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ALANA MILCHESKI
FLÁVIA GISELE NASCIMENTO
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A
Código Logístico
59572
Fundação Biblioteca Nacional
ISBN 978-85-387-6685-8
9 7 8 8 5 3 8 7 6 6 8 5 8
Arte e Cultura 
Alana Milcheski 
Flávia Gisele Nascimento
IESDE BRASIL
2020
© 2020 – IESDE BRASIL S/A. 
É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito das autoras e do 
detentor dos direitos autorais.
Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: Envato Elements
Todos os direitos reservados.
IESDE BRASIL S/A. 
Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 
Batel – Curitiba – PR 
0800 708 88 88 – www.iesde.com.br
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO 
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
M587a
Milcheski, Alana
Arte e cultura / Alana Milcheski, Flávia Gisele Nascimento. - 1. ed. - 
Curitiba [PR] : IESDE, 2020. 
118 p. : il.
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-387-6685-8
1. Arte. 2. Arte e sociedade. 3. Cultura. I. Nascimento, Flávia Gisele. II. 
Título.
20-65155 CDD: 700
CDU: 7
Alana Milcheski
Flávia Gisele 
Nascimento
Mestre em História pela Universidade Estadual 
do Oeste do Paraná (Unioeste). Especialista em 
Formação Docente para EaD pelo Centro Universitário 
Internacional Uninter. Graduada em História pela 
Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Tem 
experiência como docente no ensino superior e, 
atualmente, produz conteúdo e material didático para 
graduação em diversas áreas. 
Mestre em Educação pela Universidade Federal do 
Paraná (UFPR). Especialista em Ensino de Artes, com 
concentração em Teatro, pela Faculdade Padre João 
Bagozzi. Licenciada em Artes Visuais pela Universidade 
Tuiuti do Paraná (UTP). Atuou como professora de 
Arte na educação básica por dez anos e é autora de 
artigos científicos na área. Atualmente, é professora 
colaboradora no curso de Licenciatura em Artes Visuais 
da Universidade Estadual do Paraná (Unespar).
SUMÁRIO
Agora é possível acessar os vídeos do livro por 
meio de QR codes (códigos de barras) presentes 
no início de cada seção de capítulo.
Acesse os vídeos automaticamente, direcionando 
a câmera fotográ�ca de seu smartphone ou tablet 
para o QR code.
Em alguns dispositivos é necessário ter instalado 
um leitor de QR code, que pode ser adquirido 
gratuitamente em lojas de aplicativos.
Vídeos
em QR code!
SUMÁRIO
Agora é possível acessar os vídeos do livro por 
meio de QR codes (códigos de barras) presentes 
no início de cada seção de capítulo.
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Em alguns dispositivos é necessário ter instalado 
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1 Breve panorama sobre arte e cultura 9
1.1 Conceito de arte 9
1.2 Conceito de cultura 13
1.3 Relação entre Arte e História 18
1.4 Relação entre Arte e Sociologia 21
1.5 Os gabinetes de curiosidades e museus 24
2 As interfaces e abordagens da arte 31
2.1 Arte e política 31
2.2 Arte e tecnologia 34
2.3 Arte e comunicação 38
2.4 Multiculturalidade e interculturalidade 41
2.5 Interdisciplinaridade 44
3 Aspectos teóricos da arte moderna e contemporânea 48
3.1 O contexto histórico da Revolução Industrial 48
3.2 O surgimento da Indústria Cultural 52
3.3 Consumo 55
3.4 Globalização 58
3.5 Pós-modernidade 62
4 Movimentos artísticos modernos e contemporâneos 68
4.1 Contexto histórico da arte moderna 68
4.2 Vanguardas artísticas: expressionismo, cubismo e futurismo 71
4.3 Vanguardas artísticas: dadaísmo e surrealismo 75
4.4 O movimento pop art 77
4.5 O surrealismo pop como expressão da contemporaneidade 81
5 Educar para preservar 86
5.1 A origem do patrimônio 86
5.2 Categorias do patrimônio 90
5.3 Educação patrimonial 97
5.4 O patrimônio cultural em debate 103
5.5 Conservação e restauração 107
Gabarito 115
A arte e a cultura estão presentes no nosso cotidiano, mas, na correria 
do dia a dia, muitas vezes não paramos para observá-las, apreciá-las e 
senti-las. Ao longo da história, esses conceitos foram mudando e, agora, 
podem ser vistos por diferentes perspectivas, dependendo da sociedade 
que os produz e das áreas pelas quais são analisados.
Cada capítulo desta obra irá tratar das conexões da arte e da cultura 
com outros saberes. Primeiramente, serão apresentadas as diferentes 
teorias sobre esses conceitos e, depois, as conexões com a História e com 
a Sociologia. Em seguida, abordaremos algumas interfaces da arte com 
a política, com a tecnologia e com a comunicação, além das diferentes 
abordagens da cultura no ensino de Arte. 
Entre os temas que serão tratados, temos a associação da produção 
artística com o seu contexto histórico, principalmente em relação aos 
movimentos que ficaram conhecidos como vanguardas artísticas. 
Teceremos, também, algumas considerações acerca da arte no contexto 
contemporâneo, buscando enfatizar aspectos característicos da nossa 
sociedade, como a pós-modernidade, a globalização e o consumo. 
Refletiremos, ainda, sobre as produções artísticas e culturais no 
decorrer do tempo, pois é fundamental considerarmos os aspectos 
referentes às noções de patrimônio e preservação desses bens, 
evidenciando a importância de ações que busquem proteger o legado 
existente para a posteridade. 
Ao pesquisar temas relacionados à arte e à cultura, temos a 
possibilidade de acessar um conhecimento que nos conecta uns aos 
outros, pois estamos adentrando um universo de ideias, pensamentos 
e ações que foram voltados para a expressão da humanidade nos mais 
diversos contextos históricos.
Boa leitura e bons estudos!
APRESENTAÇÃO
Vídeo
Breve panorama sobre arte e cultura 9
1
Breve panorama sobre 
arte e cultura
Como seria uma sociedade sem arte e sem cultura? É muito 
difícil conseguirmos imaginar isso, porque, no contexto em que 
estamos inseridos, convivemos diariamente com referências ar-
tísticas e culturais.
Ir a uma exposição, assistir a um show ou cozinhar uma receita 
tradicional são exemplos de ações que estão inseridas no univer-
so cultural. Muitas vezes, em razão do ritmo acelerado dos dias de 
hoje, acabamos nem percebendo a presença da arte e da cultura 
em nossas vidas.
Neste capítulo, iremos percorrer um caminho que busca iden-
tificar algumas das principais relações que estabelecemos com a 
arte e com a cultura, tendo acesso a diversas abordagens sobre 
esses temas.
Inicialmente, é importante compreendermos os dois con-
ceitos que nomeiam este livro, tendo em vista que eles fazem 
referência a diversas maravilhas criadas pelos seres humanos 
no decorrer do tempo.
Posteriormente, vamos entender como se estabelece a relação 
da Arte com outras duas áreas: a História e a Sociologia. Para con-
cluir, veremos como surgiram as principais instituições voltadas para 
a preservação dos bens culturais e artísticos. Preparado para come-
çar a jornada pelo mundo do conhecimento?
1.1 Conceito de arte 
Vídeo Nesta seção, vamos apresentar algumas concepções sobre o que é 
arte. Provavelmente, ao contemplar uma pintura, escutar uma música, 
ver uma peça de teatro ou um espetáculo de dança você já ouviu ou fez 
a pergunta “isto é arte?”.
Mas, afinal, o que é arte?
10 Arte e Cultura
Essa é uma questão que não apresenta apenas uma resposta, o 
conceito de arte tem diferentes perspectivas e é mutável; em cada pe-
ríodo da história, essa ideia é reformulada.
Como diz o professor Read (2013, p. 15), a arte “é um dos conceitos 
mais indefiníveis da história do pensamento humano”.
Para algumas culturas, a palavra arte nem existe, como para vários 
povos indígenas brasileiros, por exemplo. Na etnia Kaingang, a palavra 
que tem o significado mais próximo é vida.
Diante disso, a arte está presente no nosso cotidiano, podendo es-
tar em espaços abertos, como nas ruas, nas praças, nos parques,nos 
sambódromos, e, também, nos espaços fechados, como nos museus, 
nas igrejas, nos cinemas, nos teatros, nas galerias e na sua casa.
Muitos artistas, filósofos e escritores apresentaram a sua visão do 
que é arte. Vamos conhecer algumas delas?
Segundo as pesquisadoras Ferraz e Fusari (2010, p. 101), “a arte é 
uma das mais inquietantes e eloquentes produções do homem”. Para 
o escritor Bourriaud (2009, p. 147), arte “é uma atividade que consiste 
em produzir relações com o mundo com o auxílio de signos, formas, 
gestos ou objetos”. Já para o filósofo Deleuze (1992, p. 215), “a arte é 
o que resiste: ela resiste à morte, à servidão, à infância, à vergonha”. E 
o poeta Ferreira Gullar diz que a “arte existe porque a vida não basta”.
Essa frase se tornou o título de um filme em homenagem ao artista.
A arte tem várias linguagens, como as artes visuais, o teatro, a dança, 
a música, a literatura, dentre outras. Cada uma tem a sua especificidade, 
suas técnicas, seus suportes e materiais. Ela pode ter diferentes temá-
ticas, estilos, formas e estéticas, podendo ser representativa, abstrata, 
imaginativa e distorcida. Além disso, pode provocar diferentes sentidos, 
sentimentos e reações no espectador, como tristeza, alegria, nojo, medo, 
saudades, prazer e admiração. É importante destacar que a arte é uma 
área de conhecimento que tem conteúdos e metodologias próprias.
Conforme a Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996, conhecida 
como Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), o ensino da 
arte é “componente curricular obrigatório na Educação Básica” (BRASIL, 
1996). Um professor de arte que é comprometido:
propicia aos estudantes conhecimento, inerente aos traba-
lhos artísticos, de como vivem e convivem outros povos, gêne-
ros, etnias, religiões, classes sociais etc.; aprende mais sobre a 
No livro O que é arte, Jorge 
Coli faz uma trajetória 
por diversos períodos da 
história da arte, questio-
nando quem define o que 
é arte e apresentando 
diferentes concepções.
COLI, J. São Paulo: Brasiliense, 2013. 
(Coleção Primeiros Passos).
Livro
Confira o documentário 
A arte existe porque a vida 
não basta, produzido pe-
los cineastas Zelito Viana 
e Gabriela Gasta. O filme 
retrata o poeta Ferreira 
Gullar em suas diferentes 
dimensões.
Direção: Gabriela Gastal; Zelito 
Viana. Brasil: Mapa Filmes, 2016.
Filme
Breve panorama sobre arte e cultura 11
tolerância, o respeito e o diálogo com o diferente e o plural nas 
diversas leituras de mundo e nas contextualizações histórico-so-
ciais compreendidos nos trabalhos de arte. (MARQUES; BRAZIL, 
2014, p. 37)
Já uma obra de arte pode ser uma referência histórica. Por meio 
dela, podemos saber como era a arquitetura, a moda, os costumes de 
um determinado período da história com o olhar do artista que a criou, 
seja uma pintura, uma escultura, uma música, uma dança ou uma peça 
de teatro.
Na famosa obra Guernica, o artista espanhol Pablo Picasso repre-
senta o bombardeio da cidade que leva o mesmo nome, que aconteceu 
em 1937, durante a Guerra Civil Espanhola, e matou milhares de pes-
soas. Assim como Picasso, outros artistas retrataram, nas diferentes 
linguagens da arte, episódios da trajetória da humanidade.
Mural da pintura Guernica, de Picasso, feito em azulejos.
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Falando em história, você sabe quando surgiu a arte na história? 
Segundo os historiadores de arte Gombrich (2013) e Proença (2008), ela 
inicia com a arte rupestre, que recebeu esse nome por serem pinturas 
e gravuras feitas nas rochas, com representações de formas geomé-
tricas, animais e do cotidiano das pessoas que viviam naquela época. 
Conforme diversos arqueólogos e historiadores, esses registros artísti-
cos são de aproximadamente 44 mil anos atrás.
Quer ver com mais detalhes a 
obra Guernica, do artista Pablo 
Picasso? Veja o vídeo Guernica 
3D, publicado pelo canal 
hellArte, que mostra a obra 
em 3D.
Disponível em: https://www.
youtube.com/watch?v=jc1NfxX
4c5LQ. Acesso em: 30 jun. 2020.
Vídeo
https://www.youtube.com/watch?v=jc1Nfx4c5LQ
https://www.youtube.com/watch?v=jc1Nfx4c5LQ
https://www.youtube.com/watch?v=jc1Nfx4c5LQ
12 Arte e Cultura
O Brasil dispõe de várias manifestações artísticas desse período e, 
além disso, tem o parque com a maior quantidade de pinturas rupes-
tres do mundo, o Parque Nacional da Serra da Capivara, localizado no 
estado do Piauí.
Segundo o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional 
(IPHAN, 2020), o parque – inaugurado em 1979, fundado e gerido pela 
antropóloga Niède Guidon – conta com aproximadamente 400 sítios 
arqueológicos e é considerado patrimônio da humanidade desde 1991.
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Pinturas rupestres no Parque Nacional Serra da Capivara, em São Raimundo Nonato, no Piauí.
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Breve panorama sobre arte e cultura 13
Você consegue identificar quais figuras estão representadas? Per-
ceba que a pintura rupestre tem várias cores e tonalidades, elas eram 
feitas com pigmentos naturais, como carvão vegetal, minerais, sangue, 
gordura e ossos queimados de animais, dentre outros materiais. Eram 
utilizados como ferramenta gravetos, pelo de animais e até a própria 
mão para criar os desenhos.
Desde esse período até os dias atuais, os artistas utilizam, experi-
mentam e criam diferentes materiais, suportes, técnicas e formas para 
se expressar, conforme o seu contexto histórico e a sua cultura. O poe-
ta Paes (1990, p. 38) pensa a cultura como
tudo aquilo de que a gente se lembra após ter esquecido o que 
leu. Revela-se no modo de falar, de sentar-se, de comer, de ler 
um texto, de olhar o mundo. É uma atitude que se aperfeiçoa no 
contato com a arte. Cultura não é aquilo que entra pelos olhos, é 
o que modifica seu olhar.
A arte e a cultura estão diretamente conectadas. Assim como a arte, 
a cultura tem diferentes significados. Na próxima seção, confira outras 
concepções desse termo.
Para saber mais sobre a 
arte rupestre, assista ao 
vídeo Niède Guidon e as 
origens do homem americano 
(1990), publicado pelo canal 
VerCiência. Trata-se de uma 
reportagem-documentário 
sobre as pesquisas da 
arqueóloga no Piauí.
Disponível em: https://www.youtube.
com/watch?v=oX7oToVioC0&t=427s. 
Acesso em: 30 jun. 2020.
Vídeo
Quer conhecer outras 
concepções de arte? Assista 
aos trechos do vídeo Celso 
Favaretto no Itaú Cultural: 
É isso arte?, publicado pelo 
canal Flavio Desgranges. 
Disponível em: https://www.youtube.
com/watch?v==XXG71XwqwII&tX
330s. Acesso em: 12 jun. 2020.
Vídeo
1.2 Conceito de cultura 
Vídeo Nos dias de hoje, o conceito de cultura é amplamente utilizado, 
seja nos meios de comunicação, seja no cotidiano das pessoas. Apesar 
disso, você já percebeu que raramente paramos para refletir sobre o 
seu significado? Historicamente, não temos como especificar o exato 
momento em que esse termo começa a ser utilizado, porém, se con-
siderarmos a etimologia da palavra, poderemos ter alguns indícios de 
sua origem.
A palavra cultura vem do latim colere, cujo significado fazia referên-
cia a diversos tipos de ações. Conforme explica Williams (2007, p. 117, 
grifos nossos):
Colere tinha uma gama de significados: habitar, cultivar, pro-
teger, honrar com veneração. Alguns desses significados final-
mente se separaram nos substantivos derivados, embora ainda 
haja superposições ocasionais. Dessa maneira, “habitar” desen-
volveu-se do latim colonus até chegar a colony (colônia). “Honrar 
com veneração” desenvolveu-se do latim cultus até chegar a cult 
https://www.youtube.com/watch?v=oX7oToVioC0&t=427s
https://www.youtube.com/watch?v=oX7oToVioC0&t=427s
https://www.youtube.com/watch?v=-XG-71wqwUI&t=330shttps://www.youtube.com/watch?v=-XG-71wqwUI&t=330s
https://www.youtube.com/watch?v=-XG-71wqwUI&t=330s
14 Arte e Cultura
(culto). Cultura assumiu o sentido principal de cultivo ou cuidado, 
incluindo, como em Cícero, cultura animi, embora com significa-
dos medievais subsidiários de honra e adoração.
No contexto do século XVI, o termo era utilizado para fazer referên-
cia à ideia de cultivo, principalmente em termos agrícolas, assim como 
fazia menção às noções de habitar e cultuar.
Já no século XVIII, o termo se aproxima da noção contemporanea-
mente utilizada e começa a fazer referência ao desenvolvimento das 
potencialidades humanas, considerando, por exemplo, as obras artísti-
cas como representantes de uma determinada cultura.
A utilização do conceito de cultura no sentido figurado que atualmen-
te conhecemos começou a ser empregada em fins do século XIX, fazen-
do referência a tipos de cultura distintos. É nesse momento que a cultura 
deixa de ser compreendida somente como uma ação específica para en-
globar o entendimento sobre as diversas formas de manifestação social.
Para entendermos melhor a história desse conceito, é necessário 
compreendermos o contexto histórico em que esse termo começa a 
ser empregado, no sentido de descrever ações sociais voltadas para o 
desenvolvimento das faculdades humanas.
Inicialmente, podemos destacar a polarização entre a utilização do 
conceito francês de cultura e do conceito alemão, que ocorreu no sé-
culo XIX, visto que, ainda no século XVIII, o termo cultura foi inserido no 
idioma alemão, por meio do conceito de kultur.
Esse contexto foi marcado pela consolidação das noções de civilida-
de e de nacionalismo, que influenciaram o desenvolvimento do concei-
to de cultura e, consequentemente, o seu significado.
Para os alemães, inicialmente, o conceito de cultura era utilizado 
como uma espécie de sinônimo para civilização, entendimento asso-
ciado à noção francesa. Esse significado era utilizado principalmente 
pela aristocracia alemã, que admirava a corte francesa, considerada 
elevada.
Para os intelectuais alemães, entretanto, o conceito de cultura de-
veria ser distinto da noção de civilização, porque, para essa categoria, a 
aristocracia compartilhava cerimoniais bastante supérfluos, o que fazia 
com que ela não fosse autêntica em termos culturais.
Breve panorama sobre arte e cultura 15
A intelectualidade alemã considerava, então, que a aristocracia po-
deria ser civilizada, porém sem possuir sua própria cultura, enfatizando 
o quanto a formulação desse conceito esteve relacionada à questão da 
estratificação social, principalmente em relação aos embates entre os 
aristocratas e os intelectuais.
O conceito alemão de Kultur, no emprego corrente, implica uma 
relação diferente, com movimento. Reporta-se a produtos huma-
nos que são semelhantes a “flores do campo”, a obras de arte, 
livros, sistemas religiosos ou filosóficos, nos quais se expressa a 
individualidade de um povo. (ELIAS, 1994, p. 24, grifos do original)
Dessa forma, podemos considerar que o conceito alemão de cultura 
se torna mais restrito em comparação ao francês, buscando destacar o 
significado referente à produção cultural.
Em relação ao conceito de nacionalismo, é com base nesse contexto 
que a cultura vai começar a ser compreendida como um conjunto de 
características que englobam diversos aspectos de um país; por exem-
plo, os diferentes tipos de alimentação, de habitação e de costumes 
sociais. O sushi, no Japão, a pizza, na Itália, o croissant, na França, e a 
empanada, na Argentina, são exemplos de características culturais re-
ferentes à alimentação.
Esse embate entre franceses e alemães sobre o conceito de cultura 
originou dois entendimentos específicos sobre o significado do termo, 
que são recorrentemente utilizados atualmente nas Ciências Humanas.
Enquanto o conceito francês contribuiu para o desenvolvimento da 
noção universalista, que considera a cultura de uma perspectiva mais 
geral, o alemão contribuiu para a noção particularista, sendo que am-
bos buscaram estabelecer uma definição para cultura.
O conceito de cultura é polissêmico, ou seja, pode ter significados 
diversos, dependendo do contexto e da intenção com a qual for em-
pregado. Por isso, não pretendemos esgotar o debate acerca dessa 
questão, mas sim operacionalizar o entendimento que iremos ter no 
decorrer do texto em relação ao conceito de cultura.
Consideramos que a pluralidade de um conceito demonstra sua 
complexidade, já que, variando de acordo com o contexto histórico, o 
termo cultura passou por processos de ressignificação.
Cada sociedade tem o seu 
próprio entendimento do conceiX
to de cultura. Por esse motivo, 
devemos evitar qualquer tipo de 
generalização e de hierarquiX
zação entre as diversas culturas 
existentes, buscando valorizar 
a diversidade regional e as suas 
características.
Importante
16 Arte e Cultura
Um dos conceitos de cultura que iremos utilizar faz referência à 
compreensão de sua perspectiva simbólica, que engloba a noção de 
fenômenos culturais.
Embora possa haver pouco consenso em relação ao significado do 
conceito em si, muitos analistas concordam que o estudo dos fenô-
menos culturais é uma preocupação de importância central para 
as ciências sociais como um todo. Isto porque a vida social não é, 
simplesmente, uma questão de objetos e fatos que ocorrem como 
fenômenos de um mundo natural: ela é, também, uma questão 
de ações e expressões significativas, de manifestações verbais, 
símbolos, textos e artefatos de vários tipos, e de sujeitos que se 
expressam através desses artefatos e que procuram entender a 
si mesmos e aos outros pela interpretação das expressões que 
produzem e recebem. (THOMPSON, 2011, p. 165)
Os símbolos, assim como as manifestações sociais em suas diversas 
formas, podem ser considerados uma parte integrante da noção de cul-
tura, pois representam o grupo ou a sociedade na qual são elaborados.
Um exemplo da utilização de símbolos em uma produção cultural 
é a representação do calendário elaborado pela sociedade Maia, na fi-
gura a seguir, que mostra, entre outras características, a concepção do 
tempo cíclico.
Representação dos símbolos presentes no calendário Maia.
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Dessa forma, a utilização do conceito de cultura pode ser feito de 
maneira multidisciplinar, pois os fenômenos culturais podem ser abor-
dados por diversas áreas do saber que utilizam recortes temáticos para 
analisar os bens culturais, sejam eles materiais ou imateriais.
Breve panorama sobre arte e cultura 17
Outro sentido possível é o entendimento de que existe uma cons-
trução do saber feita de modo coletivo, compreendida como uma ex-
pressão ou um objeto resultante de diversos processos sociais.
Um exemplo é a tradição musical de uma determinada região ou 
comunidade, que é elaborada por várias pessoas, como cantores, mú-
sicos, compositores etc. É necessário que ao menos parte da população 
desse lugar se identifique com as canções produzidas e considere-as 
pertencentes à sua própria cultura. Dessa forma, para que um estilo 
de música seja considerado representante de uma cultura específica, 
é necessário que, de maneira direta ou indireta, a comunidade esteja 
envolvida no processo.
Em relação ao uso do conceito de cultura na análise científica, 
cabe destacarmos que se relaciona, frequentemente, com as demais 
perspectivas, como a política e a economia.
Outra concepção possível do conceito de cultura teve origem na 
área da antropologia, em fins do século XIX, sendo composto de uma 
postura de análise descritiva dos diversos modos de vida que fazem 
parte de uma sociedade.
Nessa interpretação, ocorre uma tentativa de descrever as produ-
ções culturais, sejam elas objetos originados da atividade humana, 
como obras de arte, ou a representação imaterial dos valores, hábitos 
e crenças de um determinado grupo.
No contexto contemporâneo, o significado de cultura se amplia 
de modo considerável, principalmentepela inserção de novas for-
mas de produção dos bens culturais, em decorrência das inovações 
tecnológicas.
Um dos exemplos nesse sentido pode se dar por meio do resgate 
histórico proporcionado pela história dos meios de comunicação, que 
nos permite compreender a complexidade de criações como a máqui-
na fotográfica e o cinema.
Por fim, destacamos que “o estudo da cultura contribui no com-
bate a preconceitos, oferecendo uma plataforma firme para o res-
peito e a dignidade nas relações humanas” (SANTOS, 2005, p. 8). 
Assim, o estudo da cultura pode proporcionar a valorização e o res-
peito às diversas formas culturais existentes, sem estabelecer uma 
hierarquização entre elas.
O livro Meio Sol Amarelo, 
da escritora nigeriana 
Chimamanda Ngo-
zi Adichie, aborda o 
contexto da Guerra de 
Biafra, uma guerra civil 
originada, entre outros 
motivos, por questões de 
diferenças culturais. Esse 
livro o ajudará a aprofun-
dar seus estudos sobre 
a importância da cultura 
em nível social
ADICHIE C. N. São Paulo: Companhia 
das Letras, 2017.
Livro
18 Arte e Cultura
1.3 Relação entre Arte e História 
Vídeo Ao pensarmos nas diversas possibilidades de relacionar a História 
com a Arte, cabe considerarmos como ocorreu o surgimento do campo 
de estudos denominado História da Arte, que se consolidou de modo 
acadêmico durante o século XIX.
Ainda no século XVI, podemos observar os primórdios da perspec-
tiva de análise que viria a ser característica da História da Arte, como a 
abordagem da vida dos pintores e a relação deles com o contexto em 
que viveram.
A historicização da arte se torna objeto de racionalização nos es-
critos do pintor florentino Giorgio Vasari (1511-1574), autor de 
uma série de biografias de artistas que possibilitam uma “leitura” 
retrospectiva da evolução das artes, pintura, escultura e arquite-
tura, desde Giotto, no início do século XIV. A historiografia da arte 
nasce como concepção do tempo histórico. A obra Vidas dos mais 
ilustres pintores, escultores e arquitetos…, publicada pela primeira 
vez em Florença em 1550, com uma segunda edição ampliada em 
1568, apresenta uma série de biografias de artistas e assinaturas 
individuais, que, além de amparar o desejo do artesão-pintor e do 
artesão-escultor de conquistar um reconhecimento social como 
profissional liberal, introduz a primeira interpretação teleológica 
da arte. (HUCHET, 2014, p. 226)
Posteriormente, com o status acadêmico, a História da Arte se cons-
tituiu uma extensão do saber histórico. É durante o século XIX que sur-
gem as primeiras disciplinas nas universidades europeias voltadas para 
o estudo dessa área, delimitando, temporalmente, o surgimento dela 
como a conhecemos atualmente.
Uma das principais características desse campo é a abordagem que 
relaciona a produção artística e o seu contexto histórico, tornando-se 
um tópico indispensável para a elaboração de análises que busquem 
compreender a obra de arte.
Outra característica da História da Arte é a percepção da existência 
dos diversos movimentos artísticos, que surgiu de uma análise da pro-
dução artística em escala ampliada, buscando identificar as semelhan-
ças e as diferenças entre os diversos contextos históricos.
Breve panorama sobre arte e cultura 19
Frequentemente, os movimentos artísticos se relacionam com seus 
predecessores, seja no intuito de reafirmar ou de negar as característi-
cas da forma e/ou do conteúdo. Por isso, para entendermos um movi-
mento artístico, é necessário compreender, também, o movimento que 
o antecedeu, para identificar essas vinculações.
Destacamos, inicialmente, as principais contribuições da História 
para o estudo da Arte, porém, também cabe destacarmos os acrésci-
mos dessa relação na produção do conhecimento histórico.
Por meio da arte como fonte de pesquisa, o historiador pode ter 
acesso ao contexto histórico de diversos períodos, podendo elaborar 
sua análise de acordo com as obras selecionadas.
Tudo o que os seres humanos produziram ao longo da história, desde 
algo extremamente sólido e impactante, como uma fortaleza, até uma 
manifestação muito mais delicada e fluida, como uma cantiga de ninar, 
reflete a relação que estabelecem entre si e com o meio que os cerca.
Estabelecer a relação entre Arte e História, considerando a 
perspectiva de áreas distintas entre si, foi possível graças ao desenvol-
vimento da interdisciplinaridade, uma vez que esse conceito foi funda-
mental para o surgimento e desenvolvimento de diversos campos de 
estudo, como o da Cultura Material.
A aproximação interdisciplinar possibilitou às diversas áreas percebe-
rem que possuíam a Cultura Material como um objeto de estudo em co-
mum, variando a abordagem ou a metodologia específica de cada análise.
A cultura material, compreendida como bens produzidos pela ação 
humana que possuem um suporte físico, relaciona-se diretamente com 
o corpo, pois ambos estão na materialidade, já que a condição do ob-
jeto permite ao indivíduo a experimentação dos sentidos sensoriais, 
como o toque, o olfato e o olhar.
Dessa forma, podemos considerar que a cultura material é um pon-
to de aproximação entre a área da História e a área da Arte, permitindo 
uma troca de conhecimento acerca de uma mesma tipologia de fonte.
