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Distúrbios do Desenvolvimento Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof.ª Dr.ª Célia Regina da Silva Rocha Revisão Textual: Prof.ª Me. Luciene Oliveira da Costa Granadeiro A Construção da Cidadania: Acessibilidade e Inclusão Social da Pessoa com Deficiência e com TEA • Introdução; • Atualização da Legislação sobre as Pessoas com Deficiência e Transtorno do Espectro Autista (TEA): Acessibilidade e Inclusão; • Legislação sobre as Cotas: Acesso à Universidade, Concursos Públicos e Empresas; • Acessibilidade na Universidade; • Acessibilidade e Inclusão Social da Pessoa com Deficiência e TEA. · Conhecer o significado e as implicações da acessibilidade da pessoa com deficiência e com TEA; · Analisar a legislação atual sobre a acessibilidade e inclusão social da pessoa com deficiência e TEA; · Conhecer a legislação sobre cotas para pessoas com deficiência e TEA; · Discutir as questões referentes à acessibilidade e inclusão da pessoa com deficiência e com TEA e sua inserção no mercado de trabalho. OBJETIVO DE APRENDIZADO A Construção da Cidadania: Acessibilidade e Inclusão Social da Pessoa com Deficiência e com TEA Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como seu “momento do estudo”; Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo; No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados; Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus- são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e de aprendizagem. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Não se esqueça de se alimentar e de se manter hidratado. Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. UNIDADE A Construção da Cidadania: Acessibilidade e Inclusão Social da Pessoa com Deficiência e com TEA Introdução O contexto sociocultural, ao longo da história da humanidade, em relação à questão da deficiência, foi sofrendo mudanças significativas. Na Antiguidade, as crianças que tinham alguma deficiência detectada logo ao nascimento eram dei- xadas ao relento até a morte (PESSOTI, 1984). Na Idade Média, o advento do Cristianismo veio influenciar o desenvolvimento da visão sobre o homem, que passou a ser visto como criação e manifestação de Deus, um ser racional. Na época, a igreja e a nobreza detinham o poder e seus servos colaboravam para manter esse poder. Com a disseminação das ideias cris- tãs, a pessoa com deficiência passou a ser considerada um ser possuidor de alma. Dois movimentos, a Inquisição Católica e a Reforma Protestante, foram muito importantes para a questão da pessoa com deficiência, uma vez que influenciaram na concepção de deficiência, gerando mudanças nos modos de ver o deficiente, em função das noções teológicas de pecado e de expiação (PESSOTI, 1984). A deficiência, por muito tempo, foi considerada parte dos desígnios divinos ou sinal de possessão demoníaca. Mas, com o avanço da medicina, deixou de ser uma questão de cunho teológico e passou a ser entendida como um problema de saúde. É desse período o hábito de retirada das pessoas consideradas deficientes de seu convívio familiar e social, como também o surgimento de instituições residenciais segregadas. Tais instituições permaneceram segregando os indivíduos também no âmbito educacional (PESSOTI, 1984) até o final do século XIX, quando ainda havia essa iniciativa, inclusive no setor privado. No século XX, surgem várias leituras da deficiência, com as duas grandes guer- ras mundiais, o contingente de mutilados de guerra aumentou consideravelmente. Diante disso, e com vistas aos movimentos dos direitos humanos, começaram a questionar a institucionalização das pessoas com deficiência. Devido o elevado número de mutilados nas guerras ao lado da necessidade de mão de obra, tornou-se necessário que se pensasse na reabilitação dessas pessoas, e a possibilidade de voltarem à atividade produtiva passou a ser uma preocupação social. Percebeu-se que, mesmo com o elevado contingente de pessoas com deficiência, ha- via ainda, nelas, o potencial para ser absorvido pelo mercado de trabalho. Assim começou a operar o movimento em prol da integração das pessoas com deficiência, criticando o modelo vigente da institucionalização e da segregação total delas. A década de 1980 foi marcante por conta dos eventos e da aprovação de leis, atendendo ao exigido pela comunidade internacional. Houve a comemoração do Ano Internacional da Pessoa Portadora de Deficiência, quando, a partir desse evento, a pessoa com deficiência saiu do anonimato finalmente. No Brasil, a Constituição Federal de 1988 legisla assegurando os direitos iguais a todos os cidadãos brasileiros, no que se refere à saúde, educação, ao lazer, traba- lho, a uma vida digna, inclusive para a pessoa com deficiência. 