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2
AS MARCAS DA VIOLÊNCIA SEXUAL INFANTIL E ALTERNATIV AS DE 
TRATAMENTO 
Letícia Fernanda Henz¹ 
Marcelo Borges Leite² 
Resumo 
O presente artigo tem como objetivo discutir os principais sintomas e consequências 
sofridas pelas crianças vítimas de violência sexual, como também, as possíveis 
intervenções e formas de tratamento para estes casos. Para tanto, foi utilizado como 
metodologia de pesquisa à revisão bibliográfica e análise de conteúdo. Os achados 
apontaram para uma enorme quantidade de consequências e sintomas causados 
pela violência sexual que alteram significativamente a vida da criança e de sua 
família, que podem permanecer para o resto da vida, principalmente quando não 
tratada. Referente às intervenções e formas de tratamento conclui-se que a Terapia 
Cognitiva-Comportamental (TCC), a Psicoterapia de Orientação Analítica e Terapia 
Familiar são as mais citadas. 
Palavras-chaves: Violência sexual. Crianças. Consequências. Tratamento. 
Introdução 
 
Cabecinha boa de menino triste, de menino triste que sofre sozinho, que 
sozinho sofre, — e resiste, cabecinha boa de menino ausente, que de sofrer 
tanto se fez pensativo, e não sabe mais o que sente... Cabecinha boa de 
menino mudo que não teve nada, que não pediu nada, pelo medo de perder 
tudo. Cabecinha boa de menino santo que do alto se inclina sobre a água 
do mundo para mirar seu desencanto. Para ver passar numa onda lenta e 
fria a estrela perdida da felicidade que soube que não possuiria (CECÍLIA 
MEIRELES). 
 
Inicia-se este artigo com uma reflexão de um poema escrito por Cecília 
Meireles que tem muito haver com o que é proposto discutir sobre as marcas da 
violência sexual infantil. Entende-se que a autora busca representar a existência de 
sofrimentos na infância que podem permanecer durante a história de vida da 
criança. Além disso, ela traz que estes sofrimentos também podem ser 
seguidamente recordados por esta criança e refletidos no seu modo de agir e viver 
esta infância (“sozinho, pensativo, mudo, com medos, resistente”). E, finaliza 
dizendo que, “de forma lenta e fria”, a criança vê passar a felicidade que se perdeu, 
ou seja, esta felicidade que um dia existiu pode estar sendo levada devido as 
marcas negativas de uma infância. 
Esta reflexão instiga explorar em diferentes artigos as mais variadas formas 
possíveis de identificar, através dos sinais e sintomas, a ocorrência da violência 
 
 
3
sexual infantil, como também, apontar as possíveis consequências. O tema da 
violência sexual se torna muito relevante, pois éum dos grandes problemas de 
saúde pública, já existentes há milhares de anos nas mais diferentes culturas e 
também praticada das mais diferentes formas, que vem aumentando 
significativamente em todo mundo. Este crescimento também pode ser observado 
principalmente na violência contra crianças. Dados da Polícia Civil – Secretaria da 
Justiça e da Segurança do Rio Grande do Sul apontam para este crescimento das 
violências. Conforme registros do ano de 2002, 1400 crianças foram vítimas de 
violência, 872 (62%) delas foram vítimas de violência sexual. Já em 2003 o número 
de ocorrências de violência contra as crianças aumentou para 1763 e dentre elas 
1166 (66,14%) foram vítimas de violência sexual (DECA, 2002, 2003, 2004 apud 
PFEIFFER e SALVAGNI, 2005). 
Os dados epidemiológicos acima citados quanto ao abuso sexual infantil, se 
referem a partir dos registros realizados, sendo que a quantidade exata é 
desconhecida, pois muitas crianças não revelam, ou revelam certo tempo após o 
ocorrido, ou apenas na fase adulta. 
A não revelação do abuso sexual ainda existe, tanto por parte das vítimas, 
como também de familiares que acabam sendo coniventes com a situação, 
impossibilitando a oferta de alternativas para tratamento das vítimas e familiares, e 
consequentemente intensificando e reproduzindo significativamente violências e 
sofrimentos em diversos sujeitos e histórias de vida. 
Porém, ressalta-se conforme Zuwick (2002), que avançamos muito nos dois 
últimos séculos frente ao significado da infância, resgatando as crianças e os 
adolescentes como sujeitos de direitos, de linguagem, levando em conta o que eles 
têm a dizer e tentando compreender os seus sintomas. Estes sujeitos foram vistos 
com mais crédito e beneficiados com redes de apoio e proteção que se mostram 
consistentes e com mais vigor. Já os noticiários, também destacam e apontam das 
mais diversas formas, e denunciam os agressores responsáveis pela violência 
sexual infantil. Mas, e agora, o que fazer com tudo isso? Estamos preparados para 
lidar com esta demanda complexa e dolorida? 
Para tanto, além de ampliar a visibilidade deste tipo de violência, apontando 
para os possíveis sinais, sintomas e consequências provocados pela violência 
sexual infantil, buscou-se também descrever algumas alternativas possíveis de 
 
 
4
intervenção e de tratamento para minimizar este adoecimento social e cultural 
reproduzido constantemente. 
 