Em termos de cultura material, um dos exemplos mais conhecidos 
mundialmente é o Coliseu romano, inaugurado em 80 d.C., um anfitea-
tro que servia para o entretenimento da população, com lutas entre os 
gladiadores.
A interdisciplinaridade contribui 
para o desenvolvimento de uma 
perspectiva mais abrangente 
e vista por diversos ângulos. 
Busque pesquisas de duas áreas 
pertencentes ao campo da 
Cultura Material e compare as 
diferenças e semelhanças entre 
as metodologias utilizadas.
Desafio
20 Arte e Cultura
Fotografia do Coliseu romano, na Itália. 
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Já no que se refere à área da História da Arte, que mencionamos no 
início desta seção, atualmente, diversos aspectos têm promovido uma mu-
dança significativa, como o desenvolvimento tecnológico, por exemplo.
Os desafios atuais passam pelo inevitável alargamento do campo 
e da tipologia do objeto de análise, bem como pelo recurso neces-
sário a novas metodologias na sua abordagem. Isso não significa, 
contudo, que não permaneçam válidos e operativos métodos e 
perspectivas que pertencem ao core da disciplina, tal como se 
foi concebendo, estruturando e expandindo ao longo de século 
e meio. É bom não esquecer que continuarão a ser estudadas 
manifestações artísticas do passado e não apenas do presente. 
Os avanços da História, da Arqueologia, ou da Literatura Compa-
rada, por exemplo, continuarão a trazer contributos para uma 
História da Arte, que continuará a propor enfoques parcelares 
para melhor iluminar o conjunto. No domínio dos novos ângulos 
de abordagem, que visam gerar novas sínteses, é difícil fugir às 
narrativas clássicas dominantes. (MACHADO, 2008, p. 527)
As alterações decorrentes da contemporaneidade, como a globali-
zação, também influenciam a produção do conhecimento referente à 
História da Arte, pois, cada vez mais, as discussões sobre as culturais 
nacionais se fazem presentes.
Apesar dessas mudanças, cabe destacarmos que existem diversos 
referenciais já consolidados na prática do fazer histórico da Arte, que 
continuaram a ser utilizados como embasamento para a construção 
desse saber.
O filme Caçadores de 
obras-primas é ambien-
tado no contexto da 
Alemanha nazista e tem 
como base uma história 
real sobre um grupo de 
especialistas em arte 
enviados à Europa para 
resgatar centenas de 
obras que haviam sido 
saqueadas pelos nazistas. 
Aproveite para aprofun-
dar seu conhecimento 
sobre a relação entre 
contexto histórico e arte.
Direção: George Clooney. Alemanha; 
EIA: Columbia Pictures; 20th 
Century Fox, 2014. 
Filme
Breve panorama sobre arte e cultura 21
Por fim, podemos observar que diversas alterações estão em curso 
no que se refere à relação estabelecida entre a Arte e a História;porém, 
essa aproximação conseguiu demonstrar a importância de se consi-
derar ambas as perspectivas na elaboração do conhecimento, consoli-
dando a prática interdisciplinar de diálogo entre as áreas.
1.4 Relação entre Arte e Sociologia 
Vídeo Como vimos na seção anterior, a Arte tem uma relação bastante pro-
veitosa com a História, porém, existem outras áreas do conhecimento que 
também estabelecem diálogo muito significativo, como a Sociologia.
Nesse sentido, podemos considerar que “a sociologia e as artes confi-
guram relações teóricas e processuais possíveis, necessárias e visíveis nos 
campos científico, organizacional e comunitário” (AZEVEDO, 2017, p. 30).
Para além dos debates acadêmicos, a relação que se estabelece en-
tre a Arte e a Sociologia se estende para outros campos da vida em 
sociedade, contribuindo para uma perspectiva mais reflexiva das pro-
duções culturais feitas pelos seres humanos.
Uma das características da prática sociológica se constitui por meio 
da aproximação entre o embasamento científico e a análise social pelas 
experiências humanas.
A prática docente do sociólogo constitui a prática científica e pe-
dagógica acumulada e estruturada, mas enformada/informada 
pelas experiências pessoais e profissionais ligadas à investigação 
empírica e aos projetos de intervenção (a investigação aplicada). 
Nesse sentido, o investigador pode dominar as técnicas e o sa-
ber-fazer e, nesse quadro, desenhar uma leitura dos processos 
sociais. (AZEVEDO, 2017, p. 39)
Dessa forma, justamente por lidar com as experiências humanas 
em nível social, o pesquisador dessa área deve, necessariamente, con-
siderar seus próprios referenciais na elaboração de suas abordagens.
Essa prerrogativa também é necessária nas pesquisas e nos estu-
dos elaborados de Arte, sendo fundamental que o pesquisador esteja 
consciente de suas preferências estéticas, a fim de evitar que sua aná-
lise seja com base somente em opções pessoais.
22 Arte e Cultura
O surgimento da Sociologia da Arte se originou de discussões rela-
cionadas a questões estéticas e de perspectiva histórica, que buscavam 
evidenciar a importância da utilização do conceito de sociedade.
Considerarmos a perspectiva sociológica na arte significa ponde-
rarmos sobre a sociedade na produção de uma obra artística, ou seja, 
compreendê-la para além das características atribuídas pelo artista, 
buscando contextualizá-la no meio em que foi produzida.
Atualmente, temos presenciado um aumento em relação à inserção 
das temáticas artísticas nas mais variadas áreas do saber. Alguns fato-
res contribuem para a explicação desse contexto.
Cotidianamente, convivemos com centenas de imagens, que nos 
são ofertadas das mais variadas formas, por exemplo, por meio da te-
levisão e da internet. Nesse sentido, a perspectiva simbólica é uma das 
principais características da contemporaneidade, o que torna a com-
preensão dos símbolos uma ação indispensável em nível social.
Outro fator que também pode ser considerado para o aumento do 
interesse pelas temáticas artísticas é a constante transformação do 
conceito de obras de arte, que, cada vez mais, engloba diferentes for-
matos e estilos.
Atualmente, assiste-se a entrada, nos museus, do grafite, do hip-
-hop, de trabalhos de coletivos de arte, o que seria impensável há 
tempos atrás. De outra perspectiva, a ordem cultural tornou-se 
mais fluida, desestruturando as antigas fronteiras entre a alta 
cultura e a cultura popular e rompendo as relações entre estra-
tos sociais e estilos de vida. (CÂMARA, VILLAS BÔAS, BISPO, 2019, 
p. 470)
Com a aproximação da noção de sociedade, a obra de arte deixa de 
ser representada somente por si mesma e passa a ser compreendida 
pelas diversas relações estabelecidas socialmente.
Uma análise interessante que demonstra a importância da pers-
pectiva social na abordagem da obra de arte faz referência à Fonte, de 
Marcel Duchamp.
Na Fonte, a obra de arte não reside na materialidade do objeto pro-
posto (aqui, um mictório), mas no ato de propô-lo para uma expo-
sição no Salon des Indépendants; nas muitas histórias que narram 
como chegou a não ser exposto e como, por fim, ressurgiu quatro 
décadas mais tarde na forma de réplicas vendidas a algumas gale-
rias e museus; nos muitos protestos e até atos de vandalismo que 
Um dos estilos que tem 
conquistado cada vez 
mais seu espaço é a arte 
de rua, como o grafite e 
o estêncil. Um dos princi-
pais artistas da atualidade 
é Bansky, que utiliza esse 
pseudônimo e nunca 
revelou publicamente 
a sua identidade. Você 
pode ter acesso às obras 
desse artista acessando o 
site a seguir.
Disponível em: https://www.
banksy.co.uk/out.asp. Acesso em: 
30 jun. 2020.
Site
https://www.banksy.co.uk/out.asp
https://www.banksy.co.uk/out.asp
Breve panorama sobre arte e cultura 23
provocou; nos comentários infindáveis que continuam a construir 
seu mito etc. Ou seja, a obra de arte abandonou o objeto produzi-
do pelo artista para investir em contextos, palavras, ações, coisas, 
números... Daí a importância do contexto na arte contemporânea: 
é impossível contar a história da Fonte sem mencionar e explicar 
o contexto do Salon des Indépendants, a ausência de jurados, a 
presença de Duchamp entre os organizadores etc. etc. (HEINICH, 
2014, p. 377, grifos do original)
Duchamp foi um artista do século XX que simbolizou diversos pre-
ceitos da arte moderna, a começar pela sua obra mencionada, compos-
ta de um mictório produzido em escala industrial.
A obra foi inscrita em uma exposição organizada pela Sociedade 
de Artistas Independentes em Nova Iorque, sendo exposta por trás 
de uma tela, devido à decisão do conselho da associação do qual Du-
champ fazia parte e que se retirou logo em seguida.
Apesar da repercussão inicial, a Fonte se tornou uma das principais 
obras de arte, tanto do Dadaísmo quanto da Arte Moderna, justamente 
por fazer referência ao contexto do artista, marcadamente industrial.
Esse caso é um exemplo de como a obra de arte precisa ser com-
preendida em seu contexto, pois a um observador desatento, que des-
conhece os diversos aspectos em relação a produção da Fonte, pode 
considerá-la um simples objeto, desprovido de valor artístico.
Réplica da Fonte de Duchamp, no Musee Maillol, em Paris.
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24 Arte e Cultura
O artigo A ‘Fonte’ de Duchamp faz cem anos. Qual foi o impacto (e o legado) do 
mictório como obra de arte, de 2017, escrito por Juliana Domingos de Lima e 
publicado pelo Nexo Jornal, aborda o processo de criação da obra, relacio-
nando-o com o contexto histórico do período e abordando o seu legado, em 
termos artísticos.
Acesso em: 30 jun. 2020. 
https://www.nexojornal.com.br/expresso/2017/03/05/AX%E2%80%98Fonte%E2%80%99XdeXDuchampX
XfazXcemXanos.XQualXfoiXoXimpactoXeXoXlegadoXdoXmict%C3%B3rioXcomoXobraXdeXarte
Artigo
1.5 Os gabinetes de curiosidades e museus 
Vídeo Para a sociedade contemporânea, o acúmulo de objetos é uma prá-
tica relativamente comum. Guardamos diversos tipos de bens mate-
riais, seja por necessidade ou por recordação.
Mas quando os seres humanos começaram a praticar o acúmulo 
de objetos? É muito difícil apresentarmos uma data específica, porém, 
podemos considerar que esse início tenha sido com o processo de se-
dentarismo, no contexto de surgimento da Idade Antiga.
Apesar disso, podemos considerar como um dos marcos históricos 
em relação à prática da acumulação de bens materiais o surgimento 
dos gabinetes de curiosidade, lugares destinados à preservação de di-
versos objetos. Esses espaços podem ser considerados os antecesso-
res do museu moderno, pois demonstram a tentativa de preservar os 
objetos para as gerações posteriores.
O contexto histórico que deu origem aos gabinetes de curiosidade 
se passou na Europa do século XVI, época marcada pela chegada dos 
europeus em território americano.
Com a exploração de novos territórios, foram encontrados novos 
espécimes e objetos, considerados exóticos por não seremoriginários 
do espaço europeu.
Dentre esses diversos objetos, podemos citar a presença de fósseis 
e de bens culturais materiais, tendo em vista que também houve rela-
tos inverídicos sobre a existência de objetos místicos nessas coleções, 
como vestígios de dragões.
https://www.nexojornal.com.br/expresso/2017/03/05/A-%E2%80%98Fonte%E2%80%99-de-Duchamp-faz-cem-anos.-Qual-foi-o-impacto-e-o-legado-do-mict%C3%B3rio-como-obra-de-arte
https://www.nexojornal.com.br/expresso/2017/03/05/A-%E2%80%98Fonte%E2%80%99-de-Duchamp-faz-cem-anos.-Qual-foi-o-impacto-e-o-legado-do-mict%C3%B3rio-como-obra-de-arte
Breve panorama sobre arte e cultura 25
A formação dos gabinetes de curiosidade teve influência do conhe-
cimento enciclopédico, que contribuiu para a estipulação de duas divi-
sões dos objetos: a Naturalia e a Mirabilia.
Outra característica dos gabinetes de curiosidade foi a difusão de 
catálogos e a elaboração de ilustrações científicas que, com o passar 
do tempo, foram sendo ampliados e evidenciaram a importância da 
classificação dos objetos preservados.
O desenvolvimento do Renascimento como movimento cultural 
também contribuiu para a existência dos gabinetes de curiosidade, 
com incentivo das elites europeias, pois a aquisição de coleções era 
restrita às classes sociais mais abastadas, que tinham condições de 
adquirir e manter os diversos bens selecionados.
A partir do século XVII, os gabinetes de curiosidade foram deixando 
de existir, principalmente em razão do surgimento de coleções espe-
cializadas, que instituíram novas formas de categorização dos objetos.
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Fonte: REMPS, D. Gabinete de Curiosidade, 1690, óleo sobre tela. 99 x 137 cm. Museu dell’Opificio delle Pietre Dure, Florença, Itália. 
Já a palavra museu tem origem no termo grego mouseion, que era 
o nome dado ao Templo das Musas, na Grécia Antiga, que eram as 
filhas de Zeus com a deusa Mnemosine; esta simbolizava a memória. O 
templo já abrigava várias referências à arte e à cultura, com as musas 
representando aspectos relacionados a esse universo, como Clio, musa 
da história, e Euterpe, musa da música.
A categoria Naturalia era 
composta de espécimes do meio 
natural, sendo classificados em 
três reinos: animalia (animal); 
vegetalia (vegetal) e mineralia 
(mineral). Já a categoria Mira-
bilia incluía objetos produzidos 
pela ação humana, por isso 
tinha a classificação chamada 
artificiali.
Saiba mais
26 Arte e Cultura
Cronologicamente, o termo museu começou a ser 
empregado no Renascimento para designar espaços 
destinados a guardar objetos e artefatos culturais. 
Podemos considerar que:
os museus e demais espaços de cultura 
são depositários da memória de um povo, 
encarregados pela preservação das obras 
produzidas pela humanidade, com suas 
histórias, com os meios próprios de que 
dispõem. São espaços de produção de co-
nhecimento e oportunidades de lazer. Seus 
acervos e exposições favorecem a constru-
ção social da memória e a percepção crítica 
da sociedade. (COELHO, 2009, p. 5)
Em 2001, durante a Assembleia Geral do 
International Council of Museums (ICOM), o concei-
to de museu foi ampliado para abranger outras ins-
tituições, como os centros culturais.
Além de o museu ser um espaço destinado à 
preservação do patrimônio por excelência, foi cria-
do com a ideia de representar, majoritariamente, as 
classes altas e suas memórias, bem como os ideais 
nacionais.
Reconhecidamente, o primeiro museu foi o 
Louvre, criado no ano de 1793, após a Revolução 
Francesa. Ele permitiu maior acesso aos bens rela-
cionados aos reis e à nobreza, também auxiliando 
na consolidação do nacionalismo francês.
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Pintura da musa Euterpe, de Camille Roqueplan 
(1803-1855). 
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Pintura da musa Clio, de Pierre Mignard (1612-1695). 
Breve panorama sobre arte e cultura 27
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Fotografia do museu do Louvre, em 2017.
No Brasil, a primeira instituição museológica a ser criada foi o 
Museu Real, atualmente conhecido como Museu Nacional, no estado 
do Rio de Janeiro. Foi instituído ainda no período colonial, no ano de 
1818. A maioria dos outros museus no país foram criados já no século 
XX, principalmente após a década de 1920.
Para além dos marcos históricos relacionados à construção dos edi-
fícios, é possível também traçarmos um histórico dos museus por meio 
de suas coleções e dos objetos que abrigam.
A história dos museus poderia se inspirar nos caminhos dos ma-
terial studies e da antropologia para rever seus pontos de vista, e 
passar do ponto de vista da instituição para aquele dos objetos 
tradicionalmente qualificados como objetos de museu. A definição 
desses objetos evoca um certo número de características, sua quali-
dade, particularmente a qualidade histórica e artística, ou ainda pa-
trimonial, a capacidade de suscitar “amigos” em torno deles, enfim, 
sua utilidade pública. (POULOT, 2013, p. 27, grifo nosso)
Um exemplo de objeto que faz parte da maioria dos museus, porém 
é pouco estudado de maneira separada, são os tecidos, que recente-
mente têm sido valorizados nos estudos nacionais.
Em 2 de setembro de 
2018, o Museu Nacional 
sofreu um incêndio 
devastador, e o evento 
foi considerado uma 
catástrofe da história 
da instituição. Diversas 
instituições se movimen-
taram para a recons-
trução do museu. Veja 
mais informações no site 
AgênciaBrasil.
Disponível em: https://agenciabrasil.
ebc.com.br/geral/noticia/2019X08/
reconstrucaoXdoXmuseuXnacionalX
entraXemXnovaXfase. Acesso em: 30 
jun. 2020.
Saiba mais
https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2019-08/reconstrucao-do-museu-nacional-entra-em-nova-fase
https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2019-08/reconstrucao-do-museu-nacional-entra-em-nova-fase
https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2019-08/reconstrucao-do-museu-nacional-entra-em-nova-fase
https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2019-08/reconstrucao-do-museu-nacional-entra-em-nova-fase
28 Arte e Cultura
Embora ainda sejam pouco mencionados, “as menções aos tecidos 
são eventuais, como por certo foram eventuais os registros dos próprios 
museus e pesquisadores sobre aqueles objetos” (PAULA, 2006, p. 253).
Um dos fatores que impactam essa realidade é o próprio suporte 
físico do tecido, que tende a ser um objeto com uma existência relati-
vamente baixa, mesmo nas condições adequadas, embora a presença 
dessas condições possa contribuir para o prolongamento da vida útil 
dos materiais têxteis.
Além da perspectiva relacionada ao estudo dos objetos museológi-
cos em contrapartida à história das instituições, na atualidade, impor-
tantes debates sobre a concepção do espaço do museu e de sua função 
social têm surgido.
Dentre os tópicos desses debates, destacamos as reflexões acerca 
da relação estabelecida entre o museu e o público que o frequenta, 
considerando que, cada vez mais, esses espaços têm sido frequenta-
dos por grandes públicos, bastante diversos entre si em alguns casos, 
modificando a ideia de que os museus eram destinados somente às 
classes altas.
Outro aspecto referente às temáticas contemporâneas sobre o mu-
seu é a especialização em conjunto de temas, processo que só come-
çou a acontecer de maneira significativa a partir do século XX, quando 
se multiplicaram os museus de arte e de ciência.
Enfatizamos ainda a relação entre o espaço museológico e os meios 
de comunicação, como a televisão e a internet, os quais, em um primei-
ro momento, pareciam anunciar o fim dessas instituições, mas anun-
ciavam somente o término da sua obsolescência.
O museu atual é, desse modo, um lugar bastante diferenciado de 
seus precursores no século XVIII, pois interage com as novas tecnolo-
gias, seja na constituição e conservação de seus acervos ou na comu-
nicação institucional. Também existem mudançassignificativas quanto 
ao espaço físico, como a anexação de locais destinados à alimentação 
e à venda de souvenirs.
A obra Inovações, coleções, 
museus é composta de 
13 artigos que abordam 
diversas temáticas rela-
cionadas ao patrimônio, 
às instituições e às 
inovações que permeiam 
esse universo. Tem um 
enfoque significativo no 
processo de formação 
das coleções e nos espa-
ços por elas ocupados. 
Os autores têm diversas 
nacionalidades e forma-
ções, o que proporciona 
um olhar abrangente 
sobre o patrimônio e 
de seus mais variados 
aspectos.
BORGES, M. E. L. (org.). Belo 
Horizonte: Autêntica Editora, 2011. 
Livro
Breve panorama sobre arte e cultura 29
CONSIDERAÇÕES 
FINAIS
A arte e a cultura se constituem práticas fundamentais da vida em 
sociedade, tendo cada contexto histórico seu próprio entendimento so-
bre o significado desses conceitos. Dessa forma, é indispensável que a 
diversidade cultural seja valorizada e preservada, pois ela representa as 
diferentes formas de manifestação humana nos mais variados espaços e 
períodos.
Nesse sentido, as áreas do conhecimento, como Arte, História e Socio-
logia, devem ser respeitadas em âmbito social, pois se dedicam ao estudo 
e à preservação das diversas formas culturais e artísticas, buscando abor-
dá-las em seus contextos.
A preservação não deve ficar restrita somente aos lugares destinados 
para isso, como os museus, mas deve ser uma realidade presente no co-
tidiano, por meio da conscientização individual.
ATIVIDADES
1. A noção de cultura pode variar conforme o contexto no qual ela está 
inserida, e as características culturais de um grupo ou de um país 
fazem referência a esse processo. Considerando as discussões sobre 
o conceito de cultura, discorra sobre essa concepção evidenciando 
algumas das principais características culturais de uma sociedade.
2. A Arte estabelece relações com diversas áreas do conhecimento, 
como a História e a Sociologia; a interdisciplinaridade é um fato 
que contribuiu para essa aproximação. Explique de que maneira 
a perspectiva interdisciplinar contribui para o desenvolvimento do 
conhecimento na área da Arte.
3. Na condição de instituição, os museus em geral têm buscado cada 
vez mais atualizar-se em relação ao contexto contemporâneo, 
desenvolvendo ações e práticas que permitem maior interação por 
dos visitantes. Cite exemplos de mudanças no espaço museológico 
que contribuem para a adequação ao contexto atual.
30 Arte e Cultura
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PAULA, T. C. T. de. Tecidos no museu: argumentos para uma história das práticas curatoriais 
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POULOT, D. Another history of museums: from the discourse to the museum-piece. Anais 
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PROENÇA, G. História da arte. São Paulo: Ática, 2008.
READ, H. A educação pela arte. Trad. de Valter Lellis Siqueira. São Paulo: WMF Martins 
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SANTOS, J. L. dos. O que é cultura. São Paulo: Brasiliense, 2005.
THOMSPON, J. B. Ideologia e cultura moderna: teoria social crítica na era dos meios de 
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WILLIAMS, R. Palavras-Chave: um vocabulário de cultura e sociedade. São Paulo: Boitempo, 
2007.
As interfaces e abordagens da arte 31
2
As interfaces e 
abordagens da arte
A arte tem várias interfaces e abordagens e, neste capítulo, 
apresentaremos algumas delas. Mas, afinal, o que é interface e 
abordagem?
Interface é uma palavra que tem diferentes significados, vamos 
utilizá-la no sentido de comunicação entre duas áreas, apresen-
tando as relações entre arte e política, arte e tecnologia e arte e 
comunicação.
Já a abordagem é uma forma de apresentar um determinado 
assunto; nesse caso, mostraremos a multiculturalidade, a inter-
culturalidade e a interdisciplinaridade no ensino de Arte. Vamos 
percorrer essa trajetória?
2.1 Arte e política
Vídeo A produção artística se modifica de acordo com o contexto histórico 
no qual está inserida, influenciando as características das obras de arte.
Para começarmos a estabelecer relações entre a arte e a política, é 
fundamental compreendermos, em um primeiro momento, que tanto 
o fazer político quanto o fazer artístico possuem um certo grau de au-
tonomia; permitindo que existam de maneira dissociada.
O fazer artístico se relaciona com as diversas variações das ações 
cotidianas, tendo como uma de suas características principais a asso-
ciação com o campo da visualidade. Ao mesmo tempo, podemos abor-
dar a conceituação do termo política, buscando evidenciar elementos 
que permitam relacionar esse aspecto com o fazer artístico.
A política é a atividade que reconfigura os âmbitos sensíveis nos 
quais se definem objetos comuns. Ela rompe a evidência sensível 
32 Arte e Cultura
da ordem “natural” que destina os indivíduos e os grupos ao 
comando ou à obediência, à vida pública ou à vida privada, vo-
tando-os sobretudo a certo tipo de espaço ou tempo, a certa 
maneira de ser, ver e dizer. [...] A política é a prática que rompe 
a ordem da polícia que antevê as relações de poder na própria 
evidência dos dados sensíveis. Ela o faz por meio da invenção de 
uma instância de enunciação coletiva que redesenha o espaço 
das coisas comuns. (RANCIÈRE, 2012, p. 60)Nesse sentido, podemos considerar que a política enfatiza as carac-
terísticas relacionadas ao exercício do poder, seja no âmbito individual 
ou no social, principalmente pela instauração de um espaço comum.
Quando pensamos no estabelecimento das relações entre arte e po-
lítica, podemos destacar, inicialmente, a inserção de temáticas que vão 
de encontro às demandas sociais expressas de modo reivindicatório.
Um exemplo específico em relação a esse aspecto é a representa-
ção dos debates feministas na produção artística.
Uma obra de arte feminista não visa a garantir a nossa admira-
ção, mas sim a incitar uma mudança na maneira como as mu-
lheres são consideradas e tratadas na nossa sociedade. Se ela 
tem esse efeito, se ela faz os espectadores perceberem injusti-
ças onde antes eles não viam nada ou eram indiferentes ao que 
viram, ela é artisticamente excelente. Pode-se estudar a obra a 
partir da perspectiva de como ela alcança o efeito pretendido. 
Todavia, esse não é o modo primordial pelo qual estamos des-
tinados a nos relacionar com ela. A obra se destina a mudar a 
maneira como aqueles que a veem percebem o mundo. (DANTO, 
2015, p. 124)
A intencionalidade da obra artística na perspectiva política se confi-
gura, desse modo, como uma característica que tem o intuito de ques-
tionar o estabelecimento das normas sociais.
Dessa forma, a obra de arte que tem como temática questões polí-
ticas busca possibilitar ao público que com ela interage uma nova com-
preensão das relações humanas e do mundo como um todo.
Outra característica associada com a relação entre arte e polí-
tica que podemos identificar é a tendência de um tensionamento 
dos espaços institucionais. A contestação ao entendimento de que 
somente os lugares tradicionais, como os museus, estariam destina-
dos à promoção da arte possibilitou a difusão das produções artísti-
cas para outros espaços.
Para conhecer um 
pouco mais o trabalho do 
filósofo Jacques Rancière, 
leia a entrevista A política 
tem sempre uma dimensão 
estética, de Gabriela 
Longman e Diego Viana, 
publicada no site da revis-
ta Cult.
Disponível em: https://revistacult.
uol.com.br/home/entrevista-
jacques-ranciere/. Acesso em: 31 
jul. 2020.
Leitura
Assista ao vídeo Especial 
mulheres na Arte, publica-
do pelo canal DW Brasil, 
e conheça a trajetória de 
três mulheres que são 
referências na arte: a 
coreógrafa Sasha Waltz, 
a fotógrafa e cineasta 
Shirin Neshat e a artista 
performática Marina 
Abramović.
Disponível em: https://
www.youtube.com/
watch?v=xH79ap5CiKI&t=4s. 
Acesso em: 31 jul. 2020.
Vídeo
https://revistacult.uol.com.br/home/entrevista-jacques-ranciere/
https://revistacult.uol.com.br/home/entrevista-jacques-ranciere/
https://revistacult.uol.com.br/home/entrevista-jacques-ranciere/
https://www.youtube.com/watch?v=xH79ap5CiKI&t=4s
https://www.youtube.com/watch?v=xH79ap5CiKI&t=4s
https://www.youtube.com/watch?v=xH79ap5CiKI&t=4s
As interfaces e abordagens da arte 33
O processo de ruptura com os museus como bastiões da alta cul-
tura que passam a se abrir para o grande público e, fazendo uso 
do discurso crítico das vanguardas, passam a colocar em xeque 
critérios estabelecidos pela autonomia da arte ocupa, com efeito, 
grande parte das reflexões sobre instituições museais na contem-
poraneidade. Iniciado nos idos dos anos 1960 e levado a efeito a 
partir dos anos 1970, o processo se deu também no Brasil e pare-
ce vir realmente tendo efetividade no mundo da vida contemporâ-
nea. (SANT’ANNA; MARCONDES; MIRANDA, 2017, p. 832)
O rompimento que ocorre se dá com a concepção de que as obras 
de arte deveriam estar restritas a espaços específicos. Outros lugares, 
como as ruas, começam a ser vistos de outra perspectiva.
Nesse sentido, um dos principais exemplos contemporâneos são as 
obras do artista britânico Banksy, o qual não tem sua identidade reve-
lada, fato que causa polêmica em diversos meios sociais.
Suas obras se destacam por serem feitas de estêncil em murais 
públicos e pela utilização de uma técnica que pode ser considerada 
transgressora (o estêncil). O artista ultrapassa os muros institucionais, 
fazendo com que a arte ocupe as ruas.
Os temas abordados são atuais e frequentemente políticos; retrata-
dos de maneira irônica, fazem parte da chamada arte de rua, original-
mente conhecida como street art.
A street art surgiu como um movimento considerado underground, 
nos EUA, na década de 1970, tendo poste-
riormente se difundido para diversos outros 
lugares.
Na figura ao lado, podemos observar uma 
obra feita por Banksy que faz referência à 
Guerra do Vietnã, ocorrida no período de 
1955 a 1975. O estêncil feito pelo artista foi 
inspirado em uma fotografia de Nick Ut, que 
se tornou mundialmente conhecida e ganhou 
o prêmio Pulitzer.
O livro Grafite: labirintos 
do olhar aborda questões 
fundamentais sobre a 
arte urbana, em específi-
co o grafite, apresentan-
do diversas referências 
sobre o assunto.
LONGMAN, G.; LONGMAN, E. São 
Paulo: BEI Editora, 2017.