8 9 A partir da década de 1990, tem início o movimento de inclusão da pessoa com deficiência, termo que passa a ser utilizado até hoje e que apresenta dois valores: do empoderamento – uso do poder pessoal para fazer escolhas e tomar decisões de forma autônoma –; da responsabilidade de contribuir para mudança da sociedade, utilizando seus próprios talentos e habilidades, em busca da inclu- são de todos os indivíduos com e sem deficiência (LIPPO, 2017). Para saber mais sobre o que dizem a legislação e os documentos internacionais acerca do tema, acesse o site: https://goo.gl/czVlRe.Ex pl or Nesse sentido, é preciso destacar que, até mais ou menos de quarenta anos atrás, essas pessoas ficavam segregadas em casas, ou em instituições, com pou- quíssimas possibilidades de contato real com as pessoas de sua família, seu meio social, ou escolar. Embora tenhamos uma legislação robusta e documentos inter- nacionais em prol de assegurar os direitos das pessoas com deficiência, com isso, afirmamos que houve muitos avanços. No entanto, apesar de já termos passado por quase um quarto do século XXI, algumas pessoas ainda sofrem pela falta de cumprimento efetivo dessa legislação e, consequentemente, deixam de ser bene- ficiadas, ainda vivendo em condições de segregação e exclusão familiar, social, educacional e, principalmente, profissional. O que fazer na prática para que essa situação seja revertida? Ex pl or Uma vez que somos profissionais e atuamos junto às pessoas, com ou sem de- ficiência, como poderemos contribuir para mudar essa situação? Será que man- temos uma postura que contribui para quebra do paradigma da exclusão social, educacional e cultural da pessoa com deficiência? Atualização da Legislação sobre as Pessoas com Deficiência e Transtorno do Espectro Autista (TEA): Acessibilidade e Inclusão Mencionamos acima que temos uma legislação bem robusta em prol da defesa dos direitos das pessoas com deficiência, mas o mesmo também ocorre em relação ao autismo. Nesse sentido, temos duas leis recentes que foram criadas para reafirmar o que está posto nos documentosinternacionais e nas leis vigentes, sites. 9 UNIDADE A Construção da Cidadania: Acessibilidade e Inclusão Social da Pessoa com Deficiência e com TEA • Legislação já existente que envolve os direitos das pessoas com deficiência: https://goo.gl/ySAhc3. • Convenção de Direitos das Pessoas com Deficiências em 2007 (UNITED NATIONS, 2006): https://goo.gl/94BE3P. • LEI Nº 12.764, DE 27 DE DEZEMBRO DE 2012. Institui a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista; e altera o § 3o do art. 98 da Lei no 8.112, de 11 de dezembro de 1990: https://goo.gl/rRECeW. Ex pl or A Convenção de Direitos das Pessoas com Deficiência foi um marco im- portante para nortear outros documentos legais em prol da pessoa com defici- ência, posteriormente incluindo também as pessoas com o Transtorno de Es- petro Autista (TEA). O autismo é um Transtorno Global de Desenvolvimento, patologia do neurodesenvolvimento, de origem ainda desconhecida, que tem caráter crônico e irreversível, com início na primeira infância. Possui quadros variados, principalmente, por dificuldades severas na comunicação, na lingua- gem e na interação social e recíproca, no padrão de inteligência, com a pre- sença de movimentos e gestos repetitivos (BRASIL, 2012). Durante muito tempo, acreditava-se que o autismo era uma consequência do contato distante entre a mãe e seu bebê, ou mães negligentes, ou ainda por conta das interações familiares patológicas. Mas os estudos recentes indicam que a genéti- ca desempenha um papel crucial, e há em torno de 50% as chances de uma criança desenvolver autismo pela herança genética (TEDESCO, 2016), posto que, inclusive, a inflamação em células cerebrais chamadas astrócitos pode estar associada ao de- senvolvimento de uma forma grave desse transtorno (BRAGA, 2018). Por se tratar de patologia cuja origem é desconhecida, ainda não há como pensar na possibilidade de cura, mas alguns tratamentos vêm sendo feitos, como o psicoterapêutico, que busca melhorar a interação com as pessoas e meio social e a obtenção de vida mais independente e autônoma. Alguns indivíduos necessi- tam de ajuda medicamentosa para superar as dificuldades para conciliar o sono, a hiperatividade, ou mesmo concentrar-se (TEDESCO, 2016). Outra modalidade de tratamento para as pessoas com TEA, se refere ao ofe- recido pelo SUS, o documento intitulado “Diretrizes de Atenção à Reabilitação da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista (TEA)” (BRASIL, 2014), remete o autismo ao campo das deficiências, direcionando a terapêutica pela via da re- abilitação, assim como prover atendimento não apenas ao autista, mas também aos familiares, na “Linha de Cuidado para a Atenção às Pessoas com Transtor- nos do Espectro do Autismo e suas Famílias na Rede de Atenção Psicossocial do Sistema Único de Saúde” (BRASIL, 2015). Lei Berenice Piana - nº 12.764 de 28 de dezembro de 2012 - Política Nacio- nal de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro estabelece que “[...] a pessoa com transtorno do espectro autista é considerada pessoa com deficiência, para todos os efeitos legais” (BRASIL, 2012). Devemos considerar 10 11 que as leis brasileiras que protegem a pessoa com deficiência, finalmente, agora também incluem os autistas. Berenice Piana, mãe de três filhos, sendo o caçu- la autista, exerceu a militância na luta em prol das pessoas com autismo. Essa defesa resultou na coautoria da lei que instituiu a Política Nacional de Proteção aos Direitos da Pessoa com o Transtorno do Espectro Autista, ou seja, algumas leis brasileiras que ditam os direitos das pessoas com deficiência passam a valer também para as pessoas com TEA, no que se refere à educação. Para saber mais sobre a lei Berenice