1. SINTOMAS E CONSEQUÊNCIAS DA VIOLÊNCIA SEXUAL INF ANTIL 
 
Para fins de prevenção, promoção e tratamento da saúde mental na infância, 
se torna importante apontar as principais mudanças de comportamento das crianças 
vítimas de abuso sexual. São indiscutíveis os agravos no desenvolvimento da 
criança, devido este tipo de violência, principalmente quando o abusador tiver um 
vínculo de afeto e confiança. 
Existem vários fatores que influenciam na sintomatologia do abuso sexual 
infantil. Furniss (1993) e Knutson (1995), citado porAmazarray e Koller (1998) 
apontam o grau de severidade dos efeitos e das consequências do abuso sexual 
que variam de acordo com: 
- Duração do abuso: algumas evidências sugerem que maior duração 
produz consequências mais negativas; 
- O grau de violência: uso de força pelo perpetrador resulta em 
consequências mais negativas tanto a curto como a longo prazo; 
- A diferença de idade entre a pessoa que cometeu o abuso e a vítima: 
quanto maior a diferença, mais grave são as consequências; 
- A importância da relação entre abusador e vítima: quanto maior a 
proximidade e intimidade, piores as consequências; 
- A ausência de figuras parentais protetoras e de apoio social: nesses 
casos, o dano psicológico é agravado; 
- O grau de segredo e de ameaças contra a criança. 
As diferentes formas pelas quais ocorre a violência sexual geram 
consequências tanto físicas como psicológicas, que são variadas e numerosas, de 
curto e longo prazo. Além disso, há um consenso nas literaturas acerca do ciclo de 
repetição do fenômeno que se estabelece nas pessoas que sofreram maus tratos. 
Para tanto, a psicanálise considera que este fato traumático pode ser reproduzido 
pela vítima, através de isolamentos e indisponibilidade para relacionamentos, 
principalmente os amorosos, e entre as gerações, em uma cadeia de violências 
intrasubjetivas, intersubjetivas e transubjetivas (BOARATI, SEI e ARRUDA, 2009). 
Um estudo realizado com 205 crianças de idade de 6 a 14 anos entre os anos 
de 2005 a 2009, vítimas de abuso sexual e encaminhadas para Programa de 
Psiquiatria Forense e Psicologia Jurídica (NUFOR) do Instituto de Psiquiatria do 
Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, 
também aponta para diferenças significativas no comportamento das vítimas. Este 
 
 
5
estudo igualmente destaca, conforme citado acima, o isolamento social, como 
também outras alterações: retraimento da criança frente à figura masculina, 
comportamento erotizado e agressividade. Sentimentos de culpa, vergonha e medo 
também se fazem presentes nas vítimas (SERAFIM et al. 2011). 
Referente o isolamento social, acrescenta-se que o mesmo 
consequentemente reflete num comportamento menos pró-social, ou seja, a criança 
acaba compartilhando menos, interage menos com crianças e adultos, ajuda menos 
os outros e se associa menos a outras crianças, quando comparadas com crianças 
não abusadas(FLORES e CAMINHA, 1994). 
Já o sentimento de culpa é muito comum de se manifestar na vítima. Além 
disso, esta culpa muitas vezes é reforçada pelo senso comum onde a vítima está 
inserida. Zuwick (2002) acrescenta que se vive com esteriótipos deste senso 
comum, que vê a figura feminina como sedutora e desejosa do abuso sexual e o 
abusador como o descontrolado diante de seus impulsos sexuais que contaminam a 
maneira como os fatos acabam sendo manejados. 
Mendes e França (2012) explicam melhor a formação dos sentimentos de 
culpa através de um estudo teórico que realizaram referente aos efeitos da violência 
sexual na infância sob a ótica de SandorFerenczi, psicanalista e discípulo de Freud. 
Para estes autores as fantasias edípicas da criança podem preparar o caminho para 
um adulto perverso, onde a criança possibilita a aproximação do adulto e tenta 
seduzi-lo através de carícias, beijos, abraços e busca da mesma forma receber em 
troca, na linguagem da ternura. Porém, quando a sexualidade genital adulta impõe 
uma excitação de forma excessiva sobre o corpo da criança, as fantasias 
inconscientes de sedução em relação ao adulto tendem-se a confundir com a 
realidade, provocando fortes sentimentos de culpa na criança. Portanto, esta criança 
acredita que se foi capaz de provocar o desejo no adulto, deve merecer sofrer as 
consequências. 
Além do sentimento de culpa, Habigzanget al. (2005) acrescenta ainda outros 
sinais, sintomas e consequências: como a desconfiança, conduta hiperssexualizada, 
abuso de substâncias, ideações ou tentativas de suicídio, fugas do lar, furto, 
alterações nos padrões de sono e de alimentação que podem ser manifestados 
durante os diferentes períodos de vida da vítima. Aponta-se ainda para uma 
fragilidade maior na saúde em geral, doenças gastrointestinais, fadiga crônica, 
 
