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duas principais fontes de crédito vieram a ser as instituições religiosas e beneficentes, em
primeiro lugar, e os comerciantes. Antes de 1808 não existiam bancos no Brasil. Instituições
como a Misericórdia, a Ordem Terceira de São Francisco, o Convento de Santa Clara do
Desterro, além de suas funções específicas, cumpriram o papel de financiar a atividade
produtiva através de empréstimos a juros.
Os comerciantes tinham com os senhores de engenho um relacionamento especial.
Financiavam instalações, adiantavam recursos para se tocar o negócio e, pela própria posição
que ocupavam, tinham facilidade de fornecer bens de consumo importados. As contas entre as
duas partes eram acertadas no fim da safra. Muitas vezes os comerciantes aceitavam receber
açúcar em pagamento das dívidas, mas a preço abaixo do mercado. A história final do
comércio açucareiro escapava de mãos locais e mesmo de mãos portuguesas. Os grandes
centros importadores estavam em Amsterdam, Londres, Hamburgo, Gênova e tinham grande
poder na fixação dos preços, por maiores que fossem os esforços de Portugal no sentido de
monopolizar o produto mais rentável de sua colônia americana.
Vejamos agora alguma coisa sobre a estrutura social do engenho, começando pelos dois
extremos: escravos de um lado, senhores de outro. Foi no âmbito da produção açucareira que
se deu com maior nitidez a gradativa passagem da escravidão indígena para a africana. Nas
décadas de 1550 e 1560, praticamente não havia africanos nos engenhos do Nordeste. A mão-
de-obra era constituída por escravos índios ou, em muito menor escala, por índios
provenientes das aldeias jesuíticas, que recebiam um salário ínfimo. Tomando o exemplo de
um grande engenho - Sergipe do Conde, na Bahia -, cujos registros sobreviveram até hoje,
podemos ter uma idéia de como se deu a transição. Em 1574, os africanos representavam
apenas 7% da força de trabalho escrava; em 1591 eram 37% e, em torno de 1638, africanos e
afro-brasileiros compunham a totalidade da força de trabalho.
Os cativos realizavam um grande número de tarefas, sendo concentrados em sua maioria
nos pesados trabalhos do campo. A situação de quem trabalhava na moenda, nas fornalhas e
nas caldeiras podia ser pior. Não era incomum que escravos perdessem a mão ou o braço na
moenda. Muitos observadores que escreveram sobre os engenhos brasileiros notaram a
existência de um pé-de-cabra e uma machadinha próximos à moenda para, no caso de um
escravo ser apanhado pelos tambores, estes serem separados e a mão ou braço amputado,
salvando-se a máquina de maiores estragos.
Fornalhas e caldeiras produziam um calor insuportável, e os trabalhadores se arriscavam a
sofrer queimaduras. Muitos cativos eram treinados desde cedo para esse serviço, considerado
também um castigo para os rebeldes. Apesar de tudo, excepcionalmente, escravos subiam na
hierarquia de funções e chegavam a "banqueiros", um auxiliar do mestre-de-açúcar, ou
mesmo a mestre. Este era um trabalhador especializado, responsável pelas operações finais e,
em última análise, pela qualidade do açúcar.
Os senhores de engenho tiveram um considerável poder econômico, social e político na
vida da Colônia. Eles formavam uma aristocracia de riqueza e poder, mas não uma nobreza
hereditária do tipo que existia na Europa. O rei concedia títulos de nobreza por serviços
prestados ou mediante pagamento. Entretanto, esses títulos não passavam aos herdeiros. Não
devemos, aliás, exagerar a estabilidade dos senhores de engenho e mesmo sua riqueza,
generalizando para o conjunto de uma classe social aquilo que foi característica de algumas