Logo Passei Direto
Buscar
Material
páginas com resultados encontrados.
páginas com resultados encontrados.

Prévia do material em texto

Abusadores Sexuais de Crianças: O que eles sentem? 
Autores: Mariana Pereira Amanda Angonese | Publicado na Edição de: Julho de 2015 
Categoria: Psicologia Clínica 
 
Resumo: Os abusadores sexuais normalmente são vistos como indivíduos sem 
caráter, que devem ser imediatamente punidos pelos atos cometidos. Entretanto, 
é preciso que seja dada uma maior atenção a eles, considerando os sentimentos 
que os levaram a cometer tal situação. O abuso sexual em crianças é 
considerado como um grave problema de saúde mundial, tanto pela sua 
prevalência, que advém de muitos anos, como também pelo tamanho de seu 
impacto na vítima, no próprio abusador, na família, bem como na sociedade. Os 
maus-tratos a crianças ocorrem em todo o mundo e de diversas formas, sendo 
que o abuso sexual é considerado o que mais traz danos às crianças, sejam 
estes físicos ou psicológicos. Sob essa perspectiva e sabendo-se que este tipo 
de crime é cada vez mais frequente na sociedade atual, realizou-se um estudo 
sobre os sentimentos do abusador sexual de crianças, antes e após o abuso, e 
posteriormente à condenação. O método utilizado para esta pesquisa foi a 
versão de sentido com base em um único caso, fazendo-se uso do estudo de 
caso para a análise dos resultados. Entrevistou-se um homem que se encontrava 
em uma penitenciária do oeste catarinense, cumprindo pena por abuso sexual. 
No decorrer do estudo foram notáveis os sentimentos do abusador, sendo que a 
sensação de estar sendo condenado injustamente foi aquele que mais se 
sobressaiu, bem como sua versão confrontando com o conteúdo encontrado nos 
prontuários, indicando que o abusador apresenta uma distorção dos fatos 
ocorridos. 
 
Palavras-chave: Abusador, Crianças, Sentimentos, Abuso Sexual Infantil. 
 
Introdução 
Atualmente o abuso sexual infantil é considerado um grave problema de saúde 
pública tanto pela elevada prevalência do fenômeno, quanto pelo seu impacto 
deletério no indivíduo, nos familiares e na sociedade (HABIGZANG; CAMINHA, 
2008). Os maus-tratos a crianças ocorrem em todo o mundo e de diversas 
http://psicologado.com/atuacao/psicologia-clinica/abusadores-sexuais-de-criancas-o-que-eles-sentem
https://psicologado.com/edicoes/07/2015
http://psicologado.com/atuacao/psicologia-clinica/
formas, uma vez que, o abuso sexual é considerado o que mais traz danos às 
crianças, sejam físicos ou psicológicos. 
 
Esta pesquisa foi desenvolvida sobre quais são os sentimentos do abusador 
sexual após o julgamento, bem como, qual é a percepção do mesmo após ser 
condenado. As questões norteadoras deste estudo, foram investigar os 
sentimentos do abusador antes do abuso sexual, analisar os sentimentos do 
abusador após o julgamento, bem como qual a percepção dos seus atos após 
ser condenado, constatar a incidência de repetição de abusadores que já foram 
abusados e também verificar os motivos que levaram o abusador a cometer o 
ato. No senso comum, o abusador é visto como um indivíduo sem caráter que 
deve ser imediatamente punido pelos atos cometidos. Entretanto, é preciso que 
seja dada uma maior atenção à eles, considerando os sentimentos que o 
levaram a cometer tal situação, bem como, constatar se há a incidência de 
repetição de abusadores que já foram abusados. 
 
É necessário entender que a pesquisa é voltada para os sentimentos do 
abusador após o julgamento, pois considerando que, quando acontecem casos 
de abuso sexual, geralmente a atenção é voltada para o abusado, sendo que o 
abusador muitas vezes é desconsiderado. O foco principal deste estudo é dar a 
devida atenção ao abusador, que procurou entender qual é a sua visão e 
sentimentos na atualidade sobre o abuso sexual e após, ter sido condenado por 
este crime. 
 
Segundo os autores Azevedo e Guerra (2000, p.42), o conceito de abuso sexual 
está longe de ser preciso, mas, pode ser definido como todo ato ou jogo sexual, 
sendo relações heterossexuais ou homossexuais, entre um ou mais adultos e 
uma criança menor de 18 anos, com a finalidade de estimular sexualmente a 
criança ou utilizá-la para obter uma estimulação sexual. Em relação ao abuso 
sexual em crianças Sanderson (2008, p.1), cita que, o abuso sexual em crianças 
é de natureza social, tendo em vista que é influenciado de maneira intensa pela 
cultura e tempo histórico em que ocorre, o que dificulta estabelecer uma 
definição aceita universalmente. 
Fundamentação Teórica 
 
Abuso Sexual em Crianças 
A prática de abusos sexuais e maus-tratos foram bastante aceitos até o século 
XVIII. A partir de então ocorreram mudanças nas atitudes em relação ao abuso 
sexual em crianças. Com as reformas humanísticas, religiosas e políticas 
associadas com a renascença, as práticas de abuso sexual foram mantidas sob 
controle. Assim, manter meninos e meninas para que tivessem relações sexuais 
com adultos tornou-se um ato não aceito pela sociedade, sendo este totalmente 
proibido. Então, a família começou a se moldar e a criança ganha destaque tendo 
como princípio a educação, o carinho e a compreensão. Isso, no entanto, não 
significa que o abuso sexual em crianças não mais exista (SANDERSON, 2008). 
 
