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©TODOS OS DIREITOS RESERVADOS Produzido e publicado no Brasil Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Jesus, Eder Silva Machado de Não é o fim [livro eletrônico]: uma introdução à esperança escatológica / Eder Silva Machado de Jesus. -- Feira de Santana, BA : Edição do autor, 2021. 580 Kb. ISBN: 978-65-00-30377-3 1. Escatologia. 2. Tempos do fim. 3. Igreja. I. Título. CDD-236 Sueli Costa - Bibliotecária - CRB-8/5213 (SC Assessoria Editorial, SP, Brasil) Índices para catálogo sistemático: 1. Escatologia bíblica 236 Créditos Capa: Jéssica Lindemberg Revisão: Cristiane Cavalcanti Diagramação: SC Editorial Contato com o autor: rev.edersilva@yahoo.com.br @eder.smachado (Instagram) A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na Lei n. 9.610/98 e punido pelo art. 184 do Código Penal. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prévia autorização do autor. Dedicatória Dedico este trabalho aos meus pais, por todo o amor e dedicação para comigo, por terem sido a peça fundamental para que eu tenha me tornado a pessoa que hoje sou. A Tamara minha amada esposa. Aos meus queridos filhos Pedro Arthur e Bernardo. Às minha irmãs Ester e Andréa, amo vocês (Sempre juntos). Agradecimentos Ao Senhor Deus por sua graça e o seu amor. A Tamara minha querida esposa, pois durante o trabalho de pesquisa e composição foi muito compreensiva e me ajudou na digitação de algumas partes. A Ester, minha querida irmã, revisou parte dos textos e deu suporte na formatação. Apresentação É com alegria que recomendo e faço apresentação deste ENSAIO ESCATOLOGICO. O nobre e ilustre amigo, escritor, tem ao longo dos anos estudado, procurando crescer e ampliar sua visão acerca do tema. E diga-se de passagem, ESCATOLOGIA é um assunto amplo, suas falas bíblicas são simbólicas e por vezes complexas, podendo assumir um tom apocalíptico literal e profético ao mesmo tempo. As muitas linhas e correntes escatológicas, descritas neste ENSAIO, nos convida a adentrar um pouco mais neste fantástico assunto. Este ENSAIO não tem por finalidade fechar uma linha doutrinária teológica determinante acerca das coisas do fim, mas trazer de forma clara, sucinta e objetiva uma visão panorâmica acerca do tema. Agradecemos sua coragem em nos expor e nos partilhar de suas pesquisas e ideias. Este material promete ser um, dentre muitos outros, que teremos a partir desta obra e de outras que ensaiadamente virão às nossas mãos. Com alegria sempre. Cláudio Giomar de Lima Ministro Evangélico Sumário Introdução 1. Hermenêutica e Método Definição Hermenêutica Método alegórico Método Histórico Gramatical Escatologia Consistente – Albert Schweitzer (1875–1965) Escatologia Realizada – Charles H. Dodd (1884–1973) Escatologia Existencial – Rudolf Bultmann (1884–1976) Teologia da Esperança – Jürgen Moltmann (1926 -) 2. Escatologia em Israel Período Intertestamentário Ideário Escatológico de Israel (At) Daniel As Setenta Semanas (9.24-27) 3. Escatologia no Novo Testamento Escatologia nos Evangelhos Mateus 24.3-41 – Charles C. Ryrie Marcos 13.9-32 – Charles C. Ryrie Lucas 21.7-41 – Charles C. Ryrie Atos Epistolas Paulinas 1 Tessalonicenses 4.13 – 17 / 5.2-9 – Charles C. Ryrie Epístolas Gerais 4. Apocalipse Principais Interpretações do Apocalipse Características do Livro Apocalipse Contexto Histórico de Apocalipse Conteúdo do Livro Apocalipse 19.20 / 20.1, 2, 5, 8 / 21.1-2 – Charles C. Ryrie 5. Escolas Escatológicas Pós-Milenismo (Milenarismo) Amilenarismo Pré-Milenismo (Milenarismo) Dispensacionlismo Referências Introdução Zabatiero (2005) diz que todo fazer teológico deve ser prático, ou seja, tem como finalidade orientar a ação cristã presente, em resposta ao agir de Deus no decurso da história, ou seja, no passado, presente e futuro. A teologia sistemática se propõe a estudar e organizar de maneira coerente as doutrinas bíblicas. Os termos por ela abordados formam o arcabouço da dogmática cristã. Durante a história não foram poucos os esforços da Igreja no sentido de organizar os princípios que formam seu ensino teológico. O estudo da escatologia é de certo salutar para o presente século. Shedd (2001) observa que “A escatologia é uma das áreas da teologia que, na prática, é a mais evitada. A razão é obvia: ninguém pode afirmar com precisão como e quando acontecerão os eventos previstos pelas Escrituras”. Não obstante, de sua complexidade alguns conceitos centrais podem ser afirmados devido à transparência que são tratados pelas Sagradas Letras. Deste modo Eurico Bergstén (1980) fomenta que a “escatologia é uma das grandes doutrinas bíblicas”. Ao tratar deste assunto, termos como anticristo, retorno iminente de Cristo, volta de Cristo, arrebatamento, grande tribulação, reino de Deus, reino milenar, juízo final e eternidade tornam-se recorrentes. Shedd (2001) afirma que “Quanto mais à qualidade escatológica se manifestar no presente, maior será a nossa certeza de que dela participaremos”. Kenneth L. Gentry Jr. Ressalta “A tarefa prioritária da escatologia é explorar toda a revelação da infalível Palavra de Deus, de forma a discernir o divinamente ordenado, o profeticamente revelado, com vistas a provocar ‘um chamado à ação e obediência no presente’” 1. Zabatiero (2005) Argumenta: A face visível e compreensível da verdadeira espiritualidade é a missão centrada no servir a Deus pelo constrangimento do amor de Cristo. Assim, missão passa a ser apenas o nome teológico da solidariedade, e a ação missionária manifesta plenamente a liberdade cristã neste tempo escatológico em que vivemos. De acordo com Pentecost (2006) “A adoção de diferentes métodos de interpretação produziu as várias posições escatológicas e dá conta das diversas concepções de cada sistema em desafio ao estudioso da profecia”. Para Shedd (2006) fundamentalmente a hermenêutica elucida em grande parte a divergência sobre a escatologia que caracteriza o mundo evangélico. Diante disso muitas questões se deparam ao estudioso de escatologia, sendo o método hermenêutico dos escritos proféticos o de maior atenção. A metodologia empregada para interpretar, sobretudo as profecias apocalípticas têm sido o ponto de divergência entre as escolas escatológicas. Para Louis Berkhof (2007) os que acreditam no retorno de Cristo antes do milênio são denominados pré- milenistas; o autor observa ainda que os que defendem que a sua segunda vinda ocorrerá após o milênio são conhecidos como pós-milenistas, já os que crêem que a Bíblia não autoriza a expectativa de um milênio, recebem o nome de amilenistas. Notas: 1 Ser espiritual é ser uma pessoa que tem no centro de sua vida o próprio Messias Jesus, não o ego, a igreja ou se o próprio projeto de vida. Somente nele encontramos a verdadeira humanidade e a vivemos como projeto escatológico, no qual o futuro invadiu o presente e o batizou com as águas da liberdade e do serviço a Deus. (ZABATIERO, 2005, p. 127) 1. Hermenêutica e Método Definição Leiner (1985) verifica que o conceito “escatologia” é de origem recente. A teologia patrística e escolástica não faziam uso de um termo definido. Portanto, sua primeira evidência situa-se em A. Calov (1686). Mas o sentido preciso a este respeito foi formulado, posteriormente por Schleiermacher. A partir de então a escatologia passa a fazer parte do arcabouço da teologia, dispondo de possibilidades que não dispunha no passado. A escatologia2 merece uma atenção acurada por apontar para o final da história da espécie humana e que esta terá uma consumação. Destarte pode-se definir escatologia epistemologicamente como uma palavra de origem grega, significando “as últimas coisas” (εσχατος - eschatos) e “estudo” ( λόγος - logos) conforme afirma Strimple (2005). Leiner (1985) conclui que: A escatologia se refere, como diz seu próprio nome, às coisas ultimas. No último, porém, revela-se não somente o fim, mas também a integralidade.E é justamente na escatologia que essa integralidade se anuncia de modo perfeitamente explícito. A escatologia se torna assim a consciência crítica da teologia [...] a fé e a teologia se relacionam com o todo. Tal relação não significa outra coisa a não ser que estão orientadas para o que é último e definitivo, ou seja, para o que é simplesmente decisivo e incondicionado. As Escrituras fomentam que uma série de acontecimentos catastróficos ocorrerá no fim dos tempos, estes são assuntos pertinentes à escatologia, acrescenta Berkhof (2007). Sendo assim, a escatologia3 é o estudo das últimas coisas ou dos acontecimentos futuros, ressalta Campos (2005). Hermenêutica Indubitavelmente para se compreender um texto é necessário o uso da interpretação, mesmo que esta aconteça de maneira inconsciente. A Bíblia também participa deste processo por se tratar de um texto com esta assertiva, Lopes (2004) lança a proposta da significância do uso da hermenêutica. A hermenêutica é definida pelo dicionário de Teologia (2007) como a disciplina que estuda os princípios e as teorias sobre a maneira que os textos devem ser interpretados, sobretudo os textos sacros como a Bíblia. A hermenêutica também se preocupa com o entendimento dos papéis e os relacionamentos singulares entre o autor, o texto, o público-leitor original e o posterior. Para Augustus N. Lopes (2004), ao apreciar um texto bíblico deve-se levar em consideração que há vários distanciamentos entre o leitor atual e documento em suas mãos. Dessa forma, o hermeneuta, ao debruçar-se sobre as passagens bíblicas, tenta minimizar os distanciamentos temporal, contextual, cultural, linguístico, autoral, etc. Em termos simples, a hermenêutica atualmente possui dois métodos de interpretação4. O método alegórico, originalmente usado pela escola de Alexandria, e o histórico gramatical, pela escola de Antioquia. Método alegórico O método alegórico utiliza-se de analogias para tentar descobrir o verdadeiro significado do texto e suas asserções espirituais que para este método está além do sentido literal. Assim, por meio de metáforas, símbolos e mitos, acreditam expressar uma verdade mais profunda do texto bíblico. De forma mais esclarecedora sobre o assunto, Lopes (2004, p. 92) explicita que “Alegoria significa literalmente ‘dizer uma outra coisa’, [...] as palavras estão dizendo uma outra coisa que não aquela que parece obvia. [...] Interpretar uma passagem alegoricamente é atribuir [...] um sentido que aparentemente não está lá”. Filo de Alexandria alcançou notoriedade por recorrer a este método sob influência de Aristóbulo, o qual procurou conciliar a lei mosaica com a filosofia grega, bem como, os judeus platônicos do Egito. Posteriormente, Orígenes (185–253 d.C.) pertencente à escola de Alexandria seguiu os mesmos princípios de interpretação que Filo, complementa Pentecost (2006). Método Histórico Gramatical J. Dwight Pentecost em defesa ao método histórico gramatical afirma que a escatologia apresenta um desenvolvimento da interpretação no decorrer da história e tem como ponto de partida o momento em que o povo de Israel retornou do exílio babilônico, sob a liderança de Esdras (Ne 8.1-8)5. O autor ainda desenvolve um traçado histórico apontando este método como práxis judaica do Antigo Testamento, bem como dos intérpretes contemporâneos de Jesus. Diante disso, os apóstolos comumente faziam uso do literalismo para interpretar as profecias veterotestamentárias e assim também faziam os pais apostólicos. Do período correspondente ao século VII ao XVI houve ascensão do método alegórico, no entanto, a Reforma Protestante recapitulou o método histórico gramatical (Literal). Lopes (2004) acrescenta que este método procura alcançar o sentido do texto pelo que o autor intencionava transmitir ao escrevê-lo, ao mesmo tempo em que estudava as palavras gramaticalmente em sua língua original (grego / hebraico), levando em consideração o contexto histórico em que foi redigido. Escatologia Consistente – Albert Schweitzer (1875–1965) Erickson (2010) contribui, o século XIX foi marcado por uma intensa agitação teológica, devido a uma série de acontecimentos como: a teoria da Origem das Espécies de Charles Darwin, as críticas de Immanuel Kant, na filosofia, demandando assim, respostas mais acuradas por parte dos teólogos