando o fim econômico/social, a boa-fé ou os bons costumes. 
São exemplos a venire contra factum propium, supressio e surrectio, tu quoque e a 
inalegabilidade das nulidades formais. 
FLASHBACK ACADÊMICO – CADERNOS IED PRIVADO II/MAURÍCIO REQUIÃO (2022.1) E 
DIREITO DOS CONTRATOS/VICENTE PASSOS (2023.1) 
ABUSO DE DIREITO: Ocorre quando um titular de direito exerce o seu direito de forma a 
exceder os limites do fim econômico ou social, da boa-fé objetiva ou dos bons costumes. 
VENIRE CONTRA 
FACTUM PROPIUM 
SUPRESSIO E 
SURRECTIO 
TU 
QUOQUE 
INALEGABILIDADE DAS 
NULIDADES FORMAIS 
Ação + inação Inação + ação = 
perda de um 
direito + ganho de 
Hipocrisia Cometer uma ilicitude e, depois, 
usá-la ao seu favor (o menor 
omitir a sua real idade e dizer 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
um direito depois que era menor). 
 
A teoria do abuso de direito visa a coibir o exercício irregular/abusivo do direito. 
Os critérios finalísticos para determinar o abuso de direito são a boa-fé, bons costumes ou a 
destinação econômico/social da norma, de forma que as partes não podem exercer os seus 
direitos de forma dissonante com os critérios mencionados. 
o Na França, no século passado, houve um caso que envolveu a função social da 
propriedade. Próximo à propriedade de um indivíduo, existia um terreno de 
lançamento e aterrisagem de dirigíveis. O proprietário, não gostando do 
lançamento de dirigíveis, construiu estacas de madeira pontiagudas altíssimas e, 
caso os dirigíveis atingissem essas estacas, podiam ser danificados. O proprietário 
foi obrigado a retirar as estacas em virtude do abuso de direito, uma vez que a 
única finalidade daquelas estacas era prejudicar a sociedade (não detendo, por 
conseguinte, nenhuma finalidade para o proprietário): causar risco a quem usasse 
o dirigível acima do seu terreno. 
 
A teoria dos atos emulativos, minoritária, defende que é necessária a comprovação do 
dolo/culpa para que se caracterize o abuso de direito (teoria subjetivista). Era a teoria que 
prevalecia no ordenamentojurídico até emergirem as teorias objetivistas. A teoria eclética 
associa a culpa aos critérios objetivos finalísticos. Para Leonardo Vieira, o Código Civil 
adotou a teoria eclética, entretanto, a doutrina majoritária entende que o ordenamento 
jurídico adotou a teoria objetivista. Nesse sentido, a maior parte dos autores adota um 
tratamento distinto para a responsabilidade civil por ato ilícito e a responsabilidade civil por 
abuso de direito – o que, consoante Vieira, não faz sentido. Encerra a sua visão Leonardo 
Vieira ao sintetizar que a responsabilidade por abuso de direito, como regra, deveria ser 
subjetiva (pensamento, como já dito, minoritário). 
Deve-se ter muita cautela no exame acerca de se um ato se enquadra na responsabilidade 
do art. 186 ou do art. 187. 
 
o Ex: Felipe tem uma dívida com Luca, prevista no contrato que o pagamento 
deveria ser feito no 1º dia de cada mês. Durante três anos, Luca só cobrou a dívida 
na segunda semana de cada mês, em que pese a previsão contratual. Certo dia, 
insatisfeito com a vida, Luca resolveu cobrar a dívida de Felipe no 1º dia de um 
determinado mês, inserindo o devedor no cadastro negativo de dados. Criou-se 
uma legítima expectativa em Felipe que poderia fazer o pagamento mensal após 
o dia 1º, logo, Luca, ao trair sua confiança, age em abuso de direito, mais 
especificamente supressio e surrectio (INAÇÃO + AÇÃO). De acordo com a 
doutrina e jurisprudência majoritária, a responsabilidade de Luca é objetiva; 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
 
O art. 927 menciona expressamente o art. 187 no seu caput. 
Art. 927, caput – CC: Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica 
obrigado a repará-lo. 
Para Flávio Tartuce, se o legislador quisesse que a responsabilidade civil por abuso de direito 
fosse subjetiva, esta viria expressa no parágrafo único e não no caput. Nessa ótica, entender 
a responsabilidade por abuso de direito como objetiva é um entendimento contra legem 
(admitida no Direito, desde que fundamentada, o que não é o caso). Trata-se de um 
argumento fortíssimo e que caminha na direção da visão minoritária de Leonardo Vieira. 
Leonardo Vieira rebate Cristiano Chaves de Farias, Rodolfo Pamplona e Carlos Roberto 
Gonçalves. Embora objetivista, Cristiano Chaves afirma que o abuso de direito requer um 
sentimento de repulsa social. Logo, na visão de Vieira, ainda que indiretamente, o célebre 
Cristiano Chaves admite a responsabilidade subjetiva para além da objetiva. 
Em resumo, a natureza jurídica da responsabilidade civil do abuso de direito é um dos 
debates mais acirrados na academia. 
 
4. Dicotomias na responsabilidade civil: 
 
 Responsabilidade civil contratual (negocial) x responsabilidade civil extracontratual 
(extranegocial): 
A responsabilidade civil extracontratual diz respeito à interferência nociva de terceiros em 
uma relação contratual (não há vínculo pretérito entre o causador do dano e a vítima). Na 
responsabilidade civil contratual, por outro lado, o agente ofende um dever contratual. 
Uma das relevâncias práticas desse assunto é a prescrição. No âmbito cível, a prescrição é de 
3 (três) anos. Depois o STJ, maior corte da matéria no país, afirmou que a prescrição de três 
anos se refere apenas à responsabilidade civil extracontratual; já que a responsabilidade civil 
contratual é de 10 (dez) anos. Esse entendimento traz impactos no Direito do Consumidor. 
Outra diferença que encontra respaldo na jurisprudência do STJ, dessa vez sumulada, é que 
os juros da mora, na responsabilidade civil extracontratual, correm a partir da data do 
evento lesivo; já na responsabilidade contratual, os juros da mora são contados a partir do 
ajuizamento da ação. 
 
Referências: 
 Figuras parcelares da boa-fé objetiva e venire contra factum propium – Luciano 
Penteado; 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
 Responsabilidade civil pelo abuso de direito – Leonardo Vieira (ler para a próxima 
aula e debatê-lo de forma qualificada); 
 
AULA 03 – O ESTUDO DA CULPA 
 
1. Responsabilidade civil subjetiva x Responsabilidade civil objetiva: 
Se o fator de atribuição do dever de indenizar é a culpa, tem-se uma responsabilidade civil 
subjetiva; caso contrário, ter-se-á uma responsabilidade civil objetiva. 
O risco criado (art. 927, p. único), a equidade (art. 928, p. único) ou a simples disposição 
legal (art. 927, p. único) são as hipóteses que autorizam a responsabilidade objetiva. 
Culpa é conceituada por duas correntes: 
 Aferição em concreto da culpa (Irmãos Mazeaud): É um erro de conduta; 
 Aferição em abstrato da culpa: É um erro de conduta que implica a violação de um 
dever de cuidado, que não seria repetido pelo homem médio; 
A culpa em abstrato é aquela que, para verificar se houve erro de conduta, compara o 
agente concreto com o homem médio (reasonable man). Se o homem médio atuaria da 
mesma forma, sendo um erro de conduta inevitável, não houve culpa; caso o homem médio 
tivesse agido de forma distinta do agente, fala-se em culpa. É o conceito de culpa que 
predomina. 
A culpa em concreto leva em consideração não o padrão objetivo do homem médio, mas o 
próprio padrão de conduta da pessoa que está sendo avaliada no caso concreto. Destarte, 
para emprestar um carro a alguém, é necessário depositar extrema confiança neste, 
conhecendo o seu padrão de conduta. Se o indivíduo tem o costume de dirigir em 
velocidade acima da permitida, ora, este é mais propício a causar acidentes, todavia o seu 
padrão de conduta é uma direção agressiva. Na hipótese em exame, não se poderá pleitear 
responsabilidade civil, o que ilustra as fragilidades desse conceito de culpa. 
Consoante Leonardo Vieira, influenciado pelos irmãos Mazeaud, culpa “é um erro de 
conduta do indivíduo que não se comporta da maneira normalmente esperada para evitar 
danos a terceiros, independentemente da materialização destes danos”. 
Renée Sabatier, em tradução de Arnoldo Wald, a culpa “é a inexecução de um dever que o 
agente podia conhecer e observar”. 
 
Consoante a culpa em abstrato, se a pessoa média: 
 Deveria ter mais atenção e o agente não teve, mostrando-se indiferente, tem-se a 
negligência; 
 Deveria ter mais cautela e o agente não teve, tem-se a imprudência; 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
 Deveria ter um conhecimento técnico para algo e o agente não tinha, tem-se a 
imperícia; 
Aqui estamos tratando de culpa em sentido amplo, o que abrange dolo e culpa em sentido 
estrito (distinção mais importante no Direito Penal). O dolo é a conduta deliberada com o 
intuito de causar danos a terceiros. 
 
Há três modalidades de culpa: 
 Culpa grave: Erro deliberado de conduta (violação grosseira do dever de cuidado), 
sendo óbvia a previsão objetiva das consequências da conduta; 
OBS: A culpa consciente se aproxima do dolo eventual, distinguindo-se pelo 
sentimento de superconfiança e não de indiferença. 
 Culpa leve: Poderia ter sido evitada com uma atenção ordinária e comum (falta de 
diligência média); 
 Culpa levíssima: Até mesmo o homem médio poderia cometer, uma vez que para ser 
evitada exigiria uma atenção especial e muito concentrada; 
 
Art. 944 – CC: A indenização mede-se pela extensão do dano. 
Parágrafo único. Se houver excessiva desproporção entre a gravidade da culpa e o dano, 
poderá o juiz reduzir, eqüitativamente, a indenização. 
Se houver uma desproporcionalidade entre a indenização e a culpa, o juiz poderá reduzir o 
valor da condenação. Daí a importância de se trabalhar com o grau da culpa (grave, leve ou 
levíssima). 
 
A regra da in lex aquilia et levissima culpa venit, vocábulo latino que remonta ao Direito 
Romano, era o contraponto do Direito Civil com o Direito Penal. Nessa perspectiva, pouco 
importa o grau da culpa: tem o agente o dever de indenizar. 
Maria Celina Bodin de Moraes percebeu que não mais o vocábulo anterior subsiste. A isso 
se deu o nome de “a objeção deBodin”. Hoje, a culpa levíssima não tem mais o grau 
suficiente para justificar o dever de indenizar. Nessa óptica, para que o vocábulo vigesse nos 
dias atuais, era necessário excluir a culpa levíssima da regra. 
Não se pode confundir uma noção de responsabilidade civil por culpa presumida com a 
responsabilidade civil objetiva. Na primeira, apenas se inverte o ônus da prova da culpa, de 
modo que passa a ser do réu da ação, mas a culpa continua sendo relevante para determinar 
ou não o dever de indenizar. Ante o exposto, foquemos no Brasil. 
 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
 1º degrau: Vigência do Código Civil de 1916. Naquela época era comum a 
responsabilidade indireta – um sujeito responde pelos atos de outras pessoas com as 
quais possui dever de cuidado. O CC/1916 foi inspirado no Código Napoleônico, 
objetivista na sua essência. A vítima tinha que provar a culpa do agente e a culpa in 
vigilando (a culpa pela fiscalização de uma empresa, por exemplo); 
 
 2º degrau: Vigência da Súmula 341, STF. Há a presunção relativa da culpa in 
vigilando, de modo que a parte deveria demonstrar o contrário. Fala-se, portanto, 
em culpa presumida relativa. Isso não eximia o autor de provar a culpa do sujeito 
(não mais era necessário provar a culpa in vigilando). 
Súmula 341, STF: É presumida a culpa do patrão ou comitente pelo ato culposo do 
empregado ou preposto. 
 
 3º degrau: A jurisprudência avança e parcela sua passa a entender que a presunção é 
absoluta e não mais relativa no que tange à culpa in vigilando, não admitindo prova 
em contrário. A presunção absoluta de culpa se confunde com a responsabilidade 
objetiva (primeira vez na história); 
 
 4º degrau: Vigência do Código Civil de 2002. A responsabilidade do empregador é 
objetiva. Não se discute mais culpa in vigilando, tendo em vista a responsabilidade 
objetiva. Na prática, a presunção absoluta se equipara à responsabilidade objetiva. 
 
Preleciona o célebre Maurício Requião, que quanto ao conteúdo do adimplemento, a 
obrigação pode ser: 
 De meio: O resultado pouco importa. Ex: Advogado receberá uma quantia do cliente 
ainda que perca a causa ou no caso de um cirurgião que, mesmo agindo 
adequadamente, não conseguiu evitar a morte do paciente; 
 
 De resultado: O resultado é determinante para o cumprimento da obrigação. Ex Uma 
transportadora precisa entregar o produto e não só tentar entregar a um cliente para 
o cumprimento dessa obrigação; 
Outrora predominava a seguinte concepção: Se se tratar de uma obrigação de resultado, 
tem-se a inversão do ônus da prova da culpa. Se um resultado foi assumido e este não foi 
concretizado, há uma presunção relativa que algo de errado foi feito. Na obrigação de meio 
aplicava-se a regra padrão. 
Art. 373 – NCPC: O ônus da prova incumbe: 
I - ao autor, quanto ao fato constitutivo de seu direito; 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
II - ao réu, quanto à existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do 
autor. 
 
O Código de Defesa do Consumidor (Lei 8.078/90) inseriu a inversão do ônus da prova como 
um dos direitos do consumidor. Tal inversão do ônus probatório pode ser apreciada em 
concreto pelo Judiciário (quando há verossimilhança da alegação ou hipossuficiência – ope 
judicis) ou decorrer de determinação legal (o ônus relacionado à veracidade e correção da 
propaganda incumbe a quem a patrocina – ope legis). É um dos direitos do consumidor a 
inversão do ônus da prova e a responsabilidade civil dos profissionais liberais é subjetiva 
(art. 14, § 4º, CDC). 
Quando vem à tona o CPC/15, no art. 373, § 1º foi positivada a teoria da carga dinâmica do 
ônus da prova (oriunda da Argentina e vigente hoje no Brasil). O juiz pode inverter o ônus da 
prova quando entender que a parte possui um encargo excessivo de produzir a prova em 
comparação à outra parte. 
Art. 373, § 1º - NCPC: Nos casos previstos em lei ou diante de peculiaridades da causa 
relacionadas à impossibilidade ou à excessiva dificuldade de cumprir o encargo nos termos 
do caput ou à maior facilidade de obtenção da prova do fato contrário, poderá o juiz atribuir 
o ônus da prova de modo diverso, desde que o faça por decisão fundamentada, caso em que 
deverá dar à parte a oportunidade de se desincumbir do ônus que lhe foi atribuído. 
Hoje, independentemente de obrigação de meio e de resultado (e não mais só a de 
resultado), o juiz tem invertido o ônus da prova na responsabilidade civil. Portanto, essa 
classificação das obrigações (meio x resultado) tem perdido o sentido. 
 
Há três situações que substituem a culpa pela responsabilidade objetiva: 
 Risco criado: Art. 927, p. único, CC; 
 Equidade: Art. 928, p. único, CC; 
 Simples disposição legal: Art. 927, p. único, CC; 
 
Art. 927, parágrafo único – CC: Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de 
culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida 
pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem. 
Art. 928 – CC: O incapaz responde pelos prejuízos que causar, se as pessoas por ele 
responsáveis não tiverem obrigação de fazê-lo ou não dispuserem de meios suficientes. 
Parágrafo único. A indenização prevista neste artigo, que deverá ser eqüitativa, não terá 
lugar se privar do necessário o incapaz ou as pessoas que dele dependem. 
A responsabilidade civil do incapaz é objetiva, subsidiária e mitigada. 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
 Objetiva: Não se avalia culpa no que tange ao incapaz; 
 Subsidiária: Só terá cabimento quando o responsável legal não tiver obrigação de 
fazer ou não tiver meios suficientes para pagar; 
 Mitigada: Só terá cabimento a condenação do incapaz se, efetuando o pagamento, 
ele não comprometer a sua subsistência e da sua família; 
O Enunciado 40 do CEJ – Centro de Estudos Judiciários – trata da responsabilidade do 
incapaz com base no ECA. 
Enunciado 40 – CEJ: O incapaz responde pelos prejuízos que causar de maneira subsidiária 
ou excepcionalmente como devedor principal, na hipótese do ressarcimento devido pelos 
adolescentes que praticarem atos infracionais nos termos do art. 116 do Estatuto da Criança 
e do Adolescente, no âmbito das medidas socioeducativas ali previstas. 
 
 
AULA 04 – TEORIA DO SEGURO E RESPONSABILIDADE CIVIL INDIRETA 
 
1. Teoria do seguro: 
A seguradora tem direito à ação de regresso contra o motorista que provocou o dano no 
veículo. 
A responsabilidade civil tem o fator pedagógico, o qual o seguro não fomenta. Com a 
disseminação do seguro, perde-se a condição de desestimular condutas danosas. O seguro 
educa através do receio de uma punição – a contraprestação pecuniária -, uma vez que, de 
certo modo, os motoristas passam a dirigir com mais cautela (“o bolso, para alguns, é o 
órgão mais sensível do corpo humano”). 
Tendo um seguro, pode o motorista beneficiário, seja autor ou réu, denunciar a lide à 
seguradora, para que essa arque com as despesas provenientes do dano. Pode-se ajuizar 
uma ação de regresso ou simplesmente instaurar a denunciação da lide (intervenção de 
terceiros provocada) para que a ação de regresso seja apreciada e julgada no processo 
(demanda incidente e regressiva). 
Art. 125 – CPC/15: É admissível a denunciação da lide, promovida por qualquer das partes: 
II - àquele que estiver obrigado, por lei ou pelo contrato, a indenizar, em ação regressiva, o 
prejuízo de quem for vencido no processo. 
(Grifos nossos) 
“A intervenção com base em contrato de seguro será, no mais das vezes, a 
denunciação da lide, porquanto não possua a empresa seguradora vínculo de direito 
material com o adversário do denunciante segurado. Sucede que o Código de Defesa 
do Consumidor, como forma de ainda mais bem tutelar os direitos do consumidor, 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
criou uma figura nova do chamamento ao processo em casos de seguro (art. 101, II, 
do CDC) (...) Paraevitar discussões, o CDC optou por rotular a intervenção, que 
seria denunciação da lide, de chamamento ao processo, para permitir que o 
consumidor possa executar a sentença diretamente contra a seguradora (art. 132 do 
CPC)”. – DIDIER JR., Fredie, Curso de Direito Processual Civil (vol.1), 2017, 19ª 
ed. Salvador: Juspodivm. 
 
o Para a próxima aula: Ler os arts. 778-788, CC (Do seguro de dano). 
 
2. Pressupostos da responsabilidade civil: 
Para a doutrina majoritária são três os pressupostos da responsabilidade civil, quais sejam a 
conduta, o dano e o nexo causal. 
Para Maria Helena Diniz, a culpa seria o quarto pressuposto da responsabilidade civil, 
negando a responsabilidade civil objetiva. 
O dever de indenizar ora dependerá da demonstração da culpa (responsabilidade subjetiva), 
ora das hipóteses de risco criado, equidade ou simples disposição legal (responsabilidade 
objetiva). 
 
Para Anderson Schreiber, a erosão dos filtros da responsabilidade civil é pautada na 
perspectiva de que, na doutrina e na jurisprudência atual, se constata esse fenômeno. O 
dever de indenizar depende de prova de todos os requisitos, os quais são, portanto, 
cumulativos. Tem-se, nesse cenário, um maior rigor para a imposição da responsabilidade 
civil in concreto. 
Veremos ao longo do curso os pressupostos em espécie, iniciando com a conduta. 
 
3. A conduta: 
A conduta deve ser voluntária, ou seja, sem vício de vontade. 
Ex: A aponta uma arma na cabeça de B para que este arranhe o veículo de C com uma chave 
de fenda. Se B provar que agiu sobre grave ameaça, não estará o pressuposto de conduta 
caracterizado a ele, todavia, A será responsabilizado. 
Os casos envolvendo hipnose são polêmicos. Consideremos que a voluntariedade da 
conduta não é do agente, mas do hipnólogo. Destarte, não se pode falar em conduta 
voluntária caso um sujeito hipnotizado gere um dano a outrem. 
Se uma pessoa com TDI – transtorno dissociativo de identidade – praticar um ilícito, será que 
ela pode alegar que estava com a personalidade de uma criança naquele instante e, por 
conseguinte, inimputável? Eis um bom tema para discussão e escrita de artigos científicos. 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
Ademais, a conduta pode ser omissiva ou comissiva. 
Há, também, o conceito de responsabilidade direta, casos nos quais se compreende a 
conduta de forma intuitiva. 
Ex: A identificou um sujeito beijando a força a sua namorada, B. Para defender B, A deu um 
soco no sujeito, vindo a quebrar-lhe dois dentes. A discussão gira em torno dos meios 
necessários e proporcionais para a legítima defesa de terceiros, uma vez que o excesso é 
punível, não só na área penal, como também na área civil. Será que o homem-médio agiria 
apenas conversando, ou defenderia a sua parceira com um teor de violência? Será que a 
vítima se sentiria segura e se contentaria com o mero diálogo? Em um caso real, o sujeito foi 
condenado em ambas as searas, tendo que arcar com o pagamento de danos morais e com o 
custeio dos implantes dentários. 
 
4. Responsabilidade direta x responsabilidade indireta: 
 
A responsabilidade civil indireta ou complexa ocorre quando o responsável pela reparação 
do dano é pessoa distinta da causadora direta da lesão. Por óbvio, a responsabilidade civil 
direta se dá quando o sujeito responde pelos seus atos. 
 