De acordo com Sanderson (2008), o abuso sexual em crianças é definido pelo 
envolvimento de crianças e adolescentes dependentes em atividades sexuais 
com um adulto ou com qualquer pessoa um pouco mais velha ou maior, em que 
haja uma diferença de idade, de tamanho ou de poder. Nestes casos a criança 
é usada como objeto sexual para a gratificação das necessidades ou dos 
desejos, para a qual ela é incapaz de dar um consentimento consciente por 
causa do desequilíbrio no poder, ou de qualquer incapacidade mental ou física. 
 
Ainda cita que incorporados nessa definição estão todos os tipos de encontros 
sexuais e comportamentos que abrangem aliciamento sexual, linguagem os 
gestos sexualmente sugestivos, uso de pornografia, voyeurismo, exibicionismo, 
carícias, masturbação e penetração com os dedos ou pênis. Ela inclui quaisquer 
atos sexuais impostos á criança ou ao adolescente por qualquer pessoa dentro 
do âmbito da família, ou fora dela, que abuse de sua posição de poder e 
confiança. 
 
Como o abuso em crianças é de natureza social e cultural, deve ser considerado 
que há muitas inconsistências entre as culturas em relação á definição precisa 
do que constitui abuso. No entanto, a definição de abuso sexual em crianças que 
será utilizada como conceito norteador deste estudo será: 
Forçar ou incitar uma criança ou um jovem a tomar parte em atividades sexuais, estejam ou 
não cientes do que está acontecendo. As atividades podem envolver contato físico, incluindo 
atos penetrantes (por exemplo estupro ou sodomia) e atos não-penetrantes. Pode incluir 
atividades sem contato, tais como levar a criança a olhar ou produzir material pornográfico 
ou a assistir a atividades sexuais ou encorajá-la a comportar-se de maneiras sexualmente 
inapropriadas (DEPARTAMENTO DA SAÚDE DO REINO UNIDO, 2003 apud 
SANDERSON, 2008, p.4). 
 
O abuso sexual em crianças é de grande impacto no Brasil e no mundo, seus 
efeitos sobre os abusados bem como, sobre os abusadores, implicam em uma 
série de situações das quais geram inúmeras seqüelas em ambos. 
 
2.2 A Pedofilia 
Para Carvalho, Dias e Vieira (2011) a pedofilia é qualificada como um distúrbio 
psíquico caracterizado por fantasias sexualmente excitantes, recorrentes e 
intensas, impulsos sexuais ou comportamentos envolvendo atividades sexuais 
com crianças, geralmente, de treze anos ou menos, ao longo de um mínimo 
período de seis meses. Tais fantasias, impulsos ou comportamentos causam 
sofrimento cinicamente significativo, prejudicando o funcionamento social, 
ocupacional ou de outras áreas importantes na vida do pedófilo. 
 
O pedófilo deve possuir no mínimo dezesseis anos e ser pelo menos cinco anos 
mais velho que a criança. No entanto, não se deve incluir indivíduos no final da 
adolescênciaenvolvidos em um relacionamento sexual contínuo com uma 
criança de doze ou treze anos de idade, antes de fazer qualquer julgamento 
clínico levando em consideração tanto a maturidade sexual da criança quanto a 
diferença de idade (CARVALHO; DIAS; VIEIRA, 2011). 
 
A maioria dos pedófilos são conhecidos, ainda que não tenhamos consciência 
de que eles abusam sexualmente de crianças: 
Normalmente, eles são confiáveis, não parecem oferecer perigo e, por causa disso, 
representam um perigo muito mais sinistro para nossas crianças, visto que permanecem 
não identificados. Há um sutil equilíbrio entre demonizar os pedófilos, o que instila medo nas 
crianças, e proporcionar-lhes conhecimento suficiente para que se sintam seguras e 
protegidas em sua comunidade. Pais, professores e outros profissionais podem facilitar esse 
equilíbrio. Quanto mais bem informados os adultos estiverem sobre pedófilos, com mais 
eficiência poderão preparar as crianças para que fiquem seguras (SANDERSON, 2008, p. 
55). 
 
De acordo com Carvalho, Dias e Vieira, (2011, grifo do autor) os pedófilos podem 
ainda praticar os atos a partir de anseios, ou seja, podem agir de forma que as 
suas atividades consistam em despir e observar a criança a exibir-se, masturbar-
se na presença da mesma ou tocá-la e afagá-la. Outros podem realizar sexo 
oral, penetrarem na vagina, boca ou ânus da criança com seus dedos, objetos 
ou pênis, sendo muitas vezes utilizados atos violentos. Assim, pode-se dizer que, 
na maioria das vezes, a pedofilia se manifesta juntamente com outras 
práticas parafílicas, tais como: voyeurismo, exibicionismo e sadismo por 
exemplo. 
 
