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AULA 5 LEGISLAÇÃO – ATENDIMENTO HOSPITALAR E DOMICILIAR Profª Mônica Caetano Vieira da Silva 2 INTRODUÇÃO Olá! Bem-vindo a mais uma aula da disciplina “Legislação: Atendimento Hospitalar e Domiciliar”. Vamos conhecer as “estratégias e orientações para organizar classes hospitalares e atendimento pedagógico domiciliar”. Para saber mais, leia o texto, acesse os slides da aula e acompanhe as sugestões para se aprofundar no tema. CONTEXTUALIZANDO Muitos são os fatores que influenciam o processo de ensino e aprendizagem, portanto, as classes hospitalares e o atendimento pedagógico domiciliar têm muitos desafios a enfrentar. Crianças e adolescentes internados precisam vencer obstáculos significativos para conseguir aprender, pois a doença e o tratamento a que são submetidos às vezes não permitem que se sintam motivados. Transformar o espaço do hospital em lugar de entretenimento e aprendizagem de conteúdo escolar é algo que os profissionais da educação e da saúde precisam realizar. A adaptação do ambiente, a escolha dos recursos que serão utilizados e o contato com a escola dos alunos/pacientes são apenas algumas das atribuições dos profissionais que acompanham crianças em tratamento de saúde. Nesta aula, inicialmente conversaremos sobre o processo de ensinar e aprender, nos direcionando à prática pedagógica hospitalar e, em seguida, serão apresentados os recursos físicos e humanos necessários ao trabalho educacional desenvolvido em hospitais. Na sequência, iremos refletir sobre a relação que deve ser estabelecida entre o sistema escolar e de saúde, e a aula será finalizada com considerações importantes acerca do trabalho pedagógico domiciliar a crianças e adolescentes enfermos. TEMA 1 – O PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM NAS CLASSES HOSPITALARES 1.1 Ensinar O ato de ensinar pressupõe uma intencionalidade, uma manutenção ou transformação da realidade – fato que o torna um ato político. Para ensinar, o 3 professor determina o objetivo que quer alcançar e estabelece formas de alcançá- lo. Para Freitas e Freitas (2011, p. 2), o professor, ao ensinar, deve também questionar-se “por que ensinar?”, pois dessa maneira demonstra compreender que, com a prática docente, existirá uma repercussão social. Também de acordo com Freitas e Freitas (2011, p. 2), “a consciência da amplitude e complexidade de seu papel permitirá aos professores organizarem o processo de ensinar e aprender tendo como foco a formação integral do aluno, a fim de que este possa se perceber como sujeito histórico” e, dessa forma, transformar a realidade na qual está inserido. O ensino é, portanto, uma prática social, pois está imersa em um contexto social no qual deverá se pautar para prosseguir com o foco nos objetivos traçados. Deverá desenvolver nos educandos uma consciência crítica e mobilizadora por meio do diálogo, desenvolvendo todas as potencialidades de uma pessoa, sendo um sujeito social e ativo em seu processo formativo. (Dantas et al., 2015, p. 33056) Com base na premissa de que o foco principal de quem ensina é possibilitar que o outro aprenda, é fundamental reconhecer o que o professor entende por “aprender” e quais teorias fundamentarão sua prática. Ensinar e aprender são processos diferentes, porém interdependentes. De acordo com Paulo Freire: Ensinar inexiste sem aprender e vice-versa, e foi aprendendo socialmente que, historicamente, mulheres e homens descobriram que era possível ensinar. Foi assim, socialmente aprendendo, que ao longo dos tempos homens e mulheres perceberam que era possível – depois, preciso – trabalhar maneiras, caminhos, métodos de ensinar. (1996, p. 26) Ao longo do tempo, a história da educação foi trilhando novos caminhos e descobrindo novas formas de entender o processo de ensinar. Surgem novos modelos de ensino que colocam à prova o ensino tradicional, que dominava o ensino por muitos anos, e trazem o professor e o aluno para novos papéis em sala de aula. Na linha pedagógica sociointeracionista, por exemplo, o professor é o mediador do processo de aprendizagem. Pode-se afirmar, segundo a professora Veronica Branco em matéria no Gazeta do Povo, que “a Escola Construtivista, formulada pelo psicólogo e filósofo suíço Jean Piaget, foi o ‘divisor de águas’ na educação, rompendo com os conceitos do ensino tradicional que imperava até o início do século passado” (Blaskievicz, 2017). Além das ideias construtivistas, atualmente observa-se a inclusão de práticas fundamentadas em diferentes modelos pedagógicos, como o montessoriano, sociointeracionista, Waldorf, além do modelo tradicional. 