da época. Desta forma foi iniciada uma busca mais intensa pelo Jesus histórico, teólogos liberais disseminavam a ideia de que o reino de Deus seria gradualmente espalhado pelo mundo por meio de um desempenho ético. Erickson (2010) ressalta que alguns teólogos não compartilhavam deste ponto de vista, um deles foi Johannes Weiss (1892), o qual defendeu que Jesus era completamente focado na apocalíptica, tendo em vista um corolário futurista e por fim escatológico. O autor acrescenta que Weiss acreditava que invés de um reino ético de Deus no íntimo humano, o qual se desenvolveria paulatinamente ao longo da história, este seria instituído postumamente. Esta abordagem recebeu o nome de escatologia consistente (ou radical). Por expor que a relevância de Jesus Cristo encontra-se em discerni-lo como legitimamente foi. Portanto, a ideia de que Jesus ensinou um reino ético foi extinta. Nestes termos a hermenêutica aplicada é completamente escatológica. Para Schweitzer somente quando a imagem escatológica de Jesus é projetada, sua vida e ensinos passam a ter sentido, e suas instruções incidem em episódios vindouros. A noção escatológica não era um plano alternativo de Jesus, que mudou quando sua estratégia original se revelou impraticável. Pelo contrário, o conceito escatológico era o cerne da mensagem de Cristo. Enquanto os liberais criam que a humanidade mudaria de forma antecipatória nos moldes daquilo que seriam no reino6 e o difundiriam à sociedade. A escatologia consistente defendia que é mediante o arrependimento que o homem se prepara para receber o caráter do reino que viria não gradual e eticamente, mas sobrenaturalmente, e isso aponta para uma dependência total do que Deus faz não dos esforços humanos7. Essa interpretação realística da Bíblia tornou-se popular. Portanto, o foco era entender os ensinos8 de Jesus e dos apóstolos da maneira como queriam comunicar. Infelizmente Schweitzer concluiu que Jesus aguardava um final cataclísmico, mediante o qual aconteceria a inauguração do Reino e chegou a concluir que Jesus foi um apocalíptico iludido, acrescenta Shedd (2006). Escatologia Realizada – Charles H. Dodd (1884– 1973) De acordo com Erickson (2010) a escatologia realizada, semelhante à escatologia consistente, ponderava que o tema escatológico permeava as Escrituras, porém enquanto a consistente afirmava que os acontecimentos antecipados por Jesus nunca ocorreram, a realizada defendia que tais acontecimentos já haviam ocorrido, ou seja, via-os ocorrendo no período em que foram escritos ou dentro do período bíblico. Para Dodd, Jesus não falava de acontecimentos totalmente futuros que ainda se cumpririam, mas das coisas que já haviam chegado. Sendo assim, enquanto o dia do Senhor era um acontecimento futuro para o AT, no NT esse dia já chegou. Deus estabeleceu seu reino, a nova era está aqui. Aquilo que era futuro no tempo das profecias do Antigo Testamento tornou-se presente, e o conceito do dia do Senhor passou a ser a um acontecimento histórico específico que já ocorreu. A escatologia realizada9 propõe que ao invés de duas vindas de Cristo, deve-se entender que há apenas uma; que as predições de Jesus devem ser interpretadas à luz de suas declarações de que o reino de Deus está aqui. Jesus não falava de como seria, mas de como era. Erickson (2010) observa que Dodd recebeu críticas por haver exagerado seu argumento, posteriormente em suas obras passou a dizer que o reino começara, não mais sobre aquele que chegara, da inicialização em vez da realização. Dodd10 negligenciou alguns textos que não podem ser considerados como já cumpridos. Tais textos declaram que esses acontecimentos são futuros. O grande discurso escatológico,onde Jesus falou de sua segunda vinda e a reflexão de Paulo sobre a parousia em 1Tessalonicenses. Escatologia Existencial – Rudolf Bultmann (1884– 1976) Erickson (2010) cita que baseado no existencialismo de Martin Heidegger é que Bultmann interpretava o Novo Testamento. Para Heidegger, o homem é confrontado continuamente com a decisão entre passado e futuro. Seja para perder-se no mundo das coisas e assim perder sua individualidade em meio à massa, alcançando assim a existência inautêntica. Ou se entregar ao futuro, abrindo mão de toda a segurança para alcançar a existência autêntica. Para o existencialismo o homem consegue a existência autêntica ao libertar-se do cativeiro ao transitório e tangível por sua própria decisão. De acordo com o Novo Testamento o homem não pode libertar-se mediante seu próprio esforço, mas isso deve vir como uma dádiva. Esta é a diferença encontrada por Bultmann entre os ensinos do Novo Testamento e as asserções existencialistas. Bultmann analisava a visão dos autores do Novo Testamento acerca da realidade do universo contendo três andares. Sendo que o andar superior é o céu, habitado por Deus e pelos anjos. O andar intermediário é a habitação humana. E o andar inferior é o inferno, a base de operações do diabo e de seus assistentes demoníacos. O método de desmitologização pode ser usado conforme o fundamentalismo, de maneira literal. Ou rejeitando os elementos míticos do Novo Testamento. Ou finalmente pela reinterpretação. Esse último é o método utilizado por Bultmann11. Bultmann procurava entender o mito pelo seu significado existencial, em vez de literal. Entendendo que a pregação12 mítica embora pudesse ser entendida pelos seus locutores de forma literal, expressam um significado mais relevante do que esse. Ele entendia que o relato bíblico deveria ser distinguido entre dois tipos de história. Historie que se baseava na facticidade dos acontecimentos do espaço e do tempo. Ou seja, mera história. E Geschichte é o efeito ou impacto subjetivo que esses acontecimentos têm sobre os participantes ou observadores, esta é a história significante. Sendo assim, os evangelhos não são um registro dos ditos e atos de Jesus, mas uma série de expressões das experiências subjetivas dos discípulos. Para Bultmann a cruz e a ressurreição são acontecimentos escatológicos, não como ocorrências passadas, mas como acontecimentos incluídos na proclamação13. Portanto, ele afirmava que Jesus entendia o reino de Deus como futuro e esperava sua chegada acompanhada de julgamento e consumação escatológica no tempo próximo, ou seja, dentro do período de vida da geração presente. Diferente dos escatologistas realizados que afirmavam o cumprimento das referências escatológicas no tempo em que foram pronunciadas, Bultmann encontrava o significado delas no cumprimento que se dava na experiência presente do crente. Contrapondo a idéia de Bultmann quanto a Historie e Geschicht, Erickson (2010) usa a assertiva paulina14. Afirmando que não há como obter a Geschicht sem a historie. Teologia da Esperança – Jürgen Moltmann (1926 -) Erickson (2010) explica que Moltmann participou da Segunda Guerra Mundial e foi um dos jovens que ficou preso num campo de concentração inglês. Sendo liberto em 1948. Moltmann em comum com muitos de seus contemporâneos tinha a esperança de uma sociedade melhor, portanto, este passou a ser o foco de sua teologia (a esperança). Enquanto se refletia a respeito da imanência e da transcendência de Deus, Moltmann relacionava Deus com a história, como sendo aquele que está ligado ao futuro. Não mais Deus Além ou dentro de nós, mas Deus à frente de nós. Moltmann vê Cristo como a antecipação desse futuro (o futuro de Deus). E o evangelho como o veículo que traz significado universal ao evento Cristo, portanto, não apenas como intermediador do fato, mas o gerador de esperança. A igreja neste ponto é apresentada por Moltmann como militante, pois não espera de forma pacífica, mas é chamada para levar a efeito aquilo que há de vir, ou seja, a levar a efeito esse futuro. Por isso a esperança cristã é uma esperança criadora e militante. Desta forma o cristão não fica inerte, mas milita no sentido de trazer este futuro de Deus, o seu reino a existência. No entanto, este futuro15 não é o resultado de nossos esforços, mas enquanto a igreja se move em direção a este futuro, ele se move em direção à igreja. Notas: 2 A questão da escatologia é uma questão natural. Alguma doutrina das últimas coisas não é coisa peculiar à religião cristã. Onde quer que as pessoas tenham refletido seriamente sobre a vida humana, seja no indivíduo, seja na raça, não inquiriram apenas donde ela surgiu e como veio a ser o que é, mas também para onde está destinada. Elas levantaram a questão: Qual é o fim ou o destino final do indivíduo, e qual a meta rumo à qual a raça humana está se movendo? (BERKHOF, 2007, p. 611) 3 O éscathos qualifica os fenômenos dos últimos tempos como tais. [...], mas não é este o seu sentido autêntico. Na sua acepção precisa, escatológico não se refere aos fatos do fim dos tempos como tais, mas qualifica uma relação ou uma referência a esses fenômenos. [...] qualificam-se como escatológicas as representações das coisas últimas, não as próprias coisas últimas. Escatológicos se dizem os meios linguísticos, não os conteúdos que eles imediatamente qualificam. (LEINER, 1985, p. 13-14) 4 Embora diversos métodos de interpretação das Escrituras tenham sido propostos no decorrer da história da interpretação, existem hoje apenas dois métodos com influência vital na escatologia: o alegórico e o histórico-gramatical. O método literal é geralmente tido como sinônimo de método histórico- gramatical. (PENTECOST, 2006, p. 31-32) 5 Durante o exílio os judeus substituíram a língua nativa, o hebraico, pelo aramaico. Quando voltaram à sua terra, as Escrituras haviam-se tornado ininteligíveis para eles. Esdras teve de explicar ao povo as Escrituras, olvidadas e indecifráveis. Dificilmente poderíamos pôr em dúvida o fato de que a interpretação de Esdras do que estava escrito fosse literal. (PENTECOST, 2006, p. 44) 6 Segundo Schweitzer, a preparação para a entrada no reino é a transformação moral [...]. Em vez de espalhar-se gradualmente, o reino está chegando repentinamente e com ele, o julgamento [...]. Enquanto os liberais pensavam que a ética de Jesus era o meio de produzir o reino, Schweitzer, em oposição, acreditava que o reino era determinado e vindouro e que a ética era o meio de preparar-se para a entrada nele. (ERICKSON, 2010, p. 29) 7 ibid 8 Os ensinos de Jesus baseiam-se de uma descontinuidade entre as condições do presente e as do futuro [...]. A vinda de Jesus seria um acontecimento surpreendente, envolvendo distúrbios cósmicos. A chegada do reino seria um clímax absoluto – não uma passagem gradual – e transformaria radicalmente as circunstâncias e o caráter do homem. (ERICKSON, 2010, p. 30-31). 9 Surgiu a “escatologia realizada”, de Charles Dodd, que procurou convencer seus leitores de que a escatologia encontrada no Novo Testamento era mais que um acontecimento da expectativa profética do Antigo Testamento. O reino de Deus, prometido nas Escrituras, já chegou em Jesus [...]. As promessas sobre o fim foram cumpridas na época de Jesus para elucidação da visão que o Novo Testamento apresenta sobre o futuro. (SHEDD, 2006, p. 12) 10 “O futuro é agora” era um lema excelente para o ministério de Jesus, segundo o entendimento de Dodd [...]. A escatologia realizada é de certa forma uma reação a Schweitzer [...]. Considerava que Jesus falava, não daquilo que viria, mas daquilo que já viera. (ERICKSON, 2010, p. 39) 11 Ibid 12 [...] ainda que aquela pregação se refira a concepções que, hoje em dia, não são totalmente ininteligíveis, expressam, não obstante, a consciência da finitude do mundo e do fim iminente de todos nós, porque todos somos seres deste mundo finito. (BULTMANN, 2005, p. 21). 13 [...] Jesus proclama a vontade de Deus e a responsabilidade do homem, quando alude aosacontecimentos escatológicos; porém, não porque seja um escatologista, proclama a vontade de Deus. Pelo contrário, porque proclama a vontade de Deus é um escatologista. (BULTMANN, 2005, p. 22) 14 “E, se Cristo não foi ressuscitado, é vã a vossa fé, e ainda estais nos vossos pecados. Logo, também os que dormiram em Cristo estão perdidos. Se é só para esta vida que esperamos em Cristo, somos de todos os homens os mais dignos de lástima.” 1Co 15.17-19. 