Para Carvalho, Dias e Vieira (2011) podemos perceber que não há o pedófilo 
conforme é instituído pelos diagnósticos clínicos, mas sim abusadores sexuais 
com distintas constituições psíquicas. Compreende-se que abusadores sexuais 
podem ter diversas características em comum, porém, algumas serão 
identificadas em mais que um abusador, e outras podem ser desconhecidas os 
diagnósticos clínicos. 
 
2.3 O Abusador Sexual 
O abusador sofre de uma síndrome de adição, muito semelhante à de drogados, 
só que para ele a “droga” é uma criança ou adolescente essencialmente 
dependente, que deixa de ser vista como uma pessoa e passa a ser apenas um 
instrumento de excitação. As pessoas que abusam sexualmente de menores 
sabem que isso é um crime e que está prejudicando o menor, apesar disso, ele 
continua com a prática do abuso sexual, que como outras adições, não criam 
uma experiência prazerosa, porém serve como alívio de tensão. A pessoa que 
abusa sexualmente não assume a sua dependência, mas tentar parar pode levar 
aos sintomas de abstinência como a ansiedade, irritabilidade e agitação 
(SCHIMICKLER, 2006 apud PREDEBOM, 2008). 
 
O abusador possui dúvidas sobre sua competência como pessoa. Falta 
confiança em si mesmo como homem, tanto na área sexual quanto não-sexual 
(WRIGHT, 2002 apud PREDEBOM, 2008). Marques (2007 apud PREDEBOM, 
2008) nos diz que o abusador pode ser tanto homossexual, heterossexual ou 
bissexual, que por não conseguirem seduzir seus parceiros, vêm à necessidade 
de abusar. 
 
Muitos dos abusadores, quando crianças ou adolescentes, também foram 
abusados sexualmente, outras podem ter desenvolvido perturbações da 
personalidade por que sofreu algum tipo de abuso e privação emocional. A cada 
oito crianças abusadas sexualmente, uma repetirá o comportamento quando 
tornar-se um adulto. Esse tipo de atitude acontece porque o indivíduo não 
consegue vivenciar conscientemente os atos ruins que aconteceram na infância. 
Somente quando o indivíduo conseguir vivenciar o seu sofrimento da infância 
poderá perceber as manipulações que faz com os outros, e não terá mais tanta 
necessidade de manipular os outros (JESUS, 2006 apud PREDEBOM, 2008). 
Sanderson (2008) cita que alguns abusadores sexuais foram vítimas de abuso 
sexual em crianças. Glasser et al. (2001, apud Sanderson, 2008) aponta um 
estudo clínico recente que descobriu que 35% dos abusadores sexuais de 
crianças do sexo masculino tiveram história de abuso sexual e que a maioria 
deles foi abusada por um parente do sexo feminino. 
 
2.4 Abusadores Sexuais de Crianças 
Em décadas anteriores, pais, professores, e crianças eram avisados para 
“tomarem cuidado com desconhecidos” e instruídos a ficar atentos a estranhos 
que costumavam rodar praças e parques. Pensava-se, com frequência, que 
esses poderiam ser facilmente identificados como “velhotes sujos vestidos com 
uma capa de chuva”. Hoje em dia, precisamos advertir as crianças não apenas 
sobre estranhos, mas também sobre adultos que podem ser seus conhecidos 
em sua comunidade ou em sua vizinhança. O objetivo disso não é instilar medo 
e suspeita na criança, de maneira que ela tenha receio até de sair na redondeza, 
mas, permitir que ela fique mais atenta a perigos potenciais (SANDERSON, 
2008). 
 
Para Sanderson (2008), abusadores sexuais de crianças precisam ter acesso a 
elas. Eles precisam instilar um laço de segurança e confiança tanto nos pais 
quanto nos professores e nas crianças, para definir suas vítimas e aliciar a 
criança que desejam. Se parecerem estranhos ou suspeitos, para eles será mais 
difícil encontrar uma vítima. Os pedófilos se esforçam para parecer o mais 
normal possível e assim amainar quaisquer medos ou suspeitas que adultos e 
crianças possam ter. 
 
O agressor usa da relação de confiança que tem com a criança ou adolescente 
e de poder como responsável para se aproximar cada vez mais, praticando atos 
que a vítima considera inicialmente como de demonstrações afetivas e de 
interesse. Essa aproximação é recebida, a princípio, com satisfação pela 
criança, que se sente privilegiada pela atenção do responsável. Este lhe passa 
a ideia de proteção e que seus atos seriam normais em um relacionamento de 
pais e filhas, ou filhos, ou mesmo entre a posição de parentesco ou de 
relacionamento que tem com a vítima (PFEIFFER; SALVAGNI, 2005). 
 
De acordo com Pfeiffer e Salvagni (2005) as abordagens, que se tornam cada 
vez mais frequentes e abusivas, levam a um sentimento de insegurança e 
dúvida, que pode permanecer por muito tempo, na dependência da maturidade 
da vítima, de sua estrutura de valores e conhecimentos, além da possibilidade 
ou não que teria de diálogo e apoio com o outro responsável, habitualmente 
favorecedor, consciente ou não, da violência. 
 
