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PARA LER 1 É possível brincar com as palavras? De que forma? Duelo danado de Dandão e Dedé, cantoria em trava-línguas 1 No sertão de antigamente, aconteciam verdadeiros duelos, nos quais as armas não eram espadas; eram violas. As palavras eram balas afiadas que saíam da boca dos cantadores. Num mundo de rimas improvisadas, saía vencedor quem deixasse outro sem palavras ou O fizesse "quebrar a rima", que significa não completar devi- damente as estrofes. 2 O cenário para esses encontros eram os terreiros das casas de fazenda ou um cantinho nas feiras, onde os violeiros montavam suas barracas e faziam ali O espetá- culo. Nas fazendas, os artistas contavam com um tablado onde eram colocados dois tamboretes, ficando os espectadores acomodados em bancos maiores, feitos geral- mente com tronco de uma palmeira chamada de carnaúba. A animação corria solta, e a torcida aplaudia ou vaiava O desempenho dos cantadores. 3 Um dos desafios preferidos pelos cantadores era O de repetir, em forma de versos, trava-línguas pra lá de complicados, que se já eram difíceis de falar, imagine de cantar! 4 [...] 5 Na cidade de Catingueira, O povo se reunia para assistir à grande cantoria, de viola choradeira. No letreiro já se lia, numa placa de madeira: DESAFIO COM CANTA- DORES DE PRIMEIRA. 6 O cenário era perfeito, naquela noite de verão. A lua no céu rotando imitava um lampião clareando as cercanias, comandando a animação. 7 Cada lugar com seu astro e com sua torcida: em Catingueira, Dedé tinha fama me- recida. Dandão, em Saco Furado, tinha glória parecida. 8 O povo ia chegando e tomando seu lugar. 4