15 Se o futuro for idêntico aos sucessos de nossa atividade, será um futuro patético, pois nossas ações são tão ambíguas quanto nós mesmos, na medida em que somos seres históricos. Movemo-nos em direção ao futuro, e ele se move em direção a nós. O futuro tem valor acima, além do atingido e do atingível, e isso se deriva da ressurreição do Cristo crucificado e se relaciona com ela. (ERICKSON, 2010, p. 61) 2. Escatologia em Israel Período Intertestamentário RUSSEL (2008) informa que os escritos apocalípticos elencados no período intertestamentário, caracterizam-se como continuação e desenvolvimento das profecias veterotestamentárias, bem como uma antecipação do Novo Testamento. Portanto, estes escritos marcam a transição entre AT e NT, pois as crenças assimiladas neste período formarão a crença cristã, como a ideia do Messias e a vida após a morte. Essa influência é percebida nos escritos de João em Apocalipse, no capítulo treze de Marcos, bem como inúmeros apocalipses que não foram inclusos no cânon do NT. Sendo assim é perceptível a congruência entre os escritos apocalípticos judeus, as esperanças e as expectativas cristãs. Esperava-se a repentina intervenção divina para o estabelecimento do seu reino justo e de paz. A vinda do messias que traria as bênçãos do paraíso; o grande dia do julgamento; a nova era estava se aproximando e com esta o reino de Deus. Entre 165 a.C. a 90 d.C. a literatura judaica apocalíptica medrou, sendo preparada pelas profecias do AT. Esta cresceu num ambiente de opressão sob o reinado de Antíoco IV (Epifânio), sobretudo durante a revolta dos Macabeus. Neste período desenvolveu-se a ideia do segredo oculto que apenas alguns eleitos recebiam de maneira que lhes era dado à compreensão dos segredos dos céus. Vários escritos desta época referem-se às tábuas celestes, nestas eram registrados os segredos dos séculos, bem como previsão de eventos futuros. Nestes escritos sempre se constata a ruína dos ímpios e a vitória dos justos e o triunfo dos planos de Deus e sua vida com o seu povo eternamente. Em muitos destes se acreditava a permanência da tradição profética do Antigo Testamento. No entanto, muitos trabalhavam no sentido de reler e reinterpretar as profecias desses profetas16. Ideário Escatológico de Israel (AT) Leiner (1985) percebe que as concepções escatológicas estão presentes no desenvolvimento da literatura do Antigo Testamento, no entanto, um conceito predeterminado sobre escatologia não possibilita a apreensão do complexo material veterotestamentário oferecido. As expectativas escatológicas reveladas no AT caracterizam o conteúdo da revelação progressiva. Sendo assim não há uma construção escatológica completa e minuciosa, mas a esperança de salvação nasce de pequenos dados que vão sendo desenvolvidos até uma escatologia plenamente desenvolvida. No Antigo Testamento, boa parte da esperança de Israel para o futuro está ligada à sorte nacional e política da nação. Israel esperava a restauração da liberdade do domínio estrangeiro e a recuperação da terra e da prosperidade perdidas na guerra com a Assíria e com a Babilônia. Alguns profetas e pessoas do povo esperavam uma purificação moral e religiosa e um futuro com felicidade, glória e perfeição. Entre 760 e 700 a.C., os profetas Amós, Oséias, Isaías e Miquéias anunciaram o castigo de Deus para Israel e Judá. Eles também entenderam que Deus estava comprometido com seu povo e não o abandonaria. (SMITH, 2001, p. 386-387) Smith (2001) argumenta que havia uma expectativa por parte dos profetas de que algo iria acontecer de imediato causando um rompimento com o passado. A partir do exílio muitas referências apontam para a vinda de Deus no futuro17. Israel tinha consciência de que o presente mundo estava chegando ao seu desfecho final. Kaiser (2007) acrescenta a declaração de que Israel era filho de Javé, bem como uma nação santa, foi assim encontrada na promessa de uma descendência davídica que reinaria eternamente. Leiner (1985) afirma que a expectativa de salvação é algo inteiramente ligado a história de Israel18. Esse vínculo Salvação- Evolução histórica é o grande diferencial entre a escatologia bíblica das expectativas além Israel. A exemplo das profecias egípcias que enxergavam a história num processo cíclico, de salvação e desventura, enquanto a expectativa bíblica aponta para uma evolução que aponta para o futuro salvífico. Smith (2001) observa: Descrições de terremotos, secas e trevas, remanescentes do caos original, eram muitas vezes usadas para ilustrar a destruição futura do mundo (Is 24.4-6, 19-20, 23; 33.8, 9; 54.10; Jr 4.23-26; Os 8.7; 10.8). O dia do Senhor é identificado a um dia de escuridão e não de luz (Jl 1.10-20; 2.10-11, 30-31; 3.14-15; Am 5.18; 8.9- 10). O julgamento vindouro abrange não apenas a terra, mas o céu (Is 24.21, 23; 34.4; 65.17; 66.22). Leiner (1985) enfatiza que os escritos do AT anunciam uma mudança no curso da história, bem como uma situação nova do estado em que se vive atualmente. Sendo assim, se espera uma ação divina completamente diferente de tudo que é conhecido hoje, uma intervenção inesperada, que revela um hiato entre a situação presente e o futuro. Kaiser (2007) diz que misturadas às declarações de juízo e condenação, havia a perspectiva do reino eterno de Deus. Desta forma as predições proféticas eram não apenas predições desconexas e espalhadas a esmo, mas exortações a Israel quanto a viver uma vida santa naquele período, entendendo que o futuro pertencia a Deus e a seu Reino justo. Smith (2001) observa que o dia do Senhor19 é caracterizado por desastres ambientais, como terremotos, secas e escuridão, e que a nova era será um período de renovação, transformação e purificação do mundo, paz entre pessoas e animais (Is 11.6-9; 65.25; Jl 2.18- 19, 24; 3.18; Am 9.13-14; Zc 8.4-5, 12). Smith (2001) propõe que a esperança de Israel no AT não incluía nada que não pudesse ser levado a cabo neste mundo. Os conceitos de era presente e o porvir se desenvolvem no período intertestamentário. A expressão “nesta era ou na era que há de vir” é Neotestamentária. É válido notar que a expressão “reino de Deus” não aparece no AT. Contudo, o reinado de Deus é expresso em nove textos (1Cr 29.11; Sl 22.28; 103.19; 145.11- 13; Dn 4.3, 32; Ob 21). O Senhor é chamado de rei 41 vezes no AT. A ideia do reinado de Deus estava vinculada ao reino de Davi. A perspectiva de que o Messias, o ungido ideal viria para exercer as funções de um rei constituía o foco israelita. Deus escolherá o portador da promessa dinástica de senhorio eterno sobre Sião 20. O autor acrescenta que a missão de Emanuel é descrita pelo profeta Isaías capítulos 9 e 11. E este, cujo reino seria marcado por sabedoria e luz. Reinando com justiça e retidão. Paz universal e conhecimento de Deus imperariam. O Messias é retratado como um renovo que brota do tronco de Jessé. O Espírito do Senhor repousará sobre ele. Ele terá o espírito de sabedoria e de entendimento, de conselho e de poder, de conhecimento e de temor do Senhor. Suas decisões serão corretas e justas. Ele trará a paz à criação em sua totalidade (Is 11.6-9) 21. Daniel Champlin (2001) afirma que o nome Daniel significa “Deus é o meu juiz”. Este é o nome do profeta judeu que viveu no período babilônico. Este livro aparece na secção chamada de Ketubim. O NT incorpora vários aspectos deste livro em suas predições apocalípticas. Ellisen (2007) declara que nos seis capítulos iniciais de Daniel são registrados acontecimentos de sabedoria ou poder sobrenaturais (1.17-20; 2.28; 3.25-27;4.33,34; 5.5; 6.22). Nas quatro visões dos capítulos 7–12, ele descreve acontecimentos sobrenaturais do trono de Deus (7.9ss), Gabriel revelando visões do futuro (8.16; 9.21), Miguel de sentinela defendendo Israel (10.21; 12.1), poderes espirituais desafiando nações pagãs (10.13, 20) e uma descrição metafórica do próprio Senhor (cap.10). A soberania de Deus sobre todos os poderes e domínios. Champlin (2001) informa que o livro foi escrito em hebraico, porém muitos trechos em aramaico. O capítulo 10 merece maior atenção devido seu relato de uma personagem diferenciada, os estudiosos cristãos a aludem ao Messias. Para Ellisen (2007) o livro de Daniel em diversos momentos é tido como literatura “apocalíptica”. Os elementos apocalípticos de Daniel não são uma imagem vaga, mas são explicados em termos do mundo real; tampouco são meros decretos de determinismo, mas lembretes do programa divino profetizado para inspirar o povo de Deus a boas obras, bem como a ter confiança esperançosa. É um livro “apocalíptico” por ser uma “revelação” de Deus 22. Champlin (2001) observa: Os críticos partem do pressuposto de que, no livro de Daniel, há reflexos de uma teologia posterior, incluindo o conceito dos anjos e a doutrina da ressurreição, ideias que não teriam atingido a forma apresentada no livro de Daniel senão já na época dos Macabeus. As ideias de Zoroastro aparentemente influenciaram a angelologia dos hebreus. Ellisen (2007) diz que a linguagem empregada no livro floresceu de 200 a.C até 110 d.C., dando destaque a visões de imagens simbólicas de seres humanos e espirituais, com significado vago. Nela eram também importantes as expectativas de catástrofes cósmicas iminentes, em que as forças do bem venceriam as do mal e proporcionariam o estabelecimento do governo universal messiânico. Os profetas Isaías, Ezequiel, Daniel e Zacarias certamente descrevem acontecimentos sobrenaturais de caráter cósmico que resultam na era messiânica. Daniel diz muito sobre o anticristo que aparece muitas vezes no livro, representada por símbolos, que vão de um “pequeno chifre”, até o título específico de “rei” e “desolador”, nas últimas visões23. As Setenta Semanas (9.24-27) Para Champlin (2001) o propósito do capítulo nove é elaborar a predição dos capítulos 7 e 8 a respeito do iminente fim. São declarações simples e sem simbolismos, embora os dias das semanas representem os anos. Ellissen (2007) declara que o futuro de Jerusalém e da nação de Israel foi esboçado para Daniel, enquanto ele ficava entendendo que os setenta anos de cativeiro, profetizado por Jeremias (Jr 29.10), quase tinham chegado ao fim. Aquele futuro consistia em setenta períodos de sete, ou semanas (Dn 9.20-27), dispostos em três grupos: (1) um grupo de sete semanas; (2) outro grupo de sessenta e duas semanas; e (3) um grupo final de uma semana. Champlin (2001) ressalta “Este capítulo divide-se naturalmente em três seções: vss 1-3, prólogo; vss 4-19, oração introdutória escrita em um hebraico melhor do que o resto do livro, e comparável a orações como as encontradas em Baruque 1-9 e Baruque 1-3 vss. 20-27, a visão propriamente dita”. Ellisen (2007) informa que além do cronograma gentio, Daniel também recebeu um cronograma judaico de acontecimentos proféticos sobre Israel. Essas profecias são mais exatas quanto aos anos e dias e localizam os acontecimentos principais da restauração de Israel. No final, a transgressão de Jerusalém terá fim, a iniquidade será expiada a “justiça eterna” será trazida e as profecias terão o seu cumprimento (9.24). O cronograma das “setenta semanas” 24. O termo shabu’a (gr. hepta), significa um período de sete, seja de dias, anos conforme o contexto (Gn 29.28,29). Em Daniel 9, o profeta acabara de estudar a profecia de Jeremias dos 70 anos de cativeiro de Israel, castigo resultante da falha em guardar os anos sabáticos durante 490 anos (2Cr 36.21). Esse período adicional de 490 anos de provação sob o domínio dos gentios enquadra-se simetricamente com o período similar anterior. Champlin (2001) diz que “o primeiro setenta corresponde à duração do cativeiro babilônico. O segundo é calculado como anos, ou seja, 70 x 7 = 490 anos. Este cálculo seria a maneira de entender que os setenta anos profetizados por Jeremias são as setenta semanas de anos, segue-se a estes o reinado messiânico”. Embora muitos decretos tivessem sido promulgados pelos reis persas para permitir que Israel voltasse para a Palestina, somente um deles visou à reconstrução de Jerusalém (Ne 2.1-8). Os outros decretos de 538, 520 e 457 foram para a reconstrução do templo e restauração do culto (Ed 1.1,2; 6.3; 7.11-28). O decreto para reconstruir o muro da cidade foi dado por Artaxerxes. Essa data, registrada com cuidado, estabelece firmemente um ponto em que a contagem decrescente das “setenta semanas” 25. Notas: 16 Ibid. 17 A escatologia multifacetada do Antigo Testamento pode ser comparada a uma corda com muitos fios. Cada fio da corda “escatológica” representa um importante elemento de esperança. (SMITH, 2001, p. 381). 