Segundo Pfeiffer e Waksman (2004) quando o agressor percebe que a criança 
começa a entender como abuso ou, ao menos, como anormal seus atos tentam 
inverter os papéis, impondo a ela a culpa de ter aceitado seus carinhos. Usa da 
imaturidade e insegurança de sua vítima, colocando em dúvida a importância 
que tem para sua família, diminuindo ainda mais seu amor próprio, ao 
demonstrar que qualquer queixa da parte dela não teria valor ou crédito. Passa, 
então, à exigência do silêncio, através de todos os tipos de ameaças à vítima e 
às pessoas de quem ela mais gosta ou depende. O abuso é progressivo; quanto 
mais medo, aversão ou resistência pela vítima, maior o prazer do agressor, maior 
a violência. 
 
Para Sanderson (2008, grifo do autor) o abuso sexual em crianças é algo 
inquestionável. O que está claro é que o impacto não é apenas sexual, mas 
também emocional e psicológico. Muitas crianças sentem-se incapazes de 
confiar em suas próprias percepções sobre o que é e o que não é apropriado. 
Elas não conseguem mais confiar em si mesmas, quanto mais em qualquer 
pessoa. Tornam-se confusas sobre como sentir, se devem ouvir a mágoa e a dor 
ou se devem “curtir” o abuso porque é isso que o abusador deseja. 
 
3. Método 
Os métodos utilizados nesta pesquisa foram a versão de sentido e o estudo de 
caso. A versão de sentido diferencia-se de um informe da sessão (que prioriza a 
descrição objetiva do diálogo desenvolvido ou de uma transcrição de gravação 
dasessão) em que a descrição enfatiza as sensações do terapeuta a partir da 
descrição do vivido, buscando alcançar a essência e a dinâmica do processo; 
portanto, vai muito mais além do simples registro. Pode ser composta tanto por 
percepções do paciente, como de sentimentos de angústia ou de êxito do 
terapeuta supervisionado: as dúvidas, medos e alegrias na solidão da situação 
de atendimento. Registrar o processo psicoterapêutico através da versão de 
sentido significa transformar o estado bruto das sessões em algo com sentido; 
significa fazer emergir uma teorização sobre o vivido, e permitindo a visão mais 
aguda do processo do paciente através da experiência da relação terapeuta-
paciente (MOREIRA, 2001, p.316 apud BORIS, 2008, p. 178). 
 
Segundo Amatuzzi (2001 apud ANGONESE; HAAS, 2009) a versão de sentido 
trata-se da fala, o mais autêntica possível, que tem como referência intencional 
um encontro vivido, pronunciada logo após sua ocorrência. É importante que 
estas falas sejam falas expressivas da experiência imediata, originais e 
espontâneas e não necessariamente um raciocínio, teorização ou relatório. 
 
Para Ponte (1994 apud OLIVEIRA, 2012, grifo do autor) um estudo de caso pode 
ser caracterizado como um estudo de uma entidade bem definida como um 
programa, uma instituição, um sistema educativo, uma pessoa ou uma unidade 
social. Visa conhecer em profundidade o seu “como” e os seus “porquês” 
evidenciando a sua unidade e identidade próprias. É uma investigação que se 
assume como particularista, isto é, debruça-se deliberadamente sobre uma 
situação específica que se supõe ser única em muitos aspectos, procurando 
descobrir o que há nela de mais essencial e característico. 
 
Quanto ao participante desta pesquisa, foi entrevistado um abusador sexual do 
Oeste de Santa Catarina, que já está em cumprimento de pena em uma 
penitenciária da região. Como instrumento de pesquisa foi desenvolvido uma 
entrevista aberta, com base em uma pergunta que conduziu a coleta de dados. 
Para a coleta de dados estabeleceu-se um primeiro contato com a psicóloga 
responsável da penitenciária onde se encontra o abusador. Foi marcada uma 
entrevista inicial para apresentar o projeto á mesma, bem como, explicar o 
processo de reconhecimento e estabelecimento de vínculo entre o participante 
que se encaixa no perfil de abusador sexual infantil com a pesquisadora para 
que então a entrevista pudesse ser desenvolvida e posteriormente transcrita. O 
entrevistado também assinou o termo de consentimento livre e esclarecido, que 
antecedeu a entrevista. 
 
4. Versão De Sentido 
 
4.1 Primeiro Contato 
Neste caso foi o que mais me deixou “abalada” digamos assim, afinal de contas 
ao ler o prontuário, o primeiro pensamento que me veio a cabeça foi, o que um 
senhor de 69 anos, poderia fazer de mal para uma criança. Pois bem, sabemos 
que não é bem assim, ao saber do caso, fiquei mais pensativa ainda ao perceber 
que o senhor era reincidente. 
 