 
6
gravidez indesejada, doenças sexualmente transmissíveis e comportamentos 
sexuais de risco (RIVERA-RIVERA et al., 2006). 
O comportamento sexual inadequado é um sintoma muito característico nas 
crianças sexualmente abusadas, que pode ser observado nas brincadeiras 
sexualizadas com bonecos, na masturbação excessiva, na introdução de objetos ou 
dedos no ânus ou na vagina, conhecimentos sexuais não equivalentes para a idade, 
solicitação de estimulação para adultos e/ou crianças (KENDALL-TACKETT, 
WILLIAMS E FINKELLHOR, 1993). As consequências deste sintoma são 
observadas tanto na infância como na fase adulta: alta atividade sexual, confusão na 
identidade sexual para a criança que sofreu abuso sexual homossexual, 
principalmente as vítimas do sexo masculino, dificuldades conjugais, impotência 
sexual, evitação do sexo, menor satisfação sexual, excesso de desejo sexual, etc 
(AMAZARRAY e KOLLER, 1998). 
Já os problemas que mais persistem na fase adulta, são os emocionais, 
comportamentais e nas relações interpessoais. Além disso, pontua-se que as 
crenças e os valores referentes os papéis de ser pai e mãe também podem ser 
afetados (SANTOS e DELL'ALIO, 2008). 
Habigzanget al. (2008) contribui apontando para alterações cognitivas 
importantes que podem ser observadas, na grande maioria das vezes, também no 
âmbito escolar como: baixo rendimento escolar, baixa concentração e atenção, 
dissociação, refúgio na fantasia e crenças distorcidas frente a si mesmo como, 
inferioridade, desconfiança, diferença em relação ao seus pares. 
Vários estudos demonstram que vítimas de abuso sexual têm um risco maior 
para desenvolverem um transtorno mental e apresentarem comportamentos 
autodestrutivos (SERAFIMet al. 2011). Destaca-se dentre os transtornos: quadros de 
depressão, transtornos ansiosos, alimentares, dissociativos, déficit de atenção, 
hiperatividade e transtornos de estresse pós-traumático, assim como enurese e 
encoprese (COHEN, MANNARINO e ROGAL, 2001; DUARTE e ARBOLEDA, 2004; 
HABIGZANG e CAMINHA, 2004; HEFLIN e DEBLINGER, 1996/1999; RUNYON e 
KENNY e Kenny, 2002 apud HABIGZANG et al. 2005, 2008). 
Nos casos de abuso sexual que apresentam quadros de depressão, é de 
significativa relevância o suporte familiar para a minimização dos sintomas. Segundo 
um estudo realizado por Deblinger, Steer e Lippmann (1999) apud Santos e 
 
 
7
Dell'aglio (2008) observou-se que crianças que percebiam suas mães com 
comportamentos de rejeição relatavam mais sintomas depressivos do que as 
crianças que percebiam que o comportamento materno era cuidadoso e afetuoso. 
Além disso, comportamentos maternos que demonstravam culpa e ansiedade 
apresentavam escores maiores de transtorno do estresse pós-traumático (TEPT) e 
comportamentos externalizantes. 
Nos transtornos alimentares, um estudo realizado por Paraventiet al. (2011) 
confirma uma incidência maior de anorexia nervosa em indivíduos que tinham 
antecedentes de abuso sexual. Além disso, cita outros exemplos de 
comportamentos compulsivos como, por exemplo, por limpeza, que representa um 
desejo de limpar, purificar seu corpo em função da violência sofrida. Esse quadro 
inclusive pode desencadear a um diagnóstico de Transtorno Obsessivo-Compulsivo 
(TOC). Esse mecanismo também tem relação com a anorexia, que se caracteriza 
por uma insatisfação do corpo violentado, que age como mediador em todo o 
processo, sendo elo entre o abuso sexual na infância e os transtornos alimentares. 
Já Borges e Dell’ Aglio, 2008, além de citarem os transtornos anteriores, 
acrescentam os transtornos psicossomáticos e comportamento delinquente como 
consequência do abuso sexual infantil. Ressaltam ainda que o transtorno que mais 
se manifesta no abuso sexual é o TEPT. 
Segundo Passarela, Mendes e Mari (2010), os sintomas que mais se 
manifestam nas crianças com TEPT são hipervigilância, déficit de atenção, 
isolamento interpessoal, sintomas dissociativos, irritabilidade, comportamento 
agitado, mostrando-se em certos momentos agressivas. Além disso, a este 
transtorno associam-se comorbidades como transtornos depressivos e ansiosos, 
déficit de atenção e hiperatividade e uso de substâncias psicoativas (principalmente 
adolescentes). Aponta-se também que crianças vítimas de abuso sexual e que 
desenvolveram TEPT apresentam um desempenho pobre em testes 
neuropsicológicos que avaliam atenção e raciocínio abstrato/funções executivas 
(BORGES e DELLl’AGLIO, 2008). 
Da mesma forma, Habigzanget al. (2008) também cita o TEPT como a 
psicopatologia que mais se desenvolve através dos seguintes comportamentos 
observados: (1) experiências recorrentes ao evento traumático que se manifestam 
através de sonho, angústia, comportamento de reconstituição, 
 
