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USF_Estudo_do_ser_humano_contemporâneo_Completo_2022

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LUIZ CARLOS RAMOS
LUÍS FERNANDO CRESPO
HELOÍSA MARIA DOS SANTOS TOLEDO
WELDER LANCIERI MARCHINI
ESTUDO DO SER HUMANO 
CONTEMPORÂNEO
2022
ESTUDO DO SER HUMANO 
CONTEMPORÂNEO
LUIZ CARLOS RAMOS
LUÍS FERNANDO CRESPO
HELOÍSA MARIA DOS SANTOS TOLEDO
WELDER LANCIERI MARCHINI
© 2022 Universidade São Francisco
Avenida São Francisco de Assis, 218
CEP 12916-900 – Bragança Paulista/SP
CASA NOSSA SENHORA DA PAZ – AÇÃO SOCIAL FRANCISCANA, PROVÍNCIA 
FRANCISCANA DA IMACULADA CONCEIÇÃO DO BRASIL – 
ORDEM DOS FRADES MENORES
PRESIDENTE 
Frei Thiago Alexandre Hayakawa, OFM
DIRETOR GERAL 
Jorge Apóstolos Siarcos 
REITOR 
Frei Gilberto Gonçalves Garcia, OFM 
VICE-REITOR 
Frei Thiago Alexandre Hayakawa, OFM
PRÓ-REITOR DE ADMINISTRAÇÃO E PLANEJAMENTO 
Adriel de Moura Cabral 
PRÓ-REITOR DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO 
Dilnei Giseli Lorenzi 
COORDENADOR DO NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA - NEAD 
Renato Adriano Pezenti
GESTOR DO CENTRO DE SOLUÇÕES EDUCACIONAIS - CSE
Franklin Portela Correia 
CURADORIA TÉCNICA
André Luiz Boccato de Almeida
DESIGNER INSTRUCIONAL
Paloma Larissa Souza Guimarães de Lima
REVISÃO ORTOGRÁFICA
Bruno Ricardo da Silva
PROJETO GRÁFICO
Centro de Soluções Educacionais - CSE
DIAGRAMADORES
Andréa Ercília Calegari
CAPA
Lucas Ichimaru Testa
OS AUTORES
LUIZ CARLOS RAMOS
LUÍS FERNANDO CRESPO
HELOÍSA MARIA DOS SANTOS TOLEDO
WELDER LANCIERI MARCHINI
Possui doutorado em Ciências da Religião pela Universidade Metodista de São Paulo 
(2005 – Conceito 5 MEC); mestrado em Ciências da Religião pela Universidade Metodista 
de São Paulo (1996 – Conceito 5 MEC); graduação em Teologia (Bacharelado) pelo Semi-
nário Presbiteriano do Sul / Universidade Mackenzie (1983); graduação em Teologia pela 
Universidade Metodista de São Paulo (2007 – Conceito 5 MEC). É autor de “A pregação 
na Idade Mídia: desafios da Sociedade do Espetáculo para a Homilética contemporânea”, 
pela Editeo. Concentra suas pesquisas acadêmicas na área de Teologia, Ciências da Re-
ligião, com ênfase em Práxis e Sociedade e Comunicação Social. Coordena os cursos de 
Teologia e Filosofia da Universidade São Francisco (USF), Bragança Paulista, SP, onde 
também leciona nos cursos presenciais e na Modalidade EaD. É membro do Comitê de 
Ética em Pesquisa com Seres Humanos da USF, cadastrado na Plataforma Brasil, Portal 
do Governo Brasileiro. Site pessoal: http://www.luizcarlosramos.net.
Filósofo com doutorado pela PUC-SP, é poeta e psicanalista. Sua tese tratou do pensa-
mento de Martin Heidegger, e outros autores de interesse são Sigmund Freud e Michel 
Foucault. Sua atenção se volta para temas da contemporaneidade, filosofia, ética, sexu-
alidade, tecnologias e metodologias para educação. Ao longo de 20 anos, tem atuado 
desde a Educação Básica até a Pós-Graduação, com diversos sistemas de ensino e em 
diferentes instituições, públicas e privadas. Pós-Graduado em Educação a Distância, tem 
experiência no desenvolvimento de materiais e objetos de aprendizagem.
Doutora em Sociologia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (2010) 
e Especialista em Educação pela PUC-RS. Tem experiência nas áreas de Sociologia e 
Ciências Sociais e Humanas, atuando principalmente nos seguintes temas: educação, 
tecnologia e mediação tecnológica, Sociologia Geral e pensamento clássico, Arte, Cultura 
e Indústria Cultural. Professora no Ensino Superior e autora de materiais didáticos. Pro-
fessora orientadora no curso de pós-graduação Especialização na Inovação da Educação 
Mediada por Tecnologias, na Universidade Federal do ABC, financiado pela UAB/Capes.
Doutor em Ciência da Religião pela PUC-SP (2019), desenvolve pesquisa sobre religião 
em perspectiva decolonial. Atualmente, pesquisa método teológico e suas imbricações 
na realidade local em doutorado em Teologia pela PUC-Rio (desde 2019). Também 
desenvolve estudos sobre a religião no contexto metropolitano como continuidade ao 
trabalho de mestrado em Ciência da Religião, também pela PUC-SP (2015). É bacharel 
em filosofia pela PUC-Campinas (2003) e em teologia pelo ITESP (2015). Paralelamente 
desempenha a função de editor teológico na Editora Vozes e é professor do curso de 
pós-graduação em Missiologia da Faculdade João Paulo II (Fajopa). É autor dos livros 
Paróquias urbanas (Santuário, 2017) e Por uma Igreja jovem (Paulinas, 2020).
SUMÁRIO
UNIDADE 01: O ESTUDO INTERDISCIPLINAR E O DESENVOLVIMENTO DE 
COMPETÊNCIAS ....................................................................................................10
1. Conectar ..............................................................................................................10
2. Desenvolver ........................................................................................................12
3. Praticar ................................................................................................................13
UNIDADE 02: SABER, SENTIR E QUERER: O ANIMAL RACIONAL ..................17
1. O estranho animal que pensa sobre o pensamento ...........................................18
2. Somos Terra Que Raciocina: Húmus, Humildes Humanos .................................19
3. Entre O Saber E O Ser ........................................................................................21
4. Ultrapassando As Fronteiras Da Sapiência .........................................................22
UNIDADE 03: SABER, SENTIR E QUERER: O COMPOSTO RAZÃO-EMOÇÃO 
....................................................................................................................................31
1. Para além da inteligência racional ......................................................................32
2. Entre o egoísmo e o altruísmo, a entropia e a sintropia ......................................33
3. Entre a racionalidade e a afetividade ..................................................................34
UNIDADE 04: SABER, SENTIR E QUERER: LIBERDADE E DECISÃO ............42
1. Queda ou libertação do instinto ...........................................................................43
2. Querer, poder e dever .........................................................................................45
3. Ciclo e desejo mimético ......................................................................................46
4. Ideologias e o livre arbítrio ..................................................................................48
UNIDADE 05: A CRIAÇÃO DO MUNDO HUMANO – TÉCNICA E TRABALHO ..53
1. Do natural para o humano ...................................................................................53
2. A técnica ..............................................................................................................55
3. O trabalho na sociedade tecnológica ..................................................................57
UNIDADE 06: O ANIMAL QUE SE COMUNICA .....................................................61
1. Língua, linguagem e comunicação como problema ............................................61
2. O mundo individual e o mundo coletivo ..............................................................63
3. Línguas, linguagens e a fala humana .................................................................65
UNIDADE 07: A ORGANIZAÇÃO DO MUNDO HUMANO ....................................69
1. Quando o principal é a cooperação ....................................................................69
2. Política e ideologia ..............................................................................................71
3. O Homo socialis, as relações conflituosas e a propriedade privada .................74
UNIDADE 08: HOMO LUDENS: O SER HUMANO QUE JOGA E BRINCA .......77
1. A dimensão lúdica da vida ..................................................................................77
2. Do jogo para a cultura: a ocultação do lúdico .....................................................79
3. Os elementos do lúdico e da competição do jogo ...............................................81UNIDADE 09: A DIMENSÃO CULTURAL DO SER HUMANO ..............................85
1. A dimensão cultural do homem ...........................................................................86
2. O eu versus o outro ...........................................................................................89
3. Identidade e diferença .........................................................................................92
UNIDADE 10: SOMOS SERES ARTÍSTICOS! .......................................................95
1. A arte: tão antiga quanto a humanidade ..............................................................96
2. A arte: manifestação essencialmente humana ....................................................98
3. A função social da arte ........................................................................................100
UNIDADE 11: O SER HUMANO É UM SER RELIGIOSO .....................................106
1. O ser humano é um ser religioso ........................................................................108
2. A religião como horizonte ....................................................................................109
3. A violência com motivação religiosa ....................................................................110
4. Valores absolutos? ..............................................................................................111
UNIDADE 12: SOMOS ECOLÓGICOS ...................................................................114
1. Identificar-se como natureza ...............................................................................114
2. Cuidado como paradigma ...................................................................................115
3. Cuidado como sustentabilidade ..........................................................................116
4. Iniciativas locais ..................................................................................................117
5. Tudo está interligado ...........................................................................................118
UNIDADE 13: INTERLIGADOS ...............................................................................121
1. A unidade do ser ..................................................................................................122
2. Inter-relação e a fraternidade universal ...............................................................125
UNIDADE 14: A REDESCOBERTA DO HUMANO .................................................129
1. A ambivalência humana ......................................................................................129
2. O cuidado de si ...................................................................................................131
3. Uma existência temporal .....................................................................................132
4. O ser pensante e o universo ...............................................................................134
EDUCANDO PARA A PAZ
10
UNIDADE 1
O ESTUDO INTERDISCIPLINAR 
E O DESENVOLVIMENTO DE 
COMPETÊNCIAS 
INTRODUÇÃO
Caros estudantes, paz e bem!