No dia do primeiro contato senti muita pena daquele indivíduo ao saber que ele 
não tinha família, que ninguém vinha visitá-lo e que sua mãe havia falecido a 
pouco tempo, onde os agentes penitenciários queriam levá-lo para vê-la e ele 
por ter que se apresentar a sua mãe algemado preferiu não vê-la. Sua história 
de vida me comoveu bastante, porém, aquele sentimento de desconfiança, de 
as coisas não serem do jeito que ele estava me relatando prevaleceu, como se 
tudo fosse bom demais para ser aquela pessoa que abusou de duas crianças. 
Ao falar de seu passado, e seu presente e de que não tem esperanças de vida 
para o seu futuro começou a chorar, literalmente não consegui ficar sem me 
sentir mal por ter talvez provocado aquela situação, pois ele reviveu tudo o que 
havia acontecido na sua vida para me contar sobre os fatos e com detalhes. 
 
Senti mais medo ao chegar na sala para conversarmos, pois este é um 
presidiário, da ala de regime fechado, onde ele vem para a sala algemado, e fica 
ali conversando e relatando sobre sua vida do mesmo jeito, algemado. Me sentia 
mal, pois, me colocava no lugar dele, estar falando de algo que lhe causa algum 
tipo de lembrança que o comove, o faz chorar, como uma criança e ainda por 
cima algemado, acredito não ser a condição mais apropriada, mas que é uma 
forma de segurança para quem está ali “entrevistando-o”. 
 
4.2 Segundo Contato 
Como neste dia eu já sabia quem iria entrevistar, estava mais tranquila, porém, 
ainda aquele pensamento de que o participante não iria contar a verdadeira 
versão dos fatos ocorridos diante o abuso ainda estava na minha cabeça. Na 
chegada para a entrevista comecei a me sentir mais nervosa e com um pouco 
de medo claro, até pensei que não estava preparada para a entrevista e que 
talvez devesse voltar outro dia, mas como o tempo estava correndo e talvez não 
tivesse outras oportunidades resolvi fazer a entrevista nesse mesmo dia, apesar 
de estar sentindo-me despreparada. 
 
Ao chegar à sala para a entrevista senti que o acusado ficou um pouco tenso por 
ver o gravador, e nessa hora então achei que o mesmo iria desistir da entrevista. 
Após explicar novamente ao acusado como seria a pesquisa, e ler com ele o 
termo de consentimento livre e esclarecido fiquei um pouco mais calma, pois o 
acusado assinou o termo, aceitando a gravação da entrevista. Diante a pergunta 
norteadora não senti nervosismo, e durante a entrevista também não, pois o que 
realmente me preocupava era a questão da gravação da entrevista. 
 
Quando a entrevista se encaminhava para o final fiquei bem mais tranquila de 
que poderia fazer um ótimo trabalho com os dados levantados naquele 
momento. Ao sair da sala onde foi a entrevista parecia que eu estava sentindo 
uma necessidade de falar para o participante da pesquisa que estaria voltando 
ali, pois, fiquei com esse pensamento algum tempo depois, parecia que a 
necessidade de continuar aquela conversa existia em mim, até que comecei a 
escrever a versão de sentido, que aos poucos, conforme fui colocando e 
organizando minhas ideias, essa vontade foi se dissipando aos poucos. 
 
Reescrevendo o sentido: nervosismo; ansiedade; desconfiança; preocupação; 
comoção; desconforto por provocar a emoção no participante; necessidade de 
dar um retorno; tranquilidade. 
 
5. Apresentação e Discussão dos Resultados 
O caso citado é do participante João, 69 anos, que está sendo acusado de abuso 
sexual de uma criança e de uma adolescente. O participante relata que é 
inocente e que seu vizinho o acusou por ter questões pessoais não resolvidas 
entre eles. O caso então discorre sobre a adolescente ser enteada do acusado 
e ter sido abusada quando tinha 14 anos de idade. O acusado relata que não foi 
ele quem abusou da adolescente e sim seu vizinho, que oferecia R$ 50,00 para 
a menina para que ela não falasse nada sobre o que havia acontecido. Após este 
fato, o acusado foi morar em outra cidade para “criar” esta menina, sua enteada, 
e seu filho biológico. Ao voltar para a cidade onde moravam antes de ser 
acusado, um vizinho do mesmo fez uma denúncia de que João havia abusado 
de sua filha, uma menina de 3 anos de idade. Com o passar dos dias, o acusado 
relata que não foi feito exame de perícia na criança e que, por este motivo, ele 
está preso inocentemente, pois não foi comprovado o abuso. 
 
O abuso sexual dentro da família pode incluir tanto o pai biológico ou os 
padrastos, quanto qualquer figura masculina em que a criança deposita 
confiança e para as quais têm algum poder ou autoridade sobre ela. 
(SANDERSON, 2008). Neste caso a vítima era enteada do acusado de abuso 
sexual. Em uma de suas falas, o participante relata que o abusador: 
 
“(...) tinha pegado a minha criada Cecília (...) ela tinha 14 pra 15 anos. Minha 
criada a Cecília. E daí ele disse assim ó, que dava 50 real pra ela né, e daí ela 
falou pra mim né, que não ia ajudar mais”. 
 