 
8
(2) evitação e entorpecimento de pensamentos e lembranças do trauma, 
amnésia psicogênica, desligamento e (3) excitação aumentada, verificada 
por meio de transtorno do sono, irritabilidade, raiva, dificuldade de 
concentração, hipervigilância, resposta exagerada de sobressalto e 
resposta autônoma a lembranças traumáticas. (p. 287) 
Já o comportamento delinquente citado anteriormente, pode se desenvolver 
devido um transtorno de conduta visto como: 
uma estratégia usada como resistência pela criança que sofreu o abuso, 
que passa de vítima a algoz por colocar em risco outras pessoas, que passa 
a sentir o poder de destruir ante seu sentimento de destruição interna. Uma 
tentativa de não sucumbir em sua subjetividade. (AMARO, 2003 p. 78) 
JáNogueira (2001), aponta para a angústia de aniquilação que é provocada 
pelas violências, vistas como algo que favorecem ações defensivas destrutivas por 
não encontrar outras formas de simbolização. As atitudes transgressoras de insultar 
os outros é a forma possível e utilizável pela criança para não perder a noção de 
sujeito como contraposição à invisibilidade que caracteriza o abandono, 
principalmente nas situações de crianças institucionalizadas (ORIENTE e SOUZA, 
2005). 
Winnicott (1999) apud Boarati, Sei e Arruda (2009) também cita o 
aniquilamento como uma formade angústia que se manifesta devido as falhas 
ambientais que podem acarretar posteriormente dificuldades com tendências anti-
sociais. Para Winnicott a etapa da dependência relativa da criança com o seu meio é 
fundamental e quando suas necessidades não são atendidas podem ocorrer as 
dificuldades citadas acima. Porém, “a tendência anti-social acaba sendo considerada 
como um sinal de desesperança que o meio possa voltar a oferecer os cuidados um 
dia recebidos, mas pontua que quando esta tendência não é compreendida, pode 
caminhar rumo à delinquência.” (p. 428) 
Zuwick (2002) cita em um dos seus artigos, histórias de crianças que 
sofreram o abuso sexual e que foram abrigadas. A autora considera que a conduta 
violenta fica mais evidente nas crianças que sofrem as consequências do abuso e 
da abrigagem inadequada. O seu convívio social e relacional torna-se mais difícil, 
como também, a reorganização da sua subjetividade. Em um dos seus casos 
exemplifica que a instituição tornou-se uma casa/prisão já que ninguém queria a 
criança abusada na família devido às condutas inadequadas, impossibilitando-a de 
conviver e de se desenvolver inserida numa família. Para tanto, de vítima passou a 
 
 
9
ser punida e a violência não se extinguiu após ser separada do agressor, pois 
continuava internamente e explodia violentamente. 
A violência sexual também é praticada muitas vezes contra as crianças 
portadoras de deficiências. Desta forma, Pfeiffer e Salvagni (2005), descrevem a 
importância de oferecer uma atenção especial para estes casos, pois muitas vezes 
acabam apresentando sintomatologias que são confundidas como fazendo parte do 
quadro da doença principal. Pelo extremo grau de dependência, estas crianças 
acabam sendo mais vulneráveis para sofrerem diferentes violências, dentre elas, o 
abuso sexual. No caso dos deficientes mentais, que tem sua idade mental inferior ao 
desenvolvimento do seu corpo, acabam sendo seduzidas pelo abusador com maior 
facilidade. 
Nas crianças assintomáticas, que acabam não relatando a violência e que 
reprimem sintomas, o risco também deve ser considerado. A criança que sofreu o 
abuso sexual está em constante risco de desenvolver e manifestar sintomatologias 
no decorrer do ciclo vital, através dos efeitos em longo prazo. Desta forma, observa-
se que é muito difícil uma criança sexualmente abusada não apresentar sintomas 
em nenhum momento da sua vida (AMAZARRAY e KOLLER, 1998). 
Os sintomas de um abuso sexual infantil, dependendo como e por quem foi 
praticado, podem desaparecer/minimizar após 12 a 18 meses depois do fato 
ocorrido, não persistindo até a fase adulta. Porém, existe uma parcela (10 a 24% 
dos casos) que tendem a piorar a sintomatologia com o decorrer do tempo. A piora 
dos sintomas também pode se dar quando não ocorre a revelação do abuso, já que 
desta forma a vítima acaba não sendo assistida e não recebendo tratamento 
adequado, persistindo muitas vezes a violência, gerando danos difíceis de serem 
revertidos (SANT’ANNA e BAIMA, 2008). 
 
