Prévia do material em texto
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO JOÃO DEL-REI CAMPUS ALTO PARAOPEBA ENGENHARIA QUÍMICA DETERMINAÇÃO DE COBRE EM CACHAÇA POR ESPECTROMETRIA DE ABSORÇÃO ATÔMICO Relatório apresentado como parte das exigências da disciplina de Laboratório de Análise Instrumental Coordenadora: Prof. Dra. Ana Maria de Oliveira Ana Clara Nóbrega Zacarias Diogo Dinalli Ribeiro Hiago Magalhães Prates Letícia Pasquenelli Senna Gonçalves Corrêa OURO BRANCO 2024 RESUMO A Espectrometria de Absorção Atômica é uma técnica analítica amplamente utilizada para a determinação quantitativa de elementos metálicos, semi-metálicos e alguns não metais em uma variedade de amostras. Esta técnica é altamente eficaz e sensível, permitindo a análise de elementos em baixas concentrações, independentemente do estado das amostras (sólido, líquido ou gasoso). No contexto específico da cachaça brasileira, o teor máximo de cobre permitido pela legislação é de 5 mg. .Dado o potencial prejudicial do cobre para a saúde, é necessário a𝐿−1 determinação da concentração desse elemento na cachaça, para garantir que os níveis não ultrapassem o limite legal estabelecido. Para isso, a técnica de Espectrometria de Absorção Atômica em chamas foi empregada para analisar a concentração de cobre em amostras de cachaça artesanal. Durante o experimento, foram criadas três curvas analíticas para a determinação do cobre. Duas dessas curvas foram obtidas por padronização externa, utilizando água pura e água com etanol, enquanto a terceira curva foi gerada por meio da adição de um padrão à amostra de cachaça. Essas abordagens permitem uma análise precisa e confiável da concentração de cobre, contribuindo para garantir a qualidade e a conformidade dos produtos com as normas regulatórias. A parti dos dados obtidos com a curva analitica da agua , encontrou-se uma concentração de 5,5 (±0,2) mg e pela curva analítica em água mais𝐿−1 etanol, encontrou-se uma concentração de 8,2 (±0,2) mg . Utilizando -se a curva analítica𝐿−1 por adição padrão foi possível determinar a concentração de cobre, de 11,25 mg . Os𝐿−1 resultados obtidos foram utilizados para a comparação com valor que é permitido pela legislação brasileira para cobre, de 5 mg , com isso observou-se que todos apresentaram𝐿−1 valores maiores que o permitido por lei . 2 1 RESULTADOS E DISCUSSÃO Conforme discutido por Silveira et al. (2008), o processo de produção da cachaça pode ser dividido em duas abordagens distintas: a industrial, que faz uso de colunas ou torres de destilação, e a artesanal, que utiliza alambiques de cobre. No entanto, na produção artesanal, existe o risco potencial de contaminação por cobre. Isso ocorre devido à capacidade do cobre de oxidar gradualmente em contato com o ar úmido contendo dióxido de carbono, resultando na formação de uma camada esverdeada conhecida como 'azinhavre', composta por CuCO3Cu(OH)2. Durante o processo de destilação, essa camada pode ser dissolvida pelos vapores alcoólicos ácidos, levando à contaminação do produto final (SOUZA, 2015). Apesar de ser um elemento essencial para o funcionamento adequado de vários sistemas enzimáticos no corpo humano, o cobre em excesso pode causar danos devido à interferência nas atividades catalíticas normais de algumas enzimas (SANTOS, 2011). Por essa razão, é crucial quantificar a presença de cobre para garantir o controle de qualidade, especialmente considerando que o Decreto nº 2314 de 04/09/1997 da Legislação Brasileira estabelece um limite de 5,00 mg L-1 de cobre em bebidas destiladas (BRASIL, 1997). Diante desse cenário, a espectrometria de absorção atômica tem sido uma técnica amplamente utilizada para esse controle e monitoramento. A espectrometria de absorção atômica é uma técnica analítica utilizada para identificar e quantificar a presença de metais em uma amostra. Ela se fundamenta no princípio de que átomos livres em um estado estável têm a capacidade de absorver luz em um comprimento de onda específico. Essa absorção é característica de cada elemento, e nenhum outro elemento absorve na mesma faixa de comprimento de onda, tornando a técnica altamente