4 1.2 Aprender Ao nos referirmos ao termo “aprender”, imediatamente imaginamos nosso dia a dia repleto de descobertas, pois a qualquer momento, em diferentes situações, aprendemos. Podemos afirmar que a aprendizagem ocorre durante toda a vida e nos diferentes espaços em que estamos inseridos. Tabile e Jacometo (2017) entendem a aprendizagem como “um processo dinâmico e interativo da criança com o mundo que a cerca, garantindo-lhe a apropriação de conhecimentos e estratégias adaptativas a partir de suas iniciativas e interesses e dos estímulos que recebe de seu meio social” (p. 75). Ou seja, para elas, a aprendizagem ocorre com a interação entre a criança e o meio social. A escola é um ambiente formal de aprendizagem, pois nela se desenvolvem conteúdos previamente estabelecidos e que precisam ser conhecidos pelos alunos, por meio de práticas pedagógicas. Mas a aprendizagem ocorre também em espaços não formais, ou seja, fora de espaços sistematizados. Em relação à educação não formal, Almeida (2014) afirma que ela acontece “fora dos espaços escolares, sendo, portanto, no próprio local de interação do indivíduo”. A autora afirma ainda que essa forma de educação “é resultado das ações que permeiam a vida do indivíduo. Ocorre nas experiências do dia a dia, tem função adaptadora, e os conhecimentos adquiridos são passados para as gerações futuras” (p. 3). Esse tipo de educação está voltado aos interesses próprios dos grupos e envolve diferentes atividades. Na educação formal, assim como o processo de ensinar, o aprender está diretamente ligado às práticas pedagógicas. Na escola tradicional, o aluno mantém-se numa postura passiva no processo de aprendizagem. De acordo com Mizukami (1986): atribui-se ao sujeito um papel irrelevante na elaboração e aquisição do conhecimento. Ao indivíduo que está adquirindo conhecimento compete memorizar definições, enunciados de leis, sínteses e resumos que lhe são oferecidos no processo de educação formal a partir de um esquema atomístico. (p. 11) Uma prática fundamentada em ideias construtivistas partirá do pressuposto de que o aluno, ao se desenvolver e agir sobre o mundo, interagir com o professor e com os colegas de classe, aprende. A concepção construtivista de Jean Piaget traz inúmeras contribuições para a educação. Para Nunes e Silveira (2008, p. 89): 5 Uma contribuição central da teoria de Piaget à área educacional diz respeito à ideia de que o ser humano constrói ativamente seu conhecimento acerca da realidade externa e de que as interações entre os indivíduos são um fator primordial para o seu desenvolvimento intelectual e afetivo. Transpondo essa afirmação para uma situação educacional, significa dizer que existe uma ênfase no aluno, em suas ações, seus modos de raciocínio, de como interpreta e soluciona situações-problema. Essa ideia o posiciona num lugar de ativo em seu processo de aprendizagem. Ao mesmo tempo, dada a ênfase nas interações, nos intercâmbios entre os sujeitos, o professor, assim como os próprios companheiros de classe, é peça fundamental para a construção do conhecimento. A prática alicerçada em fundamentos sociointeracionistas considera que a aprendizagem impulsiona o desenvolvimento do aluno, e “a construção do conhecimentoocorre por meio da interação dialética entre o ser humano e o meio social e cultural em que está inserido” (Hanna; Possoli, 2012, p. 58). Vygotsky foi considerado um dos principais representantes dessa teoria sócio-histórica. Para ele, a construção de conhecimento se dá a partir do nascimento, quando o bebê inicia a interação com as pessoas e com seu meio. 1.3 Processo de ensino e aprendizagem “Ensino” e “aprendizagem” podem ser considerados termos inseparáveis na construção do conhecimento. Para Veiga, essa relação revela-se pelo conjunto de atividades organizadas do professor e dos alunos, objetivando a apropriação de um saber historicamente acumulado, tendo como ponto de partida o nível atual de conhecimentos, experiência de vida e maturidade dos alunos. Esse