Art. 932 – CC: São também responsáveis pela reparação civil: 
I - os pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua companhia; 
Art. 928 – CC: O incapaz responde pelos prejuízos que causar, se as pessoas por ele 
responsáveis não tiverem obrigação de fazê-lo ou não dispuserem de meios suficientes. 
Parágrafo único. A indenização prevista neste artigo, que deverá ser eqüitativa, não terá 
lugar se privar do necessário o incapaz ou as pessoas que dele dependem. 
Art. 942, Parágrafo único – CC: São solidariamente responsáveis com os autores os co-
autores e as pessoas designadas no art. 932. 
Entende-se que o art. 928 em relação ao incapaz é uma norma mais específica em 
comparação aos art. 932, I e 942, parágrafo único. A aparente antinomia é solucionada a 
partir do critério da especialidade, prevalecendo a responsabilidade subsidiária do incapaz. 
Para Felipe Peixoto Braga Netto, é possível uma interpretação contra legem. Nesse viés, um 
filho maior de idade, mas ainda dependente de pais com boa condição financeira, teriam os 
pais ainda respondendo pelos seus atos. É uma visão minoritária, veementemente criticada 
por Leonardo Vieira. 
O trecho da norma “e em sua companhia” é alvo de intensas polêmicas. Como a norma 
impõe uma sanção para os pais, deveria ser interpretada restritivamente, é a tese defendida 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
por Fábio Ulhoa Coelho. Essa interpretação levaria muitas pessoas ao prejuízo, uma vez que 
parcela significativa dos menores não tem patrimônio próprio suficiente para arcar com a 
responsabilidade civil. Rodolfo Pamplona e Pablo Stolze foram mais felizes ao apontarem 
que os pais responderão nos atos dos filhos menores que estejam sob a sua influência. Não é 
a companhia física, mas uma relação de guarda/dependência. 
 
II - o tutor e o curador, pelos pupilos e curatelados, que se acharem nas mesmas condições; 
III - o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e prepostos, no exercício do 
trabalho que lhes competir, ou em razão dele; 
A segunda hipótese será contemplada mais detalhadamente em momento posterior do 
curso. 
No que tange ao inciso III, já discutimos quando houve o estudo sobre a culpa in vigilando. O 
Código Civil de 1916 foi pensado no século XIX e o legislador do Código Civil de 2002 
manteve o termo “serviçal”, apesar de sua conotação pejorativa. Espera-se que com o 
anúncio da revisão do diploma por uma comissão de juristas, tal dispositivo seja alterado. 
A responsabilidade objetiva do empregador se limita a atos em razão do trabalho do 
empregado, ainda que fora do estabelecimento ou fora do horário comercial. Dessa forma, 
em uma briga de rua, caso o empregado cometa ilícito, o empregador por nada responderá. 
 
IV - os donos de hotéis, hospedarias, casas ou estabelecimentos onde se albergue por 
dinheiro, mesmo para fins de educação, pelos seus hóspedes, moradores e educandos; 
Os donos dos estabelecimentos mencionados respondem pelos atos dos hóspedes, 
moradores e educandos. 
Leonardo Vieira considera difícil fazer uma analogia maléfica para que os condôminos 
respondam pelos atos dos seus visitantes com base no art. 932, IV, CC. Contudo, em normas 
condominiais, por exemplo, é comum conter previsão expressa de que os condôminos 
respondem pelos atos dos seus visitantes/convidados (no caso de um dano a uma porta do 
playground, a título exemplificativo). Não seria plausível um condômino responder por um 
entregador de pizza que quebrou um vidro da portaria, mas o empregador com o qual o 
entregador mantém vínculo empregatício. 
 
V - os que gratuitamente houverem participado nos produtos do crime, até a concorrente 
quantia 
 
 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
Referências: 
 Curso de Direito Processual Civil (vol. 1) – Fredie Didier Jr. 
 https://globoplay.globo.com/v/11880016/ - reportagem do Fantástico sobre TDI; 
 https://www.jusbrasil.com.br/artigos/responsabilidade-civil-no-ambiente-
condominial/417523610 - Artigo sobre reponsabilidade Civil no ambiente 
condominial (extra); 
 
AULA 05 – RESPONSABILIDADE CIVIL INDIRETA 
 
1. Responsabilidade indireta (continuação): 
Quando um cônjuge recebe um presente do outro e depois descobre a origem ilícita do 
objeto, espera-se que ele/ela devolva, sob pena de configurar enriquecimento ilícito, ou 
seja, um acréscimo ilícito ao patrimônio (art. 932, V, CC). 
Art. 933 – CC: As pessoas indicadas nos incisos I a V do artigo antecedente, ainda que não 
haja culpa de sua parte, responderão pelos atos praticados pelos terceiros ali referidos. 
Comos casos de responsabilidade objetiva, não cabe mais a discussão de culpa in vigilando e 
culpa in eligendo. A culpa in vigilando decorria da falta de atenção com a ação do causador 
do dano (ex: a não fiscalização do patrão pelos atos praticados pelo trabalhador). Por outro 
lado, a culpa in eligendo responsabilizaria aquele que escolhe mal o indivíduo que praticou o 
ato. A título exemplificativo pode-se citar um advogado que contrata para ser seu associado 
alguém que não estudou Direito (Harvey Specter e Mike Ross – Suits, Netflix). 
A responsabilidade civil é objetiva daqueles elencados no art. 932. 
Art. 934 – CC: Aquele que ressarcir o dano causado por outrem pode reaver o que houver 
pago daquele por quem pagou, salvo se o causador do dano for descendente seu, absoluta 
ou relativamente incapaz. 
Na responsabilidade civil indireta cabe ação regressiva do responsável indireto em face do 
responsável direto. Desse modo, o curador pode demandar contra o curatelado. Há uma 
exceção: não cabe ação de regresso dos pais contra os filhos, uma vez que estes são 
descendentes. 
 
2. Demais responsabilidades civis: 
 
 Responsabilidade pelo fato do animal: 
https://globoplay.globo.com/v/11880016/
https://www.jusbrasil.com.br/artigos/responsabilidade-civil-no-ambiente-condominial/417523610
https://www.jusbrasil.com.br/artigos/responsabilidade-civil-no-ambiente-condominial/417523610
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
Supondo que Luca é proprietário de um rottweiler, ele responde pelos danos causados pelo 
cachorro a terceiros. 
o Ex: O rottweiler de Luca morde Felipe, causando-lhe ferimentos. Luca responderá, a 
princípio, por danos morais e materiais, incluindo eventuais despesas médicas e 
lucros cessantes. 
Art. 936 – CC: O dono, ou detentor, do animal ressarcirá o dano por este causado, se não 
provar culpa da vítima ou força maior. 
o Ex: Luca contratou um detentor para cuidar do seu rottweiler. O rottweiler de Luca 
morde Felipe, causando-lhe ferimentos. Em que pese a conjunção alternativa 
presente no artigo, na prática, Felipe poderá processar Luca e o detentor. A 
solidariedade não se presume, sendo resultante da lei ou da vontade das partes. 
Não se confunde culpa exclusiva da vítima com culpa do autor do dano. Trata-se de uma 
excludente de responsabilidade civil. 
o Ex: Luca tem um rottweiler. Felipe, passeando na rua, começou a atiçar o animal com 
um pedaço de pau. O animal latia e demonstrava insatisfação. Felipe continuava 
cutucando o animal com o pau. O cachorro, então, lhe atacou, gerando ferimentos. 
Constatada a culpa exclusiva da vítima, Luca será eximido da responsabilidade. A 
culpa exclusiva da vítima representa, pois, uma excludente de responsabilidade civil. 
 
 Responsabilidade pelos danos da construção civil: 
Art. 937 – CC: O dono de edifício ou construção responde pelos danos que resultarem de sua 
ruína, se esta provier de falta de reparos, cuja necessidade fosse manifesta. 
A natureza da responsabilidade civil do art. 937 é motivo de discussão calorosa na doutrina. 
 Responsabilidade objetiva: Seus defensores apontam para a inexistência da menção 
à culpa ou às suas modalidades no artigo. Ademais, quando se tem um imóvel, este, 
por si só, já gera um risco para a coletividade; 
 Responsabilidade subjetiva: Há menção à necessidade de se apurar que houve falta 
de reparos. Observa-se, também, que o legislador mencionou “manifesta”, logo, uma 
reforma notória, clara e urgente, o que evidencia uma culpa qualificada. É a corrente 
aderida por Leonardo Vieira; 
 Responsabilidade subjetiva por culpa presumida: Minoritária e sem fundamentos 
consistentes, baseia-se na inversão do ônus da prova (a vítima não precisa provar a 
culpa); 
Em suma, quem paga é o proprietário do imóvel. 
 
 Responsabilidade pela coisa caída: 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
Art. 938 – CC: Aquele que habitar prédio, ou parte dele, responde pelo dano proveniente 
das coisas que dele caírem ou forem lançadas em lugar indevido. 
A responsabilidade pela coisa caída é objetiva. 
Se um filho lança um objeto pela janela em direção ao playground e este vem a atingir a 
cabeça de uma pessoa, responderá o habitante (neste caso, geralmente aquele que 
representa o menor). Não necessariamente é o proprietário, já que algumas vezes o 
habitante não se confunde com o proprietário. 
Essa responsabilidade civil é pautada no axioma romano Actio de effusis et dejectis (ação 
relativa às coisas lançadas ou derramadas). 
 
3. O dano: 
O dano é um dos pressupostos da responsabilidade civil, apesar de nomes como Nelson 
Rosenvald admitirem a possibilidade de responsabilidade civil sem dano; já Leonardo Vieira 
discorda dessa perspectiva. 
Em alguns casos, como no âmbito do Direito do Consumidor, há a presunção do dano (in re 
ipsa), ou seja, presumidos. A simples inscrição indevida do nome do consumidor em órgão 
de proteção ao crédito é suficiente para a caracterização do dano moral, reconhecido na 
jurisprudência como in re ipsa. 
Diferente do âmbito penal, no Direito Civil, não se configura a responsabilidade civil pela 
tentativa, mas apenas pelo dano. 
Poderão ocorrer casos de danos que não serão ressarcidos, como no caso de um pedestre 
que cai na calçada, mas as normas técnicas para a construção do passeio foram devidamente 
observadas pelo Estado. 
Consoante Rodolfo Pamplona e Pablo Stolze, dano é uma lesão a um interesse jurídico 
tutelado – patrimonial ou não. Para essa doutrina, são requisitos do dano (I) violação de um 
interesse jurídico patrimonial, moral ou estético, (II) efetividade ou certeza e (III) a 
subsistência. 
O dano especulativo não é ressarcível. O dano precisa ser certo, efetivo e real. Se ele é fruto 
de uma mera especulação, ele não será ressarcível. Se, em razão de uma pancada, o 
advogado acredita na possibilidade da vítima sofrer um transtorno de mudança de 
personalidade apenas com base em uma reportagem que lera, tem-se um dano 
especulativo. 
Supondo que A dê um murro na cabeça de B e, 15 anos depois, B é diagnosticado com 
mudança de personalidade em razão da pancada. No âmbito cível, a pretensão de reparação 
civil extracontratual prescreve em três anos. Aplicando-se a teoria da actio nata (a 
prescrição só passa a correr após evidenciada a lesão), é permitida a indenização, uma vez 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
que o transtorno desenvolvido era de difícil previsão e, por isso, o dano só poderia ser 
identificado posteriormente. 
A subsistência significa que o dano deve ser demonstrável e permanente, não apresentando 
cunho temporário. Se, por exemplo, um sujeito amassa o veículo de outrem com um soco, 
mas rapidamente consegue reconstituir o dano, de forma que ninguém duvide do soco 
dado, não há que se falar em dano, uma vez que não subsistiu. 
São espécies de danos: 
 Danos materiais: Danos essencialmente patrimoniais. Compreende o que se perdeu 
(danos emergentes) e o que efetivamente se deixou de ganhar (lucros cessantes). 
Muitas vezes é necessário um exame pericial para que se possa compreender com 
exatidão a margem de lucro de uma determinada atividade. Um dano em um carro 
táxi, além dos reparos ao veículo, pode levar o motorista a ficar dias sem trabalhar, 
impactando na sua renda; 
 
 Danos morais: A primeira concepção de danos morais era baseada no pretium doloris 
(pain and suffering, preço da dor). O dano moral se configurou ao longo da história 
quando as pessoas sofriam um dano psíquico. Esse conceito, entretanto, não perdura 
mais. 
 
Vejamos as súmulas do STJ que merecem atenção para análise do dano, mais 
especificamente do dano moral: 
Súmula 385: Da anotação irregular em cadastro de proteção ao crédito, não cabe 
indenização por dano moral, quando preexistente legítima inscrição, ressalvado o direito ao 
cancelamento. 
A negativação indevida cabe dano moral, o qual é presumido (in re ipsa) em face da 
proteção aoconsumidor. 
Súmula 326: Nos casos de indenização por danos morais, fixado o valor indenizatório menor 
do que o indicado na inicial, não se pode, para fins de arbitramento de sucumbência, incidir 
no paradoxo de impor-se à vítima o pagamento de honorários advocatícios superiores ao 
deferido a título indenizatório. 
Súmula 387: Permite-se a cumulação de valores autônomos, um fixado a título de dano 
moral e outro a título de dano estético, derivados do mesmo fato, quando forem passíveis 
de apuração em separado, com causas inconfundíveis. 
É possível indenização por danos estéticos, como no caso do ex-namorado que tatuou o seu 
nome, à força, na testa da moça ou o tatuador que escreveu na testa de um adolescente “eu 
sou ladrão e vacilão”. 
Súmula 227: A pessoa jurídica pode sofrer dano moral. 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
A pessoa jurídica pode ter a sua honra objetiva lesada, ou seja, a sua reputação. Uma pessoa 
jurídica não apresenta autoestima, a qual é típica de uma pessoa física, razão que aponta 
para a inexistência de uma honra subjetiva. 
Súmula 37: São cumuláveis as indenizações por dano material e dano moral oriundas do 
mesmo fato. 
As indenizações por dano material e dano moral são autônomas. 
 
A Constituição Federal, no seu art. 5º, X, admitiu a possibilidade de indenização por danos 
morais. Ainda que não se possa precificar a dor, é uma medida melhor em comparação à 
ausência de reparação, já que, em ocasiões significativas, é impossível reverter os efeitos do 
dano. 
Art. 5º, X – CF: são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, 
assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação; 
A grande polêmica gira em torno da quantificação dos danos morais, já que geralmente o 
autor fica insatisfeito por considerar que merecia mais. 
Fica a prudente arbítrio do juiz a fixação do dano moral, o que conduz a algumas situações 
esquisitas. 
Há, além disso, o que chamamos de tarifação do dano moral no Direito do Trabalho. A 
depender da intensidade do dano, deve-se pagar um percentual específico sobre o salário 
(entre 2 e 10, entre 20 e 40 salários... – valores meramente exemplificativos). Tal tópico será 
desdobrado com maestria na disciplina Direito do Trabalho I. 
O valor da condenação precisa servir como efetivo bálsamo e dar um conforto para a vítima 
do dano moral (função reparatória), ao mesmo tempo em que possui uma função 
pedagógica de coibir atos semelhantes no futuro. Geralmente, a partir de decisões judiciais 
reiteradas, são estabelecidos parâmetros que serão aplicados em futuros casos semelhantes 
(como no caso da indenização pelo falecimento de um familiar). Estabelece-se, a priori, um 
valor médio (1ª fase), conferindo maior grau de segurança jurídica. Na 2ª fase, tendo como 
ponto de partida o valor médio aferido na 1ª fase, o juiz deve mantê-lo, aumentá-lo ou 
diminuí-lo de acordo com as peculiaridades do caso concreto (customização do valor 
condenatório ao constatado no caso concreto), tais como agente, vítima, extensão do dano, 
repercussão... 
 
Súmula 7 – STJ: A pretensão de simples reexame de prova não enseja recurso especial. 
A rigor, os ministros não podem discutir matéria fática e a definição de valor por danos 
morais apresenta natureza fática. Quando constatado um valor muito desarrozoado, seja 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
excessivo ou aquém do ideal, o STJ intervém. Trata-se de uma exceção à própria súmula 
fixada pelo tribunal. 
 
Observação: A aula da próxima sexta (08/09) será remota, sendo aferida a presença através 
do Ágata. 
 
AULA 06 – DANOS MORAIS E DANOS ESTÉTICOS 
 
1. Danos morais: 
O termo técnico-científico é compensação (e não indenização) por danos morais, uma vez 
que a lesão ao direito de personalidade não é possível de retornar ao status quo originário. 
Observadas as decisões sobre danos morais na jurisprudência brasileira, existem muitos 
julgados em que se nega a compensação por danos morais por mero aborrecimento. Desse 
modo, as compensações por danos morais cada vez mais têm apresentado valor mais baixo, 
ou até, sido indeferidas. 
Hoje não há mais que se falar em “indústria dos danos morais”, já que os tribunais buscam 
coibir ações abusivas e oportunistas no que tange aos danos morais. 
 
2. Danos estéticos: 
Súmula 387, STJ: Permite-se a cumulação de valores autônomos, um fixado a título de dano 
moral e outro a título de dano estético, derivados do mesmo fato, quando forem passíveis 
de apuração em separado, com causas inconfundíveis. 
O dano estético se caracteriza quando há lesão ao direito de imagem ou a voz. 
É possível indenização por danos estéticos, como no caso do ex-namorado que tatuou o seu 
nome, à força, na testa da moça ou o tatuador que escreveu na testa de um adolescente “eu 
sou ladrão e vacilão”. A outro título exemplificativo pode-se citar uma lesão corporal que 
gera uma cicatriz indelével no rosto. 
Os danos estéticos são danos autônomos na visão do STJ, o que é refutado por Leonardo 
Vieira. O autor considera que os danos estéticos deveriam apenas aumentar a compensação 
por danos morais. 
o No caso do rapaz que tatuou o nome forçadamente no rosto da ex-namorada. 
Supondo que ela consiga retirar, cabe ainda assim os danos estéticos? Sendo possível 
retirar, sem que fiquem sequelas significativas, a indenização limitar-se-á aos danos 
morais (sofrimentos expressivo proveniente da tatuagem indesejada) e aos danos 
materiais (despesas com o tratamento para a remoção). 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
Supondo que um pai tenha sofrido uma agressão e ficado tetraplégico. A vítima direta do 
dano foi o pai, mas os filhos foram atingidos por esse fato, já que perderam um contato 
familiar harmônico para com o seu genitor. Fala-se, assim, em dano moral reflexo ou por 
ricochete (indenização a pessoas intimamente ligadas à vítima). Há, ademais, o dano por 
ricochete in re ipsa (presumido), vide os filhos que ficarão órfãos. Essa presunção, contudo, é 
relativa, cabendo prova em contrário. 
No caso do assassinato de Eliza Samudio, o seu pai não tinha contato frequente com ela. O 
pai apareceu choroso e dando entrevistas, bem como pleiteando dano in re ipsa pela perda 
da sua filha. Os advogados do goleiro Bruno, certamente, argumentaram que a relação 
familiar não era boa, não cabendo, desse modo, o dano in re ipsa. 
A jurisprudência tem admitido o surgimento de novos danos autônomos, de modo que o juiz 
precisa fixar valores distintos a depender da modalidade do dano (material, moral, estético e 
outro capítulo destinado aos novos danos). 
 
3. Outros danos: 
O dano essencial ou existencial é aquele que compromete o projeto de vida, tal como 
comprometer a fertilidade de um indivíduo que pretendia ter filhos. A outro título 
exemplificativo pode-se citar as queimaduras dos garotos vítimas do incêndio no Ninho do 
Urubu (2019). 
Para os familiares dos falecidos ou dos que sofreram graves queimaduras, sem dúvidas, cabe 
a compensação por danos morais in re ipsa. Antes do evento, tinham filhos vivos e 
saudáveis, felizes e jogando em um dos maiores times do Brasil – cenário repentinamente 
alterado com a tragédia. Leonardo Vieira critica a referida autonomia. 
O dano pela perda do tempo produtivo seria um novo dano e, também, autônomo. Trata-se 
da compensação por prejuízos financeiros ou oportunidades perdidas em virtude de ações 
ou negligências que resultam na perda de tempo que poderia ter sido produtivamente gasto 
em atividades ou negócios. 
A perda de uma chance, para Leonardo Vieira, é uma teoria que exemplifica a erosão do 
nexo causal, enquanto filtro da responsabilidade civil. O dano por uma perda de uma chance 
será contemplado no estudo do nexo causal. 
Há, também, o dano por abandono afetivo. Pode ser caracterizado de diversas formas e 
manifestado a partir da ausência de afeto aosfilhos, omissão, discriminação, falta de apoio 
emocional, psicológico, social, e que possam gerar problemas psicológicos às vítimas. 
O caso Guilherme de Pádua trouxe à tona a discussão sobre o direito ao esquecimento. O 
direito ao esquecimento já foi declarado inconstitucional pelo STF, não reconhecendo a 
lesão ao direito ao esquecimento como um novo dano, passível de indenização. O debate foi 
reascendido com os casos Suzane von Richthofen e Cuca. No que concerne ao treinador, 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
teria ele o direito ao esquecimento ou deve-se prezar pela proteção dos direitos das 
mulheres? 
 