Piana - nº 12.764, acesse o link: https://goo.gl/rRECeW. Ex pl or Quanto às pessoas com deficiência, segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de 10% da população mundial possui algum tipo de defi- ciência. No Brasil, cerca de 45.606.048 milhões de pessoas têm algum tipo de deficiência, o equivalente a 23,9% da população geral. Segundo dados do censo de 2010, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE): a deficiência mais recorrente no Brasil é a visual (18,6%), seguida da motora (7%), da auditiva (5,10%), e, por fim, da deficiência intelectual ou mental (1,40%). Em julho de 2015, foi instituída e promulgada a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência) – LBI. Para saber mais sobre a lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência, acesse o site: https://goo.gl/XA4qTg.Ex pl or A Lei estabelece o conceito de deficiência em seu Artigo 2º: Considera-se pessoa com deficiência aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em inte- ração com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas. § 1o A avaliação da deficiência, quando necessária, será biopsicossocial, realizada por equipe multiprofissional e interdisciplinar e considerará: I - Os impedimentos nas funções e nas estruturas do corpo; II - Os fatores socioambientais, psicológicos e pessoais; III - a limitação no desempenho de atividades; e IV - A restrição de participação. (BRASIL, 2015) Na concepção de Gabrielli (2015), a LBI está na mudança do conceito de defici- ência, que agora não é mais entendida como uma condição estática e biológica da pessoa, mas sim como o resultado da interação das barreiras impostas pelo meio com as limitações de natureza física, mental, intelectual e sensorial do indivíduo (GABRIELLI, 2015, p. 12). 11 UNIDADE A Construção da Cidadania: Acessibilidade e Inclusão Social da Pessoa com Deficiência e com TEA Para Gabrielli (2015), a deficiência deixa de ser um atributo da pessoa, quase sempre negativo, e passa a ser resultado da falta de acessibilidade à estrutura, aos bens e serviços, que o Estado deveria oferecer para garantir o bem-estar dessas pessoas. Dessa mesma forma, a sociedade que prima pela perfeição e beleza, in- felizmente estigmatiza aquele que foge da norma imposta por ela, quase sempre subestimando as potencialidades e capacidades da pessoa com deficiência. A nossa Constituição Federal (1988) e outros documentos nos asseguram, en- quanto cidadãos com ou sem deficiência, os direitos básicos, à saúde, à educação, ao lazer, ao trabalho, a ter uma vida digna e com qualidade. No entanto, elas não são suficientes para a sua efetividade, e entendemos que os indivíduos com deficiên- cia necessitam de que os esforços em prol da sua autonomia e independência sejam contextualizados à sua vida na comunidade e no espaço social comum no qual ele esteja inserido, para que consiga gerenciar e administrar a própria vida. Glossário /Verbete Glossário inclusivo • Acessibilidade: É a possibilidade e condição de alcance para utilização, com segu- rança e autonomia, de espaços, mobiliários, equipamentos urbanos, edificações, transportes, informação e comunicação, inclusive seus sistemas e tecnologias, bem como de outros serviços e instalações abertos ao público, de uso público ou privados de uso coletivo, tanto na zona urbana como rural, por qualquer pessoa, com ou sem deficiência. Acessar um lugar, serviço, produto ou informação de maneira segura e autônoma. Sem nenhum tipo de barreira. • Acompanhante: É a pessoa que acompanha a pessoa com deficiência em diversos locais e situações. Ela pode ou não desempenhar as funções de um atendente pessoal. • Adaptações razoáveis: Adaptações, modificações e ajustes necessários e adequados que não acarretem ônus desproporcional e indevido, a fim de assegurar que a pessoa com deficiência possa gozar ou exercer, em igualda- de de condições e oportunidades com as demais pessoas, todos os direitos e liberdades fundamentais. • Atendente pessoal ou cuidador: É a pessoa, membro ou não dafamília, que presta cuidados básicos e essenciais à pessoa com deficiência em sua vida diária. O atendente pessoal pode ter ou não uma remuneração. • Barreiras: Qualquer obstáculo que impeça de alguma forma a pessoa de acessar algum espaço, serviço ou produto. As barreiras podem se apresentar de várias maneiras: Barreiras urbanísticas: obstáculos em vias públicas ou privadas. • Barreiras arquitetônicas: obstáculos em prédios públicos ou privados. • Barreiras nos transportes: obstáculos nos meios e sistemas de transporte público ou privado. 