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C A D E R N O S D E A T E N Ç Ã O B Á S IC A 48 MINISTÉRIO DA SAÚDE / Secretaria de Atenção à Saúde / Departamento de Atenção Básica de 2008, trata mais uma vez da garantia aos direitos civis, políticos, econômicos, sociais e culturais das pessoas com deficiência, e as definem, em seu primeiro artigo, como: “Aquelas que têm impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas”. O Censo populacional do IBGE/2000, utilizando abordagem conceitual e me- todológica ampla, de autopercepção de funcionalidade/incapacidade, identificou 24,6 milhões de pessoas, no Brasil, com algum tipo de deficiência, incluindo desde alguma dificuldade para andar, ouvir e enxergar, até as graves lesões incapacitantes (14,5% da população brasileira). Nesse total de 24,6 milhões, foram detectadas 48% de pessoas com deficiência visual, 23% com deficiência motora, 17% com deficiência auditiva, 8% com deficiência intelectual e 4% com deficiência física. A contagem incluiu mais de sete milhões de idosos com dificuldades para se locomover, ver e/ou ouvir, represen- tando 29% do total de pessoas com deficiência. Ao se considerar apenas as pessoas com limitações mais severas (percepção de incapacidade), o percentual encontrado foi de 2,5% do total da população (4,3 milhões de pessoas). Desse total, também a participação da pessoa idosa é alta, representando 25%, ou seja, pouco mais de um milhão, com 60 anos ou mais. Contudo devem ficar claro que, embora as doenças crônico-degenerativas possam levar ao desenvolvimento de incapacidades e a perda de autonomia, o envelhecimento fisiológico não acarreta, necessariamente, o desen- volvimento de deficiências. Ainda é válido ressaltar que, devido ao progressivo aumento do contingente populacional idoso em nosso país e a maior incidência/prevalência de doenças crônico- degenerativas, em dezembro de 1999, foi instituída a Política Nacional da Saúde do Idoso, atendendo à necessidade do setor saúde em dispor de uma política referente à saúde da pessoa idosa. Essa política, em sua introdução, assume que o principal pro- blema que pode afetar o idoso, como consequência da evolução de suas enfermidades e de seu estilo de vida, é a perda de sua capacidade funcional, isto é, a perda das ha- bilidades físicas e mentais necessárias para a realização de suas atividades de vida diária (AVD) e atividades instrumentais de vida diária (AIVD). O objetivo principal é propor- cionar ou manter a pessoa idosa exercendo de forma independente suas funções na sociedade, prevenindo o desenvolvimento de deficiências. No âmbito do SUS, a política de inclusão das pessoas com deficiência em toda a rede de serviços reconhece a necessidade de se dar respostas às complexas questões que envolvem a qualidade de vida e saúde das pessoas com deficiência. É importan- te registrar o entendimento de que a reabilitação/habilitação, com vistas à inclusão da pessoa com deficiência, deve ocorrer, também, mediante ações da comunidade, CAB 27 Diretrizes do NASF.indd 48 3/8/2010 00:01:13 C A D E R N O S D E A T E N Ç Ã O B Á S IC A 49 DIRETRIZES DO NASF: Núcleo de Apoio a Saúde da Família transformando os ambientes pela eliminação de barreiras atitudinais e arquitetônicas que impedem a efetiva participação social de todo cidadão. As sociedades devem se transformar substantivamente, de modo a atender às necessidades de todos os seus membros, não admitindo preconceitos, discriminações, barreiras sociais, culturais ou pessoais. Incluir socialmente as pessoas com deficiência significa respeitar as necessi- dades próprias da sua condição e possibilitar acesso aos serviços públicos, aos bens culturais e artísticos e aos produtos decorrentes do avanço social, político, econômico, científico e tecnológico da sociedade contemporânea. De acordo com a Política Nacional de Saúde da Pessoa com Deficiência, toda pessoa com deficiência tem direto a ser atendida nos serviços de saúde do SUS, desde as Unidades Básicas de Saúde até os Serviços de Reabilitação e os hospitais. Esse direito compreende as ações de prevenção, cura e reabilitação, incluindo consulta médica, tra- tamento odontológico, procedimentos de enfermagem, visita dos agentes comunitários de saúde, exames laboratoriais e medicamentos distribuídos pelo SUS. Isso inclui ainda o direito de receber órteses, próteses e meios auxiliares de locomoção de que neces- sitem complementarmente ao trabalho de reabilitação e terapias. A Política Nacional de Saúde da Pessoa com Deficiência define, portanto, amplo leque de possibilidades, que vai da prevenção de agravos à proteção da saúde, passando pela reabilitação. 3.3 A REABILITAÇÃO NOS NÚCLEOS DE APOIO À SAÚDE DA FAMÍLIA (NASF) Com base no diagnostico territorial, os profissionais do Nasf deverão apoiar as equipes de SF para que desenvolvam ações de promoção e de proteção à saúde, além de subsidiar o acompanhamento das ações voltadas para as deficiências em todas as fases do ciclo de vida, com especial atenção à população idosa. As ações da reabilitação devem estar em constante processo de avaliação, pela equipe de Saúde da Família e pelo Nasf, na tentativa de buscar adequação e promover o melhor cui- dado aos usuários. Como já mencionado na introdução deste Caderno, o processo de trabalho dos profissionais do Nasf devem ser desenvolvidos por meio do apoio matricial, com a criação de espaços coletivos de discussões e planejamento. Organizando e estru- turando espaços de: (a) atendimento compartilhado; (b) intervenções específicas do profissional do Nasf com os usuários e/ou famílias; (c) ações comuns nos territórios de sua responsabilidade. Utilizando ferramentas tecnológicas, das quais são exemplos: o Projeto Terapêutico Singular (PTS), o Projeto de Saúde no Território (PST), Apoio Matricial, a Clínica Ampliada e a Pactuação do Apoio. Os profissionais do Nasf deverão trabalhar com os profissionais das equipes de Saúde da Família, compartilhando práticas nos territórios de responsabilidade dessas equipes, apoiando-as e atuando na Unidade Básica de Saúde à qual estarão vinculados. CAB 27 Diretrizes do NASF.indd 49 3/8/2010 00:01:13 3 REABILITAÇÃO E A SAÚDE INTEGRAL DA PESSOA IDOSA NOS NASF 3.3 A reabilitação nos núcleos de apoio à saúde da família NASF