18 É a escatologia que determina o curso da história, o leva à consumação e lhe confere sentido. (LEINER, 1985, p. 142). 19 Deus nunca permitiu que houvesse segurança no presente. Israel jamais encontrou o seu “descanso”. Nenhum momento presente foi alguma vez a consumação objetiva. Todo presente leva o carimbo que diz “ainda não”. A existência de Israel foi sempre uma tentativa e uma preliminar do que ainda estava por vir. (SMITH, 2001, p. 382). 20 Ibid 21 [...] Abraão marca o início da realização de um empreendimento salvífico que Deus mesmo levará a cabo. [...] Deus conduz a história de seu povo segundo o plano que traçou para atingir um final escatológico. (LEINER, 1985, p. 144-145) 22 Ibid 23 Daniel 7.8-11 é apresentado como um “pequeno chifre” (poder) cujas palavras são julgadas pelo “ancião de dias” e queimado pelo fogo. Daniel 8.9-25 é visto novamente como um “pequeno chifre” que se opõe até ao “Príncipe dos príncipes”, e é “destruído, mas não pelo poder dos homens” no último tempo da ira de Israel (v.19). Daniel 11.36-45 é visto agora como “o rei” (no “tempo do fim”) que se exalta acima de todos os deuses, tem uma vitória decisiva, na “terra magnífica” e arma “suas tendas reais” no “belo e santo monte” de Jerusalém (v. 45). Daniel 12.1,11 seu tempo para profanar o santuário e o “poder do povo santo” está designado como 1.260 dias ou três anos e meio (12.1,11; cp. Apocalipse 11.2; 13.5). (ELLISEN, 2007, p. 309) 24 a. Sete “setes” (49 anos) – Reconstrução de Jerusalém em tempos difíceis. b. Setenta e dois “setes” (434 anos) – após esse tempo, o Messias é “cortado” (retirado de cena), e JerusalémBasil, destruída. c. Um “sete” (7 anos) – época final do pacto entre “príncipe” romano e Israel. d. Meio “sete” (3 anos e meio) – período de abominação, desolação e Jerusalém. (ELLISEN, 2007, p. 311). 25 Total de dias 69 X 7 = 483 anos ou 173.880 dias (ano bíblico = 360 dias, conforme Gn 7.11, 24; 8.4; Ap 11.3; 12.6; 13.5). Período de tempo: 1 de Nisã de 444 a.C. (5 de março) + 173.880 dias = 30 de março de 33 d.C. (Confira: 444 a.C. + 33 d.C. [sem ano 0] = 476 anos. 3. Escatologia no Novo Testamento De acordo com LADD (2008) os hebreus aguardavam a manifestação da realeza de Javé. De sorte que a noção a respeito do reino de Deus já era participada durante o Antigo Testamento, fundamentada na existência do Deus vivo e eterno. Este, portanto, é o tema central da pregação de Jesus Cristo, bem como o que os homens deveriam fazer para entrar no Reino de Deus. Conforme Coenen (2000): Basiléia tou theou é um conceito dinâmico no ensino de Cristo, denota o exercício da soberania de Deus na Sua atividade como Redentor e Juiz da humanidade, no cumprimento das promessas messiânicas no AT. [...] denota, primariamente, o exercício da soberania divina, a realização do poder real. Ladd (2008) observa que a palavra de Deus revela que o reino é uma realidade espiritual presente (Rm 14.17/Cl 1.13/Mt12.28; 21.31/Mc 10.15). O reino, ao mesmo tempo, é a herança que Deus dará ao seu povo na vinda gloriosa de Cristo (Mt 25.34/Lc 12.32). No entanto, este reino é uma realidade futura que os servos do Senhor entrarão no porvir (2Pe 1.11/Mt 8.11/1Co 15.50). As palavras que definem reino tanto no AT em hebraico (Malkuth da raiz – KLM 2Cr 11.17; 12.1; Ed 4.5; 8.1/Dn 2.37; 5.26, 31; 8.23/Jr 49.34/Ne 12.22/Sl 103.19; 145.11,13), como no NT em grego ( - Basileia – Mt 6.33; 7.21; 10.15; 21.31/Mc 9.47; 10.23; 14.25/Lc 11.52; 16.16; 19.11,12/) têm um significado comum, representam posição, autoridade e soberania. Coenen (2000) informa: [...] Basiléia [...] em Mateus ocorre 52 vezes, 16 em Marcos, 43 em Lucas, 5 no evangelho de João e 2 no Apocalipse. Na literatura paulina há 19 ocorrências (incluindo cinco em discursos de Paulo em Atos), sendo 7 as vezes em que aparece nos demais escritos do Novo Testamento. Somente Mateus tem as formas “reino dos céus” e “reino do pai”; Paulo tem “reino de Cristo e de Deus”. [...] No total, há 144 ocorrências de Basiléia no NT com referência ao reino de Deus, e 13 relativas aos reinos do mundo, ao de Satanás e ao da Besta. De acordo com o Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento Malkuth27 significa poder soberano. A chave linguística do Novo Testamento e o Novo Testamento Interlinear identificam que em Mt 4.17 a palavra reino vem da palavra Esta palavra é definida pelo Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento como realeza, soberania. Souza (2004) observa: O reino de Deus é o domínio soberano e universal de Deus e é eterno. É também o domínio de Deus no coração dos homens que voluntariamente, a ele se submetem pela fé, aceitando-o como Senhor e Rei. É assim, o reino invisível nos corações regenerados que opera no mundo e se manifesta pelo testemunho dos seus súditos. A consumação do reino ocorrerá com a volta de Cristo, em data que só Deus conhece, quando o mal será completamente vencido e surgirão o novo céu e a nova terra para a eterna habitação dos remidos de Deus. Segundo Shedd (2006) Jesus foi questionado a respeito da restauração do reino de Israel, ao que Jesus respondeu reforçando seu ensino a respeito da missão de evangelização do mundo, demonstrando que seu reino não viria até que todas as pessoas ouvissem a respeito do Evangelho. Neste aspecto os seus súditos de todos os cantões da terra devem vir, e estes viverão em lealdade ao rei celestial. Ladd (2008) Fomenta a ideia de uma sobreposição de duas eras, para tanto chama atenção para as duas palavras empregadas no Novo Testamento, que são traduzidas por mundo. Kosmos e Aion. A primeira refere-se ao mundo físico, estruturado no qual os homens vivem, a segunda palavra (Aion) refere-se a um período, está mais vinculada a ideia de tempo. Portanto, o Reino de Deus que terá a sua concretização plena na era porvir (Aion), no futuro, invadiu o presente. Sendo assim, muitas bênçãos inerentes ao reino podem ser desfrutadas aqui, na presente era (Aion). Escatologia nos Evangelhos Conforme Feiner (1985) o NT está repleto de textos escatológicos, bem como apocalípticos. É notória a influência da tradição do AT, porém não se propõe uma recomposição da tradição, e sim de uma interpretação da esperança veterotestamentária como algo que já está em realização28. O autor ainda apresenta às dificuldades de se entender as perspectivas neotestamentárias, por se focarem num mundo que está para além do nosso, tendo em vista que se trata de algo invisível, e este por sua vez é sempiterno. Shedd (2006) afirma que os discípulos semelhantes aos cristãos atuais questionavam a respeito do fim dos tempos. Jesus em suas palavras aclarou alguns acontecimentos que sinalizarão o tempo do fim30. O autor acrescenta: Jesus falou de nações lutando contra nações, de reinos levantando-se contra reinos, de fome e terremotos em vários lugares, juntamente com crises internacionais. Jesus acrescenta que a perseguição caracterizará a época do princípio das dores (Mt 24.8-13). Jesus prediz tribulação [...], martírio, rejeição pelas nações, o desvio da fé e o esfriamento do amor de muitos cristãos escandalizados Feiner (1985) observa que um tema central do NT em termos escatológicos é a realeza de Deus. Este tema foi tratado pelos evangelistas, estes diferentemente dos escritores do AT não temiam usar o nome de Deus. A utilização do termo Basiléia expressa uma realidade espacial e temporal, trata-se da soberania de Deus que é encontrada em seu chamado e onde se responde a Ele com fé e amor. Durante muito tempo Israel esperava a realeza de Deus, principalmente por já estarem vivendo um longo tempo debaixo do jugo de outras nações, e por sua vez subjugados pelos seus ídolos. Portanto, ao aparecerem João Batista e em seguida Jesus apresentando a vinda iminente do Reino de Deus, esta mensagem foi recebida com ardor. Ladd (2003) analisa que ao estudar os sinópticos a escatologia é uma das questões mais difíceis pelo fato de se levantarem diversos questionamentos a este respeito, e, no entanto, as conclusões serem poucas. O autor nota que Jesus pouco declara o destino daqueles que não terão parte no reino futuro de Deus. Mas é perceptível a distinção entre as palavras Hades (estado intermediário) e Geena (lugar de punição final). Coenen (2000) observa que a etimologia da palavra hades ( ) é incerta, esta ocorre mais de 100 vezes na septuaginta, na maioria das vezes para traduzir a palavra seol. O mundo subterrâneo que recebe todos os mortos. É a terra de trevas, onde não há lembrança de Deus. Sobretudo a idéia que há nesta palavra é a de separação total com Deus. Do outro lado, seol está não apenas nas fronteiras da vida, mas se manifesta entre os viventes por meio de doenças, fraqueza, prisão, opressão dos inimigos e morte. Portanto, morrer está para além do processo biofísico, significa também, estar fora do relacionamento com Deus. O judaísmo rabínico sob a influência persa e helênica dá início ao conceito da imortalidade da alma, e, por conseguinte o conceito do hades é alterado. Posteriormente, surge a declaração de que os justos depois da morte entram na bem-aventurança celestial, enquanto as almas dos ímpios são punidas no hades. Sendo assim hades passa a ser não mais o destino de todas as almas, mas o lugar de castigo para as almas dos ímpios, mas não o destino final e sim uma antecipação do sofrimento do fim. Ladd (2003) ressalta que neste período os homens passam a existir como sombras, não são almas extintas, mas são vidas com pouca essência. O seol é conhecido como um lugar mais profundo, as regiões mais baixas da terra. O seol não é tanto um lugar, mas o estado dos mortos, este é o modo do AT asseverar que a morte não é o fim da existência. O autor identifica a palavra Geena como o lugar da punição final, esta palavra deriva do hebraico “gê hinnom”, um vale localizado ao sul de Jerusalém onde eram realizados sacrifícios a Moloque nos dias de Acaz e Manassés (2Reis 16.3; 21.6). Este vale recebeu severas ameaças de julgamento, por este motivo o vale de Hinom é igualado ao inferno nos escritos apocalípticos. Geena é um lugar de tormento e sofrimento, de fogo e trevas (Mt 7.23; 10.28; 13.42, 50; 22.13; 25.30,41/Mc 9.43, 48). Bruce (2003) fala sobre a repentina vinda do Senhor relatada em Lucas 17.22-37, semelhante aos acontecimentos que incidiram na época de Noé, bem como aos fatos ocorridos em Sodoma. No entanto, Marcos 13.5-32 chama atenção por verificar que precedente a este é necessário a proclamação do Evangelho por todo o mundo e um período de grande tribulação, seguido por Marcos 13.33-37 onde se observa uma advertência a vigilância por este dia ser incerto quanto a data. Ladd (2003) diz que os discursos de Jesus a respeito da apocalíptica, mais especificamente, estão registrados nos sinópticos em Lucas 17. 