4. A pensão indenizatória: 
O critério jurisprudencial e doutrinário, importado pelo Direito de Família é o seguinte: o 
filho maior de idade e que dependa de necessidades especiais. O cônjuge também pode ser 
titular da pensão indenizatória caso fosse dependente economicamente do cônjuge que 
falecera. 
A prisão civil, por exemplo, que se admite extraordinariamente no caso do não pagamento 
da pensão alimentícia (obrigação de alimentos no Direito de Família), não é cabível em se 
tratando de pensão indenizatória. São institutos distintos, entretanto, a penhora é válida. 
Sobre a pensão indenizatória no caso de homicídio, algumas observações são importantes: 
 O limite temporal que há para que o responsável pelo homicídio pague a pensão até 
a expectativa de vida da vítima (critérios definidos pelo IBGE – expectativa média do 
brasileiro, sem distinção de gênero, é de 75 anos); 
 Caso o destinatário da pensão seja o filho, o valor fixa-se em 2/3, já que 1/3 entende-
se que é a renda própria; 
 Caso o destinatário da pensão seja o cônjuge viúvo, como regra, o pagamento será 
feito levando-se em conta a expectativa de vida da vítima (se o falecido tinha 65 
anos, o pagamento será feito por 10 anos). Se a viúva estabelece união estável ou 
novo casamento (novas núpcias), a nova relação faz cessar o dever de pagar a 
pensão; 
 
Art. 948 – CC: No caso de homicídio, a indenização consiste, sem excluir outras reparações: 
I - no pagamento das despesas com o tratamento da vítima, seu funeral e o luto da família; 
II - na prestação de alimentos às pessoas a quem o morto os devia, levando-se em conta a 
duração provável da vida da vítima. 
Se a situação não for de morte da vítima, mas de uma lesão, deve-se atentar para a 
classificação da lesão. Nos arts. 949 e 950 há menção às consequências de perda de 
capacidade laborativa. Pode a vítima pleitear danos emergentes (o prejuízo efetivamente 
sofrido), os lucros cessantes (o que se deixou de ganhar), bem como pensão em virtude da 
importância ou depreciação do trabalho. 
Importa, aqui, se a lesão subsistiu ou não e se afetou ou não a capacidade laborativa, o que 
é constatado via perícia. 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
Art. 949 – CC: No caso de lesão ou outra ofensa à saúde, o ofensor indenizará o ofendido das 
despesas do tratamento e dos lucros cessantes até ao fim da convalescença, além de algum 
outro prejuízo que o ofendido prove haver sofrido. 
Art. 950 – CC: Se da ofensa resultar defeito pelo qual o ofendido não possa exercer o seu 
ofício ou profissão, ou se lhe diminua a capacidade de trabalho, a indenização, além das 
despesas do tratamento e lucros cessantes até ao fim da convalescença, incluirá pensão 
correspondente à importância do trabalho para que se inabilitou, ou da depreciação que ele 
sofreu. 
Parágrafo único. O prejudicado, se preferir, poderá exigir que a indenização seja arbitrada e 
paga de uma só vez. 
Se a pessoa faz jus ao beneficiário previdenciário, não é razoável que o autor do dano se 
beneficiasse de um teto que não contribuiu. Desse modo, a jurisprudência e a doutrina 
caminham no sentido de que não cabe compensação entre o benefício previdenciário e a 
pensão indenizatória. Se o servidor público foi invalidado por invalidez em virtude da lesão 
sofrida, não é plausível que a aposentadoria exima o autor do dano da pensão indenizatória. 
O parágrafo único é bem criticado pela doutrina. Pode-se reduzir o autor do ato lesivo à 
insolvência no caso do pagamento em uma única parcela, o que não interessa a ninguém. 
 
5. Nexo de causalidade: 
Nexo de causalidade, ou simplesmente nexo causal, é a relação entre autoria e fato (dano). 
Se alguém bate no fundo de um carro que já estava previamente amassado, o autor só 
pagará pelo dano que ele causou (pagar a troca do para-choque traseiro, por exemplo). 
Dos pressupostos, o nexo de causalidade é aquele que amplia a margem de interpretação – 
é a visão de Cavalieri Filho. 
A começar pela constatação de que a responsabilidade civil não se restringe a casos tão 
simplórios quanto ao exemplificado acima. Os debates sobre nexo causal são apimentados, 
sobretudo no âmbito do Direito Médico. 
Deve-se levar em conta, também, as concausas, as quais são contempladas pelas seguintes 
teorias: 
 Teoria da conditio sine qua non (equivalência das condições): Todos os antecedentes 
fáticos do dano serão considerados causas do dano. Se retirada a conduta e o dano 
desaparece, logo, é causa. É uma teoria que já se encontra superada tanto no Direito 
Civil, quanto no Direito Penal. Tem como aspecto negativo a causalidade ao infinito. 
Nelson Hungria afirma que esse regresso ao infinito não é razoável, utilizando o 
exemplo de que se houve um adultério, o marceneiro que fez a cama seria 
responsável pelo adultério; 
 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
 Teoria da causalidade adequada: Contemplada pelo Direito Penal. Procura fazer o 
contraponto à teoria da conditio sine qua non, estabelecendo critérios para distinguir 
causa e mero antecedente, quais sejam: 
o A causa adequada de um dano; 
o Normal desenrolar das circunstâncias; 
o A ausência de causas independentes; 
Utiliza-se o método da prognose retrospectiva: retorna-se à época do fato para 
analisar se era previsível o dano futuro pelo homem médio. Leonardo Vieira adere a 
essa perspectiva. 
 
 Teoria da causalidade direta e imediata (teoria da causalidade necessária): 
Contemplada pelo Direito Penal. Se diferencia da anterior nos critérios para 
estabelecer tal distinção. É a adotada por Carlos Roberto Gonçalves, Rodolfo 
Pamplona e Pablo Stolze. A crítica feita à teoria anterior se dá na vagueza das 
expressões e elasticidade hermenêutica, conferindo uma excessiva 
discricionariedade ao magistrado para definir se houve causa no caso concreto. 
Leonardo Vieira considera que isso não é um óbice à aplicação da teoria da 
causalidade adequada, uma vez que os aspectos positivos superam os empecilhos. 
Essa teoria analisa se há vínculo direto e imediato - causa é o antecedente (conduta) 
que determina o resultado como consequência sua direta e imediata. 
Para a teoria da causalidade adequada, é possível admitir como causador da morte 
tanto aquele que atirou, quanto aquele que forneceu/vendeu a arma (há, inclusive, 
previsão no Código Penal). Para a teoria da causalidade necessária, responsabilizar-
se-ia apenas o que efetuou os disparos. 
É comum, na prática, que juízes fundamentem as suas decisões através das duas últimas 
teorias no mesmo caso concreto. É uma polêmica atual o exame de qual teoria entre essas 
duas deve prevalecer no Direito Brasileiro. 
 
Referências: 
 A torre de babel dos novos danos – Pamplona e Vilas Boas (leitura e dúvidas para a 
próxima aula); 
 https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/incendio-no-ninho-do-
urubu-o-que-aconteceu-com-vitimas-e-os-responsaveis.phtml; 
 https://www.jusbrasil.com.br/artigos/artigo-de-pablo-stolze-gagliano-a-sindrome-
do-bebe-sacudido-e-o-silencio-dos-inocentes/121822641; 
 
AULA 07 – NEXO DE CAUSALIDADE (CONTINUAÇÃO E DESFECHO) 
https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/incendio-no-ninho-do-urubu-o-que-aconteceu-com-vitimas-e-os-responsaveis.phtml
https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/incendio-no-ninho-do-urubu-o-que-aconteceu-com-vitimas-e-os-responsaveis.phtmlhttps://www.jusbrasil.com.br/artigos/artigo-de-pablo-stolze-gagliano-a-sindrome-do-bebe-sacudido-e-o-silencio-dos-inocentes/121822641
https://www.jusbrasil.com.br/artigos/artigo-de-pablo-stolze-gagliano-a-sindrome-do-bebe-sacudido-e-o-silencio-dos-inocentes/121822641
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
 
1. Concausas: 
Concausa remete à ideia de coautoria. Desse modo, os autores são solidariamente 
responsáveis pelo dano. Sérgio Cavalieri Filho afirma que a concausa trata-se do elemento 
mais polêmico do dano, o que é corroborado por Leonardo Vieira. Rodolfo Pamplona e 
Pablo Stolze dividem o fenômeno da concausa em três situações: 
 Concausas absolutamente independentes: Não há nexo de causalidade entre autoria 
e dano e, portanto, não há que se falar em responsabilidade civil. Suponhamos que a 
causa mortis foi o soterramento proveniente de um abalo sísmico. O terremoto e o 
posterior desabamento ilustram uma situação totalmente independente e que quebra 
o nexo causal. Logo, o sujeito que deu um tiro prévio ao desabamento não responde 
pela morte do falecido, a não ser que se prove que, em razão dos ferimentos, ele não 
tenha conseguido escapar do local a tempo de evitar a morte por soterramento; 
 
 Concausa anterior (preexistente) ou concomitante: Metáfora do rio e dos seus 
afluentes. Há responsabilidade solidária para aqueles que contribuíram para o dano. 
Ex: A, por ter uma saúde fragilizada, morre após agressão de B. O mesmo ocorrerá se 
A, ao receber um tiro, morre em razão de um derrame ou do susto e, não 
necessariamente, do ferimento. Pode-se citar como outro exemplo o envenenamento 
por um desafeto – A envenenado por B fica fragilizado e C impede que a vítima tenha 
acesso a um antídoto ou a um atendimento médico (B e C são solidariamente 
responsáveis); 
 
 Concausa superveniente: Deve-se analisar se o evento posterior rompeu ou não com 
o nexo de causalidade, sendo que o rompimento exclui a responsabilidade pelo dano. 
Ex: B causou uma lesão corporal em A. A, no caminho do hospital, sofre um acidente 
de trânsito, após colidir com uma carreta desgovernada. B não responde pela morte 
de A, já que houve a quebra do nexo de causalidade. Se o veículo tivesse chegado ao 
hospital e, em razão de um procedimento cirúrgico de alto risco, vem a falecer, B 
responderá pela morte da vítima. 
Se o Kayky Britto foi rapidamente socorrido, não haverá responsabilidade civil de Bruno De 
Luca, uma vez que não há responsabilidade civil sem dano. Os danos, nesta hipótese, teriam 
sido causados exclusivamente pelo atropelamento. 
 
2. Teorias inerentes ao nexo de causalidade: 
 
 Teoria da causalidade alternativa: O maior número de pessoas que sofreu o dano 
deve ter a reparação, de modo que haja ressarcimento. O boliviano Kevin Espada, de 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
14 anos, estava em um estádio de futebol quando os torcedores do Corinthians 
dispararam um rojão contra a torcida adversária (boliviana e da casa), atingindo-o. 
Prendeu-se uma série de pessoas, diante da impossibilidade de se determinar quem 
foi o autor do disparo. Trata-se da aplicação da causalidade alternativa: condenar 
todos os integrantes da torcida organizada a solidariamente pagar a indenização à 
família. 
 
 Teoria do crânio frágil: Teoria de raiz norte-americana que estabelece que o autor de 
uma conduta lesiva haverá de responder pelo resultado mais grave, ainda que não 
tenha conhecimento da fragilidade da vítima. Ex: A tem uma estrutura esquelética 
frágil e B ao dar um soco, provoca-lhe uma lesão significativa, a qual não se 
constataria no homem médio. Se é razoável no direito estadunidense, no Brasil tal 
teoria não é (Anderson Schreiber). A crítica feita é a seguinte: é necessário que haja 
indícios ou elementos suficientes para compreender a condição especial da vítima. 
Para o autor, a análise deve ser, portanto, in concreto, ou seja, em uma noção de 
previsibilidade. 
o Há uma grande discussão doutrinária e jurisprudencial acerca da lesão à 
mulher grávida que, porventura, venha a atingir também o feto: É necessário 
que o autor tenha conhecimento do estado de gravidez – ainda que nas 
primeiras semanas de gestação, sem apresentar barriga –, ou prevalecerá a 
máxima de que uma mulher não pode ser agredida independentemente do 
contexto? E em relação aos “homens grávidos” (aqueles que fazem 
procedimentos para engravidar)? Leciona Leonardo Vieira que o sujeito deve 
ser responsabilizado pela agressão à mulher, ainda que não tenha 
conhecimento da gravidez, já que se pressupõe o dever de não agredi-la 
(presunção absoluta). Por outro lado, não é esperado que o homem médio, 
ao dar um soco na barriga de um homem, imagine que este esteja grávido. 
Em que pese sermos defensores dos direitos das mulheres, é preciso 
trabalhar com casos concretos e, infelizmente, as agressões são corriqueiras. 
Desse modo, não é razoável defender uma responsabilidade civil e penal (vide 
a agravante do art. 61, II, h, CP) objetiva caso inexistentes indícios de gravidez 
(a presunção deve ser relativa). Em suma, não há consenso: aguardemos as 
cenas dos próximos capítulos. 
 
 Teoria da perda de uma chance: 
Deve-se indenizar do prejuízo a alguém que perdeu ou não conseguiu evitar um prejuízo. 
Quando um cidadão perdeu uma chance real e concreta de obter um ganho ou de evitar um 
prejuízo, merecerá uma indenização. 
O valor da condenação deve ser proporcional à chance perdida (princípio da 
proporcionalidade). Na pergunta do milhão, exemplo utilizado por Cristiano Chaves e, 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
também, por Flávio Tartuce, havia quatro alternativas erradas. Se a pessoa acertasse, 
ganharia 500 mil que, somados aos 500 mil já no bolso, culminaria no milhão (1M). A moça 
desistiu e preferiu manter os 500 mil. Trata-se de um caso real e o SBT se defendeu alegando 
que, mesmo que houvesse uma resposta correta, nada garantia o acerto. No final, a 
emissora foi condenada a pagar 25% (R$ 125.000,00) – ¼ de chance (1 em 4 alternativas), 
totalizando R$ 625.000,00 no prêmio total. 
Quando o médico não ministra um medicamento e o paciente vem a falecer, ele retira a 
chance de sobrevivência do assistido, podendo ser condenado a pagar uma indenização civil 
proporcional à probabilidade de viver. Isso também vale para um cirurgião que corta uma 
veia importante do paciente e este vem a óbito. 
No que tange à perda de uma chance nos concursos públicos, a análise é concreta. Verifica-
se o histórico acadêmico dos candidatos, as suas áreas de especialização e a semelhança 
entre os seus estudos e a vaga do concurso. 
Embora estudemos a perda de uma chance como uma exceção ao nexo de causalidade, 
parte da doutrina compreende-a como um dano autônomo, assim como o abandono afetivo, 
por exemplo. 
 
3. Excludentes de causalidade: 
As excludentes de causalidade, muitas vezes, coincidem com as excludentes de 
responsabilidade, mas não necessariamente. Um caso fortuito interno, por exemplo, 
atinente ao risco da atividade (um raio que cai em uma construção civil), é uma excludente 
de causalidade, mas não exime o responsável legal pelo dano. 
As excludentes de causalidade, ademais, não se confundem com as excludentes de ilicitude 
(legítima defesa, estado de necessidade, exercício regular de um direito, estrito 
cumprimento de um dever legal e consentimento do ofendido, contemplados mais 
precisamente em Direito Penal II). 
Nada impede que uma excludente de causalidade coincida com uma excludente de ilicitude 
ou com uma excludente de responsabilidade. Isso é o que acontece normalmente, 
entretanto, isto não é uma máxima absoluta. 
As excludentes de causalidade, uma vez caracterizadas, provocarão a quebra do liame. 
 O fato exclusivo da vítima: Não se confunde com a culpa concorrente, a qual apenas 
interfere no valor da condenação (e não implica na exclusão de responsabilidade 
civil). Neste caso, a vítimae somente ela, foi responsável por causar o dano, já que 
agiu por imprudência ou negligência. Avalia-se a questão da inevitabilidade; 
 O fato exclusivo de terceiros: Neste caso, um terceiro, distinto do suposto autor e da 
vítima, é o responsável direto e responderá pelo dano causado à vítima. A questão da 
inevitabilidade também é avaliada; 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
 Caso fortuito ou força maior: Não há que se fazer uma distinção entre caso fortuito e 
força maior (art. 393, CC). Todavia, para aqueles que distinguem, tais como Maria 
Helena Diniz, força maior se relaciona com a natureza (uma chuva forte), já o caso 
fortuito não teria causa natural (um fio que se parte). Álvaro Villaça prega 
justamente o oposto de Maria Helena Diniz. Para Cavalieri Filho haverá força maior 
quando um fenômeno, ainda que previsível, era inevitável. 
Há, ainda, os que distinguem o fortuito interno e o fortuito externo como espécies da 
força maior (gênero), sobretudo no que tange às relações de consumo (Direito do 
Consumidor). 
o Caso fortuito interno: Circunstância inevitável, mas relacionada à atividade-
fim da pessoa. Ex: Um assalto a banco ou uma colisão de ônibus; 
o Caso fortuito externo: Circunstância inevitável e alheia à atividade-fim da 
pessoa. Ex: Um assalto à farmácia ou um asfalto ceder por conta de uma 
chuva, provocando danos aos passageiros; 
O consumidor é a parte vulnerável. Quando se aplica a teoria, está reduzindo a chance de se 
caracterizar uma excludente de causalidade. Desse modo, o caso fortuito interno não isenta 
o fornecedor da responsabilidade. No âmbito do Direito Civil, todavia, se foi um evento 
inevitável, pode-se sustentar a caracterização da inevitabilidade do dano e, por conseguinte, 
o afastamento do dever de indenizar. 
É importante compreender, na responsabilidade civil, se o dano era evitável, sendo 
irrelevante a classificação em caso fortuito interno e caso fortuito externo. 
 
Para a próxima aula: O assunto da prova termina aqui. A segunda metade da próxima aula 
será uma aula de revisão para a avaliação. Portanto, é imperioso estudar para sanar 
eventuais dúvidas. 
 
 
 
 
 
SÍNTESE – BREVES NOTAS SOBRE A RESPONSABILIDADE CIVIL POR ABUSO DE 
DIREITO NO BRASIL/ LEONARDO VIEIRA 
 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
Leonardo Vieira, professor titular de Responsabilidade Civil da Faculdade Baiana de 
Direito, inicia o artigo realizando um recorte histórico a fim de demonstrar a evolução do 
instituto do abuso de direito. Os homens, no exercício de seus direitos, devem respeitar 
regras e princípios, a fim de que se consolide a paz social. A teoria do abuso de direito, 
estabelecida por doutrinadores franceses, tem as suas raízes no Direito Romano, mais 
especificamente na teoria dos atos emulativos. A teoria dos atos emulativos foi importante 
para a compreensão de que os direitos subjetivos não são absolutos, entretanto, a exigência 
da comprovação da finalidade específica de lesar terceiros levou tal perspectiva ao fracasso. 
A exigência do fim específico e o ônus da vítima em ter que provar a intenção do causador 
do dano levaram a muitos danos ficarem impunes. A teoria do abuso de direito francesa foi 
além, não exigindo mais a intenção de lesar in concreto. Era necessário dar um fim ao 
paradoxo do caos social decorrer do exercício do próprio direito, criado justamente para 
evitá-lo. 
Um dos maiores debates travados historicamente na ciência jurídica trata-se da 
natureza jurídica da responsabilidade civil por abuso de direito. Emergem, nesse sentido, 
três teorias, as quais serão sintetizadas na tabela a seguir: 
 
SUBJETIVISTAS OBJETIVISTAS ECLÉTICAS 
Poucos adeptos; 
 
É a teoria dos atos 
emulativos; 
 
Exigência do fim 
específico de lesar 
terceiros (o indivíduo, 
culposamente, deveria 
lesar terceiros); 
 
Fracassou: diversidade 
de danos que ficaram 
impunes e a confusão 
entre o abuso de direito 
e o clássico ato ilícito; 
Adotada pela parte majoritária 
da doutrina e jurisprudência 
brasileiras; 
 
Rodolfo Pamplona, Braga Netto, 
Cristiano Chaves, Nelson 
Rosenvald, Jordão, Cavalieri 
Filho, Nery Jr, Nery...; 
 
O abuso de direito independe de 
culpa; 
 
O abuso de direito é um instituto 
autônomo distinto do ato ilícito 
lato sensu; 
 
Critérios objetivos para aferir o 
abuso de direito: ato contrário à 
finalidade econômica ou social 
do sistema jurídico, à boa-fé ou 
aos bons costumes; 
 
Minoritária, adotada por 
Leonardo Vieira; 
 
Une aspectos das outras 
duas teorias: critérios 
objetivos + aferição de culpa 
para a responsabilidade civil 
por abuso de direito; 
 
A culpa não é o único fator 
como dever de indenizar, 
mas deve ser levada em 
consideração; 
 
 
 
 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
 Na maior parte das páginas, o autor confronta doutrinadores e enunciados de 
jornadas do Direito Civil, defendendo a teoria eclética no que tange à responsabilidade civil 
por abuso de direito. Verifiquemos, pois, os principais argumentos utilizados por Leonardo 
Vieira: 
 O art. 187 do Código Civil deve ser interpretado de forma sistemática com os arts. 
186 e 927; 
 A responsabilidade civil por abuso de direito deve ter um tratamento idêntico à 
responsabilidade civil por ato ilícito, uma vez que é uma categoria deste  a 
responsabilidade civil por abuso de direito, como regra, deve ser subjetiva, 
excetuando-se os casos de responsabilidade objetiva expressamente previstos no 
parágrafo único do art. 927 (teoria do risco ou expressa determinação legal) e no art. 
928 (equidade); 
 Em casos de rara contradição, autores que se dizem objetivistas, como Cristiano 
Chaves de Farias e Nelson Rosenvald, já afirmaram, sem nenhuma ressalva, que a 
responsabilidade objetiva é caso do dever de indenizar por ato ilícito  em maior ou 
menor grau, os objetivistas aludem à culpa em abstrato; 
 Não faz sentido se pensar em um “ato abusivo genérico/lato sensu” 
(responsabilidade objetiva) e um “ato abusivo específico” (art. 1228, § 2º, CC = 
responsabilidade subjetiva no que tange ao direito de propriedade)  o ato ilícito é 
um conceito único e o abuso de direito, uma modalidade de ato ilícito; 
 Antes do advento do Código Civil de 2002, os objetivistas diziam que o abuso de 
direito não era um ato ilícito, afastando, assim, a ideia de culpa. Com a previsão 
expressa do legislador em sentido contrário, criaram a noção de “ato ilícito objetivo” 
para se referir àquele praticado por abuso de direito  essa classificação (ato ilícito 
objetivo) é desprovida de fundamentação suficiente; 
 A aferição de culpa não tornaria o ato abusivo inócuo  diferentemente do ato 
abusivo, a culpa deve estar associada a algum dispositivo legal para configurar o ato 
ilícito do art. 186 do Código Civil; 
 A culpa não pressupõe uma afronta a direito para se caracterizar. Um sujeito sem 
licença para dirigir, dirigindo em alta velocidade, põe em risco a coletividade, ainda 
que não venha a causar nenhum acidente, por exemplo  não cabe mais a 
concepção de que “quem exerce o seu direito, a ninguém prejudica” e, também, não 
é necessária a lesão a bem jurídico alheio para que se configure a culpa (a lesão não é 
elemento constitutivo da culpa); 
 Se a ideia de culpa não traz consigo a afronta a direito, então incluir a aferição de 
culpa para responsabilizar o abuso de direito não o equipara ao ato ilícito do art. 186 
 cai por terra um dos maiores argumentos dos objetivistas; 
 Não se pode prosperar o Enunciado 37 do CEJ (Centro de Estudos Judiciários) pois 
não possui bases que o fundamentem  este é refutado, inclusive, por algumas 
decisões jurisprudenciais, não expressando o entendimento do CJF e do STJ; 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
 Insistir na tese dos objetivistas significa dar um tratamento mais gravoso a um sujeito 
que exerce um direito protegido pelo ordenamento, ainda que se excedendo, a um 
sujeito que comete ato ilícito do art.186  fere os princípios da isonomia e da 
exigência da justiça, já que o ato ilícito do art. 186 não só está em descompasso com 
os fins do direito, como também da lei (a objeção do tratamento mais grave, ao meu 
ver, é o argumento mais forte utilizado por Leonardo Vieira); 
 Se pressupormos que a responsabilidade por abuso de direito seja objetiva, 
valeria mais a um indivíduo protestar um título já pago (o que afronta à lei – 
ilícito do art. 186) do que levar a protesto um título de dívida ainda não 
quitada, de forma abusiva (art. 187); 
 Os princípios não são mais importantes do que as leis  tanto no ilícito do art. 186 
quanto no ilícito do art. 187 há violação a princípios; 
 A análise não é in concreto, mas in abstrato  deve-se entender se o homem médio 
(reasonable man) conseguiria atuar com zelo ao ponto de não exceder os limites do 
exercício de um direito subjetivo; 
 A referência ao art. 187 no art. 927 foi feita no caput (cláusula geral de 
responsabilidade subjetiva) e não nas exceções de responsabilidade objetiva 
presentes no parágrafo único  há uma lógica por trás da organização da lei e um 
raciocínio contra legem deve ser bem fundamentado; 
 
Ante o exposto, é razoável a compreensão da adoção da teoria eclética pelo legislador 
brasileiro no que tange à responsabilidade civil por abuso de direito. Tendo em vista as 
diretrizes de cunho axiológico e a objeção do tratamento mais grave, feliz foi Leonardo 
Vieira ao bater de frente com a doutrina majoritária e expressar o seu ponto de vista com 
extrema maestria. 
 