ponto de partida implica que a relação ensino-aprendizagem pressupõe uma transformação progressiva dos conhecimentos dos alunos em direção ao domínio do saber sistematizado […], sua reelaboração e aplicação nas situações de interação com os outros. Antes de tudo, essa relação é de socialização, de troca de conhecimentos aprendidos e transformados na interação. É uma relação dinâmica, dialógica, portanto, construtiva da aprendizagem pela troca de saberes. (1996, p. 108) Os processos de ensinar e de aprender, conforme constatado, foram sendo compreendidos e considerados de diferentes formas ao longo da história da educação. Em alguns momentos a ênfase era dada ao professor, considerado o detentor do saber, que tinha a incumbência de transmitir informações aos alunos, que se mantinham em posição passiva. Em outro momento, o aluno passa a ser o sujeito ativo, que interage e age para construir o próprio conhecimento. Hoje entende-se que esse processo pode ocorrer de diversas formas e provocar reflexões em relação a como se aprende nos diferentes espaços formais de educação. 6 Saiba mais Procure conhecer as tendências pedagógicas que influenciaram e continuam influenciando o ensino e a aprendizagem ao longo da história da educação brasileira. 1.4 Ensinando e aprendendo nos hospitais: a prática pedagógica O hospital é um dos espaços em que ocorre a ação educativa, envolvendo pedagogos, professores e alunos internados, portanto é fundamental organizar o trabalho pedagógico para que o processo de ensino e aprendizagem se efetive. A organização do trabalho pedagógico deve oferecer uma metodologia pautada nas adaptações curriculares, pois esse estudante, por estar doente, apresenta várias dificuldades que quase sempre o impedem de desempenhar regularmente o seu papel no processo de ensino- aprendizagem. (Alves; Barroso; Menezes, 2017, p. 13736) Apesar de internado e fragilizado, o aluno envolvido com práticas pedagógicas no hospital pode se sentir motivado e encorajado a continuar estudando e vislumbrar a possibilidade de continuar na escola os estudos começados no hospital, após receber alta. Esses alunos podem continuar aprendendo mesmo estando doentes por um tempo. O atendimento pedagógico em hospitais deve estar integrado ao sistema de saúde. O atendimento pedagógico deverá ser orientado pelo processo de desenvolvimento e construção do conhecimento correspondentes à educação básica, exercido numa ação integrada com os serviços de saúde. A oferta curricular ou didático-pedagógica deverá ser flexibilizada, de forma que contribua com a promoção de saúde e ao melhor retorno e/ou continuidade dos estudos pelos educandos envolvidos. (Brasil, 2002, p. 17) No espaço do hospital, além de promover atividades educacionais que atendam os conteúdos escolares, é necessário desenvolver o processo de escuta, para reconhecer os anseios e angústias das crianças e adolescentes internados, compreender a situação em que se encontram, determinar em que momento as diferentes atividades podem ser propostas e quais habilidades e conhecimentos prévios os alunos já têm. O planejamento pedagógico precisa considerar os espaços em que as atividades irão ocorrer, a condição da criança enferma, os materiais disponíveis, bem como reconhecer os recursos humanos indispensáveis para a prática pedagógica. 7 Para refletir Ele disse: nunca mais vou voltar pra escola porque na escola me ensinam coisas que não sei. Eis aí, é isso… Marguerite Duras Fonte: Hankcik/Shutterstock. TEMA 2 – ATENDIMENTO HOSPITALAR: ESPAÇOS FÍSICOS E RECURSOS MATERIAIS Para que a prática pedagógica ocorra nos hospitais, o espaço hospitalar precisa estar preparado e adequado para as atividades educacionais. De acordo com o documento Classe hospitalar e atendimento pedagógico domiciliar: estratégias e orientações, do Ministério da Educação, a adaptação do ambiente escolar envolve a “eliminação de barreiras arquitetônicas, possibilitando o acesso a todos os ambientes da escola, assim como a adaptação de mobiliário, de recursos pedagógicos, de alimentação e cuidados pessoais de acordo com as necessidades do educando” (Brasil, 2002, p. 18). É sabido que nem sempre os hospitais têm estrutura física que corresponda às necessidades dos enfermos, quem dirá para desenvolver atividades educacionais, porém é necessário