Trazemos, de nossa história de estudos, diferentes vivências educacionais; porém, uma 
coisa é certa: quase 100% de nossa experiência vem do ensino presencial. Significa 
que, durante muito tempo, entendemos que a educação apenas era possível dentro do 
modelo que coloca professor e alunos em um mesmo espaço e tempo (sala de aula), 
a partir do que um conteúdo era ensinado. Mas isto não tem nada de novo, já que há 
séculos assim se dá.
A pergunta que fazemos, então, é: se o contexto mudou e diferentes tecnologias foram 
desenvolvidas, por que continuar a realizar a educação do mesmo modo? A Universi-
dade São Francisco – USF entende que, além de importante, a mudança é necessária. 
Mas, já que se trata de uma proposta diferenciada, é importante entender de que modo 
é possível alcançar sucesso nos estudos por meio dela.
Estudo do Ser Humano Contemporâneo é um dos componentes que constituem o 
Núcleo de Formação Geral – juntamente com Iniciação à Pesquisa Científica, Ética e 
Cidadania, Direitos Humanos e Empreendedorismo Social –, que são oferecidos inte-
gralmente a distância. Estes componentes serão trabalhados de forma interdisciplinar: 
os conteúdos de cada um servirão para construir um entendimento de mundo e uma 
maneira de problematizar a realidade. Eles, conjuntamente, oferecerão novas chaves 
para que você possa reinterpretar a realidade.
Esta Unidade I tem o objetivo de apresentar alguns elementos importantes para que 
você bem entenda de que modo os componentes curriculares do Núcleo de Formação 
Geral estão estruturados a fim de oferecer uma experiência significativa de aprendiza-
gem, contribuindo, assim, para sua formação profissional.
1. CONECTAR
Estudo do Ser Humano Contemporâneo e a interdisciplinaridade
Quando, na estrada, vemos uma placa de trânsito indicando uma curva acentuada à 
direita, por exemplo, sabemos que devemos redobrar a atenção e reduzir a velocidade 
porque, um pouco mais adiante, certamente, haverá uma curva fechada.
A placa é um sinal. Esse sinal é a representação gráfica de uma outra coisa, a curva, 
que pode ser perigosa a depender da velocidade com que entrarmos nela.
11 Estudo do Ser Humano Contemporâneo
U1 O estudo interdisciplinar e o desenvolvimento de competências 
O sinal não é a curva, mas nos dá ciência dela. Perguntar sobre o significado dos sinais 
é só uma pequena parte desta discussão. Podemos ir além e perguntarmo-nos sobre o 
sentido, a razão de ser, desse sinal. Por que alguém se daria ao trabalho de conceber 
e fabricar essa placa e fixá-la naquele ponto exato? Que interesses estariam por detrás 
dessa ação? Podemos supor que um propósito seria avisar o viajante de um perigo emi-
nente. Mas, por que avisá-lo? Para tentar evitar que alguém sofra um acidente naquele 
lugar. Por causa de eventuais danos materiais e prejuízos econômicos? Para poupar 
o trabalho de agentes policiais de trânsito, sistemas de resgate, serviços hospitalares, 
prejuízos às agências de seguro...? 
Ou estaria essa placa de trânsito indicando, em última instância, um valor maior que 
qualquer outro: a primazia da vida! 
A vida é o nosso valor número um, e deve ser preservada sobre todas as coisas, ainda 
que isso exija grandes esforços, onerosos investimentos e o envolvimento de um núme-
ro incontável de profissionais.
Para que aquela placa de trânsito esteja ali, no local exato, e seja eficiente e eficaz para 
salvar a vida dos viajantes, foram necessárias muitas etapas e a participação de muitos 
profissionais:
Na ponta final, podemos identificar: o designer, o fornecedor de matéria prima, o fabri-
cante, o funcionário que a fixa no local, o operário que realiza sua manutenção... 
Mas até chegar nessa ponta final, foi preciso muito mais. Considere que, antes de tudo, 
houve pessoas convictas que se empenharam para convencer outras pessoas da ideia 
de que a vida deve ser cuidada e protegida acima de qualquer outra coisa. Em algum 
momento, foi necessário o engajamento de educadores, de políticos, de agentes legais, 
entre tantos outros, para que projetos-de-lei regulamentadores de tais normas de segu-
rança fossem aprovados e implementados. Não devemos nos esquecer dos responsá-
veis por todo o intrincado processo administrativo e financeiro que garantiram a dotação 
orçamentária dos recursos necessárias para viabilizar a sinalização das estradas. E, 
por fim, mas não menos importante, temos que falar do engajamento do cidadão co-
mum, que é o principal beneficiário da segurança e da integridade física que uma sina-
lização bem-feita pode lhe garantir. Esse cidadão é a grande razão de ser de tudo isso.
Quem diria que uma simples placa de trânsito teria como pré-requisito o envolvimento 
de tanta gente. Parece até aquela lista interminável de créditos que a gente vê na tela 
do cinema no final de um filme.
Não nos enganemos. O fim último de todo esse envolvimento profissionalnão é a placa 
de trânsito. Acima de tudo está a preocupação com o nosso valor número um: a digni-
dade da vida humana, em particular, e a preservação da Vida, em geral. Neste sentido 
é que o componente Estudo do Ser Humano Contemporâneo pode ser entendido como 
aquele cujas temáticas perpassam tudo o que vier a ser problematizado nos demais. Os 
conhecimentos e as práticas relacionados a todo fazer humano depende de um enten-
dimento do que seja a própria essência humana.
Não há uma profissão sequer que goze de plena autonomia em relação às demais. E 
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12Estudo do Ser Humano Contemporâneo
O estudo interdisciplinar e o desenvolvimento de competências 
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não vale a pena apertarmos um único parafuso que seja, se isso não estiver, em última 
instância, a serviço da vida e da promoção da dignidade humana.
2. DESENVOLVER
O desenvolvimento de competências
A USF adota, como diretriz pedagógica, a educação por competências. Mas, você 
sabe o que é a competência, ou quando alguém pode se entender competente?
A competência trata da maneira como lidamos com as situações que nos aparecem na 
vida cotidiana. Neste sentido, é competente aquela pessoa que consegue dar conta 
das exigências que as diferentes situações impõem.
Mas, é possível aprender sobre todas as situações que a vida – profissional ou não – vai 
nos apresentar? Claro que não; não há um curso sequer que possa dar conta disso.
Quando se fala em desenvolver competências, mais do que uma prática, o que se ob-
jetiva é ensinar um modo de compreender as situações. A pergunta que deve ser feita 
não é “Eu aprendi a fazer isso?”, mas sim “Que tipo de raciocínio eu aprendi, a partir 
deste caso, e que vai me possibilitar resolver outros (mesmo que não sejam iguais)?”
Fonte: Elaborado pelo autor / Imagens: Pixabay.com
Desenvolver competências é desenvolver a habilidade de resgatar esquemas mentais 
que possam ser encaixados em diferentes situações. O célebre autor que tratou da 
temática das competências é Philippe Perrenoud (1944-).
Para conhecer mais, assista ao vídeo Pensadores na Educação: Perrenoud e o de-
senvolvimento de competências: https://www.youtube.com/watch?v=lYvoCDRCfOw
Figura 01. O desenvolvimento de competências
13 Estudo do Ser Humano Contemporâneo
U1 O estudo interdisciplinar e o desenvolvimento de competências 
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Conheça as competências que devem ser desenvolvidas por meio dos estudos que o 
componente Estudo do Ser Humano Contemporâneo incitará:
01. Compreender a diversidade como valor para a reinvenção social, entendendo a multifa-
cetada expressão humana individual e coletiva.
02. Identificar caminhos de realização humana integral, refletindo sobre a inovação ética e 
sustentável.
03. Reelaborar as concepções de existência, valorizando uma práxis fundamentada na pro-
moção da paz e do bem.
04. Escolher um caminho de formação que preze por relações fraternas, justas e inclusivas, 
relacionando-as às responsabilidades profissionais.
Releia as competências apresentadas acima. Não se trata de um ideal constru-
ído de forma aleatória, mas de uma proposta de formação que indica aquilo em 
que a USF acredita, formando você como profissional. São competências possí-
veis, mas que apenas podem ser desenvolvidas se você se aplicar aos estudos 
e atividades propostos.
3. PRATICAR
3.1. DIFERENTES OBJETOS DE APRENDIZAGEM PARA DIFERENTES 
FORMAS DE APRENDER
O desenvolvimento de competências pode se dar de diferentes modos, de acordo com o 
objetivo que se tem. Cada componente curricular, em cada unidade, tem objetivos especí-
ficos pensados a partir das competências estabelecidas para o profissional que está sen-
do formado – você! –, não importando a área de conhecimento. Mas, antes dos objetivos 
de cada componente, temos de pensar as competências necessárias para bem cursar 
um componente oferecido a distância, já que ele é diferente dos tradicionais, presenciais.
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E você, sabe como você aprende?
Possivelmente, você já ouviu dizer que uma pessoa aprende mais ouvindo, enquanto 
outra o faz escrevendo, e ainda outra, lendo e anotando.
Leia ao artigo:
Os quatro estilos de aprendizagem − ou por que alguns leem os manuais e outros não
https://brasil.elpais.com/brasil/2016/10/10/ciencia/1476119828_530014.html
3.2. O CONHECIMENTO – TEORIA E PRÁTICA
A competência pode ser entendida como um conjunto de elementos que, no todo, tratam 
de um saber prático; trata-se de três elementos: conhecimento, habilidade e atitude. 
U1
14Estudo do Ser Humano Contemporâneo
O estudo interdisciplinar e o desenvolvimento de competências 
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Avalie suas competências, verificando:
 ` Conhecimento – você tem os conhecimentos necessários, que possibilitarão uma vi-
vência profissional humana e responsável consigo, com o outro e com a sociedade?
 ` Habilidade – você sabe se utilizar dos conhecimentos para realizar uma prática que 
seja eficiente, fazendo bem feito aquilo que se espera de um(a) bom(a) profissional?
 ` Atitude – a partir do conteúdo assimilado e da boa prática desenvolvida, você se 
motiva a agir de modo eficaz, buscando a melhor em cada situação?