Thiago Coelho – T6A 2023.1 
@taj_studies 
 
SÍNTESE – A TORRE DE BABEL DOS NOVOS DANOS/ RODOLFO PAMPLONA E 
LUIZ CARLOS VILAS BOAS 
 
Rodolfo Pamplona e Luiz Carlos Vilas Boas discorrem sobre a existência de uma torre de 
babel dos novos danos, criticando o reconhecimento corriqueiro de novos danos autônomos 
pela doutrina e pela jurisprudência. Em primeiro plano, consideram como plano de fundo a 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
constitucionalização do Direito Civil, responsável por deslocar o foco da responsabilidade 
civil do objeto para o sujeito (vítima), sobretudo no que tange à dignidade da pessoa 
humana. Nessa perspectiva, os autores distinguem os danos patrimoniais (os quais 
englobam os danos emergentes e os lucros cessantes) dos danos extrapatrimoniais, sendo 
que estes se desdobram em dano moral e dano à imagem. Nesse cenário, apresentam uma 
tese contrária a essa tendência doutrinária e jurisprudencial, através dos seguintes 
argumentos: 
 O art. 5º, V da CF aponta como danos autônomos o dano material, o dano moral e o 
dano à imagem, de modo que a compreensão de outros danos autônomos consiste 
em uma interpretação inconstitucional; 
 O sofrimento não é pressuposto da responsabilidade civil. Pode existir sofrimento 
sem dano (o pai que perde o filho por morte natural), assim como dano sem 
sofrimento (reconhecimento de dano à honra objetiva da pessoa jurídica); 
 O STJ editou uma súmula (387) reconhecendo os danos estéticos como autônomos, 
modificando seu entendimento anterior. Não há estabilidade nem na jurisprudência 
há um consenso. Se o dano estético merece tratamento especial, por que tal 
proteção não se estender aos demais danos?; 
 O dano deve ser conceituado com base no bem jurídico lesado e não na origem. 
Esses novos danos não são tão novos assim, uma vez que atingem a dignidade da 
pessoa humana (esta é una) e, assim, podem ser classificados como danos morais. 
Destarte, não se pode compreender o dano de férias arruinadas, o dano existencial e 
o dano biológico como danos autônomos; 
 A dignidade de uma pessoa é composta por uma imensa gama de atributos e 
direitos, não se tendo como limitar o que compõe a chamada "cláusula geral de 
tutela da personalidade". Não se pode limitar a própria dignidade humana; 
 Essa criação de novos danos se mostra como perigosa e não significa sinônimo de 
mais proteção, pelo contrário: implica em mais restrição. É uma tarefa árdua e 
interminável – senão impossível – prever todas as origens de danos à dignidade 
humana, de modo que uma situação, caso não adjetivado o dano, a vítima poderá 
ficar sem nenhuma reparação. Em síntese, não se pode estabelecer dano sem 
critério jurídico que o embase e expor à vítima à ausência de reparação quando a 
conduta ofensiva não estiver adjetivada; 
 
Thiago Coelho – T6A 2023.2 
@taj_studies 
 
 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
AULA 08 – NEXO DE IMPUTAÇÃO 
 
1. Nexo de imputação: 
 
 A imputabilidade enquanto pressuposto da responsabilidade civil 
Se se trata de um incapaz, por falta de discernimento, não se pode falar em culpa. Se a 
criança agiu de maneira semelhante à pessoa média, poder-se-ia sustentar, também, o 
afastamento da responsabilidade civil dos pais (ou responsáveis). 
 
 Responsabilidade civil objetiva: 
A responsabilidade civil é objetiva quando não demanda culpa para configurar o dever de 
indenizar, sendo os casos de atividade de risco, equidade ou por disposição legal. 
Vejamos as subteorias do risco, a luz da doutrina de Cavalieri Filho: 
 Subteoria do risco profissional (Joserrand e Saleilles): O empresário deve pagar os 
danos aos empregados independentemente de culpa; 
 Subteoria do risco proveito: O sujeito que tirou proveito de uma atividade de 
risco deve arcar com as suas consequências; 
 Subteoria do risco criado: O ônus da prova de que a pessoa tirou proveito de uma 
situação não era simples. Não é relevante se ela tirou proveito (difícil de provar): 
importa se o sujeito criou a atividade de risco que passou a desenvolver 
habitualmente; 
 Subteoria do risco extraordinário: Utilizada quando a situação fática abordada for 
tão aguda e evidente, que se descarta a discussão da culpa; 
 Subteoria do risco integral: Subteoria tão violenta e impactante que atinge, 
também, o nexo de causalidade para além do nexo de imputação. Além de 
dispensar culpa, dispensa-se, também, o nexo causal (aplicada apenas 
pontualmente no Direito brasileiro); 
 
2. Caso Luisa Sonza x Chico Moedas: 
Luisa Sonza, cantora, apareceu para a mídia ao se casar com Whindersson Nunes, 
comediante. Depois de se divorciar, se relacionou com Vitão, um sujeito totalmente 
diferente de Whindersson. Após largar com Vitão, se envolveu com Chico Moedas, que 
enriqueceu através do mercado de criptomoedas. 
Luisa Sonza chegou, inclusive, a compor uma música para Chico. A música fala de bar, de 
monogamia e outros temas polêmicos que seriam constatados no futuro. 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
Chico foi a um bar e levou uma garota para o banheiro, permanecendo lá durante 40 
minutos, mesmo que alertados por um garçom. Tinha uma fã da Luisa Sonza no bar e 
observou a cena, descrevendo de forma detalhada. 
Luisa Sonza foi em rede nacional, no programa Mais Você e relatou o fato, sem proferir 
palavras ofensivas ao ex. Ana Maria Braga. Chico confessou tudo e teve a conta derrubada 
Eis a questão: como a Luisa Sonza expôs a situação em grandes proporções, cabe a sua 
condenação a danos morais? 
 
Optamos pela não condenação. Considerando a era digital, era previsível que algo assim 
pudesse acontecer, já que ambos são figuras públicas (Chico já era conhecido antes do 
relacionamento) e ela já esteve envolvida em polêmicas passadas. Ele conhecia (ou deveria 
conhecer) o padrão de conduta dela (culpa em concreto impedindo uma responsabilidade 
civil). Quando Chico resolve trair a cantora (o que ele não deveria), deveria procurar um 
lugar privado. Em um bar existia a possibilidade concreta de uma fã de Luiza presenciar a 
cena. Ademais, a fã publicou em uma página de fã clube antes da aparição da cantora na 
Globo (logo, o fato já ia viralizar independentemente do programa Mais Você). Poderia ser 
sustentada a culpa exclusiva da vítima (quem deu causa ao dano foi o próprio Chico). 
Nada impede ação penal de crime de difamação,o qual não importa a exceção da verdade. 
O bar, demonstrando que o bar não era sujo, poderia pleitear danos morais contra a sua 
honra objetiva (pode sofrer difamação). 
o Caso distinto do envolvendo Fabíola e o “gordinho da Saveiro” (melhor amigo do 
esposo de Fabíola e que, também, era casado), o qual veio à tona em 2016. O 
marido, juntamente com outro amigo, invadiu um motel e registrou a cena. Neste 
caso houve uma violação à privacidade, passível de danos morais e, de fato, 
aconteceu a condenação. Fabíola se divorciou, mas o casamento do gordinho se 
manteve. (https://br.blastingnews.com/curiosidades/2017/11/lembra-da-fabiola-
das-unhas-veja-como-ela-esta-agora-e-o-seu-amante-002200751.html). 
 
3. Observações sobre a AV1: 
 
 Pode-se descartar uma das cinco questões; 
 Haverá um ponto extra a depender da correção gramatical – crase, regência verbal, 
acentuação, próclise, ênclise e mesóclise; 
 A prova tem 100 minutos: 25 minutos para cada questão; 
 Não há limites de linhas; 
 Atenção ao comando da questão é crucial (“discorra” = escrever tudo o que foi 
trabalhado em sala); 
https://br.blastingnews.com/curiosidades/2017/11/lembra-da-fabiola-das-unhas-veja-como-ela-esta-agora-e-o-seu-amante-002200751.html
https://br.blastingnews.com/curiosidades/2017/11/lembra-da-fabiola-das-unhas-veja-como-ela-esta-agora-e-o-seu-amante-002200751.html
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
 Além do que foi questionado, não haverá pontuação, mas poderá ocorrer desconto; 
 Sobre a prova – o que pode cair: 
 O que é dado em sala é cobrado, inclusive os casos e exemplos; 
 Os textos – Abuso de Direito e Torre de Babel – são passíveis de questões; 
 Cobra-se evolução histórica e também doutrina; 
 Saber o significado das expressões em latim é crucial; 
 
AULA 09 – RESPONSABILIDADE CIVIL E AED 
 
1. A interface entre a Análise Econômica do Direito e a Responsabilidade Civil: 
Houve mudanças no Código Civil promovidas pela Lei da Liberdade Econômica, a qual tem 
no seu bojo forte influência da Escola de Chicago. Entre as modificações, buscou certo freio 
nos princípios em prol do equilíbrio entre justiça social e segurança jurídica. Alterou também 
a LINDB, já que o magistrado não pode decidir com base em valores jurídicos abstratos, mas 
deve se preocupar com as consequências práticas da decisão e com a escassez dos recursos. 
O Direito não pode ser aplicado a revelia da noção da escassez dos recursos, pois, dessa 
forma, não conseguiria promover a tão almejada paz social. Nesse cenário, a AED fornece 
uma série de conceitos que nutre a responsabilidade civil. 
o Em uma cidade do interior, uma idosa, viúva, ficou inadimplente durante meses de 
aluguel. Isso gerou ao proprietário do imóvel o exercício do direito de despejo. No 
caso prático, o juiz optou por não despejar a senhora. Entretanto, em nome da 
justiça social, negligenciou o magistrado o consequencialismo. Doravante, idosos 
passaram a ter dificuldade para morar por aluguel. O juiz não pode fazer justiça social 
com o patrimônio do particular. Daí o impacto da Análise Econômica do Direito na 
seara jurídica: compreender que uma decisão aparentemente boa, a longo prazo, 
pode gerar efeitos bastante nocivos. 
Além do conceito de escassez, pode-se citar a maximização racional, o equilíbrio, incentivos 
e eficiência. 
 Escassez: Dado da realidade que é determinante para situar os indivíduos na posição 
de realizar escolhas, já que os recursos disponíveis são finitos; 
 Maximização racional: Análise interna. Premissa da qual partem muitas escolas 
econômicas de que o ser humano (agente econômico) calcula e decide por um ou por 
outro sentido, levando-se em conta o que trará mais benefícios a um custo menor; 
 Equilíbrio: Momento em que os agentes estão maximizando seus próprios interesses 
simultaneamente. O equilíbrio se relaciona com a maximização racional na medida 
em que a noção daquele depende da noção desta; 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
 Incentivos: Preços implícitos que estimulam ou inibem condutas, contando com a 
premissa da maximização racional. Trata-se do processo em que escolhas são feitas 
por meio de cálculo para minimização de custos e maximização de benefícios; 
 Eficiência: Busca pela obtenção dos melhores resultados sem aumento excessivo dos 
custos; 
 
2. Análise de julgado: 
TJ-RS: APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL. AÇÃO DE 
INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS. INTERRUPÇÃO DO 
FORNECIMENTO DE ENERGIA ELÉTRICA. MORTE DE AVES EM 
AVIÁRIO. DEVER DO PEQUENO PRODUTOR RURAL DE ADOTAR 
PROVIDÊNCIA PARA EVITAR O DANO. ESPECIFICIDADE DE SUA 
PRODUÇÃO (AVES PARA O ABATE). NECESSIDADE DE INSTALAÇÃO DE 
GERADOR PRÓPRIO. DUTY TO MITIGATE THE LOSS. HAND FORMULA. 
CHEAPEST COST AVOIDER. DANOS MATERIAIS. MANUTENÇÃO DA 
SENTENÇA. DANOS MORAIS NÃO CARACTERIZADOS. Contam-se aos 
milhares os processos judiciais envolvendo a responsabilidade civil das 
concessionárias de energia elétrica movidos por produtores rurais. Pretendem estes a 
reparação por perdas da sua produção em razão da interrupção do fornecimento de 
energia elétrica. Diante do aumento do número de processos judiciais e da elevação 
das pretensões indenizatórias, impõe-se aprofundar o debate sobre até que ponto é 
razoável repassar tais custos para as concessionárias diante da alternativa de se 
exigir que os produtores estejam preparados para tais intempéries, porque seriam 
previsíveis, já que acontecem todos os anos, adquirindo geradores de energia que 
possam ser ativados em caso de interrupção da luz. DUTY TO MITIGATE THE 
LOSS. Constatando-se que os custos para instalação de um gerador não são 
elevados,... ficando abaixo de boa parte das pretensões indenizatórias apresentadas, é 
razoável, econômica e juridicamente, exigir-se que os produtores adotem 
providências para evitar os danos. Invoca-se, a respeito, a doutrina do duty to 
mitigate the loss , que vem tendo boa acolhida doutrinária e jurisprudencial em 
nosso país, além de ser bastante conhecida no direito comparado, inclusive com 
consagração normativa internacional. À míngua de legislação específica, tal doutrina 
coaduna-se perfeitamente como uma das aplicações do princípio (ou cláusula geral) 
da boa-fé objetiva, dentro de uma visão cooperativa de relacionamento contratual e 
dentro da função de criação de deveres instrumentais, laterais ou anexos, inerentes à 
boa-fé objetiva. CHEAPEST COST AVOIDER. Caso se examine a questão sob a 
ótica da análise econômica do direito, pode-se invocar a doutrina do cheapest cost 
avoider. Esta doutrina defende a idéia de que um critério objetivo para minimizar 
perdas e evitar custos consiste em tentar identificar quem é o cheapest cost avoider, 
ou seja, quem pode evitar o dano a um menor custo. No caso em tela, em sendo 
inevitáveis as interrupções de energia elétrica, mesmo que por curtos períodos, o 
produtor rural pode evitar os danos a um custo menor, com a aquisição de gerador... 
no-break. Igualmente é possível a invocação da conhecida Fórmula de Hand , 
segundo a qual se pode identificar uma negligência quando o custo para se evitar o 
dano é inferior ao valor do potencial prejuízo, multiplicado pela probabilidade de 
que ele venha a ocorrer. No caso dos produtores rurais, tal custo é relativamente 
reduzido (instalação de gerador no-break), comparando-se com a previsível 
ocorrência de prejuízos derivados mesmo de curta interrupção do fornecimento de 
energia elétrica. ENCARGO DE EVITAR O PRÓPRIO DANO. Ao não adequar sua 
conduta de modo a evitar o próprio dano ou o seu agravamento, isto é, ao não 
observar o encargo de afastamento do dano ou minimização de sua extensão, a 
vítima pode perder, total ou parcialmente, o direito à indenização pelo respectivo 
dano que poderia ter evitado sofrer. Esse efeito pode ser extraído da análise dos arts. 
402, 403 e 945 do CC. Doutrina a respeito. A questão em tela não pode ser analisadaexclusivamente do ponto de vista individual (justiça corretiva), já que ela 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
necessariamente tem implicações sociais (justiça distributiva), pois o repasse dos 
custos dos danos do produtor rural individual para a concessionária de energia 
elétrica, num primeiro momento, acaba repercutindo sobre toda a sociedade, já que 
no regime... capitalista todo e qualquer custo ou prejuízo transforma-se em preço ou 
tarifa. Consequentemente, cedo ou tarde, o valor das indenizações redundará em 
aumento da tarifa a ser pago por toda a sociedade. Assim, resta esclarecido que não 
se trata de um posicionamento que desconsidera os interesses do consumidor 
específico (o pequeno agricultor), pregando-se a volta do lamentável caveat emptor. 
Trata-se, isso sim, de um posicionamento que procura proteger os interesses da 
generalidade dos consumidores (todos os usuários de energia elétrica, que, ao fim e 
ao cabo, pagarão a conta), ao mesmo tempo em que procura demonstrar que, do 
ponto de vista da racionalidade econômica, é mais vantajoso para os próprios 
agricultores evitarem os danos do que posteriormente demandarem para obter sua 
reparação. O novo entendimento desta Câmara restringe-se às hipóteses em que os 
danos sofridos pelo demandante derivam da interrupção do fornecimento de energia 
elétrica durante tempo inferior a 24 horas ininterruptas. Nessa hipótese, os prejuízos 
sofridos pelo produtor rural serão por ele suportados à razão de 2/3, imputando-se à 
concessionária de energia elétrica o restante 1/3. Nas hipóteses de interrupção por 
período superior a 24h, a responsabilidade é integralmente da concessionária,... 
ressalvadas as hipóteses de força maior e a orientação jurisprudencial da Câmara. 
Caso concreto em que a interrupção do fornecimento de energia elétrica ocorreu por 
período inferior a 24 horas, aplicando-se, portanto, o entendimento unificado 
firmado, no sentido de o autor ser indenizado na proporção de 1/3 dos danos 
comprovados, exatamente como definido na sentença. Danos morais não 
caracterizados, eis que ausente comprovação e ausente hipótese de dano moral in re 
ipsa. Condenação da ré ao pagamento de multa por litigância de má-fé, tendo em 
vista a alteração da verdade dos fatos. Caso em que a ré alegou em contestação não 
ter havido suspensão ou oscilação de energia elétrica na unidade consumidora do 
autor, apresentando telas do sistema interno nesse sentido. Ocorre que nos autos da 
ação ajuizada pelo autor perante o Juizado Especial Cível a ré confirmou a 
interrupção do serviço pelo período e na data mencionados pelo autor, apresentando 
telas do mesmo sistema interno referindo ter havido falha operacional . Insistência 
da tese em apelação que é determinante para a imposição da penalidade por 
litigância de má-fé. Gratuidade judiciária restabelecida em benefício do autor. 
APELO DA RÉ DESPROVIDO E APELO DO AUTOR PROVIDO EM PARTE. ( 
Apelação Cível Nº 70079946869, Nona... Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, 
Relator: Eugênio Facchini Neto, Julgado em 18/12/2018). 
 
(TJ-RS - AC: 70079946869 RS, Relator: Eugênio Facchini Neto, Data de 
Julgamento: 18/12/2018, Nona Câmara Cível, Data de Publicação: Diário da Justiça 
do dia 18/01/2019) 
(Grifos nossos) 
Teçamos algumas observações: 
 Duty to mitigate the loss: Dever de mitigar as próprias perdas. Suponhamos que A 
começa a tacar fogo na casa de B. Se B poderia acionar rapidamente os extintores de 
incêndio, mas não o fez, tal omissão terá consequências jurídicas relevantes; 
 O consequencialismo é mencionado em diversas passagens do julgado. Também 
adverte para conceitos como eficiência, incorporado da Análise Econômica do 
Direito; 
 Caveat emptor é uma expressão em língua latina que significa, literalmente, "(tome) 
cuidado, comprador"; 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
 2/3 do prejuízo foi arcado para o aviário e 1/3 para a companhia da energia elétrica, 
a fim de se estimular investimentos em geradores e a melhoria do serviço de energia 
elétrica, respectivamente; 
 Foi afastada a compensação por danos morais, incluindo o in re ipsa; 
 
3. Análise hard case (Daniel Oitaven): 
Caso Gil Vicente x Fiat: O consumidor sofreu um acidente de trânsito e ficou comprovado 
que as lesões sofridas decorreram de uma explosão no airbag. Entretanto, a concessionária 
já havia feito o recall para que eventuais reparos fossem realizados no veículo, mas Gil não 
apareceu. Além disso, foi constatado que ele não fazia revisões periódicas. Daí emergem três 
correntes: 
 Gil Vicente não terá direito à responsabilidade civil, já que houve culpa exclusiva da 
vítima (art. 12, § 3º, III, CDC) em virtude da perda da the last chance (a última 
chance); 
 Responsabilidade exclusiva da Fiat pelo fato do produto (art. 12, caput, CDC); 
 Culpa concorrente entre o consumidor e a fornecedora (responsabilidade 
proporcional a cada um – art. 945, CC); 
Há o lado dos individualistas e o dos coletivistas. Os individualistas defendem que a 
responsabilidade civil deve ser pensada tendo em vista a vítima, ou seja, desestimulando 
condutas potencialmente lesivas. Os coletivistas, por outro lado, pregam que os 
fornecedores devem tomar medidas de precaução, a fim de mitigar a ocorrência de danos. 
 