2. ALTERNATIVAS DE TRATAMENTO 
 
Segundo Balbinotti (2008), muitos casos de violência sexual infantil acabam 
focando os seus esforços em investigar os fatos e punir o agressor, deixando de 
lado o sofrimento e as consequências sofridas pela vítima. As investigações 
referentes aos casos de violência sexual precisam ter o cuidado de não produzir um 
dano psíquico maior na vítima, já que ocorrem muitas intervenções e repetição de 
 
 
10
entrevistas, reproduzindo a revitimização.Portanto, aponta-se como sendo 
prioridade, proteger a vítima para após conduzir o caso do abusador. 
As intervenções que devem ser oferecidas à criança são complexas e 
precisam ser planejadas. Pois, o impacto que este tipo de violência causa, afeta a 
vítima e o ambiente que ela vive, sendo necessárias mudanças no ambiente 
imediato, disponibilidade de rede de apoio social e afetiva, como também de 
proteção. 
Aponta-se também para a importância de abordar de forma individual cada 
caso de violência sofrida por uma criança, não tendo uma receita pronta para se 
seguir. Considerar que a sua subjetividade não é uma construção individual, mas 
sim uma constituição realizada no social. Todas as pessoas que trabalham com 
vítimas de violência sexual e as pessoas que frequentam o seu meio, tem um papel 
fundamental para a ressignificação psíquica das mesmas. 
Portanto, inicialmente, as primeiras tarefas dos profissionais no tratamento da 
criança que sofreu a violência sexual, como também da família, é vincular-se e 
mostrar confiança para os mesmos. Já para Muram (1995) apud Souza, Assis e 
Alzuguir (2002), as maiores tarefas no tratamento é fortalecer o ego, melhorar a 
auto-imagem e ensinar a criança a poder novamente confiar nos outros, conseguir 
sentir-se segura. 
É necessário levar em conta, que muitas vezes, existem casos onde crianças 
vítimas de abuso sexual tem muita dificuldade de manter uma relação de confiança 
para com o profissional que irá tratá-lo. Isso ocorre, grande parte das vezes, devido 
à relação de afeto e confiança que a criança tinha com o agressor e que passa a ser 
uma relação muito dolorosa, de quebra de vínculo. As fantasias referentes às suas 
relações de afeto, que passaram a ser dolorosas, podem se estender as suas 
demais relações (HABIGZANGet al., 2008). Para melhor conduzir os casos e 
oferecer um profissional mais indicado, vale ressaltar que as crianças vítimas podem 
apresentar resistência frente profissionais de figura masculina no caso do abusador 
ter sido um homem, e resistência ao profissional de figura feminina, caso tiver sido 
uma mulher. 
Outro cuidado relevante é acrescentado por Silvares e Gongora (1998) apud 
Habigzanget al. (2008) referente ao sigilo. Para estes autores é importante que os 
profissionais não prometam segredo frente às informações prestadas pela criança. 
 