Ao longo das unidades, as temáticas apresentadas têm sempre o objetivo de possibilitar 
uma prática profissional, carregada de sentido e que possa responder aos anseios da 
sociedade, sem deixar de lado a realização pessoal. Neste sentido, pense sobre as 
competências deste componente – indicadas acima –, e procure verificar se você já as tem 
desenvolvidas. Inicie o curso deste componente, já tendo em mente suas competências 
e entendendo que elas devem ser metas a se alcançar. No final do semestre, você terá 
oportunidade de se avaliar, verificando quanto aprendeu e desenvolveu, e o que ainda 
restará como necessidade.
3.3. OBJETIVOS DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NO BRASIL
No ano de 2015, pensando a necessidade de ações que pudessem melhorar a vida 
no planeta como um todo, líderes mundiais se reuniram na ONU e estabeleceram a 
chamada Agenda 2030 – trata-se de um plano para erradicar a pobreza e promover o 
desenvolvimento da vida humana e do planeta.
Dificilmente conseguimos dizer que um profissional é competente sem ter estes elementos 
como base sólida. A partir deste entendimento é que este componente curricular é 
entendido e proposto com significativa importância para sua formação profissional. A USF 
entende que ser profissional deve ser mais que ser um fazedor técnico.
SA
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A 
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A
IS Conheça mais sobre a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, pes-
quisando em:
https://www.br.undp.org/content/dam/brazil/docs/agenda2030/undp-br-Agenda-
2030-completo-pt-br-2016.pdf
Da Agenda 2030, foram pensados os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, a partir 
dos quais são delineadas áreas mais específicas para atuação das nações. São 17 ODS:
15 Estudo do Ser Humano Contemporâneo
U1 O estudo interdisciplinar e o desenvolvimento de competências 
Fonte: https://brasil.un.org/pt-br/sdgs
Veja que os ODS abarcam diferentes áreas e problemas que a humanidade enfrenta 
como um todo. E, considerando-se que a USF objetiva oferecer uma formação integral, 
entendemos a importância de que a formação seja ampla e geral, ligada aos problemas 
e situações diversas que você, como profissional, vai enfrentar. Neste sentido, os ODS 
serão trazidos nas problematizações dos componentes curriculares.
SA
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Aproveite as oportunidades que forem ofertadas para o desenvolvimento deste compo-
nente: textos, fóruns, vídeos etc. Tudo é desenvolvido para seu melhor aproveitamento 
e sucesso na formação profissional!
Bons estudos!
Conheça mais sobre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável no Brasil, 
pesquisando em:
https://brasil.un.org/pt-br/sdgs
https://brasil.un.org/pt-br/sdgs
EDUCANDO PARA A PAZ
17
UNIDADE 2
SABER, SENTIR E QUERER: O 
ANIMAL RACIONAL
INTRODUÇÃO
[...] E tem mais, falou o cego, o que para um é preto como carvão, para outro 
é alvo como um jasmim. O que para umé alimento ou metal de valor, para 
outro é veneno ou flandre. O que para um é um grande acontecimento, para 
outro é vergonha a negar. O que para um é importante, para outro não exis-
te. Por conseguinte, a maior parte da História se oculta na consciência dos 
homens e por isso a maior parte da História nunca ninguém vai saber, isto 
para não falar em coisas como Alexandria, que matam a memória. 
(João Ubaldo Ribeiro, Viva o povo brasileiro)
O que sabemos sobre nós mesmos e a nossa história? Quase nada. Quem somos nós? 
Quem sou eu? quem é você? Somos o que gostaríamos de ser? Somos o que deverí-
amos ser?
O presente estudo quer levantar essas e outras questões para que você, que está se pre-
parando acadêmica, profissional e existencialmente para “ser alguém na vida”, desenvolva 
sua potencialidade como ser humano pleno e venha a sentir-se integralmente realizado. 
Só que essa, talvez, não seja uma tarefa tão fácil, pois a maior parte da História da hu-
manidade – isto é, quem e o que somos, pensamos ou fizemos – não foi escrita. Nossa 
espécie, o homo sapiens, tem algo em torno de 200 mil anos. A escrita só surgiu há 
cerca de 5 mil anos e é por isso que podemos afirmar que a nossa é uma breve, bre-
víssima História.
Consideremos, ainda, quão restrito é o número daqueles e daquelas que leem os re-
gistros históricos de que dispomos. História escrita não é o mesmo que História lida. Se 
pensarmos no nosso contexto mais próximo, o Brasil, vamos constatar envergonhados 
que, até 60 anos atrás, a grande maioria (cerca de 75%) da população do país era anal-
fabeta. Reduzir nossa história somente ao que ficou registrado, literariamente, é ignorar 
o que anda acontecendo na maior parte do tempo com a maioria das pessoas.
Isso nos faz suspeitar que a maior parte do que fazemos, sentimos e queremos tem ra-
ízes tão profundas que vão muito além do que está dito nos tratados publicados, sejam 
eles das áreas de exatas, biológicas, humanas ou quaisquer outras que delas derivem.
Pense no campo profissional que você abraçou e para o qual você está buscando qua-
lificação: como essa profissão nasceu? A que demandas ela procura responder? Como 
vem sendo aprimorada? De que maneira ela está mudando a vida das pessoas, as re-
lações com o meio ambiente, afetando o próprio clima? Quem é o ser humano que atua 
profissionalmente na sua área? Quem são os outros seres humanos que sua profissão 
atende e com quem você terá que interagir durante toda a sua vida?
18 Estudo do Ser Humano Contemporâneo
U2 Saber, sentir e querer: o animal racional
Cabe aqui acrescentar outra pergunta: quão humanos somos ou haveremos de ser como 
profissionais e quão humanizada é ou haverá de ser a nossa atuação profissional?
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R
A 
R
EF
LE
TI
R Um veterinário ou uma veterinária poderia dispensar essa preocupação com a dimen-
são humana na sua atuação profissional, uma vez que sua tarefa consiste, basica-
mente, em cuidar de outras espécies que não a humana? E um botânico, cuja atenção 
principal está voltada para o reino vegetal? E, ainda, no caso de um geólogo, que se 
ocupa, em tese, do reino mineral? Há alguma profissão que possa se dar ao luxo de 
escapar da preocupação com a dimensão humana e humanitária?
1. O ESTRANHO ANIMAL QUE PENSA SOBRE O PENSAMENTO
Dentre as espécies que já pisaram o 
planeta Terra, os humanos estão en-
tre as mais jovens. As baratas, por 
exemplo, vivem aqui há mais de 300 
milhões de anos, e os tubarões já exis-
tiam há cerca de 200 milhões de anos. 
Os dinossauros, que foram extintos 
há 65 milhões de anos, dominaram as 
paisagens dos continentes por longos 
167 milhões de anos. Considerando 
que nós, seres humanos modernos, 
apelidados de homo sapiens, só es-
tamos aqui há pouco mais de 200 mil 
anos, podemos nos considerar prati-
camente recém-nascidos.
Além do mais, foi somente nos últimos 
70 mil anos que adquirimos o compor-
tamento atual, ou seja, faz pouquíssimo 
tempo que desenvolvemos certas habi-
lidades, tais como a linguagem ficcio-
nal, a música e várias das expressões 
culturais que hoje nos são comuns. 
A civilização é ainda mais recente, pois 
só surgiu cerca de 10 mil anos atrás, 
com a chamada revolução agrícola. A 
produção de alimentos em abundân-
cia permitiu o crescimento da popula-
ção e o consequente estabelecimento 
das primeiras aglomerações urbanas. 
Estas, por sua vez, deram ensejo ao 
desenvolvimento de relações sociais 
cada vez mais complexas.
Figura 01. Barata
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Figura 02. Homo Sapiens
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19Estudo do Ser Humano Contemporâneo
Saber, sentir e querer: o animal racional
Somos, excepcionalmente, curiosos sobre to-
das as coisas: sobre a natureza, sobre o uni-
verso, sobre nós mesmos. Desde crianças, 
nosso instinto investigativo e inclinação para 
o conhecimento podem ser notados pelas 
insistentes perguntas que fazemos o tempo 
todo: Por quê? Por quê? Por quê?
Ah, acredite! Os pontos de interrogação são 
muito mais fascinantes do que os de excla-
mação ou os pontos finais. 
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Você notou que o que estamos fazendo aqui é pensar sobre nós mesmos e nossa condição 
no mundo? Que outra espécie se aplica, dessa maneira, a pensar sobre si mesma como sen-
do uma terceira pessoa. Não parece que as baratas, os tubarões ou os dinossauros tenham 
alguma vez se preocupado com isso.
Figura 03. Ponto de interrogação traçado 
sobre um balão
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2. SOMOS TERRA QUE RACIOCINA: HÚMUS, HUMILDES 
HUMANOS
Dizem que 96% do corpo humano é formado por quatro elementos químicos básicos: 
oxigênio, hidrogênio, carbono e nitrogênio. Ora, estes são os mesmos elementos que 
abundam na natureza e compõem o planeta terra e o próprio universo.
O Oxigênio (O) constitui a molécula da água e também é um dos três elementos quími-
cos que formam os carboidratos, fonte de energia para os seres vivos. O hidrogênio (H), 
por sua vez, é ao mesmo tempo o menor e o mais abundante elemento no universo, 
cerca de 75%. E ligado ao Hidrogênio, todos os compostos orgânicos, sem exceção, 
apresentam carbono, que é um elemento essencial à vida. E, quanto ao nitrogênio (N), 
sabe-se que é dele que se constitui 78% do volume da atmosfera Terrestre.
Talvez seja por isso que o nosso ponto de interrogação (?) seja um anzol de ponta 
cabeça: para pescar não as respostas escondidas nas profundezas das certezas, mas 
para se enroscar naquelas ideias leves que flutuam no meio das nuvens. 
É inclusive um anzol sem fisgas, que é para se enroscar sem se prender. 
O ponto de interrogação também se parece com um balão (?) que suspende os nos-
sos pontos finais e nos leva a passear por entre as brumas, como quem diz: boa per-
gunta, agora relaxe aí e curta o passeio.
http://www.teliga.net/2010/02/apenas-um-pouco-mais-do-que-agua.html
http://www.teliga.net/2010/02/doce-vida-o-papel-dos-carboidratos-nos.html
20 Estudo do Ser Humano Contemporâneo
U2 Saber, sentir e querer: o animal racional
Em síntese, somos constituídos pelos mesmos elementos químicos disponíveis na na-
tureza. Podemos afirmar, portanto, que nascemos da terra, voltaremos a fazer parte da 
terra, como nos lembra o químico Antoine Laurent de Lavoisier, que viveu na França do 
século XVIII. 