seletiva e específica para a detecção de elementos metálicos (SKOOG et al., 2015). O objetivo do experimento foi determinar a concentração de cobre em cachaça utilizando a técnica de espectrometria de absorção atômica em chamas. Para isso, foram elaboradas três curvas analíticas visando medir a quantidade de cobre nas amostras. Estas curvas foram obtidas através da calibração externa utilizando água pura e água contendo etanol, além da adição de um padrão à amostra de cachaça. O propósito principal foi analisar possíveis interferências decorrentes do efeito da matriz e realizar uma comparação entre os métodos utilizados, visando avaliar a eficácia de cada um deles na determinação da concentração de cobre na cachaça. 1.1 Padronização externa Para a elaboração da curva analítica em água, inicialmente, foram preparados nove 3 balões volumétricos de 50 mL. A partir do segundo balão, foram adicionados volumes crescentes de uma solução padrão de cobre (II) com concentração de 50 mg L-1, conforme indicado na Tabela 1. Posteriormente, os volumes foram completados com água destilada, as soluções foram homogeneizadas e foram medidas as absorbâncias de todas as soluções padrão no espectrômetro de absorção atômica, utilizando uma lâmpada de catodo oco de cobre como fonte de luz. Todos os valores obtidos estão apresentados na Tabela 1. Para a confecção da curva analítica em água e etanol, foi utilizado 60% de água e 40% de etanol, de forma a tentar imitar a matriz da cachaça. Foi realizado o mesmo procedimento mencionado anteriormente, porém, antes de preencher os balões volumétricos com água destilada, adicionou-se 20,00 mL de etanol em cada um deles, para que em cada balão houvesse 40% de etanol. Os valores obtidos encontram-se na Tabela 1. Tabela 1: Medidas dos volumes, concentrações e absorbâncias, da água e da água e etanol, das soluções padrão. N° do balão (50mL) Volume de solução padrão estoque de cobre (mL) Concentração de cobre (mg/L ) Absorbância A (água) Absorbância B (água e etanol) 1 0,00 0,00 0,000 0,000 2 0,50 0,50 0,025 0,019 3 1,00 1,00 0,060 0,039 4 2,00 2,00 0,127 0,079 5 3,00 3,00 0,182 0,118 6 4,00 4,00 0,239 0,163 7 6,00 6,00 0,325 0,235 8 8,00 8,00 0,400 0,313 9 10,00 10,00 0,441 0,367 4 Com base nos dados coletados, foi possível criar o gráfico representando tanto a curva analítica na água, quanto a curva analítica na mistura de água e etanol: Figura 1: a) Curva análitica em água b) Curva analítica em água e etanol. Os gráficos revelaram que a partir do sétimo balão os dados da reta deixaram de seguir uma tendência linear e passaram a formar uma curva, sugerindo que a concentração de cobre estava fora da faixa ideal de operação. Contudo, ao restringir a concentração de cobre a até 4 mg L-1, os resultados foram mais favoráveis, como demonstrado na figura 2, a e b. Figura 2: a) Curva analítica em água na faixa ótima de trabalho. b) Curva analítica em água e etanol na faixa ótima de trabalho. Com base nos gráficos apresentados anteriormente, foi possível gerar um novo 5 gráfico, ilustrado na Figura 5, que possibilita a comparação das curvas analíticas obtidas tanto em água quanto na mistura de água e etanol. Figura 3: Comparação entre as curvas analíticas obtidas por padronização externa. Ao examinar o comportamento das curvas de calibração através do coeficiente angular, é possível identificar a presença do efeito de matriz. Se as duas curvas não apresentarem a mesma inclinação, ou seja, não forem paralelas, isso indica a influência do efeito de matriz. Logo, podemos concluir que o efeito de matriz está presente devido à diferença nas inclinações das curvas, indicando que a presença de etanol impacta as leituras de absorção do cobre. Assim, torna-se essencial adicionar padrões para reduzir os efeitos da matriz na análise e obter comparaçõesmais precisas com os resultados anteriores. O processo de análise por padronização externa foi realizado em seguida, utilizando os balões 10, 11 e 12, que representam as replicatas 1, 2 e 3. Para cada replicata, a concentração do analito foi determinada utilizando as equações das retas obtidas anteriormente, substituindo os valores de