Compreende-seque alguns indivíduos com pedofilia ameaçam a criança para 
evitar a revelação dos atos. Outros podem desenvolvem técnicas para ter acesso 
às crianças, obtendo a confiança da mãe, por exemplo. Na fala anterior do 
participante, é possível identificar que seu vizinho, que João considera como 
sendo o verdadeiro abusador, ofereceu dinheiro em troca do silêncio da menina 
após o abuso ter sido acometido. Acredita-se então, que os abusadores sentem 
certo receio de que a vítima fale sobre os fatos do decorrido abuso e que, por 
este motivo, obter a confiança da mãe é uma técnica usada por eles para que 
não sejam “descobertos” em relação aos seus atos. 
 
Segundo dados da entrevista realizada com o João, foi possível identificar a 
essência onde o abuso sexual de crianças e adolescentes acontece mais 
“facilmente” quando o abusador tem acesso a vítima, sendo pai ou padrasto, por 
exemplo. Ainda que a criança tenha depositado confiança no abusador, o abuso 
poderá ter acontecido, pois, neste caso, o abusador dispõe de um ciclo inibido. 
De acordo com Sanderson (2008), no ciclo inibido, o agressor sexual pode se 
tornar bloqueado ou inibido, depois de cometer um abuso sexual e, assim, evitar 
violências sexuais adicionais por certo período de tempo. Nesta fala, o abusador 
ressalta o período em que o acusado abusa de uma vítima primeiro 
(adolescente) e posteriormente de outra vítima (criança): 
 
“Meu sentimento foi esse que, o cara esse que me acuso, Pedro, ele tinha 
pegado a minha criada Cecília, tinha oferecido, na época lá, dinheiro pra ela, pra 
ela se entregar pra ele. E daí como ela veio e se queixo pra mim que ele viu que 
eu ia fazer queixa dele, ele pegou uma criancinha com 3 anos e pouquinho e 
disse, obrigo, deu a ideia pra aquela criança, muito esperta, que era, que era pra 
aquela criança dizer que eu tinha pegado aquela criança, e tentado estrupa.” 
 
Abusadores sexuais de crianças precisam ter acesso a elas. Eles precisam 
instilar um laço de segurança e confiança tanto nos pais quanto nos professores 
e nas próprias crianças, para definir suas vítimas e aliciar o menor que desejam. 
Se parecerem estranhos ou suspeitos, para eles será mais difícil encontrar uma 
vítima. O pedófilo se esforça para parecer o mais normal possível e assim 
amainar quaisquer medos ou suspeitas que adultos e crianças possam ter 
(SANDERSON, 2008). 
 
“E ele pediu pra essa minha filha, minha criada né, fosse lá tira o leite da vaca 
pra ele, daí ela ia né, daí ela foi dizer não vou mais ajudar esse vagabundo lá, 
porque ela contou, que ele tinha oferecido 50 real na época pra ela se entregar 
pra ele, e ela não ia mais.” 
 
Para Sanderson (2008), o ciclo típico de abuso sexual em crianças envolve uma 
série de pensamentos, sentimentos e comportamentos interligados, que 
culminam na violência sexual, e incorpora padrões de comportamentos viciosos 
e compulsivos que estão focalizados na gratificação em curto prazo. O ciclo 
funciona da seguinte forma: predisposição para abusar sexualmente de crianças, 
fantasia e excitação masturbatória, raiva, ansiedade, tédio, depressão estresse, 
pensamento distorcido, comportamentos de alto risco, seleção do alvo, escolha 
da vítima pela idade ou aparência, planejamento, aliciamento da vítima, 
superação da hesitação manifestada pela vítima, início do abuso, manutenção 
do segredo, remorso ou medo de ser descoberto, pensamento distorcido, 
reinterpretação da experiência da criança e da responsabilidade, comportamento 
normalizador, manutenção do comportamento, cuidados para não ser apanhado, 
e intensificação dos abusos para manter o mesmo nível. 
 
Diante a entrevista, alguns traços deste ciclo foram perceptíveis, pois o 
participante descreveu sua visão da realidade com algumas distorções, contou 
muitos detalhes que eram irrelevantes para a entrevista, como por exemplo, 
envolvendo pessoas que não teriam nenhum tipo de participação na mesma. 
Como já citado o trecho onde o participante relata, por várias vezes, que não foi 
ele quem abusou de sua enteada e sim um vizinho, Pedro, que, por ter muita 
raiva do João por ele ter casado com sua ex- esposa, teria então abusado da 
enteada Cecília. Mais tarde também esse mesmo vizinho teria o acusado de 
abuso sexual, de uma criança de 3 anos de idade, onde, relata novamente com 
muitos detalhes e cita por várias vezes o nome Pedro. 
 
Ao analisar essa fala do abusador foi possível perceber que o mesmo gostaria 
de tirar o foco de si mesmo, identificando que o foco deveria ser o Pedro, que na 
versão do participante, é ele o real abusador. Também foi identificado no 
participante, pensamentos distorcidos, característica do ciclo de abuso sexual, 
pois há uma distorção da realidade, ou uma visão distorcida da mesma, onde 
demonstrou grande inquietação (física) em seus relatos na entrevista, e tentou 
fazer com que a pergunta voltasse para o entrevistador, tirando o foco de si 
mesmo, como fez quando falou sobre Pedro. 
 