Foi assim que ele traduziu a primeira lei da termodinâmica: “Na Natureza nada se cria, 
nada se perde, tudo se transforma”.
Figura 04. Conjunto químico e físico de elementos: modelo de átomo
Por isso, quando morremos, os elementos dos quais somos feitos retornam todos para 
a Terra, e se reintegram na natureza. Os místicos diziam a mesma coisa, só que com 
outras palavras: “Do pó vieste e para o pó tornarás”.
Há textos sagrados que juram que os seres humanos foram feitos do barro. Aliás, você 
sabia que é por isso que somos chamados de humanos? Porque somos feitos de hú-
mus (terra, em grego)? Basicamente, somos “cocô de minhoca”. 
É por isso também que usamos a palavra humilde. Quando alguém nos diz seja humil-
de, está, polidamente, noschama a atenção para: “lembre-se de que você não passa 
de húmus, cocô de minhoca”.
Curiosamente, nos textos sagrados também encontramos uma conexão entre as pala-
vras homem, terra e jardim. Lá no livro das origens dos judeus, que foi escrito em he-
braico, está escrito que Deus fez o homem, Adam, do barro, Adamah, e o colocou num 
jardim, Eden. A aliteração dessas palavras encontra eco nas nossas palavras homem, 
húmus e humanidade.
É por esse motivo também que pessoas sensíveis e preocupadas com a condição hu-
mana e sua integração com o planeta têm nos alertado: nós somos de terra; e mais do 
que isso, nós somos a própria Terra. Somos a terra que respira, que pensa, que sente. 
Nós somos os jardineiros, colocados aqui para cuidar desse maravilhoso jardim.
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21Estudo do Ser Humano Contemporâneo
Saber, sentir e querer: o animal racional
3. ENTRE O SABER E O SER
Consta-se que o termo binomial Homo sa-
piens foi cunhado pelo botânico, zoólogo e 
médico sueco Carl Linnaeus (1707-1778), em 
seu livro intitulado Systema Naturae, escrito 
no século XVIII. Em seu trabalho, Linnaeus 
divide o sistema da natureza em classes, or-
dens, gêneros e espécies, com personagens, 
diferenças, sinônimos e localizações. Com 
isso, essa obra o tornou conhecido como o pai 
da taxonomia moderna. 
Figura 05. Carl Linnaeus (1707-1778)
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Figura 06. Sistema da natureza em três reinos da Natureza
Carl von Linné (1707-1778) Paris, 4ª edição, modificada 
e aumentada pelo autor, 1744, 108 p. Museu Nacional de 
História Natural, Biblioteca Central
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Taxonomia: disciplina da biologia que define os grupos de organismos biológicos com 
base em características comuns e dá nomes a esses grupos.
Linnaeus empregou o termo Homo para designar o gênero ao qual os humanos 
pertencem. Do latim antigo, a palavra hemō (homem) significa, primariamente, “ser 
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/5/56/Caroli_Linnaei%2C_Systema_naturae%2C_4e_ed._%28frontispice_et_page_de_titre%29.jpg
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/5/56/Caroli_Linnaei%2C_Systema_naturae%2C_4e_ed._%28frontispice_et_page_de_titre%29.jpg
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/5/56/Caroli_Linnaei%2C_Systema_naturae%2C_4e_ed._%28frontispice_et_page_de_titre%29.jpg
22 Estudo do Ser Humano Contemporâneo
U2 Saber, sentir e querer: o animal racional
terrestre”. Se o termo homo indica o gênero nessa taxonomia, a expressão sapiens 
(sábio, em latim) designa a espécie. 
O botânico supracitado entendia que, dentre as características que se destacam no 
homo sapiens, estão: o corpo totalmente ereto; a possibilidade de utilizar mãos para 
o manuseio de objetos; e, principalmente, o cérebro altamente desenvolvido, que lhe 
permite o emprego do raciocínio abstrato, o uso da linguagem simbólica e a resolução 
de problemas avançados.
Por essa razão, o humano é visto, primordialmente, como ser de pensamento, dotado 
de consciência e autoconsciência, capaz de construir conhecimento e, ainda mais, de 
estar em permanente busca de autoconhecimento.
A esta altura da nossa conversa, convém nos perguntarmos se há diferenças significativas 
entre informação, conhecimento e sabedoria.
Ora, a informação é a unidade básica da construção do conhecimento. O conhecimento 
só é possível por meio da combinação criteriosa dessas unidades chamadas dados ou 
informações.
Uma enciclopédia está recheada de dados. Contudo, ter acesso a esses dados não 
garante a aquisição do conhecimento. Da mesma forma que a palavra “tristeza”, listada 
num dicionário, não nos deixa automaticamente tristes, a leitura da palavra “riqueza” 
nos torna necessariamente ricos. Assim também uma sequência de palavras, dispostas 
em ordem alfabética ou aleatoriamente, não produz sentido da mesma forma como 
aconteceria em uma frase ou em um parágrafo. O conhecimento é resultado da combi-
nação inteligível dos dados. 
Mas, e a sabedoria?
Uma pessoa com profundo conhecimento de determinada matéria será, necessaria-
mente, sábia? Uma pessoa que domine os intrincados mecanismos que lhe permitem a 
manipulação dos átomos a ponto de ser capaz de criar uma bomba atômica, pode ser 
classificada como sendo uma pessoa sábia?
Ter informação e adquirir conhecimento não garante a sabedoria. Isso ocorre porque a 
sabedoria pressupõe algo para além de um cérebro, altamente, desenvolvido. É preciso 
ter um senso de prioridades e valores que permitam ao sábio utilizar as informações e 
o conhecimento de que dispõe para determinados fins e não para outros.
A que fins o sábio destina a sua sabedoria? Ser é muito mais do que saber.
4. ULTRAPASSANDO AS FRONTEIRAS DA SAPIÊNCIA
O raciocínio lógico, que encontrou sua mais perfeita expressão no conhecimento cien-
tífico, permitiu a nós, humanos, um desenvolvimento extraordinário. Trata-se do tipo de 
conhecimento mais confiável de que dispomos. A ciência nos ajuda a evitar equívocos 
U2
23Estudo do Ser Humano Contemporâneo
Saber, sentir e querer: o animal racional
e a superar muitos preconceitos. Mas temos que admitir que este não é o único tipo de 
conhecimento existente.
Ultimamente, tem-se tratado muito em múltiplas inteligências, tais como: inteligência 
linguística, lógico-matemática, espacial, corporal-cinestésica, interpessoal, intrapesso-
al, naturalística, musical.
Figura 07. Os 9 tipos de inteligência propostos por Howard Gardner
Fonte: elaborada pelo autor.
A perspectiva das múltiplas inteligências nos ajuda a ampliar nossa percepção do que 
significa “sapiens”. E podemos levar em conta ainda outras formas de conhecimento que 
também têm sua legitimidade, tais como o senso comum, a fé, o conhecimento mitológico 
e até mesmo a própria intuição. Cada um tem seu lugar no nosso cotidiano. O que não 
podemos fazer é confundi-los e respeitar as regras e contextos de um em outro. 
ESPACIAL 
Ver o mundo em 3D
NATURALISTA 
Entender os seres 
vivos e a natureza
MUSICAL 
Diferenciar sons, 
rítimos, tons e timbres
EXISTENCIAL 
Questionar o porquê 
vivemos e porquê 
morremos
LINGUÍSTICA 
Encontrar as palavras 
certas para se 
expressar
INTRAPESSOAL 
Entender a si mesmo, 
entender o que se sente 
e o que se quer
INTERPESSOAL 
Entender os sentimentos 
e motivações das 
pessoas
LÓGICO-MATEMÁTICA 
Fazer e provar 
quantificações e hipóteses
CORPORAL-CINESTÉSICA 
Coordenar sua mente 
com o seu corpo
OS TIPOS 
DE INTELIGÊNCIA
24 Estudo do Ser Humano Contemporâneo
U2 Saber, sentir e querer: o animal racional
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Da mesma maneira que não dá certo tentar jogar basquete com as regras do voleibol, 
por mais semelhantes que sejam (ambos são esportes são jogados por dois times, 
usam bola, têm algum tipo de rede, etc.), usar as regras do conhecimento religioso no 
âmbito acadêmico pode trazer complicações desnecessárias. Da mesma forma aconte-
ceria se tentássemos jogar o jogo da fé com as regras da ciência.
Há ainda um tipo de inteligência que merece aqui ser destacado: trata-se da inteligência 
do corpo. Nosso corpo “sabe” coisas que a nossa consciência racional não faz a menor 
ideia. Por exemplo, nosso couro sabe fazer crescer cabelo ou crescer as unhas, inde-
pendentemente da nossa vontade consciente. O corpo de uma mãe de primeira viagem 
sabe gerar no seu ventre um ser humano com toda a sua complexidade sem que a mãe 
tenha tido uma única aula de anatomia ou saiba como funcionam os sistemas respirató-
rio, circulatório, nervoso, digestório, etc. A mãe não sabe, mas o corpo dela sabe!
Há ainda outra perspectiva, descortinada muitorecentemente, que tem nos deixado 
intrigados e curiosos a respeito do que o futuro nos reserva: estamos nos referindo aqui 
à chamada Inteligência Artificial (IA). 
Figura 08. Inteligência Artificial
Fonte: 123RF.
Há quem diga que a profissão de filósofo será uma das mais relevantes nas próximas 
décadas, uma vez que o desenvolvimento da inteligência artificial toma como modelo a 
inteligência natural. E o filósofo é aquele que pensa sobre o pensamento, que estuda o 
processo de construção do conhecimento, e que procura estabelecer os princípios que 
definem o raciocínio lógico. 