INDIVIDUALISTAS COLETIVISTAS 
Ênfase na importância da liberdade 
individual; 
A responsabilidade civil serve para 
responsabilizar os indivíduos pelos seus 
atos; 
Promoção da eficiência econômica – 
iniciativa os indivíduos a agirem de maneira 
responsável para evitar custos adicionais; 
Ênfase na importância do bem-estar da 
sociedade; 
A responsabilidade civil não se restringe à 
compensação à vítima, mas também 
corresponde a uma forma de proteger os 
interesses coletivos e de manter a ordem 
social; 
Busca por dissuadir comportamentos 
prejudiciais à comunidade; 
 
Regra de Hand: 
Para mensurar o dano e calcular a responsabilidade, Hand fixou um parâmetro para 
determinar o nível da responsabilidade através de três questões (objetivação): 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
 Probabilidade de o dano acontecer; 
 Gravidade dos danos causados; 
 Ônus das precauções adequadas; 
Logo, haverá responsabilidade civil se: 
C < DE 
 C = custo/ônus dos cuidados; 
 DE = dano marginal esperado (p x d); 
 p = Probabilidade do dano; 
 d = dano; 
 
Aplicando a Regra de Hand e sob o viés da racionalidade econômica, compreende-se que Gil 
Vicente não fará jus à indenização. Entretanto, não foi assim que compreendeu o STJ. 
 
STJ RESP 1010392 
CIVIL. CONSUMIDOR. REPARAÇÃO DE DANOS. RESPONSABILIDADE. 
RECALL. NÃO COMPARECIMENTO DO COMPRADOR. 
RESPONSABILIDADE DO FABRICANTE. - A circunstância de o adquirente não 
levar o veículo para conserto, em atenção a RECALL, não isenta o fabricante da 
obrigação de indenizar. 
(https://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/stj/601676) 
 
 
A Fiat Automóveis S/A deve indenizar Gil Vicente Leite e sua família por 
acionamento e explosão indevida do air bag. A Terceira Turma do STJ manteve a 
decisão na qual se afirma que o não-atendimento ao recall e a falta de revisões do 
veículo não afasta a responsabilidade objetiva da fabricante do veículo. A decisão 
foi unânime. Gil Vicente e sua família ajuizaram ação de indenização por dano 
moral contra a Fiat, alegando que, quando deram partida no seu veículo, houve o 
acionamento e explosão do air bag, o que lhes causou dano moral. Em primeiro 
grau, a Fiat foi condenada a pagar R$ 16 mil a Gil Vicente, R$ 6 mil a sua mulher e 
R$ 3 mil a sua filha. Na apelação, a Fiat alegou decadência do direito, inexistência 
de dano moral e culpa exclusiva da família. Alternativamente, pediu a redução do 
valor da indenização. O TJ/RJ manteve a sentença. No STJ, a empresa alegou que o 
não-atendimento ao recall e a falta de revisões do veículo nas concessionárias Fiat 
rompem o nexo causal, por culpa exclusiva da vítima. Para o relator,ministro 
Humberto Gomes de Barros, é evidente que houve defeito de fabricação do produto, 
publicamente reconhecido pela Fiat ao chamar para o recall. Além disso, o ministro 
destacou que o perito do juízo concluiu que um curto-circuito no sistema do air bag 
causou a abertura inoportuna da bolsa de proteção. "Houve defeito do produto 
fabricado pela recorrente e nexo causal entre este defeito e o dano sofrido pelos 
recorridos consumidores", afirmou o ministro. 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
https://www.migalhas.com.br/quentes/57377/stj---fiat-deve-indenizar-consumidor-
por-explosao-do-air-bag 
(Grifos nossos) 
 
Para a próxima aula: Assistir ao seminário – Funções da Responsabilidade Civil (Vídeo do 
IBERC) 
o https://www.youtube.com/live/6aVlqXQMyHQ?si=rBVbvSAqEUzFnt_a 
 
 
AULA 10 – FUNÇÕES DA RESPONSABILIDADE CIVIL 
 
1. Funções da responsabilidade civil: 
Rodolfo Pamplona e Pablo Stolze abordam que o cerne da responsabilidade civil se trata do 
dever de indenizar (função reparatória). 
Os clássicos destacam a função preventiva como um papel secundário. Ao sofrer uma sanção 
pecuniária, o sujeito tende a evitar repetir tal conduta, assim como a sociedade, no geral, 
tende a se distanciar de tal comportamento. 
São funções da responsabilidade civil para além da reparatória: a preventiva, a punitiva, a 
promocional e a restitutória. 
A função mais relevante, consoante Leonardo Vieira, é a função restitutória, sobre a qual o 
professor Nelson Rosenvald discorreu. 
Vejamos cada uma das funções destacadas no webinar do IBERC: 
 Função preventiva: Trata-se de pensar a responsabilidade civil antes do dano 
acontecer. Parte da doutrina afirma que a função preventiva deve ser vista como 
princípio norteador da responsabilidade civil ou, ainda, como um fundamento. 
Leonardo Vieira afirma que tal corrente não deveria ser aplicável ao Brasil, já que é o 
dano que enseja a responsabilidade civil. A função preventiva (“responsabilidade civil 
por antecipação”) é limitada, uma vez que é uma utopia acreditar na possibilidade de 
prever todo e qualquer evento danoso. Nessa perspectiva, é difícil crer em uma 
sociedade sem danos; 
 
 Função punitiva: Não só o Direito Penal pune, mas também o Direito Civil (vide a 
cláusula penal, o agir de má-fé e as acessões). Inclusive, o Direito Civil pune de uma 
forma mais eficaz, já que atinge o patrimônio do indivíduo. Não se está aqui falando 
da prisão cível, como, por exemplo, àquela proveniente do não pagamento da 
pensão alimentícia (o objetivo dessa não é punir, mas o adimplemento da obrigação 
https://www.youtube.com/live/6aVlqXQMyHQ?si=rBVbvSAqEUzFnt_a
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
e a salvaguarda do alimentando). Consoante o art. 944 do CC, a indenização mede-se 
pela extensão do dano, admitida a redução equitativa pelo magistrado conforme 
previsão do parágrafo único. Trata-se de um obstáculo à função punitiva da 
responsabilidade civil. Desse modo, parte da doutrina afirma que o art. 944 não se 
aplica aos danos extrapatrimoniais, mas apenas aos danos materiais, diante da 
impossibilidade de se medir a personalidade do indivíduo. Leonardo Vieira discorda, 
salientando a possibilidade de se medir o grau da culpa mesmo em relação ao dano 
moral. Ademais, o autor prefere o uso da terminologia “função pedagógica”, a fim de 
evitar a discussão acerca do cabimento ou não do direito punitivo na área cível. 
Thiago Borges entende pela excepcionalidade da função punitiva, nos casos de 
“ilícito lucrativo”. Há empresas de grande porte que, na sua atividade de alto impacto 
social, preferem agir ilicitamente ao constatar que os ganhos superam eventual valor 
indenizatório/compensatório. Nesta hipótese, a aplicação extraordinária dos punitive 
damages no Brasil teria espaço, a fim de se desestimular condutas similares. Quanto 
ao destino dos valores, parte significativa da doutrina critica os fundos 
especializados, afirmando que a vítima do dano deveria ser prestigiada. Leonardo 
Vieira discorda ao afirmar que os fundos são importantes para o aspecto pedagógico 
em massa e aponta para a necessidade de uma lei que regule a aplicação do punitive 
damages no Brasil. 
 
 Função promocional: Busca estimular a reparação/compensação do dano de forma 
espontânea (o dano já existe, mas não há a imposição da responsabilidade civil). É 
uma forma alternativa de se adequar aos anseios da vítima, englobando sanções 
positivas – prêmios para a prática de boas condutas (vide o ranqueamento dos 
fornecedores); 
 
 Função restitutória: Com raízes no common law, é uma função que apresenta maior 
potencial disruptivo* e que encontra correspondência na Lei de Propriedade 
Industrial (art. 210, LPI). São caminhos alternativos, já que a vítima analisará, no caso 
concreto, o que mais atenderá aos seus anseios – reparação, disgorgement ou 
reasonable fee. A responsabilidade civil busca reestabelecer à vítima ao status quo 
originário. Tal função é dita disruptiva e se subdivide em: 
 
 Disgorgement (“vomitar”): Quem praticou a conduta lesiva e obteve lucro, 
deve ser obrigada a “vomitar” o lucro, isto é, a retirar os lucros obtidos 
ilicitamente. Ex: A furtou R$ 100.000,00 de B e aplicou tal quantia no mercado 
financeiro, recebendo R$ 1.000.000,00. A deverá pagar a B o valor furtado + 
os 900 mil lucrados; 
 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
 Reasonable fee: Se não houver lucro, é mais plausível cobrar o valor de 
mercado (preço de uso). Ex: A foi obrigado a pagar um valor da franquia da 
MC Donald’s (que não é barato) ao abrir um restaurante da MC sem 
autorização da empresa em uma cidade do interior. Por valor da franquia 
entende-se o valor que A deveria pagar caso tivesse a autorização; 
*Disruptivo = que interrompe o seguimento normal de um processo. 
Art. 210 – Lei 9.279/96 (LPI): Os lucros cessantes serão determinados pelo critério mais 
favorável ao prejudicado, dentre os seguintes: 
I - os benefícios que o prejudicado teria auferido se a violação não tivesse ocorrido; ou 
II - os benefícios que foram auferidos pelo autor da violação do direito; ou 
III - a remuneração que o autor da violação teria pago ao titular do direito violado pela 
concessão de uma licença que lhe permitisse legalmente explorar o bem. 
Tem-se, nos incisos I, II e III, respectivamente, os lucros cessantes, o disgorgement e o 
reasonable fee. 
 
 
 
 
2. Responsabilidade civil dos médicos – noções introdutórias: 
Os médicos, como regra, respondem subjetivamente na condição de profissionais liberais 
(art. 951, CC c/c art. 14, § 4º, CDC). 
Art. 951 – CC: O disposto nos arts. 948, 949 e 950 aplica-se ainda no caso de indenização 
devida por aquele que, no exercício de atividade profissional, por negligência, imprudência 
ou imperícia, causar a morte do paciente, agravar-lhe o mal, causar-lhe lesão, ou inabilitá-lo 
para o trabalho. 
Art. 14, § 4º - CDC: A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada 
mediante a verificação de culpa. 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
Se fala em “erro médico” em razão da nobreza dos bens jurídicos tutelados – vida, saúde e 
integridade física do ser humano. Não se costuma falar em “erro advocatício” ou “erro 
engenheiral”. 
Trata-se de um ramo complexo, tendo em vista a imprevisibilidade da medicina. Um 
medicamento frequentemente usado com sucesso para tratar pacientes pode conduzir a 
sequelas graves ou ao óbito de uma minoria. 
Quando se pensa a responsabilidade médica, deve-se levar em conta a incerteza inerente a 
essa atividade. 
Como regra, a responsabilidade civil dos médicos é contratual. Se um paciente estiver na rua 
e desacordado, caso o médico o socorra e cometa um erro, a responsabilidade seria 
extracontratual. Como impacto tem-se a prescrição – 10 anos para responsabilidade civil 
contratual e 3 anos pra a responsabilidade civil extracontratual (STJ). 
Quando há uma regra específica, a princípio,não se pode aplicar outro diploma, razão pela 
qual, como regra, a responsabilidade civil desses profissionais é subjetiva. 
A obrigação dos médicos é uma obrigação de meio. Em razão da teoria dinâmica da carga da 
prova (art. 373, § 1º, CPC), o juiz pode alterar o ônus da prova, desde que de forma 
fundamentada, em favor do hipossuficiente e em respeito ao contraditório da parte 
prejudicada, sendo irrelevante a distinção entre obrigação de meio e de resultado. 
No que tange aos cirurgiões plásticos, para uma cirurgia meramente estética (e não 
reconstrutiva), a doutrina majoritária considera se tratar de uma obrigação de resultado; 
caso for reconstitutiva (desconfiguração do rosto em virtude de mordida de um pitbull 
enraivado), mantém-se a regra (obrigação de meio). A regra também se aplica caso o 
indivíduo tenha procurado o profissional a fim de realizar um procedimento em prol da sua 
saúde física e mental (consertar orelhas largas, por exemplo). Leonardo Vieira considera que 
a regra geral se aplica também às cirurgias meramente estéticas, já que a pele, maior órgão 
do corpo humano, apresenta reações muitas vezes incontroláveis. 
Se o profissional garante o resultado, a obrigação de meio se transforma em obrigação de 
resultado. O termo de consentimento já tem gerado repercussões expressivas na 
jurisprudência. 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
 
(Fonte: G1) 
A esposa foi condenada a pagar em torno de R$ 250.000,00, já que a filha nasceu parecida 
com a mãe antes da cirurgia plástica. Faltou transparência por parte da mulher. 
No caso dos transgêneros, se um sujeito descobre depois que se relacionou com uma 
mulher que havia feito a cirurgia (antigo homem, hoje mulher), há o dever de informar?. A 
transição deve ser respeitada, mas para um relacionamento íntimo é de se discutir o dever 
original de dizer que, originalmente, não era mulher. O parceiro é titular de danos morais ou 
não? Não se trata de uma questão fácil, já que, mesmo que não se importe (sem dano à 
honra subjetiva – autoestima), posteriormente este poderá sofrer bullying, tendo em vista o 
preconceito estrutural (honra objetiva - reputação). 
Se um sujeito se relaciona com uma mulher com o sonho de ter um filho e, de antemão, a 
parceira já sabe que ela é estérea (ou vice-versa), é compreensível o dever de informar. 
Como se trata de um projeto de vida, caso o cônjuge saiba posteriormente da esterilidade, é 
razoável a condenação ao pagamento de danos morais e danos existenciais. 
 
Referências: 
 https://pt-br.facebook.com/1407260712924951/posts/1512702582380763/ 
 https://www.youtube.com/watch?v=6aVlqXQMyHQ&t=6344s 
 https://g1.globo.com/planeta-bizarro/noticia/2012/10/chines-processa-esposa-
porque-ela-fez-plastica-para-ficar-bonita.html) 
 
AULA 11 – RESPONSABILIDADE CIVIL DOS MÉDICOS E DOS HOSPITAIS 
 
1. Responsabilidade civil dos médicos: 
https://pt-br.facebook.com/1407260712924951/posts/1512702582380763/
https://www.youtube.com/watch?v=6aVlqXQMyHQ&t=6344s
https://g1.globo.com/planeta-bizarro/noticia/2012/10/chines-processa-esposa-porque-ela-fez-plastica-para-ficar-bonita.html
https://g1.globo.com/planeta-bizarro/noticia/2012/10/chines-processa-esposa-porque-ela-fez-plastica-para-ficar-bonita.html
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
A regra geral (responsabilidade civil subjetiva – art. 951, CC c/c art. 14, § 4º, CDC) se aplica 
aos médicos. Todavia, os médicos apresentam idiossincrasias e peculiaridades que tornam a 
abordagem mais complexa. 
Se um paciente resolveu correr o risco de uma cirurgia para parar com os tremores nas 
mãos, mas acabou ficando tetraplégico, caso o médico tenha agido com responsabilidade e 
alertado do perigo, não haverá responsabilidade civil do médico. 
Se mediante perícia for provado que (I) a cirurgia era desnecessária e (II) a sequela foi 
proveniente da ação médica, haverá a responsabilidade civil do médico. 
o Um filósofo, advogado e historiador famoso teve identificado um tumor nos olhos e 
optou por fazer uma cirurgia, ainda que existisse o risco mínimo de ficar cego. 
Infelizmente, o risco veio a se concretizar. Não há que se falar em responsabilidade 
médica, desde que tenha agido dentro das normas técnicas e alertado previamente 
acerca do perigo remoto. 
O bem da vida com o qual os médicos lidam é de tamanha importância – o que culmina no 
uso constante da expressão “erro médico”. 
Em regra, a obrigação dos médicos será de meio, diante das incertezas da medicina. Em 
alguns casos pode-se sustentar uma obrigação de resultado. A título exemplificativo pode-se 
citar a obrigação inerente ao anestesista de acompanhar o paciente no pré, endo e pós-
cirúrgico e não o faz. Com a teoria da carga dinâmica do ônus da prova trazida pelo CPC, 
hoje, o juiz tem invertido o ônus da prova, independentemente de se tratar de uma 
obrigação de meio ou de resultado, desde que em favor do hipossuficiente, de forma 
fundamentada e garantido o contraditório da parte prejudicada. 
Em uma cirurgia meramente estética, a doutrina entende que é uma obrigação de resultado 
(a pessoa estava bem fisicamente). Leonardo Vieira discorda, adotando um pensamento 
minoritário, ao afirmar que se trata de uma obrigação de meio, uma vez que a pele é o 
maior órgão do corpo humano e tem reações incontroláveis muitas vezes. A visão sobre 
cirurgia plástica é preconceituosa, desde a origem, já que em tempos remotos era tratado 
como bruxaria. A OMS, hoje, fixou o entendimento de que a ideia de saúde engloba não só o 
aspecto físico, como também a esfera mental e social. 
“Saúde é o estado de completo bem-estar físico, mental e social e não 
apenas a ausência de doença ou enfermidade.” 
A responsabilidade civil dos médicos, como regra, é contratual. Ainda que extracontratual, 
permanece subjetiva, impactando apenas na prescrição (3 anos em comparação aos 10 anos 
da responsabilidade civil contratual) – conforme já decidido pelo STJ. 
Art. 951 – CC: O disposto nos arts. 948, 949 e 950 aplica-se ainda no caso de indenização 
devida por aquele que, no exercício de atividade profissional, por negligência, imprudência 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
ou imperícia, causar a morte do paciente, agravar-lhe o mal, causar-lhe lesão, ou inabilitá-lo 
para o trabalho. 
 
Leonardo Vieira entende que só há vida a partir da nidação (fixação no corpo da mulher) e a 
partir do momento em que se inicia a atividade cerebral. O critério jurídico utilizado para 
definir se uma pessoa está viva ou morta é a atividade cerebral. Embora católico, Leonardo 
Vieira é favorável à descriminalização do aborto, desde que não haja atividade cerebral, 
devendo ser preservada a autonomia do corpo da mulher. 
o Ousemos discordar do professor. Ressalvada as hipóteses legais 
(necessário/terapêutico e humanitário/sentimental) e jurisprudenciais (aborto 
eugênico), por questões demográficas e econômicas, é racional a manutenção da 
criminalização do aborto. Com o declínio da taxa de fecundidade (a qual já tem sido 
cada vez mais baixa), o crescimento econômico poderá ser impactado através da 
redução da PEA (população economicamente ativa), gerando uma crise econômica e, 
também, um déficit na prestação dos serviços públicos. Ora, a liberdade, embora seja 
um direito de personalidade, cumpre também uma função social. Nesse cenário, 
assume o risco da reprodução aquela que se relaciona sexualmente de forma 
consentida, de modo que não é plausível beneficiar-se da própria torpeza ou 
desincumbir-se da sua responsabilidade. Em síntese, concordamos com o professor na 
descriminalização do aborto eugênico (inexistência de atividade cerebral), mas 
discordamos quanto à total descriminalização. 
 
2. Iatrogenia: 
Iatrogenia é o fenômeno em que um médico provoca um dano para evitar um mal maior. A 
análise é casuística: verificar se a técnica aplicada era a admitida pela ciência e se não havia 
um método menos invasivo. 
Uma cicatriztende a comprometer a beleza de um indivíduo (dano estético). A 
responsabilidade civil do médico depende do contexto: 
 Se o tratamento da moléstia poderia ser feito por outro método menos invasivo, tal 
como uma endoscopia e pontos internos: Há responsabilidade civil; 
 Se, ainda que comprometida a beleza, a técnica empregada era a admitida e 
consolidada na ciência ou não havia outro método: Não há responsabilidade civil; 
 
3. Teorias: 
 
 Teoria da res ipsa loquitur: 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
Se um médico esqueceu um bisturi na cavidade abdominal do paciente (erro grosseiro), há a 
presunção de culpa do médico (inversão do ônus da prova). 
A Teoria da res ipsa loquitur implica, portanto, na presunção de culpa. Não há grande 
impacto no Direito Brasileiro, uma vez que se inverte o ônus da prova, desde que atendidos 
os requisitos do art. 373, § 1º, CPC e com base, inclusive, no Direito Positivo. 
 
 Teoria da perda de uma chance: 
Deve-se avaliar, no caso concreto, se efetivamente o dano decorreu ou não da conduta do 
médico ou do desenrolar normal das circunstâncias (enfermidade). 
Daí o papel fundamental exercido pela prova pericial. 
TEVE UMA CONDUTA DO MÉDICO? 
SIM NÃO 
DESENROLAR NORMAL DAS CIRCUNSTÂNCIAS? NÃO RESPONDE 
SIM NÃO 
NÃO RESPONDE RESPONDE 
 
Se, por conta de uma doença preexistente, o sistema imunológico de um paciente é 
comprometido e este não vem a sobreviver após sangramentos durante a cirurgia, o médico 
não será responsabilizado. 
A referida teoria corrobora a Teoria dos filtros da responsabilidade civil ao mitigar o nexo 
causal – um dos pressupostos da responsabilidade civil. 
 
4. A responsabilidade civil dos médicos em equipe cirúrgica: 
Há, geralmente, um cirurgião-chefe, um técnico de enfermagem, enfermeiros, um 
instrumentador e um anestesiologista. 
 
 O cirurgião-chefe responde solidariamente pelos erros dos demais membros da 
equipe cirúrgica, com exceção do anestesiologista; 
 O cirurgião-chefe, obviamente, responde pelos seus atos, entretanto, não é razoável 
que os demais respondam pelos atos do cirurgião-chefe (maior nível de experiência e 
capacidade técnica); 
 Anestesiologista: Responde sozinho (autonomia) pelos atos praticados, todavia não 
responde pelos atos de outrem; 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
 
 
5. Consentimento esclarecido: 
Até meados do século passado, os médicos eram profissionais plenipotenciários – 
detentores de muitos poderes e privilégios. 
Havia um viés religioso muito forte – quando o médico salvava o paciente, este era 
glorificado; quando o paciente não obtinha sucesso, a divindade quis que assim fosse. 
 