determinar alguns espaços onde a aprendizagem possa ocorrer. Os ambientes serão projetados com o propósito de favorecer o desenvolvimento e a construção do conhecimento para crianças, jovens e adultos, no âmbito da educação básica, respeitando suas capacidades e necessidades educacionais especiais individuais. Uma sala para desenvolvimento das atividades pedagógicas com mobiliário adequado e uma bancada com pia são exigências mínimas. Instalações sanitárias próprias, completas, suficientes e adaptadas são altamente recomendáveis, e espaço ao ar livre adequado para atividades físicas e ludo-pedagógicas. (Brasil, 2002, p. 15-16) 8 Para realizar atividades educacionais nos hospitais, é importante utilizar recursos diversificados. Jogos, livros didáticos e de literatura, televisão, computadores, máquina fotográfica e filmadora são alguns dos recursos necessários para motivar o aluno a aprender e possibilitar a aprendizagem dos conteúdos escolares de forma mais lúdica, com maior compreensão dos temas apresentados. Dentre os recursos didáticos, podemos ainda destacar: Jogos e materiais de apoio pedagógico disponibilizados ao educando pelo professor e que possam ser manuseados e transportados com facilidade; utilização de pranchas com presilhas e suporte para lápis e papel; teclados de computador adaptados; sofwares educativos; pesquisas orientadas via internet; vídeos educativos etc. (Brasil, 2002, p. 18) Telefones para chamadas internas (ramais) e externas também são de suma importância. Além de poder trocar informações sobre o paciente/aluno com profissionais da saúde e com a família, os profissionais de educação que trabalham em hospitais precisam estabelecer formas de comunicação com a escola de origem das crianças e adolescentes internados. Computadores com acesso à internet também podem favorecer a comunicação com a escola, possibilitando inclusive que as atividades pedagógicas a realizar sejam encaminhadas às classes hospitalares, de maneira fácil e rápida. Procedimentos de higienização são fundamentais no atendimento às crianças e adolescentes hospitalizados. Além de as classes hospitalares necessitarem de constante higienização de seus mobiliários, os recursos didáticos, além dos brinquedos, também precisam ser higienizados a cada uso. Professores e pedagogos que atendem as crianças também aprendem a forma adequada de higienizar as mãos, já que estabelecem contato direto com alunos internados. Entre as medidas de segurança adotadas em um ambiente de promoção e cuidado da saúde, a higienização das mãos é uma das iniciativas simples e que garantem aos pacientes e profissionais proteção contra várias doenças. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde, infecçõesrelacionadas à assistência à saúde afetam milhões de pacientes e têm um impacto significativo nos doentes e nos sistemas de saúde em todo o mundo. (Manual…, 2016) A higienização deve ocorrer antes e depois do contato com crianças e adolescentes hospitalizados. 9 TEMA 3 – ATENDIMENTO EDUCACIONAL EM HOSPITAIS: RECURSOS HUMANOS É competência das secretarias estaduais e municipais de educação e do Distrito Federal acompanhar o trabalho desenvolvido nas classes hospitalares, observando: o cumprimento da legislação educacional, a execução da proposta pedagógica, o processo de melhoria da qualidade dos serviços prestados, as ações previstas na proposta pedagógica, a qualidade dos espaços físicos, instalações, os equipamentos e a adequação às suas finalidades, a articulação da educação com a família e a comunidade. (Brasil, 2002, p. 20) O acompanhamento deve ocorrer para garantir a qualidade no desenvolvimento das práticas pedagógicas no espaço hospitalar. Cabe a esses órgãos, diante de qualquer irregularidade nas condições físicas ou no processo pedagógico, aplicar as penalidades considerando a legislação do sistema de ensino. Para organizar as classes hospitalares, os governos municipais e estaduais precisam determinar quais profissionais da educação irão atuar nessa modalidade de ensino. Pedagogos, professores da educação infantil, do ensino fundamental e médio são fundamentais no processo de ensino e aprendizagem nas classes hospitalares. De acordo com o MEC, fazem parte dos “recursos humanos” das classes hospitalares: professor coordenador, professor e profissional de apoio (Brasil, 2002). É o professor coordenador que cuidará da proposta pedagógica, devendo “conhecer a dinâmica e o funcionamento peculiar dessas modalidades, assim como conhecer as técnicas e terapêuticas que dela fazem parte ou as rotinas da enfermaria ou dos serviços ambulatoriais e das estruturas de assistência social […] quando for o caso” (Brasil, 2002, p. 21). O professor coordenador deve estar em sintonia com os profissionais de saúde do hospital, com a Secretaria de Educação e com a escola de origem dos alunos/pacientes (Brasil, 2002). Em suma, a principal atividade do professor coordenador é orientar os professores e a equipe de apoio sobre as atividades a serem desenvolvidas no espaço hospitalar. O professor é o profissional que irá realizar o acompanhamento educacional com as crianças e adolescentes internados. Dessa forma, precisa conhecer a situação de cada paciente, suas necessidades, a série em que está 10 matriculado e os conteúdos que precisam ser trabalhados, para então ajustar e adaptar as atividades propostas. Segundo o documento Classe hospitalar e atendimento pedagógico domiciliar: estratégias e orientações (Brasil, 2002, p. 22), cabe ao professor das classes hospitalares: Propor procedimentos didático-pedagógicos e práticas alternativas necessárias ao processo de ensino e aprendizagem dos alunos; Ter disponibilidade para trabalhar em equipe e assessorar escolas quanto à inclusão dos educandos afastados do sistema educacional, seja no seu retorno, seja no seu ingresso; Fazer parte da equipe de assistência ao educando, tanto para contribuir com os cuidados da saúde quanto para aperfeiçoar o planejamento de ensino, manifestando-se segundo a escuta pedagógica proporcionada; Consultar o prontuário e o registro de informações sobre o aluno; Ter formação pedagógica preferencialmente em educação especial, cursos de pedagogia ou licenciaturas; Ter noções sobre doenças e condições psicossociais vivenciadas pelos educandos e as características delas decorrentes, seja do ponto de vista clínico, seja do ponto de vista afetivo; Adequar e adaptar o ambiente às atividades e materiais, planejar o dia a dia da turma, registrar e avaliar o trabalho pedagógico desenvolvido. O profissional de apoio pode pertencer tanto ao serviço educacional quanto ao de saúde, podendo ser universitário ou profissional com ensino médio. Ele prestará serviços como: desinfecção e higienização dos ambientes e materiais que serão utilizados; separação de materiais; controle de frequência dos alunos, entre outras atividades que podem auxiliar no desenvolvimento de atividades no espaço hospitalar. TEMA 4 – INTEGRAÇÃO COM O SISTEMA DE SAÚDE E ESCOLAR 4.1 Classe hospitalar e sistema de saúde A inserção de profissionais da educação em ambiente hospitalar requer um relacionamento direto com profissionais de saúde. Essa parceria é fundamental para que o professor conheça: o estado de saúde da criança; o tratamento a que 11 está submetida, incluindo efeitos das medicações; procedimentos que irão ocorrer etc. Assim o professor poderá oferecer aos alunos/pacientes atividades que estejam ao seu alcance. O documento Classe hospitalar e atendimento pedagógico domiciliar: estratégias e orientações enfatiza a necessidade dessa parceria, ao afirmar que “o professor deve ter acesso aos prontuários dos usuários das ações e serviços de saúde sob atendimento pedagógico, seja para obter informações, seja para prestá-las do ponto de vista de sua intervenção e avaliação educacional” (Brasil, 2002, p. 18-19). Ao reconhecer o horário em que a criança será medicada ou passará por algum procedimento, por exemplo, o professor poderá elaborar seu cronograma de trabalho, a fim de ter disponível um momento adequado para que essa criança seja assessorada por ele. 4.2 Classe hospitalar e sistema escolar Durante o período de internamento, crianças e adolescentes perdem contato com sua escola de origem. Deixam nas escolas seus amigos, professores, conteúdos a serem aprendidos, a troca de experiências, o convívio social. Diante disso, as classes hospitalares surgem para manter o aluno/paciente como “parte da escola”. Com atividades que muitas vezes são propostas pela escola e com o acesso a conteúdos similares, o aluno sente-se incluído e motivado a voltar a estudar quando recebe alta. Para que o aluno