 
11
Justificam a necessidade de não reforçar a dinâmica do segredo que vitimiza a 
criança e pelo fato destas informações, por questões éticas, precisarem ser 
informadas para órgãos e familiares que promovam a proteção da vítima. Portanto, 
caso houver a promessa de sigilo e a mesma for quebrada, irá reforçar para a 
criança a percepção de que as pessoas não são confiáveis. 
A criança durante o tratamento deve compreender a sua condição de vítima, 
trabalhando o sentimento de culpa, ressignificando a violência, não pegando para si 
a culpa do fato ocorrido. O reconhecimento da falha como decorrente do outro é 
essencial para a conservação de um sentido de existência e reconstituição da 
imagem corporal muitas vezes dilacerada nos casos de violência sexual (BOARATI, 
SEIe ARRUDA, 2009). 
Habigzanget al. (2008), aborda em um de seus artigos sobre violência sexual, 
a entrevista clínica e a importância da mesma ser bem encaminhada para evitar a 
revitimização da criança. Para tanto, é necessário que os profissionais sejam 
qualificados para poderem abordar questões contextuais, históricas sociais, 
emocionais do abuso sexual e os fatores de risco e proteção presentes no caso. 
A entrevista clínica não pode se caracterizar um interrogatório referente à 
violência, mas tornar-se um diálogo espontâneo que permita e facilite a expressão 
da criança. Para isso, considera-se fundamental avaliar a linguagem da criança, 
podendo usar como recurso um vocabulário infantil, principalmente para referirem-se 
às zonas anatômicas e/ou práticas abusivas, evitando palavras vulgares e 
grosseiras. Além disso, evitar perguntas repetidas que podem levar a criança a 
interpretar como sendo que suas respostas não são adequadas, sendo possível a 
mudança do seu discurso, ou mesmo, levando a pensar que o profissional não está 
prestando atenção nos seus relatos. Permitir que a criança também não responda a 
certos questionamentos, pois aquele talvez ainda não seja o momento dela estar 
falando sobre determinadas situaçõesdo abuso sexual sofrido. A entrevista precisa 
delimitar alguns objetivos, para que os dados obtidos possam servir para as 
intervenções necessárias do caso (HABIGZANGet al., 2008). Além disso, a 
entrevista clínica exige dos profissionais habilidades importantes. Destaco dentre 
elas 
habilidades não verbais, tais como expressão facial, voz, postura corporal e 
gestos. Algumas das habilidades mais citadas são: voz modulada, suave e 
firme, olhar direto e seguro para a criança, sorriso ocasional, velocidade 
 
 
12
moderada da fala, gestos ocasionais das mãos (SILVARES e GONGORA, 
1998 apud HABIGZANG et al., 2008, p. 288). 
 
Conforme estudo de Deblinger (1990) apud Souza, Assis e Alzuguir (2002) 
com crianças que apresentavam TEPT, as mesmas mostravam melhoras na 
exposição gradual frente as suas vergonhas e ansiedades referentes ao abuso 
sexual. Este estudo visava “desfazer a associação entre ansiedade/vergonha e 
pensamentos relacionados ao abuso, através de repetida exposição a estes temas, 
para que as respostas tranquilas passem a se associar aos estímulos antes temidos” 
(p. 114).Usaram-se também de educação e prevenção do abuso sexual, e 
enfrentamento das emoções e das ansiedades, através da expressão das mesmas. 
A Terapia Cognitiva Comportamental (TCC) para crianças que apresentam 
TEPT devido à violência sexual tem demonstrado bons resultados no pós-
tratamento. Conforme Passarela, Mendes e Mari (2010) a TCC trabalha: focada no 
trauma através da exposição gradual, com crenças e pensamentos negativos, evoca 
memórias de conteúdos traumáticos através da psicoeducação, enfrentamento 
(coping) e reestruturação cognitiva. A TCC tem demonstrado resolutividade na 
redução dos sintomas de ansiedade, depressão e problemas comportamentais 
decorrentes da violência. 
Já o Ambulatório de Psicoterapia de Crianças e Adolescentes do Hospital de 
Clínicas da Unicamp em São Paulo trabalha o abuso sexual através de um 
referencial psicodinâmico onde realizam avaliações psicológicas, semanalmente 
psicoterapia individual ou grupal e orientação aos pais. O processo psicoterápico 
não tem prazo de término, e sim, o mesmo é oferecido conforme a demanda da 
vítima. Neste espaço que é público, cada criança tem sua caixa lúdica individual que 
representa simbolicamente o mundo interno da mesma. A criança expressa através 
de o seu brincar, com jogos, desenhos e brinquedos, os seus medos, fantasias e 
angústias, conforme propõe a Psicanálise (BOARATI, SEI e ARRUDA, 2009). 
A criança tem dificuldades de expressar a violência sofrida, principalmente 
quando ainda não está vinculado com o profissional, como já citado. Porém, 
observa-se como sendo favorável psicologicamente a expressão dos sentimentos de 
forma lúdica. Como defende Alvarez (1994) apud Boarati, Sei e Arruda (2009, p. 
429), “o processo de aprendizagem da aceitação da dor, da perda, do trauma ou do 
abuso é complexo, longo, nem sempre visível e com certeza não necessariamente 
 