22-37; 21 / Mateus 24 / Marcos 13. Em resposta à pergunta dos fariseus e dos discípulos a respeito de quais os sinais e quando aconteceria o fim dos tempos. Alguns interpretam aspalavras de Cristo utilizando o evangelho de Lucas para interpretar Mateus e Marcos sobre a destruição do templo como um acontecimento histórico ocorrido entre 67-70 d.C. com Tito. Porém, é mais provável que Jesus estivesse respondendo a uma pergunta dupla: “Tendo Jesus saído do templo, ia-se retirando, quando se aproximaram dele os seus discípulos para lhe mostrar as construções do templo. Ele, porém, lhes disse: Não vedes tudo isto? Em verdade vos digo que não ficará aqui pedra sobre pedra que não seja derribada. No Monte das Oliveiras, achava-se Jesus assentado, quando se aproximaram dele os seus discípulos, em particular, lhe pediram: Dize-nos quando sucederão estas coisas e que sinal haverá da tua vinda e da consumação do século.” Mateus 24:1-3 Segue-se, então que Jesus ao declarar estas coisas se referia tanto a um acontecimento histórico, quanto a uma predição escatológica. Tendo em vista que a parousia29 aconteceria em consequência dessas coisas. Conforme Feiner (1985) a figura do Filho do Homem se sobressai, seguida de seus anjos (Mc 13.26). Em reunião com os seus eleitos de todas as partes do mundo, dos fins do orbe aos extremos do céu (Mc 13.27). Em Marcos 13.27, os eleitos são ajuntados no monte mais elevado da terra e depois arrebatados até os céus, onde o Filho do Homem está assentado à destra de Deus. O fim se efetua com o arrebatamento dos eleitos ao céu. Deus, Jesus Cristo e os eleitos viverão juntos para sempre. Ladd (2003) chama atenção para a ênfase empregada por João para o dualismo vertical ou invés de enfatizar o escatológico. Portanto, não faz sentido rejeitar o sentido escatológico empregado por João apesar de a palavra reino aparecer apenas duas vezes em seus escritos (Jo 3.3,5). Esses versículos se caracterizam um equivalente à expressão dos sinópticos. Feiner (1985) conclui: Todo o NT reflete a convicção de que Deus desempenha a função de juiz. À boa notícia se segue o anúncio de um juízo, iminente e ameaçador. [...] João Batista anuncia o juízo iminente (Mt 3.7-10 = Lc 3.7s) [...] Ditos e discursos de Jesus propõem, com notável rigor, o tema do juízo de Deus: Ou com recompensa ou com castigo. [...] aquele que volta será também o juiz do grande juízo. Com esse juízo Jesus ameaça as cidades de Israel. Shedd (2006) declara que os evangelhos não aclaram ordinariamente os eventos que ocorrerão no f im dos tempos, no entanto, sugere as advertências de Cristo a respeito das coisas que caracterizam o final. Mateus 24.3-41 – Charles C. Ryrie 24.3 – “Neste discurso Jesus respondeu a duas das três perguntas feitas pelos discípulos. Não diz quando sucederão estas coisas; mas sim que sinal haverá da sua vinda nos versículos 29-31 e fala dos sinais do fim dos tempos nos versículos 4-28. Os versículos 4-14 relacionam características da primeira metade da tribulação, ao passo que os versículos 15-28 tratam da segunda metade”. 24.15 – “abominável da desolação. Este é o “homem da iniquidade” (2Ts 2.3), o anticristo, que na metade da tribulação romperá a aliança feita com o povo judeu no início da tribulação (Dn 9.27) e exigirá que eles (e o mundo todo) o adorem. Os que resistirem serão perseguidos, e muitos serão martirizados; daí a urgência das instruções nos versículos 16-22”. 24.22 – “Ninguém seria salvo. Lit., nenhuma carne se salvaria. Os escolhidos. Os remidos durante o período da tribulação. Os eleitos desta era (a igreja) terão sido arrebatados antes do início desse período (1Ts 4.13-18)”. 24.25 – “Encontramos aqui uma advertência e também uma predição”. 24.29 – “O sol se escurecerá. Estes fenômenos cósmicos que acompanharão a volta do Filho do Homem são preditos em Isaías 13.9-10 e Joel 2.31; 3.15”. 24.30 – “O sinal. Alguns comentaristas acreditam que é o relâmpago do versículo 24; outros, que é a Shekinah, ou a glória de Cristo; outros, ainda, preferem não especificar. [...] O próprio Filho do Homem virá visivelmente (Ap 1.7)”. 24.34 – “Nenhuma pessoa do tempo em que Jesus proferiu estas palavras viveu para ver tudo isto acontecer. No entanto, a palavra grega usada pode significar raça ou família, um sentido apropriado neste caso; [...] a raça judaica será preservada até a volta do Senhor”. 24.37-39 – “Foram tempos de libertinagem e despreparo, como serão os dias antes da segunda vinda. O dilúvio exterminou os perversos [...]. Cristo fará o mesmo”. 24.40-41 – “Aquele que for tomado será levado para julgamento e morte. Aquele que for deixado permanecerá para receber as bênçãos do reino milenar”. Marcos 13.9-32 – Charles C. Ryrie 13.9 – “Sinagogas. Eram usadas como local de reunião e como tribunal. Às vezes os açoitamentos eram realizados ali (2Co 11.24). Estas predições começaram a cumprir-se no livro de Atos (veja At 4.5ss; 5.27; 12.1ss; 24.1ss; 25.1ss). 13.11 – “Vos denunciarem às autoridades”. 13.20 – “O remanescente eleito (salvo) de Israel durante os dias da tribulação. Na segunda vinda de Cristo, estas pessoas serão restauradas à Palestina (v. 27)”. 13.27 – “Aqueles que vierem a crer durante o período de sete anos correspondentes à tribulação. Os escolhidos da Igreja terão sido levados para o céu antes do início da tribulação (1Ts 1.10; 5.9-11; Ap 6.17). O termo escolhido(s) é usado para várias pessoas ou grupos: Cristo (Is 42.1; 1Pe 2.6), Israel (Is 45.4), os santos do milênio (Is 65.22), os santos da tribulação [...], os santos da Igreja (Cl 3.12) e os anjos (1 Tm 5.21). 13.28 – “figueira. Aqui, não representa Israel [...], mas todos os sinais da segunda vinda de Cristo, descritos nos versículos 14-23”. 13.29 – “O texto não diz o que está próximo. O sujeito da frase pode ser a crise do fim dos tempos ou o próprio Cristo”. 13.32 – “Nem o Filho. Em sua humanidade, Jesus não sabia. Para a limitação própria de Cristo”. Lucas 21.7-41 – Charles C. Ryrie 21.7 – “A resposta de Cristo vislumbra dois acontecimentos distintos – a destruição de Jerusalém no ano 70 e os dias da tribulação pouco antes de sua segunda vinda. Os versículos 8-19 e 25-28 se referem particularmente ao período futuro, enquanto os versículos 20-24 tratam do passado”. 21.19 – “Aqueles que suportarem a perseguição demonstrarão a autenticidade da sua salvação (o que pode incluir a ideia de sobreviver até o final do período de tribulação, conforme Mt 24.13)”. 21.24 – “O período do domínio gentio sobre Jerusalém, provavelmente iniciado com Nabucodonosor (587 a.C.), que certamente estava em vigor em 70 d.C. e que continuará até os dias da tribulação”. 21.34-36 – “A segunda vinda de Cristo, que será inesperada e universal; convém, portanto, vigiar”. Atos SHEDD (2006) afirma que em Atos 1.16 os discípulos indagam a respeito do final dos tempos, concernente estabelecimento do reino relacionado a Israel. Jesus contrapõe o conceito dos discípulos com a urgência da proclamação do Evangelho até os confins da terra. Em Atos 3.20-21, a pregação de Pedro enfoca o arrependimento e o recebimento do Evangelho como termos necessários para o estabelecimento da esperança a respeito da vinda do Reino de Deus. LADD (2003) trata a respeito do Kerigma escatológico, afirmando que este sempre termina com um chamamento ao arrependimento, com a promessa da salvação, e esta implica na vida no porvir. Epistolas Paulinas Afirma Ladd (2003) que o pensamento paulino é estruturado no dualismo entre a era presente e a era vindoura. No entanto, os eventos da consumação escatológica começaram a ser revelados na história. A morte, a ressurreição de Cristo e a doação do Espírito Santo caracterizam-se eventos escatológicos. Mediante esses acontecimentos o cristão vive no presente a vida da nova era (2Co 5.17 Rm 6.3-4 Ef 2.6). Porém, os poderes que os cristãos experimentam da vida futura, não podem ser desfrutados plenamente, apesar de serem reais são experimentadas parcialmente, isso alude à tensão escatológica vivida pela igreja. Um tema característico do apóstolo Paulo é a justificação, e esta doutrina é escatológica. Neste aspecto a justificação é forense, em que Deus o justo juiz irádeclarar a inocência ou a culpa dos seres humanos. No entanto, para Paulo essa justificação já aconteceu (Rm 5.1, 9; 8.1 / 1Co 6.11) para os servos do Senhor, estes já foram justificados e livres da culpa, por meio da morte de Cristo Jesus e pode ser recebida pela fé no presente, o autor acrescenta: Em Cristo, o futuro tornou-se presente; o julgamento escatológico aconteceu, com efeito, na história. Como, conforme os sinópticos, o Reino escatológico de Deus está presente na História, e, de acordo com João, a vida eterna escatológica está presente em Cristo, assim como, conforme Atos (e também no ministério de Paulo), a ressurreição escatológica já começou na ressurreição de Jesus, [...] o juízo escatológico, em princípio, já ocorreu em Cristo, e Deus absolveu seu povo. Campos (2008) ressalta que os mortos estão aguardando a ressurreição. Os salvos aguardam a primeira ressurreição para a vida, e esta ocorrerá no arrebatamento e os ímpios aguardam a segunda ressurreição para a morte, esta ocorrerá no juízo final. Para Ladd (2003) em Paulo este tema é visto como o despir do corpo, isto representa estar mais próximo a Deus. Paulo tinha uma idéia bastante hebraica com relação ao sono dos mortos, contrapondo a ideia grega do voo da alma, saindo da prisão (corpo) para alcançar a genuína liberdade no mundo celestial. Em 1Tessalonicenses 4.13; 1Coríntios 15.16 Paulo trata a morte como sono, esta expressão era comum nas literaturas gregas e hebraicas. Bruce (2003) argumenta que Paulo não pôde permanecer em Tessalônica, o período que seguiu a sua partida alguns dos cristãos morreram, ao que o autor sugere que os tessalonicenses não estavam preparados, portanto, procuraram esclarecimento quanto o que ocorreria com os que morreram antes da vinda do Senhor e por quanto tempo deveriam aguardar a parousia? Diante disso Paulo os tranquilizou: Não quero, porém, irmãos, que sejais ignorantes acerca dos que já dormem, para que não vos entristeçais como os demais, que não têm esperança. Porque, se cremos que Jesus morreu e ressuscitou, assim também aos que em Jesus dormem, Deus os tornará a trazer com ele. Dizemo-vos, pois, isto, pela palavra do Senhor: que nós, os que ficarmos vivos para a vinda do Senhor, não precederemos os que dormem. Porque o mesmo Senhor descerá do céu com alarido, e com voz de arcanjo, e com a trombeta de Deus; e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro. Depois nós, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, a encontrar o Senhor nos ares, e assim estaremos sempre com o Senhor. Portanto, consolai-vos uns aos outros com estas palavras. 1 Tessalonicenses 4:13-18 Langston (2007) observa “A segunda vinda de Jesus é a consequência natural da sua primeira vinda, e também consequência da natureza do cristianismo”. Com relação ao retorno de Cristo, Ladd (2003) diz que Paulo fez uso de três palavras. Parousia que pode significar presença (Fp 2.12) ou vinda (1Co 16.17/ 2Co 7.7), termo usado para designar a visita de pessoas proeminentes, especialmente reis e imperadores. A vinda de Cristo é também um apokalypsis, ato de desvelar ou descobrir algo. Neste aspecto sua vinda será a revelação, para o mundo, da sua glória e do poder que lhe pertencem (2Ts 1.7 / 1Co 1.7). O último termo usado por Paulo é epiphaneia, ou aparição, seu retorno será visível. A vinda de cristo não acontecerá secretamente, pelo contrário será a entrada da glória de Deus na história (Tt 2.13). Conforme Shedd (2006), o arrebatamento ocorrerá como evento posterior à ressurreição dos crentes, no entanto, o encontro com o Senhor nos ares acontecerá simultaneamente. Neste aspecto esse encontro se realizará para acompanhar o Senhor na sua descida dos ares para a terra. Para Ladd (2003), esta ressurreição ocorrerá em tempo real a vinda de Cristo (1Ts 4.16 / 1Co 15.52), a transformação realizada nos que serão ressuscitados, também ocorrerá nos que estiverem vivos em Cristo (1Ts 4.15 / 1Co 15.51). O autor aclara: Esses corpos terão as mesmas características daquele que Jesus tem depois da sua ressurreição (Fp 3.21), sendo capazes de existir no ambiente celestial, irradiados de glória e totalmente submissos ao controle do Espirito Santo (1Co 15.44, 48-49). [...] Jesus parece distinguir entre duas ressurreições, a dos justos e a dos injustos. Ele disse especificamente que haverá uma ressurreição para “fora dos mortos” (Lc 20.35), isto é, dos salvos dentre os perdidos. Ladd (2003) observa que Paulo mais do que qualquer outro autor neotestamentário escreve a respeito da ressurreição, por acreditar que a salvação, é a salvação do homem todo, por conseguinte, o é também do corpo (Rm 8.11, 18, 23 / Fp 3.21). O corpo ressuscitado sob a ótica paulina transcende qualquer experiência vivida na história. Paulo não pormenoriza como será o corpo da ressurreição (glorificado), mas trata a respeito de aspectos que diferem o corpo glorificado do corpo físico. O físico é corruptível, frágil e traz desonra. O Corpo glorificado é incorruptível, glorioso e poderoso. São definidos em termos simples o corpo natural (psychikon soma) e o corpo espiritual (pneumatikon soma - Rm 8.11, 23 / 1Co 6.14, 15 / 2Co 4.14; 5.4- 5 / Ef 1.14 / Fp 3.21 / 1Ts 4.16). Shedd (2006) acrescenta: O apostolo Paulo informa que a ocasião da ressurreição será marcada (provavelmente precedida) pelo restabelecimento de Israel como povo de Deus pela conversão geral da nação. Evidentemente a reconciliação e conversão dos judeus que se esperava no início da época cristã (At 1.8; Rm 1.16) ocorrerá no fim. Ladd (2003) ressalta que Romanos 2 é o texto que Paulo se detém para falar com maior ênfase a respeito do juízo. Neste aspecto Paulo declara que os homens serão julgados segundo as suas obras. Os justos para a vida eterna e os ímpios para ira e o desprezo. Então acontecerá a consumação onde toda a criação será reconciliada com Deus, consumação do triunfo sobre os poderes malignos conquistados na morte de Cristo, haverá a restauração da paz entre cosmos e Deus (Ef 1.10 / Fp 2.10— 11 / Cl 1.16-20; 2.14-15). Para Shedd (2006) o juízo “demonstrará a qualidade da obra de cada servo, bom ou mau, realizou nesta vida. Ela será revelada pelo fogo do juízo. Então se constatará o direito de receber um galardão ou ser salvo apenas como pelo fogo (1Co 3.13-15).” Outro evento escatológico abordado por Ladd (2003) tem a ver com a salvação de Israel, pois Paulo em Romanos 9–11 aclara que a rejeição de Cristo por parte de Israel faz parte do propósito soberano de Deus para que a salvação alcançasse os gentios. Portanto, fica a ideia de que provavelmente Israel receberá a salvação mediante a fé no Cristo dos evangelhos. 