Mas, mais do que isso, as demandas por inteligência artificial exigem uma discussão 
profunda sobre valores éticos. Considere o seguinte exemplo: 
Um veículo autônomo está levando seus passageiros para algum lugar e, de repente, 
uma criança em busca de sua bola atravessa a frente do veículo. Um condutor hu-
mano dificilmente conseguiria reagir, de maneira fria e calculista, para considerar as 
alternativas e decidir imediatamente qual ação a ser tomada. No entanto, uma “máqui-
na” computadorizada consegue discernir questões lógicas em frações de segundos, 
U2
25Estudo do Ser Humano Contemporâneo
Saber, sentir e querer: o animal racional
desde que tenha sido programada para isso. Qual seria a decisão certa a tomar? 
Atropelar a criança? Jogar o carro contra um poste e colocar em risco a vida dos pas-
sageiros? Desviar para outro local, correndo o risco de atropelar outros pedestres? E 
assim por diante.
Estamos falando aqui de valores éticos e 
morais. Entre salvar uma criança ou um 
adulto que esteja no veículo, qual decisão 
acarretará menor malefício e maior bene-
fício?
Há quem diga que não demorará muito 
para que as “máquinas” inteligentes se 
deem conta de que a maior ameaça para 
o planeta é o ser humano. Exemplo disso 
é o fato de que o maior número de aci-
dentes automobilísticos se deve a falha 
humana. Com os veículos autônomos e 
autômatos, o número de acidentes tende 
a ser reduzido significativamente.
Será que corremos o risco de virmos a ser anulados pelas máquinas, para que não 
continuemos a cometer erros primários, crimes passionais, a destruir o planeta por pura 
ambição e a cometer outros atos considerados absurdos por afetação ideológica? Ou, 
quem sabe, estejamos tendo a oportunidade de vislumbrar um novo tempo no qual po-
deremos relegar as coisas não essenciais às máquinas, para podermos nos concentrar 
naquilo que é essencial, que nos é próprio. O que de fato nos distingue das máquinas? 
Quais são as coisas essenciais que as máquinas não podem fazer nem podem ser?
Tem-se perguntado se há limites para as máquinas e a inteligência artificial, mas talvez 
devamos começar a nos perguntar se há limites para o que é o ser humano. Temos per-
dido muito tempo fazendo o que outros animais e máquinas podem fazer e, com isso, 
talvez tenhamos deixado de fazer e ser o que realmente somos.
CONCLUSÃO
Bem, recentemente, iniciamos nossa jornada em busca de respostas para algumas das 
maiores perguntas de todos os tempos: o que é o humano? Quem sou eu? Eu sou o que 
eu deveria ser? Sou o que eu gostaria de ser?
Demos os primeiros passos na tentativa de conhecer esse fascinante e estranho animal 
que pensa sobre o pensamento. Inquirimos pela nossa constituição primária, os ele-
mentos químicos dos quais somos feitos e nos reconhecemos como terra que raciocina: 
húmus, humildes humanos. Na sequência, transitamos entre o saber e o ser, procuran-
do entender quais as implicações de nos identificarmos como homo sapiens. E esse 
caminho nos leva a vislumbrar um pouco do que o futuro nos reserva e a considerarmos 
alguns desafios éticos e as possibilidades de ultrapassarmos as fronteiras da sapiência.
Figura 09. Desempenho de carros autônomos em 
rotas com obstáculos
Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/2/29/
Autonomous-driving-Barcelona.jpg. Acesso em: 28 mai. 2021.
26 Estudo do Ser Humano Contemporâneo
U2 Saber, sentir e querer: o animal racional
Reconhecemo-nos como seres de pensamento, dotados de consciência e autoconsci-
ência, capazes de construir conhecimento, em permanente busca de autoconhecimento.
Mapa Conceitual
O ser humano e algumas das mais importantes revoluções que ele provocou ao longo 
da sua existência
Figura 10. Cronologia das revoluções humanas
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Humano 
Moderno
Revolução 
Cognitiva
Revolução 
Agrícola
Anos 
atrás 200.000 70.000 12.000 500 Hoje
Revolução 
Científica
Revolução 
Aumentada
Fonte: elaborada pelo autor. 
Objeto de aprendizado – Filme Human
HUMAN The movie (Director’s cut version) – Português, 2020. 1 vídeo (3hrs 11min 5s). Pu-
blicado pelo canal HUMAN o filme. Disponível em: https://www.youtube.com/channel/UC4m-
GRD3WLYVVc4JI5LrXxUw. Acesso em: 5 mai. 2021. 
Direção: Yann Arthus – Bertrand. França: Bettencourt Schueller Foundation – um projeto da 
Fundação Good Planet, 2015.
Esse impressionante filme documental aborda a variedade de perspectivas dos seres hu-
manos e a complexidade da nossa condição humana por meio de depoimentos impactantes 
das mais diferentes pessoas de diferentes lugares do mundo, condições sociais, etnias e 
cosmovisões. Para tentar entender o que realmente somos, o documentário nos conduz em 
uma intrigante busca por respostas às perguntas cruciais: o que nos torna humanos? Por que 
amamos, por que brigamos? Por que rimos? Choramos? Para onde vamos?
Textos complementares:
I. Sapiens
HARARI, Yuval Noah. Sapiens: uma breve história da humanidade. Tradução de Janaina 
Marcoantonio. 34. ed. Porto Alegre: L&PM, 2018. 
https://www.youtube.com/channel/UC4mGRD3WLYVVc4JI5LrXxUw
https://www.youtube.com/channel/UC4mGRD3WLYVVc4JI5LrXxUw
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27Estudo do Ser Humano Contemporâneo
Saber, sentir e querer: o animal racional
O autor é um dos historiadores em destaque nos últimos anos pela maneira clara e, de certa 
forma, inovadora com a qual tem abordado a história humana. Seus escritos têm ajudado a 
quebrar muitos mitos e visões ingênuas que nós temos sobre nós mesmos. Sua abordagem 
nos ajuda a considerar as contradições da nossa espécie: ao mesmo tempo que somos ca-
pazes de criar as mais belas obras de arte e realizar as mais nobres ações e os mais incríveis 
avanços científicos, também somos os autores das guerras mais cruentas e dos crimes mais 
hediondos. Harari chama atenção para o fato de sermos a única espécie que acredita em 
coisas que não existem na natureza, o que exemplifica com nossa crença em coisas como 
países e nações, dinheiro e códigos legais, e até mesmo nossa crença nos direitos humanos. 
Ainda, menciona as religiões, mas surpreende o leitor ao incluir o capitalismo entre elas. Ou-
tro aspecto surpreendente da sua análise é apontar para o fato de que provavelmente o ser 
humano moderno é mais limitado do que seus ancestrais pré-históricos, que viviam da caça, 
pesca e coleta de frutas e raízes. Naquela ocasião éramos mais hábeis, mais rápidos, mais 
fortes, mais saudáveis e até mesmo mais inteligentes. Aliás, o historiador chega a mencionar 
que o nosso cérebro está diminuindo.
II. HOMO DEUS
HARARI, Yuval Noah. Homo Deus. Tradução de Paulo Geiger. São Paulo: Companhia das 
Letras, 2016. 
O mesmo autor que tentara escrever uma história do passado da humanidade no best seller 
Sapiens tenta, agora, escrever uma história do futuro. Mediante uma abordagem interdiscipli-
nar que combina ciência, história e filosofia, Harari tenta descobrir para aonde estamos indo 
e o que haveremos de ser, a partir de onde estamos e do que somos hoje. Qual será nosso 
destino na Terra? Esta é a pergunta chave do livro.
EDUCANDO PARA A PAZ
29 Estudo do Ser Humano Contemporâneo
U2 Saber, sentir e querer: o animal racional
U2
30Estudo do Ser Humano Contemporâneo
Saber, sentir e querer: o animal racional
31
UNIDADE 3
SABER, SENTIR E QUERER: O 
COMPOSTO RAZÃO-EMOÇÃO
INTRODUÇÃO
Imagine que você vivesse há 15 mil anos em algum lugar inóspito e selvagem, frequen-
temente, cercado dehienas famintas e outros animais ferozes. Imagine ainda que, para 
subsistir, você dependesse da coleta de frutos e raízes ou da caça e da pesca. Então, 
um dia, em suas excursões pela redondeza em busca de alimento, você sofre uma que-
da e quebra o fêmur, o maior osso do corpo humano.
Pela experiência vivida no seu curto período de existência, você teria certeza de que 
seu destino estava traçado, que sua sentença de morte estava selada. Isso porque, na 
natureza, é assim que as coisas funcionam. Quando uma zebra ou uma girafa quebram 
a pata, elas são deixadas para trás, à mercê dos predadores.
Mas naquele dia uma coisa inédita estava prestes a acontecer: outros do seu bando, 
que estavam na mesma excursão por 
comida, resolvem voltar para resgatar 
você. Com cuidado, encontram uma 
maneira de imobilizar a sua perna fratu-
rada e o carregam até um lugar seguro.
Durante os meses seguintes, os inte-
grantes do seu grupo se revezam para 
cuidar do seu bem-estar. Fazem sua 
higiene, afastam os animais selvagens 
e, quando saem para buscar água ou 
comida, trazem uma quantidade a mais, 
para que você tenha o que comer, mes-
mo sem ter saído a campo. Em alguns 
meses, você está perfeitamente recu-
perado e pronto para voltar à sua rotina, 
junto com os demais membros do seu 
grupo.
15 mil anos passados, em uma escava-
ção arqueológica, seu osso é encontra-
do e, surpresos, os arqueólogos se dão 
conta de uma descoberta extraordiná-
ria: um osso do fêmur com sinais de que 
tinha se quebrado, mas que havia sido 
Figura 01. Margaret Mead (1901-1978)
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Margaret_Mead_
(1901-1978).jpg. Acesso em: 7 jun. 2021. 
32 Estudo do ser humano contemporâneo
U3 Saber, sentir e querer: o composto razão-emoção
curado. A análise revela que o dono do osso teria sobrevivido por vários anos depois de 
sofrer o acidente.
Para a antropóloga cultural estadunidense Margaret Mead (1901-1978), esse osso que-
brado e curado se constitui no primeiro sinal de civilização de uma cultura. Isso porque, 
no reino animal, nenhum indivíduo sobrevive com um osso importante como esse que-
brado. “Um fêmur curado é a evidência [de] que alguém foi cuidado”, frase essa que é 
atribuída à antropóloga.