y pelas absorbâncias encontradas, conforme demonstrado na Tabela 2. Segue abaixo o cálculo para a equação da reta obtida pela curva analítica em água na faixa ideal de trabalho, para a replicata 1: y = 0,0607x - 0,0007 0,341=0,0607 x−0,0007 x = 5,6293244 mg L Os cálculos foram efetuados para todas as replicatas, assim como para a equação da 6 reta obtida através da curva analítica realizada na água e etanol na faixa ideal de trabalho. Os resultados, acompanhados da média e do desvio para cada curva, estão detalhados na Tabela 2. Tabela 2: Valores das concentrações de cobre obtidos para cada curva, incluindo a média e o desvio, calculados a partir das absorbâncias registradas N° do balão (50mL) Absorbância Concentração de cobre (mg/L ) (água) Média ± Desvio (água) Concentração de cobre (mg L-1 ) (água e etanol) Média ± Desvio (água e etanol) 10 - replicata 1 0,341 5,629324 5,5 ±0,2 8,449382 8,2 ± 0,211 - replicata 2 0,319 5,26689 7,96172 12 - replicata 3 0,335 5,53048 8,301234 Sabe-se que o etanol é um composto orgânico que pode afetar a intensidade do sinal analítico na técnica de espectrometria de absorção atômica influenciando a absorção de energia pelo cobre presente na amostra (SANTOS, 2011), ao fazer uma análise de uma amostra contendo cobre por meio da espectrometria de absorção atômica, a intensidade do sinal é diretamente proporcional à concentração de cobre na amostra. A interferência do etanol pode ser referente a vários fatores entre eles o efeito matriz em que etanol pode atuar como uma matriz que interfere na absorção de energia pelo cobre, mas também pode ser dado pela interação do etanol com o solvente utilizado assim como a interação química do etanol com o cobre presente na amostra , a diluição das amostras podem afetar a concentração de cobre nas amostras o que irá influenciar na intensidade do sinal. A compreensão desses efeitos é crucial para uma interpretação mais precisa dos resultados analíticos. Por outro lado, a água apresenta menor capacidade de interferência na técnica, o que pode resultar em uma menor intensidade do sinal analítico e, consequentemente, em uma menor concentração de cobre medida na curva analítica em água em comparação com a curva analítica em água mais etanol. Portanto, a escolha da curva analítica a ser utilizada deve levar em consideração as características da amostra e as possíveis interferências do efeito matriz, interação com o solvente, interação química e o efeito das diluições . Portanto, se faz 7 necessário a adição de padrão para avaliar e corrigir possíveis interferências de matriz e garantir a precisão e exatidão das medições na análise de cobre em cachaças. 1.2 Adição de padrão Para a confecção da curva analítica por adição de padrão, inicialmente, numerou-se, de 13 a 16, 4 balões volumétricos de 50 mL, adicionou-se 15 mL de cachaça em cada um e o volume foi completado com água destilada e homogeneizado. Nos balões de número 14 a 16, foi realizado o mesmo procedimento mencionado anteriormente, porém, antes de preencher os balões volumétricos com água destilada, adicionou-se 1,00 mL, 2,00 mL e 3,00 mL de solução estoque de cobre (II) em cada um, respectivamente. Calculou-se a concentração de cobre (II) em cada balão por meio da equação · =𝐶 1 𝑉 1 · , conforme demonstrado abaixo para o balão 14.𝐶 2 𝑉 2 · = ·𝐶 1 𝑉 1 𝐶 2 𝑉 2 1,00 mL x 50 mg L-1 = x 50mL𝐶 2 C2 = 1,00 mg L-1 Tabela 3: Concentrações nos ensaios da calibração por adição de padrão. N° do balão (50mL) Volume de solução padrão estoque de cobre (mL) Concentração de cobre (mg L-1 ) Absorbância 13 0,00 0,00 0,131 14 1,00 1,00 0,164 15 2,00 2,00 0,208 16 3,00 3,00 0,244 Figura 4 - Curva analitica do cobre por adição 8 A partir da equação da reta obtida, sendo y = 0, é possível encontrar a concentração de cobre na amostra de cachaça, conforme demonstrado abaixo. y = 0,0383x + 0,1293 x = 3,37597911 mg L-1 Para obter o valor real, foi necessário corrigir o resultado obtido para a amostra diluída, multiplicando pelo fator de diluição de 50/15. x = 3,375 * (50/15) x = 11,25 mg L-1 Com os resultados obtidos, foi possível fazer uma comparação entre as curvas analíticas