Livro
A plataforma Google 
desenvolveu um site 
específico para a street 
art. Vale a pena dar uma 
conferida.
Disponível em: https://streetart.
withgoogle.com/pt/online-
exhibitions. Acesso em: 31 jul. 2020.
Site
Essa obra de Banksy faz referência à icônica fotografia tirada em 
1972, que retrata a menina Kim Phúc fugindo de um ataque a 
bomba. É evidente a crítica ao american way of life (estilo de vida 
americano), representado pela inserção dos personagens Mickey 
Mouse e Ronald McDonald. 
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https://streetart.withgoogle.com/pt/online-exhibitions
https://streetart.withgoogle.com/pt/online-exhibitions
https://streetart.withgoogle.com/pt/online-exhibitions
34 Arte e Cultura
2.2 Arte e tecnologia 
Vídeo Ao olhar o título desta seção, você pode estar se perguntando: qual 
será a relação entre arte e tecnologia?
A conexão dessas duas áreas começa pelo significado das palavras, 
tanto arte quanto tecnologia são consideradas técnicas. Mas é impor-
tante salientar que os conceitos dessas duas áreas são mais amplos.
Quando se fala em tecnologia, qual é a primeira imagem que vem à 
sua mente? Muitas vezes, as respostas estão relacionadas a computa-
dores, celulares, câmera digital, webcam, entre outros equipamentos. A 
tecnologia, no entanto, vai além desses aparelhos eletrônicos. Segundo 
Kenski (2012, p. 24), a tecnologia refere-se:
ao conjunto de conhecimentos e princípios científicos que se 
aplicam ao planejamento, à construção e à utilização de um 
equipamento de um determinado tipo de atividade, chamamos 
de [...]. Para construir qualquer equipamento – uma caneta esfe-
rográfica ou um computador –, os homens precisam pesquisar, 
planejar e criar o produto, o serviço, o processo.
Podemos concluir que, com o tempo, o homem vai aprimorando o 
produto, tornando-o mais sofisticado. Vale lembrar que “o uso de tec-
nologia em arte não acontece somente em nossos dias. A arte, em to-
dos os tempos, sempre se valeu das inovações tecnológicas para seus 
propósitos” (PIMENTEL, 2012, p. 128).
Algumas linguagens da arte, como a gravura, a fotografia e o ci-
nema “levaram algum tempo para serem reconhecidas como Arte” 
(PIMENTEL, 2012, p. 129). Uma das questões levantadas se refere à tec-
nologia utilizada pelos artistas que possibilitou fazer várias cópias de 
uma obra por meio de uma matriz. Assim, a obra de arte deixa de ser 
um objeto único.
É importante destacar que, quando não existia a fotografia, os pin-
tores levavam dias, meses e até anos para registrar uma paisagem, 
uma pessoa, um objeto. Com o surgimento desse recurso, esse regis-
tro passa a ser muito mais rápido, além da reprodução parecer mais 
próxima da realidade.
Em relação ao cinema, um fato curioso aconteceu na primeira exi-
bição de um filme, em 1895, na cidade de Paris. Muitas pessoas que 
As interfaces e abordagens da arte 35
nunca tinham visto imagens em movimento, quando viram a cena de 
um trem vindo em sua direção, saíram correndodo local.
No contexto contemporâneo, a reação dos espectadores, descritas 
por essas narrativas, parece ser bastante exagerada, porém, se con-
siderarmos a mentalidade da época e o fato de essas pessoas nunca 
terem visto imagens em movimento, como no cinema, esse comporta-
mento se torna mais compreensível.
A arte e a cultura se transformam com o tempo. Os artistas inseri-
dos nesse contexto histórico vão experimentando, criando e recriando 
outros suportes, materiais e maneiras de apresentar o seu trabalho. 
Uma ferramenta que vem sendo utilizada nos processos de criação nas 
últimas décadas é o computador, equipamento que pode potencializar 
as tradicionais técnicas de arte (VENTURELLI; TELLES, 2007).
Segundo a pesquisadora Almeida (2011, p. 61) “o artista contem-
porâneo atento ao desenvolvimento tecnológico e científico vai incor-
porando novas ferramentas, que são meios diferentes de trabalho, 
buscando nas diversas áreas do conhecimento um compartilhar de 
ideias”. Mas você sabe o que é arte tecnológica?
Arte tecnológica é “toda atividade ou toda prática denotada como 
‘artística’ que serve das novas tecnologias como meios em vista de 
um fim artístico” (DOMINGUES, 2011, p. 38). Alguns exemplos são 
videoinstalações, arte na rede, videoarte, performances em ambientes 
virtuais, ciberinstalação etc.
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Nam June Paik, artista sul-coreano, costuma ser creditado por ter sido o responsável pela criação da videoarte. As obras 
desse artista são exemplos de inovação e uso da tecnologia na arte.
Ficou curioso para ver a 
cena? Você pode confe-
ri-la no vídeo A chegada 
de um trem na estação, 
Irmãos Lumière, 1895, o 
primeiro filme da huma-
nidade, publicado pelo 
canal andrio filmes.
Disponível em: https://
www.youtube.com/
watch?v=RP7OMTA4gOE. Acesso 
em: 31 jul. 2020.
Vídeo
https://www.youtube.com/watch?v=RP7OMTA4gOE
https://www.youtube.com/watch?v=RP7OMTA4gOE
https://www.youtube.com/watch?v=RP7OMTA4gOE
36 Arte e Cultura
Um espaço que reúne algumas dessas produções artísticas é o 
Festival Internacional de Linguagem Eletrônica (FILE), que acontece 
desde 2000 na cidade de São Paulo, com algumas mostras em outras 
capitais do Brasil. Esse evento apresenta o que está sendo produzido 
na contemporaneidade e é dividido nas seguintes categorias: sonorida-
de eletrônica, arte interativa e linguagem digital.
A sétima edição do FILE aconteceu no Centro Cultural Fiesp, em São Paulo, em 2006.
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A artista e pesquisadora Domingues (2011, p. 37), ao pensar a arte 
e a tecnologia, afirma que é “a diluição do conceito de artista que dis-
persa a sua autoria”. Isso se dá porque a produção artística envolve 
profissionais de diferentes áreas, até mesmo o público, que poderá 
modificar, por meio de sua interação, a proposta inicial do artista. Ela 
aponta, ainda, que “as tecnologias digitais favorecem a arte da partici-
pação, a arte da comunicação. A interatividade é a palavra-chave das 
tecnologias digitais, propiciando a interação no sentido estrito do ter-
mo” (DOMINGUES, 2011, p. 37).
No Brasil, temos muitos artistas contemporâneos que trabalham 
com a tecnologia. Um dos precursores é o carioca Eduardo Kac, que 
cria obras digitais, holográficas, de telepresença, entre outras.
Veja a diversidade de 
produções exibidas no 
FILE acessando o site do 
festival.
Disponível em: https://file.org.br/
file_sp_2019/?lang=pt. Acesso 
em: 31 jul. 2020.
Site
https://file.org.br/file_sp_2019/?lang=pt
https://file.org.br/file_sp_2019/?lang=pt
As interfaces e abordagens da arte 37
Obra Genesis, de Kac, apresentada em 1999 no Festival de Arte Eletrônica, na Áustria.
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A figura anterior é de uma obra que inaugura a “arte transgênica”. 
Nesse trabalho, Kac criou um “gene de artista”, por meio de trechos do 
Velho Testamento em inglês. O gene é inserido nas bactérias, que estão 
dentro de uma placa de vidro colocada sob uma caixa de luz ultraviole-
ta; esta é controlada pelo público por meio de um site. Ao acionar a luz, 
o código genético é alterado.
Achou inusitada essa obra? Imagine que ela foi apresentada ao públi-
co em 1999. Desde esse período até os dias atuais, muitos outros recur-
sos tecnológicos foram apropriados e reinventados pelos artistas.
Outros artistas que têm uma grande produção na arte tecnológica 
são: Diana Domingues, Guto Lacaz e Gilbertto Prado. Eles são, também, 
pesquisadores, escritores e professores universitários.
Acesse os links a seguir para visualizar as obras desses artistas multimídia.
Diana Domingues 
http://enciclopedia.itaucultural.org.br/obra63338/firmamento-popstar
Guto Lacaz 
http://enciclopedia.itaucultural.org.br/obra35180/phoenix
Gilbertto Prado 
https://enciclopedia.itaucultural.org.br/obra36070/94-fragmentos-de-azul
Como bem lembra Domingues (2011, p. 60), “os diferentes posi-
cionamentos dos artistas que investigam tecnologias como meios de 
criação deixam evidente que as tecnologias influenciam nossas for-
mas de ser com o mundo, pois modificam nossas maneiras de sentir, 
amplificando-nos”.
http://enciclopedia.itaucultural.org.br/obra63338/firmamento-popstar
http://enciclopedia.itaucultural.org.br/obra35180/phoenix
https://enciclopedia.itaucultural.org.br/obra36070/94-fragmentos-de-azul
38 Arte e Cultura
Os museus também têm mudado a forma de apresentar as obras 
do seu acervo, empregando diferentes recursos tecnológicos, tornan-
do as exposições mais atrativas, interativas e acessíveis aos visitantes. 
Alguns exemplos são: audioguias; QR codes, que são colocados próxi-
mos às obras (quando o visitante posiciona o seu celular em frente ao 
código é direcionado para um site que apresenta informações sobre a 
obra e/ou o artista); vídeos com explicações sobre a exposição com in-
térprete de LIBRAS; obras impressas em 3D, para que as pessoas cegas 
possam tocá-las, entre outros.
Para ler um QR code, basta apontar a câmera do smartphone para o código. Em alguns casos, é 
necessário baixar um aplicativo que faça a leitura.
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“Em todas as épocas, o aparato tecnológico ocupa o centro vivo das 
diferentes culturas e determina as relações do homem com seu am-
biente” (DOMINGUES, 2012, p. 61). Portanto, essa relação da arte com 
a tecnologia é histórica e não temos a pretensão de esgotar o assunto, 
mas ampliar o olhar sobre a temática.
2.3 Arte e comunicação 
Vídeo A arte e a comunicação existem desde os primórdios da humanida-
de e, com o passar dos tempos, essas duas áreas foram cada vez mais 
convergindo.
Vários teóricos apresentam diferentes perspectivas sobre a defini-
ção do termo comunicação. Uma delas é da autora Santaella (2001, p. 
22), que, com base em vários estudos, apresenta um conceito amplo:
Para saber mais sobre 
como a arte é impactada 
pela tecnologia, assista 
à entrevista com artistas 
e instituições, feita por 
Ronaldo Lemos e publica-
da pelo Canal Futura.
Disponível em: https://www.
youtube.com/watch?v=HwL3C_
x38tQ. Acesso em: 31 jul. 2020.
Vídeo
https://www.youtube.com/watch?v=HwL3C_x38tQ
https://www.youtube.com/watch?v=HwL3C_x38tQ
https://www.youtube.com/watch?v=HwL3C_x38tQ
As interfaces e abordagens da arte 39
A transmissão de qualquer influência de uma parte de um siste-
ma vivo ou maquinal para uma outra parte, de modo a produ-
zir mudança. O que é transmitido para produzir influência são 
mensagens, de modo que a comunicação está basicamente na 
capacidade para gerar e consumir mensagens.
A pesquisadora classifica a história da comunicação em seis catego-
rias, conforme mostra a figura a seguir.
1
3
5
2
6
Era da comunicação oral
Era da comunicação impressa
Era da comunicação midiática
Era da comunicação escrita 
Era da comunicação propiciada pelos meios de comunicação em 
massa
Era da comunicação digital 
4
Fonte: Santaella, 2005, p. 9.
Vamos dar enfoque à era da comunicação digital, por ser a maisatual.
Com o surgimento da internet, essa nova tecnologia da comunica-
ção apresenta “grandes impactos na organização social e na forma com 
que os indivíduos se percebem no tempo e no espaço” (CRUZ, 2010, p. 
12). Ao mesmo tempo que o acesso à informação é popularizado, tor-
nou-se possível o controle de dados dos usuários.
Os artistas também possuem posições distintas frente às con-
sequências das novas tecnologias da comunicação na arte e na 
sociedade. Enquanto alguns veem nas novas mídias digitais poten-
cialidades estéticas e sociais, outros pretendem desmistificar as su-
postas transformações libertadoras trazidas por estas. Também há 
aqueles que se utilizam dessas tecnologias sem se posicionarem 
sobre o seu significado cultural amplo. (CRUZ, 2010, p. 12)
40 Arte e Cultura
Você já parou para pensar em como as instituições relacionadas à 
arte utilizam as tecnologias de comunicação para a apresentação das 
obras, dos(as) artistas, além da interação com o público?
O avanço da tecnologia proporcionou visitas virtuais por museus, 
teatros, galerias e salas de concerto no mundo todo, sem o público 
precisar sair de casa. As visitas possibilitam que o internauta visualize 
as obras em outras perspectivas, com zoom, além de ampliar o seu re-
pertório sobre a obra e a biografia do artista. Temos como exemplo de 
visitas virtuais: a Pinacoteca 1 ; a Sala São Paulo 2 e o Theatro Munici-
pal 3 , localizados na cidade de São Paulo; o Museu Frida Kahlo, também 
conhecido como La Casa Azul, que fica na Cidade do México; o famoso 
Museu do Louvre 4 , em Paris, entre outros espaços.
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Fachada do Museu Frida Kahlo e pirâmide no pátio que exibe peças pré-hispânicas.
Alguns museus e galerias também proporcionam visitas virtuais 
pelo projeto Google Arts & Culture, utilizando a tecnologia street view 
(visualização panorâmica), que conta com a parceria de mais de 2 mil 
instituições, como o Museu Oscar Niemeyer, localizado em Curitiba 
(PR), o Museu Nacional, que fica no Rio de Janeiro (RJ), e o Museu de 
Inhotim, em Brumadinho (MG).
Muitos museus, teatros, conservatórios de música e galerias e fun-
dações culturais também utilizam a internet e as redes sociais para se 
aproximar do público, oferecendo acesso ao acervo virtual de referên-
cias bibliográficas, jogos, vídeos, entre outros. Um exemplo é o site do 
Museu Afro Brasil 5 , que disponibiliza jogo dos 7 erros, caça-palavras, 
quizzes, desenhos para colorir, acervo e catálogo on-line.
Disponível em: http://www.
iteleport.com.br/tour3d/
pinacoteca-de-sp-acervo-per-
manente/?utm_medium=web-
site&utm_source=archdaily.
com.br. Acesso em: 31 jul. 2020.
1
Disponível em: http://
www.salasaopaulo.art.br/
paginadinamica.aspx?pagi-
na=visitavirtualstreetview&fb-
clid=IwAR2yxnKbW1EBY7xCm-
NaLUnpmDFbI2_ljZimltEelB-
qUEvTNv1IQm_4J7x_A. Acesso 
em: 31 jul. 2020.
2
Disponível em: https://theatro-
municipal.org.br/pt-br/tour-vir-
tual/. Acesso em: 31 jul. 2020.
3
Disponível em: http://musee.
louvre.fr/visite-louvre/index.
html?defaultView=rdc.s46.
p01&lang=ENG. Acesso em: 31 
jul. 2020.
4
Que tal você fazer uma 
visita virtual pelo Museu 
Frida Kahlo? Tenha essa 
experiência acessando o 
link a seguir.
Disponível em: https://www.
museofridakahlo.org.mx/es/el-
museo/visita-virtual/. Acesso em: 
31 jul. 2020.
Site
 Disponível em: http://www.
museuafrobrasil.org.br/divirta-
-se. Acesso em: 31 jul. 2020.
5
As interfaces e abordagens da arte 41
Além disso, muitas dessas instituições fazem uso dos canais de ví-
deo no YouTube, em que apresentam exposições, projetos, cursos, en-
trevistas com artistas, seminários, entre outros eventos. Três canais de 
grande relevância artística e cultural são: o do Museu de Arte de São 
Paulo (MASP) 6 , o do Instituto Itaú Cultural 7 e do Instituto do Patrimô-
nio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) 8 .
Muitos artistas e muitas companhias de teatro e dança têm utilizado 
as redes sociais para divulgar o seu trabalho. Um exemplo é o Grupo 
Corpo, uma companhia de dança de Belo Horizonte (MG), com contas 
no Instagram e no Facebook, que publica fotografias e vídeos dos en-
saios e espetáculos, bem como reportagens e outras informações.
As tecnologias da comunicação aproximam o público dos museus e 
dos artistas e permitem visualizar espetáculos e exposições, mas não 
substituem a experiência de ver uma obra ao vivo e em cores ou de 
conhecer um espaço cultural.
Disponível em: https://www.
youtube.com/channel/UCn3RTL-
TgiO7TjfG7juhFM1g. Acesso em: 
31 jul. 2020.
7
Disponível em: https://www.
youtube.com/channel/UCl_tZ-
6fP9TdaATguYYRC1XA. Acesso 
em: 31 jul. 2020.
6
Conheça o trabalho do Grupo 
Corpo nas redes sociais:
• Instagram: https://
www.instagram.com/
grupo_corpo/?hl=pt-br.
• Facebook: https://pt-br. 
facebook.com/GrupoCorpo/.
Redes Sociais
Vamos conhecer esse projeto do Google? Podemos começar fazendo um tour guiado pelo 
Museu Nacional, que fica no Rio de Janeiro (RJ), antes do incêndio de 2018.
Disponível em: https://artsandculture.google.com/project/museu-nacional-brasil. Acesso em: 31 jul. 2020
Depois, podemos ir para Brumadinho (MG) conhecer o museu do Instituto Inhotim, con-
siderado o maior museu a céu aberto do mundo, que tem um importante acervo de arte 
contemporânea. 
Disponível em: https://artsandculture.google.com/streetview/inhotim/ugEcCOCZkq1_4A. Acesso em: 31 jul. 2020
Para finalizar nosso tour, vamos conhecer um pouco da cultura do Oriente, vendo a expo-
sição intitulada Ásia: a Terra, os Homens, os Deuses, no Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba 
(PR).
Disponível em: https://artsandculture.google.com/exhibit/%C3%A1sia-a-terra-os-homens-os-deuses-parte-
um/6QIyenIAuFnKKQ. Acesso em: 31 jul. 2020
Site
Disponível em: https://www.
youtube.com/channel/UCzLB6j-
8WasmMqA5LLWsNBXA. Acesso 
em: 31 jul. 2020.
8
2.4 Multiculturalidade e interculturalidade 
Vídeo A multiculturalidade é um conceito que aborda as diversas culturas 
presentes na sociedade.
Existem diferentes visões sobre a multiculturalidade, uma delas é 
da pesquisadora Candau (2011, p. 18), que diz: “uma das característi-
cas fundamentais das questões multiculturais é exatamente o fato de 
estarem atravessadas pelo acadêmico e o social, a produção de conhe-
cimentos, a militância e as políticas públicas”.
https://www.instagram.com/grupo_corpo/?hl=pt-br
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https://pt-br. facebook.com/GrupoCorpo/
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42 Arte e Cultura
Com o aumento das discussões sobre o tema, o enfoque da multi-
culturalidade vem sendo ampliado:
Tendo em vista as numerosas culturas presentes em toda a so-
ciedade, baseadas em aspectos como religião, idade, gênero, 
ocupação, classe social etc. sendo que a questão étnica é apenas 
uma das características do indivíduo. Muito recentemente, tam-
bém a educação especial vem sendo incluída na visão multicultu-
ral. (RICHTER, 2012, p. 97)
Vale destacar que não existe uma cultura superior, o que temos 
são modos diferentes de pensar, de se relacionar e de crer. Por isso, 
é importante conhecer as especificidades das culturas para respeitar e 
valorizar os diversos povos.
O Brasil é formado por diversas culturas, tendo em sua matriz po-
vos indígenas, africanos e europeus. Fazendo uma breve retrospectiva, 
quando os colonizadores chegaram ao Brasil, existiam aproximada-
mente 1.000 povos originários, que falavam diferentes línguas. Atual-
mente, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 
2010), existem 305 etnias e 274 línguas indígenas.
Depois de algumas décadas, os colonizadores trouxeram, de manei-
ra forçada, diferentes povos do continente africano para o Brasil. Essas 
pessoas foram escravizadas e somente no século XIX foi decretado o 
final da escravidão. Conforme o Censo de 2010, mais de 50% da popu-
lação brasileira é formada por negros e pardos (IBGE, 2010).
Mesmocom essa diversidade de povos e línguas, muitas vezes a 
cultura que é mais estudada e valorizada nas escolas, nas mídias e na 
sociedade é a do colonizador. É o que se chama de etnocentrismo, uma 
cultura que está no centro em detrimento de outras (nesse caso, a cul-
tura do europeu, o eurocentrismo).
Vale ressaltar que a legislação brasileira tem como premissa esti-
mular o respeito e o estudo da diversidade cultural. Na Constituição 
Federal de 1988, o artigo 3º dispõe que um dos objetivos fundamentais 
do Estado é promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, 
raça, sexo, cor, idade ou quaisquer outras formas de discriminação. 
O artigo 215 aborda que o Plano da Cultura tem como um dos focos a 
valorização da diversidade étnica e regional (BRASIL, 1988).
A Lei n. 10.639/2003 estabelece que é obrigatório o ensino da 
História e da Cultura afro-brasileira nos ensinos fundamental e médio, 
em escolas públicas e particulares (BRASIL, 2003); já a Lei n. 11.645/2008 
Conheça dois projetos 
desenvolvidos pelo Itaú 
Cultural que têm como 
objetivo dar visibilidade 
aos artistas negros e às 
culturas dos vários povos 
indígenas que existem 
no Brasil.
 • Rosana Paulino: Diálogos Ausentes 
(2016): https://www.youtube.
com/watch?v=7awdUzh9UVg. 
Acesso em: 31 jul. 2020.
 • Daniel Munduruku: Culturas 
indígenas (2018): https://
www.youtube.com/
watch?v=8D4RF2CqR68. Acesso 
em: 31 jul. 2020.
Vídeo
https://www.youtube.com/watch?v=7awdUzh9UVg
https://www.youtube.com/watch?v=7awdUzh9UVg
https://www.youtube.com/watch?v=8D4RF2CqR68
https://www.youtube.com/watch?v=8D4RF2CqR68
https://www.youtube.com/watch?v=8D4RF2CqR68
As interfaces e abordagens da arte 43
acrescenta que também é obrigatório o ensino da História e Cultura 
dos povos indígenas (BRASIL, 2008).
O que sabemos sobre essas culturas? Quantos artistas indígenas co-
nhecemos ou ouvimos falar? Quantos livros já lemos de escritores(as) 
negros(as)?
Como disse Ana Mae Barbosa (ANA..., 2018), uma importante pes-
quisadora em Arte no Brasil, no Seminário de Arte, Cultura e Educação 
na América Latina, “não se pode falar de arte sem falar da cultura que 
produziu esta arte”.
A multiculturalidade se destaca pelo respeito e pela valorização das 
outras culturas. Na interculturalidade, além disso, as culturas fazem re-
lações, conexões.
A interculturalidade “é uma perspectiva num processo dinâmico e 
contínuo de relação, diálogo e de aprendizagem em colaboração entre 
culturas com respeito e legitimidade, num processo de trocas de co-
nhecimentos, saberes e fazeres com práticas culturalmente diferentes” 
(CHAVES, 2013, p. 184).
Barbosa apresenta um exemplo prático de como um professor de 
Arte pode trabalhar na perspectiva da interculturalidade nas suas aulas 
(ANA..., 2018). Quando ele for fazer a leitura de imagens, pode escolher 
imagens que contemplem diferentes culturas: uma obra europeia, ou-
tra indígena, outra afro-brasileira, outra oriental e uma ou mais obras 
produzidas por mulheres artistas. Assim, estará permitindo que o alu-
no conheça as diferentes produções artísticas.
Segundo Iop (2005, p. 103), é fundamental “o conhecimento da arte 
produzida pelos diferentes grupos culturais em nível local, regional, na-
cional e internacional, destacando-se a desenvolvida por grupos cultu-
rais particulares ou minoritários”.
Por isso, é muito importante que o professor conheça as origens de 
seus alunos e contemple em suas aulas essa diversidade cultural.
Quer saber mais sobre 
o que Ana Mae Barbosa 
falou no Seminário Arte, 
Cultura e Educação na 
América Latina, realizado 
em 2018 na cidade de 
São Paulo? Assista ao ví-
deo publicado pelo canal 
Itaú Cultural.
Disponível em: https://
www.youtube.com/
watch?v=ClEbe86yjvk&t=1s. 
Acesso em: 31 jul. 2020.
Vídeo
Conheça dois projetos que venceram o Prêmio Arte na Escola Cidadã, desenvolvidos no ensino fundamental e na 
educação de jovens e adultos em duas escolas do estado de São Paulo. Eles têm como temática a cultura africana, 
além da trajetória de artistas negros no Brasil e da cultura do povo indígena Pankararu.
1. Ubuntu - sou porque somos | XX Prêmio Arte na Escola Cidadã | Ensino Fundamental
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Mfwa5qova1I. Acesso em: 31 jul. 2020.
2. XVII Prêmio Arte na Escola Cidadã - EJA
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=GKyliGGY9ro. Acesso em: 31 jul. 2020.
Vídeo
https://www.youtube.com/watch?v=ClEbe86yjvk&t=1s
https://www.youtube.com/watch?v=ClEbe86yjvk&t=1s
https://www.youtube.com/watch?v=ClEbe86yjvk&t=1s
https://www.youtube.com/watch?v=GKyliGGY9ro
44 Arte e Cultura
2.5 Interdisciplinaridade 
Vídeo A interdisciplinaridade começou a ser discutida na década de 1960. 
Uma das primeiras pesquisas sobre esse assunto foi desenvolvida pela 
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura 
(Unesco); um dos pioneiros no estudo sobre essa temática foi o filósofo 
francês Georges Gusdorf. No Brasil, temos algumas leis e documentos 
que abordam a interdisciplinaridade, como a Lei de Diretrizes e Bases 
(LDB) de 1971, a LDB de 1996 (BRASIL, 1971; 1996), os Parâmetros Cur-
riculares Nacionais (PCN) e as Diretrizes Curriculares Nacionais do Ensi-
no Médio (DCNEM), que se transformou um eixo norteador nas escolas 
públicas do país e em muitas propostas pedagógicas.
Existem diversos estudos, com diferentes interpretações, sobre a 
interdisciplinaridade. Para a pesquisadora Richter (2012, p. 95), “o pre-
fixo ‘inter’ vai indicar a inter-relação entre duas ou mais disciplinas, sem 
que nenhuma se sobressaia sobre as outras, mas que se estabeleça 
uma relação de reciprocidade e colaboração, com o desaparecimento 
de fronteiras entre as áreas do conhecimento”.
A interdisciplinaridade altera a forma de tratar os conteúdos esco-
lares, trocando um regime individual e isolado por um regime coletivo. 
Japiassu (1976, p. 74), um dos primeiros teóricos brasileiros a relatar o 
tema, cita que “a interdisciplinaridade caracteriza-se pela intensidade 
das trocas entre os especialistas e pelo grau de interação real das disci-
plinas no interior de um mesmo projeto de pesquisa”.
Será que é possível a interação entre disciplinas aparentemente 
distintas?
O trabalho interdisciplinar tem a intenção de que as disciplinas dia-
loguem, a fim de que se perceba a unidade na diversidade dos conheci-
mentos, diferente de quando se trabalha isoladamente. Como enfatiza 
Morin (2000, p. 43): “a inteligência parcelada, compartimentada, me-
canicista, disjuntiva e reducionista rompe o complexo do mundo em 
fragmentos disjuntos, fraciona os problemas, separa o que está unido, 
torna unidimensional o multidimensional”.
Para conhecer as propos-
tas, os conteúdos e os 
objetivos dos PCN, acesse 
o link a seguir.
Disponível em: http://portal.mec.
gov.br/seb/arquivos/pdf/livro01.
pdf. Acesso em: 31 jul. 2020.
Leitura
http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro01.pdf
http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro01.pdf
http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro01.pdf
As interfaces e abordagens da arte 45
O trabalho interdisciplinar visa promover não só uma integração, 
mas algo que vai além disso: uma interação. A teórica Fazenda (1979) 
faz uma diferenciação desses termos. A integração, para ela, é um as-
pecto formal da interdisciplinaridade, é um completar-se, seja de con-
teúdos, de métodos ou de conhecimentos específicos. Já a interação 
pressupõe um passo a mais; é quando ocorre uma ação recíproca entre 
as disciplinas em questão, gerando, assim, “novos questionamentos, 
novas buscas, enfim, a transformação da própria realidade” (FAZENDA, 
1979, p. 9).
Outros termos que são utilizados na área da educação são multi-
disciplinaridade e transdisciplinaridade. De acordo com Richter (2012, 
p. 95), “o prefixo ‘multi’, no termo ‘multidisciplinar’, estaria indicando a 
existência de um trabalho entre muitas disciplinas, sem que estas per-
cam suas características ou suas fronteiras”. Já a transdisciplinaridade, 
“como indica o prefixo,busca um movimento de través, de perpasse 
entre as diferentes áreas do conhecimento. Esse enfoque é também 
chamado de ‘transversalidade’” (RICHTER, 2012, p. 96).