12 13 • Barreiras nas comunicações: obstáculos para acessar, receber ou emitir qual- quer mensagem ou informação. • Barreiras atitudinais: atitudes e comportamentos que atrapalham a partici- pação da pessoa com deficiência na sociedade. Ou seja, são as barreiras de convivência com a pessoa com deficiência. • Barreiras tecnológicas: obstáculos que impedem ou dificultam uma pessoa com deficiência de acessar qualquer tipo de tecnologia. • Braille: É um sistema de sinalização ou de comunicação tátil utilizado pelas pessoas com deficiência visual. Vale lembrar que outros meios podem ser utilizados pelas pessoas com deficiência visual: caracteres ampliados, lingua- gem escrita e oral, dispositivos multimídia, sistemas auditivos e os meios de voz digitalizados. • Comunicação: É a forma de interação entre pessoas e culturas. No caso de pessoas com deficiência, a comunicação pode acontecer por diferentes maneiras: Libras – Língua Brasileira de Sinais É a língua oficial do Brasil utilizada pelas pessoas com deficiência auditiva. A Libras foi reconhecida através da lei nº 10436 de 2002. Vale lembrar que nem todas as pessoas com deficiência auditiva utilizam a Libras para se comunicar. Há surdos que foram alfabetizados na Língua Portuguesa. • Desenho Universal: é um conceito que tem por objetivo definir produtos e espaços que atendam a todos: crianças, adultos e idosos; pessoas altas e bai- xas, anões, gestantes e pessoas sem ou com qualquer tipo de deficiência ou mobilidade reduzida. Podemos dizer que onde há acessibilidade, há aplicação do Desenho Universal. • Elementos de urbanização: Quaisquer componentes de obras de urbani- zação, tais como os referentes a pavimentação, saneamento, encanamento para esgotos, distribuição de energia elétrica e de gás, iluminação pública, serviços de comunicação, abastecimento e distribuição de água, paisagismo e os que materializam as indicações de planejamento urbanístico. • Mobiliário Urbano: É o conjunto de objetos existentes as vias e nos espaços públicos, superpostos ou adicionados aos elementos de urbanização ou edifi- cação, de fora que sua modificação ou seu traslado não provoque alterações substanciais nesses elementos, tais como semáforos, postes de iluminação e similares, terminais e pontos de acesso coletivo às comunicações, fontes de água, lixeiras, toldos, marquises, bancos, quiosques e quaisquer outros de natureza análoga. • Moradia para a vida independente: Moradia com estruturas adequadas para proporcionar serviços de apoio ao jovem ou adulto com deficiência, respeitando e ampliando sua autonomia. • Pessoa com deficiência: É aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na so- ciedade em igualdade de condições com as demais pessoas. 13 UNIDADE A Construção da Cidadania: Acessibilidade e Inclusão Social da Pessoa com Deficiência e com TEA • Pessoa com mobilidade reduzida: É a pessoa que tem, por qualquer moti- vo, dificuldade de movimentação, permanente ou temporária. Pode ser uma pessoa que quebrou a perna, um obeso ou um idoso, por exemplo. • Residências inclusivas: Locais destinados a jovens e adultos com deficiência em situação de dependência e vulnerabilidade social. Estão localizadas em áreas residenciais da comunidade e devem ter estrutura e atendimento adequados para as necessidades da pessoa acolhida. • Tecnologia assistiva ou ajuda técnica: É um termo utilizado para identifi- car todo e qualquer recurso que facilita ou amplia habilidades de uma pessoa com deficiência. Elas podem ser usadas tanto para mobilidade, quanto para acessar uma informação. Exemplos: uma bengala para o cego se locomover melhor ou um software com leitor de tela para que ele possa acessar um conteúdo virtual. Fontes: Gabrielli (2015, pp. 14, 15 e 16); BRASIL, Lei 13.146/2015) Legislação sobre as Cotas: Acesso à Universidade, Concursos Públicos e Empresas O que diz a lei de cotas? Lei no 8.213, de 24 de julho de 1991. Disponível em: https://goo.gl/wsfJt5. Ex pl or O Decreto 5.296 de 2004 – descreve as deficiências que se enquadram na Lei de Cotas. • Deficiência Visual » Cegueira - significa que a acuidade visual é igual ou menor que 0,05 no melhor olho, com a melhor correção óptica; » Baixa visão - que significa acuidade visual entre 0,3 e 0,05 no melhor olho, com a melhor correção óptica; casos em que a somatória da medida do campo visual em ambos os olhos é igual ou menor que 60º; ou ocorrên- cia simultânea de quaisquer das condições anteriores; » Visão monocular - conforme Parecer CONJUR/MTE 444/2011, “[...] a visão monocular acarreta para o indivíduo severa restrição em sua capaci- dade sensorial, com alteração das noções de profundidade e distância, além da vulnerabilidade do olho cego.” (BRASIL, 2011, p. 5); cegueira, na qual a acuidade visual com a melhor correção óptica é igual ou menor que 0,05 (20/400) em um olho (ou cegueira declarada por oftalmologista). 14 15 » Deficiência Auditiva - perda bilateral, parcial ou total, de quarenta e um decibéis (dB) ou mais, aferida por audiograma nas frequências de 500Hz, 1.000Hz, 2.000Hz e 3.000Hz. » Deficiência Física - alteração completa ou parcial de um ou mais segmen- tos do corpo humano, acarretando o comprometimento da função física, apresentando-se sob a forma de: • Paraplegia; • Paraparesia; • Monoplegia; • Monoparesia; • Tetraplegia; • Tetraparesia; • Triplegia; • Triparesia; • Hemiplegia; • Hemiparesia; • Ostomia; • Amputação ou ausência de membro; • Paralisia cerebral; • Nanismo; • Membros com deformidade congênita ou adquirida, exceto as deformida- des estéticas e aquelas que não produzam dificuldades para o desempe- nho de funções. » Deficiência Intelectual - funcionamento intelectual significativamente in- ferior à média, com manifestação antes dos dezoito anos e limitações as- sociadas a duas ou mais áreas de habilidades adaptativas, tais como: co- municação, cuidado pessoal, habilidades sociais, utilização dos recursos da comunidade, saúde e segurança, habilidades acadêmicas, lazer e