OBS: O dilema de "Sofia" gira em torno de uma mãe polonesa, filha de pai antissemita, presa 
num campo de concentração durante a Segunda Guerra e que é forçada por um soldado 
nazista a escolher um de seus dois filhos para ser morto. Se ela se recusasse a escolher um, 
ambos seriam mortos. Trata-se de uma expressão atual bastante utilizada para designar 
escolhas difíceis em momentos de extrema pressão. 
Nos dias atuais, nenhum procedimento invasivo pode ser realizado sem o consentimento 
esclarecido. O médico deve expor ao paciente os prós e os contras do tratamento 
preconizado para autorização expressa. Só depois da autorização, o médico poderá agir. 
Ademais, o paciente precisa ser esclarecido e não meramente informado, exigindo-se o uso 
de uma linguagem compatível com o nível de instrução do paciente. 
A autorização pode ser revogada a qualquer momento, desde que oportuno. A depender do 
avanço do procedimento, cabe indenização proporcional ao médico. 
Se o médico não obtiver a autorização do paciente, ele assume a incerteza da medicina. A 
simples não observância já gera o direito a danos morais e o paciente obterá sucesso caso 
ajuíze uma ação compensatória. Possa ser, contudo, que o paciente consinta posteriormente 
ao procedimento, após ficar satisfeito – terá o direito, mas dele abdicará, não sendo o 
médico responsabilizado. Todavia, ainda que tenha ficado satisfeito, ele pode pleitear danos 
morais a fim de obter uma grana a mais. 
 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
6. A polêmica das Testemunhas de Jeová: 
As Testemunhas de Jeová condenam a transfusão sanguínea de outrem (ao que parece nada 
há em relação ao sangue artificial). Diante de um caso concreto, caso não haja o 
consentimento expresso do paciente, o médico deverá decidir entre salvar a vida ou 
salvaguardar a convicção religiosa do paciente. Trata-se de um tema polêmico. Deve-se 
decidir se deseja responder por constrangimento ilegal ou homicídio doloso comissivo por 
omissão, prestigiando a vida do paciente; há quem considere que, para além da vida, deve-
se prezar pela vida digna e a transfusão poderá gerar uma rejeição familiar e social ao 
indivíduo. Outra polêmica se dá quando há crianças e adultos. Estes, em tese, têm maior 
aptidão para lidar com a rejeição em comparação a um ser em formação, contudo, parcela 
significativa da doutrina permite a transfusão para crianças e condena para adultos 
testemunhas de jeová. O debate é acirrado e parece se postergar. 
 
 
7. A responsabilidade civil dos hospitais: 
Os hospitais têm uma função social importante, escancarada pela pandemia da Covid-19. 
José de Aguiar Dias é um clássico sobre a responsabilidade civil, cujo livro tem sido 
atualizado pelo filho – Ruy Belfort Dias. Consoante o autor, o hospital tem o dever de 
hospedagem e o dever de assistência médica propriamente dito. 
Guardada as devidas proporções, os hospitais lembram um hotel – têm portaria, secretaria, 
enfermagem, cozinha, etc (dever de hospedagem). Ademais, os profissionais no hospital 
assistem os pacientes (dever de assistência). 
A regra geral da responsabilidade civil consumerista é objetiva, com exceção dos 
profissionais liberais, pessoas físicas que respondem subjetivamente. Para pessoas jurídicas 
fornecedoras, portanto, a responsabilidade é sempre objetiva. O hospital é um fornecedor, 
já que presta o serviço de assistência à saúde. Para essa linha, a responsabilidade dos 
hospitais deverá ser objetiva. Leonardo Vieira discorda, apontando para uma visão contra 
legem: a despeito do art. 14, § 4º do CDC para pessoas físicas, dever-se-á aplicar para os 
hospitais no que tange ao dever de assistência médica, porque o que se põe em análise é a 
conduta do médico. O hospital só será condenado, neste caso, se comprovada a culpa do 
médico. 
Surgiu, como uma reação à segunda, uma terceira: para que haja responsabilidade civil 
consumerista (objetiva) é necessário que haja defeito de serviço. 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
A terceira tem destaque para Cavalieri Filho. Os adeptos dessa teoria argumentam que, em 
toda ação contra o hospital, este deverá se defender provando um dos incisos do parágrafo 
3º do art. 14 do CDC. 
Art. 14, § 3° - CDC: O fornecedor de serviços só não será responsabilizado quando provar: 
I – que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste; 
II – a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro. 
 
Art. 14, § 1º - CDC: O serviço é defeituoso quando não fornece a segurança que o 
consumidor dele pode esperar, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, 
entre as quais: 
I – o modo de seu fornecimento; 
II – o resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam; 
III – a época em que foi fornecido. 
A terceira corrente é criticada já que se esbarra na própria argumentação, uma vez que para 
se provar o defeito na prestação do serviço é necessário aferir a culpa do médico (art. 14, § 
1º, CDC). O serviço, desse modo, é defeituoso quando não atende às necessidades 
esperadas – seja pelo modo de fornecimento, pelos riscos esperados ou pelo avanço da 
medicina à época. Se, na época, não existia um procedimento menos invasivo ou que 
gerasse menos cicatrizes, estará afastada a responsabilidade civil dos médicos. 
No que tangeà infecção hospitalar, ainda que todos os cuidados sejam realizados, é 
impossível se chegar à taxa zero. A responsabilidade dos hospitais é subjetiva nesta 
hipótese. Deve-se comprovar que o hospital agiu com culpa, não tomando os cuidados 
devidos ou que apresenta uma taxa de contaminação maior que o índice padrão. 
Em síntese: 
I – A responsabilidade civil dos hospitais é objetiva, como regra (fornecedor consoante o 
CDC); 
II – A responsabilidade civil dos hospitais é subjetiva no que tange ao dever de assistência 
médica, já que o que se avalia é a conduta do médico; mas permanece objetiva em relação 
ao dever de hospedagem. É a visão que outrora não era, mas hoje é, inclusive adotada pelo 
STJ; 
III – Na responsabilidade civil dos hospitais, é dispensável a culpa do médico, mas é 
necessário demonstrar um defeito na prestação do serviço; 
IV – A responsabilidade civil dos hospitais é subjetiva nos casos de infecção hospitalar. 
 
8. Responsabilidade solidária: 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
A regra é que, se o médico tem vínculo de subordinação para com o hospital (é empregado 
ou preposto), não atuando de forma autônoma, o hospital é solidariamente responsável 
pelos atos médicos (art. 932, III, CC). 
o Há uma exceção: É direito de todo e qualquer médico fazer cirurgia em qualquer 
hospital, ainda que não integre o corpo profissional do hospital. Isso viabiliza a 
logística e protege os interesses dos pacientes. Dever-se-á analisar a habitualidade, 
até para evitar fraude à lei: 
 Médico que não possui vínculo empregatício com o hospital, mas 
constantemente lá realiza cirurgias: Responsabilidade solidária do hospital; 
 Médico estranho ao hospital (não trabalha no hospital e está ali pela escolha 
do paciente): Responsabilidade exclusiva do médico; 
 
Se houve uma falha estrutural do hospital – como uma luminosidade inadequada –, o 
médico deve se abster de realizar a cirurgia, caso não seja urgente. Caso ele prossiga e haja 
dano ao paciente, há coparticipação e, por conseguinte, responsabilidade solidária. 
O hospital, caso responsável pelo erro médico, pode exercer o direito de regresso na área 
cível (art. 13, parágrafo único, CDC). 
 
 
Referências: 
 Artigo sobre o Consentimento Esclarecido – Leonardo Vieira; 
 
OBS: A próxima aula será online e as aulas seguintes contarão com participações de duas 
professoras convidadas. 
 
AULA 12 – APLICAÇÃO DO CDC À RELAÇÃO MÉDICO-PACIENTE 
 
1. Aplicação do CDC à relação médico-paciente: 
Aquele que deseja prestar o serviço deverá oferecer o orçamento prévio do seu serviço (sob 
pena de configurar prática abusiva), porém Leonardo Vieira, defendendo a inaplicabilidade 
do CDC à relação em exame, entende pela impossibilidade de tal obrigação, já que o médico 
não tem como definir com exatidão aquilo que será utilizado com o paciente. Não seria 
possível, acrescenta o autor, fixar um prazo para a finalização do produto na medicina, 
diante das incertezas inerentes à cura. 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
O foro da competência territorial será do local em que aconteceu o dano ou no foro do 
domicílio do réu (médico – art. 53, IV, a, CPC), entretanto, o CDC possui uma regra 
específica: o ajuizamento da ação será feito no domicílio do consumidor (autor). Essa lógica 
faz total sentido no universo consumerista, porém, se for aplicado ao entendimento médico, 
o profissional poderá responder em qualquer canto do país – o que é extremamente 
custoso. Destarte, o médico pode se recusar a assistir pacientes residentes fora da cidade 
em que ele exerce a função. É mais plausível sustentar a regra do CPC, afastando a aplicação 
do CDC à relação médico-paciente. 
Quando a causa é consumerista, desafia-se outro tipo de competência: a competência em 
razão da matéria. Existem varas especializadas em Direito do Consumidor e, normalmente, o 
ambiente dessas varas é mais favorável à parte vulnerável (no caso, o paciente). Portanto, o 
médico tende a preferir a vara cível. 
O Código Civil tem uma regra mais rigorosa da desconsideração da personalidade jurídica em 
comparação ao CDC. O CDC adota a teoria menor da desconsideração da personalidade 
jurídica (art. 28, § 5º, CDC), bastando que o consumidor demonstre o estado de insolvência 
do fornecedor ou o fato de a personalidade jurídica representar um obstáculo ao 
ressarcimento dos prejuízos causados. Como regra (CC), o ordenamento jurídico pátrio 
adota a Teoria Maior da desconsideração da personalidade jurídica, exigindo comprovação 
do desvio de finalidade ou da confusão patrimonial (art. 50, CC). 
Art. 28 – CDC: O juiz poderá desconsiderar a personalidade jurídica da sociedade quando, 
em detrimento do consumidor, houver abuso de direito, excesso de poder, infração da lei, 
fato ou ato ilícito ou violação dos estatutos ou contrato social. A desconsideração também 
será efetivada quando houver falência, estado de insolvência, encerramento ou inatividade 
da pessoa jurídica provocados por uma má administração. 
§ 5º Também poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica sempre que sua personalidade 
for, de alguma forma, obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados aos consumidores. 
 
Art. 50 – CC: Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de 
finalidade ou pela confusão patrimonial, pode o juiz, a requerimento da parte, ou do 
Ministério Público quando lhe couber intervir no processo, desconsiderá-la para que os 
efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens 
particulares de administradores ou de sócios da pessoa jurídica beneficiados direta ou 
indiretamente pelo abuso. (Redação dada pela Lei nº 13.874, de 2019) 
§ 1º Para os fins do disposto neste artigo, desvio de finalidade é a utilização da pessoa 
jurídica com o propósito de lesar credores e para a prática de atos ilícitos de qualquer 
natureza. (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019) 
§ 2º Entende-se por confusão patrimonial a ausência de separação de fato entre os 
patrimônios, caracterizada por: (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019) 
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13874.htm#art7
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13874.htm#art7
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13874.htm#art7
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
I - cumprimento repetitivo pela sociedade de obrigações do sócio ou do administrador ou 
vice-versa; (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019) 
II - transferência de ativos ou de passivos sem efetivas contraprestações, exceto os de valor 
proporcionalmente insignificante; e (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019) 
III - outros atos de descumprimento da autonomia patrimonial. (Incluído pela Lei nº 13.874, 
de 2019) 
§ 3º O disposto no caput e nos §§ 1º e 2º deste artigo também se aplica à extensão das 
obrigações de sócios ou de administradores à pessoa jurídica. (Incluído pela Lei nº 13.874, de 
2019) 
§ 4º A mera existência de grupo econômico sem a presença dos requisitos de que trata 
o caput deste artigo não autoriza a desconsideração da personalidade da pessoa 
jurídica. (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019) 
§ 5º Não constitui desvio de finalidade a mera expansão ou a alteração da finalidade original 
da atividade econômica específica da pessoa jurídica. (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019) 
 
 
Surge uma discussão no que tange à aplicação ou não do CDC na relação médico-paciente. 
O CDC SE APLICA À RELAÇÃO MÉDICO-PACIENTE? 
SIM NÃO 
É o pensamento majoritário, já que o 
médico presta um serviço de assistência à 
saúde. 
O médico é fornecedor e o paciente, 
consumidor. 
Alguns sustentam essa corrente com base 
no art. 14, § 4º, CDC – o que é apenas uma 
exceção. 
O STJ proíbe que o advogado faça 
propaganda com a finalidade de obter 
clientela. Logo, não se trata de uma relação 
consumerista, uma vez que a publicidade e a 
propaganda não são permitidasde forma 
ampla. Não se aplica o CDC na relação 
advogado-cliente e, sendo o advogado um 
profissional liberal, deve-se aplicar por 
analogia essa perspectiva à relação médico-
paciente. 
Outro argumento plausível trata-se da 
determinação da competência pelo local do 
dano (o que é mais favorável ao réu – 
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13874.htm#art7
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13874.htm#art7
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13874.htm#art7
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13874.htm#art7
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13874.htm#art7
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13874.htm#art7
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13874.htm#art7
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13874.htm#art7
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
médico) conforme a regra do CPC. 
 
Um dos argumentos para a inaplicabilidade do CDC à relação médico-paciente trata-se do 
rigor inerente à publicidade/propaganda (vedação do antes/depois sem o consentimento do 
paciente). Recentemente, atenuou-se o rigor da publicidade e propaganda para os médicos 
por meio de resolução do CFM que se encontra no período de Vacatio legis (6 meses), de 
modo a fragilizar um dos pilares da referida linha de raciocínio. 
 
2. Responsabilidade civil dos advogados: 
A responsabilidade civil dos advogados é subjetiva (art. 32, Estatuto da Advocacia ou art. 
14, CDC). Vale lembrar que tal responsabilidade se restringe a atos no exercício da 
advocacia. Se um advogado se envolve em uma briga de rua, por exemplo, isso não se 
relaciona com o desempenho da profissão. 
De acordo com o STJ (pensamento majoritário também da doutrina), não se aplica o CDC aos 
advogados. 
Na atuação perante o Judiciário ou esferas administrativas, se um advogado perde um prazo, 
a rigor não se pode condená-lo. Trata-se de uma tarefa árdua provar que a não interposição 
do recurso ter sido a causa da sucumbência. Costuma-se, desse modo, a sustentar a teoria 
da perda de uma chance, cabendo uma compensação proporcional à chance que se teria 
caso interposto o recurso. 
A obrigação do advogado, como regra, é de meio, já que não pode garantir o triunfo do 
cliente (aleatoriedade da advocacia). Em algumas ocasiões, no entanto, o advogado pode 
assumir obrigação de resultado, tal como a entrega de um produto dentro de um prazo 
determinado (não há fator randômico). Hoje, essa dicotomia, em virtude da Teoria da Carga 
Dinâmica, aplicável na inversão do ônus da prova, perdeu o sentido, já que o juiz pode 
inverter o ônus da prova independentemente de se tratar de uma obrigação de meio ou de 
resultado, desde que em favor do hipossuficiente, de forma fundamentada e respeitando o 
contraditório da parte prejudicada pela decisão (art. 6º, VIII ou art. 373, § 1º, CPC). 
Para compreender a responsabilidade civil dos escritórios de advocacia, é importante 
recorrer à analogia. Há quem defenda que essa responsabilidade é objetiva (art. 14, caput, 
CDC), o que Leonardo Vieira repudia, bebendo da corrente que sustenta a responsabilidade 
civil subjetiva. 
Na AC 2005.001445-1 (TJ-SC), houve a condenação pela perda do prazo para recurso, 
adotando-se a teoria subjetiva consagrada tanto no Estatuto da Advocacia quanto no CDC. 
No que concerne à violação do dever de sigilo, trata-se de uma infração grave e que poderá 
culminar em responsabilidade tanto na esfera cível quanto na esfera criminal. 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
 
3. A responsabilidade civil na internet (Marco Civil da Internet): 
Art. 19 – MCI: Com o intuito de assegurar a liberdade de expressão e impedir a censura, o 
provedor de aplicações de internet somente poderá ser responsabilizado civilmente por 
danos decorrentes de conteúdo gerado por terceiros se, após ordem judicial específica, não 
tomar as providências para, no âmbito e nos limites técnicos do seu serviço e dentro do 
prazo assinalado, tornar indisponível o conteúdo apontado como infringente, ressalvadas as 
disposições legais em contrário. 
Merece destaque o Marco Civil da Internet (Lei 12.965/14) A responsabilidade civil dos 
provedores é subjetiva e mitigada, já que ocorrerá apenas após o descumprimento de 
ordem judicial (negligência). A vítima do dano só vai ter direito à reparação se o provedor for 
intimado e, mesmo assim, não tirar o conteúdo. 
Teve uma polêmica recente envolvendo o Google em que prostituta aparecia como 
sinônimo de professora. Em tese, poderia o Google ser responsabilizado por dano moral já 
que feriu a honra objetiva da classe de professoras. Caberia ao Ministério Público ajuizar a 
ação ou uma classe de professoras. 
Se há um conteúdo que ofende a honra de alguém, basta a vítima comunicar ao provedor 
para que este retire e caso não haja a retirada, haverá responsabilidade civil. 
A rápida expansão da IA já tem recebido a atenção do Direito: 
o A atriz Isis Valverde informou que registrou uma ocorrência na Delegacia de 
Repressão a Crimes de Informática, da Polícia Civil do Rio, depois que fotos suas, 
postas em redes sociais, foram adulteradas para simular o vazamento de "nudes". A 
equipe da artista percebeu que as imagens começaram a circular nesta quinta-feira 
(26) e acionou advogados para tomar providências (Fonte G1). 
o Em uma escola carioca, pais de alunos da unidade Barra da Tijuca do Colégio Santo 
Agostinho, no Rio de Janeiro, receberam uma circular da direção da escola, na 
quarta-feira (1º), sobre o uso de ferramentas de inteligência artificial para criação de 
montagens de fotos de alunas do colégio por parte dos estudantes. A Polícia Civil foi 
acionada e o caso é investigado na Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente 
(Fonte CNN). 
No que tange às atas notariais, as quais não se confundem com notoriais, essas são 
documentos que possuem fé pública. Desse modo, se atestará que em determinado dia, a 
mensagem X ou conteúdo Y foi publicado, dando mais credibilidade à prova em comparação 
ao mero print. 
O simples print da tela não tem carga probatória relevante, devido ao risco de eventuais 
montagens (jurisprudência já caminha nesse sentido). 
Para a próxima aula será contemplada a responsabilidade civil com base na LGPD. 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
 
OBS: O assunto da AV2 não é cumulativo, entretanto dominar conceitos é fundamental (pré-
requisitos). 
 
Referências: 
 https://www.cnnbrasil.com.br/nacional/alunos-de-colegio-tradicional-do-rio-usam-
ia-para-criar-imagens-intimas-de-meninas-policia-investiga/ 
 https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2023/10/26/isis-valverde-registra-
ocorrencia-apos-aparecer-nua-em-montagens-compartilhadas-em-redes-
sociais.ghtml 
 
AULA 13 – CULPA E NEXO CAUSAL (ZONAS DE INTERSECÇÃO – PROFª 
ANDREZA TRINDADE) 
 
1. Culpa e nexo causal: 
Há a culpa enquanto pressuposto enquanto pressuposto da responsabilidade civil subjetiva. 
Para a doutrina mais clássica (Leonardo Vieira e Cavalieri Filho), os pressupostos são 
conduta, dano, nexo de causalidade e culpa por ato ilícito. O ilícito e a culpa se fundam, 
portanto, como elementos imprescindíveis da responsabilidade civil. Com as novas 
demandas sociais – vide a evolução tecnológica – se tornou muito difícil a comprovação da 
culpa do agente. Daí passou-se a se falar em culpa presumida e, hoje, em responsabilidade 
civil objetiva. A doutrina mais moderna define conduta, nexo de responsabilidade, nexo de 
imputação e dano como os pressupostos da responsabilidade civil. 
Na modernidade, se consolida o entendimento de que o ato ilícito não é pressuposto da 
responsabilidade civil. Desse modo, ainda que se trate de uma conduta lícita, poder-se-á ter 
o dever de indenizar. 
A responsabilidade objetiva se aplica em três hipóteses: teoria do risco, equidade ou simplesdisposição legal. 
A culpa é preponderante na responsabilidade civil subjetiva, mas não pode ser descartada 
na responsabilidade civil objetiva. É relevante na responsabilidade civil objetiva para reduzir 
o valor da indenização/compensação e, até, excluir a responsabilidade civil do agente (vide a 
culpa exclusiva da vítima, que exclui tanto o nexo de causalidade quanto a própria 
responsabilidade civil). 
O principal conceito de culpa, adotado por Cavalieri Filho, Aguiar Dias e a maioria da 
doutrina, trata-se de um erro de conduta. Destarte, o homem médio atuaria com maior nível 
https://www.cnnbrasil.com.br/nacional/alunos-de-colegio-tradicional-do-rio-usam-ia-para-criar-imagens-intimas-de-meninas-policia-investiga/
https://www.cnnbrasil.com.br/nacional/alunos-de-colegio-tradicional-do-rio-usam-ia-para-criar-imagens-intimas-de-meninas-policia-investiga/
https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2023/10/26/isis-valverde-registra-ocorrencia-apos-aparecer-nua-em-montagens-compartilhadas-em-redes-sociais.ghtml
https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2023/10/26/isis-valverde-registra-ocorrencia-apos-aparecer-nua-em-montagens-compartilhadas-em-redes-sociais.ghtml
https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2023/10/26/isis-valverde-registra-ocorrencia-apos-aparecer-nua-em-montagens-compartilhadas-em-redes-sociais.ghtml
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
de habilidade e esforço, conseguindo evitar o dano. Trata-se de uma violação de norma de 
conduta prevista em normas jurídicas. Todos os agentes devem observar um padrão de 
conduta mínimo para não causar danos. Com a evolução da teoria dos irmãos Mazeaud, 
emerge a distinção entre “culpa in abstrato” (culpa objetiva) e a “culpa in concreto” (culpa 
subjetiva). 
 Culpa in abstrato: Analise-se o padrão da pessoa média. Para aferir a culpa do 
médico, analisar-se-á o grau de esforço e conhecimento de um médico; 
 Culpa in concreto: Verifica-se o padrão anímico do agente (padrão de conduta, idade, 
gênero...). Emerge, pois, a previsibilidade do dano. Indaga-se, por exemplo, se “o 
agente, com a cultura que ele tem, com a idade que ele tem, poderia ter evitado o 
dano?”. Causa é um elemento presente na discussão acerca do nexo de causalidade, 
gerando uma interdependência entre culpa e nexo causal (elementos do nexo causal 
se interseccionam com elementos da culpa); 
Para Renée Sabatier (doutrina minoritária), a culpa é a inexecução de um dever que o 
agente poderia conhecer e observar. Analisa-se, assim, a previsibilidade e a reprovabilidade 
da conduta. 
Consoante o vocábulo latino in lex aquilia et levissima culpa venit, até mesmo a culpa 
levíssima, na responsabilidade civil extracontratual, gera o dever de indenizar. A objeção de 
Bodin, bebendo da Teoria da Causalidade Adequada, mitigou tal axioma, compreendendo 
que somente geram o dever de analisar a culpa gravíssima, grave e leve – sendo que as 
primeiras se aproximam do dolo. 
Para a Teoria da Causalidade Adequada, é imperioso verificar se a causa era necessária e 
adequada e se, de fato, poderia gerar o dano (juízo da prognose retrospectiva). 
 