Nesse contexto, o professor se torna uma figura essencial para con-
duzir o diálogo com os colegas das outras disciplinas, com o conteúdo 
e com os alunos.
Para saber mais sobre 
o tema desta seção, leia 
o livro O que é interdis-
ciplinaridade? Trata-se 
de uma coletânea que 
vai ao encontro de uma 
educação comprometida 
com os novos tempos e 
mostra como enxergar e 
lidar com o conhecimen-
to humano.
FAZENDA, I. São Paulo: Cortez, 2019.
Livro
CONSIDERAÇÕES 
FINAIS
A arte – assim como a política, a tecnologia e a comunicação – tem dife-
rentes interfaces. O conceito e a relação dessas áreas vai se modificando 
conforme o contexto histórico.
Os artistas e as instituições culturais que estão conectados com essas 
áreas criam, reinventam e transformam os seus trabalhos, as formas de 
apresentá-los e de se comunicar com o público.
As abordagens do ensino da Arte são diversas, cabe ao professor pes-
quisar as teorias sobre multiculturalidade, interculturalidade e interdisci-
plinaridade, além de buscar conhecer o contexto e o repertório dos seus 
alunos e relacionar a teoria com a prática.
46 Arte e Cultura
ATIVIDADES
1. A aproximação entre a perspectiva política e a produção artística pode 
se manifestar de diversas formas na arte; por exemplo: pelo conteúdo 
abordado ou pela estética escolhida. Considerando isso, discorra 
sobre a relação entre a arte e a política, enfatizando as principais 
características decorrentes dessa associação.
2. Considerando a relação entre arte, tecnologia e comunicação, descreva 
como essas áreas impactaram a produção artística e as instituições 
culturais.
3. Conforme a discussão sobre multiculturalidade e interculturalidade, 
cite exemplos de como museus, escolas e universidades têm 
promovido essa discussão nos seus espaços.
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, C. Z. As relações arte/tecnologia no ensino da arte. In: PILLAR, A. D. (org.). A 
educação do olhar no ensino das artes. Porto Alegre: Mediação, 2011.
ANA Mae – Seminário Arte, Cultura e Educação na América Latina (2018). 2018. 1 vídeo 
(14 min.). Publicado pelo canal Itaú Cultural. Disponível em: https://www.youtube.com/
watch?v=ClEbe86yjvk&t=1s. Acesso em: 31 jul. 2020.
BRASIL. Lei n. 5.692, 11 de agosto de 1971. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, 
Brasília, DF, 12 ago. 1971. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l5692.
htm. Acesso em: 29 jul. 2020.
BRASIL. Constituição Federal (1988). Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 
5 out. 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.
htm. Acesso em: 31 jul. 2020.
BRASIL. Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, 
Brasília, DF, 23 dez. 1996. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.
htm. Acesso em: 29 jul. 2020.
BRASIL. Lei n. 10.639, de 9 de janeiro de 2003. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, 
Brasília, DF, 10 jan. 2003. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/
l10.639.htm. Acesso em: 31 jul. 2020.
BRASIL. Lei n. 11.645, de 10 de março de 2008. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, 
Brasília, DF, 11 mar. 2008. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-
2010/2008/Lei/L11645.htm. Acesso em: 31 jul. 2020.
CANDAU, V. M. Multiculturalismo: desafios para a prática pedagógica. In: CANDAU, V. 
M.; MOREIRA, A. F. (org.). Multiculturalismo: diferenças culturais e práticas pedagógicas. 
Petrópolis, RJ: Vozes, 2011.
CHAVES, L. A. O multiculturalismo nas aulas de artes visuais. In: NUNES, A. L. R. Artes visuais 
e processos colaborativos na iniciação à docência e pesquisa. Ponta Grossa: Ed. UEPG, 2013.
CRUZ, N. V. O conceito de mídia úmida. In: LYRA, C. et al. Arte e tecnologia. Recife: Fundação 
Joaquim Nabuco; Editora Massangana, 2010. (Coleção Estudos da Cultura).
DANTO, A. O abuso da beleza: a estética e o conceito de arte. São Paulo: Martins Fontes, 
2015.
https://www.youtube.com/watch?v=ClEbe86yjvk&t=1s
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http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l5692.htm
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http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.639.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.639.htm
As interfaces e abordagens da arte 47
DOMINGUES, D. Tecnologias, produção artística e sensibilização dos sentidos. In: PILLAR, 
A. D. (org.). A educação do olhar no ensino das artes. Porto Alegre: Mediação, 2011.
DOMINGUES, D. Software art e cibridismo: ciberbricolagens, simulação, autopoiesis, 
visualização de dados, enação e comportamentos em ambientes interativos e biocíbridos. 
In: NUNES, A. L. R. (org.). Artes visuais, leitura de imagens e escola. Ponta Grossa: Ed. UEPG, 
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FAZENDA, I. C. Integração e interdisciplinaridade no ensino brasileiro: efetividade ou 
ideologia. São Paulo: Loyola, 1979.
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. IBGE mapeia a distribuição da 
população preta e parda. 2010. Disponível em: https://censo2010.ibge.gov.br/noticias-
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parda&view=noticia. Acesso em: 31 jul. 2020.
IOP, E. Tecendo o cenário: uma proposta de ensino/aprendizagem em artes visuais 
referenciada nas identidades culturais dos educandos. In: OLIVEIRA, M.; HERNANDEZ, F. 
(org.). A formação do professor e o ensino das Artes Visuais. Santa Maria: Editora UFSM, 2005.
JAPIASSU, H. Interdisciplinaridade e patologia do saber. Rio de Janeiro: Imago, 1976.
KENSKI, V. M. Educação e tecnologias: o novo ritmo da informação. 8. ed. Campinas: Papirus, 
2012. (Coleção Papirus Educação).
MORIN, E. Os sete saberes necessários à educação do futuro. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2000.
PIMENTEL, L. G. Tecnologias contemporâneas e o ensino da Arte. In: BARBOSA, A. M. (org.). 
Inquietações e mudanças no ensino da arte. 7. ed. São Paulo: Cortez, 2012.
RANCIÈRE, J. O espectador emancipado. São Paulo: Martins Fontes, 2012.
RICHTER, I. M. Multiculturalidade e interdisciplinaridade. In: BARBOSA, A. M. (org.). 
Inquietações e mudanças no ensino da arte. 7. ed. São Paulo: Cortez, 2012.
SANT’ANNA, S. M. P.; MARCONDES, G.; MIRANDA, A. C. F. A. Arte e política: a consolidação 
da arte como agente na esfera pública. Sociol. Antropol., Rio de Janeiro, v. 7, n. 3, p. 825-
849, set. 2017.
SANTAELLA, L. Comunicação e pesquisa: projetos para mestrado e doutorado. São Paulo: 
Hacker, 2001. (Coleção Comunicação).
SANTAELLA, L. Por que as comunicações e as artes estão convergindo? São Paulo: Paulus, 
2005.
VENTURELLI, S.; TELLES, L. Informática aplicada às artes. Brasília: Universidade de Brasília, 
2007.
48 Arte e Cultura
3
Aspectos teóricos da arte 
moderna e contemporânea
Neste capítulo, iremos abordar algumas temáticas importantes 
para compreendermos a inserção da cultura e da arte na socieda-
de contemporânea.
Todos os processos que vamos analisar são bastante amplos 
e complexos, podendo ter inúmeras formas de abordagem, como 
a perspectiva política ou econômica. Porém, considerando o fio 
condutor da obra, iremos evidenciar os tópicos relacionados com 
a perspectiva cultural. Dessa forma, já na primeira seção, buscare-
mos enfatizar as mudanças sociais ocasionadas por esse aconte-
cimento histórico.
Independentemente do contexto histórico, a produção da cul-
tura se configura como uma das principais características de cons-
tituição da sociedade, o que permite que possamos evidenciar 
esse aspecto em nossas análises.
Iremos conhecer, também, um pouco melhor as temáticas cul-
turais relacionadas à indústria cultural,ao consumo, à globalização 
e à pós-modernidade.
3.1 O contexto histórico da Revolução Industrial 
Vídeo A Revolução Industrial foi um lento processo e desenvolveu-se ao 
longo do tempo, criando diversas mudanças nos aspectos ambientais, 
no modo de produção e nas relações sociais.
Em termos cronológicos, é difícil precisar uma data específica como 
marco para o surgimento da Revolução Industrial, todavia, de acordo 
com a proposta de Hobsbawn, podemos identificar a década de 1780 
como o início desse processo.
Aspectos teóricos da arte moderna e contemporânea 49
A partir da metade do século XVIII, o processo de acumulação de 
velocidade para partida é tão nítido que historiadores mais ve-
lhos tenderam a datar a revolução industrial de 1760. Mas uma 
investigação cuidadosa levou a maioria dos estudiosos a loca-
lizar como decisiva a década de 1780 e não a de 1760, pois foi 
então que, até onde se pode distinguir, todos os índices estatís-
ticos relevantes deram uma guinada repentina, brusca e quase 
vertical para a “partida”. A economia, por assim dizer, voava. 
(HOBSBAWN, 2012, p. 59)
Podemos considerar que é a partir de 1780 que a Revolução Industrial 
começou a se consolidar efetivamente e a evidenciar os principais 
aspectos relacionados ao seu surgimento, como a intensificação da 
economia.
Comparativamente, se considerarmos os impactos gerados pela 
Revolução Industrial na sociedade em que surgiu e nos seus desdo-
bramentos posteriores, veremos que foi um conjunto de eventos sem 
precedentes históricos.
Sob qualquer aspecto, este foi provavelmente o mais importante 
acontecimento na história do mundo, pelo menos desde a inven-
ção da agricultura e das cidades. E foi iniciado pela Grã-Bretanha. 
É evidente que isto não foi acidental. Se tivesse que haver uma 
disputa pelo pioneirismo da revolução industrial no século XVIII, 
só haveria de fato um concorrente a dar a largada: o grande 
avanço comercial e industrial de Portugal à Rússia, fomentado 
pelos inteligentes e nem um pouco ingênuos ministros e servi-
dores civis de todas as monarquias iluminadas da Europa, todos 
eles tão preocupados com o crescimento econômico quanto os 
administradores de hoje em dia. (HOBSBAWN, 2012, p. 61)
No que se refere, portanto, à transformação social causada pelas 
consequências do surgimento da indústria, não há equiparação com 
outros acontecimentos históricos.
Em relação às mudanças sociais, podemos citar diversos aspectos 
que se modificaram após o surgimento da Revolução Industrial. Eles 
vão desde a inserção de novos hábitos até a própria compreensão so-
bre o tempo cronológico. De acordo com Thompson (2016, p. 297), “por 
meio de tudo isso – pela divisão do trabalho, supervisão do trabalho, 
multas, sinos e relógios, incentivos em dinheiro, pregações e ensino, 
supressão das feiras e dos esportes – formaram-se novos hábitos de 
trabalho e impôs-se uma nova disciplina do tempo”.
Você já parou para pensar de que 
modo a indústria está presente 
no seu cotidiano? Muitas vezes, 
nem percebemos que um 
determinado produto ou serviço 
que utilizamos passou por um 
processo de produção em nível 
industrial. Por isso, é necessário 
que tenhamos o hábito de 
verificar a origem dos bens que 
consumimos.
Importante
50 Arte e Cultura
É importante, também, compreendermos o porquê de a eclosão da 
Revolução Industrial ter ocorrido na Inglaterra. Inicialmente, podemos 
destacar que um dos principais fatores foi a criação da Lei dos Cerca-
mentos de Terra, no século XVIII. Ela foi criada no contexto de transição 
do feudalismo para o capitalismo e deu origem à noção de propriedade 
privada atual, ao estabelecer o controle de acesso às terras que eram 
consideradas produtivas.
Em fins da Idade Média, ainda existiam as chamadas terras co-
munais; estas podiam ser acessadas pelos servos e por camponeses 
independentes, que poderiam produzir o necessário para sua sobre-
vivência. Porém, estima-se que, a partir do século XVI, desenvolveu-se 
um processo de marcação e cercamento dessas terras, delimitando 
territorialmente a posse sobre essas regiões.
Com isso, ocorreu um processo de migração urbana da população, 
anteriormente dependente dessas terras e que se deslocou para os cen-
tros urbanos, dando origem à mão de obra das primeiras fábricas e in-
dústrias. Na figura a seguir, podemos observar mulheres trabalhando 
em máquinas de fazer fio de algodão no começo do século XX.
Mulheres trabalhando em máquinas de tecelagem industrial em Lancashire, Inglaterra, por volta de 
1835.
Ev
er
et
t C
ol
le
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az
io
n/
Sh
ut
te
rs
to
ck
Podemos apontar, ainda, como fatores do pioneirismo inglês a 
existência da burguesia inglesa, que possuía o capital necessário para 
O filósofo Byung-Chul 
Han tem se destacado 
por seus ensaios sobre a 
compreensão de tempo 
que temos na atualidade. 
Para saber mais sobre o 
tema, leia a reportagem 
da revista IHU On-Line 
sobre o autor.
Disponível em: http://www.ihu.
unisinos.br/585918-reencontrar-
o-sentido-do-tempo-reflexoes-
sobre-o-pensamento-de-byung-
chul-hanNativo. Acesso em: 13 
ago. 2020.
Saiba mais
pioneirismo inglês: o 
termo faz referência ao fato de 
a Inglaterra ter se destacado 
no desenvolvimento industrial, 
em comparação com as demais 
potências europeias do período, 
como a França. 
Glossário
http://www.ihu.unisinos.br/585918-reencontrar-o-sentido-do-tempo-reflexoes-sobre-o-pensamento-de-byu
http://www.ihu.unisinos.br/585918-reencontrar-o-sentido-do-tempo-reflexoes-sobre-o-pensamento-de-byu
http://www.ihu.unisinos.br/585918-reencontrar-o-sentido-do-tempo-reflexoes-sobre-o-pensamento-de-byu
http://www.ihu.unisinos.br/585918-reencontrar-o-sentido-do-tempo-reflexoes-sobre-o-pensamento-de-byu
http://www.ihu.unisinos.br/585918-reencontrar-o-sentido-do-tempo-reflexoes-sobre-o-pensamento-de-byu
Aspectos teóricos da arte moderna e contemporânea 51
investir no desenvolvimento tecnológico, e a existência de uma monar-
quia parlamentarista.
Quanto à localização territorial, a Inglaterra também possuía uma 
considerável reserva de carvão – utilizado como fonte de energia nas 
primeiras máquinas – e ferro.
A figura a seguir, uma obra de Philip James de Loutherbourg, repre-
senta a cidade de Coalbrookdale, na Inglaterra. Esta era considerada 
uma das pioneiras no desenvolvimento industrial, ainda no início do 
século XIX.
Th
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rc
k 
Pr
oj
ec
t/
W
ik
im
ed
ia
 C
om
m
on
s
Coalbrookddale à noite. Pintura de 1801. 
Em relação às mudanças sociais, destacamos a estipulação de jor-
nadas de trabalho que podiam chegar a 16 horas diárias e a utilização 
de mulheres e crianças nas linhas de produção das fábricas. É nesse 
contexto que surgem os primeiros movimentos em prol da organização 
dos trabalhadores, assim como os sindicatos, que lutavam para melho-
rar a condição de trabalho dos operários.
Compreendemos, então, os principais fatores que culminaram no 
surgimento da Revolução Industrial e alguns de seus desdobramentos 
na Inglaterra.
O filme Oliver Twist é ins-
pirado no livro homônimo 
de Charles Dickens, um 
dos principais escritores 
de todos os tempos. O 
longa retrata a vida de 
um menino órfão que 
vive na Inglaterra vitoria-
na, e a história registra 
muitas das mudanças 
que ocorrem na socie-
dade após a Revolução 
Industrial. 
Assista ao trailer no link a seguir.
Disponível em: https://
www.youtube.com/
watch?v=4aUGLJicck8. Acesso em: 
4 ago. 2020.
Direção: Roman Polanski. Reino 
Unido: TriStar Pictures, 2005. 
Filme
https://www.youtube.com/watch?v=4aUGLJicck8
https://www.youtube.com/watch?v=4aUGLJicck8
https://www.youtube.com/watch?v=4aUGLJicck8
3.2 O surgimento da Indústria Cultural
Vídeo Se em um contexto inicial o processo de industrialização foi voltado 
para a produção de bens materiais, como os têxteis, com o passar do 
tempo, novas tecnologias foram desenvolvidas; isso permitiu o surgi-
mento da fotografia e, posteriormente, do cinema.
Antes de conhecermos o processo de surgimento da fotografia e do 
cinema,vamos compreender como o conceito de Indústria Cultural foi 
elaborado.
A expressão Indústria Cultural (Kulturindustrie) foi cunhada pela 
primeira vez em 1947, por Theodor W. Adorno e Max Horkheimer, 
nos fragmentos filosóficos reunidos sob o título de Dialética do 
Esclarecimento, termo que viria contrapor o conceito cultura de 
massa, por tratar de um fenômeno distinto quanto a sua nature-
za. (COSTA, 2013, p. 135, grifo do original)
Apesar de esse conceito ter sido elaborado quase na metade do 
século XX, sua atualidade em problematizar o funcionamento dos me-
canismos de produção cultural é surpreendente.
Adorno e Horkheimer apontaram diversos aspectos teóricos decor-
rentes da Indústria Cultural que se relacionam tanto com a vida em 
sociedade quanto com a própria formação da identidade individual.
Na indústria cultural o indivíduo é ilusório não só pela estandar-
dização das técnicas de produção. Ele só é tolerado à medida que 
sua identidade sem reservas com o universal permanece fora de 
contestação. [...] O individual se reduz à capacidade que tem o 
universal de assinalar o acidental com uma marca tão indelével 
a ponto de torná-lo de imediato identificável assim como está. 
Mesmo o mutismo obstinado ou os modos eleitos pelo indiví-
duo que se expõe são produzidos em série, como as fechaduras 
Yale, que se distinguem entre si só por frações de milímetros. 
(ADORNO; HORKHEIMER, 2000, p. 202)
Adorno e Horkheimer fi-
zeram parte da chamada 
Escola de Frankfurt, assim 
como outros nomes mui-
to importantes da Teoria 
Crítica, como Herbert 
Marcuse e Walter Benja-
min. Para saber mais, leia 
o texto A Escola de Frank-
furt e seu legado, de Janine 
Regina Mogendorff.
Disponível em: http://revistas.
unisinos.br/index.php/
versoereverso/article/view/
ver.2012.26.63.05. Acesso em: 13 
ago. 2020.
Saiba mais
Horkheimer (à esquerda) e Adorno (à direita). Fotografia 
tirada por Jeremy J. Shapiro, em 1964.
52 Arte e Cultura
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http://revistas.unisinos.br/index.php/versoereverso/article/view/ver.2012.26.63.05
http://revistas.unisinos.br/index.php/versoereverso/article/view/ver.2012.26.63.05
http://revistas.unisinos.br/index.php/versoereverso/article/view/ver.2012.26.63.05
http://revistas.unisinos.br/index.php/versoereverso/article/view/ver.2012.26.63.05
Aspectos teóricos da arte moderna e contemporânea 53
A Indústria Cultural não possibilita que a expressão da individuali-
dade seja feita em dissonância com a produção dos bens culturais, in-
corporando as diversas formas de manifestação pessoal à sua própria 
lógica de funcionamento.
Nesse sentido, é indispensável que as análises sobre a Indústria Cul-
tural sejam estudadas visando evidenciar interpretações reducionistas, 
que se baseiam somente no conteúdo ideológico das produções decor-
rentes desse processo.
Cabe atentarmos, também, para a alegação de que a Indústria 
Cultural democratizou o acesso à produção cultural, buscando proble-
matizar essa afirmação com a noção de que a cultura é considerada 
uma mercadoria, de acordo com essa lógica.
A produção em série dos bens culturais barateou os preços e tor-
nou tais produtos acessíveis à maioria da população. A “democra-
tização” da cultura promovida por este processo foi muitas vezes 
aclamada por seus defensores com a finalidade de aumentar sua 
produção e alcançar os mais distintos públicos consumidores. 
[...] Na indústria cultural os bens culturais estão subjugados à 
lógica do capitalismo tardio, a cultura transformou-se em merca-
doria. A cultura como valor de troca perde aquela tensão existen-
te entre homem e natureza, entre indivíduo e sociedade e entre 
os ideais emancipatórios contidos no esclarecimento. (CROCCO, 
2009, p. 4)
Ao apresentarmos algumas das concepções críticas acerca da Indús-
tria Cultural e de suas consequentes produções, não temos o intuito de 
condenar seu processo ou a existência dos produtos culturais, mas de 
possibilitar o acesso a uma outra perspectiva sobre o funcionamento 
desse sistema.
Justamente pelo modo de fazer e produzir cultura em escala indus-
trial estar tão consolidado e presente (quase que de maneira onipre-
sente em nosso cotidiano) é que essas reflexões se tornam ainda mais 
necessárias. Somente com o desenvolvimento da consciência indivi-
dual acerca do funcionamento da Indústria Cultural, assim como de 
seus aparatos tecnológicos, é que as pessoas poderão se relacionar 
de maneira autônoma com esse sistema e com seus desdobramentos.
A fotografia se configura como um marco em relação ao surgi-
mento e à consolidação da Indústria Cultural, pois, além de inserir o 
uso de um instrumento tecnológico, a câmera fotográfica permitiu a 
54 Arte e Cultura
reprodutibilidade da imagem. Entre os anos de 1826 e 1827, Joseph 
Nicéphore Niépce, inventor francês, tirou a primeira fotografia de que 
se tem registro na história; esta foi nomeada View from the Window at Le 
Gras (Vista da janela em Le Gras).
A primeira fotografia do mundo foi tirada por Niépce.
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Podemos considerar que, com o surgimento do cinema, a Indús-
tria Cultural consolidou seu modus operandi, ou seja, desenvolveu suas 
principais características de funcionamento na perspectiva sistemática.
O acelerado incremento científico e tecnológico, principalmente 
a partir do século XIX, com a Revolução Industrial e a crescen-
te difusão da cultura de massa no século XX, propiciou o cresci-
mento vertiginoso do consumo do lazer, não apenas facultando 
o nascimento do cinema, mas sustentando-o até hoje como 
meio de expressão artística, documental ou de entretenimento 
comercial. Sob o aspecto científico, pode-se observar ainda que 
a “invenção” do cinema tanto foi um produto desse tipo de co-
nhecimento, através do cruzamento de diversas ciências – ma-
temática, física, química, mecânica óptica e eletricidade –, como 
também foi um instrumento destinado ao estudo, dentre outros 
objetos, da fisiologia animal, dos processos da visão e da fotogra-
fia. (SILVA JUNIOR, 2019, p. 505)
Atualmente, podemos considerar que há uma extensa variedade de 
formatos produzidos pela Indústria Cultural. São exemplos as séries 
televisivas, os jogos digitais e a publicidade.
Como vimos, o conceito de Indústria Cultural foi elaborado no sécu-
lo XX e inclui diversas formas de manifestação cultural; sua utilização 
ainda se mantém bastante pertinente nos dias de hoje.
A criação da fotografia 
foi consequência de um 
lento processo de desen-
volvimento das condições 
necessárias para seu 
surgimento; diversas 
pessoas tiveram um 
papel importante para 
isso. Quer saber mais 
sobre a fotografia? Leia 
a reportagem Pioneira: a 
primeira fotografia tirada 
na história, de Pamela 
Malva.
Disponível em: https://
aventurasnahistoria.uol.com.
br/noticias/almanaque/qual-e-
primeira-fotografia-ja-tirada.phtml. 
Acesso em: 13 ago. 2020.
Saiba mais
Aspectos teóricos da arte moderna e contemporânea 55
3.3 Consumo 
Vídeo Você já parou para pensar de onde vieram e como foram feitos os 
objetos que utilizamos todos os dias, desde os mais básicos, como as 
roupas, até os mais complexos, como os smartphones?
Em um mundo globalizado, como o contemporâneo, identificar a 
origem dos produtos aos quais temos acesso diariamente, assim como 
descobrir de que modo foram produzidos, é um verdadeiro desafio. 
Por isso, o entendimento do funcionamento da ca-
deia de produção se configura como um dos princi-
pais aspectos relacionados aos estudos do consumo.
Majoritariamente, o consumo se constitui uma 
relação mediada pelo dinheiro, visto que a forma de 
aquisição de um produto, seja ele um objeto ou um 
serviço, ocorre por meio da monetarização.
Na figura a seguir, podemos observar uma cena 
típica da sociedade de consumo, retratando pessoas 
fazendo compras em um mercado na década de 1940.
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Consumidores em um mercado na Suécia, em 1941.E será que existem outras formas de se adquirir um produto não 
sendo por meio da compra ou venda? O escambo é um exemplo de 
prática que não envolve a transição monetária para a troca de produ-
tos ou bens individuais, devendo haver uma equivalência de valores 
entre os participantes.
Vídeo
Para compreender 
melhor como funciona 
a cadeia de produção 
de um objeto, assista ao 
vídeo História das Coisas, 
publicado pelo canal João 
Faraco.
Disponível em: https://www.
youtube.com/watch?v=3c88_
Z0FF4k. Acesso em: 13 ago. 2020.
https://www.youtube.com/watch?v=3c88_Z0FF4k
https://www.youtube.com/watch?v=3c88_Z0FF4k
https://www.youtube.com/watch?v=3c88_Z0FF4k
56 Arte e Cultura
Inegavelmente, o consumo é uma prática que faz parte da realidade 
social contemporânea; isso despertou um interesse cada vez maior dos 
pesquisadores de diversas áreas, que têm elaborado estudos sobre as 
temáticas relacionadas ao consumo.
De fato, a temática do consumo e da cultura de consumo nunca 
foi tão analisada como nos dias que correm, localizando-se no 
imbricamento das discussões culturais e econômicas, políticas, 
sociais e psicológicas, no entanto, da indústria do entretenimen-
to ao consumo estético da mercadoria, seja por sua imagem, por 
sua utilidade imediata, pelas emoções que desperta ou, ainda, 
pelas diferenciações que pode proporcionar às diversas tribos 
de consumidores, ainda se fazem necessárias muitas pesquisas 
e análises. (MANCEBO et al., 2002, p. 331)
O consumo pode ser abordado de diversas formas, como por meio 
da perspectiva econômica; entretanto, para a construção dessa análise, 
iremos priorizar os aspectos culturais dessa prática. Nesse sentido, o 
consumo pode ser entendido como uma ação que ocorre de maneira 
subjetiva na construção do indivíduo e/ou de um grupo, sendo uma prá-
tica que se relaciona com o desenvolvimento da identidade social.
Se, num primeiro momento, a sociedade de consumo se orga-
nizou pelo viés da padronização, onde a diferenciação marcava-
-se pela proximidade com o estilo de vida e padrão de consumo 
de algum grupo bem estabelecido e legitimado na sociedade, 
que se tornava um grupo de referência – procedimento que, 
aliás, foi determinante no crescimento das indústrias de imi-
tação já a partir de meados do século XVIII na Inglaterra – , no 
contexto atual de organização da sociedade de consumo, o ele-
mento marcante parece ser a diferenciação pela identificação. 
(RETONDAR, 2008, p. 148)
Dessa forma, podemos considerar que o consumo foi utilizado, ini-
cialmente, como uma forma de aproximação e identificação com um 
determinado grupo ou estilo de vida. Posteriormente, desenvolveu-se 
a utilização do consumo como uma forma de expressar as diferenças 
individuais.
Outro aspecto da abordagem cultural do consumo se refere ao fato 
de que, na sociedade globalizada, as culturas locais e regionais são 
diretamente afetadas pela entrada de marcas internacionais nesses 
espaços.
O escambo é uma prática 
que se originou na Idade 
Média. Para saber mais 
sobre isso, leia o texto 
História - Dinheiro não é 
vendaval.
Disponível em: https://www.ipea.
gov.br/desafios/index.php?option=-
com_content&view=article&i-
d=2274:catid=28&Itemid=23. 
Acesso em: 13 ago. 2020.
Curiosidade
https://www.ipea.gov.br/desafios/index.php?option=com_content&view=article&id=2274:catid=28&Itemid=23
https://www.ipea.gov.br/desafios/index.php?option=com_content&view=article&id=2274:catid=28&Itemid=23
https://www.ipea.gov.br/desafios/index.php?option=com_content&view=article&id=2274:catid=28&Itemid=23
https://www.ipea.gov.br/desafios/index.php?option=com_content&view=article&id=2274:catid=28&Itemid=23
Aspectos teóricos da arte moderna e contemporânea 57
Os fluxos culturais, entre as nações, e o consumismo global criam 
possibilidades de “identidades partilhadas” – como “consumido-
res” para os mesmos bens, “clientes” para os mesmos serviços, 
“públicos” para as mesmas mensagens e imagens – entre pessoas 
que estão bastante distantes umas das outras no espaço e no 
tempo. À medida que as culturas nacionais se tornam mais expos-
tas a influências externas, é difícil conservar as identidades cultu-
rais intactas ou impedir que elas se tornem enfraquecidas através 
do bombardeamento da infiltração cultural. (HALL, 2015, p. 42)
Cabe observarmos que esse processo já está se desenvolvendo. In-
clusive, em alguns casos, ocorre uma espécie de fusão entre culturas 
distintas, culminando no surgimento de novas expressões sociais. Um 
dos fatores que contribui para essa condição é a adaptação que muitas 
marcas internacionais realizam ao se estabelecer em outro país, bus-
cando se adequar às preferências e aos costumes dos lugares em que 
estão inseridas.