trabalho. » Deficiência Múltipla - associação de duas ou mais deficiências. Fonte: www.planalto.gov.br Os dados do Relatório Anual de Informações Sociais – RAIS/2014 indicam que houve um aumento de 6,57 % no número de pessoas declaradas como de- ficientes- PCD, representando um acréscimo de 23,5 mil empregos, distribuídos da seguinte forma: Deficiência física – 192.432; deficiência auditiva – 78.370; deficiência visual – 39.580; deficiência intelectual – 29.132; deficiência múltipla – 2.624. Quanto às pessoas com deficiência, os dados indicam maior participa- ção de homens (64,45%) que de mulheres (35,55%). Os indivíduos reabilitados são pessoas que estiveram impossibilitados de desenvolver a atividade laboral, em virtude de doenças ou acidentes, o objetivo é reinseri-los no mercado de trabalho. 15 UNIDADE A Construção da Cidadania: Acessibilidade e Inclusão Social da Pessoa com Deficiência e com TEA Esses números sinalizam a continuidade do aumento progressivo da participa- ção da pessoa com deficiência ou reabilitadas no mercado de trabalho ocorrido nos últimos anos. A comprovação das condições acima mencionadas, seja de deficiência ou de reabilitação, poderá ocorrer por laudo médico, emitido por médicodo trabalho da empresa ou outro médico, atestando a condição prevista na legislação, para que a pessoa com deficiência possa se beneficiar da lei de cotas. No laudo médico, deve- rá constar o tipo de deficiência, além da autorização expressa do empregado para tornar pública a sua condição. Quanto ao empregado que sofreu o acidente ou a doença, que provocou o seu afastamento do trabalho, deverá apresentar o certificado de Reabilitação Profissio- nal emitido pelo Instituto Nacional de Seguro Social – INSS. Acesse o link a seguir para ler sobre os Benefícios Assistenciais: https://goo.gl/kSkPcx. Ex pl or Desde 1999, ano em que foi deliberada a Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência (Decreto nº 3.298/1999), que prevê que as em- presas com cem ou mais empregados deverão preencher de 2% (dois) a 5% (cinco) por cento dos seus cargos, para empregados reabilitados e pessoas com qualquer tipo de deficiência, desde que estejam habilitadas ou empregados reabilitados, na seguinte proporção: I - até 200 Empregados: 2%; II - de 201 a 500 empregados: 3%; III - de 501 a 1.000 empregados: 4%; IV - de 1.001 em diante: 5%. A indicação de pessoa com deficiência habilitada implica dizer que ela deverá passar pelo processo orientado a possibilitar e prepará-la, a partir da identificação de suas potencialidades para o trabalho. O trabalho caracteriza-se como uma atividade de caráter social, transcendendo a função básica de subsistência, para se constituir em um dos aspectos da identi- dade social de um indivíduo. Nesse sentido, o significado da atividade laborativa se traduz na compreensão do conjunto de crenças, valores, atitudes e sentimentos que subentendem a visão de mundo e a percepção de si no mundo (Tomazini, 1995). A isso somamos o conjunto de representações sociais, cognitivas e afeti- vas das condutas e normas sociais, os papéis, as tarefas relacionadas ao mundo do trabalho, que cada um de nós vai adquirindo através de um processo mental resultante de todo processo de interação que vamos estabelecendo com as nossas próprias experiências e o ambiente que nos cerca (AYDOS, 2016). 16 17 Salanova, Garcia e Pieró (1996) definem o significado do trabalho como um constructo psicológico multidimensional. Selecionamos duas das dimensões: a) Centralidade do trabalho – tem-se o trabalho funcionando como re- ferencial, o eixo principal na vida do indivíduo é o grau de importância que os indivíduos atribuem ao trabalho, um papel fundamental. b) Normatividade do trabalho – refere-se às normas e padrões so- cialmente estabelecidos: o trabalho com direito e o trabalho como dever/obrigação. Por que as pessoas trabalham? Qual o significado do trabalho para a nossa vida? Tra- balhamos por prazer ou por obrigação?Ex pl or O significado do trabalho pode ser visto sob duas perspectivas: • Extrínseca – expressa a instrumentalidade do trabalho, um meio para alcan- çar um fim – a busca da remuneração. E a intrínseca que se refere ao tra- balho como novas experiências, novas aprendizagens, vista como atividade satisfatória em si mesma. O trabalho é visto pelo indivíduo como algo que proporciona prazer e satisfação, possibilidade de desenvolver as próprias habilidades, implica em responsabilidade e autonomia do próprio trabalho, conseguindo com isso administrar de forma coerente os outros papéis sociais desempenhados Salanova, Garcia e Pieró (1996). Desde a infância, estamos habituados com o questionamento sobre o quere- mos ser quando formos grandes. Para as pessoas com deficiência, essas atitudes e questionamentos, tão frequentes nos familiares de pessoas sem deficiência, não estão presentes, tendo em vista que a percepção dos familiares e da sociedade como um todo é de que eles não possuem capacidade e, por esse motivo, não são incentivados, estimulados ou preparados para a inserção no mundo do trabalho. Essa é uma constatação quanto ao desejo do indivíduo com deficiência, espe- cificamente com a deficiência intelectual de se inserir no mercado de trabalho. Além da falta de preparo vocacional, também há o medo de perder o benefício a que têm direito, o Benefício de Prestação Continuada – BCP, que, desde 2011, prevê que “[...] o beneficiário do BPC com deficiência passe a ter o benefício suspenso, e não mais cancelado, se contratado para o trabalho. Além disso, se perder o emprego, pode voltar a receber o BPC. A mudança ainda prevê que o beneficiário contratado como aprendiz poderá acumular o salário recebido nessa condição com o valor do BPC, por até dois anos” (BRASIL, 2011). Tomazini (1995) afirma que pensar a discriminação da pessoa com deficiência no mercado de trabalho como uma constatação deve ser válida à medida que nos leve a enxergar que esse tipo de mercado por si só é discriminador. 