1 Tessalonicenses 4.13 – 17 / 5.2-9 – Charles C. Ryrie 4.13 – “É o corpo (e não a alma) do cristão que morre (dorme) durante o período entre a morte e a ressurreição”. 4.14 – “A certeza da ressurreição do cristão é baseada na realidade da ressurreição de Cristo”. 4.16-17 – “Miguel é o único arcanjo citado por nome na Bíblia (Jd 9). Os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro, quando o Senhor vier buscar o seu povo (v. 17). Então os cristãos vivos serão arrebatados. O arrebatamento dos cristãos, descrito nesta passagem, envolve tanto os que tiverem morrido quanto aqueles que estiverem vivos quando o Senhor retornar. Sua vinda, neste momento se dará nos ares, não na terra, e acontecerá imediatamente antes do início da grande tribulação (Ap 3.10) [...]. Esse período terminará com a volta de Cristo à terra (Mt 24.29- 30)”. 5.2 – “Um extenso período de tempo, que começa com a grande tribulação e inclui os acontecimentos da segunda vinda de Cristo e o reino milenar sobre a terra. [...] aqui Paulo se concentra na parte inicial desse dia, que começará inesperadamente”. 5.9 – “A angústia e a tribulação associadas ao início do dia do Senhor, das quais o cristão será livre”. Epístolas Gerais Segundo Shedd (2006), Tiago reafirma a proximidade da vinda do Senhor, mas os eleitos devem aguardá-la com paciência (5.7-8) O apóstolo Pedro exorta em sua primeira carta a louvar o Senhor devido à viva esperança que a ressurreição de Cristo outorgou (1.3). Crentes verdadeiros são guardados por Deus mediante a fé para a salvação preparada para ser revelada no último tempo (1.35) em que Jesus será revelado (1.7). Pedro não sugere que a igreja escapará do juízo purificador (4.1) pelo contrário, se a “tribulação primeiro vem para nós, qual será o fim para aqueles que não obedecem ao evangelho de Deus” (4.17). A igreja sofrerá, sendo purificada pela perseguição, mas o mundo sofrerá o terrível juízo de Deus devido ao ódio e a maldade que os mundanos praticam contra os santos. Ryrie (2007) acrescenta “Se até mesmo os cristãos precisam ser julgados (por meio da purificação), que destino aguarda os incrédulos, que serão castigados por seus pecados?”. Shedd (2006) argumenta que o sofrimento de Jesus Cristo na cruz afirma um princípio muitas vezes esquecido pelos cristãos modernos. Aquele que sofreu pelo nome e testemunho de Cristo não estará deleitando-se, ao mesmo tempo, nos prazeres pecaminosos. A perseguição provoca a crise necessária a qual outorga impulso para a santificação. A segunda carta de Pedro se detém com mais afinco no tema da segunda vinda. Pode-se sentir o problema da demora da parousia de Cristo porque escarnecedores lançavam no rosto dos crentes a dúvida com respeito ao fim total como eles esperavam. Ryrie (2007) observa que “Pedro começa seu ataque àqueles que duvidam da segunda vinda de Cristo referindo-se à confiabilidade da Palavra de Deus conforme demonstrada na criação”. Shedd (2006) segue dizendo que os eleitos talvez ficaram impressionados com a demora da chegada do fim, anulando a esperança de Deus julgar este mundo e Cristo voltar. Pedro rememora que a demora é sinal de paciência de Deus. Ele permite ainda que anunciemos sua graça a parentes, vizinhos e mesmo as nações. Um dia para o Senhor significa mil anos ou mil anos um dia, porque Deus não muda de propósito. Para Ryrie (2007), Pedro afirma que a aparente demora da volta de Cristo se deve ao fato de Deus não considerar o tempo da mesma forma que os homens e é desejo de Deus que mais pessoas se arrependam. Shedd (2006) argumenta: De fato Cristo voltará repentinamente como ladrão (2Pe 3.10), a ocasião denominada aqui como “o dia do Senhor”. Nessa data, “os céus passarão com estrepitoso estrondo, os elementos se desfarão abrasados e a terra junto com as obras que nela existem serão atingidas”. Todas essas coisas serão desfeitas porque “os céus serão incendiados e os elementos abrasados se derreterão” (3.10,12). A que se referem essas predições relacionadas com a vinda de Cristo como ladrão? Somente os distúrbios e cataclismas celestes como Jesus e João os descreveram devem corresponder ao que Pedro descreve aqui (Mt 24.29; Ap 6.12; 8.7). A quarta taça predita por João em Apocalipse 16.8-9, derramada sobre o mundo, queimará os homens. Tanto Pedro como João chamam a restituição dos céus e da terra de “novo céu e nova terra” (Ap 2.11; Is 65.17; 66.22). O autor observa ainda que esta passagem é a única no NT que sugere que a data da vinda de Cristo depende também da igreja. Os remidos não devem apenas aguardar como expectadores o desfecho do fim, mas como cooperadores de Deus, apressando ou retardando o dia do Senhor. Para Ryrie (2007) o dia do Senhor terá início de forma inesperada no começo da tribulação e findará no encerramento do reino milenar, com a destruição dos céus e da terra antigos. Shedd (2006) ressalta que a primeira carta de João lembra aos cristãos da Ásia que o Anticristo virá. Acrescenta que muitos anticristos surgiram dentro da igreja, isso dá uma base para crer que já é a última hora. A manifestação de Cristo marcará a transformação que os cristãos almejam – alcançarão sua natureza e suas características. Notas: 26 476 X 365.2421 [nº de dias do ano solar] = 173.855 dias ou 5 de março de 33 d.C. somando os 25 dias restantes aos 173.880. Chegamos a 30 de março de 33 d.C. A data de 30 de março de 33 d.C. foi o domingo de ramos em que Jesus entrou em Jerusalém e chorou, ao censurá-los por não reconhecerem a “oportunidade” da visitação (Lc 19.41 — 44). (ELLISEN, 2007, p. 312) 27 Klm – Ser rei; reinar; dominar (também usado para Deus). Fazer (alguém) rei, instalar (alguém) como rei. Tornar- se rei. (KIRTS, 2004, p. 128) 28 Estes são os últimos dias (At 2.17; Hb 1,2); esta a última hora (1Jo 2.18). Jesus Cristo é o último Adão (1Co 15.45). (Feiner, 1985, p. 162) 29 [...] Surgirão falsos messias que enganarão a muitos (Mt 24.5), guerras e rumores de guerra. Por isso Jesus adverte que “ainda não é o fim” (Mt 24.6); “o fim não será de imediato” Lc 21.9). (SHEDD, 2006, p. 25) 30 Para descrever a vinda do Cristo que se espera, Mateus usa o termo parusia. [...] Lucas, porém fala dos dias do Filho do Homem, não de sua parousia. [...] é absolutamente certo que nesses passos, quando falam do Filho do Homem, os evangelhos querem referir-se a Jesus e que a vinda esperada é a parousia de Cristo. [...] o tema da parousia é desenvolvido combinando simultaneamente três grupos de lógia: em 17.20s se trata da vinda da realeza de Deus; em 17.22-37 da vinda do Filho do Homem; em 18.1-8 da invocação da sua vinda. (FEINER, 1985, p. 176-177) 4. Apocalipse Precedentes elementares para a interpretação do apocalipse: O livro do Apocalipse contém muitas alusões e referências ao Antigo Testamento, principalmente aos livros de Ezequiel, Daniel e Zacarias; É um livro de visões. João tenta descrever figuras representativas do futuro – imagens de eventos, locais que lhe eram completamente desconhecidos. Portanto, cabe aos pesquisadores um debruçar cuidadoso sobre os textos; As profecias têm um modo singular de encaixar eventos que não é facilmente entendido. Uma só profecia pode ser aplicada a várias ocorrências separadas entre si quanto às respectivas datas; Principais Interpretações do Apocalipse Idealista (simbólica ou espiritualizante) – Separa o Apocalipse totalmente de qualquer referência a eventos – quer dos dias de João, quer dos tempos do fim, ou de qualquer período entre os dois. É considerada uma representação em linguagem altamente figurada, dos grandes princípios do governo divino e do bem que vence o mal, sendo que esses princípios são aplicáveis a todos os tempos. Erickson (2010) acrescenta: Essa interpretação tira o elemento temporal da apocalíptica. Os símbolos ou acontecimentos descritos não ocorrerão em qualquer ponto específico da história, mas representam e apresentam “verdades eternas”, verdades acerca da natureza da realidade ou da existência humana que são continuamente presentes ou recorrem continuamente. Não se pergunta delas: “Quando?”, mas sim, “O quê?”. Preterista – Considera que o Apocalipse se refere aos seus dias: a luta entre o cristianismo e o Império Romano. Toma por certo que tudo foi cumprido durante o período em que foi escrito e que a história foi narrada com figuras e símbolos a fim de ocultar seu significado dos pagãos do século I. Erickson (2010) diz: que “A abordagem preterista considera que o cumprimento da apocalíptica ocorreu aproximadamente no período contemporâneo ao registro bíblico dela. Sendo assim os ‘últimos tempos’ já teriam chegado quando o escritor bíblico os descreveu”. Histórica – Vê no Apocalipse a predição do período inteiro da história eclesiástica, desde os tempos de João até o fim do mundo. Um panorama ou uma série de quadros, que delineia os passos sucessivos e as características mais notáveis da luta da igreja até a vitória final. Para Erickson (2010) “o historicista considera que a apocalíptica pertence a acontecimentos que ainda eram futuros na ocasião em que foram descritos (o período bíblico), mas que já ocorreram e continuam a acontecer dentro da história da igreja”. Futurista – Centraliza o Apocalipse, na maior parte, no tempo da vinda do Senhor e do fim do mundo. Essa interpretação sustenta que maior parte do livro (cap. 4–22) revela eventosque ainda são para ser cumpridos. Segundo Erickson (2010): O futurista relaciona os elementos proféticos e apocalípticos das Escrituras primariamente a um tempo do fim quando todos os acontecimentos se sucederão. A maior parte dele ainda acontecerá no futuro para nós, como acontecia para os que viviam nos tempos bíblicos. Características do Livro Apocalipse Profético O livro do Apocalipse é um livro profético, pois pertence ao gênero literário apocalíptico no qual a mensagem divina é transmitida na forma de visões e sonhos. Foi escrito com o propósito de desvendar o futuro e traçar o destino dos judeus, dos gentios e da Igreja do Senhor Jesus Cristo. Prático Embora haja o uso significativo de linguagem figurada, encaixadas a estas estão algumas das advertências mais salutares e das promessas mais preciosas da Bíblia. Este é o livro do mais puro otimismo para o povo de Deus, por oferecer a garantia da proteção divina e a eterna vida de bem— aventurança. Contexto Histórico de Apocalipse Para Halley (2001) Apocalipse foi escrito sob o clarão lúgubre dos mártires queimados. A igreja estava com 66 anos de idade. Crescera sem precedentes. Sofrera, e ainda sofria perseguições tremendas. Segundo Halley, a primeira perseguição ocorreu 30 anos antes de o Apocalipse ser escrito, foi instigada pelo Imperador Nero (64-67 d.C.). Muitos cristãos foram crucificados, lançados às feras, envoltos