O estudo da perspectiva cultural sobre o consumo é indispensável para 
a compreensão dessa prática, principalmente porque podemos abordar 
quais são os impulsos motivadores que levam os indivíduos a consumir.
Em um primeiro momento, podemos encontrar o impulso de suprir 
as necessidades básicas, como abrigo, alimentação e higiene, seguido 
de necessidades relacionadas ao trabalho, como transporte e equipa-
mentos. Porém, existem outros impulsos que consistem em vontades 
específicas, muitas vezes estimuladas pela publicidade, como o consu-
mo de produtos que agregam um determinado status social.
Em alguns casos, até mesmo o próprio ato do consumo, sem ter 
uma finalidade estipulada, pode ser considerado um impulso motiva-
dor, pois o consumidor sente prazer na ação de adquirir um produto.
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Consumidores em uma loja de eletrônicos.
Já imaginou fazer uma 
festa para comemorar 
o centenário de uma 
lâmpada? Esse é um 
dos acontecimentos 
retratados no vídeo 
Obsolescência Progra-
mada - The Light Bulb 
Conspiracy, publicado 
pelo canal Elementar.
Disponível em: https://
www.youtube.com/
watch?v=H7EUyuNNaCU. Acesso 
em: 13 ago. 2020.
Vídeo
https://www.youtube.com/watch?v=H7EUyuNNaCU
https://www.youtube.com/watch?v=H7EUyuNNaCU
https://www.youtube.com/watch?v=H7EUyuNNaCU
58 Arte e Cultura
Podemos observar que, nos padrões de consumo atuais, há um de-
sequilíbrio bastante significativo em relação aos recursos naturais uti-
lizados como matéria-prima e à demanda comercial. Também há uma 
contradição entre o desenvolvimento tecnológico, que já possibilitaria 
a criação de produtos mais duradores, e o lucro das empresas, que 
buscam a diminuição dos custos.
O consumo consciente tem se tornado uma tentativa de reverter 
esse cenário por meio de inúmeras medidas, como conhecer a cadeia 
de produção dos produtos que chegam até nós e favorecer os negócios 
locais e regionais, pois essa atitude contribui para a promoção do de-
senvolvimento social e ambiental.
3.4 Globalização 
Vídeo A globalização pode ser considerada, de modo geral, como um fenô-
meno extremamente amplo e complexo que promove diversas conse-
quências para o desenvolvimento social, em nível mundial. Nesta seção, 
iremos abordar, especificamente, uma das linhas de desdobramento da 
globalização que se refere à produção da cultura e das identidades sociais.
Para iniciarmos essa abordagem, é necessário compreendermos de 
que maneira as identidades sociais são construídas em relação à for-
mação das nacionalidades.
No mundo moderno, as culturas nacionais em que nascemos se 
constituem em uma das principais fontes de identidade cultural. 
Ao nos definirmos, algumas vezes dizemos que somos ingleses 
ou galeses ou indianos ou jamaicanos. Obviamente, ao fazer isso 
estamos falando de forma metafórica. Essas identidades não 
estão literalmente impressas em nossos genes. Entretanto, nós 
efetivamente pensamos nelas como se fossem parte de nossa 
natureza essencial. (HALL, 2015, p. 29)
A noção de pertencimento a uma determinada nacionalidade, por-
tanto, é um processo construído historicamente, o qual faz com que 
os indivíduos associem a sua própria identidade com a do país em que 
nasceram e/ou foram criados.
Sendo assim, podemos considerarque as nacionalidades são cons-
truídas e, de certa forma, imaginadas. Como disse Anderson (2008, p. 
56), “a ideia de um organismo sociológico atravessando cronologica-
Aspectos teóricos da arte moderna e contemporânea 59
mente um tempo vazio e homogêneo é uma analogia exata da ideia 
de nação, que também é concebida como uma comunidade sólida per-
correndo constantemente a história, seja em sentido ascendente ou 
descendente”.
A representação realizada sobre qualquer tipo de nacionalidade é, 
então, uma idealização, sendo elaborada no âmbito social e caracteri-
zando-se pela existência de símbolos, como a bandeira nacional.
Nesse sentido, podemos compreender que a globalização faz refe-
rência à transposição das fronteiras nacionais, possibilitando, assim, a 
intensificação das relações entre os mais diversos pontos do planeta.
Como argumenta Anthony McGrew (1992), a “globalização” se 
refere àqueles processos, atuantes numa escala global, que atra-
vessam fronteiras nacionais, integrando e conectando comuni-
dades e organizações em novas combinações de espaço-tempo, 
tornando o mundo, em realidade e em experiência, mais interco-
nectado. (HALL, 2015, p. 39)
A escultura a seguir, denominada Monumento ao multiculturalismo, 
de Francesco Pirelli, simboliza o fenômeno da globalização, represen-
tando uma pessoa no meio de uma estrutura similar a um globo aberto.
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Escultura feita em homenagem ao multiculturalismo, em Toronto, no Canadá. Existem outras 
quatro esculturas idênticas localizadas nos EUA, na África do Sul, na China, na Bósnia e na 
Austrália.
O livro A invenção das 
tradições aborda diversos 
fatores relacionados ao 
processo de formação 
das nacionalidades e à 
construção das tradições 
sociais, sendo um dos 
principais referenciais 
sobre esse tema.
HOBSBAWM, E. J. São Paulo: Paz e 
Terra, 2015.
Livro
60 Arte e Cultura
Para saber mais sobre as contribuições do sociólogo Stuart Hall, leia o artigo 
Stuart Hall: tributo a um autor que revolucionou as discussões em educação no 
Brasil, de Marisa Vorraber Costa, Maria Lúcia Castagna Wortmann e Rosa 
Maria Hessel Silveira, publicado na revista Educação & Realidade.
Acesso em: 13 ago. 2019. 
https://www.scielo.br/pdf/edreal/v39n2/v39n2a15.pdf
Artigo
A palavra interconexão pode ser utilizada para evidenciar as carac-
terísticas que se estabelecem com o desenvolvimento dos processos 
sociais em uma escala global, promovendo a aproximação de comuni-
dades distintas.
Historicamente, é bastante difícil conseguirmos precisar o surgi-
mento da globalização como fenômeno, pois essa conceituação varia 
de acordo com o autor utilizado.
Devemos considerar as mudanças que ocorrem no contexto histó-
rico, pois, se a prática de estabelecer relações entre países ou comu-
nidades distintas é datada de muito tempo atrás, as características do 
processo de globalização, tal qual o conhecemos hoje, são específicas 
do período atual.
Entre essas características, podemos citar o desenvolvimento das 
tecnologias digitais, com destaque para a internet e, consequentemen-
te, a disseminação de diversas culturas em nível internacional.
Aparentemente, os problemas de inflação produzidos por uma 
oferta excessiva e uma circulação veloz de bens simbólicos e 
mercadorias de consumo trazem o risco de ameaçar a legibili-
dade dos bens usados como sinais de status social. No contex-
to da erosão das fronteiras da sociedade-Estado, como parte 
de um processo de globalização dos mercados e da cultura, 
pode ser mais difícil estabilizar os bens marcados adequados. 
(FEATHERSTONE, 1995, p. 39)
Com a intensificação da circulação de mercadorias entre os paí-
ses, podemos observar que ocorre um contínuo processo de abertu-
ra das fronteiras por parte dos Estados, a fim de favorecer as trocas 
comerciais.
Outro estudo interessante sobre a globalização se refere aos 
aspectos relacionados à alimentação. Nesse contexto, podemos obser-
Aspectos teóricos da arte moderna e contemporânea 61
var uma intensificação considerável na circulação de alimentos e de 
práticas alimentares ao redor do mundo.
Um exemplo é a ascensão das preocupações com a gastronomia, 
com destaque para a comida que representa etnias tradicionais. 
Reconhece-se que essa tendência sempre ocorreu pelas migra-
ções humanas; contudo, com as possibilidades da globalização, 
as modas gastronômicas vêm se repetindo com maior velocida-
de. Assim, observa-se o destaque recente da comida japonesa, 
tailandesa, mexicana, peruana e turca, em muitos lugares, além 
dos restaurantes ditos típicos, simplesmente misturando-se às 
comidas locais. (PROENÇA, 2010, p. 44)
Outra característica da globalização é um fenômeno que pode ser 
descrito sumariamente como a expansão mundial das marcas. Um dos 
exemplos desse processo é o sistema de franquias, no qual lojas, que 
são filiais de uma determinada marca, são abertas nos mais diversos 
lugares do mundo. Também há a possibilidade de montar uma empre-
sa própria e adquirir o direito de comercialização da marca, que nesse 
caso funciona como uma concessão de uso.
A figura a seguir registra uma franquia da marca de café Starbucks, 
de origem estadunidense, em Seul, capital da Coreia do Sul, que repre-
senta a expansão mundial da marca. Podemos perceber o logotipo da 
marca na fachada com inscrições da língua coreana.
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A loja da Starbucks em Seul é a única do mundo em que o letreiro com o nome da empresa é 
grafado em outra língua.
Considerando que a construção de uma marca está frequentemen-
te associada a seu local de origem, podemos observar que, com esse 
processo, ocorre também uma difusão de valores e práticas sociais.
3.5 Pós-modernidade 
Vídeo A noção de pós-modernidade pode fazer referência a diversas defi-
nições distintas, condição que denota a complexidade desse tema. Por 
isso, nesta seção, iremos abordá-la como uma definição de temporali-
dade e como um amplo e intrincado fenômeno social.
A primeira concepção se refere a uma tentativa de nomeação do 
contexto contemporâneo, evidenciando características singulares 
desse período histórico. O estabelecimento dos períodos históricos é 
uma atividade bastante minuciosa, pois deve levar em consideração os 
principais aspectos de um contexto em particular.
Esse é um dos motivos que contribuem para a existência de diver-
sos debates sobre a periodização histórica e de suas consequentes di-
visões, já que é possível encontrarmos variações em relação aos marcos 
temporais, às datas de início e fim de um determinado período, depen-
dendo do autor utilizado como referencial.
Nessa perspectiva, a pós-modernidade seria caracterizada por ser 
um período histórico diferente da Idade Moderna. Boa parte dos auto-
res que defendem essa interpretação identificam seu início aproxima-
damente em fins da década de 1980, como marco de transição social 
entre os dois contextos.
A sede mundial do Hongkong e Shanghai Banking 
Corporation (HSBC) fica em Hong Kong, na China, e é um 
exemplo do estilo arquitetônico pós-moderno, especifica-
mente na tendência high-tech.
Com base nesse recorte histórico, podemos situar diver-
sos acontecimentos que tiveram impacto global, a começar 
pelo surgimento da internet e pela queda do Muro de Ber-
lim. A definição do que é a pós-modernidade envolve diver-
sas questões, que incluem, por exemplo, debates sobre a 
periodização de início e término da modernidade.
No vídeo Frederic Jameson 
– Pós-modernismo ou 
pós-modernidade, publica-
do pelo canal Fronteiras 
do Pensamento, o crítico 
literário discorre sobre as 
diferenças entre os dois 
conceitos.
Disponível em: https://
www.youtube.com/
watch?v=nSNAhib3B_M. Acesso 
em: 13 ago. 2020.
Vídeo
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Torre do banco HSBC em Hong Kong, China. O prédio começou a ser construído em 
1935 e foi finalizado em 1986.
62 Arte e Cultura
https://www.youtube.com/watch?v=nSNAhib3B_M
https://www.youtube.com/watch?v=nSNAhib3B_Mhttps://www.youtube.com/watch?v=nSNAhib3B_M
Aspectos teóricos da arte moderna e contemporânea 63
No que se refere ao conceito de pós-modernidade, podemos desta-
car que se origina no campo da cultura, com a designação do termo 
para um estilo específico.
A caracterização da pós-modernidade teve início em um deba-
te em torno da cultura (arquitetura, pintura, romance, cinema, 
música etc.) e estendeu-se aos campos da filosofia, economia, 
política, família ou mesmo da intimidade. Crise ecológica, impas-
se histórico do socialismo, informatização, ‘tribalismos’, declínio 
da esfera pública e da política, expansão dos fundamentalis-
mos, novas formas de identidade social ou instantaneidade da 
comunicação e suas imensas repercussões não são fenômenos 
explicáveis através do recurso à “totalidade unificadora” (Kumar, 
1997, p. 188), o que dá origem a esforços de compreensão que 
seguem em variadas direções. (FRIDMAN, 1999, p. 355)
Se inicialmente o conceito de pós-modernidade era empregado 
especificamente para se referir ao campo da cultura, posteriormente 
podemos observar que esse conceito se expande para englobar as mu-
danças que estão ocorrendo em um nível social; por exemplo, a emer-
gência de novas identidades sociais e o fundamentalismo religioso.
No geral, podemos identificar algumas características que se referem 
ao conceito de pós-modernidade. Esses aspectos são reconhecidos por 
diversos pesquisadores, inclusive, com pontos de divergência entre eles.
Algumas dessas feições são tão evidentes a ponto de não gera-
rem discordâncias, mesmo quando vistas a partir de diferentes 
convicções políticas ou abordagens teóricas, e é novamente o 
contraponto entre as duas realidades que torna essas feições 
tão evidentes e consensuais. Entre elas, destacam-se as se-
guintes: a globalização, as comunicações eletrônicas, a mobi-
lidade, a flexibilidade, a fluidez, a relativização, os pequenos 
relatos, a fragmentação, as rupturas de fronteiras e barreiras, 
as fusões, o curto prazo, o imediatismo, a descentralização e 
extraterritorialidade do poder, a imprevisibilidade e o consumo. 
(NICOLACI-DA-COSTA, 2004, p. 83)
A constante presença dos aparelhos eletrônicos, como televisão, 
computador e celular, no cotidiano das pessoas, é uma das principais 
características da pós-modernidade. As figuras a seguir são represen-
tações de cenas que se tornaram cotidianas.
Qual é a relação que 
se estabelece entre 
pós-modernidade, 
globalização e produção 
das identidades sociais? 
Para saber mais sobre 
isso, leia a entrevista com 
o sociólogo Renato Ortiz, 
publicada pela revista IHU 
On-Line.
Disponível em: http://www.ihu.
unisinos.br/entrevistas/532610-
pos-modernidade-identidade-e-
tecnologia-no-mundo-globalizado-
entrevista-especial-com-renato-
ortiz. Acesso em: 13 ago. 2020.
Saiba mais
64 Arte e Cultura
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A utilização de aparelhos eletrônicos por pessoas, nos mais diversos ambientes, é bastante 
comum no dia a dia da sociedade pós-moderna.
Com a utilização da tecnologia digital, diversos outros aspectos da 
condição pós-moderna se desenvolvem e se intensificam. Por exemplo, 
a utilização quase que exclusiva do sentido da visão, em comparação 
com os demais. Isso ocorre porque os aparelhos, como smartphone e 
televisão, exigem que a visão seja constantemente utilizada para que 
possamos compreender as informações transmitidas. Outro aspecto 
que contribui para isso é a veiculação diária de imagens, feita de forma 
quase que ininterrupta, por meio de vídeos, fotografias e imagens digi-
tais, por exemplo.
Outra característica da pós-modernidade é o fenômeno da frag-
mentação, que está diretamente relacionado com a forma de percep-
ção da temporalidade.
A crise da historicidade nos leva de volta, de um outro modo, à 
questão da organização da temporalidade em geral no campo 
de forças do pós-moderno e também ao problema da forma 
que o tempo, a temporalidade e o sintagmático poderão assu-
mir em uma cultura cada vez mais dominada pelo espaço e pela 
lógica espacial. Se, de fato, o sujeito perdeu sua capacidade de 
estender de forma ativa suas pretensões e retenções em um 
complexo temporal e organizar seu passado e seu futuro como 
uma experiência coerente, fica bastante difícil perceber como a 
produção cultural de tal sujeito poderia resultar em outra coisa 
que não um “amontoado de fragmentos” e uma prática de hete-
rogeneidade a esmo do fragmentário, do aleatório. (JAMESON, 
1997, p. 36)
Aspectos teóricos da arte moderna e contemporânea 65
Na prática, podemos considerar que o contexto pós-moderno, com 
todas as suas características, tende a fazer com que os indivíduos de-
senvolvam minimamente sua capacidade de ordenação do tempo, 
como a ausência da habilidade de estabelecer uma relação causal en-
tre acontecimentos do passado, do presente e do futuro.
Essa condição faz com que a produção cultural seja composta de 
diversos fragmentos que não, necessariamente, estarão relacionados 
entre si e que se configuram como um desdobramento da percepção 
individual.
Por fim, podemos considerar que a pós-modernidade na condição 
de fenômeno social vai, ainda, caracterizar-se pela existência de outras 
características, como a noção de hiper-realidade, associada ao acesso 
constante aos meios virtuais, e a descentralização do sujeito em contra-
posição ao período moderno.
 CONSIDERAÇÕES 
FINAIS
Conseguir compreender o contexto contemporâneo, em seus di-
versos desdobramentos, realmente não é uma atividade fácil, pois po-
demos incorrer no equívoco de relegar algum de seus aspectos mais 
preponderantes.
Dessa forma, podemos considerar que a Revolução Industrial se con-
figura como o ponto de origem dos demais tópicos abordados, sendo 
inviável compreendermos as sociedades atuais desconsiderando esse 
assunto.
A Indústria Cultural se configura como um desdobramento da 
Revolução Industrial e transformou a compreensão de cultura ao possibi-
litar a reprodução em série de diversas obras artísticas e culturais.
O consumo, a globalização e a pós-modernidade podem ser consi-
derados aspectos integrantes de um mesmo contexto, visto que se rela-
cionam diretamente entre si. Quando abordamos a prática do consumo, 
podemos entender que ela faz referência à cultura ao influenciar a forma-
ção da subjetividade individual.
A globalização também está intrinsecamente relacionada à produção 
cultural da contemporaneidade, pois coloca em questão o estabelecimen-
to das fronteiras nacionais e promove um intercâmbio de trocas culturais.
66 Arte e Cultura
Quanto à pós-modernidade, podemos descrevê-la como um fenôme-
no social que se caracteriza por diversos aspectos, como a utilização da 
tecnologia digital na vida cotidiana.
Para compreendermos a produção cultural e artística no contexto con-
temporâneo, é fundamental que as temáticas aqui apresentadas sejam 
cada vez mais discutidas e problematizadas.
 ATIVIDADES
1. A Revolução Industrial é um marco histórico muito significativo, pois dá 
origem a diversos processos subsequentes. Com base nesta premissa, 
discorra sobre esse processo, evidenciando algumas das principais 
características do contexto histórico de seu surgimento.
2. A globalização é um fenômeno que ocorre em nível mundial, tendo 
como um de seus principais motivadores a questão comercial. Com 
base nesta premissa, explique como a globalização interfere na 
produção da cultura.
3. O termo pós-modernidade possui diversos significados. Discorra sobre 
seus possíveis significados, abordando diferentes definições.
 REFERÊNCIAS
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https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-49792019000300505
68 Arte e Cultura
4
Movimentos artísticos 
modernos e contemporâneos
A produção artística está diretamente associada ao contexto 
histórico no qual é realizada. Para conhecermos os movimentos 
artísticos e suas principais características, precisamos saber os as-
pectos da sociedade na qual os artistas viviam.
Neste capítulo, iremos entender o que foram as vanguar-
das artísticas, representadas por cinco movimentos principais: 
expressionismo, futurismo, cubismo, dadaísmo e surrealismo.
Compreenderemos, também, a forma como esses movimentos 
contribuíram para uma transformação surpreendente na concep-
ção do que é arte e quais foram as principais causas de surgimento 
desses estilos.
Na sequência, considerando a influência das vanguardas artís-
ticas, iremos abordar a pop art como um movimento, buscando 
contextualizar suas principais características.
Por fim, vamos nos dedicar ao estudo de um movimento artís-
tico contemporâneo, que ainda está em voga, denominado surrea-
lismo pop, analisando alguns dos principais artistas desse estilo. 
Estudar a arte produzida no século XX e no século XXI é um percur-
so repleto de descobertas impressionantes. Vamos lá?
4.1 Contexto histórico da arte moderna 
Vídeo Conhecer o contexto histórico de surgimento de um movimen-
to artístico é um dos principais aspectos necessários para podermos 
compreender o estilo desenvolvido pelos artistas e as relações estabe-
lecidas entre eles e a sociedade.
Movimentos artísticos modernos e contemporâneos 69
Nesse sentido, quando fazemos menção à arte moderna, estamos 
nos referindo aos movimentos que surgiram e desenvolveram-se des-
de o contexto da Revolução Industrial até o século XX.
Apesar de utilizarmos a periodização para compreender os 
movimentos artísticos, estabelecendo datas de início e fim, cabe 
destacarmos que a influência desses estilos permanece até a contem-
poraneidade. São exemplos a produção de filmes, as fotografias e as 
peças publicitárias.
Cabe destacarmos ainda que a noção de modernidade na Arte não 
equivale ao mesmo conceito na História. De acordo com Minerini e 
Amália (2019, p. 7),
moderno diz respeito àquilo que acontece no tempo presente; 
trata-se, portanto, do hodierno, daquilo dos dias atuais. A arte 
moderna, entretanto, não necessariamente é aquela que está 
acontecendo nesse momento. Ela surge no contexto da moder-
nidade, que se dá como consequência da Revolução Industrial 
iniciada século XVIII, e não no panorama da história moderna, 
compreendida entre o Renascimento e a Revolução Francesa.
Abordaremos, nos tópicos correspondentes, as características espe-
cíficas do contexto de cada movimento artístico, pois, apesar de fazerem 
parte do mesmo recorte temporal, podem ter variações significativas, 
principalmente em relação às condições sociais de cada país.
Dessa forma, iremos tecer algumas considerações gerais sobre a 
transição do século XIX para o XX, em que se situa a origem das van-
guardas artísticas, que são o recorte temático que faremos sobre arte 
moderna.
No final do século XIX e início do XX, a Europa vivia uma situa-
ção caracterizada por instabilidade social, rivalidade econômi-
ca e política entre as nações, que culminou na Primeira Guerra 
Mundial, além de uma fecunda produtividade científica e intelec-
tual. Sendo assim, a arte se viu afetada e múltiplos movimentos 
começaram a surgir como verdadeiros gritos de guerra, rompen-
do de formas muito diferentes com os modelos de beleza domi-
nantes. Até a Segunda Guerra Mundial, as primeiras vanguardas 
artísticas ou históricas explodiram por toda a Europa, influen-
ciando outros continentes, como a América do Norte e América 
Latina. (PORTO, 2016, p. 83)
Podemos observar, então, que o continente europeu se destaca 
inicialmente no surgimento das vanguardas artísticas, como no caso 
70 Arte e Cultura
do expressionismo. Posteriormente, surgem movimentos, em outros 
lugares, que também vão se caracterizar pela reflexão sobre o que é 
a arte e pela contestação dos padrões tradicionais na produção das 
obras artísticas.
A eclosão da Primeira e da Segunda Guerra Mundial, o expressivo 
crescimento da produção de bens industrializados e a ascensão de re-
gimes totalitários, como o fascismo e o nazismo, são alguns dos as-
pectos que contribuíram para o surgimento das chamadas vanguardas 
artísticas, que se referem a grupos de artistas do século XX. O próprio 
conceito enfatiza a noção de que foram pioneiros no fazer artístico, 
tendo entre suas características a crítica ao status quo, ou seja, ao meio 
estabelecido da arte, principalmente a arte considerada acadêmica.
Podemos destacar, portanto, que “a vanguarda rompe com o pas-
sado e volta-se contra aquilo que entende como antigona arte, abrin-
do inúmeras possibilidades, muitas delas presentes ainda hoje na arte 
contemporânea ou pós-moderna” (AMÁLIA; MINERINI, 2019, p. 7).
Esses movimentos também se tornaram amplamente conhecidos 
pelos manifestos que expressaram boa parte de suas convicções, ou 
ausência delas, para a sociedade em geral. Para Eco (2015, p. 368),
as vanguardas históricas remetiam aos ideais de desregramento 
dos sentidos já defendidos por Rimbaud ou Lautréamont. Pro-
nunciavam-se contra a arte naturalista e “consolatória” de seu 
tempo [...]. Nos primórdios, com o Manifesto Futurista, elogiava-
-se a velocidade, os carros de corrida mais belos que a Vitória de 
Samotrácia, a guerra, a bofetada e o soco, lutava-se contra a “luz 
do luar”, os museus e as bibliotecas, propunha-se realizar “cora-
josamente o feio”, Palazzeschi defende uma educação das jovens 
gerações ao repulsivo e, em 1913, Boccioni intitula “Antigracioso” 
seja uma escultura, seja um quadro.
Entre os questionamentos das vanguardas, podemos identificar uma 
crítica voltada para a função da arte, pois os artistas desses movimentos 
romperam com o entendimento de que a arte, por si só, seria capaz de 
contribuir para o desenvolvimento dos valores humanos na sociedade.
Imersos em um contexto histórico permeado por guerras, intolerân-
cia e violência, uma parte desses artistas buscou criar formas de expres-
são artística, a fim de questionar a realidade na qual estavam inseridos. 
Dessa forma, houve a busca por atribuir novas funções para a produ-
ção artística que ultrapassavam o deleite estético de contemplação das 
O filme Manifesto faz 
referência direta às 
vanguardas artísticas do 
século XX, ao abordar 
manifestos de diversos 
movimentos, como o 
surrealismo, o futurismo 
e o dadaísmo. A atriz Cate 
Blanchett interpreta 13 
papéis diferentes, cada 
um representando um 
manifesto. 
Trailer disponível em: 
https://www.youtube.com/
watch?v=VWzHVroUNA8. Acesso 
em: 27 ago. 2020.
Direção: Julian Rosefeldt. Austrália/
Alemanha: Bayerischer Rundfunk, 
2015.
Filme
Movimentos artísticos modernos e contemporâneos 71
obras e tinham como intenção enfatizar a noção de ruptura, bem como 
possibilitar um olhar diferenciado sobre a noção do que pode ser consi-
derado arte.
Outro elemento que também foi bastante significativo e esteve pre-
sente em diversas vanguardas artísticas foi o desenvolvimento tecnoló-
gico e industrial, característico do século XX.
Os principais movimentos artísticos caracterizados como vanguar-
da são os seguintes: expressionismo, cubismo, futurismo, surrealismo 
e dadaísmo. A seguir, veremos brevemente um pouco sobre cada uma 
dessas tendências, analisando uma obra de cada artista.
4.2 Vanguardas artísticas: expressionismo, 
cubismo e futurismo 
Vídeo Começaremos pelo expressionismo, movimento que surgiu no iní-
cio do século XX e caracterizou-se por ser uma tendência da arte eu-
ropeia moderna. O termo foi mencionado pela primeira vez na revista 
alemã Der Sturm (A tempestade), em 1911.
Inicialmente, constituiu-se uma oposição ao impressionismo fran-
cês, sendo contrário à noção de arte como registro da natureza e bus-
cando evidenciar a ação por meio da utilização de cores fortes e formas 
distorcidas.
Houve dois grupos de artistas: um se localizava em Dresden e ou-
tro, em Munique. Ambos contribuíram para o desenvolvimento das 
características do expressionismo, como a utilização de pinceladas ex-
pressivas. Algumas das principais influências foram o fauvismo e a arte 
primitiva, assim como as obras de Van Gogh e Paul Gauguin.
Após a Primeira Guerra Mundial, os grupos se dissolveram; porém, 
o expressionismo se difundiu pela Alemanha. Com o surgimento do 
nazismo, os artistas começaram a ser perseguidos, e o movimento foi 
tachado de arte degenerada.
Posteriormente, o expressionismo se espalhou para outros países, 
como Bélgica, Holanda e França, e retomado a partir de 1950 nos EUA 
com o expressionismo abstrato.
72 Arte e Cultura
Um dos principais artistas desse movimento foi o alemão Wassily 
Kandinsky, que aplicou os preceitos expressionistas na obra a seguir, 
por meio da utilização de diversas cores.
Munich-Schwabing with the 
Church of St. Ursula (Munique 
com a Igreja de Santa 
Úrsula), pintura de 1908, de 
Kandinsky.
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O movimento conhecido como cubismo surgiu com a obra Les 
Demoiselles d’Avignon, de Pablo Picasso, no ano de 1907, em Paris. Essa 
obra não foi aceita pelos críticos inicialmente, porém se transformou 
em um marco na história da arte.
Esse movimento, que se esten-
deu pelas duas primeiras décadas 
do século XX, era contrário à arte 
como imitação da natureza e foi 
influenciado pelas obras de Paul 
Cézanne.
O cubismo se caracterizou pelo uso das formas abstratas, como 
cubos, cilindros, cones e esferas, pela representação de diferentes 
perspectivas, pela influência da arte africana e, também, pela ausência 
da noção de profundidade nas obras.
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Kandinsky por volta de 1913.
Picasso em 1962. Fotografia da 
revista argentina Vea y Lea.