Diante a entrevista, quando João tenta voltar à pergunta para o entrevistador, é 
possível analisar como se falar sobre o abuso o faria ficar incomodado e 
despertaria nele sentimentos que o lembrariam dos fatos. É compreensível que 
João tenha tentado desviar o foco de si como uma forma de se proteger de seus 
próprios sentimentos, que o lembravam do abuso, e que por este motivo, lembrar 
disto e sentir novamente todas as emoções suscitadas pelo mesmo, o fazem 
sentir-se mal, nervoso, inquieto, como se seus sentimentos o incomodassem de 
tal forma que, falar sobre o abuso sem se defender de seus sentimentos, o 
fizessem confessar o crime. 
 
Entrevistador: E quantos anos o senhor pegou de reclusão? 
 
“Ihh, meu deus do céu, eu até nem sei, porque eu fico sabe, assim, pensando, 
fico muito nervoso, pense bem, com tanta mulher no mundo, eu aposentado, 
será que ia precisar, pense bem, pense bem, será que ia precisar?” (...) Meu, eu, 
é, porque a pessoa que deve né, deve, deve, ta pagando o que deve né bah, e 
assim se, se não deve, pense bem, se coloque no meu lugar, é doído ou não 
é?”. 
 
É possível verificar certo número de distorções cognitivas em que abusadores 
sexuais de crianças se envolvem, especialmente a justificação – negando o 
impacto moral e psicológico do abuso sexual de crianças, distorcendo a 
experiência da vítima, desvalorizando-a ou desumanizando-a (MURPHY, 1990 
apud SANDERSON, 2008). 
 
“se eu criei essa menina desde, desde que tava na barriga da mãe dela, até 14 
anos, nunca tentei, depois de 14 anos, tava casada com um homem, pra te dizer 
bem a verdade, já tava junto com um homem, e eu fui na assistente social e falei, 
ó o negócio é o seguinte ela quer namorar, ela quer sair junto com o cara, e eu 
não posso dizer nada, não posso obrigar, se ela quiser que vá viver”. 
 
Percebe-se que é como se o acusado de abuso sexual justificasse o porquê nega 
esse tipo de experiência e o nível do dano causado, culpando a vítima, como 
uma forma de negar a sua responsabilidade. Para Sanderson (2008), é possível 
pensar que falta aos pedófilos uma percepção das crenças, dos desejos e das 
necessidades das outras pessoas e que eles são incapazes de inferir ou 
interpretar estados mentais alheios. Acredita-se que déficits no processo 
cognitivo se acumulam em torno de descrever, explicar, interpretar, avaliar, 
negar e minimizar experiências alheias. No entanto, essas atitudes podem não 
ser déficits reais, mas, sim, representar distorções habituais e profundamente 
instaladas, o que permite aos pedófilos abusar sexualmente crianças. 
 
O participante mostrou-se muito nervoso durante a entrevista, quando relatava 
a sua visão de como os fatos ocorreram e de quais eram seus sentimentos em 
relação a sua acusação, bem como, por vários momentos durante a entrevista, 
sua emoção prevaleceu, nos fornecendo indicativos de que o seu nervosismo e 
ansiedade fossem decorrentes da entrevistamesmo, que falar sobre os seus 
sentimentos o fariam ficar desta maneira. 
 
“(...) ele disse que eu peguei aquela menininha dele lá, com ‘3 ano e meio e 
tentar o estrupa’, mas foi feito exame e não deu nada né. Mas ele pagou ou 
comprou o juiz, sei lá, como que foi, sei que me botaro aí, e eu to aqui né. E o 
meu advogado, pegou minha aposentadoria, e usou o quanto quis e agora, me 
contou que eu não posso ter a aposentadoria aqui dentro né(...) e eu to doentio 
com falta de ar, nervoso né, porque aaah o cara que não deve não teme né, e 
daí ele obrigo também, minha filha né, essa criada a dizer que eu também 
tinha tentado estrupa ela também, né, ou estrupado sei lá como que deu na 
cabeça, e eu to aí agora né. Pagando injusto né, como ta Deus no céu, porque 
Deus não falha” (...) 
 
Acredita-se que esse sentimento de injustiça que prevalece em João, seria mais 
como uma distorção cognitiva dos fatos que o evidenciam como sendo o 
verdadeiro abusador sexual, porque para o mesmo, o real abusador sexual foi 
Pedro, seu vizinho. Com isso, podemos inferir que João gostaria de tirar todas 
as características de abusador de si mesmo e passá-las para Pedro. Mesmo que 
tenha sido condenado e que os fatos do caso levam a conclusão de que João é 
o abusador, para ele mesmo, isso não é verídico e considerar-se injustiçado, em 
sua visão, é a melhor forma de tentar fazer com que as pessoas acreditem que 
realmente foi condenado injustamente por um crime que não cometeu. 
 