2. Nexo de causalidade: 
Para Fernando de Noronha, nexo de causalidade é o liame que liga a causa ao dano. Há 
teorias da causalidade. 
 Teoria da Causalidade Direta e Imediata (Teoria da Causalidade Necessária): A causa 
é só aquela que está diretamente relacionada ao dano (Carlos Roberto Gonçalves, 
Rodolfo Pamplona, Pablo Stolze) – teoria muito restritiva; 
 
 Teoria da Causalidade Adequada (STJ): Elabora pelo Min. Paulo de Tarso 
Sanseverino. O julgador realiza uma prognose retrospectiva: se insere no lugar do 
agente e examina se, nas circunstâncias em concreto, o dano poderia ser evitado 
(retornar ao passado para compreender se, no presente, o dano futuro era evitável). 
o Ex: A precisa pegar um avião e B impede que A adentre no voo. A precisa 
pegar outro avião. Nesse novo voo, A e os demais passageiros falecem por 
conta de um acidente. O STJ entende que a responsabilidade civil está 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
afastada pela ausência de nexo causal já que a ação de B não levou à queda 
da aeronave (salvo se tratasse de um atentado terrorista pré-organizado); 
 
A Teoria da Equivalência das Condições (Teoria da conditio sine qua non) não foi 
mencionada, diante da sua diminuta credibilidade nos dias vigentes (regresso ao inifinito). 
Para Aguiar Dias, concorrência de culpa ou de causas é o fenômeno em que mais de uma 
conduta resulta no dano, mas deve-se analisar qual, efetivamente provocou o dano. 
o Ex: A e B estão em uma moto, B como passageiro (na garupa). Vem um carro 
em alta velocidade e atinge a moto, vindo B a falecer. Veio a se constatar 
posteriormente que B morreu porque não estava utilizando capacete 
(equipamento adequado para evitar lesões à saúde ou até à vida). Há parte 
da doutrina que impõe a culpa exclusiva do carro em excessiva velocidade 
(terá o dever de indenizar, sendo irrelevante o não uso do capacete); já a 
jurisprudência tem consolidado a possibilidade de ocorrer a redução 
equitativa do valor da condenação ou, em algumas situações, até o 
afastamento da responsabilidade civil por culpa exclusiva da vítima. 
 
3. Zonas de intersecção entre culpa e nexo causal: 
 
I – Excludentes de causalidade: 
São extremamente importantes na responsabilidade civil objetiva, já que é um mecanismo 
de defesa para o acusado. 
 Fato exclusivo da vítima: Leonardo Vieira faz uma ressalva acerca da imprecisão 
terminológica de “culpa exclusiva da vítima/de terceiro”, já que, para o autor, não se 
discute culpa. Aqui, a conduta da vítima, por si só, causou o dano. Se tratando de 
culpa concorrente, poder-se-á reduzir o valor da indenização/compensação; 
 
o Se no caso de uma batida, um dos motoristas (A) não tem carteira de 
motorista, é óbvio que há um antecedente fático que não deveria existir. 
Entretanto, foi comprovado que o outro motorista (B) estava dirigindo em 
uma velocidade acima da permitida naquele trecho, de modo que a sua 
conduta foi a adequada e necessária para causar o dano. Neste caso concreto, 
é irrelevante a presença ou não CNH de A. Houve culpa de A, todavia, não foi 
adequada ao dano – já que não foi em razão da conduta de A que o dano se 
materializou. Exclui-se, assim, a responsabilidade de A, já que estava dirigindo 
nos padrões normais de velocidade. 
 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
 Fato exclusivo de terceiro: Nem sempre um fato de terceiro vai excluir o nexo de 
causalidade, já que às vezes pode não ter causado o dano sozinho. Se um motorista 
de ônibus freia bruscamente porque um veículo surgiu de repente na pista, 
lesionando um passageiro que estava em pé, ele age em estado de necessidade mas 
possui o dever de indenizar o passageiro. Poderia o passageiro, no entanto, ajuizar 
uma ação de regresso em face do terceiro; 
 
 Caso fortuito/força maior: Somente mantém o dever de indenizar o caso 
fortuito/força maior interna, ou seja, atinente ao risco da atividade. O fortuito 
externo exclui o nexo de causalidade; 
 
II – Independência: 
Em um determinado caso, um consumidor comprou uma garrafa de refrigerante da Coca-
Cola, a qual estava com padrões de pressão anormal. Quando o consumidor abriu a garrafa, 
teve cegueira. A ré se manifestou alegando a não comprovação do nexo de causalidade – 
fazer a garrafa defeituosa. Chegou como recurso especial ao STJ. O STJ firmou o 
entendimento de que houve nexo de causalidade, mas não se chegou a uma certeza quanto 
ao nexo de imputação (se foi a Coca-Cola a responsável por fabricar o produto defeituoso). 
O STJ mandou a procedência do pedido pela manutenção da responsabilidade do 
comerciante, ante a não identificação do fabricante (art. 13, I, CDC). 
Art. 13 – CDC: O comerciante é igualmente responsável, nos termos do artigo anterior, 
quando: 
I - o fabricante, o construtor, o produtor ou o importador não puderemser identificados; 
 
III – Responsabilidade civil objetiva dos hospitais em razão de erro médico: 
Em um caso concreto, o STJ estava avaliando se houve nexo de causalidade entre a conduta 
de um médico e um dano. O tribunal avaliou se a conduta do médico foi adequada para 
evitar o dano (analisou a culpa). Confundiu-se o nexo de causalidade com culpa. Avaliou-se a 
culpa para configurar o nexo causal – ponto de intersecção entre a responsabilidade objetiva 
do hospital, já que, a rigor, não se poderia averiguar a conduta do médico para se 
responsabilizar o hospital. 
A responsabilidade civil dos hospitais, como regra é objetiva – seja porque é público 
(responsabilidade civil do Estado), seja porque é particular (incidência do CDC). 
Em casos de infecção hospitalar, a responsabilidade do hospital é subjetiva, ou seja, se 
analisa o padrão de conduta hospitalar a fim de entender se foram tomadas as devidas 
medidas em prol de evitar o contágio. Os tribunais, desse modo, se manifestam acerca da 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
“culpa da responsabilidade objetiva” no que tange ao nexo causal, bem como da culpa 
concorrente. 
 
4. Conclusão: 
Quando há intersecção entre culpa e nexo causal, quem defende que a responsabilidade 
objetiva, de forma consciente ou não, acaba discutindo culpa dentro do nexo causal. 
 
OBS: No caso recente disponibilizado no Ágata (sobre o qual foi feita uma contestação em 
cima da petição inicial), Leonardo Vieira entende que houve culpa da médica. A médica, ao 
enviar a paciente para o radiologista e o exame não conseguir apontar com exatidão o 
aborto, receitou remédios abortivos apenas porque percebeu a existência de restos ovulares. 
Trata-se de uma conduta equivocada tecnicamente falando da genético-obstetra, já que ela 
deveria solicitar requisitar exames complementares. 
 
AULA 14 – RESPONSABILIDADE CIVIL E LGPD (PROFª RAQUEL DORTAS) 
 
1. Introdução: 
Na medida em que os dados pessoais são um meio de representação da pessoa na 
sociedade, qualquer tratamento de dados pode afetar a sua personalidade e liberdade. Essa 
é a razão pela qual a proteção concedida pela LGPD ocorre de forma horizontal, aplicando-
se a todos os setores econômicos e também ao setor público. 
A LGPD dialoga com o atendimento ao princípio da proteção e se relaciona com a função 
precaucional (preventiva) da responsabilidade civil. Os agentes que tratam dados devem 
adotar medidas e comportamentos para mitigar a ocorrência de danos. 
Privacidade é tudo aquilo referente ao íntimo do indivíduo, à sua vida pessoal e ao que é 
privado. Desse modo, os direitos de personalidade são garantias que preservam a 
individualidade de cada um (nas esferas física, psíquica e social), exercidos livremente 
dentro dos limites jurídicos. 
 
2. LGPD: 
A LGPD foi publicada em agosto de 2018 e é uma lei que regulamenta o tratamento de 
dados pessoais, online ou off-line, assegurando, entre outros fatores, a concorrência leal. 
A referida lei elenca, além da boa-fé, dez incisos com os princípios que servirão para 
embasar, resolver, ponderar e justificar possíveis conflitos de aplicação e interpretação. 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
São eles (art. 6º, LGPD): 
o Finalidade: Todo tratamento de dados pessoais se vincula a uma finalidade e essa 
finalidade não pode ser modificada sem que seja comunicado previamente ao titular. 
Essa finalidade precisa ser legítima e específica; 
o Adequação: Princípio segundo o qual deve haver compatibilidade do tratamento com 
a finalidade informada ao titular; 
o Necessidade: Princípio segundo o qual o tratamento dos dados pessoais deve se 
restringir ao mínimo necessário para se alcançar uma determinada finalidade; 
o Segurança: Os controladores devem adotar medidas administrativas para evitar 
incidentes de segurança (físicos ou virtuais) – das mais simples até as mais 
complexas; 
o Prevenção: Princípio segundo o qual os controladores devem evitar causar danos aos 
titulares em razão do tratamento dos dados pessoais; 
o Responsabilização e prestação de contas: Os agentes devem ter a condição de 
demonstrar, sempre que forem solicitados, que adotaram medidas em conformidade 
com a lei; 
o Livre acesso do titular: Enquanto titulares, todos possuem o direito de saber como os 
seus dados estão sendo utilizados, por quanto tempo, para qual finalidade, sob quais 
bases legais e quais tratamentos estão sendo realizados. Tal acesso deve ser 
facilitado e gratuito, sem significativos obstáculos; 
o Qualidade dos dados: Princípio segundo o qual os titulares têm o direito de que seus 
dados pessoais reflitam com clareza e exatidão a realidade. Através desse princípio, 
os titulares podem solicitar a atualização de dados antigos ou incorretos que eram 
mantidos por controladores; 
o Transparência: Princípio segundo o qual é estabelecido que os controladores devem 
comunicar aos titulares de forma proativa, clara e precisa sobre quais são os 
tratamentos que eles realizam e quais são as finalidades associadas a esses 
tratamentos, bem como quais são os agentes de tratamento envolvidos nesse 
tratamento; 
o Não-discriminação: Princípio segundo o qual proíbe a utilização de dados para fins 
discriminatórios ilícitos ou ilegítimos. Não se pode, por exemplo, diminuir a 
qualidade da internet de uma pessoa que está usando Netflix e aumentar a que está 
estudando; 
 
3. Conceitos-chaves: 
Art. 5º - LGPD: Para os fins desta Lei, considera-se: 
I - dado pessoal: informação relacionada a pessoa natural identificada ou identificável; 
Ex: Nome, dados de localização e endereço, e-mail, CPF, fotos, histórico de compras, 
telefone, RPG, CNH, endereço de IP, histórico escolar, profissão, relacionamentos, etc. 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
 II - dado pessoal sensível: dado pessoal sobre origem racial ou étnica, convicção religiosa, 
opinião política, filiação a sindicato ou a organização de caráter religioso, filosófico ou 
político, dado referente à saúde ou à vida sexual, dado genético ou biométrico, quando 
vinculado a uma pessoa natural; 
Ex: Histórico e prescrições médicas, biometria facial, centro religioso frequentado, 
impressões digitais, orientação sexual, raça ou etnia declarada, exames de DNA, filiação 
partidária, engajamento sindical, estado psicológico, etc. 
X - tratamento: toda operação realizada com dados pessoais, como as que se referem a 
coleta, produção, recepção, classificação, utilização, acesso, reprodução, transmissão, 
distribuição, processamento, arquivamento, armazenamento, eliminação, avaliação ou 
controle da informação, modificação, comunicação, transferência, difusão ou extração; 
Ex: Cadastro de funcionários, análise de navegação em plataformas, dados de cobrança, 
marketing direcionado, sistemas de segurança, cadastro de clientes, etc. 
 
Art. 3º - LGPD: Esta Lei aplica-se a qualquer operação de tratamento realizada por pessoa 
natural ou por pessoa jurídica de direito público ou privado, independentemente do meio, 
do país de sua sede ou do país onde estejam localizados os dados, desde que: 
I - a operação de tratamento seja realizada no território nacional; 
II - a atividade de tratamento tenha por objetivo a oferta ou o fornecimento de bens ou 
serviços ou o tratamento de dados de indivíduos localizados no território nacional; 
ou (Redação dada pela Lei nº 13.853, de 2019) Vigência 
III - os dados pessoais objeto do tratamento tenham sido coletados no território nacional. 
§ 1º Consideram-se coletados no território nacional os dados pessoais cujo titular nele se 
encontre no momento da coleta. 
§ 2º Excetua-se do disposto no inciso I deste artigo o tratamento de dados previsto no inciso 
IV do caput do art. 4º desta Lei. 
A LGPD se aplica a qualquer pessoa física ou jurídica que oferta produtos e/ou serviços para 
o mercado brasileiro ou que monitorem o comportamento de pessoas localizadas no Brasil, 
independentementeda nacionalidade ou local de residência. 
Não se aplica a LGPD para o tratamento de dados pessoais nas seguintes hipóteses: 
Art. 4º - LGPD: Esta Lei não se aplica ao tratamento de dados pessoais: 
I - realizado por pessoa natural para fins exclusivamente particulares e não econômicos; 
II - realizado para fins exclusivamente: 
a) jornalístico e artísticos; ou 
b) acadêmicos, aplicando-se a esta hipótese os arts. 7º e 11 desta Lei; 
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13853.htm#art2
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2018/lei/l13709.htm#art65..
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
III - realizado para fins exclusivos de: 
a) segurança pública; 
b) defesa nacional; 
c) segurança do Estado; ou 
d) atividades de investigação e repressão de infrações penais; ou 
IV - provenientes de fora do território nacional e que não sejam objeto de comunicação, uso 
compartilhado de dados com agentes de tratamento brasileiros ou objeto de transferência 
internacional de dados com outro país que não o de proveniência, desde que o país de 
proveniência proporcione grau de proteção de dados pessoais adequado ao previsto nesta 
Lei. 
(Grifos nossos) 
 
4. Controlador e operador: 
Art. 5º - LGPD: Para os fins desta Lei, considera-se: 
V - titular: pessoa natural a quem se referem os dados pessoais que são objeto de 
tratamento; 
VI - controlador: pessoa natural ou jurídica, de direito público ou privado, a quem competem 
as decisões referentes ao tratamento de dados pessoais; 
VII - operador: pessoa natural ou jurídica, de direito público ou privado, que realiza o 
tratamento de dados pessoais em nome do controlador; 
O controlador pode tratar os dados, mas, também, pode optar por contratar um operador 
para realizar o tratamento em seu lugar. A análise de quem é o controlador/operador é 
casuística e não se relaciona necessariamente à posição contratual 
(contratante/contratado). 
O controlador tem mais obrigações, entretanto o operador também tem. Como regra, o 
controlador responde solidariamente pelas obrigações contraídas pelo operador. 
o Ex: O escritório de advocacia A contrata a agência de publicidade B para elaborar 
campanha de divulgação. B trata dados pessoais para prestar o serviço a A ao 
selecionar as imagens de seus integrantes que comporão os vídeos e armazenar essas 
imagens. Após a conclusão do serviço por B, os membros de A disponibilizam os 
vídeos nas suas redes sociais e aos clientes. Nesta hipótese, A é o controlador e B, o 
operador; 
 
o Ex: Advogada, profissional liberal, armazena dados de seus clientes no computador 
de seu escritório. Ela não é controladora nem operadora; 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
 
o Ex: A atribuição das notas dos alunos em provas e o registro de frequência via dados 
biométricos pela Faculdade Baiana de Direito ilustram a tese de que o próprio 
controlador pode tratar dados pessoais. A FBD é a controladora dos dados dos seus 
estudantes. O professor que atribui a nota não é operador. As pessoas que possuem 
vínculos funcionais com o controlador não podem ser considerados operadores pois 
os tratamentos praticados por essas pessoas são tratamentos do próprio controlador. 
O professor Leo, por exemplo, seria controlador nesta hipótese; 
 
5. Responsabilidade civil: 
Há condenações pecuniárias, tendo em vista que o dever de indenizar é uma das 
consequências da responsabilidade civil. 
A responsabilidade civil tem como norte os princípios da segurança, prevenção, 
responsabilização e prestação de contas. 
Art. 42 – LGPD: O controlador ou o operador que, em razão do exercício de atividade de 
tratamento de dados pessoais, causar a outrem dano patrimonial, moral, individual ou 
coletivo, em violação à legislação de proteção de dados pessoais, é obrigado a repará-lo. 
A responsabilidade nos casos omissivos é subjetiva; nos casos comissivos, objetiva. 
§ 1º A fim de assegurar a efetiva indenização ao titular dos dados: 
I - o operador responde solidariamente pelos danos causados pelo tratamento quando 
descumprir as obrigações da legislação de proteção de dados ou quando não tiver seguido as 
instruções lícitas do controlador, hipótese em que o operador equipara-se ao controlador, 
salvo nos casos de exclusão previstos no art. 43 desta Lei; 
II - os controladores que estiverem diretamente envolvidos no tratamento do qual 
decorreram danos ao titular dos dados respondem solidariamente, salvo nos casos de 
exclusão previstos no art. 43 desta Lei. 
O operador responderá solidariamente em duas situações: (I) descumprimento de legislação 
de proteção de dados e (II) se não seguir as instruções lícitas do controlador, hipótese em 
que é equiparado ao controlador. 
Na primeira hipótese, afere-se a culpabilidade (se houve ato ilícito). Na segunda hipótese, o 
defensor do controlador pode afastar a responsabilidade do seu cliente e retirá-lo do 
processo, uma vez que deu ordens lícitas ao operador, o qual, por sua livre iniciativa, as 
descumpriu (fato exclusivo de terceiro). 
§ 2º O juiz, no processo civil, poderá inverter o ônus da prova a favor do titular dos dados 
quando, a seu juízo, for verossímil a alegação, houver hipossuficiência para fins de produção 
de prova ou quando a produção de prova pelo titular resultar-lhe excessivamente onerosa. 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
§ 3º As ações de reparação por danos coletivos que tenham por objeto a responsabilização 
nos termos do caput deste artigo podem ser exercidas coletivamente em juízo, observado o 
disposto na legislação pertinente. 
§ 4º Aquele que reparar o dano ao titular tem direito de regresso contra os demais 
responsáveis, na medida de sua participação no evento danoso. 
O parágrafo 2º tem uma aplicabilidade quase imediata no Direito do Consumidor (inversão 
do ônus da prova ope judicis), já que o consumidor, como regra, é o hipossuficiente da 
relação jurídica, apresentando dificuldades em produzir provas em juízo em comparação ao 
fornecedor. 
O parágrafo 3º aponta que, quando há danos coletivos, pode-se ajuizar uma ação coletiva 
em prol da reparação. 
O parágrafo 4º alerta para o direito à ação de regresso em face dos demais responsáveis 
inerente àquele que foi responsabilizado em concreto. 
 
Art. 43 – LGPD: Os agentes de tratamento só não serão responsabilizados quando provarem: 
I - que não realizaram o tratamento de dados pessoais que lhes é atribuído; 
II - que, embora tenham realizado o tratamento de dados pessoais que lhes é atribuído, não 
houve violação à legislação de proteção de dados; ou 
III - que o dano é decorrente de culpa exclusiva do titular dos dados ou de terceiro. 
O art. 43 é importante pois apesenta as excludentes de responsabilidade civil: 
 Prova de que não realizou o tratamento; 
 Não violação da legislação; 
 Culpa exclusiva do titular ou de terceiros. 
 
O art. 44 define tratamento irregular, a fim de se aplicar as teses de responsabilização. 
Art. 44 – LGPD: O tratamento de dados pessoais será irregular quando deixar de observar a 
legislação ou quando não fornecer a segurança que o titular dele pode esperar, consideradas 
as circunstâncias relevantes, entre as quais: 
I - o modo pelo qual é realizado; 
II - o resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam; 
III - as técnicas de tratamento de dados pessoais disponíveis à época em que foi realizado. 
Parágrafo único. Responde pelos danos decorrentes da violação da segurança dos dados o 
controlador ou o operador que, ao deixar de adotar as medidas de segurança previstas no 
art. 46 desta Lei, der causa ao dano. 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
Art. 45 – LGPD: As hipóteses de violação do direito do titular no âmbito das relações de 
consumo permanecem sujeitas às regras de responsabilidade previstas na legislação 
pertinente. 
 
o O mero vazamento de dados gera danos? Eis uma pergunta polêmica. Raquel Dortas 
entende que não, sendo uma análisecasuística, já que é impossível de se mitigar 
completamente os danos (trata-se de uma atividade de risco). 
 
o Chegamos ao principal ponto de debate: qual a natureza do dever de indenizar 
encampado na LGPD? Trata-se de uma construção doutrinária, uma vez que a 
legislação não é clara. Há divergência entre as seguintes correntes: 
 
 Subjetiva: Culpabilidade/ato ilícito; 
 Objetiva: Atividade de risco; 
 Proativa: Preventiva e preexistente ao dano; 
Quando incide o CDC, a responsabilidade civil do operador/controlador é objetiva. Leonardo 
Vieira, discordando de Maria Celina Bodin de Moraes, compreende que a responsabilidade 
civil pautada na LGPD, como regra, é subjetiva (vide a referência a ato ilícito e, portanto, à 
noção de culpa). Raquel Dortas concorda com o professor Leonardo Vieira. Ressalva-se, 
como já mencionado, a responsabilidade objetiva quando incide o CDC. 
 