em roupas encharcadas em materiais inflamáveis e queimados até a morte. A segunda durante o império de Domiciano (95 d.C.) Mais de 40 mil cristãos foram torturados e mortos. Foi durante esse período de perseguição que João foi banido na ilha de Patmos. A terceira perseguição imperial, a de Trajano (98 d.C.). João sobrevivera às duas primeiras e agora passava por esta tentativa romana de erradicar a fé cristã. “Parece claro que outorgou essas visões a fim de preparar e confirmar a igreja para enfrentar os dias terríveis do futuro imediato e para consolá-la com a certeza de que ele governa tanto o início quanto o fim da história.” Acrescenta o autor: Jesus domina o cenário do começo ao fim do livro. Jesus, o Filho de Deus, que forneceu o meio para a igreja ser redimida e reunida com seu Criador, continua a ser revelado por intermédio do livro do Apocalipse. Sua Segunda Vinda, seu Reino milenar na terra e seu julgamento do mundo são preditos aqui. E o Apocalipse descreve a vitória final de Jesus sobre nosso inimigo, Satanás. Jesus estabelecerá seu Reino eterno, e os santos redimidos reinarão com ele eternamente. Conteúdo do Livro Ladd (2003) – O livro de Apocalipse se distingue dos demais livros da Bíblia por tratar de assuntos que não são abordados pelos demais, fala sobre a visitação da ira de Deus, bem como a vinda do reino, não mais parcialmente, mas o seu estabelecimento; sendo assim a nova terra terá como centro a cidade santa, a nova Jerusalém. Neste período os redimidos gozarão do privilégio da vida eternal. Feiner (1985) – Observa que o NT fala a respeito da nova criação como criação transformada (Rm 8.19-23 2Co 5.17 Gl 6.16). Tendo em vista a destruição do antigo mundo (Ap 21.1-27 / 2Pe 3.7— 13). Após o último juízo haverá uma restauração ou regeneração de todas as coisas. Campos (2008) divide a ordem dos acontecimentos em: O Princípio das dores; O Arrebatamento da Igreja; A Grande Tribulação; O Armagedom; A Segunda Vinda de Cristo; O Milênio; O Juízo Final; O Novo Céu e a Nova Terra; Em seu livro Teologia em perguntas e respostas o Pastor Geraldo M. Campos analisa os últimos acontecimentos definindo o princípio das dores como sendo um período de dias difíceis, de decadência, e estes dias precederão o arrebatamento da Igreja. O arrebatamento significa agarrar, arrancar, raptar, pegar à força. Neste acontecimento a Igreja será arrebatada, os mortos ressuscitarão e os salvos que estiverem vivos serão transformados. Após o arrebatamento acontecerá a grande tribulação, um período de sofrimento que a humanidade jamais experimentou ao longo da sua história. Feiner (1985) – Trata os acontecimentos apocalípticos como um duplo momento. A primeira ressurreição, nesta os mártires encontrarão justiça e triunfo, esses reinarão com Cristo durante o Milênio. A segunda ressurreição dos mortos será para juízo universal (Ap 20.11-15), nesta ressuscitam aqueles que não tomaram parte na primeira ressurreição. A morte e o inferno devolvem os mortos, e estes estarão diante de Deus para serem julgados. Diante disso o livro da vida será aberto e este contém os nomes dos eleitos. Segundo Campo (2008) o final da grande tribulação é marcado pela batalha do Armagedom (Monte Megido). Esta será marcada pela insurgência maligna contra Deus, o retorno de Cristo com o seu exército e vence os inimigos. A besta e o falso profeta são lançados no lago de fogo e Satanás é aprisionado no abismo por mil anos. Conforme Langston (2007) Deus julgará a todos por meio de Jesus Cristo. O objetivo do julgamento final não é descobrir, mas revelar a verdade, ou seja, manifesta os grandes propósitos de Deus, bem como trazer a tona os feitos dos homens. Campos (2008) observa que o juízo final acontecerá após a batalha final de Gogue e Magogue, neste evento Satanás será derrotado e com a besta (anticristo) e o falso profeta serão consumidos pelo fogo que descerá do céu (Ap 20.9,10). Posteriormente o Novo Céu e a Nova Terra serão criados por Deus, por conta de o antigo mundo haver sido destruído. Esta nova criação será a habitação dos salvos (Ap 21.3,4) Apocalipse 19.20 / 20.1, 2, 5, 8 / 21.1-2 – Charles C. Ryrie . 19.20 – “A Besta e o Falso profeta serão os primeiros ocupantes do lago de fogo; outros incrédulos, que se encontram hoje no hades, se juntarão aos dois no final do milênio (20.14)”. 20.1 – “O lugar para onde todos os espíritos malignos serão enviados no final (Lc 8.31)”. 20.2 – “A expressão em latim para mil anos é millenium, daí o termo milênio. É o tempo em que Cristo reinará sobre a Terra (Is 2.3; Dn 7.14; Zc 14.9). Satanás não terá liberdade de agir (Ap 20.2), a justiça florescerá (Is 11.3-5), a paz será universal (Is 2.4) e a produtividade da terra será grandemente multiplicada (Is 35.1-2). Ao final deste período, Satanás será solto para fazer uma última tentativa de derrubar Cristo, mas não logrará sucesso (Ap 20.7-9)”. 20.5 – “Os ímpios mortos serão ressuscitados e julgados depois do milênio. Esta é a primeira ressurreição. A frase se refere ao fim do versículo 4. Esta ressurreição inclui todos os justos de todas as eras”. 20.8 – “Gogue e Magogue. Nomes simbólicos para os inimigos universais de Cristo. Não se trata da mesma batalha descrita em Ezequiel 38–39. O grande número de rebeldes será decorrente dos muitos que nascerão durante o Milênio, os quais, mesmo professando obediência ao Rei exteriormente, jamais o aceitarão de fato”. 21.1 – “A presente criação será destruída a fim de ser purificada de todos os efeitos do pecado (2Pe 3.7, 10, 12). Não haverá mais mar, pois as condições climáticas e humanas serão completamente diferentes”. 21.2 – “Esta cidade celestial será a morada de todos os santos (Hb 12.22-24), a noiva de Cristo (Ap 21.9-10); hoje, é o lugar que Cristo está preparando para o seu povo (Jo 14.2). Ao que parece, durante o milênio a nova Jerusalém [...] pairará acima da terra e será a morada de todos os cristãos na eternidade (Ap 21.1-8)”. 5. Escolas Escatológicas Pós-Milenismo (Milenarismo) ERICKSON (2010) explica que esta escola apresenta o reino de Deus como uma realidade presente. O reino não se trata de um império sobre o qual o Senhor reina, mas o governo de Cristo no coração dos homens. A presença do reino é real em qualquer lugar onde os homens creiam em Jesus Cristo, dediquem-se a ele, e o obedeçam31. GENTRY (2005) define o pós-milenarismo32 como o sistema que fomenta a proclamação do Evangelho a maior parte da humanidade para a salvação no presente. E este anúncio produzirá o momento que antecede a vinda de Cristo, posteriormente o Senhor retornarácorpórea e visivelmente para dar cabo à história, com a ressurreição geral e o juízo final. ERICKSON (2010) Argumenta que a pregação do evangelho eficaz, por meio da obra do Espírito em convencer e regenerar os homens. Isso não quer dizer que a totalidade da população se converterá, porém, todas as nações crerão. Haverá um avivamento mundial, em que a conversão de cada cristão, como resultado da salvação pela graça, mediante a fé, trará transformação ao mundo. O Milênio ocorrerá à medida que cada vez mais pessoas se submetem ao plano do Senhor e começam a praticar os ensinos e modo de vida que ele estabeleceu. Neste período cessarão os conflitos entre as nações, bem como o atrito entre as raças e as classes sociais, havendo acordo entre brancos, negros, índios, latinos e outros. Esta é uma interpretação da profecia de que o lobo e o cordeiro se deitarão juntos (Is 11.6). Há também a esperança da conversão de todas as nações do mundo, não na totalidade, mas a grande maioria da população de todos os povos da terra. Assim será inaugurado um longo período de paz entre os homens no mundo que se identifica com o reino milenar. (SHEDD, 2006, p. 23). Os pós-milenaristas não são literalistas quanto ao tempo do Milênio, o interpretam como um longo período, não necessariamente mil anos. A paz esperada não acontecerá repentinamente, mas o reino chegará gradualmente. Alguns pós- milenistas afirmam que este período milenar abrange todo o período da igreja. Outros pensam a era presente irá se misturar com a era milenar. Para o pós-milenista o Milênio difere da era presente apenas quanto ao grau. O casamento, a família e o nascimento estarão presentes. Os problemas econômicos, sociais e educacionais acontecerão, mas serão bastante modificados e até mesmo eliminados. No fim do milênio haverá um período de apostasia e explosão do mal que acontecerá com a vinda do Anticristo33. Os pós-milenistas não interpretam os mil anos de Apocalipse 20 literalmente. Alguns (como os amilenistas) acreditam que durará todo o período da Igreja entre a primeira e a segunda vinda. [...] outros creem que o milênio não literal começará com a divulgação mundial do evangelho e a conversão da maioria da humanidade. (SHEDD, 2006, p. 23). Erickson (2010) declara que após o período de expansão do Evangelho e cristianização das nações, Cristo retornará fisicamente, e esta será seguida pela ressurreição geral e pelo julgamento de todos. Mais um elemento, defendido apenas por alguns pós-milenistas, é que a nação judaica se converterá. Dessa forma o pós-milenarismo crê que certas profecias ainda não foram cumpridas, as quais preveem a conversão de um grande número de judeus, estes entrarão na igreja do mesmo modo que quaisquer cristãos hoje. GENTRY (2005) conclui sua defesa ao pós-milenarismo dizendo: “agora não vemos senão um pequeno fluxo de esperança. Mas esse, fluindo continuamente na história, se tornará o rio da vida que um dia transbordará suas margens (Ez 47.1-12)”. De acordo com a concepção pós-milenarista, o reino de Deus será na terra, mas Cristo não terá voltado fisicamente. Os pós- milenista entendem que o milênio esperado pode começar de forma gradual, sem que se perceba de fato seu início. Amilenarismo Erickson (2010) ressalta que o sistema escatológico conhecido como amilenismo é conhecido por afirmar que não haverá um reino terreno de Cristo de mil anos de duração. O amilenismo vê a segunda vinda de Cristo como o acontecimento que inaugurará o final para todas as pessoas (cristãos ou não), seguida pela ressurreição geral, pelo julgamento de todos os homens. Não haverá nenhum milênio, portanto, esses acontecimentos se seguirão em sequência rápida, sem intervalos significativos, os mil anos em Apocalipse 20 são simbólicos e não literais34. Outro modo de colocar isso é dizer que a referência aos mil anos é atemporal. Alguns amilenistas consideram a primeira ressurreição espiritual e a segunda física; outros acreditam que as duas ressurreições espirituais. Shedd (2006) observa que os amilenaristas acusam os pré- milenaristas de entenderem mal a única passagem que fala do milênio. De acordo com a interpretação amilenarista Apocalipse 20.6 não se refere ao recebimento do corpo espiritual tratado por Paulo em 1Coríntios 15.44, mas a morte e a ressurreição com Cristo no batismo (Rm 6.1-11 / Ef 2.1-10 / Cl 3.14). Sendo assim, a interpretação dos textos apocalípticos não devem ser interpretados literalmente. Erickson (2010) diz que as profecias do AT não se cumprirão num período terreno de mil anos; em vez disso, acontecerão na história da igreja ou na nova terra. Muitos amilenistas duvidam que a evangelização tenha êxito, os que creem e são salvos serão um pequeno segmento da população mundial. O amilenarista tem menor preocupação com detalhes e com a sequência das últimas. Robert B. Strimple (2005) célebre defensor do amilenarismo sugere: Precisamos reconhecer que sob a ótica dos escritores do Novo Testamento, os “Últimos dias” da história redentiva foram inaugurados pela ressurreição e glorificação de Cristo, e o derramamento pentecostal do Espírito Santo (At 2.16-21, “últimos dias”; 1Co 10.11, “o fim dos tempos”; Hb 1.1,2, “nestes últimos dias”; 1Pe 1.20, “nestes últimos tempos”). O todo da revelação redentiva de Deus está estruturado em termos de promessa (AT) e cumprimento (NT) e, por conseguinte, um sumário plenamente adequado da escatologia bíblica precisa considerar o ensino de toda a Bíblia! De acordo com Erickson (2010) as ressurreições de Apocalipse 20.4-5 é definida como sendo a primeira espiritual e a segunda é física. Bem como o propósito do livro de Apocalipse