1. PARA ALÉM DA INTELIGÊNCIA RACIONAL
Há várias teorias que tentam explicar como o homo sapiens não só sobreviveu, mas 
como ainda veio a se tornar o espécime mais proeminente do planeta. Numa olhada 
rápida, não haveria muitas razões para isso suceder dessa forma. 
A teoria de que o mais forte sobrevive não se aplica a nossa espécie. Nascemos com-
pletamente indefesos, estamos longe de sermos consi-
derados fisicamente fortes, quando comparados a outros 
animais, mesmo um chimpanzé é muito mais forte do que 
um humano. A teoria de que o nosso cérebro “altamente 
desenvolvido” nos colocou em vantagem parece ser uma 
boa hipótese, mas nem sempre a inteligência é eficiente 
diante de ameaças climáticas e da força bruta. 
A teoria da adaptação é a mais eficaz, porque, de fato, o 
ser humano soube como nenhuma outra espécie transfor-
mar o seu entorno para sobreviver. Sem pelos no corpo 
para se proteger do frio, fabricou roupas e agasalhos. Sem 
dentes grandes e fortes para rasgar e mastigar sua comi-
da, inventou o fogão, o cozido, a cozinha. Sem forças para 
mover objetos pesados, inventou a alavanca e a roda.
Mas ainda temos uma fragilidade a superar. O ser huma-
no, ao nascer, não sobreviveria muito mais que alguns 
pares de horas sem o cuidado de outro ser humano.
Figura 02. Charles Darwin 
(1809-1882)
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/
Ficheiro:Charles_Darwin_seated_crop.
jpg. Acesso em: 7 jun. 2021. 
E aqui chegamos ao nosso ponto: para além da inteligência racional, nossa sobrevivência 
depende da inteligência afetiva. Charles Darwin (1809-1882) certa vez declarou que “a sim-
patia é o nosso instinto mais forte”. 
Nós, seres humanos, sobrevivemos como espécie porque desenvolvemos a extraordi-
nária capacidade de cooperar e de cuidar daqueles que precisam. Naquela micro-his-
tória do fêmur quebrado podemos ver muito da nossa macro-história: a capacidade de 
convivermos, de trabalharmos de maneira coordenada, de planejar e projetar o futuro; a 
valorização da vida e a consciência de que há uma certa dignidade na pessoa humana, 
de que esta merece ser tratada com dignidade e respeito, ainda que ferida ou enferma 
e até mesmo depois de morta. Os primeiros sepultamentos, acompanhados de rituais e 
homenagens, são evidência dessa consciência.
U3
33Estudo do ser humano contemporâneo
Saber, sentir e querer: o composto razão-emoção
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Podemos afirmar, portanto, que não sobrevivemos unicamente por causa da nossa inteligên-
cia racional, mas por causa das nossas inteligências múltiplas e, particularmente, a afetiva.
2. ENTRE O EGOÍSMO E O ALTRUÍSMO, A ENTROPIA E A 
SINTROPIA
Em 1976, o etólogo e biólogo queniano Richard 
Dawkins (1941-) publicou um livro intitulado O 
gene egoísta, no qual procurou demonstrar que 
os organismos são máquinas de reprodução a 
serviço dos genes. Em sua obra, Dawkins defen-
de que o altruísmo, que eventualmente se ob-
serva em muitas espécies, corrobora com o que 
ele chama de “egoísmo do gene”, pois contribui 
para a sua sobrevivência. Dessa perspectiva, o 
egoísmo transparece como característica funda-
mental dos seres vivos, nos quais o altruísmo, 
quando existe, é apenas uma forma de perpetuar 
o indivíduo. O gene, portanto, é quem comanda 
a busca por se perpetuar. Para Dawkins, os or-
ganismos não passam de “máquinas de sobre-
vivência” construídas por genes egoístas, num 
processo competitivo em busca de eficácia.
Figura 03. Richard Dawkins (1941-)
Fonte: https://pt.w
ikipedia.org/w
iki/Ficheiro:R
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hankbone.jpg. A
cesso em
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7 jun. 2021.
DAWKINS, Richard. O Gene Egoísta. Tradução de Rejane Rubino. São Paulo: Com-
panhia das Letras, 2007. 
Neste livro, o autor, queniano de nascimento, se propõe a explicar como espécies 
surgem e se diversificam e também como, no processo evolutivo, os indivíduos se 
relacionam e colaboram entre si.
Por mais paradoxal que seja, o egoísmo e o altruísmo são os grandes responsáveis 
por nossa existência e desenvolvimento. Posto de outra forma, o egoísmo e o altruísmo 
estão um para o outro como a lei da entropia está para a sintropia. 
A teoria da entropia aponta que a tendência para tudo que existe no universo é se de-
sorganizar. Imagine um castelo de areia da praia construído por uma criança. Se ela o 
deixar lá, sob o efeito do sol, da chuva e do vento, em pouco tempo, o castelo estará 
irreconhecível. Ninguém imaginaria que a criança, voltando lá muito anos depois, en-
contraria o castelo reformado, ampliado, mais detalhado e elaborado do que quando o 
vira pela última vez.
Essa é a primeira lei da termodinâmica. A energia gasta é sempre maior do que a 
energia produzida no processo natural. É por isso que as tentativas de criação do mo-
to-contínuo tendem a fracassar. Não existe um motor que produza mais energia do que 
ele gasta.
34 Estudo do ser humano contemporâneo
U3 Saber, sentir e querer: o composto razão-emoção
Não é nosso objetivo resolver esse dilema aqui, mas pensar a esse respeito nos ajuda a 
valorizar certos aspectos da nossa existência que, talvez, passem meio despercebidos 
por muitos de nós.
Nós estamos sempre tentando nos equilibrar entre o cosmos (ordem) e o caos (desor-
dem), entre o altruísmo e o egoísmo, entre a evolução e a extinção, entre a vida e a 
morte. O fato é que, quando o altruísmo prepondera sobre o egoísmo, nós temos mais 
chances de sobreviver, sobretudo os seres humanos.
Que importância tem isso tudo para nós hoje? Acontece que essa compreensão direciona a ma-
neira como edificamos a nossa sociedade. Quando optamos por modelos político-econômicos 
calcados no egoísmo, estamos contribuindo para a nossa extinção. Em contrapartida, se cons-
truímos modelos solidários de sociedade, estamos possibilitandoo nosso desenvolvimento.
3. ENTRE A RACIONALIDADE E A AFETIVIDADE
Até prova em contrário, nós sobrevivemos muito mais por causa da afetividade do que 
por causa da racionalidade.
O filósofo prussiano Immanuel Kant (1724-1804) escreveu, em meados do século XVIII, 
um livro intitulado Crítica da razão pura, em que discute a relação indissociável entre o 
racionalismo e o empirismo. A novidade trazida pelo filósofo está na sua perspectiva de 
que o conhecimento depende de ambos: da teoria e da prática.
Há, no entanto, algo intrigante nessa história: se tudo tende para a desorganização, como 
explicar o processo de complexificação pelo qual os organismos passaram ao longo das 
eras? Como foi possível que, de uma simplíssima ameba unicelular, nós tenhamos evoluído 
até desenvolvermos estruturas tão complexas como o córtex cerebral ou o olho ou todos os 
sistemas, em particular o sistema nervoso central nos nossos corpos?
Figura 04. Immanuel Kant 
(1724-1804)
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Saber, sentir e querer: o composto razão-emoção
Mais recentemente, o sociólogo francês Michel 
Maffesoli, em 2001, publicou o livro Elogio Da 
Razão Sensível. Nessa obra, o autor apresenta 
um método de interpretação do mundo distinto 
daquele do racionalismo iluminista. Nele, o autor 
propõe uma sociologia “da carícia”, que pressu-
põe uma contemplação apaixonada do mundo. 
Trata-se de uma maneira de compreender o mun-
do que se dá muito mais pela sensibilidade do 
que pela racionalidade. Dizendo de outra forma, 
um conhecimento do mundo que se dá pelo afeto, 
pelo emocional, pelo afetual.
Na perspectiva maffesoliana, parafraseando Pas-
cal, a vida tem razões que a razão desconhece, 
pois tais razões se inscrevem no âmbito das emo-
ções, dos sentimentos e das culturas comuns. A 
certa altura, ele distingue indivíduo de pessoa dizendo que o indivíduo tem uma função 
racional, enquanto a pessoa desempenha papéis emocionais. E diz ainda que o corpo 
social, isto é, a sociedade, repousa, antes de mais nada, sobre a colocação dos corpos 
individuais em mútua relação. Assim, a verdadeira vida não está no saber, mas no con-
viver, na experiência sensível espontânea.
Outros pensadores têm chamado a atenção 
para a preponderância do aspecto afetivo da 
condição humana, especialmente aqueles li-
gados à educação, tais como Lev Vygotsky 
(1896-1934), Henri Paul Hyacinthe Wallon 
(1879-1962), Jean Piaget (1896-1980), Paulo 
Freire (1921-1997), Rubem Alves (1933-2014), 
Edgar Morin (1921-), entre outros.
Não somos feitos só de oxigênio, hidrogênio, 
carbono e nitrogênio, afinal. Também somos 
feitos de sentimentos, sensações e emoções. 
A animação Divertida Mente (2015) (Figura 
06), de Pete Docter e Ronnie del Carmen (Dis-
ney/Pixar), ganhou o Oscar de melhor anima-
ção (2016), mas seu mérito vai muito além dos 
aspectos técnicos. Trata-se de uma criativa e 
profunda abordagem dos aspectos emocionais 
no desenvolvimento da pessoa humana.
O roteiro do filme se fundamenta na personifi-
cação das emoções humanas básicas e suas 
interações: medo, tristeza, alegria, nojo e raiva. E representa o processo de construção 
da inteligência afetiva, por meio da formação de vínculos. 