possa voltar à escola sem prejuízos em termos de aprendizagem, é necessário um trabalho direto e efetivo entre classe hospitalar e escola. Desde uma possível adaptação física nas instalações da escola até uma preparação para alunos e funcionários receberem o aluno, tudo precisa ser planejado. É importante ressaltar que: A classe hospitalar surge como uma modalidade de ensino da educação especial, regulamentada por legislação específica, que visa atender pedagógico-educacionalmente crianças e adolescentes hospitalizados. Portanto, parte do reconhecimento de que esses jovens pacientes, uma vez afastados da rotina acadêmica e privados da convivência em comunidade, vivem sob risco de fracasso escolar e de possíveis transtornos ao desenvolvimento. Nela os professores procuram adequar a programação ao conteúdo em andamento nas classes originais dos alunos, a fim de ajudá-los na reintegração escolar após a alta hospitalar. (Holanda; Collet, 2011, p. 382) Muitas vezes a reintegração do aluno na escola não é fácil, pois, ao ser afastado por motivos de saúde, ele pode encontrar dificuldades para aprender e 12 conviver com as crianças de sua idade. O ambiente hospitalar e o estado de saúde da criança podem provocar falta de condições para desenvolver as atividades escolares e, dessa forma, surgem as dificuldades para acompanhar o conteúdo, o que pode dificultar a adaptação à escola quando o aluno retorna. De acordo com Holanda e Collet (2011), o trabalho pedagógico desenvolvido nos hospitais “minimiza os efeitos negativos advindos da hospitalização, instrumentaliza a criança para melhor qualidade de vida e contribui para a busca da integralidade na atenção à saúde” (p. 387). Porém, para que isso ocorra, é fundamental um diálogo aberto entre quem acompanha a criança internada – profissionais da escola, da classe hospitalar,de saúde, família, gestores públicos etc. Sem um trabalho efetivo de todos, não se pode garantir que as crianças e adolescentes sejam bem atendidos em suas necessidades. TEMA 5 – ATENDIMENTO PEDAGÓGICO DOMICILIAR Considera-se como atendimento pedagógico domiciliar o “atendimento educacional que ocorre em ambiente domiciliar, decorrente de problema de saúde que impossibilite o educando de frequentar a escola ou esteja ele em casas de passagem, casas de apoio, casas-lar e/ou outras estruturas de apoio da sociedade” (Brasil, 2002, p. 13). Conforme apresentado ao longo do curso, o atendimento domiciliar garante que o direito à educação seja efetivado às crianças e adolescentes afastados da escola por motivos de saúde. Assim como nas classes hospitalares, alguns aspectos importantes precisam ser considerados para que o atendimento pedagógico domiciliar se concretize. Profissionais da educação, como pedagogos e professores, são fundamentais para que a criança e o adolescente tenham contato com o conteúdo escolar e, dessa forma, aprendam. O contato com a escola, por meio desses profissionais, também é fundamental, pois permite que o aluno realize atividades voltadas à série em que está matriculado, considerando o que a própria escola considera relevante aprender. A troca de informações entre escola e profissionais possibilita o “vínculo com a escola” e facilita a reintegração do aluno quando ele estiver em condições de frequentá-la. A participação da família também é muito importante no processo, pois os familiares precisam se adaptar para que o atendimento seja eficiente. Algumas possíveis adaptações: 13 “cama especial, cadeira e mesa adaptadas, cadeira de rodas, eliminação de barreiras para favorecer o acesso a outros ambientes da casa e ao espaço externo etc.” (Brasil, 2002, p. 17). O atendimento pedagógico domiciliar, assim como o atendimento nas classes hospitalares, é acompanhado pelas secretarias estaduais e municipais de educação e do Distrito Federal, a fim de garantir que se cumpra a legislação educacional e que as ações planejadas promovam o desenvolvimento e a aprendizagem das crianças e adolescentes doentes e sem condições de frequentar a escola. 14 REFERÊNCIAS ALMEIDA, M. S. B. Educação não formal, informal e formal do conhecimento científico nos diferentes espaços de ensino e aprendizagem. In: _____. Os desafios da escola pública paranaense na perspectiva do professor PDE. 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