17 UNIDADE A Construção da Cidadania: Acessibilidade e Inclusão Social da Pessoa com Deficiência e com TEA O encaminhamento para o mercado de trabalho é essencial, pois estabelece relacionamentos entre os potenciais trabalhadores e o mercado, por isso é im- portante que as instituições realizem a identificação dos candidatos que mais se aproximam dos requisitos que constam das vagas disponíveis pelos potenciais em- pregadores, realizando o encaminhamento, para as empresas públicas e privadas (LEOPOLDINO e COELHO, 2017). No Decreto 3.298/1999, o Artigo 37 assegura à pessoa com deficiência o direito de se inscrever em concurso público, em igualdade de condições com os demais candidatos, para cargos cujas atribuições sejam compatíveis com a defici- ência que o candidato possui (BRASIL, 1999). Ressaltamos a importância de oferecer aos indivíduos com deficiência todo e qualquer tipo de apoio necessário para estimular, incentivar e aprimorar as suas potencialidades para obter uma vida de qualidade, que lhes permita vivenciar de forma plena, autônoma e independente a vida familiar, social, escolar, profis- sional e econômica. Requer, portanto, ações individuais e coletivas em prol dos objetivos de atender às necessidades de todo e qualquer cidadão, principalmente, daqueles que possuam algum tipo de deficiência. Figura 1 Fonte: iStock/Getty Images Leopoldino e Coelho (2017) elencam alguns dos pontos fortes diante da con- tratação do autista, compreendem: […] Serem amigáveis à rotina e ao cumprimento de regras; apresentarem menor taxa de atrasos e demoras nas pausas do trabalho; perderem menos tempo em conversas com colegas de trabalho ou chamadas telefônicas pessoais; poderem apresentar excelente memória para detalhes; preferirem ambientes visualmente organizados; gostar de completar tarefas; pensar de forma diferente; e, poderem apresentar habilidades e conhecimento aprofundado em áreas pelas quais tenham um interesse especial. (LEOPOLDINO e COELHO, 2017, p. 149) 18 19 Figura 2 Fonte: iStock/Getty Images Existem alguns obstáculos para a contratação da pessoa com deficiência, pri- meiramente, porque a questão da inserção da pessoa no ambiente de trabalho, em nosso país ainda é uma condição recente. Isso porque as empresas não foram construídas de forma a atender e serem universalmente acessíveis, em termos das suas instalações e espaços utilizados por seus funcionários. Romper a barreira atitudinal é outro obstáculo a ser vencido, assim como a falta de preparo por parte da futura equipe de trabalho, a discriminação e o isolamen- to, que impedem a inclusão e o acesso ao trabalho. Amaral (1995) afirma que a matéria-prima do preconceito é o desconhecimento, os potenciais empregadores desconhecem e muito provavelmente nunca tiveram contato com a deficiência, gerando a discriminação, o preconceito e estigma em relação à contratação da pessoa com deficiência. Por outro, temos os obstáculos provindos por parte da pessoa com deficiência, que ocorre pela falha no processo educacional para preparar o indivíduo para o trabalho, no sentido de oferecer e explorar oportunidades para que o adolescen- tepossa conhecer as áreas em que deseja atuar profissionalmente. O Decreto nº 3.298/1999, no Artigo 28, diz “[...] a fim de obter habilitação profissional que lhe proporcione oportunidades de acesso ao mercado de trabalho (BRASIL, 1999)”. Nesse sentido, Torres (2001, p. 19) afirma a: [...] satisfação das necessidades educacionais de aprendizagem que bus- cam proporcionar o fortalecimento dos indivíduos em suas capacidades e lhes confere a responsabilidade de respeitar e desenvolver sua herança cultural, linguística e espiritual. 19 UNIDADE A Construção da Cidadania: Acessibilidade e Inclusão Social da Pessoa com Deficiência e com TEA Acessibilidade na Universidade Mas o que significa o termo acessibilidade? Viva a diferença. Disponível em: https://goo.gl/rKjmTM. Ex pl or A educação superior tem sido um espaço marcado pela desigualdade de aces- so e permanência de populações historicamente excluídas consideradas em geral, como àquelas que se apresentam em situação de vulnerabilidade nos setores – eco- nômico, social e cultural, em nosso país. [...] reconhecida como um importante ambiente de desenvolvimento humano e de apropriação da experiência acumulada pela humanidade a Universidade deve promover e assegurar formas apoios a todos que desejam cursá-la, dentre as quais se encontram pessoas com deficiência e/ou mobilidade reduzida. (MARTINS et al., 2017) Figura 3 Fonte: iStock/Getty Images Nas últimas décadas, com desenvolvimento de políticas públicas inclusivas e pro- gramas criados pelas políticas públicas do governo federal, culminou com o aumento de matrícula nos cursos de graduação nas instituições de ensino superior. Destacamos os programas REUNI, PROUNI e INCLUIR. O primeiro, Plano de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais – REUNI –, visava subsidiar e diminuir as taxas de evasão e, consequentemente, aproveitar as vagas ociosas e ampliação de políticas de inclusão e de assistência estudantil. O Programa Universidade para Todos – PROUNI – facilita a ocupação de va- gas a estudantes de baixa renda em instituições privadas e orienta a institucionali- zação da Política de Acessibilidade nas instituições federais de educação superior. 