6. Sanções administrativas: 
Como regra, somente a ANPD (Autoridade Nacional de Proteção de Dados) pode aplicar tais 
sanções, mas o juiz pode aplicar uma das sanções, não com base no art. 52, mas com base 
no CPC (possibilidade de usar outras medidas coercitivas). Leonardo Vieira afirma que a 
aplicação de sanções administrativas não se coaduna com o instituto da responsabilidade 
civil, já que este pressupõe danos. 
Art. 52 – LGPD: Os agentes de tratamento de dados, em razão das infrações cometidas às 
normas previstas nesta Lei, ficam sujeitos às seguintes sanções administrativas aplicáveis 
pela autoridade nacional: (Vigência) 
I - advertência, com indicação de prazo para adoção de medidas corretivas; 
II - multa simples, de até 2% (dois por cento) do faturamento da pessoa jurídica de direito 
privado, grupo ou conglomerado no Brasil no seu último exercício, excluídos os tributos, 
limitada, no total, a R$ 50.000.000,00 (cinquenta milhões de reais) por infração; 
III - multa diária, observado o limite total a que se refere o inciso II; 
IV - publicização da infração após devidamente apurada e confirmada a sua ocorrência; 
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2018/lei/l13709.htm#art65..
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
V - bloqueio dos dados pessoais a que se refere a infração até a sua regularização; 
VI - eliminação dos dados pessoais a que se refere a infração; 
X - suspensão parcial do funcionamento do banco de dados a que se refere a infração pelo 
período máximo de 6 (seis) meses, prorrogável por igual período, até a regularização da 
atividade de tratamento pelo controlador; (Incluído pela Lei nº 13.853, de 2019) 
XI - suspensão do exercício da atividade de tratamento dos dados pessoais a que se refere a 
infração pelo período máximo de 6 (seis) meses, prorrogável por igual período; (Incluído 
pela Lei nº 13.853, de 2019) 
XII - proibição parcial ou total do exercício de atividades relacionadas a tratamento de 
dados. (Incluído pela Lei nº 13.853, de 2019) 
 
AULA 14 – DUTY TO MITIGATE THE LOSS 
 
1. Duty to mitigate the loss: 
Trata-se, em uma tradução simples, do dever de mitigar as próprias perdas. 
É utilizado no Direito dos Contratos, no Direito das Obrigações e em outros ramos do Direito. 
Trata-se de um instituto não restrito à responsabilidade civil e que com essa não se 
confunde. 
Caso se possa evitar a ocorrência do dano sem esforços sobrenaturais, a pessoa tem o dever 
jurídico de agir. 
o Ex: Um grupo de amigos deseja lançar balões no São João, entretanto, no dia o clima 
muda e chove bastante. Lançar os balões nessas condições pode representar um risco 
de incêndio ou de que os balões se desviem para áreas não seguras. Aplica-se o Duty 
to mitigate the loss. Caso o balão caia em uma propriedade e o proprietário nada faz, 
observando o incêndio aniquilar o seu gado, por exemplo, essa omissão é relevante e 
se coaduna com o Duty to mitigate the loss; 
 
o Ex: Há uma colisão de carro e começa a sair fumaça do motor. Não é de se esperar 
que a pessoa abra a frente do veículo e apague o incêndio. O homem médio sairia 
correndo. Destarte, não se aplicaria no caso concreto o Duty to mitigate the loss. 
O prazo para se mover uma ação de dívida tem o prazo de 5 anos. Estando no prazo, não há 
que se falar em Duty to mitigate the loss. 
Parte da doutrina considera que esse instituto se coaduna com o princípio da boa-fé. Outra 
parte da doutrina, contudo, critica essa perspectiva, alertando que o fundamento do Duty to 
mitigate the loss, na verdade, consta no art. 403 do Código Civil, que trata sobre o nexo de 
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13853.htm#art2
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13853.htm#art2
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13853.htm#art2
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13853.htm#art2
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
causal, de modo que não estaria no princípio da boa-fé, mas na relação de causalidade. Essa 
segunda corrente é a mais consolidada e adotada pelo professor Daniel Dias. 
Art. 403 – CC: Ainda que a inexecução resulte de dolo do devedor, as perdas e danos só 
incluem os prejuízos efetivos e os lucros cessantes por efeito dela direto e imediato, sem 
prejuízo do disposto na lei processual. 
O dano indenizável tem uma relação direta e imediata com a conduta. Se o balão caiu e o 
fogo começou em uma fazenda e o fazendeiro, percebendo a situação, não apaga o fogo, o 
qual acaba se espelhando, a omissão do fazendeiro é relevante, já que a queda do balão, por 
si só, não foi a causa do incêndio. Como existe uma regra no Código Civil que trata 
especificamente da matéria, faz-se desnecessário utilizar a boa-fé como fundamento 
(princípio). Esse artigo é utilizado para evitar a indenização dos danos evitáveis, os quais não 
seriam consequência direta e imediata da conduta do agente. 
Ainda há uma terceira corrente que diz que o fundamento do instituto em exame é, na 
verdade, a culpa concorrente – motivo para redução do valor indenizatório. Leonardo Vieira 
discorda de tal vertente, apoiando a do professor Daniel Dias. 
Para Leonardo Vieira, a teoria mais plausível para o estudo do nexo causal é a Teoria da 
Causalidade Adequada, já no instituto do Duty to mitigate the loss é a Teoria da Causalidade 
Direta e Imediata. Ele próprio admite uma incoerência na sua visão e, por isso, 
provavelmente terá que abandonar uma das teorias no futuro. 
 
TEORIA DA CAUSALIDADE ADEQUADA 
TEORIA DA CAUSALIDADE DIRETA E 
IMEDIATA (OU TEORIA DA CAUSALIDADE 
NECESSÁRIA) 
Sem previsão legal. 
Procura fazer o contraponto à teoria da 
conditio sine qua non, estabelecendo 
critérios para distinguir causa e mero 
antecedente, quais sejam: 
o A causa adequada de um dano; 
o Normal desenrolar das 
circunstâncias; 
o A ausência de causas independentes; 
Utiliza-se o método da prognose 
retrospectiva: retorna-se à época do fato 
para analisar se era previsível o dano futuro 
pelo homem médio. 
Art. 403, CC. 
Essa teoria analisa se há vínculo direto e 
imediato - causa é o antecedente (conduta) 
que determina o resultado como 
consequência sua direta e imediata. 
Se diferencia da anterior nos critérios para 
estabelecer tal distinção. 
 
 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
2. Observações sobre a AV2: 
 
 5 questões, uma poderá ser descartada – não sendo descartada uma, a última não 
será lida; 
 Cada questão vale 2,5 pontos; 
 Haverá 1,0 extra por escrita; 
 Pela tentativa de responder a questão, obter-se-á determinada pontuação; 
 Os que vieram nas aulas ministradas pelas professoras convidadas serão 
aproximados com 5,8; 
 
 
Referências: 
https://direitorio.fgv.br/noticia/artigo-do-prof-daniel-dias-e-base-para-mudanca-de-
orientacao-do-stj 
 
SÍNTESE – WEBINAR IBERC 2020 
 
 
 
 
FUNÇÃO PREVENTIVA 
 A prevenção sempre esteve presente no 
ordenamento jurídico; 
 Princípio presente em vários ramos do Direito eem todas as demais funções da responsabilidade 
civil; 
 Há quem considere um princípio, há quem 
considere um fundamento e há quem considere 
uma função; 
 No âmbito da responsabilidade civil, fala-se em 
princípio da proibição de ofender; 
 É o cerne da responsabilidade civil; 
 A responsabilidade civil clássica é pautada na 
função reparatória (“olhar para o retrovisor”). 
Hoje, contudo, pensa-se mais no futuro 
(“responsabilidade civil por antecipação”, isto é, 
voltada para o futuro); 
 A prevenção pode ser de dano, ilícito ou risco; 
 Responsabilizar, atualmente, tem um novo 
conceito, influenciado pelo termo 
accountability: “responsabilidade civil por 
https://direitorio.fgv.br/noticia/artigo-do-prof-daniel-dias-e-base-para-mudanca-de-orientacao-do-stj
https://direitorio.fgv.br/noticia/artigo-do-prof-daniel-dias-e-base-para-mudanca-de-orientacao-do-stj
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
antecipação”; 
 Max Weber = ética da responsabilidade – 
necessidade de proteção dos valores existenciais 
do ser humano e estar atento às consequências 
das suas ações e omissões; 
 Crítica ao surgimento dos novos danos, já que 
muitos são meros exemplos. Há novos danos 
sistêmicos, individuais e coletivos. É impossível 
prever todos (limitação); 
 Há condutas que outrora não eram danosas, 
mas hoje são: não uso do cinto, prática de 
bullying... (o Direito evolui); 
 Sociedade sem danos = utopia; 
 Função impulsionada pela AED (Ronald Coase e, 
principalmente, Guido Calabresi). Calabresi 
discorreu sobre a AED da responsabilidade civil, 
constatando que muitos custos de transação são 
resultantes da legitimidade/titularidade dos 
direitos subjetivos. Preserva-se, desse modo, o 
direito subjetivo à medida do aumento dos 
custos de transação (daí o papel da prevenção – 
“é melhor prevenir do que remediar”); 
 Pode-se apontar a existência de uma tutela 
inibitória material para além da violação ao 
direito (âmbito processual) – instrumentalização 
da prevenção; 
 
 
 
FUNÇÃO PUNITIVA 
 Restrição da responsabilidade civil preventiva; 
 De onde, para onde e para quem estamos indo? 
– questionamento relevante; 
 Entender como a sociedade se comporta é 
imperioso; 
 Princípios da eticidade, sociabilidade e 
operabilidade – o Direito Civil serve à sociedade; 
 Não só o Direito Penal aplica penalidades (vide a 
cláusula penal, o agir de má-fé, as acessões 
inerentes ao ramo cível); 
 O Direito Civil pune na parte que mais dói e, 
portanto, de forma mais eficaz: o bolso (o 
patrimônio do autor); 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
 Punitive damages (Direito Comparado): Hoje se 
fala em uma indústria da lesão para além de 
uma indústria dos danos morais; 
 O destinatário da punição são os fundos 
especializados – o que é bastante criticado por 
parcela significativa da doutrina. Seria mais 
plausível, nessa óptica, o destinatário ser a 
vítima (disponibilidade da vítima – ouvir os seus 
interesses); 
 A fixação do mínimo reparatório escancara a 
intersecção entre o Direito Civil e o Direito 
Penal; 
 Punição pressupõe valoração de culpa; 
 A indenização mede-se pela extensão do dano 
(art. 944, CC): artigo contraditório e que é 
limitador apenas da reparação de danos 
patrimoniais (não abarca os danos 
extrapatrimoniais, uma vez que não se pode 
medir a personalidade do indivíduo); 
 Consequência: efeito inibitório tanto para o 
autor, quanto para a sociedade; 
 Transparência no que tange à majoração da 
reparação é fundamental. Miguel Reale destaca 
os princípios da boa-fé, equidade e correção; 
 
 
 
FUNÇÃO PROMOCIONAL 
 Mais recente (discussão há aproximadamente 
uma década); 
 Destaque para Nelson Rosenvald; 
 Função = telus (finalidade/teleologia); 
 Controlar ou dirigir comportamentos para 
resolver o problema do dano; 
 Busca estimular a reparação/compensação do 
dano de forma espontânea (o dano já existe, 
mas não há a imposição da responsabilidade 
civil); 
 “Sanções positivas”: Estimula-se prêmios para 
boas práticas/boas condutas. Ex: Selo de 
qualidade para os fornecedores que seguem as 
normas do CDC – o ranqueamento impacta no 
direito de imagem e na clientela (e, 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
consequentemente, na renda). Outro exemplo 
consiste em dar palestras educativas sobre 
como tratar as minorias; 
 Forma alternativa de se adequar aos anseios da 
vítima; 
 Acordos extrajudiciais é um caminho eficiente 
em prol da promoção da cidadania; 
 Intrinsicamente relacionada à função 
preventiva; 
FUNÇÃO INDENIZATÓRIA/ 
COMPENSATÓRIA 
 Pioneira; 
 Amplamente conhecida; 
 Sem grandes observações; 
 
 
 
FUNÇÃO RESTITUTÓRIA/ 
RECONSTRUTORA 
 A responsabilidade civil não é mais um mero 
“direito dos danos”; 
 Necessidade de se coibir os lucros obtidos 
ilicitamente; 
 O autor do dano tende a fazer um sopesamento: 
o ganho do ilícito supera a 
compensação/indenização a ser paga 
futuramente? 
 Indenização pautada nos ganhos – contenção de 
ilícitos; 
 Ex: O uso da marca sem consentimento é um 
ilícito lucrativo. É difícil quantificar os danos, 
sendo mais plausível a remoção dos ganhos 
(busca por evitar o curto-circuito do contrato); 
 Se A furtou R$ 10,00 de B e ganhou, com a 
quantia, R$ 50,00 na loteria, A deverá pagar a B 
R$ 50,00 e não somente R$ 10,00; 
 Não se confunde com os punitive damages, já 
que a reparação na função restitutória não pode 
ultrapassar os lucros indevidos e não 
corresponde a uma sanção de reprovação; 
 Não se confunde com lucros cessantes (função 
compensatória); 
 Se não houver lucro, cobra-se o valor de 
mercado (preço de uso); 
 STJ: Limita a aplicação do art. 944, CC aos danos, 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
incorporando a lógica do Direito alemão. Nelson 
Rosenvald considera um erro, já que o 
enriquecimento indevido deve ser uma espécie 
de “ultima ratio”; 
 Olhar para as partes a situação anterior ao fato 
(não somente para a vítima); 
 
Thiago Coelho – T6A 2023.2 
@taj_studies 
 
SÍNTESE – A RESPONSABILIDADE CIVIL SEM DANOS 
 
Argumentos favoráveis: 
 A ideia de uma responsabilidade civil sem dano foi motivada pelo crescimento 
significativo desses na última década (“torre de babel”); 
 Como, cada vez mais, surgem novos riscos difíceis de definição no tempo e no 
espaço, a relação de causa e consequência entre dano e RC se tornou limitada, 
obsoleta; 
 Defesa da revisão das bases estruturais da RC: A gestão dos novos riscos deve se 
pautar na prevenção e na precaução (o evitar se torna o cerne da RC e não mais o 
reparar) – pensa-se em uma responsabilidade civil ex ante ou por antecipação; 
 Supervalorização da função preventiva da RC; 
 Ineficácia do sistema que se preocupa mais em sancionar a evitar; 
 Divisão da RC em duas: uma preventiva e outra repressiva (curativa) – a segunda 
seria a RC tal qual conhecemos hoje (que valoriza a função reparatória); 
 Fala-se em sanções anteriores ao dano e concomitantes ao dano (para além das 
sanções posteriores ao dano) – visa-se à antecipação do dano, ainda que o risco não 
seja de todo modo conhecido; 
 
Há uma vertente ainda mais radical: 
 Vertente mais radical: deve-se analisar a própria conduta do indivíduo; 
 A RC teria como finalidade o estabelecimento de regras de comportamento de modo 
consequencial a aplicação de sanções eficazes para aqueles que viessem a transgredi-
las; 
 Alargamento da função punitiva da RC – valorização da função disciplinadora de 
conduta e desvinculação ao princípio da legalidade; 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
 Une lógica diretora do Direito Público com a flexibilidade estrutural do Direito 
Privado; 
 Pressupõe a divisão em “direito das condutas ilícitas” e o “direito dos danos” – este é 
a RC como conhecimentos hoje; aquele se destinaria a estudar e pesquisar o ilícito 
sob o ponto de vista de suas causas; 
 Pode-seresponsabilizar o indivíduo pela conduta ilícita ainda que não tenha gerado 
dano (atraso de poucos dias da entrega de um produto) ou sem risco iminente de 
gerá-lo. Assim, um simples agir contrário ao direito ensejaria a responsabilidade civil; 
 
Argumentos contrários: 
 Viés defendido pelo autor Bruno Leonardo Câmara Carrá; 
 Dano e responsabilidade civil sempre foram vistos através de uma relação de causa e 
consequência – o foco é no patrimônio do ofensor; 
 Cada vez mais surgem novos riscos, já que a sociedade se transforma em um ritmo 
mais célere em comparação ao Direito – condutas que não eram danosas, hoje são 
(vide o stalking, por exemplo). Destarte, é uma utopia acreditar na possibilidade de 
se prever todo e qualquer dano social; 
 A supervalorização da função preventiva desconfigura a própria natureza da RC; 
 A RC sem danos é uma utopia; 
 “A função da responsabilidade civil é de reagir ao dano injusto e não de reprimir uma 
conduta antijurídica”; 
 O que se defende como novo, não o é, já que nas primeiras fases da RC o dano não 
era um pressuposto, mas o ilícito. Com o tempo, no entanto, houve a perda da 
função penal, abrindo caminho para a ideia da reparação; 
 O dano funciona como uma espécie de “válvula de segurança” contra eventuais 
arbítrios; 
 A RC sem dano traz insegurança jurídica; 
 Defesa de um diálogo interdisciplinar entre os ramos do Direito, cada um na sua área 
de atuação (necessidade de estabelecer limites entre o Direito Penal e a RC); 
 A ameaça do dano deve ser clara, iminente e concreta (ex: a presença de um lago 
artificial, represado por uma barragem e com água acima do nível do mar, é um 
perigo para a vizinhança – o que autoriza uma indenização diante do risco de 
inundação); 
 Nem todo ato desconforme ao Direito implica em indenização por danos morais, 
devendo ser analisado o impacto relevante na dignidade da pessoa humana; 
 A RC sem danos não se aplica nem ao Direito Ambiental; 
 Não é necessário sepultar o modelo já existente, mas adaptar o conceito de dano às 
novas exigências, com o cuidado, contudo, para não cair em uma Torre de Babel; 
 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
Thiago Coelho – T6A 2023.2 
@taj_studies 
 
CONTESTAÇÃO 
No caso em exame, os recorrentes pleiteiam a compensação por danos morais no valor 
de R$ 200.000,00 (duzentos mil reais), R$ 100.000,00 para cada autor. Argumentam o seu 
pedido na presença de danos irreparáveis às suas dignidades, uma vez que, por conta de um 
laudo médico equivocado, acreditaram na ocorrência de um aborto espontâneo. Após novo 
laudo, dezessete dias depois, foi constatada a existência de um feto com vida. Nesse cenário, 
sustentam, também, a compensação por danos reflexos, diante da incerteza do nascimento 
com vida ou do nascimento sem patologias. Por último, defendem o descumprimento de uma 
obrigação de resultado e a responsabilidade objetiva dos médicos através da aplicação do art. 
14 do Código de Defesa do Consumidor à relação médico-paciente. Teçamos algumas 
ponderações. 
Não é consenso na doutrina e na jurisprudência a aplicabilidade do Código de Defesa 
do Consumidor à relação médico-paciente. Consolida-se o entendimento, no entanto, de que a 
responsabilidade desses profissionais é subjetiva, de modo que se leva em consideração a 
regra do Código Civil. Ainda que fosse admitida a incidência do CDC, o dispositivo 
mencionado correto seria o parágrafo 4º do art. 14, o qual menciona a responsabilidade 
subjetiva dos profissionais liberais. A necessidade de aferição de culpa em sentido amplo é 
admitida pela parte contrária, já que há menção ao agir de forma equivocada, negligente e 
imprudente. Carece a petição inicial de coerência lógica, tendo em vista que se defende a 
responsabilidade objetiva dos médicos, ao mesmo tempo em que apontam para o exame de 
culpa no caso concreto. 
Não há responsabilidade subjetiva dos réus no presente litígio, já que o mero erro de 
laudo não leva à presunção de um agir negligente, imprudente ou imperito. Em que pese a 
infelicidade dos médicos ao não perceber a existência de um feto com vida, nenhuma 
responsabilidade a eles deverá ser imputada. A incompatibilidade do laudo com a realidade 
dos fatos pode-se justificar pelas incertezas da medicina e da limitação inerente aos recursos 
tecnológicos disponíveis. 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
Além disso, conforme entende Leonardo Vieira, o dano especulativo não é ressarcível, 
já que o dano deve ser certo, efetivo e real. O nascimento sem vida do feto ou o nascimento 
com funções comprometidas constituem especulações e, desse modo, um instituto tão sério e 
consagrado como a responsabilidade civil não pode ficar a mercê do mero “achismo”. 
Ante o exposto, pede-se o indeferimento da petição inicial, com base no art. 330, § 1º, 
III, CPC (inércia em decorrência da carência lógica entre a narração dos fatos e a conclusão). 
Caso não admitido, pede-se a absolvição dos réus, diante da insuficiência probatória que 
ateste a culpa amplamente considerada no presente litígio. 
 
Salvador, 04 de novembro de 2023 
Thiago Coelho 
(OAB/TAJ 1959-1988) 
 
ANÁLISE DE JURISPRUDÊNCIA – LGPD: 
Consoante o STJ, o vazamento de dados, por si só, não enseja dano moral. O dano deve ser 
demonstrado no caso concreto e não presumido (in re ipsa). É necessário, desse modo, que 
se comprove o prejuízo. Dados vazados são de natureza comum e não se confundem com 
dados pessoas sensíveis (rol taxativo do art. 11, LGPD). Dados de fácil acesso e que 
geralmente são fornecidos em qualquer cadastro não são considerados dados pessoais 
sensíveis. 
 
Thiago Coelho – T6A 2023.2 
@taj_studies

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