Figura 05. Michel Maffesoli (1944-)
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Figura 06. Divertida Mente – Inside Out 
(2015)
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36 Estudo do ser humano contemporâneo
U3 Saber, sentir e querer: o composto razão-emoção
A emoção se transforma em afeto. E é essa afetividade resultante da emoção que 
perdura. A memória afetiva, marcada pelo amor, amizade, solidariedade, compaixão, 
é a que permanece por mais tempo. Como mencionou o poeta Rubem Alves: “o que a 
memória ama, fica eterno”.
As emoções são tão determinantes que mudam a percepção que temos das coisas ao 
nosso redor: por causa delas, podemos amar um lugar ou odiá-lo, admirar ou desprezar 
pessoas, achar as coisas agradáveis ou desagradáveis. Por essa razão, nossas emo-
ções modelam a maneira como recordamos o passado: se com vergonha ou orgulho, 
se com saudades ou desprezo. 
Nossas lembranças nunca são uma representação fidedigna dos fatos, mas interpretações 
afetivas deles.
As emoções não são determinantes apenas na 
formação das relações interpessoais e na cria-
ção de vínculos duradouros, mas também nas 
rupturas de determinados vínculos. O ponto alto 
do filme acontece quando os protagonistas se 
dão conta de que nem sempre a melhor coisa a 
fazer é suprimir aquelas emoções que conside-
ramos negativas. Tanto é que o papel de hero-
ína da história que, a princípio, é protagonizado 
pela Alegria, passa para a Tristeza. A Tristeza é 
aquela que, no momento certo, coloca ordem no 
caos. Saber identificar e nomear as emoções é 
um bom começo para se alcançar o equilíbrio e a 
maturidade emocional. 
Esse é um filme essencial para todo estudan-
te de psicologia, mas não só, também o é para 
todos aqueles e aquelas que queiram conhecer 
melhor a alma humana.
Outro autor que ganhou notoriedade no final dos anos 1990, foi o psicólogo e jornalista 
científico estadunidense Daniel Goleman (1946-), ao publicar o livro Inteligência emo-
cional. Nessa obra, que se tornaria um best-seller, o autor aponta para o que ele chama 
de cinco pilares da inteligência emocional, tais como apresentados na figura abaixo: 
Figura 07. Daniel Goleman (1946-) 
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Figura 08. Pilares da Inteligência Emocional
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As habilidades 1, 2 e 3 são consideradas intrapessoais e as duas últimas interpesso-
ais. Todas elas são essenciais para o desenvolvimento humano. Goleman relativizava, 
assim, o famoso Quociente de Inteligência (QI), chamando nossa atenção para consi-
deramos também a importância do Quociente Emocional (QE) como elemento determi-
nante, particularmente, para o sucesso no âmbito profissional.
GOLEMAN, Daniel. Inteligência emocional: a teoria revolucionária que redefine o 
que é ser inteligente. Tradução de Marcos Santarrita. Rio de Janeiro: Objetiva, 1995. 
Livro que destacou a importância de se levar em conta o QE (Quociente Emocional), 
além do convencional QI (Quociente de Inteligência) para se medir a qualidade da 
inteligência humana.
Para o antropólogo, sociólogo e filósofo francês Edgar Morin (1921-), a afetividade é 
uma manifestação da inteligência. O autor propõe uma interação dialógica que permita 
o entrelaçamento entre aspectos que estão indevidamente separados, entre eles a ra-
zão e a emoção, o sensível e o inteligível, o real e o imaginário, a razão e os mitos, a 
ciência e a arte.
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Figura 09. Edgar Morin (1921-) 
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MORIN, Edgar. Conhecimento, Ignorância, Mistério. Rio de Janeiro: Bertrand Bra-
sil, 2020. 
Ensaio escrito por um dos mais destacados educadores da atualidadeno que trata 
dos limites do conhecimento, do mistério que a humanidade carrega consigo. São 
palavras do autor: “Vivo cada vez mais com a consciência e o sentimento da presença 
do desconhecido no conhecido, do enigma no banal, do mistério em todas as coisas 
e, em particular, dos avanços do mistério em todos os avanços do conhecimento.”
No livro Saberes globais e saberes locais: o olhar transdisciplinar, de 2000, o sociólogo 
afirma que o nosso cotidiano vive sempre em busca de sentido. Esse sentido, porém, 
não provém da exterioridade de nossos seres, antes, emerge da participação, da fra-
ternização, do amor.
CONCLUSÃO
Nestas reflexões, procuramos oferecer elementos para uma compreensão mais ampla 
e integradora da nossa condição humana, demonstrando que podemos ir muito além do 
aspecto racional. Mais que seres racionais, também somos seres de afeto, de emoção, 
de sentimentos e de sensibilidades.
Mas isso não é tudo. Há ainda um outro aspecto que é próprio do humano que requer de 
nós a nossa mais interessada atenção: o fato de sermos seres livres, de uma maneira 
que nenhum outro ser vivo é. Disso trataremos na sequência.
Mapa Conceitual
Sugestão/Proposta ao Centro de soluções: Desenhar um infográfico baseado na ilus-
tração a seguir:
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Saber, sentir e querer: o composto razão-emoção
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Fonte: https://cesvale.edu.br/wp-content/uploads/2017/01/8_Inteligencias.png. Acesso em: 7 jun. 2021. 
Usar apenas a ideia!
Na legenda da ilustração poderá constar: 
“O humano é ser sensível e sensorial, dotado de inteligência emocional e afetiva e mo-
tora.” — Ilustração criada com base na teoria desenvolvida por investigadores da Uni-
versidade de Harvard, sob a liderança do psicólogo Howard Gardner (década de 1980).
Figura 10. Mapa Conceitual 
INTRAPESSOAL
LÓGICO-MATEMÁTICACORPORAL-CINESTÉSICA
LINGUÍSTICA
ESPACIAL
MUSICALINTERPESSOAL
NATURALISTA
“O humano é ser sensível e 
sensorial, dotado de inteligência 
emocional e afetiva e motora.” 
— Ilustração criada com base 
na teoria desenvolvida por 
investigadores da Universidade 
de Harvard, sob a liderança 
do psicólogo Howard 
Gardner (década de 1980).
Fonte: elaborada pelo autor.
Para conhecer mais a respeito do tema que tratamos aqui, indicamos para leitura dois 
artigos:
01. “As relações entre afetividade e inteligência no desenvolvimento psicológico”
SOUZA, Maria Thereza Costa Coelho de. As relações entre afetividade e inteligência 
no desenvolvimento psicológico. Psicologia: Teoria e Pesquisa, vol. 27, n. 2, p. 249-
254, jun. 2011. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pi-
d=S0102-37722011000200005&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 21 abr. 2021. 
Artigo no qual a autora discute as relações entre afetividade e inteligência no desen-
volvimento psicológico. A abordagem parte das perspectivas psicogenéticas de quatro 
teóricos modelares: Piaget, Wallon, Vygotsky e Freud.
02. “A ciência não é totalmente científica.”
SOUSA, Jair Moisés de; ALMEIDA, Maria da Conceição Xavier de. A ciência não é 
totalmente científica. Paradigma, vol. 37, n. 2, p. 106-124, dez. 2016. Disponível em: 
40 Estudo do ser humano contemporâneo
U3 Saber, sentir e querer: o composto razão-emoção
http://ve.scielo.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1011-22512016000200009&ln
g=es&nrm=iso. Acesso em: 21 abr. 2021.
Ambos, autor e autora, abordam o conhecimento a partir das ciências da complexida-
de, como ato biológico, animal, humano, psíquico e existencial. Destacam ser o pen-
samento humano caracterizado pela “existencialidade” resultante de uma constelação 
de fatores, assumindo que os desejos, os temores, as fantasias, a cultura, as crenças 
e o tempo histórico se infiltram em nossas ideias e contaminam a relação entre sujeito 
e conhecimento. E, por essa razão, não é sustentável a suposição da neutralidade 
científica. Daí a conclusão: a ciência não é totalmente científica.
Texto Complementare (Documentário):
01. I Am
I AM: você tem o poder de mudar o mundo. Direção de Tom Shadyac. Elenco: Desmond Tutu, 
Noam Chomsky, Ray Anderson. Estados Unidos: Universal Pictures, 2010. (80 min).
A produção que ficou conhecida como “I AM” procura responder a questões 
bem básicas, levantadas pelo diretor de Hollywood Tom Shadyac: O que 
está errado no mundo? Que podemos fazer sobre isso?
O diretor Tom visita escritores, poetas, professores, líderes religiosos e cien-
tistas — dentre eles: Howard Zinn, Lynn McTaggart, Desmond Tutu, Thom 
Harmann, Coleman Barks —, e lhes dirige as mesmas perguntas básicas. 
Faz isso tentando descobrir o problema fundamental que causa todos os 
outros problemas. Considera as respostas relacionando-as com as suas pró-
prias escolhas e opções de vida. O resultado é admirável, pois Tom Shadyac 
decide mudar radicalmente seu estilo de vida, de acordo com o que conside-
ra realmente importante. Essa produção nos ajuda a também repensarmos 
as nossas próprias opções e a hierarquizar mais consistentemente o nosso 
dia a dia, além de entender melhor como funciona na natureza o dilema que 
nos coloca entre o egoísmo e o altruísmo.
EDUCANDO PARA A PAZ
42
UNIDADE 4
SABER, SENTIR E QUERER: 
LIBERDADE E DECISÃO
INTRODUÇÃO
Imagine que você é uma formiga operária. Durante milhões de anos, o formigueiro 
funcionou da mesma maneira, com as formigas desempenhando impecavelmente suas 
respectivas funções na colônia: a rainha, enorme, com suas asas imponentes, é res-
ponsável pela postura dos ovos; os machos têm função meramente reprodutiva; mas as 
operárias, fêmeas estéreis, são as que realizam todos os demais trabalhos na colônia, 
principalmente a coleta de alimentos e escavação dos túneis do formigueiro.
Nesses milhões de anos, nunca se ouviu falar em uma rebelião das formigas, exigindo 
mudanças no sistema de castas da colônia ou protestando a respeito das mordomias da 
rainha, nem da ociosidade dos machos, ou exigindo melhoria nas condições de trabalho. 
Imagine que, certa manhã, você acorda e, num insight, toma consciência do quanto 
você, operária, é desfavorecida nesse sistema de castas.