20 21 E, amparado pelos dispositivos legais e em orientações de órgãos internacio- nais, temos o Programa de Inclusão no Ensino Superior – INCLUIR, cuja meta visa à democratização do ensino visando a grupos populacionais em situações de vulne- rabilidade social, com a finalidade de assegurar o direito da pessoa com deficiência à educação superior (BRASIL, 2013). Com a inserção desses programas, o acesso às universidades, tanto para a população de baixa renda, situações de vulnerabilidade social e pessoas com deficiência se tornou uma realidade. Conceito de acessibilidade Quando falamos sobre acessibilidade, imediatamente, quase que invariavelmen- te nos vem à mente o cadeirante, mas a acessibilidade envolve muitos outros aspectos. Mas, em termos da pessoa com mobilidade reduzida e que não necessa- riamente tem algum tipo de deficiência, é a que apresenta dificuldade de movimen- tar-se, permanente ou temporariamente, gerando redução efetiva da mobilidade, flexibilidade, coordenação motora e percepção. No § 2º caput, Lei nº 5.296 de dezembro de 2004, diz respeito às pessoas com idade igual ou superior a sessenta anos, gestantes, lactantes e pessoas com criança de colo (BRASIL, 2004). Figura 4 Fonte: iStock/Getty Images Importante! Conceituando a acessibilidade. Disponível em: https://goo.gl/cFF6Q5. Importante! Assim, vimos ao longo dos últimos anos o aumento do número de matrículas no ensino superior, os dados do Censo de 2010 indicaram que mais de sete milhões de estudantes efetuaram suas matrículas em instituições de ensino supe- rior. Desse universo, mais de 29 mil, no ato da matrícula, declaram apresentar 21 UNIDADE A Construção da Cidadania: Acessibilidade e Inclusão Social da Pessoa com Deficiência e com TEA algum tipo de deficiência, matriculados na maioria na rede privada, sendo cons- tatada que 3.943 eram cegos, 6.955 deficientes visuais, 1.488 surdos, 7.850 deficientes físicos, 7037 deficientes auditivos, 151 eram surdocegos, 393 defi- cientes múltiplos, 566 deficientes intelectuais, 118 autistas, 57 com Síndrome de Asperger, 24 com Síndrome de Rett, 68 com Transtorno Desintegrativo da Infância e 1.087 com Superdotação. A acessibilidade do aluno com deficiência, como mencionamos anteriormente, teve um aumento substancial. Como as instituições do ensino superior recebem os alunos com deficiência e com a diferença? Qual a compreensão e as possibilidades colocadas para que o aluno per- maneça na universidade e consiga concluir a sua graduação. Ex pl or A Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva tem como objetivo ações que promovam o acesso, a participação, a aprendizagem e permanência dos estudantes com deficiência, transtornos globais do desenvolvi- mento e altas habilidades/superdotação nas escolas regulares, orientando os siste- mas de ensino para promover respostas às necessidades educacionais, garantindo: • Transversalidade da educação especial desde a educação infantil até a edu- cação superior; • Atendimento educacional especializado; • Continuidade da escolarização nos níveis mais elevados do ensino; • Formação de professores para o atendimento educacional especializado e de- mais profissionais da educação para a inclusão escolar; • Participação da família e da comunidade; • Acessibilidade urbanística, arquitetônica, nos mobiliários e equipamentos, nos transportes, na comunicação e informação; e • Articulação intersetorial na implementação das políticas públicas. (BRASIL, 2008, p. 17) Figura 5 Fonte: iStock/Getty Images Figura 6 Fonte: iStock/Getty Images 22 23 Essas ações envolvem o planejamento, a aceitação das diferenças, o investi- mento e as reflexões permanentes sobre as práticas universitárias podem pro- mover a sustentabilidade da inclusão educacional no que tange à disponibilização de acessibilidade arquitetônica, nas comunicações, nos sistemas de informação, nos materiais didáticos e pedagógicos, que devem ser disponibilizados a partir do processo seletivo e permanecer durante o desenvolvimento de todas as atividades acadêmicas que envolvam o ensino, a pesquisa e a extensão (BRASIL, 2008). As ações afirmativas na universidade têm o objetivo de favorecer e propor- cionar a sustentabilidade de uma inclusão que garanta modificações, que rom- pam não apenas as barreiras arquitetônicas, mas, principalmente, as barreiras atitudinais e valorativas. Figura 7 Fonte: iStock/Getty Images Acessibilidade e Inclusão Social da Pessoa com Deficiência e TEA A acessibilidade e a inclusão social da pessoa com deficiência e TEA hoje é uma