 
13
verbalizada.” Portanto, o brincar da criança é uma das ferramentas fundamentais de 
externalização dos traumas vividos, para além da palavra, já que a mesma nem 
sempre consegue, conforme sua faixa etária, simbolizar e verbalizar seus 
sentimentos. 
Já Araújo (2002) defende a terapia familiar como sendo a mais adequada 
para o atendimento das consequências do abuso sexual infantil, envolvendo toda 
família, como também o agressor. Porém, considera que a maior dificuldade 
encontrada é de transformar a indicação numa demanda. Para a realização do 
trabalho do grupo familiar a autora cita Pichon-Reviere que trabalha com o enfoque 
operativo, desenvolvido pelo enfoque psicossocial, buscando oferecer um espaço de 
acolhida e reflexão para buscar alternativas para os problemas e não a negação dos 
mesmos. Neste momento a família redefine papéis, funções e responsabilidades, 
rompendo silêncios e restabelecendo a comunicação entre os membros desta 
família para desenvolver a “adaptação ativa”. 
A “adaptação ativa” configura-se o momento onde a família alcança insights, 
consciência sobre os fatos, sobre a estrutura e a dinâmica familiar, desempenha 
seus papéis e busca processos de comunicação, interação e aprendizagem com o 
meio (PICHON, 1994 apud ARAÚJO, 2002). 
A terapia familiar através do grupo operativo, conforme Araújo (2002) precisa 
levar em consideração o fator gênero para entender as relações de poder dentro da 
família que podem formar desigualdades de dominação-exploração. Além disso, 
identificar crenças, valores, resistências e possíveis capacidades de mudanças, 
abrindo desta forma, espaços de expressão dos membros desta família e 
consecutivamente construir estratégias de intervenção. Ressalta que este 
atendimento é familiar, portanto: 
O atendimento individual do agressor ou da criança que sofreu abuso 
sexual infantil, embora necessário, é de pouca valia em termos de 
transformação da realidade familiar, pois se restringe aos diretamente 
envolvidos. Essa conduta, de certa forma, mantém o segredo familiar no 
âmbito dos seus principais protagonistas – a criança (vítima primária), a 
mãe (vítima secundária) e o autor do abuso, enquanto o restante da família 
pode continuar partilhando o segredo à distância, sem se envolver 
diretamente.(p. 9) 
 
 
 
 
14
3. METODOLOGIA 
 
O método utilizado foi através da revisão bibliográfica e análise de conteúdo. 
Foram utilizadas 22 bibliografias referente violência sexual infantil. O material 
bibliográfico é composto por artigos nacionais pesquisados na base de dados da 
Biblioteca Virtual em Saúde entre o período de 1993 a 2012. 
 
4. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 
 
A partir da revisão bibliográfica realizada nos artigos que abordam a temática 
da violência sexual infantil, é visível que os mesmos apontam para uma grande 
quantidade de sintomas e consequências que não perpassam apenas na vida da 
criança, como também, em todo o ambiente em que a mesma está inserida. 
Além disso, observa-se que esta violência sempre vem acompanhada por 
diversos outros problemas, e que a mesma não ocorre como um fato isolado. 
Configura-se como uma reprodução das falhas já existentes nas estruturas 
familiares. Estas falhas podem se manifestar de geração em geração, sendo 
extremamente necessária a interrupção deste ciclo de violências. 
A manifestação e o grau de severidade dos sintomas da violência sexual na 
criança irão variar conforme a forma como aconteceu a violência, por quem foi 
praticada, a estrutura familiar e as possibilidades de suporte da mesma para com a 
vítima, e as formas de tratamento que serão disponibilizadas. Portanto, encontram-
se muitas literaturas que descrevem a necessidade de implicar estratégias de 
intervenção para os familiares da vítima, para que os mesmos consigam auxiliar da 
melhor forma possível, evitando a intensificação dos sintomas. 
Já referente à criança, vítima de abuso sexual, que não apresentar sintomas 
externos ou se esses são de pouca relevância, isto não quer dizer que ela não sofra 
ou não venha a sofrer com os efeitos dessa experiência. Ela pode apresentar um 
sofrimento emocional muito intenso. Além disso, suas consequências podem estar 
ainda latentes e talvez se manifestem posteriormente, frente à resolução de uma 
crise evolutiva ou situacional e frente ao estresse. Dessa forma, uma criança que 
sofreu abuso sexual deve ser considerada uma criança em situação de risco 
(AMAZARRAY e KOLLER, 1998). 
 