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Acesse o link para visualizar a obra de 
Picasso. 
https://www.moma.org/collection/
works/79766
https://www.moma.org/collection/works/79766
https://www.moma.org/collection/works/79766
Movimentos artísticos modernos e contemporâneos 73
Cronologicamente, podemos identificar duas fases: a primeira ini-
ciando em 1912, denominada cubismo analítico, composta de pesqui-
sas estruturais que buscavam realizar uma decomposição dos objetos 
e da utilização de uma paleta de cores monocráticas; e a segunda, co-
nhecida como cubismo sintético, na qual houve um uso mais intensivo 
da cor, a presença de formas maiores e a inserção de outros materiais, 
como fragmentos de jornais e pedaços de madeira, culminando no pro-
cesso da colagem.
O cubismo também se desenvolveu na escultura, na música, na poe-
sia e influenciou diversos outros movimentos, como o futurismo, o da-
daísmo, o surrealismo e o expressionismo abstrato.
A seguir, temos uma obra que representa o movimento cubista. Na 
imagem feita pelo pintor espanhol Juan Gris, podemos observar a pre-
sença de figuras geométricas e a predominância dos tons bege e azul. 
A obra é um retrato de Picasso.
Portrait of Pablo Picasso, 1912. Obra de Gris.
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O futurismo se originou como movimento artístico com a publicação 
do Manifesto Futurista, em Paris, pelo poeta italiano Filippo Tommaso 
Marinetti, em 1909. Posteriormente, houve diversos outros manifestos.
74 Arte e Cultura
Entre as características desse movimento, podemos destacar a opo-
sição à valorização do passado e do tradicionalismo cultural, ao mesmo 
tempo em que exaltavam a existência da máquina e da velocidade.
Esse movimento foi amplamente influenciado pelas mudanças so-
ciais do período, como o desenvolvimento científico, sendo expresso 
por meio da experimentação técnica e estilística em diversos formatos, 
como a música, as artes cênicas e a arquitetura.
Outros elementos presentes nas obras de tendência futurista são a 
simultaneidade e a ênfase na ação, assim como as técnicas de compo-
sição influenciadas pelo cubismo.
O movimento também teve um aspecto político bastante demar-
cado, sendo expresso pela defesa de pautas como a modernização da 
indústria, o anticlericalismo e a associação com o fascismo.
Entre os expoentes desse movimento, destacamos o italiano 
Giacomo Balla, que se caracterizou por retratar temas como a luz e a 
velocidade. Podemos observar isso na obra a seguir.
Dynamism of a Dog on a Leash, 1912. Obra de Balla. 
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Nesse quadro, o artista retratou uma pessoa passeando com um ca-
chorro na coleira. Observe que a noção de velocidade é retratada pelo 
movimento dinâmico das pernas humanas, das patas caninas e do vai 
e vem da corrente, presa à coleira.
Movimentos artísticos modernose contemporâneos 75
4.3 Vanguardas artísticas: 
dadaísmo e surrealismo 
Vídeo O movimento nomeado dadaísmo surgiu a partir do ano de 1916, 
em Zurique (Suíça), na Alemanha, e de modo quase concomitante em 
Nova Iorque (EUA), com grupos diferentes, mas que convergiram em 
uma mesma perspectiva.
Teve como algumas de suas principais características a crítica cultu-
ral e a contestação dos valores estabelecidos. Posteriormente, difun-
diu-se para outros lugares, como Berlim e Paris.
As obras tinham como intenção provocar o choque nos observado-
res, visto que faziam referência a uma noção de antiestética, ao mesmo 
tempo em que promoviam o questionamento social.
Parte do posicionamento dadaísta expressa uma desilusão com a 
arte, principalmente por conta da eclosão da Primeira Guerra Mundial, 
pois considerava que a arte não cumprira a função de contribuir com a 
melhora no desenvolvimento humano.
A origem do nome veio do termo dadá, que significa cavalo de brin-
quedo e representava uma tentativa de não atribuir significado ao mo-
vimento; a intenção era que o título não fizesse referência a nada.
O espírito original do Dadaísmo era um tipo de jogo exagerado 
jogado nas sombras da guerra, um modo de demonstrar, por 
meio de ações infantis, o desprezo pelo patriotismo retumbante: 
o próprio termo Dadaísmo vem de dadá, que, na linguagem in-
fantil, significa “cavalinho de balanço”, e os dadaístas de Zurique 
registraram seu protesto por meio da bufonaria contra o que 
Hans Arp denominava “a mania pueril de autoritarismo que 
podia usar a própria arte para a estultifica-
ção da humanidade”. (DANTO, 2015, p. 52)
Entre os principais expoentes dessa tendência, 
um artista que conquistou enorme notoriedade foi o 
francês Marcel Duchamp; ele havia se mudado para 
Nova Iorque em 1915.
Glossário
estultificação: refere- se ao 
processo de embrutecimento, de 
tornar-se estúpido ou imbecil.
76 Arte e Cultura
Duchamp criou o conceito de ready-made; este se constituía na 
transformação de objetos sem um valor estético, como produtos in-
dustrializados, que eram elevados à categoria de obra de arte. Essa 
prática foi uma crítica ao sistema da arte como um todo.
Uma exposição de arte dadaísta poderia consistir em pedaços de 
papel, instantâneos amarelados e uns poucos esboços do Café 
Voltaire, de Zurique, onde tudo começou. O Dadaísmo recusa-se 
a ser considerado belo – e essa é a sua grande significação filo-
sófica quando consideramos a narrativa consoladora segundo a 
qual, com a passagem do tempo, o que era rejeitado como arte 
por não ser belo acaba se tornando credenciado como belo e 
reivindicado como arte. (DANTO, 2015, p. 53)
Uma das principais obras de Duchamp se chama L.H.O.O.Q. Foi ini-
cialmente concebida em 1919 e originalmente publicada na revista 391, 
em 1920. Foi uma das principais referências do conceito de ready-made. 
A obra é um cartão-postal, com baixo valor monetário agregado, que 
reproduz La Gioconda, de Leonardo da Vinci. Duchamp desenhou um 
bigode e uma barba na Mona Lisa com uma caneta.
Acesse o link para visualizar a obra de Duchamp.
https://www.wikiart.org/en/marcel-duchamp/l-h-o-o-q-mona-lisa-with-moustache-1919
O surrealismo foi outro dos movimentos que compuseram as van-
guardas artísticas do século XX, surgindo da década de 1920, em Paris, 
e fazendo referência a uma perspectiva de distanciamento da realida-
de. O termo ganhou notoriedade com o poeta André Breton, sendo 
utilizado para designar um estado de superação do mundo material, 
valorizando elementos como o onírico e o inconsciente.
Tinha como uma de suas principais intenções o estímulo da criativi-
dade e a liberação do inconsciente, tendo uma influência significativa 
da psicanálise nesse sentido. Abordava ainda outros temas, como a 
metamorfose, a dor e a loucura.
Uma propensão para situações conturbadas e imagens mons-
truosas aparece no Manifesto Surrealista de 1924. O artista é 
chamado a reproduzir situações oníricas que abrem espirais 
para o inconsciente através de operações como, por exemplo, 
a escrita automática, para libertar a mente de qualquer freio ini-
bidor e deixá-la vagar ao sabor de associações livres de imagens 
Duchamp na década de 1930.
Wikimedia Commons
onírico: relativo ao mundo dos 
sonhos e suas expressões.
Glossário
https://www.wikiart.org/en/marcel-duchamp/l-h-o-o-q-mona-lisa-with-moustache-1919
Movimentos artísticos modernos e contemporâneos 77
e ideias. A natureza é transfigurada para dar livre passagem a 
situações de pesadelo e a teratologias inquietantes em artistas 
como Ernst, Dalí e Magritte. (ECO, 2015, p. 369)
Assim como o dadaísmo, também contestou os valores sociais vi-
gentes no período, utilizando diversos canais de comunicação, como as 
revistas e as exposições.
O surrealismo se difundiu por diversos lugares, como Bélgica, 
Romênia, Alemanha, América do Sul e EUA, tendo sido expresso em 
variados formatos, como a escultura, a literatura e o cinema.
Salvador Dalí foi um dos principais artistas desse movimento, tor-
nando-se um ícone de referência do surrealismo. Suas pinturas se ca-
racterizam pela presença de elementos oníricos e irracionais, como no 
quadro A Persistência da Memória, de 1931.
Acesse o link para visualizar a obra de Dalí.
https://www.wikiart.org/pt/salvador-dali/a-persistencia-da-memoria-1931
O surrealismo se tornou um dos principais estilos de referência para 
a arte contemporânea, tornando-se um dos movimentos mais icônicos 
na história.
Dalí com sua jaguatirica de 
estimação, em 1968. Fotografia 
de Roger Higgins.
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Dalí idealizou um 
curta-metragem com 
Walt Disney em 1945 
chamado Destino. Nele, 
podemos perceber 
diversos aspectos do 
surrealismo. 
Você pode assisti-lo no 
YouTube.
Disponível em: https://
www.youtube.com/
watch?v=K6XCN6gNJFw. Acesso 
em: 27 ago. 2020.
Direção: Dominique Monféry. EUA: 
Walt Disney Pictures, 2003. 
Filme
4.4 O movimento pop art 
Vídeo Um aspecto principal e indispensável para a compreensão dos mo-
vimentos artísticos é a relação que se estabelece entre os artistas e o 
contexto histórico do período.
Na década de 1950, a inserção de diversos produtos industrializa-
dos no mercado de consumo começa a se tornar um acontecimento 
perceptível, assim como a produção da cultura em escala industrial.
É nesse contexto que surgiu um movimento conhecido posterior-
mente como pop art. Algumas de suas principais características são a 
defesa da arte considerada popular e o estreitamento da comunicação 
com o público.
https://www.wikiart.org/pt/salvador-dali/a-persistencia-da-memoria-1931
78 Arte e Cultura
Quando alguém reflete sobre o que tornou aquele momento tão 
único, duas coisas precisam ficar claras. A primeira é que, a partir 
do momento em que se percebe que qualquer coisa pode ser uma 
obra de arte, não faz muito sentido perguntar se isso ou aquilo 
pode ser uma obra de arte, uma vez que a resposta será sempre 
sim. Essas coisas específicas talvez não sejam obras de arte, mas 
podem ser. O segundo aspecto a esclarecer é que se tornou ur-
gente, nessas circunstâncias, a questão de saber qual deve ser o 
caso, se elas se destinam a ser obras de arte. Isso significa que uma 
teoria da arte de repente se tornou algo imperativo, de um modo 
que ela nunca tinha parecido ser antes. (DANTO, 2015, p. 12)
Fazendo referência a elementos presentes no imaginário do perío-
do, as obras da pop art buscam evidenciar a existência de uma cultura 
de massa e incorporar diversos aspectos da vida cotidiana.
Com uma atitude de recusa a estabelecer distinção entre o que é 
arte e o que é popular, os artistas utilizam variados formatos comuns 
da indústria cultural, como as histórias em quadrinhos, os anúncios pu-
blicitários, a televisão e os filmes.
A origem do termo pop art é atribuída ao crítico britânico Lawrence 
Alloway, que se inspirou na colagem O que torna os lares de hoje tão di-
ferentes, tão atraentes?, de 1956, produzida por Richard Hamilton. Essaobra foi divulgada em um primeiro momento como pôster e ilustra-
ção no catálogo da exposição This Is Tomorrow (Isto é o amanhã), do 
Independent Group (O Grupo Independente), que se reunia no Instituto 
de Artes Contemporâneas de Londres.
Acesse o link para visualizar a obra de Hamilton.
https://www.metmuseum.org/art/collection/search/494046
A obra retrata uma cena em um ambiente tipicamente doméstico. 
O artista selecionou diversos anúncios publicados em revistas de consi-
derável circulação para compor a colagem. Os diversos objetos presen-
tes na composição, assim como o homem e a mulher, são abordados 
de modo a ressaltar seus aspectos atrativos.
A pop art se destaca, então, por promover uma aproximação entre arte 
e o design comercial, ao mesmo tempo em que critica a divisão social es-
tabelecida entre o que é considerado arte erudita versus o que é cultura 
de massa.
https://www.metmuseum.org/art/collection/search/494046
Movimentos artísticos modernos e contemporâneos 79
De acordo com Hamilton, podemos encontrar, entre os princípios 
desse estilo, a defesa da arte popular, a noção de transitoriedade e o 
caráter descartável das obras (FARTHING, 2011).
Além disso, o artista apresentava a pop art como um estilo jovem e 
glamoroso, destacando ainda o baixo custo para a confecção das obras 
e a sua produção em massa.
De maneira quase simultânea, o movimento se desenvolve também 
nos EUA, tendo como marco duas exposições iniciais que buscaram 
reunir as obras de artistas em uma perspectiva semelhante, sendo elas 
a “Arte 1963: novo vocabulário”, na Filadélfia, e os “Os novos realistas”, 
em Nova Iorque.
De acordo com Danto (2015, p. 1), “no início dos anos 1960, sobretudo 
na cidade de Nova Iorque ou em torno dela, a própria arte era produto 
de vários movimentos artísticos de vanguarda. Além disso, a maior parte 
dessa arte dificilmente poderia ter sido produzida numa data anterior”.
Nesse contexto, destacamos os artistas Andy Warhol e Roy 
Lichtenstein, que se tornaram alguns dos principais representantes da 
pop art. As obras desses artistas se alinhavam por conta das temáticas 
retratadas, pois não tinham um programa especificamente definido.
Lichtenstein em sua exposição de 1967, no Museu Stedelijk, Amsterdã, Holanda. A obra ao fundo é 
uma pintura de duas telas, de 1963, intitulada Whaam! 
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Apesar da crítica social estabelecida pela pop art contra a arte erudi-
ta, as obras acabaram ganhando grande apreço social, sendo expostas 
em galerias e instituições mais tradicionais.
Para conhecer um pouco 
melhor a estética da pop 
art, leia a reportagem 
Oscar Pop! Indicados a 
melhor filme de 2020 em 
pôsteres de pop art, que 
mostra releituras de car-
tazes dos filmes indicados 
ao Oscar 2020. Seguindo 
uma tradição do site de 
imagens Shutterstock, 
na oitava edição do 
desafio anual Oscar Pop!, 
os designers da equipe 
desafiaram um ao outro a 
criar pôsteres homena-
geando os indicados a 
melhor filme.
Disponível em: https://www.
shutterstock.com/pt/blog/
oscar-pop-2020. Acesso em: 27 
ago. 2020.
Saiba mais
Em 2013 foi realizada 
uma exposição na galeria 
de arte Barbican, em 
Londres, para celebrar 
os 50 anos da pop art. 
A exposição, intitulada 
Pop Art Design, reuniu 
mais de 200 obras de 70 
designers e artistas. Veja 
mais detalhes na reporta-
gem da BBC.
Disponível em: https://www.
bbc.com/portuguese/videos_e_
fotos/2013/10/131023_galeria_
expo_arte_pop_an. Acesso em: 27 
ago. 2020.
Curiosidade
https://www.bbc.com/portuguese/videos_e_fotos/2013/10/131023_galeria_expo_arte_pop_an
https://www.bbc.com/portuguese/videos_e_fotos/2013/10/131023_galeria_expo_arte_pop_an
https://www.bbc.com/portuguese/videos_e_fotos/2013/10/131023_galeria_expo_arte_pop_an
https://www.bbc.com/portuguese/videos_e_fotos/2013/10/131023_galeria_expo_arte_pop_an
80 Arte e Cultura
Podemos destacar o dadaísmo e o surrealismo e, também, alguns 
aspectos do expressionismo abstrato como os principais movimentos 
artísticos de influência artística. Destacam-se em relação às caracterís-
ticas das obras a utilização de cores saturadas, a presença da subjetivi-
dade dos artistas e a inserção das mudanças tecnológicas do contexto.
Entre essas obras, a Brillo Box, de Warhol, representa a utilização 
das técnicas de expressão artística, associadas à pop art, ao incorporar 
a embalagem da esponja de aço da marca Brillo.
Criada e exibida em 1964, a obra apropria-se do formato de 
uma embalagem comercial para remessa que só passou a existir 
pouco mais de um ano antes. O designer da embalagem, ele pró-
prio um artista, baseou-se nos paradigmas estilísticos da pintu-
ra abstrata contemporânea. “Brillo”, por sua vez, era o nome de 
uma esponja de aço com sabão recém-inventada e considerada 
particularmente eficiente para dar brilho a utensílios de alumí-
nio. (DANTO, 2015, p. 1)
Warhol no Museu de Arte Moderna de Estocolmo, antes da abertura de sua exposição, em 1968. 
Caixas de Brillo em segundo plano. 
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Outro trabalho de destaque do artista é a Lata de Sopa Campbell, 
produzida por serigrafia, que gerou uma recepção bastante controver-
sa por parte dos observadores.
O filme Uma Garota Irre-
sistível aborda a relação 
entre a modelo e atriz 
Edie Sedgwick e o artista 
Andy Warhol. Nele, são 
retratados diversos as-
pectos da pop art. Assista 
ao trailer no YouTube.
Disponível em: https://
www.youtube.com/
watch?v=YJHZRudAhxs. Acesso em: 
27 ago. 2020.
Direção: George Hickenlooper, EUA: 
Lift Productions, 2006. 
Filme
Movimentos artísticos modernos e contemporâneos 81
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Pilares revestidos com a imagem da Lata de Sopa Campbell, na parte externa da exposição em 
homenagem ao vigésimo aniversário da morte de Andy Warhol, na Escócia, em 2007.
A representação de produtos industrializados, o efeito de multipli-
cação das imagens e a utilização de cores saturadas são algumas das 
principais características que marcaram a pop art em seu estilo.
A pop art também teve 
adeptos no Brasil. O 
movimento tropicália 
e as obras de diversos 
artistas, como Hélio 
Oiticica, tiveram influência 
da pop art. Assim como 
na Inglaterra, os artistas 
por aqui utilizaram a 
arte para fazer críticas e 
protestos, mas o alvo era 
diferente: as manifesta-
ções artísticas brasileiras 
criticavam principalmente 
a ditadura militar, além 
de denunciarem os pro-
blemas sociais. Veja mais 
exemplos no texto Pop 
Art no Brasil: principais 
artistas e obras nacionais.
Disponível em: https://laart.art.br/
blog/pop-art-brasil/. Acesso em: 
27 ago. 2020.
Curiosidade
4.5 O surrealismo pop como expressão 
da contemporaneidade 
Vídeo Uma parte considerável dos movimentos e estilos artísticos só to-
mou consciência de sua existência após seu término ou, então, foi 
nomeado por pessoas externas. Diante disso, tentarmos definir um 
movimento que ainda está ativo e configura-se como uma tarefa mais 
complexa, o que pode explicar, em certa medida, a ausência de volu-
mosos estudos sobre o tema.
O chamado surrealismo pop, também conhecido inicialmente pelo 
termo lowbrow, constitui-se uma das principais expressões artísti-
cas em voga na contemporaneidade. Surgiu como um movimento 
underground, na década de 1970, na Califórnia, sendo composto so-
mente de artistas plásticos nesse período. Atualmente, conta com ar-
tistas em outras áreas.
https://laart.art.br/blog/pop-art-brasil/
https://laart.art.br/blog/pop-art-brasil/
82 Arte e Cultura
Em relação à nomeação do estilo, existem discordâncias quanto à 
origem, mas uma das versões mais aceitas atribui a criação do termo 
lowbrow a Kirsten Anderson, autora da primeira coletânea dedicada so-
mente a obras desse estilo. Ela queria utilizar o termo lowbrow como 
nome do livro, mas alguns artistas o consideraram depreciativo. Desse 
modo, elaborou o termo surrealismo pop, em referência às influências 
do surrealismo e da pop art.
Entre os principaisartistas que servem como inspiração para o sur-
realismo pop, podemos citar Pablo Picasso e Salvador Dalí, além de 
inúmeras referências do universo pop. Nas obras desse estilo, existem 
vários elementos que fazem parte da cultura contemporânea, como 
Mickey Mouse, Hello Kitty e Star Wars.
Em relação às características das produções artísticas, podemos 
encontrar alguns aspectos presentes na maioria das obras, como a 
presença de figuras compreensíveis e de uma técnica de desenho de-
senvolvida. Também há a presença de elementos que remetem a uma 
imaterialidade ou a um ambiente onírico, como no caso do surrealis-
mo, e referências à globalização, ao consumo e ao ambiente urbano.
Percebemos, ainda, uma influência da cultura punk, tendo em vista 
que atualmente o estilo se encontra representado em diversos países 
e, em cada lugar, desenvolve-se conforme as referências locais.
Conheceremos agora um pouco mais sobre as obras de alguns dos 
principais artistas que se enquadram no estilo do surrealismo pop e 
representam parte da diversidade desse movimento.
Um dos principais expoentes na atualidade é o estadunidense Mark 
Ryden. Suas obras se caracterizam por retratar, entre outros temas, 
símbolos católicos e o ex-presidente Abraham Lincoln.
Aos clichês que reúnem muitos dos artistas lowbrow, Ryden 
acrescentou algo especial, ingênuo e mórbido ao mesmo tempo, 
estranho e familiar, reconfortante e perturbador, meticulosa-
mente sinistro. Seu talento para o desenho e a pintura a óleo 
no estilo mais acadêmico, aplicado a [...] adereços, só contribui 
para aquele efeito de estranhamento. Há [...] composição e moti-
vos recorrentes, uma clara referência à iconografia católica, mas 
também maçônica e hermética. [...] Ryden reconhece a pluralida-
de de suas influências, entre as quais numerosos mestres da pin-
tura europeia, mas sua obra resiste a qualquer análise que tente 
decodificá-la. Não há sistema, o mistério é a mensagem. Suas 
Tim Burton se destaca 
pela estética dos seus 
filmes, que se enquadram 
na definição de surrea-
lismo pop. Em 2016, o 
Museu da Imagem e do 
Som (MIS), em São Paulo, 
recebeu a exposição O 
mundo de Tim Burton; 
esta contou com cerca 
de 500 itens, incluindo 
obras de arte e esboços 
raramente ou nunca 
vistos. Para mais detalhes 
sobre a obra desse dire-
tor, acesse o link sobre a 
exposição.
Disponível em: https://
www.huffpostbrasil.
com/2016/02/04/o-mundo-de-
tim-burton-exposicao-macabra-
do-diretor-no-mis-va_n_9154696.
html. Acesso em: 27 ago. 2020.
Curiosidade
Para saber mais sobre 
um dos principais artistas 
do surrealismo pop, Alex 
Gross, acesse o link a 
seguir. Você vai observar 
a presença de marcas e 
produtos do consumismo 
atual em várias obras do 
artista.
Disponível em: http://obviousmag.
org/archives/2011/03/o_
surrealismo_pop_de_alex_gross.
html. Acesso em: 27 ago. 2020.
Saiba mais
https://ffw.uol.com.br/noticias/moda/surrealismo-pop-de-mark-ryden-e-reunido-em-novo-livro-da-taschen/
https://ffw.uol.com.br/noticias/moda/surrealismo-pop-de-mark-ryden-e-reunido-em-novo-livro-da-taschen/
https://ffw.uol.com.br/noticias/moda/surrealismo-pop-de-mark-ryden-e-reunido-em-novo-livro-da-taschen/
https://ffw.uol.com.br/noticias/moda/surrealismo-pop-de-mark-ryden-e-reunido-em-novo-livro-da-taschen/
Movimentos artísticos modernos e contemporâneos 83
poucas entrevistas são um tanto decepcionantes, com citações 
imagináveis de Picasso (“Toda criança é um artista. O problema 
é como permanecer assim quando você envelhece”) e pérolas 
de humor ensaiadas (“Eu pinto Lincoln porque ele é o rei dos 
presidentes ”) (HISPANO, 2012, tradução nossa, grifo do original)
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Fotografia de Mark Ryden em seu ateliê. 
Outra artista que tem ganhado notoriedade é 
Jana Brike, que nasceu na Letônia. Suas obras retra-
tam personagens femininas e fazem referência a ele-
mentos de culturas ancestrais da sua região.
Acesse o link para visualizar a obra Runaway Daughters, de Jana 
Brike.
https://www.wikiart.org/en/jana-brike/runaway-daughters
O estadunidense Todd Schorr também é um ex-
poente do surrealismo pop, e suas obras possuem 
várias características próprias, como uma influência 
visual dos cartuns e uma impressionante capacidade 
técnica de pintura.
O livro Pinxit reúne 
diversas obras do artista 
Mark Ryden. Para saber 
mais sobre essa edição 
especial, acesse a página 
Fashion Forward.
Disponível em: https://ffw.uol.com.
br/noticias/moda/surrealismo-pop-
de-mark-ryden-e-reunido-em-
novo-livro-da-taschen/. Acesso em: 
27 ago. 2020.
Saiba mais
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O artista Todd Schorr em seu estúdio.
https://www.wikiart.org/en/jana-brike/runaway-daughters
https://ffw.uol.com.br/noticias/moda/surrealismo-pop-de-mark-ryden-e-reunido-em-novo-livro-da-taschen/
https://ffw.uol.com.br/noticias/moda/surrealismo-pop-de-mark-ryden-e-reunido-em-novo-livro-da-taschen/
https://ffw.uol.com.br/noticias/moda/surrealismo-pop-de-mark-ryden-e-reunido-em-novo-livro-da-taschen/
https://ffw.uol.com.br/noticias/moda/surrealismo-pop-de-mark-ryden-e-reunido-em-novo-livro-da-taschen/
84 Arte e Cultura
Outro artista estadunidense que se destaca é Bradley Parker, cujas 
obras abordam a temática tiki, com base nos referenciais da cultura 
polinésia. A obra a seguir é um exemplo dessa temática.
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Tiki Cat, 2016, obra de Parker.
O surrealismo pop se configura como um estilo artístico que ex-
pressa a contemporaneidade em vários de seus aspectos, como na re-
presentação da cultura pop. Vários artistas adeptos desse estilo estão 
produzindo diversas obras impressionantes.
CONSIDERAÇÕES 
FINAIS
Neste capítulo, pudemos aprofundar nossos conhecimentos sobre o 
contexto histórico de desenvolvimento dos movimentos artísticos moder-
nos, especificamente as vanguardas artísticas. Abordamos o surgimento e 
as principais características do expressionismo, do futurismo, do cubismo, 
do dadaísmo e do surrealismo.
Movimentos artísticos modernos e contemporâneos 85
Também, conhecemos o desenvolvimento da pop art, analisando as 
obras de Andy Warhol e Richard Hamilton, no intuito de entender a rela-
ção estabelecida entre o movimento e o seu contexto.
Por fim, vimos o que é o surrealismo pop e conhecemos alguns dos 
principais artistas que fazem parte desse estilo. Compreendemos, tam-
bém, a atualidade desse movimento.
ATIVIDADES
1. As vanguardas artísticas se caracterizam pela crítica ao conceito 
tradicional de arte, seja por meio de suas obras ou de seus manifestos. 
Com base nessa premissa, discorra sobre o que levou esses 
movimentos a questionarem a função social da arte.
2. Diversos movimentos artísticos são considerados vanguardas. 
Descreva as principais características dos estilos que vimos neste 
capítulo.
3. A pop art se destacou por estabelecer uma crítica à distinção entre arte 
erudita e popular. De que forma foi feito esse questionamento?
REFERÊNCIAS
DANTO, A. C. O abuso da beleza: a estética e o conceito de arte. São Paulo: WMF Martins 
Fontes, 215.
ECO, U. História da Feiura. Rio de Janeiro: Record, 2015.
FARTHING, S. Tudo sobre arte. Rio de Janeiro: Sextante, 2011.
HISPANO, A. Mark Ryden, surrealismo pop, arte ‘freak’. La Vanguardia, 22 fev. 2012. 
Disponível em: https://www.lavanguardia.com/cultura/20120222/54257862698/mark-
ryden-surrealismo-pop-arte-freak.html. Acesso em: 31 ago. 2020.
MINERINI, J; AMÁLIA, A. História da arte: do moderno ao contemporâneo. São Paulo: 
Editora Senac, 2019.
PORTO, H. Estética e história da arte. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2016.
86 Arte e Cultura
5
Educar para preservar
Neste capítulo, conheceremos a origem dos conceitos de pa-
trimônio, refletindo sobre os seus principais usos, e sobre o termo 
patrimônio mundial. Veremos, ainda, as diferenças entre as cate-
gorias de patrimônio natural, patrimônio cultural, patrimônio ima-
terial e patrimônio ambiental.
Esta classificaçãobusca facilitar a compreensão da pluralidade 
existente em relação ao patrimônio, ao mesmo tempo que facilita 
o estudo e o entendimento sobre as dinâmicas referentes à pre-
servação dos bens patrimoniais.
Outra temática que abordaremos são os debates sobre os con-
ceitos de internacionalização e universalismo, considerando que 
são conceitos-chave para a compreensão das dinâmicas patrimo-
niais na contemporaneidade.
Estudaremos, também, o tema da preservação em consonância 
com a preocupação de relacionar as discussões apresentadas à 
contemporaneidade.
5.1 A origem do patrimônio 
Vídeo Desde a sua origem até os dias de hoje, a noção de patrimônio se 
modificou conforme o contexto no qual ela estava inserida e o fim para 
qual era empregada. No mundo atual, em que a pluralidade e a diversi-
dade são conceitos-chave, o patrimônio também se amplia para abar-
car outras conotações que expandem seu significado, possibilitando a 
inclusão de novas interpretações sobre os bens patrimoniais.