realidade, embora continue esbarrando nas barreiras atitudinais, permeadas pelo estigma, preconceito e discriminação. Na nossa atuação profissional junto a esse 23 UNIDADE A Construção da Cidadania: Acessibilidade e Inclusão Social da Pessoa com Deficiência e com TEA público, percebemos o quanto é difícil quebrar essas barreiras, que muitas vezes ocorrem dentro do ambiente familiar. No ambiente educacional, a dificuldade está na postura do professor, por não se sentir preparado para lidar com aqueles porta- dores de deficiência e com a diversidade existente nesses ambientes. Por outro lado, Borges (2013) indica que “[...] a postura e o modo como o professor se posiciona em sala de aula pode indicar dificuldade e limitações, tanto para o aluno surdo como para o aluno cego”. Oliveira (2013, p. 970), no entan- to, esclarece que essa não é uma prerrogativa apenas desses tipos de deficiência, mas também envolve os cadeirantes, os autistas, aqueles com deficiência intelec- tual, ou os disléxicos. Ou seja, o princípio da inclusão social pressupõe o contato com as diferenças e a diversidade que constituem o ser humano, sendo necessá- rio para a convivêncianos diferentes espaços sociais em que está inserido. Reafirmamos que, apesar da robustez da nossa legislação e dos documen- tos internacionais dos quais o Brasil foi signatário, para que a acessibilidade e inclusão social sejam efetivas, é preciso que haja mudanças radicais com o rompimento das barreiras atitudinais, no sentido de assegurar o acesso e a permanência nos diversos espaços sociais comuns. A legislação favorece a inserção desses estudantes nas instituições de educação superior, “[...] principalmente naquelas de caráter público, as quais não se encontram preparadas e nem se encerram em si mesmas, mas fazem parte de um processo em movimento, que está em contínua transformação” (OLIVEIRA, 2013, p. 961). Figura 11 Fonte: iStock/Getty Images 24 25 A política de cotas para as pessoas com limitações oriundas de deficiência, ga- rantida pela Constituição Federal do Brasil (1988) a todo portador de deficiên- cia (grifo da autora para o termo utilizado na época), já naquela época exigia que as instituições de ensino se dispusessem a efetivar transformações no con- texto acadêmico e na relação pedagógica, na estruturação da práxis pedagógica, nos currículos; em suma, promover mudanças que garantissem a sustentabilidade do processo de inclusão educacional. A entrada numa universidade implica para muitos jovens a possibilidade de ascensão social, por ser considerada ambiente de importância para o desenvol- vimento humano, apropriação de experiências pessoais e profissionais. Dessa forma, essas mesmas oportunidades deverão ser asseguradas e oferecidas aos alunos com deficiência, ou mobilidade reduzida. Nesse sentido, deve haver co- laboração e solidariedade entre os alunos com e sem deficiência, professores e demais profissionais que fazem parte da comunidade escolar, assim como no am- biente profissional, para que essas pessoas superem os obstáculos provenientes de sua condição. 25 UNIDADE A Construção da Cidadania: Acessibilidade e Inclusão Social da Pessoa com Deficiência e com TEA Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Livros Afirmando diferenças: montando o quebra-cabeças da diversidade na escola ABRAMOWICZ, Anete; SILVÉRIO, Valter Roberto [Org.]. Afirmando diferenças: montando o quebra-cabeças da diversidade na escola. [Livro eletrônico]. Campinas, SP: Papiros, 2015 [Coleção Papirus Educação. As muitas faces da inclusão escolar PADILHA, Anna Maria Lunardi; OLIVEIRA, Ivone Martins [Orgs. ]. As muitas faces da inclusão escolar. [Livro Eletrônico]. Campinas, SP: Papirus, 2014. Introdução e Capítulo 1. Sociologia da acessibilidade TESKE, Ottmar [et al]. Sociologia da acessibilidade [livro eletrônico]. Curitiba: Intersaberes, 2017 (Série por dentro das Ciências Sociais). Capítulos 3, 4, 6,7 e 9. Vídeos O futuro que queremos – trabalho decente e inclusão no mercado de trabalho https://goo.gl/iJJ5M2 Leitura Jovens deficientes na universidade: experiências de acessibilidade? OLIVEIRA, Cristina Borges de. Jovens deficientes na universidade: experiências de acessibilidade? Rev. Bras. Educ. [online]. 2013, vol.18, n.55, pp.961-984. ISSN 1413-2478. https://goo.gl/qpgVLZ O cérebro autista: a biologia da mente e sua implicação no comprometimento social SIQUEIRA, Carolina Carvalho et al. 221 O cérebro autista: a biologia da mente e sua implicação no comprometimento social. Revista Transformar, v. 8, n. 8, p. 221- 237, 2016. https://goo.gl/t5cVDi 26 27 Referências ALMEIDA, C. E. M.; CORRÊA, N. M. O impacto da ‘inclusão’ nas políticas públicas da educação especial: apontamentos para análise de uma realidade. In: MANZINI, Eduardo J. Inclusão do aluno com deficiência na escola: os desafios continuam. Marília: ABPEE/FAPESP, 2007. p.245-256. AMARAL, L. A. Conhecendo a deficiência na companhia de Hércules. São Paulo: Rhode, 1995. AYDOS, V. Agência e subjetivação na gestão de pessoas com deficiência: a inclusão no mercado de trabalho de um jovem diagnosticado com autismo. Horizontes Antropológicos, n. 46, p. 329-358, 2016. BRAGA, P. B. Mais uma possível causa do autismo. Revista FAPESP, edição 263, 2018. 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