era gerar confiança nos cristãos que Cristo triunfaria sobre toda a oposição. A primeira ressurreição simboliza a vitória dos mártires. A segunda morte, normalmente entendida pelos escatologistas de todas as correntes milenistas como uma morte espiritual, corresponde à primeira ressurreição. Isso significa que a primeira ressurreição, de modo semelhante, é espiritual. Embora não seja mencionada, a primeira morte, embora não esteja explicito, seria física. A esta corresponde à segunda ressurreição, que também seria física. Pré-Milenismo (Milenarismo) Para Erickson (2010) ao estudar a respeito do pré-milenarismo percebe-se a crença de que haverá um reino milenar e corpóreo de Cristo na terra, bem como a interpretação literal do milênio de Apocalipse 20. Este reino milenar será um período onde a vontade de Deus será realizada plenamente entre os homens, mas não da forma que o sistema pós-milenarista acredita, pois, para estes haverá o reino milenar, porém Cristo não voltará fisicamente. Os pré-milenaristas entendem que não haverá dúvidas quanto ao início do milênio, pois o retorno de Cristo será surpreendente e visível, consequentemente inconfundível. Contrário à ideia pós-milenar que acredita no início gradual e imperceptível do reino milenar. Campos (2008) ressalta que os pre-milenaristas insistem numa interpretação literal de Apocalipse 20.4-6. Portanto, Cristo estará fisicamente presente durante o milênio, sendo assim o reino milenar é futuro para essa escola escatológica. Erickson (2010) observa que o milênio será precedido por uma deterioração espiritual, de acordo com Mateus 24.12 que indica uma crise espiritual antes de sua vinda. Portanto, essas questões serão resolvidas de maneira sobrenatural, haverá uma intervenção de Deus que iniciará o milênio. Os pré- milenaristas acreditam que a grande tribulação antecederá o milênio, o que tornará mais claro os efeitos do reino milenar. Os pré- milenaristas diferem quanto se a igreja estará, ou não, na terra neste período. Portanto, existem os pré-tribulacionistas (acreditam que a igreja será arrebatada antes do milênio), os meso-tribulacionistas (a igreja será arrebatada durante o milênio) e os pós-tribulacionistas (o arrebatamento ocorrerá depois da grande tribulação). Os pós-tribulacionistas acreditam numa única vinda de Cristo que ocorrerá finalizando a tribulação e iniciandoo milênio. Os pré-tribulacionistas creem que a vinda de Cristo ocorrerá em duas etapas, primeiro para a igreja, retirando os santos da terra e depois para estabelecer o reino milenar com os seus santos. Para Olson (1981): O destino da Igreja rapidamente aproxima-se do seu glorioso desfecho, e bem assim o destino do mundo de modo geral, neste fim do Século Presente. O plano divino da redenção chegará a sua conclusão exatamente como Deus o havia planejado e do modo como está revelado nas Escrituras. Esse plano prevê que todos os crentes falecidos, em Cristo, serão ressuscitados dentre os mortos, e na mesma ocasião os crentes que estiverem vivos, serão trasladados ou raptados para se encontrarem com Cristo nos ares. Erickson (2010) – Os pré-milenaristas acreditam que na segunda vinda de Cristo, Satanás será preso por mil anos, sendo impedido de influenciar as nações enganosamente. Contudo, ao se aproximar o fim do milênio Satanás será solto por um breve espaço de tempo para enganar as nações, mas posteriormente será derrotado e lançado no lago de fogo por toda a eternidade. Olson (1981) ressalta: A juntura destes “século” presente e o vindouro fornece um nítido exemplo de sobreposição das dispensações, isto é, que às vezes há um período transitório entre uma e outra. As suas fronteiras não são bem demarcadas. [...] uma boa parte da população da Terra terá desaparecido. [...] O próprio Cristo voltará literalmente a esta Terra onde Ele esteve durante 33 anos e pessoalmente reinará sobre a mesma por um espaço de 1000 anos. Erickson (2010) – as duas ressurreições de Apocalipse 20.4-6 são interpretadas como físicas, ou corpóreas. Porém, os participantes da primeira serão os crentes, os não cristãos, no entanto, não serão ressuscitados até o fim do milênio. A ressurreição dos crentes é para que estes reinem com Cristo durante o milênio, os ímpios ressuscitarão para o julgamento. Os pré-milenaristas adotam a interpretação literalista principalmente dos textos de Apocalipse, bem como uma interpretação futurista. Para tanto a interpretação pré-milenar das ressurreições não podem ser entendidas de outra maneira senão físicas. A primeira abrange os apóstolos e os santos, bem como os mártires (Mt 19.28; 1Co 6.3). Neste texto a palavra grega ezesan é utilizada para descrever as duas ressurreições, o que para os pré- milenaristas não pode ser traduzida diferente por estar empregada no mesmo contexto, e não dar nenhuma indicação textual de mudança de sentido. Segundo Olson (1981) “A terra será regida, não por monarquia, nem por democracia, nem por autocracia, mas sim por uma TEOCRACIA, isto é, o próprio Deus regerá o mundo na Pessoa do seu Filho, o Senhor Jesus Cristo”. Erickson (2010) acrescenta que o milênio diz respeito ao controle absoluto de Cristo durante esse período, por consequência todos se submeterão ao domínio do Messias, será um período de justiça, de paz, a natureza será restaurada, não haverá catástrofes naturais, os santos reinarão com Cristo (Fp 2.10-11 Is 2.4; 11.8,9; 65.25 Mq 4.3 Rm 8.22,23 Mt 8.26). Uma interpretação distinta dos pré-milenaristas é a condição de Israel durante o milênio, neste período Deus reassumirá seu relacionamento com Israel, alguns pré-milenaristas defendem a ideia de que a economia do AT será restaurada. Jesus se assentará no trono de Davi, e reinará sobre o mundo, o culto no templo e a ordem sacerdotal serão restaurados. Por outro lado, outros acreditam que a igreja se tornou o Israel espiritual, dessa maneira muitas profecias referentes a Israel se cumprem na igreja, mas defendem a salvação do Israel (nação), Romanos 11.15-16. Dispensacionlismo Olson (1981) na introdução de sua obra “O plano de divino através dos séculos” explica a respeito das dispensações bíblicas, e define dispensação como a economia de Deus, a sua administração universal. Estudar sobre as dispensações é observar os diversos métodos utilizados por Deus em períodos determinados para se relacionar com os seres humanos e levar a cabo o seu propósito. Desta forma, as dispensações são sete, sendo elas, inocência, consciência, governo humano, patriarcal, a lei, graça e milênio (governo divino). O autor comenta: [...] uma dispensação é um período probatório ou moral. [...] Cada dispensação demonstra claramente o propósito de Deus, e cada uma inicia-se com uma nova revelação dEle. Cada dispensação também manifesta a desobediência do homem para com essa revelação e bem assim a separação entre os obedientes e os desobedientes no fim do período. [...] em conjunto com as dispensações verifica-se a presença das grandes alianças ou pactos entre Deus e os homens. (OLSON, 1981, p. 38-39) Erickson (2010) comenta que a dispensação “é uma mordomia da luz de Deus, um passo na revelação da verdade de Deus”. Nesta assertiva o autor comenta os exemplos dos personagens bíblicos que viveram situações sobrenaturais de chamamento divino, tais momentos inauguraram um marco novo no desenvolvimento do plano de Deus. Olson (1981) ressalta as oito alianças entre Deus e os homens. A edênica (Gn 1.28), com Adão (Gn 3.14-21), com Noé (Gn 9.1-17), com Abraão (Gn 12.1-3), com Moisés (Êx 19.1-25), Palestínica (Dt 28.1; 30.3), com Davi (2Sm 7.16; 1Cr 17.7; Sl 89.27; Lc 1.32,33) e a nova aliança. Campos (2008) sugere “a crença de que ocorrerá uma série de dispensações. Estas dispensações são estágios sucessivos na revelação divina de seus propósitos. Há provas claras na Palavra de Deus”. Ladd (2003) observa que a teologia dispensacionalistas divide o retorno de Cristo em duas partes, a primeira secreta visível apenas para a igreja antes da tribulação e a segunda gloriosa no final da tribulação, onde Israel será salvo e o milênio será iniciado. Sua vinda para os seus santos é o arrebatamento, sua vinda com os seus santos é a revelação (1Ts 3.13). Erickson (2010) afirma que a interpretação literalista da Bíblia é a primeira doutrina dispensacionalista a ser observada. Portanto, todas as profecias devem ser entendidas de maneira literal, até em seus detalhes. Outra marca distintiva do Dispensacionalismo é a distinção entre Israel e igreja, de acordo com este sistema a aliança estabelecida entre Deus e Abraão é indissolúvel. Portanto, quando a Bíblia usa o termo Israel este deve ser interpretado o mais literal possível, sendo assim como nação, jamais no sentido espiritual. A igreja surge e participa do reino após Israel o haver rejeitado, a igreja é, portanto, o substituto de Israel. Os dispensacionalistas distinguem reino de Deus e reino dos céus. O reino dos céus é messiânico, judaico, davídico. O reino de Deus é universal. Para os dispensacionalistas o milênio é parte do propósito de Deus para restaurar Israel (nação), ou seja, recebe uma interpretação judaica. Segundo Olson (1981) “O termo ‘milênio’ significa mil anos. É usado seis vezes na passagem Apocalipse 20.1-7. É o tempo durante o qual satanás será amarrado e lançado no abismo enquanto Cristo reina em poder e glória sobre a terra”. Champlin (2001) observa que os pré-milenistas defendem que o livro de Daniel faz previsões a respeito do fim dos tempos, até a segunda vinda de Cristo. Eles veem um parêntese entre 69ª e a 70ª, este período corresponde a dispensação da graça. O autor declara: Os pré-milenistas estão divididos quanto ao momento do arrebatamento da igreja. Este ocorreria antes, ou após a tribulação? Alguns chegam a pensar que o arrebatamento dar-se-á no meio da tribulação. Os que pensam que a igreja será arrebatada antes da grande tribulação supõem que Israel tornar-se-á novamente proeminente na história humana e enfrentará o anticristo, [...] a nação será inteiramente restaurada à sua terra. [...] Israel, embora convertido ao Senhor, não fará parte da Igreja. [...] os que pensam que a igreja só será arrebatada depois da grande tribulação, [...] creem que a nação fará parte integrante e inseparável da Igreja. Notas: 31 O reino de Cristo é espiritual, não geográfico (localizado literalmente neste mundo) de modoque onde há indivíduos que recebem a Cristo e reconhecem sua soberania sobra a vida deles, aí está o reino de Deus. (SHEDD, 2006, p. 22-23). 32 [...] a confiança definitiva do pós-milenarista está na soberania de Deus. (GENTRY, 2005, p. 21). 33 Haverá um curto lampejo de maldade antes da vinda do Senhor, seguido pela ressurreição de todos, o julgamento e a consignação dos homens ao estado permanente do céu e o inferno. (SHEDD, 2006, p. 23). 34 É irracional pensar que após a vitória de Jesus Cristo e a concretização do seu reino soberano e eterno, houvesse nova oportunidade para Satanás retomar o controle dos incrédulos que ainda existem e para encabeçar uma revolta contra o reino estabelecido do Senhor. Onde se conseguirá os rebeldes? Assim, os amilenistas descartam a possibilidade de se realizar um milênio literal nos moldes de Apocalipse 20. (SHEDD, 2006, p. 22) Referências BERKHOF, L. Teologia Sistemática, 3ª ed. Revisada - São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2007. BERGSTÉN, E. A Doutrina das Últimas Coisas (Coleção de Ensino Teológico), 1ª ed. Editora Casa Publicadora das Assembleias de Deus. Rio de Janeiro-RJ, 1980. BRUCE, F. F. Paulo: o apóstolo da Graça, a vida, cartas e teologia. 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Escatologia no Novo Testamento Escatologia nos Evangelhos Mateus 24.3-41 – Charles C. Ryrie Marcos 13.9-32 – Charles C. Ryrie Lucas 21.7-41 – Charles C. Ryrie Atos Epistolas Paulinas 1 Tessalonicenses 4.13 – 17 / 5.2-9 – Charles C. Ryrie Epístolas Gerais 4. Apocalipse Principais Interpretações do Apocalipse Características do Livro Apocalipse Contexto Histórico de Apocalipse Conteúdo do Livro Apocalipse 19.20 / 20.1, 2, 5, 8 / 21.1-2 – Charles C. Ryrie 5. Escolas Escatológicas Pós-Milenismo (Milenarismo) Amilenarismo Pré-Milenismo (Milenarismo) Dispensacionlismo Referências