 
15
Da mesma forma, o artigo traz uma atenção especial para as crianças 
portadoras de deficiências, pois os sintomas da violência sexual infantil podem ser 
confundidos com os da deficiência. A partir disso, tanto as crianças assintomáticas 
como as portadoras de deficiências, muitas vezes, acabam não recebendo 
intervenções necessárias e adequadas as suas demandas. 
As literaturas pesquisadas descrevem a possibilidade de manifestação de 
transtornosmentais que persistem na fase adulta como consequência da violência 
sexual sofrida. Dentre os transtornos, o que mais se manifesta é o TEPT, e o mesmo 
ainda pode apresentar certas comorbidades. Já nas crianças institucionalizadas ou 
que recebem pouco suporte familiar observa-se a prevalência de transtornos que 
envolvem maior agressividade (a si e aos outros), até porque as mesmas acabam 
sendo revitimizadas constantemente. 
Portanto, a reprodução das violências, tanto se torna uma consequência 
grave, como uma forma encontrada pela vítima de suportar o dano sofrido. Um 
mecanismo de defesa que tenta novamente reestruturar a criança, principalmente 
quando o seu ambiente familiar não oferece condições para isso. Existe uma 
espécie de aprendizado de uma conduta inadequada, sendo a única conhecida pela 
vítima. Desta forma, esta vítima acaba tanto podendo externalizar esta violência 
projetando nos outros, como também em si própria, através da autodestruição, 
ideação, plano e tentativa de suicídio. 
Observa-se que a violência sexual infantil é um grave problema de saúde 
pública, que compromete várias vítimas, pois além da criança, acaba 
comprometendo seu ambiente familiar. Para tanto, mostra-se necessário um 
tratamento amplo e complexo.Porém, poucos artigos brasileiros foram encontrados 
que abordassem intervenções e formas de tratamento para esta temática. Dos 
artigos encontrados, as experiências citadas como possíveis formas de tratamento 
da violência sexual infantil são de Abordagem Psicanalítica, a Terapia Familiar e a 
Terapia Cognitiva-Comportamental (TCC). Dentre elas, estudos da autora 
Habigzang avaliam se a Terapia Cognitiva-Comportamental apresenta eficácia para 
o tratamento de vítimas da violência sexual que desenvolveram TEPT, e os mesmos 
apontam resultados significativos na minimização ou extinção dos sintomas. 
Das abordagens citadas no artigo, acredita-se que as três são essenciais para 
tratar este problema e auxiliar na reconstituição da subjetividade da vítima. A TCC 
 
 
16
trabalha muito bem as crenças falsas existentes frente o abuso, os sentimentos de 
culpa, medos da vítima e da família. A Psicanálise permite a ressignificação do 
sujeito e a projeção da violência, principalmente através do brincar e a Terapia 
Familiar que trabalha principalmente a reconfiguração dos papéis e os segredos 
familiares existentes. Quando é citada a Terapia Familiar, a mesma é realizada em 
conjunto com o abusador, porém, acredita-se não ser nada terapêutico e favorável 
para a vítima e sua família. Isto não quer dizer que o abusador não necessite de 
atendimento especializado, porém, de forma isolada. 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
As marcas da violência sexual infantil, numa significativa parcela de vítimas, 
ficarão presentes para o resto da vida. Para tanto, é necessário instigar políticas 
públicas eficientes que não fiquem apenasintervindo na situação de violência, mas 
sim políticas que possam oferecer profissionais, ambientes e formas de manejo 
adequadas, tanto para não intensificar a violência sofrida, como também, 
tratamentos especializados para a vítima, sua família e para o próprio abusador, já 
que este último, em muitos casos também já sofreu algum tipo de violência. Desta 
forma, considera-se que toda intervenção e prevenção devem centrar-se na família e 
não constituir-se de forma fragmentada. 
Embora estejamos ainda muito presos as diferentes imposições de poder, 
precisamos romper com a naturalização da dominação do adulto para com a 
criança, que se dá de forma tão cruel. Isto não se inscreve na natureza humana 
como uma fatalidade, ou seja, ninguém nasce abusador de crianças, é uma carreira 
que vai sendo construída com o tempo e socialmente (re)produzida. Da mesma 
forma, também pode ser desconstruída socialmente. 
Para tanto, devemos incessantemente seguir pesquisando e intervindo 
terapeuticamente nestas situaçõespara que cada vez mais as crianças não 
necessitem interromper suas infâncias e inscreverem-se socialmente como vítimas, 
e, consequentemente, possíveis reprodutoras de violências. 
Desta forma, coloca-se a urgente necessidade de ampliar olhares para a 
Saúde Mental na Infância, oferecendo assim maiores possibilidades para o “menino 
 
 
17
da cabecinha boa” seguir o rumo de sua vida, sem permitir que “a onda lenta e fria” 
leve a coisa mais preciosa de sua vida (infância) e mude o rumo de sua história. 
 
THE SCARS OF PUERILE SEXUAL VIOLENCE AND TREATMENT 
ALTERNATIVES 
 
The present final essay aims to discuss the main symptoms and 
consequences suffered by children who are sexual violence victims, as well as 
possible interventions and treatment ways for those cases. Therefore the literature 
review and the content analysis had been used as a searchable methodology. The 
results indicated an enormous quantity of consequences and symptoms originated 
from the sexual violence which change the child’s life and family in a significant 
manner, the outcomes might be in the rest of the child’s life, mainly when they are 
untreated. If referring to the interventions and the alternatives for treating the violence 
marks, it can be concluded that the Cognitive-Behavioral Therapy (CBT), the 
Psychotherapy of Analytical Guidance and the Familiar Therapy are the most 
mentioned. 
 
Keywords: Sexual violence. Children.Consequences.Treatment. 
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