Conforme Kaplan e Sadock (1990 apud AMAZARRAY; KOLLER 1998), a maioria 
dos casos de abuso sexual envolvendo crianças nunca é revelada devido aos 
sentimentos de culpa, vergonha, ignorância e tolerância da vítima. Combinados 
a isso observa-se a relutância de alguns profissionais em reconhecer e relatar o 
abuso sexual, a insistência dos tribunais em regras estritas de evidência e o 
medo por parte das famílias, da dissolução das mesmas, se o fato for 
descoberto. 
 
Muitos abusadores sexuais de crianças reinterpretam sentimentos negativos 
para justificar a violência. Esse pensamento distorcido permite ao abusador 
“tornar normal” o comportamento sexual, o que serve, então, para manter o 
abuso sexual. Com frequência, os pedófilos se refugiam em fantasias sexuais 
sobre crianças durante épocas de estresse ou quando se encontram em um 
estado emocionalmente vulnerável, o que reativa o ciclo de abuso, uma 
armadilha na qual acabam caindo (SANDERSON, p.64, 2008). 
 
6. Considerações Finais 
Preconceitos sobre o tema abordado na pesquisa existem, e não são poucos. 
Abusadores e vítimas possuem diferentes abordagens diante o senso comum, 
porém, poucos estudos foram encontrados direcionados para o abusador e, 
quando existem, são buscando aprofundar o tema da motivação, mas, exíguo de 
um olhar diferenciado no quesito sentimentos dos acusados como 
abusadores. Acredita-se que o sofrimento pelo qual o abusador é acometido, 
acaba sendo tão intenso quanto o sofrimento proporcionado às suas vítimas, 
entretanto, são sofrimentos diferenciados, com focos diferentes. A partir do 
estudo de caso realizado foi possível perceber que o abusador foi acometido de 
uma série de emoções juntamente com o desejo de abuso de sua enteada. 
Distorções cognitivas no participante também foram identificadas, muitas vezes 
servindo de fatores primários para desencadear um possível abuso sexual. 
 
Desde o início o participante afirmou não ser o abusador e que também estava 
sendo condenado injustamente e, como o objetivo central da pesquisa foram os 
sentimentos de João em relação ao crime, antes e depois de ser 
condenado, buscando-se obter uma visão única em relação a este abusador, 
seus sentimentos/visões diante o crime, e sua versão dos fatos 
apresentados, não se aprofundou nesta questão do que teria motivado o ato. 
 
Foi possível identificar como o desejo manifestado por João de ser inocente era 
grande, bem como seu desejo de vingança para com quem o acusou. Por vários 
momentos na entrevista, e também na análise dos dados, se questionou a 
veracidade das informações que João trouxe, nos fazendo refletir sobre se sua 
versão do caso se tratava apenas de um desejo de sentir-se inocente ou de uma 
vontade de convencer os outros, e a si mesmo, sobre tudo o que estava 
acontecendo ser algo injusto por parte do sistema judiciário brasileiro. É possível 
identificar, em casos como este, que o acusado de um crime com tamanhas 
proporções sociais geralmente nega a relação que tem sobre a autoria dos fatos, 
assim, no caso aqui citado, não seria diferente, até mesmo porque se considera 
o pouco contato que se teve com João para que uma investigação mais 
aprofundada fosse apresentada. 
 
Compreender as percepções de João frente aos fatos foi difícil, considerando-
se que, para ele, sua inocência é inquestionável, que não teria motivos para fazer 
isso com uma adolescente que ele considerava como sua filha biológica e uma 
criança inocente, como ele mesmo relatou. É possível perceber claramente os 
sentimentos de João frente ao seu caso, sendo o mais profundo sentimento de 
injustiça, mesmo que todas as versões do caso levam a ele como sendo o 
verdadeiro abusador. Aqui então podemos verificar o quanto suas percepções e 
visões sobre os fatos citados podem estar distorcidas e o quanto poderia ser 
engrandecedor para João receber um auxílio psicológico para poder ser inserido 
na sociedade novamente, visando à psicoterapia como uma forma de fazer com 
que o participante se sinta acolhido o suficiente, assim sentindo-se livre 
para abordar sobre o caso sempre que se permitir e considerar necessário. 
 
No âmbito da Psicologia, e em diversas outras profissões da área da saúde 
mental, percebemos que estudos, quando existem, são voltados para a 
investigação das reais motivações do abusador. Acredita-se então que deveriam 
existir mais pesquisas sobre abusadores sexuais e seus sentimentos. Pode-se 
afirmar que o participante deste estudo deveria ter acompanhamento psicológico 
para que assim seus sentimentos, motivações e subjetividades pudessem 
ser acompanhadas, com o intuito de intervir de forma que o sujeito possa ser 
beneficiado e auxiliado, bem como as pessoas que estão ao seu redor. 
 
Fonte: https://psicologado.com/atuacao/psicologia-clinica/abusadores-sexuais-de-criancas-
o-que-eles-sentem © Psicologado.com 
https://psicologado.com/atuacao/psicologia-clinica/abusadores-sexuais-de-criancas-o-que-eles-sentem
https://psicologado.com/atuacao/psicologia-clinica/abusadores-sexuais-de-criancas-o-que-eles-sentem

Mais conteúdos dessa disciplina