A etimologia da palavra patrimônio nos remete ao contexto histórico 
da Roma Antiga, quando era utilizada para referenciar algo como perten-
cente ao pai, sendo derivada da palavra de origem latina patrimonium. 
É importante destacarmos que o contexto histórico de surgimento do 
Educar para preservar 87
termo era bastante diferenciado da contemporaneidade e, por isso, a 
palavra era empregada em alguns sentidos diversos.
A semelhança dos termos – pater, patrimonium, familia –, porém, 
esconde diferenças profundas nos significados já que a socieda-
de romana era diversa da nossa. A familia compreendia tudo que 
estava sob domínio do senhor, inclusive a mulher e os filhos, mas 
também os escravos, os bens móveis e imóveis, até mesmo os 
animais. Isso tudo era o patrimonium, tudo que podia ser lega-
do por testamento, sem excetuar, portanto, as próprias pessoas. 
(FUNARI; PELEGRINI, 2009, p. 11, grifos do original)
O uso da palavra patrimônio, nessa perspectiva, assemelha-se mais 
à ideia de um conjunto de bens de posse individual ou familiar, sendo 
possível ser transmitido por herança.
Nesse sentido, utilizaremos outra acepção da palavra, a qual até 
possibilita uma aproximação com o sentido original, pois há a intenção 
de se preservar um determinado bem para a posteridade, porém, esse 
patrimônio é de caráter coletivo e/ou social e faz referência à preserva-
ção histórica, cultural e/ou natural.
Outro conceito necessário para iniciarmos essa jornada de estudos 
é o do termo patrimônio mundial, instituído pela Organização das Na-
ções Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), que são os 
principais bens ao redor de todo o mundo, considerados de valor uni-
versal; sendo assim, devem ser protegidos pela humanidade. No que 
se refere às ações de preservação, a Unesco elaborou a Lista do Patri-
mônio Mundial, a qual seleciona os patrimônios ao redor do mundo que 
terão o título de mundiais.
O processo de escolha dos bens a serem adicionados à listagem é 
bastante criterioso e obedece a alguns passos específicos, como a sub-
missão da inscrição dos bens pelo próprio país responsável, passando, 
na sequência, por uma análise da comissão própria de avaliação da 
Unesco.
A preocupação em selecionar, organizar e proteger surgiu por con-
ta da constatação de que eventos sociais, como guerras, ou eventos 
naturais, como terremotos, podem riscar do mapa bens patrimoniais 
que têm um valor inestimável para a humanidade. Desse modo, a lista 
serve de incentivo à cooperação por parte de todos os países para que 
os patrimônios mundiais sejam respeitados e conservados.
A Unesco, uma agência 
da Organização das 
Nações Unidas (ONU) 
criada em 1945, pro-
põe-se a promover a 
identificação, a proteção 
e a preservação dos pa-
trimônios considerados 
valiosos para a humani-
dade. No link a seguir, 
você poderá saber mais 
sobre os patrimônios bra-
sileiros que fazem parte 
da Lista do Patrimônio 
Mundial da Organização, 
como cidades, centros 
históricos, parques e 
sítios arqueológicos, além 
de danças e rituais.
Disponível em: https://pt.unesco.
org/fieldoffice/brasilia/expertise/
world-heritage-brazil. Acesso em: 
11 set. 2020.
Saiba mais
https://pt.unesco.org/fieldoffice/brasilia/expertise/world-heritage-brazil
https://pt.unesco.org/fieldoffice/brasilia/expertise/world-heritage-brazil
https://pt.unesco.org/fieldoffice/brasilia/expertise/world-heritage-brazil
88 Arte e Cultura
O desenvolvimento de uma consciência patrimonial é fundamental; 
ela pode ser adquirida pela própria história de vida individual ou pode 
ser desenvolvida por meio da educação patrimonial.
A consciência patrimonial contempla a noção de que, para além da 
identificação étnica ou cultural, é possível o desenvolvimento da com-
preensão de que o patrimônio, independentemente de qual seja, deve 
ser preservado por ser um referencial social para um determinado con-
junto de pessoas.
Com o desenvolvimento da consciência patrimonial, se uma pessoa 
que não seja de origem japonesa se deparar com o Memorial da Paz 
de Hiroshima, por exemplo, saberá reconhecê-lo como um patrimônio 
mundial, dada a sua importância histórica e cultural.
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O Memorial da Paz de Hiroshima se situa no Japão e foi construído no ano de 1915. Tornou-se 
um patrimônio mundial da Unesco por ter sido o edifício mais próximo ao epicentro da explosão 
ocasionada pelo bombardeio atômico promovido pelos EUA em 1945, durante a Segunda Guerra 
Mundial.
O contexto histórico do conceito de patrimônio é um ponto de parti-
da para compreendermos a sua trajetória ao longo do tempo, inclusive 
em virtude das diversas categorizações que surgiram, como as distin-
Educar para preservar 89
ções entre o patrimônio natural e o patrimônio cultural. Essas classi-
ficações, mais do que meras formalidades, constituem-se tentativas 
organizadas de identificar os tipos de bens patrimoniais existentes e 
garantir a sua preservação.
Por meio das pesquisas sobre o patrimônio, podemos ter acesso à 
forma como as pessoas viviam, conhecer seus pensamentos e os ele-
mentos simbólicos dos quais eram compostas suas crenças, paixões 
e esperanças.
As coletividades são constituídas por grupos diversos, em cons-
tante mutação, com interesses distintos e, não raros, conflitan-
tes. Uma mesma pessoa pode pertencer a diversos grupos e, no 
decorrer do tempo, mudar para outros. Passamos, assim, por 
grupos de faixa etária: crianças, adolescentes, adultos, idosos. 
Passamos ainda de estudantes a profissionais, e, em seguida, a 
aposentados. São, portanto, inúmeras as coletividades que con-
vivem em constante interação e mudança. (FUNARI; PELEGRINI 
2009, p. 9-10)
Os grupos sociais que convivem em um mesmo espaço, como uma 
cidade, possuem internamente diferenças e influenciam os vestígios e 
os objetos produzidos.
As ações humanas ficam restritas ao espaço-tempo no qual existem, 
porém, pelas fontes materiais, podemos ter acesso a resquícios desses 
atos, sejam habituais ou grandiosos, parte da existência cotidiana ou 
compostos de eventos raros e únicos. Por mais simples, ou aparente-
mente neutra, que uma fonte possa ser, ela sempre representa algo 
que podemos descobrir ao saber para o que e como ela era utilizada.
Em relação à interpretação sobre os bens analisados, cada área pos-
sui um olhar próprio. As Artes Visuais, por exemplo, irão priorizar o 
estudo sobre as técnicas, as cores, os materiais e as representações 
artísticas; já a História irá enfatizar o contexto temporal de produção 
do objeto, as relações humanas e a estrutura social.
Cada uma dessas abordagens demanda uma metodologia especí-
fica que consiga abranger as peculiaridades das diferentes análises, 
buscando aprofundar as características escolhidas. Embora as áreas 
possuam métodos próprios e autonomia na constituição de suas aná-
lises, é possível que estabeleçam diálogos por meio da perspectiva 
interdisciplinar.
90 Arte e Cultura
5.2 Categorias do patrimônio 
VídeoDentro das definições estabelecidas para o que pode ser considera-
do patrimônio da humanidade, existem três categorias instituídas pela 
Unesco que servem para a classificação dos diversos tipos de bens, 
sendo elas a natural, a cultural ou a mista. Na sequência, iremos conhe-
cer um pouco mais as categorias de patrimônio natural e patrimônio 
cultural, entendendo que a categoria mista é composta de bens que se 
enquadram em ambas as classificações.
5.2.1 Patrimônio natural
Na categoria de patrimônio natural encontram-se locais que, em ra-
zão de suas características físicas, biológicas e/ou geológicas, devem 
ser preservados (IPHAN, 2008).
Dentre os critérios, destacamos a utilização e a composição do es-
paço, como no caso de ser um hábitat de espécies tanto da fauna quan-
to da flora, e o valor estético, referente à constituição da paisagem, 
assim como o científico, possibilitando o desenvolvimento de pesqui-
sas e estudos.
Desde tempos imemoriais, o ser humano interage com a natureza e 
com o que ela produz, sendo que a sobrevivência da espécie humana 
foi possibilitada por essa interação, bem como a base para o surgimen-
to dos avanços por ela produzidos. O que varia na relação estabelecida 
entre as pessoas e o meio ambiente é a proporção do impacto das 
ações realizadas pela mão humana, que podem estar em equilíbrio ou 
desequilíbrio com o entorno.
Da construção de cidades monumentais até a produção de uma 
simples embalagem plástica, torna-se indispensável a utilização de ma-
térias-primas por meio do uso de recursos renováveis e/ou não reno-
váveis, constituindo uma das possíveis interações do ser humano com 
o meio ambiente do qual faz parte.
Cada vez que o ser humano modifica suas relações sociais e, con-
sequentemente, seu meio, altera de maneira significativa o ambiente 
natural. É fundamental lembrarmos que somos parte integrante da na-
tureza e devemos medir todas as nossas ações tendo como base essa 
relação indissolúvel.
Educar para preservar 91
Nessa perspectiva, a noção de patrimônio natural começou a ser 
desenvolvida pela difusão de uma consciência ambiental que ocorreu 
em uma escala mais ampla.
A emergência de uma “consciência preservacionista” na esfera am-
biental se consolidou na década de 1980, mas essa mobilização não 
partiu do Estado como ocorreu com o patrimônio histórico durante 
a Revolução Francesa, no século XVIII. Pelo contrário, o movimen-
to em prol do direito e da proteção ao meio ambiente se irradiou 
através da comunidade científica e acabou difundido entre orga-
nizações não-governamentais que passaram a reivindicar melhor 
“qualidade de vida” no planeta. (PELEGRINI, 2006, p. 118)
O contexto de formação da ideia de patrimônio natural revela que 
ela esteve, desde o princípio, relacionada ao meio científico, que tem 
alertado constantemente, por meio de inúmeras pesquisas, sobre a ne-
cessidade urgente da preservação ambiental.
Dentre os vários argumentos que permeiam esse debate, ressal-
tamos a importância da garantia de uma vida digna, que somente a 
preservação é capaz de proporcionar para a população humana em 
consonância com o meio ambiente do qual faz parte.
Em relação à Lista de Patrimônios Naturais da Unesco no Brasil, 
existem sete lugares que estão nela. São eles:
Parque 
Nacional do 
Iguaçu (PR)
Tombado em 1986
Mata Atlântica 
(reservas do 
Sudeste, SP e 
PR)
Tombada em 1999
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(Continua)
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Vista aérea das Cataratas do Iguaçu.
Vista parcial da Serra do Mar, Área de Proteção 
Ambiental Estadual de Guaratuba (PR).
92 Arte e Cultura
Costa do 
Descobrimen-
to (reservas 
da Mata 
Atlântica, BA 
e ES)
Tombada em 1999
Complexo de 
Conservação 
da Amazônia 
Central
Tombado em 2000
Complexo de 
Áreas Protegi-
das do Panta-
nal (MT e MS)
Tombado em 2000
Áreas Protegi-
das do Cerrado 
– Chapada dos 
Veadeiros e 
Parque Nacio-
nal das Emas 
(GO)
Tombadas em 
2001
Ilhas Atlânti-
cas: Fernando 
de Noronha e 
Atol das Rocas 
(PE e RN)
Tombadas em 
2001
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Praia em Cumuruxatiba (BA).
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Curvas do Parque Nacional de Anavilhanas (AM).
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Vista de parte do Pantanal, no Mato Grosso.
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Jardim de Maytrea, na Chapada dos Veadeiros.
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Vista panorâmica da Baía dos Porcos, em 
Fernando de Noronha.
Educar para preservar 93
A inserção desses lugares na lista da Unesco fornece o mínimo das 
condições necessárias para garantir a preservação desses espaços, que 
são inegavelmente patrimônios mundiais.
Mesmo com o fato de que essa seleção promove a oficialização dos 
patrimônios naturais, porém, a preservação deve ser compreendida 
como um conjunto de ações que engloba também o cotidiano desses 
espaços e o planejamento de intervenções futuras, a fim de minimizar 
os possíveis impactos ambientais causados pela interação humana.
Além disso, a própria necessidade de que existam áreas delimitadas 
com o propósito de assegurar a preservação, criando uma distinção em 
relação ao restante do espaço, demonstra o quanto ainda será preciso 
avançar em termos de consciência ambiental.
Existem inúmeros outros lugares (reservas, mananciais, ilhas) que 
se encontram à mercê das intempéries causadas por eventos climáti-
cos e ações humanas, tornando necessário que a preservação seja uma 
característica intrínseca ao comportamento humano.
Sob esse enfoque, o conceito de patrimônio ambiental adquire 
dimensões sociais, cujo significado aponta a materialização dos 
sentidos atribuídos no decorrer do processo histórico e lhe im-
prime uma perspectiva dinâmica, uma conotação que fomenta a 
consciência do uso comum do meio e, principalmente, a respon-
sabilidade coletiva pelo espaço. (PELEGRINI, 2006, p. 119)
Nesse sentido, reforça-se a relação entre a preservação patrimonial 
e a posteridade, pois a conservação da biodiversidade e das informa-
ções biológicas existentes nas áreas protegidas possibilita estudos fu-
turos, como pesquisas realizadas pela história natural.
Se a interação do homem com o meio ambiente é permeada pela 
cultura que contribui na construção da paisagem que será eternizada, 
as consequências do estilo de vida atual vão influenciar diretamente a 
qualidade de vida das gerações futuras, transformando a preservação 
do patrimônio natural em um desafio ainda maior do que já é.
5.2.2 Patrimônio cultural
A outra categoria de patrimônio definida pela Unesco é a de patri-
mônio cultural, que engloba bens com valor social, sejam de ordem 
histórica, arquitetônica, estética, científica ou outras. Como exemplo 
94 Arte e Cultura
podemos citar construções de importância mundial, como a Torre Eiffel 
e as Pirâmides de Gizé.
Memphis e sua Necrópole – os campos da pirâmide de Giza a Dahshur entrou para a lista de patrimônio da Unesco 
em 1979. Na região há também outras pirâmides menores, que cercam as três mais famosas, além de muitas outras 
descobertas arqueológicas.
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Uma característica que diferencia o patrimônio cultural do natu-
ral é o fato de que, no primeiro, é necessária a ação e a interação do 
ser humano na constituição do objeto ou do saber. Dessa forma, toda 
tentativa de definir uma cultura é atividade desafiadora, pois implica 
sintetizar os mais variados aspectos que compõem a diversidade e a 
pluralidade de um grupo social.
A associação entre as palavras patrimônio e cultura busca abranger 
uma quantidade significativa de ramificações do patrimônio. Para com-
preendermos o patrimônio cultural em si, é fundamental analisarmos 
o conceito de cultura utilizado.
No discurso tradicional dos órgãos oficiais ligados à preser-
vação, o termo “patrimônio” costumavavir acompanhado por 
“histórico” e “artístico”. Entretanto, à medida que outras áreas 
tornavam-se também objeto de ação (ou preocupação) da 
ação preservacionista, novas qualificações foram sendo acres-
centadas e, cada vez que era preciso referir-se ao patrimônio, 
fazia-se necessário aumentar a lista: patrimônio edificado, ar-
queológico, ecológico, ambiental-urbano, paisagístico, turísti-
co, etc. Atualmente tende-se a substituir toda esta lista por um 
único termo, destinado a englobar todas as linhas de trabalho 
e passou-se simplesmente a empregar a expressão “patrimônio 
cultural”. (MAGNANI, 1986, p. 62)
Educar para preservar 95
A cultura pode ser compreendida, portanto, como uma resposta 
adaptativa dos seres humanos ao meio no qual estão inseridos, sen-
do que cada contexto produzirá um conjunto cultural único. É possível 
identificarmos a existência de determinados padrões no comporta-
mento social; por exemplo, a presença de elementos espirituais e po-
líticos nas mais diversas civilizações, independentemente do nível de 
complexidade de cada uma.
Sendo assim, podemos compreender que, por mais diversa que 
seja, uma sociedade irá se assemelhar em alguns aspectos a outras 
sociedades, porém a forma como ela se expressa será o fator que cons-
tituirá suas diferenças e, consequentemente, sua própria cultura.
O patrimônio é entendido, desse modo, como a concretização dos 
aspectos culturais que permeiam um agrupamento social e fornecem 
as características que possibilitam a formação da identidade. De acor-
do com Magnani (1986, p. 63), “a noção de patrimônio, desta forma, 
aponta para o aspecto da exterioridade da cultura; objetos, técnicas, 
espaços, edificações, crenças, rituais, instrumentos, costumes etc., 
constituem os suportes físicos, as formas particulares e tangíveis de 
expressão dos padrões culturais”.
No que se refere aos suportes, o patrimônio cultural tem duas de-
rivações: material e imaterial. Para além do suporte material do patri-
mônio, a sua existência, seja como objeto ou prática, é o que admite a 
expressão dos aspectos culturais de uma determinada cultura, permi-
tindo sua socialização com outros grupos e/ou sociedades.
O patrimônio material possui um suporte físico definido, como no 
caso de edifícios, objetos e utensílios, entre eles, as cerâmicas gregas 
produzidas na Antiguidade.
Com a Constituição Federal de 1988, houve uma mudança na no-
menclatura que se refere ao patrimônio constituído pela ação huma-
na, passando de Patrimônio Histórico e Artístico para Patrimônio Cultural 
(BRASIL, 1988). Essa mudança, mais do que uma simples alteração no-
minal, expressa um processo mais amplo de modificação do conceito 
de patrimônio como um todo, que começou a incluir os bens de refe-
rência coletiva e social e de inserção do patrimônio imaterial, que pos-
sibilitou a inclusão da dimensão do saber e do fazer.
96 Arte e Cultura
Nos últimos anos, o conceito “patrimônio cultural” adquiriu um 
peso significativo no mundo ocidental. De um discurso patri-
monial referido aos grandes monumentos artísticos do passa-
do, interpretados como fatos destacados de uma civilização, se 
avançou para uma concepção do patrimônio entendido como o 
conjunto dos bens culturais, referente às identidades coletivas. 
Desta maneira, múltiplas paisagens, arquiteturas, tradições, 
gastronomias, expressões de arte, documentos e sítios arqueo-
lógicos passaram a ser reconhecidos e valorizados pelas comu-
nidades e organismos governamentais na esfera local, estadual, 
nacional ou internacional. (RIBEIRO; ZANIRATO, 2006, p. 251)
Em consonância com essas modificações, o conceito de cultura tam-
bém foi ampliado de modo significativo, promovendo a aproximação 
com o cotidiano popular e suas representações. Dessa forma, a escolha 
do patrimônio passou a considerar critérios, como a identificação social 
por parte do entorno, e a buscar a valorização dos costumes tradicio-
nais e de suas manifestações.
O patrimônio imaterial pode ser descrito como uma ação humana 
que não se materializa em um suporte físico específico e que englo-
ba as mais diversas formas de expressão, como danças típicas, culi-
nárias, festas saberes, entre outros. A roda de capoeira é um exemplo 
brasileiro.
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A roda de capoeira foi declarada pela Unesco Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade em 
2014.
Podemos considerar, desse modo, que o patrimônio imaterial é 
constituído por práticas e costumes transmitidos de geração a geração, 
os quais, justamente por não possuírem uma forma materializada, ne-
cessitam de muita atenção e preservação.
Passando-se em um 
vilarejo chamado Javé, o 
filme Narradores de Javé 
relata a preocupação 
dos moradores quanto 
à construção de uma 
hidrelétrica que irá alagar 
todo o lugar, tornando-o 
inabitável. Para salvar 
a cidade da extinção, é 
preciso considerá-la um 
patrimônio; isso desperta 
nos moradores o desejo 
de registrar a memória 
do povoado. Desse 
modo, eles utilizam a his-
tória oral como principal 
forma de preservação do 
passado. 
Trailer disponível em: 
https://www.youtube.com/
watch?v=GlaFRraqeOg. Acesso em: 
11 set. 2020.
Direção: Eliane Caffé. Brasil: 
Bananeira Filmes, 2004. 
Filme
https://www.youtube.com/watch?v=GlaFRraqeOg
https://www.youtube.com/watch?v=GlaFRraqeOg
Educar para preservar 97
Essa categorização tem a intenção de auxiliar na preservação das 
práticas culturais, contribuindo para a salvaguarda do patrimônio ima-
terial em suas mais diversas manifestações.
5.2.3 Patrimônio misto
A categoria de patrimônio misto faz referência a bens patrimoniais 
que possuem importância no aspecto cultural e natural, sendo com-
postos de regiões de relevância ambiental e social. Um exemplo é a 
cidade de Paraty, no Rio de Janeiro, e a Mata Atlântica adjacente.
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Paraty e Ilha Grande receberam da Unesco o título de Patrimônio da Humanidade, em 2019, por 
sua mistura de riqueza histórica e belezas naturais, como o Centro Histórico de colônias da cidade 
e quatro reservas naturais ao redor, incluindo a Serra da Bocaina.
5.3 Educação patrimonial
Vídeo A educação patrimonial é um processo de ensino e aprendizagem 
que tem como temática principal o patrimônio e todos os assuntos re-
lacionados a ele. Pode ser compreendida como os saberes e as ativi-
dades nos mais diversos espaços. No âmbito escolar, é abordada por 
várias disciplinas curriculares, constituindo-se, assim, um conhecimen-
to interdisciplinar.
A importância de se pensar a educação patrimonial de maneira au-
tônoma parte da ideia de enfatizar a necessidade dela para o desenvol-
vimento de uma consciência preservacionista.
98 Arte e Cultura
Você já parou para pensar o que faz um edifício, dentre milhares de 
outros, ser considerado um patrimônio? Por que um móvel específico 
se torna tão valioso, mesmo que seja feito de madeira comum?
O bem patrimonial se destaca por seu simbolismo e sua relevân-
cia cultural, muito mais do que por composição física de sua forma. 
Exemplo disso são os vasos e esculturas de cerâmica do Mundo Antigo, 
os quais possuem valores inestimáveis, não pelo material do qual são 
feitos, mas por serem fontes da Antiguidade Clássica.
A imagem a seguir representa um vaso de cerâmica de figuras ver-
melhas. Esse tipo de vaso é chamado de hídria e era usado para guar-
dar água na Antiguidade. A técnica de pintura que utilizava as figuras 
vermelhas se caracteriza pela pintura do fundo preto com as figuras 
vazadas, adquirindo as tonalidades originárias do próprio material uti-
lizado. Nessa hídria em específico, são retratados o Sátiro (equivalente 
ao Fauno na cultura romana) e uma mulher.
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Exemplo de cerâmica grega datada de 360 a.C. Essa peça se encontra no Departamento de 
Antiguidades gregas, etruscas e romanas do Louvre.
Um dos motivos para esses bens se tornarem patrimônios é que 
eles podem dizermuito sobre o contexto histórico no qual foram pro-
duzidos, para que eram utilizados e por quem foram feitos.
O patrimônio também pode contribuir na narrativa de construção 
da própria história. Podemos conhecer a memória de nossos ances-
trais e suas origens por meio dos vestígios por eles deixados.
Educar para preservar 99
Uma das principais formas de ocorrer uma associação com o pa-
trimônio é o processo de identificação cultural, como quando um in-
divíduo se identifica com determinada etnia. Porém, é necessário que 
os indivíduos consigam se associar ao patrimônio, independentemente 
das características relacionadas à identidade de cada um, fazendo com 
que a noção do que deve ser preservado se expanda.
É nesse sentido que a educação patrimonial pode ser utilizada no 
desenvolvimento de uma consciência voltada para a importância de 
preservação, estabelecendo um diálogo do indivíduo e do coletivo com 
o patrimônio.
É fundamental que, mesmo não havendo uma relação com base na 
identidade, haja formas de aproximação, principalmente quando esta-
mos nos referindo a um patrimônio social.
Por isso, ressaltamos a transformação que ocorreu na percepção 
de quem são os agentes históricos e, consequentemente, quais são as 
fontes produzidas para a posteridade. Até meados do século XX, a in-
terpretação de quais eram os fatos históricos estava ainda muito rela-
cionada à história dos grandes nomes e acontecimentos, perspectiva 
que impactava também a noção de patrimônio.
Somado a isso, como as obras de arte eram consideradas do-
tadas de muito mais valor do que um objeto de uso utilitário, 
sobretudo aqueles oriundos das chamadas classes subalternas, 
inúmeros testemunhos da história se perderam, em especial o 
material de uso cotidiano encontrado nas escavações arqueoló-
gicas dos séculos XVIII e XIX. A lógica que presidia as escavações 
era a da busca de objetos de interesse artístico que apresenta-
vam interesses de mercado. Os vestígios que não contemplavam 
tais interesses não foram conservados. (RIBEIRO; ZANIRATO, 
2006, p. 253)
Constatamos, então, que muito do que hoje poderia ser considera-
do patrimônio pode ter sido perdido ao longo do tempo, sem o vislum-
bre de recuperar tais objetos e artefatos.
É por meio da relação estabelecida com o meio social que se define 
o que deve ser preservado ou não; por isso, esse processo deve ser 
fruto de uma reflexão consciente, tendo como principal motivador a 
coletividade e sua associação com o entorno.
As mudanças que ocorrem no contexto social também impactam di-
retamente a noção de patrimônio e as condições oferecidas para a sua 
100 Arte e Cultura
preservação. Um exemplo é o processo de urbanização, que também 
iniciou no século XX e intensificou a percepção de que em um mesmo 
lugar convive o novo e o antigo. Para o desenvolvimento social, os dois 
devem ter garantidos os seus espaços.
É cada vez mais recorrente a percepção de que os processos de 
ensino e aprendizagem não acontecem somente em espaços formais, 
como a escola, mas também se estendem para os mais variados lo-
cais, desde que possibilitem o mínimo de reflexão sobre um determi-
nado conhecimento.
Essa perspectiva que vem se consolidando altera tanto a concep-
ção do que é a educação em si quanto o próprio sistema de ensino 
e seus mecanismos.
A escola deixou de ser o único lugar de legitimação do saber, 
já que existe uma multiplicidade de saberes que circulam por 
outros canais, difusos e descentralizados. Esta diversificação e 
difusão do saber por fora da escola é um dos desafios mais for-
tes que o mundo da comunicação propõe ao sistema educativo. 
(MARTÍN-BARBERO, 2000, p. 7)
A popularização dos aparelhos tecnológicos de comunicação, como 
os celulares e os computadores, possibilitou o acesso a um fluxo infor-
macional significativo, podendo ser acessado em praticamente todos 
os lugares. Nessa nova realidade, o acesso à informação não garante 
necessariamente a construção de um conhecimento aprofundado, de-
vendo haver intervenções no sentido de orientar o processo de cons-
trução do saber por meio das ferramentas disponíveis.
As ações educativas podem ser compreendidas como uma forma 
orientada de relacionar a teoria com a prática.
Neste caso, as atividades devem ser entendidas como uma ação 
cultural, que consiste no processo de mediação, permitindo ao 
homem apreender, em um sentido amplo, o bem cultural, com 
vistas ao desenvolvimento de uma consciência crítica e abran-
gente da realidade que o cerca. Seus resultados devem assegu-
rar a ampliação das possibilidades de expressão dos indivíduos 
e grupos nas diferentes esferas da vida social. Concebida dessa 
maneira, a ação cultural e educativa nos museus promove sem-
pre amplo benefício para a sociedade, atendendo em última 
instância, ao papel social inerente às instituições museológicas. 
(COSTA; WAZENKESKI, 2015, p. 65)
Educar para preservar 101
Dessa forma, as ações educativas devem ser fundamentadas para 
articular as experiências dos indivíduos com a realidade do seu entor-
no, cumprindo, assim, a proposta primária do espaço museológico, ou 
seja, a salvaguarda dos bens patrimoniais e culturais.
 Outros dois fatores a serem destacados em relação às ações edu-
cativas são a importância da mediação, que deve ser realizada por um 
profissional capacitado, e a aproximação entre a escola e o museu.
 A própria prática desenvolvida nos museus – oferecer informações 
sobre uma determinada peça e contextualizar sua produção – come-
çou a gerar a necessidade de uma formação adequada para os profis-
sionais responsáveis por essas atividades.
Nesse movimento de valorização das visitas a tais espaços é que 
foram estruturados os primeiros serviços educativos no interior 
dessas instituições. Direcionados inicialmente para o atendimen-
to do público escolar, contavam com recursos humanos pouco 
especializados em atividades pedagógicas. As visitas, em sua 
grande maioria, eram guiadas pelos próprios curadores das ex-
posições, profissionais também encarregados de zelar por elas e 
estudá-las. (PIROLA, 2010, p. 98)
Assim, o museu é visto como um espaço facilitador, que possibilita 
diferentes formas de educação, favorecendo a pluralidade do processo 
educativo e a acessibilidade ao conhecimento para o público visitante.
É uma ideia bastante difundida no público em geral que os museus 
são locais intocáveis, nos quais a interação é bastante limitada, quando 
não totalmente nula. Claro que existem obras centenárias – até mile-
nares – que realmente não podem ter contato direto com o público, 
devido à condição de seus suportes físicos, ou até mesmo obras mais 
recentes, feitas com materiais perecíveis. Porém, a ideia da interativi-
dade vem ganhando cada vez mais adeptos e mostrando que é possí-
vel unir em um mesmo espaço a contemplação e a interação com os 
objetos e materiais expostos. Um exemplo disso seria a utilização dos 
recursos tecnológicos nos museus, que permitem aos visitantes escu-
tar sons, ver imagens e interagir com os equipamentos.