Bem, para não dizer que isso nunca aconteceu, sabemos de pelo menos dois casos, 
ambos nas telas do cinema: Formiguinhaz e Vida de Inseto.
Formiguinhaz (1998) é um longa de animação produzido pela Dreamworks. A personagem 
principal é uma formiga operária chamada Z, frustrada por ter que realizar um trabalho re-
petitivo e monótono que parecia não ter sentido nem trazer qualquer tipo de satisfação ou 
realização pessoal. Além disso, essa formiga operária acaba se apaixonando pela princesa, 
filha da rainha da colônia, sendo essa uma paixão impossível num sistema de castas.
Figura 01. Formiguinhaz
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Vida de Inseto (1998), produzido pela Disney/Pixar, tem como protagonista uma formiga 
desajustada chamada Flik, que tem estranhas ideias que perturbam a ordem na colônia, 
pois procura modificar o modo como as coisas funcionam no formigueiro e na natureza.
Por que essas histórias de rebeldia nos interessam? Porque nos damos conta de que 
a nossa condição humana só é possível porque somos homo sapiens, isto é, seres de 
razão e consciência; homo affectivus, seres sensíveis, emotivos e amorosos; e, ainda 
homo volens, seres de vontade, dotados de liberdade pela qual, diferente de qualquer 
outra espécie, podemos fazer escolhas éticas.
Figura 02. Vida de Inseto
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1.
 
A BUG’S Life (br. Vida de Inseto). Direção de John Lasseter. Estados Unidos da Amé-
rica: Pixar Animation Studios e Walt Disney Pictures. 1998. (95 min.)
ANTZ (br. FormiguinhaZ). Direção de Eric Darnell eTim Johnson. Estados Unidos da 
América: Estados Unidos da América: Dreamworks Animation. 1998. (83 min.)
1. QUEDA OU LIBERTAÇÃO DO INSTINTO
O ser humano é, essencialmente, um ser rebelde, inconformado, que não se sente 
pronto, está permanentemente se reinventando. Não é como as borboletas, as tartaru-
gas marinhas ou os patos selvagens, que têm uma programação genética irretorquível 
que determina seu comportamento e dita, por exemplo, quando e para onde devem 
migrar no período de acasalamento, ou mesmo, sem precisar receber nenhuma instru-
ção de um indivíduo adulto, já nascem sabendo o que têm de fazer e para onde têm de 
voar ou nadar.
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44Estudo do ser humano contemporâneo
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Não deixa de ser intrigante pensarmos que pro-
vavelmente, por muitas e muitas eras, os nos-
sos ancestrais se comportavam como as outras 
espécies, prisioneiros dos seus instintos. Re-
produziam o script da natureza, isto é, agiam de 
acordo com o que estava prescrito no DNA. Mas 
em algum momento aconteceu uma grande re-
volução, talvez a maior de todas as revoluções 
do universo: um dos nossos tataravôs ou tatara-
vós resolveu desobedecer aos instintos e esco-
lheu agir de maneira diferente.
Filósofos como Jean-Jacques Rousseau (1712-
1778) defendiam a noção de que houve um es-
tágio pré-civilizatório no qual nossos ancestrais 
ainda eram selvagens. Essa teria sido uma fase 
amoral, pois, vivendo em estado de natureza, 
não haveria consciência do bem ou mal. Não 
havendo sociedade, os seres dispunham de sua 
vida em conformidade com os instintos, cujas 
limitações únicas eram aquelas impostas pela 
natureza. Rousseau entendia que nesse tempo éramos livres. Contudo, uma pessoa 
limitada pelos instintos não é, exatamente, livre. A liberdade pressupõe a faculdade de 
fazer escolhas, e aquele indivíduo que vive por instinto está condenado a agir sempre 
de acordo com o que lhe ditam os seus impulsos mais primitivos.
Não é difícil perceber que os instintos presentes em qualquer espécime vivo atuam di-
ferentemente sobre os seres humanos. Mesmos os impulsos mais primitivos, tais como 
os de sobrevivência, conservação, desejo sexual, competição, agressão, nem sempre 
dominam o comportamento humano. Ao contrário, na maior parte do tempo, o ser hu-
mano luta consigo mesmo para controlar seus instintos. E essa é uma das particularida-
des que nos distanciam dos “selvagens”.
Figura 03. Jean-Jacques Rousseau 
(1712-1778)
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1.
 
A Queda dos Homens
Nos livros sagrados das chama-
das religiões Abraâmicas (juda-
ísmo, cristianismo e islamismo), 
há uma história que narra a 
transição dos seres humanos 
de um estado de inocência para 
um estado de culpa, de um 
tempo de perfeita obediência 
e harmonia com a natureza e 
o próprio Deus para um estado 
de desobediência e de ruptura 
dessa harmonia. Os primeiros 
seres humanos, Adão e Eva, 
Figura 04. A tenção de Adão e Eva no Paraíso, de 
Jan Brueghel I (1590)
Fonte: https://picryl.com
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edia/jan-brueghel-
i-the-tem
ptation-of-adam
-in-paradise-abc1db. 
A
cesso em
: 20 abr. 2021.
45 Estudo do ser humano contemporâneo
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que viviam com Deus em um jardim paradisíaco, se deixam enganar pela serpente e 
cedem à tentação de comer determinado fruto, justo aquele que tinha sido terminan-
temente proibido por Deus. A narrativa diz que nesse instante o homem e a mulher 
tomaram consciência de que estavam nus e, envergonhados, tentaram se esconder. 
Mas foram encontrados por Deus e acabaram sendo expulsos do Paraíso.
Teriam os mitos da Queda, presentes em tantas culturas, uma outra razão de ser que 
não a de apontar nossa separação do ser divino? Seriam eles uma tentativa de explicar 
a nossa passagem da condição de selvagens para a condição de humanos?
Ao que parece, somos rebeldes, porque nos recusamos a seguir o script dos instintos, 
do DNA, da natureza e, quem sabe, aqueles ditados pelos deuses. Por essa razão não 
deve nos surpreender que os seres humanos também questionem certas regras sociais 
e rompam com costumes e tradições. Tudo porque, quanto mais livres dos instintos nós 
formos, mais livres nós somos para escolher o que queremos ser. É preciso ser livre 
“de”, para se ser livre “para”.
2. QUERER, PODER E DEVER
O filósofo brasileiro Mario Sergio Cortella (1954-), em suas palestras sobre Ética, costuma 
falar sobre o dilema que vivemos cotidianamente, como seres humanos, todas as vezes que 
temos que tomar decisões, pois nos deparamos com três perguntas fundamentais: Quero? 
Posso? Devo? Isso porque, explica ele, há coisas que queremos, mas não podemos.
Figura 05. Mario Sergio 
Cortella (1954-)Fonte: https://upload.w
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ikipedia/com
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cesso em
: 7 jun. 2021. 
Quero fazer uma turnê pela Europa, mas não posso porque não tenho recursos fi-
nanceiros suficientes para isso. Há, também, coisas que queremos e podemos, mas 
não devemos. Pense em alguém que deseje se drogar. Essa pessoa quer e, se tiver 
recursos, pode, mas talvez não deva, por vários motivos: ou porque é proibido por lei 
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46Estudo do ser humano contemporâneo
Saber, sentir e querer: liberdade e decisão
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ou porque essa atitude poderá prejudicá-lo de várias maneiras na sua saúde física, 
emocional, relacional, profissional... E há, ainda, aquelas coisas que podemos e deve-
mos, mas não queremos. Pense nas obrigações que temos de pagar contas ou impos-
tos. Fazemos isso porque devemos e podemos, mas nem sempre porque queremos.
Com isso, temos diante de nós um horizonte que, mais uma vez, nos distingue signifi-
cativamente dos demais seres vivos. E isso traz sérias implicações: se o dilema entre 
querer, poder e dever se tornar insolúvel, em determinadas situações, o resultado pode 
ser muito frustrante e corremos o risco de experimentarmos momentos de tristeza, de-
pressão e infelicidade. Por outro lado, naqueles momentos em que há a convergência 
entre querer, poder e dever, então vivenciamos aqueles momentos sublimes de plena 
satisfação, alegria e felicidade. E esses momentos, mesmo sendo raros (ou, talvez, 
justamente por serem raros) fazem tudo valer a pena. 
É verdade que um animal que viva subordinado aos seus instintos não experimente o mes-
mo tipo de frustração, tristeza, depressão ou infelicidade, como os humanos. Mas também 
é verdade que nunca experimentará a plena satisfação, alegria e felicidade dos humanos.
01. Assista à entrevista concedida por Mario Sergio Cortella ao Jô Soares, na qual ele 
fala de ética e das três perguntas fundamentais: Quero? Posso? Devo? (Ver especial-
mente a partir do minuto 12:30): 
PROGRAMA do Jô. Professor Mario Sergio Cortella lança livro, 2021. 1 vídeo (21 min 
47s).Publicado por Globoplay. Disponível em: https://globoplay.globo.com/v/844221/. 
Acesso em: 20 abr. 21.
02. No vídeo a seguir, o filósofo polonês Zygmunt Bauman (1925-2017), em entrevista 
exclusiva concedida ao Núcleo de Pesquisa em Estudos Culturais, comenta a respeito 
da dicotomia entre a liberdade e a segurança, dizendo (a partir do minuto 21:50): 
Há dois valores essenciais que são absolutamente indispensáveis 
para uma vida satisfatória, recompensadora e relativamente feliz: 
Um é segurança e o outro é liberdade. [...] Segurança sem liberda-
de é escravidão, e liberdade sem segurança é um completo caos. 
(BAUMAN, 2011, [n. p.])
ENTREVISTA exclusiva Zygmunt Bauman, 2011. 1 vídeo (29 min 41s). Publicado 
pelo canal Núcleo de Pesquisa em Estudos Culturais. Disponível em: https://youtu.
be/1miAVUQhdwM. Acesso em: 20 abr. 21.
3. CICLO E DESEJO MIMÉTICO
O brilhante René Girard (1923-2015), filósofo, antropólogo, historiador, sociólogo, entre 
tantas outas coisas, ficou muito conhecido por uma teoria

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