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geneticista L. L. Cavalli-Sforza, o antropólogo F. T. Cloak e o etólogo J. M. Cullen.
Como um darwinista entusiasta. tenho ficado insatisfeito com as explicações do comportamento 
humano oferecidas por outros entusiastas semelhantes. Eles têm tentado procurar "vantagens biológicas" 
nos vários atributos da civilização humana. Por exemplo, a religião tribal tem sido vista como um 
mecanismo de solidificação da identidade do grupo, importante para uma espécie que caça em bandos 
cujos indivíduos dependem da cooperação para capturar presas grandes e velozes. O pressuposto 
evolutivo em termos do qual tais teorias são concebidas muitas vezes é implicitamente do tipo seleção de 
grupo, mas é possível reformular as teorias em termos de seleção gênica ortodoxa. Talvez o homem tenha 
passado boa parte dos últimos milhões de anos vivendo em pequenos grupos de parentesco. A seleção de 
parentesco e a seleção em favor do altruísmo recíproco poderão ter atuado sobre os genes humanos 
produzindo muitos de nossos atributos e tendências psicológicas básicas. Essas idéias são plausíveis até 
certo ponto, mas acho que elas nem começam a enfrentar o enorme desafio de explicar a cultura, a 
evolução cultural e as imensas diferenças entre as culturas humanas espalhadas pelo mundo, do egoísmo 
absoluto dos Ik de Uganda, descrito por Colin Turnbull, ao altruísmo suave dos Arapesh de Margaret 
Mead. Acho que temos que começar novamente e voltar aos primeiros princípios. O argumento que 
proporei, que talvez pareça surpreendente provindo do autor dos capítulos anteriores, é que para uma 
compreensão da evolução do homem moderno devemos começar desprezando o gene como a única base 
de nossas idéias a respeito de evolução. Sou um darwinista entusiasta, mas acho que o darwinismo é uma 
teoria grande demais para ser confinada ao contexto limitado do gene. O gene entrará em minha tese como 
uma analogia, nada mais.
O que, afinal de contas, é tão especial a respeito dos genes? A resposta é que eles são replicadores. 
As leis da Física supostamente são verdadeiras em todo o universo acessível. Há qualquer princípio da 
Biologia que possivelmente tenha uma validade universal semelhante? Quando os astronautas viajarem 
para planetas distantes e procurarem vida, eles podem esperar encontrar criaturas por demais estranhas e 
misteriosas para que possamos imaginar. Mas, há alguma coisa que deva sempre caracterizar a vida, onde 
quer que ela se encontre e qualquer que seja a base de sua química? Se existirem formas de vida cuja 
química é baseada em silício e não em carbono, ou em amônia e não água, se forem descobertas criaturas 
que morrem queimadas a -1000 C, se for encontrada uma forma de vida que não é baseada em química, 
mas em circuitos eletrônicos de reverberação, haverá, ainda assim, um princípio geral que se aplique à 
toda a vida? Evidentemente eu não sei, mas se tivesse que apostar, confiaria meu dinheiro em um 
princípio fundamental. Esta é a lei de que toda a vida evolui pela sobrevivência diferencial de entidades 
replicadoras. O gene, a molécula de DNA, por acaso é a entidade replicadora mais comum em nosso 
planeta. Poderá haver outras. Se houver, desde que certas outras condições sejam satisfeitas, elas quase 
inevitavelmente tenderão a tornarem-se a base de um processo evolutivo.
Mas temos que ir para mundos distantes a fim de encontrar outros tipos de replicadores e outros 
tipos resultantes de evolução? Acho que um novo tipo de replicador recentemente surgiu neste próprio 
planeta. Ele está nos encarando de frente. Ainda está em sua infância, vagueando desajeitadamente num 
caldo primordial, mas já está conseguindo uma mudança evolutiva a uma velocidade que deixa o velho 
gene muito atrás.
O novo caldo é o caldo da cultura humana. Precisamos de um nome para o novo replicador, um 
substantivo que transmita a idéia de uma unidade de transmissão cultural, ou uma unidade de imitação. 
"Mimeme" provém de uma raiz grega adequada, mas quero um monossílabo que soe um pouco como 
"gene". Espero que meus amigos helenistas me perdoem se eu abreviar mimeme para meme. Se servir 
como consolo, pode-se, alternativamente, pensar que a palavra está relacionada a "memória", ou à palavra 
francesa même.
Exemplos de memes são melodias, idéias, "slogans", modas do vestuário, maneiras de fazer potes ou 
de construir arcos. Da mesma forma como os genes se propagam no "fundo" pulando de corpo para corpo 
através dos espermatozóides ou dos óvulos, da mesma maneira os memes propagam-se no "fundo" de 
memes pulando de cérebro para cérebro por meio de um processo que pode ser chamado, no sentido 
amplo, de imitação. Se um cientista ouve ou lê uma idéia boa ele a transmite a seus colegas e alunos. Ele a 
menciona em seus artigos e conferências. Se a idéia pegar, pode-se dizer que ela se propaga , si própria, 
espalhando-se de cérebro a cérebro. Como meu colega N. K. Humphrey claramente resumiu uma versão 
inicial deste capítulo: ". . . os memes devem ser considerados como estruturas vivas, não apenas

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