É importante que o museu atraia o público para junto de si, para 
que pessoas que não têm o hábito de visitá-lo passem a fazê-
-lo. Neste momento, a ação educativa deve ser apresentada de 
uma forma descontraída, interessante para que o aluno que ali 
estiver saiba que é um local de cultura, mas também de grande 
102 Arte e Cultura
ludicidade. A educação vista e vivida através do patrimônio cul-
tural traz consigo uma das mais agradáveis experiências para as 
crianças e adultos. (COSTA; WAZENKESKI, 2015, p. 67)
É nesse sentido que as ações educativas podem auxiliar para além 
da construção do conhecimento, em uma avaliação positiva por parte 
dos visitantes, para que possam modificar a ideia de que o museu é 
algo chato, retrógrado, para a noção de que é um lugar possível de 
associar a teoria com a prática, assim como aprender, de modo lúdico, 
sobre a memória e o patrimônio.
Um dos exemplos de museus brasileiros que une tecnologia e inte-
ração é oMuseu da Língua Portuguesa, criado no ano de 2006 no esta-
do de São Paulo. De acordo com o site da instituição, o museu foi criado 
para “valorizar a diversidade da língua portuguesa, celebrá-la como ele-
mento fundamental e fundador da cultura e aproximá-la dos falantes 
do idioma em todo o mundo” (MUSEU DA LÍNGUA PORTUGUESA, 2020).
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Totens interativos no espaço Lanternas das Influências, no Museu da Língua Portuguesa. Estes 
são dedicados às línguas e aos povos que influenciaram a formação do português falado no Brasil.
A imagem mostra o espaço chamado Lanternas das Influências, mon-
tado com a inserção de diversos recursos tecnológicos que permitem 
a interação por parte do público visitante. Esse espaço conta com oito 
totens multimídia (dois para as línguas africanas, dois para as línguas 
indígenas, um para espanhol, um para inglês e francês, um para línguas 
dos imigrantes e o último para o português no mundo), em formato 
Educar para preservar 103
triangular; cada um conta com três monitores interativos, um para 
cada face. Em casos como esse, a possibilidade de interagir é um atra-
tivo para as pessoas irem até o museu e, consequentemente, conhecer 
o patrimônio local.
5.4 O patrimônio cultural em debate 
Vídeo Você já percebeu quais são as primeiras referências que vêm à men-
te quando falamos de patrimônio? Faça esse teste agora, elencando 
mentalmente três patrimônios mundiais. Na sequência, responda à se-
guinte pergunta: em qual parte do globo eles estão situados? A maior 
parte deles está na Europa?
O processo que associa o patrimônio mundial majoritariamente 
ao território europeu é um dos reflexos do eurocentrismo que impac-
tou, durante muito tempo, e continua a impactar a noção do que é um 
patrimônio.
É inegável que os patrimônios europeus são valiosíssimos para a 
história humana, mas é fundamental compreendermos que a utiliza-
ção desses referenciais é reflexo de um processo sócio-histórico que 
consolidou o território europeu como o continente dominante por sé-
culos sobre o restante do mundo. Até o século XV, a Europa não havia 
estabelecido ainda muitos contatos além-mar, sendo que o principal 
deles, antes da época das Grandes Navegações, era com a Índia, feito 
pela chamada rota das especiarias.
Após o contato inicial dos povos europeus com 
o continente americano, no século XVI, e a instaura-
ção de colônias na América e na África, iniciou-se um 
processo de espoliação por parte dos vencedores 
(os europeus), que saquearam e transportaram para 
a Europa vultuosas quantias de tesouros americanos 
e africanos. Movidos pela ganância, os europeus rea-
lizaram a pilhagem de cidades, templos e aldeias, a 
fim de acumular a maior quantidade de metais pre-
ciosos possível.
Glossário
espoliação: ação de se 
apropriar das posses de outras 
pessoas ou grupos por meio de 
roubo ou furto; está associada 
a um conflito entre duas partes, 
na qual a vencedora fica com os 
bens conquistados, chamados 
espólios.
pilhagem: ato de acumular 
os bens de um grupo rival em 
uma disputa de caráter político 
ou militar.
104 Arte e Cultura
Na América, para algumas civilizações pré-colombianas, o valor atri-
buído à utilização desses metais não era igual à dos europeus. O ouro, 
por exemplo, poderia ser usado em peças de uso cotidiano, o que des-
pertou nos europeus o aumento do desejo de posse dessas riquezas. O 
que aconteceu foi um choque de culturas, bastante diversas entre si, no 
qual a empatia ficou quase totalmente ausente por parte dos europeus, 
ao desrespeitarem e inferiorizarem outras civilizações e seus costumes.
Além das conquistas territoriais, outro fator que influenciou a con-
solidação da perspectiva eurocêntrica de patrimônio foi o fato de que 
tanto as primeiras noções de preservação quanto os primeiros espaços 
destinados especificamente para isso surgiram na Europa.
Na prática, o que o eurocentrismo provocou foi uma visão redu-
cionista do que é o patrimônio e de quais são as contribuições para a 
formação da cultura contemporânea, centralizando os bens europeus 
como principais, se não os únicos, responsáveis por esse processo.
Ainda nessa perspectiva, destaca-se o conceito de exótico, histori-
camente atribuído a objetos produzidos por culturas diferentes da eu-
ropeia, pois, em geral, a ideia de exotismo se refere a algo estranho, 
externo, que suscita uma sensação de curiosidade. Essa concepção se 
baseia na contraposição de um referencial central, no caso o europeu, 
versus um referencial periférico, como o africano.
Na figura a seguir, podemos ver o complexo real de Abomei, construí-
do no século XIX, um exemplo de patrimônio mundial localizado na África.
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Os Palácios Reais do Abomei são um conjunto de 12 estruturas, construídas em argila pelos fons 
(grupo étnico e linguístico da África Ocidental), que ficam no centro da cidade de Abomei, no 
Benim, capital do antigo Reino do Daomé. Fazem parte da lista da Unesco desde 1985.
Educar para preservar 105
Dessa forma, devemos reforçar o fato de que a seleção do patrimô-
nio, assim como a escrita da história, está diretamente relacionada com 
a memória que se tem a intenção de eternizar.
As ligações Europa-África são milenares. Algumas formas de con-
tacto particularmente negativas (como a escravatura e o colonia-
lismo) fomentaram um conjunto de estereótipos no imaginário 
europeu sobre África e os africanos que podemos situar num 
contexto histórico mais amplo de etnocentrismo cuja expressão 
máxima, em termos geográficos, se exprime na formulação tão 
repetida “Europa e o resto do mundo”. Esta linguagem redutiva 
em que tudo o que não era Europa (e cristandade) era apenas o 
resto do mundo exprime, simbolicamente, o que, em termos cul-
turais, podemos considerar uma das “barbaridades” da Europa. 
Obviamente o mundo mudou e a Europa vai mudando também. 
(AREIA, 2012, p. 173)
Durante muito tempo houve um predomínio significativo na esco-
lha, manutenção e preservação do patrimônio mundial, entretanto, já 
existem sinais de que há uma mudança em curso. Todas as culturas de-
vem ser valorizadas, pois só assim poderemos garantir a permanência 
e a preservação da diversidade e das riquezas culturais existentes no 
mundo globalizado em que vivemos.
Em se tratando de relações internacionais, a Convenção do Patrimô-
nio Mundial de 1972 pressupõe a cooperação entre os países para os 
cuidados e a gestão dos bens patrimoniais. Entre os debates referentes 
ao patrimônio e à preservação, dois conceitos que têm ganhado cada 
vez mais notoriedade, embora ainda haja pouquíssima produção aca-
dêmica sobre eles, são os de internacionalização e universalismo.
A internacionalização se refere à possibilidade de qualquer indiví-
duo desenvolver a percepção sobre a existência e a importância do pa-
trimônio, seja ele de qual cultura for.
A ideia de internacionalização advém do fato de esses bens per-
tencerem, além de uma cultura, à humanidade porque qualquer 
estrangeiro, jovem ou idoso, que se depare com esses bens po-
derá reconhecer a genialidade e a universalidade do que se faz 
presente onde contém uma manifestação mais típica do ser hu-
mano: a construção do seu hábitat. (ZANELLA, 2016, p. 2)
O surgimento dessa perspectiva se deu por meio da relação estabe-
lecida entre as diversas localidades existentes ao redor do mundo e ao 
fato de a comunicação entre elas ter se aprimorado significativamente 
Um dos casos mais 
emblemáticos em relação 
à disputa pela posse do 
patrimônio é o dos Frisos 
do Parthenon, também 
chamados de Mármores 
de Elgin, entre a Grécia 
e a Grã-Bretanha. Saiba 
mais lendo a reportagem 
Grécia quer resgatar de 
Londres as esculturas do 
Pártenon, da National 
Geographic Portugal.
Disponível em: https://
nationalgeographic.sapo.pt/historia/
grandes-reportagens/1107-grecia-
quer-resgatar-de-londres-as-
esculturas-do-partenon. Acesso em: 
11 set. 2020.
Saibamais
Para ter acesso aos princípios 
da Convenção, basta acessar 
a Cartilha sobre Patrimônio 
Mundial, elaborada pelo IPHAN.
Disponível em: http://portal.
iphan.gov.br/uploads/ckfinder/
arquivos/Cartilha_do_patrimo-
nio_mundial.pdf. Acesso em: 11 
set. 2020.
Documento
106 Arte e Cultura
nos últimos anos. O ponto de partida para a consolidação da ideia de 
internacionalização foi a criação da Carta de Atenas, que versa sobre a 
importância do patrimônio e da preservação em escala mundial.
Já o universalismo é consequência de um processo histórico de lu-
tas pelo respeito às diferenças culturais e pela inclusão do patrimônio 
referente às mais variadas etnias.
Em 1999, por exemplo, os países membros da União Europeia 
substituíram o conceito de exceção cultural pelo conceito de di-
versidade cultural. O principal argumento para efetivação dessa 
mudança foi elaborado segundo a justificativa de que o conceito 
de diversidade cultural seria mais afirmativo, conotando uma po-
sição menos defensiva, embora naquele momento oferecesse 
pouca segurança jurídica, visto que não havia ainda um marco 
jurídico legal no âmbito do direito europeu e do direito interna-
cional. (ALVES, 2010, p. 541, grifos do original)
A criação do conceito de universalismo é, portanto, reflexo de mu-
danças sociais que vão além das discussões relacionadas ao patrimô-
nio, como a difusão do acesso à produção cultural mundial, facilitada 
pela globalização e pela popularização da internet.
Por estar atrelado às mudanças sociais, o desenvolvimento do 
conceito de universalismo é caracterizado também por interesses dis-
tintos, os quais provêm de variados setores presentes na sociedade, 
reforçando ainda mais a necessidade da sua existência, como referen-
cial de diversidade.
Filme
O longa Brilho eterno de uma mente sem lembranças aborda, de 
maneira profunda e reflexiva, a responsabilidade de decisões 
referentes ao funcionamento da memória, mostrando que 
existem muitas coisas em jogo além da vontade de esquecer. 
Partindo da perspectiva individual, o filme aborda o caso de 
Joel e Clementine, quando, após um término, ela decide recor-
rer a uma empresa que realiza o apagamento de memórias. 
O filme é interessante para refletirmos sobre o complexo pro-
cesso da memória, tanto no nível individual quanto no coletivo. 
Trailer disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=cYEuKFbSsuE. Acesso em: 
11 set. 2020.
Direção: Michel Gondry. EUA: Focus, 2004. 
A Carta de Atenas é um 
documento criado em 1931, 
fruto dos esforços realizados pela 
Comissão Internacional de Coo-
peração Intelectual, e integrava 
a então existente Sociedade das 
Nações. A Carta foi resultado 
da Conferência Internacional de 
Atenas.
Saiba mais
Educar para preservar 107
5.5 Conservação e restauração 
Vídeo No que se refere às ações destinadas à proteção de bens patrimo-
niais materiais, as duas que mais se destacam são a conservação e a 
restauração. Embora se relacionem diretamente entre si, esses concei-
tos possuem algumas características próprias que os diferenciam.
Dessa forma, podemos definir conservação como a prática destina-
da à preservação de um determinado bem material, buscando manter 
suas características específicas.
Nesse sentido, uma das categorizações existentes dentro da área 
da conservação é a divisão dos objetos pelo tipo de material do qual 
são feitos; por exemplo, a conservação de têxteis, na qual a principal 
preocupação gira em torno da manutenção das características visuais 
da peça selecionada.
Numa sequência de expansão e desmembramento de questões, 
podemos pensar os bens culturais que envolvem uma diversi-
dade de objetos ou artefatos, assim como de materiais de sua 
feitura. O papel, a tinta, o ferro, a madeira, as pedras etc. são 
determinantes para as ações de preservação e para as áreas que 
as estudam. Por sua vez, esses bens culturais tanto se originam 
da Ciência quanto da Arte e da Cultura, aí incluída a produção 
dos povos indígenas. (SILVA, 2012, p. 26)
Considerando a pluralidade dos materiais existentes, é necessário 
que as práticas preservacionistas possam se diversificar, buscando dar 
um tratamento adequado para cada um desses tipos de materiais.
A finalidade, tanto da conservação quanto da restauração, é prolon-
gar a existência desses objetos que, historicamente e/ou culturalmen-
te, possuem um valor inestimável para a sociedade em geral. Aplicando 
as técnicas corretas, a preservação desses bens poderá fazer com que 
as futuras gerações tenham acesso a eles, contribuindo com a preser-
vação da memória para a posteridade.
A restauração pode ser entendida como “um procedimento extre-
mo de conservação, quando o objeto possui importância tal que me-
reça todo o investimento necessário a uma abordagem conscienciosa” 
(SILVA, 2012, p. 33). Ela é a tentativa de recuperação de um objeto, a fim 
de restituir as características originais da peça em questão, após uma 
minuciosa análise técnica.
108 Arte e Cultura
Um outro aspecto importante referente às práticas de conservação 
e restauração é a crescente profissionalização dessas áreas. Temos ob-
servado um constante aumento na sistematização dos conhecimentos 
relacionados.
Quando se examina a evolução dos conceitos de preservação, 
conservação e de restauração na literatura, verifica-se um inte-
resse crescente pelo tema. Simultaneamente, sua natureza tem 
sido clarificada de forma apreciável, a ponto de hoje ser possível 
considerar a conservação como uma disciplina baseada em mé-
todo, quando inicialmente constituía-se em profissão de conhe-
cimento empírico. No contexto dessa mudança, as relações que 
surgem entre dois componentes da preservação moderna – o 
que é relevante para as ciências humanas e sociais e o que é 
relevante para as ciências exatas e a tecnologia – merecem aten-
ção especial e já evidenciam aspectos de interdisciplinaridade. 
(SILVA, 2012, p. 34)
Dessa forma, destacamos que entre os fatores que contribuem para 
a disciplinarização das práticas de conservação e restauração estão as 
referências vindas dos estilos das escolas de arte e o desenvolvimento 
tecnológico. O primeiro aspecto permitiu a identificação dos contextos 
históricos, bem como das características estéticas dos objetos selecio-
nados, enquanto o segundo possibilitou o aprimoramento das técnicas 
utilizadas, principalmente pelos avanços da área da Química e das fer-
ramentas digitais.
Podemos perceber que a interdisciplinaridade é uma característi-
ca primordial nas áreas de conservação e restauração, pois a própria 
prática cotidiana faz que com os conhecimentos de várias áreas sejam 
integrados, contribuindo para a salvaguarda dos bens patrimoniais.
Em relação ao registro do surgimento das primeiras práticas de con-
servação e restauro, voltadas para a arquitetura, podemos observar 
que desde o Renascimento já havia uma preocupação significativa so-
bre essa questão.
Quem, entretanto, tem um mínimo de intimidade com a História 
da Arquitetura sabe que os escritos de Da Vinci já apresentam ob-
servações e interpretações curiosíssimas sobre o diagnóstico do 
comportamento estático de edifícios, das causas das lesões dos 
muros e abóbadas, um testemunho de que já existia uma ciência 
da conservação (lato sensu). O erudito Leon Batista Alberti, como 
quase todos os outros tratadistas, dedica parte do seu trabalho à 
análise das construções, seus defeitos e a maneira de repará-los 
Educar para preservar 109
e, o que é mais fundamental, a tônica dominante das suas ob-
servações direciona-se para a importância da durabilidade das 
estruturas e dos materiais, quando submetidas ao intemperismo 
(OLIVEIRA, 2011, p. 10).
Podemos considerar que nesse contexto de intensa produção cultu-
ral que foi o Renascimento existiram os primeiros estudos sobre a im-
portância de restaurar e conservar os bens históricos, protegendo-os 
dos efeitos do tempo.
É fundamental também que as instituições de guarda e armaze-
namento do patrimônio valorizem a formaçãoadequada dos profis-
sionais que atuam nesses locais, pois eles estarão presentes durante 
quase todo o processo de preservação do bem patrimonial, auxilian-
do em diversos aspectos, como a aquisição de objetos, a escolha de 
quais deverão entrar para o acervo e o monitoramento das peças já 
selecionadas.
Os profissionais dessas áreas devem estar conscientes da impor-
tância de sistematizar os conhecimentos pertinentes, contribuindo na 
divulgação de suas pesquisas e experiências, enfatizando as técnicas 
utilizadas desde o acondicionamento adequado dos objetos até o pro-
cesso de restituição.
Outro aspecto fundamental na discussão referente à conservação e 
restauração é compreendermos que essas práticas se modificam con-
forme o contexto no qual são realizadas, tendo em vista que o entendi-
mento acerca desses conceitos varia de acordo com a sociedade à qual 
são aplicados.
Essa diversidade relacionada à aplicação prática dos princípios de 
conservação e restauração faz com que a preservação dos bens mate-
riais esteja diretamente atrelada à sociedade responsável pela sua pro-
teção, por isso, alguns lugares têm um desenvolvimento mais apurado 
em relação a essas técnicas, em comparação a outros espaços.
As características ambientais do meio no qual se encontra um de-
terminado objeto irão influenciar diretamente a forma que se dará a 
conservação e a restauração. Em relação ao acondicionamento de bens 
materiais, podemos destacar aspectos como temperatura, luminosida-
de, estrutura física do espaço etc.
110 Arte e Cultura
A figura a seguir retrata o trabalho de restauração de um documento 
de origem otomana, com o uso de determinados instrumentos, como 
a luva descartável a fim de evitar contato com a superfície do papel.
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Mulher restaurando um documento otomano antigo na Turquia, 2017.
A história relacionada à institucionalização do patrimônio e da sua 
preservação conta com inúmeros marcos legais, dentre os quais ire-
mos destacar alguns dos mais significativos.
Em termos de cronologia, o ano de 1937 inicia com o que pode-
mos considerar a regulamentação das atividades relacionadas aos 
bens patrimoniais, com a criação do Serviço do Patrimônio Histórico 
e Artístico Nacional (SPHAN), atual Instituto do Patrimônio Histórico e 
Artístico Nacional (Iphan).
Na sequência, destaca-se a Constituição Federal de 1988, com o ar-
tigo 216, que versa sobre a composição do patrimônio brasileiro, de 
que forma devem transcorrer os processos sobre ele e a importân-
cia de sua preservação para as gerações futuras (BRASIL, 1988). Por 
fim, há o Decreto n. 3.551, de 2000, que criou o Programa Nacional 
do Patrimônio Imaterial e instituiu o Registro de Bens Culturais de 
Natureza Imaterial (BRASIL, 2000).
O que faz, então, um bem se transformar em patrimônio pela lei? O 
processo que possibilita a mudança desse status se chama tombamen-
to e tem como finalidade a preservação dos bens, incentivando a sua 
conservação.
O tombamento é um ato administrativo que ocorre na esfera do 
poder público, podendo ser realizado pelos âmbitos federal (Iphan), es-
Educar para preservar 111
tadual (Secretaria de Estado da Cultura) e municipal. Um exemplo de 
tombamento é o Palácio São Francisco, um prédio histórico localizado 
em Curitiba, no Paraná.
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O Palácio São Francisco foi tombado pelo Patrimônio Cultural do estado do Paraná em 1987.
Qualquer indivíduo, organização não governamental, instituição 
pública ou privada, organização popular, bem como as próprias coor-
denações de patrimônio, podem realizar o pedido. A solicitação deve 
conter uma descrição das características, justificativa e documentação 
pertinente; estas devem ser entregues ao órgão responsável, o qual irá 
analisar a relevância da solicitação.
A oficialização do tombamento como instrumento de preservação 
se deu pelo Decreto n. 25, de 1937. O bem pode ser enquadrado em 
um dos quatro livros existentes, que são divididos da seguinte forma:
Contempla os bens culturais que têm um valor arqueológico acentuado. Também 
engloba produções de significado etnográfico e paisagístico, como vestígios e 
artefatos do período pré-histórico.
1º – Livro do Tombo Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico
Inclui os bens com valor histórico acentuado, sendo composto do conjunto de 
patrimônios de interesse público e associados à noção de História.
2º – Livro do Tombo Histórico
112 Arte e Cultura
Composto de bens de acentuado caráter artístico. Inclui obras de arte consideradas 
como tal pela sociedade e pelos especialistas.
3º – Livro do Tombo das Belas Artes
Diferencia-se do livro anterior por contemplar peças consideradas artísticas, porém 
que também possuem uma característica utilitária; por exemplo, o mobiliário. 
4º – Livro do Tombo das Artes Aplicadas.
Esses livros abrangem uma quantidade diversa de bens conside-
rados patrimônios, como edifícios, complexos arquitetônicos, jardins, 
mobílias, praças, entre outros. Após o tombamento, fica proibida a des-
truição do bem, devendo ser mantidas as características originais.
A destruição de bens tombados é passível de penalização legal, com 
punições que variam conforme os danos causados. Podem ser desde 
uma multa até a ordem de reconstrução do patrimônio depredado.
Quanto à conservação do bem, a responsabilidade é do proprietá-
rio, mas, caso ele não possua condições de arcar com os custos, pode 
solicitar ao órgão responsável o auxílio com a manutenção, por meio 
de um pedido protocolado, comprovando que não possui as condições 
necessárias para manter o patrimônio.
Em relação às transações comerciais, como venda ou aluguel de um 
imóvel tombado, não há nenhuma restrição, desde que respeitadas as 
condições estabelecidas sobre a conservação do edifício e enviado o 
aviso prévio ao órgão responsável.
A área de entorno do bem tombado é definida já no processo de 
tombamento e visa proporcionar as melhores condições para a con-
servação do imóvel, contribuindo para o desenvolvimento social e a 
ocupação consciente do espaço.
A obra Utopia: sobre a 
melhor condição de uma 
república e sobre a nova 
ilha Utopia é dividida 
em duas partes: na 
primeira, o autor tece 
uma crítica à sociedade 
inglesa de sua época; na 
segunda, elabora uma 
sociedade fictícia como 
um contraponto: a ilha 
de Utopia, que possui 
pressupostos radicalmen-
te diferentes quanto ao 
funcionamento da cidade. 
É um livro que serve para 
refletirmos sobre as dinâ-
micas de funcionamento 
da sociedade, ponde-
rando o que o grupo 
de indivíduos considera 
como primordial para a 
preservação.
MORUS, T. Petrópolis,: Vozes, 2016.
Livro
Educar para preservar 113
CONSIDERAÇÕES 
FINAIS
No que se refere ao patrimônio, mais do que as questões relacionadas 
aos aspectos físicos de um edifício ou objeto, pudemos perceber que o 
fator determinante é a cultura expressa pelo simbolismo e pelas identi-
dades sociais.
Dessa forma, a identificação do que é ou não patrimônio está direta-
mente associada aos referenciais culturais utilizados para tal atribuição, o 
que vai além do juízo estético.
Além das instituições, a própria compreensão do que é o patrimônio 
se modificou ao longo do tempo, alterando sua constituição conforme o 
contexto histórico no qual estava inserido. Essa condição é consequência 
do fato de que o patrimônio – e tudo o que está ligado a ele – é reflexo 
das relações sociais.
O que é um patrimônio, como deverá ser preservado e de que forma 
deve ser utilizado são questões que permeiam o cotidiano social e que en-
contram no público visitante e observador as orientações para resolução 
desses aspectos.
ATIVIDADES
1. Por que é importante a existência de categorias relacionadas aos bens 
patrimoniais?
2. No cotidiano, seja pelos meios de comunicação ou pela localidade na 
qual moramos, temos acesso a inúmeras referências culturais que 
podem se tornar um patrimônio, imaterial ou material. Aponte quais 
são as principais diferençasentre essas duas categorias.
3. Os valores morais são influenciados pelo meio com o qual interagimos, 
assim como com o conhecimento que acumulamos ao longo da vida. 
Discorra sobre a importância da problematização do conceito de 
eurocentrismo no patrimônio.
114 Arte e Cultura
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https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-64451986000300011&script=sci_arttext
Gabarito 115
GABARITO 
1 Breve panorama sobre arte e cultura
1. Para responder a esta questão, você deve abordar o caráter 
polissêmico do conceito de cultura, considerando que é variável, 
de acordo com o contexto no qual é aplicado. Alguns exemplos das 
características culturais são a alimentação, a habitação e os costumes.
2. A interdisciplinaridade contribui em diversos aspectos para o 
desenvolvimento do conhecimento na Arte; por exemplo, por meio da 
inserção de novos temas e da análise do contexto histórico e social de 
produção das obras.
3. Dentre as diversas medidas adotadas pelos museus, podemos citar: a 
especialização em temáticas; a relação entre os museus e os meios de 
comunicação, como a televisão e a internet; a interação com as novas 
tecnologias; e a instalação de novos espaços, destinados à alimentação 
e à venda de souvenirs.
2 As interfaces e abordagens da arte
1. Para responder a esta questão, você deverá destacar os aspectos 
decorrentes da aproximação entre arte e política, como o 
tensionamento dos espaços institucionais, a intencionalidade das 
obras e a street art.
2. As tecnologias da comunicação permitem que os artistas utilizem os 
sites, as redes sociais, os canais de vídeos e de músicas para criarem, 
desenvolverem e apresentarem a sua produção artística, além de 
proporcionar a interação com o público, que, muitas vezes, pode 
modificar a ideia inicial proposta pelo artista. Já as instituições culturais 
utilizam as tecnologias para promover visitas virtuais, exposições mais 
atrativas e acessíveis ao público.
3. Nos últimos anos, os museus têm promovido exposições, seminários 
e videoconferências sobre as culturas indígenas, africana e afro-
brasileira, além da discussão de gênero. Já as escolas e universidades 
têm desenvolvido projetos e debates sobre essa temática, além de 
levarem convidados para discutir o assunto.
116 Arte e Cultura
3 Aspectos teóricos da arte moderna e 
contemporânea
1. Para responder a esta questão, você pode abordar as características 
relacionadas à eclosão da Revolução Industrial, como o pioneirismo 
inglês, a mudança na percepção temporal e as condições de trabalho 
nas primeiras fábricas.
2. É importante mencionar que, com o estabelecimento de relações 
em nível internacional, a globalização promove a interconexão entre 
diferentes países, inclusive na perspectiva cultural.
3. Para responder a esta questão, você pode discorrer sobre o conceito 
de pós-modernidade no sentido de delimitação temporal e como um 
amplo fenômeno social.
4 Movimentos artísticos modernos e 
contemporâneos
1. O contexto histórico de surgimento das vanguardas artísticas foi 
marcado por diversos conflitos de proporção mundial, como guerras 
e regimes totalitários. Esses aspectos fizeram com que os artistas 
questionassem o que é arte e para que ela serve.
2. As vanguardas artísticas são: expressionismo (contrário à noção de 
arte como registro da natureza, utilização de cores fortes e formas 
distorcidas); futurismo (representação da velocidade e dos elementos 
industriais, simultaneidade); cubismo (utilização de formas geométricas/
abstratas); dadaísmo (ready-made); e surrealismo (elementos oníricos e 
desconstrução das formas).
3. Com a inserção de elementos presentes na cultura popular e no 
cotidiano das pessoas, como produtos industrializados e colagens 
com imagens de revistas.
5 Educar para preservar
1. A classificação dos bens patrimoniais contribui para a preservação e 
para a conservação dos diversos tipos de patrimônio, pois cada um 
deles exige um tratamento específico e adequado à sua constituição.
Gabarito 117
2. O patrimônio imaterial não possui um suporte físico específico, sendo 
composto de práticas culturais; já o patrimônio material se refere a 
objetos, prédios, vasos etc.
3. O eurocentrismo influenciou por muito tempo a noção do que 
deveria ser considerado patrimônio, excluindo culturas distintas. Para 
existir a valorização e a inclusão de todas as culturas, é necessária a 
problematização do conceito de eurocentrismo.
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ALANA MILCHESKI
FLÁVIA GISELE NASCIMENTO
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Código Logístico
59572
Fundação Biblioteca Nacional
ISBN 978-85-387-6685-8
9 7 8 8 5 3 8 7 6 6 8 5 8

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