obtidas para cada método, conforme demonstrado na figura 5. Figura 5: Comparação entre as três curvas analíticas que foram montadas durante o relatório. Referentes a água, água mais etanol e pela adição de padrão. A observação revelou que a inclinação da curva analítica em água diferiu significativamente daquela da adição de padrão. No entanto, ao empregar uma matriz semelhante à da cachaça, composta por água e etanol, a inclinação da curva mostrou-se 9 bastante similar, indicando retas praticamente paralelas e evidenciando a ausência de interferência do efeito da matriz. Esse resultado destaca a importância de identificar se há presença de efeito de matriz para garantir resultados precisos e corretos. Para minimizar esse efeito, técnicas como adição de padrão ou construção de uma curva matrizada podem ser empregadas. Porém a mais indicada seria a adição de padrão, devido ao fato de que foi observada uma diferença significativa na inclinação da curva analítica em água em comparação com a curva obtida pela adição de padrão, sugerindo uma forte interferência da matriz. A adição de padrão é especialmente útil quando há suspeita de interferência da matriz, pois permite corrigir essa interferência e obter resultados mais precisos e confiáveis. Analisando os dados numéricos obtidos a partir da adição de padrão e pela curva analítica em água e etanol ,11,41 mg L-1 e 8,2 mg L-1 respectivamente . Foi analisada a significativa diferença entre os resultados que indicam a interferência do efeito matriz na determinação da concentração do cobre, a divergência entre os resultados obtidos evidenciam a necessidade da correção desse efeito de forma a obter resultados com maior precisão e confiabilidade. Esses resultados analisados ultrapassam o valor limite pré estabelecido para o cobre em bebidas destiladas de 5 mg. definido pela Legislação Brasileira (BRASIL,𝐿−1 1997), portanto o consumo dessas amostras analisadas é inviável . 2. CONCLUSÕES Em vista dos resultados encontrados, pode-se considerar que a curva analítica em água pode ser uma escolha eficaz para amostras com baixo teor de etanol ou quando a interferência da matriz é mínima. Por outro lado, a curva analítica em água junto ao etanol pode ser mais apropriada para amostras com alto teor de etanol, pois essa composição pode ajudar a reduzir as interferências de matriz. A adição de padrão, por sua vez, é uma técnica valiosa para avaliar a presença de interferências de matriz. Ela pode ser especialmente útil quando há incertezas sobre as interferências da matriz ou quando a amostra possui uma composição complexa. Os valores obtidos com a curva analítica em água, encontrou-se uma concentração de 5,5 (±0,2) mg e pela curva analítica em água mais etanol, encontrou-se uma concentração𝐿−1 de 8,2 (±0,2) mg . Com a curva analítica por adição padrão foi possível determinar a𝐿−1 concentração de cobre, de 11,25 mg . Os resultados obtidos foram comparados com valor𝐿−1 permitido pela legislação brasileira para cobre, que é de 5 mg. , mostrando que todos𝐿−1 10 apresentaram valores maiores do que permitido. 3. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Decreto n°. 2314, de 04 de setembro de 1997. Publicado no Diário Oficial da União de 05/09/1997, Brasília, seção 1, p.19549. SANTOS, C, da C. Determinação de cobre em aguardentes por espectrometria de absorção atômicacom forno de grafite. TCC (Licenciatura em Química) - Faculdade de Ciências Exatas e Tecnológicas, Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri. Diamantina, p.62. 2011. SILVEIRA DÓREA, H.; CARDOSO, M. G.; NAVICKIENE, S.; EMÍDIO, E. S.; SILVA, T. S.S.; SILVA, M. S. S. Análise de Poluentes Orgânicos Tóxicos na Cachaça. Revista da Fapespe, 4, 2, 5-18, 2008. SKOOG, D.A.; WEST, D.M.; HOLLER, F.J.; CROUCH, S.R. Fundamentos de Química Analítica. 9ª Edição, São Paulo: Cengage Learning, 2015. 1060 p. SOUZA, J, C, de. Determinação íons cobre(II) em aguardente de cana–de–açúcar utilizando a combinação spot test - espectroscopia de reflectância difusa. Dissertação (Mestre em Química) - Instituto de Química, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”. Araraquara, p.119. 2015.